É Proibido Fumar É Proibido Fumar Roteiro para longa-metragem de Anna Muylaert São Paulo, 2010 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Governador Alberto Goldman Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho No Passado Está a História do Futuro A Imprensa Oficial muito tem contribuído com a sociedade no papel que lhe cabe: a democratização de conhecimento por meio da leitura. A Coleção Aplauso, lançada em 2004, é um exemplo bem-sucedido desse intento. Os temas nela abordados, como biografias de atores, diretores e dramaturgos, são garantia de que um fragmento da memória cultural do país será preservado. Por meio de conversas informais com jornalistas, a história dos artistas é transcrita em primeira pessoa, o que confere grande fluidez ao texto, conquistando mais e mais leitores. Assim, muitas dessas figuras que tiveram importância fundamental para as artes cênicas brasileiras têm sido resgatadas do esquecimento. Mesmo o nome daqueles que já partiram são frequentemente evocados pela voz de seus companheiros de palco ou de seus biógrafos. Ou seja, nessas histórias que se cruzam, verdadeiros mitos são redescobertos e imortalizados. E não só o público tem reconhecido a importância e a qualidade da Aplauso. Em 2008, a Coleção foi laureada com o mais importante prêmio da área editorial do Brasil: o Jabuti. Concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a edição especial sobre Raul Cortez ganhou na categoria biografia. Mas o que começou modestamente tomou vulto e novos temas passaram a integrar a Coleção ao longo desses anos. Hoje, a Aplauso inclui inúmeros outros temas correlatos como a história das pioneiras TVs brasileiras, companhias de dança, roteiros de filmes, peças de teatro e uma parte dedicada à música, com biografias de compositores, cantores, maestros, etc. Para o final deste ano de 2010, está previsto o lançamento de 80 títulos, que se juntarão aos 220 já lançados até aqui. Destes, a maioria foi disponibilizada em acervo digital que pode ser acessado pela internet gratuitamente. Sem dúvida, essa ação constitui grande passo para difusão da nossa cultura entre estudantes, pesquisadores e leitores simplesmente interessados nas histórias. Com tudo isso, a Coleção Aplauso passa a fazer parte ela própria de uma história na qual personagens ficcionais se misturam à daqueles que os criaram, e que por sua vez compõe algumas páginas de outra muito maior: a história do Brasil. Boa leitura. Alberto Goldman Governador do Estado de São Paulo Coleção Aplauso O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, visa resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cinema, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo culturalparaesse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de maneira singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como seo biografado falasse diretamente ao leitor. Um aspecto importante da Coleção é que os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo e biografado se colocaram em reflexões que se estenderam sobre a formação intelectual e ideológica do artista, contextualizada na história brasileira. São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas – analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos exploram o universo íntimo e psicológico do artista, revelando as circunstâncias que o conduziram à arte, como se abrigasse em si mesmo desde sempre, a complexidade dos personagens. São livros que, além de atrair o grande público, interessarão igualmente aos estudiosos das artes cênicas, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Foram abordadas a construção dos personagens, a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns deles. Também foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sortilégios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que neste universo transitam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de todo o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Introdução Roteiro do Filme É Proibido Fumar O roteiro de É Proibido Fumar começou a nascer em 2001, durante a experiência da filmagem do meu trabalho anterior, Durval Discos e da alegria que senti em mexer com certos elementos já presentes neste primeiro filme, a saber: a música, a dramaturgia tensa e as locações fechadas. Decidi retrabalhá-los num próximo roteiro e estas foram as primeiras sementes deste filme, irmão do primeiro. Mas (infelizmente) o fato de eu ter escolhido elementos que me pareciam conhecidos não significou uma simplificação do processo. Ao contrário, o roteiro de É Proibido Fumar foi uma das experiências criativas mais duras que já tive na vida. Pra começar, escrevi 30 páginas que pareciam ter muito ritmo e ambiente, mas que não tinham rumo certo. Deixei-as na gaveta por mais de um ano. E quando fui retomar a escrita, tudo aquilo me pareceu fetal. Tratei de me concentrar na construção da trama e acabei finalmente chegando na história. Entrei em alguns editais com esse tratamento e captei boa parte do dinheiro sem ainda estar satisfeita com o roteiro e principalmente com seu final. Parecia que eu não tinha ainda alcançado um nível de clareza quanto à história. Mais tempo se passou até que fui selecionada para participar do Laboratório de Roteiros Sesc em Nogueira. Lá fui eu para o laboratório, bastante insegura. E desesperada fiquei depois de levar várias e diferentes surras de consultores vindos de todas as partes do mundo. Um questionava a profundidade da protagonista, o outro a verossimilhança dos diálogos, o outro o estilo, o outro a verdade do projeto. E eu, lá no meio, ficando cada vez mais insegura. Até que o penúltimo consultor, o belga Chris Caps, com uma mão, me deu o tiro de misericórdia. A estrutura está falha. Vamos começar do começo? Então, com a outra mão, ele me puxou do abismo, quando me apresentou a teoria das sequências, um modelo fixo de narrativa clássica que previa não apenas as viradas de atos, mas – muito mais que isso – prognosticava a construção do ritmo da história antes mesmo que ela começasse a ser escrita. Ele nem sequer criticou o roteiro, mas me ensinou este modelo e a partir dele ajudou a reconstruir a mesmíssima história, mas com uma cadência totalmente diferente, que finalmente me deixou segura para avançar. Ao voltar para casa, não tive dó em jogar fora o roteiro anterior e começar a reestruturá-lo do zero, mesmo mantendo o enredo intacto. Novos personagens nasceram, novas cenas surgiram. E, a partir desse novo ritmo que o filme tomara, finalmente encontrei seu sentido e direção e, consequentemente, o final do filme. A partir dai, todo o trabalho foi apenas detalhamento e aprofundamento das cenas. Especial-mente quando a equipe entrou e começamos a detalhar como a história seria contada visualmente, através de fotografia, cenário e figurino. E, claro, com a entrada da inteligência e da criatividade dos atores Gloria Pires e Paulo Miklos – e também de todos os coadjuvantes – tudo cresceu, mudou, saiu do papel para virar realidade. Ao final do processo, senti a alegria de ir para a ilha com a sensação de que a história estava contada sem furos. E então todo o processo começou de novo. Como de costume, cenas mudaram de lugar, blocos caíram, diálogos foram alterados, sentidos foram alterados sempre em detrimento do ritmo do filme. Afinal, esta foi, para mim, a grande lição deste processo. Para ser mito, a escrita de um roteiro tem que ser, antes de tudo, música. Anna Muylaert Personagens BABY – uma quarentona solitária, que mora num apartamento no edifício Piazza Navona, um prédio de classe média baixa, em São Paulo. Para sobreviver, dá aulas de violão para um ou outro aluno. Fora isso, consolida sua vida solitária falando com suas plantas, fumando seus cigarrinhos, um atrás do outro, e observando a vida dos vizinhos. Contatos quase só pelo telefone. As irmãs, POP e TECA, ela também pouco encontra e, quando isso acontece, apenas um assunto: com quem vai ficar o sofá da tia Dinah. Apesar de tudo, BABY ainda sonha em se casar. MAX – Cinquentão, ex-hippie, eterno sedutor, MAX acaba de se separar da mulher, a carioca STELLINHA, 22 anos mais nova e a maior encrenca de sua vida. Músico da noite, MAX está com a auto-estima meio avariada, depois de ter sido traído e largado por STELLINHA. STELLINHA – Ex-mulher de MAX. Jovem e sensual carioca. profissão: modelo de mão. SEU CHICO – Porteiro do prédio, homem entediado. Vive humilhado pelo chefe, a besta do PEPE, e sonha em voltar para sua terra. TECA – Irmãdo meio de BABY. Casada e cansada da vida do lar, TECA vive falando mal do marido, LITO. POP – Irmã caçula de BABY. Profissional bemsucedida. LUI – NAMORADO DE POP LITO – Marido de TECA CLARA E LUANA – Filhas de Teca RAISSA – Sobrinha de Lito VANILDA – Depiladora BATERA – Amigo de MAX ENFERMEIROS E MOTORISTA – No pronto-socorro MÃE E FILHO – Na igreja PAULINHO – Aluno de violão 1 DONA GUIDA – Aluna 2 SR. SUZUKI – Aluno 3 JOHNNY MARLEY – Aluno 4 PAULÃO – Pai de Paulinho CORRETOR DE IMÓVEIS – Argentino MIKAELA – Cliente 1 CASAL DE CHINESES PEPE – Síndico do prédio PABLO – Filho Pepe – No elevador DIEGO – Neto Pepe – No elevador CASAL GAY – PAULO E JOÃO FRANCISCO – No elevador SENHORA JUDIA e ADOLESCENTE com cachorrinho – No elevador SENHORA, MÃE e BEBÊ – No elevador PEDREIRO E PINTOR DE MAX – Homens do povo INSPETOR JONAS GRUPO APOIO – ENFERMEIRA-CHEFE, MOCA BONITA, BERTHA E ENFARTADO ZÉ TADEU – Gerente churrascaria HOMENS DA MUDANCA PESSOAS NA IGREJA VENDEDORES NO FAROL eu sei que horas são, mas se me perguntam que horas são, eu não sei mais que horas são Santo Agostinho Roteiro PRÓLOGO – ATROPELAMENTO! INT. CORPO DE BOMBEIROS / NOITE – DIA D Galpão do corpo de bombeiros. Silêncio. É de madrugada. Tédio. Vários bombeiros e motoristas estão ali, em silêncio, aguardando uma emergência. Som de pernilongo no ar. Um dos bombeiros caminha em direção ao portão, onde apoia-se e acende um cigarro, quando, de repente, o silêncio é interrompido pelo SOM DO TELEFONE, que toca. Bombeiro-chefe atende o telefone. CHEFE Sim. (começa a anotar endereço) Certo, certo... João Moura. Altura do 236. Já estamos indo pro local. Chefe desliga. Aciona a sirene do atropelamento. CHEFE (CONTINUANDO) Atropelamento. Claudio! O bombeiro que fuma dá uma última tragada, entediado. MOTORISTA É muito azar! No meio do cigarro! Motorista dá larga tragada e joga o cigarro no chão e pisa em cima. Câmera fica no cigarro amassado no chão. CORTE PARA: Sobre o black: Música É Proibido Fumar – gravação original Roberto Carlos. CRÉDITOS INICIAIS Funde com... Som de burburinho vindo da sequência seguinte. INT. IGREJA / DIA / DIA 1 No alto da igreja, PM de um quarteto de cordas, vestido de fraque. Eles seguram os instrumentos e aguardam. Nos bancos, câmera lateral pega um grupo de pessoas, todas muito arrumadas, sentadas, conversando num banco de igreja. Temos ali crianças, velhos e muitos casais. As crianças cor-rem, passam por baixo dos bancos, enquanto os velhos olham para o infinito. As mulheres mais velhas fofocam com as mulheres mais velhas e os homens mais velhos tendem a ficar mais calados. Entre elas, uma mãe com criança faz exercícios de matemática. Todos conversam baixinho. De repente, ouve-se um barulho fora de quadro. Todas as pessoas levantam-se e olham para a porta da igreja. Mães cutucam filho. MÃE Shhhh! Entra uma marcha nupcial. Todas as pessoas assistem, embevecidas, à entrada da noiva. mas a câmera fica numa família: No centro do quadro, Baby, uma quarentona meio mofada, mas se esforçando bastante, com escova no cabelo e um vestido exageradamente chique. Ao seu lado estão suas duas irmãs, Teca e o marido Lito, que fazem um gênero bem tradicional, com as filhas Clara, 7, e Luana, 1. Também está ali a irmã caçula, Pop, mais moderna, como o nome diz, com Lui, um namorado lindo e entediado. Em primeiro plano, cruzam o quadro daminhas e fotógrafo. Até que a noiva, vestida de branco, cruza o quadro e, bem perto da câmera, com seu sorriso tenso, ela passa. Todas as pessoas viram-se e ficam olhando a sua chegada ao altar. BABY Nossa, mas ela tá linda! TECA Não falei? BABY Olha a cinturinha! Cruza o quadro o pessoal do vídeo, com luz. A câmera aproxima-se da cara de Baby, que olha o casamento encantada. Faz-se silêncio nova-mente, ouvimos algumas tosses e o microfone do padre é ligado. Todas as pessoas se sentam. Baby tosse baixinho. PADRE (OFF) Caros fiéis, é com muita alegria que nos unimos todos aqui em torno do enlace de Maria Cristina e Juliano... Baby começa a ter um ataque de tosse, que não para de crescer. No silêncio da igreja, sua tosse ecoa. Suas irmãs olham para ela, que resolve levantar-se para tossir lá fora. Baby levanta e sai, no meio de um crescente ataque de tosse. CORTA PARA: INT. APTO BABY – SALA / DIA – DIA 2 Close de um cinzeiro de cristal, cheio de bitucas de cigarro, com um maço aberto ao lado. Em cima do maço, um isqueiro. Som de tosse. A mão de Baby entra em quadro, pega um cigarro e acende. Baby dá uma longa tragada no cigarro e o deixa no cinzeiro. Baby se afasta com um regador nas mãos e começa a molhar suas plantinhas. Ela está com seu aspecto do dia a dia, moletom, cabelos presos, óculos. O apartamento de Baby é um apartamento pequeno, cheio, lotado de plantas de todos os tipos: avencas, samambaias, etc. Em todos os lugares, o quadro está sempre dominado pelas plantas. Baby rega planta por planta, com todo o cuidado. BABY Olha a chuva... é a hora da chuva. Que delícia, que delícia. Entre uma planta e outra, ela dá outra forte tragada no cigarro e volta a depositá-lo no cinzeiro. BABY (CONTINUANDO) E você? Tá bonita hoje, hein? Tá dando brotinho, é? Quando termina de regar, volta ao sofá com o controle. Fuma o cigarro e troca de canal. Fumaça enche o quadro. CORTA PARA: AULA DE VIOLÃO 1 INT. APTO BABY – SALA / DIA – DIA 3 Baby está dando uma aula de violão para um menino de aproximadamente 10 anos, Paulinho, vestido com roupa de judô ou tae kwon do. Ele toca muito mal uma música bem fácil – que seja lá qual for, está irreconhecível. Ela fica olhando ele tocar, meio sem jeito. Ele termina de tocar e olha para ela. Ela não sabe o que falar. BABY Paulinho.. se não estudar, não adianta... Paulinho olha para Baby, mudo. BABY (CONTINUANDO) Vem cá, você quer continuar estudando essa ou quer aprender outra? PAULINHO Quero aprender outra. Essa daí é muito difícil. BABY Será que é difícil ou você não gosta? PAULINHO É! Não gosto. BABY Tem alguma, assim, que você queira? PAULINHO Sabe aquela que meu tio tocou no churrasco? BABY Não, qual? PAULINHO É uma que ele canta, que tem um sapo e um boi e nananã. BABY Um sapo e um boi e nananã? Não sei, não. Paulinho fica meio decepcionado. Suspira. Olha as plantas. PAULINHO Olha! Tem uma planta igual a essa na casa da minha avó em Peruíbe. BABY Legal. Vamos aprender outra? PAULINHO Vamos. BABY Deixa eu ver aqui. Baby pega seu caderno e folheia, escolhendo uma música. Tempo. BABY (CONTINUANDO) Olha, eu vou tocar uma, presta atenção. Vê se você gosta. Baby toca uma música bem fácil, tipo MARCHA SOLDADO BABY (CONTINUANDO) Gostou dessa? PAULINHO Nossa! Muito difícil... Tem alguma coisa pra comer? BABY (PENSA) Tem bolacha, quer? PAULINHO Recheada? O SOFÁ DA TIA DINAH INT. APTO BABY – SALA / NOITE / DIA 4 Baby está em pé, na frente da TV ligada, com um telefone sem fio nas mãos e fumando um cigarro, andando de um lado pro outro, falando compenetradamente com a irmã, Teca. BABY Mas Teca... peraí, o que que a Pop vai querer com esse sofá? Não acredito! Ela falou isso? Ah... eu não acredito que ela falou isso. Eu vou ligar pra ela... Não! Não se preocupe. Tudo bem. Eu juro. Eu não falo nada, deixa comigo. Já te ligo. Baby desliga o telefone, resfolegante, apaga o cigarro. Acende outro cigarro, dá duas tragadas e faz uma ligação. Espera um tempo. Enquanto fala, faz posturas de ginástica. BABY (CONTINUANDO) Alô, Pop? É a Baby, tudo bom? Pode falar agora? Tudo bom. E aí?... Não... não sei. Escuta, eu tava falando com a Teca no te lefone e eu mencionei pra ela que eu tava a fim daquele sofá verde da tia Dinah... ela falou que, por ela, tudo bem... e eu queria saber... Ah... você tem interesse? Sei... (levanta-se, irritada) Mas Pop, você tem onde botar? (fica muito irritada, mas se controla) Não Pop, não é isso... tudo bem... Mas é que desde pequena que eu gostei desse sofá... a mamãe sempre falou que, o dia que a tia Dinah morresse, esse sofá ia ser meu. Você não lembra? E daí, que a Tia Dinah me deu esse sofá na festa de 70 anos dela, você não tá lembrada? Ela deu o sofá pra mim, o Santo Antônio pra você e o bauzinho de madeira pra Teca, não tá lembrada? Mas, Pop, eu não quero o Santo Antônio! Eu quero o sofá verde da tia Dinah! Tudo bem. Vamos conversar. A gente marca. Tá bom. Baby desliga o telefone com ódio. Dá outra tragada no cigarro e volta a ligar. BABY (CONTINUANDO) Teca? ‘Cê tinha razão. A filha da puta quer o sofá! CORRETOR MOSTRA APTO VIZINHO INT. APTO VIZINHO – SALA + COZINHA + QUARTO + BANHEIRO / DIA 5 Apartamento idêntico ao de Baby, mas vazio, sem móveis e espelhado. Por ele caminham um corretor de imóveis, 35 anos, com calça e camisa social e capanga embaixo do braço. e Mikaela, a sua cliente, uma mulher jovem, com ar determinado. Ele abre a janela, onde está pregado um anúncio onde se lê: Imobiliária RODRIGUES – ALUGA-SE. Ela olha tudo, em silêncio. CORRETOR São 100 m2 sem vaga na garagem. O living é amplo e este corredor serve ao dormitório, com janela para varanda. Tempo. A cliente dá uma olhada geral. Ele observa. CLIENTE Pequeno, não? CORRETOR Viu o preço? CLIENTE O IPTU tá incluído no preço? CORRETOR Posso ver com o proprietário. Cliente enfia a cara e olha o diminuto banheiro. Vê os azulejos decadentes. CLIENTE Ele desconta a pintura do aluguel? CORRETOR Não. Ele acabou de pintar. CLIENTE Mas... olha esse box! Corretor vai até o box e puxa o box caído. CORRETOR Esse box aqui é assim mesmo... tem que puxar. Ele puxa o box. Cliente fica olhando. Cliente olha a cozinha, abre torneiras. CLIENTE Mas escuta, onde é que pendura a roupa? CORRETOR Minha senhora, no banheiro! Na cozinha! Vamos embora que tenho outro cliente às cinco. Corretor fecha a janela e vai saindo. Antes de sair, cliente para e contempla o apartamento vazio pela última vez. CLIENTE Tá um cheiro de curry aqui, não tá? CORRETOR (JÁ NO HALL) Deve ser do carpete. Cliente sai. Corretor fecha a porta. CORTE PARA: SOPA INT. APTO BABY – COZINHA / NOITE – DIA 6 Baby está sentada na mesa da sua cozinha, como sempre sozinha, tomando uma sopa insossa. Ela está com roupas informais, tipo camisetão promocional de disco, com moletom. Ela sorve a sopa, pausadamente. Na sua frente, um ANTIGO ÁLBUM DE FOTOS. Baby pega uma tesoura. Encontra FOTOS DE 3 MENINAS. Com uma tesoura corta a figura da caçula – Pop, em algumas das fotos. Volta a colar no álbum, só duas meninas. Termina de comer, afasta o prato, toma uma vitamina e acende um cigarro, dá uma tragada. Tédio mortal. AULA DE VIOLÃO 2 INT. APTO BABY – SALA / DIA / DIA 7 Baby dá aula de violão pra uma senhora, Dona Guida, tipo 80 anos. A senhora tem muita boa vontade, mas pouca coordenação motora. Na frente delas, uma bandeja com chá, geleia e algumas torradas. BABY Isso dona Guida. Dona Guida continua. Em cada mudança de posição, ela para. BABY (CONTINUANDO) Agora o dó! O dó, dona Guida! Não o lá! O dó! De repente, som de vozes no apartamento ao lado. Baby levanta-se e vai até a janela tentar ouvir ou ver o que acontece do lado. Dona Guida segue aos tropeços. Ouve vozes masculinas. Uma voz é a do corretor. A outra é de algum desconhecido: Max EXT. FACHADA EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA Baby vira o vidro da janela, procurando um ângulo que tente refletir o vidro do apartamento vizinho e acaba conseguindo um ângulo em que os vultos dos homens passem, de vez em quando, por ali. Ela vê um pouco e gosta. INT. SALA BABY – DIA Volta para a aula. BABY Inquilino novo. DONA GUIDA Não sei. Por quê? BABY Inquilino novo. Vão alugar o apartamento ao lado. DONA GUIDA Não sei minha filha... na minha época, a gente aprendia piano. BABY E aí, agora vamos tocar o quê? VOZES MASCULINAS ficam mais altas. Baby levanta, vai até a janela e volta. O corretor fecha a janela do apartamento vizinho e, aparentemente, caminha para a porta da saída. Baby ouve o movimento e anda, pé ante pé, até a porta de entrada, onde enfia o olho no OLHO MAGICO e espreita o hall, onde Max e o corretor esperam o elevador. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – HALL 7º ANDAR / DIA Baby observa o hall pelo olho mágico. Max examina as paredes. MAX Olhaessaparede!Quantotáocondomínio? CORRETOR Preciso ver. Mas é baratinho. MAX Baratinho quanto? Olhas essas paredes! Quero desconto! E tem que ver aquele box lá também. Corretor ri. Chega o elevador. Max puxa, mas não vem. CORRETOR Tem que puxar com jeitinho. Corretor puxa com jeitinho e consegue. MAX Ah... Eles entram e somem. INT. APTO BABY – SALA / DIA Baby volta para o apartamento, levemente alegre. Olha-se no espelho. Volta a sentar-se ao lado de dona Guida. BABY Dona Guida? Dona Guida, de repente, dá uma cochilada. BABY (CONTINUANDO) Dona Guida? Baby fica olhando dona Guida, que, num primeiro momento, não acorda, mas, num segundo, acorda com um sorriso de Buda nos lábios. DONA GUIDA Claro, claro, pode mandar fazer. SÃO PAULO EXT. RUAS DA CIDADE 1 – CARRO BABY / DIA – DIA 8 GPG da cidade no horário do rush. Muitos carros parados num cruzamento difícil da cidade: Pedroso e Rebouças. SOM DE RÁDIO ao fundo, locutor dá dicas de trânsito. LOCUTOR DE RÁDIO (OFF) Pra quem tá voltando pra casa, a dica é evitar a 23 de Maio, quem sabe, pegando a avenida Ibirapuera ou mesmo a Brigadeiro, que também tem o trânsito lento, mas tá andando... Baby está perdida no meio do caos, dentro do seu golzinho velho, mas bem conservado. Som de rádio sempre ao fundo. O farol abre e fecha. Ela anda dois metros. O farol fecha. Ela fica parada. Acende um cigarro. Vendedor 1 empurra uma BALA. O farol abre, ela anda mais dois metros. Calor. Poluição. Vendedor 2 tenta vender ÁGUA. Vendedor 3, GUARDA CHUVA. LOCUTOR DE RÁDIO (OFF) (CONTINUANDO) Mas pra quem quer fugir do trânsito mesmo, é dica é morar em outro lugar há há há. Agora papo sério: Saiu no jornal. Todos os dias saem 600 carros novos das concessionárias! Como é que vai fazer? É como diz um amigo meu, São Paulo virou um grande estacionamento! O farol abre de novo. Dois metros. Vendedor empurra grandes mapas da cidade. Menino pobre faz malabarismo com limões na frente do carro de Baby, que suspira de tédio e dá umas moedinhas pro garoto. Carro anda mais dois metros. Farol fecha de novo. NO ELEVADOR INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – ELEVADOR / DIA – DIA 9 Um casal gay sobe no elevador. Eles são comissários de bordo. Eles conversam. PABLO Mas eu comprei o alvejante semana passada! JOÃO FRANCISCO Eu não sei o que essa mulher faz! Acho que ela bebe alvejante! PABLO Ela bebe é pinga, isso, sim! JOÃO FRANCISCO Será que ela leva o alvejante pra casa? PABLO Ai, Chiquito, vamos comprar um cadeado pro armário? JOÃO FRANCISCO Só se for. Dandi late. Pablo se olha no espelho. PABLO Ai, como eu tô gordo! CORTE PARA INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – ELEVADOR / DIA Senhora Enfermeira da avó do Adolescente e o Adolescente conversam. SENHORA 1 Mas desde quando? ADOLESCENTE Desde o ano passado. SENHORA 1 Mas o Reinaldo nunca desconfiou? Senhora se olha de frente, de lado. Adolescente dá de ombros. SENHORA 1 (CONTINUANDO) Ah... elesquesãobrancosqueseentendam! ADOLESCENTE Mas não se preocupa, não, vó, não se preocupa. Eu vou pegar eles na curva. Ah vou... SENHORA 1 (SUSPIRA) Ai... ai... ‘Cê trouxe o recibo do plano? ADOLESCENTE CABELUDO Ta no meu bolso. CORTE PARA: INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – ELEVADOR / DIA Baby está no elevador com sacolas de supermercado. Aperta seu botão. Ao seu lado, Max, cinquentão bem apessoado e aparentemente seguro de si, junto com seu pintor e seu pedreiro, homens do povo. MAX Qual a diferença da tinta acrílica pra látex? PINTOR Uma é mais brilhosa que a outra. Max vê Baby e a cumprimenta, sedutor. MAX (PARA BABY) Bom-dia. BABY Bom-dia. Baby fica observando Max, que segue conversando com seus homens, mas sempre de olho em Baby. MAX (ASSERTIVO) Do que ‘cê tá falando, Edmilson? Eu tô lá interessado se a tinta é brilhosa, fosca, opaca! Eu quero saber é do preço. Max olha pra Baby, que ri. PINTOR Agora, sim! O senhor disse tudo! Disse tudo! Vai depender muito da marca, né? MAX A mais barata! A mais barata! PEDREIRO O senhor tem que ver também se vai arrumar aquela torneira da cozinha, que tá quebrada. MAX Vou trocar nada, Dionísio. Já disse. Eles chegam no andar certo. Eles saem. Max segura a porta para Baby, cavalheirescamente. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – HALL 7º ANDAR / DIA Todos saem do elevador. Baby suspira, seus olhos, de repente, brilham, sem que sua boca sorria. Max pega uma chave na plantinha, que fica ao lado da porta, e vai abrir a porta. MAX O apartamento não é meu. PEDREIRO É... mas aquela torneira ali... MAX Quando der merda, eu conserto. Max abre a porta do apartamento e vê que Baby é a sua vizinha. MAX (CONTINUANDO) Ah... é você que mora aí? BABY Sou. MAX Muito prazer, sou seu novo vizinho, Max, a seu dispor. BABY (SEM GRAçA) Seja bem-vindo. MAX Precisando de qualquer coisa... uma xícara de açúcar... uma massagem... Baby ri, sem graça. PEDREIRO Vem, que eu vou te mostrar o problema. Os três entram no apartamento e fecham a porta. Baby, olhando o que acontece no vizinho, enfia a chave na porta e entra no seu. INT. APTO TECA – QUARTO BEBÊ / DIA – DIA 10 Em primeiro plano, Teca coloca seu bebê de um ano, Luana, no trocador e começa a trocar sua fralda. Ao lado Baby faz gracinhas com o bebê. BABY Ai tchuchiquinha... que perninha mais gordinha.. né? Né? A cara da tia, né? Baby faz cosquinhas no bebê, que mexe as pernas, alegre. TECA Ela ta linda, né? Ta linda... Mas vou te dizer, não dormiu a noite inteira! Eu tô um caco! E o Lito roncando! Sinceramente, ele não podia ajudar? BABY Mas Teca... ele trabalha o dia inteiro! TECA E eu, não? Sabe quantas fraldas eu troco por dia? Teca vai limpando a bunda da criança. Baby fica quieta, sem responder. TECA (CONTINUANDO) Falar é fácil... BABY Por que você não arranja um trabalho? TECA Ele não deixa. BABY Mas Teca... ele não deixa? TECA Falar é fácil! Por que você não arranja um marido também? Daí você ia saber do que eu tô falando! Baby fica quieta. Suspira. TECA (CONTINUANDO) Desculpa. BABY (OFENDIDA) ... TECA É fácil falar dos outros, né? Teca termina de trocar a fralda. Pega o bebê no colo e levanta, admirando. INT. APTO TECA – COZINHA + ÁREA DE SERVIçO / DIA Teca esquenta mamadeira, enquanto Baby brinca com Luana no colo. TECA Esse fogão tá uma bomba! BABY Alugaram o apartamento lá do lado do meu... TECA Xi... Vai voltar o barulho! BABY Não sei... talvez não. É um cara simpático. Acho que é solteiro. TECA Como chama? BABY Não sei. TECA (COM DESDÉM) Não sabe nem o nome e já tá apaixonada? BABY (SORRISINHO) Apaixonada, eu? Por quê? TECA É por isso que você não casa! Nem conhece o cara e já tá apaixonada! BABY (OFENDIDA) O quê? Do que ‘cê tá falando, Teca? Eu nem falei nada, você já tá botando uruca! TECA Eu te conheço, Baby! Você é sempre assim! Toda vez você mete os pés pelas mãos! Lembra do Afrânio? BABY Ah, não! Vai desenterrar o Afrânio a essa altura do campeonato? Teca, você me desculpe, mas eu vou embora. Baby levanta-se, devolve o bebê, ofendida. TECA Não vai, desculpe... eu só quero te ajudar. BABY (IRôNICA) Ajudar? Baby pega um cigarro e aproxima-se do fogão para acender. TECA Será que você podia fumar pra lá? Nem respeita sua sobrinha! BABY Eu vou fumar pra lá! Baby acende o cigarro e vai para a área de serviço, fumar ofendida. TECA Escuta, a Betina mandou te convidar pra festa de 18 anos da filha dela. BABY A Betina do Dante? Aquela fedelhinha ja fez 18 anos, não acredito! Como ela chama mesmo? TECA Raíssa. Vamos, Baby. O pessoal ta doido pra te ver. Você nunca aparece. A galera do clube também vai. Chico, Paulão, Silvana... Tá todo mundo com saudade de você. BABY Vou pensar. A Pop também vai? TECA Não. Teca dá mamadeira para o bebê. Baby suspira. BABY Quem falou que eu quero casar? Quem falou, hein? Teca suspira. TECA Todo mundo quer. BABY Nem todo mundo. TECA Todo mundo. INT/EXT. EDIFÍCIO P N – FACHADA + PORTARIA – DIA – DIA 11 Baby chega na frente do edifício, coloca o controle para fora, aperta, mas não funciona. Baby buzina. Seu Chico surge com o controle remoto do portão nas mãos e abre o portão da garagem. O portão automático abre até metade e encrenca. Seu Chico volta a apertar o controle remoto. O portão retorna. Seu Chico para, aperta de novo e, então, o portão consegue abrir por inteiro. O carro de Baby passa. Seu Chico volta pra portaria, pega um bilhete de loteria, fica fazendo apostas. Vemos o circuito interno de TV. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – ELEVADOR / DIA Baby sobe no elevador. Sai logo. Imagem vista através do circuito interno. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – PORTARIA / DIA Câmera se afasta do monitor e revela o porteiro, Seu Chico fazendo jogos da loteria. Chega Baby. BABY Fazendo uma fezinha, seu Chico? SEU CHICO É... dona Baby, a senhora não quer participar do bolão? Preciso dar um jeito na minha vida! Quero voltar pra minha terra, dona Baby! Quero voltar pra Bahia! BABY É isso ai... SEU CHICO Ficar aqui... só levando humilhação! Quando eu me lembro da minha terra... Todo mundo se conhece, todo mundo se ajuda... (indignado) Sabe a última da besta do Pepe? BABY Não. SEU CHICO (INDIGNADO) Sabe o que a besta do Pepe falou ontem pra mim? BABY Não. SEU CHICO Que eu sou careca! A senhora acredita? Só porque é o síndico, pensa que é melhor que os outros. A senhora acha? BABY Acha o quê? SEU CHICO Que eu sou careca? BABY Não. Normal. SEU CHICO Pronto! Seu Chico suspira aliviado. Aparecem duas meninas pequenas. GAROTA Seu Chico, minha mãe deixou uma sacola ai? Seu Chico entrega a sacola, as garotas saem. Baby olha o circuito interno de TV. BABY E aí, tem alguma coisa pra mim? SEU CHICO Tem. Tem isso aqui. Seu Chico entrega correspondência. Baby suspira e acende um cigarro. Seu Chico também pega e acende um. BABY Seu Chico, e essa reforma no meu vizinho? Quem alugou? SEU CHICO Seu Josmar. Mas é pra chamar de Seu Max. BABY Seu Max? Quem é? SEU CHICO Não sei, mas é gente fina. Pelo menos, parece. Vamos ver depois... BABY E ele... vai morar sozinho? SEU CHICO Acho que sim. Nunca vi ninguém com ele. Ele vive sozinho ali naquela padaria! BABY Ah é, é? SEU CHICO Toma três, quatro, cinco cafezinhos. Direto, ali naquela padaria! BABY Caramba! Vai pegar uma gastrite! SEU CHICO Ou úlcera! Os dois fumam seus cigarros. BABY NA BROTOLÂNDIA INT. CASA RAISSA / NOITE / DIA 12 Música animada: Festa de Raissa, Uma grande mesa com comes e bebes. Baby, Teca, Lito e vários amigos de várias idades cantam parabéns para Raíssa. TODOS É hora! E hora, é hora é hora, Ra-timbum! Raíssa! Raíssa! CORTA PARA: A música para e entra um homem do tambor com um aparelho de som e começa um meio show de música árabe. Várias senhoras arranham uma dança do ventre. Raíssa convida a todos. Baby participa da aula aberta de dança do ventre, sem largar o pratinho e o copo de refri – com mais 4 senhoras fora de forma e alegres. Tempo nessa dança. MAX CHEGOU / DIA 13 EXT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – FACHADA / DIA BLACK – abre-se a porta do caminhão de mudança, sob ruído forte. Os caras começam a tirar as coisas de Max: móveis, pôsteres, caixas, uma velha geladeira, um velho fogão, um bujão de gás, um computador antigo, etc... não tem muita coisa. Eles vão trabalhando sob as ordens de Max. INT/EXT. APTO BABY – JANELA / DIA Baby enfia a cara na sua janela e fica observando os movimentos de Max lá de cima, que lhe parece bem másculo e decidido. EXT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – FACHADA + PORTARIA / DIA Seu Chico sai da portaria com o controle remoto nas mãos e abre o portão para alguém. POV de Baby: Max dando ordem pros caras, quando, de repente, ela vê que ele leva um grande INSTRUMENTO MUSICAL: uma caixa de VIOLÃO. INT/EXT. APTO BABY – JANELA / DIA Baby fica hipnotizada pelo instrumento. Baby dá um sorrisinho maroto e observa o movimento da mudança lá embaixo e ouve os ruídos no apartamento ao lado. DEPILAçÃO INT. CABELEIREIRO / DIA / DIA 14 De calcinha e sutiã, Baby deita-se na cama de depilação, numa grande sala com várias macas. Em segundo plano, vemos mais três mulheres depilando-se nos mais variados lugares. Todas elas berram de vez em quando. Depiladora Vanilda aproxima-se de Baby. VANILDA Então... Vamos fazer o quê? BABY Perna inteira. DEPILADORA pega a cera quente. Passa. BABY (CONTINUANDO) Ai... tá muito quente... VANILDA Tá quente nada, tá boa. Depiladora arranca pelos. BABY Aaaahhhh! VANILDA Olha a frescura! BABY Frescura? Depiladora arranca mais pelos. BABY (CONTINUANDO) Ahhhhh! VANILDA Vamos... guenta, acaba logo. BABY Acaba logo? Mal começou! VANILDA Se você ficar reclamando, vai doer mais! Depiladora arranca mais um pouco. Cliente lá atrás berra também. BABY Ahhhh! Para. Por favor, para um pouco. Depiladora para e bufa. VANILDA Há quanto tempo você não depila? BABY Faz tempo. VANILDA Qual o nome dele? Baby ri. VANILDA (CONTINUANDO) Não minha filha... Pra você vir aqui é que tem gato na tuba! Não vai fazer virilha?... Já rolou ou ainda vai rolar? BABY SE DEUS QUISER, vai rolar! VANILDA Então, tem que fazer a virilha. BABY Virilha é demais. VANILDA Sabe o que é bom nessa hora? BABY O quê? VANILDA Salmão! BABY Salmão? VANILDA Salmão. BABY Como assim, salmão? Que salmão? Depiladora pega revista CARAS, mostra material sobre SALMÃO. VANILDA Salmão. Compra um salmão, convida ele. Salmão é sofisticado, mostra interesse e mostra também que você é chique! Além do que, tá escrito aqui, ó, que salmão é afrodisíaco! Eu já testei. Salmão é batata! Baby sorri, depiladora aproveita e arranca mais pelos. BABY AHHHHH!!!! ATO II INT. APTO TECA – SALA / NOITE – DIA 15 Teca está em pé, balançando carrinho de bebê e olhando para a TV. No sofá, seu marido, Lito, olhando a filha jogar NINTENDO WII. Ela joga tênis e fica se mexendo loucamente na frente da TV. LITO Vai! Assim! Assim! Ah não! TECA Deixa ela jogar do jeito dela! De repente, campainha. LITO Está esperando alguém? TECA A Baby. LITO (ESTRANHANDO) A Baby? Uma hora dessa? Teca sai para abrir a porta, sem responder. LITO (CONTINUANDO) Avisa que não pode fumar dentro de casa. Teca sai bufando. TECA (ESTúPIDA) Ela é minha irmã, Lito! INT. APTO TECA – COZINHA + ÁREA DE SERVIçO / NOITE Teca entra com Baby na área de serviço, cheia de roupas penduradas. BABY Não sei como você aguenta isso... TECA Ah minha filha, na hora que eu ganhar dois mil reais por mês eu vou sumir daqui, que ele não vai nem ver minha cara! BABY Teca...? TECA Ah minha filha... aproveita sua solteirice, porque depois que casa, minha filha, fica difícil separar... Lito entra na cozinha para pegar água. Ao perceber sua presença, Teca muda de atitude. TECA (CONTINUANDO) Uns preeeeços! Mas uns preeeços! Lito sai. Baby está pra cima. Ela acende, fuma um cigarro, faz um certo suspense. BABY Teca... Eu vim aqui pra te dizer o seguinte. Eu pensei bem. Se a Pop não quer me dar o sofá.. Tudo bem... não vou ficar mais mendigando esse sofá pra vocês duas! TECA Que bom, Baby! Teca levanta as mãos pro céu e pega um cinzeiro e dá pra Baby. BABY É... eu andei pensando. Tô em outra. Teca aproveita pra retirar roupas secas do varal. TECA Ah que bom... Por que eu tava pra te falar... A Pop trocou o pano do sofá, sabe? BABY (INDIGNADA, POR CIMA) Ah... Ela trocou o pano do sofá sem falar comigo? TECA Ela já tinha trocado quando você falou que queria o sofá... Baby caminha na área, abre um armário, futuca em alguma coisa, volta. BABY Sem falar comigo? Ah, a Pop ta passando dos limites! Por que você não me falou? TECA Ela pediu praeunãotefalar, mas eu ia falar. BABY E por que não falou? TECA Porque eu sabia que você ia ficar brava. BABY (BRAVA) Pois é, mas você se enganou. Eu não tô brava. E sabe por quê? Porque eu tô noutra na minha vida, entende? Se ela não quer me dar o sofá que, alias, é meu, que a Tia Dinah me deu na festa de 70 anos dela, se ela não quer me dar, tudo bom. Pode dizer pra ela que ela enfie o meu sofá, você sabe onde. Baby fuma olhando para a vista noturna. PG da vista da área de serviço. TECA Tudo bem. Vamos tomar um café? GPG da cidade que nunca dorme. (vista apto Teca) INT. APTO BABY – SALA / FIM DE TARDE – DIA 16 No seu apartamento, Baby toca uma canção no seu violão. Sua voz é bonita, ela toca bem violão e a vista da cidade, no fim da tarde, sugere al-gum tipo de esperança. A música que ela canta traz lembranças de um tempo feliz. TATUAGEM de Chico Buarque BABY Quero ficar feito cruz nas suas costas, que te retalho em postas, mas no fundo gostas quando a noite vem... Ela toca com concentração e alma. Ela canta bem. Momento de silêncio musical. Respiro, ar. INT. PADARIA / DIA / DIA 17 PG da padaria, vista do balcão. Em primeiro plano, Max pede um café. MAX Mais um café. Max espera o café. Vemos que Baby entra lá atrás, em segundo plano, na área dos pães. O BALCONISTA serve o café para Max, que começa a tomar, olhando para um monitor de TV que tem no alto. O balconista continua seu movimento de ir e vir. Eles comentam sobre o JOGO DE FUTEBOL. Em segundo plano, na parte de pães, surge Baby, que logo vê Max e perde o foco de sua ação. Imediatamente ela finge que não o vê. Fica parada entre os leites e os achocolatados, meio olhando Max, de longe, tentando não ser vista. Os outros clientes continuam circulando. Max toma o café, com um olho na TV, sem perceber que está sendo observado. Baby vai se aproximando aos poucos. Quando chega bem perto, Max põe a xícara no pires. MAX (CONTINUANDO) Quanto é? Sem ver Baby, Max paga a conta e sai. Baby finge que não vê, aproxima-se do balcão e pede uma água. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – ELEVADOR / DIA – DIA 17 Baby esta no elevador com o síndico Pepe, seu filho Pablo, 45, e neto Diego, 13, andam de elevador. BABY Mas como cresceu. Seu Pepe! PEPE Mas ainda tem cabelo! PABLO Pai, para de jogar uruca no menino! PEPE Não tô dizendo nada. Neto de careca, filho de careca, vai ser o quê? Careca! O neto Diego, de saco cheio, olha para o teto, tentando desviar a atenção. BABY Nossa, Seu Pepe! Calma! Baby ri. INT. APTO BABY – SALA + HALL 7º ANDAR / NOITE – DIA 18 Baby assiste TV à noite, sozinha, fumando. Sons vêm do apartamento ao lado. Baby fica atenta. De repente o violão cessa e ela ouve um grande barulho metálico vindo do apartamento ao lado. Baby fica atenta. Levanta-se e tenta ouvir sons do apartamento vizinho, colocando o ouvido na parede. Os sons continuam. Som de campainha. Baby assusta-se, caminha até o olho mágico, vê que é o vizinho. Volta, se olha no espelho e finalmente abre a porta. Encontra Max, banho tomado. MAX Boa-noite,... eu... BABY Sim...? MAX (SEDUTOR) Tudo bom? BABY Tudo. MAX Sabe o que é? BABY Não. Diga. MAX Escuta, Você conhece alguma moça assim, honesta, uma mocinha honesta pra ser minha faxineira? BABY Bom... Eu posso ver com o pessoal lá do açougue. MAX (JOGANDO CHARME) Ah... Lá no açougue? Lá no açougue tem faxineira, é? BABY (RINDO) Em termos! MAX Ah… Em termos! Que termos? Baby cai no charme e ri. BABY Quanto é que ‘cê tá pagando? MAX Tô pagando o dia. Só que tem uma coisa. BABY O quê? MAX É meio urgente. BABY (PREOCUPADA) Urgente? Max vai se afastando em direção ao seu apartamento. Baby o segue. MAX ‘Cê não quer dar uma olhada? Os dois entram no apartamento dele. CORTE PARA: INT. APTO MAX – COZINHA / NOITE Baby está lavando a louça de Max, enquanto ele, sem camisa, lava o chão da cozinha. Os dois estão animados. Clima de paquera. BABY ... mas há quanto tempo que ninguém limpa aqui? MAX Putz grila... Desde que eu me mudei. BABY Mas nem lavar uma loucinha? MAX Sabe como é? Não tenho costume. BABY Cadê os produtos de limpeza? MAX Aqui em cima. Baby abre o armário. Os produtos estão ao lado das comidas. BABY Você guarda cândida do lado do pacote de pão? Max ri meio sem graça. INT. APTO MAX – QUARTO / NOITE Baby e Max estão terminando de puxar o lençol da cama dele. Max discursa entusiasmado. MAX O problema é que nada, olha o que eu tô falando, nada do que acontece hoje em dia se compara com os anos 70! BABY Como assim? MAX Como assim? Hoje em dia não tem mais música! Tem mercado! Não tem mais artista! Tem produto! Essas bandas criadas em gravadora! BABY Puxa aí. Max puxa a colcha. MAX A coisa é simples, minha filha. Os anos 70 foram o futuro. Passou 40 anos e o quê? O mundo voltou pra trás. Hoje a gente vive no passado de novo. Baby olha para Max. INT. APTO MAX – SALA / NOITE Baby e Max tomam café e conversam, ao lado da mesa dele, onde tem um PC antigão. No cinzeiro, um baseado que Max dá uns tapinhas de vez em quando. Bagunça. LPs espalhados. Max fuma um baseado. MAX E você quanto você ganha por aula de violão? BABY Uns trinta reais. MAX É isso aí, véio! Se o negócio agora é grana, a gente tem que ir atrás da grana... eu tenho um lance genial que eu tô bolando aí... com o Batera, conhece o Batera? Um projeto novo. Pra ganhar muita grana. Quer mais um tapinha? Baby fuma. Max se espreguiça. BABY Que que é? Também tô nessa! MAX Aula de música na porta do supermercado. Saca o lance. A mulher vai lá no mer cado fazer suas compras, comprar batata, cebola, arroz e tal. O que ela faz? Ela tem que levar o filho... sabe quantas mulheres levam as crianças, por exemplo, no Extra num dia de semana? São mais de duas mil crianças por dia. Isso é estatística. Papo sério. É nesse nicho que a gente vai entrar. BABY Mas como vocês vão conseguir o espaço? MAX Aí é que tá. O cunhado do Batera é geren te comercial desse Extra aqui perto. Então é isso. A gente vai apresentar o projeto. QUICK MUSIC. (fazendo o gesto como se visse os letreiros) A mãe deixa a criança ali, a gente ensina vários instrumentos: aula de 15, de 30 e 60 minutos. A mãe faz suas compras sossegada, enquanto a criança tali aprendendo alguma música. Une o útil ao agradável. QUICK MUSIC. Que que ‘cê acha? Olha aqui. Max estende várias pastas. Na capa Quick violão, Quick-flauta, Quick teclado, Quick gaita. Baby olha o material e pensa um pouco. BABY (ESTRANHANDO) Interessante. MAX A gente tá pensando em pôr esse projeto na lei de incentivo. Sabe lei de incentivo? CORTE: INT. APTO MAX – SALA / NOITE O casal em outra posição – NO SOFÁ Max está com o instrumento, tocando e cantando. MAX (CANTA) Foi a mais linda história de amor... que até hoje já ouvi contar... teteterete, teteterete, teteteteretê, tetê! BABY Essa é boa, mas não se compara com Chico Buarque! MAX Como não? Que caretice! BABY (CANTA) Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto.. Pra você parar em casa.. Qual o quê... MAX Que é isso? Essa tá boa pra minha vó! Pelamor de Deus! (canta) Chove chuva, chove sem parar. Hoje eu vou fazer uma prece a Deus, nosso senhor... que é pra chuva parar de molhar... BABY Tudo bem... é boa, é boa... mas o Chico... Ninguém captoua almafeminina comoele! MAX Não! A melhor é... Peraí que eu vou botar um LP! Silêncio, Baby está fascinada. Max dá um tapa no baseado e passa pra Baby, que dá um tapinha e tosse. Max coloca um LP para Baby ouvir. MAX (CONTINUANDO) Essa é a melhor. Max coloca uma música de Jorge Ben. Pode ser QUE NEGA É ESSA? MAX (CONTINUANDO) Olha esse violão, olha esse violão! MAX (CONTINUANDO) Que nega é essa? Os dois cantam. MAX E BABY Que nega é essa, que nega é essa? MAX Ele é o melhor! O melhor! Os dois ficam curtindo o som, Max aproxima a mão dele da mão de Baby disfarçadamente. CORTE PARA: INT. APTO MAX – QUARTO / NOITE Câmera fixa, revela apenas pedaços do corpo de Max, com Baby por baixo dele – vemos apenas pedaços de suas mãos nas costas dele. Num primeiro momento, eles gargalham. Num segundo momento, fazem sexo, avidamente. INT. APTO MAX – SALA / NOITE Max está tocando seu instrumento, sentado sem camisa. Baby sai do quarto dele, vestindo um Camisetão Black com motivos roqueiros, como Raul Seixas. Ela vai até a sala e acende um cigarro. MAX Por favor, será que dava pra você fumar pra lá? Baby vai para o corredor, abre a porta e começa a fumar. INT. APTO MAX – SALA + HALL 7º ANDAR / NOITE Baby está fumando um cigarro, no hall. A porta do apartamento de Max está aberta. Lá dentro do apartamento, ele dedilha o violão, enquanto conversa com Baby, lá no corredor. É um diálogo todo falado em voz alta: BABY Quero te ver cantando lá no seu bar. MAX Não é bar. É restaurante. E é uma merda. BABY Mas eu quero. MAX O chefe lá só gosta de sambão. BABY E daí? Você não gosta de sambão? MAX No começo, eu até gostava. Mas depois de 18 anos tocando sambão... Sinceramente! Sabe quantas vezes eu já assassinei o camarão, minha filha? Umas 500 vezes! (rindo) E olha... Nem sei como ainda tem camarão! Baby ri e se apoia no cigarro, dando uma longa tragada. MAX (CONTINUANDO) Vem cá, quando ‘cê vai parar de fumar? BABY Pois é... MAX Pois é, nada... Tem que parar. Quantos quilômetros você já fumou? BABY (RINDO) Cigarro é foda. Uma merda. MAX Bota merda nisso! Fumante fede. Tem que parar! BABY (SEM GRAçA) Ai... que horror... MAX Um horror mesmo! Por que ‘cê não para? BABY Tem que arranjar forças. Baby dá mais tragadas no cigarro. Ela chega perto da janela do hall e olha a vista de São Paulo, ouvindo o som do contrabaixo dele. Baby está feliz. MAX Não precisa forças. Só precisa largar. Brisa bate na cara de Baby. BABY Acho que vai chover. INT. CABELEIREIRO / DIA / DIA 19 Baby deita na cama de depilação, só de camiseta e calcinha. (O estilo de sua camiseta mudou) Atrás dela, várias mulheres também fazem depilação. A depiladora Vanilda está esquentando a cera e aproxima-se. BABY Virilha! VANILDA Não me diga... (levantando as mãos pro céu) Virilha!!! quer dizer que... Bateu o martelo? Baby ri. VANILDA(CONTINUANDO) Cera quente ou de mel? BABY De mel. Depiladora vai pegar o material. VANILDA Conta, menina. Fez o salmão? Volta. BABY Não! Ainda não! VANILDA Segura a calcinha. Conta. Depiladora passa cera na virilha. BABY Ah... o que que eu vou dizer? VANILDA Rolou ou não rolou? BABY Yeess!!! Vanilda vibra. VANILDA Tive uma ideia! Vou te dar um conselho profissional. BABY Fala. VANILDA O negócio agora é desmatamento da Amazônia, sacou? Vamos fazer Brazilian? BABY Brazilian? Depiladora mostra como se depila a xoxota Brazilian. VANILDA É a xoxota da moda. Olha, as depiladoras brasileiras inventaram, a moda pegou em Nova York e agora o mundo inteiro está assim! Aqui ó. Avança bem dos lados e em cima, deixa só um bigodinho... BABY Ai. Não, vai... não sei como é isso. Depiladora pega revista e mostra xoxota Brazilian. BABY (CONTINUANDO) Mas isso é o quê? Coisa de mulher pelada! VANILDA Tô te falando, vamos... vamos... todo mundo usa! Todo mundo usa! Segura a calcinha aí, o... eles adoram... Baby ri. BABY Não... não, vai? VANILDA Vai por mim, todo mundo usa Brazilian... Nunca ouviu falar? O sexo fica muito mais higiênico! Depiladora puxa. BABY AHHHH! O SALMÃO INT. APTO BABY – SALA / NOITE – DIA 20 Sentado na mesa, Max espera Baby que tira o salmão do forno. Ele observa a decoração da casa. Uma mesa toda arrumada, bem diferente de quando ela come sozinha. Copos mais finos, até florzinhas catadas na rua. MAX Mas você tem planta, hein? BABY (DA COZINHA) Eu adoro natureza! Baby vem da cozinha, com o salmão fumegante. MAX O cheiro tá uma delícia. Baby coloca o salmão em cima da mesa. PD do prato. Senta-se. Ela está radiante, com escova no cabelo e parece até estar usando uma blusa nova. Quando ela se senta, Max faz um carinho em sua mão e os dois se olham, se servindo. Baby serve Max e, em seguida, se serve. Max experimenta o salmão. Baby se serve. Está toda feliz, orgulhosa, arrumada, feminina. MAX (CONTINUANDO) Tá bom, meio sequinho, mas tá bom. BABY Como assim, sequinho? Quando Baby vai dar a primeira garfada... MAX Não... É que eu tô acostumado com o salmão da Stellinha, o dela é mais molhadinho... Ao ouvir esse nome, Baby abaixa o garfo. Respira fundo e toma coragem. BABY Ah, é? E como é o salmão da Stellinha? MAX Parece esse, no forno, mas o dela leva creme de leite... hum... BABY (NARIZ TORCIDO) Creme de leite no salmão? Nunca vi. MAX Muito, muito bom. A Stellinha aprendeu na França. Se você quiser, eu peço a receita pra ela. BABY Quem é Stellinha? MAX Stellinha é minha ex. Baby perdeu completamente a fome. BABY Nossa, do jeito que você falou parecia que ela era sua empregada. MAX Stellinha, minha empregada? Imagina, aquela lá? Nem pra servir um café! Baby finalmente põe um pouco de salmão na boca, para disfarçar sua inapetência, mas tá difícil de engolir. BABY Ah, é? Por quê? MAX Ah... porque você não conhece a Stellinha... a Stellinha, putz... modelo, produtora, fala várias línguas... HBABY Ah... ela é modelo? MAX Modelo de mão. Sabe aqueles canais que vendem anel? Que fica a mão parada assim? Então... Ela é uma daquelas mãos... BABY Bom... Ela deve ter uma mão bonita... MAX Tem. Tem. Alem do mais, é carioca... Sabe o que é ser casado com uma carioca? BABY Não. Como é? MAX As cariocas são diferentes. BABY Como assim, diferentes? MAX Elas são mais... (tempo) Comparado com as paulistas, elas são menos... BABY Elas são mais ou são menos? MAX (RI) Mais ou menos. Baby fica em silêncio um pouco, suspira fundo. BABY Mas faz quanto tempo que vocês separaram? MAX Xi... Nem sei. Perdi a agenda. BABY Mas vocês tiveram filhos? MAX Não... nada de filhos. Só um cachorro, o Hendrix. Tem mais um vinhozinho? Baby fica quieta de vez. Serve o vinho para ele. MAX (CONTINUANDO) O arroz tá muito bom. Muito bom mesmo. Sal na medida exata. EXT. FACHADA SUPERMERCADO – EXTRA / FIM DE TARDE – DIA 21 Carro de Baby para no estacionamento do hipermercado Extra. Ela e Max saem do carro e vão para a frente do hipermercado. Ela agora veste jeans, numa tentativa de modernização do visual. Vemos de longe, que ele esta mostrando para ela o local ideal para o Quick Music Ela acompanha. MAX Ta vendo ali? Imagina o logo Quick Music! BABY Mas ali estão os carrinhos. MAX Eles mudam, pra eles não faz diferença. Passam mães com crianças. MAX (CONTINUANDO) Olha a quantidade de criança! Olha a quantidade de criança! Olha a quantidade de mães! Max fotografa o local com câmera 35 mm. Os dois saem de la, abraçados. INT. GRUPO DE APOIO A FUMANTES ANôNIMOS / DIA – DIA 22 SALÃO DE FESTAS DE UM PRÉDIO Várias pessoas estão numa reunião de um GRUPO DE APOIO DE FUMANTES. PD de várias mãos, nervosas. Uma abre e fecha um clip, a outra enrola um elástico, outro cutuca as unhas... Entre elas, Baby, uma senhora gorda, BERTHA, a ENFERMEIRA-CHEFE, um ENFARTADO e uma MOçA BONITA. Todas as pessoas ali estão parando de fumar. A enfermeira-chefe distribui copinhos de plástico e água para todos. CORTE PARA: BERTHA Bom... eu já tô na quinta semana. No começo, que eu achei que ia ser pior, até que eu aguentei mais, mas agora, eu não sei, parece que tá ficando mais difícil. ENFERMEIRA-CHEFE É... tem gente que sofre mais no começo, tem gente que vai sofrer depois de um ano, mas o negócio é seguir nossos três passos: RESPIRAR, TOMAR ÁGUA, RESPIRAR. E lembrar, lembrar do nosso lema, do nosso mantra: O CIGARRO PARECE MEU AMIGO, MAS É MEU INIMIGO. Todos repetem. TODOS Respirar, tomar água, respirar. O cigarro parece meu amigo, mas é meu inimigo. ENFERMEIRA-CHEFE E você? Um enfartado começa seu depoimento. ENFARTADO Eu tô sofrendo muito... Enfartado quase chora, está muito deprimido. ENFARTADO (CONTINUANDO) Eu não sei viver sem fumar. ENFERMEIRA-CHEFE Faz quanto tempo? ENFARTADO Dois meses. ENFERMEIRA-CHEFE Xi... o pior já passou... o pior já passou... ENFARTADO E se eu fumasse três por dia? ENFERMEIRA-CHEFE Três não dá, você sabe que não dá. Lembre-se: respirar, tomar água, respi rar. O cigarro parece meu amigo, mas é meu inimigo. Enfermeira olha para BABY. ENFERMEIRA-CHEFE (CONTINUANDO) E você, é nova aqui? BABY Sou. ENFERMEIRA-CHEFE Vai parar mesmo? Tá decidida? BABY Tô. ENFERMEIRA-CHEFE Então me dá seu maço de cigarro. BABY Agora? ENFERMEIRA-CHEFE Tem que ser agora. Baby abre a bolsa e entrega o maço de cigarros para enfermeira, com medo, com pesar. ENFERMEIRA-CHEFE (CONTINUANDO) Olha para mim. Baby olha para a enfermeira. ENFERMEIRA-CHEFE (CONTINUANDO) O cigarro parece meu amigo, mas é meu inimigo. Repete comigo. BABY O cigarro parece meu amigo, mas é meu inimigo. ENFERMEIRA-CHEFE Esse agora é o seu lema. É. Vai sofrer? Vai. Vai subir pelas paredes? Vai. Mas agora você tem uma arma, que é o seu lema: RESPIRAR, TOMAR ÁGUA, RESPIRAR... Se segura nisso como se fosse uma boia, tá bom? E você? MOCINHA BONITA Ah... eu preciso confessar. Eu fumei três cigarros ontem à noite. Baby olha e respira fundo. INT. APTO BABY – SALA / DIA / DIA 23 Baby está no seu sofá, em estado de choque. Fica parada um tempo. Ela se levanta, senta-se, parece perdida. Ela olha para as próprias mãos. Ela brinca com as próprias mãos, que estão perdidas sem o cigarro. Montagem de vários planos: Baby levanta-se, bebe água. Senta-se. Levanta-se. Pega UMA CANETA BIC, tira o recheio e começa a fumar a caneta Bic. Dá longas tragadas de ar. BABY Respirar, tomar água, Baby bebe água. BABY (CONTINUANDO) Respirar. Baby respira fundo. pega o telefone. BABY (CONTINUANDO) Alô, Paulão? Olha, você me desculpe. Mas eu não vou poder dar aula pro Paulinho. Hoje. Desculpa. Fiz uma cirurgia na boca. É... Na boca... Tá bom. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – SALA GINÁSTICA / DIA Baby faz esteira. INT. APTO BABY – COZINHA / NOITE Baby está sentada na mesa da cozinha, com uma caixa de bombom na sua frente. Ela come,avidamente, um bombom atrás dooutro. Respira fundo. Levanta-se, vai até a geladeira, pega água. BABY Respirar, beber água, respirar. Baby bebe água, respira e volta a mastigar avidamente. De repente, ouvem-se SONS DE SEXO. Baby levanta-se, curiosa. Baby vai até a janela aberta, rindo meio marota, quando, de repente, percebe que os sons vêm do lado do apartamento de Max. EXT. APTO BABY – JANELA / DIA Baby petrifica. Fica ali, do lado da janela, os sons de sexo vão ficando mais fortes. Tempo nessa situação desconfortável. INT. APTO BABY – SALA / DIA Baby dá aula de violão para SR. SUZUKI, que esmerilha numa bossa nova, enquanto Baby, ao lado, está totalmente catatônica e fumando uma caneta Bic, como se fosse cigarro. Sr. Suzuki termina de cantar a música. SR. SUZUKI Bem? BABY Muito bem. Ta muito bom mesmo. SR. SUZUKI Agora vou te mostrar o que eu preparei. SUZUKI começa a tocar Uirapuru. Enquanto ele tira a música, Baby levanta-se, vai de novo até a janela, tenta ouvir outros sons. Ela fica atrás da janela, que reflete os prédios da frente. BABY Vai tocando aí que eu tô ouvindo. Eu tô ouvindo. Baby vai até o olho mágico. BABY (CONTINUANDO) Isso... dó sustenido, isso... Baby acompanha tudo, sem a mínima paciência. INT. APTO MAX – QUARTO / NOITE – DIA 24 Baby e Max fazem sexo na penumbra. Vemos apenas um pedaço do corpo de Max em primeiro plano, e a sombra do casal projetada na parede. INT. APTO MAX – SALA / NOITE Baby está sentada ao lado de Max, que dedilha um violão. Ao lado, uma garrafa de vinho e dois copos. Baby esta um pouco ausente. Max coloca um CD no seu PC. MAX Sabe o Batera? O Batera meu brother, um puta percussionista, fez esse favor pra mim, arranjou e gravou essa música minha, quer ouvir? Baby balança a cabeça desanimada. MAX (CONTINUANDO) A mixagem não tá muito boa, mas saca a levada, saca a levada. Max coloca uma música meio mal gravada. Max curte muito o som. Baby fica ouvindo, a cada minuto, mais travada. Baby está ficando desesperada, enquanto Max canta a música sem som, envolvendo-se com cada passo de cada instrumento. Max tenta beijar Baby, que se esquiva. Ele desliga a música. MAX (CONTINUANDO) Que foi? BABY Max... Eu preciso te perguntar uma coisa. Max pega o violão e começa a dedilhar. MAX Xi... conheço essa voz... Tá de TPM? BABY Não. MAX Só pra saber, fala. BABY Max... eu... não sei por onde começar... outro dia, eu tava ali em casa, de noite e eu ouvi uns sons... MAX Quando? Max para de tocar. BABY Anteontem. MAX Sei. Que sons? BABY Parecia que vinha daqui. Max põe o violão no chão e senta-se. MAX Daqui? Que tipo de som? BABY Parecia som de sexo. MAX Som de sexo? BABY É. Baby fica quieta. Max fica bravo, começa a colocar a meia e o sapato. MAX Ah, não acredito. Já começou com essa história? BABY Que história? MAX Que história? História de ciúmes, ora! Ouve uma gata, ouve uma vizinha, quem sabe até do outro prédio, pronto! Já liga a maquininha! Já começa a imaginar! Já acha que sou etc., etc., etc.! Olha aqui, quer saber, vocês mulheres são todas iguais!!! Aliás... quase todas, porque têm umas diferentes. Poucas, mas têm. A Stellinha, por exemplo. Por que você acha que eu fiquei com ela todo esse tempo? Porque ela nao perguntava, não futucava, nunca quis saber. E quer saber? Eu nunca traí a Stellinha. Nunca. Max bufa, levanta-se, sem paciência, e toma um copo de água. BABY Não... tudo bem... desculpe. Max respira fundo. Pega a garrafa de vinho, que esta quase no final e mostra para Baby. MAX Olha, Baby... Por que em vez de olhar a meia garrafa vazia, será que dava pra olhar a meia garrafa cheia? BABY Desculpa... Max levanta e beija Baby. Baby e Max se beijam. INT. CABELEIREIRO – DIA / DIA 25 PD das mãos de Baby na manicure. A mulher termina a cutícula. MANICURE Renda, prenda, pérola? Câmera sobe e vemos Baby com bóbis no cabelo. BABY Carmim. Manicure abaixa e cata os esmaltes. INT. CHURRASCARIA / NOITE – DIA 25 PG de uma churrascaria. Garçons cruzam o quadro com espetos de carne, enquanto clientes conversam e riem, normalmente. Num palco lateral, Max está tocando Baby, de Caetano Veloso, para Baby. MAX Você... Precisa saber da piscina.. da margarida... Da carolina... Baby, baby há quanto tempo... Baby, olha, embevecida. É uma homenagem a ela. Ela está com unhas vermelhas e anel. De repente o dono da churrascaria, Zé Tadeu, surge no salão. Um cliente o chama. Ele fala com o cliente e em seguida vai em direção a Max fala-lhe ao ouvido. ZE TADEU Eu te pago pra tocar sambão. Max olha resignado, dá uma virada na bateria, olha para Baby de saco cheio e começa a tocar um sambão. MAX (FALSAMENTE ANIMADO) Canta, canta minha gente, deixa a tristeza pra lá, canta forte, canta alto, que a vida vai melhorar... Imediatamente, os CLIENTES reagem ao sambão positivamente e toda a churrascaria parece ficar mais feliz. Comensais cantam com Max o sambão, levantam o copo de chopp e brindam. A alegria paira no recinto. Baby está encantada. Apesar do saco cheio de Max, ele está cantando para ela. MAX (CONTINUANDO) (FALSAMENTE ANIMADO) A vida vai melhorar, a vida vai melhorar... Zé Tadeu passeia pelo local cumprimentando os clientes, orgulhoso. INT. CHURRASCARIA / NOITE Sambão segue em BG. Max está numa mesa, conferindo as comandas da noite. Garçons limpam a casa. Baby está ao seu lado, abraçada nele, apaixonadíssima. MAX Vinte e quarto, vinte e sete, esse aqui não pagou. Por que será que essa mesa aqui não pagou o couvert, hein? Hein, ô Armando, por que essa mesa aqui não pagou couvert, hein? Garçom passa reto. GARçOM Sei lá... MAX Neguinho é foda! Neguinho é foda... Eu vivo disso, caralho! Eu vivo disso, sabia?! Baby suspira de amor. EXT. PARQUE VILLA-LOBOS / DIA – DIA 26 O mesmo sambão explode nas caixas: Baby e Max andam com bicicletas alugadas no árido PARQUE VILLA-LOBOS. É domingo. Certo estranhamento, certa alegria no ar. Eles entram na ciclovia que esta hiperlotada. Parece que estão passeando numa feira. Alegria desengonçada no ar. INT. APTO BABY – BANHEIRO / FIM DE TARDE – DIA 27 Baby está tomando uma chuveirada, muito contente. Ela desliga o chuveiro e vai até o quarto, de toalhas. BABY Respirar, tomar água, respirar... INT. APTO BABY – SALA+ VARANDA / FIM DE TARDE Baby cruza a sala e vai para a varanda molhar as plantas. PD de plantas sendo regadas. De repente, ela volta a ouvir os sons de sexo. Baby petrifica. Sons de sexo selvagem acontecem no apartamento ao lado. Baby despenca. Baby segura uma samambaia que está à mão, arranca uma folha e começa a fumar a samambaia. EXT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – FACHADA 7º ANDAR / FIM DE TARDE GPG das duas janelas mostram Baby em pé ouvindo o que se passa ao lado. Os sons de sexo não param de crescer. Baby continua na janela, petrificada, enquanto no apto ao lado apenas uma luz de abajur e uma cortina que balança. Baby fuma a samambaia, não aguenta e morde a samambaia, por fim, come a samambaia. EXT. SAO PAULO / FIM DE TARDE POV de Baby: quadros da cidade. EXT. RUAS DA CIDADE 2 – CARRO BABY / DIA – DIA 28 Baby está no meio da avenida Rebouças, onde os motoboys não param de passar voando ao seu lado. A cena é inóspita. Baby está ansiosa e ao mesmo tempo desatenta dentro do carro. Próxima ao farol, ela solta o acelerador antes da hora e quase pega um MOTOBOY. MOTOBOY Ai Dona Maria!! Baby pede desculpas e sai. INT. ESCRITÓRIO DE POP / DIA Escritório enorme de Pop, que está sentada atrás de uma mesa, na frente do seu laptop, enquanto Baby anda de um lado pro outro na sua frente, fazendo um discurso. Vez ou outra, Pop responde um messenger. BABY É, é verdade. Eu disse pra Teca que desencanei. Eu disse. Mas isso não quer dizer que eu desencanei! Eu não desencanei! POP Vem cá, a Teca não te falou que eu acabei de trocar o pano do sofá? BABY Você trocou o pano do sofá? POP Ela não te falou? O sofá tava encardido! BABY Mas o sofá era meu, Pop! Se você queria trocar o pano, você tinha que falar comigo primeiro! Baby levanta-se. POP Como você é dramática! Então, tá bom. Você quer o sofá, eu te devolvo o sofá! Pronto, ta resolvido, além da casa da mamãe você também fica com a porra do sofá da Tia Dinah. BABY Ah, não, Pop! Ah, não! Agora você passou dos limites. Eu quero saber de uma coisa. Pra que você quer esse sofá? Posso saber? Toca o celular de Pop. POP Pera um minuto. Pop atende o celular. POP (CONTINUANDO) Oi. Hi, Jane? Yeah. I just talked to her. Yes. It’s ok. Yes. Ok. Kiss. Bye. Pop desliga o celular. BABY Chega Pop. Chega. Abre a porta. POP Não faz drama. BABY Abre a porta. POP Como você é dramática! Anda vendo muito novela? Baby fica histérica. BABY VAI TOMAR NO CU, POP! POP Vai partir pra baixaria? Baby começa a chorar. BABY VAI TOMAR NO CU!!! POP Calma, Baby! BABY Sua filha da puta! Só porque você é alta? ‘Cê se acha superior só por causa dessa bosta desse 1,70 m? Altura não traz felicidade, sabia? Sua riquinha de merda! Baby cai em prantos. POP (COM DESESPERO) Não acredito nisso... Baby, você já ficou com o apê da mamãe, você ficou com tudo o que tem ali dentro.. As louças, as roupas de cama... BABY Você torrou a sua parte porque você quis! POP Eu não torrei minha grana. Eu fui pra Boston pra estudar, entendeu? Pra crescer e não fazer igual você que nunca deu um passo pra fora de casa, agarrada nesse seu violãozinho de merda! Baby, por que você não procura um analista? BABY Analista? Analista? Eu não tô precisando de analista, eu tô precisando é ... TE DAR UM SOCO NA CARA! Baby bate na mesa. Pop liga, pelo interfone, para a secretária. POP Wanda, traz uma água com açúcar, por favor. Pop se levanta e se aproxima da irmã, que chora. BABY Não põe a mão em mim! POP Que tá acontecendo, Baby? O que tá acontecendo com você, meu? As duas sentam-se, igualmente arrasadas. BABY Eu não entendo por que você quer esse sofá... Tempo. POP Eu também sinto falta da Tia Dinah. INT. ESCRITÓRIO DE POP – CORREDOR / DIA Baby e Pop caminham em silêncio tenso, em direção ao elevador. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – HALL 7º ANDAR / DIA Baby, com aspecto perturbado, abre a porta do seu apartamento. Baby toca a campainha de Max. Ninguém responde. Ela vê A PLANTINHA ali do lado, enfia a mão, procurando a chave. Num primeiro momento, não encontra. Procura de novo e eis que tem uma chave. Ela pega a chave, suspense. Baby fica nervosa, anda até o final do corredor, volta. Guarda a chave, anda. Alguns segundos, ela pega de novo e torna a pegar a chave. Ela toca a campainha. Ninguém atende. Ela toca de novo. Enfia superdevagar no apartamento de Max e a porta abre. BABY Max...? INT. APTO MAX – SALA / DIA Silêncio. Baby vai entrando, pé ante pé, supernervosa, certifica-se de que não tem ninguém. Baby olha em cima da mesa, não acha nada de interessante. INT. APTO MAX – QUARTO / DIA Vai até o quarto, a cama está desfeita. Ao lado da cama, camisinhas, um vibrador, um boneco de pelúcia e uma tiara de mulher. Baby pega a tiara, cheira. Ao lado, um cinzeiro com várias bitucas de cigarro e também um baseado. Ao lado, chocolate. Baby olha tudo rápido e vai para o banheiro. INT. APTO MAX – BANHEIRO / DIA Baby entra, olha o espelho do banheiro. Olha dentro da lata de lixo. Apenas papel higiênico e muito. INT. APTO MAX – SALA / DIA Nervosa, Baby vai até a sala, abre uma gaveta qualquer e encontra o que procurava: UMA GAVETA DE FOTOS. Baby começa a olhar as fotos: Stellinha sorrindo – Max e Stellinha abraçados na praia – Max e Stellinha vestidos para o natal, ao lado de uma árvore – várias fotos do cachorro Hendrix – Stellinha com bebê no colo ao lado de Max – Max com o bebê no colo – Stellinha nua, Stellinha dormindo – close do salmão com creme de leite da Stellinha, closes da mão de Stellinha, sempre com unhas longas e 8 aneis. Baby começa a tremer. BABY Respirar, beber água, respirar. Baby olha as fotos: joga as fotos na gaveta. Levanta-se, muito nervosa, e sai do apartamento. INT. EDIFICIO PIAZZA NAVONA – HALL 7º ANDAR / DIA Baby chega no hall, tranca a porta e volta a esconder a chave de Max. INT. APTO BABY – SALA / DIA Baby dá aula para Dona Guida, que segue aos tropeços. Baby esta totalmente sem paciência. BABY É isso ai, dona Guida. Isso aí. Ta muito bom. Muito bom. Sua mente esta em outro lugar. INT. APTO BABY – SALA + QUARTO / DIA TV ligada: Shop Tour – canal que vende anel. Baby sobe numa cadeira para alcançar uma caixa no alto da estante. Desce e abre um pacote e desembrulha uma caixa. Tira dali uma furadeira velha. Procura uma broca. Fica toda atrapalhada. Liga na tomada. Não sabe como mexer. PD da furadeira furando a parede, tudo errado. Muito nervosa, quase tremendo, Baby está fazendo um furo no seu quarto, que dá para o quarto de Max, do outro lado. Quando ela termina, ela checa o buraco. INT. APTO MAX – QUARTO / DIA INSERT POV de Baby: quarto de Max vazio. INT. APTO BABY – SALA / DIA Baby sai do seu apartamento, muito nervosa. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – HALL 7º ANDAR – DIA Baby abre sua porta, pega a chave de Max e entra no seu apartamento. INT. APTO MAX – SALA + QUARTO / DIA Tensão: Baby abre a porta do apto de Max, com cuidado, com um espanador de pó nas mãos. Entra no apartamento, pé ante pé, até o local onde ela vê o furo. Embaixo do furo, um monte de pó alaranjado. Ela limpa a sujeira, muito nervosa. Coloca uma plantinha na frente para disfarçar. Tensão: Baby sai correndo bem rápido, quase desmaia de tensão, fecha a porta do seu apartamento. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – HALL 7º ANDAR / DIA Baby sai do apto de Max, tranca a porta e entra correndo para seu apartamento. INT. LOCADORA / NOITE / DIA D – DIA 29 Max e Baby andam pela locadora – ela para na seção romance, ele para na seção terror. Ela está vestindo 8 ANÉIS – tensa. Ele se aproxima e percebe a tensão. Eles ficam em silêncio. Max fica levemente de mau humor. MAX Tá de TPM? Baby faz cara feia. MAX (CONTINUANDO) Só tô perguntando. De repente o celular dele toca. MAX (CONTINUANDO) Oi... tudo. Agora não posso falar. Obrigado, obrigado. Não, não ganhei nada... Escuta, vamos se falar amanhã? Ele se afasta e sai da locadora para falar melhor. Baby fica olhando Max com o rabo de olho, enquanto ele gesticula e anda do lado de fora. EXT. RUAS MOVIMENTADAS – NOITE Baby e Max caminham pela rua movimentada, razoavelmente rápido. BABY É seu aniversário Max? MAX Merda! Essa mulher fode coma minha vida! BABY (PÉSSIMA) Mas você vai lá encontrar-se com ela? MAX Vou ter! BABY Mas agora? Baby começa a tremer. MAX Se eu não for vai ser pior. Meu Deus, ‘cê não sabe o que ela faz! Ela pira, ela bebe, ela cheira. Ela encana. Eu... Baby, tá foda. Essa mulher fode com a minha vida! BABY Como assim? Max abaixa a cabeça, arrasado. MAX Você tem que me ajudar... Você tem que entender o meu lado... eu queria tudo com ela, eu queria casar, ter filhos, foram 8 anos nessa relação, 8 anos!!! Ela só punha no meu cu, só punha no meu cu... Na hora que eu saltei fora, ela pirou. BABY Ela fica atrás de você? Max fica quieto um tempo, suspira. MAX Às vezes. Silêncio. Os dois chegam na esquina. MAX (CONTINUANDO) Eu vou ter que ir. Desculpa. Um carro buzina. BABY Vocês andam se vendo? MAX Às vezes ela vem trazer correspondência. MAX (CONTINUANDO) Amanhã a gente se fala. Max cruza a rua e entra no carro de Stellinha. O carro sai. Baby fica parada, desolada, olhando o carro se afastar. Os carros cruzam o quadro. Baby segue caminhando sozinha, as luzes dos carros não param de irritar o quadro. INT. APTO BABY – BANHEIRO / NOITE PD Baby tira esmalte carmim das unhas. CORTE: De camisola, Baby escova os dentes triste. CORTE: Baby sentada na privada, olhando para o nada, desolada. INT. APTO BABY – SALA / NOITE Baby apaga as luzes da sala, quando ouve um barulho de elevador. Ela corre para o olho mágico, mas nada encontra. INT. APTO BABY – QUARTO / NOITE Baby coloca um copo d’água ao lado da cama e puxa o lençol. Ouve novamente barulho do elevador. Sai do quarto. INT. APTO BABY – SALA / NOITE Baby cruza a sala e vai até o olho mágico. INT. EDIFICIO PIAZZA NAVONA – HALL 7º ANDAR – NOITE POV de Baby: Max chega com Stellinha. Os dois entram no apartamento dele. INT. APTO BABY – SALA + QUARTO / NOITE Baby volta do olho mágico e caminha até o quarto. CÂMERA LENTA. Baby enfia o olho no buraquinho. INT. APTO MAX – SALA / NOITE POV de Baby. Quarto de Max vazio. INT. APTO BABY – SALA / NOITE Baby tira o olho do buraquinho, bebe mais água. Ela anda de um lado para o outro, bebendo água numa garrafa pet. BABY Respirar, tomar água, respirar! O cigarro parece seu amigo, mas é seu inimigo! Baby está muito mal, ela senta-se no sofá. Suspira, treme, toma água, fuma uma caneta, come um chiclete. BABY (CONTINUANDO) Respirar, tomar água, respirar! O cigarro parece seu amigo, mas é seu inimigo! Levanta-se e enfia o olho novamente no buraquinho. INT. APTO MAX – SALA / NOITE POV de Baby: Stellinha entra em quadro. Stellinha e Max andam, conversam. Ela ouve pedaços de palavras, parece que eles estão brigando. Stellinha senta-se e levanta-se. De repente, Max joga Stellinha no sofá e eles começam a se beijar. Baby vê pedaços de corpos entrelaçados. INT. APTO BABY – SALA / NOITE Baby está tremendo. Anda de um lado para o outro. BABY Chega. Vou comprar cigarro! Baby pega a bolsa e sai. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – HALL 7º ANDAR + ESCADA / NOITE Baby aperta o botão do elevador e, muito nervosa, fica esperando. A luz do hall se apaga automaticamente. Escuridão. De repente ouve vozes se aproximando. Baby corre e se esconde ao lado da escada. Max e Stellinha saem do apartamento dele e vão para o hall. Acendem a luz. Baby fica ali ouvindo o papo do casal, sem ser vista. A luz do hall se apaga, eles acendem de novo. MAX Quando você volta? STELLINHA Não sei. MAX Você nunca sabe de porra nenhuma. STELLINHA E você sempre quer saber de tudo. MAX Como vai o Hendrix? STELLINHA Tá bom. Meio gordo, mas tá bom. MAX Você trocou a ração? STELLINHA Não. MAX Já te falei pra trocar a ração dele. Enquanto Max e Stellinha se despedem, Baby desce as escadas, pé ante pé. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – ESCADA / NOITE Baby desce os dois lances de escada que a levam ao andar inferior. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – HALL 7º ANDAR / NOITE Max tenta beijar Stellinha, que se esquiva. MAX Não faz assim, Stellinha. STELLINHA Você sabe como eu sou. MAX Tudo bem. STELLINHA Por que você me mandou o e-mail? O elevador chega. MAX Eu queria as minhas correspondências! STELLINHA Sei. Então, tchau! Stellinha entra no elevador, Max fica ali, puto da vida. Max bate com a cabeça na parede. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – ELEVADOR / NOITE No elevador, Stellinha segue sozinha, se olhando no espelho. No andar de baixo, o elevador para. Vai entrar alguém. Entra Baby. Stellinha não dá bola, Baby olha radiografando. Baby e Stellinha ficam, as duas, lado a lado. Baby observa Stellinha, com o rabo do olho, mas Stellinha nem a nota. Baby fica olhando detalhes do seu corpo jovem, cabelo, nuca, mãos: Stellinha é linda. Stellinha segue ensimesmada, com respiração tensa. Stellinha acende um cigarro no elevador. Suas mãos têm anéis em todos os dedos, e esmalte vermelho. Baby olha suas mãos que fumam. O elevador chega no térreo. Stellinha sai, deixando fumaça no ar. Baby respira aliviada. Olha-se no espelho, ajeita o cabelo. O elevador chega na garagem. Baby sai. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – GARAGEM / NOITE Baby sai correndo, vai até seu velho Gol, entra, liga o motor e sai. Pela janela da rua, ela vê os pés de Stellinha caminhando. EXT.EDIFÍCIOPIAZZANAVONA –FACHADA/NOITE Baby chega no portão. Abre o portão com seu controle. O portão abre-se, mas como está meio enguiçado, para no meio. Vemos Baby saindo do prédio pela câmera do circuito interno da garagem. EXT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – FACHADA + RUA / NOITE Baby anda dez metros e vê Stellinha andando em direção a seu carro mais moderno, estacionado na esquina. Ela cruza a rua com todo charme e as suas várias sacolas, seus cabelos se esvoaçam, uma linda figura que solta fumaça de maneira charmosa e visual. Ela anda um pouco para a frente e para. Observa os movimentos de Stellinha ali atrás. Baby fica observando seus movimentos. Ao chegar próxima de seu carro, Stellinha deixa cair uma de suas sacolas. Objetos se espalham no chão. Baby passa por ela, mas não aguenta, volta. Baby dá uma ré e aproxima-se do carro de Stellinha, que está abaixada, pegando as coisas que cairam. Baby atropela objetos de Stellinha. Do seu carro, Baby vê a cena. Enfia a cara pra fora e pergunta: BABY Você podia me dar um cigarro? Stellinha encrenca. BABY (CONTINUANDO) Só queria um cigarro. Stellinha futuca na bolsa. STELLINHA Acabou. Baby olha para ela. STELLINHA (CONTINUANDO) Quer a bituca? Stellinha estende a bituca para Baby, que pega e dá uma tragada. Baby entra em transe com o cigarro. Stellinha vai para trás do carro e começa a catar suas coisas no chão. Baby segue fumando, quase no filtro, carro ligado. STELLINHA (CONTINUANDO) (ABAIXADA) E ai, bicho, se manda!? Você ta em cima da minha pasta! Stellinha bate forte na traseira no carro. Baby leva um susto e deixa o cigarro cair nas coxas. Ela tira o pé da embreagem e o carro dá um tranco para trás. BATIDA OCA Baby cata o cigarro e sente o silêncio. Suspense. Ela olha no espelhinho e não vê ninguém. Baby abre a porta do carro e vê a cena. Desesperada, fecha a porta e sai correndo. O carro de Baby se afasta. Câmera abaixa ate pegar a mão de Stellinha, lânguida, no chão do asfalto. Carro de Baby se afasta. BABY (OFF) Alô emergência, eu queria avisar sobre um corpo que eu vi caído, urgente, na rua João Moura, altura do número 200... PM de um orelhão parado. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – PORTARIA / NOITE Câmera do circuito interno da portaria mostra, no fundo do quadro, o corpo de Stellinha caído. Câmera corrige e vemos Seu Chico dormindo sentado. Tempo nesse quadro fixo e morto. INT. CORPO DE BOMBEIROS / NOITE Continuação da CENA DO PROLÓGO: Bombeiros entram no carro, fecham a porta e partem. CORTE PARA: EXT. AVENIDA PAULISTA / NOITE Câmera alta na avenida Paulista, na altura do MASP, virada para o sentido do Paraíso, durante a madrugada. Nenhum carro passa, os faróis abrem e fecham para ninguém. Começamos a ouvir um som de uma ambulância que vem do Paraíso. A ambulância vem se aproximando da câmera e passa. A câmera acompanha o carro branco, que soa em direção a Pinheiros. Os faróis continuam abrindo e fechando para ninguém na madrugada paulistana. INT. APTO BABY – SALA / NOITE Fumaça de cigarro em câmera lenta. Baby, totalmente descabelada e desesperada, está sentada no sofá, fumando um cigarro, com as mãos trêmulas. Baby dá uma, duas, três, quatro, cinco... vinte tragadas, em estado embevecido. Apesar do corpo manter-se parado, seus olhos não param de se mexer, indicando intensa atividade mental. INT. EDIFÍCIO PN – FACHADA + PORTARIA / DIA / DIA 30 Clima de tensão: Seu Chico está na portaria, ao lado de um inspetor de polícia, INSPETOR JONAS. Ao lado, o síndico do prédio, PEPE, e também Max, desolado. INSPETOR JONAS (AGRESSIVO) Mas, caramba, o senhor não viu nada, não ouviu nada? SEU CHICO Ela saiu, eu abri o portão. Depois, ela foi embora e eu voltei pra portaria. PEPE Ele sempre dorme no serviço. SEU CHICO Que dorme nada, Pepe! Eu tava acordado! PEPE Ninguém te perguntou nada. O acidente aconteceu ali do lado! INSPETOR JONAS É... Mas, de acordo com a perícia, não teve barulho mesmo. A pessoa deve ter parado pra ajudar e, sem querer, deu uma ré. MAX (PESAROSO) Foi muito azar... PEPE Viu? SEU CHICO Viu o quê? INSPETOR JONAS Gente, calma. O senhor tem que perguntar pra todo mundo pra saber se alguém viu alguma coisa. Alguém ligou pra emergência. Alguém viu. SEU CHICO Eu vou perguntar pra todo mundo. PEPE Eu vou perguntar também. Fica tranquilo, a gente vai perguntar pra todo mundo. MAX Será que não tem nada gravado aí nessas porras dessas fitas? INSPETOR JONAS Gravado o quê? O acidente aconteceu na rua, não no prédio! PEPE Esse treco aí vive quebrado. INSPETOR JONAS Bom... mas faz um favor, dá uma olhada. SEU CHICO Eu vou olhar. INSPETOR chama MAX com as mãos. Ele sai para o pátio na frente do prédio. Max o segue. INT/EXT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – FACHADA + PORTARIA / DIA Clima de tensão: Carro de polícia estacionado na frente do prédio. Max aproxima-se do inspetor. INSPETOR JONAS Você sabia que a Stellinha tinha contratado um detetive particular pra te seguir? MAX O quê? JONAS Ela tinha contratado um cara pra te fotografar. MAX Não acredito. A Stellinha? INSPETOR JONAS Ela sabia do seu caso com a vizinha. MAX Não tô entendendo. Quem contratou o quê? JONAS Presta atenção. A sua ex. Parece que ela morria de ciúmes de você. MAX (LEVEMENTE CONTENTE) A Stellinha? Quem falou? Max fica chocado. JONAS (CORTANDO) O detetive que ela contratou e não pagou. Bom, agora vou lá pro Jardim Ângela. A coisa tá preta. O país tá saindo do controle! Max está sem reação. Pepe se aproxima. PEPE O senhor não quer tomar um café? Toca o celular de Max. MAX É a mãe dela! Silêncio. Max atende o telefone. MAX (CONTINUANDO) (CONT’D) Oi, Lena... ah... não... não... Eu... eu... tô correndo praí. INSPETOR JONAS Sh... Max desliga o telefone. MAX A Stellinha... faleceu... Suspiros gerais. Max fica branco, mas se controla. INSPETOR JONAS Ah... meus pêsames... meus pêsames... Max sai, meio em transe. MAX Cadê meu carro? Ah... Não tenho mais carro, caralho! Acho que vou de táxi. Táxi! Táxi! INT. APTO BABY – COZINHA / DIA Balde derrama no chão. Sabão e vassoura esfregam os azulejos: Baby faz uma enorme faxina na cozinha. Ela joga água nas paredes, deixa a torneira ligada, limpa as paredes com vassoura. EXT. CEMITÉRIO DO ARAçÁ – FACHADA / DIA / DIA 31 Max sai do cemitério com Lena (mãe de Stellinha), mulher mais velha, despedem-se. Ele sai andando pela calçada, desolado. A câmera sobe e revela a imensidão do cemitério no meio da cidade. INT. APTO BABY – SALA / NOITE / DIA 31 Baby esta sentada no sofá, fumando um cigarro e balançando a perna. De repente ouve sons de choro. levanta-se e vai até a janela. EXT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – FACHADA 7º ANDAR / NOITE Clima de tensão: GPG das duas janelas, Max e Baby. Em sua janela, Baby, muito descabelada, fuma um cigarro. Na janela de Max, meia luz, apenas um som de choro. Ficamos um tempo nas duas janelas, que sofrem. INT. APTO BABY – QUARTO / NOITE Baby enfia o olho no buraco e começa a observar Max. INT. APTO MAX – QUARTO / NOITE POV Baby: Max está vendo futebol na cama, abraçado com um labrador preto, Hendrix, de cuecas. Chora quase o tempo todo. Às vezes para, volta a chorar. De repente ele levanta-se. INT. APTO BABY – SALA / NOITE Baby respira fundo, senta-se novamente. De repente, campainha. SOM DE CAMPAINHA. Baby leva um susto. Apaga o cigarro correndo. BABY Já vai! Baby joga o cigarro fora. INT. APTO BABY SALA – HALL 7º ANDAR / NOITE Baby abre a porta para Max, destruído. Baby, muito assustada. Max abraça Baby e chora convulsivamente. MAX ... BABY Entra. MAX Esse é o Hendrix. Pode entrar? Baby consente. Entram Max e o cachorro. Max senta-se no sofá. Baby senta do lado. Max suspira fundo, está mudo – catatônico. MAX (CONTINUANDO) (CONT’D) Você soube da Stellinha? BABY Eu soube... Max chora e abraça Baby, que o consola, mas com os OLHOS SEMPRE ABERTOS observando os movimentos desajeitados do labrador. O cachorro negro cheira de um lado para o outro. INT. APTO TECA – SALA / DIA / DIA 32 Baby está na casa da irmã, Teca. Baby está muito tensa, com braços e pernas contorcidos, olhar perturbado e tiques na boca. Teca está fazendo faxina, com aspirador de pó e o bebê no colo ao mesmo tempo. Baby tenta falar, mas não consegue. TECA Fala, Baby. O que que foi? Baby não responde. TECA (CONTINUANDO) Varre aquele pedaço ali para mim... Baby levanta e varre. TECA (CONTINUANDO) É sobre o sofá? A Pop me ligou, tá tudo certo com o sofá. Ela vai te mandar. E olha lá que ela tinha acabado de trocar o pano... tá novinho... BABY Teca... eu preciso falar com você. Teca desliga o aspirador. TECA Fala, Baby. Fala. Baby senta-se, ela está quase chorando. TECA (CONTINUANDO) Que foi? Que foi, Baby? BABY Não sei... TECA Quer uma água com açúcar? BABY Não. Baby pega um cigarro da bolsa. TECA ‘Cê voltou a fumar? Baby fuma e não responde. TECA (CONTINUANDO) Que judiação... já tinha parado. Voltou, foi? Baby não responde. Dá umas tragadas. TECA (CONTINUANDO) É o tal vizinho? Baby senta-se e começa a chorar forte. TECA (CONTINUANDO) Ele tá te fazendo mal? BABY Não é isso... TECA O que é? Ele é brocha? Baby dá uma risada, no meio das lágrimas. BABY Não... você não vai acreditar, Teca... eu não sei... é uma coisa muito antiga... não sei outro dia eu me lembrei... não sei me deu uma saudade... lembra daquelas festas de aniversário que a Tia Dinah fazia? Lembra quando morreu meu coelho, lembra, ela fez uma festa pra mim... toda de coelho, lembra? TECA Mais ou menos... Baby olha para ela, como um bicho acuado e dá mais uma tragada. BABY Então ela fez um bolo, era um bolo em formato de coelho. O recheio era de amendoim... Baby está desolada. As duas ficam paradas por um tempo. BABY (CONTINUANDO) Não sei... me deu uma saudade daquele bolo. Me deu uma vontade de comer aquele bolo, mas a tia Dinah morreu e nunca deixou a receita escrita... Teca... A gente nunca mais vai poder comer aquele bolo, entende? Baby chora. Teca olha, nem responde. Vazio. Entra música. EXT. SUPER – 8 MM / DIA Música continua. Insert: imagens em super 8 da festa de aniversário preparada pela Tia Dinah. Toda a familia se ajeita em volta do bolo de coelho. INT. APTO BABY – HALL 7º ANDAR / NOITE / DIA 33 Hall vazio. Baby abre a porta. Ela está toda arrumada, bem posta. Toca a campainha de Max. Fica esperando. Maxabre a porta, péssimo, descabelado,de pijama. BABY Oi... MAX ‘Cê voltou a fumar? BABY Não. Por quê? MAX Tá um cheiro de cigarro no hall. BABY Deve ser de outro apartamento. Max vai entrando, Baby entra atrás. INT. APTO MAX – QUARTO / NOITE Max deita-se na cama, Hendrix ao lado. Baby entra e senta-se, muito nervosa. Max serve mais vinho e pega seu instrumento, dedilha. Ele está meio bebum. Hendrix abana o rabo quando vê Baby. Todos se aninham na cama. BABY Tô te atrapalhando? MAX (BEBUM) Não, não... que atrapalhando... eu tava jogado aí... meu dedo tá duro de apertar o controle remoto. Baby suspira, decidida a contar o que aconteceu para Max. MAX (CONTINUANDO) Eu tava tomando ai um vinhozinho, uns vinhozinhos, quer um vinho? Você quer um vinho? Baby percebe que Max esta alcoolizado. Ela fica em pé. BABY Max... Eu preciso te contar uma coisa. Silêncio. MAX Que foi? TPM? BABY Não... TPM, não... Max... Baby não consegue falar. MAX Quer um vinhozinho? Max vai dedilhando o instrumento. Baby trava. MAX (CONTINUANDO) O que que foi? Tá de TPM? Baby toma fôlego. MAX (CONTINUANDO) Vem aqui. Deita aqui. Baby aproxima-se dele. Max bebe vinho. MAX (CONTINUANDO) Não quer um vinhozinho, mesmo? Max pega na mão dela. Baby senta-se. Max serve vinho para ela. MAX (CONTINUANDO) ‘Cê não sabe da pior. Max dá aquela paradinha de bebum. Max bebe mais vinho. Baby da um gole no vinho. Fica tensa. BABY O quê? MAX (BEBUM) O filha da puta do Ze Tadeu me demitiu. BABY (ALIVIADA) Te demitiu? Quando? MAX Ontem. Ontem à noite. BABY Mas por quê? Max levanta e Baby sai do colo. Max enxuga o copo de vinho. INSERT de imagens de futebol. MAX (BEBUM) Por quê? Ora, porque... eu tô mal, caralho! Não é normal? Eu tô mal! E quando você tá mal, você simplesmente não con-segue tocar sambão... sei lá... Não rola. BABY Sei, mas e daí? MAX Mas daí ele, daí ele veio, o Zé Tadeu, o dono da churrascaria, ele veio e falou no meu ouvido: eu te pago pra tocar sambão. Só que daí, daí eu falei: sambão, o caralho, seu filho da puta! Daí... já viu! Fudeu. Silêncio na sala. Tempo. BABY E agora? Max para contra a parede, bufa. Está atônito. MAX E agora... sei lá... velho... tô fudido. Max serve mais vinho. Bebe. Os dois olham a vista da cidade. Baby suspira fundo, mais entalada do que nunca. MAX (CONTINUANDO) Tô fudido, cara, tô fudidaço! Fudidaço! Baby olha penalizada. MAX (CONTINUANDO) Muito fudido. INT. PADARIA / DIA / DIA 34 Padaria cheia. O garçom pega dois cafés na ma-quina e leva até Max. No balcão, Max está tomando café, ao lado do corretor de imóveis. MAX Vê lá pra mim, vai? Explica o caso. Explica que eu tô fudido. CORRETOR Jo voi tentar. Mas acho muito difícil eles aceitarem. Bocê non ficou nem três meces. MAX Vê pra mim, vai. Explica tudo o que aconteceu, explica que eu perdi o emprego, eu não tenho grana pra pagar essa multa. Baby entra lá atrás na fila do pão e vê Max com o corretor. CORRETOR Tá bom, eu vou ver o que dá pra facer. MAX Falou. Fala que eu tô fudido! Corretor sai. Baby fica observando Max, que continua tomando seu café, com cara deprimida. Baby chega por trás. BABY Ooi... MAX (SUPERCARINHOSO) Oi, Baby... tudo bom? BABY Vim comprar um pãozinho. MAX Quer um café? BABY O que aquele corretor tava fazendo aqui? MAX Ele veio ver o lance do contrato pra mim. BABY Que lance? MAX Vou ter que entregar o apartamento. BABY Como assim? MAX Eu tô fudido, Baby. Não tenho mais grana pra pagar esse aluguel. BABY Mas você vai pra onde? Silêncio. MAX Não sei, Baby. Eu tô vendo aí... talvez eu volte pra Sorocaba.. Meu irmão é de lá... BABY Pra Sorocaba? MAX Não sei, cara. Meu irmão mora em Sorocaba, sei lá, de repente, eu pego um restaurante de lá, sabe com é... Eu toco tudo... Baby suspira. MAX (CONTINUANDO) Eu não tenho pra onde ir, Baby. Eu não tenho pra onde ir... Max pega na mão de Baby e beija. Baby sorri, meio emparedada. INT. APTO BABY – COZINHA / NOITE / DIA 35 Baby serve sopa para Max e Baby. Max toma a sopa, com gosto. Tempo em silêncio, no sentir da sopa de legumes. Baby pega a água, guardanapo, etc. Embaixo da mesa, Hendrix. MAX Hum... tá uma delícia. BABY Tá boa ? MAX Muito boa. Baby senta-se à mesa e toma a sopa também. Como na cena 1, toma remédios. MAX (CONTINUANDO) Essa sopa tá muito boa... nossa, muito boa... há quanto tempo eu não tomo uma sopinha dessa! Tem mandioquinha? BABY Tem. MAX Eu sabia. Eu adoro mandioquinha. Nossa, você cozinha muito bem. Papo sério. Muito bem, mesmo. Sabe quem me ligou hoje? BABY Não. Max olha pra ela, bem romântico. MAX O inspetor Jonas, sabe que tá vendo ai o caso da Stellinha. Baby gela. BABY Ah é, e o que ele disse? Descobriram alguma coisa? MAX Ele disse que acha muito difícil, a essa altura do campeonato, descobrir alguma coisa. Eles dizem que se o culpado tivesse que aparecer, já tinha aparecido! Mas eu sei lá, também! Polícia no Brasil é foda! Acaba tudo em pizza. BABY Quer um pãozinho com a sopa? MAX Quero sim. Baby vai picando o pãozinho na sopa dele. MAX (CONTINUANDO) Obrigado, Baby. Olha, você é a única coisa boa que tá acontecendo na minha vida... Baby dá um sorriso amarelo e segue enfiando a sopa goela abaixo, inapetente. BABY Max, eu preciso te confessar uma coisa. MAX Fala. BABY Eu voltei a fumar. MAX Eu já sabia. BABY Tudo bem pra você? Max levanta os ombros. Baby levanta-se e pega o maço de cigarros e o isqueiro. Senta-se novamente e acende o cigarro e dá longas tragadas. Max observa, resignado. A sala enche-se de fumaça. INT. EDIFÍCIO PN – HALL AP BABY + AP MAX / DIA / DIA 36 As duas portas dos aptos de Baby e Max estão abertas. Max passa levando caixas. Baby passa, meio confusa, levando as plantas dele para o apartamento dela. Max volta pra pegar mais coisas. Baby traz utensílios de cozinha. Numa operação confusa, Max e Baby tentam tirar o contrabaixo do apartamento dele e levar para o dela. MAX Vira pra lá... pra cá, não. Pro outro lado, vira... Agora abaixa... mais um pouco... mais um pouco. Passou! O clima é de alegria. WEDDING INT. APTO BABY/MAX – SALA / NOITE / DIA 37 Vemos que o apartamento dela agora está lotado de móveis amontoados, numa nova decoração, com os pôsteres dele misturados com as plantas dela. Na sala, o armário de roupas dele, além da mesa com computador. No cantinho das aulas de violão, além do violão, também está o violão dele. Na cozinha, duas geladeiras, etc... Na mesa, alguns doces e salgados. Alguns pratinhos e bebidas. Uma FESTINHA simples. Max rega as plantas de Baby, falando com elas carinhosamente. Baby termina de arrumar a mesa, com vestido branco, toda penteada, mas confusa – aspecto bastante confuso. Som de campainha. MAX Chegaram! Max vai abrir a porta, muito feliz. Baby vai atrás, meio sem graça. Entram Teca e seu marido, Lito, ambos bem-vestidos. TECA Oooi... Teca traz uma plantinha, árvore de felicidade. TECA (CONTINUANDO) Trouxe pra vocês. Pra dar sorte. MAX Ai, brigado. Baby beija Lito. BABY Esse é o Max. Essa é minha irmã, Teca, e o meu cunhadão, Lito. TECA Muito prazer... Todos se cumprimentam. BABY Senta, gente. Teca e Lito se sentam. MAX Querem tomar alguma coisa? Tem um salpicão que tá uma delícia... TECA Um guaraná diet. MAX E você? LITO Eu aceito uma cervejinha. MAX Vou buscar. Max vai pra cozinha. Teca e Baby se falam em sinais, coisas do tipo: legal, ele!, gostei. Max volta com os dois copos. Teca e Lito bebem. Max senta-se ao lado de BABY e pega na sua mão. Baby acende um cigarro. MAX (CONTINUANDO) Ninguém quer um salpicão, mesmo? Tá muito bom. Lito sorriamarelo. Tecasorri. O papomeiomorre aí. LITO E você, torce pra que time? MAX Santos, é claro. LITO Ah, não! Então não serve pra família! Todos riem, amarelo. BABY Ele é parmera roxo. Max sorri amarelo. BABY (CONTINUANDO) Gente, ninguém quer o salpicão, mesmo? Tá delicioso. TECA Eu quero! Teca vai se servir. Max se aproxima. MAX Esse salpicão tá especial. Campainha de novo. MAX (CONTINUANDO) É ele. Max vai abrir a porta. Teca olha para Baby. BABY O melhor amigo dele. Baby vai pra porta. Lá está BATERA, um negão baterista de 50 anos, com um sorriso na cara. Atrás dele vêm também Theo, Paulo e Andre, grupo de músicos. Max abraça Batera, cumprimenta a todos. MAX E ai, gente? Vão entrando...Vão entrando... BATERA cumprimenta os novos parentes. Os músicos tomam conta do ambiente. Certa falta de assunto, certo constrangimento. Silêncio. MAX (CONTINUANDO) E aí, veio, onde ‘cê andava? BATERA Tava dando show lá em Porto Alegre, tchê! LITO Ah... você tava em Porto Alegre? A gente passoua luade mel nascataratasdo Iguaçu! TECA Maravilhoso! Um espetáculo da natureza! Batera sorri amarelo. Max sorri amarelo. Todos sorriem amarelo. Silêncio constrangido. MAX Trouxe o violão? Corta para: A festa continua: Grupo de músicos faz uma jam session. Eles tocam Filhos de Gandhi. TODOS OS MUSICOS E meu pai, no céu na terra e carnaval, chama o pessoal, manda descer pra ver, filho de Gandhiiii! Teca esta bêbada e dança. Lito bate palminhas, sempre de olho na esposa. Baby, um pouco ansiosa, não para de arrumar os detalhes da sala, levar e trazer copos. INT. APTO BABY/MAX – COZINHA / NOITE Baby entra na cozinha e lava uma loucinha. INT. APTO BABY/MAX – SALA / NOITE O som está bom. Quando acaba uma música, Teca solta: TECA Como é bom poder tocar um instrumento! Max sorri para Baby. INT. APTO BABY/MAX – SALA / DIA / DIA 38 Baby dá aula de violão para Paulinho, o mesmo garoto do início. Ele ainda esta tentando tocar SERENOU, mas ainda está péssimo. Atrás deles, Max rega as plantas de Baby. Hendrix está deitado no chão. Baby está bem esquisita, os cabelos meio descabelados, parece que ela está out. Quando ele acaba de tocar, ela suspira. BABY Pois é, Paulinho... se não estudar, não adianta... quer uma bala? Paulinho aceita a bala. PAULINHO (PENALIZADO) Mas eu não posso estudar! BABY Mas por quê? PAULINHO Sabe o que é? O cachorro da minha irmã não deixa. Ele late o tempo todo. BABY Sei. Mas não dá pra mandar ele calar a boca? PAULINHO Ele não para! E além do mais, essa madeira aqui, ó, do violão, aqui, essa madeira me deixa com tosse, quer ver? Paulinho começa a tossir. Max olha pra Baby. Baby olha para Max. BABY (IRôNICA) Ah... então é por isso! PAULINHO (SÉRIO) É por isso. BABY (FINGINDO ACREDITAR) Então é por isso que você não gosta de ter aula? PAULINHO (ALIVIADO) É por isso! Baby para. Come uma bala. Certo clima de expectativa. Baby entra na farsa. BABY Alergia... então deixa, eu falo com o seu pai. Você não pode mais ter aulas. Por uma questão de saúde. PAULINHO OBBBBBBAAAAA!!! Brigado, tia. Pauli nho levanta-se e beija Baby. PAULINHO (CONTINUANDO) Posso ver TV? Baby liga a TV no desenho animado. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – ELEVADOR / DIA PAULÃO está bravo com Paulinho, fica falando, falando, falando. Paulinho está com a cabeça baixa. Ao lado, vai Max, apoiando a cena. PAULÃO E se não estudar, não adianta. Nem violão, nem inglês, nem judô, nem natação! Nada. Tem que ter esforço. Não é papai pagou, passou, tá entendendo? Assim, você nunca vai ser nada na vida! Tem que estudar! Se não estudar, não adianta! Não é? MAX Ah é... não tem jeito, quanto mais música! INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – PORTARIA / NOITE MONITOR DE TV mostra Max e Paulinho indo embora com seu pai, PAULÃO, no elevador. Na frente das TVs, Seu Chico acende uma bituca de cigarro que ele tira do cinzeiro. Quando Paulinho e o pai passam rumo ao portão, ele para. SEU CHICO Até logo. De repente, a fita que grava o circuito interno chega ao fim... CHUVISCOS. Ele vai trocar a fita. Pega uma fita qualquer de VHS AMARELA – ESCRITO ABRIL e enfia na máquina. Começa a olhar a fita. Vemos o circuito interno do prédio, correndo normalmente. De repente entra a cena do elevador de Baby com Stellinha. Seu Chico volta e vê a imagem. SEU CHICO (CONTINUANDO) Epa! Que diabo é isso? Seu Chico vê a imagem dos carros das duas saindo. SEU CHICO (CONTINUANDO) Que diabo é isso? Seu Chico adianta a fita e, de repente, vê a cena do acidente, através da câmera da garagem – o acidente ao fundo, no canto do quadro. Seu Chico volta a fita e revê a cena do acidente. Insert PD do monitor. Vemos a cena do acidente em slow motion. Seu Chico está parado, paralisado. EXT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – FACHADA / DIA / DIA 39 Numa operação complicada, HOMENS DA MUDANCA sobem com o SOFÁ DA TIA DINAH – com cordas, pelo lado de fora do prédio. O sofá não é mais verde, e, sim, tem ESTAMPAS FLORAIS modernas. Lá de baixo, Max dá ordens para os homens, enquanto Baby fica na janela, excitada. Seu Chico observa toda a cena, meio caladão. O sofá vai subindo, quase cai, acompanhamos toda a operação. Quando o sofá chega na altura do apto de Baby, vemos o contraste entre o apto de Max, total-mente vazio, e o apto de Baby, agora totalmente carregado de móveis. O sofá chega lá em cima. OPERÁRIOS aparecem lá em cima e ajudam a colocar o sofá na sala, que já está muito cheia e agora fica praticamente intransitável. CORTA PARA CONTINUAçÃO INT. APTO BABY/MAX – SALA / DIA Max entra triunfal e os homens saem. Mas Baby parece deprimida. MAX Finalmente! O sofá da tia Dinah. Baby olha desanimada. BABY (DEPRIMIDA) Tá tão diferente... MAX O que foi? Não gostou? BABY Não é isso. É que eu não tenho certeza se ele cabe aqui dentro. MAX Como assim? Você quis tanto esse sofá. BABY (DECEPCIONADA) Eu achava que ele era de dois lugares! Eu não me lembrava que era de três. Alem do mais, ele era de veludo verde! Baby senta-se, deprimida. BABY (CONTINUANDO) (MAL) Esse estofado da Pop fudeu com o sofá! Max penalizado. MAX Puxa vida... Max suspira e vai saindo. BABY Onde você vai? MAX Vou falar com Seu Chico. BABY O que que é? MAX Não sei. Deve ser o bolão da loteria. Max sai. Baby fica sentada no sofá, testando o estofamento. BABY Droga! Droga! Esse pano estragou com o sofá! EXT. PRAçA / FIM DE TARDE Praça verde. Algumas pessoas passam. De repente, do meio da praça, surge Seu Chico, andando muito apressado e tenso. Sai de quadro, vai embora. Um tempo depois, passa Max, muito nervoso. Max para próximo à câmera e suspira, muito nervoso. Ele olha para cima, olha para baixo e está atônito. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – GARAGEM / NOITE Max entra na garagem, temeroso. Vai até o carro de Baby. Abaixa e passa a mão no para-lamas traseiro, como se procurasse algo. De repente, sua mão se suja de vestígios de sangue e materiais orgânicos. Ele petrifica. INT. APTO BABY/MAX – SALA / DIA / DIA 40 Baby está terminando de dar uma aula de violão para JOHNNY MARLEY, loiro rasta. BABY Eu acho que você podia tocar um pouco mais devagar. JOHNNY Assim? BABY É... mais assim. Entra Max, vestido de TERNO E GRAVATA e cruza a sala. BABY (CONTINUANDO) Oi. MAX Oi. Max senta-se no sofá, atrás do lugar onde Baby dá aula. Ele abre o jornal e começa a ler. Certo constrangimento. BABY Então é isso, Johnny Marley. Estuda pra próxima aula. JOHNNY Sabia que eu montei uma banda? Chamase Erva Proibida. BABY Interessante. JOHNNY A gente quer falar da descriminalização da maconha, sabe como é, certos assuntos ninguém quer falar, mas alguém tem que falar! BABY Tá certo. Baby levanta-se e vai tirando Johnny. JOHNNY Por que no fundo todo mundo fuma, mas ninguem quer batalhar pela descriminalização... BABY É isso mesmo... JOHNNY Mas alguém tem que falar. E a gente vai falar. Baby ri. BABY Então, tá legal, Johnny Marley. Estuda essa. Até quinta. JOHNNY Até.Baby leva Johnny até a porta e volta. Max fica parado, olhando para Baby um tempo. Baby está deprimida. Max observa seus movimentos de forma estranha. Tempo estendido. Tensão. BABY Que foi? MAX Nada. Tô te olhando. Não pode? BABY E aí, como foi a reunião no Extra? Max vai tirando a gravata. MAX Ah, veio! ‘Cê acha que no Brasil os caras tão interessados em cultura? Eu ja devia saber! BABY Como assim? Como foi a reunião? MAX Não rolou. a bambambam do marketing não avisou o cunhado do Batera que ela ia viajar prum simpósio em Vitória. Max fica parado, olhando para Baby, que se senta, liga a TV e acende um cigarro. Ele não para de olhar pra ela. BABY Mas e ai? Max fica quieto, tenso. Baby segue vendo a novela. BABY (CONTINUANDO) Marcaram pra outro dia? MAX Eu preciso de um favor teu. Max levanta-se e senta-se ao lado de Baby. BABY Que foi? MAX Eu preciso de uma grana. BABY Grana? Pra quê? MAX Emprestado. Depois, eu te pago. BABY Que foi? MAX Eu preciso pagar uma dívida. BABY Max... eu não tenho dinheiro sobrando. MAX Tem que ter. Você é minha mulher ou não é? BABY Você quer que eu tire da poupança? MAX Quero, não. Preciso. BABY (SACO CHEIO) Quanto? MAX Dez mil. BABY (COM DESPREZO) Dez mil? O que foi? MAX Jogo. BABY (COM NOJO) Você joga? MAX Não. Quer dizer, joguei uma vez. E me fudi. Baby levanta-se indignada. BABY O que é isso? Tá me explorando? Você quer que eu tire o dinheiro da minha poupança pra pagar a sua dívida de jogo? MAX Você é minha mulher ou não é? Baby levanta-se do sofá e tem um ataque. Baby joga plantas no chão. BABY Droga! Droga! Droga! Baby entra no banheiro e começa a chorar. Max bate na porta, sem paciência. MAX Abre... Baby... abre! Que é isso? Vamo conversar! Abre essa porta, Baby! Ouvimos Baby dentro do banheiro: não para de chorar. Baby abre a porta, olhos vermelhos. Ela vai para a sala. Max vai atrás. Eles vão para o quarto. INT. APTO BABY/MAX – QUARTO / DIA Baby entra no quarto, seguida por Max e sentase na cama. Hendrix vem atrás. BABY Max... Eu tô pensando em separar. Max senta-se ao seu lado. MAX O quê? Desde quando você tá pensando nisso? BABY Não sei. Ja faz um tempo. MAX (PUTO) Engraçado né? Você nunca falou disso, mesmo porque a gente tá junto há me nos de seis meses então pra ser sincero eu tava achando que era de verdade, eu tava achando que eu era seu marido, mas agora que eu te peço ajuda, estranha coincidência, você vem me falar de separação. BABY Não... Não é isso... MAX Ah, não é isso? Você acha que isso é ser minha mulher? Na hora que eu preciso, você quer cair fora? Baby fica constrangida. BABY Não... desculpa... Max vai para janela bufar para o nada. BABY (CONTINUANDO) Desculpa, Max... Desculpa, é que eu tô de TPM. Max suspira. Baby fica envergonhada. INT. APTO VIZINHO / DIA / DIA 41 APARTAMENTO VAZIO. Corretor argentino entra no apartamento com um CASAL CHINÊS e um FILHO, seis anos. Em primeiro plano, vemos a placa ALUGA-SE. Os chineses vão olhando o apartamento vazio e ficam falando entre si, em chinês. Casal chinês fala mais coisas entre si. Entram no banheiro. Olham o box caído. Corretor entra atrás. CORRETOR Esse box aqui é assim mesmo. Olha, tem que puxar... que ele vem. Chinês observa. Chinesa abre torneira. Eles olham detalhes, acendem e apagam luzes. Abrem e fecham janelas. CHINÊS IPTU incluído no preço? CORRETOR Posso ver com o proprietário. Entocens, no es bueno? CHINÊS O preço tá bom, né? Chinês e chinesa olham tudo e comentam em chinês. CHINESA O lugar tá bom. CORRETOR Está com um pouquinio de cheiro de curry, mas nada que uma faxina non resolva. FILHO Onde eu vou dormir? CHINESA ... CHINÊS É... CORRETOR Gostaram? CHINESA É... Bom. CORRETOR Gostaram? CHINÊS Gostei! Chinês e corretor batem as mãos. INT. APTO BABY/MAX – SALA / NOITE / DIA 42 PD do cinzeiro. Baby acende um cigarro e começa a ver sua novela. Ela dá várias tragadas. Entra Max. BABY Oi... MAX Oi. Max beija Baby. BABY E aí, tudo bom? MAX Fora o calor e o trânsito, tudo bom. Max fica olhando para Baby. BABY Que foi Max? MAX Que foi o quê? BABY O que você tem? MAX Nada. Tô cansado. Max suspira. Senta-se ao seu lado no sofá da Tia Dinah. Hendrix aninha-se aos seus pés. O lugar extra fica vazio. MAX (CONTINUANDO) Sabia que Seu Chico vai voltar pra Bahia? BABY (OLHANDO A TV) O porteiro? MAX É. BABY Legal. Onde ele arranjou dinheiro? MAX Sei lá. Tá um cheiro de yakisoba aqui... BABY Eu fiz um nhoque. MAX (FELIZ) Hum... molho de tomate ou bolognesa? BABY Bolognesa. MAX Hum... adoro nhoque à bolognesa. Vou tomar um banho e a gente come, tá bom? Max levanta-se. Max cruza a sala, vai até seu armário e, discretamente, tira do casaco uma fita VHS amarela – escrito ABRIL e guarda num bolso de um paletó velho. Baby o observa. Max sai da sala em direção ao banheiro. Baby fica parada. Ouve-se som de chuveiro. Ao ouvir o som do box se abrindo, Baby levantase, curiosa, vai até o armário e vê o objeto que Max acabara de guardar. Olha a fita escrito ABRIL. Pega a fita e vai até o videocassete. Liga o aparelho. Insere a fita ali dentro. INT. EDIFÍCIO PIAZZA NAVONA – ELEVADOR / NOITE Fita VHS do circuito interno: Baby e Stellinha no elevador e na câmera da garagem: no fundo de quadro – acidente. INT. APTO BABY/MAX – SALA / NOITE Baby olha a cena. Fica branca. INT. APTO BABY/MAX – BANHEIRO / NOITE Max termina detomarseu banho, fechao chuveiro. INT. APTO BABY/MAX – SALA / NOITE Baby ouve o som do chuveiro fechando-se. Desliga o vídeo. Corre e devolve a fita para o armário onde ele a deixara. Max aparece, enrolado na toalha. Senta-se ao lado de Baby no sofá da Tia Dinah. MAX E aí, vamos comer? BABY Hum... hum. Max abraça Baby, que o abraça também. MAX Tá com fome? BABY Hum... hum. MAX Eu também... tô com uma fome... BABY Esfomeado... MAX Bonitinha... BABY Bonitinho... Eles se abraçam e se beijam, carinhosamente. Entram os primeiros acordes da música final. Corta para black Música explode nas caixas Créditos finais principais INT. APTO VIZINHO – DIA / DIA 43 Menino chinês enfia o olho no buraco, chama a mãe, que olha também e dá um sorrisinho. Créditos finais rotativos FIM Índice No Passado Está a História do Futuro – Alberto Goldman 5 Coleção Aplauso – Hubert Alquéres 7 Introdução – Anna Muylaert 11 Personagens 15 Roteiro 21 Crédito das Fotografias Jacob Solitrenick 14, 182 Marcos Camargo 26, 32, 54, 56, 67, 77, 79, 86, 105, 127, 131 A despeito dos esforços de pesquisa empreendidos pela Editora para identificar a autoria das fotos expostas nesta obra, parte delas não é de autoria conhecida de seus organizadores. Agradecemos o envio ou comunicação de toda informação relativa à autoria e/ou a outros dados que porventura estejam incompletos, para que sejam devidamente creditados. Coleção Aplauso Série Cinema Brasil Alain Fresnot – Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot Agostinho Martins Pereira – Um Idealista Máximo Barro Alfredo Sternheim – Um Insólito Destino Alfredo Sternheim O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias Roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger Anselmo Duarte – O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Antonio Carlos da Fontoura – Espelho da Alma Rodrigo Murat Ary Fernandes – Sua Fascinante História Antônio Leão da Silva Neto O Bandido da Luz Vermelha Roteiro de Rogério Sganzerla Batismo de Sangue Roteiro de Dani Patarra e Helvécio Ratton Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak – Fragmentos de uma Vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra – Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person O Céu de Suely Roteiro de Karim Aïnouz, Felipe Bragança e Maurício Zacharias Chega de Saudade Roteiro de Luiz Bolognesi Cidade dos Homens Roteiro de Elena Soárez Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero O Contador de Histórias Roteiro de Luiz Villaça, Mariana Veríssimo, Maurício Arruda e José Roberto Torero Críticas de B.J. Duarte – Paixão, Polêmica e Generosidade Luiz Antonio Souza Lima de Macedo Críticas de Edmar Pereira – Razão e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda Leão Críticas de Ruben Biáfora – A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista – Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Os 12 Trabalhos Roteiro de Cláudio Yosida e Ricardo Elias Estômago Roteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade Feliz Natal Roteiro de Selton Mello e Marcelo Vindicatto Fernando Meirelles – Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano Fim da Linha Roteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Storyboards de Fábio Moon e Gabriel Bá Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Francisco Ramalho Jr. – Éramos Apenas Paulistas Celso Sabadin Geraldo Moraes – O Cineasta do Interior Klecius Henrique Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta Cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton – O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito Ivan Cardoso – O Mestre do Terrir Remier João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Antonio Garcia – Em Busca da Alma Feminina Marcel Nadale José Carlos Burle – Drama na Chanchada Máximo Barro Liberdade de Imprensa – O Cinema de Intervenção Renata Fortes e João Batista de Andrade Luiz Carlos Lacerda – Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla – A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Mauro Alice – Um Operário do Filme Sheila Schvarzman Máximo Barro – Talento e Altruísmo Alfredo Sternheim Miguel Borges – Um Lobisomem Sai da Sombra Antônio Leão da Silva Neto Não por Acaso Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Narradores de Javé Roteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu Olhos Azuis Argumento de José Joffily e Jorge Duran Roteiro de Jorge Duran e Melanie Dimantas Onde Andará Dulce Veiga Roteiro de Guilherme de Almeida Prado Orlando Senna – O Homem da Montanha Hermes Leal Pedro Jorge de Castro – O Calor da Tela Rogério Menezes Quanto Vale ou É por Quilo Roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi Ricardo Pinto e Silva – Rir ou Chorar Rodrigo Capella Rodolfo Nanni – Um Realizador Persistente Neusa Barbosa Salve Geral Roteiro de Sergio Rezende e Patrícia Andrade O Signo da Cidade Roteiro de Bruna Lombardi Ugo Giorgetti – O Sonho Intacto Rosane Pavam Viva-Voz Roteiro de Márcio Alemão Vladimir Carvalho – Pedras na Lua e Pelejas no Planalto Carlos Alberto Mattos Vlado – 30 Anos Depois Roteiro de João Batista de Andrade Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende Série Cinema Bastidores – Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Série Ciência & Tecnologia Cinema Digital – Um Novo Começo? Luiz Gonzaga Assis de Luca A Hora do Cinema Digital – Democratização e Globalização do Audiovisual Luiz Gonzaga Assis De Luca Série Crônicas Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças Maria Lúcia Dahl Série Dança Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo – Dança Universal Sérgio Rodrigo Reis Série Música Maestro Diogo Pacheco – Um Maestro para Todos Alfredo Sternheim Rogério Duprat – Ecletismo Musical Máximo Barro Sérgio Ricardo – Canto Vadio Eliana Pace Wagner Tiso – Som, Imagem, Ação Beatriz Coelho Silva Série Teatro Brasil Alcides Nogueira – Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta – Circo e Poesia Danielle Pimenta Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior Federico Garcia Lorca – Pequeno Poema Infinito Antonio Gilberto e José Mauro Brant Ilo Krugli – Poesia Rasgada Ieda de Abreu João Bethencourt – O Locatário da Comédia Rodrigo Murat José Renato – Energia Eterna Hersch Basbaum Leilah Assumpção – A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu – Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau – Artista Múltiplo Leila Corrêa Renata Palottini – Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Abílio Pereira de Almeida Abílio Pereira de Almeida O Teatro de Aimar Labaki Aimar Labaki O Teatro de Alberto Guzik Alberto Guzik O Teatro de Antonio Rocco Antonio Rocco O Teatro de Cordel de Chico de Assis Chico de Assis O Teatro de Emílio Boechat Emílio Boechat O Teatro de Germano Pereira – Reescrevendo Clássicos Germano Pereira O Teatro de José Saffioti Filho José Saffioti Filho O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso – Pólvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora – Os Cantos de Maldoror – De Profundis – A Herança do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor – A Terra Prometida Samir Yazbek O Teatro de Sérgio Roveri Sérgio Roveri Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda – Quatro Décadas em Cena Ariane Porto Série Perfil Analy Alvarez – De Corpo e Alma Nicolau Radamés Creti Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Arllete Montenegro – Fé, Amor e Emoção Alfredo Sternheim Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros Rogério Menezes Berta Zemel – A Alma das Pedras Rodrigo Antunes Corrêa Bete Mendes – O Cão e a Rosa Rogério Menezes Betty Faria – Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati – Luz Natural Carlos Alberto Mattos Cecil Thiré – Mestre do seu Ofício Tania Carvalho Celso Nunes – Sem Amarras Eliana Rocha Cleyde Yaconis – Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso – Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Débora Duarte – Filha da Televisão Laura Malin Denise Del Vecchio – Memórias da Lua Tuna Dwek Elisabeth Hartmann – A Sarah dos Pampas Reinaldo Braga Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da Vida Maria Leticia Emilio Di Biasi – O Tempo e a Vida de um Aprendiz Erika Riedel Etty Fraser – Virada Pra Lua Vilmar Ledesma Ewerton de Castro – Minha Vida na Arte: Memória e Poética Reni Cardoso Fernanda Montenegro – A Defesa do Mistério Neusa Barbosa Fernando Peixoto – Em Cena Aberta Marília Balbi Geórgia Gomide – Uma Atriz Brasileira Eliana Pace Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no Ar Sérgio Roveri Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do Cinema Maria Angela de Jesus Ilka Soares – A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache – Caçadora de Emoções Tania Carvalho Irene Stefania – Arte e Psicoterapia Germano Pereira Isabel Ribeiro – Iluminada Luis Sergio Lima e Silva Isolda Cresta – Zozô Vulcão Luis Sérgio Lima e Silva Joana Fomm – Momento de Decisão Vilmar Ledesma John Herbert – Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa Jonas Bloch – O Ofício de uma Paixão Nilu Lebert Jorge Loredo – O Perigote do Brasil Cláudio Fragata José Dumont – Do Cordel às Telas Klecius Henrique Leonardo Villar – Garra e Paixão Nydia Licia Lília Cabral – Descobrindo Lília Cabral Analu Ribeiro Lolita Rodrigues – De Carne e Osso Eliana Castro Louise Cardoso – A Mulher do Barbosa Vilmar Ledesma Marcos Caruso – Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral – A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado – A Estrela, O Mistério Luiz Carlos Lisboa Mauro Mendonça – Em Busca da Perfeição Renato Sérgio Miriam Mehler – Sensibilidade e Paixão Vilmar Ledesma Naum Alves de Souza: Imagem, Cena, Palavra Alberto Guzik Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em Família Elaine Guerrini Nívea Maria – Uma Atriz Real Mauro Alencar e Eliana Pace Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Paulo Betti – Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José – Memórias Substantivas Tania Carvalho Paulo Hesse – A Vida Fez de Mim um Livro e Eu Não Sei Ler Eliana Pace Pedro Paulo Rangel – O Samba e o Fado Tania Carvalho Regina Braga – Talento é um Aprendizado Marta Góes Reginaldo Faria – O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi – Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Borghi – Borghi em Revista Élcio Nogueira Seixas Renato Consorte – Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin – Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho – Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza – Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst – Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti – O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silnei Siqueira – A Palavra em Cena Ieda de Abreu Silvio de Abreu – Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Sônia Guedes – Chá das Cinco Adélia Nicolete Sonia Maria Dorce – A Queridinha do meu Bairro Sonia Maria Dorce Armonia Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodriguiana? Maria Thereza Vargas Stênio Garcia – Força da Natureza Wagner Assis Suely Franco – A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio Roveri Theresa Amayo – Ficção e Realidade Theresa Amayo Tony Ramos – No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Umberto Magnani – Um Rio de Memórias Adélia Nicolete Vera Holtz – O Gosto da Vera Analu Ribeiro Vera Nunes – Raro Talento Eliana Pace Walderez de Barros – Voz e Silêncios Rogério Menezes Walter George Durst – Doce Guerreiro Nilu Lebert Zezé Motta – Muito Prazer Rodrigo Murat Especial Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso Wagner de Assis Av. Paulista, 900 – a História da TV Gazeta Elmo Francfort Beatriz Segall – Além das Aparências Nilu Lebert Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Célia Helena – Uma Atriz Visceral Nydia Licia Charles Möeller e Claudio Botelho – Os Reis dos Musicais Tania Carvalho Cinema da Boca – Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor – O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma – Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Mazzaropi – Uma Antologia de Risos Paulo Duarte Ney Latorraca – Uma Celebração Tania Carvalho Odorico Paraguaçu: O Bem-amado de Dias Gomes – História de um Personagem Larapista e Maquiavelento José Dias Raul Cortez – Sem Medo de se Expor Nydia Licia Rede Manchete – Aconteceu, Virou História Elmo Francfort Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte Nydia Licia Tônia Carrero – Movida pela Paixão Tania Carvalho TV Tupi – Uma Linda História de Amor Vida Alves Victor Berbara – O Homem das Mil Faces Tania Carvalho Walmor Chagas – Ensaio Aberto para Um Homem Indignado Djalma Limongi Batista © 2010 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Muylaert, Anna É proibido fumar / Roteiro para longa metragem de Anna Muylaert – São Paulo : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010. 208p. : il. – (Coleção aplauso. Série cinema Brasil / Coordenador geral Rubens Ewald Filho) ISBN 978-85-7060-941-0 1. Cinema – Roteiros 2. Filmes brasileiros – História e crítica 3. É proibido fumar (Filme cinematográfico) I. Ewald Filho, Rubens. II. Título. III. Série. CDD 791.437 098 1 Índices para catálogo sistemático: 1. Filmes cinematográficos brasileiros : Roteiros : Arte 791.437 098 1 2. Roteiros cinematográficos : Filmes brasileiros : Arte 791.437 098 1 Proibida reprodução total ou parcial sem autorização prévia do autor ou dos editores Lei nº 9.610 de 19/02/1998 Foi feito o depósito legal Lei nº 10.994, de 14/12/2004 Impresso no Brasil / 2010 Todos os direitos reservados. 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