As Grandes Vedetes do Brasil As Grandes Vedetes do Brasil Neyde VeNeziaNo Governo do Estado de São Paulo Governo Alberto Goldman Imprensa oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho No passado está a história do futuro A Imprensa Oficial muito tem contribuído com a sociedade no papel que lhe cabe: a democratização de conhecimento por meio da leitura. A Coleção Aplauso, lançada em 2004, é um exemplo bem-sucedido desse intento. Os temas nela abordados, como biografias de atores, diretores e dramaturgos, são garantia de que um fragmento da memória cultural do país será preservado. Por meio de conversas informais com jornalistas, a história dos artistas é transcrita em primeira pessoa, o que confere grande fluidez ao texto, conquistando mais e mais leitores. Assim, muitas dessas figuras que tiveram importância fundamental para as artes cênicas brasileiras têm sido resgatadas do esquecimento. Mesmo o nome daqueles que já partiram são frequentemente evocados pela voz de seus companheiros de palco ou de seus biógrafos. Ou seja, nessas histórias que se cruzam, verdadeiros mitos são redescobertos e imortalizados. E não só o público tem reconhecido a importância e a qualidade da Aplauso. Em 2008, a Coleção foi laureada com o mais importante prêmio da área editorial do Brasil: o Jabuti. Concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a edição especial sobre Raul Cortez ganhou na categoria biografia. Mas o que começou modestamente tomou vulto e novos temas passaram a integrar a Coleção ao longo desses anos. Hoje, a Aplauso inclui inúmeros outros temas correlatos como a história das pioneiras TVs brasileiras, companhias de dança, roteiros de filmes, peças de teatro e uma parte dedicada à música, com biografias de compositores, cantores, maestros, etc. Para o final deste ano de 2010, está previsto o lançamento de 80 títulos, que se juntarão aos 220 já lançados até aqui. Destes, a maioria foi disponibilizada em acervo digital que pode ser acessado pela internet gratuitamente. Sem dúvida, essa ação constitui grande passo para difusão da nossa cultura entre estudantes, pesquisadores e leitores simplesmente interessados nas histórias. Com tudo isso, a Coleção Aplauso passa a fazer parte ela própria de uma história na qual personagens ficcionais se misturam à daqueles que os criaram, e que por sua vez compõe algumas páginas de outra muito maior: a história do Brasil. Boa leitura. alberto GoldmaN Governador do Estado de São Paulo O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, visa resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cinema, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de maneira singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor. Um aspecto importante da Coleção é que os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo e biografado se colocaram em reflexões que se estenderam sobre a formação intelectual e ideológica do artista, contextualizada na história brasileira. São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas - analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos exploram o universo íntimo e psicológico do artista, revelando as circunstâncias que o conduziram à arte, como se abrigasse em si mesmo desde sempre, a complexidade dos personagens. São livros que, além de atrair o grande público, interessarão igualmente aos estudiosos das artes cênicas, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Foram abordadas a construção dos personagens, a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns deles. Também foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sortilégios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que neste universo transitam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de todo o Brasil. Hubert alquéres Diretor-presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Sumário Apresentação 11 Carta ao Leitor 13 Qual a mais bela? 16 Primeira Parte O Cenário Brasileiro de Pernas para o Ar 19 O Teatro de Revista o Brasil 25 A Virada do Século 29 Segunda Parte O Luxo e a Invenção do Sistema Vedete 59 Os anos 1950 e o Fim do Jogo 124 Terceira Parte Censura X Revista 237 Album de figuronas 279 Final Estrelas Brilham... Vedetes Arrasam! 283 Bibliografia 286 Agradecimentos 288 APRESENTAÇÃO Numa época como a nossa, em que tudo é tão explícito, repetitivo e sem paixão As Grande Vedetes do Brasil, de Neyde Veneziano, me dá a deixa para mergulhar na parte mais gostosa da minha memória. Adolescente, nos anos 1950, espiando as vedetes que ilustravam O Cruzeiro, Manchete, Fatos e Fotos, Revista do Rádio, Cinelândia e a mais ousada de todas da época, Ronda da Noite. Que corpos, que luxúria, que fantasia erótica maravilhosa foi para todos os homens essas magníficas mulheres do teatro rebolado.Virgínia Lane, Mara Rúbia, Nélia Paula, Iris Bruzzi, Carmem Verônica, Marly Marley, Luz Del Fuego, Elvira Pagã, Sonia Mamede, Eloína... Era uma profusão de plumas, paetês e hormônios. Redondas, generosas, esculturais, descendo as escadarias do cenário, envoltas no luxo, no brilho, transpirando malicia, com suas pernas magníficas, seu gingado, seus gestos amplos, poderosas. Na primeira fila do teatro, a fila do gargarejo, depois de falsificar a caderneta do ginásio, conseguir enganar o porteiro e burlar a vigilância da família, lá estava eu.Tímido, curioso, deslumbrado, à cata de um naco de perna, um vislumbre de busto e, principalmente, do envolvimento de pecado e licenciosidade que tomava conta do teatro. Assim que uma delas chegava ao proscênio e encarava a plateia, altiva, segura, implacável, procurando uma vítima entre nós, pobres espectadores a respiração acelerava, a adrenalina circulava por entre as poltronas. Muitas só desciam a escadaria e desfilavam seus corpos esculturais, parando em pontos estratégicos, sorrindo sensuais, convidativas; outras, mais talentosas, mais comunicativas, estabeleciam uma empatia imediata com o público. Brincavam, se divertiam, criticavam burlescamente comportamentos e políticos, longe desta praga do politicamente correto e de processos por difamação que se tem que aguentar hoje. Alguém tem uma chave que possa abrir o meu cadeadinho? O cadeadinho em questão era um penduricalho postado bem no lugar estratégico. Nada mais precisava ser dito. Era a dica para deixar o público masculino em sobressalto. Olhava como uma pantera à caça, descia à plateia, pernas em riste, uma após a outra, escolhendo o tipo mais desajeitado, mais tímido, mais discreto da seleta audiência. Postava-se à frente do incauto e iniciava a genialidade da comunicação entre artista e público. Este vínculo quase mágico que todo roteirista persegue e quando topa com um intérprete à altura ocorre a explosão de dois talentos. Dando vida a todos nós que trabalhamos para a TV, cinema, teatro ou circo: entreter uma plateia. Não importa a mídia. Ah, um senhor tão grande com uma chavinha tão pequena... Vai se perder no meu cadeado... Deixa eu ver a do seu colega aqui... Nossa, mas o senhor é um exagerado, com uma chave desse tamanho vai arrombar meu cadeadinho... E a plateia vinha abaixo, revigorada por uma corrente de malícia, humor, sensualidade. Cada vedete tinha sua marca. Cada uma era um espetáculo em si. Pouco do cenário político brasileiro passava despercebido pela aguçada verve cômica dessas mulheres. Brincavam com as autoridades, com os conceitos, com a moral, com a família, eram livres, soltas, destemidas, arrojadas. Cada uma tinha seu fã mais famoso, mais importante dentro das redações, das rádios, do Palácio do Catete. Virginia Lane, denominada a vedete do Brasil, era a franca favorita de Getulio Vargas, o presidente da República, frequentador do teatro e adorava se ver caricaturado pelos cômicos. Ditador, populista, soube como ninguém onde estava a empatia e, principalmente, onde buscar mais votos para as eleições diretas: nas plateias, onde o povo se divertia. Eram outros tempos? Sem dúvida. Tempos nos quais talento e verve faziam sucesso, aguçando a imaginação da plateia, embalando suas fantasias. Belas orquestras de excelentes músicos, desfiles de mulheres bonitas, gostosas, exuberantes e talentosas, crítica social, cômicos hilariantes, belos cenários, ricos figurinos, muita luz, muita magia, esta era a receita do teatro de revista, que chamavam deTeatro Rebolado, certamente para menosprezá-lo como faziam com a chanchada. Não importam os rótulos e preconceitos, esta é a receita de um bom espetáculo. Essa sensação, que resume parte da história do teatro brasileiro, de um gênero nada risonho e franco que deliciou nossas plateias dos anos 1940 a 50, deve acompanhar a leitura deste livro. Que estas mulheres sensacionais, imaginadas como nossas deusas, amantes ou parceiras do lado burlesco e vital de nossas existências padronizadas e insossas, recebam uma homenagem à altura de seus talentos. Hoje eu sei que as vedetes foram muito mais do que uma explosão de luxúria. Foram mais do que um desfile de plumas e paetês. Foram mais do que figuras eróticas exploradas em revistas. Sei que foram, principalmente, a marca de uma época. Uma época mais feliz, mais livre, mais divertida, mais bonita, que, infelizmente, como elas, não volta nunca mais. silVio de abreu Caro leitor, Você poderá ler este livro da forma que quiser: do início até o fim, de trás pra frente, do meio pra frente ou do meio pra trás. Ou começar na página que mais lhe agradar. Pode até, simplesmente, só se deliciar com a beleza dos corpos fotografados. No teatro de revista, o espectador não precisava assistir ao primeiro quadro para entender o segundo, nem presenciar o segundo e o terceiro para entender os demais. Cada quadro existia por si só, independente, e não em função dos outros. Assim será contada a nossa história, ou a história delas. Cada uma por si e não em função das outras. Há mais de 20 anos pesquiso o teatro de revista. Já escrevi sobre a história do musical brasileiro, sobre a história da revista paulista, sobre as convenções e sobre a dramaturgia revisteira. Mas, confesso, estas mulheres me deixaram louca. Ralamos muito: eu e o meu querido grupo de pesquisadores. É que no Brasil, como não há mentalidade arquivista, tudo se perde. As mulheres que aparecerão nestas páginas foram as mais faladas, as mais badaladas e, infelizmente, as menos estudadas. Foi como procurar agulhas no palheiro (desculpem a metáfora!...). Sobre as mais antigas, encontrei pequeno material esparso. Sobre as mais recentes (que são muitas) andamos atrás de depoimentos, jornais, frases ditas ou registradas aqui e ali. Há filmes, fragmentos, discos. Mas ainda é pouco diante do que foi o teatro de revista e suas vedetes. As dificuldades foram muitas: há fotos perdidas porque algum mau-caráter levou e não devolveu, há filhos que não aceitam a profissão das mães e negam suas histórias até hoje, há memórias que não funcionam mais no cérebro envelhecido, há falta de registros, há fofocas, boatos e há informações que não batem umas com as outras. Felizmente, há filhos e famílias que preservaram fatos e fotos. As produções também foram muitas. Por mais que se leia sobre o teatro brasileiro, não se consegue ter uma ideia precisa, em termos numéricos, da extensa produção que foi esse nosso teatro de revista e seus derivados: shows de cassinos, shows de boate, revistas de bolso, teatro de bolso, todos apresentando números advindos do teatro de revista. Era a galinha dos ovos de ouro. Era o teatro que o povo queria. Tinha cenários deslumbrantes, piadas engraçadas, crítica política, elenco numeroso, orquestras ao vivo, ótimos cômicos e a maravilhosa música popular brasileira. À frente de tudo isso vinha Sua Majestade, a vedete. Não havia teatro de revista sem vedete. Como um arlequim para a commedia dell´arte, a vedete era um personagem fixo da Revista Brasileira que mudava e se transformava conforme a época. Cada uma tinha sua personalidade e exercia, com extremo profissionalismo e talento, a glamourosa profissão. Mas o sistema vedete era sempre o mesmo. Elas fazem parte desse grupo de artistas populares que, mesmo tendo alcançado enorme sucesso e prestígio, sido amados pelo seu público, tiveram uma carreira de altos e baixos. Muitas acabaram sem dinheiro e passaram por situações constrangedoras. Este livro sobre vedetes brasileiras, com certeza, ainda não é definitivo. Muitas, infelizmente, devem ter ficado de fora. É como se Hollywood quisesse publicar um livro sobre todas as suas estrelas. A lista não acaba nunca. E a estrutura dele é como a do teatro que elas fizeram: livre e fragmentado. Mais do que uma pesquisa científica, estas páginas que se seguem são uma homenagem. Uma declaração de amor. Neyde VeNeziaNo QUAL A MAIS BELA? Se foi na Grécia ou no Egito que começou essa história de endeusar mulher bonita, não se sabe. O fato é que fica sempre difícil dizer qual a mais bela. Terá sido a incrível Cleópatra (*69 a.C. + 30 a.C.)? Mas muitos séculos antes dela, foi famosa a Nefertiti (*1380 a.C. + 1345 a.C.), cujo nome já significa a mais bela chegou. Hoje, a ilustre Nefertiti empresta seu nome ao procedimento estético de injetar botox no pescoço para deixá-lo mais jovem. Como veem, o mito e o mistério da beleza permanecem. Os antigos gregos não eram só profundos e filósofos.Também eram superficiais por natureza, pois adoravam valorizar a beleza do corpo. Eles imortalizaram as formas perfeitas. E a mais bela de todas, hours concours, foi a Vênus de Milo, que é uma estátua toda quebrada. As proporções dessa deusa (2-1-2) ainda são modelo do corpo perfeito até hoje. É aquele tipo BCC: Busto, Cintura e Curvas. Teria sido a Vênus de Milo uma boa moça? Quem foi a modelo da famosa estátua? Jamais saberemos. De qualquer forma, a arte grega acabou por definir uma correspondência importantíssima entre beleza e virtude. Isto é, o interior deveria (em tese) combinar com o exterior. Séculos e séculos se passaram e essa correspondência continuou. No cinema, na literatura, nas artes plásticas, na TV, a heroína tem sido eternamente linda e de bons princípios. Moça bonita é moça boazinha. O papel das vilãs fica para as feias. Como uma bruxa. São estereótipos codificados de longuíssima duração. O Belo e o Bom costumam andar juntos. Independente de moda e de estética. Saídos da ficção – teatro, cinema, folhetim e outros gêneros – determinados tipos fixos conquistaram o imaginário coletivo. Do romance ao folhetim, passando pelo melodrama, a mocinha fazia o tipo ingênua e com ela as garotas da plateia se identificavam. Linda e boa, a ingênua era suave, leve, carinhosa, recatada e meio bobinha. Seu caminho era cheio de sofrimentos antes de atingir a recompensa do amor eterno do jovem galã. Mas havia outro tipo de teatro, musical, popular e bem mais divertido, que (claro!) começou na França (1728) e logo, logo, descobriu que, para fazer críticas e driblar a terrível censura da época, deveria apelar para a sensualidade. Esse teatro passava em revista os acontecimentos do ano e apresentava belíssimas atrizes que não estavam nem um pouco preocupadas com as carinhas de santa das ingênuas. Estava começando o teatro de revista, nas feiras de Paris. E as bonitas daquelas revistas ainda não se denominavam vedettes. Eram atrizes, geralmente de origem italiana, lindas e sedutoras, capazes de prender a plateia masculina por vários motivos. Menos por ser ingênua ou boazinha. Da França, a Revista foi para os outros países da Europa, chegou a Portugal e, de lá, veio para o Brasil, fazendo sucesso a partir de 1870. Antes disso, em 1858, nascia em Paris a Opereta, que deslumbrou o público com o cancã, uma dança proibida popularizada rapidamente. O cancã e suas pernas para o ar também veio para o Brasil e até chegou antes da Revista. Não se sabe se foi com o cancã ou com a Revista que elas começaram a dominar os palcos... e foram se tornando conhecidas como Vedettes. Sobre a origem da palavra vedete, há controvérsias. De qualquer modo, vedetta em italiano arcaico quer dizer: pessoa colocada em posto de observação, encarregada da segurança do campo. Seria uma espécie de vigia, que fica num posto mais alto. Sua função era vedere (ver). Assim, dessa forma, passou para a França e virou vedette, que continuava a ser a sentinela. Logo em seguida, os franceses inventaram vedette d’honneur (o vigia de honra) que era o cara que ficava no alto, vigiando uma celebridade da nobreza ou da riqueza. E, como os franceses são muito criativos, passaram a usar o termo para designar aquele que fica no posto mais alto para chamar a atenção. Assim, rapidamente, no mundo do espetáculo, quando falavam mettre en vedette significava colocar o nome do ator ou da atriz no alto, acima dos outros, em destaque. Era desse jeito que deveria aparecer no cartaz à porta do teatro. Não demorou muito para que as belas cantorasdançarinas, estrelas do show, fossem chamadas de vedettes. Vedetes são, portanto, seres teatrais de primeira grandeza, que alimentam fantasias masculinas, alfinetam (com graça) políticos corruptos, cantam, dançam e denunciam injustiças sociais, indiretamente.Tudo isso sem fazer a ingênua. Ou, se quiser, fazendo a esperta dissimulada em mocinha boazinha. Porque vedete que é vedete é muito chic. Tem charme. Em geral, não fala palavrão. Ela faz alusão. Aliás, esta é a sua grande arma: a alusão. A plateia pode pensar o que quiser, a vedete sugere, mas não fala diretamente. Pode perguntar se você já tomou ferro, se já mostrou o seu passarinho, se quer chupar a sua uva, se tem uma mala grande, mas tudo isso sem escancarar. A maliciosa alusão aumenta o prazer. Revelando e escondendo o corpo escultural em figurinos belíssimos, a vedete sobe e desce escadarias, vai à plateia, dá piscadinhas, faz alusões políticas e sai deslumbrante, deixando saudade. A imagem que se tem de vedete não é mesmo a da boazinha. Elas são endiabradas. Têm parte com o demônio. Ainda que, na vida particular, cada uma delas tenha sua história muita humana, às vezes pontuada pela dor e pelo sofrimento. E, exatamente por causa da imagem de mulheres livres, é que elas enfrentaram tantos preconceitos. As vedetes do teatro de revista foram muito mais vítima de preconceito do que as próprias atrizes do teatro declamado. Naqueles tempos áureos das vedetes, a educação das meninas direitas determinava que a modéstia é a grande virtude da mulher. E que uma boa moça não deveria ser metida, nem ficar se exibindo. Com simplicidade, modéstia e nada egocêntrica, uma mocinha estaria apta a conquistar o coração de seu príncipe encantado. E a boazinha era sempre a bonita (não era assim no cinema?). Felizmente, sempre houve essas bonitas ao revés, que não ouviram direito os conselhos austeros. Não quiseram fazer o papel da mocinha casadoira. E encarnaram o fetiche masculino.Todas elas, de Nefertiti a Eloína, passaram ao lado das envergonhadas e se exibiram, sem medo. Mostraram seus talentos. Todas novas. Todas lindas. Acima de tudo, todas muito confiantes da própria beleza. PRIMEIRA PARTE O CENÁRIO BRASILEIRO DE PERNAS PARA O AR Primeiro elas eram estrangeiras. Francesas, para ser mais exata. Vieram com um empresário chamado Monsieur Arnaud que trouxe, em 1859, um tipo de espetáculo de variedades para o Rio de Janeiro, com números de canto, dança, ginastas e um corpo de baile de lindas francesinhas que levantavam a saia e mostravam as pernas envolvidas em justíssimas meias no ritmo do cancã. Chegaram para se apresentar no Alcazar Lyrique, um teatrinho recém-inaugurado na Rua da Vala, perto da Rua do Ouvidor, no centro da então Capital Federal. A primeira opereta francesa (a que inaugurou o cancã na França) foi o Orfeu no Inferno, de Ofenbach, e chegou na versão integral ao Brasil, alguns anos antes da Revista. Foi em 1865, sete anos depois da estreia em Paris (em 1858). Para aquela época, foi rápido demais! Imaginemos nosso cenário: cidade do Rio de Janeiro, ainda pacata, no século XIX, ansiosa por progresso e querendo se atualizar com as novidades europeias. Desde 1860, algumas ruas do centro carioca já eram iluminadas a gás. Consequentemente, a vida noturna se tornou possível, já que as pessoas poderiam andar mais à vontade, à noite. Portanto, quando o Alcazar Lyrique foi inaugurado, o centro do Rio já estava iluminado havia cinco anos. A diversão noturna trazia uma cara de modernidade. E tudo que era moderno, naquela época, era importado da França. O Alcazar Lyrique e as novidades da boemia francesa ofereciam ao público brasileiro o teatro da moda que foi, muito apropriadamente, chamado de Gênero Alegre. Porque ali se apresentavam números musicais alegres, populares, divertidos. Um Teatro de Variedades. A boemia carioca entusiasmou-se com o glamour das belas francesinhas. E elas abafaram, quando fizeram uma opereta inteira, mostrando o espetáculo divertido com aquele cancã famoso que a gente conhece até hoje. O que mais poderia ter acontecido no Rio de Janeiro do século XIX? Os homens (de todas as classes sociais) ficaram enlouquecidos com aquelas mulheres, é claro. No início, Machado de Assis fez campanha declarada contra aquelas meias tão justinhas que quase deixavam ver as próprias pernas! Naquele tempo, as patricinhas e os mauricinhos eram chamados de jeunesse d’ orée (juventude dourada, em francês). Pois os rapazes da tal jeunesse d’ orée começaram a gastar rios de dinheiro no teatro que tinha o formato de um cabaret, ou seja, na plateia, em lugar de cadeiras, havia mesinhas com comes e bebes. Principalmente bebidas. O evento fazia a delícia do público masculino endinheirado (e também de outras classes e posses) que passava a noite fumando e bebendo cerveja. Esse teatrinho – com formato de café-concerto ou cabaret – foi chamado de café cantante. E, a partir dali, a noite carioca nunca mais foi a mesma. A polícia teve muito trabalho. Pela imprensa, as meninas do cancã foram chamadas de odaliscas alcazalinas e provocaram críticas severas por causa das piadas de duplo sentido (consideradas grosseiras) e pelos seus corpos que, para a época, eram considerados quase desnudos. Elas ainda não eram vedettes. Chamavam-se cocottes essas novas deusas da noite. E deram muito que falar. AIMÉE O Diabinho Loiro A mais famosa dessas alcazalinas foi Mademoiselle Aimée que, segundo revistas da época, era uma mulher provocante, de olhos cintilantes, nariz fino, boca pequena, pernas perfeitas, boa voz e muito inteligente. Aimée brilhou no Rio de Janeiro durante quatro anos, entre 1864 e 1868, e foi a primeira grande estrela do Alcazar. Por causa dela, o policiamento do Alcazar foi reforçado e um comerciante português matou, a tiros, um soldado da polícia. Pelo que se sabe, ela voltou rica para a França, levando joias e mais de um milhão e meio de francos, que teria recebido como presente de seus fiéis admiradores brasileiros. No dia em que ela foi embora, centenas de mulheres correram para a Praia de Botafogo comemorando e soltando fogos. Elas festejavam enquanto olhavam o vapor contornar o Pão de Açúcar e sumir no horizonte com aquele diabo loiro que havia seduzido seus maridos e lhes causado tantas tristezas e tanta choradeira. Uma revista da época chamada Semana Ilustrada dedicou uma página inteira ao acontecimento descrevendo a situação em que se encontravam: Mulheres ajoelhadas, agradecidas pelos céus; padres que voltavam tranquilamente a rezar as suas missas; roceiros que regressavam às suas lavouras; empregados públicos que iam, de novo, assinar o ponto nas repartições; casais que se reconciliavam; estudantes que prosseguiam nos estudos; soldados que se lembravam de seus quartéis.1 Mesmo depois da partida, Aimée continuou nos jornais, sendo protagonista de outros escândalos e histórias. Seus objetos pessoais foram leiloados e dizem que alguns alcançaram preços altíssimos, como um famoso criadomudo que foi vendido por cem mil réis. Até Machado de Assis acabou se rendendo ao seu fascínio e publicou, no dia 3 de julho de 1864, o seguinte texto: Demoninho louro – uma figura leve, esbelta, graciosa – uma cabeça meio feminina, meio angélica – uns olhos vivos – um nariz como o de Safo – uma boca amorosamente fresca, que parece ter sido formada por duas canções de Ovídio, enfi m, a graça parisiense, toute pure. 2 O mesmo Machado, ainda escrevendo sobre o signifi cado de seu nome, romantizou poeticamente: uma francesa que em nossa língua se traduzia por amada, tanto nos dicionários como nos corações.3 Mas os méritos de Aimée se deram, não só pela beleza e pelas diabruras, mas também, por sua brilhante atuação no palco. Cantora lírica e dançarina, ela interpretou os grandes papéis femininos das operetas de Offenbach. Foi Eurydice em Orphée aux Enfers; foi Hélène em La Belle Hélène; fez Boulette em Barbe Bleue e foi Penélope em Le Retour d’Ulysse. A todas essas personagens ela sabia dar o tom brejeiro e malicioso, acompanhado de muito talento, técnica vocal e corporal. Aimée fi cou imortalizada nas cartas de seus admiradores, nas crônicas da época e nas palavras depreciativas dos juízes e guardiões da moral. Instalou-se no imaginário carioca como a bela francesa que associou a graça e a alegria de viver ao trabalho competente e profi ssional. Ao lado de Aimée, a primeira grande estrela, outras francesas agitaram as noites cariocas e continuaram no Alcazar até 1886, quando foi fechado após um incêndio. De um jeito ou de outro, essas graciosas atrizes realizaram, alimentaram e estimularam sonhos eróticos masculinos. Mais: foram invejadas e admiradas pelas mulheres, no Rio de Janeiro do século XIX. Pois, como boas francesas, eram também elegantes e lançavam modas a ser copiadas. O Alcazar apontou, ao teatro nacional, um rumo a seguir, despertando na sociedade carioca o gosto pelo mundo colorido e sensual do teatro ligeiro. O TEATRO DE REVISTA NO BRASIL O teatro de revista, como a opereta, também nasceu francês. Depois foi para Portugal e, de lá, veio para o Brasil. Chegou até nós como revista de ano, pois era um tipo de teatro musical e divertido que passava em revista os acontecimentos do ano anterior. No Brasil, as duas primeiras tentativas não deram certo. O público não gostou e a culpa era colocada no excesso de sátiras políticas. Em 1877, Arthur Azevedo escreveu sua primeira revista que se chamava O Rio de Janeiro em 1877. O público aceitou melhor. Mesmo assim, ainda foi meio devagar. Foi só em janeiro de 1884, com uma revista que se chamava O Mandarim, que Arthur Azevedo e Moreira Sampaio instalaram, definitivamente, esse teatro entre nós. A revista O Mandarim ficou conhecida como a gargalhada que abalou o Rio. Era uma crítica muito engraçada aos problemas do Rio de Janeiro, como as epidemias que ameaçavam o carnaval e a chegada de um mandarim para tratar da imigração chinesa que substituiria a mão de obra escrava. A força dessa revista estava no texto e na sátira política. Por isso, o grande nome em destaque era o ator Xisto Baía, um dos comediantes de maior sucesso na época. Ao todo, Arthur escreveu 19 revistas, todas geniais. Eram revistas satíricas e de enredo. A força estava nas mãos do grande dramaturgo e na performance do ator cômico brasileiro. Ainda não tinha chegado a vez das grandes vedetes. A primeira grande virada veio com uma revista portuguesa famosíssima chamada Tintim porTintim, de Souza Bastos. A companhia chegou ao Brasil em agosto de 1892, após ter estreado, em Lisboa, em março de 1889 e realizado trezentas e quinze apresentações antes de desembarcar por aqui. Um recorde inigualável! Pressionado pela censura que proibiu críticas e alusões políticas, o teatro de revista em Portugal quase desapareceu. Foi então que o empresário Souza Bastos (uma espécie de Walter Pinto português), sem se dar por vencido, encontrou uma saída: caprichou na cenografia, cuidou muito dos figurinos, foi buscar belas e atraentes atrizes e procurou aumentar a malícia e a cumplicidade entre elas e os espectadores que se divertiam com as coristas e com as brincadeiras de duplo sentido. Na revista Tintim por Tintim as referências ao sexo substituíram as alusões políticas, que estavam proibidas. Esperto, Souza Bastos deve ter-se inspirado nos espetáculos de café-concerto parisienses que iriam gerar o music-hall. Tintim por Tintim tinha mais fantasia, mais alusões, mais duplos sentidos eróticos. O texto era pretexto para um desfile de mulheres. Esta proposta está claramente definida em uma das falas do personagem Lucas, o compère português, no famoso quadro da Cozinha Dramática que inaugurou a moda de colocar lindas mulheres vestidas de sal, pimenta e comidinhas diversas: Ulisses (para o cozinheiro) – Devias fornecer-nos uma cena interessante. Cozinheiro – Posso até fornecer cenas diversas. Em que gênero desejam? Ulisses – Os que mais agradam. Cozinheiro – Nesse caso, mulheres! Lucas – Está visto. Não há peça que deixe de agradar com mulheres galantes e músicas bonitas.1 1 - souza bastos et al - tintim por tintim. lisboa: [ s.d.], [ cópia manuscrita ], pp. 33-34. Pepa Ruiz nasceu em Badajós (Espanha, 1859) e chegou ao Brasil com o marido, o empresário português Souza Bastos, em 1892. Veio como a vedete de Tintim porTintim, espetáculo em que se mostrava versátil, pois chegou a interpretar vinte e quatro papéis . Um crítico português escreveu que o Tintim... poderia se chamar a Pepa em três actos e vinte e nove pares de meias justíssimas. Era uma rapariga famosa pela belíssima plástica. Em Portugal, é considerada (pela história) a primeira verdadeira grande vedete que a revista conheceu. Pepa, conhecida como a arquigraciosa, estonteava os lisboetas com suas piscadelas em um número que se tornou antológico: Caluda José. Reproduzo aqui somente a primeira e última estrofe, por serem absolutamente exemplares quanto ao caráter malicioso do final do século: O meu maridinho Gentil, galantinho Se chama José. (bis) Não, não é papalvo Coitado, mas calvo, Ah, isso é que é. (bis) Mas não é defeito Pois tem muito jeito... Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! Caluda José! Caluda José! .......................... Se vai tomar banho Eu sempre acompanho O bom do José. (bis) E para o lavar Costumo levar A tina para o pé. (bis) Caiu-me o sabão Eu meti a mão Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! Ai! Caluda José! Caluda José!1 A primeira montagem de Tintim por Tintim foi apresentada em inúmeras cidades brasileiras. O texto desta revista portuguesa foi o mais remontado no País, durante anos e anos. Quando chegou, a companhia fez, de início, mais de cem apresentações consecutivas, infl uenciando nossos autores e mostrando a possibilidade de se trocar a força da crítica política pela força dos apelos sexuais. Pepa acabou se especializando em tipos brasileiros. Sua primeira experiência foi fazer uma baiana que cantava e requebrava um lundu chamado Mugunzá, na versão-Brasil do Tintim por Tintim... Com esse número, ela ficou mais conhecida ainda, pois sabia extrair, como ninguém, os efeitos maliciosos de uma comida que, fora da Bahia, quase ninguém conhecia na época. Pintada de mulata ela oferecia seu mungunzá à plateia: 1 - souza bastos, tintim por tintim, apud Filipe la Féria, Passa por mim no rossio. lisboa, Cotovia, 1991, pp. 51-52. Doce apurado Leite bem grosso Coco ralado Prove seu moço Ah! Prove e depois me dirá Se gostou do meu mungunzá (bis) Ioiô Iaiá. A partir de 1902, Pepa resolveu fi car no Brasil para sempre. Souza Bastos voltou a Portugal e a substituiu não só como vedete, mas também no seu coração. Casou-se com Palmira Martinez Bastos e apresentou-a em sua outra revista Sal e Pimenta. O público de admiradores fiéis à Pepa não aceitou e reagiu com fortes pateadas. Faleceu aos 63 anos. No Rio de Janeiro. A VIRADA DO SÉCULO de 1900 até 1920 Em 1899, portanto no último ano do século XIX, foi composta a primeira marcha de carnaval: Ó Abre Alas. E a autora era uma mulher: Chiquinha Gonzaga. Na virada do século, a República Brasileira tinha apenas 11 anos. O Rio de Janeiro era a Capital Federal. A escravidão estava extinta somente há 12 anos. Tudo era muito novo e os contrastes, enormes. Como era de se esperar, havia sérios problemas sociais e urbanos de adaptação às novidades: os negros, por exemplo, largados e libertados sem que houvesse projeto de assentamento, formaram uma classe social estigmatizada pela cor e prejudicada economicamente. Unidos em suas desventuras, promoviam reuniões, festas e batuques que, mais tarde, irão repercutir e definir nossa música popular. Em 1900, a cidade do Rio mostrava casarões centenários e decadentes do império tentando manterem-se altivos em meio a ruas estreitas do passado. Estavam em oposição aos cortiços e favelas que se formavam com uma nova população. O trânsito na cidade engarrafava-se entre bondes, charretes, carroças e caleches. Muito comuns eram os carros puxados por braços humanos. As ruas estavam repletas de vendedores ambulantes, verdureiros, doceiras, granjeiros. Antigos escravos e imigrantes não estabelecidos engrossavam o comércio informal. O Rio de Janeiro era, no início dos novecentos, um grande mercado desorganizado, assolado por epidemias como a peste bubônica e a febre amarela. É nessa época em que se assiste ao projeto de reurbanização do Rio de Janeiro, durante a presidência de Rodrigues Alves (1902-1906), tendo à frente o prefeito Francisco Pereira Passos e o diretor da Saúde Pública, Oswaldo Cruz. Logo, o Rio se transfiguraria com uma rapidez vertiginosa. A intenção era tornar a cidade uma Paris Tropical. Em 1903, sob o slogan O Rio civiliza-se, o novo prefeito iniciou a modernização. O projeto incluiu, além de medidas higiênicas, a remodelação do centro urbano com abertura de grandes avenidas como a Rio Branco. Incluiu, também, o deslocamento da população menos privilegiada para a periferia, formando a Cidade Nova, o berço do samba. No início daquele século XX, companhias portuguesas chegavam aos montes no Rio de Janeiro. Os tempos estavam mais difíceis ainda em Portugal. Aqui havia mais oportunidades. Ao chegarem, os elencos procuravam se informar quais eram os tipos brasileiros mais populares, por ser este um procedimento comum ao teatro de comédia. Naqueles tempos, o português (de Portugal) era considerado o idioma correto, a única língua oficial. Portanto, quem pisasse no palco deveria se expressar com sotaque. Mesmo dançando o maxixe, precisavam conservar a prosódia lusitana. Dessa forma, eram comuns, em palcos brasileiros, surgirem mulatas, malandros e até caipiras com sotaque português. Devido às modificações urbanas, as antigas regiões famosas, como a Rua do Ouvidor e Uruguaiana, mostravam-se espremidas pelo progresso que as ameaçava. Na virada do século, a Praça Tiradentes com seus vários teatros se torna o grande centro de diversões do Rio de Janeiro. Em torno, havia cafés, restaurantes, cervejarias, jardins, parques de diversões. Em 1908, o público era tanto nos teatros que a atriz Cinira Polonio teve a ideia de inaugurar o teatro por sessões. Chegavam a fazer três sessões diárias. Os atores começaram a trabalhar muito mais, pois uma só sessão ao dia não dava conta de receber tanta gente. Também em 1908, já são realizados no Brasil os primeiros filmes de ficção. Em 1918 teve a gripe espanhola. Os teatros ficaram vazios. Entre 1910 e 1920 a Praça Tiradentes e adjacências já se transformaram no centro revisteiro do Rio de Janeiro. Por essa época, havia 11 teatros na região. O movimento era intenso. O Carlos Gomes e o São José eram as duas maiores casas de espetáculo da Capital Federal. OTeatro São José, de construção neoclássica, era o maior de todos. A lotação era perto de 1.000 pessoas. Na antiga Rua do Espírito Santo, ficava oTeatro Maison Moderne, com um grande jardim na frente aberto para a praça, onde ficava um grande parque de diversões. A boemia carioca jantava no restaurante Stad München, o ponto de encontro dos artistas da época. Perto dali (na Avenida Rio Branco e Gomes Freire), estava o Teatro Rio Branco e o Chantecler. Tinha também o Carlos Gomes, quase tão grande como o São José. Nos anos 1920, melindrosas e almofadinhas dançavam charleston. Mas apareceu a variação, diferente da similar francesa: a revista carnavalesca, essencialmente brasileira. Com rei Momo, mulata e malandro, sintetizava o símbolo da pátria na revista nacional. Os três blocos carnavalescos mais importantes da cidade eram os Fenianos (os gatos), os Tenentes do Diabo (os baetas) e os Democratas (os carapicus). Vedetes da época surgiam, em forma de alegoria, nas apoteoses das revistas, representando cada um desses blocos. As torcidas, na plateia, eram como no futebol ou como nos desfiles de escolas de samba. O público torcia pelas atrizes que representavam seus clubes. Havia rivalidades e claques, que puxavam os aplausos de acordo com o sinal do líder. 1922 foi um ano histórico: Comemorava-se o centenário da Independência do Brasil. Por causa disso, foi inaugurado o rádio. A primeira emissora foi a Rádio Roquette Pinto. Mas, claro, quase ninguém possuía o aparelho e as transmissões estavam apenas começando. Teve também, em São Paulo, a Semana de Arte Moderna. Mas o acontecimento revisteiro mais importante do ano foi a chegada da Ba-ta-clan, uma companhia francesa que trouxe um elenco de coristas lindíssimas, com figurinos bem cuidados e com as pernas de fora. A Ba-ta-clan voltaria no ano seguinte trazendo a famosa Mistinguett no elenco. Até então, as meninas por aqui usavam grossas meias cor da pele, tinham seus figurinos feitos pela costureira do bairro e cada uma comprava o seu sapato. A Ba-ta-clan, com o seu luxo, vai colocar o espetáculo da revista brasileira no caminho do grande show. As nossas meninas aderiram ao novo figurino e puseram as pernas de fora. Nascia um samba genuíno com a turma da famosa baiana Tia Ciata. Nos pagodes da casa dela se reuniam os mais famosos compositores da época como, Sinhô, Donga e João da Baiana. Em 1925 surgiu um nome nesse panorama, capaz de desviar o teatro de revista para voos mais modernos e arriscados. O nome é Jardel Jércolis1, um arrojado e irreverente empresário que saiu da Praça Tiradentes e voou com a revista para a Cinelândia, inaugurando ali uma linguagem mais luxuosa com a Companhia Tro-lo-ló. Ele criou uma nova revista, mais requintada, de humor mais sutil, sem se preocupar tanto com a história e muito atento ao acabamento, à qualidade das cenas, ao prestígio dos atores, à beleza das coreografias e das mulheres. Com Jardel as coristas passaram a se chamar girls! Eram as Tro-lo-ló-girls e, depois, as Jardel-girls acompanhadas, ao fundo, por dez ou quinze vamps. Jardel Jércolis montava cenários deslumbrantes inspirados nos espetáculos do exterior. Mas a música e o texto eram bem brasileiros. As vedetes também. Em 1926, no Teatro Recreio, foi criada a passarela, uma espécie de meia-lua que se estendia até o meio da plateia. Assim ficava institucionalizada, no Brasil, a famosa fila do gargarejo, para deliciar os machões da época que até pagavam um preço mais alto pela poltrona.2 A música popular brasileira ia muito bem. As pessoas ouviam os lançamentos no teatro e, depois, compravam a partitura para que as mocinhas estudassem para tocar nas reuniões de família. O teatro de revista era o grande divulgador da música popular brasileira. Por isso, as grandes vedetes eram, também, grandes cantoras. Vedete e cantora constituíam, por assim dizer, uma só entidade. Toda vedete tinha de ser cantora e vice-versa. Por essa época, o teatro musical era a nossa maior diversão e a revista, a principal atração. E quais eram as principais vedetes desses anos loucos? É o que veremos a seguir... 1 Jardel Jércolis era pai de Jardel Filho, ator falecido. 2 a Passarela foi um sistema inventado em um dos teatros da broadway novaiorquina, na própria década de 1920, a fim de permitir ao cantor al Jolson cantar mais perto dos espectadores. CINIRA POLÔNIO A Divette Carioca Não se pode chamar Cinira Polônio (1857-1938) de vedette, sem antes conhecer um pouco da sua história. Mulher inteligentíssima e avançada para o seu tempo recusou-se a seguir o modelo imposto pela sociedade da época e não se casou. Mesmo assim ou exatamente por isso, teve uma vida amorosa extremamente movimentada. Independente, assumiu orgulhosamente a carreira de atriz no teatro musical, quando tudo ainda estava começando. Cinira foi uma das mulheres mais cultas e elegantes da época. Falava muito bem o francês e outros idiomas. Era também cantora, compositora e maestrina. Tocava harpa e piano. Além disso, era ousada, pois escreveu uma peça de teatro intitulada Nas Zonas, uma burleta (comédia de costumes com números musicais) que apelidou de revuette (revistinha em francês). Fez muito sucesso nas duas primeiras décadas do século XX, ocupando o posto de primeira atriz na Companhia de Revistas e Burletas doTeatro São José. Seu nome aparecia no alto, em destaque nos programas da companhia. Era famosa por dizer bem os textos, mas tinha voz pequena para cantar. Essa sua habilidade de diseuse, de falar bem os textos, era usada não para declamar textos clássicos, mas para ressaltar o duplo sentido, o picante das palavras no teatro de revista. Ela sabia, como ninguém, sublinhar as palavras mais picantes.1 1 angela reis: CiNira PoloNio, a divette Carioca. Pg. 85 A crítica aclamava seu ar refinado, elogiando-lhe a beleza, a graça e a elegância. Cinira representou a síntese entre o erudito e o popular por reunir, em seus personagens, o refinamento e a malícia, uma elegância excitante entre a francesa e a brasileira. Como atriz, fez comédias, operetas e burletas. E, sobretudo, encenou várias revistas de Arthur Azevedo. Nos palcos também se destacou com belíssimos figurinos e porte, principalmente nas revistas. Ela representava o ideal de uma boa parte da sociedade brasileira que gostaria de viver na Europa. Dentre os diversos papéis que se destacou, podemos lembrar uma francesa sem-vergonha chamada Madame Petit-Pois da famosa burleta Forrobodó (1912). Pois essa personagem ia parar numa gafieira, falava um francês-português todo atrapalhado e ficava assanhadíssima com o Guarda. Prova de que o seu senso de comédia permitia dessacralizar o francês da elite. Vamos conferir uma pequena cena de Forrobodó: Guarda – Madama, você me ensina um bocado de franciú? Madame Petit-Pois – Moi ensina, moi ensina. Marquez moi un rendez-vous. Guarda – Lá nas Marrecas não vou, e se for é de relance. Madame Petit-Pois – Après le forrobodó, main-tenant je veux la dance. Avec moi maxixê. Apesar das interrupções para se apresentar em Portugal, atuou no teatro musical brasileiro até 1913, fazendo várias revistas de Arthur Azevedo como O Cordão; O Carioca; O Homem; Mercúrio. Também estrelou as revistas Comes e Bebes; Zé Pereira; Pomadas e Farofas; Cá e Lá; Chic-chic; Dinheiro Haja; Berliques e Berloques; Carestia, Ressaca e Companhia. Foi um marco de liberdade e de emancipação feminina. Conseguiu escapar dos preconceitos. Fez muito sucesso. E morreu esquecida, no Retiro dos Artistas (RJ), em 1938. Refinada e chic, era coquette, era divette. Mas quando essa brasileira piscava sensual e maliciosamente, era, sim... uma grande vedette! MARIA LINO A Rainha do Maxixe Maria Lino era italiana e se chamava Maria Del Negri. Chegou aqui com 14 anos, como dançarina do Alcazar Lyrique. Entrou para a história do teatro musical brasileiro como coreógrafa, considerada uma das maiores expoentes do maxixe – a dança proibida. Ela estreou no teatro de revista no final do século XIX. Um dos seus primeiros sucessos foi na revista Abacaxi (1893), de Moreira Sampaio e Vicente Reis, no Teatro Apolo (RJ). Essa revista satirizava Barata Ribeiro, o primeiro prefeito do Rio de Janeiro (1891-1894) e tinha grandes atores no elenco como Brandão (o popularíssimo), Rose Villiot, João Colás e Matilde Nunes. Fez várias outras revistas, mas a sua inscrição defi nitiva como vedete e na história do teatro de revista se deve mesmo ao maxixe (a dança erótica). Não foi apenas pelos seus dotes artísticos que ficou em evidência. Sua beleza impressionava. Era elegante, sensual e provocadora, ao mesmo tempo. Despertou grandes paixões. Logo no início de sua carreira, teve um caloroso relacionamento com um rico e infl uente fazendeiro paulista que, para satisfazer a amada, cobria-lhe de joias e roupas caríssimas. Mas, no finalzinho do século XIX, Maria abriu mão de todo aquele luxo e dinheiro. Desmanchou o compromisso com o fazendeiro para namorar o grande ator Machado Careca. Conhecido por sua feiúra. Careca se apaixonou perdidamente pela jovem vedete. No espetáculo Zizinha Maxixe (1897), a dupla se tornou célebre por lançar o tango brasileiro Gaúcho também conhecido como Corta-Jaca, composição de Chiquinha Gonzaga. Em cena, Maria Lino e Machado (que mais tarde escreveu os versos da canção) conquistaram o público divulgando a nova dança sensual, o ritmo que, em pouco tempo, ganhou os salões de dança da cidade para horror da sociedade conservadora que considerou o ritmo como chulo, grosseiro e selvagem. Alheia às más línguas, a dupla saía dos teatros e apresentava a dança lasciva também em chopes berrantes, salões e cafés-concertos do Rio de Janeiro. Ai, ai, que bom cortar jaca! Ah! Sim, meu bem ataca Corta-jaca assim, assim, assim! Corta, meu benzinho, assim, assim! Este passo tem feitiço, tal ouriço Faz qualquer homem coió Não há velho carrancudo, nem sisudo Que não caia em trololó, trololó! Enquanto o maxixe conquistava os cariocas, Maria Lino dava continuidade à sua carreira no teatro de revista. Já fazia números de alegoria e começava a estrelar números de cortina. Atuou, já como vedete destacada em espetáculos do grande Arthur Azevedo, como O Jagunço (1898) e Gavroche (1899). Com o nome consolidado na revista, Maria Lino fez incursões, também, no teatro dramático, como ingênua. Mas foi no musical que apostou todas as fi chas de sua carreira. A dupla com Machado Careca continuava a se apresentar nas Revistas. O maxixe estava na ordem do dia dos salões cariocas, e ganharia novo fôlego em 1906, quando estreou O Maxixe, de Bastos Tigres que, defi nitivamente, imortalizou o ritmo. Maria fazia a apoteose do espetáculo, lançando Vem Cá, Mulata. Foi um enorme sucesso, que consagrou não só o tango brasileiro, como também a musa desse estilo musical: Maria Lino. Com o enorme prestígio alcançado como coreógrafa e representante do maxixe, recebeu proposta para uma temporada em Paris. Viajou e largou o apaixonado Machado Careca para trás. Na França, Maria Lino encontrou um novo parceiro, Duque (um ex-dentista que preferia dançar). Apresentaram-se dançando maxixe, é claro, em casas noturnas e cabarés tradicionais de Paris. Foi um sucesso histórico. A dança caiu no gosto dos franceses que passaram a chamar de tango bresilien. Maria Lino ganhou o título de La reine du tango. A temporada francesa se estendeu a várias outras cidades europeias, divulgando, sempre com sucesso, o nosso sensualíssimo maxixe. O regresso ao Brasil aconteceu em 1914. Maria Lino retornava diferente: mudara o nome artístico (agora Maria Lina). Maria era mulher despojada e muito à frente de seu tempo. Era livre, tinha vida amorosa movimentada, não se prendia a ninguém. Não media esforços para conseguir o que queria. Era determinada e, de certa forma, despudorada. Um de seus muito apaixonados chegou a dizer: Era uma demônia. Possuía olheiras lânguidas, que traíam uma vida de vícios inconfessáveis. Mas Maria não se conformou em ficar eternamente conhecida como dançarina de maxixe. Como a idade começava a pesar, lançou-se como autora teatral. Talvez, sua inspiração viesse de Cinira Polônio. Em outubro de 1915, estreou o espetáculo Ouro sobre Azul, noTeatro Recreio, alardeando em todos os jornais sua estreia como autora teatral. Além de assinar o texto, Maria também era a estrela da revista originalíssima, feérica, moderna. Foi elogiada pela crítica teatral. A peça fez um grande sucesso e elevou, ainda mais, o nome de Maria Lino (ou Lina). Há boatos de que a peça foi escrita por um revistógrafo experiente, em troca de favores amorosos. Mas histórias de alcova não são confiáveis. E esta suposta fofoca tem acentuado sabor machista. A carreira de Maria Lino (ou Lina) seguiu até a década de 1920, quando diminuiu o ritmo de suas atividades. A dança se transformou em tema para teoria: ela dava entrevistas e fazia palestras sobre o maxixe: sua origem e desenvolvimento. A partir dos anos 1930, passou a trabalhar como atriz em companhias de comédia. Uma das últimas companhias em que atuou foi a de Renato Vianna. Maria Lino também fez cinema. Já bastante envelhecida, participou do filme Maridinho de Luxo (1938), da Cinédia, no papel de sogra do maridinho, o comediante Mesquitinha. Anos depois, faleceu, com idade bastante avançada. OTÍLIA AMORIM A Extraordinária! Otília Amorim nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de novembro de 1894. Foi uma menina pobre, passou por difi culdades, sendo obrigada a interromper seus estudos. Começou no cinema, em 1910. O fi lme intitulava-se Vida do Barão do Rio Branco, de Alberto Botelho. Logo em seguida, estreou na revista como corista, com o espetáculo Peço a Palavra, no Teatro Carlos Gomes do Rio de Janeiro. Aos poucos, por sua bela voz, pela beleza e pelo talento, foi conquistando o seu lugar nos palcos brasileiros. Olhos negros, brejeira e com raro talento cômico, Otília maxixava como ninguém. Seu requebrado era famoso. Mais famosa ainda foi a sua voz. Ela era uma atriz completa de teatro de revista. Dançava, era divertida e representava. Era bonita, tinha um magnetismo especial e dominava o público masculino com seus números de plateia. Encantou os críticos da época, entre eles Mário de Andrade que, no Compêndio de história da música, colocou, entre seus sambas preferidos, quatro interpretados por Otília Amorim: Nêgo Bamba; Vou te Levar; Eu sou Feliz e Desgraça Pouca é Bobagem. Em 1920, na revista carnavalesca Gato, Baeta e Carapicu, fez a personagem Felizarda, uma lavadeira louca por carnaval, que a tornou inesquecível. A partir daí, tornou-se imbatível interpretando mulatas marotas e sensuais, um tipo importante nas revistas brasileiras. Na revista Reco Reco (de Carlos Bittencourt e Cardoso de Menezes) era aplaudida todas as noites com o samba Almofadinhas & Melindrosas, que ela dançava e cantava com Pedro Dias. Nesse mesmo espetáculo, o quadro que mais entusiasmava o público era a marchinha Ai Amor, de Freire Júnior, satirizando as melindrosas. Ela também fazia esse quadro com o grande ator Pedro Dias, arrancando entusiasmados aplausos. Foi atração incontestável nos shows: Flor do Catumbi (1918); Gato, Baêta e Carapicu (1920); Se a Moda Pega (1925); O que eu Quero é Nota (1928); Calma, Gegê! (1932). Sua bela voz está registrada na importante discografi a que nos deixou: Desgraça Pouca é Bobagem (1931); Vou te Levar (1931); Eu sou Feliz (1931); Nêgo Bamba (1931); Oiá a Ganga (1931). Em teatro de comédia pertenceu à Companhia de Luis Galhardo, à de Procópio Ferreira e à de Carlos Leal. Atuou, também, ao lado de Leopoldo Fróes. Em 1922, fundou sua própria companhia. No tempo do ponto, Otilia desafiava o texto com cacos divertidos e inspirados. Era a inspiração em pessoa e teve uma vida artística agitadíssima, que não foi interrompida nem durante o surto da gripe espanhola. Um dia, surgiu em sua vida um rico empresário paulista. A pobre menina que um dia havia sido costureira se casou com ele e retirou-se dos palcos. Faleceu no ano de 1970. MARGARIDA MAX A Estrela da Revista Carioca 1924 foi o ano da emancipação da mulher na revista brasileira. Um espetáculo considerado como um dos 10 maiores êxitos de todos os tempos, no Brasil, marcou a temporada de 1924: À la Garçonne. Estreou, no dia 30 de maio, no Teatro Recreio. Do romance de Victor Margueritte, de 1922, La Garçonne foi um livro traduzido e lançado no Brasil com o título de A Emancipada, esgotando-se rapidamente e exigindo novas edições. Do livro foi extraído o título da revista. À la Garçonne falava de vários assuntos da atualidade e fazia rir até das injustiças sociais. Mas o grande lance era a sintonia total com o seu tempo e com o contexto cultural universal. Margarida Max e suas coristas, para fazerem o número Tudo à la garçonne, cortaram seus cabelinhos bem curtinhos, como mandava o figurino. Lançaram moda. A revista foi levada a várias cidades do Brasil. A marchinha de Sá Pereira e Américo F. Guimarães foi lançada na revista e, depois, tornou-se sucesso do Carnaval de 1925. Os cabeleireiros devem ter ganhado muito dinheiro à custa da nova ordem. As moças das capitais e do interior, por muito tempo, adotaram, sem restrições, este corte bem aparado à altura da nuca. Em 1927, em Portugal, Beatriz Costa, seguindo o exemplo da nossa vedete Margarida Max, também cortou suas madeixas e inaugurou – de forma bem menos arrojada – a moda da franja, no além-mar. Fato interessante é o de que até a estreia de À la Garçonne, em 1924, o nu artístico resumia-se apenas em mostrar as pernas de fora. No quadro Sol Indiscreto, a deliciosa banhista Manoela Matheus tirou a parte de cima do maiô e mostrou os seios numa cena de praia!!! Margarida Max foi apontada pela crítica como a melhor atriz do ano. Viera da comédia e era dotada de belíssima voz. Iniciava aí uma carreira brilhante de supervedete do teatro de revista. Esse sucesso criou uma rivalidade com Otília Amorim. Durante alguns anos, as duas competiam pela preferência do público. A imprensa e os empresários colocavam mais lenha nessa fogueira de disputas. Filha de italianos, Margarida D’Alexandre Tocatelli nasceu em São Paulo e cresceu na cidade de Franca (SP), onde era conhecida como A Margarida do Max, nome do noivo. Um dia, essa linda Margarida morena rompeu com a cidade e com o noivo e virou atriz de uma companhia mambembe que passou pela cidade. Chegando ao Rio de Janeiro, entrou logo para o teatro de revista. Estreou na revista Pé de Anjo, de Carlos Bittencourt e Cardoso de Menezes. Entre 1920 e 1940 Margarida Max, que a lenda dizia ter nascido em Roma, era considerada a vedete mais importante da revista brasileira. Em 1929, uma novidade foi acrescentada à encenação das revistas: a passarela baixa, utilizada pela primeira vez na Guerra ao Mosquito1, de Marques Porto e Luiz Peixoto, um dos maiores acontecimentos da década. O novo recurso cenográfico foi criado especialmente para servir à estrela Margarida Max, oferecendo-lhe a possibilidade de contato mais íntimo com seu público. Como as outras cantoras-vedetes do teatro de revista, Margarida Max lançou músicas que se tornaram famosas. Seu maior sucesso foi na revista Brasil do Amor (1931) quando cantou No Rancho Fundo, de Ary Barroso e Lamartine Babo. Lançada no palco do teatro de revista, a música foi cantada pelo Brasil inteiro. Margarida não teve carreira longa. Morreu aos 54 anos, em 1956, após 39 anos de palco. Seus pontos fortes eram os números de plateia, sua voz, seu rebolado, sua malícia. Foi uma das mulheres mais cobiçadas da época. 1 Guerra ao mosquito! era a frase que as telefonistas diziam quando se lhes pediam uma ligação (nesta época as ligações eram feitas através das telefonistas), intensificando a campanha popular para evitar o desenvolvimento da febre amarela, pois um surto havia irrompido no rio de Janeiro, em 1929. PEPA RUIZ (II) A Pavlova Brasileira Josefa Maria do Rosário de La SantíssimaTrindad Ruiz Puebla era espanhola de Andaluzia e nasceu em 13 de agosto de 1904. Seu apelido desde criança era Pepa, apelido de todas as Josefas espanholas. Quando tinha 8 anos, Pepa e a família se mudaram para Portugal, porque o pai, Don José, morreu em Cuba e a família estava com problemas financeiros. Em Lisboa, Pepa estudou dança, impressionou os professores, ganhou prêmios e foi enviada de volta à Espanha para estudar com uma famosa coreógrafa. Com o fim da Primeira Guerra, voltou a Lisboa, onde estreou profissionalmente como bailarina na ópera Aida, estrelada pelo famoso tenor Tito Schipa. Usou o nome artístico Pepa Ruiz. Aos 16 anos, já era bailarina, atriz e, também, coreógrafa. Casou-se com Artur Rosa Mateus, ator e bailarino (e futuro dramaturgo e maestro) do teatro de revista. Nesse mesmo ano, veio ao Brasil, para se apresentar no Teatro Recreio, com Salada Russa. Ao final da temporada, Pepa, grávida, desmanchou seu casamento e resolveu ficar por aqui. Em janeiro de 1921, estreou, como atriz e bailarina, na revista carnavalesca Reco Reco, de Carlos Bittencourt e Cardoso de Menezes, no Teatro São José, ao lado de Otília Amorim, Alfredo Silva e Pinto Filho. A peça foi um sucesso e Pepa, como bailarina, foi chamada de Pavlova Brasileira. Atuou na reprise do estrondoso sucesso O Pé de Anjo. Em março de 1921, nasceu seu filho Roberto Ruiz que, anos mais tarde, se tornaria um grande revistógrafo. Pepa voltou aos palcos na revista portuguesa De Capote e Lenço. Foi elogiadíssima pela crítica e fez carreira extensa em revistas, como, por exemplo, Água no Bico!..., sucesso da temporada junho/julho, no Teatro Carlos Gomes. Com sua popularidade em alta, houve certa confusão com a outra Pepa Ruiz, que anos antes havia sido a maior estrela do teatro de revista brasileiro. A velha Pepa, já doente, quis conhecer a nova. O encontro se deu no Hotel Avenida, onde residia a estrela do passado. Fumando um charuto, a velha Pepa conversou com a moça. Descobriram, além da mesma paixão, outras coincidências como o mesmo nome José (Pepe) de seus pais. Nome muito comum na Espanha. Pepa assinou contrato com a prestigiada atriz caricata Alda Garrido e experimentou um novo gênero: a burleta. Além de atuar com Alda Garrido, participou das companhias de revistas de Otília Amorim e Margarida Max. Fez Amendoim Torrado (1925); Amor sem Dinheiro (1925); Turumbamba (1926); Ilha de Amores (1926); Quem Manda é o Coronel (1926); Olha à Direita, entre outras. Seu grande sucesso foi Luar de Paquetá (1924), de Freire Jr., onde lançou a famosa marcha-rancho de mesmo título. Aos 30 anos, já era uma das mais requisitadas atrizes de nosso teatro (musical e declamado). Trabalhou com Procópio Ferreira em Deus lhe Pague, de Joracy Camargo, com a Companhia de Vicente Celestino, e fez várias revistas com Aracy Côrtes e outros famosos. Na década de 1940, depois de fazer revistas com Beatriz Costa e Mesquitinha, fez sucesso como atriz no teatro declamado. Incursionou, inclusive, pelo rádio. A partir de 1951, voltou a Portugal como empresária de companhias brasileiras. Levou Alda Garrido para Lisboa, viajou por diversos países, atuando, administrando, comandando. Administrou as companhias de Aimée e Joana D´Arc. Organizou, em 1957, uma excursão da Cia. Brasileira de Revistas pela Europa e países de lígua portuguesa na África. O sucesso foi absoluto. Pepa Ruiz liderava o elenco composto por Antônio Spina, Berta Loran, Gracinda Freire, Almeidinha e outros. Durante todo o ano de 1957 fi zeram temporada africana. Em 1958, estrearam em Portugal, com a revista Fogo no Pandeiro, de Max Nunes, J. Maia e seu filho Roberto Ruiz. Os autores escreveram ainda mais três peças especialmente para a companhia. Ao fi m da excursão pela África e Portugal, fez nova ida à Europa indo à Espanha, França e Alemanha, contratando artistas brasileiros e os promovendo nesses países. Pepa Ruiz, além de estrela da revista, foi uma mulher comprometida com o teatro brasileiro. Pelo seu incessante trabalho como atriz e empresária era muito querida no meio artístico. Em 1959, ao completar 40 anos de carreira, foi homenageada noTeatro Carlos Gomes. Na ocasião, estiveram presentes mais de cem atores e personalidades teatrais, num desfile artístico até então inédito: Oscarito, Aracy Côrtes, Aimée, Pascoal Carlos Magno, Dercy Gonçalves, Jayme Costa, Manoel Pera, Mário Lago, Procópio Ferreira, Rodolfo Mayer, Vicente Celestino e tantos outros. Nos anos seguintes, consolidou a carreira de administradora. Encarregou-se das companhias de Eva Todor e também de Dercy Gonçalves. Em 1977 foi nomeada administradora do Teatro Dulcina, que o SNT recémadquirira. Ela ocupou esse cargo até sua morte, em 26 de dezembro de 1990. ARACY CÔRTES Linda Flor Da cor do azeviche, boneca de piche, sou em quem te acaba!... Aracy Côrtes nasceu em 31 de março de 1904, no Rio de Janeiro, filha de Argemira de Carvalho Espíndola e Carlos Espíndola. Seu nome de batismo era Zilda de Carvalho Espíndola. Dizia ser uma mestiça terrível: filha de brasileiro com espanhol e neta de paraguaio. Vizinha e amiga de Pixinguinha, desde criança, ela e a irmã davam seus passinhos de dança. Um dia, a adolescente que cantava e dançava foi convidada para atuar no prestigiado grupo de teatro amador Os Filhos deTalma. Sua carreira de atriz começou no Democrata Circo ou Circo Spinelli (devido ao sobrenome do dono), cuja atração principal era o grande palhaço negro Benjamin de Oliveira. Aquela garota de dezesseis anos entrou para cantar e dançar maxixes. Mas, na hora da estreia, ficou tão nervosa que desmaiou diante do público, após os primeiros acordes da orquestra. Foi retirada da cena e teve só alguns minutos para se recuperar. Pois o espetáculo continuava. A garotinha voltou, porque sabia que era pegar ou largar. Cantou e, ao final, ouviu os aplausos que a acompanhariam durante toda a vida. Ela ainda se chamava Zilda Espíndola e nunca mais desmaiou. Quando foi trabalhar com o amigo Pixinguinha e Os Oito Batutas, por sugestão de Otávio Viana, irmão de Pixinguinha, mudou seu primeiro nome para Aracy. Mas faltava achar um sobrenome forte que combinasse com o primeiro. Escolheram Côrtes por causa de um repórter policial que apareceu naquele momento em que procuravam um nome artístico para a nova estrela. E virou Aracy Côrtes. Ela estreou no teatro de revista em 31 de dezembro de 1921 na peça Nós, pelas Costas!, de J. Praxedes, com música de Pedro de Sá Pereira, no Teatro Recreio. Neste espetáculo, ela entrava vestida de Vinho do Porto, na cena Domínio de Baco. O crítico Mário Nunes definiu-a como uma figurinha de brasileira petulante. No ano seguinte já estava no Teatro São José. Até a década de 1950, Aracy imperou gloriosa no teatro de revista, com seu exuberante tipo brasileiro. Fazia a caricata, a exuberante, a grã-fina, a mulata, a cantora. Como ela mesma dizia: Aracy é apoteose! Disputada pelos dois empresários mais dinâmicos da época, Manuel Pinto (do Teatro Recreio) e Paschoal Segreto (do São José), sua carreira seguiu de vento em popa. Quando, em 1940, Walter Pinto assumiu o Recreio, Aracy encabeçava o elenco mais importante do Brasil. Por ser o teatro de revista o grande divulgador da música popular brasileira, todos os compositores queriam que Aracy lançasse suas canções. A ela cabe o mérito de ter lançado Ary Barroso, Lamartine Babo, Noel Rosa. Claro! Ela era considerada a melhor intérprete da MPB da época. Seu jeito próprio de interpretar a canção brasileira imortalizou números que se tornaram ícones do nosso cancioneiro e ainda hoje permanecem na memória coletiva – coisas da nossa herança cultural! Eis algumas canções que ficaram famosas na voz de Aracy: Aquarela do Brasil; Boneca de Piche; No Rancho Fundo; Jura; Na Pavuna, Tem Francesa no Morro, Tico-tico no Fubá; Yes, Nós Temos Banana...; e o grande sucesso Ai, ioiô! Que se chamava Linda Flor. O primeiro samba-canção. Dona de forte personalidade, disposta a abrir caminho na vida à custa de seu talento, muito segura de si, Aracy resistiu às cantadas dos fãs e a sedutoras investidas de inúmeros enamorados. Quando anunciou, no fi nal da década de 1920, seu casamento com Esteban Palos – espanhol estabelecido na Argentina e irmão do ator Palitos –, o público se espantou. Esteban deu a Aracy absoluto domínio dos passos de dança, pois ele era exímio sapateador e tinha vindo para dançar no Teatro Recreio. O casamento durou até a morte do filho, com apenas quatro meses. Esteban voltou para Buenos Aires, onde viveu até sua morte em 1981. Depois disso teve um longo caso de amor com Renato Meira Lima, um jovem lançado na carreira política como secretário do então presidente da República, Washington Luís. Foi um grande amor e durou até a morte de Renato. Excursionou pela Europa fazendo estrondoso sucesso em Portugal, com a Companhia de Jardel Jércolis em 1933. Esta foi a primeira a atravessar o Atlântico com um elenco fantástico. Aracy brilhava ao lado de Lódia Silva e Oscarito. Os portugueses, com seu carinho tradicional pelas coisas brasileiras, excederam-se no entusiasmo. Êxito retumbante. Aracy voltou outras vezes. Vedetes disputam o público e rivalidades se criam entre elas. Aracy não tinha gênio fácil. A rivalidade e a disputa aumentaram quando surgiu Virginia Lane, a estrela do João Caetano, lançada por Chianca de Garcia. Chegaram a se apresentar juntas, no espetáculo O Bode está Solto, por causa de um problema judicial referente ao contrato de Virginia Lane. Os empresários do teatro de revista sabem muito bem que não há duas grandes vedetes num só espetáculo. Mas este caso foi exceção. Quem se apresentaria primeiro? O público ficou tenso naquela noite de estreia. Entrou Virginia, recebida em delírio pelos seus partidários e aplaudida por todos. Depois, num quadro especial, precedida pelos primeiros acordes de Jura!, entrou Aracy. Novo delírio. E a plateia gritava: Aracy! Aracy! Aracy! Esse caso é famoso. Era a vedete maliciosa e emplumada disputando o público com a vedete mulata que tinha samba na alma. Ganhou a Revista Brasileira. Aracy fez revistas de 1922 até 1961 e faleceu no dia 8 de janeiro de 1985 no Rio de Janeiro. Seu corpo foi velado no Teatro João Caetano. Nesse dia, um jornal publicou a seguinte frase: com ela foi embora toda uma era do nosso teatro. Ao gravar seu primeiro registro sonoro, recebeu o título de Graciosa estrela brasileira. Foi Rainha das Atrizes em 1939. Aracy será sempre Aracy. Ou melhor, Linda Flor. SEGUNDA PARTE O LUXO E A INVENÇÃO DO SISTEMA VEDETE O prédio do Teatro Recreio, no Rio de Janeiro, era tão importante que, em 1889, serviu de local para a Proclamação da República. Nas décadas de 1920 e 1930, ele pertencia aos empresários José Loureiro e João Neves que montaram ali mais de trezentas revistas. Depois, o Teatro Recreio passou para Manoel Pinto, que morreu e deixou para seu filho Álvaro Pinto, que também morreu num desastre de avião. Walter Pinto, o filho mais novo, com apenas vinte e sete anos, assumiu a direção do Recreio, em 1940. Homem de grande visão, cosmopolita, marqueteiro e dinâmico, Walter soube lançar suas vedetes comprando e negociando títulos de rainhas. Ele se tornou uma lenda, uma estética e deu um up-grade no teatro de revista brasileiro tornando-o, definitivamente, espetacular e deslumbrante. Não havia escolas para vedetes. Os empresários andavam sempre de olho nas meninas talentosas e bonitas e as convidavam. Era um risco. Uma loteria. Mas se dava certo, Bingo! Com Walter Pinto foi diferente. Ele valorizou as vedetes em cena e elas conquistaram o público superando, em popularidade, os cômicos. Cantavam, improvisavam com desembaraço, dirigiam-se com naturalidade à plateia, sabiam contar piadas e eram sensuais. É que, além de empresário, produtor e escritor, Walter as treinava. Ou seja, ele criou um sistema vedete, um método que pouco a pouco foi se solidificando e oferecia, às atrizes, todo o instrumental necessário para que elas conquistassem a plateia. Aproveitar ou não esses truques era questão de talento. Havia professores de canto e coreógrafos que cuidavam das posturas das meninas. Para sublimar a exuberância de suas vedetes, Walter Pinto criou a escadagigante. Girls e vedetes, para surgirem no topo, deveriam entrar nele através dos camarins do primeiro andar. As vedetes deviam descer os degraus, um a um, com elegância, sem jamais olhar para o chão. Walter Pinto as obrigava a descer, em média, trinta vezes por dia, até que conseguissem fazê-lo com graciosidade, sorrindo e de cabeça erguida, condições básicas para fazer parte do elenco. No corpo de baile, composto por boys e girls, havia dançarinos franceses, poloneses, portugueses, argentinos. Todos trabalhando sob rígida disciplina. O sistema vedete exigia uma carreira que não dependia só da beleza, mas também do talento. As moças entravam na companhia e iam subindo, função por função, ao mesmo tempo avançando para o proscênio. As funções, até se chegar ao posto de vedete, estavam nesta ordem: 1 girls (bailarinas que dançam nas filas, como um coro); antes eram chamadas de coristas; 2 Vedetinhas são aquelas seis ou oito que acompanham a vedete maior, em seus quadros. Havia vedetinhas da Virginia Lane, da Mara Rubia e assim por diante. Elas eram como um séquito que acompanhava a grande vedete; 3 Vedete de quadro. Nas revistas havia mais de uma vedete. Mesmo não sendo a maior estrela da companhia, as outras (já por conquista e por profissão) faziam com suas vedetinhas, números só delas; 4 Vedete do espetáculo. Esse era o posto de desejo. A maior vedete do espetáculo que, ao lado do cômico, formava a dupla de suporte da revista. Eram as grandes atrações. Seus nomes deveriam estar no alto dos cartazes. Nem sempre isso acontecia; 5 Estrela. A vedete, ao alcançar o reconhecimento e a notoriedade, era apresentada como Estrela da Companhia. Essa tinha o direito de ter seu nome no cartaz. Havia uma hierarquia e era uma carreira feita de conquistas e conquistas. Portanto, ao perfil de vedete, acrescentemos mais um ingrediente: a garra. Na época de Walter Pinto, a arte de expor o corpo cabia apenas às coristas, girls e modelos. Era o nu estático. A censura proibia corpos nus em movimento. Manoela Mateus, uma graciosa vedete de segunda linha, em 1924, na revista À la Garçonne, mostrou os seios nus pela primeira vez. Foi a pioneira nesse tipo de exibição. A história do Teatro Recreio terminou em 1963, quando foi desapropriado e destruído. Durante os vinte e três anos em que lá esteve, Walter Pinto fez com que a revista subisse tantos degraus na escadaria espetacular que a precipitou no abismo inevitável. Era dar mais um passo à frente e... cair. Era a época das notáveis Mara Rúbia e Virgínia Lane. Naqueles tempos, automóveis e arranha-céus já se multiplicavam no Rio de Janeiro. Os elencos do Walter Pinto seriam o equivalente às novelas das oito: Virgínia Lane, Mara Rúbia, Oscarito, Aracy Côrtes, Mesquitinha, Pedro Dias, Violeta Ferraz e tantos outros famosos, todos juntos, num só espetáculo. Além de grande orquestra e um corpo de baile que foi aumentando, até chegar em 40 boys e 40 girls. E havia, ainda, os nus artísticos (aquelas que ficavam imóveis e peladas). Walter Pinto, o Ziegfield brasileiro, tinha também para o espetáculo a sua receita: Elenco de primeira grandeza; efeitos cênicos moderníssimos (luz negra, palco giratório, cascatas de fumaça, de água), grandes e monumentais apoteoses, além da presença das mais bonitas mulheres. Jardel Jércolis havia trocado Portugal por Paris. O luxo dos cenários e figurinos era sempre anunciado comme à Paris. Walter Pinto trocou, definitivamente, a estética de Paris pela da Broadway. Nunca entrou em cena, mas pensou nela como se fosse seu próprio palácio de sonhos. Nos cartazes, destacava-se, em primeiro lugar, o nome Walter Pinto. Aos poucos, seu rosto começou a se revelar no material de propaganda. Mais tarde, com bigodinho sorridente, a figura magricela principiou a aparecer emoldurada por uma grande estrela. Sua foto ficava sempre acima das vedetes. ZAÍRA CAVALCANTI A Jambo de Olhos Verdes Zaíra Baltazar Cavalcanti nasceu em Santa Maria (RS) em 1º de outubro de 1913. Em meados dos anos 1920, ainda no Rio Grande do Sul, o empresário e escritor Mário Ulles, impressionado com sua beleza, a convidou para uma temporada no Rio de Janeiro. Zaíra estreou como cantora, numa companhia de gênero ligeiro, encabeçada pelo ator Alfredo Silva. Foi apresentada como a nova estrela que o Rio iria conhecer, por De Chocolat. Ao final da temporada, Zaíra partiu em excursões. Em Santos, estreou a revista Manda-chuva de Lampeão, com a Companhia Arruda. No Rio, foi corista de Jardel Jércolis, na Tro-ló-ló, apresentando-se nos Teatros Glória e Carlos Gomes. Ali, na Praça Tiradentes, reduto da revista, Zaíra ganhou fama. Após trabalhar como corista na famosaTro-ló-ló, Zaíra fez temporada na Bahia. De volta ao Rio no final de 1928, estreou, no Recreio, o espetáculo Pátria Amada, recordista de público naquele ano. No elenco do Recreio estavam Aracy Côrtes, Mesquitinha, Palitos e Olga Navarro. Zaíra tinha apenas 16 anos e foi uma das grandes atrações. A crítica se desdobrou em elogios, já lhe prevendo futuro brilhante. Em 1929, pela revista Pátria Amada, no Recreio, recebeu do crítico Mário Nunes o seguinte comentário: Sabe cantar expressivamente, sublinhando tudo com meneios quentes. Em janeiro de 1930, ainda no Recreio, fez a antológica Dá Nela. Foi sem dúvida seu maior sucesso e consagração. Zaíra interpretava o número que deu título à revista, a marchinha de Ary Barroso campeã do carnaval de 1930 Dá Nela (posteriormente gravada por Francisco Alves). O cronista Jota Efegê escreveu: nasceu uma estrela no tradicionalTeatro Recreio. O sucesso estrondoso da marchinha não estava previsto, por isso foi confiado a uma atriz estreante (para ódio de Aracy Côrtes, estrela do espetáculo). Depois de Dá Nela!, Zaíra ainda atuaria em Eu Sou do Amor. Mas o estrelato aconteceria no espetáculo seguinte, no Recreio: Pau-Brasil, da dupla Marques Porto & Luiz Peixoto, considerada a melhor revista dos últimos tempos pelos críticos da época. A temperamental Aracy Côrtes, que encabeçaria o espetáculo, num surto de estrelismo, abandonou o elenco, abrindo espaço a Zaíra que subiu ao posto de estrela. Nessa época, Zaíra, além de vedete, fazia números cômicos. Em 1930 gravou para a Odeon. Conhecida como cantora e vedete, Zaíra, na década de 30 excursionou pela América Latina. Em 1933, viajou com a Companhia Tro-ló-ló para Portugal. Fez grande carreira no Recreio e chegou à estrela máxima de Walter Pinto, em meados dos anos 40. Entre seus sucessos no tradicional teatro estão Eva Querida (1935); No Lesco-lesco (1941); A Cabrocha não é Sopa (1942); Tico-tico no Fubá (1945), revista em que se tornou estrela de Walter Pinto. Contracenou com importantes comediantes como Oscarito, Pablo Palitos, Mesquitinha e Grande Otelo. No cinema Zaíra atuou em Luna de Miel en Rio (1940), da empresa Lumiton, protagonizado pela comediante Nini Marshall. No cinema brasileiro atuou em produções da Cinédia, como Pureza (1940), e posteriormente chegando a atuar em comédias eróticas como Cada um Dá o que Tem (1975). Gravou sete discos pelas gravadoras Odeon e Parlophon. Em 1930, gravou o samba-canção Diga, de Gonçalves de Oliveira e Lamartine Babo. Gravou também Canção dos Infelizes, de Donga, Luiz Peixoto e Marques Porto. Além dos sambas Pedaço de Mau Caminho, Gongá, Tem Moamba e Vou Pedir à Padroeira. Em 1931 gravou os sambas Caranguejo também Sobe no Arvoredo, de Mário Barros, e Sem Querer... de Ary Barroso, Marques Porto e Luiz Peixoto. Em 1932, gravou o fox Quando Escuto Você Cantar, de Milton Amaral e Jerônimo Cabral, e os sambas Quando tu Fores bem Velhinho, de Paulo Orlando e Jerônimo Cabral, Nossas Cores e o chorinho Não Terás Perdão. Sua marca registrada, sem dúvida foi a interpretação musical. Apesar de agradar bastante como vedete, em números de cortina e até plateia, Zaíra era uma cantora de interpretação marcante. Essa era sua arma de sedução. Tinha voz quente e sensual. Mário Nunes, crítico do O Globo, disse canta, como até agora não se cantou em teatro. Mulata, esguia, e com um belo par de olhos expressivos verdes, Zaíra era extraordinariamente linda. Ela atuou até meados dos anos 1950, quando fazia participações especiais em revistas e em alguns shows. Faleceu no Retiro dos Artistas, dia 11 de setembro de 1981, aos 67 anos. BEATRIZ COSTA A Vedete dos Dois Países – Me pega no colo!... Pega-me ao colo é uma frase simples, infantil. Mas se quem a diz é Beatriz Costa, que feito menina mimada pede colo aos espectadores, a tal frase simples entra no vocabulário popular, passa a ter os mais inesperados signifi cados. E uma revista que se vai estrear, nesse ano de 1938, terá inevitavelmente como título Pega-me ao colo.1 Beatriz Costa nasceu Beatriz da Conceição em 14 de dezembro de 1907, em Portugal, numa aldeia chamada Charneca do Milharado, relativamente perto de Lisboa. Aos 15 anos estreou, com o apoio da família, como corista do teatro de revista, em Chá com Torradas, no Éden Teatro de Lisboa, seguindo em excursão com a companhia para o Alentejo e para o Algarve. Foi o famoso revisteiro Luís Galhardo quem a batizou com o nome artístico de Beatriz Costa. Em 1924, ela já estava atuando no Teatro Maria Vitória de Lisboa, na revista Rés Vês e sendo preparada para fazer números mais importantes, pois a mocinha levava muito jeito e evoluía rapidamente. No dia 24 de julho de 1924 embarcou, com a companhia, no navio Lutelia rumo ao Brasil. Ficou aqui até 1926. Estreou no Rio de Janeiro com as revistas Fado Corrido e Tiro ao Alvo. Pela sua graça e interpretação foi bem recebida pelo público e pela imprensa carioca. Consolidou seu nome e sucesso com revistas e operetas como Piparote; Disparate; Aqui d’el Rei; O 31; De Capote e Lenço; Tintim por Tintim; O Gato Preto; As 11 Mil Virgens; Rataplan. 1 Vítor Pavão dos santos. a revista à Portuguesa. lisboa: ed. o Jornal, 1978. No entanto, não foi dessa vez que Beatriz Costa ficou no Brasil. Voltando a Portugal, com reputação de grande artista, passou por várias companhias ao lado de renomados artistas, como Nascimento Fernandes, Manoel de Oliveira e Eva Stachino, quando obteve grande popularidade com o número D. Chica e Sr. Pires, ao lado de Álvaro Pereira Em 1927, talvez influenciada pelo furor que o corte à la garçonne de Margarida Max provocou, Beatriz Costa estreou no cinema, com um novo corte de cabelo que se tornaria sensação entre as mulheres: o franjão. A partir daí, como se diz em Portugal, toda a gente sabe o que significa ter uma franja à Beatriz Costa. A sua segunda visita ao Brasil foi com a companhia portuguesa de Eva Stachino, em 1929. Novamente, a imprensa noticiou o sucesso da atriz, relembrando sua passagem pela América do Sul. Em solo brasileiro, o grupo apresentou a revista Pó de Maio; Lua de Mel; Meia-noite; Carapinhada e A Mouraria, entre outras. Após as apresentações em São Paulo, foi convidada por Procópio Ferreira a integrar a companhia de comédias do ator, mas recusou a proposta. De volta à Europa, Beatriz Costa fez um documentário chamado Memórias de uma Atriz, contando episódios de sua carreira. Mas era o teatro a sua grande motivação: Acordada ou dormindo, o meu sonho constante era o teatro. Absorvia-me todos os pensamentos. Das minhas pupilas não se apagava o fulgor das apoteoses, a atitude, o sorriso, a plástica das estrelas. Sua atuação no teatro português continuava intensa. Trabalhou, também, com a famosa atriz Corina Freire e atuou nas revistas A Bola; Pato Marreco; O Mexilhão; Pirilau. Em 1936, estrelou a peça Arre Burro, com grande sucesso. Em 1939, Beatriz Costa retornou pela terceira vez ao Brasil, dessa vez para uma temporada que se prolongou por 10 anos, a qual considerou os melhores anos da sua vida. Trabalhou durante muito tempo no Cassino da Urca, no Rio de Janeiro. Considerada uma sedutora de plateias, Beatriz Costa divertiu o público carioca e se firmou como uma profissional da alegria, como ela mesma se intitulou em livro autobiográfico: Nunca gostei de contar a minha vida a estranhos… É mais do que isso… É um livro de verdades duras, que conta muito do que se tem passado comigo, para lá da cortina de seda… Profissional de alegrias... é natural que não me detenha em episódios dramáticos. Do alto de seu 1,53 m de altura, a vedete dos dois países somou o amor do público português ao do brasileiro e construiu uma trajetória digna de respeito. Morreu aos 88 anos, em 15 de abril de 1996, em Lisboa. MARY DANIEL Vedete por Conveniência Maria Irma Lopes Daniel nasceu em 20 de julho de 1911. Era argentina, da cidade de Salta. De tradicional família circense, estreou no Circo Ventura, de propriedade de seus pais. Tinha apenas seis anos de idade e cantava acompanhada por um violino, tocado por seu irmão. Já mocinha, passou a se arriscar em números de trapézio, a grande especialidade da família Lopes. Mesmo morrendo de medo, fazia um difícil número, o passeio aéreo. Não gostava, preferia cantar e dançar no chão mesmo, onde não corria nenhum perigo. E foi também no circo que estreou como atriz. Fazia pequenos papéis nas representações dramáticas, que aconteciam na segunda parte do espetáculo. Representava tradicionais melodramas circenses como Honrarás tua Mãe, o espetáculo em que estreou o comediante Oscarito. Com o fechamento do Circo Ventura, Maria Irma e a irmã Alba mudaram-se para a Europa. Lá aprenderam bailados típicos, ginástica, balé clássico e acrobacia, com professores famosos. Dominadas as técnicas, as irmãs estrearam na França, em teatros e palcos de cinema. Depois, seguiram para Itália e Espanha, onde já foram apresentadas como atração principal do GranTeatro, em Madri. O que as diferenciava era que não executavam só giros e saltosmortais, mas também faziam números com comicidade. O sucesso da dupla era enorme. Mary, além das acrobacias, também fazia números de bailado, típicos, como a clássica zarzuela espanhola. No Brasil, Mary & Alba estrearam no cineteatro Roxy, no centro do Rio de Janeiro, na companhia dos comediantes Genésio Arruda e Tom Bill. Mas foi com Jardel Jércolis que a dupla ganhou os palcos brasileiros. Contratadas pelo empresário, as irmãs estrearam, no Teatro Carlos Gomes, no início da década de 1930. Mary era uma jovem, beirando os vinte anos. No elenco da Cia. Grandes Espetáculos Modernos, de Jardel, a dupla era apresentada como legítimas vedetes espanholas. O êxito foi tanto que o nome da dupla subiu para primeiro plano nos programas das peças, acima de toda a companhia, composta por artistas consagrados como Aracy Côrtes, Sílvio Caldas, Olga Navarro e Lódia Silva. Mary também começou a representar em números de cortinas e esquetes cômicos. Surgia, discretamente, uma vedete. Era uma mulher de beleza rara. Loura, dona de olhos verdes cor de esmeralda, postura impecável, resultado do trabalho como acrobata. Das revistas em que atuou, destacam-se Angu de Caroço (1932), Traz a Nota! (1933), Alô... Alô... Rio? (1934) e o sucesso Goal! (1935), de NestorTangerini. No ano de 1935, casou-se com Juan Daniel, na Espanha. Juan era atração da companhia, cantando tangos. A família da moça foi contra e a paz familiar só veio depois do nascimento do primogênito, Daniel Filho. Mary ficou na Cia. de Jardel Jércolis até o início da década de 1940. Depois montou uma companhia com o marido (ele cantando tangos e boleros), para se apresentar em cassinos. Após a proibição dos cassinos (1946), milhares de artistas ficaram desempregados, e a classe médio-burguesa ficou sem divertimento. Foi quando Juan e Mary levaram o teatro de revista para a zona sul do Rio de Janeiro, mais precisamente para Copacabana. Em 1949, inauguraram o Teatro Follies, com a revista Já vi Tudo!. Era um teatrinho pequeno, do tipo teatro de bolso, pois Juan não tinha muito dinheiro. Foi quando Mary se lançou como autora de revistas, sob o pseudônimo de Alberto Flores. É que Mary gostava mesmo era de escrever, uma paixão velada desde os tempos de menina. Ela entendia a lógica revisteira. Suas peças fizeram muito sucesso, com elenco reduzido, mas extremamente selecionado. Conseguiu juntar no palco Elvira Pagã e Luz del Fuego, que resultou numa explosão de bilheteria. Também alçou ao estrelato Zaquia Jorge que, inspirada no Follies, abriria seu próprio teatro em Madureira. Da necessidade nasceu a estrela: quando alguma artista faltava, ou deixava a companhia antes do término da temporada, lá estava Mary, para substituí-la. Seu espírito empresarial sabia o quanto era importante se envolver de corpo e alma na companhia. E aos poucos, foi se consolidando como vedete. Entre os sucessos do Follies, estão: A Verdade Nua (1952); Boa-noite, Rio! (1950); O Que é Que o BikiniTem? (1953); É Rei, sim! (1951); Eva no Paraíso (1950) e Tira a Mão daí (1952). Com o fim do Follies, em meados de 1950, o casal continuou com companhia própria, no mesmo esquema. Um dos últimos grandes sucessos no gênero foi O Negócio é Bite-bite, em 1961. Com o desaparecimento do teatro de revista, Mary se recolheu das atividades artísticas, fez algumas aparições na televisão, como na novela Fogo sobre Terra (1974), na Rede Globo. Atualmente vive no Rio de Janeiro. Recentemente sua trajetória como autora de revistas foi tema de um doutorado. Vive cercada do carinho dos filhos Cláudia e Daniel. Completará, em 2011, 100 bem vividos anos. Em entrevista especial para este livro, quando perguntamos para Mary qual das funções ela mais gostava de exercer, entre ser acrobata, escritora, bailarina, atriz, vedete, diretora ou empresária, ela prontamente respondeu: Espectadora! Ela assistiu de camarote às suas vitórias artísticas. E sobre ser vedete por conveniência, explica: Olha, não tinha ninguém pra fazer a vedete na peça? Então eu fazia, e pronto. Resolvia tudo assim, rápido! Pedia a fantasia e saia em cena. Sempre agradei. Eles (o público) gostavam, e como gostavam... Eu era vedete só por fora, por dentro não... ISA RODRIGUES A Shirley Temple Brasileira A menina de ouro... Elisa Rodrigues nasceu, em São Paulo, no dia 17 de Julho de 1927. Seus pais eram os atores Alzira e Benito Rodrigues. Isa, como já era chamada desde pequena, cresceu no ambiente teatral e foi incentivada pela própria mãe. Sua estreia deu-se em Santos, na companhia de Nino Nello e Tom Bill, com um espetáculo de variedades intitulado O Team da Gargalhada. Isa tinha 8 anos, mas cantou e dançou como gente grande. A menina agradou tanto que passou a integrar o elenco da companhia, que viajava pelo Estado de São Paulo. A menina era tão boa que passou a ser anunciada como a grande atração. Apresentava-se cantando e dançando samba e maxixe. Em 1936, com nove anos de idade, já é conhecida pelo público paulista e também em outros Estados. A família, então, mudou-se para o Rio de Janeiro. A menina foi chamada a se apresentar em um show noTeatro República (RJ), em homenagem à vedete chilena Eva Stachino, que se despedia do Brasil. No dia do grande espetáculo, estavam na plateia Carmen Miranda, Francisco Alves, Orlando Silva, Oscarito, Aracy Côrtes e Sílvio Caldas. A menina cantou e dançou com tal desembaraço e graciosidade que foi considerada o maior sucesso da noite. Luís Iglésias, propôs um contrato com a menina, para estrear na sua próxima revista, no Recreio. O pai Benito recusou, pois estava negociando com outra companhia. Iglésias não quis nem saber o fim da história. Cobriu a oferta e ainda contratou, de quebra, os pais. Nascia a Shirley Temple brasileira. Sua estreia aconteceu na revista É Batatal!, ao lado de gigantes como Oscarito, Aracy Côrtes e Eva Todor. Ela fez um dueto histórico com Oscarito, cantando No Tabuleiro da Baiana, na época, recém-gravada por Carmen Miranda. O jogo de cena entre Oscarito e Isa era impagável. A crítica consagrou o surgimento da nova estrela. A pequena Isa foi capa da tradicional Revista de Theatro, vestida de baiana. Embaixo de sua fotografia, estavam estampados os seguintes dizeres: Isa Rodrigues, a vedeta de 1937. E durante os anos seguintes ela explodiu em popularidade. Era como se fosse uma minirreprodução das grandes vedetes da Praça Tiradentes. Exímia sapateadora, pode-se dizer que foi a primeira criança prodígio na cena teatral brasileira. Com o fim das apresentações de É Batatal!, o Recreio lançou O Palhaço o Que é?, e logo depois Mamãe eu Quero e Rumo ao Catete; Isa estava nestes elencos, repetindo o êxito. A Menina de Ouro foi uma revista escrita especialmente para ela. Estreou no Recreio, em 1937, escrita por Freire Jr. e J. Cabral. A produção apresentava-a como a menor vedete dos palcos brasileiros e, com certeza, dos teatros do mundo. A peça contava a história da americana Shirley Temple que decide tirar umas férias no sul da Califórnia. Para despistar os fãs e a imprensa, forja uma visita ao Brasil, contratando uma sósia brasileira que, se passando pela atriz, comparece a todos os eventos, atuando em cinema e teatro, enganando a todos. Mas a farsa dura pouco tempo: é descoberta e levada a julgamento. Na hora do veredicto, o clímax da peça, Isa tinha uma grande cena dramática, que emocionava todas as noites. Entre 1937 e 1941, a nossa ShirleyTemple reinou absoluta na PraçaTiradentes. Seu sucesso era enorme. Havia uma mutidão se amassando para ver a estrelinha. Em 1939, depois de excursionar pelo País, Isa perdeu a maior oportunidade de sua vida: uma proposta para filmar em Hollywood, ao lado da própria Shirley Temple, feita por dois representantes da MGM na América Latina. O pai Benito recusou, pois tinha acabado de renovar com a Cia. Manoel Pinto. Em 1941, Isa tentou interromper sua carreira para estudar, mas voltou para ajudar as finanças dos pais que dependiam dela. Ela havia crescido no palco. Em 1950 casou-se com o ator Carlos Mello, pai de seu único fi lho, Carlos Alberto.Tornou-se uma atriz versátil que havia passado com desenvoltura do teatro de revista para a comédia. Em 1953, aos 26 anos, Isa retornou à revista em Mulheres deTodo o Mundo, no Teatro Carlos Gomes, ao lado da amiga desde os tempos do Recreio, Dercy Gonçalves. A ex-menina-prodígio e revelação na comédia, pela primeira vez, veste maiô e bota as pernas de fora. O público e a crítica adoraram. Com Dercy Gonçalves ainda atuaria em Bomba da Paz, no João Caetano. Agora como vedete passou por muitas companhias. Em 1955, foi elevada ao estrelato como vedete na temporada paulista com Colé, noTeatroAlumínio. Encabeçou o elenco de Gostei Demais... e Gente Bem & Champanhota, onde substitui Nélia Paula. Aproveitou a estada em São Paulo para fi lmar seu primeiro longa-metragem, Eva no Brasil. Estrelou algumas outras revistas como Te Futuco... num Futuca (1959) e Rio, Amor e Fantasia (1960), montagens feéricas no Recreio e no Jardel. Sua especialidade eram os números de samba (imbatível desde criança) e as cenas cômicas. Isa Rodrigues, como Consuelo Leandro e Sonia Mamed, sabia fazer a caricata bonita, engraçada e sensual, ao mesmo tempo. Em 1962, Isa era a artista mais bem paga da Tv Excelsior. Ao lado de outros egressos do teatro de revista, participou dos mais célebres programas humorísticos Noites Cariocas, O Riso é o Limite, Vovô Deville e Times Square. Nos anos 1970, participava dos programas do Chico Anysio e dos Trapalhões da Rede Globo. Sua despedida dos palcos acontece em 1985, com a peça Viva a Nova República encenado no Copacabana Palace, ao lado de Íris Bruzzi e Milton Moraes. Nos anos 1990, com a morte do marido, Isa mudou-se, por vontade própria, para o Retiro dos Artistas, onde vive até hoje. Aos 82 anos de vida e 75 de carreira, se considera uma mulher feliz. CELESTE AÍDA A Vedete que Amou a Vida Nasceu no primeiro dia de setembro de 1916 e foi batizada como Celeste Aída Cruz. Seu nome, portanto, não é artístico como muitos pensam. Sua mãe era amante da ópera e foi num gênero semelhante, o da opereta, que Celeste Aída estreou. Tudo começou por acaso. Em fins de 1938, aos 21 anos, Celeste foi assistir a um ensaio da peça Algemas Quebradas, de De Chocolat, com a Companhia Negra de Operetas. Sua figura despertou a atenção dos produtores do espetáculo, que, descobrindo sua bela voz, a contratam. Sua estreia foi ao lado de grandes nomes: Grande Otelo, Apolo Correia, Pérola Negra e Índia do Brasil. A peça foi bem recebida pela crítica da época, e Celeste foi chamada de a flor da companhia por Mário Nunes, crítico de O Globo. Seu número de maior êxito foi o samba A Carne é Negra, que cantou ao lado de Grande Otelo. Em seguida, Celeste foi convidada por Álvaro Pinto a participar da revista Camisa Amarela, em março de 1939, no Recreio. Ela executava o principal quadro, o samba de Ary Barroso, que dava nome ao espetáculo. Novamente Celeste foi a figura mais destacada de um elenco ainda mais estelar que o anterior, Oscarito, Eva Todor, Margot Louro e Pedro Dias. Após a temporada no Recreio, alcançou o status de vedete, causando polêmica por fazer apresentações com roupas sumárias, sempre com o umbigo de fora. Celeste já era uma figura de destaque no elenco, quando começou a se desnudar em cena. Lançou no palco o maiô de duas peças, bem antes do biquíni. Não era exatamente bonita, era inclusive meio gordinha. Fugia um pouco do padrão de mulher boa. Mas tinha graça, um belo sorriso, e era extremamente simpática e articulada. Cativava pelo conjunto da obra. Como a beleza não era o seu forte começou, também, a investir no tipo cômico. Uma de suas criações mais frequentes era a da mulher-invertida, uma representação da lésbica, com figurino e trejeitos masculinos. Fazia também mulheres sisudas e antipáticas. Apesar de ter construído uma carreira bem-sucedida como caricata, Celeste Aída jamais deixou de ser vedete. Exímia sambista e ótima cantora, sempre participava dos números musicais populares. Em 1940, fez sua primeira excursão artística: uma turnê pelos Estados Unidos. Na época, chegou a ser confundida com Carmen Miranda, que ainda não era muito conhecida dos americanos. Apesar de todo esse sucesso, Celeste não conseguia sobreviver só do ordenado de atriz. Passou a conciliar a carreira com outra atividade: foi vendedora, numa boutique da Cinelândia, centro do Rio. No mesmo ano recebeu proposta para atuar no filme argentino Embrujo, no papel de uma macumbeira. Celeste aceitou o convite. Pediu demissão de seu emprego de vendedora e recusou um contrato com Walter Pinto. Emagreceu 9 kg para atuar no filme. Mas a companhia atrasou as filmagens. Celeste perdeu dinheiro e desistiu do filme. Em seguida, ingressou na companhia de Pascoal Segreto. Nessa época apaixonou-se pelo palhaço de circo, Petrônio Santana, conhecido como Picolé. Celeste quis ajudá-lo, financeira e artisticamente lançando-o na revista Hoje tem Marmelada?, encenada pela Companhia Jardel Jércolis, no Recreio. Era outubro de 1942, e a peça apresentava inovações, com incursões circenses. No ano seguinte, se casou com Petrônio e trocou seu nome artístico para Colé Santana. Iniciam uma carreira como dupla, fazendo números cômicos e dançando o famoso maxixe acrobático, executado graças ao jogo de corpo adquirido pela formação circense de Colé. Em seus números de comédia, um ridicularizava o outro. Celeste passou a fazer o tipo da esposa jararaca e machona, que terminava a discussão espancando o franzino e submisso marido. O sucesso da dupla alcançou o rádio e o cinema. Colé foi a revelação cômica da época. Celeste, com a infl uência de seu nome, conseguia bons contratos para o marido. Celeste continuava com seu trabalho solo nas revistas. Sua imitação de Josephine Baker se tornou muito popular. O número passou a ser seu carro-chefe. No fi m dos anos 1940, o casal assinava com a companhia de Geysa Bôscoli, atuando em mais de uma dezena de espetáculos, e participando de uma bem-sucedida turnê pela Argentina, no ano de 1950. Brotinhos e Tubarões (1949); Olha a Boa! (1949); Bonde do Catete (1950); Rabo de Peixe (1950) e Boca de Siri (1951) são alguns espetáculos dessa fase. Nessa época, Colé já era considerado um grande cômico. Ele era o número um da companhia enquanto Celeste fi cava à sombra do sucesso do marido. Aos poucos, o casamento foi se desgastando. Em 1951, a Cia. Geysa Bôscoli contratou um novo nome: a vedete Nélia Paula, uma mulher lindíssima, no auge da beleza e mocidade. Colé não resistiu e começou a se relacionar com a morena. O romance acontecia à vista de todos. A imprensa publicava notas sobre o affair, até que Celeste desistiu do casamento de nove anos. Pediu o desquite, em 1952. O assunto virou manchete de jornal e capa da Revista do Rádio. Foi um período muito triste em sua vida. A traição foi dupla, pois Nélia era sua amiga e confi dente. Não se deixando abater, Celeste voltou aos palcos pouco tempo depois. Foi a principal atração dos shows da recém-inaugurada boate Mandarim, em Copacabana.Tomava parte nos quadros cômicos, ao lado de Ankito. Mas foi um fracasso. Em seguida, atuou na série de espetáculos de Genésio Arruda no Teatro República. Eram peças de Tom Bill, autointituladas de comédias-chanchadas, com balé popular e números de plateia por conta da atriz. Enquanto Colé elevava Nélia Paula ao estrelato e preparava para montar companhia própria, Celeste Aída enfrentava dificuldades sem o marido. Demorou a emplacar novamente.Tentou carreira na vida noturna de São Paulo, cantando em boates. Em 1955 fez sua primeira experiência como empresária e, fi nalmente, voltou a sentir o sabor do sucesso. Fez uma curta temporada no Teatro Madureira, da amiga Zaquia Jorge e, em seguida, estreou noTeatrinho Jardel, em Copacabana. Apresentou a revista Coquetel de Estrelas, com Lya Mara, Evilásio Marçal, Carla Nell. A carreira de empresária, apesar da boa receptividade do público, foi pontual na carreira de Celeste Aída. Conseguiu emplacar alguns sucessos, mas constantemente era arrasada pela imprensa. No final dos anos 1950, passou a estrelar todos os seus espetáculos, atuando também como diretora artística. Um de seus melhores trabalhos nesse período foi a revista Disfarça e... Entra, encenada no Teatro Zaquia Jorge (antigo Madureira), em 1961. O programa da peça apresentava-a como a fulgurante estrela Celeste Aída. Até meados dos anos 70, continuou no teatro de revista (já em decadência), fazendo espetáculos com Silva Filho, e outros heróis da resistência. O ano de 1978 marcou uma tragédia em sua vida. No teatro, terminava uma temporada de Esse Lixo é um Luxo, e na televisão participava da novela Sem Lenço, sem Documento, na Rede Globo. Celeste era diabética e não sabia. Um dia, cortando um calo no pé esquerdo, machucou-se, teve uma infecção que virou gangrena. Abandonou os palcos. Depois de quatro cirurgias, amputaram-lhe a perna. Sem dinheiro para custear o tratamento e com muitas dificuldades, foi viver no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá. Mesmo sem uma perna e vivendo no Retiro, Celeste não desanimava e declarava à Imprensa que queria retornar aos palcos. Seu desejo foi atendido. Foi dirigida por Hermínio Bello de Carvalho, como estrela do show Nossas Vidas são um Palco Esculachado, no João Caetano, em 1981. De cadeira de rodas, no mesmo teatro em que estreou em 1938, Celeste Aída fez apresentações de seus conhecidos monólogos e músicas do repertório do teatro de revista. O espetáculo, do projeto Seis e Meia, foi muito bem recebido pelo público e elogiadíssimo pela crítica. No entanto, nova tragédia se abateu sobre Celeste. Problemas de saúde obrigaram a amputação da outra perna. Retornou ao Retiro dos Artistas e às condições modestas de vida. Vivia com apenas um salário mínimo, que mal cobria a despesa com os remédios. Por sua luta e vontade de viver, recebeu o título de artista símbolo do Ano Internacional do Deficiente Físico. Voltou às manchetes dando uma longa entrevista para O Globo, com o título Sem amor, sem pernas e sem dinheiro. Na reportagem só pedia que lhe concedessem um nova oportunidade para voltar aos palcos. Faleceu sem conseguir o que tanto queria. Poucos meses antes de sua morte, a Rede Globo apresentou um programa sobre sua vida, o Caso Verdade Amar a Vida. Exibido em outubro de 1983, com direção de Milton Gonçalves, toda a carreira da atriz era narrada e interpretada por outros atores, entremeando depoimentos de colegas, como Renata Fronzi, Dercy Gonçalves e o crítico Jota Efegê. No dia 11 de junho de 1984, aos 68 anos, foi encontrada morta em sua residência no Retiro. O corpo foi velado no Teatro Glauce Rocha, a seu pedido, e sepultado no cemitério do Caju, no Rio de Janeiro. MARY LINCOLN A Apoteose Morena Mary Lincoln era paulistana e nasceu no final dos anos 1910. Quando criança, estudou piano e canto. Formou-se em comércio, mas nunca exerceu a profi ssão. Era morena, alta e esguia. Tinha uma belíssima voz. Era soprano. E muito sensual. Até 1941, ela só cantava em festas da sociedade paulistana. Até que, um dia, a apresentaram aWalter Pinto, no chá doTeatro Santana, onde a Cia.W. Pinto se apresentava. Mary, como quem não quer nada, foi ao piano, tocou e cantou desinteressadamente. Walter Pinto, vislumbrando o sucesso da jovem, ofereceu-lhe um contrato. Assustada, Mary recusou. Argumentou que não estava preparada. E Walter respondeu o que ela queria ouvir: Eu te preparo. Em dezembro daquele ano, Mary já se estava no Rio, pronta para estrear na próxima revista do Recreio enquanto Walter anunciava o nascimento de sua estrela. Sem nunca ter pisado no palco, Mary dividiu, com Aracy Côrtes, o estrelato da peça Você já Foi à Bahia?, de Freire Júnior, um ícone das revistas carnavalescas. Com música de Dorival Caymmi, Herivelto Martins, Sílvio Caldas, essa peça mostrava clássicos como Praça Onze e Amélia. O sucesso foi absoluto. A crítica a consagrou. Foi eleita Rainha das Atrizes de 1942, provavelmente ajudada pelo rei Walter Pinto. O reinado de Mary Lincoln no Teatro Recreio, com Walter Pinto, durou até 1944. Apesar de ter um corpo admirável, suas armas mais poderosas eram a voz e a expressão facial. Não era muito fotogênica, mas ao vivo enlouquecia e conquistava a plateia masculina. Em 1942, Mary inovou. Ainda como segunda figura da companhia, brilhou em Fora do Eixo, revista que reafi rmaria seu talento e abriria as portas para o estrelato absoluto na montagem seguinte: Rumo a Berlim. Nesse espetáculo ela foi ousada, pois cantou árias de óperas como Madame Butterfly, de Puccini. O público delirou, pois ópera em revista era algo inusitado. Em 1944, Mary foi para os cassinos. Fez uma temporada bastante razoável em São Vicente, no Cassino da Ilha Porchat. Fez, em seguida, mais uma passagem pela revista, em 1945, com a Empresa Ferreira da Silva. Foi a figura máxima de Batuque no Beco, ao lado do iniciante Colé, e em Trunfo é Espadas!, com Walter D’Ávilla. Ambas encenadas no João Caetano, com sucesso. Mary receberia da imprensa o título de a estrela das famílias brasileiras. Talvez pelo porte recatado e seu discreto meio de sedução.Também em 1945, faz sua única incursão no cinema, participando de um número musical do filme Caidos do Céu. Na produção da Cinédia, cantava a marcha-rancho Andorinha, de Herivelto Martins, amarrada num poste. O número acabou soando ridículo e a crítica da época não perdoou. Achando que não estava no lugar certo, procurou outro gênero de teatro musicado: a opereta. Em 1946, trocou a revista pela opereta, fazendo uma bem-sucedida carreira. Mas, apesar de se realizar artísticamente na opereta, Mary retornou à revista em 1947, novamente no posto de vedete, na revista Sinhô do Bonfim, contratada pela Cia. Dercy Gonçalves. O espetáculo foi encenado no João Caetano. Dividiu o estrelato com Dercy e saboreou, mais uma vez, o gosto do sucesso. Nos anos seguintes ainda estrelou, como vedete principal, Cuba Livre (1952), no Teatrinho Jardel (RJ). Mary era apresentada como a apoteose morena, em impagáveis quadros ao lado de Walter D’Ávilla. Na Terra do Samba foi outro sucesso revista-adaptada de Luiz Peixoto e Ary Barroso. No palco, Mary Lincoln brilhou ao lado de Margarida Max, a vedete absoluta dos anos 1920, que retornarava aos palcos para apresentações especiais. Uma de suas últimas revistas foi Encosta a Cabecinha (1958), de Boiteux Filho, encenada em São Paulo, com a Cia. Silva Filho. A vedete da peça foi Eloína. Às vésperas de completar 40 anos, Mary já não conservava o físico da juventude. Representava e cantava, apenas, sem sugerir nada com o público. Não era mais a mesma. Nos anos 1970, há muito afastada dos palcos, Mary se mudou para o Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá (RJ). Reencontrou a amiga Gina Bianchi, dos tempos de opereta. Em 29 de setembro de 1981 (dia do ancião), a instituição recebeu a visita de vários artistas e idosos da região.Teve uma festa no Teatro Iracema de Alencar. Os velhinhos do retiro relembraram os tempos de glória, dançando e cantando. Mary Lincoln tocou trechos de A Viúva Alegre, no piano.Todos se emocionaram. Choveram aplausos. As palmas da plateia naquela tarde foram as últimas que ouviu. No dia seguinte sofreu um derrame e morreu, aos 62 anos. MARA RÚBIA Rainha das Escadarias A loira infernal... Mara Rúbia nasceu na Ilha de Marajó, no Pará, em 3 de fevereiro de 1918. Chamava-se Osmarina Lameira Cintra (ela odiava esse nome). Casou-se aos 17 anos, teve três filhos, separou-se do primeiro marido e foi viver no Rio de Janeiro. Depois de algum tempo na Capital Federal, leu no jornal que a Companhia de Walter Pinto anunciava: precisa-se de girls para se apresentarem no Teatro Recreio. Mara não conhecia palavra girl, nem tinha a menor ideia que ofício era esse. O que lhe interessava era o ordenado: um conto e oitocentos. A diferença de seiscentos mil réis do salário de seu emprego anterior, numa firma de corretagem, lhe permitiria buscar seus dois filhos, Therezinha e Birunga, que haviam ficado com os avós, em Belém. Mara trouxera para o Rio apenas Ronaldo, o primogênito. E foi essa diferença que fez a nortista entrar para o teatro. Mara Rúbia não começou no teatro de revista como simples bailarina, e sim como soubrette, nome designado às girls que já tinham algum destaque, graças a um número que Geysa Bôscoli havia criado especialmente para ela. Em 1944, estreia na revista Momo na Fila. O próprio Walter Pinto foi quem a batizou com o novo nome artístico e contratou professora de canto, dança e interpretação a fim de prepará-la para o estrelato. Transformou-se em grande vedete e um dos maiores símbolos sexuais do Brasil, entre os anos de 1940 e 1950. Em 1946 já estrelou com sucesso a revista Não Sou de Briga, ano em que foi eleita Rainha das Atrizes pela primeira vez. Com Walter Pinto, Mara fez oito espetáculos nesse período. Entre seus enormes e inesquecíveis sucessos estão Bonde da Laite (1945); Canta, Brasil! (1945); Rabo de Foguete (1945); Carnaval da Vitória (1946); Não Sou de Briga (1946) – nestas três últimas, Mara já era a segunda figura do elenco, estrelado por Renata Fronzi – e ainda Nem te Ligo (1946); Vamos pra Cabeça (1949) – quando chegou ao estrelato com o empresário – e Está com Tudo e não Está Prosa (1949) – no auge de sua carreira, quando dividiu o estrelato com Virgínia Lane. Em 1950 foi eleita, novamente, Rainha das Atrizes. Durante vários anos, Mara Rúbia se instalou como a grande vedete da PraçaTiradentes. Com enorme carisma e espontaneidade, dividiu os palcos cariocas com outras celebridades, entre elas Dercy Gonçalves, Renata Fronzi, Oscarito e Grande Otelo. Em 1950 foi convidada pela grande Bibi Ferreira para dividir o estrelato na peça Escândalos de 1950, feito que se repetiria em Escândalos de 1951. Um dado interessante na trajetória dessa estrela, é que foi a única vedete do teatro de revista que saiu da PraçaTiradentes para oTeatro Municipal. Em 1947, foi convidada pela inesquecível Dulcina de Moraes a participar de duas peças no Teatro Dramático: A Filha de Iório, de Gabriel Dannunzio, e Já é Manhã no Mar, de Maria Jacynta. E atuou ao longo de sua carreira em outros tantos trabalhos no teatro de comédia. Mara também fez televisão na década de 1950 (na antiga TV Tupi), além de shows de boates, uma ramifi cação da revista. Em cinema, participou dos fi lmes Fantasma por Acaso (1946) e É com Esse que eu Vou (1948), todos com Oscarito; protagonizou a comédia Não é Nada Disso (1950) e o drama policial Brumas da Vida (1952), no qual atuava ao lado de sua filha,Therezinha. Em Os Deuses e os Mortos (1970), ganhou a Coruja de Ouro como melhor coadjuvante. Descoberta pela turma do cinema, fez diversos filmes como O Casamento (1975); Dona Flor e seus Dois Maridos (1976). Seu último fi lme foi Bububu no Bobobó (1980), em que interpretava a si mesma, num enredo que contava a decadência do teatro de revista. Na Rede Globo, fez as novelas Pulo do Gato; Sinal de Alerta e Feijão Maravilha, todas no fi nal da década de 1970. As duas maiores Grandes Vedetes do Brasil foram Mara Rúbia e Virgínia Lane. Fizeram juntas, em 1952, Eu Quero é Sassaricá!, o espetáculo antológico considerado como uma das melhores revistas de todos os tempos. A vedete imbatível nos números de plateia faleceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de maio de 1991. VIRGÍNIA LANE A Vedete do Brasil A Vedete do Brasil era baixinha, com pouco mais de 1,50 m. Então inventou sandálias com altas plataformas. Um jornal disse que suas pernas eram espirituais de tão perfeitas. Então, quis aumentá-las. Inventou maiôs bem cavados. Era também meio dentuça. Fosse hoje, um protético teria desmontado seu lindo sorriso de coelhinha marota. Pois usou tudo isso a seu favor. Aumentou ou escondeu os defeitos com enormes chapéus, com mais lantejoulas, mais plumas, mais diamantes, mais malícia e mais alegria. E se tornou um ícone da revista nacional. Virgínia Lane nasceu no Rio de Janeiro em 28 de fevereiro de 1920. Chamava-se Virgínia Giaccone. Estudou em colégio interno até os 14 anos. Cursou a escola de Bailados do Teatro Municipal do RJ. Começou a carreira como girl do Cassino da Urca, na orquestra de Vicente Paiva, ainda nos anos 1930. Passa a crooner, ao substituir uma das integrantes do conjunto Manhattan’s Girls, que se apresentava no cassino. Adotou o sobrenome Lane, inspirada nas Sisters Lane, três irmãs artistas, que formaram um trio musical popular da cena norte-americana, nos anos 1930 e 1940. Em seguida foi contratada pela Rádio Mayrink Veiga, por intermédio do locutor Cesar Ladeira, que a apelidou de Garota bibelô do rádio. Posteriormente passou para o cast da Rádio Nacional, a mais importante do País. Durante mais de dez anos, Virgínia trabalhou apenas como cantora de rádio e crooner de orquestras famosas, como a de Carlos Machado, em grandes cassinos como o Icaraí e Urca. Um dos grandes shows de que participou foi Vem, a Bahia te Espera, ao lado de Linda Batista e Grande Otelo. Em 1945, trabalhou na Argentina (apresentando-se como cantora em boates e rádios) e voltou, ainda no tempo em que os cassinos funcionavam e apresentavam grandes shows. Em 1946 gravou seu primeiro disco, cantando dois sambas, Maria Rosa e Amei Demais. Depois, pela gravadora Todamérica, chegou a lançar quase trinta discos, gravando, na maioria das vezes, marchinhas de carnaval. Em 1947, após o fim dos cassinos, ingressou no teatro. Estreou como vedete na revista Um Milhão de Mulheres, de Chianca de Garcia, no Teatro Carlos Gomes (RJ). O primeiro nome do espetáculo era Salomé Parísio, mas Virgínia foi a grande sensação. Faz ainda mais alguns espetáculos com o produtor Chianca de Garcia, para em 1949 estrear no Recreio, com Walter Pinto, em Está com Tudo e não Está Prosa, já estrela, ao lado de Mara Rúbia. Em 1950, na Companhia Walter Pinto estrelou vedetíssima a revista Muié Macho sim Senhor, que foi a campeã de público naquele ano. Havia cortinas de fumaça, chuveiro de pétalas de rosas e muito luxo. Mas nada ofuscava o brilho da grande vedete. A revista era um elogio a Getúlio, uma espécie de campanha eleitoral, como se usava na época. Virgínia fez uma grande demonstração de seu talento cômico-malicioso no quadro A garota do negócio, uma pequena obra-prima do double-sens em que a personagem, depois de perder o pai, dizia procurar um homem competente para abrir o seu negócio e se dirigia a algum macho da plateia: Por favor, se apresente Eu o quero como sócio. Já sei que é competente, para abrir o meu negócio! Virgínia declamava estes versos acompanhando-os de expressiva gesticulação. Os espectadores choravam de rir. Eu Quero Sassaricá! Foi a melhor revista de 1951 (no elenco, Mara Rúbia, Oscarito e outros de primeira grandeza). Elogiada como cantora e como vedete, Virgínia lançou, no espetáculo, a marchinha Sassaricando, que foi o maior sucesso do carnaval de 1952 – e uma das mais célebres de todos os tempos. A marchinha foi feita de encomenda para a revista Jabaculê de Penacho, produzida por Walter Pinto que, adorando a música, resolveu trocar o nome da revista para Eu Quero Sassaricá!. O sucesso foi tão grande que o povo acabou adotando a expressão sassaricar. Virginia reinou – por quatro anos – como senhora absoluta da PraçaTiradentes, estrela de muitas revistas. E continuou depois, anos e anos, entre cinema, televisão e shows. Virginia Lane também teve a sua própria companhia com o sonho de levar o teatro de revista a diversas regiões do Brasil. Casou no outeiro da Glória com um milionário chamado Sérgio Kroeff e Getúlio Vargas foi seu padrinho. No dia seguinte, já estava exibindo as belas pernas no Teatro Follies, do Zilco Ribeiro, em Copacabana. O segundo casamento foi com o produtor Gânio Ganeff, que foi seu empresário teatral, até 1972, quando se despede do gênero revista, com a peça Pega no Ganzê e Bota pra Ganzá, no Teatro Rival. Virgínia também teve extensa carreira no cinema. Apresentou-se, nos números musicais, em cerca de quinze fi lmes, quase todos comédias carnavalescas. Destacam-se Laranja da China (1940), no qual cantou a marchinha Cai cai; É Fogo na Roupa (1952), interpretando o samba Barracão; Tudo Azul (1952), em que apresentou Sassaricando. Como atriz participou de um único fi lme, o polêmico Anjo do Lodo (1951), dirigido por Luiz de Barros. O filme, baseado em Lucíola – romance de José de Alencar –, se tornou famoso pela ousada cena na qual Virgínia faz um strip-tease, em cima da mesa de um bordel, e sua silhueta nua era refletida na parede. A sociedade moralista condenou o fi lme, que só pôde ser exibido depois do corte da cena. Na década de 1950, consagrada definitivamente, recebeu do Presidente Getúlio Vargas, o título A Vedete do Brasil. Getúlio era um admirador público de Virgínia, e por várias vezes a prestigiou, comparecendo a seus espetáculos. Em 1952 foi eleita Rainha das Atrizes. Em 1977, participou do filme A Árvore dos Sexos, dirigida por Sílvio de Abreu, com roteiro de Rubens Ewald, dando vida a uma extravagante cafetina, coberta de plumas e paetês. Em 2000, lança dois CDs comemorativos: Virgínia Lane, a Vedete do Brasil, canta seus 80 anos de vida, relançado 32 de suas gravações originais. Em 2006, foi homenageada no último capítulo da novela Belíssima, na TV Globo, a convite do autor Sílvio de Abreu, ao lado de suas colegas vedetes. Até hoje, é homenageada diariamente na tradicional Confeitaria Colombo (RJ) quando, às 5 horas em ponto, é servido o Chá Virgínia Lane. Motivo? Ela imortalizou, nos versos, o velho na porta da Colombo... é um assombro, sassaricando. Agora, imortal entre os brasileiros. SALOMÉ PARÍSiO A Número Um – She’s wonderful! Salomé Parísio nasceu em 3 de junho de 1921 em Bonito -PE. Seu nome de batismo é Dulce de Jesus Oliveira, mas resolveu adotar o nome da mãe para entrar no meio artístico. Começou a carreira cantando na Rádio Clube de Pernambuco. A partir daí fez shows em cassino até ser levada para o teatro de revista. A mulher com as mais belas pernas, como fi cou conhecida, foi descoberta por Chianca de Garcia, um famoso empresário teatral. A comediante Celeste Aída enviou uma foto de Salomé para o empresário que imediatamente pediu que ela embarcasse rumo ao Rio de Janeiro. Chegando ao aeroporto, Chianca, com um forte sotaque português, lhe disse: É a mulher que eu quero. Sua estreia foi no espetáculo Um Milhão de Mulheres, ao lado de Colé e Celeste Aída. Já começou como vedete e estrela do espetáculo. Do Rio foi para São Paulo, onde atuou em Eu Quero é me Badalar; Cai cai Balão; É com Essa que eu Vou, entre outras. Trabalhou em filmes do Mazzaropi, voltou a fazer parceria com Colé e trabalhou ao lado de Virgínia Lane. Em 1950, Salomé Parísio foi para Portugal. Estreou Saias Curtas, espetáculo que fez enorme sucesso no Cassino do Estoril. Em 1955, a Argentina se rendeu aos encantos e às pernas de Salomé. Foi outra temporada grandiosa. Mas Salomé estava prestes a receber o maior convite de sua vida: substituir Carmen Miranda nos Estados Unidos. Tudo começou quando o famoso arquiteto Oscar Niemeyer, fã confesso da vedete, levou o empresário Carlos Machado para assistir a um show de Salomé. Machado, conhecido como o rei da noite, era produtor de musicais de revista. Seus espetáculos faziam sucesso na alta sociedade brasileira. Só que ele já havia produzido três espetáculos nos Estados Unidos que não tinham agradado o público. Por isso, o empresário americano que o contratara veio ao Brasil escolher os artistas pessoalmente para seu próximo show. O americano, encantado com Salomé, exclamou: She’s wonderful! E lá foi Salomé, com Nelson Gonçalves, estrelar o show Extravagância Brasileira na Radio City Music Hall, em NovaYork, em 1960. O espetáculo foi um estouro. Havia sessenta mulheres no palco e de repente entrava Salomé Parísio, de costas, cantando: Soca, soca, soca pilão, Abana sinhá, peneira na mão. O público delirava com o rebolado da morena. O maestro, sem entender a letra da música, pedia para ela entrar de frente, não de costas. Ele falava: Miss Salame (era assim que os americanos pronunciavam), please, look for me. E ela falava: Não!Tem que ter o re-bo-la-do. O maestro fi cava hipnotizado com o requebrado da vedete e acelerava a música de acordo com o balanço do quadril de Salomé, deixando doidos os músicos da orquestra. O plano do empresário americano era ensaiar Salomé Parísio para substituir a estrela internacional Carmen Miranda. O projeto contava até com um fi lme em Hollywood para o lançamento da artista. Mas Salomé não viveu o seu sonho. Sua mãe sofreu uma fratura no fêmur e Salomé abandonou o trabalho para cuidar da mãe. De volta ao Brasil, foi trabalhar com Walter Pinto. Com o declínio do teatro de revista, continuou a fazer shows como cantora, foi contratada pela Tupi e fez Almoço com as Estrelas, com Airton Rodrigues. Também participou do Clube dos Artistas, com Lolita Rodrigues, depois foi para a Record e Bandeirantes.Trabalhou com Dercy Gonçalves no Esplanada, no Rio de Janeiro, e com vedetes como Anilza Leoni, na revista Chica da Silva 65, em que interpretava a personagem-título. O ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros, dizia que ia ao teatro só para ver a pinta da perna de Salomé Parísio e exclamava: Você é a número 1. Se os Estados Unidos escolheram Marilyn Monroe para cantar para seus soldados antes de ir à guerra, o Brasil preferiu Salomé Parísio. A artista foi convidada a cantar para os pracinhas brasileiros antes da partida deles para a Itália, na Segunda Guerra Mundial. Salomé também participou da lendária montagem de Macunaíma, dirigida por Antunes Filho. Em novelas trabalhou em Sangue do meu Sangue. Ano: 1969. Emissora TV Excelsior deVicente Sesso, ao lado de Fernanda Montenegro,Tônia Carrero, Sadi Cabral e Armando Bógus, e fez uma participação na primeira versão de Mulheres de Areia. Ano: 1973. Emissora TVTupi. Na década de 1980 participou das peças Violinista no Telhado, Dilúvio e Aí vem o Dilúvio. Salomé Parísio vive hoje em São Paulo e continua a cantar, a fazer shows e programa festejar seus 60 anos de carreira com um grande espetáculo. Em suas aparições ainda canta uma marchinha que sempre fez sucesso: Beata, ta, beata, ta, Este coco saboroso Você come E não me dá... RENATA FRONZI A Vedete Completa Renata Mirra Ana Maria Fronzi nasceu em 1º de agosto de 1925, na cidade de Rosário, Província de Santa Fé, na Argentina. Seus ascendentes diretos, uma típica e genuína família italiana, eram todos artistas. Os avós maternos trabalhavam em teatro de operetas, e os paternos eram bailarinos. Filha dos atores César e Yolanda Fronzi, ainda menina foi morar com os avós em São Paulo. Os pais estavam constantemente em excursões e não tinham tempo de cuidar da fi lha. Estudou balé desde pequena e acompanhava a família nas viagens que faziam. Começou na companhia de teatro amador com os pais, atuando em pequenos papéis. Representavam em italiano textos clássicos como Arlequim, Servidor de dois Amos, de Goldoni, e Seis Personagens à Procura de um Autor, de Pirandello. Os espetáculos eram encenados no Municipal de São Paulo, para organizações italianas da época, como a Sociedade Italiana Dopo Lavoro. Algum tempo depois a família Fronzi montou a Companhia de Operetas Brasileiras, viajando, principalmente, pelo Sul do País e representando para as colônias italianas daquela região. No repertório, quase quarenta operetas, entre elas obras de Lehar e Strauss. A estreia profi ssional ocorreu em 1941, em São Paulo. Renata tinha 15 anos e representou um papel na comédia Sol de Primavera, na Cia. de Eva Todor. Foi seu debut artístico e pela primeira recebeu um pagamento por seu desempenho como atriz. Mas foi na revista que Renata se encontrou artisticamente. Em seu primeiro espetáculo do gênero, já era estrela, o primeiro nome do elenco. E isso só poderia acontecer pelas mãos de Walter Pinto. O empresário, que tinha olho clínico para descobrir estrelas, gostava de arriscar e inovar. Lançava suas descobertas já com destaque em suas produções. Assim tinha feito com Mary Lincoln e Mara Rúbia. O espetáculo era Rabo de Foguete, encenada em dezembro de 1945, uma tradicional revista de fim de ano, com Mara Rúbia secundando a estreante Renata Fronzi. Formavam uma dupla perfeita. Lindíssimas (sabiam dizer com muita malícia...) e jovens, na flor da idade. Uma loura, outra morena. Mara era mais espontânea e popular, enquanto Renata era do tipo classuda e um pouco elitista. Atuaram juntas em mais duas peças de Walter Pinto, ambas encenadas em 1946: Carnaval da Vitória e o grande sucesso Não sou de Briga, que trouxe Oscarito de volta ao elenco do Recreio. Apesar desse sucesso todo, o pai, como bom italiano conservador, não gostava de ver a filha desfilando com as pernas de fora. E pouco tempo depois, Renata embarcou com a família para a Argentina, integrando uma companhia italiana. Na terra do tango, encenaram textos do teatro moderno, como Gata em Teto de Zinco Quente e Um Bonde chamado Desejo. Passou dois anos na Argentina, mas a temporada foi interrompida com a morte de seu pai, em 1948. Retornou a São Paulo com a mãe. Sem trabalho, Renata ligou para Mara Rúbia, vedete já famosa naquelas alturas e de quem havia se tornado amiga. Mara mandou que a amiga fosse, imediatamente, para o Rio de Janeiro, prometendo fazer seu relançamento como vedete.Tudo aconteceu muito rápido: em abril de 1949, Renata ressurgiu estrela absoluta de Brotinhos eTubarões, noTeatro Jardel, na Cia. Geysa Bôscoli. O espetáculo foi um grande sucesso, esgotou lotações até a última apresentação. A postura cênica, conquistada com o balé e o desembaraço em cena, fruto de anos de experiência teatral, fizeram de Renata Fronzi a vedete da moda. As críticas eram as melhores possíveis: Paschoal Carlos Magno escreveu Renata Fronzi vale sozinha todo um espetáculo.O Diário de Notícias, disse É talvez a nossa mais completa vedete. E no vespertino A Noite, foi considerada uma das mais encantadoras estrelas do teatro de revista, já surgidas em nosso país. No Jardel, ainda atua em Olha a Boa!, com o mesmo elenco da montagem anterior, Colé, Celeste Aída e Joana D’Arc. Ainda em 1949, dividiu o estrelato da peça Quero Ver isso de Perto, com dois monstros da revista, Oscarito e Dercy Gonçalves. Nessa época, começou a atuar na madrugada, após as apresentações teatrais. Estreou na boate Casablanca, em pocket shows, onde – além de cantar e dançar – contava histórias e piadas, num diálogo direto com o público, que ouvia tudo atentamente, enquanto bebiam seus drinks. Foi nessa boate que Renata conheceu o homem de rádio, Cesar Ladeira. Foram seis meses entre namoro, noivado e casamento. Com o marido, ela começou a escrever textos, inspirados em seus pocket shows, inserindo elementos do teatro de revista. Batizaram as montagens de Café Concerto. Com vedetes, cômicos, girls, números musicais, alegorias e tudo mais, os shows foram apresentados com grande sucesso, na boate Casablanca e posteriormente na boate Acapulco. Os Café Concerto tiveram dez edições, entre 1950 e 1952, e lançaram grandes vedetes como Anilza Leoni e Nélia Paula. O casal também passou a escrever para outras companhias de revistas, como a de Dercy Gonçalves e Zilco Ribeiro. Com este último empresário, Renata foi estrela de Olha o Piche, no Follies, em 1952, com texto do marido Cesar Ladeira. Com o sucesso de seus textos, montaram companhia própria. Reuniram um bom elenco – com Renata de estrela e repleto de novas vedetes revelações. Após temporadas no Rio, no Teatro Serrador, excursionam para São Paulo e até para Portugal, sempre com bastante sucesso. São espetáculos dessa fase, Brasil 3.000 (1954) e Piu-piu pra Você (1955). A companhia lançou futuras grandes vedetes, como Lilian Fernandes e Sandra Sandré. Renata Fronzi continuou vedete até o início dos anos 1960, quando a revista agonizava. Então trocou os palcos pela televisão. Um dos últimos sucessos foi Rio, Amor e Fantasia, em 1960, com o empresário Fernando D’Ávila. No cinema, Renata começou a atuar ainda na década de 1940. Alguns títulos representativos de sua carreira na tela grande foram: Treze Cadeiras (1957), comédia da Atlântida, que fez ao lado de Oscarito, De Pernas pro Ar (1956), com Ankito, e Garotas e Samba (1957), dirigido por Carlos Manga. Seus últimos filmes foram Copacabana, com direção de Carla Camurati em 2002 e Coisa de Mulher, de Eliane Fonseca (2005). Foi através da televisão que Fronzi chegou mais perto do coração brasileiro. Principalmente, atuando em humorísticos como A Família Trapo, ao lado de Jô Soares, Ronald Golias, Cidinha Campos e Ricardo Corte Real. Os textos do programa eram escritos por Manoel Carlos, Carlos Alberto de Nóbrega e Jô Soares. Renata trabalhou também em novelas da Rede Globo, interpretando, na maioria das vezes, personagens cômicas, como em Pecado Rasgado (1978) e Jogo da Vida (1981), ambas escritas por Silvio de Abreu. Na década de 1980 atuou, ainda, no seriado Bronco, ao lado de Ronald Golias e Nair Bello. Sobre a sua carreira como vedete, Fronzi comentou em sua biografia Chorar de Rir, escrita por Wagner de Assis para a Coleção Aplauso: Para ser uma vedete naquela época tinha que saber cantar, dançar, representar. E tinha que ser bonita, claro, porque senão ficava de fora. Eu não me incomodava de ser considerada vedete, na verdade era um título que tanto fazia (...). Então, isso só serviu para classificar um tipo de atriz que chamava a atenção pelo talento que mostrava diariamente no palco, e não porque simplesmente tinha bunda grande, como hoje. Morreu no dia 15 de abril de 2008. O diagnóstico foi falência múltipla dos órgãos em decorrência de diabetes. Os Anos 1950 e o Fim do Jogo Em abril de 1946, os jogos de azar foram proibidos no Brasil, por ordem do presidente Eurico Gaspar Dutra, sob a influência da sua mulher Carmela Teles Leite Dutra, conhecida como Dona Santinha, por sua vez, influenciada pela Igreja Católica. Essa proibição teve forte efeito sobre os atores do teatro de revista que transitavam pelos shows de cassinos completando suas rendas e fazendose conhecidos de outras plateias. Havia muitos artistas que trabalhavam exclusivamente em shows de cassinos. Desempregados migraram para o teatro. O fim do jogo no País e a extinção dos cassinos provocaram un tour de force de homens empreendedores, a fim de que o divertimento e o dinheiro fossem desviados para outros locais e com outros tipos de lazer e entretenimento. Essa sociedade sofisticada que movimentava restaurantes e night clubs era chamada de café society. O maior desses homens empreendedores era Carlos Machado, também conhecido como O Rei da Noite. Ele institucionalizou o show de boate e tornou famosas suas boates Monte Carlo, Casablanca e Night and Day. Colocou um palco menor, cuidou da sonorização e dos ambientes, chamou as melhores e mais bonitas vedetes, os melhores músicos e revistógrafos experientes para escrever esquetes. Serviu muito whisky aos frequentadores e, aos poucos, assumiu o striptease nas altas horas. A este conjunto, que era também outro modo de fazer teatro de revista, chamaram Teatro da Madrugada. Os shows se caracterizavam por trazer os elementos básicos do teatro de revista para um espaço menor: a boate. Renata Fronzi e Cesar Ladeira faziam isso no espetáculo Café Concerto, dando mais ênfase à parte musical com influência direta dos cabarés parisienses. Paralelamente, o teatro de revista continuava como o movimento teatral mais expressivo do Rio de Janeiro. Mas agora, a vedete ganhava mais força e importância. Esta figura, no início, dividia as atenções com cômicos e bons textos. Na década de 1950, a vedete está em primeiríssimo plano. Eram pra ela todas as atenções. Se cantasse bem, melhor. Mas o importante era que fosse escultural. De preferência, com as medidas da Vênus de Milo ou, um pouco mais brasileira, como Marta Rocha. Com o fim do jogo, Walter Pinto e os outros empresários apostaram todas as fichas na beleza de suas vedetes. Entre 1953 e 1954 o biquíni, já comum nos palcos da revista, ainda era proibido em praias brasileiras. Em Copacabana as garotas que tentassem aparecer com o traje sumário sofriam repressão policial. Mas em 1957, o uso da peça já havia sido liberado na praia de Copacabana. Os costumes mudavam rapidamente. A década de 1950 marcava, também, a era do nudismo. Elvira Pagã e Luz del Fuego – as duas musas do nudismo – garantiram a bilheteria de várias revistas, consideradas fracas pela crítica. A nudez de ambas, já valia o espetáculo. Como atrizes, eram sofríveis. Como vedetes, desde que não se exigissem delas talento musical e desenvoltura cênica, convenciam e prendiam as atenções masculinas. Os teatros lotavam. Casais iam assistir. Mas ninguém comentava no dia seguinte. Elas eram péssimos exemplos para as jovens. Naquela época, o pecado ainda estava na moda. ELVIRA PAGÃ The Original Bikini Girl – Que culpa tenho eu de ser tão boa? A beleza e a sensualidade fi zeram a fama desta vedete. Elvira Pagã foi uma das sexy symbols mais cobiçadas da época. Elvira Olivieri Cozzolino nasceu em Itararé (SP) em 6 de setembro de 1920. Foi atriz, cantora, compositora e vedete. Ainda criança mudou-se, com a família, para o Rio de Janeiro. Como a maioria das meninas de bem, também estudou em colégio de freiras. No tempo de estudante, ela e a irmã Rosina organizavam festas e se relacionavam muito bem com o pessoal da classe artística carioca. Foi por essa época que conheceram os integrantes do Bando da Lua. A partir da década de 30 tornaram-se conhecidas como as Irmãs Pagãs. As Irmãs gravaram um total de treze discos e a dupla permaneceu unida até 1940. Em dezembro de 1944 estreou, na Rádio Nacional, o programa Paganíssimo. Comandava, também, shows noturnos como Isso Faz um Bem; O Negócio tá de Pé; O Pecado em Sete Véus; Muita Máscara e Pouca Roupa. No cinema, Elvira atuou em números musicais de comédias como, Alô, alô, Carnaval (1936); Laranja da China (1940) e Carnaval no Fogo (1949). Como atriz protagonizou O Dominó Negro (1949), um filme policial, ao lado do ator Paulo Porto. Em 1950, se elegeu Rainha do Carnaval, num concurso disputadíssimo. Foi uma figura folclórica do carnaval, e durante muitos anos ao longo da década de 50, instituiu o erotismo nos bailes quentes da época, como Boate Arpège e Cassino Icaraí. Causava polêmica ao aparecer quase nua no tradicional Baile do Municipal, sendo, em algumas ocasiões, retirada do baile pela polícia. Foi nos anos 1950 que Elvira Pagã se tornou vedete. Foi estrela da Cia. Juan-Mary Daniel, noTeatro Follies e também no Recreio e República. Entre as revistas em que atuou, estão Moulin Rouge (1951) – em que aparecia completamente nua -É Rei, sim! (1951) e A Verdade Nua (1952), espetáculos que reuniram no mesmo elenco as duas musas do nudismo: Elvira e Luz. Elvira mostrava o corpo e ideias bem avançadinhas para os anos 1950. Por causa disso, foi primeira em vários quesitos: Primeira Rainha do Carnaval Carioca; Primeira mulher a usar biquíni no Brasil; Uma das primeiras brasileiras a explorar o impacto do nudismo (disputando com a rival Luz del Fuego); Primeira a fazer plástica nos seios! Depois de operar os seios, posou nua e distribuiu a foto como cartão de Natal. Foi um escândalo! Um atentado ao pudor! Por causa dessa sua irreverência, a moça provocava verdadeiras enchentes nos cabarés e teatro rebolado. Por causa da audácia e dos dotes físicos provocou paixões devastadoras. O caso mais estranho foi o do bandido Carne Seca que, na prisão, forrou a cela com fotos dela. Detalhe: há uma foto em que Elvira está deitada sobre uma pele de onça. Sobre a foto, uma dedicatória: Para Carne Seca, um consolo de Elvira Pagã. Em 1951, Elvira foi presa pela primeira vez porque se meteu numa briga no Nick Bar de São Paulo, aquele frequentado pelo pessoal do TBC. Entrevistada na ocasião, ela disse: Os homens não me deixam em paz e provocam confusões... Que culpa tenho eu de ser tão boa? Em 1956, Elvira expôs 20 telas a óleo de sua autoria na Galeria Nagazawa, em Copacabana. Também foi escritora. Lançou aproximadamente dez livros, todos autobiográfi cos ou de temáticas esotéricas. Nos livros Vida e Morte e Eu, Elvira Pagã contava todas as polêmicas em que tinha se envolvido, as brigas, as prisões e, inclusive, a tentativa de suicídio. Escreveu diversas obras acerca de sua fi losofia espiritual. Ocupou a cadeira de número 12 da Academia Paulista de Letras. Depois de uma de suas prisões, gravou o samba-canção Cassetete, não! e fez muito sucesso, porque ela denunciava e ironizava os maus-tratos infligidos pelos policiais. E não é que o samba pegou? Até os cômicos travestidos cantavam imitando sua voz e seus gestos maliciosos. Foi em 1960 que ela se recolheu e abandonou a vida artística. Dizia não precisar mais de amantes e se intitulava sacerdotisa, ligada a discos voadores. Fundou uma seita: a Doutrina da Verdade. Passou os últimos anos de vida solitária em seu apartamento em Copacabana. A sua morte foi divulgada pela irmã, que morava nos Estados Unidos, três meses depois de ocorrida. Morreu no dia 8 de maio de 2003. Elvira Pagã e Luz del Fuego disputavam as mesmas plateias, os mesmos palcos e os mesmos empresários. As duas não se bicavam e brigavam até pelo destaque nos cartazes: ELVIRA – Meu nome tem de aparecer com letras maiores que o da mulher das cobras. Eu sou a grande atração! Lugar de cobras é no zoológico, e não no teatro, LUZ – Quem atrai o público sou eu! A Violeteira só mostra o corpo. Eu mostro o corpo e as cobras. A Violeteira, porque o número mais famoso de Elvira era um musical em que ela cantava La Violetera, canção mexicana de grande sucesso na época, levando no braço um cestinho de violetas. LUZ – Quanto mais conheço Elvira, mais amor dedico às cobras. As manchetes dos jornais e revistas estampavam o palavrório entre as duas, enquanto a venda de ingressos triplicava. LUZ DEL FUEGO A Vedete Nudista A Luz Divina e suas incríveis serpentes Filha de comerciantes de Cachoeiro do Itapemirim (ES), a menininha Dora nasceu numa segunda de Carnaval. Fazia muito calor naquela madrugada de 21 de fevereiro de 1917. Ela era a 15ª filha do casal Etelvina e Antonio Vivacqua. A família Vivacqua era grande e respeitada. Quando eles se mudaram para Belo Horizonte, a menininha de seis anos começou a apresentar gostos meio estranhos: ela gostava de ir ao serpentário do Instituto Ezequiel Dias e pegou uma cobra na mão no dia em que foi ao circo. Foi, também, uma adolescente rebelde e provocativa. Após a morte do pai, interrompeu os estudos e foi morar com o irmão mais velho no Rio de Janeiro. No Rio, conheceu Cesar Ladeira, locutor da Rádio Mayrink Veiga que a introduziu no meio artístico e na high society. A família não gostou de seus comportamentos inadequados e acabou mandando a moça voltar a Belo Horizonte. Em 1936, Dora foi morar com a irmã Angélica, casada com Carlos. Foi quando Angélica encontrou o marido assediando Dora e resolveu interná-la no Hospital Psiquiátrico Raul Soares. Dora ficou isolada durante dois meses. Quando saiu, transformou-se em presença incômoda e contava pra quem quisesse ouvir o caso do assédio. Foi obrigada a passar uma temporada na fazenda. Foi quando ela se meteu no mato e voltou nua com duas cobras-cipó enroladas no corpo, mandando o fi lho do administrador fotografá-la. Resultado: nova internação, dessa vez numa casa de saúde do Rio de Janeiro. Estava com 20 anos. Quando saiu do hospital, foi morar em Campos (RJ). Dos 21 anos em diante, teve uma vida cheia de fugas, emoções e desafios. Recusou um pedido de casamento, tirou brevê, quis ser paraquedista, apaixonou-se, desiludiu-se e decidiu ser dançarina sensual coadjuvada por serpentes. Arranjou uma jiboia, deu-lhe o nome de Anjo e treinou-a durante 12 semanas. Mas a cobra morreu durante o último ensaio antes da estreia. Já experiente, domesticou e treinou duas outras cobras. Depois de dois anos, dezessete dias e quase cem mordidas, fez seu espetáculo na companhia do casal de jiboias Cornélio e Castorina. Em 1944, virou a atração da noite no palco do picadeiro do Circo Pavilhão Azul, sendo anunciada como A Luz Divina e suas incríveis serpentes.Também nesse ano estreou no teatro de revista, no espetáculoTudo é Brasil, noTeatro Recreio. Fez seus bailados com as cobras e muito sucesso, ao lado de Jararaca & Ratinho, Colé, Celeste Aída e Aracy Côrtes. Apresentou-se em outros circos de periferia no Rio de Janeiro e acatou a sugestão do palhaço Cascudo: mudou o nome artístico para Luz del Fuego, que era como se chamava o batom argentino da Carmen Miranda. Luz seguiu salvando circos da falência até que, em 1950, foi contratada pelo casal Juan Daniel e Mary Daniel 1, donos do Teatro Follies, em Copacabana. No ano seguinte, ela foi para o Teatro Recreio. Um dos seus grandes sucessos foi Eva no Paraíso (1951). A peça era fraca, mas ela brilhava com seus brotinhos cultivados na ilha nudista que apareciam no quadro O nu através dos tempos. A Verdade Nua (1952) a fez voltar ao Follies com a família Daniel. Luz, com suas cobras, se sobrepunha aos esforços de Zeloni e a beleza das Follies-girls. Também atuou na companhia de Dercy Gonçalves e noTeatro de Zaquia Jorge. Bastava colocar seu nome nos cartazes que era bilheteria garantida. Em um de seus quadros famosos ela aparecia de freira e, com ar sério, caminhava até o proscênio, dizendo: – Eu sei que os senhores me consideram uma mulher leviana, imoralíssima, e não querem me ver nem como irmã de caridade. Vocês estão doidos é para me ver pelas costas, não é mesmo? Está bem! E quando dava as costas para o público, o que se via era seu traseiro completamente nu. A plateia ia ao delírio. Em meio a esses acontecimentos positivos Luz publicou seu livro Trágico Black-Out, cheio de relatos sobre a sedução do cunhado. Neste livro, apresentava, também, suas ideias naturalistas, vegetarianas e nudistas: Um nudista é uma pessoa que acredita que a indumentária não é necessária à moralidade do corpo humano. Não concebe que o corpo humano tenha partes indecentes que se precisam esconder. 1 Pais de daniel Filho. Publicou Verdade Nua, o livro em que lançou bases de sua fi losofia naturalista. As autoridades deram sumiço na obra. A segunda edição foi vendida por reembolso postal. O dinheiro serviu para arrendar uma ilha na qual se instalaria a sede do seu clube naturalista. Na primeira metade dos anos 1950, Luz causava furor por onde passava. Era conhecida em todo o País. Doava renda de seus espetáculos para instituições benefi centes. Era atração também durante o carnaval, quando aparecia nua em cima de carros alegóricos. Sempre acompanhada das cobras. Criou o PNB (Partido Naturalista Brasileiro) à custa de espetáculos gratuitos, que fazia seminua, nas escadarias doTeatro Municipal do Rio de Janeiro. Luz obteve licença para viver na ilha Tapuama de Dentro, que foi rebatizada como Ilha do Sol. Essa ilha, na Baía de Guanabara, passou a ser uma das grandes atrações turísticas do Rio de Janeiro. Ali funcionava o Clube Naturalista Brasileiro, o primeiro clube de nudismo da América Latina. Em sua fase áurea de 1956 a 1961, chegou a ter 240 sócios, apesar dos protestos da Igreja. Nos anos 1960, Luz passou a viver, definitivamente, na Ilha do Sol. Suas reservas fi nanceiras terminavam, a idade chegava e o mito começou a desaparecer. Seus amantes já não eram homens infl uentes e ricos. Envolveu-se com Júlio, um pescador musculoso e analfabeto, com quem manteve uma relação de muitos meses. Como precisava de dinheiro para obras no clube, retornou aos palcos em 1965, com Boas em Liquidação. Na ilha, passou a receber poucos amigos e alguns casos amorosos, encerrando as atividades do clube. Em 1967, Luz del Fuego e seu caseiro foram assassinados. Seus corpos foram amarrados em pedra e lançados ao mar. Os criminosos, presos, confessaram. Mas a tragédia da Ilha do Sol teve requintes de crueldade e muitos fatos não explicados. Luz foi ousada, avançada e, ao mesmo tempo, fiel aos seus princípios. Apesar de frequentar as festas noturnas regadas a álcool, não fumava nem ingeria bebidas alcoólicas. Ela teve sua vida transformada em filme, estrelado por Lucélia Santos. O dia 21 de fevereiro, data do seu nascimento, é comemorado como o Dia do Naturismo. ZAQUIA JORGE A Estrela de Madureira Zaquia Jorge nasceu em dia 6 de janeiro de 1925, em Niterói (RJ). Tornou-se uma bela morena de olhos expressivos e pele clara. Seus traços confirmavam a ascendência síria. Como quase todas, estudou em colégio de freiras até os 14 anos de idade. Desde criança andava no meio teatral. Sua irmã mais velha era atriz e Zaquia a acompanhava, sonhando com o mundo artístico. Mas acabou se casando muito cedo. Em 1944, aos 19 anos, nasceu seu primeiro e único filho, Carlos Alberto. Logo depois se desquitou. E foi no mesmo ano de 1944 que, andando na rua, encontrou antigas amigas do teatro. No grupo estava o autor teatral Freire Júnior, que se encantou com a moça e a levou até a companhia de Walter Pinto. Aprovada, Zaquia estreou como girl na peça A Barca da Cantareira, estrelada por Dercy Gonçalves. A revista fez um estrondoso sucesso. Ao fi nal da temporada, Zaquia foi para a Cia. Beatriz Costa, no Teatro Carlos Gomes. Retornou ao Walter Pinto, em Bonde da Laite (1945), agora com certo destaque e algumas falas. Foi nessa época que a morena conheceu Júlio, o Leiloeiro. Mudou-se para seu apartamento em Copacabana. O romance dos dois durou até o fi nal de seus dias. Júlio era um leiloeiro bem relacionado e apaixonado pela vedete. Bancava todos os seus pedidos e amparou-a em toda a sua trajetória. Nos anos seguintes Zaquia começou sua escalada até o posto máximo. E ainda iria além. Em 1949, já apareceu como vedete na revista Quero Ver isso de Perto, do radialista Héber de Bôscoli e do (então iniciante) Zilco Ribeiro. No elenco, Oscarito, Dercy, Renata Fronzi e a estrela Joana D’Arc. Ainda em 1949 chegou ao estrelato na companhia Juan-Mary Daniel, no recéminaugurado Teatro Follies, em Copacabana. Sua temporada como vedete máxima do Follies começou com Já ViTudo! Mesquitinha encabeçava o elenco. A carreira de Zaquia na Companhia de Juan Daniel foi vitoriosa, pois noTeatrinho Follies o nível de exigência era bem diferente daquele de Walter Pinto. Entre as revistas que estrelou estão Ele Vem Aí; Tô de Olho e Boa-noite, Rio! Em 1950 foi Princesa das Atrizes, no Baile da Casa dos Artistas. Terminada a temporada no Follies, montou em Ipanema, na Praça General Osório, o seu Teatro de Bolso, em sociedade com o fiel companheiro. Após algumas tentativas e um grande prejuízo desistiram, pois o público não aprovou. Mulher inquieta e de gênio forte, Zaquia pensava que seria possível fazer sucesso em outra região da cidade, fora do zona teatral, com espetáculos mais populares e sem pretensões. Novamente com o apoio do leiloeiro, comprou uma velha casa de ferragens em Madureira. Julio gastou milhões e transformou a velha casa no Teatro Madureira, com capacidade para 400 pessoas, entre plateia, balcões e camarote. Era maior que o antigo Teatro de Bolso e o Follies. A população, entusiasmada, colaborou para o sucesso. Foi elogiada pela imprensa pela sua coragem. A revista inaugural foi Trem de Luxo, escrita por Walter Pinto e Freire Júnior. Mas a experiência também não deu muito certo, porque a população menos privilegiada não tinha dinheiro para pagar o ingresso. Sem recursos, houve problemas para pagar o elenco. Alguns atores continuaram por admiração e amizade à Zaquia. Mas ela, com energia e determinação, fazia campanhas e não deixava a peteca cair. Era forte e alegre. Atuou – em todos os seus espetáculos – como vedete e estrela da companhia.Também enfrentou a sociedade moralista da época; ela e suas vedetes se vestiam de maneira mais ousada e moderna: vestidos curtos, calças apertadas, tamancos, decotes e pernas de fora. Passeatas contra o teatro de Zaquia foram organizadas pelas carolas de plantão. Pouco a pouco, as moças do bairro começaram a se vestir como as vedetes e os moralistas se calaram. Zaquia ganhou o título de Pioneira. A salvação foi a genial ideia do uso das filipetas que davam desconto no valor do ingresso. O método funcionou. E o Teatro Madureira se reergueu. O teatro também ajudava a economia local e Zaquia, muito querida entre os comerciantes, conseguia patrocínios. Fez as revistas A Galinha de Ouro e, finalmente, Banana não Tem Caroço, de Geysa Bôscoli, ponto alto do Teatro Madureira. Com dinheiro sobrando, Zaquia lançava grandes revistas, entre 1955 e 1957, destacando-se O Pequenino é Quem Manda; Alegria do Peru; Pintando o Sete; Macaco Olha o teu Rabo; Mengo, tu é o Maior; Tira o Dedo do Pudim; Sacode a Jaca; Vamos Brincar; Vira o Disco; Mistura e Manda; Você não Gosta e O Negócio é Rebolar. Pelo teatro, passaram gente de prestígio como Virgínia Lane, Aracy Côrtes, Celeste Aída, Joana D’Arc, Isa Rodrigues, Costinha e muitos outros. Sem poupar dinheiro, Zaquia exagerava em figurinos luxuosos e caríssimos, bancados pelo sempre presente Júlio Leiloeiro. Inspirada em Walter Pinto, coloca, também, uma parafernália cênica em seus espetáculos. Autoproclamava-se o Walter Pinto de saias. As coristas eram conheciads como Zaquia’s girls. Controlava e dirigia os passos de cada uma. Não permitia que gastassem tudo o que ganhavam e as instruía a seguir uma vida direita e correta. Valorizava muito o trabalho da girl. Em entrevista à Revista da Semana, declarou: As girls são tão importantes quanto qualquer outro ator. Em abril de 1957, o Teatro Madureira encenava O Negócio é Mulher, de Luiz Felipe Magalhães. O espetáculo era um sucesso de bilheteria. Era preciso colocar cadeiras extras, para comportar todo o público. Zaquia também rodava, com o diretor Watson Macedo, o filme A Baronesa Transviada, estrelado por Dercy Gonçalves. Ela fazia o segundo papel feminino do filme, Suely Borel, uma atriz de cinema. No dia 22 de abril de 1957, véspera do quinto aniversário do teatro, Zaquia e os colegas partiram para um piquenique no canal da Barra. Após alguns mergulhos no mar, todos almoçaram juntos e em seguida voltaram à praia. Às 15h30, Zaquia foi encontrada morta, afogada nas águas do mar. Segundo depoimento, naquele dia Zaquia tinha brigado com Júlio, o leiloeiro. Bebeu litros de uísque. Entrou no mar embriagada. Mais tarde, a história foi contada de outro jeito. O IML divulgou laudo da causa mortis afi rmando não haver nenhum traço de álcool ou entorpercentes no seu sangue. Polêmias à parte, a morte da atriz foi um grande golpe para a comunidade de Madureira. Seu corpo foi velado no teatro, no centro do palco. Praticamente toda a classe artística compareceu ao velório, inclusive o presidente Juscelino Kubitschek. Após oito dias de luto, para a surpresa da população local, oTeatro Madureira reabriu as portas, com a remontagem de O Negócio é Mulher, que teve o título alterado para E o Espetáculo Continua. O Compositor Carvalhinho (em parceria forçada) com Júlio Leiloeiro lançaram o samba campeão do carnaval de 1958: Madureira chorou, Madureira chorou de dor Quando a luz do destino, obedecendo ao divino A sua estrela chamou Gente modesta, gente boa do subúrbio Que só comete distúrbio Se alguém lhe menosprezou Aquela gente que mora na Zona Norte Até hoje chora a morte da estrela do lugar. BIBI FERREIRA A Vedeta Bestial Bibi Ferreira (Abigail Izquierdo Ferreira – Rio de Janeiro, 1º de junho de 1922) – Filha de Procópio Ferreira e Aída Izquierdo Ferreira, Bibi Ferreira fez sua estreia teatral aos 24 dias de vida, entrando em cena no colo de Abigail Maia, sua madrinha, de quem herda o nome, substituindo uma boneca que desaparecera da contrarregra na peça Manhãs de Sol, de Oduvaldo Vianna (pai). A menina cresceu e construiu uma sólida carreira, digna de alguém dotado de um talento enorme que se multiplica em várias direções; afinal, Bibi canta, dança, atua, toca piano e violino, compõe, dirige atores e apresenta programas de TV. O que muitos ignoram é que ela estreou oficialmente, como vedete, aos três anos de idade, em Santiago do Chile, na revista La Feria de las Hermosas, na Compañia de Revistas de Gran Espectáculo de Eulogio Velasco, como registra o jornal argentino La Nación: Bibi Ferreira, uma deliciosa menina de três anos de idade, foi, durante muitos meses, a estrela da companhia de Eulogio Velasco. Saía a cantar e dançar junto à Maria Caballé, e o público a ovacionava, pois fazia todos os seus números com o ritmo e a segurança de uma artista com muitos anos de prática. É um verdadeiro prodígio, cuja separação do elenco foi um dos grandes desgostos de Eulogio Velasco, que ofereceu aos pais da criança um contrato que invejaria qualquer primeira figura do seu elenco.1 Apesar do sucesso da pequena atriz, Procópio exige a volta da filha ao Brasil e Bibi deverá esperar até 1941 para subir outra vez aos palcos, como Mirandolina, em La Locandiera, de Carlo Goldoni, na Companhia Procópio Ferreira. Três anos depois, em 1944, Bibi inaugura a própria companhia, na qual terá como contratados Maria Della Costa, Cacilda Becker e a diretora Henriette Morineau, entre muitos outros nomes. Dona de companhia, consagrada como atriz e diretora, Bibi aposta suas fichas no teatro de revista e monta uma superprodução: Escândalos 1950, escrita pro Hélio Ribeiro e Chianca de Garcia, para marcar sua estreia no gênero. 1 Jornal la Nación, buenos aires, 1925. acervo pessoal bibi Ferreira. Atraídos por Bibi, diversos profi ssionais renomados integram a equipe de criação do espetáculo. Entre eles, Alceu Pena, desenhista e estilista de moda que assinará os fi gurinos e, ao lado de Carlos Thiré, atuará também na criação dos luxuosos cenários. Bibi contrata o maestro Vicente Paiva para a direção musical e divide com ele a assinatura das músicas. No elenco, além de Bibi, Violeta Ferraz, Mara Rúbia, Déo Maia, Evilásio Marçal e a estreia de Jardel Filho no teatro de revista. A atuação de Bibi é considerada excepcional pela crítica. A atriz mostra total domínio cênico e um carisma, capaz de agigantar em cena sua figura aparentemente frágil ao estabelecer um canal direto com a plateia. Tudo levava a crer que Escândalos 1950 – além de injetar um sopro de renovação num gênero cujos sinais de decadência se anunciavam – seria o grande sucesso da temporada. Entretanto, um mês após a estreia, um incêndio devasta o teatro Carlos Gomes e destrói todo o acervo do espetáculo. Mas não os sonhos da jovem Bibi. Num esforço de produção ímpar, o espetáculo reestreia três ou quatro dias depois, no Teatro São José, onde permanecerá em cartaz até o final de maio, seguindo posteriormente para uma temporada em São Paulo. As dívidas involuntariamente contraídas obrigam Bibi a uma dupla, por vezes tripla, jornada de trabalho: integra o elenco da revista Sombra e Água Fresca, faz um show na boate Arpège, um programa de rádio na Record de São Paulo e ainda encontra tempo para elaborar e ensaiar Escândalos 1951, cuja estreia acontecerá no ano seguinte, no Teatro Carlos Gomes, então reformado. Entre 1956 e 1960, Bibi Ferreira instala-se em Portugal. Inicialmente com sua companhia, que retorna ao Brasil ao não encontrar o sucesso esperado. Mas, decidida a conquistar seu espaço em Portugal, Bibi estreia no Teatro Variedades. Encabeçando o elenco da revista, Há Horas Felizes, ao lado de Vasco Santana. Aplaudida pela crítica e consagrada pelo público seu lugar como vedete nas revistas à portuguesa estava garantido: Quem não soubesse que a filha de Procópio peixinho é, lhe auguraria um roxo futuro na comédia. Lisboa aplaude. Lisboa sem ciúmes bairristas do verdadeiro mérito, aplaude a brasileira conferindo-lhe o adjetivo supremo de bestial. Bestial é aqui sinônimo de colosso, de maior, de infernal.2 Contratada pela Companhia da Empresa, de Eugênio Salvador e Rui Martins, Bibi vai trabalhar noTeatro MariaVitória – conhecido como A catedral da revista, onde contracena com os maiores portugueses da época, entre eles Antônio Silva, Eugênio Salvador, Barroso Lopes, Humberto Madeira, Teresa Gomes e a atriz-fadista Anita Guerreiro. NoTeatro MariaVitória os sucessos se sucedem: Por Causa delas…, Encosta a Cabecinha e Chora…, Taco aTaco e Curvas Pperigosas, sobre a qual escreveu o crítico Fernando Ávila: A grande achega para o êxito foi, sem dúvida, Bibi Ferreira. A vedeta brasileira desdobrou-se nalgumas oito ou nove intervenções e, em todas elas, deixou largamente documentada a versatilidade do seu talento, como actriz, como cantora (...), como bailarina, enfim, uma gama de recursos que chega e sobeja para em cada intervenção, ter um apontamento diferente e brilhante.3 2 recorte de jornal do acervo pessoal de bibi Ferreira disponível no livro bibi Ferreira, uma Vida no Palco. rio de Janeiro: montenegro e raman livros, 2001, p. 86. 3 Fernando ÁVila. in Jornal diário Popular, 28 de setembro de 1957, pp. 2 e 3. O pesquisador português, JorgeTrigo, conta em depoimento a Angela Glavam, organizadora e criadora de um site em homenagem à Bibi, que a estreia da revista Por causa delas mereceu a seguinte crítica: A cabeça do cartaz, Bibi Ferreira, duzentos por cento artista, com três actuações extraordinárias e várias outras composições de valor. Mas a sua aparição em Sim ou Não, com o admirável truque na escada, e o colóquio com o público, bastaram para nos relembrar o seu estofo dramático. Maior é, porém, a prova, quando, em Mãe, consegue impor, sem ridículo, numa revista, a história lamecha dos meninos nos berços (reparar bem, na evocação da dança clássica, a leveza dos passos); o tipo carioca, em travesti, é fácil e o parisianismo do duche um atestado de dedicação ao teatro; as figuras femininas do quadro Eu quero um homem, com recorde de caricaturas perfeitas. Bravo seu Procópio…de saias!4 A vedete Bibi Ferreira deixou sua marca registrada em Portugal. Graças ao sucesso obtido com o quadro Quando bate um coração (Tic Tac), escrito por Nelson Nobre e Amadeu do Vale, para o espetáculo Há Horas Felizes, no Teatro Variedades, no Parque Mayer. O texto de seu primeiro grande êxito é até hoje considerado uma prova de fogo para quem quer trabalhar nas revistas portuguesas. A partir dos anos 1960, quando retorna ao Brasil, a atriz priorizará os musicais, mantendo-se afastada da comédia até 2007 quando encena Às Favas com os Escrúpulos, de Juca de Oliveira. Em 28 de fevereiro de 2011 Bibi Ferreira comemorará 70 anos de carreira, que passam pela revista, integrando, assim, seu nome ao panteão das vedetes do teatro de revista em língua portuguesa. (colaboração da Profa. Dra. Deolinda Catarina Vilhena) 4 triGo, Jorge. depoimento concedido em fevereiro de 2005 à angela Glavam. http://www.bibi-piaf.com/parquemayerjtrigo/bibiparquemayerjtrigo.htm. Visto em 27 de janeiro de 2010. JOANA D’ARC A Vedete Escultural As pernas mais bonitas do Brasil Anna do Couto Martins nasceu em Araguari (MG), em 2 de julho de 1925. Mudou-se para o Rio de Janeiro, ainda bem jovem, com sua mãe. Desde criança cultivava o desejo de seguir a carreira artística. Ao ler num jornal que a Companhia Beatriz Costa e Oscarito estava selecionando girls para o seu próximo espetáculo, viu uma oportunidade para realizar seu sonho. Apresentouse noTeatro João Caetano e logo foi contratada. Estreou como girl na revista Garotas de Além-mar, em 1944, aos 19 anos. A carreira de girl durou pouco. Sua figura ganhou destaque entre as coristas, e no espetáculo seguinte, Fogo na Canjica, ganhou suas primeiras falas. Foi nessa época que adotou o nome artístico de Joana. Mais tarde, adicionou o sobrenome D’Arc, em alusão à famosa heroína francesa. A sugestão foi de Beatriz Costa, por acreditar ser um nome forte, que combinava com sua figura marcante no palco. Participou ainda de outras revistas, destacando-se, principalmente, nas carnavalescas. Após o término da companhia, Joana ingressou no balé do empresário Carlos Lisboa, em 1947. O balé se apresentava em teatros e também em casas noturnas. Excursionou para o Sul, fazendo uma temporada no Rio Grande. Em Pelotas, conheceu o ator Procópio Ferreira que, na ocasião, estava com sua companhia de comédias fazendo uma temporada na cidade. O popular ator se encantou com a morena e a convidou para fazer parte de sua companhia. Joana aceitou na hora. Procópio era um dos mais famosos e influentes atores do Brasil. Estreou na comédia Sua Excelência, o Criado. Apresentaram-se em mais algumas cidades e, em seguida, estrearam no Teatro Serrador, no Rio de Janeiro. Mas ela sentiu falta da revista. Não gostava da comédia. Achava monótono um espetáculo sem música, sem fantasias, sem escadarias, sem a alegria da revista. Joana D’Arc, então, se descobriu vedete. A experiência com Procópio foi a única fora do teatro de revista. Durante toda a sua vida artística, Joana D’Arc foi exclusivamente uma vedete. Tradicional de teatro e do palco. Apesar de ter feito apresentações em boates e cabarés, era no palco, de preferência nos da Praça Tiradentes, onde se encontrava plena e absoluta. Em 1948, retornou ao gênero musicado, na Companhia de Dercy Gonçalves. Já não era uma simples vedetinha, mas um dos destaques do elenco. Fez Manda Quem Pode; Cara Malfeita e Noites Cariocas. Sua ascensão foi rápida. No ano seguinte, apareceu no elenco de grandes produções recordistas como Brotinhos eTubarões; Olha a Boa! e Quero Ver isso de Perto. Todas estreladas por Renata Fronzi, a vedete sensação. O grande responsável pelo sucesso de Joana D’Arc era seu corpo. Ela era um mulherão. Não tinha nada de mignon. Era alta e imponente. Tinha curvas generosas e pernas perfeitas. Foi chamada de A Escultural, pela crítica. Mas Joana não era só um corpo que se movia com graça. Cantava, dançava – rebolava e dizia – com muita malícia – textos de double sens. Um de seus números famosos foi apresentado em Bonde do Catete (1950), no João Caetano. Vestida de vendedora de cigarros, usando uma minissaia, declamava: O senhor, quieto, velhinho, Mas que pita o seu fuminho E engasga com a nicotina, Bem pode voltar ao jogo E fumar com vitamina Pois eu lhe ofereço fogo! Ainda em 1950, fez parte do elenco do fenômeno Muié Macho, sim Sinhô, de Walter Pinto. O espetáculo é considerado um dos melhores de toda a carreira teatral do empresário. Ficou cinco meses em cartaz com lotações esgotadas. Faturou mais de quinze milhões de cruzeiros. Encabeçando o elenco, Oscarito, Virgínia Lane, Pedro Dias, Grande Otelo, além da cantora Dalva de Oliveira. O estrelato daquela que era considerada o corpo mais perfeito do teatro brasileiro, pelo jornalista Brício de Abreu, só aconteceu em fins de 1951. Após sagrar-se Rainha das Atrizes, no tradicional concurso do Baile das Atrizes, estrelou absoluta Boa... Até a Última Gota, no João Caetano. Ambiciosa, Joana D’Arc lançou sua própria companhia, em 1953 – mesmo ano em que foi eleita, por Sergio Porto, uma das Dez mais bem despidas, lista que no futuro se imortalizaria como As certinhas do Lalau. Encenou no João Caetano Bomba da Paz, uma revista milionária, fi nanciada por um admirador. Dividiu o estrelato com Dercy Gonçalves, mas o empreendimento fracassou. Mesmo com o tremendo prejuízo, continuou. No ano seguinte, montou uma nova companhia, agora tendo Silveira Lima como financiador. Estreou em São Paulo, em temporada no Teatro Alumínio, com três revistas: Rainha da Alegria; Tudo de Fora e Pernas Provocantes. Com essa última apresentou-se no Rio de Janeiro, no Teatro Glória (na Cinelândia). Dessa vez, Joana D’Arc e a companhia fi zeram sucesso. Com tudo acertado para estrear no Teatro Colón, em Buenos Aires, Joana D’Arc abandonou a carreira de vedete e empresária. Mudou-se para os Estados Unidos. Foi viver com William Bird, um milionário apaixonado. O romance não durou muito tempo e, da América, Joana partiu para uma temporada, como vedete, na Europa. Em Portugal, atuou no Teatro Coliseu, promovida pela amiga Pepa Ruiz II. Fez também apresentações na Espanha e na França, em cassinos, boates e cabarés. Voltou ao Brasil somente em 1957. A partir daí sua carreira já não tinha o mesmo impacto. Apesar de vencer, pela segunda vez, o concurso de Rainha das Atrizes, atuou, somente, em cinco revistas entre 1958 e 1960. Seu último espetáculo foi Entre Pernas e Plumas, no Teatro Recreio (1960). Completou 16 anos de carreira e se despediu dos palcos com a seguinte frase: A gente tem de sair de cena, enquanto a casa ainda tem público. Em 1966, foi convidada pelo revistógrafo Meira Guimarães para uma reentré artística, no show Frenesí, no Golden Room do Copacabana Palace. Recusou. Preferiu fi car imortalizada na memória de seus fãs, em bons espetáculos, na fase áurea da revista. O seu negócio era o teatro, o palco. Era uma vedete em toda a sua essência. Joana D’Arc teve dois filhos, Maria Margarida e David Barata – que atualmente mantém um blog sobre a mãe vedete. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1º de novembro de 2003, aos 78 anos de idade, vítima de um infarto. SIWA A Rainha do Sex Appeal ou... A Preferida dos Japoneses Aparecida Maria Castro Augusto nasceu em São Paulo (capital) em 4 de fevereiro de 1924. Siwa formou-se como bailarina clássica e aos 12 anos já fazia parte do corpo de baile do Municipal de São Paulo. Foi solista e também fez carreira no Municipal do Rio. Apresentou-se ao lado de grandes bailarinas. Ainda nos anos 40, fundou, com outros profissionais da dança, o tradicional Ballet Pigalle. Entre os grandes balés de que participou, estão O Julgamento de Páris, Mozartiana e Divertissements. Apesar de ter verdadeira paixão pela dança clássica Siwa fugia um pouco dos padrões estéticos das bailarinas da época, pois fazia o tipo boazuda: quadris largos, coxas bem torneadas e cintura fina. No início dos anos 1950, fez incursões no teatro de revista dançando em teatros e boates. Entre seus números dessa época está o famoso French Cancan. Siwa nunca chegou a ser girl. Na revista começou como bailarina e pouco tempo depois já era vedete. A partir de 1952, com o fim do Ballet Pigalle, Siwa adotou o nome artístico de SiwaTzen e optou, sem medo, pela revista. Uma de suas primeiras aparições como vedete foi em Eva me Leva, no Follies, em janeiro de 1952. Seu primeiro papel de destaque foi em Poeira do Chão (1952), com a Cia. Mary-Juan Daniel. O elenco da peça era encabeçado por Elvira Pagã, Dalva de Oliveira e Zeloni, mas Siwa foi a grande atração. Em 1953, já empresária e estrela de sua companhia, apresentou sucessos como Uma Pulga na Camisola, no Teatro Alumínio, em São Paulo. Em 1958 fez um grande sucesso com Disfarça... e Bota a Mão. Trabalhou com a Cia. Mary e Juan Daniel; Cia. Ney Machado e outras. Em 1953, montou a sua própria companhia: Siwa e Sua Companhia de Revistas de Bolso. Dentre as revistas que fez, estão Poeira do Chão (1952); Eva me Leva (1952); Eu Quero é me Rebolar (1953); O Mágico do Catete (1953); Uma Pulga na Camisola (1953); É Sopa no Mel! (1954); Mulheres à Bangu (1954); Mão na Toca (1957); Coquetel de Boas; Disfarça... e Bota a Mão (1958); Mulheres, me Afobei! (1960). Fez, também, shows na boate Ranchinho do Alvarenga (1952), Casablanca, Monte Carlo. Siwa era flexível, tinha grande desenvoltura cênica e se expressava muito bem com o corpo. Sua sensualidade não residia apenas no belo físico, mas também em sua postura insinuante e sugestiva. Tinha um tipo exótico, era morena alta com rosto marcante: lábios grandes, sobrancelhas arqueadas, olhos amendoados, sorriso devastador. Era chamada de a misteriosa, se apresentava com roupas sempre extravagantes e incomuns no teatro, como vestes orientais, folclóricas, estampas de onça, etc... Siwa foi casada com o comediante Vagareza (Hamilton Augusto). Conheceramse no teatro de revista, quando atuaram juntos em Poeira do Chão (1952). Montaram companhia própria no fim dos anos 1950, com bastante sucesso. Foi o terceiro empreendimento de Siwa como empresária de revista. No início dos anos 1960, Siwa e Vagareza fizeram estrondoso sucesso, como dupla, em diversos humorísticos da TV Rio e da Tupi. Permaneceram casados até a morte de Vagareza, em 1997. Siwa era ousada: em 1954, organizou uma nova companhia constituída apenas de mulheres, tendo apenas um varão em cena: o comediante Spina. Fez temporada em Campos, lançou grandes girls e vedetes, e importou meninas do Follies Bergère.Também lançou vedetes como Wilma Palmer e comediantes como Costinha. Foi considerada a atriz mais elegante e bem-vestida de 1954. Durante a temporada de Disfarça... e Bota a Mão (1958), no Teatro São Jorge, ela fez um ensaio fotográfico para J. Trovão. Um retrato se destacou: o que ela trajava uma fantasia de baiana. Trovão levou a imagem a uma agência de publicidade e a foto foi escolhida para a campanha publicitária da câmera fotográfica Minolta, da empresa japonesa Rokkor. A tal imagem de Siwa vestida de baiana foi parar em Tóquio, reproduzida em banners e outdoors. Fez tanto sucesso que vários apaixonados japoneses lhe enviaram cartas (em japonês). Por isso, foi apelidada de A preferida dos japoneses. Um de seus quadros de grande sucesso chamava-se A Neurastênica da revista Poeira do Chão (1952), em que ela entrava cantando assim: Eu quero achar um remédio eficaz Para poder meus nervos acalmar, Meu mal não sei diagnosticar... Será que é neurastenia? Se um bonitão me vem falar Começo logo a me assanhar Mas se ele vem muito perto, Eu quero logo é brigar! É neurastenia meu mal-estar, É neurastenia... Que não se pode curar! Se eu encontrar alguém que é capaz O meu remédio logo acertar, Eu faço qualquer negócio Qualquer negócio... Menos casar! (Desce e improvisa com a plateia) O senhor seria tão gentil... Podia indicar-me um remédio? Eu vejo um rapaz, fico louca para falar com ele, mas quando ele chega perto de mim eu sinto uma coisa esquisita. Eu sinto vontade de apertar, apertar, apertar, até... Asfixiar! Não sei o que é que eu tenho. (Para outro senhor) Ah, é você mesmo! O senhor vai me ajudar. Indique-me um remédio! Como? Não quer que eu chegue perto? Não tenha medo, eu agora estou calma. O que foi que o senhor disse? Não tem o remédio? Ah! O senhor tem o remédio sim! Se eu procurar eu acho. Garanto! (Sobe ao palco e canta) É neurastenia meu mal-estar, É neurastenia... Que não se pode curar! Se eu encontrar alguém que é capaz O meu remédio logo acertar, Eu faço qualquer negócio Qualquer negócio... Menos casar! Siwa também fez cinema, na Atlântida, com Os Apavorados (1962), uma das últimas chanchadas de Oscarito. Também tomou parte no fi lme Eu Sou o Tal (1959), que o marido protagonizou. Em 1968 voltou ao ballet clássico e fundou – com o marido – a Siwa Ballet Morumbi, em São Paulo. A escola existe até hoje e é uma das mais tradicionais da cidade. Atualmente é administrada por sua fi lha, Vânia. Faleceu no dia 1° de abril de 2009, em São Paulo, aos 84 anos. NÉLIA PAULA A Vedete da Nova Geração Nélia Faria nasceu de uma família classe média, no dia 26 de outubro de 1930, em Niterói (RJ). A menina queria ser atriz e bailarina. Mas, com 16 anos, precisou trabalhar como secretária. Logo depois, em 1947, conseguiu fazer um teste para bailarina na companhia de Eva Stachino, famosa vedete chilena radicada no Brasil. Foi aprovada e fugiu de casa, pois o trabalho seria em São Paulo. Por ser menor de idade estreou, na boate Cairo, com os documentos alterados. Em São Paulo, apaixonou-se, largou a companhia e foi ser aeromoça na ponte aérea Congonhas-Santos Dumont. O romance durou pouco. Nélia largou o amante e voltou para o Rio de Janeiro. Em 1949, conheceu a atriz Wahyta Brasil que organizava desfi les de moda e chás-dançantes vespertinos na boate Night and Day. Nélia foi contratada como modelo. A experiência, também, durou pouco. No final dos anos 1950, contratada como crooner da boate Casablanca, finalmente, se encontrou profissionalmente. Ela adorava a vida noturna. Foi assim: numa de suas folgas, assistindo aos ensaios do espetáculo Café Concerto, de Renata Fronzi e Cesar Ladeira, foi convidada pelos empresáriosautores para ser girl do show. Este seria seu primeiro grande passo em direção ao estrelato. Estreou em 1951, usando o nome artístico de Nelly Faria, no Café Concerto n° 1. Destacou-se com um número de alegoria, representando um Cadillac. O espetáculo fez muito sucesso e o novo formato foi superbem recebido pela crítica e público. Paralelamente aos shows de boate, Nélia ingressou no teatro de revista levada pelos padrinhos César e Renata. Adotou o nome artístico de Nélia Paula e estreou no corpo de girls da revista Zum! Zum!, no Teatro Jardel. O elenco era capitaneado por Dercy Gonçalves que também lançava a outra futura grande vedete, Anilza Leoni. Ao fi nal da temporada, essa Companhia Portátil de Revistas estreou Ó de Penacho. Nélia Paula já não era uma simples girl, pois estrelava um número de cortina, dizendo o monólogo É preciso começar, em que travava divertido e malicioso diálogo com o público. Finda a temporada, Dercy e seu elenco saíram do Jardel, mas Nélia ficou para juntar-se a Colé e sua trupe na peça Boca de Siri, de Geysa Bôscoli e Luiz Peixoto. Colé se apaixonou pela morena e em pouco tempo fez dela sua estrela e amante. O relacionamento entre os dois foi mantido em segredo, porque Colé era casado com a vedete Celeste Aída. No mesmo teatro, ela fez longa temporada, atuando em outros espetáculos, todos ao lado de Colé. Depois de Boca de Siri, fez Um Milhão de Mulheres, em que já era vedetinha e fazia um número como caricata. Em Tô aí Nessa Caixinha? foi lançada como vedete. Colé não media esforços preparando sua amada para o estrelato. A esposa Celeste Aída já estava em segundo plano. Os melhores quadros eram, agora, estrelados por Nélia e Colé. O romance começava a dar nas vistas e a imprensa publicava matérias com alusões ao caso do cômico e da vedete sensação. E a carreira ia de vento em popa. Em 1951, Nélia foi eleita Princesa das Vedetes, no tradicional concurso do Baile das Atrizes. Sua rainha foi nada mais, nada menos, que Virgínia Lane – naquela altura já consagrada como a Vedete do Brasil. Nélia, Colé e sua trupe transferiram-se para o grande e tradicional Teatro Recreio. Nesse teatro, em 1952, Nélia surgiu como a estrela da revista Há Sinceridade Nisso?, de Roberto Ruiz. Trajando um biquíni recoberto de brilhantes, no valor de 13 mil cruzeiros, Nélia foi consagrada pela crítica. Sua malícia e desenvoltura caíam como uma luva nos números de plateia em que improvisava com o público. Ainda em 1952, Colé terminou a união de nove anos com Celeste Aída. O desquite foi o assunto mais comentado do ano. Com o fim do casamento e a saída de Celeste da companhia, Nélia brilhou absoluta. Entre 1952 e 1960 fez sucessos ininterruptos. Em todos os espetáculos foi a estrela principal. Entre 1953 e 1954, atuou nos teatros Follies e Glória (na Cinelândia), com o marido Colé. Entre os títulos estão: Carrossel de 53; Brotos em 3D; Mulheres, Cheguei! e Mamãe Vote em Mim. Com a crescente onda de popularidade, Nélia, ainda em 1954, deu outro grande salto em sua carreira: tornou-se estrela de Walter Pinto, o máximo na carreira de uma vedete. O céu era seu limite. A peça era Eu Quero é me Badalar, lançada como a revista do Brasil para o mundo. No palco, além de todo o aparato técnico – marca de Walter Pinto –, um elenco soberbo: Mesquitinha, Salomé Parísio, Manoel Vieira, Pedro Dias, Ivaná (o grande travesti francês) e Pedro Celestino. A peça fez temporada paulista, no Teatro Santana. Em 1955, voltou para a companhia do marido, em temporada paulista. O casal fi lmou Eva no Brasil, uma coprodução franco-brasileira. Nessa comédia-chanchada, Nélia fazia um papel duplo e protagonizava o fi lme ao lado de Colé e Isa Rodrigues. Mas o relacionamento com Colé começou a esfriar. Nélia queria mais. Ainda em 1955, o casal se separou. Enquanto Colé buscava uma substituta (a paulista Lilian Fernandes – que se tornaria mulher e estrela do comediante), Nélia regressava ao Teatro Recreio, com o Ziegfield brasileiro. Com Walter Pinto estrelou Botando pra Jambrar (1956); É de Xurupito! (1957); É Xique-xique no Pixoxó (1960), ao lado de Oscarito. Em São Paulo estrelou as revistas Daquilo que Você Gosta (1959); Eu Quero é Fofocar (1959), ambas no Teatro Natal. Em 1956 foi eleita A Melhor Vedete do Ano. Sua rápida ascensão foi vista com bons olhos até pelas colegas vedetes. Virgínia Lane e Mara Rúbia a apontavam como a vedete da nova geração. Em 1962 engravidou de sua única filha, Ana Paula. Após o nascimento da menina, Nélia deu uma parada. O teatro de revista estava morrendo. Antes que eu acabasse junto com ele, parei, disse ela. Migrou para a televisão. Atuou em Noites Cariocas e Praça Onze. Em 1966, voltou ao teatro musicado, substituindo Bibi Ferreira em Hello! Dolly; em 1972, estrelou Daquilo que Você Gosta, sem o mesmo brilho dos anteriores. A partir da década de 1970, voltou ao teatro, agora dramático. Fez parte no elenco de Longe Daqui, aqui Mesmo e fez algumas substituições. Na televisão continuou em humorísticos como Chico City (1975) e Satiricom (1974), ambos na Rede Globo. É em 1974, também, que Nélia começou a atuar em A Gaiola das Loucas, comédia de Jean Poiret, que no Brasil foi dirigida por João Bethencourt. A peça foi um dos grandes sucessos da década, permanecendo quatro anos em cartaz. Nos papéis principais estavam Jorge Dória e Carvalhinho Nélia foi a professora de dança Ludmila Petrovna na novela Guerra dos Sexos (1983), um grande sucesso de Sílvio de Abreu. Com Roque Santeiro (1985) voltou a experimentar o gosto do sucesso. Foi Amparito Hernández, uma latina muy caliente gerente da boate Sexus. O papel foi escrito especialmente para Nélia Paula, por Aguinaldo Silva. Seus últimos trabalhos na televisão foram ao lado do amigo e humorista Chico Anysio. Era uma das alunas da Escolinha do Professor Raimundo, no início dos anos 1990, na Globo. Em 1994, com dificuldades financeiras Nélia deixou seu apartamento em Copacabana, onde viveu mais de cinquenta anos, e foi para o Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá. Nélia Paula não teve, na vida, nenhuma outra pretensão além de ser vedete. Era o que gostava de fazer. Sobre o seu trabalho declarou: Ninguém sabia o quanto a gente tinha mesmo que rebolar. Era preciso ser muito versátil: cantar, dançar, criar tipos. E ainda por cima, deslumbrar. Seu nome ficou marcado na história do teatro de revista. Formou ao lado de Virgínia Lane e Mara Rúbia, a Santíssima Trindade das vedetes, como eram chamadas pelos cronistas teatrais.Hoje, há uma rua no Retiro dos Artistas chamada Nélia Paula. Ela morreu de infarto, no dia 8 de setembro de 2002. Era domingo. E ela tinha 71 anos. ANILZA LEONI A Vedete de Biscuit Anilza Pinho de Carvalho nasceu em Laguna (SC) em 10 de outubro de 1933. Como boa libriana: aos 16 anos já participava dos concursos de beleza. Foi descoberta por um amigo da atriz e vedete Renata Fronzi, em 1951. Tinha 17 anos, era carnaval e Anilza estava brincando no Baile das Atrizes, fantasiada de cigana. Um rapaz foi até ela e perguntou, diretamente, se queria ser artista, pois estavam procurando uma moça para representar o papel de cupido num espetáculo de boate. Imediatamente pensou na boa oportunidade que se apresentava. No dia seguinte se apresentou. Acharam seus traços delicados, o corpo bonito e rostinho angelical: perfeitos para o papel de Cupido. Foi aceita. Estreou no show Café Concerto número 2, na boate Acapulco, em Copacabana. O espetáculo era empresariado e escrito por Renata Fronzi e Cesar Ladeira. Quase simultaneamente com o Café Concerto número 2, Anilza estreou no Teatro Jardel, também em Copacabana. A peça se chamava Zum! Zum!. Era estrelada por Dercy Gonçalves. Anilza participava do Zum! Zum!, à noite, e, de madrugada, fazia o show na boate Acapulco. Tudo escondido da mãe, que um dia descobriu e foi até o Teatro Jardel buscá-la. A mãe a tirou do palco na marra, pelas orelhas! Quando estreou no teatro de revista, ainda não era vedete. Entrou como girl. Cantava e dançava na fi la, com as outras. Na boate, seu maior papel era o de Cupido. No teatro (na peça Zum! Zum!), vestia-se de salsicha para fazer um dos números musicais. Anilza Leoni trabalhou com Carlos Machado, Zilco Ribeiro, Walter Pinto (temporada no Uruguai), Renata Fronzi, Colé, Silva Filho, Dercy Gonçalves, entre outros. Contracenou com comediantes importantes no teatro de revista, na TV e no cinema como Ankito, Grande Otelo, Colé, Silva Filho, Walter D’Ávilla, Dercy, Ronald Golias, Jô Soares, José Vasconcelos, Otelo Zeloni, Jaime Costa, Consuelo Leandro, Agildo Ribeiro, Chico Anysio, Chocolate, Pituca, Ronaldo Lupo, Matinhos, Carequinha, Costinha, Zé Trindade e muitos outros. Como vedete, fez mais de 30 espetáculos: em boate, teatrinhos ou grandes teatros. Destaco: É Sopa no Mel! (1953), seu primeiro estrelato em teatro de revista; Carrossel de 53 (1953), em que substituiu Dorinha Duval na boate Night and Day; São Paulo Quatrocentão (1954), um sucesso estrondoso em boate; Nós, os Gatos (1955), um grande sucesso de Zilco Ribeiro no Night and Day; O Samba Nasce do Coração (1955), que era uma homenagem à Velha Guarda do samba; Aperta o Cinto! (1956), sucesso ao lado da cantora Marlene; TV para Crer (1956), revista escrita por Sérgio Porto; Cupido Falido (1958) – sucesso absoluto com Walter D’Ávilla em São Paulo; Mr. Bloom (1961), peça de teatro argentina, em que ganhou o prêmio de revelação; e Boa-noite, Betina (1964), grande comédia musical montada em São Paulo com Procópio Ferreira e Zeloni, direção de Gianni Ratto e adaptação de Jô Soares. Sua marca registrada foram a brejeirice e a graciosidade. No tempo em que as maiores vedetes eram mulheres grandes, com coxas grossas e cinturas bem marcadas, corpo generoso e sorriso largo, Anilza se destacava pelo tipo mignon, delicada e dona de um sorrisinho maroto. Seu forte eram os números de plateia. Dona de bela voz, cantava, rebolava, dançava e se comunicava com malícia. Uma boa vedete sabia fazer muito bem cada uma dessas coisas. A formação de Anilza foi no teatro de revista. Gostava imensamente de fazer números de plateia, pois o improviso e o contato direto com o público a agradavam. Mais tarde, paralelamente à carreira de vedete, gravou diversos compactos. Com músicas românticas, composições de Dora Lopes, Chico Anysio e até sambas de Ary Barroso. Amantes ou fãs conhecidos? Teve alguns affairs: com o ator Adriano Reys, com o cômico Vagareza, com o diretor Alcino Diniz e também com o presidente João Goulart, que, pelo jeito, não sabia resistir à sedução de uma vedete. Sobre escândalos que a envolveram, sabemos que sempre fi zeram muita fofoca a respeito de vedetes. Principalmente a revista Escândalo. Especulações sobre a paternidade de sua primeira filha, por exemplo, renderam muitas matérias. É que ela ficou grávida no auge da carreira e conseguiu retornar logo depois, sem perder o prestígio. E também foi envolvida em um escândalo em Recife, em 1958. Estava em turnê pela cidade e acabou, involuntariamente, presenciando o assassinato de um caminhoneiro. Em 1953, foi alçada ao cobiçado posto de vedete na revista É Sopa no Mel! Numa de suas primeiras apresentações, aconteceu uma saia justa em cena. Um dos números, na última hora, foi cortado pela censura. O problema é que o contrarregra esqueceu de avisá-la e o espetáculo já estava iniciado. Entrou em cena pronta para o quadro, esperando os outros quatro atores que tomavam parte nela. Mas eles não entravam em cena. Foi quando perguntou ao contrarregra na coxia: O que eu faço? Ele explicou que o quadro tinha sido cancelado. Anilza, então, começou a improvisar um diálogo com o contrarregra, para tentar salvar a situação. Era só ela e a voz do contrarregra. Para encerrar o improviso, finalizou dizendo para a coxia: tarado. A casa veio abaixo. Foi considerado o melhor quadro da noite, e a imprensa no dia seguinte elogiou! O problema é que havia um censor na primeira fila, e foram parar na delegacia para explicar o uso do palavrão tarado. Em entrevista especial para este livro, Anilza nos contou, deliciosamente, sobre o quadro da Canarinha. Vejamos: Foi um tremendo sucesso, ocorreu em Nós, os Gatos (1955). Eu descia de cima do palco, sentada num trapézio. Cantando e vestida como um canarinho. O quadro foi escrito por Meira Guimarães e a Virginia Lane foi a primeira a fazê-lo. Contudo não agradou muito, pois a Virginia tinha aquele jeito dela, de fazer muita palhaçada. E o quadro não pedia isso. Tinha de se fazer com graciosidade. Anilza fez muito sucesso com o número de plateia Café Paulista, do espetáculo São Paulo Quatrocentão (1954), na boate Night and Day. Ela entrava em traje sumário representando a figura alegórica do café, cantando: No passado era sentado Mas agora só em pé Basta apenas uma ficha Pra provar desse café Declamando para a plateia, em compasso ritmado com a música Um café bem queimadinho Torradinho como eu Muita gente tá me olhando E com os olhos ... me bebeu! Descia para a plateia e improvisava: O senhor gosta de café?... Puro ou com leite? Se tomar demais dá indigestão... Sabe mexer no café?, Prefere não mexer, não é?, etc... Sempre em tom malicioso nas perguntas, voltava ao palco e continuava: No passado era sentado Mas agora só em pé etc.. ...................................... Sem açúcar já sou doce Com açúcar muito mais Foi com este cafezinho Que São Paulo ... Fez cartaz! Anilza fez teatro dramático e comédias. Na TV fez novelas e, no cinema, mais de 20 fi lmes. Foi eleita três vezes uma das Certinhas do Lalau, em 1954, 1955 e 1961. Anilza faleceu no dia 6 de agosto de 2009 aos 75 anos, devido a um enfisema pulmonar. Ela se preparava para estrear, no CCBB de São Paulo, o espetáculo Mario Quintana – O Poeta das Coisas Simples. Completou quase 60 anos de palco. Anilza encerrou nossa entrevista com uma frase que gostava muito: Nunca chores por teres perdido o sol, porque as lágrimas não te deixarão ver as estrelas. DORINHA DUVAL O Delírio Moreno Dorah Teixeira nasceu no bairro do Bixiga, em São Paulo, no dia 21 de janeiro de 1929. Era filha caçula de Antônia e José Henrique Teixeira. O pai, loiro de olhos azuis, foi militar e depois corretor de imóveis. A mãe, 20 anos mais moça, era uma mulata forte e robusta. Dorah cresceu moreníssima, tipicamente brasileira, com traços finos e benfeitos. A família tinha um ótimo nível de vida e as duas filhas, mesmo tendo empregada em casa, aprendiam a cozinhar e a cuidar da casa com a mãe. Estudou no Externato São José e teve aulas de pintura. De repente, o pai perdeu muito dinheiro no jogo: o padrão de vida caiu, mudaram-se para uma casa menor, as meninas saíram do colégio de freiras e foram para uma escola pública. Dorah cursou só até o 4° ano primário. Aos treze anos perdeu a mãe, vítima de câncer de mama. Foi viver com o pai e a irmã numa modesta pensão. A diversão das garotas era o cinema: viam Zorro, Flash Gordon e os grandes musicais da MGM. Dorah era fascinada pelos musicais. A irmã Zélia casou-se e foi morar em Santos. Assistindo a um show no cassino da Ilha Porchat (na Baixada Santista), Dorah foi convidada pelo empresário Carlos Lisboa a entrar na companhia. Dorah tinha 15 anos. E aceitou a proposta, sem dar grandes explicações ao pai e sem saber direito o que iria fazer. Afinal aquele show parecia com os musicais da MGM!... Após muitos ensaios como girl, viajou para Minas Gerais. Com 16 anos, Dorah estreou, confiante e plenamente à vontade, no Cassino Imperial de Poços. Em 1945, Poços de Caldas era conhecida como a Las Vegas Mineira, pela intensa vida noturna e diversos cassinos que oferecia. Carlos Lisboa proibia seus artistas de jogar nos cassinos onde trabalhavam. Dorah e seus colegas iam jogar em outros estabelecimentos. Ela se encantava com os espetáculos de Dick Farney e de Carlos Machado (na época apenas um maestro, sem qualquer experiência como empresário). Foi também em Poços de Caldas que sua vida amorosa desabrochou. Namorou o então acrobata, e futuro comediante, Ankito. Sob a supervisão de Carlos Lisboa, ensaiava todas as tardes, e em pouco tempo já era uma das mais destacadas girls. Entre seus números estava a Dança do fogo, que usava uma novidade: luzes fluorescentes. Em 1947 o presidente Dutra mandou fechar todos os cassinos do Brasil. Dorah ficou desempregada. Mas Lisboa conseguiu encaixar todo o elenco no Teatro Carlos Gomes (RJ), sob os cuidados do empresário Chianca de Garcia, na revista Um Milhão de Mulheres. O espetáculo marcou também a estreia em revista de duas grandes vedetes: Virgínia Lane e Salomé Parísio. Um Milhão de Mulheres fez muito sucesso. O mote da peça era a história de grandes mulheres do mundo inteiro. Dorah, aos 17 anos, fazia nu artístico se caracterizando de Eva, Negra Fulô e Escrava Isaura. Depois de uma feliz temporada no Rio, o grupo foi para o Sul. Dorinha se apresentava nua e sofria com o inverno que castigava naquela época do ano. Voltou para o Rio e participou de mais um espetáculo de Carlos Lisboa: O Rei do Samba. O sucesso se repetiu e vieram mais excursões. Em 1948 foi apresentada a Carlos Machado, que lançava a boate Monte Carlo. Contratada, foi rebatizada de Dora Moreno. A estreia se deu em 27 de julho de 1948, inauguração da boate. Dora, que antes era corista e girl, agora se encaixava na orquestra de Machado tocando maracas e participando de alguns números cantados. Entre 1948 e 1952, Dorinha trabalhou apenas em boates, como crooner, fazendo o circuito Rio-São Paulo. Em 1952, mudou o nome artítico para Dorinha Duval (inspirada em Armand Duval, de A Dama das Camélias) e organizou uma excursão artística pela Europa com mais cinco colegas de trabalho. Apresentavam-se como Sexteto Brasil Moreno com Dorinha Duval. Em Paris, Dorinha foi contratada por uma boate para se apresentar isoladamente. Em 1953, volta ao Brasil e faz a revista São Paulo, 1954, no Teatro Alumínio (SP), com Zeloni. Era a vedete do espetáculo e muito aplaudida no número com Cauby Peixoto, São Paulo Quatrocentão. Daniel Filho, na plateia, encantou-se e a indicou a seus pais (Mary e Juan Daniel) que procuravam uma vedete. Dorinha aceitou. Tornou-se uma das atrações do espetáculos “O Que é que o Bikini Tem?” e Paris à Meia Noite” (ambas estreladas por Elvira Pagã). Na temporada carioca, no Teatro Recreio, Elvira foi substítuida pela colega nudista, Luz del Fuego. Em O Que é Que o Bikini Tem?, um dos melhores quadros de Dorinha era Coisa de criança, que fazia ao lado do então namorado Daniel Filho, em diálogo divertido e cheio de duplo sentido: A bicicleta, Não se deve emprestar Porque a turma usa e abusa Depois fica sem valor nenhum. A minha bicicleta é muito boa Não é Ford e nem Chevrolet, É uma bicicleta diferente É melhor do que a gente andar a pé. Seu corpo moreno e curvilíneo impressionou Sérgio Porto que a incluiu na lista das Mais bem despidas do ano (1953). Na década de 1950 Dorinha, já vedete famosa, estrelou montagens luxuosas de Zilco Ribeiro ao lado de Grande Otelo. Com Zilco Ribeiro (da boate Night and Day) faz Carrossel Paulista. Foi no Hotel Serrador (RJ) que se deu seu maior sucesso Quem Inventou a Mulata?, roteiro de Ary Barroso. Estrela absoluta, ela era a mulata do título. Foi a Portugal com Renata Fronzi, chamada de delírio moreno, pelos portugueses. Badaladíssima no Brasil, Dorinha fez vários espetáculos de revista, acompanhou de perto os primeiros passos da TV e tomou parte da cerimônia de inauguração da televisão brasileira, onde se consagrou entre os anos 1960 e 70. Na TV Excelsior, fez humorismo, musicais e até Shakespeare. Seus programas de maior sucesso foram Times Square e Vovô Deville, musicais totalmente inspirados no teatro de revista. Dirigida por Carlos Manga, fazia o célebre número dos bonecos, ao lado de Castrinho. Começou na Globo em 1969, Fez várias novelas, inclusive Selva de Pedra, de Janete Clair. Casou-se com Daniel Filho, e teve uma fi lha, Carla Daniel, também atriz. Dorinha construiu uma sólida carreira na televisão. Foi a Cuca, do Sítio do Pica Pau Amarelo (1977), na Globo. Dorinha Duval testemunhou a virada da revista para os shows de boate, a chegada do videoteipe àTV brasileira e acompanhou o início das transmissões em cores. Participou da última novela em preto e branco da TV Globo, Selva de Pedra, e esteve na primeira colorida da emissora O Bem-amado (1973), de Dias Gomes. Ela era a Dulcineia Cajazeira. Em 2006, Dorinha fez, ao lado de suas colegas vedetes, sua última aparição na novela Belíssima, de Sílvio de Abreu. ANGELITA MARTINEZ As Coxas mais Grossas do Rio de Janeiro Nasceu em 17 de maio de 1931, em São Paulo, capital, com o nome de Maria Angélica Gugani. Aos 8 anos, mudou-se com a família para Amparo, no interior do Estado. Ali, como a maioria das meninas da época, estudou em colégio de freiras: Colégio Nossa Senhora do Amparo. Era a mais desinibida da turma. Cantava e imitava artistas de cinema e era sempre a figura principal das festas do colégio. Voltando à capital paulista, foi estudar piano e canto. Com apenas 10 anos de idade, estreou como cantora, em programas de calouros. Passou a se apresentar como cantora prodígio. Em 1948, conheceu o cantor e ator mexicano, Chucho Martínez Gil, durante um festival na Rádio América, onde ele estreava como atração internacional. Em pouco tempo, namorou, noivou e se casou em outubro de 1948, aos 18 anos de idade. Um dia após o casamento, se viu obrigada a viajar com o marido, que tinha compromissos artísticos. Chucho era bastante popular e se apresentava em diversos países, como México, Estados Unidos, Haiti, Panamá e Cuba, cantando em boates, cassinos e rádios. Aproveitou a beleza e o talento musical da esposa, e criou números especiais para ela, em seus shows. Sua estreia foi como crooner, adotando o nome artístico de Angelita Martinez. Apresentou-se com sucesso na rádio americana NBC e na mexicana XMV. Ficou pouco tempo casada. Chucho era temperamental e irritadiço, e o casal vivia em desarmonia. No início da década de 50, abandonou o marido e retornou ao Brasil. Novamente em São Paulo, foi contratada por Blota Júnior para a Rádio Record (SP). Trabalhou um bom tempo como cantora, tendo passagens também pela Rádio Cultura e depois na Mayrink Veiga, já no Rio de Janeiro. Naquele tempo, as cantoras do rádio se apresentavam em programas ao vivo. Também nessa época, Angelita se apresentava nos shows da boate do Hotel Esplanada. E em um dos espetáculos, foi vista por Carlos Machado, que na ocasião estreava a peça Tapete Mágico, na mesma boate. O empresário a levou para ser atração de sua casa noturna, a Monte Carlo, localizada no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro. E foi na então Capital Federal que Angelita consolidou sua carreira artística. Em 1951, atuou em diversas boates, como a Casablanca, Night and Day e a do Copacabana Palace. Entre os shows que atuou com Machado destaca-se Carroussel, uma montagem aplaudidíssima do ano de 1951. Por questões familiares, foi obrigada a retornar a São Paulo. Vivendo novamente em sua terra natal, volta a atuar no Esplanada e faz bastante sucesso na Arpège. Angelita atuava, até então, apenas como cantora de rádio e crooner. Nos shows de Machado, fazia a girl. No entanto, ao retornar à Cidade Maravilhosa, em 1953, foi convidada pelo empresário Zilco Ribeiro, para exercer uma nova atividade: a de vedete. A estreia no gênero se deu no espetáculo Tout va Très Bien, encenado no Follies. A estrela do espetáculo era Virgínia Lane e Angelita já aparecia como vedetinha, participando de números bailados e quadros cômicos. Também apareceu muito bem em A Pequena Notável, um show de boate, ainda na companhia de Zilco. O empresário gaúcho apostava todas as suas fi chas em Angelita. Queria fazer dela, sua estrela. Foi então que surgiu Walter Pinto, na jogada. Sem esperar muito tempo, o Ziegfield brasileiro, contratou Angelita e, no mesmo ano, a lançou como atração em É Fogo na Jaca, um grande sucesso, com Mesquitinha, Ankito e Jane Gray. Com Walter Pinto, Angelita deixou de ser uma promessa, para se tornar realidade. Foi a vedete revelação do ano de 1953 e fez parte das mulheres mais bem despidas do ano, na lista de beldades de Sérgio Porto, que no futuro se imortalizaria como As certinhas do Lalau. Em 1956, atuando ainda com Walter Pinto, decidiu não fazer a excursão paulista com o espetáculo Botando pra Jambrar. Assinou um contrato excepcional com aTVTupi, do Rio. Somente para apresentar o famoso EspetáculosTonelux, recebia dez mil cruzeiros por edição do programa. No carnaval de 1956, foi eleita Rainha das Atrizes. Foi uma das primeiras vedetes eletrônicas, desempenhando a mesma função de vedete na televisão. Colecionou diversos títulos entre eles, Rainha do astral, Miss objetiva, Melhor vedete da TV, Rainha da ferradura – em alusão ao turfe – e, fi nalmente, o de Rainha das vedetes em 1957. Em São Paulo inaugurou uma das mais badaladas boates da cidade, a Meninão. Dona das coxas mais grossas do Rio de Janeiro (segundo especialistas), Angelita teve vários casos amorosos. Sabe-se que João Goulart (antes de ser presidente) viveu uma paixão avassaladora pela vedete, a ponto de dar escândalos no dia em que, brigados, ela não quis lhe abrir a porta do apartamento! Mas ele abriu! A tiros! Lodo depois, ela trocaria o futuro presidente pelo craque de futebol Mané Garrincha. Seus romances faziam as delícias dos paparazzi tupiniquins. No carnaval de 1959, Angelita se consagrou popularmente com a marchinha Mané Garrincha, de Wilson Batista e Jorge de Castro. A letra foi composta de propósito para ser alterada pelos foliões que cantavam a plenos pulmões, brincando com o significado malicioso: Mané, Mané Até hoje meu peito se expande Mané que brilhou lá na Suécia Mané que nasceu em Pau Grande Não é só café Que nós temos pra vender Dribla, dribla Mané para o mundo inteiro ver. Angelita Martinez trabalhou intensamente em boates. Apresentou-se em praticamente todas do eixo Rio-São Paulo. Nos anos 1960 e 70 continuou na ativa, mesmo com o fim do teatro de revista. Fez televisão e rádio, além das boates. Todos os anos gravavam suas marchinhas para o carnaval, fazendo bastante sucesso com suas músicas. Angelita teve um dos salários mais altos da época, ganhava os presentes mais caros e luxuosos de seus apaixonados. Mas, era uma jogadora inveterada, e não escondia isso de ninguém. Trocava tudo pelo jogo. Acabou perdendo boa parte do que faturou durante sua trajetória artística no bacará. Morreu muito jovem, em São Paulo, no dia 13 de janeiro de 1980, vitima de leucemia. Tinha só 48 anos de idade. ROSE RONDELLI La Rondelli Rosermy Rondelli nasceu no Rio de Janeiro no primeiro dia de agosto de 1934. Sua carreira começou muito cedo, como a maioria de nossas vedetes. Foi em 1950, tinha apenas 16 anos de idade.Tinha ido a uma matinê da boate Monte Carlo, na Gávea, com o namorado, quando recebeu um convite do gerente para trabalhar na casa. Apesar de ser menor de idade estreou no dia seguinte, como crooner da orquestra. Fazia o que todas as outras meninas bonitas e inexperientes sabiam fazer: tocava maracas e cantava números de samba. Trabalhava escondida dos pais e 15 dias após sua estreia foi apresentada ao dono da boate, Carlos Machado, que retornava de uma viagem. O empresário não só aceitou a permanência da menina na boate como também fê-la assinar um contrato. Conseguiu uma certidão falsa. Só assim pôde estrear profissionalmente. Adotando o nome artístico de Rose Rondelli, em pouco tempo já era uma das mais destacadas mulheres do Machado – como eram chamadas as girls e vedetes de Carlos Machado. Sua beleza insinuante mereceu elogios da crítica, como disse um jornal: Quando o tempo passar e Rose empinar mais o corpo, perdendo um pouco esse jeito atual de broto, e pisar no passo de mulher, nós ganharemos mais uma grande vedete. A boate era constantemente visitada pelos fiscais do Juizado de Menores, que proibia a participação de menores de 21 anos nos shows noturnos. Todas as vezes que isso acontecia, Rose e suas colegas – como Anilza Leoni e Diana Morell – tinham que sair, à francesa, pelos fundos, e só retornavam no dia seguinte. Um dia ela se cansou de toda essa rotina. Recebeu um convite de Geysa Bôscoli para ser vedete em seu teatro em Copacabana. Aceitou e, em 1952, estreava como atração da revista Vai Levando..., encenada no Jardel. Mesmo nunca tendo pisado num palco de teatro antes, Rose era um dos primeiros nomes da companhia, ao lado de gente consagrada como a vedete Joana D’Arc. Sua ascensão foi rápida como um relâmpago. Na revista seguinte, A Imprensa é Livre, já era a estrela da companhia. A peça fez uma bem-sucedida carreira e o nome de Rose Rondelli se consolidava como grande vedete. Foi nessa época em que conheceu o figurinista Carlos Gil, com quem viria a se casar, pouco depois. Carlos também participava do elenco do Jardel, fazendo números como transformista. Travestia-se, por exemplo, de Carmen Miranda e fazia bastante sucesso. Foi ele um dos grandes responsáveis pelo sucesso de Rose Rondelli no teatro. Passou a confeccionar o figurino da vedete e ensinou-lhe praticamente tudo: desde a postura cênica até a como se maquiar. No ano seguinte, fez uma viagem para o Nordeste, atuando em Recife. Fez diversas revistas carnavalescas, como A Pisada é Essa, A Cegonha Chegou e A, E, I, O, U, Ypsilone. Todas ao lado de Carlos Gil, e tendo como atrações o cantor Jackson do Pandeiro. Retornando ao Rio, estreou no Teatro Carlos Gomes, atuando no grande sucesso Mulheres de Todo o Mundo, ao lado de Dercy Gonçalves e um sem-número de girls internacionais. A sua carreira estava em alta. Também fez uma bem-sucedida turnê por Buenos Aires e, no Brasil, fazia uma revista após a outra. Já não era mais uma menina.Tornou-se uma mulher vistosa, de beleza opulenta. Um de seus números mais famosos nos teatros era um quadro onde cantava a música Eu sou Gostosa. Apesar do grande sucesso como vedete, Rose não estava satisfeita com a sua vida profissional. Não se sentia feliz atuando nesse tipo de teatro. Em 1957, deu uma polêmica entrevista à revista Manchete, intitulada Confissões de uma Vedeta. Na matéria, ela metia o malho no teatro de revista e seus empresários. Contou que havia iniciado a carreira artística sendo menor de idade, com uma certidão falsificada. Também anunciou sua despedida dos palcos, afirmando: O teatro musicado é muito pior por dentro, do que por fora! Disse que trocaria a Praça Tiradentes pelo cinema. Ao se lançar na sétima arte, afirmou: Não duvido nada, no final do ano ser eleita a melhor atriz de 1957! Sua experiência cinematográfica não foi como gostaria. O filme Samba na Vila não foi bem de bilheteria e Rose brigou com o diretor Luiz de Barros. No mesmo ano retornou à revista, agora participando do elenco de Walter Pinto. Era uma das vedetes da luxuosa É de Xurupito!, ao lado de Nélia Paula e do cômico Walter D’Ávilla. Ainda atuou em outros grandes sucessos como É tudo Juju Fru-Fru (1958), no João Caetano, e Elas só usam Baby-doll (1959), no Teatro Serrador. Nunca foi chegada a amantes, Apesar de muito paquerada, sempre se envolveu com quem quis, assumindo publicamente seus namorados. Namorou Carlos Machado, Sérgio Porto, Antonio Maria, Carlos Gil e casou-se com Chico Anysio. Rose atuou direto no palco, aproximadamente, dez anos. No final da década de 1960, passou para a televisão, como a maioria das vedetes. Participou dos mais famosos programas humorísticos como o Chico Anysio Show, Noites Cariocas e Praça Onze. Também fez um grande e memorável sucesso na Rádio Mayrink Veiga, no programa Miss Campeonato. Com texto de Sérgio Porto, ela fez grande sucesso ao lado de comediantes como ZéTrindade e da também vedete Carmen Verônica. No programa, que misturava futebol e mulher, dois ingredientes infalíveis: quadros humorísticos satirizando os times de futebol (em que Rose atuava) e entrevistas irreverentes (feitas por Rose) com jogadores. No final, o ouvinte que acertasse as questões colocadas ganhava como prêmio a Miss Campeonato. Rose, então, abusava do improviso e deixava quase sempre o vencedor embaraçado. O programa liderou a audiência na época. Em meados dos anos 1960, deu um tempo na carreira para cuidar dos filhos: Duda (do primeiro casamento com Carlos Gil), Nizo e Rico. Nos anos seguintes participou esporadicamente na televisão e no cinema. No final dos anos 1970, participou como atriz do seriado infantil Sítio do Pica Pau Amarelo, na Rede Globo. O retorno aos palcos acontece em 1983, no show As certinhas do Lalau, encenado no Teatro Rival. Ela foi uma das certinhas preferidas de Sérgio Porto e nesse espetáculo em homenagem ao jornalista, relembrou os tempos de vedete, ao lado das colegas Anilza Leoni, Diana Morell, Célia Coutinho, Maria Pompeu e Irma Alvarez. Rose ainda estava em plena forma física e foi muito elogiada pela crítica. Ela era imperativa no palco, abria um sorriso sedutor e abusava da malicia, quando atuava naTV e no cinema, impressionando pela segurança e carisma. Era uma atriz nata, grande comediante, tirava partido de tudo com humor, e cantava muito bem. No programa Noites Cariocas da TV Rio (1959-1961) fez quadros musicais como: o Salão de beleza, ao lado de Antonio Carlos, Sandra Sandré, Zélia Hoffman e Isa Rodrigues. Participou do lendário quadro Café Bola Branca, onde fazia um famoso número com Paulo Celestino. Paulo – Nega, abre os olhos teu futuro, Rose – eu no tanque dando duro e tu só no ora-veja! Paulo – Nega, Rose – eu não entro nessa fria, Paulo – nosso fi m é na igreja, Rose –...ou então delegaciiiia!! Uma de suas últimas aparições como atriz foi em 1984, na minissérie A Máfia no Brasil, da Rede Globo. Rose fazia uma pequena participação, cantando ao piano. Morreu no primeiro dia de janeiro de 2005, aos 70 anos. ELOÍNA A Vedete de Dois Milhões de Cruzeiros Eloína Soares Ferraz nasceu em Cruz Alta (RS) em 1937. Quando ainda era menina, mudou-se com a mãe para o Rio de Janeiro. Estava com 16 anos quando, passando em frente ao Teatro Follies, o cômico Colé e o empresário Zilco Ribeiro a abordaram perguntando se queria fazer teatro e se era maior de idade. Ela respondeu Sim!... e disse que já tinha 18 anos. Foi com os dois até o camarim, no subsolo do teatro, provou um biquíni amarelo, um vestido soiré e um biquíni preto com uma grande capa também preta. A peça era Mulheres, Cheguei com a estrela Nélia Paula. Perguntaram se ela sabia sapatear. Ela respondeu Sim! O coreógrafo levou-a pela mão até o palco, cantarolou um fox-trot enquanto Eloína olhava seus pés e repetia os passos sem medo. Acharam o seu corpo perfeito. Assinou um contrato para estrear naquela noite como girl. Inventou um nome: Lena Lage. Homenagem a atriz Eliane Lage. Duas letras iguais: L L!... como Marilyn Monroe e Brigitte Bar-dot! Na hora, o sapateado foi com luz negra e Eloína não enxergava os pés de ninguém. Colé pedia que ela sorrisse no final do espetáculo. Eloína desfilava pelo palco e parava para sorrir. Então ele dizia: Anda. E ela andava, mas ficava séria. Foi quando disse: Não sabe andar e sorrir ao mesmo tempo? Fracasso total! Após 15 dias foi mandada embora, quando uma vizinha a reconheceu e denunciou que era menor de idade e tinha fugido de casa. Zilco Ribeiro lhe deu cartão vermelho recomendando que nunca mais pisasse num palco, pois ela era muito ruim. A negativa de Zilco não abalou a vedete que estava surgindo. A partir de então, Eloína começou uma carreira de sucesso trabalhando em companhias como a de Geysa Bôscoli, Mary e Juan Daniel, Colé, Walter D’Ávilla, Silva Filho, Américo Leal, Carlos Machado, Augusto César Vanucci, Fernando D’Ávilla, Américo Bergamaski, Zilco Ribeiro, Artur Farias e Zé Carioca, Ferreira da Silva, Francisco Mazza (Don Ciccilo), Aurimar Rocha, Bastos e Vasco Morgado, em Portugal. O maior êxito de sua trajetória foi em São Paulo. Na capital paulista, recebeu o título Rainha da Plástica (pela imprensa paulista) e também o de A Grande Vedete (pelos críticos teatrais de SP). Foi em São Paulo também que Eloína, literalmente, parou a cidade em 1961. Convidada a desfi lar pelas ruas, lançou a novidade do vestuário feminino naquele momento: a calça Saint-tropez. Outros títulos que Eloína recebeu: A Divina Eloína, Violão (por causa do formato do corpo) e Boneca Cobiçada, apelido dado por Rose Rondelli. Em seus 19 anos de carreira, contracenou com atores como Silva Filho, Colé, Costinha, Renato Aragão, Dedé Santana, Otelo Zeloni, Chico Anysio, Pituca, Chocolate, Zé Trindade, Oscarito, Grande Otelo, Carvalhinho, Walter D’Ávilla, Vagareza, Nick Nicola, Augusto César Vanucci, Manoel Vieira. Seus maiores sucessos no teatro foram: Encosta a Cabecinha, com a Cia de Silva Filho (Medalha de Melhor Atriz de Teatro Musicado de 1958); É tudo Juju Fru-Fru, no Rio de Janeiro; O Ovo, ao lado de Armando Bógus; Vovó de Bonde de Burro não Pega Avião a Jato, com a Cia Geysa Bôscoli, e Tocando na Bandinha, com Américo Bergamaski. E em Lisboa, Mão na Toca. Suas marcas registradas eram o corpo, a cintura fi na, o rosto brejeiro, mais o olhar que prometia e o sorriso maroto de moleque. Eloína lembra que a revista dava oportunidade de mostrar seu talento, mas o que mais gostava de fazer eram esquetes onde interpretava a gostosa burra, desligada e ingênua. Este gênero ela fazia muito bem. Também, números de plateia, pois sempre foi muito comunicativa, simpática e meiga. Sobre seus amores conhecidos, ela cita: Jardel Filho (o primeiro namorado), Evaldo Gouveia (por causa do relacionamento, ele compôs as músicas Alguém me Disse e Deixa que Ela se Vá), Silva Filho, Orlando de Lima, Paulo Araújo, Nelson Gonçalves, César de Alencar e um ator cômico que não revela o nome, porque não tem permissão para fazê-lo. Eloína aproveitou o seu depoimento para deixar, mais uma vez claro, que nunca foi amante, nem teve filho do Presidente Juscelino Kubitschek. Ela acha que isso tudo começou quando recebeu flores no Teatro Santana, em São Paulo. Ela tinha sido eleita a Rainha das Atrizes. Com as flores, veio um cheque em branco. Algumas pessoas viram e o boato se espalhou pelo teatro de que o cheque era do presidente Juscelino. Não era. Quem mandou o cheque foi um banqueiro, que ela prefere não dizer o seu nome, porque ele já morreu e morto não tem como se defender. Sobre os números de plateia, há um fato curioso. Estava fazendo um número de plateia na passarela do Teatro Carlos Gomes. E um espectador colocou a carteira de dinheiro a seus pés. Ela disse: Você acha que se eu quisesse sua carteira estaria fazendo 3 sessões de teatro? Abaixou, pegou a carteira, abriu e disse: Só tem carteirinhas de clube, mais nada! Gargalhada geral e aplausos em cena aberta. O seu corpo era algo que causava fascínio. Eloína foi a primeira artista a fazer seguro do corpo no Brasil. Foi em 1956 e o seguro foi de 2 milhões de cruzeiros, na Sul América Seguros. Um dos seus quadros no teatro de revista falava, justamente, das medidas de seu corpo. Foi escrito por Marcos César para a revista É tudo Juju Fru-Fru. O quadro interpretado por Eloína e Rose Rondelli chamava-se O corpo de Eloína. Rose canta: Alguém aí pode dizer Qual a medida ideal Que a mulher deve ter Pra ter um corpo escultural Vamos medir, aqui em cima O belo corpo da Eloína E aquele que acertar Um belo prêmio pode ganhar Eloína: Quanto tenho aqui de busto? Rose: Ai que custo adivinhar Eloína: Quando eu tenho de cintura? Rose: Ai que loucura, pode apostar Eloína: E de quadril quanto é que eu meço? Rose: Sou eu que peço, venha tentar Em 19 anos de teatro, conseguiu conquistar todos os títulos dentro da carreira de vedete: Melhor Atriz – Teatro Musicado (1958); Rainha das Atrizes (1957); Rainha das Vedetes (1964 e 1965) – A última Rainha das Vedetes. Foi a última das vedetes brasileiras a trabalhar em Portugal.Trabalhou com o Carlos Machado em Punta del Leste, no Uruguai. Um dos seus grandes fãs, quando começou a carreira como transformista, adotou o nome da Diva. Eloína, o travesti, fez muito sucesso apresentando o espetáculo A Noite dos Leopardos e atuando em vários shows da Galeria Alaska, no Rio de Janeiro. Na década de 1980, ela se formou em artes cênicas pela UFRGS. Em 2006, Eloína participou, ao lado de suas colegas vedetes, de uma cena na novela Belíssima, de Sílvio de Abreu. Atualmente, Eloína Ferraz ministra ofi cinas de teatro e de voz para alunos e grupos interessados. No momento, roda um fi lme sobre a sua vida no teatro de revista, dirigido pela cineasta Marilia Bressane. LYA MARA A Bonequinha Loura Lya Mara é gaúcha. Nasceu em 17 de outubro de 1926. Foi esportista, campeã de natação e saltos ornamentais em Porto Alegre. Formou-se professora, mas trocou o magistério pela carreira artística. Estreou em 1947, como radioatriz, na Rádio Farroupilha de Porto Alegre. Três anos depois, ao lado de Dercy Gonçalves, estreou como girl na revista Quem tá de Ronda é São Borja, no Teatro Glória (RJ), contratada por Zilco Ribeiro. O espetáculo excursionou pelo Brasil e Venezuela e Lya subiu para o posto de vedetinha. Em 1952, fi rmou-se como vedete, integrando o elenco de Zaquia Jorge, noTeatro Madureira. Lançada como a bonequinha loura, apareceu estrelando, sozinha, o prólogo da revista Ferroviárias. A peça não emplacou. No entanto, daí para a frente, Lya atuou em várias revistas. Uma das mais importantes foi Canta Brasil, no João Caetano da PraçaTiradentes. O clássico samba de Ary Barroso dava título a esta peça que também foi para Portugal. Outro momento importante de sua carreira foi com a luxuosa É Fogo na Jaca, de Walter Pinto. Nos anos seguintes conquistou a crítica e o público. Loríssima, com um belo sorriso e coxas grossas, ela lembrava Mara Rubia. As comparações não tardaram. As duas vedetes trabalharam juntas na revista As Urnas vão Rolar (1954) no Teatro Carlos Gomes. Lya Mara viajou como vedete, por vários Estados brasileiros. Entre os seus espetáculos, destacam-se Bom Cabrito não Berra; Nonô vai na Raça; Comigo Ninguém Pode; Castiga o Couro; Ensaio Geral; Aperta o Cinto! Foi estrela absoluta na companhia de Celeste Aída, na revista Coquetel de Estrelas, no Teatro Jardel, em 1955. O espetáculo foi mal de crítica, mas Lya foi elogiada. No cinema fez Os Três Recrutas, chanchada da Atlântida com Ankito, Colé e José Lewgoy e a comédia Marujo por Acaso,fazendo uma loura fatal que quer conquistar o marujo Ankito. Trabalhou TV Tupi em São Paulo e na TV Tupi do Rio, onde participou do programa Pirani Philco. Foi casada com o cômico do teatro de revista Nick Nicola. Desta união nasceu Monica Nicola, em 1958. Monica é médica psicanalista e escritora. Lya participou ativamente da revista, até o seu declínio na década de 1960. Fez diversos espetáculos ao lado do marido Nick Nicola com grande sucesso. Suas últimas atuações foram em Elas só Usam Baby-doll (1959 / Serrador); O Brasil é Nosso! (1959 / Jardel); Vou à Lua de Lambreta (1959 / Teatro de Bolso) e Ôba, Mister Momo (1963 / Rival). Fez, depois, alguns shows em boate e foi proprietária da casa noturna Bottle’s. Entre os anos de 1970 e 80 foi produtora das novelas Feijão Maravilha (1979) e A Gata Comeu (1985) na Rede Globo, ocasião em que voltou a encontrar Mara Rubia e a amiga Anilza Leoni. Atualmente, aos 83 anos, Lya vive sozinha num apartamento em Copacabana. Caminha todos os dias no calçadão, vai à praia, entra no mar e se reúne com amigos. E afirma: O segredo para a vitalidade aos 80 anos é aproveitar a vida. CONSUELO LEANDRO A Impagável Maria Consuelo Nogueira nasceu em Lorena, interior de São Paulo, em 27 de maio de 1932. Aos 11 anos de idade, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Percebeu sua inclinação artística aos 6 anos, quando foi anjinho na procissão do Senhor Morto, na Sexta-Feira da Paixão. Seu fi gurino era toda de lamê e brilhava muito. Adorei aquilo! Eu era o centro das atenções!Todos me olhavam. Achei um luxo, foi glorioso! Começou a carreira artística cursando danças clássicas noTeatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1946. Entre 1949 e 1950, fez teatro amador, com Paschoal Carlos Magno. Fazia papéis secundários. Participou de tragédias gregas durante três anos, mas não se identifi cava com o gênero. Descobriu sua vocação para a comédia durante uma apresentação da peça O Aniversário, de Tchekhov. Fez a plateia se rasgar em gargalhadas, interpretando uma personagem rabugenta, com pegada leve e cômica. Criou, quase por acidente, seu primeiro tipo no teatro. O nome artístico foi escolhido, nessa época. A atriz homenageou a avó (Consuelo) e o seu avô, que se chamava Leandro. A família se opôs ao trabalho, cortou sua mesada e Consuelo foi obrigada a trabalhar como secretária. Surgiu, então, o convite de Zilco Ribeiro, que a tinha visto na peça de Tchekhov. Estreou, já como cômica, em 1953, no espetáculo Carrossel de 53. Fez diversos tipos, entre eles a Marquesa de Santos. Na apoteose final, surgiu como vedete, vestindo um maiô e exibindo sua bela plástica, para surpresa do público. Consuelo já conhecia e adorava a revista. Durante os quase dez anos que estudou balé no Municipal, foi frequentadora assídua dos teatros da Praça Tiradentes. Não perdia um espetáculo de Walter Pinto, Oscarito, Alda Garrido e Beatriz Costa, com quem se identifi cava no estilo de interpretação. O estrelato na revista aconteceu em Doll Face (1954), no Follies, ainda com Zilco. A peça foi um fenômeno. Outro grande sucesso foi o show Un Saludo Carioca (1956), de Carlos Machado, que fez turnê em Punta del Este. No mesmo ano, fez uma temporada paulista, com a companhia de revistas de Silveira Sampaio. O sucesso foi tão grande que acabou recebendo um APCA especial por sua atuação. Foi a primeira e única vedete a receber este prêmio. Ainda no início de sua carreira, Consuelo contou com algumas dicas da grande profi ssional do passado: Margarida Max. Eram vizinhas, em Copacabana. Fora do palco há anos, Margarida revelava os truques à novata. Principalmente, como subir e descer escadarias. As duas passavam boa parte do dia praticando nos vinte degraus do prédio em que moravam. Consuelo fez teatro de revista, de 1953 a 1961. Seu diferencial era aliar, ao trabalho cômico, a sua beleza. Não era uma mulher estonteante, mas vestia bem um maiô e tinha corpo bonito. O humor feminino, geralmente, estava ligado à feiura e ao exagero. Consuelo fez sucesso com seus diversos tipos. Encarnou solteironas, nordestinas, fanhas, gagas, matronas, etc. Seus grandes sucessos foram as personagens: Petronilha da Silva, criação de Sérgio Porto, Raimunda, a manicura, de Armando Couto, Adalgiza, a que falava com voz esganiçada: Aceita um Cocrete? e a Cremilda, que tinha o bordão, Oscar, marido meu, podre de rico! Seus últimos trabalhos como vedete foram em 1961, com Vive les Femmes, considerado o último grande show de Carlos Machado na boate Night and Day, e Rio, Capital do Samba, encenado no tradicional Recreio. Depois continuou fazendo comédias e também dramas, até os anos 1990. Destaque-se a aplaudidíssima remontagem de Chuva, de Somerset Maugham (1978). Na TV, Consuelo aparecia em humorísticos como A Praça da Alegria (1976 – Globo) e novelas como Cambalacho (1986), de Sílvio de Abreu, com sua inesquecível Lili Bolero. No rádio, ganhou diversos prêmios de melhor comediante feminina e fez parte do elenco do popular Balança, mas Não Cai, na Rádio Nacional. Fez mais de 20 filmes durante os anos 1950, com diretores famosos como Luiz de Barros, Watson Macedo, Victor Lima e Roberto Farias. Nos anos 1970 fez pornochanchadas. Consuelo Leandro foi casada com Agildo Ribeiro e chegaram a atuar juntos na revista Rumo a Brasília (1957), no João Caetano. Era contratada do SBT e fazia parte do elenco fixo de A Praça é Nossa. Faleceu em São Paulo, em 5 de julho de 1999, de insuficiência coronária. Não deixou filhos. SÔNIA MAMED A Fabulosa Cheia de Graça Sônia de Almeida Mamed nasceu no Rio de Janeiro em 4 de julho de 1936. Aos 16 anos, tinha um belo físico, praticava natação e trabalhava como balconista da loja Sloper, na Tijuca. À noite, estudava no Educandário Rui Barbosa, no Largo do Machado, onde era colega de Anilza Leoni, que a incentivava a seguir carreira no teatro. Um dia, Anilza a levou para conhecer Zilco Ribeiro, que se encantou com a garota bronzeada e espontânea. Sonia assinou o contrato e, no dia seguinte, começou a ensaiar. Fazia tudo escondida dos pais, pois era menor. Estreou como uma das seis girls do espetáculo Carrossel de 53 (1953). Sua estreia foi desastrosa. Além de girl ela fazia a rainha do café de biquíni e xícaras na cabeça. Quando anunciaram a sua entrada, tropeçou com o salto 12 e caiu do topo da escada. Foi xícara, foi café, foi salto pra todo lado. A casa veio abaixo e Sônia recebeu uma chuva de aplausos. Nunca soube se as palmas foram por incentivo ou pelo ridículo da situação. Sônia continuou atuando, até que dona Mercedes, sua mãe, viu uma foto da filha na Revista do Rádio. Ela levou uma surra com cabo de vassoura, mas acabou levando a mãe ao ensaio. Zilco Ribeiro era especialista em convencer mães de vedetes de que o ambiente era familiar. Mas o que convenceu mesmo dona Mercedes foi o salário de 3.500 cruzeiros: mais que o dobro do que a fi lha ganhava na Casa Sloper. Após Carrossel de 53, Sônia fez a revista O.K. Baby! (1953 / Follies), em que já tinha uma fala: Oh! Olhe, um índio! No ano seguinte, foi lançada como atriz cômica por Renata Fronzi, no espetáculo Brasil 3.000, no Teatro Serrador (RJ). Foi no Follies que conseguiu encabeçar uma produção, como estrela máxima de Color Revue (1955), ao lado de Pituca, Ariston e seu futuro marido, Augusto César Vanucci. No ano seguinte, deu outro grande salto na carreira, substituindo Virgínia Lane, em Entra na Canoa que a Boca é Boa, no Carlos Gomes (RJ). Seu maior sucesso na revista foi Bom Mesmo é Mulher, no Teatro Recreio (1958). Foi a figura principal, num elenco só de feras: Aracy Côrtes, Joana D’Arc e Manoel Vieira. Trabalhou com Zilco Ribeiro, Renata Fronzi-Cesar Ladeira, José Vasconcelos, Ferreira da Silva, Gomes Leal, Colé e outros. Contracenou com Oscarito, Colé, José Vasconcelos, Pituca, Zé Trindade, Costinha, Walter D’Ávilla, Chico Anysio, Lúcio Mauro, Zeloni, Evilásio Marçal e outros. Sônia fez teatro de revista desde 1953 até o fi nal dos anos 1960. Uma de suas últimas incursões no gênero foi É uma Brasa, Mora? (1966), no Teatro Miguel Lemos em Copacabana. O espetáculo tinha o formato revista de bolso. Fez uma bela carreira no cinema. Estreou em 1953, no fi lme Balança, mas não Cai, como figurante. Em seguida, descoberta por Carlos Manga, estrelou Garotas e Samba (1957). Interpretava uma nordestina que vem ao Rio em busca de seu grande sonho: ser vedete. Foi exclusiva da Atlântida por vários anos, atuando em diversas fitas, muitas ao lado do grande amigo e comediante Oscarito. Também atuou com destaque em televisão. Participou de uma série de programas de humor e em novelas de Sílvio de Abreu. Foi a primeira atriz a dar vida à Ofélia, a grã-fina burra, esposa do Fernandinho (Lúcio Mauro), no programa Balança mas Não Cai (1968 / Globo). O bordão Eu só abro a boca quando tenho certeza! ficou conhecido no País inteiro. Em 1978, estrelou A Revista do Henfil, de Henfil e Oswaldo Moreira. A peça, que reunia vários quadros e esquetes, era teatro cabeça de cunho político. Lembrava vagamente o antigo teatro de revista. Sônia Mamed fez parte do time de comediantes femininas que reuniam graça, comicidade, sensualidade e beleza insinuante. Era morena, sempre bronzeada de sol, com longos cabelos e corpo mignon. Como caricata, seu forte era a imitação da pau de arara, fazendo um hilário sotaque nordestino. Foi chamada de A Fabulosa pelos jornalistas cariocas. Sônia era tranquila e avessa a escândalos. Poucas vezes ocupou as manchetes da imprensa sensacionalista. No entanto, alguns acontecimentos mereceram atenção da mídia, como a separação do marido Augusto César Vanucci e o colapso nervoso que sofreu durante o velório do amigo e comediante Oscarito. Um de seus maiores sucessos, ainda no tempo da revista, foi a canção cômica Maria Chiquinha. A música, de Geysa Bôscoli e Guilherme de Figueiredo, em pouco tempo ganhou o Brasil: ELE – Que cocê foi fazer no mato, Maria Chiquinha? Que cocê foi fazer no mato? ELA – Eu precisava cortar lenha, Genaro, meu bem Eu precisava cortar lenha ELE – Quem é que tava lá com você, Maria Chiquinha? Quem é que tava lá com você? ELA – Era filha de Sinhá dona, Genaro, meu bem Era filha de Sinhá dona ELE – Eu nunca vi mulher de bigode, Maria Chiquinha Eu nunca vi mulher de bigode ELA – Ela tava comendo jamelão, Genaro, meu bem Ela tava comendo jamelão ELE – No mês de setembro não dá jamelão, Maria Chiquinha No mês de setembro não dá jamelão ELA – Foi uns que deu fora do tempo, Genaro, meu bem Foi uns que deu fora do tempo ELE – Então vai buscar uns que eu quero ver, Maria Chiquinha Então vai buscar uns que eu quero ver ELA – Os passarinhos comeram tudo, Genaro, meu bem Os passarinhos comeram tudo ELE – Então eu vou te cortar a cabeça, Maria Chiquinha Então eu vou te cortar a cabeça ELA – Que cocê vai fazer com o resto, Genaro, meu bem? Que cocê vai fazer com o resto? ELE – O resto? Pode deixar que eu aproveito. Sonia Mamed morreu no dia 25 de maio de 1990, aos 53 anos. CARMEN VERÔNICA A Rainha da Frescura No livro de correspondências do escritor Caio Fernando Abreu, há uma carta que ele escreveu para Maria Adelaide Amaral, em 29 de dezembro de 1992, onde pergunta: Como vai a novela com a Bi-Xena Carmen Verônica? Era a época em que Carmelita Varella Alliz Sicart, cujo nome artístico tornou-se Carmen Verônica, era a sensação da novela Deus nos Acuda, de Sílvio de Abreu. Não há no Brasil, talvez no mundo, mulher mais veada do que Carmen Verônica. A atriz reconhece que suas marcas registradas são sua voz e a veadice. Carmelita nasceu no dia 12 de junho de 1933 em Recife (PE). Desde pequena tinha um pendor artístico. Quando adolescente, era vizinha do ator Geraldo Del Rey, que a convidava para fazer figurações no cinema. Era uma chance de conseguir um dinheiro no verão. Um dos filmes que Carmen recorda dessa época chamava-se Somos Dois, com o galã Dick Farney, em 1950. Mais tarde, na Praia do Arpoador, seu corpo perfeito chamou a atenção de um olheiro de Carlos Machado. Foi Machado quem lhe deu o nome artístico Carmen Verônica. (Entre as colegas, era chamada de Carminha. Sérgio Porto a chamava de Carmencita.). Naquela época, causava furor entre os homens da plateia. Teve fotos de biquíni publicadas na revista norte-americana Show e recebeu cartas de fãs estrangeiros. Depois de estrear como girl de Machado, Carmen seguiu a carreira de atriz a partir de um convite de Silveira Sampaio, para fazer Um Americano em Recife, no Teatro de Bolso. Silveira precisava de uma atriz que falasse inglês. Em seguida, Carmen trabalhou com Zilco Ribeiro, no Teatro Follies, em 1952. Foi vedete de Adorei Milhões! participando de esquetes cômicos com Walter D’Ávilla, e números musicais, cantando, entre outras, a célebre canção Nem eu, de Caymmi e Carlos Lyra. Atuou também no fenômeno de bilheteria Doll Face (1954), que permaneceu mais de seis meses em cartaz. Na companhia de Zilco Ribeiro também participou de shows na boate Night and Day, como Nós... os Gatos (1955), em que dividiu o estrelato com a amiga Anilza Leoni e O Samba Nasce do Coração (1955), que era uma homenagem aos veteranos sambistas brasileiros. Conhecida como a Rainha da Frescura pela voz melosa, Carminha era uma vedete que se destacava das demais.Tinha um porte muito elegante e refinado. Era classuda. No teatro e nas boates se apresentava com um figurino impecável, sempre atuando em números de muito bom gosto. Suas apresentações nunca soaram grosseiras ou vulgares.Também interpretava números musicais em outros idiomas, apresentando um inglês e francês perfeitos. Seu bom humor e simpatia eram muito apreciados pelos colegas de profissão. Essa classe toda arrebatou o coração do cronista Sérgio Porto. Não só a classe, mas o talento e o corpo escultural. Carmen Verônica é a recordista entre as Certinhas do Lalau. Somente na década de 1950, foi eleita cinco vezes, em 1954, 1955, 1956, 1957 e 1959. Nenhuma outra conseguiu essa proeza. Carmen também fez teatro dramático. Atuou na CompanhiaTônia-Celli-Autran e Sérgio Cardoso. Em 1960, fez sucesso com a peça Sexy, encenada no Teatro Mesbla. Em meados da década de 1950, foi para a televisão, como vedete eletrônica. Participou de vários humorísticos e programas célebres como Noite de Gala. Fez longa carreira na TV Record, atuando como comediante em clássicos como o Show do Dia 7. Por seus trabalhos na TV, Carmen recebeu o Troféu Roquette Pinto. Marcou presença, também, nas telenovelas da Globo: Por Amor (1997), Paraíso Tropical (2007), Caras e Bocas (2009) e Deus nos Acuda (1992), onde imortalizou o bordão Oh, My! Seu grande sucesso foi com a novela Belíssima (2005), de Sílvio de Abreu. A produção, exibida no horário nobre da casa, marcou o retorno de Carmen àTV. Interpretou uma ex-vedete, Mary Montilla, que com a colega Guida Guevara (Íris Bruzzi) foram Os Furacões de Cuba. Durante o desenrolar da novela, as exvedetes viviam brigando e lembrando casos e nomes do tempo do teatro de revista. O sucesso foi tanto que rendeu um show apoteótico, com 15 vedetes, de Virgínia Lane a Eloína, no último capítulo da novela. Outro espetáculo que a diva lembra com muito carinho é As Tias do Mauro Rasi, no qual atuou ao lado de Berta Loran, Dirce Migliaccio,Yolanda Cardoso e Murilo Benício. Ela fazia o papel de uma mulher veada, que entrava em cena ao som de Goldfi nger na voz de Shirley Bassey. Ou seja, Carmen Verônica sempre personifi cou a fi gura da mulher bicha. Tanto que foi eleita Rainha Gay em uma Boate em São Paulo, nos anos 1990. Houve períodos de sua vida em que ela não trabalhou como atriz para se dedicar ao casamento. Mas Carmen afirma que nunca deixou de ser comediante. Ficou furiosa com a especulação de que era amante do Presidente Castelo Branco. Publicaram uma foto sua em frente a um avião com a manchete Carmen Verônica indo a Brasília. Fazendo uma síntese de sua carreira, Carmen Verônica finaliza: Minha vida é um palco. JANETTE JANE A Caçula do Teatro de Revista Janette Josephina Paravatti nasceu em São Paulo, no Brás, em 17 de janeiro de 1938. Não começou a carreira artística como girl, fi gurante ou crooner, como a maioria das vedetes deste livro. Começou tocando acordeão. Tinha 10 anos, quando ganhou uma bolsa para estudar o instrumento. Aprendeu e, para ajudar a mãe nas despesas, apresentava-se com a amiga Teresinha Elisa – que também seria vedete. Depois entrou para o cast da Rádio Mauá. Apesar de tocar bem o acordeão, Janette gostava era de se apresentar cantando. Fez vários programas na rádio e tomou gosto pela carreira artística. Por sugestão de Jacob do Bandolim adotou o nome artístico Janette Jane. Em 1953, leu no jornal um anúncio de Mara Rúbia e Renata Fronzi, procurando girls para o espetáculo Loura ou Morena. O ordenado era bom e Janette quase conseguiu a vaga. Mas tinha só 15 anos. Mara Rúbia era rigorosa e não aceitava menores. No ano seguinte, conseguiu estrear como girl. Foi quando viu a vedete Joana D’Arc, na Rádio Mayrink Veiga, fazendo a promoção de seu espetáculo em São Paulo. Janette acreditou estar no lugar certo, na hora certa, diante da pessoa certa. Joana D’Arc precisava de uma girl para seu espetáculo e Janette estava à procura de trabalho. Não foi convidada. Ela mesma se ofereceu. Joana D’Arc, animada, mandou-a procurar Pepa Ruiz, a administradora da companhia. Com a certidão de uma prima emprestada, foi aceita. Estreou noTeatro Alumínio em São Paulo, em 1954, como girl. Fazia, também, um quadro de nu artístico. Ainda na temporada paulista, com a saída de Rose Rondelli do elenco, Janette subiu de posto e passou a vedetinha. A revista era Rainha da Alegria, de Roberto Ruiz e Luís Felipe Magalhães. Foi um sonho que se realizou.Tudo era muito diferente do que já tinha vivido. Janette havia passado uma infância bem modesta ao lado da mãe, que lutava para sustentar a família. Na revista, encontrou a alegria que lhe faltava e um bom salário para ajudar a mãe. Na Companhia de Joana D’Arc em São Paulo, Janette participou de três espetáculos, Pernas Provocantes; Rainha da Alegria e Tudo de Fora. De volta ao Rio, fez, com Joana D’Arc, uma temporada no Teatro Glória. Em seguida, passou para a boate Night and Day. Estreou no show Inflação de Mulheres, substituindo duas vedetes faltosas, Anilza Leoni e Angelita Martinez. As críticas foram superpositivas e Janette foi eleita a Vedete Revelação de 1954. Tinha apenas 16 anos. No mesmo ano, foi levada pela amiga Consuelo Leandro para oTeatro Follies. Apesar do elenco já estar completo, Zilco Ribeiro conseguiu encaixá-la no último número, antes da apoteose. Estreou em Mas... Muito Mesmo! Fez o número solo mais aplaudido da noite. Em 1955, foi eleita a Rainha das Atrizes, no disputadíssimo Baile das Atrizes, em prol do Retiro dos Artistas. Com o prestígio da vitória do concurso, assinou um bom contrato para fazer temporada em Portugal. Apresentou-se cantando marchinhas ao lado de outros cantores brasileiros. Foi um sucesso. De volta ao Brasil, retomou a carreira de vedete. Participou de inúmeras montagens como Entra na Canoa que a Boca é Boa (1956), ao lado de Virgínia Lane, e Quem Comeu foi Pai Adão (1956), fazendo muito sucesso substituindo o cômico Badaró, travestida de garoto. Sucesso de verdade aconteceu em 1959, quando passou a ser a segunda figura do elenco estelar de Walter Pinto. Estreou no estouro de bilheteria Tem Bububu no Bobobó, tendo Virgínia Lane como estrela e José Vasconcelos como o comediante. A revista ficou quase um ano em cartaz, numa época em que o gênero perdia o prestígio. Milagres de Walter Pinto. Nos carnavais era uma das mais aclamadas cantoras. Gravou dezenas de marchinhas que conquistaram os foliões cariocas. Entre elas Me Dá meu Boné. Após a bem-sucedida temporada no Recreio, Janette finalmente chegou ao ponto máximo da carreira de uma vedete. Foi a estrela de O Filé vem de Fora, no João Caetano (1959). Interrompeu sua carreira precocemente, no momento em que sentiu a agonia do teatro de revista. A Caçula do Teatro de Revista, como era chamada por ser uma das vedetes mais jovens da época, atuou apenas durante nove anos. Hoje, é diretora financeira do Movimento Educacionista do Brasil – MEB. Em entrevista especial para este livro, Janette deixou uma mensagem aos jovens: A vida só vale a pena se você sonhar e lutar por ela. Minha carreira foi linda porque, pra mim, o importante é que foi com qualidade. TERCEIRA PARTE CENSURA X REVISTA vedetes em alta na década de 1960 Em 1959 foi organizada, em São Paulo, uma partida de futebol entre vedetes do Rio e de São Paulo. O objetivo era arrecadar fundos para a Casa do Ator. O time paulista venceu por 2 a 0: dois gols de Marly Marley. Em São Paulo, a revista de bolso tomava conta da noite. Sem as grandes escadarias e sem o orçamento de Walter Pinto, crescia um teatro criativo, um pouco mais pobre, um pouco mais propenso à sacanagem e muito popular. O Teatro Alumínio (depois Teatro das Bandeiras) – inaugurado em 1953 – e o Teatro Natal eram os dois preferidos pelos empresários destas revistas de bolso. A estrutura dessas revistas, que não se apoiavam no grande show, baseava-se no duo cômico e vedete. Zilco Ribeiro foi para o Teatro Alumínio e uniu-se a artistas paulistas. Siwa e sua companhia montaram a primeira revista inteiramente produzida em São Paulo. Havia uma troca de autores, vedetes e cômicos entre as duas capitais. Aos poucos, São Paulo foi desenhando uma cara tipicamente paulistana. Mas os anos 1960 foram divisores de águas. Sem nos determos em acontecimentos essencialmente políticos, teremos de nos lembrar que tudo o que acontece na arte (modificações estéticas, novidades, modismos) é resultado de uma mudança social qualitativa. E ela estava próxima. No início, tudo continuava como prolongamento da década de 1950. Como se as regras e o padrões fossem pra sempre: o casamento, a família e, à noite, a saidinha extra para o divertimento. As mais lindas vedetes do Rio de Janeiro haviam se formado, de algum modo, por outro método: o sistema vedete de Carlos Machado. É que, por se apresentarem em locais menores, mais íntimas do público, nenhum defeito poderia existir. Os espetáculos de Carlos Machado – por serem floor shows (o palco tinha uma altura de apenas alguns centímetros e elas desciam às mesas) – exigiam total domínio do que é o ser vedete. Depois de Walter Pinto, foi Machado com sua mulher, a figurinista Gisele, que desenvolveram um método de treinamento do glamour. Elas recebiam aulas de postura, de andar, de improvisar, de jogar com a plateia masculina. E, para compor a personagem, aprendiam a seduzir com classe e malícia, mas sem vulgaridade, pois não eram prostitutas. De 1953 até 1967, as mais belas vedetes apareceram na lista de Stanislaw Ponte Preta, 10 mais bem despidas, que depois passou a ser chamada As certinhas do Lalau. A partir da segunda metade da década, os palcos da revista, amordaçados pela censura, praticamente entregaram os pontos. Houve, então, mais uma fragmentação, agora definitiva. Uma vertente, depois de passar pelas chanchadas cinematográficas, passou aos programas humorísticos da TV. Surgiu a vedete eletrônica. A outra, insistindo em resistir, pulverizou-se em shows de strip-tease, shows de mulatas, shows de exportação. Estudando as leis da censura, um empresário paulista chamado Bergamaschi descobriu que não havia proibição ao strip-tease. Montou uma revista com Nélia Paula encabeçando o elenco e chamou a stripper cubana Raquel Soraya. A revista estreou no Teatro das Bandeiras, em 1959, e tinha por título A mais bem despida de 59. As antigas vedetes nudistas foram substituídas pelas strippers. A revista, que antes era cheia de alusões, se tornou explícita: um caminho rápido para o desaparecimento. Nas salas de espetáculos, chegava a vez do Teatro de Resistência. A revolução sexual, a pílula, os fi lósofos, os acontecimentos internacionais mostravam que os valores estavam mudando. E o charme e a beleza se apresentariam com outra cara. Travestis tomariam o glamour para si e fariam espetáculos como o show Les Girls. ESTHER TARCITANO A Vedete que não Entrou pelo Cano Estherzinha, como era conhecida, nasceu libriana, no dia 10 de outubro de 1928, em São Paulo, no bairro da Mooca. Filha única do casal Miguel e Flora Tarcitano, após a separação dos pais, mudou-se com a mãe para o Rio de Janeiro. Dona Flora trabalhava duro para sobreviver e pagar os estudos da fi lha. Esther, como a maioria das vedetes, estudou em colégio de freiras. Aluna aplicada, era apaixonada pelo regime religioso. Seu maior desejo era tornar-se freira. Esse desejo, entretanto, durou até o dia em que assistiu a um espetáculo de sapateado no Cine Colonial. Ficou encantada e quis aprender aquela dança. Tomou aulas com Mister Gus Brown, um dos maiores coreógrafos do país. Em pouco tempo dominou o sapateado e começou a se apresentar em shows junto com o grupo de alunas do Mr. Brown. Durante uma apresentação no Circo Dudu, foi notada por Walter Pinto. O empresário acabou levando todo o grupo para uma temporada no Recreio. Terminada a temporada, Esther foi a única que permaneceu no Recreio, contratada por mais três anos. Estreou como girl, na burleta Maria Gasogênio (1944), com Dercy Gonçalves capitaneando o elenco. Depois seguiram-se outras revistas como Momo na Fila (1944) e Bonde da Laite (1945). Após a experiência com Walter Pinto, Esther se manteve trabalhando como girl e bailarina. Era exímia sapateadora, algo incomum na época, o que despertava o interesse dos empresários. Seu primeiro destaque no teatro de revista aconteceu em 1950, quando passou a dançar na primeira fi la de girls, na revista Escândalos, 1950, da Companhia Bibi Ferreira. Em seguida passou a fazer parte dos famosos shows de Caribé da Rocha, no Copacabana Palace. Um de seus números mais famosos era o solo de rumba. Em 1953, como fi gurante na Tv Tupi, foi convidada por Mário Provenzano, diretor artístico da emissora, para se candidatar ao concurso de Miss Objetiva. Conquistou o primeiro lugar, após polêmica disputa com a atriz Taís Bellini. Esther passou de girl à estrela num piscar de olhos. Foi na revista Agora a Coisa Vai, com o cômico Silva Filho. Substituiu às pressas a vedete Siwa, que havia deixado a companhia dias antes da estreia do espetáculo. Seu tipo mignon e ingênuo, agradou em cheio. Seguiu em excursão com Silva Filho para São Paulo, onde atuou como primeira vedete no espetáculo Rumo a Brasília (1957), no Teatro Paramount. Recebeu, da imprensa, o Troféu Índio pelo desempenho no quadro Noiva, em que fazia um semi-strip-tease. A revista, estrelada por Consuelo Leandro, foi um dos maiores sucessos de Esther no gênero. Ainda em 1957 estreou como empresária teatral no Teatro São Jorge, no bairro do Catete. Montou dois grandes sucessos, Mulher Só de Lambreta e Folias no Catete. No elenco, Áurea Paiva, Augusto César Vanucci, La Rana e Dary Reis. No carnaval de 1958, participou pela primeira vez do desfile de fantasias do Teatro Municipal, com a fantasia Sereia. Um sucesso absoluto, tendo sido refeita anos depois no desfile do Hotel Glória, onde ganhou o primeiro lugar. Também construiu importante carreira musical como cantora de carnaval, a partir de 1959, quando gravou uma marchinha pela primeira vez. Logo em sua estreia no carnaval, ganhou o primeiro lugar com O Palhaço que é Ladrão de Mulher, divindo o prêmio com Moacyr Franco, que lançava o inesquecível Me Dá um Dinheiro Aí. Entre suas marchinhas mais populares estão, A Mulher do Padilha e Banheirinha do Neném. Com o fim do período áureo da revista, Esther teve que rebolar, literalmente, para se manter no meio teatral. Foi quando se consolidou como empresária. Montou elencos e excursionou bastante. Fez shows em praticamente todas as boates e casas noturnas cariocas, fazendo números de strip-tease, de muito bom gosto. Foi chamada de “Carlos Machado de Saias”. Um de seus espetáculos mais famosos foi Quanto mais pu...ra melhor, no início da década de 1970. Na década de 1970, voltou à televisão como jurada do programa do Chacrinha, nas Tv Globo e Tupi. Fez parte do júri do Velho Guerreiro, que a anunciava como: “Esther Tarcitano, a vedete que não entrou pelo cano!”. Foi como jurada do apresentador que Esther se consagrou com o bordão “Estou toda arrepiaaaaada!” Repetindo a frase, num tom manhoso, a cada vez que se encantava com um calouro. No cinema, Esther atuou desde a década de 1940. Foi figurante em diversos filmes como, O Ébrio (1946), Este Mundo é Um Pandeiro (1947) e Estou Aí (1949), onde participou de números musicais ao lado de Nelson Gonçalves e Emilinha Borba. Como atriz, estreou em Cais do Vício (1952), filme policial, no qual interpretava uma bailarina que se envolvia com o cantor Ruy Rey. Em 2004, fez uma rápida participação na divertida comédia O Diabo a Quatro. Em 1989, Esther conheceu o americano William Bender, durante viagem que fez aos Estados Unidos. No dia seguinte ao encontro, casaram-se em Las Vegas. Viveu durante alguns anos na América, onde fez vários programas de rádio em português e espanhol. Dois programas merecem destaque: Brasil e Portugal e Viva Las Vegas, que foram líderes de audiência e tinham sete patrocinadores. Como o show não pode parar, Esther Tarcitano continua bombando no Rio de Janeiro. Atuou durante cinco anos comandando o programa Sábado Gigante é o Show, na Rádio Carioca. Atualmente, atua como apresentadora de TV, na TV Comunitária do RJ. Esporadicamente produz shows, inspirados no teatro de revista, promovendo suas vedetes. LíLIAN FERNANDES Encantadora e Sexy Lílian Fernandes é o nome artístico de Adieme Pennacchi. Nasceu em São Paulo em 1935. Começou a carreira aos 18 anos, em São Paulo, quando foi selecionada por Alberto Cavalcanti (cineasta) para um filme. Este filme nunca chegou a ser rodado. Lílian foi ao teste para acompanhar uma amiga, escondida dos pais. Chegando lá, a amiga desistiu e ela fez o teste usando o nome artístico que a outra havia escolhido. Quando soube das aspirações da filha, o pai de Lílian a levou para a Europa esperando que mudasse de ideia. Mas não adiantou. Lílian foi trabalhar na companhia de Renata Fronzi e Cesar Ladeira, que foram pedir permissão ao pai da estreante. Ela estreou no Teatro Alumínio em São Paulo. A peça era Brasil 3000, de Haroldo Barbosa e Max Nunes. Depois foi para o Rio e excursionou por todo o Brasil na Companhia Fronzi-Ladeira. Começou como corista, lá no fundo. Depois, substituiu Consuelo Leandro num quadro com Rui Carrapeto. Em seguida, fez a comédia Assim de Mulher, com direção de Ruggero Jacobbi. O papel foi oferecido anteriormente a Renata, que recusou, e Ruggero perguntou: Cadê a menina do nariz arrebitado? O diretor deu o papel a Lílian que fez um enorme sucesso. O elenco contava com Agildo Ribeiro, Nick Nicola, Ruy Cavalcanti. No dia da estreia, no Teatro Dulcina, fez a primeira parte do prólogo e recebeu muitas palmas, sendo chamada à cena várias vezes. Ganhou o prêmio da APCT. Carlos Machado a chamou para trabalhar no espetáculo Banzo-aiê!, em 1956, com Grande Otelo, no Night and Day. Em seguida foi convidada por Geysa Bôscoli, mas Machado não a deixou ir. Só a liberou para trabalhar com Colé. Este a contratou para trabalhar no Follies, em Copacabana. Seus maiores sucessos foram: Frenesi; Assim de Mulher; Como Vencer na Vida sem Fazer Força, com Marília Pera, Procópio, Paulo Araújo; Banzo-aiê! (nessa peça voltou à cena oito vezes para ser aplaudida); Eu Vou pra Maracangalha. Seu grande sonho era fazer A Capital Federal, de Arthur Azevedo. Fez ainda as seguintes revistas: Todas Elas são Barbadas, com Isa Rodrigues, Suzy Montel; Tem Mulher? To lá! de J. Maia, Max Nunes e Meira Guimarães, em Portugal. Era considerada uma vedete de linhas modernas que dava a impressão de haver sido desenhada. Também era chamada a vedete das famílias. Ela fazia de tudo: número de plateia, cantava, dançava, números cômicos, escada... Participou, também, da peça Como Vencer na Vida sem Fazer Força (1964), adaptada por Carlos Lacerda. Ela fez o teste na casa do Lacerda, junto com a Marília Pera, Carmen Verônica e Billy Blanco (o astro principal). Fez quase cem espetáculos teatrais, além de ter atuado bastante no cinema. Quase foi eleita Rainha das Atrizes, mas como Colé era seu noivo e presidente do Retiro dos Artistas, ela achou melhor não fi car com o prêmio, pois iriam falar que era marmelada. No dia do seu casamento com Colé, a igreja estava tão lotada que a multidão até quebrou parte da igreja. Em uma entrevista, a sonhadora Lilian afi rmou que entre seus desejos estava o de tentar voar em seu automóvel à noite. Trabalhou na Companhia do português José Ferreira Filho, famoso na Praça Tiradentes e fazia a peça Tem Mulher?To lá! com EstherTarcitano, Dayse May. Gravou uma marchinha para Pelé, de A. Mattos e A. Gonçalves, S. Verol: Pelé! Pelé! Bota a pelota no centro Pelé! Pelé! Agora vai vender café! O mundo é uma bola Que gira no ar Plateias imensas O teu nome a clamar. ÍRIS BRUZZI A Rainha do Rebolado Íris Maria Bruzzi de Medeiros nasceu no Rio de Janeiro em 16 de fevereiro de 1935. Estava na praia quando foi descoberta pelo grande comediante Colé e sua mulher, a vedete Nélia Paula. Íris adotou o nome artístico de Paulette Marçal e estreou, como girl, na revista Carrossel de 53 (1953), contratada pelo empresário Zilco Ribeiro, no Teatrinho Follies. Por causa dessa decisão, a família fi cou quatro anos sem falar com ela. Íris estreou com 18 anos e aos 19 já estava casada com Walter Pinto. Com 20 anos, se tornou mãe. Foi Walter Pinto quem lhe defi niu o nome artístico Íris Bruzzi. Cinco anos depois, já estreava no cinema, com os fi lmes Massagista de Madame e Garota Enxuta. Trabalhou também com Carlos Machado, no espetáculo Vive les Femmes em 1961, na boate Night and Day. E claro, na companhia de seu marido Walter Pinto, o maior empresário do Brasil de teatro de revista, estrelando as produções O Diabo que a Carregue lá pra Casa (1961), no Recreio, e Caindo de Touché (1962), encenado no Teatro Jardel. Trabalhou com todos os grandes comediantes, como Grande Otelo, Ankito, Zeloni, Jô Soares, Zé Trindade, Paulo Celestino, Lúcio Mauro, Juca de Oliveira, Luiz Gustavo. Íris Bruzzi fez mais de 40 espetáculos teatrais em 55 anos de carreira. Os mais recentes são Amigas para Sempre, de Maria Adelaide Amaral, que ela fez com a amiga Carmen Verônica no Teatro Leblon (RJ) em 2006 e Subindo pelas Paredes (2007/2008). Além do teatro de revista, considera um dos grandes sucessos de sua carreira o espetáculo Piaf, sobre a vida da grande Edith Piaf. Este espetáculo ela fez com sua amiga Bibi Ferreira. Ficaram em cartaz – entre Rio, São Paulo e todo o Brasil – durante 6 anos. No teatro de revista, seu forte eram os números de plateia que (modéstia à parte) ela afi rma que fazia muito bem, pois sabia se comunicar como ninguém. Foi uma das Certinhas do Lalau pelo jornalista Stanislaw Ponte Preta. Em entrevista especial para este livro, Íris relatou uma curiosidade divertidíssima sobre a noite de sua estreia como vedete, o alto posto de consagração para uma atriz do Teatro Musical. O fato nos revela o bom humor e a alegria da mulher. Alegria que é sua marca registrada. Reproduzo: Estreei como vedete da Companhia Walter Pinto, na Revista O Diabo que a Carregue lá pra Casa. Todo o prólogo da peça era contando as coisas inventadas pelo diabo, até que ele fazia a sua maior invenção, que era a mulher. Quando comecei a descer aquela escadaria deslumbrante, toda iluminada, a plateia inteira aplaudindo, mais de 2 mil pessoas, comecei a fazer xixi, que foi escorrendo perna abaixo numa linda meia vermelha. Contratada há três anos pela TV Record, atuou na novela Vidas Opostas, com um lindo e hilariante papel. Fez, também, outro trabalho lindo na novela Chamas da Vida. Seu contrato foi, recentemente, renovado por mais seis anos. Na Globo, ela fez a novela Vale Tudo, de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres. E em 2005/2006, interpretou a Margarida, mais conhecida como Guida Guevara na telenovela Belíssima, de Sílvio de Abreu, ao lado de sua amiga Carmen Verônica, que interpretou Mary Montilla. Em cinema Íris ainda fez o famoso filme Amor, Estranho Amor, com direção de Walter Hugo Khouri, que a Xuxa fez e proibiu a comercialização. No elenco estão Tarcisio Meira, Vera Fischer, Mauro Mendonça, Íris, Xuxa e Rubens Ewald Filho. Com quatro filhos e quatro netos, a atriz foi casada com Walter Pinto, com o ator Nelson Caruso (já falecido) e com o ator Jorge Dória. O ser humano Íris Bruzzi é maravilhoso. Ela está sempre envolvida em ajudar o Retiro dos Artistas. Cristina Pereira, sua colega na Record, conta que ela está sempre levando cesta básica para os colegas aposentados. No ano passado, ela conseguiu da TV Record apoio para vacinar contra a gripe os moradores do Retiro. Terminada a entrevista, Íris deixou uma mensagem aos jovens: Como profissional, procure ser quase perfeita. Sua carreira é a sua vida. O palco é quase um santuário. E você – quando está atuando – é quase um deus, para quem está assistindo. Esqueçam essa bobagem que inventaram agora de celebridade. O que fica é o bom trabalho do bom profissional. Nada mais somos que operários da arte. Dê tudo de bom sempre para o seu público, e você terá dele sempre a melhor resposta: O seu aplauso, o seu respeito e o seu amor. WILZA CARLA A Vedete das Carnes Fartas Wilza Carla Rossi Marques di Brandizi Soares Pereira da Silva e Silva nasceu em Niterói (RJ), em 29 de outubro de 1934. Abandonada pelo pai biológico aos 3 anos, foi morar com o avô, José Soares Filho, ex-governador do Estado do Rio de Janeiro. Viveu como menina rica até os 12 anos, com chofer na porta e tudo. Foi interna no Colégio Sion (de freiras!). Viveu tempos também com a mãe e avó materna, que eram muito humildes. Wilza estudou balé desde pequena e era impressionantemente bonita. A adolescente, de corpo generoso e rosto perfeito, sonhava ser atriz. Mas esbarrava na resistência do avô, rígido e moralista. Aos 19 anos, na porta do Colégio Sion foi convidada, pelo diretor Carlos Manga, a participar do filme Chico Viola não Morreu, um drama musical da Atlântida que contava a vida do cantor Francisco Alves. Wilza, escondida da família, fez um pequeno papel na película protagonizada pelo galã Cyll Farney. Dois meses depois de terminadas as filmagens, seu avô faleceu e não lhe deixou um níquel de herança. A mocinha ficou pobre e livre para realizar o sonho de atriz. Correu a participar de concursos de beleza e chegou às finais do Miss Tijuca. Fez cursos com Sérgio Cardoso (no Teatro Dulcina) e no Teatro do Estudante. Fez uma personagem no espetáculo Comédia do Coração. Mas, pelo seu belo físico e pela espontaneidade, foi aconselhada a tentar o teatro musicado. Tentou por diversas vezes, sem sucesso, integrar o elenco das produções de Walter Pinto, no Recreio. O famoso produtor não aprovava as já avantajadas formas de Wilza. Sua carreira na revista começou timidamente: em palcos de teatros menores e casas noturnas, como a Boate Cinelândia, onde fez temporada em 1956, ao lado de Rose Rondelli. Destacou-se em Tutu à Mineira (1957), no Teatro Jardel, e em Carnaval na Ilha do Fogo, espetáculo que satirizava o famoso recanto naturista de Luz del Fuego. Sua carreira começou a ter expressão após as sucessivas vitórias em concursos de beleza. Em 1956 foi Rainha dos Comerciários; nos três anos seguintes (1957, 1958 e 1959) foi Rainha do Carnaval, do Rio de Janeiro. Contratada a peso de ouro pelo jovem empresário Fernando D’Ávilla, Wilza foi a segunda vedete do espetáculo Rei Momo em Baby-doll (1958 / Teatro Recreio), estrelado por Nélia Paula em produção de grande sucesso. Trabalhou na companhia de Colé, onde surpreendeu em Entrou de Gaiato (1959), aparecendo em alguns quadros cômicos e revelando seus talentos artísticos. Nos primeiros anos da década de 1960, alcançou o estrelato em turnês por Portugal, encabeçando o elenco de produções como Boa-noite, Lisboa e Pão, Amor e Reticências, com grande sucesso. Contracenou com Colé, Grande Otelo, Walter D’Ávilla, Zé Trindade, Ronaldo Lupo, Costinha, Zezé Macedo, Violeta Ferraz, Paulo Celestino. No cinema fez chanchadas ao lado de Zé Trindade e Ronaldo Lupo, em fi lmes como Genival é de Morte (1956); Tem Boi na Linha (1957). No fi nal da década de 1960, Wilza se revelou uma grande atriz. Participou do fi lme sueco Palmeiras Negras (1969), rodado no Rio. Já pesava 130 kg.Ganhou um prêmio de atriz no Festival de Palermo (Itália). Protagonizou o sucesso Os Monstros de Babaloo (1971), um fi lme polêmico, autoral e considerado o precursor do cinema erótico. Wilza fez expressiva carreira no cinema a partir da década de 1970. Seu tipo exótico acabou caindo nas graças dos diretores de pornochanchada, que exploravam seu lado cômico. Destaque para Seu Florindo e suas Duas Mulheres (1978); Ainda Agarro esta Vizinha (1974); Será que... Ela Aguenta (1977). A vida amorosa de Wilza Carla mereceria um capítulo à parte. Viveu intensamente seus amores e chegou a ser chamada de colecionadora de homens. Incapaz de manter longos relacionamentos era, constantemente, notícia em jornais e revistas. Prometeu escrever um livro sobre suas aventuras amorosas. Ficou na promessa. Na extensa lista estão políticos (um presidente, um governador de estado, um prefeito) – celebridades e ricaços. Ficou noiva várias vezes. Entre elas, com Carlos Gil (ator e transformista) e com Mauro Rosas (figurinista e famoso campeão de desfile de fantasias). Só se casou – no final da década de 1970 – com o pai de sua única filha (Paola), o modelo Paulo Bezerra. Wilza Carla sempre teve formas avantajadas, que lhe renderam fama. Era vedete para mil talheres. Tinha rosto absolutamente perfeito e se vestia muito bem. Seu luxuoso figurino era assinado por Carlos Gil, seu estilista e namorado. Envolveu-se, também, com políticos. Fazia a linha da vedeteescândalo, sinônimo de polêmica e símbolo sexual. Foi na segunda metade dos anos 1960 que começou a ganhar peso. Resolveu ser atriz e comediante. Fez televisão, teatro e principalmente cinema. Foi símbolo sexual nos anos 1970. Até o início da década de 1990 participava de novelas e programas de humor na TV. Durante uma temporada no Teatro Natal (SP), na década de 1960, Wilza percebeu que estava engordando demais. Procurou orientação médica e descobriu um comportamento anormal de suas glândulas, o que tornaria sua obesidade irreversível. Constatando que jamais poderia voltar à forma física que a consagrou, abandonou a carreira de vedete. Durante as filmagens de Minha Sogra é da Polícia (1958), Wilza recebeu o melhor conselho de sua vida. A comediante Violeta Ferraz, percebendo sua tendência para engordar, lhe sugeriu que tentasse carreira como caricata. Alegou que sempre haveria trabalho, mesmo quando envelhecesse. Em 1962, vendo que já não podia mais expor seu físico nas roupas sumárias de vedete, escondeu o corpo trajando as vistosas e elaboradas fantasias. Foi levada por seu noivo na época, o figurinista Mauro Rosas, para participar do desfile do Monte Líbano. Sua primeira fantasia foi a de Rainha dos Vampiros, ocasião em que extraiu dois dentes, para colocar dentes de vampiro, pontiagudos, no lugar. Levava a sério a disputa. Dentre suas mais famosas fantasias, destacam-se: Aquarela do Brasil, A Pequena Notável, Boneca de Piche, Sinfonia de Inverno, Folia, Alegria de uma Cidade. Wilza Carla também fez uma importante carreira na televisão. Começou como atriz em seriados na TV Tupi como A Família Boaventura (1956) e Falcão Negro (1956), no qual fazia uma vilã. Com o ganho de peso foi para a comédia, sendo muito bem-sucedida. Fez inúmeros humorísticos, sempre explorando sua obesidade. Usava maquiagem extravagante e perucas elaboradas, formando uma imagem bem exótica. Seu grande destaque foi na novela Saramandaia (1976), de Dias Gomes, em que imortalizou a Dona Redonda, que explodiu de tanto comer. Fez também Cambalacho (1986), de Sílvio de Abreu. Foi jurada de Silvio Santos e Chacrinha. A partir da década de 1980, Wilza começou a enfrentar sérios problemas de saúde. Tornou-se diabética, hipertensa e cardíaca. Adquiriu trombose nas pernas e ficou internada durante muito tempo. Com a ajuda de amigos, conseguiu pagar as despesas médicas e aos poucos foi se reerguendo. Pesando quase 200 kg, passou um ano na UTI, perdeu boa parte da memória e da fala e quase fi cou cega. A artrose nas pernas a impediu de andar. Passou a usar cadeira de rodas. Atualmente vive em São Paulo, com a fi lha Paola. Recuperou-se em parte: já consegue falar e tem um quadro de saúde estável. Sobrevive humildemente. Ainda não consegue se locomover e passa os dias na cama. O nome de Wilza Carla era um dos preferidos da imprensa sensacionalista. Viviam publicando inverdades sobre sua vida amorosa e, constantemente, era alvo de fofocas e calúnias. Um caso que rendeu foi quando a acusaram de ser o pivô do desquite de Carlos Gil e da vedete Rose Rondelli. Quando começou a engordar demais foi maldosamente apelidada de Moby Dick. Apesar das investidas cruéis e covardes da imprensa marrom, Wilza confiava no seu talento e nunca deixou se abater. Me considero linda do jeito que sou. Não me acho gorda, mas sim gostosa. Prefi ro ser obesa no corpo do que na mente. Sempre aproveitei bem as oportunidades que a vida me deu. Não sou atrasada nem nostálgica. O que passou, passou... Quero ser feliz hoje e agora. MARLY MARLEY A Vedete de São Paulo Marly deToledo (nome de batismo de Marly Marley, mesmo) nasceu em 5 de abril de 1938, em Três Lagoas, Mato Grosso. Mudou-se para Lins, interior de São Paulo, ainda pequena. Formou-se em magistério e também em psicologia, mas jamais exerceu essas profissões. O seu negócio era o palco. Antes da revista fez oito anos de balé clássico no Municipal, aprendeu a tocar acordeom, piano e fez aulas de canto. Na revista, estreou como girl, sem destaque nenhum, dançando na terceira fila. Começou bem jovem, em 1955. Espetáculo após espetáculo foi avançando no proscênio. Foi da terceira até a primeira fila de girls. Em pouco tempo já era vedetinha, participava dos números de cortina e quadros cômicos. O estrelato só chegou após alguns anos. Foi uma vedete essencialmente paulista, apesar de ter trabalhado no Rio de Janeiro. Segundo a artista, ela foi a única vedete que surgiu em São Paulo. Fez carreira nos mais importantes teatros da cidade. NoTeatro Natal fez espetáculos como Tá Rosa e não Está Prosa, ao lado de Zeloni e Renata Fronzi, e Precisa-se de um Presidente, com o cômico José Vasconcelos. Já estrela da revista, atuou em Vai Acabar em 69 (1963) e Pega, Mata e Come (1965), ambas no Teatro Avenida. Também fez espetáculos no Teatro das Bandeiras, destacando Só PorqueVocê Quer (1964) e Esta MostraTudo (1962). Fez produções próprias com os cômicos Gibe e Simplício. Em sociedade fizeram cerca de cinco revistas. Marly se despediu do gênero musicado por volta de 1965, quando esse estilo de teatro estava agonizando. Segundo ela, como ficou tudo na base do palavrão e praticamente sem nenhuma qualidade artística, desistiu de continuar atuando. Marly Marley também se destacou no teatro de comédia. Participou do clássico Dona Violante Miranda, em 1958, ao lado de Dercy Gonçalves. Também atuou em O Cunhado do Ex-presidente, de Aurimar Rocha, noTeatro das Bandeiras, em 1964. Até andou pela opereta, na companhia de Vicente Celestino e Gilda de Abreu Como cantora, lançou diversas marchinhas de carnaval, como Índia Bonitinha e Marcha da Baleia. No cinema se destacou nas comédias caipiras, bem populares, de Mazzaropi. Recentemente participou do longa Chega de Saudade, de Laís Bodanzky, com um enredo que fala da dança na terceira idade. Foi também fi gura importante na televisão. Participou da inauguração da TV Bandeirantes, e teve passagens por diversas emissoras importantes, como a TV Excelsior e a TV Tupi. Chegou a ter seu próprio programa. Marly é casada, há quase quarenta anos, com o comediante Ary Toledo, que se popularizou fazendo shows de humor e por ser um exímio contador de piadas. Ainda no teatro atuou como produtora e diretora de espetáculos como O Vison Voador. Participou como jurada de TV do programa Raul Gil, por mais de vinte anos, passando por emissoras como Record,Bandeirantes e SBT. BRIGITTE BLAIR A Vedete Empresária Cada país merece ter sua Brigitte1 Foi Sérgio Porto quem lhe deu o nome artístico declarando: Pelo fulgurante e fogoso surgimento da antes morena, agora loura, antes Wanda, agora BB. Dona de medidas certinhas, (1,68 m de altura, 57 kg e 70 cm de busto), charme irresistível, carinha de anjo e corpinho de madona. Brigitte Blair é o nome artístico de Wanda de Fátima Pereira. Ela nasceu sob o signo de Aquário, em Araguari (MG), ainda na década de quarenta... Desde pequena queria ser artista. Com 16 anos de idade foi para o Rio de Janeiro em busca do sonho. Seu primeiro emprego foi como balconista da loja Sloper, em Copacabana. Mas não ficou muito tempo, pois foi convidada por uma colega de trabalho a fazer um teste na Boate Pigalle, famosa por shows de strip-tease. A plástica perfeita da morena Wanda garantiu a contratação pelo empresário De Paula, o pioneiro do gênero strip-tease no Brasil. Com documentos falsos (pois era menor) estreou como strip-tease girl no show da madrugada da Boate Pigalle. Wanda destacou-se imediatamente, fazendo um tipo diferente de ingênua, em oposição às suas colegas do tipo vamp. Fez sucesso e, no mesmo ano, foi contratada por Fernando D’Ávilla para atuar no Teatro Recreio. Começou no teatro de revista como girl, em Te Futuco... num Futuca, em 1959, no Teatro Recreio. No elenco estavam Grande Otelo, Isa Rodrigues, Vagareza e a mulata Vera Regina. Brigitte se destacou no meio das colegas da fila de girls. No final da temporada já tinha sido promovida a vedetinha e, logo depois, ganhou suas primeiras falas. O espetáculo fez o maior sucesso de crítica e público. Ganhou quatro prêmios da Associação Brasileira de Críticos Teatrais. Com a grande visibilidade conquistada em Te Futuco... num Futuca, Brigitte foi chamada de new face de 1960, pela imprensa. 1 a frase é do stanislaw Ponte Preta, o sérgio Porto. Aí começou sua carreira na revista. Fez tanto sucesso durante a temporada de 1959 que entrou para o time das Certinhas do Lalau. Em 1960 fez duas peças: Rio, Amor e Fantasia e Quem é Esse Cara?, no Teatrinho Jardel. No elenco: Renata Fronzi, Zeloni e Isa Rodrigues. Nesse mesmo ano estreou no cinema, na chanchada Marido de Mulher Boa, ao lado de ZéTrindade. Em seguida, fez A Giripoca vai Piar, noTeatro Rival (RJ). Na temporada de 1961, Brigitte participou de Rei Momo em Travesti, no Recreio. A revista não foi nada bem, mas Brigitte subiu para a posição de segunda vedete do espetáculo que era encabeçado por Anilza Leoni. Pouco tempo depois voltou à boate com o show Vive les Femmes, de Carlos Machado, no Night and Day. Sucesso absoluto! No elenco só medalhões: Consuelo Leandro (no auge), Grande Otelo, Íris Bruzzi, Ruy Cavalcanti e atrações internacionais. Brigitte arrasou no quadro Meet me in Las Vegas. A sua grande chance foi em O Diabo que a Carregue lá pra Casa! (1961), de Walter Pinto e Roberto Ruiz, que ficou seis meses em cartaz. Era uma superprodução em dois atos com todo o luxo da estética Walter Pinto. No grande elenco, além de Brigitte, estavam Íris Bruzzi, Costinha, Afonso Stuart, Pedro Dias. Essa peça foi considerada como o último grande espetáculo de revista brasileiro. O ponto alto de sua carreira de vedete foi o espetáculo Quanto Mais Nua, Melhor (1965) de Walter Pinto, Gomes Leal e José Sampaio. Dividiu a cena com os prestigiados Colé, Silva Filho e Sônia Mamed, no Teatro Rival. Em 1965, Brigitte Blair, com apenas 23 anos de idade, lançou-se como empresária teatral. Produziu, no Teatro Serrador, a comédia Cala a Boca Etelvina, com Odilon, Waldir Maia e outros atores. Foi um fracasso. Sem se deixar abalar, montou Ascensão e Queda de um Paquera, de Paulo Silvino, com Jorge Dória e Henriqueta Brieba. Foi um dos maiores sucessos de sua carreira. Em seguida, voltou para o rebolado e fez É uma Brasa, Mora?, uma revista de bolso, no Teatrinho Miguel Lemos, em Copacabana. Mas seu caráter de empreendedora a empurrou, definitivamente, para a produção teatral. Alugou, de novo, oTeatro Serrador, e montou uma comédia, em 1966. A partir daí sua carreira empresarial deslanchou dividindo-se entre as duas casas: Serrador e Miguel Lemos. Mesmo montando comédias, Brigitte se manteve fiel aos brilhos e à sensualidade do teatro de revista. Montou Mamãe Passou Açúcar ni Mim (1966); Elas só Querem Bossas, com Nélia Paula; SexyTime.Também montou shows musicais com Maria Bethânia, Elza Soares e Rogéria. Acabou comprando o Teatro Miguel Lemos que passou a se chamar Teatro Brigitte Blair. Às voltas com o teatro de revista (que nem de longe lembrava o original), na década de 1970 lançou diversas produções de sua autoria, feitas de modo econômico, sem orquestra, apenas com o uso de fitas magnéticas (play-back). Seus títulos sempre foram carregados de malícia e de duplo sentido: Elas Querem é Poder; Elas Querem é Leite; O Rebu é Delas; Com um Grilo na Cuca; e Bye Bye Pororoca. Montou também espetáculos para crianças e lançou um novo gênero, que dizia ser derivado da revista: o de Travesti. Entre estes espetáculos estão Les Boys; Tutti frutti; e Mimosas... Até certo ponto, que fi cou mais de 10 anos em cartaz. Foi responsável pelo lançamento de Roberta Close no teatro. Em 1982, foi a vedete da revista Tem Embrulho no Pacote. Em 1984, comprou o Teatro Serrador transformando-o no Teatro Brigitte Blair II. No fi m dos anos 1980, desiludida com o Rio, arrumou as malas e foi para Miami, onde alugou um teatro, próximo a Downtown. Fez um sucesso relativo. Até meados de 1990, conseguiu manter seus três teatros. Em Miami, produzia shows e revistas com temáticas brasileiras, bem ao estilo pra gringo ver. A estrela de seus shows era sua fi lha Patrícia, que bem antes, aos 13 anos, já fazia as peças adultas da mãe. Brigitte preparou a filha para sucedê-la dizendo: tem ou não tem sangue de vedete? Em 2006, Brigitte reapareceu na novela Belíssima, de Sílvio de Abreu, ao lado de suas colegas vedetes. Brigitte, hoje, continua empresária: mantém ativos seus dois teatros com produções infantis suas, também disponibilizando-os para montagens adultas. ALBUM DE FIGURONAS Para você guardar com muito carinho e juntar às suas outras coleções de figurinhas. FINAL ESTRELAS BRILHAM... VEDETES ARRASAM! A figura da vedete está, historicamente, ligada ao teatro de revista. Também historicamente, esse tipo de espetáculo está vinculado ao Brasil, como o gênero mais expressivo, o que rendeu mais dinheiro e o que teve a maior plateia até 1960. Deus é brasileiro e esse é o melhor país que há! Eis a filosofia da revista até o momento em que ela não seria mais necessária, nem desejada. Quando a realidade se mostrou muito dura, o teatro do entretenimento se calou. Mas, curiosamente, quando a revista morreu, sobreviveu (ainda com força total) o sistema vedete. Enquanto o espetáculo grandioso se definhava nos teatros, as vedetes continuaram arrasando nas boates, nos shows, nos night clubs. Vedetes eram atrações pela sua natureza sensual, pela liberação dos desejos escondidos atrás do correto comportamento social. Sob o figurino do glamour, eram livres para provocar, parodiar, denunciar. E faziam teatro! Porque, apoiavam-se no jogo irredutível da teatralidade: o encontro direto com a plateia. Ser vedete era mais que personagem, ou tipo, ou função. Ser vedete era um estado: de se achar bonita, gostosa, poderosa, leve, bem-humorada, inteligente. Seu objetivo era fazer com que o público daquele dia nunca mais a esquecesse. E o que uma vedete fazia? Transmitia alegria luxuriante: a sensação de que a vida vale a pena ser vivida. Para o público, elas continuavam a ser vedetes em todas as circunstâncias da vida. Só para o público! Também encarnavam uma forma especial de vida, ao mesmo tempo real e ideal. Elas viveram em outro tempo. Não havia photoshop, nem silicone, nem cirurgias plásticas. Mas todas davam um jeito: quem tinha pouco peito colocava enchimento, quem não tinha bunda colocava atrás aquelas saias de babados, as baixinhas usavam plataformas. Nós nem pensamos mais nisso, mas, naquela época, quem matava onça e derrubava árvores era herói. Plumas de animais autênticas abasteciam os figurinos. Casacos e estolas de pele davam status. Hoje, isso tudo parece absurdo. Intelectuais sempre torceram o nariz para o teatro de revista. Não aceitavam a ideia de que pessoas precisam de espaços livres para o lazer. O que elas faziam era um teatro, aparentemente, para não dar muito trabalho ao cérebro. A noite era dedicada à bebida, ao encontro, à pura diversão, à liberação dos desejos. Aos pecados capitais. Não se sabe bem por que, mas intelectuais gostam de torcer o nariz à pura diversão. Foi assim desde o começo dessa história. E também se sabe muito bem que quando uma mulher bonita entra na história, de Machado de Assis ao mais austero prêmio Nobel, a situação muda e a atmosfera se torna leve e agradável. Sem psicologismos, homens se inspiram visualmente. E mulheres adoram ser admiradas. O teatro de revista acabou? No seu formato tradicional, sim. Mas o ser humano continua precisando da diversão que não dá trabalho ao cérebro. Aquela que apenas faz rir. Depois desse tipo de espetáculo veio o show de boate, em seguida o humorismo da TV. Hoje, ele migrou para o Youtube. Como no teatro de revista, você pode assistir a quadros isolados. Quer ver piada? Tem. Quer assistir a números musicais? Tem. Quer ver o motoboy? Quer ver sanduiche-iche? Quer rever o Tapa na Pantera, ou a pegadinha da sogra? É só clicar. O cômico Costinha, oriundo da revista, faz no youtube o maior sucesso. É só clicar e até Virginia Lane aparece cantando o Sassaricando! Há liberdade total. Até para o politicamente incorreto. O lugar da pura diversão e dos esquetes fragmentados não é mais proibido. Nada é proibido. Hoje as vedetes são outras. Mas elas existem, para que as nossas fantasias continuem a nos motivar. Estrelas brilham. Vedetes arrasam. As vedetes da nossa história arrasaram... enquanto se acreditava em pecado.  BIBLIOGRAFIA ABREU, Brício de. Esses Populares tão Desconhecidos. Rio de Janeiro: Raposo Carneiro, 1963. AMARAL, Maria Adelaide. Dercy de Cabo a Rabo. São Paulo: Globo, 5ª Ed. 1994. ANTUNES, Delson. Fora do Sério. Rio de Janeiro: Funarte, 2002. AUGUSTO, Sérgio. Este Mundo é um Pandeiro. São Paulo: Cia. das Letras, 1989. CABRAL, Sérgio. Grande Otelo: uma Biografia. Rio de Janeiro: Editora 34, 2007. CASTRO, Ruy. Ela é Carioca: uma Enciclopédia de Ipanema. São Paulo: Cia. das Letras, 1999. CHIARARDIA, Filomena. O Theatro São José: a Menina dos Olhos de Pascola Segreto. Unirio: 2001. GONZAGA, Alice. 50 anos de Cinédia. São Paulo: Editora Record, 1988 ASSIS, Machado de. Do Teatro: Textos Críticos e Escritos Diversos. Organização, estabelecimento de texto, introdução e notas de João Roberto Faria. São Paulo: Perspectiva, 2008.  ASSIS, Wagner. Renata Fronzi: Chorar de Rir. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado. Coleção Aplauso, 2005. MADEIRA, Ney. A Vedete da Madrugada: observação e análise dos figurinos femininos de Gisela para o Teatro da Madrugada. Dissertação de Mestrado. UniRio. 2006. NUNES, Mário. 40 Anos de Teatro. Rio de Janeiro: SNT, 1956. PAIVA, Salvyano Cavalcanti de. Viva o Rebolado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. PIPER Rudolf. Garotas de Papel. São Paulo: Global, 1976. 190 p. REBELLO, Luiz Francisco. História do Teatro de Revista em Portugal. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1982. REIS, Ângela. Cinira Polônio: a Divette Carioca. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1999. RUIZ, Roberto. Aracy Côrtes : Linda Flor. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1984. ______________.O Teatro de Revista no Brasil : do Início à Primeira Guerra Mundial. Rio de Janeiro: INACEN, 1988. SANTOS, Vitor Pavão dos. A Revista à Portuguesa. Lisboa: Ed. O Jornal, 1978. SOUZA, Marly Serafim de. Grande Othelo em Preto e Branco. Rio de Janeiro: Ultra-Set, 1987. 132 p. c/ fotos. VENEZIANO, Neyde. O Teatro de Revista no Brasil: Dramaturgia e Convenções. Campinas: Pontes, Editora da Unicamp, 1991. __________________. De pernas para o Ar: teatro de revista em São Paulo. Imprensa Oficial. Coleção Aplauso. 2008. __________________. Não Adianta Chorar: Teatro de Revista Brasileiro. Oba! Campinas: Editora da UNICAMP, 1996. Periódicos: A Cena Muda; Anuário do Retiro dos Artistas; Club dos Artistas; Dentro da Noite; Diário Carioca; Dionysos; Jornal do Povo; O Dia; O Globo; Palcos & Telas; Revista Carioca; Revista de Rádio; Revista Escândalo; Ronda da Noite; Última Hora. Depoimentos: Anilza Leoni (concedido a Daniel Marano e Luis Francisco Wasilewski) Brigitte Blair (concedido a Daniel Marano) Carmen Verônica (concedido a Luis Francisco Wasilewski) Dorinha Duval (concedido a Daniel Marano) Eloína (concedido a Luis Francisco Wasilewski) Esther Tarcitano (concedido a Luis Francisco Wasilewski) Iris Bruzzi (concedido a Luis Francisco Wasilewski) Isa Rodrigues (concedido a Daniel Marano) Janete Jane (concedido a Daniel Marano e Luis Francisco Wasilewski) Lilian Fernandes (concedido a Maira Mariano) Marly Marley (concedido a Maira Mariano) Mary Daniel (concedido a Daniel Marano) Roberto Ruiz (concedido a Neyde Veneziano) Salomé Parísio (concedido a Maira Mariano) AGRADECIMENTOS Agradeço ao CNPq, que me proporcionou levar avante este trabalho, parte do meu projeto de pesquisa denominado “A Atualização do Popular”. Agradeço, também, a todos os amigos que colaboraram com ideias, informações, depoimentos. São eles: Ana Paula Faria; Ana Claudia Nogueira; Auriel Martins; Argentina Ruiz; Caroline de Oliveira; Carlos Cirne; Eliana Rocha; Carmen Consuelo; Cláudia Daniel; Cláudia Márcia; David Barata Jr.; Edvaldo Trajano de Melo; Elaine Zanatta; Filomena, Chiarardia; Francisco Carlos de Souza; Gladys Natale; Griffe Rubinho, Isabela Pelegrino; J. Maia; João Roberto Faria; José Eduardo Vendramini; Kenedy Meirelles; Luis Sérgio de Lima e Silva; Marcelo Pestana; Márcia Cláudia Figueiredo; Maria da Glória Bräuniger; Maria Rachel Coelho Pereira; Maria Roseana Agra; Marta de Medeiros; Marilza Aparecida da Silva; Mauricéia Rocha; Meg Costa; Nelson Marzullo Tangerini; Monica Naidin; Neyde Galassi; Nicanor Antonio Ferreira; Nizo Neto; Orlando Miranda; Pamela Rocche; Paola Fayeza; Renato Fronzi Ladeira; Roberto Sécio; Sara Lopes; Silvio de Abreu; Silvio Dias; Suely Nogueira; Tania Brandão; Therezinha Marçal; Valéria Mendes; Vania Deutschmann; Veronica Fabrini. Um agradecimento especialíssimo aos meus pesquisadores colaboradores Um livro deste porte, ninguém faz sozinho. Para a realização efetiva deste projeto, contei com a colaboração valiosa de quatro pesquisadores dedicados, rigorosos, cheios de energia e totalmente entusiasmados com o tema. A participação deles – cada um a seu modo – foi absolutamente essencial para a estruturação, investigação e finalização do trabalho. Daniel Marano é um jovem pesquisador carioca, totalmente apaixonado por vedetes. Ele sabe tudo: datas, nomes, vidas, casos, espetáculos. Parece que toda a sua vida está circunscrita a este universo das estrelas do rebolado. O mais bonito de tudo é que Daniel adora suas amigas do Retiro dos Artistas, vai visitá-las regularmente e trata todas elas com imenso carinho. Supreendeu-me a sua disponibilidade a este projeto, pois – além de me oferecer dados, fatos e histórias – abasteceu-me com fotos de seu acervo tão carinhosamente organizado. Sua generosidade e gentileza me acompanharam (via Skype) durante os acertos finais e revisão. Daniel colaborou com várias pesquisas. Luis Francisco Wasilewski defendeu seu mestrado na USP sobre O Besteirol e o Teatro de Vicente Pereira. Foi assim que o conheci, pois eu estava na banca. Naquele dia mesmo fiz-lhe o convite, sentindo que falávamos a mesma língua e que entendíamos a divertida estética do teatro popular. Logo em seguida, descobri que ele morava em Porto Alegre e que era muito amigo da Eloína. Que prazer! Ele fazia pesquisa de campo consultando Eloína sobre todas as minhas dúvidas. Sempre pronto. Sempre solícito. Além de pesquisador, tornou-se meu amigo. Passamos juntos este carnaval: ele em Porto Alegre e eu em São Paulo, discutindo sobre vedetes pelo Skype. Maira Mariano também fez mestrado. Seu tema foi o teatro paulista. Interessada que estava em trabalhar com teatro popular, confiei-lhe determinadas tarefas muito difíceis. Maira é de São Paulo. Estava perto de mim. Ela entrevistou as vedetes de São Paulo e escreveu sobre elas. Depois, ficou encarregada da organização, pedindo autorizações e fotos. Maira foi se apaixonando e vibrava a cada entrevista e a cada autorização conseguida. Tivemos um contato direto, pois ela ia a minha casa e dava conta, de forma muito eficaz, do programa. Sander Nagy. Tudo começou com ele. Foi o primeiro a entrar nessa pesquisa. Não sei como, mas um dia me procurou para uma entrevistar sobre o teatro de revista. Falei muito (como sempre) e contei-lhe dos planos. Acho que foi há uns três anos. Ele me mostrou fotos que fizera no Retiro, contou-me, entusiasmado, da sua paixão por vedetes e se ofereceu como pesquisador. O projeto foi adiado e não nos encontramos mais. Foi em 2009 que no reencontramos. Estando em São Paulo, Sander me convidou para assistir a Anilza Leoni no CCBB. Mas naquele dia, ela foi internada. E estávamos juntos, decidindo realmente dar o start, quando o telejornal anunciou a morte de Anilza. Era 6 de agosto de 2009. Muito obrigada também à querida amiga e Professora Doutora Deolinda Catarina França de Vilhena que, em Paris, interrompeu seus trabalhos para escrever sobre Bibi e enviar-me seu texto com fotos e contatos da atriz. Obrigadíssima, ainda, à minha querida ex-orientanda Profa. Dra. Virginia Namur, que se doutorou na Unicamp com uma maravilhosa tese intitulada Dercy Gonçalves: o corpo torto no teatro brasileiro. Seria dela o artigo intitulado Dercy: a antivedete. Infelizmente, a filha de Dercy e seu advogado não autorizaram a publicação do belo verbete biográfico neste livro. Sem a cooperação destas pessoas empolgadas e eficientíssimas teria sido uma loucura de mais de dez anos. Com a ajuda delas, o livro ficou pronto! Valeu! Muito obrigada. ÍNDICE Carta ao Leitor Qual a Mais Bela? PRIMEIRA PARTE O Cenário Brasileiro de Pernas para o Ar 01. Aimée – O Diabo Loiro O Teatro de Revista no Brasil 02. Pepa Ruiz I – A Arquigraciosa A Virada do Século 1. Cinira Polonio – A Divette Carioca 2. Maria Lino – A Rainha do Maxixe 3. Otília Amorim – A Extraordinária 4. Margarida Max – A Rainha da Revista Carioca 07 Pepa Ruiz II – A Pavlova Brasileira 08. Aracy Côrtes – Linda Flor SEGUNDA PARTE O Luxo e o Sistema Vedete 1. Zaíra Cavalcanti – A Jambo de Olhos Verdes 2. Beatriz Costa – A Vedete dos Dois Países 3. Mary Daniel – Vedete por Conveniência 4. Isa Rodrigues – A Shirley Temple Brasileira 5. Celeste Aída – A Vedete que Amou a Vida 6. Mary Lincoln – A Apoteose Morena 7. Mara Rúbia – A Rainha das Escadarias 8. Virgínia Lane – A Vedete do Brasil 9. Salomé Parísio – A Número Um 10. Renata Fronzi – A Vedete Completa Os Anos 1950 e o Fim do Jogo 1. Elvira Pagã – The Original Bikini Girl 2. Luz Del Fuego – A Vedete Nudista 21 Zaquia Jorge – A Estrela de Madureira 1. Bibi Ferreira – A Vedete Bestial 2. Joana D’Arc – A Vedete Escultural 3. Siwa – A Rainha do Sex Appeal 4. Nélia Paula – A Vedete da Nova Geração 5. Anilza Leoni – A Vedete de Biscuit 6. Dorinha Duval – Delírio Moreno 7. Angelita Martinez – As Coxas mais Grossas do Rio de Janeiro 8. Rose Rondelli – La Rondelli 9. Eloína – A Vedete de 2 Milhões de Cruzeiros 10. Lya Mara – A Bonequinha Loura 11. Consuelo Leandro – A Impagável 12. Sônia Mamed – A Fabulosa Cheia de Graça 13. Carmen Verônica – A Rainha da Frescura 14. Janette Jane – A Caçula do Teatro de Revista TERCEIRA PARTE Censura X Revista 15. Esther Tarcitano – A Vedete que não Entrou pelo Cano 16. Lilian Fernandes – Encantadora e Sexy 17. Íris Bruzzi – A Rainha do Rebolado 18. Wilza Carla – A Vedete das Carnes Fartas 19. Marly Marley – A Vedete de São Paulo 20. Brigitte Blair – A Vedete Empresária FINAL Estrelas Brilham... Vedetes Arrasam! CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS Acervo Daniel Marano: 4a capa (Girls de Walter Pinto no espetáculo É Xique-Xique no Pixoxó,1960.TeatroRecreio.ColorizaçãoDanielMarano) 08, 20, 21, 31, 44, 55, 60, 61, 62, 68, 73, 74, 78, 79, 90, 93b, 96, 100a, 102, 104, 105, 113, 118b, 121, 122, 125, 126, 129a, 130b, c, d, 131, 133, 136, 142, 143a, 146, 151, 161, 162a, 163, 165e, 167, 169, 170, 171, 173a, 174, 175, 176a, 177, 179, 181b, 182b, 183, 186d, 188, 192, 193, 197, 199b, 218, 220, 224a, 225, 231, 234c, 241, 242, 243b, 245a, b, 248, 252, 257a, b, c, 261, 264a, c, 265, 263, 279k, l, m, 280d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, 281a, b, c, d, e, f, h, j, l, m, n, 285 Acervo Funarte: 23, 24, 26, 27, 33, 34, 37, 38, 41, 42, 45, 51, 65, 66, 67, 71, 72, 77, 81, 82, 85, 86, 87, 88, 89, 92, 95, 129b, 132, 137, 139, 140, 143b, 144, 147, 154, 156bcd, 159a, 162b, c, 164, 165, 181a, c, 182a, 186a, 190, 195, 204, 207, 208, 223, 226, 230a, 233, 234ab, 243a, 245c, 247, 249, 251a, 254, 255, 258, 264b, 266, 274, 277, 279a, b, c, d, e, f, g, h, i, n, 280a, b, o, 281g, i, k, o Acervo Argentina Ruiz: 47, 48, 49, 50 Acervo David Barata: 150, 153, 155, 239, 280c Acervo Carmen Verônica: 224bc, 230b Acervo Eloína: 198, 199a, c, d, 200, 201, 203 Acervo J. Maia: 53, 54, 56 Acervo Jaime Palhinha: 106 Acervo Lilian Fernandes: 247, 250, 251b, c Acervo Marly Marley: 268, 270, 271, 272, 273 Acervo Nelson Marzullo Tangerini: 279j Acervo Neyde Veneziano: 28 Acervo Roberto Sécio: 128 Acervo Salomé Parísio: 15, 107, 109, 110, 111, 112, 114, 115 Acervo Sander Nagy: 98a, 101, 103b, c, d, 129c, 130a, 134, 156a, 159b, 173b, 185, 199a, c, d, 210, 211a, 212, 213a, 215, 227 Acervo Therezinha Marçal: 91, 93a Fundo Zilco Ribeiro/Arquivo Edgard Leuenroth/UNICAMP: capa(vedete Fernanda Villamajor) 98, 99, 100b, 100c, 116, 118a, 119, 186bc, 187, 209, 217, 219, 228, 230c, 238 A despeito dos esforços de pesquisa empreendidos pela Editora para identificar a autoria das fotos expostas nesta obra, parte delas não é de autoria conhecida de seus organizadores. Agradecemos o envio ou comunicação de toda informação relativa à autoria e/ou a outros dados que porventura estejam incompletos, para que sejam devidamente creditados. Coleção Aplauso SéRIE CINEMA BRASIL Alain Fresnot – Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot Agostinho Martins Pereira – Um Idealista Máximo Barro Alfredo Sternheim – Um Insólito Destino Alfredo Sternheim O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias Roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger Anselmo Duarte – O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Antonio Carlos da Fontoura – Espelho da Alma Rodrigo Murat Ary Fernandes – Sua Fascinante História Antônio Leão da Silva Neto O Bandido da Luz Vermelha Roteiro de Rogério Sganzerla Batismo de Sangue Roteiro de Dani Patarra e Helvécio Ratton Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak – Fragmentos de uma vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra – Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person O Céu de Suely Roteiro de Karim Aïnouz, Felipe Bragança e Maurício Zacharias Chega de Saudade Roteiro de Luiz Bolognesi Cidade dos Homens Roteiro de Elena Soárez Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero O Contador de Histórias Roteiro de Luiz Villaça, Mariana Veríssimo, Maurício Arruda e José Roberto Torero Críticas de B.J. Duarte – Paixão, Polêmica e Generosidade Luiz Antonio Souza Lima de Macedo Críticas de Edmar Pereira – Razão e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda Leão Críticas de Ruben Biáfora – A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista – Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Os 12 Trabalhos Roteiro de Cláudio Yosida e Ricardo Elias Estômago Roteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade Feliz Natal Roteiro de Selton Mello e Marcelo Vindicatto Fernando Meirelles – Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano Fim da Linha Roteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Storyboards de Fábio Moon e Gabriel Bá Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Francisco Ramalho Jr. – Éramos Apenas Paulistas Celso Sabadin Geraldo Moraes – O Cineasta do Interior Klecius Henrique Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta Cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton – O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito Ivan Cardoso – O Mestre do Terrir Remier João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Antonio Garcia – Em Busca da Alma Feminina Marcel Nadale José Carlos Burle – Drama na Chanchada Máximo Barro Liberdade de Imprensa – O Cinema de Intervenção Renata Fortes e João Batista de Andrade Luiz Carlos Lacerda – Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla – A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Mauro Alice – Um Operário do Filme Sheila Schvarzman Máximo Barro – Talento e Altruísmo Alfredo Sternheim Miguel Borges – Um Lobisomem Sai da Sombra Antônio Leão da Silva Neto Não por Acaso Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Narradores de Javé Roteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu Onde Andará Dulce Veiga Roteiro de Guilherme de Almeida Prado Orlando Senna – O Homem da Montanha Hermes Leal Pedro Jorge de Castro – O Calor da Tela Rogério Menezes Quanto Vale ou É por Quilo Roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi Ricardo Pinto e Silva – Rir ou Chorar Rodrigo Capella Rodolfo Nanni – Um Realizador Persistente Neusa Barbosa Salve Geral Roteiro de Sergio Rezende e Patrícia Andrade O Signo da Cidade Roteiro de Bruna Lombardi Ugo Giorgetti – O Sonho Intacto Rosane Pavam Viva-Voz Roteiro de Márcio Alemão Vladimir Carvalho – Pedras na Lua e Pelejas no Planalto Carlos Alberto Mattos Vlado – 30 Anos Depois Roteiro de João Batista de Andrade Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende SéRIE CINEMA Bastidores – Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Série Ciência & Tecnologia Cinema Digital – Um Novo Começo? Luiz Gonzaga Assis de Luca A Hora do Cinema Digital – Democratização e Globalização do Audiovisual Luiz Gonzaga Assis De Luca SéRIE CRôNICAS Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças Maria Lúcia Dahl SéRIE DANçA Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo – Dança Universal Sérgio Rodrigo Reis SéRIE MúSICA Claudette Soares – A Bossa Sexy e Romântica de Claudette Soares Rodrigo Faour Rogério Duprat – Ecletismo Musical Máximo Barro Sérgio Ricardo – Canto Vadio Eliana Pace Wagner Tiso – Som, Imagem, Ação Beatriz Coelho Silva SéRIETEATRO BRASIL Alcides Nogueira – Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta – Circo e Poesia Danielle Pimenta Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior Federico Garcia Lorca – Pequeno Poema Infinito Antonio Gilberto e José Mauro Brant Ilo Krugli – Poesia Rasgada Ieda de Abreu João Bethencourt – O Locatário da Comédia Rodrigo Murat José Renato – Energia Eterna Hersch Basbaum Leilah Assumpção – A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu – Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau – Artista Múltiplo Leila Corrêa Renata Palottini – Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Abílio Pereira de Almeida Abílio Pereira de Almeida O Teatro de Alberto Guzik Alberto Guzik O Teatro de Antonio Rocco Antonio Rocco O Teatro de Cordel de Chico de Assis Chico de Assis O Teatro de Emílio Boechat Emílio Boechat O Teatro de Germano Pereira – Reescrevendo Clássicos Germano Pereira O Teatro de José Saffioti Filho José Saffioti Filho O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso – Pólvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora – Os Cantos de Maldoror – De Profundis – A Herança do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor – A Terra Prometida Samir Yazbek O Teatro de Sérgio Roveri Sérgio Roveri Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda – Quatro Décadas em Cena Ariane Porto SéRIE PERFIL Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Arllete Montenegro – Fé, Amor e Emoção Alfredo Sternheim Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros Rogério Menezes Berta Zemel – A Alma das Pedras Rodrigo Antunes Corrêa Bete Mendes – O Cão e a Rosa Rogério Menezes Betty Faria – Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati – Luz Natural Carlos Alberto Mattos Cecil Thiré – Mestre do seu Ofício Tania Carvalho Celso Nunes – Sem Amarras Eliana Rocha Cleyde Yaconis – Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso – Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Débora Duarte – Filha da Televisão Laura Malin Denise Del Vecchio – Memórias da Lua Tuna Dwek Elisabeth Hartmann – A Sarah dos Pampas Reinaldo Braga Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da Vida Maria Leticia Etty Fraser – Virada Pra Lua Vilmar Ledesma Ewerton de Castro – Minha Vida na Arte: Memória e Poética Reni Cardoso Fernanda Montenegro – A Defesa do Mistério Neusa Barbosa Fernando Peixoto – Em Cena Aberta Marília Balbi Geórgia Gomide – Uma Atriz Brasileira Eliana Pace Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no Ar Sérgio Roveri Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do Cinema Maria Angela de Jesus Ilka Soares – A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache – Caçadora de Emoções Tania Carvalho Irene Stefania – Arte e Psicoterapia Germano Pereira Isabel Ribeiro – Iluminada Luis Sergio Lima e Silva Isolda Cresta – Zozô Vulcão Luis Sérgio Lima e Silva Joana Fomm – Momento de Decisão Vilmar Ledesma John Herbert – Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa Jonas Bloch – O Ofício de uma Paixão Nilu Lebert Jorge Loredo – O Perigote do Brasil Cláudio Fragata José Dumont – Do Cordel às Telas Klecius Henrique Leonardo Villar – Garra e Paixão Nydia Licia Lília Cabral – Descobrindo Lília Cabral Analu Ribeiro Lolita Rodrigues – De Carne e Osso Eliana Castro Louise Cardoso – A Mulher do Barbosa Vilmar Ledesma Marcos Caruso – Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral – A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado – A Estrela, O Mistério Luiz Carlos Lisboa Mauro Mendonça – Em Busca da Perfeição Renato Sérgio Miriam Mehler – Sensibilidade e Paixão Vilmar Ledesma Naum Alves de Souza: Imagem, Cena, Palavra Alberto Guzik Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em Família Elaine Guerrini Nívea Maria – Uma Atriz Real Mauro Alencar e Eliana Pace Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Paulo Betti – Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José – Memórias Substantivas Tania Carvalho Pedro Paulo Rangel – O Samba e o Fado Tania Carvalho Regina Braga – Talento é um Aprendizado Marta Góes Reginaldo Faria – O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi – Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Borghi – Borghi em Revista Élcio Nogueira Seixas Renato Consorte – Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin – Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho – Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza – Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst – Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti – O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silnei Siqueira – A Palavra em Cena Ieda de Abreu Silvio de Abreu – Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Sônia Guedes – Chá das Cinco Adélia Nicolete Sonia Maria Dorce – A Queridinha do meu Bairro Sonia Maria Dorce Armonia Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodriguiana? Maria Thereza Vargas Stênio Garcia – Força da Natureza Wagner Assis Suely Franco – A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio Roveri Theresa Amayo – Ficção e Realidade Theresa Amayo Tony Ramos – No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Umberto Magnani – Um Rio de Memórias Adélia Nicolete Vera Holtz – O Gosto da Vera Analu Ribeiro Vera Nunes – Raro Talento Eliana Pace Walderez de Barros – Voz e Silêncios Rogério Menezes Walter George Durst – Doce Guerreiro Nilu Lebert Zezé Motta – Muito Prazer Rodrigo Murat ESPECIAL Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso Wagner de Assis Av. Paulista, 900 – a História da TV Gazeta Elmo Francfort Beatriz Segall – Além das Aparências Nilu Lebert Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Charles Möeller e Claudio Botelho – Os Reis dos Musicais Tania Carvalho Cinema da Boca – Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor – O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma – Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Mazzaropi – Uma Antologia de Risos Paulo Duarte Ney Latorraca – Uma Celebração Tania Carvalho Odorico Paraguaçu: O Bem-amado de Dias Gomes – História de um personagem larapista e maquiavelento José Dias Raul Cortez – Sem Medo de se Expor Nydia Licia Rede Manchete – Aconteceu, Virou História Elmo Francfort Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte Nydia Licia Tônia Carrero – Movida pela Paixão Tania Carvalho TV Tupi – Uma Linda História de Amor Vida Alves Victor Berbara – O Homem das Mil Faces Tania Carvalho Walmor Chagas – Ensaio Aberto para Um Homem Indignado Djalma Limongi Batista Imprensa Oficial do Estado de São Paulo diretor industrial TeijiTomioka diretor financeiro Flávio Capello diretora de gestão de negócios Lucia Maria Dal Medico gerente de produtos editoriais e institucionais Vera Lúcia Wey Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Veneziano, Neyde As grandes vedetes do Brasil / por Neyde Veneziano – São Paulo : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo ,2010. 300p. : Il. – (Coleção aplauso. Série especial/ coordenador geral Rubens Ewald Filho). Bibliografia. ISBN 978-85-7060-940-3 1.Teatro de variedades (casas noturnas, cabarés etc) – Brasil – História e crítica I. Ewald Filho, Rubens. II.Título. III. Série. CDD 792.70981 Índice para catálogo sistemático: 1. Teatro : Brasil : História e crítica 792.70981 impresso no brasil / 2010 Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional [Lei nº 10.994, de 14/12/2004] Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98 Proibida a reprodução total ou parcial sem a prévia autorização dos editores. 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