Louise Cardoso A Mulher do Barbosa Vilmar Ledesma Imprensa Oficial São Paulo, 2008 Governador José Serra Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Apresentação Segundo o catalão Gaudí, Não se deve erguer monumentos aos artistas porque eles já o fizeram com suas obras. De fato, muitos artistas são imortalizados e reverenciados diariamente por meio de suas obras eternas. Mas como reconhecer o trabalho de artistas geniais de outrora, que para exercer seu ofício muniramse simplesmente de suas próprias emoções, de seu próprio corpo? Como manter vivo o nome daqueles que se dedicaram à mais volátil das artes, escrevendo, dirigindo e interpretando obras-primas, que têm a efêmera duração de um ato? Mesmo artistas da TV pós-videoteipe seguem esquecidos, quando os registros de seu trabalho ou se perderam ou são muitas vezes inacessíveis ao grande público. A Coleção Aplauso, de iniciativa da Imprensa Oficial, pretende resgatar um pouco da memória de figuras do Teatro, TV e Cinema que tiveram participação na história recente do País, tanto dentro quanto fora de cena. Ao contar suas histórias pessoais, esses artistas dãonos aconhecero meio em queviviatoda uma classe que representa a consciência crítica da sociedade. Suas histórias tratam do contexto social no qual estavam inseridos e seu inevitável reflexo na arte. Falam do seu engajamento político em épocas adversas à livre expressão e as conseqüências disso em suas próprias vidas e no destino da nação. Paralelamente, as histórias de seus familiares se entrelaçam, quase que invariavelmente, à saga dos milhares de imigrantes do começo do século passado no Brasil, vindos das mais variadas origens. Enfim, o mosaico formado pelos depoimentos compõe um quadro que reflete a identidade e a imagem nacional, bem como o processo político e cultural pelo qual passou o país nas últimas décadas. Ao perpetuar a voz daqueles que já foram a própria voz da sociedade, a Coleção Aplauso cumpre um dever de gratidão a esses grandes símbolos da cultura nacional. Publicar suas histórias e personagens, trazendo-os de volta à cena, também cumpre função social, pois garante a preservação de parte de uma memória artística genuinamente brasileira, e constitui mais que justa homenagem àqueles que merecem ser aplaudidos de pé. José Serra Governador do Estado de São Paulo Coleção Aplauso O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, visa a resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cinema, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileira vem sendo reconstituída de maneira singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor. Um aspecto importante da Coleção é que os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo e biografado se colocaram em reflexões que se estenderam sobre a formação intelectual e ideológica do artista, contextualizada na história brasileira, no tempo e espaço da narrativa de cada biografado. São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas – analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos extrapolam os simples relatos biográficos, explorando – quando o artista permite – seu universo íntimo e psicológico, revelando sua autodeterminação e quase nunca a casualidade por ter se tornado artista – como se carregasse desde sempre, seus princípios, sua vocação, a complexidade dos personagens que abrigou ao longo de sua carreira. São livros que, além de atrair o grande público, interessarão igualmente a nossos estudantes, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Desenvolveram-se temas como a construção dos personagens interpretados, a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns dos personagens vividos pelos biografados. Foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Gostaria de ressaltar o projeto gráfico da Coleção e a opção por seu formato de bolso, a facilidade para ler esses livros em qualquer parte, a clareza de suas fontes, a iconografia farta e o registro cronológico de cada biografado. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sortilégios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que nesse universo transitam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de to-do o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Introdução Que atriz escolhe interpretar uma cachorra na comemoração de seus 25 anos de carreira? Louise Cardoso, sim senhor. Encantada com uma personagem canina, Louise fez de Sylvia um de seus sucessos. Muita gente não compreendeu essa escolha, peça-chave para entender a atriz, produtora e diretora, que no exercício de seu ofício prioriza o jogo lúdico, a brincadeira teatral. Diversão e arte. Passaram uns bons seis meses desde nosso primeiro contato e as entrevistas para esse livro. Às voltas com as gravações da novela Como Uma Onda, Louise esperava por uma semana com poucas cenas para conversarmos com calma, o que acabou não acontecendo. Nosso primeiro encontro só ocorreu nos últimos dias de junho 2005, quando a cidade maravilhosa vivia seus dias de inverno, com frio e chuva. Como boa carioca, Louise detesta frio e aproveitava sua primeira semana de folga, mas nem pense que o trabalho estava ausente de sua cabeça. Na semana seguinte, ela começaria a gravar um programa para tevê a cabo, pesquisava para uma peça que acabou não se concretizando por falta de tempo livre em sua agenda e já estava comprometida com a minissérie JK. Louise Cardoso não pára e simplesmente não consegue se imaginar sem fazer o que mais gosta: trabalhar. Às voltas com as rendas de bilro. Foi assim que a encontrei em seu apartamento carioca. O bilro era herança da mulher de pescador que viveu na novela. Adepta da meditação, encontrou no ato de fazer renda uma outra maneira de meditar. E não foi a primeira vez que incorporou algo de uma personagem; nos anos 80, ao interpretar uma taróloga na novela Champagne, começou a estudar tarô e esse conhecimento virou parte de sua vida. E recentemente teve aulas de pintura para a artista plástica da novela Páginas da Vida. Louise gosta de falar, conta histórias deliciosas, é brincalhona e seriíssima também. Costuma se lançar a todos os trabalhos que escolhe e foi assim com este livro. Antes de começarem as entrevistas, houve uma divertida troca de e-mails, o que estabeleceu uma certa intimidade, e quando ficamos cara a cara parecia que já nos conhecíamos de longa data. Foram três longas sessões seguidas, que começavam no meio da tarde e só acabavam quando estava escuro. O complemento veio depois via computador ou telefone. Louise mora em Copacabana, numa rua que é pura história, e da varanda de sua casa tem uma bela vista para um vasto pedaço de mata tropical, um daqueles arroubos da natureza de que só o Rio é capaz. Doida por verde, ela sempre namorou esse pedaço do bairro e faz sete anos reside ali, pertinho da rua onde nasceu. No final de 2007, Louise comemorou seus 30 anos de carreira com a montagem de Mãe Coragem e Seus Filhos, de Brecht. A peça era um de seus sonhos e ela a considera seu principal momento no teatro nesses anos todos. Agora, no último trimestre de 2008, concorre aos principais prêmios por essa atuação. Já em seu primeiro papel, o Gato na peça O Dragão, ela ganhou o prêmio de atriz revelação. Engana-se quem pensar que era um espetáculo infantil, tratava-se de uma fábula política que chegou até a enfrentar problemas com a censura, bem de acordo com o clima repressivo da primeira metade dos anos 70. Foi meio pelo lado da bagunça que o teatro começou a entrar na vida de Louise. É que ela costumava aprontar no colégio e para “domar” esse seu jeitinho lhe colocaram para organizar as peças que ali eram apresentadas. Logo estava no Tablado, a célebre escola de teatro de Maria Clara Machado (ela apontou o meu caminho na vida, me traçou a direção, ela diz) e não muito tempo depois ali dava aulas de improvisação. Ha-via pouca diferença de idade entre a professora Louise e seus alunos – ela chegou até a aumentar uns aninhos – e por suas mãos passou meia Globo, de Miguel Falabella a Fernanda Torres, para não estender muito a lista dos ex-pupilos. Teatro e Cinema vieram praticamente juntos, mas a televisão teve de esperar um pouco. É que como a turma do teatro nos anos 70, ela tinha preconceito com o veículo. Foi a convivência com Ziembinski, o diretor polonês, que acabou com essa resistência e lhe abriu novas portas. Louise tinha medo de virar “papel de bala” e por isso sempre esteve atenta às escolhas profissionais. Estava nas capas de revistas como a mocinha da novela ao mesmo tempo que comandava seu grupo de teatro alternativo e atuava em todos os filmes que lhe interessavam. Uma trajetória nada a ver com a busca pelo estrelato – e chegou a recusar a mocinha de uma novela das oito que Janete Clair criou para ela – Se vivesse aquela heroína eu teria de dar adeus para as minhas outras atividades todas. Logo depois, estava no humorístico Viva o Gordo, trabalhando com uma turma de comediantes fantásticos, como Jô Soares, Costinha e Henriqueta Brieba. O temperamento conciliador e a capacidade de entender a cabeça das pessoas a levaram a abraçar a produção de seus espetáculos, a partir de Fulaninha e Dona Coisa, montado em 1990. Desde então a Louise Cardoso Produções Artísticas está em plena atividade. O cinema é uma paixão e seu currículo tem 26 filmes, isso sem contar os curtas-metragens. E vem muito mais por aí. Em outubro de 2008 ela finalizava Do Começo ao Fim, de Aluisio Abranches e já se preparava para Tempos de Paz, de Daniel Filho, baseado na peça de Bosco Brasil. Entre os inesquecíveis está Leila Diniz. Mas como Louise Cardoso é uma criatura completamente peculiar, adivinhe em qual filme ela aprendeu muito sobre cinema? Foi em Os Vagabundos Trapalhões. Com o veterano J.B. Tanko descobriu tudo sobre lentes, numa espécie de cursos intensivos que ela, inventadeira de primeira, adora fazer. Outro capítulo é dedicado ao TV Pirata que inspirou o título A Mulher do Barbosa. Brinco que passei tanto tempo estudando teatro para ficar conhecida assim. Tanto tempo após o fim do programa ela continua sendo chamada assim nas ruas. O nome desse livro, aliás, demorou a surgir. Por algum tempo se chamou Mordida de Cobra, referência a um ditado antigo que seu pai usava para definí-la quando garota: elétrica, agitada, Louise parecia mordida de cobra. Mas o ditado se revelou enigmático e as pessoas não sabiam o que a expressão significava. Foi assim que voltamos a este A Mulher do Barbosa, que já tinha sido pensado lá no início e tem tudo a ver com a atriz que prioriza o jogo lúdico na arte de representar. Vilmar Ledesma Outubro 2008 P.S – Este livro é dedicado aos meus amigos e amores. Capítulo I Garota de Copacabana Garoto, Francisco de Assis Stolze Cardoso, meu pai, assistiu a um filme com Maurice Chevalier, que até pode não lhe ter deixado marcas, mas a trilha sim. Ele ficou encantado com uma música que ponteava a trama, um Foxtrote bem alegre, com o nome Louise e prometeu a si mesmo que se tivesse uma filha a chamaria de Louise. Passaram muitos anos, ele se formou em medicina, casou com a mineira Maria da Conceição Ferreira e num 17 de abril eu nasci – signo Áries, ascendente em Leão, lua em Aquário – e ele cumpriu a promessa. Meu único irmão, dois anos mais novo, se chama Wagner, que era o compositor preferido do meu pai. Criatura completamente musical, ele nos levava à ópera e lembro de mim bem pequena chorando numa parte de Tristão e Isolda. A paixão pela música nunca mais foi embora e isso vem do meu pai. Não admito vida sem música, fica tudo tão sem graça. Em teatro, o que eu mais gosto de fazer é musical e se tivesse muito dinheiro montaria um atrás do outro. Como isso não é possível, sempre dou um jeito de cantar uma ou duas músicas em minhas peças. Saí da casa de minha família com mais de 20 anos e fui morar em Ipanema, voltei faz sete anos a residir em Copacabana, o bairro em que nasci. Acho o máximo viver em Copacabana, me considero da turma da esquina. Gosto de ter tudo perto e aqui é possível ir a pé a muitos lugares. Meu irmão Wagner é economista, casado com a arquiteta Isabel Hernandez Cardoso e tem duas filhas: Júlia e Carolina, que é minha afilhada. Sou madrinha também de Antônia, filha da Glorinha Pires e do Orlando Moraes, meus compadres e amigos queridos. Sou totalmente apaixonada pelas minhas três meninas: Júlia, Carolina e Antônia, benza Deus! Quando criança eu morava num apartamento grande, com varanda, podíamos até criar animais. Em épocas diferentes circulavam lá em casa cachorro, gato, tartaruga, pombo e porco. Os pombos sujavam tudo, pulavam na mesa e tinham os nomes dos três mosqueteiros: Dartagnan, Portos e Aramis. Lembro de um aniversário em que ganhei de presente um carneiro e falei: que cachorrinho lindo! Sempre tive mania de bicho e natureza. No prédio onde morava, na minha infância, ha-via um pátio interno. Nessa área grande, eu e a criançada da vizinhança, brincávamos de tudo: pique, bandeira, queimado, vôlei, bandido e mo cinho, boneca; depois partíamos para a praia em bandos. E de noite sempre tinha arrasta-pé. Cabelo loiro pela cintura, vivia na praia o dia todo. Essa vida praieira só começou a cessar, quando entrei para o Tablado e descobri o teatro. A família inteira de minha mãe fazia teatro amador em Santana do Sapucaí, atualmente Silvianópolis, no sul de Minas, e dizem que ela era talentosa. Quem dirigia a turma era meu bisavô Horácio Guimarães, que era apaixonado por teatro e encenava dramalhões espanhóis. Ana Izabel Ferreira, minha avó, me falava sempre desses primórdios teatrais de nossa família. Eu era pequena e ficava fascinada. Os tempos de atriz amadora de mamãe ficaram restritos a Minas. Moça bonita, ela foi noiva, mas não se decidia a casar. Essa indecisão acabou quando conheceu Francisco, sete anos mais velho, e tomou rápido o caminho do altar, certamente encantada com o neto de alemães, que trocara a Bahia pelo Rio de Janeiro, onde se conheceram e se casaram. Minha mãe trabalhou muitos anos no Ministério da Fazenda. Capítulo II Jeitão Impressionável Adoro romances e se puder fico o dia inteiro com os olhos pregados nos livros. Isso vem desde garota e nunca vou esquecer das histórias de Monteiro Lobato e do encantamento que exerceram sobre mim. Outro romance que me deixou pirada foi O Morro dos Ventos Uivantes. É bom contar logo que sou muito impressionável, minha imaginação é uma coisa fantástica e quando criança essa característica atingia proporções ainda maiores. Há pouco tempo tive coragem para peitar o filme Carrie, a Estranha, o que considerei um feito, pois na época em que passou nos cinemas estive duas vezes na porta e desisti. Essas tentativas frustradas aconteceram graças a um namorado, Mauri Aklander, que estava louco pra ver esse filme, mas eu sempre desistia, porque sabia que ficaria sem dormir depois. Sérgio Britto teve a gentileza de me dar o livro O Silêncio dos Inocentes. O filme ainda não havia passado e comecei a ler sem saber do que se tratava. Quando percebi já era tarde para parar, e como não ia mesmo conseguir pregar os olhos, fiquei lendo a noite toda. Na manhã seguinte, cheguei à televisão com o olho arregaladíssimo, as pessoas me perguntavam o que tinha acontecido e, com a cara de quem participara de uma grande aventura, eu respondia: Li O Silêncio dos Inocentes. O livro é sempre mais forte do que o filme, principalmente para quem tem uma imaginação poderosa e vislumbra tudo muito pior. O que me deixa impressionada é terror psicológico, como em O Inquilino e O Bebê de Rosemary. Nunca assisti ao O Iluminado e faz algum tempo, comprei o livro, que continua virgenzinho, às vezes me pego olhando para aquele volume... Esse meu jeitão impressionável desaparece quando estou atuando. Aí não tenho medo de nada. A prova disso é que sempre tive medo de cachorro e rolei na grama com um imenso para me preparar para a peça Sylvia – mais adiante conto isso. Fico impressionada quando leio algumas histórias ou uma notícia. Foi assim com a tsunami. A vida inteira sonhei com aquela onda e as pessoas correndo e de repente meu pesadelo estava estampado na foto da internet. Fiquei muito impressionada. A paixão pelos livros me levou ao curso de Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro. O primeiro ano na faculdade foi excelente, mas a repressão política dos militares estava no auge e no ano seguinte os bons professores foram demitidos sob acusação de comunismo e substituídos por uma turma de gente empoeirada. No início, minha professora de literatura brasileira era Heloísa Buarque de Hollanda e eu a achava o máximo. Aquela mulher linda e carismática chegava na sala, tirava o sapato, acendia um cigarro e começava a falar de literatura. Eu ficava fascinada com Oswald de Andrade, o movimento antropofágico e a Semana de Arte Moderna. Latim e grego eram as duas cadeiras mais insuportáveis do curso. Todo empostado, o mestre de latim só conseguia provocar meu sono com seus ensinamentos. A repressão política teve a ver com minha decisão de abandonar a faculdade seis meses antes de concluir o curso. Mas o fundamental mesmo foi o conselho de meu pai: Você é atriz, por que vai querer um diploma de letras? Larga isso. Papai percebia como eu andava cansada, me dividindo entre a faculdade e o Tablado. Achei que ele estava certo. Mas o tempo de universitária foi proveitoso também, fiz curso de teatro do absurdo e comecei aí a pesquisa de personagens, que eu adoro fazer. Capítulo III Alegre e Triste Todo mundo tinha um conjunto nos meus tempos de adolescente e também passei por essa fase. Com quatro amigas, fazia barulho com a banda The Snakes, formada nas pegadas do grupo de meu irmão. Tocávamos mal, mas éramos bonitinhas, tínhamos cabelos compridos, o que facilitava na hora de descolar apresentações em clubes. Os Beatles estavam no auge e sempre fui beatlemaníaca de carteirinha. John Lennon era meu preferido, depois vinham George Harrison, Ringo Starr e Paul McCartney – hoje gosto dele, mas na época o achava caretinha. Fui 36 vezes assistir a meus amados em Os Reis do Iê Iê Iê, que passava no cine Ricamar, ao lado da casa de minha mãe. Entrava na sessão das 2 e saía às 8 horas, ia com as amigas e fazíamos a maior festa. Help também vi várias vezes. Já toquei violão bem e hoje, devido à falta de prática, toco mal. Mas quando estou com o instrumento gosto de cantar blues. Sou maluca por Muddy Waters e pelas cantoras Etta James, Koko Taylor e Janis Joplin. Koko veio por meio de Janis, que falava muito dela e depois de sua morte fui atrás das gravações da blueseira e descobri que elas cantam parecido. Em 2000 viajei para Nova York e o mote era uma apresentação de Koko Taylor por lá. Chorava copiosamente ouvindo aquela mulher cantar. Fernando Philbert, meu namorado na época, e eu éramos praticamente os únicos brancos na platéia, que nos acolheu maravilhosamente bem. Gosto de blues porque fico triste e alegre ao mesmo tempo. Blues serve para tudo e cai bem em qualquer estado de espírito. Também adoro rock, sou roqueira, gosto das bandas antigas e pouco conheço das novas. Fiz uma participação num filme com roteiro muito simpático e que demorou para ser lançado. Chama-se 1972 e esse nome foi um dos motivos que me levaram a aceitar o convite, além do fato de que tinha muito Rolling Stones na trilha sonora. Foram dois dias de filmagem e interpreto uma diretora de colégio bem reacionária, que não pode nem ouvir falar de rock and roll, mas depois passa por uma mudança. Capítulo IV Sexo Alemão Foi meio pelo lado da bagunça que o teatro começou a fazer parte do meu cotidiano. E isso nos meus tempos de aluna do Colégio Estadual Pedro Álvares Cabral, onde cursei ginásio e clássico – o primário foi no Cícero Penna, também escola pública. A colegial Louise era uma peste, armava coisas inusitadas, absurdas e que davam a maior confusão, mas fazia a linha sonsa e ninguém sabia que bolava as bagunças. Certa vez inventei que um professor alemão ia falar de sexo em uma determinada sala e passei a semana inteira alardeando o evento. A idéia veio de Uma Noite na Ópera, filme dos Irmãos Marx, onde numa seqüência vai entrando um monte de gente num camarim pequeno e depois que já está apinhado até não caber mais uma agulha, alguém abre a porta do lado de fora e todo mundo que está dentro não pára mais de cair. Adorava essa parte e queria ver aquilo ao vivo e a cores. No dia e hora marcados, o colégio estava um alvoroço e só ouvia comentários entusiasmados quero ficar na frente pra ouvir o alemão falar de sexo. Rolavam brigas na disputa por lugares e eu adorando aquele clima. O mais divertido foi ver a cara dos inspetores ao encontrarem todas as outras salas vazias. Apenas a da conferência, escolhida estrategicamente no final do corredor, estava repleta. Quando eles abriram a porta, nunca vi sair tanta gente. Levei uma suspensão, mas aquilo não me deixou nada triste, muito pelo contrário. Aproveitei o dia sem aula para uma ida a Paquetá, andei de bicicleta e voltei felicíssima, queimada de sol. Depois disso, a diretoria resolveu me enquadrar de outro modo e sem ter como recusar virei a responsável pelo teatro do colégio, com a missão de encenar algo toda sexta-feira. Fiz adaptações de Monteiro Lobato e até de Procura-se uma Rosa, peça do Gláucio Gil, e aquilo começou a dar certo. Canalizei toda a minha criatividade, me dediquei completamente e sentia enorme prazer nisso. Ia ao teatro desde menina, acompanhada pela melhor amiga de minha mãe, Esther Magnavita. Eu era fã de Carlos Alberto e Yoná Magalhães, que conhecia da novela Eu Compro Essa Mulher. Lembro até hoje da trilha musical, um assobio triste que tocava na abertura. Passei a acompanhar Carlos Alberto e Yoná e fui ao Copacabana Palace assistí-los numa comédia que me marcou bastante, infelizmente não lembro o nome. Minha família morava perto do Copacabana Palace e eu ia lá brincar com minhas amigas. Entrava pela porta dos atores, ficava correndo lá dentro e sempre aparecia alguém para me dar alguma bronca. No dia seguinte estava lá outra vez, correndo e rindo. Outra peça a que assisti quando criança e me marcou muito foi Negra, meo Bem, com a mulata Aizita Nascimento. Mas a que me levou a ser atriz foi Galileu Galilei, montagem do Oficina, o grupo paulista do José Celso Martinez Corrêa, com Renato Borghi, Claudio Corrêa e Castro e Ítala Nandi. Assisti cinco vezes. Ia com uniforme do colégio, levei meu pai, depois minha mãe e a turma da escola. Na quinta vez eles me deixaram entrar sem pagar. O Rei da Vela, Gracias Senior e Na Selva das Cidades foram outros espetáculos do Oficina que me impactaram. Nunca vou me esquecer de uma cena de Na Selva das Cidades em que eles cavavam durante minutos, sem falar nada, depois desenterravam uma bandeira com a foice e o martelo. Eu assistia fascinada. Hoje é Dia de Rock e A China é Azul, montagens do Teatro Ipanema, também fizeram minha cabeça. No colégio, as pessoas começaram a gostar dos pequenos textos que eu montava em uma semana, movida apenas pela intuição. Em janeiro de 1970, me falaram do Tablado, fui fazer curso de férias e tinha aula de segunda a sexta com Maria Clara Machado. De início, disse que estava interessada em dirigir, mas não era nada disso; queria mesmo ser atriz e não tinha coragem de revelar. Capítulo V Surpresas A primeira imagem que me vem do Tablado é a do palco vazio e a fascinação que aquele espaço me causou. Bibi Ferreira diz que nada pode ser mais solitário que um palco vazio. Mas o que mais me marcou foi no primeiro dia de aula, quando Maria Clara fez a seguinte observação: O pintor lida com as tintas, o músico com os instrumentos, o escritor com as palavras e o teatro com gente. Meu maior interesse sempre foi as pessoas, a vida inteira soube disso. Quando Maria Clara falou que ator tinha que gostar de gente, aquilo me bateu. Nas aulas da Maria Clara, os alunos improvisavam em cima das histórias que ela contava. Não conseguia seguir o roteiro, mudava a história toda, e não porque queria ser melhor do que ninguém, aquilo era mais forte do que eu. Eram exercícios simples e eu acrescentava elementos fantasiosos. Louise, você tem muita imaginação. Não é possível que não consiga apenas tomar um chá, observava a professora, que apelidou meu grupo de Noviças Rebeldes. Até hoje, quando começo a ensaiar invento um detalhe, no dia seguinte, outro completamente diferente, depois, outro... Sorte que no teatro existe um texto e quando o espetáculo estréia cessam as improvisações. Maria Clara era muito carismática, cheia de emoção e extremamente engraçada. Nós a adorávamos. Eu me lembro que, às vezes, ela dirigia com um tambor, para nos ensinar o ritmo da cena. Muitas vezes subia no palco e fazia a cena para nos mostrar como deveria ser: um show. Ela fazia de maneira over para que não pudéssemos imitá-la, e assim entendíamos o que ela queria sem muitas explicações, além de darmos boas gargalhadas. Maria Clara apontou o meu caminho na vida, me traçou a direção, e jamais saiu de perto de mim. Em 1974, Maria Clara ficou com hepatite e passei a dar aulas no lugar dela. Eu já era do elenco do Tablado, fazia Pluft, o Fantasminha e, de noite, Vassa Geleznovna, peça do dramaturgo russo Maximo Gorki. Louise, você vai dar aula, ela me disse. Levei um susto, falei que não podia e ela demoliu meus argumentos, acenando para meus poderes de imaginação, criatividade e liderança. Ia sempre visitá-la, morria de medo de pegar hepatite, ficava longe – até hoje tenho horror dessa doença, que poderia me fazer parar de fazer o que mais gosto, trabalhar. Contava-lhe minhas atividades com os alunos, ouvia que devia trabalhar tal coisa, anotava tudo e, claro, mudava tudo depois. Todo dia preparava minhas aulas em casa e quando chegava ao Tablado inventava outros caminhos. Adoro dançar, fiz dança moderna, jazz, balé clássico, sapateado, dança flamenca, o que me deu um grande preparo de corpo. A primeira parte de minhas aulas era dedicada a trabalhos corporais e depois partia para exercícios de improvisação. Mímica, não sei explicar como sei, mas sempre soube. Bons tempos aqueles como professora. Estudava havia quatro anos com Maria Clara e estava em pleno processo de descoberta do teatro. Os alunos eram praticamente da minha idade e fomos descobrindo as coisas juntos. A aula fervia e nessa minha primeira turma não faltavam pessoas muito criativas, como Miguel Falabella. Ele inventou a Bete Calcinha, uma garota de programa debochada que entrava no meio de qualquer exercício, interferindo e mudando rumos. A entrada de Bete Calcinha levava para um caminho mais de comédia, mais agressivo e, às vezes, eu pedia para um aluno combatê-la com outro personagem. Curada da hepatite, Maria Clara resolveu aparecer de surpresa para assistir a minha aula. Só que nesse dia os alunos também tinham me preparado uma: os homens se vestiram de coelhinha da Playboy e as mulheres trajavam ternos. A turma apresentava um show muito engraçado e picante. Lembro de Patrícia Travassos interpretando um homem, e estava fazendo muito bem; os garotos dando pinta de coelhinhas e Bete Calcinha reinando absoluta. Miguel era noivo na época e sua noiva assistia a minhas aulas, ria às gargalhadas e era sua maior fã. No final da aula, rindo, olho para trás e ao dar de cara com os olhos verdes de Maria Clara pensei pronto, estou demitida. Que nada! As peças que montava com os alunos ficavam em cartaz no Tablado durante um mês. A Bruxinha que Era Boa e Pluft, o Fantasminha são dessa época, e Maria Clara deu o nome de Tabladinho para as montagens que eu dirigia com os alunos menores. Sua sobrinha Cacá Mourthé fazia parte desse grupo e sempre foi talentosa. Depois da temporada no Tablado, nossos espetáculos migravam para teatros profissionais, como o Cacilda Becker, e lotavam. Para trabalhar a comédia e estimular a imaginação dos meus alunos, bolei alguns tipos de teatro que acabaram funcionando e ficaram populares no Tablado. Um deles é o Teatro Incômodo Gestual Natural, que funciona mais ou menos assim: executar uma ação, por exemplo, amarrar um sapato, e permanecer na posição. Depois continuar se movimentando nessa posição de amarrar o sapato, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Quando conseguiam fazer direito, ficava curioso e engraçado. O Teatro Simpático Risual Natural é mais fácil de explicar: a máscara é sempre o riso não importa o que se está sentindo. Se alguém está com ódio, tem que sorrir e falar rindo; só os olhos e a postura de corpo devem mostrar esse ódio. O riso não pode ser falso, tem de ser natural. Não é fácil não, mas já demos boas gargalhadas com esses teatros. Eu gostava de estimular a imaginação dos meus alunos e não faltava gente criativa: Marcelo Serrado, Drica Moraes (que me matava de rir e, às vezes, fazia a gente chorar também), Enrique Dias, o saudoso Luiz Carlos Tourinho, Malu Mader, Maria Padilha, Lúcia Veríssimo, Luiza Tomé, Felipe Camargo, Patrícia Pillar... No final dos anos 70 e começo dos 80, criamos o Diz Ritmia, que começou no Tablado, e depois o Los Mendigos. Era o tempo dos grupos. Com mímica e som, a matéria-prima do Diz Ritmia eram cenas do cotidiano – o absurdo por trás delas e até onde podiam ir. Os alunos iam improvisando e dali a pouco virava um espetáculo. Sempre tinha muito sexo e Maria Clara reclamava dos palavrões. Por que tudo que você encena tem muito sexo?, ela me perguntava e eu dizia que era a época. Foram quatro espetáculos com o Diz Ritmia. Eu não trabalhava como atriz, só dirigia. O musical Atrás da Trouxa tinha a maravilhosa Catarina Abdalla. Outra que arrebentava no grupo era Fernanda Torres, no auge de seus 14 anos. Fernandinha sempre foi engraçada, e tinha facilidade para mímica. Havia uma cena bárbara no Diz Ritmia, em que ela, sozinha no palco, entrava num bar lotado. Ela fazia com perfeição, andando entre as cadeiras, a gente conseguia visualizar o bar lotado, e quando finalmente conseguia chegar onde queria, vinha a vontade avassaladora de fazer xixi e ela tinha de percorrer o caminho de volta, pois o banheiro ficava no lado oposto. Uma vez Fernanda Montenegro me deu um presente, um broche lindo que sempre uso, e disse: Isso é pela Nanda. Adoro a Fernandinha, seu humor cáustico, e não perco nada do que ela faz. Dei aulas de improvisação por 12 anos, mas não me sentia na época, e acho que ainda não me sinto, com capacidade de dar aulas de teatro. Sou capaz de montar uma cena porque sou diretora de teatro, mas a parte teórica é outro departamento. Li Stanislavski e outros teóricos, adoro teatro do absurdo, mas o que eu fazia era mais imaginação, mais criatividade. Aprendi teatro fazendo. Dirigir, não me peça para explicar, sempre soube. Sem falsa modéstia: dirijo bem, mas não gosto. Sou perfeccionista e quando dirijo sofro muito, vou ao fundo do poço, fico mal. Como atriz a história é diferente, pois não estou me vendo, não sei o quanto estou canastrando. Meus filmes assisto uma vez, não fico revendo; e novela só ali na hora, depois de gravar, para ver o tom. Não é que não goste de novelas, vejo pouco por falta de tempo, já que priorizo a leitura. Maria Clara me ensinou muito e duas coisas fundamentais: amar o teatro e ter disciplina. Sem esse amor, sem essa disciplina, eu não poderia produzir da maneira como faço nesses últimos 18 anos. E nem trabalhar como trabalho, pois esse amor que tenho pelo teatro levo para a televisão, para o cinema, para tudo o que faço. Sempre fui animada, mas esse amor, esse entusiasmo, foi Maria Clara Machado quem me passou. Capítulo VI O Gato Meu forte mesmo é minha expressão de corpo. No início, era muito elétrica, desconjuntada e Maria Clara me preparou muito bem. Um dos meus primeiros vôos como atriz foi ao interpretar o gato da peça O Dragão, em 1975, com direção dela. Queria um profissional de corpo me trabalhando para fazer um gato mesmo e aí veio o Michel Robin, bailarino do grupo Curinga. E arrumei um gato de verdade que batizei de Tati, em homenagem ao escritor Aníbal Machado, pai de Maria Clara. Ficava o dia inteiro com Tati, imitando todos os movimentos e travessuras felinas, até que ela teve certeza de que eu era uma gata também, me unhava, me atacava, corria. Chegava em casa e já a encontrava doida para pular em cima de mim. Treinei muito com Tati. O mais interessante é que na peça o gato não tinha sexo definido. Isso é comum, os gatos enganam a gente, nunca sabemos se é um gato ou uma gata. Era uma personagem interessantíssima com um lado masculino forte e, ao mesmo tempo, muita feminilidade. Fábula política, O Dragão tinha mais de 20 personagens e tradução de Maria Julieta, a filha de Carlos Drummond de Andrade. O poeta assistiu ao espetáculo mais de uma vez e gostou do gato que eu interpretava. Os cenários e figurinos eram do Luis Carlos Ripper, que criou uma cidade feita com caixinhas de sapato iluminadas por dentro. Carlos Wilson da Silveira (o Damião) interpretava o dragão, que aparecia por trás da cidade, com umas pernas enormes e numa cena eu passava por baixo da perna dele e o desequilibrava. No elenco estavam Sura Berditchevsky, Bernardo Jablonsk, Bia Lessa, Renato Coutinho, Milton Dobbin, Miguel Falabella, Toninho Lopes, Cacá Mourthé, Germano Filho, Marcos Toledo... O Dragão sofreu dezenas de cortes da censura, quase todos em cima do gato. Mas, durante a temporada, todas as cenas podadas foram voltando. Com essa peça ganhei o prêmio de atriz revelação. Na bipolaridade dos anos 70, quando se era contra ou a favor, viriam mais encontros com a tesoura dos censores. Era o sabor dos tempos. Um dos nossos espetáculos abortados pela censura foi A Ilha do Quintal, que falava da história do Brasil, da ditadura dos militares. Sura Berditchevsky, José Lavigne, Cacá Mourthé estavam comigo nesse espetáculo, com texto e direção de João Carlos Motta. Depois de oito meses de ensaio, veio a proibição total e uma foto com um machado pairando sobre nossas cabeças foi parar nas páginas do Jornal do Brasil. Sou traumatizada com o negror desses tempos, que traziam consigo a sensação de impotência. Dependências de Empregada, com meus colegas tabladianos Carlos Wilson e Sura, foi outra vítima dos censores. Eu não estava no elenco dessa, mas saí de Ouro Preto, onde filmava O Seminarista, para fazer uma surpresa e conferir o trabalho da turma. Assim que entrei no teatro vi Maria Clara com uma expressão preocupada, me avisou que o espetáculo estava censurado e que o elenco ainda não sabia. Depois a peça foi liberada. Capítulo VII Vida e Morte Maria Clara gostava muito de gente, e pare-cia seguir os passos de seu pai, que promovia domingueiras freqüentadas por artistas e intelectuais na sua casa em Ipanema, nos anos 40 e 50. Adoraria ter participado dessas reuniões, devia ser uma época muito criativa. Agora, se fosse brincar de máquina do tempo e escolher quando nascer, não hesitaria em apontar o ano de 1900 e isso para ter 20 anos na década de 20, os famosos anos loucos que me fascinam de um jeito todo especial. Sempre achei a morte instigante e costumava conversar sobre o tema com Maria Clara, quando ela já estava doente. Estudo tarô e nesse jogo a morte e a vida funcionam como uma roda que sempre se completa. Maria Clara morreu em 2001, o crítico Leonel Fischer e eu estávamos com ela e eu segurava suas mãos. Fazia algum tempo que ela andava muito doente e teve um dia em que melhorou bem. Fui visitá-la de manhã, vi a melhora e fui gravar a novela Porto dos Milagres. No estúdio, recebi uma ligação de Leonardo Brício, me chamando, pois ela iria morrer. Estava em todas as últimas cenas do dia e não daria tempo de chegar, mas de repente, tudo mudou, fui liberada e às sete e meia da noite cheguei em sua casa. Quando entrei, apagou a luz do quarto dela, só do quarto, as pessoas saíram e ficamos apenas Leonel e eu. Quando a luz voltou, ela estava com respiração ofegante, as pessoas entraram no quarto, começaram a rezar a Ave Maria, e eu ali, meditando. De repente vi que ela teve um espasmo e morreu. Não tive medo nenhum, achei linda aquela passagem. E vendo-a ir embora, falava por dentro, não tenha medo, Maria Clara, você vai ser feliz, mentalizava isso. Ela foi uma artista brilhante, ensinou muita gente e teve uma vida transparente, limpa. Os seus filhos mais queridos estavam juntos com ela no dia mais importante de sua vida: o dia de sua morte. Foi inesquecível. Acho que ela deve realmente estar muito feliz. Capítulo VIII O Rumo das Coisas Saí do elenco do Tablado em 1976 para participar do Asdrúbal Trouxe o Trombone e para trabalhar com Ziembinski. Não teria como conciliar todas essas atividades, fui falar com Maria Clara, chorei, ela entendeu muito bem, disse que eu já era uma atriz e estava mesmo na hora de me profissionalizar. Continuei dando aula até 1986, mas nunca deixei de freqüentar o Tablado. Antes de Maria Clara adoecer, planejamos uma nova montagem de Pluft, o Fantasminha, com direção dela. Claudia Abreu faria o papel-título, que eu vivera lá no começo da minha carreira e agora eu interpretaria a mãe. Sempre adorei essa personagem, que na minha visão não era uma dona de casa tradicional, aquela mãe com óculos, mas uma estrelona, a típica mãe de astro mirim, que quer aparecer mais que o verdadeiro artista. Bom, Maria Clara adoeceu e não pôde dirigir, Claudia teve a filha Maria e nossa montagem não se concretizou. O tempo passou e em 2003, o Tablado estava na maior crise financeira, Maria Clara tinha morrido e voltou a idéia de montarmos a peça, com direção de Cacá Mourthé, sobrinha de Maria Clara, que dirige o Tablado. Pluft foi um grande sucesso, os cofres ficaram cheios, Claudia Abreu ganhou prêmio de melhor atriz e eu, no papel de coadjuvante, fui indicada para o prêmio de melhor atriz também. A direção de Cacá Mourthé foi criativa e mágica. Um dos orgulhos da minha vida, a remontagem de Pluft, o Fantasminha, deu continuidade ao Tablado. Conheci Hamilton Vaz Pereira, diretor do Asdrúbal Trouxe o Trombone, no Tablado, e era a maior fã das peças que ele montava lá. Nos anos 70, Hamilton me chamou para Salada, um espetáculo de teatro, música, cinema e artes plásticas. Só rapaziada. Depois veio o convite para Trate-me Leão, que acabei não fazendo. Cheguei a ensaiar um tempo, mas não tinha condições financeiras de passar o ano todo ensaiando sem ganhar nada e aceitei trabalhar em O Quarteto, peça de Antônio Bivar, dirigida por Ziembinski. Minha estréia no teatro profissional, O Quarteto, foi censurada e não teve sessão no primeiro dia. Era a história de uma garota de subúrbio, bem cafoninha e interesseira, que se envolve com um homem muito mais velho, que era feito pelo Ziembinski. O Quarteto era a cara da época e a proibição, depois revogada, veio pela parte relacionada a sexo. Havia cenas bem picantes entre a jovem e o velho e no elenco também estavam Marlene (a cantora, rival de Emilinha) e Roberto Pirillo, que ficava nu em cena. Não conhecia Ziembinski, o polonês que veio para o Brasil e revolucionou o teatro nacional nos anos 40 com sua montagem de O Vestido de Noiva. Fiquei encantada por ele, que me mandava flores regularmente. Apresentei o velho Zimba aos meus amigos e passamos a sair juntos. Uma coisa me chamava a atenção: ele não fazia o tipo falastrão e mais nos ouvia que contava suas histórias. O velho homem de teatro se integrou totalmente com a turma do Tablado. Nessa época eu namorava o Paulo Reis, que era lindo e tinha um cabelo comprido, bem de acordo com os ares contraculturais. Paulo tinha um quê de Pierre Clémenti, ator francês símbolo de beleza de então, e era o cara mais inteligente, mais revoltado, mais diferente e criativo que eu conhecera até aquela época. Foi a minha primeira paixão. Nesse mesmo ano do Quarteto, 1976, eu fazia a peça musical A Gata Borralheira, de Maria Clara Machado, com direção e produção de Wolf Maya. Lucélia Santos vivia a personagem-título, e no elenco estavam Ângela Leal, Sandra Barsotti, Sandra Pêra, Leiloca, Marcus Alvisi... Foi aí que conheci Diogo Vilela. Aquele garoto logo me chamou a atenção pela voz vibrante e enorme carisma. Ficamos amigos imediatamente. Logo voltei a trabalhar com Wolf em outro musical, Os Cigarras e os Formigas, também da Maria Clara. Diogo estava no elenco de novo, e dessa vez conheci, Laurinho Corona, que fazia o filho da Vera Setta, a cigarra; eu era a formiga. E em 1980, fui mais uma vez dirigida por Wolf no musical Village. Eu interpretava a mãe judia, a única mulher no meio de dez homens que se revezavam em cena. Havia piano e cantávamos ao vivo. Nessa época, dirigi a revista musical Atrás da Trouxa, com meu grupo Diz Ritmia, no Teatro Ipanema. Outro grupo a surgir nas dependências do Tabla-do foi o Dependências, com Sura, José Lavigne, Fernando Berditchevsky, Guida Vianna, Milton Dobbin e dirigido por João Carlos Motta. Com esse pessoal fiz O Beco do Brecht, espetáculo com cinco peças curtas que o dramaturgo escreveu quando novo. Era uma produção nossa, e talvez meus primeiros passos nessa atividade que viria a exercer bem mais tarde. Tínhamos um cenário muito interessante de Gustavo Garnier, que também assinava os criativos figurinos. Foi meu único Brecht nesses quase 30 anos de carreira. Há dez anos tento fazer A Mãe, de Brecht, e ouço a mesma ladainha: Você é muito nova para o papel. Eu tenho culpa se as atrizes fizeram essa personagem com 60 anos? A idade dela é em torno de 40. Essa ladainha da pouca idade para determinados papéis me persegue, mas lá no início não fazia diferença. Interpretei uma mulher com o dobro da minha idade em Vassa Geleznovna, peça do Gorki montada no Tablado em 1974 e que ninguém foi ver. Para termos platéia cheia, Maria Clara buscava os mendigos da praça e os acomodava no teatro, claro que eles riam, falavam alto e não deviam entender patavina. Para me transformar naquela senhora, tinha uma hora e meia de maquiagem, cabelo todo para cima num coque. Um maquiador me ensinou uma maquiagem pesada com muita base para ficar mais velha, vestia uma roupa lindíssima e botas. Era o segundo papel, entrava com a peça em 40 minutos e não saía mais de cena. Marta Rossman, atriz que ficou só no Tablado, era a mãe e eu a filha, uma mulher fria que tomava o lugar da matriarca no final. Vassa Geleznovna foi uma grande escola, pois ficamos oito meses ensaiando. A única coisa ruim era que, depois do espetáculo, eu aparecia toda animada com meu cabelo comprido, vestindo jeans e camiseta e ninguém acreditava que eu havia representado aquela senhora. Vassa Geleznovna não tinha música nem som e em algumas apresentações ganhou a parti cipação especial de uma felina adorável. Era uma gata toda branca que vivia lá no Tablado, chamada Maribel e era alimentada por mim e Silvinha Fucs, que fazia a empregada da peça. Teve um dia que, no meio da peça, a gata pulou no sofá de cena e ficou lá se exibindo como se soubesse que estava sendo admirada. Maribel roubou a cena, e eu sussurrei para Silvinha tirar a gata do palco. Foi uma confusão e toda vez que Silvinha, no papel de Dúnia, chegava perto, Maribel corria. O drama de Gorki virou Tom e Jerry. Essas aparições aconteceram outras vezes e para que não se repetissem, a gata ficava o espetáculo todo trancada. Já contei que tenho loucura por musical e em 1979 tive uma experiência muito rica em A Feira Livre, peça atípica de Plínio Marcos, com direção de Emiliano Queiroz. Espetáculo sem texto, narrado nas 29 músicas que cantávamos e dançávamos. As coreografias eram assinadas pela genial uruguaia Graciela Figueroa, com quem mais tarde trabalhei bastante. Eu vivia várias personagens e as situações abordadas faziam parte do universo de Plínio, mas sem a barra pesada de suas peças mais conhecidas. Era uma comédia agradável, Plínio veio assistir ao espetáculo no Teatro Opinião e não sei se ele gostou, mas estava com uma cara estranha. Outra experiência incrível foi Máscaras, espetáculo que dirigi em 1980 e em que Graciela Figueroa representava o pierrô. Depois de me encantar com seu trabalho em A Feira Livre, resolvi estudar com Graciela, no Curinga Grupo de Dança. Fui vê-la dançar e meu queixo caiu, aquela mulher dava salto de três metros. Fizemos uma permuta: em troca das aulas de dança com Graciela, eu daria aulas de teatro para o grupo Curinga uma vez por semana. Com isso nos aproximamos e criamos o grupo Los Mendigos. Nasceu assim Máscaras, baseado em Menotti Del Picchia, só que não sentimos necessidade de palavras e nos comunicamos por meio da música, dança e mímica. Claro que mantive a essência das personagens e o texto, mesmo sem palavras, estava lá. Era um espetáculo lindo, com música ao vivo. Em 2007, quando reli Mãe Coragem e Seus Filhos senti um frio na espinha! Vi que havia chegado o momento de encarar o desafio viver a complexa personagem do Brecht, Anna Fierling, que eu adorava desde os templos do Tablado. Quando me perguntavam que personagem eu gostaria de fazer, dizia que era A Mãe, do Brecht, mas na verdade, estava enganando a mim mesma: esperava mesmo o momento de me sentir capaz de fazer a Mãe Coragem. Dada a dificuldade da montagem - vinte e três personagens, inúmeros cenários e figurinos, qua-se três horas de duração -percebi que só poderia produzi-la com um grupo de teatro, que se dedicasse muito ao projeto e tivesse ótimos atores. Convidei o excelente diretor Paulo de Moraes e o grupo Armazém Companhia de teatro, que acompanho há muito tempo e sempre admirei. Paulo me pediu quatro meses de ensaio para criar a linguagem do espetáculo e, nesse, tempo me senti uma verdadeira atleta da ribalta: eles trabalham sério e muito, são incansáveis e não estão “brincando em cima daquilo”. Procuram esgotar todas as possibilidades que uma cena oferece até ela ficar totalmente orgânica, servindo ao espetáculo. A temporada no Rio foi de três meses, de quarta a domingo e depois um mês em Brasília. Tivemos casa lotada em praticamente todos os espetáculos e no Rio conseguimos levar todo tipo de público: desde os jovens dos centros culturais a moradores da favela do Alemão, que me disseram que tudo que acontecia na peça acontecia na favela também. Foi uma emoção enorme fazer Brecht para esse tipo de público! Muita gente se emocionava com a nossa montagem e vinha falar conosco chorando. Tanta emoção e trabalho duro como atriz e produtora me renderam uma estafa: não conseguia mais dormir e tinha taquicardia, no começo, só em cena, depois em casa à noite, na hora de dormir, e mais tarde o tempo todo. Foi barra pesada. Além de Rio e Brasília, fizemos o festival de Curitiba e foi maravilhoso! São Paulo eu fiquei devendo, precisava descansar e ficar boa. Precisava tirar Anna Fierling de dentro de mim, tirar a energia da personagem que colou à minha energia. Procurei aliados: o Ricardo Cavalcante com quem eu já tinha feito análise na época de Leila Diniz, foi fundamental; Antônio Carlos Jordão, na acupuntura, Ethel Voloch, na homeopatia, Renata Simões, na massagem, Lílian Junqueira, na osteopatia e o carinho dos amigos me ajudaram muito. Eu meditava e rezava bastante também. Agora tudo está diferente, estou ótima e considero Mãe Coragem e Seus Filhos a experiência mais rica que já tive até hoje! Capítulo IX Ainda é Cedo Comecei a ser chamada para entrar na TV Globo desde 1975, quando vivi o gato da peça O Dragão. Sentia que não estava preparada para aquela engrenagem, agradecia os convites, dizia que ainda não era hora e ganhava o apoio de todos meus amigos: muito bem, Louise. A turma do teatro de minha geração tinha preconceito com televisão e eu também – isso acabou faz tempo, mas naquela época eu tinha sim. Dizia que não estava preparada, mas na verdade achava o veículo uma coisa menor. Não queria virar papel de bala e acho que não virei, mesmo trabalhando lá. Lembro que um dos primeiros convites veio de Walter Avancini, acho que para uma novela das dez, e ele me mandou flores. Herval Rossano também me convidou algumas vezes e me chamava de louca ao ouvir minha recusa. Mais tarde trabalhamos juntos, e nos demos muito bem. Querido Herval, vou ser sempre grata por você ter-me chamado para trabalhar. Minha visão sobre televisão mudou a partir do momento em que fui trabalhar com Ziembinski. Trabalhar em televisão, ele disse, me daria a chance de aprender mais rapidamente. Graças ao volume de produção – antigamente gravávamos uma média de 40 cenas por dia – fazia cenas cotidianas, depois dramáticas e logo, outras de comédia. Ziembinski me falou que eu treinaria muito e com a experiência que já vivia em teatro, nunca seria uma atriz pior, pelo contrário, iria crescer. O velho mestre me passou uma idéia boa do trabalho em televisão, demoliu com minhas reservas e me levou para a Globo, para fazer a protagonista do caso especial Ciranda Cirandinha, escrito por Paulo Mendes Campos. Ali conheci Paulo José, que dirigiu o programa, e tive um ótimo primeiro contato com a televisão. Esse especial deu origem à série Ciranda Cirandinha, com Fábio Jr, Lucélia Santos, Denise Bandeira e Jorge Fernando. Participei de um episódio marcante, Toma que o Filho é Teu, aquele em que Fábio cantava a música Pai. Eu era a mãe da criança e lembro da choradeira danada nas gravações. Logo veio Gina, novela das seis, que me deu cancha, pois minha personagem era a segunda da trama, tinha três namorados, não era uma malvada, mas uma garota da pá virada. A novela começava nos anos 50 e depois passava para os 70. Christiane Torloni era a protagonista e na segunda fase, envelhecida pela maquiagem e pelo cabelo branco, fazia o papel de minha mãe – e ela é mais nova do que eu. Também de cabelo branco, Diogo Vilela era meu tio. Esse envelhecimento forçado das personagens virou motivo de piadas, mas Gina fazia sucesso – como toda programação da Globo na época. Vieram alguns problemas com a censura e Gina, que era uma prostituta, virou apenas uma mãe e isso mexeu com a estrutura da trama escrita por Rubens Ewald Filho. Foi muito bom interpretar essa filha rebelde, gravava 30 cenas por dia, voltava para casa exausta, mas como disse o Zimba, aprendi bastante. Outra mocinha me aguardava em Marrom Glacê, onde Sura Berditchevsky e eu vivíamos duas irmãs, filhas de Madame Clô (Yara Cortes), proprietária do bufê que servia de título para essa novela de Cassiano Gabus Mendes. Marrom Glacê dava um Ibope absurdo, eu aparecia direto nas capas de revistas e não podia nem andar na rua que as pessoas pulavam em cima, me seguravam. Não foi fácil lidar com isso, mas acabei aprendendo. Ainda durante Marrom Glacê recebi um aviso de Janete Clair: ela estava escrevendo especialmente para mim uma irlandesa, a protagonista de sua nova novela das oito da noite, Coração Alado. Fiquei muito feliz, mas na época de aceitar o convite vi que não podia dizer sim. Estava dirigindo Diz Ritmia, descobrindo uma linguagem, minhas aulas no Tablado em plena ebulição, e também fazendo muito cinema. Se vivesse aquela heroína eu teria de dar adeus pra minhas outras atividades todas. Ao mesmo tempo não podia dizer não para a TV Globo e resolvi me explicar assim: Não vou fazer porque é a terceira mocinha seguida, mas topo participar de qualquer outra coisa. Pouco tempo depois eles me chamaram para o humorístico Viva o Gordo, fiquei um ano e meio no programa e foi o máximo. Trabalhei com Jô Soares, Costinha, Henriqueta Brieba, uma turma de comediantes fantásticos. Fazia (e adorava) as gostosas de biquíni, papel de papagaio, velhinha e alguns quadros com Jô Soares – nos entendemos às mil maravilhas e ficamos amigos. Viva o Gordo foi minha preparação para o TV Pirata. Em 1983, veio Champagne, minha primeira no-vela das oito e a volta ao universo de Cassiano Gabus Mendes. O convite veio de Paulo Ubiratan e não havia motivos para recusar, estava fazendo a peça Besame Mucho, indicada para prêmio Mambembe e segura dos rumos de minha carreira. Anita, minha personagem, era taróloga, aprendi a jogar tarô, me encantei por esse mundo, esse conhecimento, e o tarô ficou para o resto da vida. Em Champagne fiz par romântico com Tony Ramos, um colega delicioso, e disputava o seu amor com Lúcia Veríssimo. Essa heroína não doeu. Em Cambalacho (1986) interpretei a vilã Daniele que se passava por filha da personagem de Fernanda Montenegro. Adorei essa novela, as loucuras que o Silvio de Abreu bolava e ser dirigida por Jorge Fernando. No último capítulo a identidade de Daniela era desvendada: ela tomara o lugar de Cristina Pereira. Minha personagem teve um final maravilhoso: virou uma daquelas mulheres que se transformam em macacas no circo, aquele truque do espelho. Ela ficava de maiô e no fim virava gorila, um desfecho absolutamente genial. Eu entrava no capítulo 80 e não tinha a menor idéia de que Daniela era uma impostora e que não era mesmo filha de Fernanda. Silvio de Abreu me pediu para fazer de verdade que ia dar certo. Fiel à recomendação do autor, colocava toda emoção, achando que minha mãe era ruim, dizia detesto a minha mãe, e começava a chorar. Aos poucos, a personagem foi ficando cada vez mais vilã, apanhava, levava tapa na cara, rolava escada abaixo. Fazer novela era mais fácil naquele tempo. Eu morava no Jardim Botânico, pertinho dos antigos estúdios da Globo e descia para o trabalho de bicicleta. E para gravar uma externa saía uma equipe de mais ou menos 20 pessoas. Isso mudou bastante. Em Como uma Onda, saí para gravar uma externa e havia umas 200 pessoas, uma parafernália de luz, com barco, helicóptero. Fiz as contas com Tato Gabus Mendes, o meu marido da novela, de quantas peças teríamos montado com aquela externa. E daria para produzir umas quatro. Minha carreira de mocinhas ingênuas encerrou em 1990 com a Cláudia de Mico Preto, certamente a mais boazinha de todas as minhas personagens. Era uma engenheira, bem-humorada e apaixonada por um sádico, interpretado por José Wilker, com quem me dou muito bem e adoro trabalhar. O noivo propunha e ela aceitava diversas fantasias, como se fingir de prostituta no calçadão de Copacabana, enquanto ele ficava olhando de longe e rindo. Em outra seqüência iam para o motel, ela disfarçada de copeira. Essa novela foi dirigida pelo Dennis Carvalho e pela Denise Saraceni. Fiquei apaixonada pelos dois, tanto na vida como na arte. Além de se tornarem meus amigos, são artistas com quem adoro trabalhar, que vou trabalhar sempre, se Deus quiser. Capítulo X Peladonas Nunca posei para a Playboy e não foi por falta de convites. Em começo de carreira, pouco tempo depois de filmar O Seminarista, fiz um ensaio bacana para uma revista masculina com os seios de fora, fotografada pela Marisa Álvares de Lima e com textos de Carlos Drummond de Andrade. As fotos ficaram boas, porém me trouxeram problemas. Estava num restaurante da moda, gravando uma cena para Ciranda Cirandinha e um cara alto, um cineasta que eu mal conhecia, se aproximou e me pegando pelo braço falou num tom agressivo você é uma atriz jovem interessante, mas ficar nua é demais. No Tablado, quando dizia que não sabia fazer alguma cena, Maria Clara não poupava: mas sabe ficar nua na revista. Em Marcados Para Viver, meu primeiro filme, Lael Rodrigues assistiu a mim no Tablado fazendo a peça de Gorki e me convidou para interpretar uma estudante. No dia da filmagem, ele avisou que a seqüência havia mudado, a personagem iria para o motel, fazer uma cena de cama com Sérgio Otero. Logo apareceu a diretora Maria do Rosário Nascimento e Silva e, com toda educação, falou assim Louise, vou te pedir um favor, tira a roupa. Fiquei surpresa e ela me explicando que aquilo daria autenticidade à cena. Fiquei ner-vo-sís-si-ma. Como não tinha experiência, achei que precisaria fazer tudo de verdade. Resolvi conversar com a diretora, que me tranqüilizou: Você vai só fingir. Depois disso fiquei aliviada, relaxada e a cena saiu orgânica, natural. Após dois anos, quando o filme foi lançado, essa seqüência foi apontada como a mais bem filmada cena de nu daquele ano. A Margarida de O Seminarista, minha primeira protagonista, chegou às telas antes de Marcados para Viver. Baseado em um romance de Bernardo Guimarães, o mesmo autor de A Escrava Isaura, era um filme romântico e bem cuidado. O diretor Geraldo Santos Pereira chegou a mim graças aos elogios de Carlos Drummond ao gato que fiz em O Dragão – é incrível como essa peça rendeu. Minha personagem tentava o padre, era anjo e demônio, um tipo que fazia muito e até hoje, de uma certa maneira, ainda faço. Aquele rosto cândido colocava em dúvida a vocação religiosa do seminarista, que tinha visões com ela. Na filmagem de uma dessas visões houve uma história bem engraçada. Estávamos filmando no Caraças, convento de padres numa cidade mineira que tem esse nome, a seqüência em que o seminarista imagina Margarida passando nua, boiando. Era uma cena onírica, poética, só que a produção não avisou aos padres que seria filmada e muito menos pediu licença. Boiando, completamente nua, passei por dois padres desavisados que pescavam no local. As filmagens foram suspensas e só liberadas depois de explicações. O Seminarista foi sucesso de crítica e bilheteria. Diretor de fotografia de O Seminarista, José Medeiros me chamou para uma participação em Parceiros na Aventura, seu primeiro filme, que tinha muitos desconhecidos nos papéis principais e atores conhecidos em pontas, uma idéia viável na época. A exceção entre os protagonistas era Isabel Ribeiro. Minha personagem era uma milionária, mãe de uma menina seqüestrada e casada com um industrial, papel do Eduardo Machado, que era O Seminarista. Produção típica dos anos 70, o raro Teu, Tua, de Domingos Oliveira, falava de ciúme em três episódios. Eu era a protagonista de uma das histórias, a namorada do Luis Fernando Guimarães e no elenco estavam o Miguel Oniga e a Ana Estrela, que conheci nos primeiros tempos do Tablado. Lembro que fazia A Menina e o Vento, quando Andréa Guimarães, minha melhor amiga, morreu atropelada. Ela tomou um ácido e foi passear de bicicleta, quando um caminhão entrou em seu caminho. Eu tinha verdadeira paixão por ela, que era uma pessoa especial e a mais talentosa atriz da minha geração do Tablado. A morte de Andréa foi uma tragédia e marcou muito essa fase de minha vida. Ana Estrela substituiu Andréa no Tablado e no filme Teu, Tua, mudou de nome para Leda Zepellin. Filmamos na praia e como chovia o tempo inteiro, Domingos nos enquadrava de biquíni e guarda-chuva. Marco Nanini estava no elenco de outro dos episódios e nos conhecemos mais ou menos por aí. Domingos Oliveira tem um jeito de filmar parecido com o de Paulo José. Lembro que Domingos tinha uma doçura, gostava de improvisar e seus filmes sempre foram naturais, desarmados. Nunca mais trabalhamos juntos, mas gosto muito dele e vejo todos os seus trabalhos. Na época do filme Leila Diniz, ele falou não vi e já gostei. Na metade dos anos 70, quando comecei a fazer cinema, os filmes tinham de ter um determinado número de cenas de nudez, e isso era uma exigência dos distribuidores. Apareço sem roupa em praticamente todos os filmes que fiz. Um dos mais picantes é Gente Fina é Outra Coisa, de Antonio Calmon, que era chamado de pornochique mas tinha humor, foi bem dirigido e se tornou um filme interessante. Em Matou a Família e Foi ao Cinema, de Neville de Almeida, rodado bem depois, Cláudia Raia e eu aparecemos em cenas fortes. Esse filme foi feito no finalzinho dos anos 80, época em que o governo Collor acabou com o cinema no Brasil e fiquei cinco anos sem filmar, meu recorde. E até então eu fazia pelo menos uns três filmes por ano. Alguns anos depois veio a oportunidade de trabalhar com Julio Bressane, diretor de quem sou fã, em Miramar. Meu amigo Fernando Eiras, que sempre trabalha com Julinho, simplesmente cismou que Diogo Vilela e eu tínhamos de fazer o prólogo e nos levou para o filme. Julio Bressane nos falava das personagens, dava todo um panorama histórico do momento do filme e não nos mandava o roteiro. É assim que ele trabalha. Depois que lemos o roteiro, vimos que nossas personagens morriam envenenados. Foi a médica Lola, a irmã do Diogo, que nos explicou como era a agonia de uma pessoa que tomava veneno e de como teríamos de nos comportar. Era um prólogo de dez minutos, Julinho filmou tudo em dois dias, com duas ou três posições de câmera. Homem culto, Julio Bressane dá aula de cinema: sabe tudo o que quer, tem intimidade com a câmera e é um excelente diretor de ator. Fiquei louca para voltar a trabalhar com ele, mas nas outras vezes isso acabou não dando certo. Capítulo XI O Segredo das Lentes Adoro a esquizofrenia do cinema e não me incomodo nem um pouco em filmar sem seqüência. Óbvio que a arte do ator é o teatro, mas fazer cinema me dá um prazer imenso. Nem a famosa espera me incomoda tanto. Não vou dizer que adoro ficar ali de bobeira, mas na televisão esse tempo bate mais. Quando filmo, gosto de ficar observando tudo e de conviver com aquela família que se forma nos dois meses de rodagem. Fica parecendo meio saltimbanco, todo mundo jantando na rua. Acho cinema fascinante, mágico, parece que a alma da gente pula para a tela. No teatro apanho para compor uma personagem, vou ao inferno, fico sem vida pessoal; no cinema não, tudo é mais orgânico pra mim. Botar a câmera no lugar certo e saber dirigir os atores são duas coisas que considero fundamentais num diretor. Sei se o profissional é do ramo no primeiro dia, na hora em que ele ordena a primeira posição de câmera. Bendita a hora em que aceitei fazer Os Vagabundos Trapalhões. Aprendi muito sobre cinema nesse filme, onde conheci J.B. Tanko, diretor interessantíssimo que me deu um verdadeiro intensivo sobre lentes. Iugoslavo, radicado no Brasil desde os anos 40, ele entendia tudo de cinema e tinha mais de 70 anos quando o conheci. J.B. Tanko foi com a minha cara. Minha personagem se chamava Loló e quando chegava ao set já perguntava Loló taí, Loló chegou e me mandavam logo até ele para o homem ficar calmo. Eu lhe dissera de brincadeira que meu grande sonho era ser diretora de fotografia e ele começou a me explicar tudo sobre lentes e posicionamento de câmera. Falava que ia filmar de tal jeito, que ia botar determinada lente para enquadrar tal coisa e eu ficava ali, o dia inteiro, aprendendo com ele. Tive uma ótima relação com Renato Aragão, que é bem chapliniano e me amarrei em interpretar sua namorada. Ele vivia um mendigo e eu a mendiga, que era inspirada na Paulette Godard, a mulher de Charles Chaplin. Tenho loucura por Chaplin e possuo todos os filmes dele. Não faltaram estrepolias nas filmagens: me joguei num chafariz de cabeça para baixo com as pernas pra cima. Renato resolveu refilmar as cenas dele e J.B. Tanko me dizia que eu era culpada, que ele tinha gostado do jeito que eu fizera e achava que o dele estava meio micha. Vou ter de refilmar tudo porque você ficou dando salto no chafariz, dizia ele. Logo depois participei de O Casamento dos Trapalhões, dessa vez como heroína, um papel bem menos interessante que a mendiga. O cinema voltou com tudo nesse segundo semestre de 2008. Em novembro, começo a filmar Tempos de Paz, com direção de Daniel Filho, estrelado por Tony Ramos e Dan Stulbach. É baseado na peça Novas Diretrizes em Tempos de Paz, do Bosco Brasil, de quem eu montei o espetáculo O Acidente – mais adiante falo desta. E acabei de voltar de Buenos Aires onde filmamos as sequências finais de Do Começo Ao Fim, rodado no Rio de Janeiro. No elenco estão Julia Lemmertz e Fabio Assunção e minha personagem é cheia de mistérios. A direção é de Aluísio Abranches, com quem tive um daqueles encontros raros. Às vezes ele ia me explicar um detalhe da personagem, me olhava e começava a chorar. Simplesmente isso. E eu compreendia tudo e fazia a cena do jeito que ele queria. Eu entendi o personagem numa outra dimensão e a gente entrou numa outra região que não foi a da palavra. Nunca tínhamos nos visto, mas parece que eu já o conheço de infância. Capítulo XII Lady Godiva Eu interpretava todas as alucinações eróticas da personagem do Maurício do Valle em O Coronel e o Lobisomem. É o mesmo papel que Ana Paula Arósio fez recentemente numa refilmagem, com Diogo Vilela como protagonista. Quase não participei desse filme dirigido por Alcino Diniz por receio de encarar uma Lady Godiva. Tinha cabelo comprido e o diretor me convenceu que a cena seria bacana, uma luz linda, um fog e eu nua montada num cavalo branco. Aplicada, fiz aulas de montaria na hípica e quando chegou o dia da filmagem deparei com um pangaré, uma égua muito da fuleira, no lugar do maravilhoso cavalo branco prometido. Na hora de rodar, combinei com a camareira que me levasse um roupão assim que o diretor falasse corta. Quando Alcino gritou câmera, a continuísta bateu a claquete na cara da égua, que empinou e disparou em desvairada cavalgada me levando do jeito que vim ao mundo e toda a equipe gritando e correndo atrás. E quando o animal parou, cadê o roupão prometido? Saltei e vim andando furiosa e disse que não montaria mais naquele animal. No dia seguinte apareceu o famoso cavalo branco. Gaijin, de Tizuka Yamasaki, fez sucesso na virada dos anos 70 e é, sem dúvida, um filmaço. Louise, sabe aquela cena maravilhosa que você fez com o Guarnieri? Cortei, tive que cortar, me falou com todo cuidado a Tizuka. Eu disse que não tinha problema, se era para o bem do filme. Ela continuou sabe aquela outra, aquela que você vem correndo? Cortei também e assim foi me relatando outras tesouradas na edição final. Quis saber se eu falava alguma coisa e ela me informou que eu entrava muda e saía calada – e falara à beça nas filmagens. O filme ficara grande, e ela resolveu sacrificar os italianos, já que o tema principal era a imigração japonesa. Mais de 20 anos depois, filmei a continuação de Gaijin, no papel de Sofia, neta de minha personagem no primeiro filme. Eu me senti confortável com o sotaque de italiana, já que tinha acabado de interpretar a Serafina da peça A Rosa Tatuada, uma costureira italiana. Superprodução, Gaijin Ama-me Como Sou deu bastante trabalho para filmar, eu que o diga, mas os anos fizeram bem para Tizuka, que está mais centrada, sabendo o que quer, e tranqüila na direção de atores. Já tinha gostado de fazer Gaijin, mas adorei participar desse Gaijin dois. De volta ao passado: há no meu currículo um filme que não compreendo muito bem, mas gosto bastante. É Cabaré Mineiro, de Carlos Alberto Prates Correia, filmado em Montes Claros, Minas Gerais. Gostava muito de Perdida, que Prates Correia fez com Maria Silvia, e quando li o roteiro de seu novo filme, vi que a personagem era ótima, senti uma força ali. O diretor me disse que não era mesmo para compreender, que seu filme não tinha uma história linear. E ele estava certo. Cabaré Mineiro é um filme que assisti várias vezes, continua atual, é pitoresco e poético e tem os ótimos trabalhos de Tânia Alves, no papel da cantora, e de Nelson Dantas. Um matador estava à espreita na trama de A Próxima Vítima, filme de João Batista de Andrade. E quem investigava tudo era um jornalista interpretado pelo Antônio Fagundes – eu era sua namorada e colega de redação. João Batista filmava super-rápido, numa linguagem crua, jornalística e me chamou a atenção que ele não olhava muito na câmera e usou duas ou três lentes o tempo inteiro. Capítulo XIII O Sonho não Acabou Na primeira metade dos anos 80 participei de algumas produções que refletem muito bem o espírito daqueles tempos. Os descaminhos e desencantos da geração que cresceu em plena repressão política são temas do violento O Sonho não Acabou, o primeiro filme de Sergio Rezende, que falava de sexo, drogas e rock and roll. Lucélia Santos vivia uma garota perdida, Miguel Falabella e Chico Diaz, dois caras envolvidos com barras pesadíssimas, inclusive cocaína e estupro. Atriz, cantora e dançarina, minha personagem era a positiva da turma, uma moça muito liberal, vivendo tempos de amor livre. Em Baixo Gávea interpretei Ana, uma atriz gay que fazia o papel do poeta português Mario de Sá Carneiro no teatro. Ela divide o apartamento com a personagem de Lucélia Santos, a diretora da peça que estão montando, sobre Fernando Pessoa. Por coincidência, um dos meus poetas preferidos é Mario de Sá Carneiro e adorei viver essa personagem que tinha um humor rodriguiano. Baixo Gávea me deu o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília e não fez sucesso, até pelo roteiro com referências literárias sofisticadas e nada comercial. Mas eu gosto do filme. Houve uma época, ali pelo final dos 70, começo dos 80, que havia uma lei do curta-metragem. Todo filme estrangeiro devia ser acompanhado por um curta, que podia até ganhar patrocínio para ser filmado. Isso permitiu que a turma jovem da época experimentasse bastante e surgissem vários diretores que depois partiram para os longas, como José Joffily, Sergio Rezende, Emiliano Ribeiro, Lael Rodrigues – participei dos primeiros curtas deles e depois da estréia em longas também. No bem-humorado Alô, Tetéia (1978), de José Joffily e Sergio Resende, interpreto uma menina mimada, doida para ir à praia e que se vê diante de uma série de imprevistos – o carro que não pega, o táxi que não chega – e ela toma um ônibus. No coletivo, começa a sentir nojo do povo em sua volta, tudo mostrado como comédia. Em Brilho da Noite, de Emiliano Ribeiro, vivo uma femme fatalle. Em Linhas Cruzadas, do Lael Rodrigues, meu papel era de uma produtora que tentava contratar Lucélia Santos para um projeto e tinha tudo, só faltava a grana. Tá tudo em cima, só falta grana. O que é que você acha?, ela falava. E todo o texto era meu, improvisado ali na hora. Com produção de Guilherme Karam, No Escurinho do Cinema traz nós dois brincando com momentos marcantes do cinema, de Charles Chaplin a La Violetera. Bem menos lineares são os dois curtas de Pompeo Aguiar, Babilônia Revisitada e Duas Histórias para Crianças, que têm estrutura de papo cabeça. Discutia muito com Pompeo, tentando entender o roteiro, mas depois desistia de compreender e fazia. Ao assistir, continuava boiando, mas aquelas imagens tinham um impacto, uma força! Duas Histórias para Crianças é apenas comigo, falando textos do escritor argentino Julio Cortazar. Baseado num conto de Nelson Rodrigues, Mal Incurável foi dirigido por Denise Bandeira. Nós nos conhecemos no Festival de Gramado – eu com O Seminarista e ela em À Flor da Pele, que lhe deu o prêmio de melhor atriz. Morávamos perto, ficamos amigas e logo ela me convidou para trabalhar nesse curta. A diretora Denise Bandeira sabe posicionar a câmera e é muito carinhosa com o elenco. Quando vai dirigir, passa uma ternura e o ator se sente acolhido. É um jeito de trabalhar semelhante a Cibele Forjaz, que me dirigiu faz pouco na peça O Acidente. O Ovo, curta experimental da diretora Nicole Algrante, leva às telas um conto de sua tia Clarice Lispector. É uma história absolutamente enigmática e a própria autora dizia não entendê-lo. Carla Camurati, Lucélia Santos e Enrique Diaz estão no elenco, mas filmamos todos em dias separados. Eu começo e fecho o filme. Na tela as imagens têm uma força e aquela mulher que interpreto acabou sendo mesmo Clarice Lispector, embora não tivéssemos combinado isso. Capítulo XIV Senta Aqui, Nenê! Quando acabei Gente Fina é Outra Coisa, meu terceiro filme, Hugo Carvana me chamou para Se Segura Malandro. Você faz comédia?, me perguntou, fiquei só olhando para a cara dele e não disse nada – eu achava que sabia, pois no Tablado tinha feito algumas e Gente Fina também tinha a ver com o gênero. Ele foi conferir o copião de Gente Fina e voltou com uma bela novidade: Vou te dar a personagem mais divertida do filme. Ele passou o papel de mulher rica que eu faria para Maria Claudia e me deu uma nordestina hilária, chamada Laurinha. Senta aqui, nenê, ouvi do Carvana que batia no joelho enquanto falava. Aquilo me deu um pânico e cheguei a duvidar que o trabalho daria certo. O que eu nem imaginava era que a fala e o gesto eram pura brincadeira, uma espécie de marca registrada do meu amigo. Trabalhamos na novela Como uma Onda e eu brincava com ele, imitando sua voz e dizendo senta aqui, nenê. Carvana me ensinou a fazer comédia no cinema. Claro que cinema, teatro e televisão são a mesma coisa e o ator representa do mesmo jeito. Só que o cinema exige uma sutileza maior em tudo, principalmente na comédia, e isso depende muito da edição. Carvana cria o ambiente, deixa todo mundo à vontade no set, brinca, faz os atores se soltarem e tudo fica mais leve. A vida fica mais suave quando estou fazendo uma comédia. Não é uma regra, mas o inverso costuma também ocorrer. A Laurinha de Se Segura Malandro vem tentar a vida na cidade grande e, em plena feira de São Cristóvão, se perde do noivo e se vê sozinha no Rio de Janeiro, onde não conhece viva alma. Bonitinha, arranja empregos estapafúrdios, como ficar numa loja de biquíni fazendo demonstração de aparelhos para emagrecer, rebolando na vitrine, toda sem graça no meio de um monte de neguinho fazendo piada com ela. Tenho um carinho especial por essa personagem, uma das primeiras rústicas da minha carreira, bem diferente das glamurosas que vinha interpretando. Voltei a ser dirigida pelo Carvana em Bar Esperança, o Último que Fecha, onde interpretei uma atriz que encena peças com os índios no Xingu.O filme fala de atores – Marília Pêra era a malvada da novela das oito e eu, a experimental. Acho Bar Esperança um excelente filme. Em Apolônio Brasil, o Campeão da Alegria sou a melhor amiga do protagonista, o Marco Nanini. É uma médica muito doida, junkie e que não se separa do cigarro. Numa cena eu tinha que fazer uma coreografia, cantar a música Viva o Uísque para o Apolônio. Cheguei para filmar e perguntei pro Carvana: Cadê a coreógrafa? O Hugo disse: É você, inventa aí, e arrematou: Quer uma cana? Meio desanimada recusei, fui para um canto e inventei a coreografia. Não é que deu certo? Filmamos de primeira. Sabe tudo esse Carvana. Capítulo XV No Calor da Platéia Houve uma época em que o besteirol dominou os palcos cariocas e eu, doida por comédia, nunca poderia ter ficado de fora. Longe de ser considerado um exemplar do gênero, O Beijo da Louca, do Doc Comparato, era uma peça dramática e cheguei a fazer pesquisas para a minha personagem no Museu do Inconsciente. A louca que eu interpretava havia sido estuprada pelo padrinho, teve um filho, matou o bebê e toda essa barra era contada em flashback. Ela se chamava Maria Clara, pensava que era Virginia Lane e aparecia de vedete, cantando. Mas o que eu mais gostava nessa peça eram as duas cenas de platéia. Faziam o maior sucesso. A Mente Capta, escrita por Mauro Rasi, é um autêntico besteirol. A cantora Marlene vivia uma psiquiatra às voltas com pacientes muito problemáticos, interpretados por mim, Diogo Vilela, Cláudia Jimenez, Anselmo Vasconcelos, Cristina Pereira, entre outros. Não faltavam cenas de platéia, eu dizia minha amiga e descia ao encontro das pessoas, para discutir com elas os conflitos da peça. Acontecia de tudo, inclusive de eu pedir para um cara levantar a mão e ele ser aleijado, sem mão para levantar. A solução era improvisar e eu não me apertava. Teve uma noite que eu queria que um cara falasse e ele tinha feito uma operação de garganta e não conseguia emitir uma palavra. Aí eu falava escreve e ele não tinha caneta; faz mímica... Montada brilhantemente em Nova York, a versão brasileira de Clown Nine, Numa Nice não teve aqui a mesma repercussão. A bossa dessa peça eram os atores em papéis trocados: Eu fazia um garotinho gay de 9 anos, cuja mãe era Diogo Vilela, o tio Vicente Pereira e a avó, Silvia Bandeira. O diretor José André Adler fez um cenário gigantesco, figurino absurdo, montou um aparato e esqueceu do clima de brincadeira de atores, o motor da peça, que dispensava cenários e aquele dinheirão gasto com detalhes. Resultado: o público não entendeu nada, ficou perplexo, mas nós atores nos divertíamos. Quem nos ajudou muito foi Marília Pêra, de quem sou fã e acho uma das melhores atrizes do mundo, vejo tudo que ela faz e várias vezes. Resolvemos chamar Marília para nos dar segurança nos papéis e ela foi de uma generosidade sem tamanho. Compareceu aos ensaios com a permissão de André, anotou tudo o que achava que não estava funcionando e fez seus comentários na frente dele, que mudou algumas coisas de acordo com o que ela apontara. Isso resultou em críticas boas para a direção, e ninguém soube que eram idéias de Marília. Marília Pêra assistiu a algumas das primeiras peças que fiz, e me deu alguns toques importantes. Sura Berditchevsky e eu interpretávamos prostitutas e Guida Viana a cafetina em O Beco do Brecht. Faltava alguma coisa nas nossas personagens e o diretor João Carlos Motta até brincava que parecíamos comportadas meninas do Sion. Marília veio assistir a um ensaio e disse: Tá tudo certo. É só botar salto alto. Ensaiávamos de sapato baixo e quando botamos o salto as prostitutas vieram de frente. Era um detalhe que o diretor, homem, não estava percebendo. Contracenei com Marília na minissérie O Primo Basílio. Dividíamos o camarim, estudávamos as cenas juntas e a afinidade foi tanta que no final das gravações Daniel Filho falava assim: Não tem marca. Quero uma câmera na mão acompanhando as atrizes, elas fazem o que quiserem. Dessa convivência, Marília me chamou para fazer O Reverso da Psicanálise, só que eu não gostara da peça e aceitei mesmo assim, para trabalharmos juntas. Aí não deu certo, ensaiei um mês e saí. Acompanho Marília Pêra desde Fala Baixo Senão eu Grito, onde ela vivia uma solteirona que acorda com um ladrão em casa e até hoje me lembro bem desse trabalho. Capítulo XVI Mania de Contra-regra Com Besame Mucho, peça de Mario Prata, fui indicada ao prêmio Mambembe, que na época era muito importante no Rio de Janeiro, dava um bom dinheiro e prestígio, e depois se deteriorou. Nunca liguei muito para prêmios, gosto mais de fazer a peça, mas quem não gosta de ganhá-los? Dessa vez não ganhei, também, olha só as concorrentes: Bibi Ferreira, Marília Pêra, Tônia Carrero e Fernanda Montenegro. Estar ali ao lado daquelas quatro grandes damas já era uma vitória e quem levou o Mambembe em 1984 foi Bibi, por Piaf. Nessa peça trabalhei pela primeira vez com Aderbal Freire Filho e recentemente voltei a ser dirigida por ele em Sylvia. O que mais me lembro foi a maneira como Aderbal dirigiu, os exercícios que ele fazia – um deles era uma improvisação de fugir com o circo. Trazíamos nossas memórias para os ensaios, fotografias antigas, poemas, músicas preferidas... E o elenco tinha Natália do Vale, de quem fiquei muito amiga. Gosto muito dessa comédia romântica com um fundo político, contada em flashback. A passagem dos anos foi muito bem solucionada por Aderbal, que colocou um marcador de tempo grande no proscênio e lá ia passando o ano que a cena acontecia. Besame Mucho deu frutos e depois vieram outras peças com estrutura bem parecida. Foi um sucesso, nove meses em cartaz e que deixou grandes lembranças. Com o elenco original fomos para um festival em Montevidéu. O Uruguai estava saindo da ditadura, o povo era muito trancado e a peça tinha cenas picantes, o que causou um tal furor na cidade que nos levou a fazer duas sessões por dia. O sucesso era tanto que na rua as pessoas me chamavam pelo nome da personagem – Hola, Dina. Existe glória maior do que ser reconhecida na rua pelo Teatro? Pois isso aconteceu comigo em Montevidéu. Outro sucesso, Um Bonde Chamado Desejo ficou um ano em cartaz. Tereza Rachel era Blanche e eu, Stella, grandes personagens criadas pelo estupendo Tennessee Williams. No começo, Tereza, muito desconfiada, achava que eu queria lhe roubar a cena e para deixar claro que não tinha nada disso, comecei a ficar de costas para a platéia. Tive críticas maravilhosas e o título de uma delas era uma locomotiva chamada Louise. Para compor essa personagem houve um bom tempo para minhas pesquisas, pois Tereza Rachel sofreu um acidente e a peça teve sua estréia adiada. O fato de eu ficar de costas ficou bom, tinha a ver com Stella, e a partir daí Tereza sacou que eu não queria roubar nada, queria trabalhar junto com ela. Eu chegava duas horas antes ao teatro, olhava todos os objetos de cena, um por um. Que mania de contra-regra. Eu pago um contra-regra. Por que você fica olhando tudo, me dizia Tereza e ouvia que aquele era o meu jeito de ir entrando na personagem. Tenho confiança sim no contraregra, mas gosto de olhar tudo. Tereza chegava ao teatro pouco antes de começar a peça e às vezes esquecia, trocava o texto. Eu não me apertava, porque sabia o meu texto, o dela, a peça toda. Mas o que eu estava dizendo mesmo, querida..., ela falava e eu respondia: Blanche, você estava dizendo... Nunca teve problema nenhum. Tereza fazia deslumbrantemente bem sua personagem e era maravilhosa até quando errava. Eu achava que sua dificuldade em decorar o texto vinha de chegar em cima da hora. Um dia, de tanto ela me falar da minha mania, não olhei os objetos de cena. E nessa noite o contra-regra esqueceu as bebidas. A primeira cena é toda em cima das bebidas e a partir de uma fala de Blanche: Querida, você deve ter bebidas na sua casa. Nesse dia, respondi: Não, Blanche, Stanley não comprou. Houve aquela pausa e um Como não tem bebida?, da minha colega. Falei bem alto não tem bebida e ouvi o barulho dos passos do contra-regra, correndo, tentando salvar o desastre. Vi que aquilo ia demorar, pois o Teatro Tereza Rachel tem um corredor enorme e as garrafas estavam longe. Comecei a inventar um texto estapafúrdio, falei que de repente no banheiro tinha alguma bebida que sobrara, até que finalmente as garrafas chegaram. A partir desse dia, Tereza resolveu chegar duas horas antes, junto comigo, checávamos toda a contra-regragem passando o texto que é um exercício que gosto de fazer – ir olhando os objetos e falando o texto sem intenção. Tereza chegou à conclusão de que eu era uma atriz moderna e que ela queria ser minha amiga. Ficamos amicíssimas, eu a levava a todas as festas, restaurantes, viajávamos com meus amigos e eles a adoraram. Começou uma relação parecida a Ziembinski e meus amigos, só que agora Tereza e meus amigos. Tínhamos uma relação intensa, eu namorava um ator da peça, André Mauro, e saíamos sempre com ela. Depois ela me chamou para trabalhar outras vezes, mas aí eu já estava produzindo. Tereza Rachel me deu o grande toque de trabalhar a voz. Sempre fiz isso, mas reforçado por ela, passei a trabalhar ainda mais. Ela dizia que como não tínhamos escolas de teatro, aprendíamos com os outros atores. Em parte concordo com ela. Aqui no Rio existem o Tablado, a Cal, a Uni Rio, mas aprende-se muito vendo os atores mais velhos e trocando idéias com eles. Tereza Rachel é uma grande atriz com quem trabalhei e a admiro muito. Capítulo XVII Cassino do Abelardo Só parei de dar aulas no Tablado em 1986, pouco antes de filmar Leila Diniz. Minha última montagem em palcos tabladianos foi O Rei da Vela, de Oswald de Andrade. Fazia Cambalacho, me preparava para filmar Leila Diniz e dirigi a peça junto com Bia Junqueira e sem ela o trabalho não teria saído. Bia dividia as aulas comigo, me substituía quando não podia aparecer e depois me passava tudo. Mas normalmente eu dava aula uma vez por semana, o que já era ensaio para a peça. Ficamos o ano todo preparando o espetáculo, a que Paulo José e Dina Sfat assistiram e gostaram muito. Bel Kutner, filha deles, interpretava Heloísa. Nossa montagem tinha três Heloísas e três Abelardos. Bel era a Heloísa do terceiro ato e Marcelo Serrado, o seu Abelardo. Cada ato era de um jeito. O primeiro se passava em plena Discoteca do Chacrinha e Abelardo era Abelardo Barbosa mesmo. Começava com o público chegando, as chacretes rebolando, as pessoas buscando lugar na platéia e o elenco entrando junto. Abelardo, vivido por Cico Caseira, fazia milhões de brincadeiras, comigo, com Maria Clara, com Tônia Carrero... Quem nasceu primeiro? Maomé ou Tônia Carrero?, Ai que alvoroço, sumiu a calcinha de Louise Cardoso eram algumas das falas que o abusado improvisava. O segundo ato era chanchada e Abelardo, desta vez Luís Carlos Tourinho, Oscarito, circulando por Copacabana; e no terceiro era tragédia, ópera. Cheguei a assistir a histórica montagem do Grupo Oficina, em 1970, com palco giratório, Renato Borghi dando um show. Marquei o primeiro e terceiro atos e Bia ficou com o segundo. Ela é muito talentosa e herdou minha turma no Tablado no ano seguinte. Saí do Tablado porque o curso virou uma espécie de passaporte para entrar na TV Globo. Ser meu aluno virou sinônimo de ingressar na emissora, onde estavam uns 70% da turma que passou por minhas aulas. Iam entrevistar Malu Mader, Miguel Falabella, Maria Padilha, Felipe Camargo, Drica Moraes, Patricia Pillar, Leonardo Brício, Luiza Tomé, Lúcia Veríssimo, Luís Carlos Tourinho, Marcelo Serrado, Bel Kutner, Patrícia Travassos, Rosane e Betty Gofman, Fernanda Torres, Catarina Abdala e todos diziam comecei com Louise Cardoso, fiz parte do Diz Ritmia.... As pessoas procuravam minha turma para entrar na televisão. Quando abria vaga, todos queriam as minhas aulas, da Sura e do Carlos Wilson. Os pretendentes até dormiam na fila. E os próprios diretores da Globo aconselhavam os atores jovens a tomar aulas conosco. Capítulo XVIII Apareceu Clarabela O filme Leila Diniz foi um marco e me deu tanta projeção como uma novela de sucesso. Na rua, a garotada me dizia Valeu, Louise. Na décima vez que ouvi isso, fui perguntar o que significava esse “valeu” e era por Leila. O filme ficou bastante tempo em cartaz e foi muito visto pelos jovens, isso era tudo o que queríamos, pois fazia 15 anos da morte de Leila e o pessoal mais moço não a conhecia. Tássia Camargo foi a escolhida para interpretar Leila Diniz e um dia recebi um telefonema do Luis Carlos Lacerda, o diretor do filme, que a partir daqui passo a chamar de Bigode. Ele que-ria conversar comigo sobre Leila e saber como estava minha agenda. Estava péssima, tinha Um Bonde Chamado Desejo, a novela Cambalacho, e outra peça de teatro, mas lhe disse que daria para fazer sim, porque tinha sido ela quem me escolhera. Falei porque senti isso, já que Tássia ficou grávida e teve que sair do filme. Começaram várias coincidências: Dona Isaura, a mãe de Leila, olhou para a minha cara, pegou os diários da filha e me deu, o que nunca tinha feito com ninguém. Comecei a ler aqueles cadernos, entrei em pânico, vi que ia ter muita cobrança e pensei até em não fazer. Minhas dúvidas acabaram quando ouvi de Marieta Severo: Você tem talento suficiente para fazer a sua Leila. Faz tua Leila. Marieta, que interpretou a mãe de Leila no filme, sentiu que eu estava com medo e me deu esse grande toque, numa festa de ano-novo em sua casa. Conversei com pessoas que conviveram com Leila, com seus amigos íntimos e com suas irmãs. Lia e relia toda noite seus diários, onde ela documentava cada instante de sua vida, como se imaginasse a morte repentina. Muitas vezes chorava ao ler aqueles manuscritos, que foram decisivos para a preparação da personagem. Até musiquei um poeminha dela para crianças que falava assim Estava na janela, fazendo pipi na panela, quando chegou Clarabela. Fiz essa música no violão e sugeri ao Bigode que Leila aparecesse tocando e cantando no filme. Alguém observou que Leila não tocava violão e meu cúmplice diretor solucionou a questão com um simples mas Louise toca. Na primeira seqüência, ela aparece tocando violão para as crianças e ficou bem legal. Saquei que Leila era tímida e que a imagem da mulher despudorada foi um jeitão que ela inventou para sair da toca. Quando percebi isso a descobri realmente. E tínhamos a mesma visão do mundo: ela morria de pena das pessoas e eu também. É uma coisa louca: tenho pena da camareira, da empregada, do mendigo e das crianças de rua e aí não durmo de noite. Leila Diniz também tinha isso. Quanto mais lia seus diários, ouvia entrevistas gravadas e via seus filmes, mais me confundia com a personagem, no seu humor debochado e na sensibilidade. Ao me dar conta de todas as coincidências, pensei que loucura essa personagem. Lígia, a irmã de Leila, estudava no mesmo colégio que eu. Leila fazia a Úrsula na novela Eu Compro Essa Mulher e, às vezes, ia ao colégio buscar a irmã e eu ficava olhando aquela moça. Li na época a famosa entrevista dela no Pasquim e fiquei ainda mais interessada na Leila. Todas as Mulheres do Mundo foi o primeiro de seus filmes a que assisti e amei. Enquanto me preparava para interpretá-la, fui atrás de seus filmes e percebi que seus movimentos eram muito redondos, ela era muito sinuosa, e procurei arredondar meus movimentos todos, já que sou meio alemãzinha e tenho movimentos mais retos. Uma coisa que me ajudou bastante foi a semelhança de nossas vozes, ouvia a voz dela e achava que era eu quem estava falando. Bigode parece muito com Groucho Marx e eu, que sempre amei os Irmãos Marx, ficava de bom humor ao vê-lo. Olhava para ele e me sentia bem, ele via que eu o achava engraçado e inventou a bossa de se vestir de acordo com a cena que iria filmar. Se era dramática, aparecia de viúva, todo de preto, e me dirigia. Adorei aquilo, embora tivesse que chorar em cena, era uma delícia vê-lo ali de viúva. Numa seqüência de comédia, ele botou maiô e óculos imensos. E nas cenas de nudez ficava nu também, só para me dar força. Ele me deixava muito à vontade, totalmente aberto para o que eu pudesse inventar e criar. O trabalho transformava-se a cada dia, como se fosse um rio. Eu me sentia em movimento também, livre para viver e criar a personagem. A primeira filmagem foi no desfile da banda de Ipanema no carnaval de 1987. Misturada aos foliões, de biquíni em pleno meio-dia pela movimentada Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, eu revivia a data histórica em que Leila foi eleita primeira madrinha do Carnaval de Ipanema. As filmagens foram uma festa e o motorista que passava em casa para me buscar já chegava entusiasmado. Parecia que Leila estava no set, contagiando o ambiente – o Bigode estava muito feliz por estar fazendo o filme e a equipe toda animada. Só no dia em que fui filmar o nascimento da filha, Janaína, passei mal de verdade. Comi algo que não caiu bem e enjoei. Era meu lado impressionável, pois Leila Diniz passou muito mal no seu parto. Quem interpretava Bigode no filme, era meu amicíssimo Diogo Vilela e criamos muita coisa juntos. No elenco, uma turma de atores ótimos e lindíssimos. Tony Ramos era o pai de Leila no início do filme. Outra presença forte era Carlos Alberto Riccelli, que interpretava Domingos de Oliveira. Fiquei perdidamente apaixonada por ele, mas não aconteceu nada, pois ambos éramos casados. Achava aquele cara o máximo e ele aparecia em meus sonhos toda noite. Riccelli nunca soube dessa minha paixão, mas pode saber agora. O harém masculino de Leila era impressionante e incluía meu amigo Paulo César Grande no auge da beleza, num personagem que sintetizava os belíssimos e atléticos Nando Delamare e Arduíno Colassanti. Outro belo rapaz, o já falecido Rômulo Arantes, vivia Toquinho; Antonio Fagundes, Ruy Guerra e José Wilker, Henrique Sheik de Agadir Martins. Bem garoto, Marcos Palmeira aparecia fazendo um papel de técnico de som de cinema. O problema foi quando Leila Diniz acabou. Ficara seis meses me preparando, vivi Leila Diniz por dois meses e, então, ela se foi. Eu não era nem Louise nem Leila e não sabia quem eu era. Aí foram dez anos de análise, mas não por causa de Leila, por minha causa. Era uma época em que eu trabalhava tanto que comecei a ficar atrás das personagens – na vida, não em cena que é onde se tem de ficar. Estava me colocando pouco e tinha muito para me colocar, percebi isso por meio da Leila, que se colocava muito. Essa mania de me esconder atrás das personagens estava me prejudicando. Eu estava com medo. Mas com medo de quê? Por quê? Vieram dez anos de análise com Ricardo Cavalcante e foi genial pra mim. Depois me dei alta, mas às vezes penso em voltar. Capítulo XIX Heranças de Leila Realizados praticamente na mesma época, o filme Sonhos de Menina Moça e a minissérie O Primo Basílio são heranças indiretas de Leila Diniz. Cansada e desnorteada com as filmagens, precisava de férias, mas quando recebi o telefonema de Tereza Trautman para Sonhos de Menina Moça algo se acendeu. É que Leila falava muito da diretora em seus diários e até faria seu filme Os Homens que Eu Tive. Leila gostava muito de O Primo Basílio e isso fez com que o convite para a minissérie ficasse com gostinho de irresistível. Resultado: embarquei nos dois trabalhos e deixei o descanso para mais tarde. Ficamos meses numa locação única, um castelinho no bairro carioca do Humaitá, filmando Sonhos de Menina Moça. Minha personagem é instigante: grávida, com o marido viajando e enfrentando a crise da venda do casarão da família, ela morria de tesão. Quando entra em cena o namorado de infância, a coisa se complica e numa casinha de bonecas eles recuperam todo o tempo perdido – o título se refere à minha personagem e a essa regressão com o namoradinho na casa de bonecas. Quer dizer: ela pas sava o filme inteiro transando com o primeiro namorado, até a chegada do marido. Ganhei três prêmios, mas o filme acabou apelidado no festival de Gramado de lista telefônica, porque não parava de entrar personagens no casarão, basicamente mulheres: Marieta Severo, Zezé Motta, Xuxa Lopes, Selma Egrei, Flávia Monteiro. Tônia Carrero era a matriarca da família aristocrática, a conheci nesse filme e desenvolvemos uma relação muito bacana. Daniel Filho foi logo me avisando que meu papel em O Primo Basílio não era dos principais. Já adorava o livro de Eça de Queiroz e fiquei encantada com a personagem, a liberada Joana, o único elemento de alegria e sensualidade naquela história pesada. Era a que transava, a que ria, que tinha um caso com o padeiro (Guilherme Leme). E a minissérie foi cuidadosamente produzida, bem dirigida e bem marcada pelo Daniel Filho, que é o rei da marca. Tive de fazer um trabalho de composição, andava de perna aberta; e como interpretava uma cozinheira, aprendi a destrinchar peixe, a limpar galinha, a fazer pão... Pela cozinheira Joana ganhei o prêmio APCA de atriz coadjuvante de televisão daquele ano. Antes de Primo Basílio participei de três minisséries. Viver a Vida foi a primeira delas, em 1984, na TV Manchete. Escrita por Manoel Carlos, inspirava-se no filme Um Lugar ao Sol, com Elizabeth Taylor, Montgomery Clift e Shelley Winters. Minha personagem era a de Shelley e Cláudia Magno e Paulo Castelli, os outros protagonistas. Ela trabalhava numa lanchonete e morria numa roda gigante no penúltimo capítulo. O texto do Manoel Carlos era muito bom e minha personagem bastante rica, um presente que ele me deu. O Tempo e o Vento, baseada na obra de Érico Veríssimo, foi dirigida por Paulo José em 1985. Bibiana, uma das grandes personagens de Érico, era interpretada por três atrizes: eu, na juventude, Lilian Lemmertz, na meia-idade e Lélia Abramo quando idosa. Filmamos no Rio Grande do Sul e me abordavam na rua: Tu vais fazer a Bibiana? Mas Bibiana não pode ser doce como tu, ela é seca. Tu tens de fazer a Bibiana seca. Achei legal a familiaridade e o interesse das pessoas com os personagens do Érico Veríssimo. Paulo José é um artista que me emociona muito e dirigindo ele conseguia transmitir o tom exato de cada cena; o som do vento estava sempre presente na gravação e havia um quê de eternidade, o tempo todo, muito forte. Eu tive o prazer de contracenar com Tarcísio Meira, que fez um Capitão Rodrigo incrível. Um dos galãs que mais gostei de trabalhar. Tarcísio sabe como tocar numa mulher e dá segurança para a atriz com quem está contracenando. Tenda dos Milagres, baseada em Jorge Amado, foi gravada em Salvador. Não lembro muito de minha personagem, apenas que começava jovem, depois casava, passava por um envelhecimento e tinha dois filhos. Lembro-me de que fiquei doente em Salvador, com febre alta e pedia à produção um médico que não vinha nunca. Eu insistia e como não encontravam médico, mandaram um pai-de-santo ao meu quarto. Era sexta-feira e ele me encontrou toda vestida de preto deitada na cama, ardendo de febre. Ele me olhou, me benzeu e disse: Tire o preto. Mudei de roupa, mas a febre continuou e só parou depois de um telefonema para meu pai, que receitou um antibiótico. Capítulo XX Ninho de Serpentes Lésbicas Brinco que passei tanto tempo estudando teatro, Brecht, Shakespeare, Tablado, tanto cinema e tudo para ser reconhecida na rua como a mulher do Barbosa (Ney Latorraca), personagem de TV Pirata. É incrível como esse humorístico que estreou em 1988, idealizado e dirigido por Guel Arraes, tem uma legião de fãs e até hoje sou abordada por pessoas que vêm falar de personagens e cenas que às vezes nem me lembro mais. Anárquico,o programa era uma mistura do teatro besteirol, com o mais puro nonsense e fatos do cotidiano da época. No elenco, dez atores que já se conheciam de outros carnavais, todos se divertindo muito. De Regina Casé, amiga de muitos anos, a jovenzinha Débora Bloch, que conheci quando trabalhei numa peça com seu pai, Jonas Bloch. E muito mais: Marco Nanini, Diogo Vilela, Guilherme Karam, Luís Fernando Guimarães, Cristina Pereira, Cláudia Raia, Pedro Paulo Rangel, Ney Latorraca. Foi uma época muito criativa, muito rica: Guel Arraes trouxe uma linguagem diferente para televisão, que ele já vinha buscando em Armação Ilimitada, mas que explodiu no TV Pirata. As gravações de estúdio eram às segundas e terças, e nosso horário ia até às duas da manhã. Até hoje fico pensando como conseguíamos fazer aquilo. Dez atores vivendo vários tipos cada um, numa média de 20 cenas por dia. Cada cena, um cenário, um figurino, uma maquiagem diferentes. E tudo com o estilo Arraes de marcação precisa. Nada era improvisado como as pessoas pensavam: tudo ensaiado, decorado e muito bem marcado pelo Guel. Era um tal de monta e desmonta cenário, porque eles não cabiam todos ao mesmo tempo no estúdio Renato Aragão, onde gravávamos. Esperávamos horas por um cenário, cuja cena durava cinco minutos ou menos. Com isso, criávamos, praticamente, um outro TV Pirata nos bastidores: comandados pelo Ney inventávamos um jeito de o tempo passar mais rápido e de a gente se divertir. As externas eram na quinta-feira e como gosto de acordar cedo, era escalada para a maioria delas. Às oito da manhã, lá estava acesa, escalando montanha, transformada na Sigourney Weaver de A Montanha dos Gorilas – e adorando fazer aquilo. Uma das pessoas mais engraçadas que conheço, Ney Latorraca tem a capacidade de tornar a vida sempre lúdica. Homem que repetia tudo o que ouvia, Barbosa, um dos personagens do Ney, era uma das marcas do TV Pirata e eu interpretava Clotilde, a mulher dele, que usava tranças, e fazia parte da novela Fogo no Rabo. Nessa novelinha cada um de nós homenageava um ator e minha Clotilde era inspirada em Renata Sorrah e Natália do Vale. Numa cena com Ney, Diogo e Débora, eu servia um caldo de feijão para cada um, tirava uma sandália havaiana de dentro do feijão e fazia um comercial rápido. Completamente Barbosa, Ney repetia tudo que todo mundo falava. Estando no texto ou não, Ney na pele do Barbosa, repetia sem parar, qualquer coisa que se dissesse naquele estúdio. Foi infernal. Não dava pra agüentar. Ficou tão engraçado que nosso operador de grua, o competente, hoje diretor, Roberto Nahar, caiu lá de cima de tanto rir e por pouco não se machucou. A enfermeira Wanda era uma de minhas personagens preferidas: boca enorme, peitão, sexy, ela falava toda sensual e busquei inspiração em Marilyn Monroe, principalmente para o biquinho. Wanda era símbolo sexual do programa e tinha até um slogan: Pastilhas Wanda, chupe Wanda. Ela era integrante do Hospital Geral, que mostrava um hospital caindo aos pedaços. O que era pura ficção virou realidade e o atual abandono dos hospitais cariocas é semelhante ao que o programa satirizava. Outra delícia de persona-gem: a grã-fina Isabelle, que tinha um caso com Tonhão (Cláudia Raia) no festejado quadro As Presidiárias. Interpretava muitas socialites e outra que caiu nas graças do povo foi a fresca Dalau, que visitava a mãe Josefina (Regina Casé) presa nos escombros de sua cobertura de 4.800m2. Em 1989, segundo ano do TV Pirata, praticamente todo o elenco fez a campanha do Lula, menos Cláudia Raia e Regina Casé, que apoiavam Collor e Brizola, respectivamente. A campanha virou um sucesso e Lula começou a subir nas pesquisas. Num dos filmetes, Guilherme Karam aparecia nadando e morrendo na praia, como se fosse Collor; noutro eu estava no supermercado com a Cristina Pereira dentro do carrinho. Tudo bem engraçado e criativo, como os quadros do programa. Mas havia quem não gostasse nadinha daquele engajamento e começamos a receber telefonemas anônimos lá no estúdio – num deles nos chamavam de ninho de serpentes lésbicas. Tenho muito orgulho de ter pertencido ao TV Pirata e até agora eu, e muita gente, não sabemos por que saiu do ar. Saí do programa em 1990, mas era só para dar uma refrescada, fazer uma novela e já tinha combinado com Guel Arraes voltar no ano seguinte. Cláudia Raia também saiu. A princípio ele foi contra, mas depois entendeu que era para reciclar. E não teve volta, porque o TV Pirata, que fazia bastante sucesso, saiu do ar, inexplicável e, inesperadamente. Capítulo XXI Mulher de Negócios Já contei que fui a filha impostora de Fernanda Montenegro em Cambalacho. O que não disse é que foi nos bastidores dessa novela que começou algo que mudaria meus rumos profissionais. Sempre conversava muito com Fernanda e um dia ela me falou que eu devia produzir as minhas peças e não ficar à espera de convites. Fernanda apontou meu temperamento conciliador e a capacidade de entender a cabeça das pessoas, fundamentais para uma produtora lidar com as loucuras e neuroses dos artistas com que trabalha. Pouco depois me entusiasmei com Fulaninha e Dona Coisa e parti para produzir. A Divina Chanchada e Ela Odeia Mel, as últimas peças que eu fizera, não tiveram sucesso popular. Comédia musical de Vicente Pereira, A Divina Chanchada era dirigida por Jorge Fernando, que colocou o seu dinheiro na montagem desse supermusical, com bailarinos, elenco grande e até um avião que entrava em cena. Como uma repórter do fim do mundo chamada Solanginha, eu fazia comédia, drama, dançava, cantava e na última cena era levada por um disco voador. Cheguei para o primeiro dia de ensaios crente que ia ter leitura de mesa, mas o diretor partiu logo para a ação, foi montando a coreografia, me botou lá em cima, carregada por vários homens, já dançando. Tudo muito ágil, eu adorei. Jorginho rezava todo dia para o teatro lotar. Parecia que suas preces tinham sido atendidas no primeiro dia, quando encontramos a porta do teatro apinhada. Mas eram grevistas fazendo piquete na frente do Teatro do BNH contra a falência do órgão. Isso contribuiu para afastar o público de nossa peça, que era muito engraçada, mas foi pouco vista. Do fracasso A Divina Chanchada ganhei um amigo para toda a vida, o Jorginho. No mesmo palco, Ela Odeia Mel, do Hamilton Vaz Pereira, também não encontrou maior repercussão. Para nossa surpresa, a temporada paulista, no Sesc Anchieta, foi um êxito, com sessões extras, inclusive. Foi nessa peça que conheci Deborah Evelyn, excelente atriz e uma das amigas que mais amo. No início, achei o texto do Hamilton um pouco complicado, mas a sua direção era estimulante e ele propunha uma linguagem tão criativa e interessante, que acabei me apaixonando pelo espetáculo, que era visualmente muito bonito. Quem me apresentou Fulaninha e Dona Coisa foi Marco Nanini, nos bastidores da Globo. Adorei a peça de Noemi Marinho, extremamente engraçada e humana, mas imaginei que ele me queria para fazer a patroa, outra grã-fina na minha carreira. Estava enganada e delirei quando ouvi que seria a fulaninha. Fiquei tão entusiasmada, que resolvi produzir a peça junto com Thaís Portinho (a Dona Coisa no Rio de Janeiro) e Fernando Libonati (que também era diretor de produção). Minha primeira produção e também minha peça de maior sucesso, Fulaninha me marcou muito. Foram três anos e meio em cartaz. Acho Marco Nanini o melhor ator brasileiro e isso desde sempre, desde a primeira vez que o vi em cena em A Vida Escrachada, ao lado de Marília Pêra. Histórias de Zoo, Desgraças de Uma Criança, Encontro no Bar: nunca mais perdi uma peça com Nanini. Contracenamos em TV Pirata e em dois episódios de Comédias da Vida Privada, onde eu fazia a mulher dele. Combinamos bastante, imprimimos bem o casal e fica parecendo que somos mesmo marido e mulher. E o fato de sermos muito amigos faz com que ambos fiquemos muito à vontade. Agora falta batermos uma bola no palco e aproveitar essa química. Muito organizado e aplicado, o diretor Marco Nanini estudou detalhadamente cena por cena da peça e criou as ligações de maneira muito inteligente. Ele me deu toda liberdade para criar e, inventadeira que sou, criei muitas coisas que ele usou, como a dança da chuva, inspirada na inesquecível Gesolmina, vivida por Giuleta Massina no filme La Strada, de Federico Fellini. Eu que já era apaixonada por Nanini fiquei fã para sempre. Fulaninha não demorou a baixar até porque vinha bastante treinada dos dois anos do TV Pirata, onde interpretei uma empregada chamada Zulmira. Fulaninha chega da pequena Torrãozinho, não sabe de nada e convivendo com a televisão – a quem chama de ela –, o telefone, a máquina de lavar, vai ficando mais esperta. Ao assimilar São Paulo, passa por uma grande transformação. Busquei inspiração numa empregada que tive na infância, que corria olhando para os lados e falsificou a identidade a lápis. Não houve pesquisa para a personagem, mas um trabalho de mesa rico do Nanini, que tem um jeito de estudar os textos como poucos diretores com que já trabalhei. Até hoje, depois de tanto tempo, ainda usamos expressões de Fulaninha, como agora eu quero desreleixar. A peça estreou no Rio com Thaís Portinho e para São Paulo foi remontada, ganhou outro cenário e entraram Aracy Balabanian e Genésio de Barros, substituído nas viagens por Paulo César Grande. Viajamos por muitas capitais do Brasil e voltamos ao Rio no final da temporada. Dominar a platéia e não ficar na mão dela foi uma das lições para o resto da vida que aprendi com Marco Nanini. Ele me falou que comédia era como uma onda, não se pode deixar a onda estourar e se espalhar. Se o ator esticar demais a piada, ele acaba nas mãos do público, ao invés de ocorrer o contrário. Durante a temporada toda exercitei essa dica fundamental do meu amigo e diretor. Toma cuidado para não querer aparecer mais que a Fulaninha. Não queira ser mais engraçada que ela, cuidado pra não espremer a personagem. Ouvi essas frases de Nanini, quando o espetáculo já estava por um bom tempo em cartaz. Aprendi para sempre a respeitar muito os tipos que interpreto, nunca querer ser mais engraçada, ou mais perversa, ou mais sexy, do que nenhuma personagem. Fazer aquela criatura como ela é. E sempre ficar atrás dela com o maior respeito. Marco Nanini fez por 11 anos O Mistério de Irma Vap e em todas as vezes a que assisti, e foram muitas, fazia como se fosse a primeira vez. Durante algum tempo, Fulaninha e Irma Vap estiveram no mesmo teatro, o Cultura Artística, de São Paulo. Como Fulaninha acabava antes, assistia ao segundo ato de Irma Vap para depois ir jantar com Nanini, Ney, Aracy, Nando, Regina (produtores da peça) e Ricardo Aronovich, empresário paulista, que namorei durante alguns anos e conheci nessa época. Viramos uma turma unida e guardo boas lembranças dessa temporada paulistana. A Carla Camurati fez uma versão de Irma Vap para o cinema. Faço uma participação como Louise Cardoso mesmo, na cena do enterro de um produtor de teatro, filmada no cemitério carioca São João Batista. Nem tudo foi festa na longa trajetória de Fulaninha e Dona Coisa. Meu pai faleceu em 1992, quando eu apresentava a peça em São Paulo. Soube no sábado, cancelei o espetáculo, fui para o enterro no Rio e, como o show não pode parar, no domingo já estava no palco. Foi uma barra, mas dediquei o espetáculo para ele. Meu pai era um homem muito alegre, vivia cantando, gostava de caminhar e tinha várias namoradas. Estava com câncer fazia um tempo e quando viu que ia mesmo morrer vítima da doença, ligou o gás e pôs fim a sua vida. Ele me falou que ia fazer isso e pior é que dei força, mas quando o fato se consumou fiquei arrependidíssima e culpadíssima. Não acreditava que ele fosse se matar. Com a evolução da doença ele morreria asfixiado e falou que quando não pudesse mais caminhar e conversar acabaria com tudo. Esperou eu ir para São Paulo com a peça para concretizar seu plano. Foi um sofrimento, mas entendi seu ato e como sou espiritualista e medito todo dia, imagino que a pessoa que se mata deva sentirse muito sozinha naquela hora. Ele tinha artigos publicados em revistas médicas onde defendia a eutanásia. Morava sozinho e deixou um bilhete. O Ricardo, meu namorado, me acompanhou ao Rio, ficou todo o tempo comigo, me dando um apoio, que foi fundamental. O senso de humor de minha mãe é acentuado e se mantém inalterado com o passar do tempo. É uma daquelas mulheres de um só homem e leva sua vida de um jeito todo especial. Depois da separação, retomou um pouco da agitação dos tempos do teatro amador de sua juventude em Minas. Eu a coloquei no Tablado e Maria Clara Machado dizia que ela era ótima e que meu lado de comédia vinha dela. Em 1989, mamãe trabalhou na novela Que Rei Sou Eu? Fazia um papel pequeno, a Aia da rainha. Ela teve outros convites para fazer televisão, mas recusou: não gosta de aparecer e achou chato ficar horas esperando. Capítulo XXII Vila Mimosa Depois de tanto tempo às voltas com Fulaninha, veio a vontade de encarar um texto forte, denso. Diogo Vilela vinha também da longa temporada de Solidão, A Comédia. Ambos na primeira produção e com peças muito bem sucedidas, estávamos doidos para trabalhar juntos, o que já acontecera no TV Pirata, em duas peças infantis e nas adultas A Mentecapta e Clown Nine. Comecei a ler textos e Diogo vivia dizendo quero fazer papel de bofe, adoro fazer papel de bofe – e realmente faz muito bem. Quando li Navalha na Carne, Neusa Sueli bateu forte e senti que tinha de representar aquela mulher. Nunca assistira a nenhuma montagem da conhecida peça de Plínio Marcos e até tentei conferir Tônia Carrero no papel, mas fui barrada por minha pouca idade. Montamos, Marcos Alvisi dirigiu e desde os ensaios sempre foi muito difícil, inclusive para conseguir patrocínio, já que muitas empresas não queriam associar seu nome à peça. Não faltou quem dissesse você tão meiguinha, estava tão bonitinha em Fulaninha e Dona Coisa, vai fazer essa prostituta decadente. Incômodos à parte, era mais uma prova de que os magníficos personagens de Plínio Marcos continuavam até mais atuais do que em 1967, quando a peça foi montada pela primeira vez. De uma violência assustadora, Navalha na Car-ne é muito naturalista e o ideal é que fosse interpretada por uma prostituta mesmo. Sabia desde o início que era uma personagem difícil, dramática, marginal, sofrida, mas achei que aos 40 anos estava madura para interpretá-la. No início dos ensaios percebi que estava enganada e que eu, meio infantil, alegre, alto-astral não estava conseguindo passar o drama daquela mulher madura e nem a barra pesada que ela vivia. Atrás do clima sórdido Neusa Sueli, resolvi ir até a Vila Mimosa, famosa zona da prostituição carioca. Conversei com algumas prostitutas, elas me contaram suas histórias, mas fiquei bastante impressionada com o olhar delas: de uma tristeza profunda, sem fim. Ao entrar naqueles quartos consegui sentir todo o clima da peça. Também fiz contato com o sindicato das prostitutas e a estréia no Rio foi para elas, que entravam no teatro com uma flor no vestido. Ao final, a presidente do sindicato subiu no palco e falou que as coisas mudaram muito para elas desde que essa peça foi escrita e nos agradeceu. Foi emocionante. Na visita aos quartos da Vila Mimosa reparei que eles tinham um elemento em comum, a imagem de São Jorge. O cenário de Gringo Cardia reproduzia uma imagem gigante do santo guerreiro. No final, quando Neusa Sueli come o sanduíche sozinha, entrava uma batucada e aquela imagem gigantesca descia por cima dela, como se a protegesse. O efeito era belíssimo. Infelizmente só os cariocas viram esse cenário, pois devido à diferença no tamanho dos teatros, não houve condições de trazê-lo para o Cultura Artística de São Paulo – No Rio, a temporada foi no Villa Lobos. Plínio Marcos vendia seus livros na frente do teatro, em São Paulo. Disse a ele que teria uma bancada para comercializar seus escritos no saguão e sugeri que botasse uma roupa melhor. Todo bonitinho, vendia seus livros e depois da peça ia jantar conosco no Gigetto, ali pertinho do teatro, e nos contava suas histórias. Diogo e eu andávamos com Plínio para cima para baixo e ficamos amicíssimos. Isso depois de um pequeno desentendimento inicial. É que Marco Aurélio, nosso produtor, estava em sua segunda produção, ainda inexperiente. Quando viemos para São Paulo ele encheu a cidade com lambe-lambes escritos assim: Vem aí Navalha na Carne, com Louise Cardoso e Diogo Vilela. O resultado foi a interdição da peça pelo autor, com o seguinte argumento: Então Navalha na Carne não é do Plínio Marcos? Mas tudo se resolveu, pedi para ele comparecer à coletiva de imprensa, Diogo teve um problema e não conseguiu chegar, mas Plínio foi e nos ajudou muito na divulgação da peça, com suas declarações bombásticas e surpreendentes além da sua inteligência e humor. Certo dia Plínio entrou no meu camarim e deitou no sofá, dizendo que não estava se sentindo muito bem. Botei a mão em sua testa e ele estava pelando de febre, e quando olhei para seus pés vi que estavam escuros, assim como toda a perna. Nesse dia, quem veio assistir à peça era Roger, médico brasileiro que morava em Nova York, amicíssimo meu e de Diogo, e o chamei às pressas. Plínio corria risco de vida, precisava ser internado imediatamente e saiu do camarim com uma meia minha toda colorida e com sua verve habitual: porra, agora todo mundo vai ter certeza que eu sou veado. Depois da peça, que é curta, fomos correndo para hospital e o encontramos sentado, ainda esperando para ser atendido. Fiz o maior discurso: Vocês conhecem Nelson Rodrigues? É o maior dramaturgo do Brasil e morreu. Vocês querem agora matar Plínio Marcos? Ele não gostou de meus argumentos: Porra, você disse que sou o segundo. Internamos Plínio e um médico japonês veio perguntar se eu me responsabilizava por ele, que podia perder o pé ou a perna. Fui até o Plínio, informei-lhe da situação e ouvi: porra, esse japonês me odeia. Como a mulher dele estava viajando e não conseguira encontrar seu filho, assinei um documento me responsabilizando e ele foi operado. Começamos todos a rezar, Diogo ficou nervoso e resolveu passar mal também – quando vi ele estava numa maca. Acho que essa foi a noite mais louca da minha vida, felizmente deu tudo certo e Plínio se recuperou, só vindo a falecer muitos anos depois. Ele gostava da nossa montagem e me disse que minha Neusa Sueli era a que ele mais gostou, mas acho que era só pra me agradar. Claro que também fez suas observações: Disse-me que não precisava ter ido na Vila Mimosa e que iria encontrar a Neusa Sueli dentro de mim. E que a imagem de São Jorge no cenário, que ele nem viu, era um detalhe desnecessário. Sua emoção é a melhor coisa, me dizia. Meu bofe teatral é meu amigo Diogo Vilela. Combinamos de maneira incrível e somos capazes de falar apenas com os olhos, conversamos loucamente assim. No palco, em Navalha na Car-ne, houve uma cena absurda: em determinado momento, Neusa Sueli botava uma chave no seio e Vado a enchia de beijos até encontrar a chave e se mandar, saindo pela porta. Teve um dia que a chave sumiu, Diogo me olhou com uma cara de onde está?, fiz uma de não sei e logo ele mandou um “vou procurar” e começou a me beijar loucamente. Marco Aurélio, irmão do Diogo, nosso produtor, estava assistindo e pensou: nossa, hoje está quente. Como Diogo não localizou a chave no seio, levantou a minha saia e seguiu a procura fingindo que fazia outra coisa e eu de Neusa representando uma excitação próxima ao clímax. De repente, ele me lançou um olhar de não estou achando de jeito nenhum e devolvi com um de E agora?, pois se aquela situação continuasse a peça não iria terminar nunca. Depois de mais alguns instantes, ele localizou a chave debaixo da cama e deu tudo certo. Essas nossas conversas loucas não aconteceram apenas no teatro e também apareceram no TV Pirata e no filme Leila Diniz. Diogo e eu temos uma relação incrível, tanto que a mãe dele acha que somos apaixonados até hoje e nunca casamos porque um não admitiu para o outro que era apaixonado. Já falei para ela que somos apaixonados sim, mas não é pra casar. Capítulo XXIII Pelo Mundo Em abril de 1996 me dei conta de que estava há dez anos sem tirar férias, dedicada exclusivamente ao trabalho, decidi que era hora de relaxar e parei com tudo. Como minhas viagens ao exterior se resumiam a alguns países da América do Sul e estadas em Nova York, resolvi conhecer a Europa e fiz uma tour por vários países. Fui muito fominha e o roteiro incluía várias cidades, o que não é ideal. A primeira parada foi na Itália, percorri várias cidades e fiquei impressionada com Assis. Era só uma passadinha, mas encantada com atmosfera de silêncio, paz e tranqüilidade do lugar onde viveu São Francisco, dei um jeito de passar a noite por lá. Em Amsterdam, na Holanda, fiquei enlouquecida com o Museu Van Gogh e passei um dia inteiro lá dentro. Andando a esmo em Frankfurt, na Alemanha, vi alguns jovens fazendo mímica numa praça. Mas eles não tinham muita noção da coisa. Não resisti, entrei no meio, tentei mostrar os gestos corretos, acabamos ficando amigos, tomando cerveja num bar e comemorando meu aniversário. O jeito dos londrinos e seu senso de humor me conquistaram e Londres transformou-se numa paixão. Assisti a várias peças e o que ocorria em minha volta me atraía quase tanto quanto o que acontecia no palco. No intervalo de uma sessão, algumas senhoras muito bem vestidas tiravam sanduíches de suas bolsas e ofereciam a quem estava em volta. Era muito divertido vê-las salpicadas por migalhas que iam caindo dos pães. Claro que a partir da próxima peça comecei a fazer a mesma coisa. Uma das melhores coisas que pode acontecer em uma viagem é perder-se, abandonar roteiros rígidos, essa é a melhor forma de encontrar coisas e pessoas interessantes, ao sabor do acaso. Capítulo XXIV Cais do Porto Prostitutas se tornaram constante em minha carreira, inclusive na televisão. Em 1992, voltei a trabalhar com Silvio de Abreu em Deus Nos Acuda, novela das sete dirigida por Jorge Fernando. Gilda, minha personagem, rodava a bolsinha no cais do porto de Santos, onde se passava parte da ação da novela e que serviu de cenário para muitas seqüências. Silvio me avisou que Gilda não seria deprê, nem triste e muito menos desonesta. Fiquei encantada com a complexidade daquela mulher, que fugia da linha das boas mocinhas que eu vinha fazendo até então. As primeiras cenas foram gravadas ao lado de um prostíbulo e as moças do pedaço ficaram indignadas por eu estar fazendo papel de prostituta. Assim que Deus nos Acuda estreou, as prostitutas de Santos se tomaram de amores pela novela e quando faltavam 15 para as 7, a zona fechava, parava tudo e só voltava a abrir depois do capítulo. E elas passaram a imitar o que minha personagem fazia. Gilda não era nada conformada e por tentar reivindicar seus direitos foi mandada embora pelo dono do bordel (Emiliano Queiroz). Vira prostituta de rua, cai nas garras do cafetão mau caráter (Paulo César Grande), até que conhece um milionário (Ary Fontoura), larga da profissão, mas se recusa a virar dondoca e continua a reivindicar seus direitos. Nessa novela trabalhei com Dercy Gonçalves. Já nos conhecíamos do TV Pirata, onde ela gravou várias participações. Gostava muito de contracenar com Dercy, sempre a respeitei e ela permanecia quietinha antes de entrar em cena, não ficava conversando não. Dercy dizia, e eu a entendi muito, que se ficasse se agitando, conversando e contando casos, na hora da comédia estaria sem energia. Eu ficava lendo, não puxava assunto com ela e isso deu certo. Também contribuiu para o nosso bom relacionamento o fato de que eu só entrava com meu texto quando ela parava de falar. Dercy não fa-lava o texto, falava tudo menos o texto, às vezes até obedecia o roteiro, mas acrescentava outras coisas. Já estava preparada para isso, trabalhara com Tereza Rachel e vinha da escola de improvisação do Tablado. Dercy e eu nos acertamos, tanto no TV Pirata quanto em Deus nos Acuda. Na novela tivemos poucas cenas juntas, já que ela ficava no núcleo do céu, contracenando apenas com Cláudio Correa e Castro e Eduardo Martini. Mas teve uma parte em que Celestina, a persona-gem dela, descia para a terra e se juntava comigo e Claudia Raia em uma cena absurda. Apareço pulando amarelinha com Dercy Gonçalves. Em A Força do Desejo (1999), novela de época do Gilberto Braga (a quem amo de paixão), vivi a cortesã Guiomar, que trabalhava no salão da Ester (Malu Mader). Essa mulher bem humorada e extremamente humana me deu a oportunidade de fazer uma composição de época do século 19. Houve workshop com filmes e estudo do comportamento daqueles anos, e aproveitei para reler alguns livros do tempo da faculdade de letras. Adoro personagens de época e acho que me encaixo bem no século 19. Guiomar quebrava os bons costumes – erguia a saia mostrando a roupa de baixo, dava gargalhadas e falava alto, enquanto as mulheres não levantavam a voz nem os olhos. Para fazer tudo errado, precisei aprender primeiro o jeito certo, como andar, como comer... O diretor Mauro Mendonça Filho me pediu algo diferente para a personagem e criei uma gargalhada absurda para torná-la ainda mais chocante. Essa gargalhada explodia nos momentos mais inusitados e virou a marca da personagem. Mulher sambada, vivida, Guiomar era uma espécie de melhor amiga, irmã mais velha, da heroína interpretada por Malu Mader. Contracenei bastante com Daniel Dantas, que fora meu colega do filme O Sonho Não Acabou. Daniel é tido como uma pessoa difícil, mas não é nada disso. Pouco íntimo das regras sociais, ele não cumprimenta as pessoas assim que as vê. Logo no início, dispensei-o dos cumprimentos e ele ficou felicíssimo. Daniel chegava, me olhava e não falava nada, depois começávamos a conversar e dava tudo certo. Ele é autêntico e bom caráter, além de ser um ator fantástico. Mais uma prostituta marcante, desta vez em um Você Decide, dirigido pela Denise Saraceni, sobre uma mulher que abandona o filho, o reencontra depois de muitos anos, quase transa com ele e depois disso tenta se matar. Gravei uma externa no Leme com as pernas do lado de fora da janela, mas estava amarrada pela cintura totalmente segura e quando meu motorista, seu João, apareceu pra me buscar e me viu lá no alto do 12o andar, achou que eu poderia cair, pois não via a corda que me amarrava: Dona Louise, pelo amor de Deus, desce daí, a senhora vai cair, gritou ele lá de baixo, interrompendo a gravação. Outra personagem forte e que me marcou foi a Amália, do caso especial As Pessoas da Sala de Jantar, texto de Gianfrancesco Guarnieri, magistralmente dirigido pela Denise, também. Amália era uma mulher muito só que morava com uma tia doente numa casa sombria e que conversava com seus mortos. Mantinha relações com um homem casado (Paulo José) e era fascinada pela morte. Haja conflito. Esses são os melhores personagens, mas no início não queria aceitar o papel porque tive medo. Felizmente Denise me convenceu. Volta e meia interpreto mulheres liberadas. Era assim a dona do hotel de Felicidade (1992), novela de Manoel Carlos, baseada em personagens de Aníbal Machado e dirigida pela Denise Saraceni. Foi uma participação especial em 20 capítulos, e essa criatura forte, emancipada e independente era a mais mal falada da cidade. Contracenei principalmente com Herson Capri, Aracy Balabanian e Maitê Proença. Nada a ver com a argentina Mercedes Hidalgo de Zazá (1997), que beirava a peruice com suas roupas multicoloridas. Secretária e amante do patrão (Cecil Thiré), ela jurava ser carioca de Madureira e uma de suas frases dita num portunhol pegou e virou bordão: Sou cariôca. Meu primeiro encontro com as donas de casas de vida mais certinha foi em Cara e Coroa (1995), novela de Antonio Calmon. Mãe de família, a professora Laurinha era mulher de Rômulo (Antonio Grassi) e tinha filhos adolescentes. Eu me inspirei na Marilyn Monroe de Os Homens Preferem as Loiras, onde ela faz uma míope que não usa óculos e se confunde toda. Deu certo, ficou engraçado e eu fazia drama e comédia, tudo muito bem marcado pelo excelente diretor Wolf Maya. Após dois anos de Cara e Coroa, interpretei outra personagem tímida e desastrada, dessa vez no teatro, em Salve Amizade. Essa peça de Flávio Marinho, que virou meu amigo de infância, tem muito a ver com o universo de Woody Allen e o diretor norte-americano funcionou como nosso guia durante os preparativos. Vimos todos os filmes de Allen, que é um de meus cineastas favoritos, e recorri ao estilo de Diane Keaton, sua ex-mulher e uma de suas atrizes mais constantes, como inspiração para minha personagem. Botei uns óculos e fiquei um pouco parecida com Diane. Era uma mulher tímida, intensa e apaixonada, mas que fazia tudo errado – ficava nervosa e tinha asma, começava a jogar os cabelos para frente e para trás, a botar e tirar os óculos. É uma das melhores comédias de Flávio Marinho e ficou um tempão em cartaz. Estava atrás de patrocínio para montar As Três Irmãs, quando ele me deu o texto da peça, com o aviso que havia escrito para mim. Li, vi que não podia ficar fora, disselhe que faria por oito meses e depois sairia para atuar em As Três Irmãs. Acabei só produzindo As Três Irmãs, que foi estrelado por Maria Padilha, Julia Lemmertz e Claudia Abreu. Como atriz convidada de Salve Amizade, trabalhava com Cristina Pereira que é minha amiga há muito tempo e ganhou o apelido de Capivara por causa do seu cabelo nessa peça. Cristina usava um coque perfeito e tinha noites que entrava em cena com o cabelo todo eriçado, tipo Luluzinha viu o leão. Mais: determinadas noites ela começava a falar seu texto numa rapidez incrível, parecia um trem bala, eu só olhava e dizia minhas falas com muita calma, para mostrar que ela estava correndo. Cristina é adorável, uma das pessoas que mais amo de nossa classe, uma atriz genial, mas de vez em quando fica acelerada. O dia em que ela trabalhar com Ney Latorraca eu quero estar na primeira fila, pois os dois vão disparar a falar rápido. Capítulo XXV Blanche Baiana Ao reler a biografia de Tennessee Williams descobri que ele criou Serafina, a protagonista de A Rosa Tatuada, em homenagem a Ana Magnani. Foi o que me levou a montar essa peça, que não é das melhores do dramaturgo americano, mas a mais leve, mais romântica, mais comédia. Resolvi fazer a Ana Magnani, fui atrás de seus filmes e comecei a estudá-la. Essa pesquisa foi muito legal e me fez conhecer melhor essa grande atriz italiana que tem uma relação animal com o cinema. É parecida com Teresa Rachel, que também tem uma relação animal com o teatro. Apaixonada, interpretei Serafina em homenagem a Ana Magnani. Ficou algo assim como a Louise Magnani. Engordei seis quilos para interpretar a persona-gem. Mariana Ximenes, em sua estréia no teatro, fez lindamente o papel da filha, Rosa. Leonardo Brício era o caminhoneiro e foi substituído por Marcelo Escorel. Ambos faziam muito bem aquele bufão – Leonardo mais lírico e Marcelo mais comédia. E tudo terminava com final feliz. O diretor português Filipe Tenreiro fez uma adaptação muito boa do texto junto com Flávio Marinho, que se encarregou da tradução. Das 23 personagens restaram 16, o que facilitou a produção, montada com oito atores, a maioria interpretando mais de um papel. Viajamos por algumas capitais do Brasil, mas São Paulo não viu nossa Rosa Tatuada. Quando me convidaram para Porto dos Milagres, de Aguinaldo Silva, estava completamente sem agenda, às voltas com A Rosa Tatuada. Marcos Paulo insistiu, pois a personagem era baseada em Blanche Dubois e tinha tudo a ver com o meu momento Tennessee Williams. A frágil e desnorteada Maria Leontina bebia umas cachaças e partia com tudo para cima dos pescadores da novela. Contracenei com Marcélia Cartaxo, Vladimir Brichta, Fulvio Stefanini, Marcelo Serrado, Sérgio Menezes e Arlete Salles, que fazia minha irmã, uma personagem extremamente engraçada. Leve e feminina, Maria Leontina era uma mulher antiga que se maquiava como nos anos 60, usava roupas até o pé e echarpes. Capítulo XXVI Minha Vida de Cachorra Bem pequena, em Petrópolis, fui mordida por um cachorro, que ficou um tempo em observação e depois sumiu no mundo. Mamãe muito zelosa e papai médico me fizeram cumprir à risca o tratamento: injeções diárias e doloridas aplicadas na barriga. Bobinha, tentava me livrar daquela tortura e me escondia sempre no mesmo lugar, embaixo da cama, onde sempre me encontravam na hora da agulhada. Ao final do tratamento ganhei uma boneca, mas ficou o medo de cachorro, embora adore animais. Muita gente não entendeu quando, em comemoração aos meus 25 anos de carreira, resolvi produzir Sylvia. Achei o texto tão inteligente quanto engraçado: o nonsense e o lúdico me atraíram. É a história de um homem em crise com a mulher, com o trabalho e com sua idade que encontra a cachorra Sylvia e a vê como mulher: aos seus olhos ela fala, pensa, canta e, naturalmente late. Atrás da essência da cachorra e não da caricatura, precisei vencer o medo de cachorros. Procurei In Coelum, dona de um canil e que fornece cachorros para filmes e novelas. Disse-lhe que precisava entrar em contato com animal grande para perder o medo e ela me apresentou o seu rotweiller. Rolei na grama com aquela cadela, que babava em mim e ficamos amigas. Quando convidada a falar sobre a peça no programa do Jô, apareci com um cachorro imenso chamado Miguel Falabella. Ele entrava na peça em vídeo e tornou a entrevista com o Jô curiosa. Aprender a latir levou algum tempo. Assim que li a peça, comecei a abrir meus ouvidos para os sons dos poodles vizinhos do Bairro Peixoto, onde eu morava na época. Não foi muito complicado, pois tenho um bom ouvido e latir acabou funcionando como exercício de voz. Quando começaram os ensaios, os latidos já estavam em mim. E no primeiro dia já tinha a essência da personagem, mais ou menos como acontecera com o gato de O Dragão no Tablado. E num dos ensaios, travei um diálogo incrível com o Tui, o cachorro do Aderbal Freire Filho, o diretor da peça. Ele latia e eu respondia com outro latido; ficamos nisso um tempo, mas não sei dizer o que nós conversamos. No final da peça, Sylvia reconcilia aquele homem (o saudoso André Valli) com a vida, com a mulher (Denise Del Vechio), com o trabalho. O epílogo é passado dez anos depois, com os dois atores sentados, conversando com a platéia, lembrando histórias da cachorra, de como ela era especial e querida. Enquanto estava fazendo a peça perdi completamente o medo de cachorro, que foi voltando aos poucos e hoje quando ando na rua e vejo cachorro grande mudo de calçada. Pedro Aguinaga é meu vizinho e sempre que o encontro passeando com seu Fila e Pitbull atravesso rápido. Um dia o encontrei na Globo e fui lhe dizer que não tinha nada contra ele. Ah, não. Imagina se tivesse, você me vê e atravessa a rua. Disse que tinha medo dos cachorros e ele garantiu que eram uns amorzinhos, que o pitbull era uma criança. Não duvido, mas continuo atravessando a rua. Para me preparar para a cachorra, chegava uma hora e meia antes e fazia um exercício físico bem forte. Depois de 40 minutos de esquentamento, começava a latir para colocar a voz. Que inferno quando ela começa a latir, dizia o Marcelo Saback (que vivia três personagens na peça e era hilário), porque os cachorros da vizinhança respondiam. Como fiz um gato no início da carreira e uma cachorra 25 anos depois, brincava com meus amigos que quando fizesse 30 anos de profissão, montaria A Cabra, que Edward Albee escreveu depois de assistir a Sylvia. A Perereca da Vizinha, do repertório da Dercy Gonçalves, virou praticamente tema da intimista O Acidente, peça de Bosco Brasil. Um dia nos preparávamos para uma apresentação para o autor e a diretora Cibele Forjaz, muito paulistana, veio nos avisar com voz sussurrante: Vou trancar vocês no camarim e na hora de começar dou o terceiro sinal. Disse que não ia fazer aquilo, Marcelo Escorel também e Cibele perguntou o que fazíamos para nos concentrar. Pronto: baixou A Perereca da Vizinha e ficou até o fim da temporada. Todo dia, antes de começar, vinha A Perereca. A peça tinha um clima pesado e essa música funcionava como catarse. Bosco Brasil chegava ao teatro, perguntava onde estávamos e ouvia: agora eles não podem falar com ninguém, estão fazendo A Perereca. Aquilo deu sorte. Depois eu ficava quieta, num canto, segurando uma pedra na mão, que representava o gauche de minha personagem, tudo o que lhe incomodava. Segurava aquela pedra, que batizei de Miriam (que era o nome da minha personagem), rezava Pai Nosso, pedia ajuda, proteção e sempre achava que não ia conseguir me emocionar, que ia ficar fria, e a cada apresentação me vinha uma emoção cada vez maior. Em determinado momento minha personagem contava o trauma de ter sido estuprada e quando eu falava aquele texto chorava aos prantos, eram lágrimas que vinham não sei de onde. O estupro só aparecia no fim da peça e era a causa da estranheza de minha personagem. O título O Acidente não se referia apenas ao estupro, ao contrário do que muitos pensaram, e também tinha a ver com outros acontecimentos. A peça não funcionou no Rio, onde só tivemos estudantes na platéia e não apareceu nenhuma daquelas maravilhosas vans, que fazem a delícia de nós, produtores de teatro. Mas em São Paulo a temporada foi bem, o que também ocorreu nas viagens. Acho Bosco Brasil um tremendo autor e O Acidente talvez seja a melhor peça que produzi. Capítulo XXVII Educação Sentimental Tenho um amigo, o produtor Fernando Libonati, meu sócio em Fulaninha e Dona Coisa, que vive dizendo na época do Ricardo, na época do Jean Louis..., referindo-se a alguns amores que passaram na minha vida. Digo para ele parar de falar esses nomestodoseodanadonãoperdeorebolado: mas foram tantos, Louise. É pura brincadeira dele, nem foram tantos assim. Eu me senti casada algumas vezes, mas nunca assinei o papel. Quer dizer: segundo a leisou solteira.Quandobem jovem, apaixonada e doida para me casar, ouvi de meu pai que atriz não casava, juntava. Devo ter gostado do conselho, não sou contra o casamento, só que nunca rolou, mas tive a sorte de encontrar belos parceiros. Acho Guel Arraes um ser humano da melhor espécie, além de ser um grande artista. Quando fiquei grávida dele, morri de medo de ter a criança. Não me sinto preparada para ter filho nessa encarnação. Sempre me senti criança, nunca me senti pronta. Guel é um amigo fiel e protetor, namoramos um tempo e fui muito apaixonada por ele. Nunca brigamos seriamente. Quando somos muitos jovens, separamos no primeiro problema. Eu tenho esse temperamento impulsivo e com Guel acho que a separação veio antes da época, no primeiro desentendimento. Podíamos ter ficado muito mais tempo juntos. Muito depois do fim de nossa relação, ele me disse que nos separamos porque um respeitava demais a liberdade do outro. Tenho facilidade de me apaixonar e de enjoar. E depois de um tempo fico amiga dos ex-amores. Já falei do Ricardo Aronovich, empresário paulista, e da relação que começou na época de Fulaninha e Dona Coisa. Quando voltei ao Rio, a distância virou um problema, começou a dar uma ciumeira danada nos dois e resolvemos nos separar. Continuamos amigos, ele é uma pessoa muito especial e hoje tem uma filhinha linda. Com o fotógrafo belga Jean Louis morei junto e só nos separamos porque ele voltou para seu país natal. Outra paixão estrangeira foi o português Filipe Tenreiro, mas quando ele me dirigiu em A Rosa Tatuada o namoro já havia acabado. Com o ator e diretor Fernando Philbert tenho um relacionamento intenso. Quando nos conhecemos ele morava no Rio (foi na novela Zazá) e algum tempo depois mudou para a cidade de Castro, no Paraná. Nunca vivemos juntos, mas ele é um grande companheiro. Estive em Castro algumas vezes. A relação acabou sem brigas e provavelmente por não ter um cotidiano. Depois voltamos, acabamos de novo... Ainda não perdi as esperanças de encontrar o amor da minha vida. Capítulo XXVIII Inventadeira Os trabalhos mais ousados que fiz ultimamente na TV tem a direção de Mauro Mendonça Filho. Inquieto, inteligente, Maurinho é artista mesmo. Estudo a cena, chego para gravar e ele tem umas quatro versões mais interessantes do que a que imaginei e até da que o autor escreveu. É um diretor que estimula o ator e quando faço um trabalho com ele sei que vou ousar, posso até errar, mas sei que não vou me acomodar, não vou ficar naquilo que já sei e isso é fundamental. A novela A Força de Um Desejo teve direção do Maurinho, assim como Papo Irado. Esse quadro passava dez minutos no Fantástico, ficou dois anos no ar e virou um sucesso entre os adolescentes. Gostava muito da linguagem, tudo em croma. Minha personagem, a mãe da Tati (Heloísa Périssè), era mãezona mas independente ao mesmo tempo, namoradeira mas autoritária. Outras personagens deliciosos com direção do Maurinho vieram na série Comédia da Vida Privada, no episódio Pesadelo da Casa Própria. Era um programa bem ousado, feito com câmera na mão, muita improvisação. Numa gravação no Leme, que o diretor me disse ser tranqüila, desceu o pessoal do morro Chapéu Mangueira, falando o tempo todo comigo e Marco Nanini. Foi uma delícia de gravação, eu rolando na areia com o Nanini, tudo bem cafona. No caso especial Memórias de Um Sargento de Milícias, interpretei uma cigana meio druida meio russa, com um cabelão enorme. Era meio marginal e contracenava com Francisco Cuoco, que é adorável. Eu me dei muito bem com o Chico: Há algum tempo ele veio almoçar aqui em casa, ia produzir uma peça e me pediu umas dicas. De repente, Cuoco começou a fazer a peça pra mim. Foi um espetáculo, ele tem uma voz incrível e acho que nesse momento está acima do bem e do mal. Depois de três anos sem fazer novela, voltei em 2004 em Como Uma Onda. Dennis Carvalho, um amigo com quem adoro trabalhar, me chamou para essa novela escrita por Walter Negrão, que falava da colonização açoriana, mostrava a renda, pescaria e comidas típicas. Rendeira, mulher de pescador e com dois filhos crescidos, minha personagem Idalina nada tinha a ver comigo, que nunca dera um ponto em minha vida. Resolvi então tomar aulas de renda de bilro. Fiquei boiando na primeira vez, mas logo que botei os olhos na rendeira que vinha me dar lições, dona Conceição, senti que ela poderia ter o jeito da minha personagem. Na segunda aula, aprendi a dar a laçada e comecei a fazer a renda. E foi fazendo renda que consegui perceber e sentir quem era a Idalina. Fiz a toalha que iria usar em cena no primeiro dia de gravação – o acabamento de crochê ficou com a professora, mas o Bilro eu já tinha feito. A novela acabou, mas a renda de bilro ficou: fazer renda é uma espécie de meditação. Outra coisa legal dessa novela é que Cauã Reymond, que faria meu filho, me perguntou se poderia vir estudar os textos comigo e achei ótimo. Vieram Cauã, Fernanda de Freitas, Sheron Menezes e lemos os textos, falamos das personagens, fizemos exercícios. Tenho uma ligação com os jovens, que geralmente se interessam por mim e desenvolvi uma relação bacana com a garotada do elenco. Sheron Menezes, não era minha filha na novela, mas me chama de amiga mamãe e me contava várias histórias. No primeiro dia de gravação, quando entrou o núcleo do Pedroca (Tato Gabus), o cenário já deu certo. Tato é um ator muito engraçado e sutil, Dennis um mestre na comédia e logo se estabeleceu uma empatia e as cenas começaram a fluir. Adorei interpretar essa mulher rústica, mãe e dona de casa, mas sensual e engraçada. Quanto ao Tato: é um presente pra qualquer atriz trabalhar com ele. Capítulo XXIX Retiros Espirituais Sou mística, mas não sou supersticiosa. Jogo tarô e I-Ching há muito tempo e nos últimos anos com auxílio do computador. Sou vegetariana, mas tomo café. Já fui vegetariana total e agora como peixe e frango. Gosto de pedras, cristais, mas sem essa de ah, o cristal vai me curar. Claro que se uma pessoa me fizer uma massagem e no final colocar cristais nos meus chakras, vou amar. Minha relação com os livros é especial, mas abomino os de auto-ajuda, embora tenha alguns em casa. Parece maldição, mas todo aniversário alguém me dá um de presente e muitas vezes de uma xará, Louise L. Hay. Essa mulher escreveu alguns best-sellers do gênero, coisas como você pode curar sua vida. Espero que no próximo aniversário não ganhe livros de auto-ajuda. Sempre quis ter um caminho espiritual, desde que eu era do Tablado. Não sou exatamente católica, nem espírita, nem budista, acredito em determinadas coisas de cada uma das religiões, mas queria descobrir um caminho espiritual e isso não acontecia. Em 1989 fui passar uma temporada em Nova York com meus amigos Ney Latorraca e Diogo Vilela. Na época, namorava Paulo José, que não pode ir. Era inverno e todo dia acordava cedo e ia para o Central Park, pertinho da casa de Roger, o amigo que nos hospedava. Ficava ali no parque, olhando em volta, aquelas árvores, sentia uma energia diferente. Todo dia ia para o parque, Ney e Diogo não entendiam porque eu acordava às 8 naquele friozão e ia para lá, achavam que eu estava maluca. Como o parque é muito grande, eu imaginava que fosse habitado por muitas divindades, a do lago, das árvores, do teatro. E pedi para aquelas divindades me ajudarem a encontrar o caminho espiritual que me estava destinado e prometi que retornaria lá para reverenciar e agradecer. Quando voltei ao Brasil ocorreram várias tragédias: Dina Sfat, a ex-mulher do Paulo José, morreu, minha tia e uma afilhada recém-nascida, ficaram doentes, meu namoro com o Paulo não foi pra frente, foram vários problemas e fiquei meio mal. Saíra do TV Pirata para fazer a heroína de Mico Preto, gravava todo dia e fazia a peça Ela Odeia Mel em São Paulo. Acordava às cinco da manhã, gravava a novela, vinha a São Paulo para a peça, voltava ao Rio. Estava exausta e comecei a bater pino. Julia Lemmertz me recomendou fazer um cur-so de meditação. Apareceu uma folga de uma semana nas gravações e nesses dias fiz o curso, aprendi a meditar e descobri que esse era o meu caminho. E olha que antes eu não tinha paciência sequer para esperar um elevador. Dois anos depois Fernando Eiras e Stela Freitas me mostraram os ensinamentos de Gurumayi e aí me encontrei, conheci o caminho espiritual da Siddha Yoga, que não é uma religião, mas a procura de Deus dentro de você mesmo. A meditação é para atingir o seu eu, o seu verdadeiro ser e procurar queimar o seu ego. No ano de 2000 voltei ao Central Park e meditei por lá todos os dias de minha estada, conforme havia prometido. Tenho até foto meditando, o que é proibido, mas o Fernando Philbert tirou sem que eu visse. Faz tempo que medito todos os dias, assim que acordo, e se falhei foram pouquíssimos os dias. Tenho um altarzinho, medito no meu quarto, ou no hotel, ou na TV Globo: é fechar o olho e meditar o meu mantra: Om Namah Shivaya, que existe há milhares de anos e significa: eu reverencio o meu eu interior ou o Deus que existe dentro de mim. Às vezes medito no vazio, no silêncio. Há algum tempo fiz um curso incrível sobre o poder do silêncio. Sou falante, mas sinto necessidade de ficar em silêncio também. Estou cada vez mais nesse caminho e como atriz é bárbaro, porque aprofundei minha concentração. Quando estou fazendo uma cena dramática podem até martelar ali do lado que não ouço. E como vida essa interiorização também é excelente. Não sou uma atriz que cultua o ego, ele existe, está lá e vou me servir dele quando precisar. E com isso estou aprendendo a envelhecer, a lidar com a morte, essas coisas que costumam horrorizar muita gente. Minha busca é pelo ser. Quando era pequena, meu pai costumava dizer que eu era mordida de cobra, por causa do meu temperamento. Então em homenagem a ele, termino com o Poeminho do Contra, do Mario Quintana, a quem amo de paixão: Todos esses que aí estão Atravancando o meu caminho, Eles passarão... Eu passarinho! Cronologia Teatro Atriz 2008 • Mãe Coragem e Seus Filhos* – Anna Fierling Autor: Brecht. Direção: Paulo de Moraes. Com o grupo Armazém Companhia de Teatro 2003 • O Acidente* – Miriam Autor: Bosco Brasil. Direção: Cibele Forjaz. Elenco: Marcelo Escorel • Pluft, O Fantasminha – Mãe do Pluft Autor: Maria Clara Machado. Direção: Cacá Mourthé. Elenco: Claudia Abreu 2002 • Sylvia* – Sylvia Autor: A.R. Gurney. Direção: Aderbal Freire Filho. Elenco: André Valli, Guida Vianna, Marcelo Saback 2000 • A Rosa Tatuada * – Serafina Autor: Tennessee Williams. Direção: Felipe Tenreiro. Elenco: Leonardo Brício, Mariana Ximenez 1997 • Salve Amizade Texto e direção: Flávio Marinho. Elenco: Cristina Pereira • A Capital Federal Autor: Arthur Azevedo. Direção: André Paes Leme. 1994 Navalha na Carne* – Neusa Sueli Autor: Plínio Marcos. Direção: Marcus Alvisi. Elenco: Diogo Vilela, Hilton Cobra. 1990 • Fulaninha e Dona Coisa* – Fulaninha Autor: Noemi Marinho. Direção: Marco Nanini. Elenco: Thaís Portinho (Rio), Aracy Balabanian, Genésio de Barros (SP) 1989 • Ela Odeia Mel Texto e direção: Hamilton Vaz Pereira. Elenco: Edson Celulari, Claudia Abreu, Nelson Baskerville, Lena Brito 1986 • A Divina Chanchada - Solanginha Autor: Vicente Pereira. Direção: Jorge Fernando. Elenco: Guilherme Karam 1985 • Um Bonde Chamado Desejo – Stella Autor: Tennessee Williams. Direção: Maurice Vaneau. Elenco: Teresa Rachel 1984 • Besame Mucho – Dina Autor: Mario Prato. Direção: Aderbal Freire Filho. Elenco: Jonas Bloch, Natália do Vale, Henry Pagnocelli 1983 • Clown Nine, Numa Nice Autor: Carol Churchell. Direção: André Adler. Elenco: Diogo Vilela, Silvia Bandeira, Vicente Pereira 1982 • A Mente Capta Autor: Mauro Rasi. Direção: Wolf Maia. Elenco: Marlene, Diogo Vilela, Claudia Jimenez, Cristina Pereira 1981 • O Beijo da Louca Autor: Doc Comparato. Direção: Cecil Thiré. Elenco: Claudio Cavalcanti, Hélio Ary, Stella Freitas, Maria Lúcia, Eduardo Tornaghi 1980 • Village Autor: Ira Ivens. Direção: Wolf Maia. 1979 • A Feira Livre Autor: Plínio Marcos. Direção: Emiliano Queiroz. 1977 • O Beco do Brecht Autor: Bertold Brecht. Direção: João Carlos Motta. Elenco: Sura Berditchevsky, Guida Vianna • Os Cigarras e os Formigas – Formiga Autor: Maria Clara Machado. Direção: Wolf Maia. Com Lauro Corona, Denise Dummont, Ângela Leal, Diogo Vilela, Zaira Zambelli, Vera Setta, Maria Silvia, Thelma Reston, Sebastião Lemos 1976 • A Gata Borralheira Autor: Maria Clara Machado. Direção: Wolf Maia. Elenco: Lucélia Santos, Diogo Vilela, Sandra Barsotti, Betina Viany, Sandra Pêra, Angela Leal, Leiloca, Marcus Alvisi • Quarteto Autor: Antônio Bivar. Direção: Ziembinski. Elenco: Ziembinski, Marlene, Roberto Pirilo * espetáculos produzidos pela Louise Cardoso Produções Artísticas 1975 No Tablado • O Dragão Autor: Eugéne Swartz. Direção: Maria Clara Machado. Elenco: Carlos Wilson da Silveira, Sura Berditchevisky, Bernardo Jablonsk, Bia Lessa, Renato Coutinho, Milton Dobbin, Miguel Falabella, Toninho Lopes, Cacá Mourthé, Germano Filho, Marcos Toledo 1974 • Vassa Geleznovna Autor: Maximo Gorki. Direção: Maria Clara Machado Elenco: Marta Rossman • O Boi e o Burro a Caminho de Belém, A Menina e o Vento, O Embarque de Noé, Pluft, O Fantasminha Texto e direção: Maria Clara Machado Teatro / Direção 1997 • Três Mulheres e Um Nelson Autor: Nelson Rodrigues 1983 • Oh Krisis Criação Coletiva 1982 • Atrás da Trouxa Revista musical de Claudio Savieto. 1981 • Diz Ritmia e Diz Ritmia II Criação Coletiva. • Máscaras Adaptação de texto de Menotti Del Pichia. Elenco: Graciela Figueroa (Pierrô), Bia Junqueira (Colombina) e Milton Dobbin) (Arlequim) 1976 • A Volta do Camarão Alface Autor: Maria Clara Machado 1975 • A Bruxinha Que Era Boa Autor: Maria Clara Machado 1974 • Pluf, O Fantasminha Cinema 2007 • Corpo Direção: Rubens Rewald e Rosana Foglia. 2002 • Gaijin, Ama-me Como Sou – Sofia Direção: Tizuka Yamazaki. Elenco: Tamlym Tomita, Jorge Perrugoría, Dado Dolabella, Luís Mello, Zezé Polessa, Mariana Ximenes • 1972 – Dona Iracy Direção: José Emílio Rondeau. Elenco: Rafael Rocha, Dandara Guerra, Bem Gil, Débora Lamm, Lúcio Mauro Filho, Tony Tornado 2001 • Apolônio Brasil, O Campeão da Alegria Direção: Hugo Carvana. Elenco: Marco Nanini, José Lewgoy, Antonio Pitanga, Marcos Paulo, Silvia Bandeira, Caio Junqueira, Antonio Pedro, Totia Meireles 2000 • Copacabana Direção: Carla Camurati. Elenco: Marco Nanini, Walderez de Barros, Laura Cardoso, Ida Gomes, Tonico Pereira, Myrian Pires, Rogéria, Ilka Soares, Camila Amado, Luís de Lima, Renata Fronzi, Felipe Wagner, Joana Fomm, Ana Beatriz Nogueira, Débora Olivieri 1997 • For All, O Trampolim da Vitória Direção: Buza Ferraz e Luiz Carlos Lacerda. Elenco: Betty Faria, José Wilker, Luiz Carlos Tourinho, Paulo Gorgulho, Caio Junqueira, Marcélia Cartaxo 1996 • Miramar Direção: Julio Bressane. Elenco: João Rebello, Giulia Gam, Diogo Vilela, Fernanda Torres, Claudio Mamberti, Bia Nunes, Paschoal Villaboim 1990 • Matou a Família e Foi ao Cinema Direção: Neville de Almeida. Elenco: Cláudia Raia, Alexandre Frota, Pedro Aguinaga, Julio Braga, Mariana de Moraes, Maria Gladys 1988 • Sonhos de Menina Moça – Beatriz Direção: Tereza Trautman. Elenco: Tônia Carrero, Marieta Severo, Zezé Motta, Xuxa Lopes, Selma Egrei, Flávia Monteiro, Monique Lafond, Ângela Figueiredo, Iris Bruzzi, Norma Blum, Lourdes Mayer, Doris Giesse, Gabriela Alves Dois prêmios de melhor atriz 1987 • Leila Diniz Direção: Luiz Carlos Lacerda. Elenco: Diogo Vilela, TonyRamos,MarietaSevero,StênioGarcia,Antônio Fagundes, Carlos Alberto Ricelli, José Wilker, Paulo Cesar Grande, JaymePeriard, Rômulo Arantes, Yara Amaral, Otávio Augusto, Dennis Carvalho, Hugo Carvana, Oswaldo Loureiro, Mariana de Moraes Três prêmios de melhor atriz 1985 • Baixo Gávea - Ana Direção: Haroldo Marinho Barbosa. Elenco: Lucélia Santos, Carlos Gregório, José Wilker, Analu Prestes, Wilson Grey Prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília 1984 • Urubus e Papagaios Direção: José Joffily. Elenco: Dora Pellegrino, Nelson Dantas, Felipe Camargo, Ivan Cândido, Emanuel Cavalcanti, Jackson de Sousa, Anselmo Vasconcelos, Claudia Jimenez, Enrique Diaz 1983 • A Próxima Vítima Direção: João Batista de Andrade. Elenco: Antônio Fagundes, Mayara Magri, Othon Bastos, Ester Góes, Aldo Bueno, Silvia Leblon, Gianfrancesco Guarnieri, Denise del Vechio, Walter Breda • Bar Esperança, O Último Que Fecha - Nina Direção: Hugo Carvana. Elenco: Marília Pêra, Hugo Carvana, Silvia Bandeira, Anselmo Vasconcelos, Nelson Dantas, Luiz Fernando Guimarães, Antonio Pedro, Paulo Cesar Pereio 1982 • O Casamento dos Trapalhões Direção: J. B. Tanko. Elenco: Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum, Zacarias, Eduardo Con-de, Castro Gonzaga, Wilson Grey, Gracindo Junior, Ana Maria Magalhães 1981 • O Sonho Não Acabou – Carol Direção: Sergio Rezende. Elenco: Lauro Corona, Lucélia Santos, Chico Diaz, Miguel Falabella, Daniel Dantas, Carlos Gregório, Denise Bandeira • Os Vagabundos Trapalhões Direção: J.B. Tanko. Elenco: Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum, Zacarias, Edson Celulari, Denise Dumont, Dedina Bernadelli, Gracinda Freire, Rogério Fróes, Telma Reston 1980 • Gaijin – Os Caminhos da Liberdade – Angelina Direção: Tizuka Yamazaki. Elenco: Antônio Fagundes, Gianfrancesco Guarnieri, Carlos Augusto Strasser, José Dumont • Cabaré Mineiro Direção: Carlos Alberto Prates Correa. Elenco: Tânia Alves, Nelson Dantas, Tamara Taxman, Helber Rangel, Nildo Parente • Teu, Tua Direção: Domingos Oliveira. Episódio O Corno Imaginário. Elenco: Louise Cardoso, Miguel Oniga, Luiz Fernando Guimarães, Leda Zeppelin, Jorge Alberto, Fabio Sabag. 1979 • O Coronel e o Lobisomem Roteiro e direção: Alcino Diniz. Elenco: Maurício do Valle, Maria Claudia, Jofre Soares, Nildo Parente, Selma Egrei, Isabel Ribeiro, Lutero Luiz, Cléa Simões, Fernando Reski, Antonio Ganzarolli • Parceiros da Aventura Direção: José Medeiros. Elenco: Milton Gonçalves, Isabel Ribeiro, Paulo Moura, Marcus Vinicius, Louise, Flávio Migliaccio, Mauricio do Valle, Zózimo Bulbul, Reginaldo Farias, Lutero Luiz, Stephan Nercessian, Nildo Parente 1978 • Se Segura, Malandro! – Laurinha Direção: Hugo Carvana. Elenco: Hugo Carvana, Denise Bandeira, Claudio Marzo, Maria Claudia, Wilson Grey, Paulo Cesar Pereio 1977 • Gente Fina é Outra Coisa Direção: Antonio Calmon. Episódio: Chocolate ou Morango. Elenco: Ney Santana, Milton Carneiro, Nuno Leal Maia, Jacqueline Laurence, Thelma Reston, Luis Carlos Lacerda 1976 • O Seminarista – Margarida Direção: Geraldo Santos Pereira. Elenco: Eduardo Machado, Nildo Parente, Lídia Matos, Liana Duval, Raul Cortez, Urbano Lóes, Tony Ferreira 1975 • Marcados Para Viver Direção: Maria do Rosário Nascimento e Silva. Elenco: Tessi Callado, Rose Lacreta, Ana Maria Nascimento e Silva, Valéria Aimar, Ruy Polanah Curtas 2003 • O Ovo Baseado no conto O Ovo e a Galinha, de Clarice Lispector. Direção: Nicole Algranti. Elenco: Lucélia Santos, Carla Camurati, Chico Diaz 1989 • No Escurinho do Cinema Direção: Nelson Nadotti. Elenco: Guilherme Karam 1983 • Brilho da Noite Direção: Emiliano Ribeiro 1982 • Duas Histórias Para Crianças Direção: Pompeo Aguiar • Já Que Ninguém Me Tira Pra Dançar Direção: Ana Maria Magalhães 1981 • Linhas Cruzadas Direção: Lael Rodrigues 1980 • Mal Incurável Direção: Denise Bandeira 1979 • Babilônia Revisitada Direção: Pompeo Aguiar 1978 • Alô, Tetéia Direção: José Joffily • Heróis Direção: Ray Bandeira de Melo e Miguel Oniga Televisão 2006 • Páginas da Vida - Diana De Manoel Carlos. Elenco: Regina Duarte, Ana Paulo Arósio, Edson Celulari, Tarcísio Meira, Sonia Braga, José Mayer, Renata Sorrah, Letícia Sabatella, Natália do Valle • JK – Luisinha Minissérie de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Elenco: Wagner Moura, Débora Falabela, José Wilker, Marília Pêra, Eva Wilma, Julia Lemmertz, Débora Evelyn, Caco Ciocler 2004 • Como Uma Onda – Idalina De Walter Negrão. Elenco: Aline Moraes, Ricardo Pereira, Henri Castelli, Maria Fernanda Cândido, Mel Lisboa, Cauã Reymond, Bianca Byington, Herson Capri, Tato Gabus Mendes, Laura Cardoso, Sheron Menezes, Débora Duarte, Ernani Moraes 2001 • Porto dos Milagres – Maria Leontina De Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares. Elenco: Antônio Fagundes, Flávia Alessandra, Marcos Palmeira, Arlete Salles, Camila Pitanga, Bárbara Borges, Claudia Alencar, Cláudio Corrêa e Castro, Cristiana Oliveira, Fulvio Stefanini, Cássia Kiss, Eduardo Galvão, Zezé Polessa, Flávio Galvão, José de Abreu, Júlia Lemmertz, Vladimir Brichta, Kadu Moliterno, Leonardo Brício, Lima Duarte, Luiza Tomé, Marcelo Serrado, Marcélia Cartaxo, Nathalia Timberg, Sérgio Menezes, Paloma Duarte, Roberto Bomtempo, Taís Araujo, Tonico Pereira, Zezé Motta 1999 • Força de um Desejo – Guiomar De Gilberto Braga e Alcides Nogueira. Elenco: Malu Mader, Fábio Assunção, Claudia Abreu, Reginaldo Faria, Daniel Dantas, Nathália Tim-berg, José Lewgoy 1997 • Zazá – Mercedes Hidalgo De Lauro Cesar Muniz. Elenco: Fernanda Montenegro, Jorge Dória, Ney Latorraca, Nathália Timberg, Cecil Thiré, Julia Lemmertz, Alexandre Borges, Reginaldo Faria, Silvia Bandeira 1995 • Cara e Coroa – Laura De Antonio Calmon. Elenco: Christiane Torloni, Victor Fassano, Miguel Falabella, Maitê Proença, Antonio Grassi, Natália Lage, Claudia Alencar, Arlete Salles, Alessandra Negrini, Marcos Paulo, Ida Gomes, Carlos Zara 1993 • Deus nos Acuda – Gilda De Silvio de Abreu. Elenco: Francisco Cuoco, Glória Menezes, Cláudia Raia, Edson Celulari, Dercy Gonçalves, Claudio Corrêa e Castro, Marieta Severo, Emiliano Queiroz, Aracy Balabanian, Paulo César Grande, Carmem Verônica, Jorge Dória, Diogo Vilela, Marisa Orth, Gracindo Junior 1992 • Felicidade – Madalena De Manoel Carlos. Elenco: Maitê Proença, Tony Ramos, Herson Capri, Marcos Winter, Viviane Pasmanter, Sandra Bréa 1990 • Mico Preto – Claudia De Marcílio de Moraes, Leonor Basseres e Euclides Marinho. Elenco: Luiz Gustavo, Glória Pires, Marcia Real, José Wilker, Marcos Frota, Maria Padilha, Tato Gabus, Eva Wilma, Miguel Falabella, Marcelo Picchi, Renata Fronzi, Geórgia Gomide 1988 • O Primo Basílio – Joana Minissérie de Gilberto Braga e Leonor Basseres, baseada no livro de Eça de Queiroz. Direção: Daniel Filho. Com Marília Pêra, Giulia Gam, Tony Ramos, Marcos Paulo, Sérgio Viotti, Beth Goulart, Guilherme Leme, Pedro Paulo Rangel, Zilka Salaberry, Ênio Santos, Oswaldo Louzada 1986 • Cambalacho – Daniela De Silvio de Abreu. Elenco: Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri, Natália do Valle, Claudio Marzo, Suzana Vieira, Regina Casé, Débora Bloch, Paulo Cesar Grande, Emiliano Queiroz, Maurício Mattar, Luiz Fernando Guimarães, Rosamaria Murtinho 1985 • Tenda dos Milagres – Augusta Minissérie de Aguinaldo Silva, baseada no livro de Jorge Amado. Elenco: Nelson Xavier, Chica Xavier, Milton Gonçalves, Claudio Marzo, Julia Lemmertz, Tânia Alves, Mirian Pires. 1985 • O Tempo e o Vento – Bibiana Jovem Minissérie de Doc Comparato, baseada no livro de Érico Verissimo. Direção: Paulo José. Elenco: Tarcísio Meira, Glória Pires, Armando Bógus, Lilian Lemmertz, Lélia Abrahmo, Lima Duarte, Carla Camurati, Diogo Vilela, Edney Giovenazzi, José Legoy, Mário Lago, Bete Mendes, Daniel Dantas. 1984 • Viver a Vida – Marly Minissérie de Manoel Carlos. Elenco: Paulo Castelli, Claudia Magno, Rubens de Falco, Yara Amaral, Sandra Barsotti, Osmar Prado, Diogo Vilela. TV Manchete. 1983 • Champagne – Anita De Cassiano Gabus Mendes. Elenco: Antonio Fagundes, Irene Ravache, Tony Ramos, Lucia Veríssimo, Carla Camurati, Marieta Severo, Jorge Dória, Isabel Ribeiro, Claudio Corrêa e Castro, Solange Teodoro, Henriqueta Brieba 1979 • Marrom Glacê - Vânia De Cassiano Gabus Mendes. Elenco: Yara Cortes, Lima Duarte, Paulo Figueiredo, Sura Berditchevsky, Armando Bógus, Tereza Rachel, Ary Fontoura, Mila Moreira, Denise Dummont, Jorge Botelho, Rosita Tomás Lopes 1978 • Gina – Helena De Rubens Ewald Filho. Elenco: Christiane Torloni, Diogo Vilela, Arlindo Barreto, Myrian Pires, Castro Gonzaga, Emiliano Queiroz, Thereza Amayo, Élcio Romar, Lauro Góes Especiais 1978 • Caso Especial Ciranda Cirandinha. Autor: Paulo Mendes Campos 1979 • Toma Que o Filho é Teu, episódio de Ciranda Cirandinha • Viva o Gordo. De Max Nunes 1988 a 1990 • TV Pirata. De Cláudio Paiva e Guel Arraes 1995 a 2000 • A Comédia da Vida Privada. Direção Guel Arraes 1996 • Caso Especial – As Pessoas da Sala de Jantar. De Gianfrancesco Guarnieri. Direção: Denise Saraceni 1998 • Mulher. Direção Daniel Filho 1997 • Você Decide. Direção Denise Saraceni 2002 • Papo Irado. Quadro do Fantástico. De Bruno Mazeo. Direção: Mauro Mendonça Filho 2005 • Na Hora do Intervalo – Multishow Índice Apresentação – José Serra 5 Coleção Aplauso – Hubert Alquéres 7 Introdução – Vilmar Ledesma 11 Garota de Copacabana 17 Jeitão Impressionável 31 Alegre e Triste 37 Sexo Alemão 39 Surpresas 43 O Gato 55 Vida e Morte 63 O Rumo das Coisas 65 Ainda é Cedo 83 Peladonas 91 O Segredo das Lentes 103 Lady Godiva 107 O Sonho não Acabou 113 Senta Aqui, Nenê! 119 No Calor da Platéia 123 Mania de Contra-regra 127 Cassino do Abelardo 133 Apareceu Clarabela 137 Heranças de Leila 149 Ninho de Serpentes Lésbicas 155 Mulher de Negócios 183 Vila Mimosa 195 Pelo Mundo 205 Cais do Porto 207 Blanche Baiana 217 Minha Vida de Cachorra 221 Educação Sentimental 229 Inventadeira 231 Retiros Espirituais 235 Cronologia 239 Crédito das Fotografias A. C. Júnior 240 Beti Niemeyer 180, 187, 188, 213, 238 Célia Jaguaribe 217 Chico Lima 221 Cláudia Ribeiro 182 Cristina Granato 44 Foto Chascel 22 Gilda Vianna 69 Guga Melgar 66, 67, 85, 238, 218, 220, 223, 225, 237 Leonardo 27 Marcelo Jesuíno 137, 142 Maritza Caneca 114 Mauro Kury 78, 239 Murillo Meirelles 192, 201, 214, 217, 239, 241 Nelson Di Rago 208, 210 Paulo J. G. Azevedo 30, 32, 35 Preuss 24 Ricardo Cunha 148, 149 Stela Alves 196 Sílvio Pozatto 67 TV Globo 82, 210, 154, 155, 156, 157, 158, 160, 161, 162, 163, 164, 165, 167, 168, 169, 170, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 179 Wessel 20 Zeca Guimarães 247 A presente obra conta com diversas fotos, grande parte de autoria identificada e, desta forma, devidamente creditada. Contudo, a despeito dos enormes esforços de pesquisa empreendidos, uma parte das fotografias ora disponibilizadas não é de autoria conhecida de seus organizadores, fazendo parte do acervo pessoal do biografado. Qualquer informação neste sentido será bem-vinda, por meio de contato com a editora desta obra (livros@imprensaoficial.com.br/ Grande São Paulo SAC 11 5013 5108 | 5109 / Demais localidades 0800 0123 401), para que a autoria das fotografias porventura identificadas seja devidamente creditada. Coleção Aplauso Série Cinema Brasil Alain Fresnot – Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias Roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger Anselmo Duarte – O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Ary Fernandes – Sua Fascinante História Antônio Leão da Silva Neto Batismo de Sangue Roteiro de Helvécio Ratton e Dani Patarra Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak – Fragmentos de uma vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra – Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person O Céu de Suely Roteiro de Mauricio Zacharias, Karim Aïnouz e Felipe Bragança Chega de Saudade Roteiro de Luiz Bolognesi Cidade dos Homens Roteiro de Paulo Morelli e Elena Soárez Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero Críticas de Edmar Pereira – Razão e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de Invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda Leão Críticas de Rubem Biáfora – A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista – Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Os 12 Trabalhos Roteiro de Claudio Yosida e Ricardo Elias Estômago Roteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade Fernando Meirelles – Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano Fim da Linha Roteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Storyboard de Fabio Moon e Gabriel Bá Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta Cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton – O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Carlos Burle – Drama na Chanchada Máximo Barro Liberdade de Imprensa – O Cinema de Intervenção Renata Fortes e João Batista de Andrade Luiz Carlos Lacerda – Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla – A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Não por Acaso Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Narradores de Javé Roteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu Onde Andará Dulce Veiga Roteiro de Guilherme de Almeida Prado Pedro Jorge de Castro – O Calor da Tela Rogério Menezes Quanto Vale ou É por Quilo Roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi Ricardo Pinto e Silva – Rir ou Chorar Rodrigo Capella Rodolfo Nanni – Um Realizador Persistente Neusa Barbosa O Signo da Cidade Roteiro de Bruna Lombardi Ugo Giorgetti – O Sonho Intacto Rosane Pavam Viva-Voz Roteiro de Márcio Alemão Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende Série Crônicas Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças Maria Lúcia Dahl Série Cinema Bastidores – Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Série Ciência & Tecnologia Cinema Digital – Um Novo Começo? Luiz Gonzaga Assis de Luca Série Dança Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo – Dança Universal Sérgio Rodrigo Reis Série Teatro Brasil Alcides Nogueira – Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta – Circo e Poesia Danielle Pimenta Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior João Bethencourt – O Locatário da Comédia Rodrigo Murat Leilah Assumpção – A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu – Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau – Artista Múltiplo Leila Corrêa Renata Palottini – Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso – Pólvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora – Os Cantos de Maldoror – De Profundis – A Herança do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor – A Terra Prometida Samir Yazbek Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda – Quatro Décadas em Cena Ariane Porto Série Perfil Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros Rogério Menezes Bete Mendes – O Cão e a Rosa Rogério Menezes Betty Faria – Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati – Luz Natural Carlos Alberto Mattos Cleyde Yaconis – Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso – Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Denise Del Vecchio – Memórias da Lua Tuna Dwek Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da Vida Maria Leticia Etty Fraser – Virada Pra Lua Vilmar Ledesma Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no Ar Sérgio Roveri Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do Cinema Maria Angela de Jesus Ilka Soares – A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache – Caçadora de Emoções Tania Carvalho Irene Stefania – Arte e Psicoterapia Germano Pereira John Herbert – Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa José Dumont – Do Cordel às Telas Klecius Henrique Leonardo Villar – Garra e Paixão Nydia Licia Lília Cabral – Descobrindo Lília Cabral Analu Ribeiro Marcos Caruso – Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral – A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado – A Estrela, o Mistério Luiz Carlos Lisboa Miriam Mehler – Sensibilidade e Paixão Vilmar Ledesma Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em Família Elaine Guerrini Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Paulo Betti – Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José – Memórias Substantivas Tania Carvalho Pedro Paulo Rangel – O Samba e o Fado Tania Carvalho Reginaldo Faria – O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi – Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Borghi – Borghi em Revista Élcio Nogueira Seixas Renato Consorte – Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin – Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho – Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza – Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst – Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti – O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silvio de Abreu – Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Sonia Maria Dorce – A Queridinha do meu Bairro Sonia Maria Dorce Armonia Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodrigueana? Maria Thereza Vargas Suely Franco – A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio Roveri Tony Ramos – No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Vera Holtz – O Gosto da Vera Analu Ribeiro Walderez de Barros – Voz e Silêncios Rogério Menezes Zezé Motta – Muito Prazer Rodrigo Murat Especial Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso Wagner de Assis Beatriz Segall – Além das Aparências Nilu Lebert Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Cinema da Boca – Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor – O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma – Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Ney Latorraca – Uma Celebração Tania Carvalho Raul Cortez – Sem Medo de se Expor Nydia Licia Rede Manchete – Aconteceu, Virou História Elmo Francfort Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte Nydia Licia TV Tupi – Uma Linda História de Amor Vida Alves Victor Berbara – O Homem das Mil Faces Tania Carvalho Formato: 12 x 18 cm Tipologia: Frutiger Papel miolo: Offset LD 90 g/m2 Papel capa: Triplex 250 g/m2 Número de páginas: 280 Editoração, CTP, impressão e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo © 2008 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Ledesma, Vilmar Louise Cardoso : a mulher do Barbosa / Vilmar Ledesma. – São Paulo : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008. 280p. : il. – (Coleção aplauso. Série perfil / Coordenador geral Rubens Ewald Filho) ISBN 978-85-7060-641-9 1. Atores e atrizes cinematográficos – Brasil – Biografia 2. Atores e Atrizes de teatro – Brasil – Biografia 3. Atores e atrizes de televisão – Brasil – Biografia 4. Cardoso, Louise, 1954. I. Ewald Filho, Rubens. II. Título. III. Série. CDD 791.092 Índice para catálogo sistemático: 1. Atores brasileiros : Biografia 791.092 Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei nº 10.994, de 14/12/2004) Direitos reservados e protegidos pela lei 9610/98 Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Rua da Mooca, 1921 Mooca 03103-902 São Paulo SP www.imprensaoficial.com.br/livraria livros@imprensaoficial.com.br Grande São Paulo SAC 11 5013 5108 | 5109 Demais localidades 0800 0123 401 Coleção Aplauso | em todas as livrarias e no site www.imprensaoficial.com.br/livraria