Av. Paulista, 900: a História da TV Gazeta Av. Paulista, 900: a História da TV Gazeta Elmo Francfort São Paulo, 2010 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Governador Alberto Goldman Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho No Passado Está a História do Futuro A Imprensa Oficial muito tem contribuído com a sociedade no papel que lhe cabe: a democratização de conhecimento por meio da leitura. A Coleção Aplauso, lançada em 2004, é um exemplo bem-sucedido desse intento. Os temas nela abordados, como biografias de atores, diretores e dramaturgos, são garantia de que um fragmento da memória cultural do país será preservado. Por meio de conversas informais com jornalistas, a história dos artistas é transcrita em primeira pessoa, o que confere grande fluidez ao texto, conquistando mais e mais leitores. Assim, muitas dessas figuras que tiveram importância fundamental para as artes cênicas brasileiras têm sido resgatadas do esquecimento. Mesmo o nome daqueles que já partiram são frequentemente evocados pela voz de seus companheiros de palco ou de seus biógrafos. Ou seja, nessas histórias que se cruzam, verdadeiros mitos são redescobertos e imortalizados. E não só o público tem reconhecido a importância e a qualidade da Aplauso. Em 2008, a Coleção foi laureada com o mais importante prêmio da área editorial do Brasil: o Jabuti. Concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a edição especial sobre Raul Cortez ganhou na categoria biografia. Mas o que começou modestamente tomou vulto e novos temas passaram a integrar a Coleção ao longo desses anos. Hoje, a Aplauso inclui inúmeros outros temas correlatos como a história das pioneiras TVs brasileiras, companhias de dança, roteiros de filmes, peças de teatro e uma parte dedicada à música, com biografias de compositores, cantores, maestros, etc. Para o final deste ano de 2010, está previsto o lançamento de 80 títulos, que se juntarão aos 220 já lançados até aqui. Destes, a maioria foi disponibilizada em acervo digital que pode ser acessado pela internet gratuitamente. Sem dúvida, essa ação constitui grande passo para difusão da nossa cultura entre estudantes, pesquisadores e leitores simplesmente interessados nas histórias. Com tudo isso, a Coleção Aplauso passa a fazer parte ela própria de uma história na qual personagens ficcionais se misturam à daqueles que os criaram, e que por sua vez compõe algumas páginas de outra muito maior: a história do Brasil. Boa leitura. Alberto Goldman Governador do Estado de São Paulo Coleção Aplauso O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, visa resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cinema, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de manei ra singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor . Um aspecto importante da Coleção é que os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo e biografado se colocaram em reflexões que se estenderam sobre a formação intelectual e ideológica do artista, contextualizada na história brasileira. São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas – analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos exploram o universo íntimo e psicológico do artista, revelando as circunstâncias que o conduziram à arte, como se abrigasse em si mesmo desde sempre, a complexidade dos personagens. São livros que, além de atrair o grande público, interessarão igualmente aos estudiosos das artes cênicas, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Foram abordadas a construção dos personagens, a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns deles. Também foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e con-tar com a disposição e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sortilégios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que neste universo transitam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de to do o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente Imprensa Oficial do Estado de São Paulo O amor a São Paulo continua a ser o nosso incentivo. Cásper Líbero, discurso - 21/07/1934 Dedico este livro a todos os funcionários da Fundação Cásper Líbero, de ontem e de hoje, que escreveram esta história. Elmo Francfort Introdução Imagino que você deve estar se perguntando: Escrever um livro sobre a TV Gazeta? Por quê? Para quê? Surpreenda-se. Há por trás da emissora uma grande história, cheia de inovações e criações que totalmente justificam seu papel na história da comunicação brasileira. Quando comecei a escrever essa obra já tinha um grande respeito pela TV Gazeta. Principalmente porque conhecia parte de sua trajetória que a própria emissora deixou que se perdesse. Não a culpo. Infelizmente esquecer a própria memória é uma mania involuntária do meio televisivo brasileiro. Mas, felizmente, a Coleção Aplauso está revertendo esse quadro aos poucos. No caso da TV Gazeta dois são os motivos para a perda de sua história. Um, as diversas fases distintas pelas quais passou. E sendo que televisão é um meio efêmero, para ontem, pouco se documentou da história. Não foi uma tarefa fácil. O outro motivo foi o que me fez repensar a linha que seguiria como pesquisador de TV. O ponto de vista da pesquisa, em mais de meio século de história da TV no Brasil, os especiais, os livros e pesquisas feitos foram justamente voltados para a programação, para os líderes de audiência, e não para as pequenas emissoras. Muito menos para os bastidores da história. Pois é, foi daí que descobri a grande importância da TV Gazeta. Ela fez mais por trás do que pela frente das câmeras. A implantação da TV em cores, por exemplo, muito se deve a esta emissora que a imprensa diversas vezes chamou de nanica. A descoberta de novos talentos também. Muitos tão profissionais que hoje fazem parte do primeiro time da comunicação brasileira: Galvão Bueno, Sérgio Groisman, Astrid Fontenelle, Joelmir Beting, Amaury Jr., Faustão, Cléber Machado, Mariana Godoy, Marcelo Tas, Fernando Meirelles, Sandra Annemberg... uma fila imensa de talentos. Descobri que, além de parecer uma família, a Gazeta é uma faculdade de televisão, um laboratório de criação. Hoje a TV Gazeta dá mais um passo. Foi a primeira emissora a ter um transmissor digital produzido no Brasil. Escrever sua história foi, sem dúvida, reescrever diversos capítulos sobre a memória da televisão brasileira. Uma grande responsabilidade. Escrever foi mostrar que ante a concorrência ainda existe cooperação entre emissoras. Quantas vezes a TV Gazeta apoiou as demais? Este livro é uma parte da história da Globo, da Cultura, da Tupi, da Excelsior... da história da Fundação que a mantém, cujo idealizador, o jornalista Cásper Líbero, sonhou em montar uma televisão quando toda mídia – inclusive o pioneiro Assis Chateaubriand – ainda pensava em implantar emissoras de rádio no Brasil. Aquela torre luminosa, aquele prédio no coração da Avenida Paulista, número 900, simboliza muito mais do que até agora poderíamos imaginar. Espero que todos os leitores se surpreendam com a história da TV Gazeta como eu me surpreendi. Elmo Francfort A importância da TV Gazeta Que méritos a TV Gazeta deixa para a história da televisão brasileira? Neste capítulo dois importantes órgãos analisam a importância da TV Gazeta. Primeiro, a Fundação Cásper Líbero, proprietária do canal 11. E, segundo, a Pró-TV – Associação dos Pioneiros e Profissionais de TV, que objetiva criar o Museu da Televisão Brasileira. Pela Fundação Cásper Líbero, fala Sérgio Felipe dos Santos, seu superintendente-geral: A TV Gazeta serviu como celeiro da Rede Globo e das outras. E preparou clientes para as grandes emissoras. Nós podemos dar oportunidade aos pequenos comerciantes, às pessoas que hoje são donas de pequenos negócios e que amanhã serão empresárias. Se forem para outra emissora, de repente não serão aceitas pela qualidade e pelo produto. Quantos já começaram aqui e hoje anunciam na Rede Globo? Nós somos um celeiro tanto para artistas e jornalistas, quanto para anunciantes. O superintendente reforça que o fato de a TV Gazeta nascer e chegar até os dias atuais deveu-se também à dedicação de profissionais que estiveram por trás de suas câmeras. Foram muitas pessoas marcantes. Como no início, Marco Aurélio Rodrigues da Costa, Luiz Francfort, Joaquim Loureiro e muitos outros... O relacionamento deles, dentro e fora da emissora, era maravilhoso. Trouxe muitas benesses. Montamos a TV, para não perder a concessão. Naquele momento todas as emissoras ajudaram porque eles eram pessoas queridas no meio, já naquela época. O respeito e o amor pela Gazeta nasceram dali. Do preto e branco mudaram [a programação] para o colorido. Eles e os técnicos não foram aos Estados Unidos, só ficaram aqui. De onde tiraram essa inteligência? Criatividade, amor. Técnicos de outras emissoras também vieram para cá e ajudaram. Sérgio Felipe fala ainda da função social e democrática que a TV Gazeta teve em relação às outras emissoras: Outro momento importante da TV Gazeta foi a carreta: o seu caminhão colorido, com tantas câmeras. Quando a TV Cultura pegou fogo, a primeira coisa que foi feita foi encostar aquela carreta do lado, sem cobrar nada. Por um tempo, ela virou a técnica da TV Cultura. E quando a TV Globo pegou fogo, quem é que estava lá com o equipamento? A Gazeta, por isso ela faz parte da história de todas as emissoras. A Gazeta nunca pega fogo, porque socorre quem pega! É uma televisão para São Paulo. Tem que ter alguém para informar esse povo, porque senão fica só uma linguagem. Na Gazeta e na Fundação, se dá lastro para você dizer não quando tem que dizer não, consolidar quem quer ser digno e quer trabalhar. As pessoas que tentaram faltar com ela se excluíram sozinhas. Mas a maioria sobrou, porque é boa. Pelo lado da Fundação, sua superintendente patrimonial, Angela Esther de Oliveira, complementa: A TV Gazeta é uma emissora de São Paulo para São Paulo. Ela está crescendo e logo estará abrangendo o Brasil. Tem o seu papel óbvio, mesmo sendo a mais nova de todas. Foi o último canal inaugurado em TV aberta [em São Paulo]. É uma emissora da Fundação Cásper Líbero, que é única. Representa São Paulo. Não tem mais a representação do passado porque talvez a mídia ainda não conheça quem foi Cásper Líbero e a importância fantástica da Fundação. Vida Alves, pioneira da televisão, foi apresentadora do primeiro programa em cores da TV Gazeta. Hoje é presidente da Associação Pró-TV e símbolo da luta pelo resgate da memória da televisão brasileira. Ela fala sobre o canal 11: Sua importância, além de ter tido bons programas, é a solidez de sua administração. Todas as outras emissoras, de repente, parece que enlouquecem. Algumas mais, outras menos. Ou seja, sobem tanto nos seus investimentos que às vezes perdem um pouco as estribeiras e às vezes caem no buraco. Não só a Tupi, como a Excelsior e como a própria Record (em 1990 a emissora quase fechou, porém em tempo foi comprada pelo bispo Edir Macedo da Igreja Universal). E a TV Gazeta não. Ela é sólida por causa dessa organização férrea e ao mesmo tempo empresarial que eles têm por ser uma Fundação. Eles obedecem a um estatuto com toda a rigidez possível. Isso prejudica artisticamente, mas ao mesmo tempo faz com que todos tenham segurança ao estar lá dentro. A TV Gazeta está sempre tentando sobreviver como empresa. O tempo em que fiquei lá recebi sempre muito corretamente, sempre muito pontualmente. Sinto saudade da Gazeta e da Tupi. Não sinto saudade da Excelsior e de mais nada. Estou torcendo sempre para que a TV Gazeta encontre o seu verdadeiro caminho. Observação: para entender a história da Gazeta começo falando de Cásper Líbero e da Fundação. Entenda o contexto e a importância. Ou, senão, prossiga até o capítulo Um Canal de Televisão. Fundação Cásper Líbero Pró-TV/Museu da Televisão Brasileira Capítulo I Alicerces: de A Gazeta à televisão A base de tudo, a família Gazeta. Cásper Líbero, seus sonhos e ideias. 1. A moeda que virou jornal Antes de começar a história, vale saber a origem deste nome tão usado há séculos: gazeta. Vamos para Veneza, Itália. No mercado local, os venezianos trocavam moedas em troca de serviços e produtos. A tal moeda se chamava gazzetta e foi instituída em 1539. Ela equivalia a dois soldos (antiga moeda romana) e estampava de um lado a imagem da Justiça sentada, com os olhos vendados, e de outro a figura de um leão. Pouco depois se cunhou os nomes dos doges (dirigentes máximos da República de Veneza), como Priuli, Corne I e Molin. Com o nome do capitão Grimani, outro doge, criaram uma moeda que valia dez gazetas, conhecida como a moeda Grimani. Em 1566, o governo de Veneza criou uma folha de notícias manuscritas, que, por consulta, cobrava uma gazeta. Daí surgiu a analogia do nome com periódicos impressos. O jornal que vale uma gazeta... O jornal da gazeta... jornal gazeta... A gazeta... e o termo proliferou pelo mundo ao ser aplicado a diversas publicações e panfletos – todos editados por refugiados franceses em Amsterdã e Leyde, no século 17. Nesses impressos atacavam o rei francês Luis XIV. Assim, Holanda, França, Inglaterra e outros países europeus adotaram gazeta como sinônimo de jornal. Gazeta, Gazzetta, Gazette, Gaceta, Anzeiger (neste último, em alemão, ainda hoje jornal e denunciador são sinônimos da palavra, por conta da origem da publicação de protesto). Hoje são inúmeros os jornais que recebem este nome. Tanto no Brasil como no mundo. O nome a Gazeta foi dado por Adolfo Campos de Araújo, seu fundador, em 1906. 2. A Gazeta A história começa com ele, Adolfo Campos de Araújo, nascido em 20 de novembro de 1873 em Serro (MG). Aos 12 anos veio para São Paulo. Em 1891, com dificuldades, ingressou no curso de Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Local que foi berço de grandes escritores como – José de Alencar, Castro Alves, Bernardo Guimarães, Álvares de Azevedo e Monteiro Lobato. E, naquele universo, Adolfo se envolveu com a poesia simbolista. Era muito amigo de Alphonsus de Guimarães, grande nome do simbolismo. Araújo, ao mesmo tempo em que fazia poesia, dedicava-se ao jornalismo. Era admirado por sua tenacidade, ambição profissional e vontade de transgredir padrões. Boêmio, criou com os colegas o jornal A Vida de Hoje, em 2 de agosto de 1896, onde se destacavam colunas como Cemitério Gaiato, com críticas aos costumes e às personalidades da época. Era o espírito combativo do jornalismo da virada para o século 20. Era polemista, poliglota e tinha um sonho maior: libertar-se do conservadorismo lançando um jornal só seu. Foi assim que criou o jornal A Gazeta, em 16 de maio de 1906. Araújo fez a sede do vespertino na XV de Novembro, rua perpendicular à da sede de A Vida de Hoje (Rua Direita, 9). Atingia inicialmente o mesmo público, da região central da cidade de São Paulo. A Gazeta, além do cunho político, dedicava-se a seções fixas de política, economia, arte, saúde, literatura e um suplemento feminino. De início não afrontava concorrentes como a Platéia e o Diário Popular, mas aos poucos foi se firmando até atingir a marca de 10 mil exemplares – número relevante para a época. O jornal teve colunas de destaque. Couto de Magalhães foi um grande nome dessa fase de A Gazeta. Mesmo assim foi uma fase difícil, em busca de sua própria consolidação. O progresso veio até que, em 1914, começou a I Guerra Mundial. Em A Gazeta os efeitos na economia nacional não foram tão grandes como a surpresa que todos tiveram um ano depois: a morte de Adolfo Araújo. Dona Branca, a viúva, estava inconsolável. Além da morte do marido, tinha um jornal para cuidar. Rapidamente pediu o apoio da família. Veio do Rio de Janeiro seu cunhado, o Dr. José Pedro de Araújo. O médico nada entendia de jornalismo e não demorou para os efeitos aparecerem: uma fase de insegurança que fez com que a tiragem de A Gazeta caísse. Vender ou fechar? A primeira resposta foi escolhida pela família, que sabia que era o fim mais nobre de A Gazeta, mantendo vivo o sonho de Adolfo Araújo. A família encontrou em curto espaço de tempo um comprador: o advogado Dr. João Dente. Ele deu um pouco de fôlego ao jornal, mas logo veio nova crise. Resolveu Dente transferir A Gazeta para seu cunhado, o também advogado, Dr. Antônio Augusto de Covello. Este impulsionou levemente o jornal, ao mudar a sede para o Prédio Maurice Levy (Rua Líbero Badaró, 624/628). Mesmo assim não era seu ramo o jornalismo. Covello era um grande advogado, que não tinha o dom para a escrita. Um episódio o marcaria. Foi durante uma greve dos ferroviários, quando os manifestantes foram à sede de A Gazeta. Na sacada, Covello fez excelente discurso, aplaudido por todos. Voltou à sua mesa, preocupado com o fechamento do jornal. A paginação tinha de acontecer ao meio-dia e meia. Covello não conseguiu escrever sobre a greve. Rascunhos foram joga dos no cesto de lixo. E, enfurecido, próximo da hora de entrega, exclamou ao jornalista Miguel de Arco e Flexa: Flexa, desisto! Não posso escrever! O colega tentou animá-lo, dizendo para ele se lembrar dos principais pontos do discurso que fez na sacada. Daí escreveu o mais arrebatador de todos os editoriais sobre a greve dos ferroviários, longe de um comum artigo de fundo. O resultado foi que Dr. Antônio Augusto de Covello resolveu que preferia a retórica dos júris em lugar do jornalismo. Preferiu vender o jornal, certo de que a melhor e mais digna saída seria passá-lo a um jornalista. Era 1918. A primeira ideia de Covello foi oferecer a Miguel de Arco e Flexa o jornal por um preço convidativo. Mas Flexa disse, em sua obra 48 Anos de Gazeta: Era muito bonito, muito fascinante, mas não se enquadrava com o meu feitio. Então Covello ofereceu a outro colaborador do jornal. Seu nome era Cásper Líbero. Na mesma obra disse Arco e Flexa: Não era das mais prósperas a situação econômica de Cásper. Achavam por isso, alguns céticos, que assumir um encargo em que haviam periclitado duas grandes energias humanas – o Dr. João Dente, homem de haveres consideráveis, e o Dr. Covello, elemento de largo prestígio e popularidade – era, para o nosso Cásper, uma aventura digna de riso, senão piedade. Enganaram-se. 3. A presença de Cásper Sessenta contos de réis a prazo. Foi o que pagou ao Dr. Covello aquele jornalista de 29 anos, que não tinha estabilidade financeira. Cásper Líbero apostou alto. No momento em que comprou o jornal disse a Miguel de Arco e Flexa que estava na pindura no Hotel Suíço, ali no Largo do Paissandu, onde morava. Não tinha fortuna, não era popular, gastava o que ganhava para se vestir bem, viajar. Mantinha boas relações na política, na diplomacia e na administração pública. Mas, afinal, quem era esse jovem? A história volta no tempo... Foi em Bragança Paulista, cidade do interior de São Paulo, que nasceu Cásper Líbero no dia 2 de março de 1889. Nove meses antes da proclamação da República. Era filho do Dr. Honório Líbero, médico, e de Dona Zerbina de Toledo Líbero, representante de uma das mais tradicionais famílias bragantinas: os Toledo. Após cursar o primário e o curso secundário (hoje Ensino Médio), Cásper Líbero foi para São Paulo para ingressar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Em 1909 tornou-se bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas. Foi um aluno de destaque, muito presente na vida acadêmica das Arcadas. Destacou-se na campanha acadêmica a favor da candidatura de Rui Barbosa, outro aluno célebre do Largo de São Francisco. Sua vocação para a escrita, a inclinação para ser bom jornalista já havia aflorado. Tentou exercer por dois anos a advocacia, mas foi no Rio de Janeiro – na época capital da República – que realmente dedicou-se ao jornalismo. Com os amigos Raul Pederneiras, Olegário Mariano, J. Carlos e Luiz Peixoto fundou o jornal Última Hora, em 1911. Lá, criticavam a política e os costumes, o que irritou as autoridades, sendo o Última Hora fechado pela polícia do presidente marechal Hermes da Fonseca. Os cinco amigos, bem-informados e sabendo das tendências mundiais, resolveram inovar. Criaram a primeira agência de notícias totalmente nacional em 1912. Era a Agência Americana. Nela, Cásper Líbero se tornou o diretor regional de São Paulo. Mas a agência não durou mais que um ano. Porém, serviu para estimular o aparecimento de outras agências de notícias. Cásper foi para O Estado de S. Paulo, de seu amigo e colega Júlio Mesquita. Por interferência do dono, o jornalista foi promovido a diretor da sucursal carioca da publicação. E foi lá, na antiga capital, próximo ao Governo Federal, que recebeu o convite para ser procurador da Fazenda do Estado de Mato Grosso. Foi nesse período, entre o jornal Última Hora e a vida de procurador, que aprimorou sua visão para o marketing e aperfeiçoou seu jornalismo. Voltou em 1918 para São Paulo, quando o Dr. Antônio Augusto de Covello fez a proposta de venda do jornal A Gazeta. Seu espírito mais empreendedor do que idealista fez com que Cásper aceitasse o desafio. A Gazeta estava com uma tiragem limitada e pouca repercussão. Naquele ano A Gazeta imprimiu seu logotipo em vermelho, o que se tornou sua marca. O jornal ganhava as cores da bandeira paulista: letras e fotos pretas com logotipo vermelho em folhas brancas. Naquele pequeno prédio da Rua Líbero Badaró trabalhava Cásper com uma vontade de provar não aos outros, mas principalmente a si mesmo, sua capacidade de reerguer um jornal. Era perfeccionista, queria o melhor. Foi atrás de mudanças, sabia que nenhuma despesa era feita em vão. Isso porque não eram despesas, mas investimentos. Do exterior trouxe novas tintas e o papel da melhor qualidade. Montou uma clicheria (oficina de fotogravura) que se tornou referência dentro do meio jornalístico e deu à imprensa figuras mais belas e nítidas. A velha rotativa foi substituída por uma nova, vinda da Alemanha: a Man. Em 1922, Cásper Líbero mais uma vez inovou. O povo paulistano viu como milagre uma ousadia criativa do jornalista. Através de alto-falantes, instalados no Anhangabaú, todos escutaram os jogos do Campeonato Sul-Americano, transmitidos do Rio de Janeiro. Algo que o rádio brasileiro só fez dez anos depois! A Gazeta foi pioneira, pois utilizou uma linha de telefone instalada no estádio carioca, pela qual o repórter narrava os principais lances do jogo, em forma de boletim. Curiosamente, em 19 de julho de 1931, Nicolau Tuma criou o modelo de narração esportiva (com a transmissão integral de jogos) na Rádio Educadora, futura Rádio Gazeta – posteriormente de propriedade de Cásper Líbero. No final de 1924, o jornalista foi até Paris para comemorar a virada do ano. Próximo da meia-noite viu, em êxtase, a March Flambeaux, uma corrida pedestre. Lembrando-se do êxito de provas como Voltas de São Paulo e outras do interior paulista, resolveu criar aquela que marcaria para sempre a história da cidade: a Corrida de São Silvestre, na virada para 1925. Alfredo Gomes, atleta do Clube Espéria, foi seu primeiro vencedor, competindo com mais 59 corredores. A inclinação de Cásper Líbero e A Gazeta para os esportes ficava cada vez mais evidente. Ele promoveu em 1926 a Travessia de São Paulo a Nado, no límpido Rio Tietê. Em 1928, criou o Campeonato Nacional de Futebol Varzeano. Ainda naquele ano, em 24 de dezembro, Cásper criou o semanário A Gazeta – Edição Esportiva (dez anos depois rebatizado de A Gazeta Esportiva que, em 1947, transformou-se em jornal diário). Cásper Líbero trabalhava quase no ritmo acelerado de uma rotativa. Era o primeiro a chegar e o último a sair do jornal. Transformou-se no primeiro empresário do ramo jornalístico que conseguiu administrar sua publicação obtendo lucros, sempre promovendo a ética e a imparcialidade. Logo o prédio Maurice Levy ficou pequeno para a Gazeta. Cásper pediu autorização ao próprio Levy e levantou mais um andar. Mas logo também esse novo espaço ficou pequeno. Em 1928, observando o outro lado da rua, Cásper Líbero reparou no Edifício Médici. O prédio, pertencente ao comendador Médici, era maior que a sede de A Gazeta e havia sido um hotel anteriormente. Três andares acima do nível da rua, mais três pavimentos no subsolo. Logo o prédio foi alugado e A Gazeta mudou para lá, na Rua Líbero Badaró, 651. Em 1929, A Gazeta criou a Página Feminina, a primeira seção voltada à mulher, e A Gazeta Infantil, primeiro suplemento dedicado às crianças. Ainda no ano da grande crise, A Gazeta imprimiu a primeira foto colorida da imprensa brasileira: Olga Bergamini de Sá, a Miss Brasil 1929. O ano passou. No sábado, 11 de janeiro de 1930, A Gazeta se tornou o primeiro jornal brasileiro em cores. Ainda com diversas partes em preto e branco, o pioneirismo veio na criação do suplemento A Gazeta em rotogravura (sistema de impressão colorida). Uma ilustração de Rafael Lamo ocupou toda a primeira página. Foi um tempo de progresso. Cásper Líbero tinha duas grandes paixões: Marguerite Augustine Lehancher – a Dona Maggy, sua fiel companheira – e a Gazeta, a sua menina dos olhos. 4. Impressões... A Gazeta faz anos hoje. É uma data bastante agradável para os que trabalham nesta casa, porque representa a afirmação de uma vitória coletiva. O corpo redatorial, a administração e as oficinas sentiram as mesmas esperanças, sofreram as mesmas tristezas, trabalharam com o mesmo ardor, para que A Gazeta atingisse a situação que hoje desfruta. Um jornal não é apenas um amontoado de máquinas, de onde saem para a rua as expressões de nosso pensamento, o clamor de nossas campanhas, a essência de nossas aspirações. O jornal é um conjunto de pessoas que, doentes ou com saúde, trabalhando sob o mesmo teto, com o mesmo ideal e sob a mesma bandeira, realizam com fé religiosa, todos os dias, sem descanso, haja sol ou chuva, calor ou frio, um esforço eficiente, apenas com o objetivo de projetar o jornal para o futuro. E isso a brilhante rapaziada de A Gazeta conseguiu, galgando, no mesmo ímpeto profissional, a posição que ocupamos. Não sei se é esse o mesmo sentimento entre os colaboradores de outras empresas jornalísticas; mas uma cousa podemos garantir ao público: em A A Gazeta todos formamos uma só família, esforçamo-nos por fazer o melhor possível o nosso jornal. Não é sem propósito dizer, neste momento, as minhas impressões de diretor. A vitória de A Gazeta reflete, antes de tudo, o espírito da nossa raça. É nesta, nos seus anseios, nos seus sofrimentos ou nos seus momentos de prazer, que vamos buscar as emoções para transformálas em diretriz e programa. É preciso que se saiba: o jornal deve ser o reflexo de sua cidade e não a cidade o reflexo do jornal. Nosso ponto de vista é procurar a orientação no povo, na massa, na rua, fugindo por princípio à preocupação enfática de certos jornalistas que se julgam capazes de por si só dirigir a civilização e os movimentos políticos de sua terra. São Paulo não suportaria tal pretensão, porque, pela sua cultura, e, sobretudo, pelo seu feitio tradicional, está mais à altura de guiar do que de ser guiado. Por assim entender é que nossa municipalidade inscreveu, dentro de seu próprio escudo, este lema bem significativo e bem paulista: Non ducor, duco. Um diretor do jornal não deve nunca deixar-se impressionar pelas amizades, em tudo que se refira à orientação pública. Quando se tem um rumo traçado e o seguimos, não se veem amigos; deve-se apenas lamentar quando eles não estejam dentro de nosso ponto de vista. Um jornal não tem amigos; tem diretrizes. Não deve reclamar direitos porque só tem deveres. E foi porque houvéssemos traçado esse caminho na nossa vida profissional que o povo de São Paulo sempre esperou de A Gazeta a manifestação de uma grande honestidade profissional e de um grande espírito de justiça. A situação de prestígio em que se colocou A Gazeta, tanto em São Paulo como no Brasil inteiro, é um reflexo de simpatia unânime pelas nossas diretrizes e a aprovação de tudo quanto temos feito. Há tanto tempo na direção dessa casa, não poderia deixar de ter tido, também, observações clínicas no exercício da minha profissão. A sugestibilidade pela letra de fôrma é extremamente perigosa. É como certos medicamentos de grande potencialidade usados pelos médicos em casos graves. O efeito de uma afirmação categórica, nas colunas de um jornal, leva o público, às vezes, a conclusões bem diversas da realidade. As mentiras transformam-se em postulados, tal a influência do papel impresso. Quando se quer afirmar com eloquência um fato, o nosso povo diz, como quem jura: Está no jornal. Essa impressão é a consagração absoluta do ascendente da imprensa sobre o público. Quando qualquer pessoa mantém relações de amizade, ou apenas de cumprimento, seja com um diretor de jornal, ou com qualquer de seus auxiliares, imagina-se com a força necessária para modificar uma atitude que o possa interessar direta ou indiretamente. Supõe que o poder afetivo exerce influência na direção. Já estamos a isso habituados e não sem grandes decepções. Quantas e quantas vezes transformamos em qualidades os defeitos de determinadas pessoas. Pois bem, por efeito da sugestão, elas se convencem das afirmações escritas e não agradecem ao jornal que as publicou, porque em rigor não se agradece a justiça. De outro lado, quantas e quantas vezes somos forçados, por um dever de ofício, a noticiar fatos que representam a verdade, ou deixar de o fazer, como sucedeu, certa vez, na tragédia desencadeada em família de alta situação. O resultado é sempre deplorável porque, imaginando uma solidariedade que não pode existir para com as desgraças alheias, uns passam a odiar o jornal que publicou a notícia, e outros o jornal que a deixou de publicar. E assim se vai o tempo, sucedem-se as campanhas; no fim de cada ano, o diretor de jornal, ao proceder seu balanço, constata um resultado profundamente desagradável: dedicações, nenhuma; inimizades, muitas. Mas que nos interessam essas inimizades? Um jornal, já o disse, não tem amigos. O jornalista deve ser como um médico legista. Este, à beira do mármore, onde lhe é entregue às vezes os entes mais queridos, não ouve prantos, não lamenta o desaparecimento irreparável. O que deseja, na hora da necropsia, é fazer o seu serviço, antegozando o descanso que terá depois. Pela orientação do nosso jornal, não desejamos conquistar amizades e também não choramos aquelas que, por força de nossas obrigações para com o público, se desgostem com esta ou com aquela atitude adaptada. E assim vamos seguindo, tempo afora, com A Gazeta. Possivelmente, outros diretores virão, mas uma cousa pode ser dita com a máxima segurança: hoje e sempre A Gazeta terá orientação própria. Poderá errar, mas os seus erros serão reflexos das suas convicções e da sua honestidade. E assim que imaginamos entregar ao tempo a vida de A Gazeta. Cásper Líbero Este texto é um verdadeiro registro de Cásper Líbero sobre ele mesmo. Documento importante para aqueles que trabalham como ou que pretendem ser jornalistas. Foi publicado originalmente na capa de A Gazeta em 16 de maio de 1936, por conta dos 30 anos do jornal, e mostra a ligação de Cásper com seu jornal. Após lerem o próximo capítulo entenderão também o espírito paulista e de renascimento que Cásper tanto abordou neste editorial. 5. Naturalidade paulista Desde 1925 a cidade de São Paulo, ao meio-dia, se hipnotizava ao som da sirene disparada pela Sereia – nome do relógio que Cásper colocou sob a sede de A Gazeta na Rua Líbero Badaró. Os responsáveis a cronometraram conforme a hora padrão da cidade: o relógio do Mosteiro de São Bento. Quando o meio-dia chegava, sabiam todos: A Gazeta estava pronta para ir às bancas. Afinal, a sirene era ouvida àquela hora por toda cidade. Mas, certo dia, aquele som que anunciava o fim da manhã e início da tarde berrou como quem pedia clamor... Veio o crack de 1929, a grande crise mundial. No Brasil muitas sacas de café foram queimadas para não ser vendidas a preço de banana, tamanha a desvalorização dos preços. Fome, desemprego, grandes fazendeiros perdendo tudo. Mais clamor... O PRP (Partido Republicano Paulista) era o mais forte dentro da Política Café com Leite, em que apenas líderes paulistas e mineiros eram eleitos à presidência – devido à força do setor agrário no país, concentrado em Minas Gerais e São Paulo. Mas foi enfraquecido. Dissidências e confusões entre membros e a cúpula do PRP desgastaram o partido. A Revolta Paulista de 1924 foi o primeiro efeito do desgaste. O segundo efeito foi a criação do Partido Democrático, com ex-perrepetistas (que viria a ser o principal incentivador da Revolução de 1930). Ainda o clamor... Washington Luís foi eleito pelo PRP à presidência em 1926. Em 1929 indicou Júlio Prestes para sua sucessão, como candidato do PRP. A imprensa paulista apoiou Prestes. Mais à frente, A Gazeta foi acusada de apoiar o candidato e de ter sido contra Getúlio Vargas, da Aliança Liberal (partido criado da união do Democrático com partidos de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba). Em 1º de março de 1930, Júlio Prestes venceu as eleições. A Aliança Liberal não aceitou o resultado, dizendo que havia fraudes. Em 20 de julho foi assassinado o vice de Vargas, João Pessoa, na Paraíba: foi o estopim da Revolução. Em 3 de outubro, ela começou. Foram depostos oito governantes de estado do Nordeste por tenentes. No dia 10, Getúlio seguiu com o exército gaúcho, pela ferrovia, em direção ao Rio de Janeiro. No dia 24 de outubro, Tasso Fragoso, Mena Barreto e o almirante Isaías de Noronha formaram uma junta de governo e depuseram Washington Luís, que saiu de madrugada do Palácio do Catete. Conseguiram a maior conquista da Outubrada de 1930. Mas seguiu o clamor... Naquele dia, a Sereia da Libero Badaró acionou a sirene pela última vez, ao meio-dia. A Gazeta foi empastelada, destruída pelos revoltosos. Outros jornais apoiadores de Prestes e do PRP (como o Correio Paulistano e a Folha da Manhã) também foram incendiados. O Estado de S. Paulo apoiava a Aliança Liberal. O fogo atingiu A Gazeta. Adentrando cômodo a cômodo, queimando mesas, incendiando a recém-adquirida máquina de rotogravura, explodindo vidros com o calor e atingindo a Sereia – que disparou a sirene, clamando por ajuda. Ainda a apedrejaram. Da rua, Cásper e os gazeteiros assistiam descrentes, perplexos e amargurados. Alguns achavam que era o fim. O cenário era desolador: muita fumaça, cinzas, escombros e ferros retorcidos. E, entre tudo aquilo, a Sereia. O relógio não foi consertado jamais, mas ficou como lembrança daquele episódio, marcando duas e vinte e cinco, o horário do ataque. No dia 5 de novembro, Cásper escreveu para o presidente da Junta Governativa e se defendeu, apresentando documentos que comprovavam a falsidade dos boatos que ligavam A Gazeta ao PRP e principalmente a Júlio Prestes. Um dos boatos mais fortes era de que Júlio Prestes teria bancado financeiramente a compra da rotativa Man e das máquinas de rotogravura. Auditores e bancos em que Cásper tinha conta se colocaram ao lado dele. O jornalista, abalado, pediu o seguinte à Junta Governativa (em carta de 17/11/1930): Aproveito a oportunidade para pedir a Vossa Excelência permissão e o necessário salvo-conduto para ausentar-me do Brasil. Cásper foi para os Estados Unidos e retornou em 1931. Enquanto isso, antes de completar um mês do incêndio, os gazeteiros também se levantaram. Em 17 de novembro, a Gazeta voltou às bancas. Pedro Monteleone, no posto de gerente, auxiliou o voo da Fênix. Miguel de Arco e Flexa, Carlos Joel Nelli, Gumercindo Fleury e Monteleone conseguiram firmar acordo com o diário Correio Paulistano para a composição e impressão do jornal em suas oficinas. Assim, A Gazeta se reergueu. Quando Cásper retornou, o quadro encontrado foi de um jornal em circulação e uma cidade acuada. Getúlio Vargas assumiu o comando do governo federal e, após criar um secretariado com líderes paulistas (comandados por José Maria Whitaker), nomeou como interventor João Alberto Lins de Barros, coronel pernambucano e um dos principais líderes tenentistas. A demonstração de poder mexeu com o orgulho paulista. Um dos episódios foi quando um exército gaúcho, acantonado no Parque de Exposições Animais (atual Parque da Água Branca), resolveu sacrificar e fazer um grande churrasco de animais expostos. Outro vexame foi um desfile de mulheres às autoridades federais, na Praça da Sé – muitas das que ali estavam, chamadas de representação das damas paulistas, eram prostitutas. O clima de São Paulo estava cada vez pior. Os paulistas, com comícios e passeatas, queriam mais respeito e principalmente um interventor conterrâneo e civil. Além da promulgação de uma Constituição (desde 1930 não só São Paulo estava sem uma, mas também o Brasil). Assim, às escuras, autoridades e grupos paulistas se encontravam (muitos ligados ao PRP) no Líder Clube, no Edifício Martinelli, na sede do Partido Democrático, na redação de O Estado de S. Paulo e em vários outros redutos. Homens de confiança de Cásper Líbero se encontraram na sede de A Gazeta nos primeiros dias de 1932. Ali se estabeleceu um plano: fariam para a edição de 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, duas versões da segunda página de A Gazeta. A primeira era inocente aos olhos dos censores federais e foi a que seguiu para aprovação. A segunda era direta, imperativa e conclamava o povo a comparecer a um grande comício na Praça da Sé. O conteúdo era um poema-manifesto de Ibrahim Nobre, chamado Minha Terra! Minha Pobre Terra! Poema que já havia passado de mão em mão, em cópias mimeografadas, quando de sua composição em janeiro de 1931. Cásper levava o poema agora ao conhecimento de todos os paulistas. A sua frota de furgões espalhou por toda a cidade A Gazeta com o manifesto. São Paulo, Santos, Jundiaí, Campinas, Mogi das Cruzes... os ânimos ficaram mais exaltados. São Paulo estava pronto para pegar em armas, como se falava na época. O estopim da Revolução ocorreu meses depois, em 23 de maio. Estudantes paulistas protestaram em frente à sede do Partido Populista Paulista (PPP). Tentando a invasão do local, foram mortos quatro jovens: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo (Alvarenga também foi ferido, mas morreu meses depois). Suas iniciais, M.M.D.C., viraram símbolo da Revolução Constitucionalista, que começou em 9 de julho de 1932. A imprensa paulista se manifestou a favor dos constitucionalistas. Principalmente A Gazeta, nas páginas impressas, e a Rádio Record, na eloquente locução de César Ladeira, Nicolau Tuma e Renato Mace-do, ao som da irradiante marcha Paris-Belfort. Com a campanha Doei Ouro... Para o Bem de São Paulo as famílias paulistas doaram joias, prataria e ouro para financiar o exército constitucionalista. A sede de A Gazeta sofreu ameaças de novos ataques criminosos. E São Paulo, sem o apoio de outros estados, perdeu a Revolução. Os exércitos inimigos se levantaram contra São Paulo após interventores federais plantarem o boato de que os paulistas queriam formar uma república independente, tirando do Brasil um estado que muito ajudava, financeiramente, toda a União. Os paulistas conseguiram a volta da Constituição, mas se entregaram em 2 de outubro de 1932. Milhares de pessoas em combate, mais de 600 vítimas contabilizadas. Aqueles considerados líderes da Revolu ção foram exilados. Entre eles grandes nomes da imprensa, como Cásper Líbero, Júlio de Mesquita Filho (dono de O Estado de S. Paulo), Oswaldo Chateaubriand (diretor do Diário de São Paulo e irmão de Assis Chateaubriand), Austregésilo de Athayde (também do Diário de São Paulo), Eurico Martins (de A Gazeta), os poetas Ibrahim Nobre e Guilherme de Almeida, além de muitos outros... Assim, A Gazeta ficou sem seu comandante, mas manteve-se, sabendo que logo ele voltaria. E cumpriu um desejo de Cásper: em 1933 foi criada a Prova Ciclística Nove de Julho, data que o jornalista escolheu em homenagem à Revolução Constitucionalista. Cásper Líbero foi primeiro para os Estados Unidos e depois para a França, onde morou por dois anos. Por conta dos episódios até aqui narrados, A Gazeta e Cásper Líbero ficaram definitivamente ligados a São Paulo. Cada vez mais se transformavam em uma só identidade. Quando Cásper Líbero morreu, foi enterrado dentro do Obelisco do Ibirapuera, denominado Mausoléu do Soldado Constitucionalista. Lá está sepultada boa parte dos que lutaram por São Paulo: alguns com armas, outros com máquinas de escrever. 6. Voltando ao futuro Em 1934 Cásper Líbero foi anistiado e recebeu a indenização por todos os danos sofridos por conta daquela fase revolucionária. Em 24 de julho retornou do exílio. Foi recebido com festa em São Paulo, com um banquete considerado o maior até então realizado no Brasil – com mais de 1.200 pessoas, todos os grandes nomes e figuras representativas de São Paulo e até de outros estados. Ciro Costa foi o orador oficial da festa, depois falaram o político Cirilo Júnior, o poeta Ibrahim Nobre, o acadêmico Aulus Plautius Pereira, o padre Leopoldo Aires (representando os combatentes de 1932), o jornalista Alberto Siqueira Reis (em nome da API – Associação Paulista de Imprensa), Machado Florence e o poeta Martins Fontes. Por fim, Cásper Líbero, com grande discurso. A Gazeta foi destruída; reduziram-na a cinzas e tive que procurar em país estrangeiro a segurança do direito de viver. Esqueceram-se, entretanto, de que sob essas cinzas palpitava a flâmula imorredoura da fé nos destinos de São Paulo. Não tardou que os ventos do quadrante, soprando em contrária direção, avivassem o lume trêmulo que nos aquecera nos bons dias. E a chamazinha tênue foi capaz de reacender o civismo do nosso povo, tornando-se o facho da vitória. A Gazeta ressurgiu, clamando, protestando, defendendo os oprimidos, pugnando pela libertação de nossa terra, sem vacilações, sem recuos, disposta aos mais rudes sacrifícios. O amor a São Paulo continua a ser o nosso incentivo. Este breve trecho de discurso tão aplaudido parece que norteou os novos caminhos de A Gazeta e de Cásper Líbero. O jornal voltou para seu rumo. Da política, Cásper quis distância, recusando convite à candidatura a deputado federal pelo PRP de Bragança Paulista naquele ano. Queria o jornalismo. E voltou o processo de crescimento. Em 1935, A Gazeta se transformou no jornal com maior tiragem diária: cem mil exemplares. Com o dinheiro da indenização construiu na Rua da Conceição, 88, o Palácio da Imprensa – o mais moderno e equipado prédio de jornal do país, com oito andares. A Gazeta se mudou para lá. Sua inauguração, em 3 de novembro de 1939, foi uma grande festa. Estava presente até mesmo um inimigo de peso: Getúlio Vargas, ainda presidente da República. O maior orgulho dos gazeteiros era o enorme roof, para a realização de grandes festas e bailes. E também o Centro de Debates, um espaço democrático para a troca de ideias. Naquele ano de 1939, durante a Feira Mundial de Nova York, David Sarnoff, presidente da RCA, demonstrou a televisão. Em 2 de junho, no pavilhão de entrada da Feira de Amostras do Rio de Janeiro, a América Latina viu pela primeira vez uma demonstração de TV. Os principais empresários da imprensa escrita e radiofônica estavam lá. Não há precisão da data em que Cásper conheceu a televisão. O que se sabe é que seu entusiasmo se deu em viagens internacionais. Um importante relato nos desvenda parte do mistério. É do locutor da Rádio Gazeta, Honoré Rodrigues, contando fato relacionado a Sérgio Pimentel Mendes, primeiro funcionário da TV Gazeta: O Sérgio Pimentel tinha uma cópia de um documento, uma carta de próprio punho, escrita pelo Cásper Líbero, ao ministério que na época correspondia ao das Comunicações [o Ministério da Viação e Obras Públicas]. Nela estava requerendo a concessão de uma emissora de televisão em 1939. Cásper viu, tempos antes, na Inglaterra, experimentos em TV. Isso foi no tempo em que no Brasil o rádio ainda engatinhava. E ele conseguiu o canal 2, o primeiro do país. Sobre a carta, quando o Sérgio Pimentel saiu da TV Gazeta, levou com ele de recordação. Eu vi essa carta. Terminava até com a assinatura do próprio Cásper. Nela ele contava, detalhando, o que viu na Inglaterra, e que desejava explorar o serviço de televisão no Brasil. Foi antes mesmo de o Chateaubriand pensar em TV. Levando em conta esta informação, Cásper deve ter visto experimentos da BBC de Londres. Emissora inaugurada em 2 de junho de 1936, tendo seu serviço interrompido em 1º de setembro de 1939, quando estourou a Segunda Guerra Mundial na Europa. Era a única TV inglesa, estatal, que só em 1946 voltou a funcionar (quando Cásper já havia falecido). Portanto, o jornalista conheceu o meio televisivo entre 1936 e 1939. Isto pode dar a ele o título de primeiro brasileiro a pensar empresarialmente em TV. Depois, em 1941, o caderno A Gazeta Esportiva passou a ser veiculado duas vezes por semana: aos sábados e segundas. No mesmo ano, surge o suplemento A Gazeta Magazine, destinado a matérias literárias e históricas. Em 15 de março de 1943, Cásper Líbero comprou a Rádio Educadora Paulista e a transformou em Rádio Gazeta, a emissora de elite. Cásper Líbero, após convite do embaixador Caffery, dos Estados Unidos, embarcou para a América do Norte a fim de escrever artigos sobre a região. Era uma estratégia dos norte-americanos para fortalecer a imagem de seu exército na Segunda Guerra junto à imprensa estrangeira. A partir de agosto de 1943, a coluna Impressões de uma Viagem foi publicada em 18 rodapés de A Gazeta, sendo escrita pelo próprio Cásper. Em 21 de agosto, após visita ao amigo Nelson Rockfeller, escreveu seu último editorial e previu o futuro: Vim dos EE.UU. [Estados Unidos] certo de uma coisa: a vitória dos aliados nesta guerra é um fato acima de qualquer dúvida ou vacilação. Dois anos depois acabou a Segunda Guerra, com a vitória dos aliados. No dia 26 de agosto, já de volta do exterior, Cásper Líbero se reuniu com colegas da imprensa em almoço no restaurante roof do Clube dos Proprietários de Jornais. Lá estava ele, Pelágio Lobo (A Noite), Menotti Del Picchia (Folha da Manhã), Diógenes de Lemos Azevedo e outros. Decidiram pela mudança do nome da associação para Clube dos Diretores e Principais Redatores de Jornais. Naquele dia, foi feita a última foto de Cásper Líbero. Saiu de lá já pensando nos próximos compromissos: iria ao Rio de Janeiro no dia seguinte. 27 de agosto de 1943, 9h05 da manhã. Cásper Líbero foi vítima de um acidente aéreo, junto com outras 17 pessoas. O avião de Cásper caiu no Rio de Janeiro, na Baía de Guanabara. Um desfecho inesperado. Cinquenta anos depois, o jornalista Silveira Peixoto registrou em informativo da Fundação Cásper Líbero os últimos momentos de seu chefe: Na manhã brumosa, fomos pela velha estrada do Aeroporto de Congonhas que era um tiquinho do que é hoje. Cásper seguia numa daquelas famosas viagens de rotina para o Rio de Janeiro. O teto estava baixo e ficamos conversando no aeroporto esperando o tempo melhorar. Junto, o arcebispo de São Paulo, Dom José Gaspar, que também viajaria. Rasgou-se o véu do nevoeiro, abriram-se as condições de voo e ouviu-se a chamada de embarque. Nosso companheiro Cásper brincou nos seus modos risonhos: Então, Dom José, afinal vamos para o céu? Premonição? Não sabemos. Mas São Paulo e principalmente os colegas de imprensa choraram a morte de Cásper. Foi assim registrada nas páginas de A Gazeta, na 2ª edição daquele dia. Uma Ocorrência Tristíssima Batendo na torre da Escola Naval caiu no mar o avião da Vasp – perecem na dolorosa ocorrência o Dr. Cásper Líbero, diretor desta folha, e o arcebispo de São Paulo, D. José Gaspar – As demais vítimas – Salvos três passageiros. Naquele dia o logotipo A Gazeta foi colocado em preto – ficando assim por um mês – e a Rádio Gazeta interrompeu suas transmissões, voltando ao ar só cinco dias depois. Até 30 de agosto a notícia repercutiu nos principais jornais do país e do mundo. Em São Paulo, o interventor federal Fernando Costa decretou luto de três dias. Dois meses depois, parte da Rua da Conceição (a da sede de A Gazeta), entre o largo de Santa Efigênia e o largo entre as ruas Senador Queiroz e Ipiranga, foi rebatizada de Avenida Cásper Líbero, como é até hoje. 7. Fundação Cásper Líbero Cásper Líbero deixou um testamento em que determinou que seus bens fossem transformados em fundação (aquela a qual posteriormente de-ram seu nome). E como transcrito do testamento, seguem seus objetivos: II – Será tríplice a finalidade ou objetivo, a saber: a) objetivo patriótico, de iniciativas e campanhas por São Paulo, pelo Brasil, pela justiça, pelos nobres ideais, pela cultura e grandeza de nossa pátria, servindo-se para isso, de A Gazeta, do seu auditório, do seu rádio e dos recursos do patrimônio com que a doto; b) objetivo cultural, de criar e manter uma escola de jornalistas e ensinamentos de humanidades, particularmente português, prosa, estilo, literatura, eloquência, história e filosofia, em cursos de grandes proporções, a começar pelo secundário e finalizar pelo superior; c) objetivo jornalístico, consistente em assegurar e desenvolver o nome, futuro, prosperidade econômica e prestígio da A Gazeta, mantendo-a como órgão de genuína opinião pública, e interesses da pátria, aparelhada dos inventos e aperfeiçoamentos que o progresso for engendrando, fidelíssimo à elevada finalidade da fundação. Nesta parte final, Cásper Líbero ainda abriu campo a novos veículos que fossem criados. Esteio para a Fundação Cásper Líbero criar a TV Gazeta, a Rádio Gazeta FM, a FCL Net, a Gazeta Esportiva.Net e até mesmo a TV Gazeta Digital. No dia 15 de agosto de 1944 foi constituída a Fundação Cásper Líbero. Aconteceu a primeira reunião da diretoria, composta por João Francisco Ferreira Jorge, Pedro Monteleone e Sylvio Margarido, e dos parentes do jornalista falecido, José Líbero e Nelson Líbero – todos nomeados pelo próprio Cásper em testamento. Nelson, seu irmão, foi eleito na reunião como primeiro presidente da Fundação. E o espírito de Cásper permeou a Fundação. Não era hora de parar. O progresso continuava. Nos primeiros anos, cumpriram os desejos do testamento. Depois se estruturou a Fundação. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o mundo também se reestruturou. Em 31 de dezembro de 1945, a Corrida de São Silvestre iniciou sua fase internacional, abrindo-se para competidores do mundo inteiro. No dia 16 de maio de 1947 foi inaugurado o Curso Superior de Jornalismo Cásper Líbero, sob a direção de João Baptista de Souza Filho – o primeiro curso de jornalismo do país. Em 10 de outubro A Gazeta Esportiva se transformou em um jornal independente e diário. Firmouse como o mais completo jornal de esportes do país. Um ano depois surgiu o suplemento A Gazeta Juvenil, voltado ao público jovem. E no mesmo 1948 o Curso de Jornalismo se transferiu para a Rua Brigadeiro Tobias. Em 1º de setembro de 1953 a Fundação criou A Gazeta Esportiva Ilustrada, vendida separadamente dos outros veículos. Em 1958, A Gazeta Esportiva atingiu tiragem recorde: 407.324 exemplares. No mesmo ano, a Fundação tomou uma importante decisão: o conselho curador, seu corpo deliberativo, registrou oficialmente a ideia de construir uma nova sede. O prédio precisava atender às necessidades dos veículos do grupo. A Casa de Cásper Líbero, como inicialmente foi batizado o local, se ergueria aos poucos na Avenida Paulista, 900. 8. Uma luz sobre São Paulo A Fundação viu a necessidade de expandir suas instalações e centralizar suas empresas em um só lugar. Pensou-se em algo simbólico que enaltecesse mais ainda os ideais do fundador. Surgiu assim a ideia de criarem a Casa de Cásper Líbero em plena Avenida Paulista, endereçosímbolo da cidade. O terreno pertencia ao próprio Cásper. A ideia não era simples. Era um projeto arrojado. O sonho de criar um grande centro cultural, instalado no maior prédio do mundo, transformar-se-ia na maior construção em concreto armado. Seu tamanho? Nada menos que 220 metros de altura, ficando a 1.018 metros do nível do mar. Isso equivaleria a um edifício de 72 andares. Sem contar os 30 metros da futura antena da TV Gazeta, planejada no decorrer da construção. As obras começaram em 1958. O projeto foi concebido pelo renomado engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz. Futuro prefeito de São Paulo, foi construtor de obras históricas como o vão livre do Masp – Museu de Arte de São Paulo, o Metrô de São Paulo, o Planetário do Ibirapuera, a cúpula e as torres da Catedral da Sé e o Paço Municipal. Em novembro de 1991, o engenheiro disse ao jornal O Estado de S. Paulo: Participei de outro sonho visionário: o sonho de Joel Neli. Na Paulista faria ele erguer aquele que seria, então, o maior prédio do mundo em concreto armado: o Edifício da Gazeta, de cujo topo, à noite, uma luz possante varreria a cidade toda. Um facho de luz sobre São Paulo. O visionário a quem se refere Figueiredo Ferraz era Carlos Joel Neli (diretor da Fundação Cásper Líbero e do jornal A Gazeta Esportiva). Posteriormente, o engenheiro Ary de Albuquerque (contratado pela Fundação) ficou responsável pela obra. Angela Esther de Oliveira, superintendente patrimonial da Fundação, conta que ainda hoje há ligações remanescentes do projeto original: A parte estrutural toda é do Figueiredo Ferraz. Hoje, para qualquer coisa que se faça no edifício, eu faço a consulta na Figueiredo Ferraz. Não faço nada sem consultá-los. O projeto ganhou um nome-slogan: Uma luz sobre São Paulo. Os habitantes de todas as cidades paulistas podiam se tornar patronos do prédio, colaborando financeiramente com a sua construção. Em troca, teriam descontos no centro cultural a ser construído (o primeiro benefício foi o barateamento dos ingressos de filmes do Cine Gazeta). Voltando à construção, o local escolhido na Avenida Paulista era a área central da quadra entre a Alameda Joaquim Eugênio de Lima e a Alameda Campinas, com fundos para a Rua São Carlos do Pinhal. Foi comprado um grande terreno, que abrigava um casarão branco – herança da época dos Barões do Café (um entre os muitos que ainda existiam na Avenida Paulista). Um enorme jardim o rodeava. Naquela grama cravou-se a placa, na década de 1950: Casa de Cásper Líbero: Futuras Instalações. Nela estavam os nomes dos principais veículos da Fundação, incluindo a TV Gazeta (em projeto). Em pouco tempo o casarão foi demolido. Levantaram-se tapadeiras de madeira e o povo que andava na Paulista se acostumou com aquela névoa de poeira. Máquinas de terraplenagem adentravam o terreno e tiravam sulcos generosos de terra. A causa não seria outra: a escavação de um enorme buraco. Aquela profundidade serviu para assentar as primeiras fundações do prédio, os alicerces e sapatas da Casa de Cásper Líbero. Fortificaram grossos pilares, que ainda hoje são referências em engenharia na cidade de São Paulo. Paulo Santos Mattos, jornalista de A Gazeta, escreveu em matéria do dia 16 de maio de 1966: Pareciam obras de monumental represa. Obra faraônica. Ritmo de trabalho e entusiasmo como vimos em Brasília. Era uma nova Babel sendo levantada, com uma diferença fundamental: só os que nela não criam, ou por ela não trabalhavam, falavam línguas diferentes. Os demais integrados no idealismo sacrossanto de criar, crescer e subir, se identificavam e se entendiam perfeitamente, na linguagem positiva de mexa-se. Agora está pronta a mágica. Do vazio do buraco surgiu um monumento de aço e pedra que inscreverá com letras de ouro, nos anais da civilização e da cultura, um novo marco de vista, de fé, realização e coragem. Quando foi publicada essa matéria especial, dois terços da obra já estavam construídos (82 metros de altura sobre a Paulista). O edifício gradativamente começou a ser utilizado oficialmente no primeiro semestre de 1966 (alguns departamentos já estavam no edifício no início da década, como a administração, que se instalou em 1961). Aos poucos, todos se mudaram do Palácio da Imprensa para a Casa de Cásper Líbero. Em 21 de maio, o Cine Gazeta foi inaugurado com o filme Ontem, Hoje e Amanhã (com Sophia Loren e Marcelo Mastroianni); ainda no mês de maio começou a construção da torre da TV Gazeta. Em 30 de junho ocorreu a transferência geral para o novo edifício, esvaziando-se a antiga sede na Rua Cásper Líbero. Uma amostra da importância que a obra teve para o campo da engenharia é a de que, em 20 de junho de 1966, o Edifício Gazeta foi escolhido para realizar a cerimônia de abertura da IX Jornada Sul-Americana de Engenharia Estrutural em suas dependências. Durante uma semana, o edifício foi percorrido por cerca de 150 técnicos de 40 países sul-americanos, além de engenheiros brasileiros de todos os estados. Era um projeto ambicioso. A fachada já impressionava a quem passasse. Foi construída uma grande escadaria no número 900 da Avenida Paulista. Também um mural, com 45 graus de inclinação, com a pintura de uma enorme bandeira do estado de São Paulo. Por serem mais largas as calçadas da Paulista havia ainda um pequeno jardim com 30 mastros em que se penduravam flâmulas das cores preta, branca e vermelha. E ainda um toque de modernismo no toldo sob a escadaria: uma verdadeira treliça de ferro e cimento armado, com uma leve inclinação para o alto. As colunas da escadaria eram arredondadas. Com as modificações no projeto, o moderno toldo foi substituído por um convencional e retangular e as pilastras ficaram mais grossas, com ângulos retos. Mas nem tudo saiu como o esperado. O sonho ficou inacabado, por décadas a entrega de trechos das obras foi adiada, e o projeto inicial foi remodelado. Porém, fica aqui registrada sua grandiosidade. No final do século 20, os grandes centros culturais da cidade ainda não chegariam perto do planejado pela Fundação. No projeto inicial, de 31 andares, existiriam dois cinemas (foram construídos o Cine Gazeta e o Cine Planalto, o futuro Cine Gazetinha); onze elevadores movimentariam uma população diária de 25 mil pessoas (detalhe: hoje transitam 20 mil pessoas pelo prédio diariamente); haveria salões de conferência; galerias de arte (uma existiu); auditórios e estúdios de rádio e TV (além de dois estúdios construídos, o Teatro Gazeta foi criado para uso como auditório); salão de festas; ringue de patinação; capela; ginásio; departamentos de publicidade, fotografia e arquivo; uma Praça dos Esportes dentro da redação de A Gazeta Esportiva (com quadras de basquete, vôlei, esgrima, pugilis mo, uma piscina olímpica com medidas oficiais e plataforma de vidro para imagens subaquáticas); um hall nobre; um roof (salão para grandes eventos); heliporto; doze apartamentos para visitantes de outras cidades; e, por fim, um mirante de vidro no 31º andar, com vista para toda a cidade, os municípios vizinhos, até a Baixada Santista! No projeto inicial as instalações da TV Gazeta também tiveram destaque, como escreveu Paulo Santos Mattos naquela matéria especial de 16 de maio de 1966: A TV Gazeta ocupará oito andares com os maiores e mais perfeitos estúdios da televisão brasileira, todos com ar- condicionado perfeito. A organização técnica da TV – canal 11 está sendo efetuada com o máximo rigor e cuidado, o que indica que será, sem dúvida, a maior e melhor emissora de TV do país. Oito andares seriam apenas da TV, porém outros lugares também seriam ocupados pela emissora no projeto inicial. A estrutura original ficaria da seguinte forma: 12º andar – Salão de recepção e exposição do auditório de Rádio e TV; 14º andar – Auditório de Rádio e TV; 15º andar – Administração e Direção Artística da TV; 16º andar – Estúdios Comerciais; 17º andar – Agências de Propaganda (TV) e Supervisão dos Estúdios; 18º andar – Estúdios Artísticos, Camarins e Cenários; 19º andar – Departamento de Teleteatro, Censores, Redatores e Cenários; 20º andar – Estúdios 3 e 4, Camarins e Cenários; 21º andar – Estúdios; 22º andar – Direção do Departamento de Engenharia, Cenógrafos, etc.; 30º andar – Transmissor da TV; Torre (acima do 31º andar). 9. Um canal de televisão Cásper Líbero morreu em 1943. Apesar de [na época] não existir televisão no Brasil, seu sonho já era o de montar uma emissora – diz Sérgio Felipe dos Santos, que entrou na Fundação no final dos anos 1960. Como disse anteriormente, Cásper requereu uma concessão em 1939. Com sua morte e a criação da Fundação Cásper Líbero a entidade ficou com a obrigação de manter o projeto encaminhado. Sérgio Pimentel Mendes foi contratado para cuidar das tratativas políticas e técnicas para a implantação da sonhada TV Gazeta. A concessão foi pedida antes de 1950, sendo outorgada em 1952 junto com a da TV Paulista (canal 5) e com a mudança da TV Tupi-Difusora, do canal 3 para o 4. Veja abaixo a transcrição de A Hora do Brasil (atual Voz do Brasil), de 28 de janeiro de 1952: O Ministro da Viação e Obras Públicas encaminhou ao Sr. Presidente da República o resultado dos estudos promovidos pela Comissão Técnica de Rádio, em referência ao número de canais de televisão da capital de São Paulo: Esclarece o titular da pasta da Viação, em sua exposição de motivos, na viabilidade de São Paulo contar com mais de um canal de TV desde que se suprima o de número 3. Colocando em seu lugar os canais 2 e 4. Destarte, São Paulo ficará com sete canais de televisão, ao invés de seis. Ou seja, os canais 2, 4, 5, 7, 9, 11 e 13. Eis o despacho exarado pelo Senhor Getúlio Vargas na exposição ministerial: Aprovo a nova classificação dos canais de televisão em São Paulo, feita pela Comissão Técnica de Rádio. Devendo, porém, a concessionária que atualmente ocupa o canal 3, Rádio Difusora São Paulo S/A, transferir-se para o canal 4, dentro de prazo razoável, que será marcado pela mesma comissão, levando em conta as condições técnicas e financeiras desta transferência. Em consequência, reformo em parte o despacho proferido à 15 do corrente, na exposição de motivos nº 379 de 1951. Afim de que conceda o canal 5 à Rádio Televisão Paulista S/A e o canal 2 à Fundação Cásper Líbero, comissionada à utilização deste último canal ao término da referida transferência. A TV Gazeta deveria ter sido a segunda ou a terceira emissora de São Paulo. Viria após a TV Tupi, inaugurada em 18 de setembro de 1950 pelos Diários Associados, de Chateaubriand, e concorrente da Gazeta. Curiosamente, quando a TV Gazeta perdeu o canal 2, este foi transferido para os Associados – na mídia estes divulgaram amplamente que por inaugurarem um novo canal do grupo, a TV Cultura, obrigatoriamente a TV Tupi mudaria para o canal 4 para evitar interferência de sinal. Com a transcrição acima se observa que foi um golpe de marketing, visto que a mudança já estava programada bem antes de 1960 – em 1952, por conta da concessão da TV Gazeta. A primeira vez que a Fundação falou em público sobre o canal de TV foi em propaganda na contracapa de A Gazeta Esportiva Ilustrada, em edição da 2ª quinzena de janeiro de 1954. Nela falava sobre a Rádio Gazeta (ondas médias e curtas) e, no final, dizia o seguinte: TV/Televisão – Por decreto governamental, ficou a Rádio Gazeta com o canal 2, estando em fase de final execução os trabalhos de instalação do mais moderno aparelhamento existente no gênero, incluindo-se acurados estudos que vêm sendo procedidos nos Estados Unidos, além das providências de âmbito nacional, bitoladas no sentido de oferecer sempre o melhor aos telespectadores. Rádio Gazeta: Televisão de Elite. A segunda vez que se falou da TV foi na Revista do Rádio (23 de abril de 1955, pág. 6): Vem aí a TV Gazeta! – A Organização Cásper Líbero deverá receber dentro de 15 meses mais ou menos todo o material já encomendado à RCA, nos Estados Unidos, destinado à instalação da TV Gazeta, que deverá funcionar no canal 2. Os estúdios da futura TV serão localizados num prédio de 24 andares, cuja construção foi iniciada em terreno de propriedade da organização, sito à Avenida Paulista. Já a terceira vez foi na edição comemorativa dos 50 anos de A Gazeta (16 de maio de 1956): (...) A Gazeta já está se preparando para uma nova sede, na Avenida Paulista, onde ainda estará melhor. O penacho que Cásper lhe conferiu lá esplenderá, até maiores distâncias, com a sua estação de Televisão, já em preparo. A matéria abaixo, de A Gazeta, em 1978, completa: Se hoje a TV Gazeta é a mais moderna, a melhor equipada, a mais completa emissora de televisão nacional, o início dos trabalhos não foi tão fácil. A primeira concessão do canal de televisão (canal 2) para a Fundação Cásper Líbero foi dada em 1950. Passaram-se dez anos permitidos e a TV Gazeta não pôde ser instalada. Nessa época as concessões de TV caducavam a cada dez anos. Prazo que teriam para a implantação de um novo canal. Apenas em 1961 este prazo foi modificado para três anos (como é até hoje). A mudança foi aprovada no governo Jânio Quadros, que permitiu apenas que a TV Bandeirantes e a TV Gazeta, ainda em fase de testes, continuassem com os dez anos permitidos anteriormente. De pioneira, aos poucos a TV Gazeta viu a concorrência nascer, uma a uma. A TV Paulista, em 1952, a TV Record, em 1953, a TV Excelsior e a TV Cultura (que ficou com seu canal 2), em 1960, e até a TV Bandeirantes, em 1967. Foi publicado em 23 de fevereiro de 1959, no Diário Oficial da União (D.O.U.), o Decreto 45.283 (de 26/01/1959). Nele foi aprovado o transmissor, locais e equipamentos da TV Gazeta. Após perderem o canal 2, o presidente da República Juscelino Kubitschek concedeu o canal 11 à Fundação Cásper Líbero (o contrato da concessão foi publicado no Diário Oficial da União de 29 de abril de 1959). A razão da perda do canal 2 é uma incógnita. Suspeita-se de golpe. Isso, porque, em 1961, em trecho de telegrama enviado por João Francisco Ferreira Jorge (presidente da Fundação) ao presidente Jânio Quadros, o primeiro descreve: Quando ainda governador São Paulo teve V. Exa. ciência golpe semelhante concernente mesmo canal e nos deu todo o apoio e solidariedade pt Agora véspera de sua posse golpe se repete e aperfeiçoa em decreto açodadamente publicado Diário Oficial ontem trinta corrente pt Invocamos assim novamente seu apoio anulando de imediato ilegal que bem classifica aqueles falsos brasileiros que o prepararam e sancionaram pt. A época é justamente próxima da perda da concessão do canal 2 e obtenção da concessão do canal 11. Visto que Jânio Quadros foi governador até 31 de janeiro de 1959 e a concessão do canal 11, sob o Decreto 45.283, deu-se no dia 26 daquele mês e ano. Fica a dúvida também de que grupo teria aplicado o golpe. Os suspeitos, no caso, seriam dois interessados: Chateaubriand, para conseguir a concessão da TV Cultura, e a carioca TV Continental, que aplicou novo golpe em 1961 (o mesmo descrito no telegrama). Sobre este, é relatado o que aconteceu. Por motivos políticos e também usando o fato da demora da montagem da emissora, o presidente Juscelino Kubitschek revogou a concessão do canal 11. Passou-o da Fundação para a Televisão Continental S/A (detentora do canal 9 carioca). Isso aconteceu em 29 de janeiro de 1961, sendo o último ato de JK na presidência. Publicado no dia seguinte no Diário Oficial, a revolta da Fundação Cásper Líbero foi geral. A TV Gazeta já tinha encomendado seus equipamentos à norte-americana RCA Victor, aguardando liberação da alfândega para trazê-los dos Estados Unidos. Já tinham sido gastos mais de duzentos e cinquenta milhões de cruzeiros na TV Gazeta, além das reformas no prédio. O presidente da Fundação, João Francisco Ferreira Jorge, disparou telegramas no dia 31 para as principais autoridades do país: Jânio Quadros, que tomaria posse da presidência da República no mesmo dia; Clóvis Pestana, ministro da Viação e Obras Públicas; senador Lino de Mattos; Francisco Quintanilha Ribeiro, chefe da Casa Civil; Francisco Carlos de Castro Neves, ministro do Trabalho; almirante Ernani Amaral Peixoto, do alto escalão do Exército da Guanabara e amigo de Cásper. O resultado se deu naquele mesmo dia. Jânio Quadros tomou posse da presidência e realizou seu primeiro ato: Artigo 1º - Ficam revogados o Decreto 50.201, de 29 de janeiro de 1961, que declarou caduca, nos termos da alínea ‘a’ do Artigo 26, do Regulamento aprovado pelo Decreto nº 21.111, de 1º de março de 1932, a concessão outorgada pelo Decreto nº 45.283, de 26 de janeiro de 1959, à Fundação Cásper Líbero, para estabelecer uma estação de rádio e televisão na cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, e o Decreto 50.202, de 28 de janeiro de 1961, que outorgou à Emissora de Televisão Continental S/A – TV Continental, concessão para estabelecer uma estação de rádiotelevisão na cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, e restabelece a vigência, em todos os seus efeitos, do Decreto nº 45.283, de 26 de janeiro de 1959. Vitória da Fundação Cásper Líbero, a caminho da criação de sua televisão. Começaram então os preparativos. Na revista São Paulo na TV, em 1º de junho de 1964, foi publicada a matéria TV Gazeta: Uma Luz Sobre São Paulo, concluindo: 11 NO AR – Segundo os homens responsáveis pela emissora, engenheiro Carlos Paiva Lopes, responsável pela parte técnica e Sérgio Pimentel Mendes, chefe de operações e planejamento, são de crença que a estação deverá ir ao ar em meados de 1965. Foram destinados, no projeto inicial, 32.000 m2 para a TV Gazeta, com seis estúdios medindo, em média, 400 m2. Em 11 de janeiro de 1964 a Fundação Cásper Líbero entrou em luto: morreu um de seus criadores, José Líbero, irmão de Cásper e médico-legista. 10. A crise de 1968 Em 1968, não foi o AI-5 (Ato Institucional nº 5) que abalou a Fundação Cásper Líbero, como fez com outros órgãos da imprensa. O principal problema da Fundação era interno. Por sorte, a Folha de S. Paulo apoiou a Fundação Cásper Líbero naquela difícil fase. Praticamente dez anos depois se fez o destrato entre as empresas. A Fundação Cásper Líbero, muito corajosamente, se expôs ao público no editorial Em 1968... Nove anos depois, em A Gazeta de 13 de fevereiro de 1978: Em 1968, a Fundação Cásper Líbero estava condenada ao desaparecimento, sem crédito e sem amigos. Cásper morreu no dia 27 de agosto de 1943 e, se mortos falassem, sua voz seria sobre o túmulo, um brado de indignação. Tudo o que o grande idealista previu, projetou e criou, estava agora reduzido a um prédio inacabado e dívidas. Os dois jornais, A Gazeta e Gazeta Esportiva, circulando com poucas páginas feitas quase a mão, tocadas estoicamente... quaseQuase que artesanalmente. A rádio dava prejuízo. E a TV estava encaixotada. Não havia dinheiro sequer para os martelos e transporte dos módulos. O desânimo e a desolação cruzaram o destino desta casa. O décimo terceiro de 1967 não havia sido pago e os salários se atrasavam por quatro meses. Um sopro, um título protestado, poria no chão o prédio, as máquinas, as mesas, os transmissores e 1.300 funcionários com suas famílias. É importante recordar estas sagas, estes espectros, a fim de que se obtenha uma visão crítica correta da atualidade. Há nove anos a Fundação Cásper Líbero era, no contexto empresarial, um zero à esquerda. Nove anos depois, a Fundação Cásper Líbero emerge de suas próprias ruínas e cinzas, como Fênix, e alça voos de águia. Em 1968, sem tostão para operar o canal 11, a exploração era oferecida a vários grupos que negaram colaboração e adesão. Ninguém desejava aproximar-se do doente, para salvá-lo ou ao menos para confortá-lo. (...) Quem fracassava, na crise de 1968, não eram apenas homens. Ruía, no fragor dos tijolos e do aço, todo o império do espírito do idealizador. (...) Pode-se dizer que quase todos os grandes jornais do Império e da Primeira República desapareceram, salvo escassas exceções. Daí nosso temor quando, em 1968, começamos a rodar em falso, no vácuo. (...) A situação era tão vexatória e incômoda que os funcionários, redatores, diretores, etc. não se olhavam mais. Entreolhavam-se, roçavam-se. Não debatiam, não conversavam. Murmuravam. O contrato de prestação de serviços firmados com a Empresa Folha da Manhã S/A foi a cortisona, o balão de oxigênio, que, se não devolveu o doente inteiramente ao seu antigo vigor, salvou-o do desaparecimento, equivale a dizer, recolocou-o em condições de seguro retorno ao seu destino histórico. (...) O acordo entre as duas empresas, uma próspera e forte; a outra em estado de insolvência, não nos impôs nos dias que se seguiram o menor desapontamento ou inquietação. Ao contrário. Nossos aliados bem cumpriram o seu dever. Todas as letras do contra-to foram até hoje fielmente atendidas. (...) A Fundação Cásper Líbero, hoje, é uma sociedade curada, refeita, de pé. Sem dívidas, sem perplexidades, sem receios do amanhã. (...) Se os mortos falassem, agora a voz de Cásper seria sobre o túmulo, um salmo de reconhecimento. Em 1968 assumiu a presidência da Fundação Cásper Líbero, Octavio Frias de Oliveira, dono da Folha de S. Paulo, e com ele também Carlos Caldeira Filho. Fôlego! Em dois anos, a TV Gazeta já era uma realidade e A Gazeta Esportiva bateu novo recorde de tiragem: 534.530 mil exemplares. Em três anos a Rádio Gazeta se restabeleceu, assumindo um perfil de rádio esportiva e se consolidando com o programa Disparada nos Esportes. E A Gazeta – a mais atingida – junto com A Gazeta Esportiva foi amparada pela Folha, passando a funcionar ambas as redações na sede da parceira, na Alameda Barão de Limeira, 425. As duas passaram a ser impressas no parque gráfico da Folha de S. Paulo. Com o crescimento da concorrência, A Gazeta perdeu a força que possuía na imprensa e em 31 de agosto de 1979 rodou sua última edição, com 22 páginas. A partir do dia 1º de setembro, passou a ser encarte do jornal A Gazeta Esportiva. Extinguiu-se como encarte em 19 de novembro de 2001, juntamente com o último exemplar de A Gazeta Esportiva. É o único caso, na imprensa brasileira, em que um suplemento engoliu o próprio jornal. Em setembro de 1999, a redação e o arquivo dos jornais voltaram para o Edifício Gazeta. A impressão ainda continuou a ser feita na Folha. Em 2001, A Gazeta Esportiva deixou de ser impressa, transformando-se no portal Gazeta Esportiva.Net. 11. Grupo Frical Salvar a Fundação Cásper Líbero da crise não era uma tarefa fácil. Veio a intervenção do governo do Estado de São Paulo, apoiando a Fundação ao reunir uma série de empresários que pudessem recuperá-la. Foi assim que Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira, além de outros (como Giusfredo Santini, do jornal A Tribuna) foram convidados a integrar a nova direção da Fundação Cásper Líbero. Em 20 de dezembro de 1968, Frias assumiu a presidência da Fundação, e Caldeira a vice-presidência. Antes mesmo de 1968 já existia o chamado Grupo Frical (Frias-Caldeira), que além da Folha possuía uma série de empreendimentos. Octavio Frias, por exemplo, era dono do Banco Nacional Imobiliário (BNI), especializado em imóveis e que financiou várias obras, como o Edifício Copan. Ele também construiu com Caldeira a Rodoviária da Luz em 1960, próxima da estação de trem. Já Caldeira, além da Rodoviária, era dono da Companhia Lithográfica Ypiranga (CLY) e da Companhia Brasileira de Impressão e Propaganda (Impress), as maiores do ramo. Mais tarde seria dirigente do jornal Cidade de Santos, braço da Folha na Baixada Santista. Em agosto de 1962, a dupla assumiu o comando da Folha de S. Paulo – empresa (e publicação) criada da fusão da Folha da Manhã, da Folha da Tarde e da Folha da Noite em 1º de janeiro de 1960. Grupo Frical e a televisão A ligação do grupo com o meio televisivo se deu primeiro em 1965, quando Frias e Caldeira compraram ações da TV Excelsior. Assumiram o canal 9 paulistano e sua rede de emissoras, conglomerado que se encontrava em crise. Para que se entenda melhor o contexto, a Rede Excelsior era a principal emissora, a campeã de audiência na ocasião. Fundada em 1960, tinha como presidente Mário Wallace Simonsen, um dos mais importantes empresários brasileiros. Ele era também dono da Comal, a principal exportadora de café nacional, e da Panair, uma das maiores empresas aéreas. Com a entrada dos militares no poder, após o golpe de 31 de março de 1964, Simonsen sofreu perseguição política: uma CPI do Café na Câmara dos Deputados cassou as licenças da Comal para exportar café dentro e fora do Brasil e determinou o sequestro dos bens de Simonsen; o Ministério da Aeronáutica cassou as linhas da Panair, cedendo-as para a Cruzeiro do Sul e Varig. Por fim, a Excelsior foi um dos únicos bens de Simonsen que continuaram de pé. Após sair do Brasil ele começou a passar os bens aos filhos para que seu império não ruísse totalmente. Porém, por conta do sucesso que a TV Excelsior fazia, os militares resolveram fechar o cerco contra o canal 9. Um dos mais badalados playboys de São Paulo, Wallinho Simonsen (Wallace Cochrane Simonsen Neto), filho do empresário, foi quem assumiu a Excelsior. Iniciou-se uma grande crise dentro da emissora, que ganhou maiores proporções em 1965, após a morte de Mário Wallace Simonsen. Os funcionários da Excelsior, representados por Bibi Ferreira, fizeram campanha para transformar a Excelsior em Fundação e salvá-la da falência. Não funcionou. A saída de Wallinho foi vender a Excelsior. Edson Leite e Alberto Saad compraram o canal. Após desentendimento entre os sócios, Saad vendeu sua parte para o Grupo Frical. Com uma visão mais administrativa do que artística, Frias e Caldeira brecaram a TV Excelsior. Uma locomotiva em franca expansão, que ainda sofria perseguição dos militares. Posteriormente, esta política administrativa daria certo com a TV Gazeta, com um maior controle de caixa e sem extravagâncias nas atrações que apresentaria. Só que no caso da Excelsior o contexto era outro. Brecar de repente uma emissora em franca expansão, com sucessos e superproduções no ar, seria impossível. Como exemplo: na mesma época em que o Leite, Saad e o Grupo Frical estavam no comando, a Excelsior investiu na criação do I Festival da Música Popular Brasileira; na construção da primeira cidade cenográfica da TV brasileira (para a novela Redenção, a trama de maior duração na história da teledramaturgia, ficando dois anos no ar); no aluguel dos estúdios da Companhia de Cinema Vera Cruz (que estavam desativados); e na construção dos estúdios da Vila Guilherme, em 1967, os maiores da televisão brasileira. Esses estúdios, na Rua Dona Santa Veloso, eram de propriedade do Grupo Frical. Assim, quando Wallinho Simonsen adquiriu a Excelsior novamente, no final de 1967, a Folha passou a alugá-los para o canal. Com o fim da emissora, o grupo ainda alugou-os para a produtora TV Studios (de Sílvio Santos), para a Tupi produzir novelas e, posteriormente, para o SBT, até vendê-los para a Igreja Bíblica do Brasil em 2001. Com a saída de Frias e Caldeira da Excelsior, Wallinho vendeu a emissora para Terezinha de Oliveira Abreu, mulher do ex-deputado Dorival de Abreu, cassado pela ditadura. Por conta de problemas com a polícia federal e disputa judicial, Wallinho reassumiu a Excelsior mais uma vez. Mas já era o fim. Em 1970, a TV Excelsior estava atolada em dívidas, com os funcionários lutando contra o fechamento do canal e contra o inquérito que buscava causas para decretar sua falência. Todos mobilizados para angariar renda para o não fechamento da TV e o fim de um enorme mercado de trabalho em televisão. O fim da Excelsior não era apenas o fim de um canal, mas a produção de uma massa enorme de desempregados, além do fim de uma emissora que foi ícone na história da TV brasileira. Difícil dizer quem foi o culpado da falência. Será que se a Folha mantivesse o ritmo desacelerado da Excelsior, sentimental e de alto potencial artístico, a história seria outra? Uns dizem que o Grupo Frical prejudicou a Excelsior, outros falam que ele adiou a falência e diminuiu a perseguição política por um tempo. Os problemas da Excelsior foram umas bolas de neve que cresceram a largos passos, sabendo aonde terminariam. Mas voltando a falar precisamente do Grupo Frical, menos de um ano foi o período entre sua saída da administração da Excelsior e sua posse na presidência da Fundação Cásper Líbero, em 1968. Um dos principais objetivos do grupo foi implantar a TV Gazeta. Ex-funcionário da Folha de S. Paulo, Sérgio Felipe dos Santos conta como era a Fundação Cásper Líbero no final dos anos 1960: As empresas de comunicação [da Fundação] ficaram sob responsabilidade de quatro ou cinco funcionários. Não deu certo. Essas pessoas quebraram A Gazeta. Nos anos 1960, o Octávio Frias interessou-se em montar a Fundação. Definiu os estatutos e nós começamos a montar a TV Gazeta e a rádio FM. A Fundação deve tudo a Octávio Frias e Carlos Caldeira. O maquinário da Gazeta Esportiva estava jogado aqui embaixo, na garagem, a frota de carros estava toda sem motores. Saquearam tudo. Nesse tempo os negócios foram assumidos pela Folha de S. Paulo, o que possibilitou a volta da Gazeta Esportiva. Eu trabalhava na Folha, como muitos que vieram para cá. Era moleque de tudo. Minha primeira missão na Fundação foi montar o departamento de transportes. Inventei o estacionamento que hoje é da Multipark. O Marco Aurélio Rodrigues da Costa veio montar a TV, o Fuad Cury para administrar, juntamente com o Nathanael de Azevedo. Todos da Folha. Montamos a TV Gazeta com uma primeira câmera comprada da TV Cultura. O produtor Luiz Gomieri foi também um dos primeiros contratados da Folha de S. Paulo que vieram para a TV Gazeta. Eu comecei na TV Gazeta uns dois meses antes de ela ser inaugurada [oficialmente]. Houve uma seleção no jornal para alguns funcionários que quisessem colaborar com ele [Octávio Frias] viroptassem por trabalhar na Gazeta. Ele tinha um prazo para botar no ar a emissora. Eu estava entre esses elementos. Lá no jornal eu trabalhava na área de promoções, que era mais ou menos ligada a área artística. Então ele selecionou todo esse departamento. Éramos três elementos. Aí pegou um diretor de lá mesmo, o Marco Aurélio, nosso primeiro diretor-geral da TV. Ele era diretor comercial na Folha, uma pessoa muito inteligente, com muita visão. Acho que o Sr. Frias levou por esse lado o dinamismo dele para que dirigisse a TV. Detalhe: antes da Folha, Marco Aurélio Rodrigues da Costa fez parte da Rede Excelsior. Foi diretor-geral da TV Vila Rica, afiliada da Excelsior em Belo Horizonte (MG) e da TV Excelsior do Rio de Janeiro. Gomieri continua: Eu nunca tinha visto televisão por dentro, só na telinha. A televisão estava na estaca zero. Primeiro: não tinha elementos, funcionários. Segundo, equipamentos. Você fazia de tudo, você não era um só. Eu fui registrado como produtor. Na área nunca tinha feito produções para TV, fazia promoção na área de jornal. Parti para o lado de mostrar a imagem. Não foi fácil, mas com a vontade de aprender coisa nova nós chegamos lá. Tinha muita dificuldade. Não tinha nada. Na área de televisão, o Grupo Frical ainda criou dentro da Rodoviária da Luz a primeira TV em circuito fechado do país: a TV Rodoviária, mantida principalmente com programação da TV Gazeta. Funcionou apenas na primeira metade da década de 1970. 12. A TV brasileira em 1970 A TV Gazeta nasceu numa fase de grandes acontecimentos na TV brasileira. Como já foi dito, o fim da Excelsior foi um desses momentos. Mas houve outros: • A criação da Rede Globo: a emissora carioca foi inaugurada em 1965. Após um ano ela adquiriu o canal 5 de São Paulo, transformando a TV Paulista também em Globo. Os Diários Associados ainda moveram processo contra a TV Globo ao denunciar investimentos do grupo nor-te-americano Time-Life na emissora, o que resultou numa CPI. A TV Globo virou rede. Seguiu a cartilha da Excelsior, adotando seu perfil e esquema de programação horizontal e vertical. Veio a consolidação da Rede Globo na década de 1970. • Novas emissoras: a TV Bandeirantes foi inaugurada em 1967. Um ano depois, os Diários Associados se desfizeram da TV Cultura, que passou a ser gerida pela Fundação Padre Anchieta, criada em 1969. Neste ano, ela foi reinaugurada como emissora educativa (antes era um canal comercial). • Homem na Lua: pela primeira vez, 100% dos televisores brasileiros estavam ligados assistindo à fascinante chegada da nave Apolo 11 à Lua. Os telespectadores brasileiros assistiram pela Tupi e Globo, somando-se aos 700 milhões de telespectadores em todo mundo que presenciaram a conquista do espaço, em 20 de julho de 1969, onze horas da noite. • Ascensão da TV Record: com a decadência da Excelsior e da Tupi, a TV Record ganhou lugar de destaque com os grandes festivais, a Jovem Guarda, os programas de auditório, os musicais e os humorísticos como Família Trapo. A Globo depois investiu também em festivais, com o Festival Internacional da Canção. • Tecnologia: a década de 1960 foi marcada pela implantação do videoteipe e testes de TV colorida no Brasil. A Excelsior foi a que mais se preparou, mas não chegou a mostrar oficialmente sua programação em cores, devido à sua falência. Outras evoluções tecnológicas: a criação da Embratel em 1969, transmitindo programas via satélite (como o Jornal Nacional da TV Globo) e o início das redes de emissoras. • Seleção Canarinho: após as vitórias sucessivas nas Copas de 1958 e 1962, acreditava-se que, depois do insucesso de 1966, a Seleção Brasileira faria bonito na Copa de 1970, no México. Dito e feito. A seleção trouxe o tri. Transmissão via satélite, assistida em cores por alguns telespectadores que possuíam televisores coloridos importados do exterior. • Incêndios: a página negra na história da TV. Em um curto espaço de tempo, a televisão brasileira foi atingida por fogaréus. Incêndios consecutivos na TV Globo de São Paulo, TV Record (inúmeras vezes), TV Bandeirantes (quase perda total) e TV Excelsior (nas duas sedes, o que colaborou bastante para seu fim). A maioria em 1969, sendo alguns em 1970. Tudo apontava para uma origem criminosa nos incêndios que varreram a memória e a história do início da TV brasileira, presentes em teipes e filmes. • Canal 11: só faltava a inauguração do último canal paulistano. 13. Primeiros passos Mas meses antes dos profissionais da Folha de S. Paulo chegarem... Seis horas e vinte e cinco minutos. Era o que faltava para a meia-noite do dia 23 de junho de 1969: último prazo legal para instalar o sétimo e último canal VHF de São Paulo. A concessão do canal 11 ia expirar. Nervosismo, corrida contra o tempo, poucos homens e grande iniciativa para colocar a TV Gazeta no ar. Às 17h45 daquele dia 23, a torre de 116 m, no espigão da Paulista, transmitiu seus primeiros sinais. Na tela, surgiu um slide, com o prefixo original: TV Gazeta – Canal 11 – ZYE 403-TV. A seguir, slides com imagens da cidade à noite. Ao fundo, a voz de Wilson Simonal cantando suavemente Sá Marina. Descendo a rua da ladeira Só quem viu que pode contar. Cheirando a flor de laranjeira Sá Marina vem pra cantar. De saia branca costumeira Gira o sol, que parou pra olhar. Com seu jeitinho tão faceiro Fez o povo inteiro cantar... A música alegre contaminou o ambiente da TV Gazeta. Tinham conseguido uma proeza. Invadindo a técnica, a direção cumprimentava os quatro engenheiros eletrônicos. Brindavam com uísque a chegada da nova emissora. Cláudio Donato disse ao jornal A Gazeta no dia seguinte: A imagem ainda não é definitiva porque as válvulas do transmissor ficaram estocadas cerca de cinco anos e se estragaram. As novas já chegaram à alfândega de Santos e serão utilizadas dentro de uma semana. (...) Só dentro de algumas semanas poderemos saber até onde a imagem chega. A TV Gazeta transmitia, naquele momento, com um vigésimo da potência do canal, que era de 6 kW. O primeiro programa (Mingau Quente) foi feito com aquela câmera adquirida da TV Cultura. Na edição de 2 de julho de 1969, a Revista Veja documentou a chegada da TV Gazeta: No Ar, as Últimas Esperanças – Acabam-se os estoques oficiais de canais de TV: em São Paulo instalou-se a última emissora. (...) A nova TV Gazeta dispõe apenas de aparelhagem essencial para ir ao ar: não tem câmaras, nem microfones, e até agora só contratou um único empregado, o técnico Sérgio Pimentel Mendes. Isso não é nada extraordinário, explicou Sérgio. Quase todas as outras emissoras brasileiras de TV também começaram assim: pobres de equipamento e sem planos de transmissão. Só daqui a três meses o engenheiro Alberto Maluf, diretor-geral da TV Gazeta, espera definir a programação da nova emissora: Acho que há muitas atrações até hoje inexploradas pela nossa TV. Vamos escolher uma delas, talvez a informação jornalística. Primeiros pioneiros Cláudio Vitor Donato, chefe dos engenheiros, e sua equipe –Newton Rubem Caggiano, Francisco Santana e Celso Guido Santana – fizeram o possível para operacionalizar a TV Gazeta em dois meses e meio, até aquele 23 de junho. Alberto Maluf foi o primeiro diretor-geral da TV Gazeta (até a chegada de Marco Aurélio Rodrigues da Costa, da Folha), e seu assistente, Sérgio Pimentel Mendes, foi o primeiro coordenador de programação. Este, aliás, foi o primeiro funcionário da TV Gazeta, no início da década de 1950. Formado pela Escola Superior de Propaganda (atual ESPM), trabalhou como publicitário em várias agências, como a CIN, Equipe e Alcântara Machado. Recebeu o convite da Fundação Cásper Líbero para estruturar o projeto da TV Gazeta. Em 1955 foi mandado aos Estados Unidos para estudar e providenciar os primeiros equipamentos da emissora. Fez cursos na RCA americana para entender um pouco sobre TV. Entre 1960 e 1961 estudou propaganda e mercadologia na Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos. Foi também relações públicas da Dunchen e da IV Zona Aérea, além de assessor de imprensa do ex-ministro da Aeronáutica, Marcio de Souza Melo. Sérgio Pimentel Mendes deu os primeiros passos da TV Gazeta, encontrando as dificuldades que fizeram com que só em 1969 saísse do papel o canal. Longevidade Cinco são os funcionários mais longevos na história da TV Gazeta – todos trabalharam exclusivamente para a emissora. O produtor Luiz Gomieri, já citado (que entre 1996 e 1998 esteve fora da casa); o encarregado de iluminação Durval Araújo da Silva e o diretor de imagens Wladimir de Carvalho Duarte, o Duarte, como é mais conhecido. Os dois últimos entraram em janeiro de 1970 e se aposentaram em meados da primeira década do século 21. Já Gomieri ficou na emissora até 7 de julho de 2009, produzindo o Pra Você e TV Culinária. O quarto é o iluminador Dioguinho, presente na emissora de 1970 a 2008. E o quinto é Tico (Sílvio Alimari), que entrou na TV Gazeta em setembro de 1970, esteve fora de 1987 a 1989, e que hoje continua presente na emissora na função de superintendente-geral. Registrado em 1º de janeiro de 1970, vinte e quatro dias antes da inauguração oficial, Duarte fala sobre o início: Eu era operador de telecine, que hoje nem existe mais. O telecine enviava as imagens para a TV, sem a possibilidade de gravá-las para exibições posteriores. A primeira vez que vi o videoteipe... bem, quase caí para trás. Honoré Rodrigues, que na época era locutor da Rádio Gazeta AM, fala sobre Duarte: O jovem jamais havia trabalhado em televisão ou rádio, mas foi lá pedir uma chance em qualquer setor. O Dr. Cláudio [Donato] gostou da cara de pau do rapaz e o contratou. Ele fazia a folga de todo pessoal do estúdio e acabou se tornando um grande profissional. Primeiro programa Com a vinda dos profissionais da Folha de S. Paulo, mudanças ocorreram também na TV Gazeta. Expandiu-se o prazo de três meses (para a estreia oficial do canal 11) para fins de janeiro de 1970. Enquanto isso a TV Gazeta foi ao ar experimentalmente da maneira como conseguiram. Sérgio Felipe dos Santos conta: O primeiro programa foi Mingau Quente, que foi feito no 5º andar, o da faculdade, com os alunos e alguns dançarinos. Passava todo dia, reprisava só para manter a concessão do canal. Senão a perderíamos. O Frias mandou acelerar e montar o canal 11 de qualquer jeito, não importasse com que programa era. Foi montada uma parte com equipamentos emprestados de outras emissoras. Nós pegamos um pouco de equipamento da Excelsior, um pouco da Cultura e montamos. Mingau Quente foi apresentado por Eduardo Queiroga e Aurélio Belloti Jr. As gravações foram feitas inicialmente das 19h às 23 horas, todo sábado (após a inauguração oficial da emissora passou para as 20h40). Durante a semana o programa era reprisado regularmente. Para participar do Mingau Quente bastava apresentar a carteira de estudante na entrada da TV Gazeta. Além disso, desde a estreia experimental, nos intervalos apareciam chamadas que mostravam slides com imagens da Avenida Paulista e de outros pontos significativos da cidade. Sobre elas, Ibrahim Berchini (e, posteriormente, Honoré Rodrigues), locutores da Rádio Gazeta AM, informavam o prefixo da emissora, o canal e convidavam os telespectadores a entrarem em contato para relatar como estava o sinal da emissora. Eu sempre terminava com a frase: TV Gazeta: a nova imagem de São Paulo, conta Honoré. Na Rádio Gazeta AM, o locutor Prado Jr. criou uma campanha para di-vulgar a emissora. Na rádio, os sonoplastas tocavam a música Aquela Imagem, de Djalma Pires. No refrão, toda vez que o cantor falava imagem, Prado Jr. interrompia dizendo TV Gazeta e, em outra vez, canal 11. Capítulo II Inauguração: a estreia oficial da TV Gazeta O primeiro dia, os bastidores e o que foi ao ar em 25 de janeiro de 1970 14. Quase lá... Depois de tanta luta e correria, o dia 25 de janeiro de 1970 estava próximo. Finalmente seria inaugurada, oficialmente, a TV Gazeta. Dos últimos preparativos, o iluminador Durval Araújo da Silva conta: Faltavam 15 dias para a inauguração da emissora e nós estávamos com todas as câmeras desmontadas. No dia da inauguração, apenas uma câmera funcionando. Não tínhamos holofotes específicos para estúdios. Mas, como nossa obrigação era fazer a TV funcionar, adaptamos os equipamentos de iluminação da fachada do prédio para o estúdio. Foi uma correria, e o resultado surpreendeu. A Gazeta, de 10 de janeiro de 1970, relatou as reformas do 4º andar: Um andar inteiro do prédio da Fundação Cásper Líbero está em reformas. Operários se movimentam colocando telefones, lâmpadas, mesas e cadeiras, enquanto um contínuo desce a cada meia hora para comprar água mineral: todos estão suando bastante com o calor excessivo dos últimos dias. Lá no canto do imenso salão, ainda abandonado, estão três homens: Marco Aurélio Rodrigues da Costa, Sérgio Pimentel Mendes e Cláudio Vitor Donato. Eles estão trabalhando das 7 da manhã às 10 da noite para que a TV Gazeta inaugure dia 25 de janeiro. Os veículos impressos e radiofônicos da Fundação divulgaram a inauguração. A Gazeta, por exemplo, durante todo o mês de janeiro, anunciou no guia de programação de TV um espaço para o canal 11, com o seguinte texto: Inicia suas atividades no próximo dia 25. Detalhe: caso algo desse errado, só poderiam instalar a TV até o dia 30. O engenheiro Cláudio Donato acertou a potência do transmissor RCA Victor da TV Gazeta, operando com 10 kW e atingindo uma área de 140 km de sinal. Calendário oficial da cidade Octavio Frias, usando a força tanto do Grupo Folha como da Fundação Cásper Líbero, conseguiu incluir a inauguração da TV Gazeta no calendário oficial das festividades pelo aniversário da cidade, também dia 25 de janeiro. Isto faria com que a inauguração da TV Gazeta estivesse cheia de autoridades. O calendário de comemoração dos 416 anos da cidade de São Paulo foi repleto de eventos. Às 9 horas da manhã foi inaugurado o Centro Educacional e Esportivo Edson Arantes do Nascimento (Pelé), na Lapa. Às 10h30, a nova Praça Roosevelt foi inaugurada com a presença do presidente Médici. Às 12h30, a grande passarela de pedestres (próxima ao Detran) na Avenida Pedro Álvares Cabral foi aberta ao público. Às 14 horas, em São Mateus, passou a funcionar uma usina de tratamento de lixo. Às 15 horas foi inaugurada a Escola Comercial do Município de São Paulo, na Rua Voluntários da Pátria. Às 16 horas, dez escolas municipais foram abertas, sendo duas em Santo Amaro e outras duas na Freguesia do Ó. Neste intervalo, o presidente Médici e o governador Abreu Sodré assistiram à partida entre o São Paulo Futebol Clube contra o Porto (de Portugal), que terminou em empate de 1 a 1. Tal partida marcou a inauguração total do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Estádio do Morumbi. Às 19 horas, a cidade ganhou 40 quilômetros de iluminação pública a vapor de mercúrio. Pontos importantes da cidade ficaram mais iluminados, como a Avenida Paulista, a Praça Roosevelt, Rua Nestor Pestana, Ponte Cidade Jardim, Avenida Ibirapuera, Rua Cardoso de Almeida, Avenida Bernardino de Campos, Radial Leste, Avenida Faria Lima e outros locais. E, por fim, encerrando o calendário oficial, às 20 horas, noite de domingo, acontecia a tão esperada inauguração da TV Gazeta. 15. Até que enfim, a inauguração! Quem acompanhou o livro até aqui com certeza viu as dificuldades pelas quais a TV Gazeta passou até sua inauguração oficial. Uma demonstração da força de vontade de seus funcionários e da garra em colocar rapidamente a emissora no ar. Confesso que, como autor, é uma surpresa o início oficial livro dar-se depois de tantas páginas! Mas é válido. Agora, sim. Vamos lá. Domingo, 25 de janeiro de 1970 Na Avenida Paulista, 900, o clima de ansiedade tomava conta de todos. Faltava menos de uma hora para a inauguração. Havia um correcorre entre o 4º e o 5º andar, onde os convidados transitariam pelas instalações da nova emissora. Marco Aurélio fazia as honras com as autoridades que chegavam ao saguão. Num dos cantos do local, exemplares antigos de A Gazeta e de A Gazeta Esportiva estavam expostos. Não paravam de chegar os convidados. Altas autoridades, civis e militares. Sérgio Pimentel Mendes testava os equipamentos, vendo os últimos detalhes. Chegou ao Edifício Gazeta o presidente da Fundação Cásper Líbero, Octavio Frias de Oliveira. Ele pediu que Marco Aurélio o levasse até a cabine de locução para ver o jovem locutor Honoré Rodrigues ensaiando o texto inaugural da emissora, sobre Cásper. O nervosismo de Honoré era evidente, visto a responsabilidade que tinha. Já havia até tomado um copo de água com açúcar. Marco Aurélio seguiu até a cabine e pediu que Honoré lesse o texto. Frias ficou admirado com a locução e disse para Honoré ter o máximo de empenho. O locutor agradeceu, mesmo sem saber quem era aquele senhor. Marco Aurélio e Frias foram para o saguão. Tudo pronto, só esperando que chegasse a comitiva oficial... chegou! O governador Abreu Sodré e o prefeito Paulo Maluf já estavam no prédio. Todos foram avisados da chegada. Honoré estava a postos para começar. No outro lado do 5º, Octavio Frias estava com as autoridades. E pediu que Abreu Sodré sentasse a uma grande mesa de madeira de lei, próximo a um busto de Cásper Líbero. O diretor de TV, José Pedro Grispi, preparou-se para acionar o botão do switcher que levaria ao ar as imagens oficiais da inauguração da TV Gazeta. Na cobertura do prédio, colocaram uma câmera e a outra estava no 5º andar, diante de Abreu Sodré (sim, conseguiram desencaixotar mais uma câmera). Grispi pediu a atenção de todos ali presentes, naquele curto espaço de tempo. Honoré, na cabine, preparouse para empostar a voz e iniciar sua locução. Ao mesmo tempo, José da Costa Saraiva e José Carlos Novelli controlariam os slides que logo passariam sob a locução de Honoré Rodrigues. Na mesma sincronia, Sills Bondezan controlaria a sonoplastia. Tensão. Quase lá... 20 horas Foi dado o sinal. Grispi avisou pelo intercom (fone de ouvido com microfone) ao cameraman que estava no alto do prédio e que já captava as imagens de São Paulo à noite. Uma bela vista da região da Avenida Paulista e arredores. Quando as imagens aéreas de São Paulo tomavam a tela, Honoré começou a locução. Boa-noite, São Paulo. Como você cresceu! Como você está diferente no tempo e no espaço nestes últimos 30 ou 40 anos. Aliás, como toda a humanidade. Mas você é uma cidade bonita, São Paulo! Tão cheia de vida, de luz, trabalho... Pelo tempo afora sua crônica, sua história foi sendo colecionada... Um jornal. Saraiva e Novelli entraram em ação, com os slides que remetiam à história a ser contada, com capas históricas de A Gazeta e a Gazeta Esportiva, como também slides com fotos importantes referentes à locução. Honoré impostou mais a voz: 1908. A Gazeta. Ano 1, número 1. Que manchete! 1918. Cásper, jovem e dinâmico, assume a direção de A Gazeta. E você, São Paulo, tem o jornal que lhe mostra tudo o que acontece no mundo. Fim do primeiro conflito mundial. O mundo começa a tentar reencontrar-se. 1922. Cásper traz àa São Paulo a transmissão radiofônica. 1925. Cásper realiza a 1ª São Silvestre, mais uma idéeia que se trans-forma em realidade. Com a prova que faz parte da própria vida da cidade, como imaginar a noite de Ano Novo em São Paulo sem a corrida da São Silvestre? 1929. A grande quebra na Bolsa de Nova York. A crise do café. E ainda assim Cásper vai imaginando, criando, realizando. Nasce a Gazeta Esportiva, hoje o maior jornal esportivo do continente. 1932. De São Paulo parte o grito constitucional. Pedro de Toledo, Klinger, Cásper, Ibrahim Nobre e A Gazeta, a grande tribuna. Tribuna temida e até destruída. Cásper sofre. É exilado. Mas volta. Reconstrói. A Gazeta passa a ser impressa em rotogravura. Suplementos infantis, os primeiros. Promove a música popular. Ajuda a celebrizar Zequinha de Abreu. Elege até uma Miss Mundial... 1937. Cásper lança o primeiro jornal falado de A Gazeta. O mundo entra em um novo conflito, mas Cásper continua criando, reconstruindo sua A Gazeta. Novas instalações; o roof, restaurante-boate que marcou época na sociedade paulistana. No jornal impôs a radiofoto e contratou a primeira agência internacional de notícias. 1943. 15 de março. Inaugura-se a Rádio Gazeta. 1943. 27 de agosto. O Desastre. A Grande Perda. Você, minha São Paulo, perde o grande jornalista. Cásper é traído pela fatalidade. Seu desaparecimento consterna São Paulo e o Brasil. E ele, ainda assim, por seu testamento ainda mantém a sua chama criadora. Sua última vontade determina que todos os seus bens, incorporados ao patrimônio de A Gazeta, sejam transformados numa fundação. Uma fundação que cuidaria de dois jornais, uma estação de rádio, escola de jornalismo e que agora, com suas câmaras, leva uma nova televisão até você. Cásper em seu testamento determinava textualmente que a fundação se aparelhasse com os inventos e aperfeiçoamento que o progresso fosse engendrando, e a TV Gazeta Canal 11 não é senão a expressão de sua vontade indômita e imensa profundidade de visão. São Paulo. A sua TV Gazeta continuará os ideais de Cásper Libero, do pan-americanismo, da brasilidade, da confiança. Será um esteio de atitudes autênticas como um 19 de março de 1964. Não desmerecerá todo um passado e toda uma tradição. Tem compromisso sério com você, São Paulo. E o cumprirá. Sills Bondezan colocou a música. Honoré continuou: Nessa amostragem, um testemunho das atividades de São Paulo, do Brasil, do mundo. Dos slides, José Pedro Grispi cortou para a imagem da câmera que focalizava o busto de Cásper Líbero. No ápice da música, Honoré encerrou: Poderíamos falar de um grande ausente? Nunca. Ele está aqui, vibrando conosco. E é a primeira face que levamos ao vídeo. A dele mesmo: Cásper Libero. Segundos depois, José Pedro Grispi alternou para a imagem da outra câmera, que com dificuldade havia sido retirada do alto do prédio. Rapidamente, a primeira câmera já se preparava para ir para o 4º andar. A que estava no ar mostrava o governador Abreu Sodré sentado à mesa, pronto para começar seu discurso ao microfone. Improvisando, disse estar emocionado com a abertura e com o que estava vivendo. Sinto-me feliz de fazer a história de São Paulo ao lado do prefeito Paulo Maluf, relembrando Cásper Líbero. Falou da honra que sentia naquele momento por falar ao povo sentado à mesa que foi de Cásper Líbero, à mesma cadeira que o jornalista sentou para dar tudo de si por São Paulo. Recordou que aos 10 anos de idade já lia A Gazeta e sentia o espírito patriótico e cívico que o jornal dava aos movimentos que incentivava, sempre com uma marca firme de legalidade. E disse ainda que como governador do Estado de São Paulo agora podia firmar muito do que aprendeu ao ler A Gazeta. Falou que a publicação era um órgão vanguardeiro das grandes causas paulistas e brasileiras. Parabenizou a todos da direção da Fundação pela nova etapa que vivia a entidade, dizendo que naquele momento: Está em mãos seguras e firmes que a vem projetando cada vez mais no cenário do jornalismo pátrio. A Fundação que Cásper deu a São Paulo e que seus atuais dirigentes transformaram em algo gigantesco não é mais a Gazetinha do meu povo, mas sim um grupo jornalístico que se expande com A Gazeta, A Gazeta Esportiva, a Rádio Gazeta e agora com a TV Gazeta, canal 11, velho sonho de Cásper. A Fundação é realmente pioneira em termos de cultura e educação. E sua imagem, ora lançada ao ar há de se confundir com São Paulo para a informação, a cultura e a educação de nosso povo. Abreu Sodré disse que estava feliz por ter começado o dia juntamente com o prefeito Paulo Maluf e ao lado do presidente da República Emílio Garrastazu Médici inaugurando obras. E que terminava a jornada inaugurando a televisão pela qual tanto e tantos se esforçaram na Casa de Cásper. E assinalou que A Gazeta sempre trouxe as cores de São Paulo: o branco, o preto e o vermelho. Parafraseou o presidente Médici que, ao inaugurar a Praça Roosevelt naquela manhã, dissera que ela tem três lances: representando o passado de São Paulo, o seu presente e seu futuro, dizendo agora que assim como a praça, a Gazeta tem três estágios: o primeiro com Cásper ainda vivo, com seu jornal; o segundo com seus jornais e a rádio; e o terceiro agora com a imagem de sua televisão projetando-se sobre toda São Paulo. E este último foi conseguido graças aos esforços, ao trabalho e à abnegação dos atuais dirigentes do que Cásper fundou. Agradeceu por tudo que A Gazeta fez por São Paulo, deu novamente parabéns à Fundação Cásper Líbero e concluiu: Orgulho-me de ter tido este grande jornal, A Gazeta, como base da minha formação de democrata. Entraram em cena os mestres de cerimônias da inauguração, os radialistas Darcy Reis e Domingos Leoni, ambos da Rádio Gazeta. Passaram a apresentar as autoridades presentes no saguão. A primeira foi o prefeito Paulo Maluf. O político disse que fazia suas as palavras do governador Abreu Sodré. Disse que a história de A Gazeta se confundia com a de São Paulo. Saudou a direção da Fundação e os esforços para inaugurar a TV Gazeta. Acentuou a constante dos jornais de Cásper em focalizar os problemas da metrópole, prestando dessa maneira relevantes serviços à administração municipal, tendo sempre A Gazeta ao lado da população: Transformou-se em seu porta-voz, dos mais autorizados juntos aos poderes públicos municipais. Maluf encerrou sua fala. Os mestres de cerimônias continuaram a entrevistar outras autoridades. É como conta Domingos Leoni: Foi o Senhor Frias que nos convidou para mestres de cerimônias. Eu e o Darcy Reis. Enquanto eu fazia a entrevista, o Darcy já ia armando para fazer com o outro entrevistado. Fomos intercalando as entrevistas para dar conta. Eu tive a honra de ter sido o mestre de cerimônias. Entre as autoridades ali presentes, entrevistadas pelos dois, estavam os secretários Firmino Rocha de Freitas e Dilson Funaro, dos Transportes e do Planejamento, o chefe da Casa Civil do Governo Estadual, o deputado Henrique Turner, o presidente do Tribunal de Contas do Estado, o professor José Luiz de Anhaia Mello, os secretários municipais Vespasiano Consiglio, do Abastecimento, e Paulo Zingg, da Educação e Cultura, o secretário da Economia Tibiriçá Botelho, o embaixador do Brasil general Hugo Bethlem, Tito Silveira, o presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras Delfino Facchina, e os membros da Fundação, Octavio Frias de Oliveira, presidente, Itá Ferraz, diretor da Rádio Gazeta, e os conselheiros Constantino Cury e Giusfredo Santini, além de Marco Aurélio Rodrigues da Costa, Sérgio Pimentel Mendes e Luiz da Silva Ferreira, coordenador de programação ao vivo. Darcy Reis encerrou a última entrevista. E cortaram para a segunda câmera, já no 4º andar. Lá estava Domingos Leoni, convidando a câmera a entrar no estúdio com ele. Aos poucos, Darcy Reis, com as autoridades, descia um andar do prédio para acompanhar a programação. Demonstrações dos programas que seriam apresentados na TV Gazeta a partir daquele dia. Entre os quais, Joelmir Beting, em sua primeira aparição na TV brasileira: Eu e o Darcy Reis montamos uma dobradinha, de smoking, recebendo as autoridades no estúdio. Inclusive estava lá o ministro Delfim Neto, grande estrela na área de economia na época. Com a minha cara fechada, em close, eu comecei a ler um texto sobre a instalação de mais canais de televisão que deveriam ser comunitários, por causa do alcance do sinal, dando cobertura aos assuntos da metrópole e à cultura do povo brasileiro. Nos bastidores, além das autoridades convidadas, um público curioso também acompanhava a transmissão. Entre as pessoas estava o jovem Tico (Sílvio Alimari). Eu vim no dia da inauguração com um contrarregra chamado Agostinho e um cameraman, o Barraca. A gente veio de bico mesmo, porque trabalhávamos para a TV Bandeirantes, ali no Teatro Bandeirantes da Brigadeiro [Luiz Antônio]. Acabou nosso trabalho lá e aí chegou a informação: Pô, estão inaugurando a Gazeta hoje. Vamos lá ver. É aqui pertinho, na Paulista. Viemos, entramos, subimos lá no 4º andar. Tinha o Tavares de Miranda fazendo um discurso. Estava uma bagunça. Tinha até pouca gente. Eu não imaginava que um dia viria trabalhar aqui. Como disse Tico, Tavares de Miranda também estava no estúdio falando de sua participação na emissora. Além dele, o jornalista Odon Pereira da Silva falou sobre seus programas, Fernando Pacheco Jordão fez um comentário jornalístico, Paulo Kobayashi explicou sobre o programa Show de Ensino, Joelmir sobre o Multiplicação do Dinheiro e Eduardo Queiroga sobre Mingau Quente. Ainda apareceram dois jovens: Marlene e Vladimir Nóbrega, apresentados como revelações da TV Gazeta – isso porque a emissora nasceu com o propósito de revelar novos talentos. Após a amostragem da programação, Darcy Reis e Domingos Leoni se despediram do público, convidando-o a assistir um filme sobre a Apolo 11, a primeira espaçonave a descer na Lua (um ano antes). O filme veio dos Estados Unidos e foi especialmente cedido pela Nasa para a inauguração da TV Gazeta (tendo a feliz coincidência do número da espaçonave ser o mesmo que o do canal que ali se inaugurava, 11). Nos bastidores, os convidados ainda continuaram a visitar as instalações. Octavio Frias fez questão de voltar à cabine e cumprimentar pelo vidro Honoré Rodrigues que, agora mais calmo, lia um livro. Na tela da Gazeta, ainda as imagens da Apolo 11. Na leveza dos passos de Neil Armstrong e de Buzz Aldrin, em solo lunar, um momento de descanso para os profissionais da TV Gazeta, que ali suaram a camisa num intenso dia. A calma das imagens era como um colírio para os meses de nervosismo e estresse, na luta contra o relógio. Todos saíram. Honoré encerrou a transmissão. Sim, finalmente a TV Gazeta aterrissou nos lares paulistas. Estava inaugurado o canal 11. Aquela noite foi um pequeno passo para a televisão, mas um grande passo para a sua história. 16. Tempos heroicos Para falar dos primórdios da TV Gazeta nada melhor que aquele que narrou o texto que abriu a emissora. O locutor Honoré Rodrigues conta os bastidores e as dificuldades dos primeiros tempos do canal 11: Eu entrei na Fundação Cásper Líbero como locutor da Rádio Gazeta AM, em junho de 1966. Passei pouco mais de uma semana no Palácio da Imprensa, até que o prédio foi entregue ao Banco Central, que havia comprado o imóvel à vista. E nos mudamos para o prédio da Avenida Paulista. Fui locutor da TV Gazeta também na fase experimental, em 1969. Isso porque veio um profissional do Rio de Janeiro, chamado Silva Ferreira, que fora da TV Rio, da TV Tupi, da TV Globo. Um homem produtor de shows. Ele veio e passeando pela rádio me ouviu. Então me convidou para ser locutor de cabine, me explicou como era a coisa, eu topei. E nessa garimpagem ele pegou mais dois companheiros: Ibrahim Barchini e o Ataíde Teruel. Foram esses três chamados para a locução de cabine, nada de aparecer, só em off. Entre os três, houve um consenso entre o Marco Aurélio Rodrigues da Costa, o Sérgio Pimentel Mendes, e o Silva Ferreira de que a voz que deveria narrar a abertura seria a minha. Não sei se porque eu era o mais velho deles, o mais pesado, sei lá. Enfim, escolheram. Aí eu fui e fiz a narração da abertura. Só deixei a televisão em 1978. Fiz a locução, no dia da inauguração, no 5º andar. Lá tinha o switcher, uma coisa muito modesta, com o telecine do lado; a nossa cabine, de um metro por um metro e meio, ficava também ao lado da sala do telecine, que era um pouquinho maior. E o estúdio era no 4º andar. Um espaço que foi roubado da discoteca da Rádio Gazeta. Estávamos todos emocionados, todos cônscios da responsabilidade que tínhamos. Porque naquele dia 25 de janeiro de 1970 era além de uma atividade profissional, era uma faceta pessoal de cada um de nós. Porque não estávamos fundando mais uma televisão. Estávamos fundando a TV Gazeta. No dia 25 de janeiro eu fiz o que tinha que fazer na rádio. Vim para televisão e já comecei a encontrar com gente engravatada em tudo que era canto aí, políticos chegando, etc., mas o Sérgio Pimentel Mendes disse: Não. Vai para a cabine, porque você não tem nada a ver com esse povo. Teu negócio é lá. Já havíamos ensaiado o texto exaustivamente. Durante a inauguração, o governador fez a abertura solene da emissora sentado a uma mesa. Sobre essa mesa – veja o bem que a televisão fez à parte histórica da Fundação – consta que teria sido usada pelo Cásper Líbero. Antes ela era usada como mesa no estúdio da Rádio Gazeta! Até sabermos, para nós, era uma mesa qualquer. Duro foi retirá-la do estúdio da rádio, porque essas mesas eram maciças. Depois ficou na sala do Marco Aurélio. Na inauguração, foi feita uma apresentação do que iria ao ar a partir daquele dia. Foi todo o elenco da TV Gazeta na época, que caberia numa sala pequena! Havia uma apresentadora, cujo nome eu me lembro, mas não o sobrenome: Marlene. Essa jovem participou de um concurso que a Gazeta promoveu. Era estudante do Curso Objetivo. Tinha muito boa presença, moça alta, bonita e seria apresentada como a revelação da TV Gazeta, mas não decolou. Vladimir Nóbrega, que também fez este concurso, foi aprovado e ficou. Dos bastidores, teve uma parte interessante. [risos] José Pedro Grispi e Sills Bondezan, ambos os elementos já muito antigos de televisão, e eu, na minha primeira experiência nesse setor. Eu estava visivelmente nervoso e os dois, velhos companheiros, me disseram: Não, não precisa ficar nervoso, nós já inauguramos não sei quantas televisões. Olha para nós. Nós estamos totalmente calmos, tranquilos. Fica calmo. No fim eu fiquei tranquilo e eles ficaram nervosos. Porque o switcher era todo improvisado, todo amarrado. Comentava-se que havia até jun ções presas com chiclete, band-aid para segurar! [risos] E, na primeira apertada de botão, o negócio complicou e o diretor de TV, acostumado com instalações modernas e melhores instaladas do que a nossa, já ficou meio nervoso com aquilo. E corre um, corre outro, para de novo fazer a junção lá. Aí o sonoplasta na hora quebrou a agulha. Uma série de problemas. No fim eu é que fui lá no switcher dizer: Tenham calma. [risos] No fim as coisas chegaram a um bom termo. Outra coisa: depois que eu fiz a locução, fiquei no meu canto e aí todas as autoridades subiram para conhecer as instalações lá de cima. Aí bateram no vidro. Um senhor, de óculos, miudinho, fez um sinal para mim de positivo. Eu agradeci. Eu era estudante de Direito na ocasião, então estava aproveitando e lendo um código qualquer. Aí bateram de novo. Eu olhei e era aquele mesmo senhor. Fez um outro sinal de aplauso. Eu agradeci com muita modéstia e humildade, e voltei para o meu código. Ele bateu de novo e fez outro gesto de congratulações. Eu voltei para o meu livro e digo: Mas se esse senhor bater de novo, eu vou perder a esportiva e vou xingá-lo. Está me incomodando. Mas ele não bateu mais. Juntou-se com o pessoal. Depois é que fiquei sabendo que era o presidente da Fundação, o Sr. Octavio Frias de Oliveira. Ainda bem que ele não bateu, porque provavelmente a minha história na Gazeta seria outra! Mas, posteriormente, eu contei isso a ele. Aí ele falou: É, se você se aborrecesse comigo, eu iria desculpar, iria relevar, porque estávamos todos muito nervosos aquela noite. Para nós era uma realização profissional e para ele uma realização, inclusive, empresarial. Além do que, ele se confessava um seguidor da obra de Cásper Líbero e se sentia nervoso por estar tornando realidade um sonho de Cásper. No final daquele dia, nós fizemos o encerramento: a TV Gazeta encerra neste momento suas atividades para voltar amanhã. E no momento em que nós falávamos para voltar amanhã, eu pensava: tomara, a tantas horas, se Deus quiser. Nunca falamos esse se Deus quiser com tanta veemência, porque era uma dificuldade tão grande que talvez a gente não soubesse se voltava no outro dia. Aí no outro dia a coisa foi mais calma. Lembro que fui para casa e não consegui dormir. Estava um pouco nervoso. Quando foi de madrugada eu consegui conciliar o sono, mas aí logo tinha que levantar porque tinha que voltar: a rádio me esperava. Eu fiz tudo nessa TV Gazeta. Até câmera em emergências. Naquele tempo a iluminação era um pouco precária. Existiam as cruzetas e até aquilo eu segurei para iluminar. Fui cabo-man, sempre em emergências, não com sentido permanente. Havia esse espírito e eu acredito que, guardadas as devidas proporções, deve permanecer até hoje na TV Gazeta. Nós estávamos fundando uma televisão. Nós precisávamos manter aquele veículo de comunicação, pelo nosso próprio bem profissional e pelo bem da casa que nos acolhia. Então nós dávamos 100% e mais um pouco. E à medida que a televisão foi crescendo, esse nosso esforço foi mudando de quantidade. Mas não o entusiasmo. O entusiasmo se manteve. Veio mais gente, novos profissionais para nos auxiliar, para dividir conosco aquela carga. Já não tínhamos mais necessidade de carregar tanta coisa. Já não carregávamos piano, mas também não carregávamos cavaquinho. Tínhamos que carregar, na pior das hipóteses, um contrabaixo. E nós íamos tocando com o mesmo entusiasmo. A coisa se expandiu e hoje eu vejo a TV Gazeta não como uma aventura, que chegaria até a loucura, mas como uma realidade. Nós éramos pobres. Hoje somos remediados, eu acredito. Os programas eram quase todos de entrevista, porque não havia como criar cenários. Era uma tapadeira, umas cadeiras que a gente tinha que sentar com muito cuidado, porque senão desmoronavam. A TV Gazeta foi feita com esforço próprio, com espírito de equipe. Éramos o exército Brancaleone. Eu me lembro que uma vez o Tavares de Miranda recebeu o governador Abreu Sodré, que havia feito a inauguração. Veio o Sodré, um homem muito elegante, com aquela equipe toda. No estúdio três cadeiras estavam disponíveis. Por sorte a TV era em preto e branco e o diretor de TV, muito malandramente, não fechava nelas, dava um plano geral. As cadeiras estavam com o acento rasgado. E aparecia a espuma, a mola, tudo lá. Então, na hora de sentar, o Tavares fez as honras da casa e convidou o governador a se sentar. O Abreu Sodré olhou e viu aquilo. Aí o Tavares pôs a mão no ombro dele e o empurrou para baixo, com as palavras: Sente, governador, Não repare. Nós somos pobres. Então isso eu nunca me esqueci. [risos] Na realidade, o governador sentou meio na marra! Nesses cinquenta anos de carreira eu já trabalhei numa porção de lugares. Em Taubaté, na Rádio Cacique e na Rádio Difusora. Aqui em São Paulo, na Jovem Pan – na época Rádio Panamericana –, Rádio Gazeta, TV Gazeta, Rádio Eldorado AM e FM, Agência Estado, jornal O Estado de S. Paulo, Rádio Cultura, Rádio Excelsior, Rádio Globo e Rádio Difusora de Osasco. São inúmeras organizações. Todas dignas do meu maior respeito. Agora, você me pergunta o que representa a Gazeta para mim? O único lugar que eu tenho vontade de voltar a trabalhar. No momento em que a Gazeta nos propicia esta chance de voltar ao passado, voltamos a nos encontrar. Eu encontrei um Honoré que eu pensei que tinha ido embora. Os primeiros tempos foram realmente heroicos. 17. O perfil da TV Gazeta Você já parou para pensar no perfil da TV Gazeta? Há quem critique afirmando que ela não tem perfil. Acredito que se surpreenderão com os fragmentos de artigos abaixo. A surpresa vem do fato de que a TV Gazeta ainda hoje é a única que mantém o mesmo propósito de quando foi inaugurada. Uma emissora que objetiva gerar novos talentos, que é voltada ao povo paulistano e que pensa em ser uma TV alternativa às demais, comerciais ou educativas. A TV Gazeta chegou com a ideia de revelar novos talentos. Não usar nomes conhecidos da televisão. Eu fiz toda a cobertura jornalística. A Gazeta começava sem a preocupação com o Ibope e audiência, conta Zé Flávio (Flávio Tiné), colunista de televisão do jornal A Gazeta. Prova disso está na matéria em que ele se refere à TV Gazeta, em A Gazeta (28/01/1970): Faz parte dos objetivos da TV Gazeta revelar novos valores, mostrar ao público pessoas desconhecidas, que por algum motivo ainda não tiveram sua chance nos meios artísticos. Se amanhã esses nomes vierem a ser famosos e se transferirem para outras emissoras, gozando fama, prestígio, ganhando altos salários, não importa. A TV Gazeta buscará novos valores. Descobrirá outros artistas para revelá-los ao grande público. Zé Flávio foi profético. É só lembrar os casos de Joelmir Beting, Amaury Jr., Faustão, Galvão Bueno, Astrid Fontenelle e tantos outros que surgiram na TV Gazeta. Sobre o perfil alternativo, A Gazeta Esportiva escreveu em 27/01/1970: Uma emissora diferente é o que será a TV Gazeta, canal 11. No objetivo de alcançar o público que não gosta de chanchadas, a mais nova estação de TV de São Paulo se lançará em um campo que fica imediatamente depois da TV Cultura e bem antes das tevês comerciais (...). Ali houve uma mostra do que será a programação: música da melhor, entrevistas curiosas e informativas num ambiente cheio de luzes e fios à moda da televisão. O que a Revista Veja (04/02/1970) também complementou sobre a inauguração: Com pouco dinheiro e muita imaginação, uma nova emissora de TV começa sua grande batalha pela sobrevivência em São Paulo (...). Como diz seu diretor Marco Aurélio Rodrigues da Costa: viveremos apenas para pagar nossas despesas e nossos funcionários em dia (...) a TV Gazeta foi formulada em esquema simples, de baixo custo operacional – apenas um estúdio de 240m2 com quatro câmaras. E por isso poderá vender seus horários a preços mais baixos que os dos concorrentes. Uma de suas virtudes, pela qual é conhecida dentro do meio televisivo, é de ainda hoje pagar sempre em dia, sem atrasos. Como podem ver, uma tradição de décadas. Mas a melhor definição da filosofia da TV Gazeta foi dada por seu diretor-geral, Marco Aurélio Rodrigues da Costa, neste trecho de A Gazeta, de 24/01/1970, um dia antes da estreia: A filosofia geral da emissora é fazer, com um custo operacional baixo, uma programação séria, simples e bem-feita. Há a preocupação de se levar uma mensagem de cultura e esclarecimento ao paulistano, contribuindo para a formação de uma opinião pública. Marco Aurélio reconhece que, ao menos nesta primeira etapa, a TV Gazeta não dispõe dos recursos materiais de outras emissoras, e por isso toda a programação foi feita levando em conta esse fator. Mas isso não impediu a elaboração de bons programas. – Nós nos colocamos dentro da televisão comercial, e não da TV educativa, muito embora estejamos ligados a uma fundação sem caráter de lucro. O que acontece é que não pretendemos fazer uma televisão dentro daquele caráter popularesco dos outros canais. Mas também não a faremos com um didatismo de uma TV Cultura. Para Marco Aurélio, o 11 vai ficar no meio-termo. De início, terá um fator favorável: não vai se interessar pelos números do terrível fantasma que é o Ibope. Sua programação será dirigida, isto é, destinada a um público classe A, sem concessões ao mau gosto e aos programas do tipo mundo-cão. • Não pretendemos quantidade de audiência, mas sim qualidade. Nós interessamos ao anunciante de mercadoria com gabarito superior; enfim, ao anunciante que queira atingir com sua mensagem um público de poder aquisitivo mais elevado. Também não haverá muita preocupação com os chamados anúncios de janela, isto é, as inserções comerciais entre um programa e outro, e que tanto aborrecem o espectador. • Nós preferimos entrar com programas patrocinados. Com todos os programas patrocinados não teremos problemas de ordem econômica e poderemos passar às etapas seguintes de nossa planificação técnica. Em curto prazo essa planificação prevê a compra de novo equipamento, inclusive novas câmaras e um aparelho de videoteipevideoteipe. Em longo prazo está incluído o término da parte da construção civil e a compra de um caminhão de externas, com todo o equipamento necessário, possibilitando as transmissões diretas de futebol. Sobre a questão de não se preocupar com o Ibope, a maior prova disso foi justamente inaugurar o canal 11, às 20 horas, daquele dia 25. No mesmo horário havia já a eterna batalha de audiência dos programas dominicais. De peso no ar, o Programa Sílvio Santos na TV Globo rivalizava com Hebe na TV Record. Eram exibidos os conhecidos seriados James West, na TV Tupi, e Big Valley, na TV Excelsior. As atrações menos competitivas eram da TV Cultura, que passava A Mulher do Cinema, e a da TV Bandeirantes, o esportivo I Torneio da Grande São Paulo. 18. A volta do fundador Há certos momentos e atitudes que simbolizam mais do que qualquer fato. A inauguração da TV Gazeta representou não apenas a recuperação da Fundação Cásper Líbero, que ganhou sobrevida com o apoio da Folha de S. Paulo. Entre os telegramas cumprimentando pela estreia, um se destaca: Lamentando não poder comparecer à solenidade de inauguração da TV Gazeta, uma aspiração de meu saudoso irmão, agora concretizada, envio felicitações pela relevância de tal acontecimento, augurando prosperidade para a mesma, vida longa e feliz. Com essas palavras, Dr. Nelson Líbero cumprimentou Octavio Frias naquele dia 25. A mensagem representou um voto de confiança, que faria com que o último parente de Cásper voltasse aos poucos à Fundação. Esta que ele ergueu após a morte do irmão. Ao voltar, ficou até 1976, quando faleceu. Antes se afastou por discordar das medidas tomadas por aqueles que influenciaram negativamente a história da Fundação, eclodindo na crise de 1968. Leia mais sobre o Dr. Nelson Líbero (em Extras, na parte final do livro). Saiba mais sobre este que foi primeiro presidente da Fundação Cásper Líbero. Capítulo III Anos 1970: a primeira década A chegada da TV em cores, as grandes parcerias, Clarice Amaral e o esporte na televisão Cronologia (1970-1979) 1970 • 15 de junho: nasceu o programa Clarice Amaral em Desfile, com a apresentadora tornando-se um dos maiores sucessos da TV Gazeta na década de 1970. • Agosto: com a Portaria 408, a TV Gazeta passou a exibir o programa educativo Nossa Terra, Nossa Gente. Era uma exibição obrigatória, instituída pelo governo federal através da portaria 408 desse ano. As emissoras comerciais ficaram obrigadas a transmitir programas educativos com a seguinte distribuição: cinco horas por semana, sendo 30 minutos diários de segunda a sexta e 75 minutos nos sábados e domingos, entre as 7 e 17 horas. Para efetivar o cumprimento legal e orientar a televisão educativa, um estudo oficial sobre TV concluiu que os adolescentes e adultos seriam a prioridade desses programas. A portaria imperou até 1980, sendo substituída pela portaria 561, que flexibilizava mais a obrigatoriedade. • 30 de setembro: começaram as contratações de muitos exfuncionários da TV Excelsior, após a falência do canal 9. • 4 de novembro: estreou o programa São Paulo da Viola (que logo mudou seu nome para Boa Tarde, Viola), com apresentação de Carlos Aguiar e produção de Kleber Afonso. Posteriormente Wilma Aguiar assumiu a produção. • 7 de dezembro: teve início o programa semanal Vida em Movimento, apresentado por Vida Alves. • Dezembro: começou Inteligência, com o ufologista Flávio Pereira. Um dos primeiros programas esotéricos da TV aberta. 1971 • 25 de janeiro: a TV Gazeta realizou uma grande festa pelo seu 1º aniversário, com programação especial, shows e atrações em diversos pontos da cidade. Os 32 degraus do Edifício Gazeta foram ocupados por um grande coral que atraiu o público da Avenida Paulista com suas músicas. Posteriormente, na mesma escadaria foi acesa uma pira, símbolo de renovação. Uma missa também se realizou sob as escadas. Outras festividades ocorreram no Campo de Marte, com espetáculos aéreos da Esquadrilha da Fumaça, passeio de balão e a visita de telespectadores infantis do Gazetinha às aeronaves ali pousadas, tendo a companhia da apresentadora Tia Claudete (a jovem Claudete Troiano). Nas ruas próximas, malabarismos sobre motos também fizeram parte das festividades. Relembra Claudete Troiano: Naquele dia fiz diversas reportagens para o Gazetinha. Chegaram a me colocar em cima de uma daquelas motos durante a exibição. Deu um medo! Mas não esqueço. Foi um momento muito especial. Havia ainda malabarismo sobre carros! Foi uma grande festa. • Maio: a TV Gazeta alcança a liderança de audiência ao transmitir os jogos do Campeonato Mundial de Basquetebol Feminino. Na final, a TV Gazeta atingiu 51% contra 13% do Ibope da Rede Globo. • Junho: foram comprados novos equipamentos para substituir os que tinham vindo da Excelsior. Já pensando na implantação da TV em cores, compraram apenas a quantidade necessária. • 7 de dezembro: Vida Alves comemorou o 1º aniversário de Vida em Movimento, recebendo prêmio pela data da Secretaria do Interior. Na festa, muitos convidados. Entre eles o casal Nicette Bruno e Paulo Goulart, Liba Frydman e Clarice Amaral. 1972 • 19 de fevereiro: em pool com as outras emissoras, a TV Gazeta transmitiu em cores o evento da Festa da Uva de Caxias do Sul. • 24 de fevereiro: a TV Gazeta foi a primeira a transmitir o incêndio do Edifício Andraus, no centro de São Paulo. A tragédia que se abateu sobre a região da Avenida São João teve tanta repercussão que teria inspirado o filme americano Inferno na Torre (The Towering Inferno, 1974). Foram 16 mortos e 345 feridos. Muitos escaparam pelo alto do edifício. As imagens foram transmitidas em preto e branco. • 6 de março: desembarca no Porto de Santos uma grande quantidade de equipamentos em cores da TV Gazeta, comprados por Marco Aurélio Rodrigues da Costa e Walter Ceneviva nos Estados Unidos. • 14 de março: Vida em Movimento foi apresentado pela primeira vez em cores. Foi o primeiro programa regularmente em cores da TV aberta brasileira. • 21 de março: o ex-jornalista da TV Bandeirantes, Humberto Mesquita, foi contratado pela TV Gazeta. Franco Neto, que também saiu do canal 13, apresentava o Telejornal Gazeta. Na mesma data, Clarice Amaral ganhou o Troféu Helena Silveira. • 30 de março: com a Rede Globo, o canal 11 transmitiu a corrida de Fórmula 1, em cores, no Autódromo de Interlagos. • 31 de março: oficialmente foi inaugurada a TV em cores em todo o Brasil. O discurso do presidente Médici abriu as transmissões – sendo gravado pelos funcionários da TV Gazeta, em Brasília. • Abril: estreou Opinião, programa independente dirigido por Walter Guerreiro, com entrevistas de Thaís Leopoldo e Silva e Fausto Canova, além de grandes reportagens de Goulart de Andrade. Sete anos depois ele se consagraria na TV Globo como Patrulha da Madrugada (embrião do famoso Comando da Madrugada). • Julho: Humberto Mesquita lançou, aos sábados à noite, o programa Confronto, com debates culturais confrontando protagonistas de momentos históricos com estudiosos. • 7 de setembro: por ser a mais paulista das emissoras, o canal 11 fez ampla cobertura do aniversário de 150 anos da Independência do Brasil. Cobriu os festejos por toda cidade, desde os realizados no Museu do Ipiranga até os no MASP. 1973 • 1º de maio: a TV Gazeta passou a ter programação matutina nessa data. Às 11 horas, daquela terça-feira, estreou o programa Curso de Madureza, reapresentado aos sábados, às 8h45. • 15 de junho: Clarice Amaral em Desfile comemorou seu 3º aniversário com programa especial. Um desfile de Clodovil enaltecia as cores das roupas (na ocasião, a atração transmitia em média uma hora e meia em cores na televisão). O programa marcava também os 15 anos de carreira de Clarice Amaral na televisão, vestida com modelo de gala do costureiro Hugo Castelana. O programa era exibido regularmente das 17h30 às 19 horas. • 14 de julho: ganhou destaque na imprensa o programa jornalístico Confronto deste dia. O jornalista Humberto Mesquita fez um debate especial sobre o cangaço no Brasil. No estúdio da TV Gazeta, Mesquita entrevistou os remanescentes do bando de Lampião: Sereno, Balão, Pitombeira e Silva. O pequeno estúdio do 4º andar ficou lotado de estudiosos sobre o cangaço que acompanhavam atentamente o programa. Mesquita disse à Revista Veja (25/07/1973): Primeiro, coloco no estúdio um grupo de pessoas com uma experiência em comum e o deixo falar. As pessoas de maior nível cultural, sempre estudiosos do que está sendo discutido, ficam apenas observando e dão rápidas opiniões. Deixo ao espectador a tarefa de tirar conclusões. Acho que esta é a grande fórmula do telejornalismo. A vocação da TV Gazeta para os debates, como podem ver, nasceu já em seus primeiros anos. • 1º de novembro: nesta data, Carlito Adese assumiu o cargo de superintendente-comercial, Gilberto Amaral de superintendente-geral de operações e Luiz Francfort o de diretor-adjunto de Rádio e TV. 1974 • 1º de fevereiro: a TV Gazeta foi a primeira a transmitir o incêndio do Edifício Joelma, na Avenida 9 de Julho. Assim como foi no caso do Edifício Andraus, a proximidade da emissora (na Avenida Paulista) fez com que a TV Gazeta fosse a primeira a chegar. Era a que tinha os melhores equipamentos em cores no Brasil, o que permitiu que cópias de suas imagens fossem vendidas para mais de 100 emissoras, dentro e fora do Brasil. Foram três dias de cobertura da tragédia. O motorista da equipe da TV Gazeta, Rondon, conta: A Gazeta foi a primeira a chegar. Lembro da correria que foi. Quem fez as reportagens foi nosso repórter policial, o Wilson Kiss. Vi cenas que não gostaria de ter visto. Gente se jogando para tentar sobreviver ao fogo. Foram 179 mortes e 300 feridos. • Março: o recém-empossado secretário da Segurança Pública do Governo de São Paulo, coronel Erasmo Dias, falou pela primeira vez na televisão brasileira sobre a maconha. Foi durante entrevista no programa Clarice Amaral em Desfile. 1975 • 18 de fevereiro: atracou no porto de Santos o navio Dalila, trazendo os equipamentos coloridos da TV Gazeta. • 20 de fevereiro: após liberação, desembarcam em solo brasileiro os equipamentos, sendo o principal a carreta, que passou a ser a principal unidade móvel da emissora. • 12 de abril: a equipe da TV Gazeta inaugurou a televisão em cores na Argentina, sob o comando de Luiz Francfort. • 27 de maio: Octavio Frias autorizou Francfort a responder pela Fundação nas negociações para a obtenção do canal 11 do Rio de Janeiro. Foi o início do projeto TV Gazeta-Rio. • 12 de junho: foi inaugurada a afiliada TV Gazeta, canal 12 de Santos (SP). A primeira geradora da Baixada Santista, que apenas retransmitia os sinais do canal paulistano. • 16 de novembro: a TV Gazeta fez transmissão especial, direto da Praça da Sé, da implosão do Edifício Mendes Caldeira. A primeira grande implosão no Brasil, por conta das obras do Metrô Sé, que mudou o desenho da praça. • Fuad Cury assumiu a direção administrativa do canal. Posteriormente, com a saída de Marco Aurélio Rodrigues da Costa, assumiu em 1976 a direção-geral de rádio e TV interinamente. Após a morte de Marco Aurélio, ficou oficialmente na função. 1976 • 12 de abril: foi transmitido o primeiro Campeonato de Futebol De Paula. Com times amadores, a competição, organizada pela loja De Paula Esporte, foi transmitida pela TV Gazeta por quase dez anos. O primeiro campeão foi o Sapopemba. A TV Gazeta foi a primeira a dar espaço na televisão brasileira ao futebol de várzea. Transmitiu também os campeonatos Dente de Leite, com times jovens. Os jogos do De Paula se realizaram nos campos do Estrela do Pari, União dos Operários e Nadir Figueiredo. Em 1977, o campeonato foi transmitido pela primeira vez em cores. José Francisco de Paula, dono da loja, fazia as vezes de comentarista do campeonato. • Maio a setembro: foram construídas, em tempo recorde, as instalações internas da TV Gazeta no 7º (produções e técnica), 8º (estúdios, produções e camarins) e 9º andares (administração e direção – TV Gazeta). • 14 de junho: faleceu na cidade de São Paulo, aos 92 anos, Nelson Líbero, membro do conselho curador e primeiro presidente da Fundação. Com a morte do irmão de Cásper, extinguiram-se os herdeiros vivos e diretos do jornalista. • Merchandising: seis anos depois de Clarice Amaral inventar o formato para programas ao vivo, ainda havia na imprensa observações de quem não tinha entendido o novo formato. Um exemplo disso foi uma análise sobre a história da TV, publicada pela Revista do Gás (setembro/1976): A TV Gazeta apresenta, provavelmente, a programação mais heterogênea de todas elas, incluindo desde programas sertanejos até crônicas sociais. Vendendo a maior parte de seu tempo para os produtores independentes, a TV Gazeta até no seu tipo de anunciante é diferente das outras. Nela pode-se ver ainda a figura da garota-propaganda, uma das velhas instituições dos primeiros anos da TV brasileira. A garota-propaganda foi substituída pelos comerciais, mas na TV Gazeta ela continua a abrir geladeiras ou mostrar outros produtos. 1977 • Abril: Voltando de uma cobertura jornalística realizada em Bragança Paulista, na faculdade de medicina da cidade, a equipe da TV Gazeta sofreu grave acidente. Estavam no carro os cinegrafistas Mauro Cunha e Gatão, além do motorista. Mauro Cunha relembra: O carro, que se desmanchou, era um dodginho novo. Foi muita sorte nós termos sobrevivido a esse acidente. Usávamos na época câmeras CP, cinematográfica de 16 mm. Eram muito boas, top de linha. E uma Bolex de 16 mm também. • 7 de junho: a TV Gazeta transmitiu com exclusividade, direto do Chile, o Festival de Viña Del Mar. Foi a primeira vez na televisão brasileira que foi utilizado o chroma-key, equipamento que só a TV Gazeta possuía. A razão foi inusitada, como conta o diretor Luiz Francfort: O Peirão morria de medo de avião. Me ligaram do aeroporto dizendo que ele não queria embarcar para o Chile. E boa parte da equipe já estava lá, só esperando o Peirão. Dei a ordem que era para ele voltar para a emissora urgentemente. Todos tínhamos um pouco de medo de usar o chroma-key, afinal era algo novo para todos nós. No final colocamos o Peirão no estúdio, geramos as imagens do Chile para o fundo do chroma e ele conversou com quem estava lá. Tínhamos acordos comerciais que não podíamos descumprir. Fomos pioneiros na emergência! • 18 de agosto: formou-se a primeira Rede Gazeta de Televisão. • 19 de outubro: o conselho curador, presidido por Erwin Theodor Rosenthal, elegeu o novo conselho diretor: Francisco Rangel Pestana (presidente), Roberto Santos (vice-presidente), Henry Aidar (diretorsecretário) e Amedeo Papa (diretor-tesoureiro). Anteriormente o Dr. Ulisses de Vasconcelos Diniz havia assumido o cargo de diretor de relações culturais. • Novembro: a supervisão de operações estava dividida da seguinte forma: supervisor-geral, Guilherme Araújo, e, aos finais de semana, conforme escala, revezavam-se Ricardo Lage, Luiz Francfort e Mário Pamponet Júnior. 1978 • Nathanael de Azevedo assumiu a direção administrativa da TV Gazeta. • 25 de janeiro: a Rede Gazeta estreou programação especial, com algumas mudanças. O Show da Viola mudou de nome e ampliou seu público, voltando-se para a música popular brasileira em geral. Passou a se chamar Programa Carlos Aguiar, com produção de Wilma Aguiar. Ficou prevista para o dia 26 a estreia da novela Zulmira, o que não aconteceu. • Comerciais: a partir desse ano até 1980, conforme registros, a TV Gazeta possuía um departamento de copiagem e criação de comerciais. Sempre com o apoio de agências, serviu a empresas como Lojas Mesbla, Marisa, Coristina, Editora Abril, Abril Cultural, Electrolux, Rotary Club Internacional, Colgate-Palmolive, Banco Real, Chrysler; e agências como Proeme, Lintas Publicidade, Alcântara Machado, Almap e outras. Fazia para as agências cópias do comercial para exibição em outros canais, como TV Bandeirantes e Rede Globo. Toda copiagem era feita no formato quadruplex. Isso garantia uma boa fonte de renda para a emissora. Um dos nomes que o departamento recebeu foi VTCOM. Muitos profissionais passaram por ele, como Mário Pamponet Jr., Luiz Francfort e José Maria Alimari. Para a produção de comerciais, o VTCOM utilizava o caminhão de externas, o qual era acoplado ao estúdio localizado na garagem do Edifício Gazeta. • 12 de junho: Luiz Francfort desligou-se da TV Gazeta para assumir a direção-geral da Rede Eldorado, em Criciúma (SC). Foi extinto o cargo de diretor-adjunto, mas, em contrapartida, criou-se o de diretor artístico (ao que a extinta direção já correspondia), inicialmente ocupado por Guilherme Araújo. • 15 de junho: o programa Clarice Amaral em Desfile comemorou seu 8º aniversário em festa levada ao ar das 15 horas às 19h30. Os números musicais foram interpretados por Ary Toledo, Agnaldo Timóteo, Evaldo Gouveia, Ana e Ângela, Nazareno, Ângelo Máximo, Maria Alcina, Claudete Soares, Agnaldo Rayol, Gilbert, Hugo Santana e muitos outros. Sem esquecer da Banda da Polícia Militar e de seu grupo do setor de Educação Física, que abriram o programa fazendo evoluções dentro da ginástica rítmica. Teve um desfile especial promovido por Ronaldo Ésper e outro pela Chelmi, confecção de moda masculina. Vários amigos de Clarice estavam presentes: Lolita Rodrigues, Hebe Camargo, Aníbal Massaini, Vicente Matheus, Zé Maria, Jaime Bohem, Marly Marley e os jornalistas Helena Silveira, Garcia Gambero, Rosinha (Cione Rosa), Ézio Ribeiro, Joeino Teodoro, Liba Frydman e Germano Augusto. • 4 de novembro: o 8º aniversário do Programa Carlos Aguiar foi comemorado no Ginásio do Pacaembu. Foram 18 mil fãs lotando o estádio. • 18 de dezembro: a Avenida Paulista ganhou novo símbolo. Após reformas iniciadas no primeiro semestre desse ano, foi inaugurado com festa o painel Gazeta, no frontispício do Edifício Gazeta. Os funcionários da Fundação, orgulhosos, admiravam o novo painel, antes ocupado pela pintura de uma enorme bandeira de São Paulo. A arquiteta Angela Esther de Oliveira, na época estagiária do departamento de obras, conta: Esse painel deu muito trabalho, quem o bolou foi o arquiteto Carlos Lemos. Ele é o idealizador e um dos melhores arquitetos que a gente tem. Quando eu entrei aqui, estavam em vias de construí-lo. O Paulo Camarda estava falando para mim que o antigo arquiteto que trabalhava na casa não conseguiu terminar, então teve que chamar o empreiteiro e conseguiu. Foi feito em cima de fôrmas. Foram feitas e coladas nesse painel reclinado. Tem toda uma amarração de vigas por dentro. Hoje essa parede está amarrada no balcão do cinema. Se mexe em um, cai o outro. Isso quem projetou foi o próprio Figueiredo Ferraz. O na época office-boy da TV, Dirceu dos Santos, contou sobre o painel: O pessoal conhecia aqui como prédio do Objetivo. Após o painel, mesmo com a continuidade do popular cursinho dentro das instalações, a confusão foi desfeita, sendo cada vez mais conhecido como prédio da Gazeta. • 31 de dezembro: grande cobertura foi montada pela equipe A Dona da Bola, para a transmissão da 54ª Corrida Internacional de São Silvestre. Na TV Gazeta, Peirão de Castro, Paulo Victor, José Isaías, Roberto Leite, Alexandre Nemeth; na Rádio Gazeta AM, Tony José, Lídio Soares e Armando Gomes; coordenação de Rubens Pecce e supervisão-geral de Roberto Petri. Na TV Gazeta, Guilherme Araújo e Antonio Honório responderam pela equipe técnica da cobertura. A equipe A Dona da Bola era comandada por Roberto Petri, coordenada por Constantino Ranieri. Ao longo dos anos, a equipe foi crescendo. Faziam ainda parte dela, Dalmo Pessoa, Jota Júnior, Sérgio Baklanos, José Roberto Papacídero, Osnei Montanari, Osmar de Oliveira, tendo como convidados Geraldo Bretas e Eli Coimbra. Um dos principais programas feitos pela A Dona da Bola era o Futebol é com Onze. Sempre às segundas, na TV Gazeta, das 20h30 às 22h30. 1979 • Esporte: a TV Gazeta transmitiu a partir de janeiro diversos campeonatos de futebol, que se estenderam até o final do ano. Entre eles, a Taça São Paulo de Juvenis (em pool com a Rádio Gazeta), o Campeonato Paulista, a Taça Libertadores, a Copa América e o Campeonato Brasileiro. • 13 de maio: a TV Gazeta transmitiu um evento beneficente em homenagem ao Dia das Mães. Ao vivo, a partir das 14 horas, um palanque foi armado entre as avenidas Ipiranga e São Luís, no centro de São Paulo, para a venda de 10 mil tulipas. Toda renda foi revertida às obras assistenciais da Sra. Zilda Natel, esposa do ex-governador Laudo Natel. Representando a TV Gazeta, vendendo as flores, estava Clarice Amaral, que chamava os telespectadores para colaborarem na compra das tulipas. • 6 de junho: a produção de comerciais estava em franca expansão. A TV Gazeta produziu comerciais para terceiros para exibição não só em sua programação, como na de outras emissoras. Contudo, o Dentel (Departamento Nacional de Telecomunicações) multou a Fundação Cásper Líbero, por excesso de publicidade comercial, acima do limite legal de 15 minutos em cada hora de programação. Após o pagamento de Cr$ 30 mil, a Fundação obrigou o departamento a se reorganizar, regularizando o tempo de exibição das propagandas. • 15 de junho: a TV Gazeta comemorou com outra grande festa mais um aniversário do Clarice Amaral em Desfile. O nono ano do programa contou com a participação dos cantores Luiz Vieira, Noite Ilustrada, Joelma, Jerry Adriani, Wando, Luiz Airão, Edy Carlos, Hugo Santana, Alvinho, Djalma Pires, entre outros. Do jornalismo, Ferreira Neto e Tavares de Miranda. Do esporte, Pedrinho do Palmeiras, Enéas da Portuguesa, Zé Sérgio e Dario Pereira do São Paulo, e o presidente do Corinthians, Vicente Matheus e sua esposa. Ao lado de David Cardoso e Wilza Carla, o também ator Geraldo Del Rey aproveitou a festa para falar das dificuldades que o teatro brasileiro passava. Jerônimo Gomes, proprietário dos restaurantes Alfama dos Marinheiros e A Brasa Marítima, serviu seus famosos pratos aos convidados. • 14 de agosto: com exclusividade, o programa Clarice Amaral em Desfile entrevistou as bondgirls Nikese, Cristine e Françoise do filme 007 Contra o Foguete da Morte. As atrizes, conhecidas como as belas mulheres atraídas por James Bond, gravavam cenas do filme no Rio de Janeiro. • 12 de outubro: Clarice Amaral em Desfile foi especial. Uma grande festa foi promovida por ocasião do aniversário da apresentadora. Estavam presentes Bolinha, Raul Gil, Hebe Camargo, Lolita Rodrigues e teve um vídeo especial com Sílvio Santos parabenizando Clarice. Também estavam lá Gilson, Guto (filho de Moacyr Franco), Sócrates (macaco do programa de humor da Globo, Planeta dos Homens, interpretado por Lorival Pessini) e muitos artistas famosos do rádio e da TV. O jornal Diário da Noite (12/10/1979) escreveu: Clarice Amaral, nos seus quase 10 anos de programa pela Gazeta, conseguiu convergir para si uma simpatia muito grande de milhares de telespectadores, principalmente do sexo feminino. A produção está incrementadíssima com o Tico, o Nestor Bucchareli, o Péricles, que é filho do Simplício, um dos maiores comediantes de todos os tempos, o Mário Verlandiero (agora estou falando da produção), o Mário Sérgio, o Sílvio (Tico) e o Ademir. Parabéns por mais essa primavera, na estação das flores. • 4 de novembro: o Programa Carlos Aguiar comemorou seu 9º aniversário, com uma festa superlotada no Ginásio do Pacaembu, em São Paulo. Durante o programa foram entregues os Troféus Amiga e Carlos Aguiar para as personalidades que se destacaram no rádio e na TV em 1979. Gil Gomes (Rádio Record), Flávio Cavalcanti (TV Tupi), Roberto Leal (como cantor mais popular do Brasil) receberam o Troféu Revista Amiga. Já o Troféu Carlos Aguiar foi dado a Mauro Montalvão (Revista Amiga), Clarice Amaral (TV Gazeta), Barros de Alencar (Rádio Record), Eli Correa (Rádio Record), Ney Costa (Rádio e TV Bandeirantes) e Bolinha (TV Bandeirantes). Do mundo musical participaram do programa Odair José, Amado Batista, Angelo Máximo, Tony Damito, Célio Roberto, Cláudio Fontana, Ed Carlos, Kátia, Sonia Maya, Moacyr Morales, Luiz Américo, Nilton César, Carmem Silva, Jane e Herondy, Ricardo, Ronaldo Resedá, Gilson, José Luis e Fernando Mendes, Jerry Adriani, Zé Rodrix, Cyro Aguiar, Ruy Mauryti e Cauby Peixoto. A música folclórica foi representada por Anastácia, Irmãs Galvão, Cacique e Paj(g)é, Industrial e Fazendeiro, Matogrosso e Mathias, Milionário e José Rico. 19. Equipe pioneira Entre a inauguração da TV Gazeta, em janeiro de 1970, até setembro do mesmo ano, o canal 11 teve uma equipe pequena, bem reduzida. A grande mudança veio com o fim da TV Excelsior e a chegada de muitos profissionais. Nesta equipe reduzida havia: Sills Bondezan (primeiro sonoplasta), José Pedro Crispi (primeiro diretor de TV), José da Costa Saraiva, José Carlos Novelli e Wladimir de Carvalho Duarte (primeiros operadores de telecine), Duílio Lemos (primeiro operador de vídeo ou videoman); Mário Melo Medeiros, Antonio Manoel Martins e Salvador Di Gioia (primeiros câmeras), Válter de Oliveira (primeiro operador de microfone ou boom-man), Durval de Araújo Silva (primeiro iluminador), Luiz Gomieri e Silva Ferreira (primeiros produtores, sendo Gomieri também encarregado do departamento interno de censura), Francisco Afonso – o Mortadela (primeiro contrarregra de estúdio, que tinha um auxiliar, cujo nome não é conhecido, pois como auxiliar do Mortadela recebeu o apelido de Salaminho, numa referência a dois populares personagens espanhóis de histórias em quadrinhos), Honoré Rodrigues, Ibrahim Barchini e Ataíde Teruel (primeiros locutores, todos da Rádio Gazeta), Fernando Pacheco Jordão (primeiro apresentador de telejornal), Tavares de Miranda (primeiro diretor de jornalismo) e Darcy Reis (primeiro diretor de esportes). Pouco tempo após a inauguração, José Pedro Crispi deixou a emissora. Em seu lugar foi promovido a diretor de TV Mário Melo Medeiros, substituído na câmera por Adilson de Oliveira. No telecine, vieram depois José Olivério e Adnácio Alves. Já Wladimir Duarte passou do telecine para a direção de TV e operador de VT. Como operador de telecine entrou Vicente Riccelli. Como operador de microfone, foi a vez de Milton Sérvulo. Na locução, entrou Albano Teixeira – também locutor da Rádio Gazeta, que ficou no lugar de Ibrahim Barchini após este passar em concurso para oficial da justiça e se desligar da emissora. A TV Gazeta tinha pouco dinheiro para adquirir películas, fato que fazia com que poucas coisas fossem filmadas para telejornalismo ou linha de shows. Por isso teve seu primeiro cinegrafista apenas em setembro de 1970: era Orlando Della Morte, mais conhecido como Gatão. Na direção, Sérgio Pimentel Mendes ficou na emissora apenas dois meses após a inauguração. Desligou-se e no seu lugar veio do Rio de Janeiro Joaquim Loureiro, que havia sido produtor e coordenador da TV Rio e na TV Excelsior-RJ. Com ele também chegou Jurandyr Vilella. Eles ajudaram na formação artística da TV Gazeta. Além deles, havia também o produtor Silva Ferreira, já citado. Conforme o locutor Honoré Rodrigues: O Silva foi elemento de proa como competente produtor da TV Rio, TV Excelsior e nos primórdios da Globo. Não ficou muito tempo, visto que era produtor muito requisitado para grandes espetáculos musicais no Rio de Janeiro. Foi o delineador da TV Gazeta. Marco Aurélio Rodrigues da Costa, além de diretor-geral, também acumulava o cargo de diretor comercial nesta primeira fase. 20. Primeira programação A seguir você vai conhecer os programas que fizeram parte da primeira semana da TV Gazeta. • Força Jovem: após a estreia oficial, foi o primeiro programa da TV Gazeta. Estreou em 26 de janeiro de 1970, às 19 horas. Exibido de segunda a sábado, foi apresentado inicialmente por Domingos Leoni. Este participou apenas do primeiro programa, em que entrevistou um garoto cego de 5 anos que executou Chopin ao piano. Além de uma banda de jovens cabeludos (que tocavam em estilo iê-iê-iê) e um rapaz que tirou o primeiro lugar na Faculdade de Filosofia da USP. Leoni ficou descontente com a falta de produção e se desligou da TV Gazeta, ficando apenas na rádio. Em seu lugar assumiu o animador Gilberto Lima, o Giba. E, posteriormente, o locutor Ataíde Teruel, que apresentou por anos o programa. Força Jovem apresentava música moderna, erudita e novos talentos musicais. Era voltado ao público jovem e discutia problemas gerais da adolescência. Bandas cover dos Beatles se apresentavam frequentemente. Com duração de 1h15, foi produzido por Luiz Gomieri e Alípio Simões até 1978. • Telejornal Gazeta: também estreou em 26 de janeiro, às 20h15. Exibido de segunda a sábado, com 25 minutos de duração. O telejornal era produzido com o apoio dos jornais do Grupo Folha, de A Gazeta e A Gazeta Esportiva. Com notícias de interesse público, foi apresentado inicialmente por Fernando Pacheco Jordão. O jornalista, após ter trabalhado por um período na BBC de Londres, retornou ao Brasil como apresentador da TV Cultura e da TV Gazeta. No telejornal, Jordão comentava as notícias e as ilustrações baseadas em slides. Mas em menos de um ano ele saiu da TV Gazeta, após pedido da Fundação Padre Anchieta, que exigiu que ele fosse exclusivo do canal 2. Nas vezes em que Jordão precisava dar expediente na TV Cultura, Honoré Rodrigues apresentava o Telejornal Gazeta. O jornalístico era redigido e ilustrado na redação da Folha de S. Paulo, por uma equipe coordenada por J. B. Natale. E ainda contava com o apoio do sistema de telex de A Gazeta e notícias das agências internacionais, como a France Presse e UPI. A TV Gazeta contratou Geraldo Vieira, que anteriormente tinha apresentado noticiários na TV Tupi. • Informação e Finanças: A Multiplicação do Dinheiro: estreou também no dia 26, às 20h40. Apresentado só às segundas-feiras, por duas horas. Uma análise do mercado financeiro (ações, letras imobiliárias, caderneta de poupança), comparando-o ao dia a dia dos telespectadores. No jornal A Gazeta, de 24/01/1970, definia-se assim o conteúdo do programa: Este tipo de conhecimento é indispensável às pessoas que desejam possuir um padrão de vida mais elevado. Com apresentação de Joelmir Beting (veja mais no próximo capítulo). • O Mundo Que Nos Cerca: estreou dia 26, às 22h40. Sempre às segundas, encerrava a programação da TV Gazeta, tendo duração de 20 minutos até uma hora (saindo a Gazeta do ar às 23h40). Nele passavam documentários fornecidos por consulados sobre a cultura e costumes de outros países. • Em Ritmo de Brasil Grande: estreou dia 27 de janeiro, 20h40, tendo duas horas de duração. O apresentador Odon Pereira da Silva falava sobre os problemas do país, as perspectivas para o futuro, cultura, mostrando também realizações da iniciativa privada e do governo federal. Sempre às terças. • Show de Ensino: estreou no dia 28 de janeiro, às 20h40. Com duas horas de duração, era sempre exibido às quartas. Era coproduzido pelo cursinho Objetivo, que funcionava dentro do Edifício Gazeta. O nome veio do slogan do cursinho: Objetivo: um show de ensino! Trinta professores respondiam dúvidas de telespectadores, sabatinando figuras históricas, conjuntamente às perguntas de alunos no estúdio. O primeiro personagem da história sabatinado foi Napoleão Bonaparte, interpretado por um jovem professor universitário, que estudou a fundo a personalidade do grande conquistador francês. Além de história, havia provas de conhecimentos gerais, humanidades, geografia e problemas contemporâneos. Por conta do jeito inusitado do programa, chamou a atenção do público. Ficou no ar até 1974 (veja mais no próximo capítulo). • Nossa Cidade: estreou no dia 29 de janeiro, às 20h40, com duas horas de duração. Exibido sempre às quintas, o programa posteriormente mudou o nome para Homens em Ação. Apresentado por Odon Pereira da Silva, debatia as polêmicas e monitorava as obras e realizações públicas. Problemas de saneamento, má qualidade de vida nas favelas, trânsito, enchentes, etc. Na segunda parte do programa eram dadas aulas de inglês pela TV, com o apoio dos cursos Fisk. • Mulher: o primeiro programa feminino na TV Gazeta. Mulher estreou no dia 30 de janeiro, às 20h40. Exibido sempre às sextas, com duas horas de duração. Apresentação da jovem Marlene, considerada revelação da TV Gazeta. Na primeira edição, a pauta principal foi sobre as consequências psicológicas trazidas por uma operação plástica. Debateram-se os dois tipos de casos: os que deram certo, realçando a autoestima da mulher, e os traumáticos, que deram errado. A Gazeta de 24/01/1970 definiu a atração: Dedicado principalmente à mulher, temos certeza que também será de agrado masculino. Convidados especiais irão dizer sempre alguma coisa de interesse geral, versando sobre assuntos atuais ligados estritamente aos problemas da dona de casa, da mulher que trabalha, da colegial, etc. Teremos a presença de costureiros de renome, cabeleireiros consagrados pelas elegantes de nossa capital. Meses depois foi extinto, com a chegada de Clarice Amaral na emissora. • Mingau Quente: o primeiro programa da TV Gazeta, reestreou (após a estreia oficial) no dia 31 de janeiro, às 20h40. Apresentado por Eduardo Queiroga e Aurélio Belloti Jr., sempre aos sábados, das 20h40 às 22h40. Rapazes e moças dançavam ao som de um disc-jóquei nos estúdios da TV Gazeta. Nos intervalos comerciais era anunciado assim: Alô, juventude de São Paulo! Venha participar conosco do Mingau Quente! Um programa bidu, a sua festinha de fim de semana. Havia na atração a escolha do melhor casal de dançarinos de cada semana e também os maiores sucessos de época. Com o tempo foi extinto, sendo ofuscado pelo Força Jovem. • Conhecendo: estreou em 1º de fevereiro, às 19 horas. Com duração de uma hora, sempre aos domingos, havia documentários sobre ciência, arte e tecnologia. • Resenha Esportiva: estreou também no dia 1º, às 20 horas, telejornal esportivo com 5 minutos de duração. Sempre aos domingos, apresentava os destaques da semana no esporte. Apresentação de Celso Brandão, locutor da Rádio Gazeta, e participação de outros elementos da equipe esportiva radiofônica. É um avô do atual Gazeta Esportiva, curiosamente apresentado por outro Celso, o Cardoso. • Ducal nos Esportes: estreou no dia 1º, às 20h05. O programa esportivo foi sempre exibido aos domingos, tendo inicialmente duração de 10 minutos, estendendo-se futuramente para duas horas. Basicamente de comentários esportivos, foi o embrião do Mesa Redonda, com locução e reportagens esportivas de Peirão de Castro e Rubens Pecce. Quando eram realizadas partidas, nos momentos de pênalti, Peirão de Castro propositalmente errava o português: A bola está na marca Du... cal! Errava na pronúncia, acertava no faturamento. • Teatro: também chamado de Teatro Gazeta, estreou no dia 1º, às 20h15. Direção e apresentação do teatrólogo Ibsen Wilde. A TV Gazeta apresentava peças com 25 minutos de duração. Teve apoio de grupos amadores. Os créditos eram lidos por Honoré Rodrigues. • Análise do Teatro: era uma extensão do programa anterior. Estreou no dia 1º também, às 22h40, igualmente com 25 minutos de duração. Nele, Ibsen e os atores comentavam a peça, o desempenho e analisavam o teatro contemporâneo. 21. Novos talentos Dois foram os programas que se destacaram no início da TV Gazeta: A Multiplicação do Dinheiro e Show de Ensino. Curiosamente em cada um deles a TV Gazeta revelou novos talentos para a televisão aberta. No primeiro, o economista Joelmir Beting, e, no segundo, Heródoto Barbeiro. São eles que contam, a partir de agora, como surgiram na tela da TV Gazeta. Joelmir Beting, o Chacrinha da Economia: Eu era editor de economia da Folha de S. Paulo. Na inauguração do canal, fui escalado pelo Sr. Octavio Frias para fazer uma apresentação. Logo no dia seguinte, na segunda, eu fiz na TV Gazeta um programa chamado A Multiplicação do Dinheiro. Eu abria com um comentário de 5 minutos, com ou sem imagem de fundo, sobre • o principal assunto da semana. Depois a gente passava a dar todo • o noticiário econômico do dia e também a cobertura da Bolsa de Valores, que na época estava numa verdadeira bolha aqui no Brasil. Era um processo explosivo da Bolsa de Valores de janeiro de 1970. Uma bolha que durou até 1971. Então havia muito interesse em querer saber que bicho era esse: o mercado financeiro. Renda fixa, poupança, a já então criada caderneta, a Bolsa de Valores, fundo mútuo, fundo de investimento... Todo aquele arsenal de coisas de que as pessoas tinham fome de saber e a televisão não tratava disso. Não tinha informação econômica na TV. Só índice de emprego e da inflação a televisão dava rapidinho. Então foi o primeiro programa de economia na TV, com a extensão de duas horas. Perante as classes A e B, dos formadores de opinião, como a gente chama hoje, fez muito sucesso. Para nós foi muito fácil. Eu comandava e apresentava o programa. Trazia autoridades, empresários, sindicalistas, o presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, o Lula, o ministro Delfim Neto, o presidente do Banco Central, o da Bolsa de Valores, os grandes industriais, pessoal do agronegócio. Foi o programa de maior conteúdo de informação econômica na televisão. Tanto é que • o governo federal, por meio do ministro Delfim Neto, escolheu nosso programa para o lançamento do PIS. Toda a imprensa ficou avisada. Durante duas horas entrevistei o Delfim Neto e ele foi detalhando, explicando o que era o PIS, quais as vantagens para a população, os macetes da coisa. E foi ali lançado o PIS [o Programa de Integração Social veio ao conhecimento público no A Multiplicação do Dinheiro de 07/09/1970]. Também foi ali que lançaram, com todo o meu arrependimento até hoje, o projeto da Transamazônica. Foi anunciado em primeira mão na TV Gazeta. A Multiplicação do Dinheiro foi para mim um momento de grande desenvolvimento profissional. Foi a primeira vez que eu fiz televisão. A Gazeta me lançou para a TV e eu ganhei uma visibilidade que sobrevive até hoje. Ir para a televisão foi um grande desafio. Eu queria mesmo era fazer jornalismo impresso, mas aí eu gostei da coisa, peguei o jeito, e comecei a usar na TV uma linguagem mais coloquial para tratar a economia. Por conta dessa linguagem e da penetração na área universitária, os professores de economia ficaram melindrados com o tratamento que passei a dar à informação econômica. Eles passaram a me chamar de Chacrinha da Economia, em tom pejorativo. Mas reverteu a coisa e deu muita empatia positiva em cima disso. Aí começaram a convidar o Chacrinha da Economia para patrono e paraninfo. Eu fui de mais de 150 turmas. Não só de Economia, mas também de Administração, Engenharia, Direito, Agronomia... Saiu um levantamento dizendo que eu era o maior paraninfo e patrono da história do Brasil, à frente do Dom Helder Câmara, do Assis Chateaubriand e do Juscelino Kubitschek. A repercussão do meu programa foi muito boa. A molecada que estudava economia por meio dele passou a entender e a se informar. Inclusive peguei para a apresentação do programa dois jovens acadêmicos, recém-formados. Eles acabaram tendo projeção e investiram até politicamente nisso. Por exemplo, Miguel Colasuonno fui buscar na USP, através de trabalhos que ele vinha realizando lá. Ele coapresentava comigo. Na minha ausência assumia a ancoragem do programa. Acabou virando prefeito de São Paulo, presidente da Embratur, ministro do Planejamento. O outro acadêmico encontrei na Universidade de Chicago, em 1971. Eu gostei dele, da conversa que tive lá na universidade. Eu perguntei: O que você está fazendo aqui? Eu estou aqui há 6 meses. E vai ficar mais quanto tempo? Vou ficar mais um ano. O que está fazendo? Estou desenvolvendo a minha tese de doutorado. E qual é sua tese? Correção Monetária: Experiência Brasileira. Em que cadeira aqui? Na cadeira do professor Milton Friedman. Milton Friedman foi orientador dele e prêmio Nobel de Economia em 1976. Esse jovem acadêmico é o Eduardo Matarazzo Suplicy, o senador Suplicy. Ele participava do programa. Quando voltou de Chicago eu queria que a gente discutisse a questão da distribuição da renda, porque o milagre estava instalado: PIB de 10, 14, 12... estava uma festa! E lançamento de obras faraônicas... estava uma festa! E a distribuição da renda? Como estava? Ele se especializou nesse assunto, o que lhe deu uma visibilidade política muito grande no meio sindical. Aí ele foi cooptado pelos sindicalistas e acabou virando membro do PT. Mas ele costuma dizer por aí: Eu sou invenção do Joelmir Beting. E aí tem que explicar como é que é esse negócio! E o Colasuonno também. Então se vê a repercussão que tinham as coisas na TV Gazeta em 1970 e 1971. A TV Gazeta veio fazer um bom combate como TV de nicho, TV alternativa, TV regional, e ela transmitiu para o Brasil inteiro a ideia de que poderia uma TV local competir com uma rede nacional. Na época só a TV Cultura se atrevia a fazer coisa parecida, mas uma TV comercial não. Ela demonstrou que em São Paulo, o mercado mais competitivo, se podia caminhar com as próprias pernas, com luz própria, com receita, com conteúdo próprio. A Multiplicação do Dinheiro transformou-se em O Milhão é a Soma dos Cruzeiros, em outubro de 1970. Inicialmente Joelmir produziu e apresentou o programa, sendo depois acompanhado por Honoré Rodrigues. Joelmir Beting foi contratado pela TV Record em 1972. Três anos depois transferiu-se para a TV Bandeirantes, onde ficou até 1985. Recebeu proposta da Rede Globo naquele ano, trabalhando até 2004. De lá para cá, voltou para a Rede Bandeirantes, apresentando o Jornal da Band e Canal Livre, além do Jornal Gente na Rádio Bandeirantes AM e Beting & Beting, com o filho Mauro, na BandSports. Professor Heródoto Heródoto Barbeiro entrou na TV Gazeta em 1973, três anos após a estreia do programa Show de Ensino. Foi para lá como professor de História, profissão que já exercia há anos. Barbeiro agora conta sua história: Na TV Gazeta eu apresentei um programa chamado Show de Ensino, que ia ao ar nas quartas-feiras à noite. Era um programa de notícias comentadas por professores. O Marco Aurélio, na época, fez uma parceria com o cursinho Objetivo. Nele comentavam-se as notícias. Por exemplo: suponha que havia um lançamento de um foguete, um satélite. A notícia era essa. Aí vinha o professor de Física para dizer como é que isso [o foguete] é capaz de sair da Terra, o que é órbita, essas coisas. Havia também questões médicas: Olha, na Inglaterra a pesquisa x, y, z... . E até questões de História. Era bem diversificado. O programa tinha uma hora de duração e vários professores participavam. A composição do programa era um apresentador, que era eu, três ou quatro comentadores, e mais o pessoal que produzia os VTs das notícias – isso era feito lá pela redação. Em TV, antes gravei Telecurso do 2º Grau. Gravei 30 horas de um curso de História do Brasil. Também fiz alguma coisa em TV fechada, no próprio cursinho que eu trabalhava, o Objetivo. Essa era a minha experiência. E na TV do Objetivo tinha um grupo de profissionais técnicos da Record. Eram feras! E eles ensinaram a todos nós a parte prática, o que me ajudou a fazer o Show de Ensino com o Marco Aurélio. O programa não teve muita repercussão. Durou mais uns seis ou sete meses. Depois disso só voltei para a Gazeta para fazer um ou outro debate ou entrevista que o Marco Aurélio me chamava. Fiz debates sobre drogas, violência... Na época era uma barra-pesada, porque era a ditadura militar. Lembro que eram assuntos da atualidade. Trabalhar na TV Gazeta foi uma experiência para mim. Primeiro: trabalhei em TV aberta. Eu só fazia TV fechada [circuito fechado]. Segundo: foi trabalhando na TV Gazeta que me possibilitou trabalhar na Rádio Jovem Pan. O Fernando Vieira de Mello me viu lá. Sabia que eu era professor de História e acabou me convidando para ser comentarista de política internacional do Jornal da Manhã. Então, uma vez por semana eu fazia a Gazeta à noite e passei a fazer todos os dias o Jornal da Manhã, uns três a quatro meses, quando me disseram que eu era obrigado a ter diploma de jornalista. Aí eu fiz vestibular na Cásper Líbero em julho de 1975. Foi uma experiência extraordinária, porque eu já estava dando aula há 15 anos e, de repente, deixei de ser professor para ser aluno. Para mim foi um choque sair de um lado para sentar do outro. Segundo: boa parte dos alunos que estavam na sala de aula tinham sido meus alunos no cursinho. Terceiro: acho que eu era um dos poucos focas da sala, todos os demais eram jornalistas já tarimbados, que foram obrigados a fazer faculdade. Tive a excelente oportunidade de aprender tanto com meus professores quanto com os colegas de sala. Para se ter uma ideia, o editor-chefe da Playboy era aluno: o Carlos Costa, hoje professor da Cásper. A Maria Adelaide Amaral também estava nessa turma e o Getúlio Alencar de O Estado de S. Paulo. Isso, de repente, me ajudou a mudar de profissão. Eu me apaixonei pelo jornalismo e gradativamente acabei deixando de ser professor de História. Dei aula por 25 anos. Acabei me tornando jornalista como sou agora. Quando eu trabalhava na Jovem Pan, outro diretor da TV Gazeta, chamado Carlito Adese, me chamou lá e falou: Você não quer vir ser diretor de jornalismo aqui da TV Gazeta? Eu fui até conversar com ele sobre as condições. Para mim foi uma surpresa, mas eu não tinha conhecimento na época para isso. Acabei agradecendo o convite, mas não aceitei. Isso foi entre 1977 e 1978. Da Gazeta, lembro do jeito do Marco Aurélio. Uma pessoa extremamente agitada, motivada, que queria fazer aquela TV acontecer de qualquer forma. Ele me parecia ser uma pessoa empreendedora, que gostava daquela TV, e achava que a missão era fazer da Gazeta uma televisão para competir com as outras. A TV Gazeta funcionava a duras penas. O equipamento, me diziam os técnicos, era muito bom. Me parece até que locavam em uma época para outras emissoras. Me lembro de ter visto lá na garagem uns dois ônibus, caminhão. Coisas que ninguém tinha, a Gazeta tinha. A parte técnica era muito boa, mas os setores editorial e artístico eram muito, muito frágeis. Para a história da televisão ela é importante porque surgiu com um ímpeto muito grande e associada a um grupo editorial forte, que era A Gazeta e A Gazeta Esportiva. Ela é muito significativa porque começou a despontar como sendo uma TV alternativa ao existente. Quando você falava TV Gazeta, se lembrava de duas coisas: primeiro, esportes, e, segundo, notícias, por causa dos jornais. Heródoto depois foi para a Rádio Excelsior, tendo sido um dos criadores da futura CBN. Na televisão, foi para a TV Cultura, sendo hoje um dos profissionais mais respeitados do canal. 22. Clarice Amaral em Desfile Clarice Amaral entrou na TV Gazeta no início de junho de 1970. Foi por intermédio de Marco Aurélio Rodrigues da Costa. A esposa do diretor a conheceu e simpatizou com Clarice. Sabendo do momento que passava a TV Excelsior, emissora em que a apresentadora trabalhava, achava que seria um desperdício deixar Clarice fora do vídeo. E a TV Gazeta naquele momento precisava de novos apresentadores. O canal estava se formando aos poucos, com altos e baixos desde a inauguração. Foi a partir do primeiro contato que começou uma grande amizade entre Clarice e Marco Aurélio. Assim, em 15 de junho de 1970, nasceu Clarice Amaral em Desfile – o programa de maior sucesso da TV Gazeta na década de 1970, ao lado dos debates esportivos. Tive menos de uma semana para montar o programa. Eu fazia de tudo no início. Produzia, convidava os entrevistados, entrevistava e até vendia os comerciais. Fazia contato de loja em loja para conseguir anunciantes. Dei muito de mim pela Gazeta. O programa foi inicialmente gravado no 4º andar e, em 1978, foi o Clarice Amaral em Desfile que inaugurou o segundo estúdio do 8º andar (até hoje em atividade). Clarice Amaral fazia questão de caprichar nos detalhes e nos adereços do cenário. Reconstituía-se o ambiente de uma grande sala, bem arrumada, com sofá, tapete, plantas e outros itens. No auge do programa, a atração chegou a ter uma belíssima escadaria por onde as modelos iniciavam seu desfile. Os modelos Mônica Magalhães e José Augusto Justo a auxiliavam na apresentação dos desfiles. E Dona Sara, do Bistrô da Sara (Bom Retiro), fazia o quadro de culinária do programa. No final da década de 1970, Edison Gonçalves (que tinha na TV Gazeta o programa Destaques ao lado da esposa Miriam) auxiliava Clarice em algumas entrevistas, como colaborador. Muita gente apareceu pela primeira vez em meu programa, de todo tipo. Lembro que consegui levar à Gazeta também a Íris Abravanel, esposa do Sílvio Santos. Foi a primeira vez que todos souberam do relacionamento dos dois, com apoio do Sílvio. Isso se deu em 1978. Pouco tempo depois, Silvio casou-se com Íris. E, ainda no mesmo ano, Clarice Amaral e o apresentador foram padrinhos de casamento de Wilza Carla, jurada do Programa Sílvio Santos. Grandes nomes da costura também passaram pelo programa, como Clodovil, Amalfi, Hugo Castelana e principalmente Ronaldo Ésper, afilhado de Clarice na televisão (sua primeira aparição foi em seu programa). Clarice Amaral em Desfile praticamente abria a programação do canal. Pela importância que possuía dentro da Gazeta, no primeiro ano teve duração de uma hora, das 16 às 17 horas. E foi-se alongando até chegar próximo a quatro horas por dia, terminando às 19h30. Ao contrário dos programas femininos de hoje, eu não fazia entrevistas longas. O telespectador não podia se cansar. Aí eu é que me cansava, pois realizava em torno de dezenove a vinte e duas entrevistas por dia, uma seguida da outra. Só descansava nos intervalos. Uma coisa que eu fazia questão era um entrevistado por vez. Era um respeito com cada um deles e também com o telespectador. Fazia questão dis-so. Era uma das marcas do Clarice Amaral em Desfile. O jornalista Guilherme Cunha Pinto, da Revista Veja, falou da apresentadora em reportagem de 10 de novembro de 1976: (...) com duas horas e meia de programa diário, cinco dias por semana, Clarice é a apresentadora que dispõe de mais tempo no vídeo brasileiro. Quando as cores chegaram à televisão brasileira, Clarice Amaral em Desfile foi um dos primeiros programas diários coloridos. Devido ao pioneirismo, estava presente até em anúncios de TV em cores, como a do televisor Colorado RQ, de 1973, que listava os principais programas coloridos do meio televisivo. Ali estava ele, ao lado do Programa Sílvio Santos, Buzina do Chacrinha, O Céu é o Limite e outros. Sem esquecer do Vida em Movimento, também da TV Gazeta, que foi o primeiro em cores de todos. Mais que feminino, o programa era de variedades. Falava de tudo um pouco e entrevistava as mais diversas personalidades. Entrevistei todo tipo de gente. De Miss Brasil até, na melhor fase, ao presidente Figueiredo. Levei pela primeira vez à TV a Rota [força tática policial]. Depois eles ficaram muito amigos do Marco Aurélio. Toda semana iam ao meu programa falar sobre segurança. Eu, na Gazeta, era a única a realizar entrevistas internacionais. Volta e meia tinha um cônsul europeu no programa. Essas entrevistas internacionais eram conseguidas pelo Maurício, um rapaz que me ajudava. Outra coisa: uma vez cheguei a surpreender até o esporte da TV Gazeta. Numa vitória histórica do Corinthians [em 1977, após anos sem ganhar títulos] o time inteiro foi até o meu programa para ser entre vistado. Os torcedores comemoravam na Paulista a vitória. Acabou o programa e eu apareci, com a camisa do Corinthians, junto com o time, na marquise do prédio da Gazeta. Os torcedores vibraram lá de baixo. Em outro campeonato que o São Paulo ganhou, fiz a mesma coisa, vesti também a camisa do time. Clarice Amaral gozava de certo prestígio, o que fez com que se tornasse madrinha de inúmeras entidades: da Polícia Militar, da Rota, dos Garçons (pelo Sindicato dos Empregados do Comércio Hoteleiro) e ganhasse o Troféu Personalidade do Corinthians, das mãos do presidente da República João Figueiredo e do presidente do time, Vicente Matheus. Para a história da televisão brasileira, o principal mérito da apresentadora e de seu programa foi a criação do merchandising em programas. Anteriormente, o merchandising só existia em novelas (por exemplo, Beto Rockfeller anunciava o medicamento Engov na Tupi, em 1968). Os merchans inicialmente foram chamados de comerciais testemunhais. Clarice explica a invenção: Não foi uma criação: foi uma necessidade. Cada programa tinha que se manter na Gazeta, vender os comerciais. Aí, como eu tinha experiência como garota-propaganda, pensei em fazer algo parecido durante o programa. Inicialmente eu não recebia cachê, fazia tudo de graça. Mas depois uma amiga me disse que eu deveria cobrar. Trazia atrações, inseria o comercial no meio, falava enquanto conversava. Mas reforço: o merchandising em programas nasceu da necessidade. A fórmula deu certo e depois o José Augusto e a Mônica começaram a me ajudar no merchan. O Mappin também foi um dos primeiros a fazer merchandising. Conversei com o Fernando Vieira de Mello e aí depois também começamos os desfiles de moda do Mappin. Ali surgiu a Ione Borges, que apresentava os desfiles da loja em meu programa. O merchandising pegou e virou o que é hoje. Eu, da parte comercial, nunca dei prejuízo para a Gazeta. Em época de Dia das Mães e final de ano cheguei a ter fila de anunciantes. Wilma Aguiar, diretora do programa Show da Viola, conta sobre a colega de emissora: Ela comandava a tarde toda. Clarice também era uma precursora em vender comerciais. Depois é que ela não vendia, só recebia o cachê e tinha os contatos do programa que vendiam. Clarice Amaral tinha uma enormidade de contatos na Gazeta. Outros produtos pioneiros no merchandising foram os cosméticos Natura. Gilza Guerra de Figueiredo, uma das primeiras revendedoras da marca no Brasil, demonstrava os cosméticos no programa. E tinha também a casa de frios Gigio, do Ipiranga, vendendo seu principal produto: Gigio, a melhor linguiça da cidade. E o Everaldo, garotopropaganda da Meridional: Eu só sirvo madame numa bandeja da baixela Meridional! Tinha a confecção Freddy, a Camelo, os calçados do Romão Magazine (que continuou anunciando no Mulheres em Desfile por décadas) e uma grande fila. A atração ainda influenciou a vida de uma cidade: Embu (SP). Divulgava diariamente o artesanato de Assis de Embu, Carlos Balian, Solano Trindade e outros artistas. Colaborou para que a cidade fosse conhecida como Embu das Artes. Seu Gomes: eterno parceiro da Gazeta Foi no Clarice Amaral em Desfile que uma grande parceria começou na TV Gazeta. O português Jerônimo Gomes, dono e fundador do restaurante Alfama dos Marinheiros, apresentou receitas e foi um dos pioneiros do merchandising na TV brasileira através daquele programa. O Seu Gomes conta um pouco sobre sua ligação com a TV Gazeta, que perdura até os dias atuais: Minha parceria com a Gazeta começou em 1972, no programa da Clarice Amaral. Eu ia lá toda semana. Às vezes naquela época faltavam entrevistas. E o programa da Clarice era a tarde inteira. Aí eu levava umas peças e tapava o buraco, fazendo uma ou outra receita. Aquela era uma época das vacas magras. Todo mundo cooperava. Clarice Amaral foi uma das grandes apresentadoras que eu vi na minha vida. Se ela falasse: Está vendo esse copo?, é de vidro, mas se ela falasse que era de ouro, vendia como se fosse. Foi uma das maiores vendedoras que eu vi. Clarice era muito autêntica. Depois passaram outras grandes apresentadoras. Veio a Claudete, a Ione, Cátia Fonseca. Eu, como ia lá apresentar comida, era um complemento a mais nos programas. Fiz todos os programas da Gazeta, dando centenas de receitas. A vantagem maior era para nós, da Alfama dos Marinheiros. Fiquei muito conhecido no Brasil inteiro. No começo a Gazeta era só para a cidade de São Paulo. Ee vez em quando ela de tarde batia a Globo, porque a Globo também estava engatinhando. Era na época do Clarice Amaral. Depois a Globo passou a subir muito. Eu contribuí muito com a Fundação, com as minhas receitas, e também fui muito beneficiado. Quando eu me apresento na Cátia [Mulheres], você não calcula os telefonemas que recebo. Eu era e continuo patrocinador. Hoje com minhas receitas ajudo até a vender panelas no BestShop. Já no esporte da TV Gazeta, o Milton Peruzzi, o Roberto Petri traziam na Alfama ex-jogadores. Muitas mesas-redondas sobre jogos das Copas do Mundo em que Portugal participava foram transmitidas de lá. Eu sempre fiquei à disposição da Gazeta. Eu vi nascer tudo aquilo. Com humildade, pessoas maravilhosas. Sempre tive muito carinho com as pessoas da TV Gazeta. Quando vou lá sou tratado como um rei, embora seja um irmão deles. Eu faço parte dessa família. O respeito que Seu Gomes adquiriu na TV Gazeta ao longo das décadas fez com que em 2006 fosse convidado para abrir a sua programação própria de televendas. Levou suas receitas na primeira edição do BestShopTV, no final de 2006, cozinhando ao lado de Viviane Romanelli. Em 2007, no mesmo programa, recebeu homenagem da TV Gazeta por sua dedicação à emissora, em roteiro escrito pelo supervisor de operações Marco Albuquerque, o Marquinho. No ar, ao lado de Viviane, e seguido de palmas, o português se emocionou com os irmãos, como assim descreveu os funcionários da TV Gazeta. Outra marca deste parceiro é que além de fazer receitas portuguesas e da cozinha internacional mantém a presença dos seus ajudantes da Alfama, todos vestidos de marinheiros. Desfiles de moda Clarice Amaral tinha seu jeito único de apresentar. Com estilo e fineza, não se detinha apenas em tratar de temas comuns do cotidiano, mas também lidava com polêmicas sem perder a postura. Sua personalidade forte era transmitida através da firmeza de suas palavras. Tendo a beleza, através dos desfiles, como o carro-chefe de seu programa, Clarice Amaral sempre primou pela mesma elegância em si e nas modelos que se apresentavam. A ex-modelo Vilma França conta: Eu era manequim do programa Clarice Amaral em Desfile. Em 1979 trabalhava na Siluette e tinha terminado o curso de manequim. Conheci a Clarice, que frequentava a Siluette. Falei com ela que tinha feito o curso. Eu ainda estava recente em São Paulo, tinha acabado de chegar de Salvador. Ela me chamou para fazer um teste na TV Gazeta. Ela gostou. Em 15 dias já estava trabalhando. Por desfile tinham cinco mulheres e um homem. O programa tinha uma repercussão bem legal. Às vezes a gente tinha desfiles fora, pois através do programa éramos convidados. Na rua as pessoas conheciam, falavam, perguntavam da Clarice, que era um nome muito forte naquela época. Era um programa muito visto e tinha uma boa repercussão. A Clarice para mim foi uma escola muito interessante. Ela foi uma pessoa que chamava a atenção. Eu sempre tenho uma imagem da Clarice como uma pessoa que me ensinou muito. Eu lembro de uma vez em que eu usei biquíni no estúdio e os homens ficavam olhando... ela chamava a atenção deles! Perguntava se não tinham família em casa! [risos] Ela tinha um respeito muito grande. Outra coisa me chamou a atenção, que, no momento, foi muito triste, pois fiquei meio perdida na hora: nós tínhamos muitos desfiles, na época era da confecção Freddy... E a gente corria! Trocava de roupa cinco a seis vezes durante um desfile. Não tinha aquele tempo estipulado, certinho. Então a gente trazia não sei quantas roupas e ia trocando. Entrava, voltava correndo do desfile, trocava outra... Dois camareiros trocavam a gente correndo. Nós só suspendíamos os braços, eles colocavam outro vestido... Eu saía correndo. Lembro que eu entrei com um vestido que eles puseram de frente para trás. Mas era uma coisa que não marcava muito. Só mostrava um botão, uma casinha que tinha na frente. A Clarice na hora chamou a atenção no ar: Vilma, você não está vendo? Você vestiu o vestido errado... Eu comecei a suar no ar, eu transpirava, escorria... E fora do ar: Troca a roupa. Manequim tem que se olhar no espelho antes de sair! Eu olhava, suava e não sabia o que fazer! [risos]Aquilo para mim foi uma coisa que eu aprendi. Em um ano e pouco que eu trabalhei com ela... bBem, tive uma das melhores escolas e depois eu continuei tendo essa escola com o Sílvio Alimari, o Tico [na época diretor de estúdio do programa], que foi meu professor total. Desde a época da Clarice foi uma pessoa que me orientou a cada dia. Eu sempre falo: ele me dava bronca e tudo, mas foi através dele que aprendi hoje a chefiar, que eu aprendi a tomar conta de um departamento. Eu trabalhei de modelo da TV Gazeta até 1985, sendo desde 1980 do programa Mulheres em Desfile, que surgiu com a saída da Clarice. Vilma França atualmente chefia o departamento de maquiagem e beleza da TV Gazeta. O Mappin tem de tudo! O programa Clarice Amaral em Desfile teve um casamento de quase dez anos com as lojas Mappin. Começou em 1970, tendo Fernando Vieira de Mello como diretor de publicidade e propaganda do Map-pin. Este era também diretor da Rádio Jovem Pan, localizada do outro lado da Avenida Paulista, próxima do Edifício Gazeta, o que facilitava os contatos entre a Gazeta e o Mappin. Trabalhava para o Mappin uma jovem chamada Ione Borges. Para a loja, Ione chegou a exercer diversas funções. Entre elas, apresentar os desfiles no Clarice Amaral. Ione fez televisão desde criança. Participou de programas infantis como Ginkana Kibon e Pullman Jr., ambos da TV Record. Ela passou a fazer um pouco de tudo: Muito cedo comecei a carreira de modelo e manequim. Com 12 para 13 anos já desfilava, já fotografava, já fazia comerciais. Fiz também um pouquinho de novelas, um pouquinho de filmes. Entre os filmes, Ione atuou em Jeca e o Bode e Vozes do Medo. Mas foi sua ligação com o Mappin que fez com que ela encontrasse o seu caminho: No Mappin eu fiquei dez anos. Nós tínhamos lá desfiles diários. O Mappin tinha contrato com a TV Gazeta. Além de participar [dos desfiles] do programa da Clarice, eu era relações públicas do Mappin também. Trazia não só moda, mas outros departamentos. O Mappin foi uma grande loja de departamentos. E eu vinha apresentar no programa da Clarice. Então já tinha contato com toda a equipe, conhecia muito todos desde essa época. O tempo que eu fiquei no Mappin, eu fiquei aqui na Gazeta. Nós fazíamos [desfiles] três vezes por semana, às segundas, às quartas e às sextas. Todo mundo sempre me achou muito comunicativa e paralelamente eu fazia jornalismo no Objetivo. Eu trabalhava, estudava e fazia um pouco de cinema. Quando assinei o contrato com o Mappin, ficou mais rigoroso o horário. A faculdade, o Mappin, fazia a Fenit, desfiles na mansão dos Matarazzo... E eu ainda fazia inglês! Foi uma época de muita correria, mas de trabalhos excelentes. Sua experiência como apresentadora não se deu apenas nas aparições durante o Clarice Amaral em Desfile. Ione também fez parte de programas da TV que o Objetivo possuía em circuito interno: Eu era apresentadora do FICO – Festival Interno do Colégio Objetivo, que a gente fazia no Teatro Record. A Rita Lee participava do júri, e o Chico de Assis. Eu já fazia um telejornal no Objetivo. Sou veterana. Eu fiz metade da faculdade aqui [no Edifício Gazeta] e metade na Rua Luís Goes. Ione conta sobre o investimento do Mappin na TV Gazeta: Houve um tempo em que o Mappin pagava um cenógrafo para fazer um setzinho só para nós. Então, conforme o desfile – se era lançamento, inverno ou verão, moda praia –, ele fazia [o set] conforme • o motivo. O Mappin tinha e investia muito aqui na Gazeta, porque dava sempre um bom resultado. Um ótimo retorno. Ele anunciava em todos os canais. Inclusive nós gravávamos comerciais para a Globo e • o Nilton Travesso dirigia. Na Gazeta nós tínhamos um quadro fixo. Éramos seis meninas e dois homens. Às vezes vinha [desfile de] moda masculina. Era a única loja que tinha um time fixo de manequins. A futura apresentadora lembra-se da chegada da TV em cores no país, em 1972, e como isso repercutiu nos bastidores da TV Gazeta: O pessoal fazia uma série de recomendações para evitar as cores mais fortes, para não estourar no ar e não colocar cor demais. Por outro lado, eles pecavam nos cenários usando muitas cores. Isso, porque, imagine, entrava o elemento humano com as roupas mais coloridas e ficava uma poluição visual. Demorou um tempo para todo mundo aprender. Seja quem fazia televisão, seja quem participava. Tanto o pessoal da técnica, quanto os da produção. Em novela isso deve ter sido muito pior! De 1978 para 1979, Ione Borges pediu demissão do Mappin para montar uma confecção própria. Mas o Mappin não a deixou sair, parando apenas de desfilar. Ficou trabalhando como autônoma e continuou a ser relações públicas, apresentando duas vezes por semana os desfiles no programa de Clarice Amaral. O fim do programa Na sexta-feira, 19 de setembro de 1980, a atração chegou ao fim. Clarice Amaral em Desfile se transformou em Mulheres em Desfile, com Ione Borges e Ângela Rodrigues Alves. A saída de Clarice fez parte da mudança brusca promovida pelo diretor-geral Fuad Cury em toda a grade da TV Gazeta. Clarice Amaral saiu da TV Gazeta e foi para a Rádio Mulher. Apresentou seu programa até 1986, quando após um traumático assalto em sua casa resolveu se mudar para Cunha (SP), onde tinha sua chácara. Bem-disposta, com a mesma energia de sempre, ainda mora em Cunha. A apresentadora Antes da TV Gazeta, a apresentadora já possuía uma larga carreira em televisão. Assim como Idalina de Oliveira e Cleide Blota, ela foi garotapropaganda de destaque na TV Record, muitas vezes apresentando produtos eletroeletrônicos. No mesmo canal também se consagrou como apresentadora da Ginkana Kibon, ao lado de Vicente Leporace. Trabalhou também nas TV Paulista, TV Cultura, TV Bandeirantes e TV Excelsior. Nesta última, esteve até quatro meses antes da falência do canal 9. Hoje a televisão brasileira agradece pela criação de Clarice Amaral: o merchandising dentro dos programas garante o faturamento de boa parte da linha de shows das emissoras. Programas femininos e de variedades se mantêm por longos anos. E a evolução do merchandising são os programas de televendas. Atualmente o BestShopTV é um sinal de que a Gazeta evoluiu e aprendeu com a fórmula criada dentro de seus estúdios. Personalidade Sobre o programa Clarice Amaral em Desfile, a apresentadora bem definiu à Revista Amiga (07/10/1979): Quando entro, prefiro não saber o que vai acontecer. Não temos nada combinado. Existe apenas uma relação para coordenar o que vai ser apresentado. Procuramos trazer desde o mais simples até o mais sofisticado para atender a todas as classes. Temos utilidade pública, entrevistas com advogados, médicos, culinária, moda, beleza, etc. [...] Nas entrevistas coloco-me no lugar de quem está assistindo. Então, pergunto aquilo que eu acho que ele gostaria de saber. Quando apresento algo e sinto que está bom, posso transmitir ao público; caso contrário, dá logo para perceber que não gostei. Coisa boa volta; ruim nunca mais. Clarice Amaral em Desfile marcou a história da TV Gazeta, ficando para sempre registrada na memória dos que ali passaram. Marcou como símbolo dos primeiros anos da mais jovem emissora paulistana. 23. Canal 20: a luz no fim do túnel A Revista Veja publicou em 2 de junho de 1971 uma polêmica matéria intitulada Canal 20. Trouxe à tona uma história aberta apenas nos bastidores. Visto que dias antes a TV Gazeta havia batido a Globo em audiência, com o Campeonato Mundial de Basquete, a revista resolveu vasculhar os bastidores do canal 11. Levantou uma história que já havia abordado em matérias no primeiro semestre de 1970 – período entre a inauguração da TV Gazeta e a falência da Excelsior. A matéria tentava mostrar que a TV Gazeta usou de má-fé. Só que mesmo na tentativa, ficou clara a causa principal: dar sobrevida aos ex-funcionários da TV Excelsior. Segundo Marco Aurélio Rodrigues da Costa, diretor do canal 11, os delicados equipamentos eletrônicos deterioram-se facilmente se não forem mantidos em atividade. E, acima de tudo, haveria o lado humano do problema. Sem equipamento, a Gazeta – que nos meios de TV já está sendo chamada de canal 20, 11 mais 9 – seria obrigada a demitir funcionários, agravando a crise de desemprego entre o pessoal de televisão. Amparados assim na tecnologia e em sentimentos de solidariedade, os responsáveis pela TV Gazeta (por coincidência o mesmo grupo – Frias – que controlava o canal 9) parecem ignorar algumas questões fundamentais para o esclarecimento do episódio. Guilherme Araújo foi um dos ex-funcionários da Excelsior que passaram para a TV Gazeta. Conta ele sobre o elo entre as emissoras: No dia 30 [de setembro de 1970] todos [da TV Excelsior] estavam apreensivos porque havia se constituído uma comissão de atores que foram para Brasília tentar negociar com o governo. Naquele momento parte do dinheiro que deviam para a família Simonsen era para colocar na Televisão Excelsior e liquidar todas as dívidas trabalhistas com o próprio governo. Acreditava-se muito nisso, tanto é que as distribuidoras de filmes e de shows que a Excelsior tinha na época renovaram. Ia começar em outubro uma nova fase de programação. Só que, infelizmente, no dia 30, para nossa surpresa, durante Adélia e Suas Trapalhadas foi retirado o cristal do transmissor, às 18h47. A única coisa que foi pedida foi para o Ferreira Neto agradecer. O Ferreira foi e agradeceu aos dez anos que a Excelsior ficou no ar. Acabou de falar, acabou a televisão. Choro para lá, choro para cá. Era um caso irreversível. Todos foram para o palco do Teatro Cultura Artística. Aí, câmeras, diretores de TV, apresentadores, jornalistas, enfim, todo mundo veio para a TV Gazeta. Veio também o departamento comercial. Não foi muito o volume [de ex-funcionários], porque na Excelsior você tinha novela, uma série de coisas. Já na reta final, muita gente tinha saído. Só os teimosos, como eu, ainda estávamos acreditando e fazendo. Isso foi uma coisa que aconteceu naturalmente: todo mundo veio. A Gazeta estava iniciando nessa época suas atividades, o pessoal veio procurar emprego e aqui ficou. Cada funcionário, individualmente, foi-se desligando de uma e passando para a outra. Atitude individual que acabou virando coletiva, sem caso pensado. Até mesmo artistas da Excelsior foram para a Gazeta. Como Clarice Amaral, Peirão de Castro e Vida Alves. Alguns a convite, outros pedindo emprego. Muitos da Excelsior foram para a Globo. Eu não tive vontade de ir, não quis me afastar de São Paulo. Vários outros foram para a Gazeta. Eu tinha amigos, dei um jeito e fui para lá. Fui individualmente – conta a apresentadora Vida Alves. Para alguns teve certa ajuda. Isso, porque, para evitar desemprego em massa, Júlio Barata, ministro do Trabalho à época, pessoalmente, cuidou do caso da Excelsior. Poucos receberam os atrasados, mas garantiram um novo emprego. Tudo sob a chancela do Contel (Conselho Nacional de Telecomunicações). A Revista Veja, em 21 de outubro de 1970, relatou o fato: Até a semana passada os funcionários das duas estações ainda denunciavam o desvio de equipamento (que consideravam como a única garantia que dispunham para receber os seus salários e indenizações atrasados). Nos encontros mantidos pelos representantes dos empregados e pelos sindicatos dos radialistas de São Paulo e Rio com os ministros do Trabalho (Júlio Barata), das Comunicações (Higino Corsetti) e da Justiça (Alfredo Buzaid) souberam da decisão oficial em conceder o uso do equipamento e dos retransmissores à Gazeta. Coube à TV Gazeta, em contrapartida, a responsabilidade de gerir a rede de emissoras da TV Excelsior em 196 cidades do interior de São Paulo, do norte do Paraná e do sul de Minas Gerais. Com o fim da Excelsior, as emissoras ficaram sem rede, à deriva por três semanas. Os equipamentos da Excelsior foram para um depósito na Barra Funda, que pertencia à Folha de S. Paulo. O Frias, na época, exercia no conselho [da Fundação Cásper Líbero] a presidência. Então, o que ele fez: algumas coisas que estavam lá, um carro de externa, umas máquinas de VT, como iam ficar paradas vieram para cá. Havia essa preocupação, uma vez que os equipamentos estavam jogados. Depois eles foram devolvidos para um depósito do INSS, perto do Anhangabaú – diz Guilherme Araújo, que também comenta sobre o desvio dos equipamentos: Tem um termo [jurídico] quando fica sob sua responsabilidade. É como na polícia, quando faz uma apreensão e fica sob sua custódia. Ele [Octavio Frias] não estava fazendo uma coisa que fosse irregular. Estava sob a custódia e responsabilidade dele. Tinha que responder sobre aquilo. Tanto que o ministério solicitou e foi devolvido. Não tinha nada de irregular. Ao invés de estar lá, jogado num canto, o equipamento estava em uso... e Preservado. Tudo foi devolvido, voltou tudo para o depósito do Frias. Depois o Marco Aurélio fez um investimento grande para comprar equipamento e tudo que viu de novidade foi comprado. Foi em 1971, um ano antes da implantação da TV em cores. O Marco foi sozinho, mais ou menos orientado pelo José Gomes, que cuidava da parte de engenharia. A TV Gazeta chegou a oferecer aos administradores da massa falida da TV Excelsior 3 mil cruzeiros de aluguel mensal dos equipamentos. Porém, a massa falida optou pela devolução do material. Sobre a rede, Araújo comenta: Tinha um anúncio que foi feito na Gazeta com o mapa de São Paulo, dizendo todas as cidades e que canais a Gazeta estava a partir daquela data entrando com o sinal. Mas não ficou muito tempo. Ainda conforme Guilherme Araújo, a TV Gazeta encontrou problemas com a rede. A emissora paulistana, que tinha dificuldades para manter sua programação local, se viu diretamente ligada a outro problema. Herdou uma rede heterogênea e ao mesmo tempo onerosa. De um lado, existiam retransmissoras que precisavam de manutenção constante, e, por outro, retransmissoras locadas (emissoras de propriedade de terceiros, que se afiliavam à rede, desde que a emissora cabeça de rede pagasse uma espécie de aluguel à afiliada). Acabamos chegando a um acordo com a Fundação e essa rede toda acabou indo para a Globo. Depois a Globo começou a ir para a rua e a mudar todo o sistema, fazer a rede dela, e foi mudando muita coisa. A Globo coloriu a imagem preto e branco da TV Excelsior... – conclui ele, ao falar sobre as semelhanças entre o estilo de programação da Excelsior e Globo (fator que muito contou para que o Contel autorizasse a mudança de comando da rede). Do lado da TV Gazeta, o resultado foi notável. Deu ferramentas aos novos funcionários, deu estrutura para voos maiores. A TV Gazeta foi a segunda chance para, aproximadamente, 70 ex-funcionários da Excelsior recomeçarem a fazer uma TV mais sustentável, com uma visão mais empresarial. Esses profissionais trouxeram a experiência, os erros e os acertos, e a análise de por onde seguiriam, evitando a falência. Aquela nova Excelsior, menor e mais comedida, recebia ainda o apoio de dois grandes grupos: Folha de S. Paulo e Fundação Cásper Líbero. A falta de estrutura dos primeiros dias da Gazeta foi substituída pela criatividade e vibração dos ex-Excelsior. Os funcionários das ‘Excelsiors’ esperam em breve a mesma euforia que agora domina seus colegas da Gazeta... (Revista Veja, 21/10/1970). O locutor Honoré Rodrigues conta que: Para socorrer aquele povo, e ao mesmo tempo para se socorrer, o Marco Aurélio começou a chamar uma porção de gente. Isso foi bom para todo mundo porque a televisão melhorou bastante. Veio um pessoal altamente qualificado. A partir daí, a TV Gazeta conseguiu, realmente, se solidificar e fazer história. Esse fato fez com que a Gazeta passasse a ser respeitada e vista como uma realidade, não mais como uma aventura. Muitos vieram bem naquele 30 de setembro, como relata Luiz Francfort: No mesmo dia em que fechou eu fui para a Gazeta com o David Grinberg. Passamos a trabalhar a partir desse dia. Viemos eu, o David, o Valentino Guzzo. Minha função? Era tudo, porque a televisão ainda estava para começar a funcionar. A Gazeta era bem pequena. Sílvio Alimari, o Tico, conta sobre seu início na TV Gazeta: Tinha uns 25 anos. Eu entrei em setembro de 1970. Nessa época veio como diretor artístico o David Grinberg. Eu era assistente de direção do David lá na Excelsior. O David recebeu uma proposta do Marco Aurélio. Ficou todo mundo desempregado lá [na Excelsior] e a gente correu para onde tinha possibilidade. Assim foi com um monte de gente: técnicos, produtores, todo mundo. Logo depois que eu entrei veio muita gente para cá de lá. Aqui era pequeno e em formação. Eu, por exemplo, vim e o David falou não tem ninguém de cenografia aqui, não tem nada, dá para te pôr e você toma conta aí e vai levando... Tomar conta era eu de mim mesmo porque só tinha eu. Então eu era contrarregra, maquinista, pintor, cenógrafo, assistente de estúdio, era tudo... Auxiliar de contrarregra foi o meu primeiro registro aqui. Era o primeiro a chegar e o último a sair. Da Excelsior veio o Cascudão: carro de externa, um ônibus com as câmeras de RCA, TK-45, tinha três câmeras e um switcher velho. Tinha pouquíssima coisa aqui antes. Só tinha um switcher que fazia programa e punha comercial no ar, da RCA. Depois de muito tempo é que se montou um master aqui. Em 1971, David Grinberg recebeu um convite para ir para a Rede Globo. Foi figura importante nessa fase que moldou a cara da TV Gazeta. Joaquim Loureiro passou a ocupar a superintendência artística, e Jurandyr Vilella se tornou superintendente-geral de operações. Nessa fase transitória, ingressaram na emissora o produtor Pierre Lagudis, vindo da TV Globo Paulista, e o diretor de TV Roberto Rodrigues Alves, ex-funcionário da Excelsior, que sabia operar muito bem os equipamentos do Cascudão. A massa falida da TV Excelsior requereu os equipamentos de volta em 21 de junho de 1971, sendo devidamente devolvidos conforme o combinado. Na mesma época foram comprados novos equipamentos pela TV Gazeta. 24. De Tavares de Miranda a Amaury Jr. Toda empresa tem uma figura folclórica. Na TV Gazeta não é diferente. Em sua história um verdadeiro personagem-chave habitava seus corredores e, claro, sua tela. O pioneiro, o pai dos colunistas sociais na TV brasileira: José Tavares de Miranda. Ele veio para a TV Gazeta com Marco Aurélio Rodrigues da Costa, ambos da Folha de S. Paulo. Na emissora assumiu a direção de jornalismo. Tavares de Miranda, uma notória figura do jornalismo da Folha de S. Paulo, sabia muito bem delegar poderes e sabia que nós conseguíamos tocar a coisa quando precisasse – diz Honoré Rodrigues. Sempre impecável, cabelos e bigode pretos bem-cortados. Era um homem da noite e, ao mesmo tempo, um bom debatedor de assuntos relacionados à política e à alta sociedade. Desde 1938 exercia a função de jornalista, tendo passado pelo Diário de S. Paulo, A Noite e depois Folha da Manhã (do Grupo Folha), onde ficou de 1946 a 1986. Gostava de falar corretamente e, como todo bom colunista social, apreciava os melhores coquetéis e bebidas. Por conta da fama de beber um pouco a mais, certa vez Tavares de Miranda se irritou no ar com um cantor. Entre outros detalhes, é o que nos conta Sílvio Alimari, o Tico, responsável pelo estúdio na época: Ele fazia dois programas. Tavares de Miranda, o Repórter, todos os dias, e Tavares de Miranda Especial, aos domingos. O diário era um programa menorzinho, em que ele ficava numa mesa e raramente entrevistava alguma pessoa. Dava mais notícias sociais, falava de economia, de tudo. Teve um fato curioso do Tavares de Miranda. Era no domingo e foi na época da implantação do colorido [TV em cores, em 1972]. Não lembro se era o primeiro ou um dos primeiros programas coloridos que ele fez. A gente estava mudando o cenário, ficou bonito, colorido, no estúdio do 4º andar. Era um programa especial. Na época, fazia muito sucesso o Ed Costa e sua Orquestra. A orquestra era o suprassumo e nunca tinha vindo na Gazeta. Foi um sacrifício para trazer a orquestra e montar lá no estúdio. Na abertura do programa, a gente combinou com o Tavares: o Ed Costa começa tocando, o senhor entra, agradece ao público e dá boa-noite. Agradece à orquestra do Ed Costa e chama o primeiro convidado. Mas aí foi o seguinte: a orquestra começou e veio a primeira música: Eu bebo sim, estou vivendo... Tem gente que não bebe e está morrendo! Aí o Tavares entrou assim: Para! Para tudo nessa p...! No meu programa ninguém vai cantar essa música não, para essa m.... Isso no ar! Ficou aquele clima. Subiu slide e saiu o programa do ar. Ele fez um escândalo e o Ed Costa saiu do programa! Aí ele voltou: Aqui no meu programa ninguém vai cantar essa música não, aqui não se fala em pinga... E o cenário vazio, sem orquestra, sem nada. Dirceu dos Santos, office-boy da TV Gazeta nos anos 1970, conta outra faceta do colunista: Ele gostava muito de novela, não perdia uma. Eu lembro que ele chegava na emissora para gravar o programa e tinha que começar e acabar antes da novela começar. Eu só ficava vendo a correria do pessoal da técnica, porque ele tinha um espaço de 15 minutos e ele fazia oito!... E encerrava o programa porque ia começar a novela. Outra coisa que marcou, para mim, foi numa época em que ele fazia o programa ao vivo. Ele estava fazendo e uma mosca – a gente percebia pelo vídeo – começou a passar, pousou nele e depois voltou a circular. O programa dele naquele dia, se não me engano, não durou 5 minutos. Ele fazendo o programa e aquele pontinho preto rondando. A mosca deu umas duas ou três passadas. Eu sei que na terceira ele pegou e deu um tapa na testa dele... E falou boa-noite e encerrou. Ninguém estava preparado para encerrar o programa! Tavares de Miranda, o Repórter tinha uma média de 15 minutos, um editorial. Já o Tavares de Miranda Especial era de uma hora de duração, com convidados. Ele fazia as perguntas e ficava lá de olhos fechados. Alguém chamava a atenção dele para chamar o intervalo e ele despertava, chamava o break. Ele deixava lá os debatedores ficarem debatendo. Menzir Ibraim foi câmera do programa e conta suas lembranças: No formato do Tavares de Miranda, o Repórter ele entrevistava uma pessoa só. Escolhia um convidado e passava o programa inteiro com ele. Inclusive a câmera esperava o Tavares na porta do elevador e vinha com ele e o convidado até o estúdio, à espera que ambos se acomodassem. Como o Jô Soares faz hoje... E a gente já fazia naquela época. O estúdio dos dois programas era no 4º andar. Depois foi transferido para o 8º andar [o programa também chegou a ser gravado no estúdio que existia na garagem do Edifício Gazeta, no subsolo]. O Tavares era muito engraçado. Lembro de uma passagem dele. Tinha uma quadra do lado do estúdio no 4º andar... E tinha uma vidraça muito grande colada. Eu falei para ele, pois tínhamos uma amizade muito grande. Professor, vou jogar uma bola. O pessoal está jogando. E ele: Pode ir, meu filho. E eu: Vou travar a câmera. Travei, porque não tinha corte de câmera [era sempre o mesmo ângulo]. Era uma câmera só. Inclusive, quem fazia esse corte de câmera era o Duarte... E eu falei: Duarte, uma câmera só. e fui jogar bola com o pessoal. Aí o couro tava rachando lá. E, de repente, eu olho para o estúdio e o homem está em pé! Eu não vou nem te dizer onde a câmera foi parar... Eu saí correndo. Já tinha mais de 5 minutos. Não cronometrei, porque o couro estava comendo no futebol. Nem vi a hora que ele levantou! Eu esperei, arrumei, aí subi a câmera para o rosto dele e falei: Poxa, professor... E ele: Não vai te acontecer nada, porque eu sou o diretor. Tomei uma suspensão de três dias por causa disso... E eu ainda falei e ele disse: Pode ir que eu não vou me mexer. Ainda abri um pouco o plano, dei espaço na lateral, espaço de cabeça. Era para não cortar se ele se movimentasse, mas não adiantou nada. No final dos anos 1970, Tavares de Miranda deixou a função de diretor de jornalismo. Stella Liberato, sua secretária (que também secretariava Marco Aurélio), recorda: O Sr. Tavares foi por dez anos o diretor de jornalismo da TV Gazeta. Na época do Sr. Fuad ele saiu da função. Apesar de gostar mais de fazer colunismo social, mexeu com ele sair da direção. Algo que marcou essa mudança foi que o Sr. Tavares deixou de pintar o cabelo e assumiu a cor natural. Ele tinha cabelos bem brancos. Mesmo assim, continuou a se vestir bem. Era um senhor distinto. Mas mesmo assim não deixou a TV Gazeta. Tavares de Miranda era considerado prata da casa, gostava muito da emissora. Saiu apenas em 1987, quando se aposentou definitivamente. No final da década de 1980, o jovem Marco Albuquerque, o Marquinho, conta sobre os últimos anos do jornalista na TV Gazeta: O Sr. Tavares já estava bem velhinho. De vez em quando, entre um intervalo e outro, chegava a cochilar. Mesmo cansado, não deixava de fazer o programa dele. Quando faleceu, em 20 de agosto de 1992, a Revista Veja noticiou dois dias depois: Criador do colunismo social paulistano, Tavares de Miranda trabalhou por 40 anos na Folha de S. Paulo, de onde afirmava ter sido demitido por não ser dúctil para escrever baboseiras. Criativo, lançou a moda que sobrepõe blazers clássicos aos jeans. Em uma época em que o mundo não era regido pelo politicamente correto, Tavares de Miranda, bengala em punho, saudava seus colegas de redação com um irreverente Alô, pederastas. Foi autor de seis livros de poesia, dois romances e um best-seller de etiqueta. Dia 20, vítima de mal de Alzheimer, em São Paulo. Apesar de todo o folclore que o rodeava, Tavares de Miranda era respeitado e admirado pelos colegas. Uma figura muito querida dentro da TV Gazeta e no meio social. Estar na coluna de Tavares de Miranda era sinônimo de status. O cronista Tavares de Miranda (que deverá ser chamado de Zé Tavares) é um must em todas as faixas que fazem o acontecimento social paulistano (quatrocentões, high-society, café-society, nescafésociety, para usar a tipologia de Dener). Zé Tavares é indispensável: os ricos consideram-no digno de confiança... O que ele escreve é o grande registro social de São Paulo. Com um sorriso, alguns grã-finos se explicam: Zé Tavares em pessoa é ótimo, engraçado, totalmente diferente de suas crônicas (Revista Veja, 13/10/1976). O gerente de programação, Guilherme Araújo, fala sobre o profissionalismo de Tavares de Miranda em seu colunismo social: O Tavares levava muito a sério o que fazia. Uma vez ele foi fazer o lançamento do Ford Corcel, chegou a entrevistar a diretoria da Ford e deram de presente para ele um Ford Corcel. Ele doou. Não aceitava receber nada, absolutamente nada para fazer as festas e as coisas da coluna dele. Ele escrevia aquilo com a alma, gostava do que fazia. Ele era de vanguarda. Não gostava de receber nada de vantagem. Se tivesse alguma, ele não fazia, não participava do evento. Ele é pai de Ana Tavares de Miranda, que produzia seu programa. Sua filha, aliás, chegou a ser apresentadora do programa Cara a Cara na TV Gazeta, após o diretor-comercial Carlito Adese acreditar que poderia sair dos bastidores. Hoje, Ana Tavares é uma das jornalistas mais respeitadas do país, tendo sido assessora do presidente Fernando Henrique Cardoso em seus oito anos no poder. O colunismo social esteve presente em outros momentos da história da TV Gazeta. Como, por exemplo, em Fato em Foco. O programa era apresentado por Ferreira Neto em 1974. E Estilo Ramy, de Ramy Moscovic, no final dos anos 1990. Mais um teve destaque, pois começou aqui e se transformou em um dos grandes nomes da TV brasileira: Amaury Jr. O programa Flash, com Amaury Jr., estreou em 11 de março de 1985, às 23h10. Na primeira edição Amaury entrevistou o designer de automóveis Anísio Campos, a apresentadora Hebe Camargo em sua casa no Morumbi, e outras personalidades. Teve produção de Geraldo Pires de Albuquerque e Guá Addad. Na primeira semana também passaram pelo Flash Tônia Carrero, Antonio Bivar, Paulo Autran, Telma Lipp, Silvio Lancelotti, o governador Franco Montoro, o vice Orestes Quércia e sua mulher Alaíde, a atriz Maria Zilda, Nicole Puzzi, Luís Carta, Pietro Maria Bardi, Carlinhos Salem, David Zingg, Vânia Toledo, Karen Rodrigues e muitos outros. O gerente-geral da TV Gazeta da época, Guilherme Araújo, conta: Numa época em que era superintendente-geral o José Roberto Maluf, chegou o Amaury Jr. com uma ideia para fazer um programa à noite. Ele tinha já um patrocínio, acho que já era o vinho Almadén. Esta vinícola ia bancar o negócio. Eu achei legal a ideia, fui falar com o José Roberto. Na época veio o tal do Alberto Maluf, que acabou entrando e participando. Mas o desfecho aconteceu comigo. Depois o José Roberto autorizou. Amaury Jr. vinha de São José do Rio Preto (SP). Chegou a apresentar programas na TV Rio Preto e trabalhar como repórter da TV Tupi, mas foi na TV Gazeta que ganhou notoriedade e projeção. É como ele conta em seu livro Flash Fora do Ar: Quando fiz a proposta à TV Gazeta para uma coluna eletrônica, houve grande relutância. A coluna social ainda sofria toda sorte de preconceitos e isso era compreensível. Num país de acentuada pobreza não era aceitável um espaço que consagrasse as pessoas pela altitude de suas contas bancárias, poucos percebiam que as colunas estavam num processo de transformação, reconhecendo mais o talento do que o dinheiro. Na Gazeta consegui apenas 5 minutos diários, tão pouco que é por isso que o programa foi batizado de Flash. em 20 dias, graças à audiência, já tinha 15 minutos, em menos de um ano fui para a Record. Em 1986 o programa foi para a Rede Bandeirantes, onde ganhou projeção nacional. Em 2001 foi para a Rede Record e depois para a Rede TV!, emissoras em que deixou de lado o nome Flash e assumiu o Programa Amaury Jr. O apresentador ainda criou a Revista Flash. Mas, antes do Flash de Amaury Jr., existiu outro Flash, cujo nome era de propriedade da TV Gazeta e posteriormente foi passado ao Amaury Jr. O primeiro Flash nasceu em 1974, com apresentação de Ataíde Teruel. Quem nos conta sobre o programa é seu produtor e diretor de TV, Mário Pamponet Júnior: O Luiz Francfort bolou um programa que se chamava Flash. Por incrível que pareça, quem bolou esse nome foi o Francfort, não o Amaury Jr. Ele teve a ideia e nós produzimos juntos. Depois eu passei a desenvolver sozinho o programa, com a supervisão dele. Lá, por exemplo, tinha algum documentário. Como um sobre Santos Dumont. Aquele eu escrevi para o Marco Aurélio, que era em função do aniversário do invento do avião. Eu tinha em meu arquivo particular algumas coisas do Santos Dumont, inclusive ele falando em francês na França. O Flash era uma revista feita com vários assuntos e uma série de coisas interessantes. Ficou no ar de 1974 a 1978. Eu realizava o programa, tinha que compilar assuntos semanais. Por se chamar Flash os temas eram abordados rapidamente. Se você tinha no máximo 5 minutos, era meia hora o programa. Você tinha coisas de 5 ou 10 minutos no máximo. Então esse era o formato do Flash. Dependendo do assunto, a gente pegava material do consulado. Como referência, o formato de Flash era próximo ao que hoje em dia existe no Tudo a Ver (Rede Record) com pequenos documentários e gravações curiosas. 25. Carlos Aguiar, o mister show Hey, hey! Um passo para ô.... su-ce-sso! – Esta frase com certeza lhe remeterá a ele, um dos grandes nomes do início da TV Gazeta. Ele tinha um público fiel e garantia bons pontos no Ibope para a emissora aos domingos. A voz um pouco anasalada, uma alegria contagiante. Como não lembrar de Carlos Aguiar, o mister show? Se a sua memória ainda não está fresca, com certeza agora ficará. Feche os olhos e lembre-se das belas panteras Lia, Edna, Zilu, Aline, Ângela, Zeti, Eliane, Rebeca, Leninha e Rosane. As bailarinas de Carlos Aguiar. Agora vá mais fundo. Lembre-se delas, em coro, cantando a canção que com certeza vai te remeter ao início de cada Programa Carlos Aguiar. Laialaiá, laiá, laialaiá... Lalalalaiá, lalalaiá... Chegou a hora, nós vamos cantar: Já está no ar, Carlos Aguiar! (Bis) Bate palma, bate o pé. O mister show é o que ele é! Saia da frente que ele vai passar Carlos Aguiar não pode parar! (Bis) Laialaiá, laiá, laialaiá... Lalalalaiá, lalalaiá... E com alegria, ele entrava no palco: Oi, oi, oi, oiêêê... Alô, alô, minha geeeentê. Berros, gritos, uma série de telespectadoras presentes no palco aplaudiam o Carlos Aguiar, que abriu na televisão brasileira não uma porta, mas um portão para a música sertaneja e a música nordestina. Sempre incentivou a música brasileira. Foi o primeiro programa da linha de shows da TV Gazeta, que estreou em 4 de novembro de 1970 com o nome São Paulo da Viola. Posteriormente tornou-se Boa-Tarde, Viola, quando seu horário era vespertino. E, em 1972, transformou-se em Show da Viola, nome que manteve até 1978. Mas para falar do Carlos Aguiar, precisamos relembrar um pouco de sua história. Carlos Aguiar nasceu em 1947 em Caiabu (SP), cidade próxima de Martinópolis, na região de Presidente Prudente. Foi lá que Aguiar, aos 14 anos, iniciou sua carreira artística como locutor no serviço de alto-falantes da cidade. Um ano depois foi contratado como locutor da Rádio Clube de Martinópolis, onde ficou até 1964. Foi chamado para ser locutor da Rádio de Presidente Prudente. Foi um passo para o sucesso: no final daquele mesmo ano, aos 17 anos, Aguiar veio para São Paulo e começou a trabalhar com o ator Amácio Mazzaropi. Trabalhou como programador do Rancho Alegre, programa do humorista na TV Tupi. A partir dali dividiu seu trabalho entre o rádio, como locutor, e a televisão, como produtor. Foi para a TV Paulista, canal 5, produzindo os programas de Chacrinha, Dercy Gonçalves e Juca Chaves. Estava lá quando a TV Paulista foi comprada e transformada em TV Globo. Começou a fazer sucesso como locutor do programa Patrulha do Sertão, na Rádio Piratininga... E foi ali que recebeu o convite do produtor Kleber Afonso para apresentar um programa na TV Gazeta. Aí, naquele novembro de 1970, começou o São Paulo da Viola. O programa ia ar aos domingos à tarde, num auditório improvisado no 4º andar. Kleber Afonso foi ser seu produtor. Quando as cores chegaram à TV brasileira, a TV Gazeta transformou o programa de Carlos Aguiar em colorido. Em 1972, nos jornais, falavase do Show da Viola: O programa colorido de maior audiência no horário, mostra o que de melhor existe na música sertaneja. Pouco tempo depois, o Show da Viola abriu espaço para a música nordestina, atraindo um público esquecido da metrópole paulistana. Aos poucos a viola sertaneja abriu espaço para outros instrumentos... e o enfoque neste novo segmento aumentou a audiência da TV Gazeta. A partir de 1973 o programa passou a ter uma garota-propaganda, Wilma, ex-jogadora de basquete da Seleção Brasileira. Aos poucos, o ator Kleber Afonso se ausentou da produção, ocupando-se com turnês de suas peças de teatro, e Wilma assumiu a produção do programa. O bom entendimento com Carlos Aguiar, suas boas sugestões, suas opiniões, tudo fez que além da parceria nascesse algo mais forte: Carlos e Wilma se casaram em 1975... E ela passou a usar o nome de Wilma Aguiar. Em 1974 Wilma sugeriu que Carlos Aguiar criasse um quadro destinado à música popular brasileira, que teve muito sucesso. A TV Gazeta passou por uma grande reformulação na programação em 25 de janeiro de 1978, seu 8º aniversário. Com Com isso, o Show da Viola se transformou em Programa Carlos Aguiar, tendo agora a música popular brasileira em geral como enfoque principal. Foi outra sugestão de Wilma Aguiar à direção da TV Gazeta. As músicas sertaneja e nordestina passaram a aparecer no quadro Coisas do Nosso Folclore dentro do programa. Havia ainda os quadros Só Sucessos, Um Passo para o Sucesso (grande bordão do apresentador) e Lançamento, que mostravam, respectivamente, as músicas já consagradas pelo público, as que estavam atingindo o topo das paradas e as lançadas no mercado fonográfico. Além disso, semanalmente um artista consagrado contava fatos pitorescos de sua vida e carreira no quadro Vida de Artista (hoje tão copiado pelas grandes redes). A equipe de produção de Carlos Aguiar contava com Wilma, Rubito, Amaury e Tony Auad, responsáveis pelos artistas convidados e pelas promoções do programa. A equipe também criou o Troféu Carlos Aguiar, aos grandes nomes do rádio, TV e música brasileira. A partir de 1979, o Programa Carlos Aguiar foi gravado no Teatro das Nações, na Avenida São João. De ao vivo virou gravado, mas não tirou a naturalidade e o jeito espontâneo de Carlos Aguiar. O aumento do público foi uma das principais causas da mudança. O Teatro das Nações ficava lotado pelas fãs do programa, nas noites de segundasfeiras (dia da gravação). E não dá para deixar de lado o júri do programa, que gerava polêmicas e grandes piadas: Garcia Gambero, Prof. Fernando Jorge, Tony Auad, Arethusa Nogueira, Severino Araújo, entre outros. Os aniversários do programa de 1978, 1979 e 1980 foram realizados no Ginásio do Pacaembu. Em cada ano um número aproximado de 18 mil fãs prestigiou Carlos Aguiar. Wilma Aguiar, a eterna companheira do apresentador, é quem nos conta mais sobre sua história: Eu entrei na Gazeta em 1973... O Aguiar já fazia o programa na Gazeta. Era o Show da Viola. Antes era jogadora de basquete da seleção brasileira. Fui apresentada a ele pelo Aucir, da churrascaria Eduardo’s. Eu e o Aguiar sempre nos demos bem. Tanto é que aquela amizade cresceu, nos casamos. Dentro do programa tinha corrida, passava turfe, corrida de cavalo lá do Jockey Clube. Era transmitido simultaneamente. O Aguiar estava no ar, mas o programa era interrompido para entrar a corrida. Era domingo de manhã. No programa vieram violeiros importantes da época – Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho, Zico e Zeca, Trio Parada Dura, Milionário e Zé Rico, Zé Betio... Eu comecei sendo garota-propaganda do programa dele... E metia • o dedo onde não era chamada! Dava sugestões, opiniões. Um dia • o Kleber Afonso foi fazer turnês e acabaram me colocando como produtora do programa. Na época os maiores patrocinadores do programa eram cafés. Tinha o Café do Ponto, Café São Bernardo, Café Serra Negra... Nós tínhamos patrocinadores café até demais, porque o programa era de manhã... E o Aguiar ia falando: Você vai acordando e tomando seu café. Tínhamos também a Tapeçaria Chic, que na época era a rainha de patrocinar os programas de televisão. O Aguiar ajudou também na divulgação dos grandes laboratórios da época. Eles patrocinavam o programa. Dorsay, que era o Vitasay, do Doril, hoje grande potência e que na época era pequeno. Quando o programa foi para o horário da tarde, começamos a competir com o Sílvio Santos, aos domingos, com duas horas de duração. Depois dei a sugestão de ser Programa Carlos Aguiar. Nessa época, surgiu no programa o Zé Luiz, que chamam de Diabo Loiro. Cantor de sucesso na época. Ele despontou no quadro Um Passo para • o Sucesso. O Amado Batista também começou no programa. O Aguiar sempre foi um comunicador popular. A gente tocava música sertaneja, música nordestina, que na época ninguém tocava. Quem fazia sucesso era Nastácia, Trio Nordestino, Dominguinhos, Luiz Gonzaga. Os artistas passaram a procurar o programar. Cada vez mais foi melhorando o nível, a ponto de a gente chegar a ter Fábio Junior, Elba Ramalho diversas vezes, Sidney Magal, Chitãozinho e Xororó... Os artistas faziam tudo o que o Aguiar queria, uma vez ele brincou com o Ovelha e perguntou para o público: Vocês querem o Ovelha pelado? E todo mundo respondeu: Queremos! Aí o Aguiar mandou o Ovelha tirar a roupa e ficar pelado. E ele realmente ficou! Aquilo foi manchete em tudo quanto é jornal. As festas do programa eram um sucesso, uma loucura. A primeira festa de aniversário que a gente foi fazer de externa, fomos gravar num salão de forró do Mário Zan. Metade do povo ficou do lado de fora e nós não tivemos condições de gravar. Foi aquela briga porque todo mundo queria entrar. Foi uma surpresa para a gente, até para os diretores da Gazeta. Foi um alvoroço. Teve que vir polícia, bombeiro, gente na rua gritando, chorando que queria entrar. Nós não tivemos condições de gravar. Foi em 1978. Tivemos que remarcar e fizemos o programa de aniversário na Gazeta, ao vivo e lotado de gente. Nossa sala de produção era no 8º andar, onde hoje é a Sala VIP. Hoje o Aguiar ficou na saudade para muitos artistas porque ele tinha as portas abertas para todos, sem distinção. Na Gazeta ele também apresentou o Telecatch... E lá também foi precursor, teve uma importância muito grande para a Gazeta, quando ela chegou a transmitir o Carnaval dos Clubes, durante muitos anos. Era transmitido do Palmeiras, do Corinthians, do São Paulo. A cada dia dois comentavam. Eu fazia um, o Carlos Aguiar o outro. O Aguiar sempre amou televisão, ele gostava muito mais do que rádio. O Aguiar deixou muita saudade. Tanto ele como eu amávamos a Gazeta. Em 1983, o diretor-geral da Rádio e TV Gazeta Alberto Maluf tirou do ar o Programa Carlos Aguiar. A alegação na época foi de que o comunicador não se enquadrava no perfil que a emissora adotava a partir daquele instante, menos popular. Carlos Aguiar faleceu de insuficiência respiratória, aos 41 anos, na capital paulista, em 22 de outubro de 1988. Encerrou sua carreira trabalhando na Rádio Globo, com o seu eterno Programa Carlos Aguiar. 26. Os primórdios do telejornalismo O telejornalismo da TV Gazeta começou um dia após a inauguração, com o Telejornal Gazeta, como já foi dito. Seu primeiro apresentador foi Fernando Pacheco Jordão, tendo Honoré Rodrigues como apresentador esporádico. Depois foi contratado o jornalista Geraldo Vieira, vindo da TV Tupi. Porém, o Telejornal Gazeta não era o único noticiário do canal 11. Pouco depois da inauguração começou o Telenotícias Brasul, com três edições diárias, de cinco a dez minutos cada. Era patrocinado pela empresa Brasul e apresentado por Maria do Carmo, locutora da Rádio Nacional de São Paulo (hoje Globo AM). Havia também A Grande Reportagem, produção de Pierre Lagudis, e Paulista 900, boletins informativos de cinco a dez minutos, apresentados por Ataíde Teruel, e veiculados durante intervalos da TV Gazeta. No jornalismo tinha ainda um programa de debates, o Sem Censura, produzido por Pierre Lagudis a partir de março de 1972, onde o entrevistado respondia a perguntas (formuladas por jornalistas da Folha e pela produção) repassadas ao réu do programa apenas com a locução de Honoré Rodrigues, que não aparecia em cena. E, desde 1970, marcava presença também o grande comunicador do rádio e pioneiro da crítica policial, Wilson Kiss, com o seu Polícia em Ação. Veio antes de Gil Gomes, Datena e similares. Posteriormente, ainda nos primórdios, veio o Teletipo, apresentado por Ataíde Teruel. A jovem Claudete Troiano chegou a fazer parte esporadicamente. Eu era bem nova, então me colocavam roupas mais adultas, sérias, para não dar problema nenhum com o Juizado de Menores! – conta Claudete. O mesmo aconteceu com Honoré Rodrigues, que também apresentou eventualmente a atração. Depois veio, também para o Teletipo, o jornalista Toledo Pereira – considerado o primeiro apresentador de telejornais da América Latina, com Imagens do Dia (TV Tupi de São Paulo, ainda em 1950). Toledo Pereira começou na TV Gazeta em outubro de 1970, apresentando o programa Caixa Forte, de Pierre Lagudis. Era um institucional da Caixa Econômica Federal com cara de informativo. Toledo Pereira era editor e apresentador do Teletipo. Fazia com tanta propriedade o telejornal e as crônicas políticas, que foi apelidado internamente de Senador. Saiu da TV Gazeta em 1975, assumindo a direção comercial da Rádio Mulher até falecer, em 2004. Os primeiros telejornais da TV Gazeta vinham com sua redação e pautas prontas da Folha de S. Paulo. Depois passaram a ser feitos dentro da TV Gazeta, de forma meio amadorística, na base da improvisação. O primeiro que deu um caráter mais profissional ao telejornalismo foi Léo Pessoa, vindo da Excelsior. Depois dele, Odon Pereira, Rui Rebelo, Guido de Sanctis e outros que não conseguiram encarar a difícil tarefa de manter um telejornal com poucos recursos. Quando a direção da TV Gazeta resolveu criar um telejornal mais estruturado, grandes nomes foram sondados, mas não aceitaram o convite. Marco Aurélio e Pierre Lagudis decidiram por chamar o locutor de cabine Honoré Rodrigues para assumir o jornal, com exibição de segunda a sexta e uma hora de duração. Posteriormente, diminuindo a duração do telejornal, a trabalheira continuou. Honoré ficou apenas na apresentação e na redação foi substituído por uma moça – que enfartou 15 dias depois por não aguentar o ritmo! Em 1977, o Teletipo se transformou em Jornal da TV, com apresentação de Zilda Brandão e Ataíde Teruel. Em 1978, Marly Aguiar ancorou a atração. Depois foi para a Globo, como atriz. Fez lá as novelas O Pulo do Gato, Pecado Rasgado e Memórias de Amor. Sua irmã, Márcia Aguiar, foi uma das primeiras repórteres da TV Gazeta. Ainda apresentaram telejornais da TV Gazeta outros nomes como Franco Neto, Jorge Helal, Antônio Carvalho, Sérgio Cunha, Guilherme de Queiroz, Paulo Covas, Pérsio Piratininga, Nelson Neme, Meire Di Lalo Duarte, Neusa Maria, Tony José e José Roberto de Souza. Posteriormente, em 1980, estreou Gazeta em Notícias, com apresentação de Denise Manna e Roberto Souza. Com direção de TV de Wladimir Duarte, Sílvio Alimari (Tico) e Percio Alacoque. A editorachefe foi Maria Auxiliadora, que por mais de dez anos ficaria na TV Gazeta como responsável pelo jornalismo. Tinha duas edições diárias. A jornalista Fátima Roggieri conta do seu início da TV Gazeta: Eu entrei na Fundação em 1979, como estagiária da Rádio Gazeta. Fui para a TV Gazeta um ano depois, em 1º de novembro de 1980. Eu sempre cruzava no elevador com a Maria Auxiliadora do Nascimento, chefe do jornalismo. Eu a conheci e ela me convidou para uma vaga que tinha aberto no telejornal. A gente tinha na época uma filmadora CPP, que era com filme. Fazíamos matérias em preto e branco, porque as coloridas demoravam muito tempo para ser reveladas... E a Gazeta não tinha laboratório. Ela só tinha laboratório preto e branco, no 4º andar. Então só as matérias especiais eram feitas em colorido. Depois a gente começou a trabalhar com U-Matic e tudo mudou, em cores. As quadruplex nessa época eram usadas nas transmissões de futebol e nos jogos. Eu lembro de uma matéria importante, quando a gente foi na Vila Euclides fazer o Lula com a primeira greve forte dos sindicalistas. Aí eles estavam contra a Globo. Teve aquela história: O povo não é bobo! Abaixo a Rede Globo! E a Gazeta foi tratada lá como se fosse a melhor televisão do mundo, porque a gente era pequenininha e eles se identificavam. A Gazeta também cobria muito os carnavais, os desfiles. A Maria Auxiliadora era muito ligada com o pessoal de carnaval. Éramos uma equipe superpequena, com 15 pessoas. Depois fui para o esporte e nunca mais saí. O telejornal Gazeta em Notícias tinha uma curiosidade. Na história do telejornalismo foi o único com uma abertura totalmente fora dos padrões hard-news de telejornais. As primeiras notas, tambores acelerados, lembravam músicas de noticiários. Mas o que vinha depois era curioso. Sorte é que se ouvia tudo apenas no encerramento do telejornal, para não comprometer sua credibilidade. A música se chama Cavalo- Marinho, do Quinteto Violado. Vejam a letra: Vem meu boi bonito, Vem dançar agora. Já deu meia-noite Já rompeu a aurora. Cavalo-marinho, Chega mais pra adiante. Faz uma misura Pra toda essa gente. Cavalo-marinho, Dança no terreiro, Que a dona da casa Tem muito dinheiro. Cavalo-marinho, Já deu meia-noite Dança na calçada, Que a dona da casa, Tem galinha assada. Cavalo marinho, Já são horas já. Dá uma voltinha E vai pro teu lugar. As imagens também eram diferentes do comum. Tirando os pontos da cidade, como o Museu do Ipiranga e o trânsito do centro de São Paulo, uma inusitada joaninha voava na abertura do telejornal! 27. Programas infantis e humorísticos O diretor Marco Aurélio Rodrigues da Costa tinha uma visão televisiva. Sabia que em televisão dois públicos são fáceis de atingir, se a programação for bem-feita: o infantil e os que gostam de humor (incluindo crianças nesse último também). Esses públicos são independentes dos tais vícios televisivos, de quem nem muda de canal de tanto que assiste. No campo do humor, fez ressurgir na TV Gazeta dois programas de sucesso na televisão paulistana: Miss Campeonato e Quartelzinho do Pé com Pano. O Quartelzinho foi o primeiro programa de humor da TV Gazeta. Surgiu em outubro de 1970. Era produzido, escrito, dirigido e interpretado pelo comediante Mário Alimari, conhecido pelo personagem Pé com Pano. Era um recruta maluco e ocioso que vivia num quartel cheio de colegas do mesmo tipo. Um Recruta Zero tupiniquim. Honoré Rodrigues comenta sobre o colega de emissora: O que o Mário fazia era um ato de muita coragem, vez que estávamos em pleno regime militar, sisudo e sério. E o tal Quartelzinho era uma sátira ao viver militar. Era de fato corajoso, principalmente porque o General, o comandante do quartel, era um ator... anão! Sílvio Alimari, o Tico, era produtor do Quartelzinho, além de sobrinho do Pé com Pano. Ele nos conta mais sobre a atração: O Quartelzinho do Pé com Pano surgiu na Excelsior como um quadro do Show Riso, em 1963. A Excelsior tinha um programa de humor chamado Show Riso, e tinha um quadro com o Renato Aragão, o Mussum, meu tio, Dedé Santana, Zacarias... Eles eram o Quartelzinho. Não era do Pé com Pano. Aí houve uma cisão e saíram da emissora. Só que meu tio ficou na Excelsior e aí montou este programa. Depois também saiu da Excelsior, foi para a Tupi. Lá o programa ficou três ou quatro anos no ar. Aí saiu da Tupi, foi para a Bandeirantes, voltou para a Excelsior e depois veio para a Gazeta. Inclusive a Excelsior foi lacrada lá momentos depois do programa. A gente fez o Quartelzinho, depois entrou o programa da Adélia Iório e aí o Ferreira Neto entrou e fez aquele depoimento para fechar realmente a Excelsior. Na Gazeta, o cenário era um muro de pedra grande com duas entradas: um muro de quartel. As ações aconteciam ali na frente. Depois com o tempo foi-se aprimorando um pouquinho. Tínhamos poucas condições... O Pé com Pano se envolvia com uma tribo de índios. Ia lá, enfrentava, era preso pela tribo. Eu lembro que teve um episódio em que ele foi salvar a Claudete Troiano, que tinha sido presa pelos índios. Na época ela trabalhava com a gente, também veio da Excelsior para cá com o Quartelzinho do Pé com Pano, depois é que ela ficou aqui fazendo outros programas. O Quartelzinho ficou até 1974, chegou a ter cores. Posteriormente Os Trapalhões criaram um quadro que lembrava o Quartelzinho do Pé com Pano, o quartel do Sargento Pincel (interpretado por Roberto Guilherme, comediante da época dos Adoráveis Trapalhões, quadro citado por Alimari, do Show Riso). No Quartelzinho do Pé com Pano quase todos os funcionários da TV Gazeta participaram. Eu era figurante, o que também fui no Miss Campeonato. O Tico também – conta o produtor Luiz Gomieri. Falando sobre este programa, o Miss Campeonato começou na TV Gazeta no início de 1971. Foi um programa de sucesso em diversas emissoras de São Paulo e Rio de Janeiro, tendo começado na TV Paulista em 1955. Quase todos os comediantes eram os mesmos do passado. O roteiro era de Aloísio Silva Araújo, com direção de Walter Gonçalves. No programa eram satirizados os campeonatos regionais através dos personagens que representavam os times. O espadachim do Corinthians, um industrial rico como o São Paulo, um português bigodudo como a Portuguesa e vários outros. O prêmio maior era uma mulher muito bonita que ficaria com o vencedor. Conta Luiz Gomieri: O objetivo do fim do Campeonato era a Miss, interpretada pela Lucimara Parisi. A mesma que depois foi trabalhar com o Faustão. Era uma senhora taça na época! Um avião! Se o Santos fosse campeão, ele se casava com a Miss, por exemplo. Cada integrante representava um clube. Tinha um corintiano, um palmeirense, um são-paulino... Cada semana tinha uma história no campeonato. Um time que não jogava, outro jogava e ia revezando... Era tudo palhaçada, brincadeira, gozação! Alguns veteranos faziam parte do programa. Como o Walter Ribeiro dos Santos, que era o Palmeiras, o Gariba, o Roberto Barreros e muitos outros. Gazetinha Como já foi dito, Claudete Troiano participou da TV Gazeta desde o fechamento da TV Excelsior, começando com o Gazetinha. Eu comecei em 1970 como apresentadora infantil do Gazetinha. Eu já trabalhava em televisão desde os 7 anos... E fui antes apresentadora infantil da TV Bandeirantes. Na Gazeta o programa era um pouco diferente. Não só apresentava como também entrevistava as professoras que faziam parte do programa... E tinha uma coisa no Gazetinha que era muito interessante: as crianças em casa acompanhavam o programa brincando junto com quem estava na TV. Isso porque existia uma programação predeterminada no Gazetinha que saía impressa em uma página do jornal A Gazeta. Era como a Folhinha, Estadinho. Uma sessão voltada à criança. Então, se tinha um desenho para colorir, eu falava no ar e a criança em casa pegava o lápis de cor e pintava também. Além de jogos, brincadeiras. Silvio Alimari, o Tico, que chegou a produzir o programa, conta: Tinha no Gazetinha um júri igual ao do Sílvio Santos. Ele julgava as atrações infantis apresentadas. Tinha um pedagogo e a Aparecida, também pedagoga. Quando a Claudete saiu, entrou uma Terezinha, que apresentou o programa por apenas seis meses. Aí foi tirado do ar. Completa o diretor de programação, Guilherme Araújo: A Edna Abdo apresentava o Gazetinha e quem dirigia era o Pierre Lagudis. No estúdio, a Edna tinha as mesinhas com as crianças e ia explicando como deviam ser feitas as tarefas, as quais eram publicadas no jornal. Era uma aula de jardim de infância. Tudo o que era feito saía numa página inteira do jornal A Gazeta. Ele se refere à segunda fase da atração, quando reestreou em 7 de janeiro de 1974. Nessa fase diversos professores faziam parte da atração... A principal responsável pelas aulas de pré-primário era a professora Edna Abdo. Também davam aula Eliane Dantas (inglês), Cecília Lobo (música), Mestre Suassuna (capoeira), Petrucia (artes)... E tinha ainda a psicóloga Dra. Áurea Pinheiro Roitman e o psicanalista Dr. Paulo Renato Bentivegna. O produtor e diretor era Pierre Lagudis. A atração tinha uma música-tema chamada de Hino do Gazetinha. Tinha linha melódica do consagrado Marcelo Tupinambá e arranjos de Cecília Lobo. Eis a canção: Vamos, vamos, amiguinhos Vamos logo a cantar a dizer a toda gente venham, venham, para nos ver. Vamos, vamos, coleguinha na escolinha aprender muita coisa bonitinha Gazetinha vai mostrar. O programa na década de 1970 ainda alterou seu nome para Clube Gazetinha. Um de seus quadros, mesclando informação com programa infantil, foi Telejornal Gazetinha, produzido por Geraldo Rodrigues, no qual as crianças o apresentavam. Conforme o produtor: Eu trabalhava, não tinha salário, não tinha verba de produção. Eu tinha que vender a publicidade e com a comissão eu cobria as despesas. Houve mês em que eu investia no programa mais da metade do que ganhava, e com esposa e dois filhos pequenos a situação estava começando a ficar ruim. Então eu preferi partir para programa feminino e comecei produzindo A Cozinha Maravilhosa de Ofélia na TV Bandeirantes. Alugar uma Kombi para trazer equipamento de um conjunto... Bem, saía do meu bolso. Dia de ensaio... Tinha que dar lanche para a molecada toda, claro, saía do meu bolso. Se tinha que dar um prêmio mais bonitinho, eu também comprava. A TV Gazeta daquela época, nos idos de 1972, 1974, 1975, não era como hoje. Era uma emissora bem menor. Mas valeu a pena, porque foi um aprendizado muito oportuno. Foi de lá que depois eu saí para conduzir a Ofélia na Bandeirantes; após eu produzi então o Forno, Fogão & Cia. para a TV Gazeta. Nos bastidores do Gazetinha existia uma curiosidade: a inusitada presença de um frade. Era frei Timóteo de Porangaba, que era frade na Igreja da Imaculada Conceição – próxima à TV Gazeta. Antes da inauguração da emissora, ele soube da implantação e ficou fascinado com a ideia. Fez de tudo para entrar na emissora. Participou da inauguração. Fez amizade com todos, depois ingressou na Faculdade Cásper Líbero para fazer jornalismo e só descansou quando foi chamado para a TV Gazeta oficialmente. Fez de tudo um pouco, mas no Gazetinha sua função era de consultor religioso do programa. Seu nome verdadeiro era Acácio, e ele só saiu da TV Gazeta quando a Cúria Metropolitana o transferiu para uma paróquia bem longe de lá. Palhaços No mesmo estilo do Gazetinha houve ainda no canal o Pullman Jr., que fez renascer uma atração de sucesso na TV Record décadas antes. Começou em 1980 e era apresentado na Gazeta, sob o patrocínio da Pullman, por Iara e Tio Fiore (ótimo desenhista, que fazia caricaturas e ensinava a criançada a desenhar durante o programa). Participaram ainda da atração os palhaços Torresmo e Pururuca, pai e filho, que também tiveram na Gazeta programa próprio que levava o nome da dupla. Torresmo (Brasil Queirolo) era um dos palhaços mais consagrados da TV brasileira, tendo feito parte dos primeiros programas circenses da TV Tupi, ao lado do palhaço Fuzarca. Nesta fase da Gazeta, Fuzarca já havia falecido. Houve ainda na Gazeta A Turma do Pipoca, com o palhaço Wandeko Pipoca, no início dos anos 1980. Nesse programa surgiram dois palhaços: Atchim e Espirro, respectivamente interpretados por Eduardo Reis e Carlos Alberto Oliveira. O palhaço Atchim conta sobre o Brincando na Paulista: Minha primeira experiência em televisão foi na TV Gazeta. Fazia parte do programa do Wandeko Pipoka. Eu e mais 15 palhaços participavam. Muita gente no programa. Trabalhei com o Wandeko Pipoka um ano e pouco. Aí o programa mudou. Teve uma reformulação. Ficamos eu e o Espirro, que na época tinha outro nome, pois trabalhava com o filho. A gente acabou montando a dupla. Aí trabalhamos com o Wandeko Pipoka por um ano e recebíamos muitas correspondências. Mandavam para Atchim e Espirro mesmo. Fazíamos esquetes, pastelão, torta na cara. Aí a direção da emissora teve um problema com o Wandeko Pipoka, se desentenderam, e o Guilherme Araújo nos chamou para dar continuidade ao programa. Foi aí que nasceu o Brincando na Paulista. O programa era bem assistido. Durante anos lideramos a audiência na TV Gazeta. Uma emissora que na época quase ninguém assistia, e conseguíamos dar 2, 3 pontos na Gazeta. Chegamos a dar mais audiência que o Mesa Redonda, que era o programa mais importante da casa. A gente começou a gravar no estúdio da Gazeta na garagem, que era bem pequenininho. Iam de 40 a 50 crianças. O sucesso foi tão grande, começou a vir tanta gente, porque anunciamos na televisão que passamos para o estúdio no 3º andar e depois fomos para o 8º andar. A Xuxa, quando vinha para São Paulo, assistia ao nosso programa. Um dia tocou o telefone na produção da Gazeta e era ela. Na hora eu não acreditei, achei que era gozação. Pedi o telefone e liguei, caiu na produção do Xou da Xuxa. Aí ela nos convidou para gravar no programa dela, para cantar a música Brincando na Paulista. Criamos uma grande amizade com a Xuxa. No final íamos quase duas vezes por semana... E aproveitávamos para divulgar a TV Gazeta dentro do programa da Globo. Fizemos essa parceria por quatro anos. Depois entramos para a turnê dela. Fizemos sucesso na Gazeta com músicas como Amigos pra Valer, Dança do Elefantinho, A Dança do King Kong (Ubalu, mim King Kong, dança, dança a dança do King Kong), King Kong e Seu King Konguinho (... Que bonitinho, King Kong com o seu King Konguinho), King Kong Faz Aeróbica, e Circo da Alegria (Chegou, chegou, tá na hora da alegria, o circo tem palhaço, tem, tem todo dia), nosso maior sucesso, que virou tema do programa quando fomos para a Bandeirantes. Ficamos na Gazeta de 1984 a 1988. Lembro que um ano fizemos a chegada do Papai Noel na Paulista. Os funcionários da TV Gazeta passaram o dia anterior inteiro enchendo bexigas! Eram 10 mil bexigas que seriam jogadas do prédio no instante da festa. Sei que a chegada do Papai Noel ia ser só ali na frente do prédio. Mas foi chegando tanta gente, que se expandiu além. Chegaram tantas crianças, com pais, mães, avós, que se estenderam da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio até a Rua Pamplona. O DSV, que era a CET da época, que cuida do trânsito, precisou isolar a área de mais de uma quadra enquanto chegavam mais e mais pessoas. Outra coisa que me chamou muito a atenção foi quando uma mãe mentiu para o filho, que estava muito doente, que • o levaria para o Brincando na Paulista naquele dia em que pretendia levá-lo ao hospital. Quando ele chegou ao hospital, começou a ficar pior. Aí ela ligou desesperada e arrependida na Gazeta e pediu que falássemos com o garoto pela TV. Felizmente isso era possível, já que • o programa era ao vivo. O garoto sarou. Com a ida da dupla para a Rede Bandeirantes, a Gazeta contratou o palhaço Tic-Tac, que havia feito muito sucesso na TV Cultura no Bambalalão. Por dois anos Tic-Tac deu continuidade ao programa. Ainda esteve na emissora também a dupla Patati e Patatá. Nos bastidores da TV Gazeta fez parte em seus primeiros anos um profissional que mais tarde se consagraria como a palhaça Vovó Mafalda, do infantil Bozo (Record e SBT). Era Valentino Guzzo, um dos primeiros diretores de programas da TV Gazeta. Capitão Arco-Íris Assim como os outros canais, a TV Gazeta também possuiu seu herói. O Clube do Capitão Arco-Íris ficou no ar de 1976 a 1979, e o Capitão era interpretado por Loriberto Rosa. À revista A Imprensa, de março de 1979, relatou: Uma das primeiras portas no início do corredor dá para a sala dos produtores. Na sala apenas uma mesa está ocupada, em cima dela um cartaz diz: Capitão Arco-Íris – produtor. Loriberto Rosa, ou Capitão, como é chamado por muitos, é o produtor e apresentador do programa infantojuvenil Clube do Capitão Arco-Íris. Loriberto conta que o Capitão Arco-Íris foi criado a partir da necessidade de se lançar um programa infantojuvenil, e também na carona de um assunto muito comentado na época – o aeroespacial. Loriberto nasceu em São Carlos e veio para São Paulo aos 15 anos. Aqui tentou ser locutor em rádios e enfrentou muitas dificuldades. Esta procura de emprego pelas rádios levou-o a fazer dublagens. Da dublagem ele foi para o teatro e depois para a TV. [...] É exatamente no dia a dia que o Capitão se baseava para fazer seu programa, no qual existiam quatro informativos, jogos, entrevistas, encenações, musicais... e um quadro que ele chamava de os palpiteiros, que nada mais era que uma sátira aos júris de TV, mas com inocência e sem maldade. Porque o mundo da criança é um mundo incrível, é o mundo da verdade. Eu vejo a criança, vejo a verdade. Também eu sou muito criança; às vezes, as próprias mães que traziam suas crianças aqui falavam que não era preciso trazer mais crianças, porque havia um crianção aqui. Fernando Oliveira, diretor de TV do programa conta: Era uma atração diária e ao vivo. Esse programa era interessante, porque quando começou a fazê-lo Loriberto era produtor e apresentador. Fazia tudo. Nós usávamos e tínhamos que sair correndo para procurar as fitas e os filmes em que apareciam imagens espaciais. Conversa aqui, conversa ali, a gente tinha amizade, eu tinha amizade na TV Bandeirantes e lá eu consegui vários pedaços de filmes sobre o tema. Fazíamos uma cinta para poder rodar em chroma-key, porque a história do programa se passava numa nave espacial. Ele era o Capitão Arco-Íris, pilotava uma nave espacial. Na época era uma programação inocente, não havia maldade. Hoje se falar Capitão Arco-Íris vão achar que a pessoa é gay. O arco-íris é a bandeira gay. Mas naquela época era por ser bonito, uma coisa singela. Então era Capitão Arco-Íris. Não tinha ligação nem com a importância das cores na TV Gazeta. Era um nome simpático. A roupa do Capitão Arco-Íris era um macacão igual ao de astronauta e um capacete. Ele chegava, conversava, tirava o capacete... E pilotava uma nave. O cenário era um painel de uma nave. À época foi até interessante. Tínhamos várias botoneras velhas e aproveitamos para montar o cenário. Foi montado de sucata. Das sobras do restante do equipamento fizemos uma nave espacial... E onde se rodava o chroma eram painéis que imitavam janelas, as quais eram pintadas de verde. O pessoal da iluminação sofria muito, porque o chroma tinha que ter uma boa iluminação. Televisão na década de 1970 era artesanal. Você dependia muito mais da criatividade de cada um para fazer uma coisa bonita. O Capitão Arco-Íris apresentava desenhos e nós tínhamos na época um programa educativo que vinha da TVE, e a gente usava muitas coisas, aproveitava matérias para ilustrar o programa. Era uma revista infantil. A gente tinha que rebolar para conseguir as coisas. Também convidávamos professoras de balé e suas alunas. Não tínhamos plateia. E, nesses casos, tinha aquele papo: Vamos descer para a Terra para ver como está? Aí fazíamos uns efeitos malucos. Era o tempo de ele vir, passar... Estamos aqui! E nós com aquelas câmeras grandes... Era um sacrifício! O programa Capitão Arco-Íris contava ainda com a participação de Leão Lobo, um jovem talento: Eu comecei em televisão participando do programa Capitão Arco-Íris. Eu tinha uns 20 anos. Existia dentro do programa a Vila Arco-Íris, em que cada jovem era uma cor e todos tentavam livrar a Terra da destruição, com o apoio do Capitão. Eu era o Verde, que protegia a natureza. Loriberto Rosa, na década de 1980, se afastou da TV Gazeta. Mas regressou posteriormente, na década seguinte. A produtora Célia Moreira, do Mulheres, relembra: O Loriberto era uma pessoa que todos gostavam. Ele voltou para a Gazeta e trabalhou como produtor até falecer, pouco depois de 2000. Ele adorava a TV Gazeta. Na década de 1990, a CNT Gazeta fez seu último programa infantil: Tudo por Brinquedo, com a apresentadora Marianne. Depois, nunca mais a TV Gazeta apostou numa programação infantil. 28. A censura militar A TV Gazeta nasceu na época em que os militares estavam no poder. Naquela época, os meios de comunicação passavam pelos olhos do Departamento de Censura Federal. Em cada emissora existia um representante para cuidar do processo com a censura. No caso da TV Gazeta, o responsável era Luiz Gomieri. O diretor-adjunto Luiz Francfort comenta sobre a época: O Gomieri tinha que fazer aqueles certificados, que vinham carimbados e tinham que entrar no ar antes de começar os programas. Mas nunca tivemos grandes problemas. Uma vez teve um fato até curioso. Havia um coronel que me telefonava e que me dizia: Olha, a moça que morreu no Mappin hoje, não aconteceu nada. Eu ficava sabendo que não podia informar uma coisa que eu nem sabia que tinha acontecido! [risos] Eles é que me informavam. É claro que nós nunca saímos da linha. A Gazeta não tinha nada de mais grave, de tocar nisso. O relacionamento sempre foi amistoso com a censura, mas ela existia... E muito forte. Sem certificado não ia para o ar e eles antes assistiam tudo o que ia. Para evitar problemas futuros, a TV Gazeta, assim como todas as outras emissoras, também fazia uma política da boa vizinhança com a censura. De vez em quando militares eram entrevistados e tinham espaço para falar no ar. Em 5 de setembro de 1970, por exemplo, foi ao ar o primeiro programa da série Pra Frente Brasil. Além de comemorar o 148º aniversário da independência do Brasil, o programa patriótico exaltava as forças armadas. Desde bandeira tremulando, músicas executadas pelas bandas do Exército, da FAB (Força Aérea Brasileira), entre outras. O na época office-boy da TV Gazeta, Dirceu dos Santos, conta: Teve até um fato engraçado. Quando eu era boy eu fui no Exército acompanhando o rapaz do tráfego de fitas para levar uma para lá. O Alfredo Borba era o rei da censura aqui na Gazeta, porque ele falava de política, temas variados, calouros. Era a fita do programa dele que levávamos naquele dia. Chegamos lá e o assessor do coronel pegou a fita. Era uma quadruplex. Uma caixa pesada, enorme. Ele abriu a caixa e tirou um carretel enorme, pesado... E foi olhar contra a luz para ver se não tinha nada de errado! Eu quase que ri, mas não podia rir. Ele puxando a fita era a mesma coisa que você pegar uma fita VHS e tentar ver. A fita é magnética, não dá para ver quadros nem imagens. Ele abriu e colocava contra a luz para ver as imagens! Todos os programas eram assistidos com antecedência e iam para a censura que emitia aquele certificado. Luiz Gomieri, o responsável da censura da TV Gazeta, comenta: Toda emissora era obrigada a ter um departamento de censura e ter um controle junto à Polícia Federal. Tinha que fazer um roteiro prévio para eles, que liam, aprovavam ou não, com ou sem cortes. Todo programa você tinha que avisar que ia acontecer, porque mesmo sendo ao vivo tinha o nome do entrevistado. Era uma pré-pauta. Era total responsabilidade da emissora. Muitos enroscos aconteceram com isso. Porque você programa uma coisa e o entrevistado faz outra. O jornalístico Sem Censura, que inclusive o Pierre Lagudis era o produtor, tinha problema quase que semanalmente com a censura. Eu tinha muito jogo de cintura lá na censura. Era direto, fazer amizade, meu amiguinho fulano, cicrano, quebra um galho aqui e ali,... Isso aqui eu prometo que não vai dar certo,... Não, pode liberar, mas libera, a gente corre o risco, mas não vai acontecer... Na censura federal quase sempre eram os mesmos censores. Lembro da Arlete e da Maria Aparecida, que olhavam os casos da TV Gazeta. Elas se revezavam. Normalmente eram cinco censores, mas com frequência eram as duas. Elas até vinham à TV Gazeta assistir às fitas ou levá-las para lá. Eles tinham o aparelho para ver. Mas 90% das vezes elas vinham na emissora. A censura ficava na Rua Xavier de Toledo, perto da Avenida 9 de Julho. Minha sala, da censura, era no 5º andar da Fundação. Mas a primeira, antes dessa sala, foi no buraco do elevador. Eles estavam planejando ainda a estrutura do prédio e me colocaram num elevador que até hoje existe e está desativado o fosso. Então nesse fosso eles colocaram vigas, tapume e era uma sala. Aliás, virou uma sala! – Luiz Gomieri se refere a um dos fossos existentes no prédio. Com a mudança no projeto original do Edifício Gazeta, algumas coisas foram modificadas ou desativadas. Foi o caso desse fosso, que, aos poucos, foi ocupado por novas alas do prédio. Em outro fosso hoje passa toda a parte elétrica e cabos do prédio. Eles abastecem o servidor e a rede de computadores interna. Mas Gomieri continua: – Nunca teve perseguição nenhuma à TV Gazeta. Pelo contrário, sempre fomos bem tratados lá no Dentel e na censura federal. 29. Esporte é no 11 A TV Gazeta começou sua programação com dois verdadeiros boletins esportivos, chamados Resenha Esportiva e Ducal nos Esportes em janeiro de 1970. Dois meses depois, em março, ambos se misturaram transformando-se em Mesa Redonda Esportiva, também chamada de A Gazeta Esportiva, com duração de aproximadamente 15 minutos, sendo exibido de segunda a sexta, próximo das 20 horas. O objetivo principal era trazer os profissionais da crônica esportiva da Rádio Gazeta. Tanto é que nessa época o comandante da mesa era Darcy Reis. Seus convidados eram regularmente Milton Peruzzi, Geraldo Blota (o GB), Juarez Soares, Loureiro Júnior, Domingos Leoni, Flávio Iazetti e Pedro Luiz. Passou a ser exibido às segundas-feiras, com o nome de Onze na Copa – afinal, o Brasil já vivia o clima pré-Copa de 1970. Começou no país uma polêmica enorme. Aquela coisa do Pelé que não enxergava direito, Tostão era vesgo, um era cego, aquela polêmica toda. Aí resolveram fazer um programa para discutir isso. Deu certo, mas tão certo, que marcou época. De um especial que apenas debateria a Seleção Brasileira, tornou-se uma Mesa Redonda, programa que existe até hoje – conta Silvio Alimari, o Tico. E o programa deu certo. Aí, com o final da Copa do Mundo, a saída de Pedro Luiz (que foi para a Rádio Globo) e do Darcy Reis (que foi para a Bandeirantes), o programa se transformou em Mesa Redonda: Futebol é com Onze (e no final dos anos 1970 tornou-se Onze nos Esportes). O comandante passou a ser Milton Peruzzi, cujo sobrenome na verdade era Peruzzo. Ele foi criador da famosa expressão tudo acaba em pizza. Quem conta é seu filho Milton Peruzzo Júnior: No final da década de 1950 o papai era setorista do Palmeiras. Ele estava aguardando o final de uma reunião de diretoria e o pau ia quebrar. Tava quebrando o pau e o papai precisava mandar a manchete para a Gazeta Esportiva. Porque era Mesa Redonda, rádio, e tinha A Gazeta Esportiva. Às 7 da noite nada da reunião acabar, 8, 9... E o pessoal cobrando: Peruzzi, a manchete. A prensa vai rolar, preciso da manchete. De repente termina a reunião, sai todo mundo abraçado e foram para uma pizzaria ali perto da Rua Turiassu. Meu pai falou: Escuta, o que aconteceu? Vocês iam se matar lá dentro. Não, fizemos um acordo, tá tudo tranquilo, agora venha conosco para a pizzaria, que tal comer uma pizza? Você está convidado. Meu pai parou, pensou, ligou para A Gazeta Esportiva e falou: Manchete do dia seguinte: e tudo terminou em pizza. Entraram depois para o time o locutor Peirão de Castro, o repórter Rubens Pecce, Wilson Brasil, José Italiano, Dalmo Pessoa e Roberto Petri. Posteriormente, Armando Gomes, Alfredo Borba e mais três profissionais que surgiram no programa: Galvão Bueno, Flávio Prado e Dr. Osmar de Oliveira. Conta Galvão Bueno: Eu participei de um concurso, foi em 1974. Eles estavam buscando novos talentos. Buscavam um narrador, buscavam um comentarista, buscavam um repórter. Eu me lembro que nós fomos, saímos, no meu caso que era comentarista, de mais de 300 para três finalistas. Eu tive a chance de ganhar o concurso que me abriu as portas para uma nova carreira. Na minha vida é muito especial, porque foi o primeiro programa de televisão que eu fiz. O [formato de] Mesa Redonda começou no Rio de Janeiro antes, onde ganhou importância. Começou com o Armando Nogueira, o João Saldanha e o Nelson Rodrigues. Era a Mesa Redonda Facit (TV Rio, 1963). O Mesa Redonda é um debate esportivo... E bem apimentado! Sobre o formato, conta Roberto Petri: A preocupação era colocar 11 na mesa. Vejam vocês, 11 na mesa mais o comandante eram 12! Às vezes era o comandante mais dez, e a gente entrava quase quando a novela terminava, novela da Globo, às 21h30, e ficávamos até meianoite. Quando era muito polêmico mesmo ia até meia-noite e meia. Não tinha nem horário fixo! Completa Fernando Solera, que ainda participa do programa: A Mesa era feita às segundas-feiras. O programa sempre foi muito quente, sempre foi de debate muito acalorado. Eu me lembro que houve uma noite em que as pessoas estavam discutindo, todas falando ao mesmo tempo de tal maneira, que o Petri, apresentador do programa, pediu: Silêncio! Silêncio! Silêncio! Silêncio! Para! Chega! Calma! Ninguém ouviu. O que ele fez? Subiu na mesa! Saiu da cadeira, subiu na Mesa e falou: Paaaaaaareeeeem com isso!... E foi um dos momentos que me marcaram muito. Sobre esse clima quente, Flávio Peruzzo, filho de Milton Peruzzi, resgata uma recordação do pai: Eu cansei de ver meu pai pedindo comercial às pressas, porque o GB pegava a cadeira para dar em cima do Peirão e assim por diante, quer dizer, tapa na mesa, voava caneta a toda hora. Os cameramen ficavam loucos, porque tinham que pegar as coisas. Alguns participantes ou convidados levantavam, saíam... E deixavam o programa! E o sucesso do programa na televisão vinha não só de sua espontaneidade, mas também devido ao sucesso que tinha o programa Disparada nos Esportes, da Rádio Gazeta AM, organizado pelo mesmo time de comentaristas. Foi um dos maiores sucessos do rádio paulistano nas décadas de 1970 e 1980. O povo inteirinho assistia à gente. Você saía na rua no dia seguinte, parecia um papa acabando de rezar uma missa: Olha o GB!, Olha o Zé Italiano, ô... Corintiano!... Chora fulano! – lembra Geraldo Blota (GB) – cronista esportivo e também irmão do apresentador Blota Júnior. A receita de sucesso do Mesa Redonda se deve também ao que Milton Peruzzo Júnior conta: Meu pai falou: Para esse programa ter credibilidade, para passar para a audiência o que eu quero, de paixão, de vontade de falar de um assunto tão cativante, é preciso que cada um assuma seu time. O papai era um palmeirense assim, com sangue verde. Eu acho que foi o jornalista que mais brigou, que mais vivenciou as crises do Parque Antarctica. E isso realmente acontecia. Cada um era praticamente a personificação de um time. Peirão de Castro, o eterno santista (que tinha uma frase célebre: Amo três coisas no mundo: minha mulher, meu filho e o Santos Futebol Clube); Zé Italiano, o corintiano (assim como GB); Milton Peruzzi, palmeirense de carteirinha. No futuro o mesmo aconteceria com Roberto Avallone, do Palestra, e seu rival Chico Lang, amante do Corinthians. Naquela época eram verdadeiros amantes do futebol. O calor era algo muito grande, o nível emocional idem. Era uma mesa- redonda de amigos, que não debatiam, mas discutiam futebol. Sobre esta emoção, Rita Italiano, filha do Zé, conta: Meu pai estava bem doente, de cama já, quietinho, fraquinho. Um dia eu cheguei em casa e ele estava vendo um jogo de futebol com o volume mudo, narrando o jogo. Eu fiquei quietinha na porta do quarto, e ele de costas para mim, narrando. Aí, assim que tive uma chance, eu falei: Oi, pai, tudo bem?... E ele falou: Eu não posso perder o jeito. Tô trabalhando. Zé Italiano inclusive narrou muitos jogos pela TV Gazeta, assim como Peirão de Castro. Falando no santista, hoje ele dá nome à sala de imprensa do Santos Futebol Clube, na Vila Belmiro, devido à sua importância. Sua amizade com Pelé fez com que a TV Gazeta tivesse a visita constante do Rei em seus programas. Em 8 de outubro de 1974 e em 21 de novembro de 1978 foram gravados dois especiais na casa de Pelé. No último, com exclusividade, Peirão conseguiu que Pelé desse sua primeira entrevista após encerrar sua carreira. Recentemente, em 2008, o Mesa Redonda repetiu a ideia. Milton Neves, que também fez suas primeiras aparições em TV no Mesa Redonda, afirma: Se a Mesa tivesse desaparecido, talvez essa semente tivesse destruído a floresta que temos hoje de mesas-redondas; na televisão aberta e fechada, o que tem de mesa-redonda é uma loucura. Aquilo que era considerado brega, démodé, hoje é um sucesso. Hoje o formato do Mesa Redonda está em todas as grandes redes. Em 1985, Roberto Avallone modificou o programa, transformou-o em Mesa Redonda: Futebol Debate, tirou a atração das segundas e colocou-a aos domingos. Conta Chico Lang: O domingo não era um horário nobre. Era tudo jogado assim... Ao léu. Aí nós transformamos o horário de domingo num horário nobre. Esse é o mérito que a televisão tem que dar para o Avallone, porque foi ele que transformou. Regiani Ritter enfatiza sobre o programa: Ele é insubstituível nas noites de domingo. A história do Mesa Redonda é uma história que não tem começo, não tem meio e eu acho que é interminável. Estamos na era do plasma, da TV digital, e o Mesa Redonda não acaba. Os programas se modernizam e o Mesa Redonda é igual. Fátima Roggieri, editora-chefe, opina: A gente vê a repercussão do programa até nos estádios. Já vi a torcida inteira gritando Chico Lang, veado! [risos]. João Batista de Souza, diretor do programa: Recentemente até o Washington Olivetto, dando uma palestra na Mastercard, disse que de cinco programas que o cliente deveria anunciar, um seria o Mesa Redonda. Ele disse que, mesmo zapeando, sempre alguém coloca um pouquinho no Mesa Redonda para ver quem está lá, o que está sendo discutido. Eu acho que isso é muito interessante. Grande é o time que surgiu no Mesa para a TV. Além dos já citados, há outros, como Wanderley Nogueira, Mauro Beting, Cléber Machado, Mariana Godoy, Hélio Alcântara, Renata Figueira de Mello, Wânia Westphal, Mário Bernardes, Débora Menezes, Ana Paola, Drica Lopes, Flávia Cavalcante, Michelle Gianella, Celso Cardoso e muitos outros... E repórteres como Luis Henrique Gurian, Alexandre Silveste, Adriano Dolph, Marcos Garcia, Osmar Garrafa. Uma seleção! Mariana Godoy, garota-propaganda do Canal + no Mesa: Eu comecei fazendo propaganda do Canal +, a primeira operadora de cabo do Brasil, em UHF, dentro do Mesa Redonda. Gostaram de mim no vídeo e fui chamada para fazer outras propagandas. Foi em 1988. Depois disso, fui para a produção do programa, onde fiquei mais. Também saía para fazer algumas reportagens para o Mesa. Um dia o Osmar de Oliveira me viu no ar e me convidou para a Manchete. Fiquei lá até ir para a Globo, onde estou até hoje. Mas eu comecei em TV na Gazeta. Foi a minha primeira emissora. Agradecimentos: Aproveito para agradecer o apoio do grupo Délio Santiago, Felipe Zboril, Henrique Peres, Juliana Mello, Rafael Torres, que cedeu muitas das declarações aqui presentes, realizadas para o documentário Mesa Redonda: a História do Futebol Debate. Canal do esporte A Gazeta já foi o canal do esporte muito antes da TV Bandeirantes, da SporTV, da BandSports. E esse é que era o grande diferencial de seus primeiros anos. Veja este trecho de matéria da Revista Veja, em 13 de junho de 1973: Outra emissora paulista que fez do esporte não apenas prato forte de sua programação, como a sua própria tábua de salvação, foi a TV Gazeta. Praticamente sem nenhum programa que não seja esportivo, a emissora, que tinha um Ibope em torno de 1%, adotou a tática das transmissões de todo e qualquer acontecimento esportivo: das corridas de motocicleta ao futebol de salão, partidas de tênis, corridas de cavalos, campeonatos de judô, polo a cavalo... Hoje, 90% da sua programação é dedicada ao esporte – e já não lhe faltam as generosas verbas dos patrocinadores. O câmera José Maria de Freitas, o Mosquito, na época em que era motorista da Fundação Cásper Líbero, conta sobre as transmissões esportivas: Nós tínhamos um serviço de transporte muito bem administrado. O encarregado era o Sérgio Felipe dos Santos, que sabia esquematizar bem com o povo da TV Gazeta como seriam feitas as transmissões esportivas. A gente tinha que fazer a emenda. Sabe como? Por exemplo, o jogo era na Vila Belmiro, em Santos. Descia para lá um motorista e a carreta da Gazeta que gerava as imagens. Aí quando estava na metade do primeiro tempo, descia para a Baixada outro motorista. Terminando o primeiro tempo, o que já estava lá subia com a primeira fita para colocar no ar o 1º tempo do jogo. Quando terminava o 2º tempo subia para São Paulo o outro. Quando tinha trânsito era um nervoso! Não dava apra atrasar. Quem assistia em casa achava que era fácil: o jogo lá, completo, com um tempo, depois outro logo em seguida. Mas dava um trabalho transportar aquelas quadruplex. Essas transmissões eram uma aventura. A importância do esporte Flávio Prado vai contar uma história que transparece o espírito esportivo não só do Mesa Redonda, mas da TV Gazeta e da Fundação Cásper Líbero. É sua história de vida. Eu comecei minha carreira por causa de A Gazeta Esportiva. Aliás, eu não comecei minha carreira. Eu virei jornalista por causa d´A Gazeta Esportiva. Eu trabalhava na feira, era um menino de periferia (eu era da Penha, que hoje não é muito periferia, mas na minha época era). Não tinha ônibus direto para o centro. Tudo era tão longe. Eu era muito são-paulino na época. Aí teve a final do Campeonato Paulista de 1967. O São Paulo jogava por uma vitória contra o Corinthians. Eu fui ver esse jogo, o São Paulo estava ganhando. Faltando 15 segundos, aproximadamente, tomou o empate e perdeu o título. Fez a final com • o Santos e perdeu. Aquilo foi um choque para mim. Eu voltei para a minha rotina, fui para a feira. Não recebia dinheiro. Eu recebia em mercadoria. Um dia o cara me pagou em cacho de bananas. Naquela época se embrulhava banana com jornal. Aí eu abri e, quando eu vi o jornal, tinha uma coluna chamada Esses Malditos Gols de Dezembro. Essa coluna retratava que vários gols aconteceram nos últimos minutos envolvendo times que não ganhavam títulos há muito tempo, como era • o caso do São Paulo, do Água Verde, do Paraná e do Botafogo do Rio. Por sinal, todos tomaram gols no fim. Era uma coisa fantástica, escrita por um cara chamado Horácio Marano, que era um redator fantástico d´A Gazeta Esportiva. Quando eu li aquilo, eu chorei para caramba! Era o título de uma foto de um cara saindo desmaiado com a camisa do São Paulo. Quando vi aquilo, mostrei para o meu pai e perguntei: O que é isso aqui? Esse cara é jornalista. É isso que eu quero fazer na minha vida, então!. Veja como isso foi importante para mim. Naquela época, na periferia, você não sabia o que era ser jornalista. Ou ia ser torneiro mecânico ou trabalhar em fábrica. Graças a essa matéria eu descobri minha profissão e até hoje sustento a minha família com ela. Depois cursei a Faculdade Cásper Líbero. Fiz um teste em 1974. Teste que foi criado pelo Roberto Petri, superintendente da Rádio Gazeta. Era um teste aberto ao público. Eu fui reprovado, porque estava com pneumonia – até aquele momento eu não sabia. Tossi para caramba. Eles queriam um repórter e um comentarista. Quem foi escolhido foi o Galvão. O repórter foi o Reinaldo Simmi, que ficou um tempo, mas o negócio dele era trabalhar com venda de carros e achou que ganharia mais fora da Gazeta. Quando ele saiu, o Roberto Petri fez um novo concurso, só com os alunos da Cásper Líbero. Eu estava no 3º ano. Aí participei e fui escolhido. Fiz estágio e no começo de 1975 fui contratado. Desde 1973 eu já fazia estágio aos finais de semana n’A Gazeta Esportiva e trabalhava na rádio ABC de Santo André. Entrei naquele concurso da Gazeta para ser repórter. No dia não era para eu ser contratado. Isso, porque o Geraldo Blota, que tinha desistido de ser repórter, voltou. Mas três dias depois o Paulo Vitor teve um infarto durante a São Silvestre e precisaram de um novo repórter. Aí, quando eu estava na Gazeta em 1975, cobri a Federação Paulista de Futebol. Numa dessas séries de Mesa Redonda, às segundas-feiras, mais especificamente Mesa Redonda: Futebol é com Onze, cheguei com a notícia numa reunião que se estendeu pela tarde inteira. No começo da noite, quando eu cheguei, o Milton Peruzzi disse: Entra e dá você a notícia. Aí eu entrei, dei a notícia, alguém contestou e eu discuti com essa pessoa. O Peruzzi achou maravilhoso: um moleque folgado discutindo com aqueles monstros da TV. A Gazeta tinha uma equipe fantástica. Eu tinha 20 anos. Aí ele me convidou para vir toda semana bater boca! Eu era muito folgado. Tive uma discussão pesada com o Wilson Brasil. Ele se retirou do programa e depois voltou. O Milton Peruzzi achou aquilo maravilhoso. Aí fui contratado efetivamente, comecei a fazer alguns jogos para TV, fazia uns VTs. Fiz alguns jogos fora e fiquei até 1977. E o meu sonho? Eu era ouvinte dessa equipe na Rádio Gazeta. Tinha • o Barbosa Filho, Milton Peruzzi, Roberto Petri, Rubens Pecce, Geraldo Blota, uma tremenda equipe. Meu sonho era ser repórter dessa equipe! Aquilo para mim parecia um sonho dourado, uma coisa de outro mundo. Tinha um monte de gente começando: Oswaldo Maciel, Wanderley Ribeiro, Jota Júnior... E eu convivendo com aqueles caras de quem eu era fã. Depois não sei se teve um desacerto qualquer do Peruzzi com a casa, mudou o diretor, e depois morreu outro diretor da TV, o Marco Aurélio, de acidente. Aí o Peruzzi, depois da morte dele, foi para a Record e levou quem ele podia. Eu e o Galvão fomos com ele. Fiquei depois dez anos na Record e outros três na Bandeirantes, aí, em 1990, fui para a TV Jovem Pan e Rádio Jovem Pan. Quando acabou a TV fui para a Cultura, e aí voltei para a Gazeta em 2003. Quando me chamaram, não pensei duas vezes. Nunca pensei que um dia comandaria • o Mesa Redonda. Meu sonho era apenas ser repórter. Por aí dá para sentir quanto é importante a Fundação Cásper Líbero para mim. E aquele jornal de quando eu trabalhava na feira? Quando eu estava na TV Cultura, encontrei o Geraldo, que hoje trabalha na chefia de A Gazeta Esportiva e trabalhou comigo lá na Barão de Limeira. Contei a história para ele. Aquele jornal embrulhado eu joguei fora. Passado um tempo, ele me deu um quadro com essa matéria e hoje está na entrada da minha casa, com a assinatura do Horácio Marano – que eu fui buscar lá em Jundiaí. Eu agradeci a ele por me dar esse curso e ele escreveu assim: Eu dei só o pontapé inicial, mas os gols foram todos seus. 30. São Silvestre A TV Gazeta desde sua inauguração primou por transmitir o principal evento promovido pela Fundação Cásper Líbero: a Corrida de São Silvestre. A prova era realizada desde 31 de dezembro de 1924 pela A Gazeta Esportiva e em 1970 passou a ser transmitida pela TV Gazeta. Antes disso, a TV Tupi chegou a transmiti-la. Mas nos primórdios do canal 11 transmitia-se ao vivo a largada e a chegada da prova, em frente ao Edifício Gazeta, e o restante da prova era mostrado através de fitas gravadas regularmente por 16 câmeras espalhadas em lugares estratégicos do percurso. Cada novo trecho de fita que chegava era colocado no ar, dando sequência à transmissão. Era uma dificuldade muito grande. Principalmente porque a prova era próxima da meia-noite do dia 31 de dezembro, bem perto da hora do ano-novo. E por ser à noite, era difícil ter uma boa qualidade de iluminação nas imagens focalizadas da prova – conta Sílvio Alimari, o Tico. Depois da prova, praticamente no horário do réveillon, acabávamos nós, da Gazeta, comemorando a passagem do ano juntos. Isso, porque não era rápido para desmontar todo o esquema montado para a transmissão da São Silvestre. Só depois é que íamos para casa comemorar a passagem do ano com nossas famílias – lembra a auxiliar de divulgação, Nina (Regina da Glória Lopes). E os funcionários da TV Gazeta gostavam de criar para aprimorar a transmissão: Eu propus lá por 1974 que fizéssemos a transmissão por balão. Aí ficaria um cameraman do alto focalizando tudo. A direção concordou, mas depois voltou atrás. Ficaram com medo de que o peso do equipamento ou a atitude de algum engraçadinho de atirar no balão comprometesse não só a transmissão como a vida do profissional. Hoje a Globo usa zepelim, mas nós é que demos essa ideia lá atrás – fala o diretor de TV, Mário Pamponet Jr. De 1966 a 1989 a prova teve um percurso que foi invertido a partir deste último ano, quando a prova passou a se realizar no período da tarde. Em 1975 nasceu a prova feminina da São Silvestre. E a TV Gazeta mostrou a chegada da alemã Christa Valensieck. A largada era junto da masculina, o que só mudou para largadas distintas também em 1989. Em 1991, o percurso foi ampliado para 15 mil metros. Aí ficou o seguinte trajeto: partida do Masp, entrando na Avenida Paulista até a Rua da Consolação, seguindo pela Avenida Ipiranga até a Avenida São João, subindo o Elevado Costa e Silva (Minhocão), passando pela Avenida Norma Pieruccini Gianotti, Avenida Rudge, Avenida Rio Branco, Largo do Paissandu, Viaduto do Chá, Largo de São Francisco, indo para o trecho final do início da Brigadeiro Luiz Antônio até a Avenida Paulista, virando à direita até o ponto de chegada da prova, em frente ao Edifício Gazeta. Pela Gazeta consagrou-se como principal locutor da São Silvestre o cronista esportivo Fernando Solera. Em 1982, a TV Gazeta fez parceria com a Rede Globo, que pagou para A Gazeta Esportiva 10 milhões de cruzeiros para explorar este filão esportivo. A partir do dia 31 de março de 1982, a prova passou a ser transmitida para todo o país. Até hoje ambas transmitem em pool o evento, apenas com algumas mudanças, como comentários dos apresentadores e reportagens com corredores, feitas separadamente por cada uma das equipes. Foram duas as músicas-tema da São Silvestre. A primeira, utilizada pela TV Gazeta, foi Fanfare For The Common Man (da banda de rock Emerson, Lake & Palmer) e a segunda o tema do filme Carruagens de Fogo (Chariots of Fire), do músico grego Vangelis, que passou a ser utilizada pelo pool Globo-Gazeta e se tornaria a mais conhecida. Da parte de A Gazeta Esportiva não podemos esquecer de três diretores que sempre se dedicaram a manter a prova: Carlos Joel Nelli, Olímpio da Silva e Sá e Júlio Deodoro, ainda hoje o superintendente responsável pelo portal A Gazeta Esportiva.Net, sucessor do jornal impresso. A cada ano aumenta o número de participantes da Corrida Internacional de São Silvestre. No final de 2008, foram inscritos 20 mil corredores. Profissionais, amadores, amantes do esporte, personagens folclóricos desfilando fantasiados: uma alegria que toma as ruas de São Paulo. Não dá para terminar o ano sem a São Silvestre. 31. O dia que a Gazeta liderou a audiência Você se espantou com o título do capítulo? Não se espante. A TV Gazeta não foi líder de audiência apenas por um dia, mas durante dez dias. Isso aconteceu de 19 a 29 de maio de 1971, quando transmitiu com exclusividade o IV Campeonato Mundial de Bola ao Cesto Feminino, também chamado de Campeonato Mundial de Basquete Feminino. Honoré Rodrigues conta: Realizou-se em São Paulo o Campeonato Mundial de Basquete Feminino. Ninguém se habilitou a fazer a cobertura porque aquele esporte estava meio desacreditado, principalmente o feminino. As TVs mais antigas, Tupi, Globo, Bandeirantes, etc., só queriam dar pequenos flashes das partidas... E gravados! O Marco Aurélio arriscou tudo. Dispôs-se a transmitir todas as partidas, ao vivo, mas queria exclusividade. As autoridades esportivas concordaram. Ocorreu que as meninas [da Seleção Brasileira] surpreenderam, venceram tudo. Aí as outras emissoras se dispuseram a cobrir o evento. Mas era tarde! Ficaram limitadas aos pequenos flashes inicialmente propostos. Foi um grande sucesso (comercial, principalmente). Esse fato fez com que a Gazeta passasse a ser respeitada e vista como uma realidade, não como uma aventura. A repercussão foi grande. Narração de Peirão de Castro e as reportagens de Rubens Pecce foram parar em todos os lares paulistanos. A maior audiência se deu na última partida (placar: União Soviética 82 x 49 Brasil). Foi em 29 de maio de 1971, às 20 horas. É como conta a Revista Veja (02/06/1971): Na última semana, em São Paulo, uma modesta emissora de TV, o canal 11 – Gazeta – assumiu, na batalha pelos índices de audiência, o papel de um pequeno e vitorioso Davi capaz de derrotar gigantescos Golias. Graças à exclusividade para transmitir ao vivo os jogos do Campeonato Mundial de Basquete Feminino, passou a liderar o Ibope (numa noite chegou a 51% contra 13% da poderosa Rede Globo) sem precisar apelar para nenhum golpe empresarial mais arrojado. O fato realmente repercutiu em toda imprensa. A respeitada revista sobre TV, Intervalo, ressaltou em 01/09/1970: Até algum tempo atrás, a transmissão de esportes, tirando o futebol, é claro, era considerada a canoa mais furada pelos diretores das emissoras de televisão. Em suma, mandar para o ar competições de basquete, tênis, ciclismo ou futebol de salão era a certeza de não conseguir nenhum pontinho no Ibope. Por isso, a audiência alcançada pela TV Gazeta (SP) com a transmissão dos jogos do Campeonato Mundial Feminino de Basquete surpreendeu a todos. E muito mais aos diretores daquela emissora, que até ali não havia conseguido referência nos boletins do Ibope. A solução tomada não podia ser outra: transformar a Gazeta numa emissora de esportes e a partir daí conseguiram exclusividade para o Campeonato Mundial Masculino de Basquete, Campeonato Sul-Americano de Futebol de Salão, ciclismo, tênis de mesa, handebol e as Mil Milhas, no autódromo de Interlagos, sempre obtendo um ótimo nível de audiência. O fato hoje está documentado até em outros livros. Veja o caso deste trecho de O despertar da TV, de Osmar Mendes Júnior: Na televisão, o grande evento do ano foi a realização do Campeonato Mundial de Basquete Feminino, que aconteceu no ginásio do Ibirapuera, na zona sul da cidade. A TV Gazeta, então com apenas um ano de existência, foi encarregada das transmissões. A emissora preenchia todos os requisitos para fracassar escandalosamente na empreitada. Faltavam equipamentos, os funcionários eram poucos, as imagens não chegavam em todos os pontos da cidade, os anunciantes eram raros e a audiência apresentava índices muito baixos. A ausência de bons programas fazia com que os telespectadores fugissem do canal novato. Para completar, havia a forte concorrência das emissoras tradicionais, que tinham público cativo. O resultado, porém, foi mais do que surpreendente. A TV Gazeta liderou a audiência durante o torneio e ajudou a popularizar as jogadoras das seleções que visitavam a cidade. Uma delas, a gigante russa Ulyana Semenova, com quase 2 metros de altura, literalmente parava o trânsito, quando percorria as ruas centrais de São Paulo nos momentos de lazer e compras. As jogadoras brasileiras também tiveram seus momentos de ídolo, sendo assediadas pelas ruas. A competição ajudou o canal 11 a conquistar a simpatia dos telespectadores. A seleção da Rússia foi a vencedora do torneio. Depois do grande susto que a TV Gazeta deu, mais que correndo a Rede Globo conseguiu a exclusividade do campeonato. Em 1972, quando do lançamento da novela Tempo de Viver na TV Gazeta, a emissora satirizou em peça publicitária: Hoje na Globo, o basquete, e na Gazeta, a novela. Ideia de Marco Aurélio, que foi chamado de moleque pela Globo. A vitória do Basquete na Gazeta foi um dos principais marcos da televisão paulistana nos anos 1970. Surpreendente. 32. A TV colorida A TV Gazeta teve importante papel na implantação da TV em cores no país. Mas para entenderem melhor o panorama da época, eis um resumo dos principais acontecimentos. Em 1951, a CBS americana fez as primeiras transmissões em cores; porém, apenas em 1973 foi oficializada a estreia após sua aprovação pela NTSC (National Television System Commitee). Depois dos Estados Unidos, Cuba, França, Canadá, Alemanha, Inglaterra e Hungria inauguraram suas transmissões em cores. E, aí, em 1972, foi a vez do Brasil, 7º país a inaugurar a TV colorida no mundoMas antes da estreia oficial, muitas experiências aconteceram. Tudo começou em 1963, numa disputa entre a TV Tupi e a TV Excelsior, que começou com testes em circuito fechado e depois em eventos isolados. Segue abaixo uma rápida cronologia: • 01/05/1963: a TV Tupi-SP exibiu o documentário A Volta ao Mundo, após discurso de seu presidente. A TV Tupi espalhou 22 televisores pela cidade, exibindo o espetáculo musical A Maior Noite do Ano, em cores. • 03/05/1963: a TV Tupi-SP exibiu episódio colorido do seriado de fareoste americano Bonanza. • 09/05/1963: a TV Tupi-SP mostrou saudação do presidente João Goulart e um filme com imagens coloridas de sua família na Granja do Torto, em Brasília. • 28/6/1963: a TV Excelsior-SP exibiu o primeiro show em cores, ao vivo, com produção de Manoel Carlos. Foram exibidos no estande da Fábrica Maxwell, em evento no Parque do Ibirapuera. • 31/07/1963: a TV Excelsior-RJ exibiu no ex-Cine Astoria (sede do canal 2 carioca) outra exibição do show. • 09/07/1964: a TV Excelsior-SP transmitiu o Moacyr Franco Show em cores, no 4º aniversário da emissora. • Março/1967: o Contel (Conselho Nacional de Telecomunicações) montou uma comissão de engenheiros e especialistas para decidir qual padrão seria o adotado pelo Brasil: NTSC (americano), Secam (francês) ou PAL (alemão). Naquele mês foi decidido pelo PAL. Mas como o padrão tinha 625 linhas e o padrão brasileiro (da transmissão em preto e branco) possuía 525 linhas, foi criado o PAL-M (M não só de modificado, mas também porque era o nome do padrão preto e branco). • 04 a 08/08/1968: a TV Globo-RJ e as lojas Ultralar espalharam televisores em pontos estratégicos do Rio de Janeiro, exibindo o Show em Cores, apresentado por Hilton Gomes e Ilka Soares. • 03/06/1970: a Embratel chamou celebridades e jornalistas para assistirem em cores aos jogos da Copa do Mundo, vindo via satélite em cores (no padrão americano NTSC). O mesmo aconteceu no Edifício Rio de Janeiro, no Palácio das Laranjeiras, no Rio, e em Brasília. • • Outubro/1970: a TV Globo e a Embratel transmitiram experimentalmente em cores do V Festival Internacional da Canção. Venezuela, Peru e Uruguai receberam o sinal em cores. • 02/01/1972: a TV Difusora de Porto Alegre (RS) exibiu imagens estáticas em cores regularmente. • 20/01/1972: a mesma TV Difusora transmitiu um filme sobre o folclore japonês. • 19/02/1972: como pré-estreia em rede nacional foi transmitida em pool de emissoras a XII Festa da Uva de Caxias do Sul (RS). Curiosamente a cidade foi escolhida pelo ministro das Comunicações Hygino Corsetti, gaúcho de Caxias e pai da moça escolhida como rainha da festa naquele ano. A TV Difusora de Porto Alegre gerou as imagens para a Embratel, que a retransmitiu para todo o país. Participaram outras TVs, como a TV Gaúcha, TV Piratini, TV Caxias, TV Record, TV Globo e TV Rio. As demais retransmitiram o evento, inclusive a TV Gazeta. Além de um jogo de futebol transmitido também na mesma ocasião. • 17/03/1972: a TV Globo realizou teste na Buzina do Chacrinha. Em 1971, Marco Aurélio Rodrigues da Costa e Walter Ceneviva foram ao exterior negociar a compra dos equipamentos em cores da TV Gazeta. E foi assim que, em 6 de março de 1972, chegaram os primeiros equipamentos em cores da TV Gazeta, que se tornou a primeira a ter equipamentos próprio em PAL-M e unidades móveis para implantar uma programação colorida. Um dia depois, noticiou o jornal A Gazeta: A TV Gazeta, canal 11, será a primeira estação em condições de fazer transmissões externas e de estúdio, em cores. Chegou ontem a Viracopos, procedente de Londres, uma parte do equipamento. O restante deverá chegar na próxima semana. [...] Já se encontra na Avenida Paulista a unidade móvel para transmissões externas em cores, adquirida pela Fundação Cásper Líbero para o canal 11. Especialmente construído para a TV Gazeta, o veículo mede 11 metros de comprimento por 3 de altura, abrigando duas câmaras Marconi modelo Mark-8, dotadas de computador eletrônico interno que corrige automaticamente as diferenças de luminosidade e cor; uma mesa de efeitos especiais de imagens, com capacidade para mais de cem efeitos diferentes e inéditos na América Latina; uma mesa de som; uma mesa de controle; um conjunto de videoteipe profissional Ampex; fontes alimentadoras de câmaras e monitores de controle. Todo esse equipamento é moderníssimo, lançado no mercado mundial há apenas seis meses, sendo a Gazeta a terceira emissora do mundo a adquiri-lo, segundo informações do diretor Marco Aurélio. Externamente, o veículo será identificado por sua pintura: fundo branco com faixas coloridas que se iniciam estreitas, alargando-se ao fim do ônibus. O símbolo da emissora será um tucano, homenagem ao conhecido pássaro brasileiro. Em negociação com o Ministério das Comunicações, Marco Aurélio conseguiu uma autorização especial. Por ser a Gazeta a única com os melhores equipamentos em cores, o ministro Higino Corsetti emitiu liminar às 18 horas do dia 14 de março autorizando que, antes das demais (a estreia oficial seria dia 31 de março), a TV Gazeta possa estrear o primeiro programa regularmente em cores. Isso também serviu como teste oficial para o governo, para ver a constância do sinal colorido. Todos os testes coloridos e eventos antes promovidos pelas demais emissoras foram feitos isoladamente, sem ultrapassar a marca de poucas horas em atividade dos equipamentos em cores. A TV Gazeta teve um tempo recorde para colocar seu parque técnico em cores em funcionamento e só aguardava até aquele momento a autorização de Corsetti. Segundo seus técnicos e diretores, seria a primeira emissora de televisão, em todo o mundo, a colocar no ar imagens em cores num tempo recorde: 8 dias, desde a chegada dos seus modernos equipamentos Marconi, Ampex e RCA que custaram mais de 1 milhão de dólares... (Folha de S. Paulo, 16/03/1972). O programa escolhido foi Vida em Movimento, por contar com a credibilidade e o simbolismo de Vida Alves, sua apresentadora e colecionadora de diversos atos pioneiros na TV brasileira desde seus primeiros dias: fez a primeira novela, deu o primeiro beijo na TV, foi uma das primeiras autoras. O programa foi autorizado a ir ao ar no mesmo dia 14 de março, às 20 horas. Foram promovidos dois testes: um no dia 14 e outro no dia 28 de março. Mesmo ficando regularmente em cores desde o primeiro dia, as amostras de sinal do Vida em Movimento seriam comparadas: a regulagem do dia 14 e a do dia 28 – ambas fiscalizadas pela Embratel. Após isso definiriam a melhor regulagem do sinal, para a estreia oficial da televisão em cores, em 31 de março de 1972. Mesmo depois da estreia, o programa Vida em Movimento continuou sempre em cores, até 1976, quando a apresentadora transferiu-se para a TV Record. A Gazeta entrou para a história com a televisão em cores. Tenho orgulho de ter feito parte dessa fase – afirma o diretor de TV, Roberto Rodrigues Alves. 33. A dama das cores 14 de março de 1972 O estúdio da TV Gazeta estava repleto de convidados. Todos ansiosos para assistir a um novo acontecimento na TV brasileira. Às 20 horas chegou a apresentadora Vida Alves, muito feliz, trajando um vestido longo azul, com duas faixas bordô. Ela entra sorrindo, conversa com um grupo, e logo a chamam para ocupar o seu lugar. Em um minuto começaria o Vida em Movimento: Boa-noite, telespectadores. A partir de hoje o programa Vida em Movimento será transmitido totalmente em cores, disse a apresentadora, que logo passou o microfone ao diretor-geral Marco Aurélio Rodrigues da Costa, seu primeiro entrevistado. Entre elogios e parabéns, o diretor completou: Este programa, levado ao ar por deferência especial do ministro Higino Corsetti, das Comunicações, é uma demonstração de nosso equipamento para o público, publicitários e nossos patrocinadores de programas em cores, pois somente no próximo dia 28 é que será realizado o teste final, para verificação da qualidade da transmissão. A partir do dia 31, o canal 11 estará totalmente equipado para operar tanto no estúdio como em reportagens externas, graças ao excelente equipamento adquirido. A TV Gazeta procurou comprar todo equipamento necessário a qualquer tipo de transmissão. Para o povo brasileiro, a cor significa um avanço que os outros povos já tiveram. Vida Alves não conseguia esconder sua satisfação durante o programa: Tenho a honra de abrir o programa em cores da mais jovem emissora de televisão de São Paulo. Algumas distorções naturais ocorreram quando as cores entraram nos monitores, mas os técnicos da Gazeta logo as solucionaram. Foi uma hora de programa, com todos os cuidados artísticos e técnicos. Vida Alves depois mostrou ao telespectador a câmera colorida ao lado de Marco Aurélio. E alternando imagens em preto e branco com coloridas mostrou a diferença dos sinais. Sobreposta à sequência de imagens, Vida Alves fez uma pequena poesia sobre a importância das cores: Se uma rosa é cor-de-rosa, se o mar é azul, se as roupas que usamos são tão coloridas e bonitas, porque devemos continuar vendo a beleza em branco e preto? Clientes, publicitários, empresários, técnicos e convidados. Todos estavam nos bastidores da atração, lotando o estúdio. Nos monitores todos ficavam impressionados com a qualidade da TV em cores. Discutiam entre si, aglomeravam-se, davam opiniões, fascinados pela imagem. Vida Alves chamou o engenheiro Eric Zwelyn, da Marconi, que falou sobre o equipamento, mostrou as divisões internas das câmeras. Erick Lowelly veio especialmente da Inglaterra para implantar as cores na TV Gazeta. Demonstraram também os equipamentos Ampex e RCA coloridos. Depois o publicitário Jorge Adib falou sobre a importância da TV colorida para a área comercial: Antes a gente precisava caprichar num anúncio para fazer o público acreditar que aquele molho de macarrão, apresentado em preto e branco, era vermelho, saboroso. Agora a cor vai nos ajudar: a TV mostrará as coisas como elas são. Para o anunciante, é um fato importante. Falou também o publicitário Luiz Celso Piratininga, da agência AD/AG Publicidade (e futuro presidente da ESPM), que afirmou: Não haverá nenhum problema com as agências, com relação à programação em cores, mesmo porque os receptores em branco e preto também captarão as imagens. Depois Vida chamou o publicitário Zaé Júnior, diretor do LAB – Laboratório de Propaganda e Marketing, que criou o novo logotipo da TV Gazeta. No ar, Zaé Júnior explicou que o logotipo marcava a fase em cores do canal, sendo um G num desenho pop, preto, vermelho, amarelo, azul, verde e roxo, que forma um tucano, ave brasileira. Foi criado pelo Departamento de Arte da agência e aceito pela diretoria da TV Gazeta. Em seguida, apareceu a atriz Geórgia Gomide, muito amiga e colega de Vida Alves quando esta era atriz. Ao ser entrevistada, Geórgia falou sobre o significado das cores para os artistas. Deixou o programa logo e foi correndo até um grupo de amigos querendo saber como ficou sua imagem em cores, se havia se saído bem e como tinha ficado a maquiagem. O ponto alto do programa foi a apresentação dos bailarinos Joshey Leão e Aracy de Almeida, que reviveram o quarto ato do balé A Bela Adormecida, de Tchaikovsky, com coreografia de Petipas. Vida Alves intercalou as entrevistas com apresentações musicais de Cláudio Roberto, Elias de Lima, Sérgio Reis e Noite Ilustrada, que também deram suas opiniões sobre as cores. Vida Alves conta como foi aquele dia para ela: A Gazeta me notificou uns dez dias antes, para eu preparar uma roupa, maquiagem. Houve um problema na maquiagem: nós não sabíamos o que fazer. Optamos por fazê-la mais simples e não muito carregada. Optei por um vestido que tivesse duas cores, para ficar bem frisado na televisão. Um produtor que me ajudava muito era o Valentino Guzzo, nós conversávamos sobre isso. Foi muita emoção aquele dia. Eu me lembro até que o Carlos Lemos, que trabalhava na área comercial da Gazeta, disse: Vida, você hoje é a rainha. É a principal. Isso tem que passar para a história como o primeiro programa da TV brasileira em cores. Aos poucos a Gazeta foi esticando e ficando toda sua programação em cores. Eu me senti uma rainhazinha, pelo menos naquela noite. Houve depois um coquetel patrocinado pela Gazeta, pois estava autorizada a fazer aquele programa. Lá embaixo, na garagem, aquele ônibus colorido fazia um grande sucesso porque realmente era o primeiro a aparecer em São Paulo. O meu pioneirismo na TV Gazeta até hoje não conseguiu um belo lugar ao sol, e a festa da uva, sim. Não conversei, não registrei, terminou naquela noite o meu reinado. Não fiz daquilo uma matéria para jornais. Saiu na Folha de S. Paulo e em outros poucos jornais. Eu não fiz disso, nem a própria Gazeta fez, uma bandeira. Mas não a hasteamos como merecia. Hoje, como presidente da Pró-TV, associação que objetiva o resgate da memória televisiva nacional, ela recupera do passado não só esse, mas muitos momentos históricos. Portanto, como aqui fica comprovado, Vida em Movimento foi o primeiro programa regularmente apresentado em cores na TV brasileira. Equipe colorida A equipe pioneira das cores nesse programa foi composta por Ricardo Lage (diretor de TV), Luiz Anunciato Netto (operador de vídeo), José Gomes Henriques (diretor técnico), Manuel Duplas (operador de som), De Mauro (cenógrafo), Diogo Garcia (iluminador), Hélio Lembo (câmera), Joaquim Loureiro (coordenador), Valentino Guzzo (produtor), Vida Alves (apresentadora) e Eric Zwelyn (engenheiro). Anunciou-se na data que a TV Gazeta teria, a partir do dia 31 de março, seis horas diárias em cores, das 15 às 18 horas e depois das 21 às 24 horas (o primeiro horário seria normalmente reprise da programação do dia anterior). 34. Onze em cores O Ministério das Comunicações e a Embratel ficaram satisfeitos com o resultado, o que se espalhou para todo o meio. A TV Gazeta ganhou popularidade como a mais bem equipada emissora em cores do país. No dia 30 de março de 1972, a Rede Globo conseguiu os direitos para transmitir a primeira prova de automobilismo no Brasil, a Corrida de Fórmula 1, em Interlagos. E chamou a TV Gazeta para fazer a gravação em cores, contando que ela ficasse com a retransmissão nacional do evento. Mesmo assim, em São Paulo, em pool, a TV Gazeta e a TV Globo transmitiram o evento simultaneamente. No início daquela semana (que antecedia a data da estreia oficial da TV em cores), bem no dia 27 de março, o governo federal teve problemas com os equipamentos em cores que possuía. Era necessário sanar as falhas técnicas, pois precisavam urgentemente gravar os vídeos que seriam gerados no dia 31 de março, com o discurso de Higino Corsetti e do presidente Emílio Garrastazu Médici. A falha não permitia que a maioria das emissoras pudesse transmitir o pronunciamento de ambos, via rede nacional, direto de Brasília. Não pensaram duas vezes. O governo federal pediu socorro à TV Gazeta. Montou-se uma estratégia de guerra. A TV Gazeta dividiu sua equipe em duas. Uma para transmitir a Fórmula 1 e outra para, no mesmo dia, gravar o pronunciamento oficial em Brasília, para ser transmitido no dia seguinte. A primeira equipe ficou sob os cuidados do diretor-adjunto Luiz Francfort e a segunda, que falaria direto ao presidente, sob a responsabilidade do diretor-geral Marco Aurélio Rodrigues da Costa. Luiz Francfort conta sobre o dia 30: Essa eu peguei na unha, do começo, do ponto zero, com a Mirtes, minha secretária, até terminar a transmissão. Tive que fazer toda a produção daquilo. Antes da corrida teve uma apresentação da Banda dos Fuzileiros Navais do Rio de Janeiro. Tive que ir ao Rio convidá-los, providenciar restaurante para todo o pessoal, lanche para os operadores... Foi um monstro. Levou uns quatro ou cinco meses para montar. A transmissão, em si, foi um sucesso. Saiu tudo redondinho, não teve erro nenhum. Teve até um acidente grave no autódromo, mas tinha helicóptero. Tínhamos providenciado tudo. O grande problema era o seguinte: o presidente da República ia fazer à noite um pronunciamento. Então tinha sido combinado que quando terminasse a Fórmula 1, o equipamento ia para Brasília gravar o presidente. Mas a corrida terminou só no fim do dia... E tínhamos acertado um avião para levar todo equipamento, já esperando em Congonhas. O Marco Aurélio era muito amigo da Polícia. Aí a Rota veio escoltando o equipamento e a equipe para chegar no aeroporto a tempo. Já imaginou o trânsito que estava, de tanta gente que veio assistir à Fórmula 1, para sair de lá? O esquema era pegar o equipamento todo, jogar num caminhão, sair correndo com a Rota para o aeroporto e ir até o aeroporto de Brasília. Tinha uma engenheira que veio da RCA dos Estados Unidos [Gyongyver Claydon]. Porque a Fórmula 1 era uma transmissão complicadíssima e ela ajudou o Zé Gomes a não assumir sozinho a responsabilidade. Antes não teve Fórmula 1 no Brasil, foi a primeira transmissão. Mas, voltando, a engenheira ficou espantadíssima de ver que a pegaram, jogaram dentro do caminhão da Rota junto do equipamento: O que acontece?. A levaram para o aeroporto e o Marco Aurélio não explicou a ela o que ia acontecer! Só falou que ia gravar o presidente! [risos] Mas ela voltou alegríssima de lá, não parava de falar que deu a mão para o presidente do Brasil. Eu fiquei em São Paulo e fiz a transmissão da Fórmula 1 até o final. De lá eu voltei para a Gazeta. A TV Gazeta contou com o apoio da Vasp, que transportou o equipamento, e da Embraer, que levou a equipe em um avião Bandeirante. O avião chegou à Brasília às 23h30. No Aeroporto de Brasília foi montado um esquema para o desembarque do equipamento em cores, que seria enviado ao Palácio da Alvorada para a gravação da mensagem do ministro Corsetti. Assyr Simeão, assessor do gabinete das Comunicações, foi o responsável pelo planejamento. Eram quase duas horas da madrugada quando os técnicos, no Palácio da Alvorada, iniciaram o trabalho, desenrolando os equipamentos. Tudo terminou às 5 horas. Fizeram testes preliminares e se retiraram para descansar um pouco, regressando às 8 horas, para os testes finais com a Embratel. Meia hora depois chegou Higino Corsetti ao Palácio, se inteirando dos detalhes. À medida que Marco Aurélio explicava, o ministro se entusiasmava, chegando a dizer: Vencemos realmente a luta para a criação da televisão em cores no Brasil, e a Televisão Gazeta está de parabéns. Estava tudo certo, com a aprovação do Embratel. Antes da fala do ministro, teve a apresentação do jornalista Geraldo Vieira, da TV Gazeta: A televisão brasileira vive hoje um dia histórico. Inaugura o seu sistema em cores, nesta semana em que o povo católico do Brasil reverencia a morte de Cristo e em que toda a Nação brasileira assinala a passagem do 8º Aniversário da Revolução Democrática de 1964. É com muita honra que a televisão brasileira recebe hoje diante de suas câmeras o excelentíssimo ministro das Comunicações, Higino Corsetti, o artífice da implantação do sistema em cores nas transmissões de TV no Brasil. Em seguida, o ministro Corsetti iniciou sua fala de 8 minutos. Ao seu lado a bandeira brasileira e ao fundo uma tapeçaria de Di Cavalcanti. Ao final, os técnicos da Embratel no Rio gravaram o teipe e constataram a excelente qualidade de imagem. Minutos depois chegou ao Palácio da Alvorada o presidente Médici, que se dirigiu à biblioteca, onde foi gravado seu pronunciamento. Primeiro gravou-se um discurso, em preto e branco, com uma mensagem do presidente em comemoração ao 8º Aniversário da Revolução (31 de março). Depois o presidente Médici foi ao local onde estavam os equipamentos da TV Gazeta. Assistiu várias tomadas em cores do Palácio da Alvorada e gravou seu discurso. No aeroporto houve um coquetel de confraternização entre os profissionais da Gazeta, da Vasp, da Embraer e do governo. De lá voltaram para São Paulo. Mais tarde, às 18 horas do mesmo dia 31, a TV Gazeta transmitiu direto do Centro de Convenções do Anhembi, em cores, a Paixão de Cristo, marcando a Sexta-feira Santa. Um grande espetáculo de dramatização da Paixão de Cristo. A unidade móvel da Gazeta estava lá, com o mesmo equipamento que horas antes esteve em Brasília para a fala do ministro das Comunicações. A equipe que foi a Brasília era formada por Marco Aurélio Rodrigues da Costa, José Gomes Henriques (diretor técnico), Geraldo Vieira (apresentador), Hélio Lembo (câmera), Luiz Anunciato Netto (operador de vídeo), Gyongyver Claydon (engenheira), Eduardo Bryan Choate (assistente de engenharia) e Alfredo Sampaio (o Alfredinho, assessor). Este é quem nos conta mais sobre esse dia: Fui acompanhando o Marco Aurélio. Era assessor dele. O governo do Estado nos cedeu aviões da Vasp para a viagem. Foram retirados até os assentos do avião para que colocássemos os equipamentos. Em Brasília gravamos o discurso e supervisionamos a transmissão. O ministro Higino Corsetti nos cumprimentou, satisfeito pela colaboração que a TV Gazeta tinha dado à inauguração da televisão colorida. Nós da Gazeta comandamos tudo. E quando a Globo chegou em Brasília até se espantou com a qualidade do nosso equipamento, fora que já estava tudo pronto. Naquele dia 31 de março, a programação da TV Gazeta foi a seguinte: • 15 horas – Pool nacional com imagens via Embratel – abertura com Higino Corsetti • 17 horas – Filme de Jean Manzon – Brasil em Cores (pool nacional) • • 18 horas – Paixão de Cristo • 19 horas – Rumo ao Infinito – filme de longa-metragem especialmente cedido pela Usis e liberado pela Nasa à TV Gazeta (as outras emissoras ficaram livres para exibir o que quisessem nesse horário). • 20h30 – Pool nacional – fala do presidente Médici • 24 horas – Polo do Universo, musical produzido por Pierre Lagudis. O reconhecimento da TV Gazeta se deu por total quando o presidente da Fundação Cásper Líbero recebeu telegrama de Higino Corsetti no dia 1º de abril: Telegrama que Hygino Corsetti enviou a Octavio Frias de Oliveira: Ilmo Sr. Octavio Frias de Oliveira MD Presidente da Fundação Cásper Líbero São Paulo – SP Em nome Ministério Comunicações e meu próprio, formulo melhores agradecimentos pelo esforço realizado TV Gazeta sentido solucionar problema gravação teipe em cores nesta capital por ocasião inauguração televisão cores no Brasil. Esse esforço bem caracteriza disposição e entusiasmo com que empresário brasileiro de televisão se lança empreendimentos lhe são entregues e demonstra que podemos acreditar TV brasileira pode tornar-se cada vez melhor. Cds.sds. – Hygino Caetano Corsetti – ministro Estado Comunicações. No final a Rede Globo apenas retransmitiu, junto com a Embratel, para todo o país o material gravado. Porém, agora se sabe que dentro dessa história esteve a TV Gazeta também no comando. E depois? Após a inauguração oficial da TV em cores, o canal 11 passou a ter uma programação mesclada entre programas coloridos e programas em preto e branco. Um exemplo disso é a programação do dia 1º de abril, um dia após a abertura oficial: • 15h45 – Curso de Madureza (preto e branco) • 17 horas – Chapéu de Couro (preto e branco) • 18 horas – Festival de Desenhos Animados – produção tcheca (colorido) • 19 horas – Clube dos Bairros • 20 horas – Filme (colorido) • 21horas – Futebol (VT) – Portuguesa x São Bento (colorido) • 23 horas – Baile de Aleluia – Diretamente do Corinthians (colorido) E foi assim que os dias se sucederam, com destaque para algumas realizações em cores posteriormente: • 2 de abril: Reprise do VT da Corrida de Fórmula 1, às 21h30. • 4 de abril: 1ª partida de Futebol de Salão em cores – Corinthians e Tênis Clube, com narração de Peirão de Castro, às 20h30. • 7 de abril: 1º jogo noturno em cores (com grande dificuldade de iluminação) – São Paulo x São Bento, às 20 horas. No domingo, dia 9, foi a vez de Corinthians x Portuguesa, também à noite. • 11 de abril: Boxe Sensacional – 1ª luta de boxe em cores, 21 horas, com narração de Peirão de Castro e Rubens Pecce (ao vivo). • 1º de maio: 1ª Travessia de São Paulo a Nado, em cores, no Parque Municipal de São Bernardo do Campo. Na grade normal da TV Gazeta, os primeiros programas coloridos foram Vida em Movimento (que se manteve em cores), Clarice Amaral em Desfile, Opção, com Thaís Leopoldo e Silva, e posteriormente Fim de Noite e Theorikon, produzidos por Pierre Lagudis, e Tavares de Miranda, com o colunista social. O maior parque técnico em cores No dia 18 de fevereiro de 1975 aportou em Santos (SP) o navio Dalila, atracando no Armazém 17. Foi uma grande felicidade para a TV Gazeta. Afinal, era a chegada dos novos equipamentos em cores encomendados por Marco Aurélio Rodrigues da Costa, em nome da Fundação Cásper Líbero. Uma delegação foi recebê-los em Santos após a liberação, em 20 de fevereiro. Com grande felicidade os técnicos estavam ansiosos para o desembarque. Faziam parte da delegação: Marco Aurélio, Luiz Francfort, Jurandir Villela, José Gomes Henriques, Idival Marcusso, Gilmar de Oliveira Batista, Antônio Martins, Gatão (Orlando Delamorte) e Antônio Pinto Jr. (o Piu-Piu, que nos documentos constava a rubrica Menor, dado ter menos de 21 anos). A principal curiosidade da equipe era em relação a tal carreta que tinha sido encomendada. A carreta desceu do navio, içada por cabos de ferro. E, quando olharam, uma surpresa: a carreta já tinha até as logomarcas da TV Gazeta pintadas em suas laterais. Havia uma curiosidade nesta unidade móvel: ela veio da Nasa e tinha um desenho moderno para a época. Além de possuir seis câmeras internas e um switcher com 352 efeitos especiais. Naquela época destinou-se um supervisor de operações próprio para cuidar das unidades móveis da TV Gazeta, já que elas viraram os chamarizes da emissora. O técnico Zulu foi o primeiro deles e seu gerente de operações, Luiz Anunciato Netto. A Gazeta possuía naquele momento três ônibus (unidades móveis coloridas), um pequeno caminhão (unidade geradora), um programador com memória eletrônica, um carrossel de seleção automática de programação por computador (cartucheira), um slow motion (para fazer efeitos em câmera lenta) e, claro, a famosa carreta. Existia uma chamada no ar que dizia: TV Gazeta, o maior parque técnico em cores da televisão brasileira. Chamava a atenção de todas as emissoras... E era verdade aquilo. Tínhamos os melhores equipamentos – conta Jorge de Mello Macedo, encarregado do tráfego de fitas. Até o público achava impressionante aquela carreta. Lembro que em uma das festas do Mulheres em Desfile, no Anhembi, algumas garotas queriam de todo jeito ver a carreta por dentro. Nós deixamos, mas por pouco tempo. Quase tomamos uma bronca depois! – conta José Tibúrcio Isabel, o Bela, operador de áudio. Eu adorava aquela carreta. Limpava, lustrava. Ficava brilhando. Não era o meu serviço, mas eu tinha esse capricho. Fazia porque eu gostava. Aquela carreta impressionava todo mundo – conta Máscara, na época câmera da TV Gazeta. 35. Brasileños en la tele argentina A TV Gazeta participou de outro importante momento. A transmissão inaugural da TV em cores na Argentina. Foi em 12 de abril de 1975. A TV Gazeta representou não só o governo brasileiro como também o argentino na transmissão do 1º Festival OTI de Folclore Ibero-Americano, promovido pela OTI – Organización de la Television Iberoamericana, e transmitido pela TV Belgrano (Canal 7), emissora governamental, que naquele dia se transformava em ATC (Argentina Televisora Color). Nós fomos com a carreta pelo Sul, cruzamos os estados da região, e entramos na Argentina até chegar a Buenos Aires. Eu, Dioguinho (Diogo Garcia), Neto, Pescoço, Jair Lopo e muitos outros – conta Mário Pamponet Júnior, diretor de TV. Foi um dos momentos mais importantes na carreira do meu pai. Até hoje ele comenta quando foi câmera da 1ª transmissão colorida na Argentina – fala o cameraman da TV Gazeta, Márcio Gabriel, sobre seu pai, Mário Iório (Pescoço), um dos câmeras mais longevos do canal. Na ocasião, o chefe da delegação brasileira foi Luiz Francfort, que conta sobre a transmissão pioneira: A Argentina não tinha televisão em cores e queria inaugurá-la. O governo telefonou para o Marco, se era possível a Gazeta fazer a transmissão que eles queriam, em Buenos Aires. Iam transmitir para 52 países. Era a inauguração da TV colorida deles. Não tinha muito equipamento ainda, atrasou, e a presidente da Argentina, a Isabel de Perón – que me avisaram para não chamar de Isabelita que era ofensivo – tinha pedido ao Médici para fazer. O Marco Aurélio falou que eu podia fazer e passou para mim a responsabilidade. Tive que conseguir visto. Por conta da ditadura de lá era complicadíssimo ir para a Argentina. Era visto para todo o pessoal, 23 funcionários, a carreta, o carro gerador... Além do ônibus que alugamos para levar uniforme para todo mundo. O pessoal foi por terra e eu e o Zé Gomes fomos de avião. Chegamos no aeroporto de Buenos Aires às 10 horas da noite. Não tinha ninguém esperando... E o governo falou que iam mandar esperar. Aí eu ouvia falar: Frãfur!... Frãfur!... No alto-falante. Aí eu falei: Será que esse Frãfur sou eu?... e era. Dois policiais federais estavam nos esperando. Pegaram nossas malas e transportaram. Aí na Alfândega mandaram parar. O policial pulou na frente, tirou uma carteira do bolso e falou: Presidência da República!. Aí nos botaram num carro da radiopatrulha, com uma luz azul em cima, e nos levaram até o Victore Hotel. Me deram um cartão de telefone e a partir dali ficaram vigiando cada passo nosso. Até fugimos deles no aeroporto para voltar. Não largavam mais. O resto da equipe não chegava, demoraram para vir pelo Rio Grande do Sul. Quando chegou, outro espanto: nós estávamos na Avenida Nove de Julho, lá onde tem o Teatro Colón. De repente chega uma radiopatrulha na frente, nossos equipamentos, o pessoal, um tanque e outra radiopatrulha! Um tanque!!!... E o tanque ficou posicionado com o canhão para fora. O pessoal da Gazeta me disse que a cada província que eles atravessavam mudava a patrulha, porque era de outro estado. O tanque veio direto porque era federal. Aquela transmissão foi preparada por um mês inteiro, ensinamos o pessoal, vimos a iluminação, tudo. Quando chegou o dia da transmissão só deu coisa errada. Primeiro o Mário Pamponet tem uma crise nervosa; a OTI bloqueia nossa geração e bloqueia a Embratel. Eu no telefone com o cara da Embratel, gritando, e ele falava: Não posso fazer nada. Teve uma sabotagem por parte de um diretor da Tupi, que era da OTI. Na última hora resolveram tirar a Gazeta de tudo. Uma grande injustiça. A nossa sorte é que tínhamos gravado todo o ensaio no dia anterior e eu havia mandado pela Varig ao Guilherme Araújo, em São Paulo. Ele jogou no ar, com a mesma sequência do que acontecia ao vivo. Depois exibimos o do dia. Dos 52 países que transmitiam o sinal, a representante brasileira da OTI era a TV Tupi. Nós éramos geradores. Foi um grande nervosismo. Eu falei: Vou desligar a transmissão! Mas não ia, porque estava todo mundo em rede. E para a Argentina era especial, era a inauguração da televisão colorida deles. Você acha que eu ia cortar? Era só uma ameaça para ver se o cara me ligava. Sobre a festa, cada país mandou uma delegação de rapazes e moças dançando músicas folclóricas. Países só de línguas espanhola e portuguesa, e ibero-americanos. Cada um se apresentou e recebia uma nota. Quem mais se destacou foi o México, com a Danza del Venado, a Dança do Veado, que um índio com chifre dançava. Uma coisa bem marcante até hoje, quando vejo as coisas do México. O Teatro Colón lotado, a senhora presidente no camarote e o pessoal da Argentina, da ATC, louco para botar a mão e operar os equipamentos. A certa altura, eu falei para o Luiz Anunciatto Neto: Passa para eles, mas fica do lado. Aí os argentinos começaram a chorar. Aí o Neto também começou a chorar. Dali a pouco estava toda a equipe chorando, porque estava transmitindo para todo mundo e os argentinos tinham emoção de pegar a câmera pela primeira vez. Começou uma choradeira terrível. Terminando isso fomos para o hotel. A presidente me convidou para ir a um jantar no Palácio da Casa Rosada. Eu fui, à meia-luz, várias pessoas me foram apresentadas, vários ministros, etc. Serviram um negócio típico da Argentina que chamava chinchulines. Eram miúdos de tudo quando era espécie, com molho de sangue. Meus Deus!!!... Como estava à meia luz, conversando, eu enrolei e não comi. Tomei um vinho, fiquei meio tonto, mas não comi aquele prato!... E lá aquele índio dançou novamente. Para encerrar, me deram um diploma que tenho até hoje, da Associación de Periodistas, a dos jornalistas da Argentina. Daí acabou tudo e voltamos ao Brasil. O Higino Corsetti tinha prometido ao Marco Aurélio que, em troca dessa transmissão, ele dava a concessão do canal 11 do Rio de Janeiro. E nós faríamos sem cobrar nada. Entramos com o pedido, ele tinha falado Essa semana sai. Tudo em ordem como o combinado. Às sete horas da noite, entrou A Hora do Brasil e falou: O presidente da República assina hoje a concessão do canal 11 do Rio de Janeiro à TVS. Assim, apesar do pioneirismo, acabamos fazendo para o Sílvio Santos – e de graça – a transmissão, e não recebemos o canal. A ENTel (Empresa Nacional de Telecomunicaciones) – a Embratel da Argentina – fez uma homenagem à primeira transmissão em cores do país, adotando a partir de 1976 uma logomarca que era justamente o tucano da TV Gazeta, com pequenas modificações. Cortaram os pés, o bico e o olho foi trocado por um disco telefônico. 36. A coirmã das emissoras Por conta do ótimo equipamento que possuía, a TV Gazeta colaborou com a implantação da TV em cores em todos os canais. Sua contribuição foi auxiliar, seja em parceria ou alugando seus equipamentos, a produção de programas em cores das grandes redes. Em sua carreta possuía, por exemplo, o primeiro chroma key do país, o primeiro slow motion e tinha ainda na emissora, a primeira cartucheira (para exibição contínua de fitas) e a primeira máquina de fazer replay. Quando a Rede Globo pegou fogo no Rio de Janeiro em 6 de junho de 1976, a TV Gazeta a socorreu para que não saísse do ar, alugando seu equipamento às pressas. Em 28 de fevereiro de 1986 foi a vez de dar apoio à TV Cultura, que em fatídico incêndio foi praticamente toda consumida. Nesse, além da Gazeta outras emissoras também colaboraram com o canal 2 (por curiosidade, hoje a sede da TV Gazeta, o Edifício Gazeta, é considerado um dos prédios mais seguros de São Paulo). Sobre essas parcerias com as emissoras, conta o gerente de operações e de programação, Guilherme Araújo: Nós passamos a fazer do nosso equipamento colorido um segundo estúdio para todas as emissoras. A Globo se utilizou dele para gravar novelas, como carro de externa em movimento. Tinha um carrinho gerador atrás do ônibus. Me lembro como se fosse hoje, descendo a Avenida 23 de Maio, gravando takes para a novela Os Ossos do Barão. Era uma que falava do parque fabril. Gravamos várias partes no Ibirapuera. Nós tivemos uma unidade de externa também, por aí nós ficamos só com duas de externa em São Paulo, uma Marconi e uma RCA. Uma foi alugada para a TV Nacional de Brasília, que gerava toda sua programação e gravava para lá. A Globo, no início dos nossos equipamentos em cores, teve um incêndio. Eu tinha um amigo lá muito querido que me ligava: Guilherme, tô precisando. Dá para você me alugar? O que dá para fazer?. Então num primeiro momento nós alugamos uma grassvalley fechada na caixa. Uma mesa enorme, para socorrer a TV Globo. Ficou um bom período alocada lá. Alugou-se para a TV Globo numa emergência, para eles improvisarem um estúdio e continuar. Eu alugava muito para a Globo. Quem cuidava dessa parte era eu, ficava centralizado comigo. Aí fiz uma proposta ao Durval Honório. Ele reclamava que os discos de slow estavam gastos e nós não tínhamos dinheiro para repor, porque eram muito caros. Assim fiz uma proposta de alugarem totalmente o slow motion e um VT Ampex. A Gazeta não tinha condições de usar, demorava muito para importar uma peça dele e para nós não tinha tanta utilidade. Quando chegaram os equipamentos na Globo com o slow motion embutido, ela devolveu a máquina com três, quatro caixas de discos zero-quilômetro, nos presenteou. Nós passamos a ser uma emissora que gerava tudo para a Globo. Para o futebol da Globo, locávamos o carro e depois ficávamos com um teipe. Ao longo desses anos tivemos alguns acordos interessantes, principalmente com a Cultura e a Globo, acordos de cooperação. Em troca de fazer jogos para a Cultura ganhamos deles imagens, como a novela Floradas na Serra e mais outros teatros. Eu fui também ao Rio de Janeiro conseguir algum material da TVE para exibir na programação. A Globo também nos cedeu parte de seu acervo de filmes e séries. Éramos parceiros das outras emissoras. O diretor-adjunto Luiz Francfort completa: A carreta fazia futebol, gerava. Era uma fonte de renda também, que cobrávamos das outras. A Gazeta gravou muita novela da Globo, como trechos de O Bem Amado, a primeira em cores. E Vila Sésamo. O Eduardo Lafon é que cuidava do Vila Sésamo e vinha na Gazeta para acertar. Ele não era gravado com nosso equipamento, mas depois traziam no nosso slow motion para fazer os efeitos, pós-produção. Só nós tínhamos slow motion. Ninguém tinha. Aí o Lafon tinha que colocar o slow em alguns trechos. Quando a Globo pegou fogo, o Lafon foi lá acertar o preço para locar os equipamentos, porque ficaram sem nada para continuar. A Gazeta locou os equipamentos para a Globo não sair do ar. Era orgulho da Gazeta naquele tempo ter a carreta, o ônibus preto e branco e mais dois Marconi ingleses coloridos, que faziam futebol para todo mundo. Da parte de uma das parceiras, a Rede Globo, fala Luiz Guimarães, na época seu gerente de programação em São Paulo: Era uma questão de verba. Você tinha que comprar equipamento para São Paulo. Por mais que a TV Globo de São Paulo fosse a principal empresa em fornecer subsídios para a rede, ela era sempre a última a receber equipamentos. Aqui só recebia equipamento colorido, por exemplo, em troca do que estava caindo aos pedaços. Quando a Globo começava a substituir o seu equipamento, então vinha o equipamento de lá do Rio para cá. Isso até fazer a TV Globo de São Paulo. Quando não vinha para cá, ia para Recife, Belo Horizonte, e nunca era equipamento novo. Então nós sempre éramos os últimos a receber um equipamento zero. Por isso nós locávamos o equipamento da TV Gazeta, em troca de conteúdo para eles ou acordos financeiros. Só depois conseguimos um caminhão de externas e todas as condições de você fazer uma gravação. A atualização foi só na época do TV Mulher, que levantou aqui. Sentiram que São Paulo merecia equipamento e aí começaram a trazer alguma coisa. Mas aí aconteceu de levar toda a programação para o Rio e nós aqui continuamos a ser o primo pobre. O Doutor Roberto [Marinho] segurava muito a liberação de dinheiro, então, quando se conseguia alguma coisa, era a duras penas. E ficava só lá no Rio. Você não ter um slow motion em toda a rede era uma coisa que ninguém acredita, mas não tinha. Nós fizemos com a Gazeta também partidas de futebol e Fórmula 1. Quem cuidava dessa área de comunicação era o Nilton Travesso, que fazia essa aproximação com a Gazeta. Eu fazia o acordo operacional lá em cima, mas quem fazia o contato com a Gazeta era o Nilton. Agora segue uma amostra de como a carreta da TV Gazeta trabalhava. Através de materiais do tráfego de fitas da TV Gazeta constatou-se que foram gravados para ela e para as outras emissoras 700 jogos entre 1979 e 1980 (imagine só o que foi feito de 1976 até o final da década de 1980, quando a Gazeta aposentou a carreta). Dessa amostra, só para as coirmãs de São Paulo, os números são surpreendentes: 108 jogos para a TV Bandeirantes, 66 jogos para a TV Record, 35 jogos para a TV Cultura, 22 jogos para a TV Tupi e 18 jogos para a TV Globo. Por conta da importância de seu equipamento em cores, a TV Gazeta era chamada para gravar os jogos constantemente. No Canindé, no Parque Antarctica, no Pacaembu, no Morumbi, na Vila Belmiro, na Rua Javari, no Parque São Jorge, no Ulrico Mursa... Agora, impressionará a listagem abaixo, das emissoras para as quais a TV Gazeta prestou serviços com a carreta. É a prova incontestável do quanto ela fez não apenas para a história da TV paulistana, mas para a da televisão brasileira. Vejam: TV Cultura (São Paulo, SP), TV Globo (São Paulo, SP), TV Record (São Paulo, SP), TV Tupi (São Paulo, SP), TV Bandeirantes (São Paulo, SP), TV Guanabara (Rio de Janeiro, RJ), TV Regional (Brasília, DF), TV Alterosa (Belo Horizonte, MG), TV Jornal do Commercio (Recife, PE), TV Morena (Campo Grande, MT), TV Coroados (Londrina, PR), TV Coligadas (Blumenau, SC), TV Globo (Brasília, DF), TV Nacional (Brasília, DF), TV Uirapuru (Fortaleza, CE), TV Paraná (Curitiba, PR), TV Brasil Central (Goiânia, GO), TV Paranaíba (Uberlândia, MG), TV Difusora (Porto Alegre, RS), TV Tarobá (Cascavel, PR), TV Liberal (Belém, PA), TV Tibagi (Apucarana, PR), TV Marajoara (Belém, PA), TV Vitória (Vitória, ES), TV Industrial (Juiz de Fora, MG), TV Guajará (Belém, PA), TV Rio Preto (São José do Rio Preto, SP), TV Cultura (Florianópolis, SC), TV Guaíba (Porto Alegre, RS), TV Eldorado (Criciúma, SC), TV Aratu (Salvador, BA), TV Brasília (Brasília, DF), TV Paranaense (Curitiba, PR), TV Vila Rica (Belo Horizonte, MG), TV Educativa (Vitória, ES), TV Borborema (Campina Grande, PB), TV Rádio Clube (Recife, PE), TV Uberaba (Uberaba, MG), TV Brasil Oeste (Cuiabá, MT na época), TV Iguaçu (Curitiba, PR), TV Piratini (Porto Alegre, RS), TV Itacolomi (Belo Horizonte, MG), TV Goiás (Goiânia, GO), TV Esplanada (Ponta Grossa, PR), TV Itapoan (Salvador, BA), TV Ceará (Fortaleza, CE), TV Atalaia (Aracaju, SE), TV Tupi (Rio de Janeiro, RJ), TV Imperador (Franca, SP), TV Tropical (Londrina, PR), TV Morada do Sol (Araraquara, SP), TV Globo (Belo Horizonte, MG), TV Gaúcha (RBS – Porto Alegre, RS), TV Catarinense (Florianópolis, SC), TV Amapá (Macapá, AP), TV Santa Catarina (SC), TV Universitária (Natal, RN), TV Verdes Mares (Fortaleza, CE), TV Anhanguera (Goiânia, GO), TV Centro América (Cuiabá, MT na época), TV Globo (Recife, PE), TV Amazonas (Manaus, AM), TV Rodoviária (circuito fechado – São Paulo, SP), TV Porto-alegrense (Porto Alegre, SC), TV Esplanada (Brasília, DF) e TV Rio (Rio de Janeiro, RJ). 37. Marco Aurélio Rodrigues da Costa Até aqui, um dos nomes mais falados nesse livro foi o de Marco Aurélio Rodrigues da Costa, seu primeiro diretor-geral. Ele era a alma da TV Gazeta naqueles primeiros anos. O timoneiro daquele time unido. Alguns o olhavam até com certa descrença. Afinal, ao mesmo tempo em que era um excelente profissional, os poucos que o conheciam não levavam muita fé. Adorava pregar peças, brincar, chegava a marcar reuniões com os demais diretores de madrugada, com direito a tomar sopinha de feijão pela manhã. Podia ser encontrado jogando bola nos corredores da TV Gazeta! O Marco era uma figura. Tinha dia em que ele dizia para eu falar que estava fora ou em reunião, enquanto dormia em sua mesa, com a porta da sua sala fechada. Fazia-me passar cada aperto! Mas na noite anterior podia ter certeza que ele estava fazendo duas coisas: ou saiu para se divertir ou ficou a noite toda pensando em projetos, trabalhando. Toda manhã ele chegava, ligava direto para o telefone pessoal do Sr. Frias e conversava. Era um profissional fora do comum. Ele amava trabalhar, amava a Gazeta. – conta Stella Cosentino Liberato, sua secretária. Quando mandaram ele para a Folha, ser assessor da diretoria, ele foi. Gostava de lá também e tinha uma boa relação com o Sr. Frias, mas torcia para que logo voltasse para a TV Gazeta. Não deu tempo. Ele ensaiava sua volta quando morreu de acidente. Era difícil quem não gostasse de Marco Aurélio. Era uma pessoa genial. Adorava apostar suas fichas em algum projeto diferente, tendo ideia de que poderia dar certo – assim foi no caso do Campeonato Basquete Feminino. Ele tinha tino comercial. Se a TV Gazeta não estava fechando patrocínio para um programa, ele ligava para os amigos, fazia de tudo até que conseguisse levantar o valor necessário para bancar o programa que estava com problemas. O Marco adorava armas. Uma vez ele quase atirou no pé do Piu-Piu, após estar nervoso com ele. – contou a auxiliar de divulgação, Regina da Glória Lopes, a Nina. Teve uma reunião na sala dele com o pessoal do esporte. Foi aquele falatório. Era sobre verbas comerciais. Ninguém queria escutá-lo e não paravam de falar! Sabe o que ele fez? Deu um tiro na mesa! E colocou ordem na casa. [risos] Esse era o Marco! – completa Stella. Ele tinha uns amigos na Rota e adorava pregar peças na gente. Uma vez me pararam na rua para dizer que era para ir urgente para casa dele, que tinha dado um problema na censura e que até o Luiz Francfort estava lá. Como o Luiz era mais sério, não gostava dessas brincadeiras, eu fui! Chegando lá, era mais uma peça do Marco para encontrar os amigos. Éramos todos um time, amigos. Eu, Marco, Luiz, Joaquim Loureiro, Jurandir Vilela... – Guilherme Araújo, diretor de programação. Ele era de uma criatividade. Pena que a televisão brasileira não teve tempo de conhecer sua genialidade. Além da TV, foi ele que após viagem aos Estados Unidos resolveu pegar a Gazeta FM e transformar em emissora musical. Antes era um canal de serviços. Deu tão certo que ajudou na popularização das FM no país. A Gazeta foi a primeira. – Luiz Francfort, diretor-adjunto. Uma vez o Marco me pregou uma peça também. Os amigos dele me prenderam, literalmente! Depois fizeram uma grande festa, com todos os amigos reunidos, na hora de me soltarem. [risos] Como passei raiva aquele dia! Mas ele era um gênio. – Carlito Adese, superintendente comercial da TV Gazeta. Uma vez ele me chamou, chamou a Clarice Amaral, o Tavares de Miranda, e disse que a partir daquele dia tínhamos que apresentar uma agenda de contatos, de amigos e conhecidos que pudessem contribuir financiando nosso programa, usando nossa influência... E que colocaria o departamento comercial para trabalhar conosco. Era uma mente brilhante. Isso funcionou tanto, que até hoje jamais ganhei tanto dinheiro como na época em que trabalhei na Gazeta. – Vida Alves, apresentadora do Vida em Movimento. Em novembro de 1976, foi transferido para a Folha de S. Paulo novamente, onde ficou como assessor da diretoria, mas continuou acompanhando a TV Gazeta sempre que podia. No dia 15 de janeiro de 1977, voltando de uma gravação ocorrida na concentração da Seleção Brasileira, próximo de Embu (SP), Marco Aurélio perdeu o comando do carro, que capotou na altura do km 22 da Rodovia Régis Bittencourt. Estavam ele, Piu-Piu, Luiz Anunciatto Neto e mais duas pessoas. Todos se salvaram, exceto Marco Aurélio, que após dias na UTI faleceu curiosamente um dia após o 7º aniversário de sua querida TV Gazeta, em 26 de janeiro de 1977. Faleceu com 34 anos, deixando viúva Regina Rodrigues da Costa e os filhos Marcos, Cláudia e Patrícia. O enterro aconteceu no Cemitério do Araçá. E todos compareceram. Desde Octavio Frias até jornalistas, radialistas, dirigentes de empresas de comunicação, autoridades civis e militares. Em sua homenagem, foi dado o seu nome a uma rua no bairro do Butantã, em São Paulo. O Marco era muito influente. Após falecer, autoridades tentaram me subornar, até me dando um apartamento se eu vendesse sua agenda. Eu não fiz. Guardei-a até hoje. Ele era mais que um patrão, era um grande amigo. Não só meu, mas de todos nós – Stella Liberato. 38. Festa na Paulista Se hoje a frente do prédio da Gazeta é sinônimo de palanque, de tribuna livre, se a Avenida Paulista ainda hoje é conhecida como ponto de comemoração dos times em final de campeonato, ou até mesmo como comemoração de final de eleições (foi nas escadarias do Edifício Gazeta que o presidente Lula comemorou sua vitória quando soube do resultado em 2002). Isso tudo se deve à tradição plantada lá atrás pela TV Gazeta: a Festa na Paulista. Tudo começou em outubro de 1977, quando o Corinthians rompeu um jejum de 23 anos sem conquistar títulos estaduais. Naquele ano, o time estava indo bem no Campeonato Paulista de Futebol. Ao perceber que era uma boa chance de divulgar a programação esportiva da TV Gazeta, seu superintendente comercial, Carlito Adese, se juntou com os colegas da emissora para criar a Festa na Paulista. É como ele conta: Na primeira festa eu botei o Zé Italiano em cima da escadaria da Gazeta. Ele ficou na frente e gritava. O jogo era no Pacaembu e a ideia era trazer o povo para cá depois. Vieram 15, depois 27 pessoas, 38, 42... Aí o Corinthians ganhou pela segunda vez. Estava chegando na final. Aí ganhou mais um jogo e 98 pessoas vieram pra frente do prédio. O Tico então encostou a bateria da Vai-Vai aqui na frente, amigos dele. Pronto. Com a Vai-Vai pegou fogo! Foi aquele estrondo. O Corinthians foi campeão e a Vai-Vai já estava com a festa aqui. A Paulista fechou por três dias! Há mais de 20 anos que a Corinthians não era campeão... O Sr. Frias ligava lá da Barão de Limeira: O que está acontecendo? Nada, Sr. Frias, está tudo bem, eu explicava. Aí ficou a tradição. Todo campeão paulista vinha comemorar aqui na frente da Gazeta. Mas, por ironia da vida, eu, que sou são-paulino e criei profissionalmente esta festa, vi os são-paulinos quebrarem toda a Paulista [na final do Campeonato Paulista de 2005] e, graças a isso, acabou a tradição. Uma brincadeira de mau gosto. Todo ano eu ficava louco para ver a festa. Mesmo quando não estava mais na Gazeta, eu ficava do lado de lá da calçada, para as câmeras não me pegarem. Mas eu vinha ver. E na época nós gravamos uma chamadinha com o Zé Italiano dizendo: Venham todos colaborar... E entrava no ar no Mesa Redonda. 39. A primeira rede A TV Gazeta sonhou diversas vezes em se tornar rede. A primeira vez, lá no início, quando herdou as emissoras da Rede Excelsior. Só que por falta de condições, naquele período inicial, a rede se esfacelou. Porém, mais tarde, os próximos passos vieram em 1975. Primeiro na tentativa de conseguir o canal 11 do Rio de Janeiro, o que acabou por não acontecer. E o segundo passo foi em 12 de junho de 1975, quando conseguiu a concessão do canal 12 de Santos (SP), a primeira geradora da Baixada Santista. Daí o próximo passo veio em 1977. No dia 18 de agosto diversas emissoras interessadas em compartilhar a programação da TV Gazeta se reuniram na Avenida Paulista para definir os rumos que tomariam. Era o momento estrategicamente certo para a implantação da Rede Gazeta (como passou a se apresentar no vídeo). Isso, porque a TV Bandeirantes começava a formar sua rede e ganhava aos poucos o mercado; a TV Record já estava em crise e não objetivava a ampliação da rede que tinha dentro da REI (Rede de Emissoras Independentes); a TV Tupi estava em franca decadência; e a Globo tinha como objetivo abocanhar aos poucos a audiência que as principais emissoras perdiam. Entre os canais que a Rede Gazeta reuniu estava a TV Rio Preto, que era uma emissora da TV Tupi e se encontrava à venda por motivos financeiros. O relatório da reunião do dia 18 de agosto de 1977 começava da seguinte forma: É antiga nossa aspiração de formar uma rede de emissoras de televisão, entendida como única forma possível de melhorar o nível da programação da TV Gazeta e também em razão de melhorar o rendimento mensal da emissora. Isso em razão dos altos custos dos programas de televisão, tornando quase proibitiva a produção de um programa a ser levado ao ar apenas por uma emissora. A formação da rede provocará, na pior das hipóteses, a diluição de gastos, e a possibilidade da produção de melhores programas e, portanto, mais vendáveis, para a TV Gazeta. Foi constituída a rede da seguinte forma: TV Gazeta, São Paulo (SP); TV Jornal do Commércio, Recife (PE); TV Nacional, Brasília (DF); TV Alterosa, Belo Horizonte (MG); TV Brasil Central, Goiânia (GO); TV Guajará, Belém do Pará (PA); TV Industrial, Juiz de Fora (MG); TV Brasil Oeste, Cuiabá (MS, na época pertencente a Mato Grosso); TV Amazonas, Manaus (AM); TV Rondônia, Porto Velho (RD); TV Acre, Rio Branco (AC); TV Roraima, Boa Vista (RR); TV Amapá, Macapá (AP); TV Itacoatiara, Itacoatiara (AM); TV Parintins, Parintins (AM); TV Guajará-Mirim, Guajará-Mirim (RO); TV Vila Rondônia, Vila Rondônia (RO); TV Esplanada, Ponta Grossa (PR); TV Rio Preto, São José do Rio Preto (SP); TV Paraibuna, Uberlândia (MG); TV Difusora, Porto Alegre (RS); TV Iguaçu, Curitiba (PR); e TV Tibagi, Apucarana (PR). A TV Gazeta entregava à rede fitas gravadas com programas da emissora, estabelecendo um rodízio entre elas após a exibição dos programas em cada praça. Seria uma rede sem satélite e com uma estrutura bem montada no sistema de tráfego de fitas entre as emissoras. A Gazeta tinha como diretor de rede Luiz Francfort e supervisor Fuad Cury, que respondia à Fundação pela Rádio e TV Gazeta. no relatório ainda se dizia: Em recente contato com o Ministério das Comunicações recebemos a informação de que o Sr. ministro já tem conhecimento dos planos de criação efetiva da terceira rede de televisão encabeçada pela TV Gazeta e o assunto é aguardado com vivo interesse. Inclusive já há estudos para a abertura de edital de concorrência pública do canal 13 do Rio de Janeiro, com redobradas chances da Fundação vir a ser a nova concessionária. A TV Rio faliu e deixou vago o canal 13. Porém, a concorrência pela nova estação não foi muito além das primeiras tratativas. Isso, porque a TV Gazeta abandonou a ideia de rede um ano depois. Ficou apenas com as TVs Gazeta de São Paulo e Santos, emissoras próprias da Fundação. A Fundação Cásper Líbero achou que os gastos com a Rede Gazeta não eram justificáveis, principalmente porque as afiliadas queriam mais condições e rentabilidade, o que uma rede que se iniciou há pouco não poderia dar. E seu final chegou em 1978, após o término do contrato de parceria da Fundação Cásper Líbero com a Folha de S. Paulo. Gastos que pudessem ser caracterizados como desnecessários deveriam ser evitados para manter a saúde empresarial das unidades e veículos da Fundação. A programação da Rede Gazeta era a seguinte: • Segunda a sexta: Jornal da TV • Segunda: Clarice Amaral em Desfile e Italianíssimo • Terça: Humor (Zé Vasconcelos e Herlandes), Programa Francisco Petrônio e Futebol (VT) • Quarta: Flash e MPB Show (parceria com a TVE) • Quinta: Brasil Sociedade Anônima e Futebol (VT) • Sexta: Telecatch Internacional e Nostalgia • Sábado: Programa Dárcio Campos e Forja de Campeões • Domingo: Show da Viola e Futebol (VT) Eram 161 horas mensais em cores no horário nobre, 31 horas semanais. Muitas das emissoras que fizeram parte da primeira Rede Gazeta hoje fazem parte das grandes redes. É o caso das emissoras do Amazonas, que juntas formaram a Rede Amazônica (pertencente à Rede Globo), a TV Alterosa e TV Iguaçu (afiliadas do SBT) e TV Difusora (atual Band-RS). A TV Gazeta deixou de utilizar o termo Rede Gazeta em 1987, exatos dez anos depois, quando perdeu a concessão do canal 12 de Santos, em meio à crise que assolava a Fundação Cásper Líbero. TV Gazeta Santos O canal 12 apenas retransmitia o sinal da TV Gazeta de São Paulo, mesmo sendo a primeira geradora da Baixada Santista. Tinha um logotipo próprio, um barquinho com uma gaivota sobre ele. A direção da TV Gazeta de São Paulo gostou tanto que o logo, sem a gaivota, foi adotado pela Rede Gazeta. Foi uma criação de Luiz Francfort, que muitos acreditam ser alusivo a algum desenho de Niemeyer, já que as linhas lembravam as curvas de Brasília. Em Santos, o transmissor ficava na Serra de Paranapiacaba, próximo ao Pico do Pituí. Em 1985 a TV Gazeta contratou uma produtora local que fazia matérias, com cubo de microfone da TV Gazeta Santos, para o programa Câmera 11, apresentado por Lúcia Soares. Só que esta sucursal durou pouco. E o canal também. 40. Zulmira e a teledramaturgia na Gazeta Zulmira foi a primeira e única novela produzida pela TV Gazeta. Se você se surpreendeu com a existência de uma novela nesta história, prepare-se porque esse capítulo vai mostrar que o canal 11 já investiu diversas vezes no gênero teledramaturgia. A Gazeta começou com teledramaturgia exatamente uma semana após sua inauguração. Foi em um domingo, 1º de fevereiro de 1970. Assim como o projeto inaugural, a teledramaturgia no canal 11 também se interessava por descobrir novos talentos. E, ao contrário das outras emissoras, ela resolveu acreditar em um gênero que estava praticamente enterrado com a consolidação das novelas diárias: o teleteatro. O gênero era visto como antiquado, ao remeter a sucessos já antigos (a TV brasileira não tinha nem 20 anos!) como os teleteatros TV de Vanguarda, TV de Comédia e Grande Teatro Tupi, da TV Tupi, ou Teledrama, da TV Paulista, ou ainda Teatro Nove, da Excelsior... Resumindo: a ideia era trazer o teleteatro ao vivo como opção a quem não fosse assistir às novelas em videoteipe. O que dava ânimo era também a experiência da TV Bandeirantes, que garantia bons índices com o Teatro Cacilda Becker (atriz falecida um ano antes). A aposta foi alta, porque além de ser ao vivo, trazia apenas artistas amadores, não conhecidos do grande público. Com clássicos e também peças de novos autores, Teatro Gazeta começou naquele dia 1º, às 20h15. Porém, o produto final teria estética do teatro moderno: encenação moderna, sem roupagens e cenários luxuosos, mostrando o valor de cada personagem. No mesmo dia 1º de fevereiro, às 22h40, entrou no ar o segundo programa voltado ao teatro. Chamava-se Análise de Teatro, em que participantes dos grupos amadores conversavam e debatiam os problemas do teatro brasileiro. As duas atrações eram dirigidas pelo diretor de teatro Ibsen Wilde, responsável pela área de Teleteatro do canal 11. O diretor na televisão fez pontas em teleteatros da TV Tupi, depois teve uma breve experiência nas TV Excelsior e TV Bandeirantes. Fez também teleteatro na TV Coroados de Londrina (PR). E dirigiu a Rádio Ourinhos, na mesma cidade do interior paulista. Na semana de estreia dos programas, Ibsen disse ao jornal A Gazeta: Eu sempre me dediquei a dirigir grupos amadores, ou em firmas particulares ou em faculdades. Nos últimos meses eu estava dando um curso de interpretação no Sesc e montamos Antígone, levada no Teatro Anchieta. Quando eu soube do lançamento do 11, vim procurar • o diretor, Marco Aurélio, e tive a surpresa de ser convidado para dirigir • o teleteatro. Eu já fizera muitas tentativas na TV, e quando não tinha mais esperanças eis que surge a oportunidade. Porém, pela dificuldade financeira em montar os espetáculos e também pela baixa audiência das atrações, em menos de um semestre os programas foram extintos. Wilde tentou diversas fórmulas e estilos de teatro. O que ele plantou ali, sem grande divulgação, daria certo na TV Cultura anos depois, com Teatro 2 (1972), que foi um grande passo para o retorno do teleteatro à TV brasileira. O segredo da Cultura foi escolher também grandes textos e mesclar profissionais e amadores, com o respaldo da Fundação Padre Anchieta e grandes diretores. Fizeram sucesso também Estúdio A, da TV Tupi, e Caso Especial, da TV Globo. Teatro Gazeta e Análise do Teatro foram limados da programação com a reestruturação do canal 11, em setembro de 1970. Só que o gênero não foi totalmente descartado. Nos bastidores havia um profissional que torcia pela volta da teledramaturgia. Era Kleber Afonso, que foi produtor de vários programas na TV Gazeta. Kleber dividia o seu tempo entre a emissora e seus projetos pessoais. Razão pela qual, em 1973, deixou de dirigir o Show da Viola, conforme conta Wilma Aguiar, que o sucedeu na direção do programa: O Kleber Afonso começou a viajar com a peça teatral [Gaiola das Loucas]. Então não tinha tempo mais de produzir o programa do Aguiar e eu acabei ficando no lugar. O Kleber foi fazer turnê, viajar, porque ele era ator de teatro. Em 1976, a direção da TV Gazeta comprou a ideia de Kleber Afonso. Experimentaram voltar com o teleteatro, sob a produção e direção de Kleber. Foram escolhidos e ensaiados textos clássicos ou outros novos, trazendo atores do TV e teatro. A televisão brasileira passava por uma renovação de atores e a ideia da TV Gazeta foi também resgatar os pioneiros do meio. Muitos trocaram a TV pelo teatro, outros até pelas pornochanchadas. Com o apoio e o nome de Kleber, a TV Gazeta começou a organizar um elenco, com a possibilidade de ocasionalmente apresentar uma nova peça. Após o desligamento de Marco Aurélio, o diretor-adjunto Luiz Francfort passou a cuidar do projeto com Kleber Afonso. Com o diretor de teatro veio também Dionísio Azevedo, que em janeiro de 1976 havia feito a novela da TV Tupi O Velho, o Menino e o Burro. E eles ajudaram a trazer os demais. Foi assim que aconteceu a primeira experiência do novo Teatro Gazeta, no dia 13 de outubro de 1976, às 21 horas. A peça de estreia foi A Mansão do Fim da Estrada, de Henrik Ulmer Klaft – o autor escandinavo foi descoberto por Kleber Afonso em uma de suas turnês. A peça foi protagonizada por Vera Nunes, Analy Alvarez, Renato Bruni e outros. Sobre a trama, a Revista Veja comentou em 20 de outubro de 1976: Klaft engenhou uma trama batida em todo o mundo: duas irmãs órfãs, uma malvada e outra no fundo boa, mas dopada, atraem compradores para sua velha, imensa e retirada mansão. Um a um, todos demonstrando horror aos talões de cheque, os interessados desembarcaram de seus táxis carregando uma mala recheada de dinheiro e são sumariamente envenenados. Até que o último deles escapasse da sopa fatal e terminasse com a história, os telespectadores do canal 11 paulista assistiram a uma hora inteira de caras torcidas e choros das duas irmãs... (...) O diretor Kleber Afonso se encarregou de polvilhar o drama com centenas de violinos e cortes que obedeciam ao ritmo de uma sessão de slides. Nada, porém, semelhante ao impacto da abertura do programa: durante pelo menos 2 minutos, uma bonita moça introduziu a série lendo um letreiro colocado metros à esquerda da câmara. Inaugurava-se assim o estilo de falar diretamente ao público – de perfil. É esse final que demonstra a colaboração deste teleteatro para a história da TV brasileira. Foi o pioneiro em adotar o estilo de perfil – hoje uma prática em todas as emissoras do país e regra em seus manuais de telejornalismo. Isso faz com que o telespectador sinta participar de um triângulo de conversa. A revista Melodias, em 5 de novembro de 1976, falou da repercussão, em entrevista com o diretor-adjunto Luiz Francfort: Melodias– Vocês tiveram uma experiência com o teleteatro apresentado há poucas semanas atrás. Deu bom resultado? Vocês vão continuar? Francfort – Embora sem muitas pretensões, a experiência com o teatro chegou a nos surpreender pelos resultados de audiência, muito bons levando em conta a falta de tradição no setor. Está nos nossos planos a produção de espetáculos tipo começa e acaba, não a novela. Só que o teleteatro aos poucos deu certo, com exibições esporádicas de peças. Dois anos depois, Kleber Afonso foi além. A TV Gazeta resolveu fazer novela. E, fugindo dos padrões da concorrência, criaram o horário de teledramaturgia às 15 horas. Depois foi feita Zulmira, com direção de Kleber Afonso. Nela Kleber pediu que colocassem umsanitário no cenário, dando o título de primeira trama a ter banheiro na história da teledramaturgia brasileira. Kleber era um bom diretor e na Gazeta não lidava só com teledramaturgia. Ensaiou apresentadores, impostação de voz e outras coisas. Voltando à novela, Zulmira fez parte da programação especial de janeiro de 1978 pelos oito anos da TV Gazeta. Regina da Glória Lopes, a Nina, que trabalhava como auxiliar de divulgação, fala sobre a novela: Nós fizemos o lançamento da novela e o Kleber gravou a primeira cena e tal. Chamamos a imprensa, fizemos uma reunião apresentando a novela. Falava-se do banheiro porque era uma curiosidade naquela época que ninguém fazia. A estreia de Zulmira foi anunciada para 26 de janeiro de 1978, um dia após o oitavo aniversário da emissora. A divulgação definiu a trama da seguinte forma: Zulmira (segunda a sexta, 40 minutos) focaliza a vida de uma mulher casada, de classe média, que enfrenta os problemas de uma dona de casa com as dificuldades e as regalias dos tempos modernos. A personagem que dá nome à novela é uma pessoa como todas. Sofre com a alta de preços, com a falta de leite, com a poluição, economiza combustível, escuta fofoca e assiste à novela na TV. Isto sem falar que também curte samba, cai em buraco, critica a seleção e gosta de caipirinha. A novela teve roteiro de Gibson Ferreira e Ronaldo Ciambroni. Wagner de Campos era o gerente de produção. Fausto Rocha também fazia parte da produção. No elenco: ZULMIRA – Rosaly Papadopol (protagonista) PAULO FERNANDO – Marcelo Coutinho (ele trabalhou antes na Tupi) MARCELO – Mauro de Almeida MIRNA – Lysa Lins (Monalisa Lins era filha da atriz Yara Lins) JEOVÁ – Jeovah Amaral (pai dos personagens Marcelo e Mirna) Zulmira possuía diversos cenários, criados pelo cenógrafo Sérgio Pinheiro. A maioria retratava a casa da protagonista. E havia o tão polêmico e pioneiro cenário na história da teledramaturgia brasileira: o banheiro. Um boxe com chuveiro, uma privada e um bidê brancos, um lavatório com espelho, além de uma parede de azulejos pintados. Nada além. Próximo da estreia, encaminharam à censura federal os roteiros dos primeiros capítulos da novela. A censura pediu também que fosse encaminhada uma fita quadruplex gravada em 18 de janeiro, com os dois primeiros capítulos. Jorge de Mello Macedo, encarregado do tráfego de fitas, se recorda do episódio: Foram gravados uns dez capítulos. Quando foi para entrar no ar, ela passou pelo crivo de censura. Os militares cismaram que estávamos mostrando o vaso sanitário na novela e achavam que aquilo era uma afronta. Eles proibiriam a emissora de colocar o capítulo no ar no dia 26. Prenderam totalmente um capítulo. Depois a novela não chegou nem a ir para o ar. Eu mesmo fui lá na censura. Depois viram que aquilo era uma besteira e conseguiram uma autorização de um coronel, o Melo. Eu fui buscar lá no Batalhão da Guarda Civil essa fita. Estava presa lá só porque mostrava um vaso sanitário! A novela não foi para o ar e acabamos apagando tudo. A fita ficou retida, passando do prazo da estreia da novela, 26 de janeiro. Esse percalço parou toda a produção, que ficou sem gravar novos capítulos. Todos aguardando a resposta da censura Federal. Mas adiar ainda era possível. O que aconteceu depois é que decretaria o fim do sonho da Gazeta de fazer teledramaturgia: Kleber Afonso sofreu um derrame. Isso interrompeu tudo. Tanto que em 21 de abril de 1978 as fitas das novelas foram apagadas, sem esperanças de veiculação da produção. A tristeza tomou conta de todos. A recuperação de Kleber foi lenta e só após dois anos pôde o diretor voltar ao mundo artístico. Três anos depois, em 1983, estando em atividade, faleceu Kleber Afonso. Como homenagem, vai abaixo o perfil do profissional. Kleber Afonso O gaúcho João Carlos Petruccio Tavares, nome verdadeiro de Kleber Afonso, nasceu em Pelotas (RS), em 1930. Mas foi no Rio de Janeiro que se destacou. Primeiro trabalhando no Teatro de Revista e nas chanchadas da Atlântida, com Oscarito e Grande Otelo. Em São Paulo fez parte do Teatro de Alumínio e também do Teatro de Revista da cidade. Fez grande sucesso com a peça Gaiola das Loucas. Dirigiu e atuou em diversos filmes, muitos com Mazaroppi, como Zé do Periquito. Foi ainda colunista do Diário da Noite (1963) e da Revista São Paulo na TV (1965), além da Revista Intervalo. Na TV Cultura trabalhou em novelas quando a emissora era dos Diários Associados, como Escrava do Silêncio, e quando foi adquirida pela Fundação Padre Anchieta, como Vento do Mar Aberto. Já na TV Tupi fez Ídolo de Pano, Mulheres de Areia, As Divinas e Maravilhosas, O Machão e Vila do Arco. Na Globo, Moinhos de Vento, seu último trabalho em TV. Dirigiu programas da TV Paulista, como o Iê- iê- iê do Sucesso, junto com Edson França, em 1976, apresentado por Gilberto Lima (Giba) e a cantora Inês Jordan. Foi para a TV Gazeta em 1970 dirigir muitos programas e treinar seus profissionais. Teve um enfarte em 1978, que o deixou afastado de suas atividades normais. Voltou à ativa somente em 1980, como apresentador do primeiro programa gay radiofônico, e, posteriormente, em 1981, como autor do filme O Jeca e a Égua Misteriosa. Kleber Afonso foi também ator e diretor de mais de dez filmes do gênero pornochanchada. Vitimado por um tumor cerebral, faleceu em 1983, em São Paulo, aos 52 anos. Outras produções Com a inconstância no gênero, muitas foram as incursões da TV Gazeta no ramo da teledramaturgia. Em maio de 1974, por exemplo, o programa Mosaico na TV fez uma apresentação especial da peça judaica Mila 18 – de Leon Uris, com adaptação e direção de Arlety Novelli. Com Mauro Gertner, Perola Wedesheim, Flavio Mugnani, Fani Pelcerman, Bertha Ostronof e outros. No elenco estava o jovem Ariel Moshe, que se tornou ator de TV em produções como Perigosas Peruas e Sampa, na Globo; Rá-timbum e X-Tudo, na TV Cultura; Essas Mulheres, na Record; Éramos Seis, Revelação e Vende-se um Véu de Noiva, do SBT; na época, esta peça do Grupo Teatral Círculo Macabi estava em cartaz no Clube Monte Sinai, em São Paulo. Tupi or not Tupi? Dentro do meio televisivo era declarada a relação nada amistosa entre TV Tupi de São Paulo e TV Tupi do Rio de Janeiro. Ambas, da mesma rede, nasceram cada uma à sua moda. E quando ficaram sob o mesmo teto, com a Rede Tupi, a relação foi de troca de farpas e de brigas, uma querendo mandar mais que a outra. Pessoas ligadas ao meio dizem ser essa a principal causa do fim da Rede Tupi. Tudo aliado, claro, à má administração, com duas emissoras cabeças de rede em uma só, brigando por espaço. Mas, afinal, o que tem isso a ver com a TV Gazeta? Antes de explicar, conto a história da primeira novela de sucesso do país: O Direito de Nascer (1964). Ela foi produzida pela TV Tupi-SP, oferecida para a Tupi-RJ, que a recusou, sendo vendida para a TV Rio, onde fez muito sucesso em território fluminense. Pois bem, quase dez anos depois, em 1972, o processo inverso aconteceu. Os Diários Associados resolveram criar unidades de negócios que desmembraram seus trabalhos. Isso, para melhor administrar os problemas da holding Associados. Um desses braços era uma produtora independente, de nome Sirta – Serviço de Imprensa, Rádio e Televisão Associados. Sua base era no Rio de Janeiro, sendo que antes a área de produção audiovisual era estruturada principalmente em São Paulo, na TV Tupi. E resolveram via Sirta que as novelas passariam a ser produzidas pela TV Tupi-Rio. A primeira seria Tempo de Viver. Mas algo aconteceu: A Tupi paulista não quis a novela em protesto contra a ideia de a carioca passar a ser centro gerador de programas e novelas das Associadas (Revista Veja, 09/08/1972). E a resposta da Sirta ao boicote foi oferecê-la a outro canal em São Paulo. Sabe qual? Para a TV Gazeta! Assim, de 1972 a 1973, às 21h30, a TV Gazeta exibiu aquela que foi considerada a primeira superprodução em novelas dos Associados, com várias externas e tomadas aéreas, muitas realizadas em Ipanema. A novela foi escrita pelo experiente Péricles Leal, com direção de Jece Valadão – que era também o protagonista, no papel de Anjo (sua primeira aparição em TV). No elenco havia também outros grandes nomes: Reginaldo Faria, Vera Gimenez, Otávio Augusto, Rubens de Falco, Paulo César Pereio, Isabel Ribeiro, Adriana Prieto, Neila Tavares, Dilma Lóes, Diana Morel. O boicote deu boa audiência à TV Gazeta, que passou a ser assistida por um público que não a via. Mas a Sirta não conseguiu reverter o problema da Rede Tupi, que em 1980 foi extinta pelo governo federal. A crise já era geral. Parceiros A TV Gazeta, sempre com suas parcerias, também exibiu outras produções em teledramaturgias vindas de outros canais. Uma série de teleteatros do Telerromance da TV Cultura foi cedida pelo canal em troca de A Gazeta gravar partidas de jogos em cores. Entre as peças exibidas, Iaiá Garcia foi a mais comentada quando passou na Gazeta. Entre o final da década de 1970 e o início da de 1980. Na fase da CNT, na década de 1990, várias novelas foram exibidas. Inicialmente produções ítalo-americanas, como Árvore Azul e Manuela (escrita pelo autor brasileiro Manoel Carlos), ainda na época da Rede OM, em 1992. E depois, com o apoio da Associação do Senhor Jesus, muitas novelas foram realizadas. Exibiram Amor de Pai, Antônio dos Milagres, Coração Navegador, Ele Vive, Os Evangelhos, Irmã Catarina (que teve bastante destaque, com Myrian Rios), Paulo Apóstolo, Pista Dupla, A Última Semana, A Verdadeira História de Papai Noel e A Vinda do Messias. As últimas novelas do grande autor Geraldo Vietri foram exibidas para todo o Brasil pela CNT Gazeta. Foram elas: A Verdadeira História de Papai Noel, Irmã Catarina e Antônio dos Milagres, respectivamente. 41. Nos tempos do disco A TV Gazeta também marcou época na era disco, das discotecas, visual anos 1970, gírias. Dois foram os programas que marcaram essa fase no canal 11: Programa Dárcio Campos e Gaiola de Ouro. No comando de cada um, dois grandes nomes do rádio: Dárcio Campos e Alfredo Borba. Tínhamos o programa do Alfredo Borba. E naquela época toda e qualquer música passava pelo censor, que podia ver numa simples frase algo que emitisse à resistência e aos homens que estavam no poder. Era diariamente. Vinha telex aos montes proibindo novelas, letras de música, apresentações. E o Borba ainda quebrava os discos no ar e falava um monte de bobagens. Volta e meia a censura estava em cima do Gaiola de Ouro. Implicavam até com a forma que o Borba conduzia o programa. Era muito difícil. Já no caso do Dárcio Campos há uma curiosidade. O produtor era um argentino, Amílcar de Dall, que fez um cenário com forminhas. Essas forminhas de colocar docinhos de festas, de várias cores. Dava um efeito fantástico aquilo no ar. Metálico, reluzente, era algo fora do normal. Ele foi colocando forminha por forminha até preencher tudo da tapadeira. O programa dava uma audiência de 2 a 3 pontos, bom para os padrões da Gazeta naquela época. O programa era interessantíssimo. Conta Guilherme Araújo. O bom relacionamento do argentino Amílcar de Dall com o exterior fez com que a Gazeta produzisse o Programa Dárcio Campos (falado em espanhol!) em edições especiais para emissoras do Chile (1o/2/1977 e 29/3/1977) e para a Europa (10/9/1975). Gaiola de Ouro ficou no ar de 1975 a 1978. E o Programa Dárcio Campos, de 1976 a 1978, voltando depois em 1980. Dárcio fez bastante sucesso com seu programa também no rádio, na TV Record e na TV Bandeirantes, e faleceu de aids em 1995. Assim como o quebra-disco que Alfredo Borba fazia diante do júri de seu programa, Dárcio Campos também tinha suas manias. Uma delas era seu modo de cumprimentar. Levantava a mão para o alto e abria os dedos, de modo a fazer um v entre médio e anular (igual ao sinal dos vulcanos de Jornada nas Estrelas, como o do Sr. Spock!). E ainda criou a expressão Geração Chanti: onde a juventude é a força. Além da habitual música do programa: Para você, minha fofinha... O Dárcio Campos vem fazer sua alegria... Era conhecido também pela mania de colecionar carros importados. Para a história da TV Gazeta a estreia do Programa Dárcio Campos, em 2 de outubro de 1976, às 14 horas, marcou um grande passo para a emissora: a inauguração dos estúdios, departamentos e camarins do 8o andar, existentes até hoje. Luiz Francfort conta sobre a montagem dos estúdios, da qual ficou responsável: Ficou pronta a obra, os estúdios, tudo bonito. Mas o revestimento acústico era muito caro, e a iluminação. Não tinha nada aqui no Brasil, tudo era importado. Ia custar uma fortuna. Eram dois estúdios monstruosos, de 8 metros de altura. Aí eu abri uma revista americana e li que uma emissora de lá tinha resolvido o problema usando uma cortina de um tecido muito grosso e pesado, forrando os quatro lados, com cantos irregulares. Uma quebra de um metro, outras de três metros para o som não reverberar. Aí eu inventei essa cortina. Vi com o Marco Aurélio para comprarmos. A iluminação eu comprei da Peterco, que fabricava spots para rodovias, estádios de futebol. Era uma potência mais forte, que ainda não tinha sido testada. Comprei esses negócios porque aqueles especiais para a TV colorida não podiam usar branco, porque estourava no ar a imagem. Se usasse branco, na tela desapareceria as imagens. O Amílcar criou aquele cenário grandioso, espetacular. No dia em que inaugurou o sr. Silvio Santos fez uma visita à Gazeta, sem ser convidado, para olhar o programa. [risos] Na janela do 9o andar, que se via o 8o, ele olhou, sem alarde, bem camuflado. Realmente aqueles estúdios causaram criatividade. O primeiro foi inaugurado pelo Dárcio e o segundo, ao lado, pela Clarice Amaral, com cenários lindos do Sérgio Pinheiro. Calcule o meu estado de espírito. Tinha dito de botar a cortina para o José Gomes, a iluminação e tal, mas não tivemos tempo para testes. Por sorte deu tudo certo. Um alívio. A inauguração dos estúdios do 8o andar foi a fase final da implantação das instalações da TV Gazeta, sendo a estrutura que permanece igual até os dias atuais. Honoré Rodrigues completa: A montagem da TV Gazeta, sua decoração e a disposição de seus departamentos e áreas, deve-se muito ao Francfort. Ele foi um elemento de ponta, que tinha uma boa relação com a direção da Fundação, o que deu base para a criação estrutural da nossa TV Gazeta. Quando a TV Gazeta começou, havia lugares que dizíamos que, se pisássemos sem cuidado, iríamos para o andar de baixo. O Luiz, com os arquitetos, engenheiros, com a direção, fez nascer uma nova TV Gazeta. Foi de um dia para o outro. Quando vimos, trabalhávamos numa TV bela e moderna. 42. Independente e multicultural A história da TV Gazeta é marcada também pelo apoio à produção independente. Sem condições de criar programas próprios, se rendeu às coproduções e locação de horários de sua programação. Boa parte de curta duração. Dessa forma incentivou a produção independente, dando espaço para a exibição em TV aberta dos pequenos produtores de televisão. Por fatores econômicos, a TV Gazeta entrou para a história da televisão brasileira também por dar espaço à produção sem distinção de credo e etnia. Transformou-se numa referência democrática. Uma TV multicultural e universalista (que respeita todas as crenças). Exemplo disso é que numa mesma época, em março de 1985, sua grade tinha, convivendo lado a lado, programas heterogêneos. Por exemplo, aos sábados, tinha-se a sequência Programa da Boa Vontade (10h30, da Legião da Boa Vontade - LBV), Renascer (11h, da Igreja Renascer em Cristo, evangélico) e Anunciamos Jesus (11h30, da Igreja Católica); no domingo, Mosaico na TV (11h, sobre a cultura judaica), Um Pouco de Sol (11h45, da Igreja Batista, programa evangélico) e Imagens do Japão (12h, sobre cultura japonesa). Sem esquecer da presença de Árabe na TV (sobre cultura árabe) e Todos Cantam Sua Terra (sobre a cultura portuguesa), também na grade da TV Gazeta. Muitos dos programas marcaram época dentro da história do canal. Abaixo destacamos alguns. Além dos independentes, outros programas também foram produzidos pela própria TV Gazeta, que ficaram pouco tempo no ar, mas merecem citação: Anunciamos Jesus (religioso), Árabe na TV (com Anuar Uchoa), Astros do Ringue (pugilismo), Baile da Saudade (com Francisco Petrônio), Big Stars (musical), Boa Noite, São Paulo, Boxe CMTC (o pioneiro dos programa de boxe da TV Gazeta), Radar (com Thais Alves, a 1a VJ do país), Câmera Aberta, Câmera 11 (noticiário que lançou Rafael Moreno em 1978 e, posteriormente, Lúcia Soares, em 1985), Câmera Verdade (com Toninho Guerreiro, em 1982), Canta Brasil (com Aristides Jr. e Nalva Aguiar), Cara a Cara (com Ana Tavares de Miranda), Computer Cartoon, De Paula Esportes (esporte amador), Destaques (com Edison Gonçalves e Mirian Gonçalves e direção de TV de Wladimir Duarte), Domingos Barroso, Espetáculo de Gala, Esporte Rei (futebol, produção própria), Fato em Foco (apresentação de Ferreira Neto), Feira Livre do Automóvel, Flash (1a versão, com Ataíde Teruel), Forja de Campeões, Gazeta Jovem, São Paulo Social Clube, Gigantes do Ringue, Imagens do Japão (com Rosa Miyake), Japan Pop Show, Programa Nelson Matsuda, Programa Paulo Barbosa (produzido pela Gazeta entre os anos 1980 e 1990), Inteligência (com Carlos Marques, em 1975), Intervalo (direção de Carlos Alberto Vizeu, em 1989), Circuito Night and Day (onde surgiu Celso Russomano na TV), Italianíssimo (com o Maestro Záccaro), Mister Fisk, Mosaico na TV, MPB Show (vindo da TVE), Mulher em Ação, Nostalgia (com músicas de todos os tempos, apresentado por Nelson Precioso), Os Médicos (apresentado em 1970 pelo dr. Pedro Kassab, curiosamente pai do futuro prefeito Gilberto Kassab, que zanzava pelos bastidores da TV Gazeta nessa época, quando tinha pouco mais de 10 anos), Pastor Schiliró na TV, Poema em Feitio de Oração, Poli Just, Polícia em Ação (com Wilson Kiss, pai da crônica policial no rádio e TV), Programa Antônio Aguillar, Programa da Boa Vontade, Programa José Vasconcelos, Propaganda & Paetês (o 1o programa sobre publicidade na televisão, criado por Carlito Adese), Revisão, Rinaldo Calheiros, com Amor, Stadium, Sugestão de Wilson Salles, Sula Show (com Sula Miranda, produzido pela CNT Gazeta nos anos 1990), Telecatch Internacional (com Ted Boy Marino, apresentado por Carlos Aguiar), Telestória (teleteatros feitos em parceria com a TV Paraná em 1977, futura CNT!), Todos Cantam Sua Terra (apresentado por Néa Simões, dedicado à colônia portuguesa), TV Gazeta no Box, Um Pouco de Sol (de 1973 a 1979, religioso dirigido pelo Padre Rubens Lopes, da Igreja Batista), Valeu o Protesto?, Vestibular do Sucesso (com Nelson Soares) e Videocine. Os mais longevos foram dois. O primeiro, Mosaico na TV – de 1970 a 2004, com apresentação de Francisco Gothilf (Seu Mosaico) e o famoso quadro Pergunte ao Rabino, com Henry Sobel. Surgiu nesse programa talentos como Boris Casoy, Mona Dorf, Eliana Guttman e Fábio Grabarz (atual repórter do Mulheres). O Mosaico na TV é também o mais longevo na história da TV brasileira, no ar desde 16 de julho de 1961, ininterruptamente (hoje está na CNT). E o segundo, Feira Livre do Automóvel, criação da Matel – dirigida por Walter Ribeiro dos Santos e colegas, no início de 1972. Ficou famoso pela venda de carros na Praça Charles Müller e depois no Anhembi. E também por conta do Velho do Chapéu (Nelson de Oliveira) que mostrava os carros. Hoje, a Matel é comandada pelo filho de Walter, Luiz Eduardo Ribeiro. O programa ficou fora da Gazeta entre 29/03/2009 e 02/01/2010 (período em que esteve na TV Bandeirantes), sob o nome de Autoshop. Em 2004 a Matel promoveu um grandioso evento em homenagem aos 450 anos de São Paulo: o desfile de 450 carros antigos, que se encontraram no final na Avenida Paulista, finalizando em frente ao Edifício Gazeta, em 25 de janeiro de 2004. 43. O limite A década de 1970 foi uma década de experimentos, de criação e de grandes inovações para a TV Gazeta. Mesmo com pouco dinheiro, teve uma época de glórias, sempre contando com o apoio da Folha de S. Paulo. Mas... a fonte secou. A primeira baixa, da parte artística, foi em 1976, com a ida de Marco Aurélio Rodrigues da Costa para a Folha e, antes da sua volta, o falecimento do diretor. Ficaram sem um grande capitão, aquele que com sua alegria puxava a emissora para a frente. Entre 1978 e 1979, muitos dos que estavam lá desde o início foram se desligando da emissora, por razões diversas. Alfredo Borba, Pierre Lagudis, Honoré Rodrigues, Luiz Francfort, Kleber Afonso, Milton Peruzzi... Foi um divisor de águas. Aos poucos aquele gás, aquele clima de união pelo qual a TV Gazeta era conhecida, foi se transformando e dando, por um lado, uma visão mais séria da empresa, menos artística e mais administrativa. Essa fase foi marcada pela chegada de Fuad Cury à direção-geral da emissora. Um homem de administração. E com o falecimento de Fuad a fase se estendeu nos seus sucessores: primeiro Nathanael de Azevedo e, posteriormente, Alberto Maluf. Do ponto de vista administrativo a TV Gazeta precisou se organizar de forma que criasse uma nova cara e gerasse rentabilidade à emissora • principalmente através das produções independentes. Ao mesmo tempo mudou-se a ligação entre apresentadores e emissora. A direção optou por terminar com todas as possíveis coproduções, deixando a grade dividida em dois grupos: produções próprias e produções totalmente independentes, que compravam o horário. Foi assim, que, aos poucos, aqueles que funcionavam sob o regime de coprodução (comercializando o próprio programa e ganhando porcentagem sobre venda) foram limados da grade de programação. Foi o caso de Clarice Amaral e Carlos Aguiar, por exemplo. Outros se adaptaram ao novo esquema, como Tavares de Miranda. Essa visão comercial da TV Gazeta também se deve ao que acontecia na Fundação nessa época. Grandes impasses ocorreram em 1978, ano em que a Folha de S. Paulo cumpriu o contrato de dez anos de cooperação com a Fundação Cásper Líbero, deixando-a agora caminhar com as próprias pernas, com um mínimo de sustentabilidade criada ao longo daquela década. Os termos do acordo foram modificados e só restou entre a Folha de • Paulo e a Fundação Cásper Líbero a parte que cabia à impressão dos jornais e ao aluguel de suas instalações, na Rua Barão de Limeira, para toda a parte funcional de A Gazeta e A Gazeta Esportiva. Para se manter em pé sozinha, a primeira medida estratégica da Fundação foi transformar o jornal A Gazeta, sem grande rentabilidade na época, em encarte do jornal A Gazeta Esportiva. As rádios funcionavam regularmente e a TV Gazeta, entre acertos e tropeços, mudava os rumos para também se manter de pé. Virar o leme, segurar as rédeas. Sobreviver sozinha. Foi com esse espírito que a TV Gazeta deixou os anos 1970 e ingressou na nova década. Capítulo IV Anos 1980: parcerias e parceirinhas Mulheres em Desfile, a explosão do TV Mix, a TV desindexada, o jovem na TV e a parceria com a Abril Vídeo Cronologia (1980-1989) 1980 • 30 de janeiro: Clarice Amaral levou ao seu programa a tribo do índio Aritana. Com o apoio de Romão, da Romão Magazine, a tribo veio do Alto Xingu. Clarice conseguiu o apoio de diversos patrocinadores que deram à tribo brinquedos, panetones e cestas básicas. Aritana ganhou ainda uma camisa do Corinthians. Clarice aproveitou e fez uma ampla entrevista com os índios, perguntando o que Aritana achou do sucesso da novela Aritana, exibida na Rede Tupi entre 1978 e 1979 e inspirada na sua vida. • 16 de junho: o presidente Figueiredo renovou por mais 15 anos a concessão da TV Gazeta. • 19 de setembro: naquela sexta-feira foi ao ar, pela última vez, o programa Clarice Amaral em Desfile. • 22 de setembro: na segunda, o programa Clarice Amaral em Desfile se transformou em Mulheres em Desfile, com apresentação de Ione Borges e Ângela Rodrigues Alves. • 16 de dezembro: os funcionários da área de operações da TV Gazeta compareceram à palestra da Ampex na sede da TV Cultura. O tema foi o formato de fita U-matic (videocassete). A causa foi o rebuliço causado em diversos canais de TV por problemas ocorridos com o formato. Jorge de Melo Macedo, encarregado do tráfego, informou em comunicado aos colegas medidas urgentes a serem tomadas: o uso frequente de ar-condicionado, a compra de um termo-hidrômetro e a limpeza semanal das prateleiras de fitas. A TV Gazeta utilizava fitas U-matic das marcas Sony, Scotch, Fuji e Kodak. • 31 de dezembro: o corredor José João da Silva, atleta do São Paulo Futebol Clube, quebrou o tabu de 34 anos sem um brasileiro ganhar a prova da Corrida Internacional de São Silvestre. Foi a primeira vez em que a TV Gazeta mostrou um brasileiro ganhando a corrida. 1981 • 31 de janeiro: O diretor-geral da Rádio e TV Gazeta, Fuad Cury, sofreu acidente de moto em Peruíbe (SP), falecendo no mesmo dia. Estavam com ele a esposa, Maria Consuelo, e o filho caçula, Alexandre. A mulher morreu dias depois. Em seu lugar, assumiu Nathanael de Azevedo e, posteriormente, Alberto Maluf. Foi uma grande perda para a Fundação Cásper Líbero, conta sua secretária Ligia Dotti. • 1o de abril: depois de um período sem programas sobre pugilismo na televisão aberta, retornaram à TV Gazeta as lutas de boxe da Federação Paulista de Pugilismo. As lutas, realizadas no Baby Barioni, foram ao ar nas noites de sábado, com apresentação de Newton Campos (da Federação e também jornalista de A Gazeta Esportiva). • 9 de setembro: em comunicado do tráfego da TV Gazeta a seu almoxarifado, o encarregado Jorge de Melo Macedo informou devolver as 32 fitas no formato IVC: Não estão sendo mais utilizadas pela televisão, devido ao sistema estar ultrapassado. Começou a transformação dos formatos de fita na emissora. • 22 de setembro: Mulheres em Desfile comemorou seu primeiro aniversário no Anhembi. Cinco mil pessoas compareceram. • 28 de outubro: depois do IVC, chegou a vez de aposentar o formato de fita quadruplex. O diretor-geral Nathanael de Azevedo, em comunicado ao Tráfego da TV, informa: Em reunião realizada com o engenheiro Iury ficou decidido que a partir da chegada do material Sony (ilha de edição) todo arquivo de fitas de VT será feito com fitas videocassete, eliminando-se totalmente qualquer nova compra de fitas quadruplex. Necessitamos, portanto, iniciar a compra de videocassetes de 60’ para a futura transformação do arquivo com quantidade inicial de 100 fitas (convém tirar licença para 300 fitas com embarques parciais). A diferença de preço de quadruplex para videocassete é de $ 40.000,00 por unidade, o que aconselha a apressar a mudança. A mudança total das quadruplex para U-matic (videocassete) deu-se somente no final da década. • 3 de novembro: faleceu Pedro Monteleone, ex-diretor da Fundação Cásper Líbero e um de seus principais nomes. Companheiro de Cásper Líbero desde as primeiras décadas de A Gazeta, foi um dos criadores da Fundação. 1982 • 20 de janeiro: de forma irreverente, Peirão de Castro, Zé Italiano e Rubens Pecce (que reestreou na TV Gazeta um dia antes) promoveram uma mesa-redonda diferente, às 21 horas. Entrevistando jogadores que atuavam na região árabe, os apresentadores se vestiram de sheik. Os convidados foram os jogadores Zenon, Formiga, Minelli e Rivelino. Com produção de Carlito Adese e Guilherme Araújo. Peirão disse à A Gazeta Esportiva: Quisemos fazer uma homenagem aos convidados e acho que todos gostaram. É desse tipo de programa que a televisão precisa, descontraído e cheio de novidades. O programa teve ainda a participação da professora de dança do ventre, Vera Belo. Foi gravado no Clube Zable, no Ibirapuera. • 9 de fevereiro: nova mesa-redonda especial. Agora, denominado Uma Casa Portuguesa com Certeza, Peirão de Castro e colegas foram à sala de troféus da Associação Portuguesa de Desportos, contaram a história do time e ainda tiveram a participação do Grupo Folclórico Arouca São Paulo Clube. Fizeram, antes, duas mesas-redondas especiais, no Corinthians e no Palmeiras. As edições especiais ganharam força na emissora após o sucesso das anteriores. • 3 de abril: estreou Na Marca do Pênalti, às 13 horas. Programa apresentado por Zé Italiano e produzido por Carlito Adese. O convidado de estreia foi Paulo Machado de Carvalho, O Marechal da Vitória da Seleção Brasileira. • 6 de abril: foi ao ar, às 21 horas, o especial Falcão 8o Re Di Roma (oitavo Rei de Roma, em italiano), com uma sabatina com o jogador Falcão. Para a gravação nos estúdios da TV Roma, foram para a Itália, em 20 de março, Peirão de Castro, Zé Italiano, para a apresentação, e Carlito Adese como produtor. Também na produção, o jovem Fabio Rolfo. • 4 de junho: foram para a Espanha cobrir a Copa do Mundo de 1982 Peirão de Castro e Zé Italiano, além dos produtores Carlito Adese e Edson França. A Hora da Copa foi gravada em VT, mostrando os bastidores da competição. Diariamente os tapes eram mandados ao Brasil, sem uso de satélite. • 4 de setembro: em grande festa no Palácio das Convenções do Anhembi, o Mulheres em Desfile comemorou seu 2o aniversário. Com a presença do governador de São Paulo José Maria Marin e muitos convidados, como Agnaldo Rayol, Wilson Simonal, Jessé, Gilliard, Dudu França, A Patotinha, Joana, Wando e Originais do Samba, entre outros. A apresentação foi de Fausto Rocha, acompanhado das parceirinhas Claudete e Ione. 1983 • Antonio Euryco se tornou diretor do Departamento de Esportes da TV Gazeta. • 21 de abril: Foi inaugurada a nova torre da TV Gazeta, batizada de Torre Cásper Líbero. As antenas das emissoras Globo e Gazeta ficaram sobre a mesma torre. • 25 de abril: a Fundação e a Editora Abril firmaram acordo para transmissão de programação da Abril Vídeo no horário noturno da TV Gazeta. Firmam também parcerias com a Gazeta Mercantil e Goulart de Andrade. • 11 de agosto: estreou a faixa de programação São Paulo na TV, uma parceria da Abril Vídeo com a TV Gazeta. • 27 de setembro: o conselho curador elegeu o publicitário Mauro Salles como novo presidente do conselho diretor da Fundação Cásper Líbero. Ele entrou no lugar de Joaquim Peixoto Rocha, que renun ciou alegando que não conseguia mais conciliar a função com sua vida particular. Said Farhat presidia o conselho curador na época. Disse Salles à Revista A Imprensa: A diretoria atual permanece, pois o meu objetivo é dar continuidade ao trabalho que o Peixoto Rocha vinha desenvolvendo. • Nesse ano Guilherme Araújo era gerente operacional e Silvio Alimari supervisor de programação. Um trabalho árduo para aquela gestão foi reativar as quase 70 repetidoras do canal 11 que estavam obsoletas pela falta de renovação técnica. Assim, novamente, a TV Gazeta ampliou seu sinal com qualidade para todo o Estado de São Paulo. • Roberto Avallone entrou para a TV Gazeta na função de gerente de esportes. 1984 • Alberto Maluf assumiu a direção-geral da TV Gazeta. Guilherme Araújo continuou gerente operacional, Ronaldo Alvan se tornou diretor de programação e José Roberto Maluf o superintende-geral de Rádio e TV. Paulo Camarda era gerente administrativo da Fundação Cásper Líbero. • 25 de abril: a censura bateu de frente com a TV Gazeta após diálogo entre Paulo Markun e o vice-governador Orestes Quércia um dia antes. O Dentel lacrou a TV Gazeta e tirou o canal 11 do ar. • 26 de abril: Mauro Salles conseguiu autorização para deslacrar o transmissor da TV Gazeta e, no ar, leu pronunciamento repudiando a censura. • 13 de agosto: estreou, às 19h45, o programa diário Jornal do Esporte, na TV Gazeta. Uma parceria entre a TV Gazeta e A Gazeta Esportiva. Com apresentação de Sandra Martha e João Carlos Albuquerque, comentários de Roberto Avalone, produção de Ruth Aisemberg e Renata Figueira de Melo e direção-geral de Edison Scatamachia. O nadador Ricardo Prado foi o primeiro entrevistado. Com o quadro Reportagem da Reportagem, os repórteres contam os bastidores da própria matéria – um pioneirismo na crítica esportiva na TV. • Outubro: A Fundação criou a Superintendência-Geral. Seu primeiro superintendente foi José Roberto Maluf, vindo da Rede Bandeirantes. Maluf já havia passado pelo Jurídico da Fundação anteriormente. A revista A Imprensa comentou: Criado pelo conselho diretor, a superintendência dirigirá toda a área de administração e finanças da Fundação, compreendendo a Faculdade e veículos de comunicação. (...) Os problemas que o aguardam são muitos, mas dois deles, particularmente espinhosos, arrastam-se e crescem desde a sua primeira passagem pela casa: 1) As inúmeras reclamações trabalhistas (contra a TV Gazeta, principalmente), que somam já uma bela fortuna; e 2) Os numerosos casos de calotes de produtores independentes, que com praram horários na TV e na Rádio e não pagaram até hoje. Com sua experiência na área jurídica, Maluf precisou colocar ordem na casa. 1985 • 5 de janeiro: estreou Cara a Cara, programa de debate mediado por Ana Tavares de Miranda, com produção de Fernanda Teixeira. Quartim de Moraes chegou a apresentar a atração por um tempo. No dia 17 de junho, Ana Tavares teve o debate entre Marília Gabriela e Benjamin Cattan. A curiosidade dessa edição é que anos depois, em 1987, o nome Cara a Cara ficou consagrado na TV pelo programa homônimo da Rede Bandeirantes, apresentado por Marília Gabriela. • Guilherme Araújo tornou-se o novo gerente-geral da TV Gazeta e Sérgio Felipe do Santos, o superintendente-geral. Ainda nesse ano Luiz Francfort retornou à TV Gazeta, tornando-se gerente artístico de Rádio e TV – ficou no cargo até meados do ano, transferindo-se para a Rede Manchete. E Cláudio Carramascho assumiu o cargo de diretorcomercial da TV Gazeta. • 11 de março: estreou Flash, com Amaury Jr. • 20 de maio: são lançados dois novos programas, Foco e Câmera 11, ambos apresentados por Lúcia Soares. Foco era uma adaptação do antigo Flash (da década de 1970). Um compacto de vídeos curiosos, agora mesclados com clipes musicais, entrevistas e notícias. Foi o primeiro programa dirigido por Mário Sérgio dos Santos, até então produtor da TV Gazeta. No ar, aos sábados, das 19h45 às 21h. Já o Câmera 11 era um noticiário. • 14 de abril: pela primeira vez aos domingos, a mesa-redonda esportiva foi remodelada sob o nome Mesa Redonda: Futebol Debate, ancorada por Roberto Avallone. • 15 de abril: Constantino Cury, vice-presidente da Fundação Cásper Líbero, assumiu a presidência da instituição. Ele entrou no lugar de Mauro Salles, que saiu do cargo após ter sido convidado a integrar o novo governo da República. • 21 de abril: faleceu o presidenciável Tancredo Neves, que não chegou a tomar posse. A TV Gazeta fez ampla cobertura. No dia 22 de abril – data em que aconteceu o velório e cortejo pelas ruas de São Paulo, em caminhão do Corpo de Bombeiros – o programa Mulheres em Desfile começou pela manhã e saiu do ar apenas às 20h. Claudete e Ione promoveram as últimas homenagens ao presidente das Diretas. A dedicação da dupla surpreendeu a todos, não descansando um só momento durante toda a transmissão. • 15 de maio: estreou o primeiro programa infantil-musical da TV brasileira: Lig-o-Plug, uma coprodução da TV Gazeta com os estúdios Sérgio Tastaldi. • Maio: a TV Gazeta fez ressurgir uma antiga produção dos anos 1970: Nostalgia, programa musical produzido e apresentado por Nelson Precioso. Agora, ao seu lado, Meire Nogueira na apresentação. • Junho: em tempos de abertura política, o Mulheres em Desfile inovou com o quadro Plebiscito, sobre a opinião feminina em relação a temas diversos. Produção de Regina de Souza, Ângela Karam, Graziela Azevedo e Ademir Pelissaro. • 17 de junho: José Tavares de Miranda ganhou novo programa: Tavares de Miranda, o Repórter. O colunista social, em edições diárias de 10 minutos, abria a programação da TV Gazeta às 12h20. • 8 de outubro: estreou Brincando na Paulista, infantil com os palhaços Atchim e Espirro. O sucesso dos palhaços foi grande. Exemplo dis-so foi que em seu segundo aniversário uma grande festa lotou o Auditório Elis Regina, no Anhembi, com telespectadores do programa. • 4 de outubro: Night Clip era a nova faixa de programas da TV Gazeta, que abria sua programação da madrugada. Das 0h30 às 8h, videoclipes tomavam conta da TV Gazeta. Night Clip teve direção de José Carlos Alimari. • 22 de novembro: encerrou-se a parceria entre a TV Gazeta e a Abril Vídeo. • 2 de dezembro: com o fim do contrato, a Abril Vídeo demitiu 60 funcionários. Revoltados com a medida, os funcionários elaboraram carta de protesto à imprensa e enviaram telegramas ao presidente Sarney, ao governador e a ministros da Justiça, do Trabalho e das Comunicações. • 20 de dezembro – A TV Gazeta passou a exibir Iaiá Garcia, telerromance da TV Cultura produzido em 1982. Uma adaptação de Rubens Ewald Filho do livro homônimo de Machado de Assis. Com Silvana Teixeira (a protagonista), Denis Derkian, Elaine Cristina, Arlete Montenegro, Fúlvio Stefanini e outros. Essa troca de conteúdo fez parte da parceria entre as duas emissoras. 1986 • Ao completar 16 anos, a coordenação da TV Gazeta era composta de: Sérgio Felipe dos Santos (superintendência-geral de TV) e Roberto Reis (administração TV), Silvio Alimari (gerente de qualidade e eventos), Jurandir Themudo (gerente de operações), Luiz Anunciato Netto (supervisor de operações), Marco Antonio Vitoriano Vieira (supervisor de operações), Jairo Aguilar (supervisor de operações), Antonio Pinto Júnior, o Piu-Piu (coordenador de programação) e Francesco Ferraro (coordenador de programação). • 1o de maio: a TV Gazeta lançou a série de debates Nosso Jornal: Eleições 86. Programas especiais sobre a cobertura das eleições, com apresentação de Alberto Helena Jr., Roland Marinho Sierra, Randal Juliano, Décio Pignatari, Tomás Pereira, Kleber de Almeida, Márcia Campos, Franco Neto, Solange Moraes, Marci Heleine e Claudiney Ferreira. O programa terminou na cobertura da apuração e resultado das eleições em 16 de novembro de 1986, com Orestes Quércia sendo eleito como novo governador de São Paulo. Teve ainda, nos últimos dias, o SP Plantão – Eleições 86, boletins eleitorais entre 8h e 19h. • 1o de julho: estreou Dinheiro Vivo, com Luís Nassif. O programa sobre economia teve grande destaque na fase em que a economia vivia naquela época. Em 1o de julho Nassif apresentou ao público o Plano Cruzado 2. Ao lado dele, Marília Stabile fazia comentários econômicos. • 29 de setembro: a repórter Graziela Azevedo e o operador de videoteipe Washington Luís foram agredidos durante externa da TV Gazeta. Graziela disse que o agressor foi o suplente de vereador do PMDB, José Ramos, que teve que responder processo após exame de corpo de delito: um galo na cabeça da repórter e hematomas nas costas do operador de VT. Conforme Graziela, Ramos agrediu após alegar que as imagens feitas pela equipe eram tendenciosas e contra o candidato Quércia, do PMDB. • 7 de outubro: o 6o aniversário do Mulheres em Desfile, no Anhembi, aconteceu sob o nome Primavera e Paz. • 13 de outubro: estreou Tele Clap, um telejornal infantil apresentado por bonecos. A direção era de Ana Betina Rugna, psicóloga e orientadora pedagógica do Brincando na Paulista. Eleotério, Kabidela, a dupla Cléo e Téo, VamClaps, Edwing, Emas Malucas e Punklaps eram os bonecos. • 24 e 25 de dezembro: entre os programas especiais de final de ano, um era inusitado. Na época em que o pagode não era moda, a TV Gazeta promoveu duas edições especiais do Jornal do Esporte, com Regiani Ritter, Cléber Machado e Fernando Sávio na apresentação. Nesses programas, intitulados como Festa do Pagode no Futebol, a música era o assunto. Participação do grupo Som Riso. Esporte e música no Jornal dos Esportes. • 31 de dezembro: a TV Gazeta transmitiu ao vivo, via satélite, direto do Japão, o Festival Koohaku Utagassen, o espetáculo que encerra o ano japonês e que no país de origem é assistido por 90% dos telespectadores. Foi uma parceria da TV Gazeta com o programa independente: Imagens do Japão. Pela primeira vez, na TV brasileira, os descendentes e imigrantes japoneses, residentes em nosso país, puderam rever a festa. A transmissão começou às 9h30 (horário de Brasília). • 31 de dezembro: na mesma data, ao aceitar o convite para participar da 62a Corrida Internacional de São Silvestre, o Prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, disse à TV Gazeta: Há dois ou três anos, quando me encontrava em Londres, a única notícia sobre o Brasil, divulgada pela BBC, foi sobre a Corrida de São Silvestre. O presidente da Fundação, Constantino Cury, deu a tiro que dava início à corrida, às 22 horas. Os promotores do evento foram Júlio Deodoro e Marcos Biaggio, tendo corrido 7 mil atletas pelas ruas de São Paulo. 1987 • Janeiro: o presidente da Fundação, Constantino Cury, investiu na construção e instalação da área administrativa da entidade no 11º andar do Edifício Gazeta. • Janeiro: Francisco Petrônio estreou Encontro com Francisco Petrônio, com destaque para o quadro Cantinho da Saudade, relembrando músicas que ficaram na memória. Era a volta do Baile da Saudade (que fez sucesso na TV Gazeta nos anos 1970). • 13 de janeiro: Ferreira Netto estreou, simultaneamente na rádio e na TV Gazeta, o programa de entrevistas Ferreira Netto sem Censura. Desde 1986 o programa existia apenas na rádio Gazeta AM. A produção era de Carlos Mansano e Alberto Moral. • 25 de janeiro: a TV Gazeta produziu o especial Retratos de São Paulo, pelo 433º aniversário da cidade. Com depoimentos de nomes que faziam parte da história da cidade, como o de Pietro Maria Bardi (criador do Masp). • 6 de fevereiro: Freitas Nobre, jornalista e ex-deputado federal, foi contratado para fazer parte do Nosso Jornal. • Fevereiro: a manipulação do personagem Capivar, além de Sérgio Tastaldi, passou a ser feita também por Enrique Serrano. • Março: a TV Gazeta exibiu a 14ª Copa Brasil de Futebol de Salão. A meta da emissora era em 1987 prestigiar o esporte amador. • 30 de março: após uma conturbada eleição Jorge da Cunha Lima assumiu a presidência do conselho diretor da Fundação. Grandes mudanças marcaram o novo ano. A primeira delas foi a saída de Sérgio Felipe dos Santos da superintendência-geral de Rádio e TV. Em seu lugar assumiu o jornalista Ferreira Neto. • 8 de maio: a TV Gazeta ganhou novo programa esportivo: Campeões da Bola. A essência da nova atração trouxe ingredientes que foram a base do Mesa Redonda em seus primórdios. Principalmente, a equipe debatedora! Peirão de Castro e Milton Peruzzi (que regressava à TV Gazeta), Alfredo Borba, Oswaldo Sargentelli, Antonio Guzman, Luiz Noriega e Lucas Neto. De segunda a sexta, das 11h30 às 13h30. • 11 de maio: o diretor de jornalismo Alberto Helena Júnior foi demitido por Ferreira Neto. • • 12 de maio: os apresentadores do Nosso Jornal se demitem no ar, em apoio à saída de Alberto Helena Júnior. Foi o primeiro caso de apresentadores se demitirem no ar na história da televisão brasileira. Randal Juliano continuou, ficando sozinho na bancada do telejornal. • 18 de maio: o colunista social Tavares de Miranda passou a abrir a programação da TV Gazeta mais cedo. Diariamente, às 7h20 da manhã, com Tavares de Miranda, o Repórter. • Junho: Salvador Tredice, o Dodô, assumiu a gerência de operações da TV Gazeta. • 12 de julho: Beto Rivera apresentou a nova atração da TV Gazeta: Geração 2001, programa musical aos domingos, com a participação dos telespectadores pelo telefone. • 8 a 23 de agosto: a TV Gazeta transmitiu, em parceria com a Koch Tavares, a JR Comunicações e a americana CBS, os Jogos Pan-Americanos – integrando a Rede de Emissoras Independentes (REI). A Koch Tavares contratou uma grande equipe, tendo entre outros, Silvio Luiz, Álvaro José, Jota Júnior, Luiz Noriega, Paulo Russo e Roberto Rivelino. Com coordenação de Rui Viotti e direção de Luís Felipe Tavares (presidente da Koch). Foram 104 horas de programação do Pan. A TV Gazeta entrou em rede com a TV Corcovado (Rio de Janeiro), TV Curitiba e TV Carimã (Paraná), TV Guaíba (Rio Grande do Sul), TV Nacional (Brasília), TV Porto Velho (Roraima) e TV Morada do Sol (Araraquara, SP). Destaque para o programa Jornal Pan 87, uma retrospectiva das competições do dia, em 30 minutos de duração. • 30 de agosto: o Mesa Redonda: Futebol Debate promoveu uma grande festa para a final do Campeonato Paulista de Futebol. Montou à frente do Edifício Gazeta um enorme telão para os telespectadores assistirem ao jogo e, depois, flashs mostraram as comemorações do campeão paulista (independente de quem fosse, a festa da vitória seria em frente ao prédio). Assim, após ganhar do Corinthians na primeira final, o São Paulo Futebol Clube garantiu o empate em 0 a 0, o que garantiu o título e deu boa audiência à TV Gazeta. • 23 de outubro: o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo deu à equipe da TV Gazeta o 9º Prêmio Vladimir Herzog pelo programa A Luta pela Terra (veja capítulo Prêmios da TV Gazeta ). • 14 de dezembro: estreou o programa TV Mix, que inaugurou na TV brasileira uma programação modular concebida por Marcelo Machado, que acabava de assumir a direção de programação da TV Gazeta. Fernando Meirelles dirigiu o programa. 1988 • 25 de janeiro: em homenagem aos 18 anos da TV Gazeta, a emissora lançou em sua programação diversas séries de sucesso dos anos 60: Perdidos no Espaço, Além da Imaginação, Judd, Cidade Nua e Rota 66. • 13 de fevereiro: a TV Gazeta recebeu o Prêmio Colunistas, como Veículo do Ano. • 17 de fevereiro: foi lançada a programação especial do Ano do Dragão, com matérias ilustrativas da cultura oriental no TV Mix, Mulheres em Desfile e 88 em Perspectiva. • 11 de julho: após seis meses no ar, o TV Mix se transformou em dois: TV Mix I, com a Condessa Giovanna Civetta (Luiz Henrique), e TV Mix II, com Astrid Fontenelle. Tadeu Jungle assumiu a direção do programa. • 10 de outubro: o roqueiro Guilherme Isnard estreou como repórter do TV Mix, com sete aparições ao vivo entre às 9h e 13h. Em sua estreia, entrevistou crianças da Vila Nova Iorque. • 6 de dezembro: a dupla de palhaços Atchim e Espirro foi para a Rede Bandeirantes. Nesse dia, estreou no Brincando na Paulista o palhaço Tic-Tac (Marlam Sales). Trabalhando como palhaço desde 1974, ficou conhecido na televisão pelo programa Bambalalão (TV Cultura). Sua chegada ao Brincando na Paulista foi marcada com festa em palco montado na frente do Edifício Cásper Líbero. O show durou das 10 às 13 horas, tendo participação da cantora Patrícia. • 23 de outubro: o Mesa Redonda fez programa especial, confrontando os jogadores Pelé e Sócrates, para falar sobre o Santos. Apresentação de Roberto Avalone, com Mário Marinho, Wanderley Nogueira e Milton Neves. • 30 de outubro: todos os veículos da Fundação Cásper Líbero se integraram para a campanha pela paz nos estádios de futebol. Foi encabeçada pelo programa Mesa Redonda, Futebol Debate. Roberto Avalone disse à Gazeta Esportiva: Estamos fazendo um alerta para uma cena que se tem tornado constante nos últimos tempos. • 20 de novembro: o programa Imprensa na TV estreou na TV Gazeta, com apresentação de Paulo Markun, às 20h. Em setembro de 1987, ele, Dante Matiussi, Manoel Canabarro e Sinval de Itacarambi Leão lançaram a Revista Imprensa. Com direção de Matiussi, o programa de estreia teve a participação de Mino Carta (Istoé), Octávio Frias de Oliveira (Folha de S. Paulo), Júlio de Mesquita Neto (Estadão), Roberto Civita (Abril), a atriz Luciana Vendramini, o judoca Miguel Aurélio, o sindicalista Luis Antônio Medeiros, Roberto Dualibi e João Dória. 1989 • 6 de maio: o canal 11 inaugurou a campanha TV Desindexada e a nova programação. O projeto foi coordenado por Rogério Brandão. • Junho: Wânia Westphal e Hélio Alcântara estrearam no Sábado Esporte. • 23 de junho: o programa Mulheres em Desfile faturou pela terceira vez consecutiva o Prêmio APCA como Melhor Programa Feminino. Alexandre Machado, do Vamos Sair da Crise também conquistou o Prêmio APCA. • • 30 de junho: o publicitário Marcos Soares assumiu a Coordenadoria da Comunicação da TV Gazeta. • 1º de julho: estreou Sexto Sentido, comandado por Luís Antonio Gasparetto, às 21h30. O espiritualista apresentou anteriormente, na TV Bandeirantes, 3ª Visão, com a mesma temática. Produção e direção de Mário Marcovicchio. • Julho: com o objetivo de colocar no ar uma seleção de clássicos e de produções atuais do cinema francês, a TV Gazeta ocupou o horário noturno dos sábados, a partir das 22h30, com o programa Festival de Cinema Francês. Também aos sábados, havia a atração Aujourd´hui en France e, de segunda a sexta, às 22h30, o Inter Clip, com videoclipes franceses. A TV Gazeta ainda mostrou flashes ao vivo da festa do bicentenário da Revolução Francesa em Paris – contexto que estimulou tal cobertura. O projeto francês foi concebido por Rogério Brandão, diretor-geral, e sua equipe. • 6 de julho: estreou DJ TV, aos sábados, 11h30, com direção de Fernando Rozo e produção dele, de Marco Ribeiro e Renato Lima. A fórmula tentou captar o clima das casas noturnas, num esquema próprio de rádio, com muita música e pouca conversa. Na mesma data, A Gazeta Esportiva publicou matéria informando o sucesso da campanha TV Desindexada: Desindexação aumenta 50% do faturamento. Em dois meses, garantiu o dobro de faturamento da TV Gazeta. Exibindo programas alternativos, foi a primeira a colocar no ar o clipe Like a Prayer, de Madonna, que se transformou em um dos sucessos da época. • 8 de julho: a TV Gazeta firmou parceria com a operadora de UHF por assinatura Super Canal, para utilizar imagens da ESPN americana. Assim, o programa Sábado Esporte teve imagens internacionais e passou a ser exibido das 12 às 13 horas. Comandado por Roberto Avalone, tinha como âncoras Wania Westphal e Hélio Alcântara, com edição de Marco Antônio Rodrigues, Ruy Albuquerque como editor-chefe, Sidney Mazzone na produção executiva, e tradução de Deborah Menezes, além de reportagens de Regiane Ritter e Paulo Guimarães. Por fim, a parceria culminou em seis horas de programação esportiva nos sábados da TV Gazeta. Na produção e realizando reportagens os estreantes na TV, Mariana Godoy e James Capelli. • 20 de novembro: sempre eclética, a TV Gazeta lançou TV-Turf, com corridas de cavalos puro-sangue. Partidas de turfe era um tipo de atração que não passava na TV aberta há pelo menos uma década. Com direção de Cosmo Antônio Patara. Pouco tempo depois estreou o canal a cabo, de frequência mista, em UHF, TV Jockey de São Paulo. • 12 de setembro: a TV Gazeta promoveu o Tribuna Livre, programa que mudaria a estrutura dos debates de presidenciáveis na história da TV brasileira. 44. Mulheres em Desfile A TV Gazeta, através do seu diretor-geral, Fuad Cury, resolveu fazer modificações em sua programação feminina. Primeiro, romperam o contrato da TV Gazeta com Clarice Amaral no final de setembro de 1980. E posteriormente colocaram o colaborador de seu programa, Edison Gonçalves (também apresentador de Destaques ), no lugar, enquanto definiam o novo formato. Quem criou a ideia de se ter uma dupla de apresentadoras foi Silvio Alimari, o Tico, que já exercia a função diretiva na produção do Clarice Amaral em Desfile. Pensou-se em Ione Borges, que era colaboradora do programa, e na jornalista Ângela Rodrigues Alves. O nome do programa foi alterado para Mulheres em Desfile, mantendo praticamente a mesma estrutura do programa anterior. Só meses depois é que Claudete Troiano assumiu o lugar de Ângela Rodrigues Alves, formando a célebre dupla Claudete e Ione. Ione Borges nos conta sobre o início do programa: O Fernando Vieira de Mello, meu chefe no Mappin, um dia me disse que o Fuad Cury queria conversar comigo, disse que tinha uma proposta. Que ele queria dinamizar a programação feminina. Aí eu falei: Eu estou casada há pouco tempo, montei uma loja... Relutava quanto à ideia de apresentar um programa na TV Gazeta. Aí ele me disse: Ione, você quer virar dondoca? Pendure o seu diploma na parede. É uma ótima oportunidade para você exercer sua profissão de jornalista. Ou você acha que vai ter sempre essa carinha bonitinha que você tem hoje? Pedi um tempo para pensar. Mas era assim: da noite para o dia seguinte. Dali a dois dias a Clarice não estaria mais no ar. E eu fiquei meio reticente, mas acabei aceitando. O Edison Gonçalves segurou a barra enquanto o pessoal acertava com todo mundo. Eu vim, dias depois veio a Ângela Rodrigues Alves. O interesse deles era formar uma dupla. Mas a Ângela ficou até janeiro. O negócio dela era política e ela não se adaptou muito ao programa de variedades e saiu. Fiquei um tempo sozinha, até que um belo dia a Claudete veio conversar com o Tico. Ficou uma tarde inteira no estúdio olhando para mim e vendo o programa. Eu só a conhecia de vista. Eu a conhecia mais de rádio. E ela ficou sentadinha olhando tudo lá. Depois o Tico fez uma reunião comigo, junto dela, e ela começou. A parceria durou 15 anos, até que ela saiu e eu segui sozinha no Mulheres. Eu fiquei 18 anos e nove meses no programa. Me lembro do primeiro dia com a Claudete. Eu a recebi com um ramalhete de flores e disse: A Claudete Troiano, a partir de hoje, estará dividindo comigo as responsabilidades da apresentação do programa. Eu ganhei, a partir de hoje, uma parceirinha. E foi assim que nasceu o termo parceirinha. Uma parceria com o público. E as mulheres começaram a escrever cartas: Olá, parceirinha, como vai? Meu nome é... e o termo parceirinha pegou. Nasceu espontaneamente e foi adotado pelo público. Viramos as parceirinhas da televisão brasileira. Claudete Troiano completa: Antes do Mulheres em Desfile, a única experiência que eu tive com programas femininos foi na TV Gazeta também. Foi no final da década de 70. Era um programa que entrava antes do da Clarice e se chamava Ninfo em Ritmo de Mulher. Aí quando as lojas Ninfo deixaram de patrocinar a atração, o programa virou Gazeta em Ritmo de Mulher. Depois fui para o rádio, fiquei mexendo com esporte, me afastei um pouco. No Mulheres formávamos uma grande dupla. Dividíamos o mesmo camarim, vivíamos como unha e carne. Até parentes viramos. Um membro da minha família casou com um parente da Ione. E isso também aconteceu com o público. Lembro do meu casamento, que muitas parceirinhas foram até a igreja e eu, a caminho do altar, era puxada pelas telespectadoras, que queriam me cumprimentar e elas estavam emocionadas como eu. Outra coisa que me lembro bem foi a festa de um ano do programa, lá no Anhembi. Tínhamos medo de não lotar e ficar vários espaços vagos. Lembro da nossa preocupação e de perguntar ao Tico o que faríamos se não lotasse. Ele disse: Não se preocupem. Se isso por acaso acontecer, nós espalharemos mais o público. Faremos umas imagens mais fechadas, mostrando a platéia em geral. E, para nossa surpresa, quando abriram as portas, aquilo lotou. Para que tenham uma ideia, até hoje os recordes de lotação do auditório do Anhembi pertencem às festas do Mulheres em Desfile. Muitos artistas começaram no programa. Ione Borges relembra: Tenho orgulho de dizer que fui madrinha de muita gente, principalmente cantores. Lembro de um rapaz que ficava no corredor, com o violãozinho dele. Ele não tinha disco, nem nada. Então a gente combinava com a produção que sempre que alguém desse um cano, faltasse convidado, a gente dava um jeito de encaixar uma musiquinha dele no esquema. Quando ele estourou, falei para a Clau: Olha! É ele!. Sabe quem era? Zezé Di Camargo. Ele nem usava esse nome na época, nem fazia dupla com o Luciano. Mas começou no Mulheres em Desfile. E tem outro caso. Tinha um grupo que estava no aniversário de uma amiga minha, Rosângela Melo. Foi numa casa que se chamava Columbia, esquina da Rua Estados Unidos com a Rua Augusta. A gente foi comemorar o aniversário dela. Estava até o Rubinho Barrichello, que estava começando ainda. E esses meninos faziam um pocket-show. Ti nha um quadradinho lá num canto, um palquinho pequeno. Eu estava conversando com alguém que me disse: Para tudo, Ione, e vem ver essa banda. Você vai levar para o seu programa, porque vai adorar. Tenho certeza de que você vai lançar. Quando eu os vi, já estavam fazendo aquelas palhaçadas. Só que não tinham gravado ainda. Eu ouvia a segunda, a terceira, a quarta música. Falei: Eles não podem levar essas que tem palavrão, mas depois, até para gravar, eles deram uma maneirada. Eram os Mamonas Assassinas. No fim eu fiz eles virem, insisti e fiz virem de qualquer maneira. Em menos de um mês eles estouraram. Numa sexta-feira, quando eu fazia o programa com a Claudete no teatro, eu os convidei. De segunda a quinta o programa era no estúdio, na sexta era no teatro, com a presença das parceirinhas, para fechar a semana mais para cima. Mas, voltando, eles vieram e a Claudete não sacou nada porque, a primeira vez que eles vieram, ela estava de férias e eu sozinha apresentando. Então, eles entraram de joelhos, o Dinho na frente e os outros atrás. E todo mundo: Bênção, madrinha, Bênção, madrinha. E ela perguntou: O que foi? E eu expliquei que lá tinha sido o primeiro programa que eles fizeram. Pena que foi uma carreira meteórica. O Mulheres em Desfile possuiu vários diretores e produtores-executivos. Silvio Alimari (Tico), Regina de Souza, David Grinberg, Marcelo Amadei, Gabriel Priolli, Valdemir Fernandes, Esly Costa, Carmen Farão, Sandra Barbosa, Sérgio Galvão e outros (inclusive a dupla Claudete e Ione em determinado período da década de 1980). O Mulheres fez escola na programação feminina e possuiu diversos repórteres: Regina Guimarães, Astrid Fontenelle, Fábio Grabarz, entre outros. Sobre a importância do público, Ione relembra um fato: Numa das festas do Mulheres no Anhembi, meu pai tinha falecido dias antes. E eu estava muito emocionada, mas não podia deixar de ir. Ele e minha mãe sempre iam. Na hora de apresentar, olhei para a minha mãe na primeira fileira e do lado havia um cadeira vaga. Comecei a ficar emocionada e expliquei a razão ao público. A Clau veio com um estoque de papel para eu enxugar as lágrimas, que ela escondia com a mão para trás, caso fosse preciso. Eu sei que, de repente, o Anhembi inteiro se levantou aos poucos e me aplaudiu. Naquele momento eu senti o calor do público e o carinho de todos. Nunca mais vou esquecer. As festas de aniversário no Anhembi ficaram para a história da TV Gazeta. Lotamos sempre aquele lugar com 4 mil pessoas, com gente chegando às 6, 7 da manhã para ver as parceirinhas Ione e Claudete e as atrações musicais - conta a diretora Regina de Souza. E com o programa, Claudete e Ione, com certeza, entraram para a história. E não somente da TV Gazeta, como da televisão brasileira. Onze no Onze O dia 17 de outubro de 1991 foi marcado pela festa Onze no Onze: os 11 anos do programa Mulheres no canal 11. A festa no Anhembi abriu com uma belíssima crônica, chamada Laços de Ternura, escrita pela produtora Solange Serpa para a ocasião. Reproduzo abaixo a crônica, que mostra bem o espírito que o programa tinha naquela época: Cochichando/agradecendo/amadurecendo/com alegrias e tristezas. São 11 anos no 11. Você pode imaginar o que são 11 anos de programa, ao vivo, diário... São milhares de horas falando ao telespectador. Mostrando tudo o que acontece na São Paulo da garoa. Na terra dos contrastes. O Mulheres é o palco das grandes estrelas... Da estrela da novela que virou moda. Da deusa que agora mostra seu lado rap. Dos amados e dos amantes e dos queridos. Mulheres não é só dos paulistas que vão à luta, mas dos cariocas que vêm ao encontro do calor da nossa plateia e das grandes bilheterias. É também dos mineiros tímidos de coração grande. Dos artistas de outras fronteiras e de terras distantes. E dos parceiros inseparáveis, como elas que seguem 5, 10, 11 anos ou mais na cumplicidade. Mulheres é também dos Paulos e Betes, das feras de pernas cobiçadas, no campo ou no palco. Dos guerreiros, sejam eles da lambada ou do samba. Do coronel sem patente, que jamais deixou de ser civil. Onze anos de programa de dias normais e especiais, com primeiras-damas, com babys e fofas, com deputados e senadores, mostrando tudo, de coração aberto, nos dias de terror e alegria. Ione Borges e Claudete Troiano são sinônimos de batalha, simpatia e luta. Acima de tudo, amor, carinho e amizade. Ione e Clau ou simplesmente... Mulheres. Última festa no Anhembi No dia 26 de setembro de 1994, o programa Mulheres comemorou seu último aniversário no Palácio das Convenções do Anhembi. Foram 14 anos seguidos, com o espaço lotado. Uma equipe de 200 profissionais da TV Gazeta estava envolvida no evento, que teve mais de 4 mil pessoas assistindo. Sob o tema A Mágica da Televisão, fizeram uma homenagem à história do meio televisivo. O especial teve direção de Hélio Sileman, diretor do Mulheres. A abertura foi feita com o musical Charity, Meu Amor, tendo participação do cantor Sidney Magal e 19 bailarinos do Ballet Stagium. O mesmo corpo de baile abriu os outros blocos. Cláudia Raia e o elenco do musical Nas Raias da Loucura também participaram. E compareceram Pepeu Gomes, Ultraje a Rigor, Leandro e Leonardo, Guilherme Arantes, Alcione, Zezé di Camargo e Luciano, Mara Maravilha, Negritude Júnior, Roberta Miranda, Angélica, Sérgio Reis, Beto Barbosa, Christian e Ralf, Paulo Ricardo e RPM, Gian e Giovanni, Raça Negra, Yahoo, Emilio Santiago, Agnaldo Rayol (sempre presente nas festas), Sérgio Groisman (na época apresentador do SBT). Foi a última vez que o Anhembi viu a alegria contagiante da dupla Claudete Troiano e Ione Borges. A dupla garantiu anualmente, por 16 anos, uma média de 5 a 6 pontos de audiência com o Mulheres e terceiro lugar na preferência do público (primeiro o paulista e, mais recentemente, o nacional, via satélite pela rede CNT). Festa junina A direção da TV Gazeta, em 1996, decidiu separar a dupla Claudete e Ione. A última continuaria no Mulheres. Já Claudete inauguraria um novo programa, na parte da manhã: Pra Você. Mas há certas coincidências inesperadas que o tempo traz. No dia 28 de junho de 1996, programa de despedida de Claudete, as parceirinhas apresentavam uma festa junina. Foi um misto de alegria e tristeza. Na Folha da Tarde (29/6/1996) ambas falaram: Logo no começo do programa, quando as duas se encontraram no palco, houve muita emoção. Mas é uma festa, não faz sentido chorar. Estou torcendo muito pela Clau. Me sinto como a mãe que casa um filho e fica feliz e triste ao mesmo tempo, diz Ione. A mesma mistura de sentimentos é sentida por Claudete. É a chance de crescer, ter a responsabilidade de fazer um programa sozinha. Mas foram 16 anos dividindo tudo, até o mesmo camarim. Não é fácil. Curiosamente, no dia 26 de junho de 2009, em uma festa junina do programa Papo de Amigos, de Amanda Françoso, a TV Gazeta anunciou a volta de Claudete Troiano ao canal, que, ao lado de Ione Borges, anunciou a estreia e a volta das parceirinhas no Manhã Gazeta. Treze anos separaram uma festa junina da outra. 45. A nova torre No final dos anos 1970 a TV Gazeta possuía sobre seu edifício uma torre quase solitária na Avenida Paulista. Na região existia apenas a antiga da TV Record, sobre a Maternidade São Paulo, a nova do mesmo canal, e restos da torre da TV Paulista, na Consolação, totalmente inativa. Naquele final de década, o superintendente-comercial da TV Gazeta, Carlito Adese, recebeu a visita de José Otávio Castro Neves, chefe da Central Globo de Vendas. Conversavam sobre acordos comerciais. Roberto Marinho queria fortalecer o núcleo paulista da Rede Globo. Em meio à conversa, Carlito e Castro Neves falavam sobre a facilidade de transmissão do sinal da TV Gazeta por conta da boa localização e a possibilidade rápida de fechar links com toda cidade. Eu mostrei a linha de vista com o Terraço Itália. E que do Terraço Itália jogava para o mundo. Tirei ele da sala e mostrei a antena. Olha aqui o que pode fazer dessa nossa antena. Não se sabe até que ponto esse episódio influenciou o fato futuro. Porém, no início de 1978, o diretor-adjunto Luiz Francfort foi procurado pela Globo: Quem me procurou foi o Luiz Borghetti [diretor de programação da TV Globo de São Paulo]. Queriam construir a torre em cima da Gazeta, que era o ponto mais alto na Avenida Paulista, e se a Gazeta estava interessada. E eu falei: Depende do que vocês querem. Aí mandaram • o engenheiro Fernando Bittencourt. O contrato era grande porque eles iam investir muito e por muito tempo. Mas daí começamos a fazer a negociação. O que queriam era o último andar para botar o controle do transmissor e a laje do prédio para construir a torre. A Gazeta não precisaria botar um tostão que eles levantariam a torre. Por um período eles usariam e depois passaria a ser a posse total da TV Gazeta. Eles reservariam na estrutura da torre a antena transmissora da TV Gazeta. Era um ótimo negócio o sinal saindo do mesmo lugar que a Globo. Foi fechado o negócio e eles acabaram construindo. E assim Francfort assinou o primeiro contrato com Fernando Bittencourt. Já o contrato oficial de parceria, com todos os termos, foi assinado em 1981, entre Bittencourt e o diretor-geral de Rádio e TV, Fuad Cury. Isso porque Luiz, ainda em 1978, desligou-se da TV Gazeta (Guilherme Araújo, que ocupou a função posteriormente e, depois, como gerente geral da TV, também fez parte do projeto). Mas desde o início desse projeto Francfort ressalta uma entre várias pessoas-chave na execução: A importância da Ângela é tremenda. Envolvimento, comprometimento, entusiasmo. Sempre deu a alma para aquele prédio enorme. Ele se refere a arquiteta Ângela Esther de Oliveira, que há pouco havia ingressado na Fundação e aos poucos contagiou a equipe com seu entusiasmo. Quando eu entrei já havia a conversa da torre. Acabei me envolvendo com essa obra que, na época, foi fascinante pela postura que deveria ser. Em cima de um edifício colocar uma torre daquele porte! Fui colocada como responsável do Departamento de Obras e houve essa solicitação. Eram meus diretores o Fuad Cury e o Paulo Camarda. Eles me pediram que entrasse no circuito e foi aí que eu tive contato com Figueiredo Ferraz, com a Globo. E começamos a desenvolver o projeto. Só que aí descobrimos que tinha que ter o alvará da prefeitura. E lá, ao adquirir a licença da obra, descobri que o prédio não era aprovado, estava irregular. Demorei anos para regularizar o prédio, mas conseguimos. E à medida que estudava o prédio, fui conhecendo sua história, a importância e veio daí minha ligação forte. Me encantei pela história da Fundação, pelos ideais de Cásper Líbero. E, no prédio, mexi com as instalações, como continuo mexendo. A TV estava muito mal geograficamente colocada. Fomos arrumando aos poucos. As obras da torre duraram de 1980 a 1983. E naquele ano a inauguramos. Era um envolvimento de praticamente 24 horas por dia nessa obra, para que nada acontecesse errado. O convênio com a Globo foi feito principalmente pelo lado da Fundação, com o Paulo Camarda, nosso diretor administrativo da época, e o Fuad Cury, que cuidava mais da televisão. A minha parte era especificamente operacional. E a torre foi a primeira iluminada da Avenida Paulista. Todos os jornais e revistas noticiaram. Nós tivemos que mexer até com questões relacionadas ao espaço aéreo. Ela precisou ser rebaixada na base 18 metros para não atrapalhar a rota dos aviões. Reparem que a silhueta dela não é suave, como era para ser. Ela vai afunilando, para e depois fica uma parte reta, onde estão as antenas. E a torre antiga foi concretada junto com a base, porque não podíamos desativar uma enquanto construía a outra. E a base é mais alta que a da antiga. Essa modificação partiu da engenharia. Começou com o Iury Saharovsky, por uns dois anos, e depois passou para o Aníbal Horta, com a saída dele. No dia da inauguração da torre, não teve uma grande festa. Fomos nós mesmos. Eu e a peãozada fizemos um churrasco e depois o Paulo Camarda subiu para cumprimentar todo mundo. A Globo fez todo um noticiário, demos entrevistas. A construção dessa torre foi uma experiência fascinante. Ligia Dotti, secretária do diretor Fuad Cury, conta sobre a época: Foi um grande negócio que a Fundação fez. A gente teria uma parceria melhor ainda com a TV Globo. Foi uma epopeia a construção dessa torre. Era curioso a gente ir lá em cima e ver a torre, imensa, subindo. Foi a primeira construída aqui na Paulista naquela proporção. Sobre a história da base da torre, conta o engenheiro Iury Saharovsky: A TV Gazeta não podia sair do ar, mas, por outro lado, a TV Globo precisava concretar a base da torre. Então não podia desmontar a nossa antiga para a Globo concretar a base da nova. Sairíamos do ar. O que aconteceu foi que parte da torre foi chumbada dentro do concreto. Depois, quando subiram a antena nova da TV Gazeta para a nova torre, desmontamos a antiga e partes dela tiveram que ser serradas. Ainda hoje dá para ver essas partes no concreto. O superintendente-geral, Sérgio Felipe dos Santos, na época trabalhava na área administrativa da Fundação. E conta sobre o acordo da torre: Essa torre não é da Globo. É da Gazeta. Foi feito um entendimento por um tempo, de 15, 20 anos. A Globo utilizava livremente a torre, contando que ela colaborasse com a sua construção. Depois disso, a torre passou totalmente a nós e a Globo virou nossa inquilina, pagando aluguel. Foi calculado quanto foi gasto e quanto valia o aluguel dali para a frente, quando ela começou a pagar. O prédio podia subir mais andares, mas optamos pela construção da torre. Foi um bom negócio. Hoje, quem for no 13º andar do Edifício Gazeta vai se deparar com uma enorme logomarca da Rede Globo no corredor dos elevadores. É porque o controle de sua antena analógica deve ser feita de perto. Portanto, numa metade de andar, a Globo fica dentro da Gazeta. A Revista A Imprensa, em edição especial de 1986, escreveu sobre a torre: A estrutura mede 85 metros de altura acrescida de 23 metros da antena da Globo, num total de 108 metros de altura. A base possui 21 metros quadrados. O corpo metálico da torre distribui-se por quatro patamares, a iluminação está distribuída em 15 holofotes, realizada pela Philips. Para sinalização de segurança existem dois piscas alertas (piscões) colocados no último patamar e no topo da antena superior. Os piscões, no início de funcionamento, eram vistos até uma distância de 20 quilômetros, porém, por atrapalhar a região circunvizinha à torre, a intensidade da luminosidade foi reduzida. A inauguração da obra deu-se em 21 de abril de 1983, após dois anos e meio de construção. As negociações foram feitas entre Fuad Cury, da direção da TV Gazeta, e Fernando Bittencourt, engenheiro da Rede Globo. Dentro os numerosos profissionais envolvidos com o projeto citamos o engenheiro Bassim, responsável pelo concreto, e os engenheiros Mário Rocha e Francisco, responsáveis pela estrutura metálica. Pela Fundação Cásper Líbero, dentre os vários envolvidos destaca-se a engenheira responsável pela parte civil do prédio, Ângela Esther de Oliveira Morgado. Não alteraram a rotina dos funcionários do prédio com a construção da torre. O porte avantajado da obra é também evidenciado pela plataforma de concreto que serve de sustentáculo à torre e exigiu 530 metros na concretagem, com um volume total de 220 toneladas. Durante a execução da obra não houve registro de acidente. Outro grande valor da obra está no desafio em técnicas de concreto para a construção da base, onde o concreto foi impulsionado da Rua São Carlos do Pinhal até uma altura recorde de 120 metros de altura. A ição das partes metálicas da maior parte foi feita durante a madrugada para não atrapalhar o trânsito e o movimento interno do prédio. O cálculo estrutural ficou por conta da empresa Figueiredo Ferraz, a concretagem executada pela empreiteira Planova e a estrutura metálica a cargo da Metalco. O jornalista Cásper Líbero, fundador da organização que possui o jornal A Gazeta Esportiva, Rádio Gazeta AM, FM, TV Gazeta e a Faculdade de Comunicação, tinha como sonho possuir um edifício que congregasse órgãos de comunicação tendo ao topo uma torre iluminada, sonhava com um polo difusor de cultura. Em parte seu sonho está realizado com a torre símbolo de São Paulo. A mesma torre passou a gerar as imagens do canal 11 VHF (TV Gazeta), canal 5 VHF (TV Globo) e mais recentemente canal 48 UHF (NGT) e os digitais 17 UHF (Gazeta) e 47 UHF (NGT). Em 1983, a TV Gazeta criou o slogan: Ligue no 11: Pega Bem. Na torre, passaram a gerar também os sinais da Rádio Gazeta FM, Rádio Globo e Excelsior FM (futura CBN). 46. Abril Vídeo Sonho antigo, mas dificultado. A Editora Abril desde a década de 1970 sonhou com a ampliação de seus negócios para o mercado de televisão. Em 1980 a família Civita tentou primeiro concorrer ao canal 4 de São Paulo e a outras emissoras ligadas à Rede Tupi, que faliu naquele ano. Não deu certo. Silvio Santos, com o SBT, e Bloch, com a Manchete, ficaram com as antigas concessões da rede pioneira. Nessa mesma fase, a Abril tentou também que o governo lhe permitisse o uso da concessão do canal 9 (ex-TV Excelsior, vago desde a falência da emissora em 1970). Mas também não deu. Haviam colocado o canal 9 dentro da concorrência dos canais deixados pela falência da Rede Tupi. E aí, o 9 ficou para a Bloch criar a TV Manchete de São Paulo. Mas a Abril não ficou satisfeita. Os Civita queriam televisão. Foi aí que criaram o segmento chamado Abril Vídeo. Além de distribuidora de filmes, ela cuidaria de produção de programas - o que fez a Abril Vídeo ser uma das responsáveis pela ampliação da produção independente na TV brasileira. O primeiro teste da Abril Vídeo em TV foi em 1982, na Rede Bandeirantes, com a veiculação de alguns programas semanais. Mas a Abril queria um acordo maior. Procurava uma emissora que cedesse uma faixa inteira do período noturno, diariamente. Encontrou na TV Gazeta o espaço certo. Depois de muitas conversas, em 25 de junho de 1983 firmaram acordo na sede da Fundação Cásper Líbero. Representantes dos dois grupos estavam presentes. Como responsáveis, assinaram Edgar de Silvio Faria (diretor-responsável da Editora Abril) e Joaquim Peixoto Rocha (presidente do conselho diretor da Fundação). Presentes também Roberto Civita (um dos proprietários da Abril), Roger Karman (diretor-geral da Abril Vídeo) e o diretor José Augusto Pinto Moreira. Pelo lado da Fundação, o vice-presidente Constantino Cury, os conselheiros Said Farhat, Mário Otero e Mauro Salles, o consultor jurídico Walter Ceneviva, o secretário Reynaldo Fanganiello Júnior e o prof. Erasmo de Freitas Nuzzi, da Escola de Comunicação Cásper Líbero. A parceria foi facilitada principalmente por um fator: a Abril e a Fundação não eram concorrentes no mercado. Pelo acordo a Abril Vídeo passaria a produzir duas horas diárias da programação da TV Gazeta, com atrações voltadas à Grande São Paulo. A faixa de programação escolhida foi denominada São Paulo na TV, rodeada por outros programas tematizados (quase todos com nomes das revistas da Abril, como Placar). Constava ainda, no acordo, a inclusão de alunos da Escola de Comunicação Cásper Líbero nos quadros das revistas da Editora Abril, em um programa de extensão universitária. E a preferência pela contratação de recém-formados pela mesma faculdade. Dentro do prédio da Fundação, a Abril Vídeo ocupou dois andares. No 9º andar, a parte de operações e, posteriormente, no 12º andar, redação e administração. Além de utilizar um dos estúdios do 8º andar, com 400 metros quadrados. A Abril Vídeo contratou mais de 80 profissionais de diversos setores. Um dos caprichos da nova programação era juntar grandes nomes do jornalismo impresso com caras novas e outras já bem conhecidas do público. Roger Karman, diretor-geral da Abril Vídeo, disse à Gazeta Esportiva, em 29 de junho de 1983: Não há planos definidos para o futuro, embora possa-se aumentar o tempo de programação. Mas, para isso, é preciso que a TV Gazeta concorde: afinal somos uma produtora independente trabalhando para uma emissora (também independente, não ligada a nenhuma rede), só isso. A programação da Abril Vídeo ocupou o horário antes destinado a transmissões esportivas e programas dirigidos às colônias de imigrantes. A estreia Na noite de 11 de agosto de 1983, terça-feira, estreou a faixa de programação São Paulo na TV. E para tal lançamento, entre dois respeitados grupos de comunicações, houve uma grande festa. No salão principal do São Paulo Hilton Hotel as principais personalidades do mundo empresarial e político estavam presentes. A Fundação Cásper Líbero estava em peso. Da parte da Abril, foram à festa Victor Civita, Roberto Civita, Thomaz Souto Corrêa (diretor editorial), José Augusto Pinto Moreira (diretor administrativo e financeiro) e os diretores da Abril VídeoRogério Karman, Jayme Almeida (diretor-assistente), Élcio Capalho (diretor de marketing), Luís Celso Ferraz do Amaral (diretorcomercial) e Luís Fernando Mercadante (diretor de telejornalismo). Presidentes de outras emissoras também foram, como Renato Ferrari (TV Cultura) e João Saad (Rede Bandeirantes). O programa de abertura, intitulado Veja Entrevista, começou às 20h30 e foi mediado por Augusto Nunes. Seu entrevistado foi o também jor nalista Ferreira Neto. Ao final do programa, a equipe foi para a festa, sendo cumprimentada por todos. A faixa de programação A programação da Abril Vídeo, inicialmente intitulada como São Paulo na TV, foi dividida da seguinte forma: • Segunda a sexta-feira, 20h30: São Paulo na TV – Noticiário, dirigido ao público local, apresentado por Paulo Markun e Silvia Poppovic. Recebeu o nome da faixa de programação. Tinha reportagens feitas por Helena de Grammont (sessão O Assunto É ), Caco Barcelos (com o quadro Caso Polícia ), Tereza Cristina Miranda, Even Sacchi e Mona Dorf. Havia também o quadro Especial do Dia, com a participação de inúmeros profissionais: Emilio Camanzi (com Carro e Moto ), Cristina Duarte (com Tá na Moda ), Ethewaldo Siqueira (com O Futuro Agora ), Luiz Nassif (com Dinheiro Vivo ), Célia Bardi (com Controle de Qualidade ) e Patrício Bisso (com sua personagem Olga Del Volga, uma cômica sexóloga). E também Redação, com Juca Kfouri, Henfil (falando de humor e política), Augusto Nunes, Cláudio Carsughi, Marília Stábile, Arapuã, Giba Um, Adriana Szelinsky, Carmo Sodré, Jairo Arco e Flexa, Léo Gilson Ribeiro, Marcelo Rubens Paiva, Helena Silveira, Denise Stoklos, Alberto Dines, Ricardo Kotsho, Ricardo Setti, Luiz Carlos Nogueira, Sérgio Tufick, Marcos Sá Corrêa, Miriam Leitão, José Roberto Nasser, Salvador Scaringella, Nélson Nefussi, Roberto Godoy, Diogo Pacheco, Okky de Sousa, Mônica Figueiredo, Mary Lou Simonsen; • Segunda, 21h30: Placar -programa esportivo com Juca Kfouri; • Segunda a sexta, 22h30: Boa Noite São Paulo -programa jornalístico; • Terça, 21h30: Veja Entrevista - Debates promovidos pela equipe da Veja e Abril Vídeo; • Quarta, 21h30: Negócios em Exame - Com apresentação de José Roberto Nassar e Guilherme Velloso; • Quinta, 21h15: Dois na Cidade -Apresentação de Cláudia Matarazzo e Otávio Ceschi Jr.; • Sexta, 21h30: Bastidores -Com Thomaz Souto Corrêa; • Sábado, 20h30 e domingo, 20h15: Plantão de São Paulo na TV - Apresentação de Hamilton de Almeida Filho e Regina Echeverria; • Sábado, 20h45: Melhores Momentos -Jornalístico com Inês Knaut; • Sábado, 21h30: Vídeo Disco -Os maiores sucessos musicais, apresentados por Willian Crunfli; • Domingo, 20h: Tarso de Castro – Colunismo apresentado pelo jornalista, um dos criadores da Folha de S. Paulo e de O Pasquim; • Domingo, 20h30: O Povo e o Prefeito -Diálogo com o prefeito da cidade, à época Mário Covas; • Domingo, 20h45: Estação Paulista -Musical dirigido por Roberto de Oliveira e apresentado por Pinky Wainer. No dia 1º de agosto de 1984 a Abril Vídeo resolveu modificar a faixa de programação. Remodelou os programas para torná-los mais nacionais e criou o Avenida Paulista. Apresentado por Ruy Fernando Barboza e Marília Stabile, era exibido de segunda a sexta, às 21 horas. Jaime de Almeida, diretor da Abril Vídeo, disse sobre o programa à Gazeta Esportiva (29/7/1984): Avenida Paulista trará diversos temas com uma dosagem conveniente e mais ampla geograficamente, diferenciando do São Paulo na TV que era feito exclusivamente sobre e para São Paulo. As reportagens nacionais de Avenida Paulista foram elaboradas por Caco Barcellos, Even Sacchi, Mônica Teixeira, Mona Dorf, Teresa Cristina Miranda e Miriam Leitão, responsáveis por uma matéria por semana. Além de Avenida Paulista, estreou Editor Internacional no dia 2 de agosto, com matérias mundiais com imagens geradas pela agência da UPI Television News. Porém, com o tempo, os interesses da Fundação Cásper Líbero e da Abril Vídeo já não eram mais os mesmos. Ocorreu um pequeno desgaste dentro de um casamento que gerou bons frutos. Assim, em 19 de novembro de 1985 os principais jornais estamparam o seguinte editorial: TV Gazeta e Abril Vídeo encerram acordo – A TV Gazeta, Canal 11, emissora da Fundação Cásper Líbero, e a Divisão Abril Vídeo, da Editora Abril, informam ao público em geral, a seus amigos, anunciantes e publicitários que, após dois anos de profícua convivência, estão encerrando seu acordo de colaboração mútua. A programação da Abril Vídeo deixará de ser veiculada pela TV Gazeta a partir do dia 22 de novembro de 1985. Acreditamos que esse período, marcado por tantas realizações, tenha sido um marco significativo na vida de ambas as organizações, sobretudo no que se refere ao desenvolvimento de seus projetos na área de vídeo. Gazeta Mercantil Foi realmente para a TV Gazeta uma fase de parcerias. Além da parceria com a Globo para criação da nova torre e com a Abril Vídeo para criação do São Paulo na TV, a TV Gazeta ainda formalizou parceria com a Gazeta Mercantil. O horário ocupado pela Gazeta Mercantil era após o destinado à Abril Vídeo. No dia 18 de julho de 1983, estreou o São Paulo Conhece, com 15 minutos diários e apresentação do atorapresentador David José e a economista Lídia Goldenstein. No dia 21 de julho, lançaram o semanal Primeira Página, uma mesa-redonda de uma hora e externas sobre mercado empresarial e negócios. Roberto Müller, diretor da área editorial do grupo, foi responsável pelo núcleo de produção de TV, com 15 profissionais e um estúdio arrendado. Essa parceria durou menos de um ano, diferente do que aconteceu entre a TV Gazeta e a Abril Vídeo. 47. Gazeta fora do ar São Paulo na TV no ar. Era 24 de abril de 1984. O apresentador Paulo Markun olhou para a câmera, explicando ao telespectador que falaria com o vice-governador de São Paulo, Orestes Quércia, em ligação telefônica, direto de Brasília. Markun – Alô, vice-governador? Tudo bem? Como está o tempo aí? Quércia – Bem, hoje, é, muito agitado. Markun – Fez sol, não? Quércia – É, fez sol, muita buzina. Markun – Muito trânsito? Quércia – Muito trânsito. Hoje o trânsito estava muito congestionado... por volta das 18 horas... e houve um barulho muito grande em Brasília, todos os carros buzinando, isso nunca ocorreu em Brasília, primeira vez. Markun – Congestionamento de trânsito, que é absolutamente inesperado numa cidade planejada... Quércia – Porque é uma cidade com ruas amplas, na qual na época da fundação e da construção do projeto de Oscar Niemeyer nem se previa semáforos, né? E o trânsito hoje foi impressionante, principalmente em volta do Congresso, principalmente, aliás, em frente ao Palácio do Governo. E o trânsito, assim, que realmente assustou todo mundo. Houve um barulho muito grande, buzinas, centenas de carros buzinando. Markun – E o senhor, continua no Congresso? Quércia – É, nós estamos no Congresso. Markun – Vai para o hotel ou não? Vai ficar por aí? Quércia – Nós vamos para o hotel e amanhã de manhã voltaremos para cá, embora alguns talvez fiquem aqui porque o tempo lá fora não está muito bom para sair. Mas eu acredito que amanhã vai ser um dia de alegria para a nação brasileira porque a expectativa é muito boa, existem pessoas que querem que o tempo fique bom e que até há bem pouco tempo não queriam. Eu acredito que amanhã a representatividade brasileira aqui no Congresso vai realmente possibilitar um tempo muito bom para o nosso povo. Markun – Tá bom, tomara que seja assim. Muito obrigado e boa noite. O resultado daquele comentário, que comentava nas entrelinhas sobre o buzinaço, manifestação que ocorria em Brasília, fez com que o Dentel fosse até a TV Gazeta no dia seguinte lacrar a emissora. Estava para ser votada, em Brasília, a Emenda Dante de Oliveira, bem naquela semana. E censuraram toda a mídia eletrônica. Só os jornais notificaram. As rádios e televisões estavam proibidas até de mencionar. Algum censor viu aquele meu comentário e resolveu tirar a Gazeta do ar – relembra Paulo Markun. Naquela ocasião eu era o diretor de TV do São Paulo na TV. Lembro até hoje a confusão que se tornou os bastidores da TV Gazeta. A chegada do Dentel para lacrar o transmissor foi um ato que surpreendeu a todos. Tinha gente que achava que a Gazeta não ia voltar mais ao ar. – conta Fábio Rolfo. No final, em Brasília, a Emenda das Diretas não conseguiu a maioria de dois terços exigidos para ser aprovada. Perdeu por 22 votos. Alguns jornais - lembro-me até de uma matéria grande da Folha – se colocaram em defesa da volta da TV Gazeta. De certa forma, nossa emissora teve uma pequena contribuição para a abertura política com aquela passagem, completa Markun. No dia 26 de abril de 1984 a TV Gazeta voltou ao ar às 11 horas, com o pronunciamento do presidente da Fundação Mauro Salles: A Fundação Cásper Líbero foi surpreendida, na tarde de ontem, com a medida do Dentel ao lacrar os transmissores da TV Gazeta – Canal 11, de sua propriedade, impedindo-a assim de prestar ao público os serviços do qual é concessionária. O Termo de Interrupção e Lacração fazia uma simples referência ao descumprimento das medidas de emergência decretadas para vigorar fora de nosso Estado e nada dizia sobre que partes de nossa programação teriam descumprido as referidas determinações, cuja cópia, aliás, sequer nos foi fornecida. Durante toda a tarde de ontem a direção desta emissora e os conselhos curador e diretor da nossa Fundação procurou por todos os meios for-mar contato com as autoridades competentes. Esperávamos que nos esclarecessem sobre os reais motivos da violência que estamos sofrendo, para que pudéssemos afinal nos defender de qualquer acusação. Em nenhum momento recebemos comunicação oficial sobre os prazos que teríamos que ficar fora do ar. Sentimos dificuldade, diante do vazio de informações oficiais, para tomar as medidas que pudessem resultar na volta ao ar do Canal 11 de São Paulo. Notícias que indiretamente chegaram a nossa emissora davam conta de que a medida teria sido determinada pela transmissão, no horário noturno de anteontem, de um telefonema dado de Brasília ao programa São Paulo na TV pelo vice-governador do Estado, sr. Orestes Quércia. A Fundação está certa que nem essa, nem outra de suas transmissões, violou qualquer dispositivo legal. Fiel à sua tradição e inspirada na memória de seu instituidor, o jornalista Cásper Líbero, a Fundação não se conforma com o que foi, afinal, um ato de cerceamento do seu haver de informar o povo paulistano. Esta casa, que pertence à comunidade paulistana, edita os jornais Gazeta Esportiva e A Gazeta e é concessionária do Canal 11 de TV de São Paulo, o Canal 12 de TV em Santos e das emissoras da Rádio Gazeta AM e Gazeta FM Stereo 88. Aqui abrigamos também a Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, uma das mais tradicionais e importantes escolas de jornalismo do Brasil e da América Latina. Somos uma casa de jornalistas cuja missão é prestar serviços à sociedade e, em especial, à comunidade da grande São Paulo e deste Estado. Como profissional de comunicação, nosso compromisso maior é com a verdade, a democracia, com o bem-estar das coletividades a que servimos – tudo isso sob o permanente respaldo dos princípios éticos que rejem a nossa profissão e a nossa atividade e das leis e normas que devemos cumprir e sempre cumprimos com absoluto rigor. Em nenhum momento podemos entender esta violência que se abate sobre uma entidade como a nossa, com a linha de conduta que tivemos no passado, temos no presente e vamos continuar mantendo no futuro. Compreendemos os momentos difíceis por que a Nação viveu no dia de ontem e reconhecemos que, a partir do mal-entendido que acabou por retirar a nossa emissora do ar, não tenha sido fácil às autoridades a que recorremos superar os obstáculos existentes, afinal, levantar a punição externa. É nosso dever agradecer o empenho especial com que o ministro Leitão de Abreu, o ministro Haroldo Corrêa de Matos e o próprio diretor do Dentel, coronel Antônio Neiva, se dispuseram a defender a nossa causa. Somos especialmente gratos às emissoras coirmãs, aos partidos políticos, às entidades representativas do nosso setor e às lideranças desta cidade e de todo o Brasil que se colocaram ao lado dos homens que trabalham aqui na TV Gazeta. Dessa brava equipe de profissionais que, em nenhum momento, se deixou contaminar pela desesperança. Estamos de novo no ar, prestando serviços a São Paulo. Pedimos desculpas aos nossos espectadores pelo tempo que ficamos parados. O caso foi encerrado e a Gazeta voltou ao ar regularmente. Foi um dos últimos atos de censura aos meios de comunicação na fase do período militar. Naquele momento enxergavam o início do fim da ditadura. As Diretas Já batiam às portas, a abertura política começou a virar realidade. Um ano depois voltavam as eleições diretas. 48. 23ª Hora, Faustão e Olhar Eletrônico O outro parceiro da TV Gazeta naquele período de 1983 a 1985 foi Goulart de Andrade. É ele quem nos conta um pouco sobre essa fase: Eu tinha saído da Globo, onde eu fazia o Comando da Madrugada. Aí pensei em investir mais ainda em produção independente, num programa só meu. Foi aí que conversei com a direção da TV Gazeta e chegamos num acordo. Como o nome do programa estava preso, pensei em 23ª Hora, já que começava no fim de noite. Fiz minhas matérias. Não digo que tenha uma em especial, mas algumas as pessoas comentam mais. Nessa época, fiz uma matéria vestido de palhaço, outro do Globo da Morte e também visitei o sanatório do Juquery. Teve também uma com travestis, falando sobre silicone, que causou até certo bochicho. Eu, e, claro, o Jorge Capeta. Câmera que me acompanhou por tanto tempo. Trabalhava comigo na Globo e foi câmera também da Gazeta. Aliás, na Gazeta também trabalhou o filho dele, o Capetinha, que hoje está na Globo. E depois consegui que o Boni me desse a autorização para usar o nome Comando da Madrugada, que era originário da Globo. Programa em que acabei popularizando a expressão: Vem comigo! A Gazeta me dava liberdade para criar. Uma emissora que sempre foi democrática. Graças a isso, o 23ª Hora acabou colaborando para a criação de novos talentos. Tinha um gordo que fazia um programa de rádio que se chamava Balancê e era também repórter esportivo. O programa era feito lá no Teatro Záccaro. Sei que um dia nos conhecemos e nasceu o projeto de um programa parecido com o que ele fazia no rádio. E foi assim que nasceu para a televisão Fausto Silva. Ele começou lá na TV Gazeta fazendo o programa Perdidos na Noite, por volta de fevereiro de 1984. Não ficou nem um ano na TV Gazeta, porque logo foi chamado para a TV Record. E o gordo continua folgado! [risos] Mas foi um talento que se destacou sem fazer força. Aquela espontaneidade e a parceria com o Tatá e Escova deram força para aquele rapaz ser hoje um Faustão, grande apresentador da Rede Globo. E eu também gostava de coisas novas. E vi o povo da Olhar Eletrônico criando, inventando umas coisas. Foi daí que também convidei aqueles jovens, produtores independentes, para participar do 23ª Hora. Hoje me orgulho de ver que aqueles garotos, viraram verdadeiros nomes da TV e do cinema. Falo de Marcelo Tas, Fernando Meirelles, toda aquela turma da Olhar. Os jovens da Olhar Eletrônico também colaboravam com outro programa da Gazeta, dirigido a videomakers e produtores independentes e que fazia parte de Abril Vídeo. Era o Olho Mágico, dirigido por Roberto de Oliveira, com apresentação de Marcelo Tas e Christina Proschaska, que surgiam para o vídeo, e Aizita Nascimento, além dos repórteres Mauricio Kubrusly e José Ramos Tinhorão. Na TV Gazeta, nós fizemos vários programas. Crig-rá!, Antenas, Olho Mágico. Foi lá que criamos o repórter Ernesto Varella, que até hoje o pessoal lembra e identifica na rua. Com relação às nossas criações da Olhar Eletrônico, no início os técnicos e operadores da TV Gazeta ficaram meio receosos, já que queríamos mexer com os padrões de imagem. Éramos videomakers. No final, criou-se uma química em que até eles passaram a nos apoiar nas criações. E mexemos nos botõezinhos, nos ajustes. Se não fosse essa liberdade que a TV Gazeta dava para experimentar, criar, hoje muita coisa na televisão seria outra. Não teríamos espaço se não tivessem confiado na gente naquele momento. – é o que conta Marcelo Tas, hoje apresentador do CQC (Band). Valdeci, o fiel câmera do repórter Ernesto Varella, não era ninguém mais ninguém menos que Fernando Meirelles. Que chegou a revezar a função com Toniko Melo, Paulo Morelli e Henrique Goldman (uma vez, em Nova Iorque). Depois a Abril Vídeo solicitou a criação de um novo programa à Olhar, que recebeu o nome de Crig-rá!. Naquele programa, além das do Varella, entravam várias reportagens. Algumas, sobre sexo e comportamento, eram apresentadas por uma jovem de 14 anos, chamada Sandra Annemberg, em sua primeira aparição na TV. Antenas, já mencionado, foi o primeiro programa da Olhar Eletrônico, em 1983, e fazia parte do 23ª Hora. 49. Música no ar A TV Gazeta seguiu a onda do início dos anos 1980, quando uma nova safra de bandas surgiu, dando mais vida ao rock nacional. Fábrica do Som e Som Pop da TV Cultura, Super Special, da TV Bandeirantes, e outros programas foram baseados na popularização do formato videoclipe e na apresentação de novos talentos. E na TV Gazeta também foi assim. Em 1985 surgiu Realce (programa diário de videoclipes na na TV aberta), com o DJ argentino Mister Sam, que descobriu diversos talentos da música nacional. E havia também o Real ce Baby, um formato de programa de duração menor, mas baseado principalmente na exibição de clipes. Ainda foi criado, em 1986, o Night Clip, uma faixa inteira da madrugada da TV Gazeta dedicada ao videoclipe. Um ano depois Mister Sam saiu da TV Gazeta e entrou um dos nomes mais importantes do rádio naquele momento: Beto Rivera. Entre uma fase e outra, nasceu também o personagem Capivara, criado e anima-do por Sérgio Tastaldi (que depois fez na Gazeta o Lig-o-Plug, com diversos bonecos). Em 1989, o Realce e Realce Baby se transformaram em um só: o Clip Trip, continuando Beto Rivera e Capivara (após um tempo, o boneco passou a ser manipulado por Henrique Serrano). Em 1993, com a chegada da CNT, o programa terminou. Beto Rivera conta um pouco sobre o programa: O Clip-Trip era um programa bem despojado. A gente tinha alguns clipes, porque não existia MTV, não tinha nada. E tinha o Tastaldi que era o Capivara. Era um cara fantástico. E eu tinha um conhecimento musical. Eu era apresentador da Jovem Pan, com uma audiência muito grande na época. Primeiro lugar nos rádios de São Paulo. E tinha contato com muitos artistas que estavam passando naquela época. Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs e, também, artistas internacionais, como Guns N Roses, Michael Jackson e outros sucessos. Falava da discografia deles no ar. E o Capivara usava mais aquele lado do humor. Ele foi um cara muito legal. Tem passagens assim inacreditáveis, como os Toy Dolls brigando com ele, os Ramones, o Barone do Paralamas jogando um tênis na cabeça dele. Ele tirava as pessoas do chão e brincava de uma maneira que era muito engraçada! Já era um pré-Pânico naquela época. E eu fazia a parte mais séria. E ele tirava muito sarro comigo! Eu era, na realidade, até meio o bobo da corte, porque eu falava as coisas sérias. Por exemplo: Recebemos aqui a carta de fulano de tal e ele falava: Que carta o quê, bicho! e pegava a carta, dá aqui para a gente ler, vamos fazer papel para vender e ganhar um dinheiro. E quando ele amassava as cartas, engolia... O Capivara era um cara muito engraçado. E eu fazia a parte da coisa: O que é isso... Onde já se viu! Escreveram para a gente dizendo que você é legal, não quero vender papel. Grandes tiradas. Não tínhamos no início roteiro, depois é que começamos. Tivemos bons momentos, principalmente com aquele lado popular. Tinha uma audiência muito grande quando falávamos do New Kids On The Block. E tinha o Dirceu Jackson, da produção. O Dirceu era um barato porque ele adorava o Michael Jackson e era uma briga todo dia, porque ele queria colocar um clipe do Michael Jackson em todos os programas. E a gente falava para ele:, Dirceu, menos, Dirceu. Vamos colocar um dia sim e outro não, Uma dia? Mas tem muitos!, Eu sei, mas você põe um hoje e daqui a três dias você põe de novo. Foi uma fase muito boa. Se eu tivesse que voltar um dia no tempo, eu queria que acontecesse tudo do mesmo jeito. Muitos diretores passaram pelo programa. Entre eles, José Carlos Alimari, Rogério Brandão e Pedro Vieira. No final de 1992, Beto Rivera foi convidado para dirigir a Rádio Gazeta e é seu superintendente, respondendo pela FM junto à Fundação, desde 1993. 50. MTV no Brasil O canal 11 paulistano, por conta dessa ligação com a área musical e, principalmente, pela exibição constante de videoclipes, chamou a atenção até fora do Brasil. Foi assim que, em 1985, a americana MTV procurou a Gazeta para uma parceria. O então gerente artístico de Rádio e TV, Luiz Francfort conta: O José Roberto Maluf um dia me telefonou, num sábado, dizendo que foi procurado pela MTV dos Estados Unidos e que eles estavam interessados em fazer um negócio com a Gazeta para eles poderem entrar no Brasil. Perguntou se eu sabia falar inglês e que o responsável estava perto de minha casa, onde era a GGK, que depois se transformou em WGGK, WBrasil, do Washington Olivetto. Eu fui lá conversar com o brasileiro (na verdade hispano-brasileiro, Javier Llussá, um dos fundadores da W/Brasil) que o José Roberto me indicou. Este me apresentou um japonês, diretor da MTV, que se chamava Mister Dayle. Ele propôs o negócio, serviu de intérprete, e disse que queria pegar a programação da Gazeta e colocar a dele, da MTV. E eles pagariam para a Gazeta uma porcentagem. Uma coisa que ia fazer a Gazeta nadar em dinheiro. Ele só queria os operadores e o horário, parecido com o que fizemos com a Abril Vídeo. Mas primeiro o japonês deu uma recuada porque achou que tinha que ser como nos Estados Unidos. Um cara liga a câmera, acende a luz, liga o microfone e aqui não é assim. O sindicato não permitia isso. Aí o japonês se aborreceu. Depois alguém do conselho curador da Fundação Cásper Líbero colocou na cabeça que estávamos oferecendo a televisão para estrangeiros e até espalhou isso no jornal, que estávamos vendendo a emissora para os Estados Unidos. Estava tudo pronto para fechar, mas desandou. Sobre ter sido a Gazeta a escolhida foi porque alguém dos Estados Unidos nos recomendou, dizendo que era uma emissora ainda sem expressão, mas que tinha equipamentos. O japonês falou para mim: É a emissora que tem o melhor equipamento da cidade e não tem programação, é ideal para nós, e era mesmo. Guilherme Araújo, gerente-geral da TV Gazeta, também fez parte do projeto: Eu fazia parte da negociação com o Luiz Francfort. Nós fizemos algumas reuniões até na agência, que era uma das mais fortes do país. O que eles queriam fazer? Uma programação. Trariam grandes shows, enquanto tirávamos uma parte da nossa programação e eles modernizariam todo o equipamento da Gazeta, o transmissor. Não ia nem mudar o nome da Gazeta. Ia ter apenas programação da MTV, como depois fizeram com a TV Abril, em 1990. Tudo caminhava bem, mas o conselheiro foi até a reunião do conselho e pressionou com alunos da Cásper Líbero a não assinar o contrato que estávamos fazendo. Tudo pronto, minuta do contrato... Ia ter um escritório deles no Brasil e inclusive eu e o Luiz íamos fazer parte dessa diretoria formada desse núcleo, para justamente ter um cuidado com a filosofia da casa, porque, sendo fundação, era preciso alguns cuidados. E íamos fazer parte disso. Nós íamos ser, ao mesmo tempo, diretores da TV Gazeta e uma voz dentro da equipe de direção da MTV Brasil. No final o conselho ficou com medo, achando que ia ferir a filosofia do Cásper Líbero. Veja abaixo trecho da denúncia, que foi enviada para a mídia e como foi publicada no Diário Popular: Senhor editor: Na condição de presidente do conselho curador da Fundação Cásper Líbero, vejo-me obrigado a condenar em termos veementes o ajuste anunciado entre a TV Gazeta, canal 11, emissora de São Paulo mantida pela Fundação, e a empresa norte-americana MTV Networks Inc., no sentido de que a Gazeta passe a transmitir, diariamente, farto material produzido nos Estados Unidos. No plano jurídico, entendo que o contrato é ilegal. A TV Gazeta, como todas as emissoras de Rádio e TV no Brasil, funciona por concessão do poder público e não pode, por essa razão, ceder sem tempo de emissão o título de aluguel a uma empresa estrangeira. Aliás, a proibição de qualquer tipo de controle estrangeiro sobre empresas jornalísticas está expressa tanto na Lei de Imprensa quanto no Código Nacional de Telecomunicações. Por outro lado, o ajuste contraria os próprios estatutos da Fundação Cásper Líbero, particularmente no seu artigo terceiro, letra C, que estabelece que os veículos de comunicação mantidos pela Cásper Líbero devem ser genuínos intérpretes da opinião pública e dos interesses da Nação. (...) Alerto também para a declaração de um dos participantes do negócio, senhor Javier Llussá, de que com a participação da MTV a TV Gazeta transformar-se-á numa FM em cores – Audálio Dantas – presidente do conselho curador da Fundação Cásper Líbero. Sérgio Felipe dos Santos conclui: Nós éramos famosos em clipes, por isso nos procuraram. Comecei a fazer a negociação. Nós teríamos algumas fitas, pílulas de jornalismo. E eles entrariam com o pool, os clipes da época. Era uma TV superjovem. Ainda meu amigo Constantino, com a inocência dele, foi até a Veja e deu uma entrevista. Colocaram na TV já falando em multinacional e o conselho curador, comandado por um deputado na época, levantou a bandeira que ia desempregar o brasileiro. Fez um barulho danado na imprensa. A própria MTV recuou e aí foi fechar com a Editora Abril, que era um pouco mais inteligente na época. Fernando Meirelles, em sua Biografia Prematura (de Maria do Rosário Caetano, editada pela Imprensa Oficial na Coleção Aplauso) revela que a Rede Manchete foi o próximo alvo da MTV para entrar no Brasil, utilizando-se da produtora Olhar Eletrônico como base para sua implantação. Marcelo Machado foi escolhido para cuidar da programação da MTV na Manchete: Marcelo Machado, que seria responsável pela programação da TV, foi para os Estados Unidos e passou um período estudando a MTV americana. Gastamos alguns meses no projeto que nacionalizasse os programas vindos dos EUA. Montamos para eles um pacote completo, com lista de equipamentos, relação de profissionais e tudo. Na última hora, o negócio entre a Manchete e a MTV deu para trás e projeto foi engavetado. Dois anos depois [1990], a MTV realizou nova investida [agora com a Editora Abril] no país e dessa vez emplacou. O Marcelo Machado foi novamente chamado para dirigí-la e saiu da Olhar. A produtora já estava se desmontando. Meirelles comenta também que foi graças aos conhecimentos que adquiriram no projeto da MTV que Cunha Lima os chamou para criar o TV Mix. Uma mistura entre MTV e os programas da Olhar, como Crig-Rá!. A não entrada da MTV antes no Brasil se deve também ao desconhecimento do mercado sobre franchising. Não há capital estrangeiro por trás, apenas licenciamento da marca e do formato da programação da MTV mundial. 51. Mesa Redonda: Futebol Debate Em 14 de abril de 1985, pela primeira vez aos domingos, a mesa-redonda da TV Gazeta transformou-se em Mesa Redonda: Futebol Debate, ancorada por Roberto Avallone. Nessa fase eu e o Avallone éramos os antagonistas. Quase dois personagens que brigavam entre si o tempo todo. Eu, o corintiano roxo, e ele, um palmeirense vibrante. – conta o colega Chico Lang. Roberto Avallone era realmente um personagem na história do Mesa Redonda: Futebol Debate. Não dá para esquecer suas expressões: Interrogação! Exclamação! Com seu jeito singular, tanto na pronúncia, com no modo elétrico que bradava em seus comentários, ele marcou a história do esporte na televisão. Abaixo, a reprodução da matéria em A Gazeta Esportiva de 22 de junho de 1997, em que Avallone contou sua trajetória: A Gazeta Esportiva – Quando e como começou como comentarista da Gazeta/CNT? Avallone – Eu iniciei em 1983 como comentarista, trazido por Constantino Cury e pelo jornalista Antônio Eurico. Naquele ano havia um programa aos sábados chamado Sábado Esporte e um programa diário de nome Momento do Esporte, hoje o Gazeta Esportiva. A Gazeta Esportiva – E o Mesa Redonda: Futebol Debate, quando começou? Avallone – A Mesa Redonda foi revivida a partir de abril de 1985, com uma nova versão. A antiga, que tinha Milton Peruzzi, José Italiano, Peirão de Castro, José Silveira, Dalmo Pessoa, também era muito boa. Mas resolvi mudar. A Gazeta Esportiva – Com relação ao formato do atual programa, o que você pode nos dizer? Avallone – A antiga, como eu disse era um sucesso. Mas quando assumi, vinha de uma escola do Jornal da Tarde, pedi que o programa fosse mais jornalístico, com menos discussão e mais reportagens e muita informação. Tive autonomia total e depois, na gestão do superintendente-geral Sérgio Felipe dos Santos, creio que conseguimos um equilíbrio entre debate de ideias e matérias de bastidores. A Gazeta Esportiva – O telespectador vê o programa acabado. Qual a sua participação na preparação do programa? Avallone – Um programa começa a nascer imediatamente após o encerramento do outro. Quando vamos jantar após o programa já surgem ideias do próximo programa. Posteriormente, às terças-feiras há uma reunião geral de pauta onde participam também o Chico Lang, Márcio Bernardes, Izildo Ramalho, Luís Carlos Ramos, Fátima Roggieri e às vezes os repórteres. Na quinta-feira, uma nova reunião é feita para acertar alguns detalhes e no domingo, horas antes de o programa começar, fazemos a atualização final. Portanto, o programa é pensado, planejado ao longo da semana. Não nasce de improviso. A Gazeta Esportiva – Os colegas o elogiam como o dono de um grande texto e o consideram um dos mais criativos pauteiros. Aliada a essas qualidades você tem um dom que é fundamental a qualquer jornalista, possui uma memória fantástica. Você fez algum exercício de memorização? Avallone – Não faço nada. É tudo natural. Quando se faz algo com prazer e muito amor a memorização é facilitada. A Gazeta Esportiva – E o que você pode dizer dos patrocinadores? Avallone – A resposta que recebemos do público é semelhante às dos publicitários. Estamos com sete patrocinadores – Esporte Fabiano, Arapuã, Excel, Reiplas, Wolks, Denorex e Camisaria Colombo, além dos testemunhais Lellis Tratoria, Multivisão, Liceu Carvalho Pinto e Save. A Gazeta Esportiva – Na Mesa Redonda, qual a entrevista que mais marcou? Avallone – Foram várias, afinal, são 12 anos de programa. Mas eu posso recordar uma do Pelé. Ficamos cinco horas no apartamento do Pelé, na Alameda Jaú, e ele se dividiu em quatro personagens. Pelé cantor e artista, Pelé empresário, Pelé jogador de futebol e Pelé cidadão comum, o Édson Arantes do Nascimento, quando relembrou a sua primeira namorada, em Bauru, a Neuzinha, quando tinha 14 anos de idade, a homenagem a seu pai Dondinho. As cinco horas de gravação foram transformadas em duas horas e meia. Foi um grande programa. Na fase de Roberto Avallone entraram para a TV Gazeta Ana Paola, Michelle Gianella e Celso Cardoso. Além de Chico Lang, seu antagonista. Roberto Avallone saiu da TV Gazeta em 2003, assumindo Flávio Prado o comando da Mesa Redonda. 52. Forno, Fogão & Cia. Geraldo Rodrigues nasceu em Capivari (SP), em 17 de novembro de 1930. E desde cedo pegou gosto por comunicação. Primeiro gostou de rádio, depois TV. Tornou-se radialista em 1958, profissionalmente. No início da TV Cultura, quando era de propriedade dos Diários Associados, na década de 1960, produziu e apresentou diversos programas sob o apelido de Tio Geraldo. Sua parceria com Lúcia Lambertini, a primeira Emília do Sítio do Pica-pau Amarelo na TV, fez com que voltasse ao ar na TV Cultura a atração, como parte do programa Grande Parque Infantil. Nessa faixa infantil de programação outra atração ali presente, apresentada por ele e Ênio Gonçalves, foi Dois no Dois. Com a saída de Ênio, continuou apresentando e o programa transformou-se em O Dois é Nosso. Passou também pela Excelsior e pela TV Bandeirantes (onde criou TV em Miniatura, apresentado por crianças que imitavam artistas de TV). De lá foi para a TV Gazeta produzir o Telejornal Gazetinha, no início da década de 1970. Em 1973, mudouse para a TV Bandeirantes novamente, começando sua parceria com Ofélia Anunciatto, sua grande amiga. Lá foi produtor de Revista Feminina, apresentado por Maria Thereza Gregori, com receitas de Ofélia (o programa foi compartilhado por ambas durante uns tempos na TV Gazeta antes de ser extinto, no final da década de 1970). Mas Geraldo produziu também por muito tempo o Cozinha Maravilhosa de Ofélia. Foi lá que pegou mesmo o gosto pela culinária. Em boletim de programação da TV Gazeta (de 20/4/1985), Geraldo comentou: Dos doze anos de produção em culinária, um foi realizado com a Ofélia na TV Gazeta, quando formei a equipe atual de Forno, Fogão & Cia., a convite da direção desta emissora. O lançamento do programa aconteceu no dia 1º de dezembro de 1982. E mencionou um quadro que nasceu naquela época e que existiu até a extinção do programa, o Receita Premiada (com receitas criadas pelo público e feitas no programa): Além da Receita Premiada, que continua por prazo indeterminado, já que recebemos milhares de cartas (e continuamos recebendo), lançaremos, ainda este mês, a nova programação Maria ganha Prêmios, especialmente para o mês de maio. E Forno, Fogão & Cia. Tornou-se um dos programas de mais audiência da TV Gazeta, sempre no horário das 13h30, como foi até o final. O programa teve apenas uma breve interrupção, voltando em 1987. Geraldo Rodrigues passou a contar o aniversário a partir daquele ano, mas curiosamente, em 1992, fez festa de dez anos do programa no Edifício Itália, com a presença de todas as culinaristas e, claro, da madrinha do programa, Ofélia Anunciatto. Na fase final do programa, quase dez anos após a morte de Ofélia, sua ajudante Cidinha Santiago transformou-se em culinarista do programa. Geraldo Rodrigues lançou diversos nomes na televisão em seu programa: Alda Miranda, Arminda Simões, Bruno Cesar, Cinthia Maggi, Cleide Chiara, Evelin Duarte, Gislaine Oliveira, Janir Fraga, Jurandyr Affonso, Marcela Sanchez, Mariza Mendes, Marlene Bispo, Miriam Keller, Neusa Barberini, Olivier Anquier, Romeu Júnior, Sérgio Arno e Verena Alargón, além de outros. Na TV Gazeta o Forno, Fogão & Cia. era gravado no estúdio que existia na garagem do Edifício Gazeta. E lá ficou até 1994, quando se transferiu para a Record, sendo um dos programas de maior audiência da rede. Ficou até o final da década de 1990. De lá foi para a Rede Mulher, participando do projeto Casa São Paulo e do Com Sabor. Ficou pouco tempo parado, regressando à televisão em 2003, na Rede NGT, em UHF. Sobre a fase da Gazeta, Geraldo relembrou: Eu fiquei, na verdade, com o Forno, Fogão & Cia. na Gazeta durante 12 anos. Oito anos como freelancer e depois fui contratado como produtor da casa, mas de modo específico do Forno, Fogão & Cia.. Aliás, diga-se de passagem, isso tenho para comprovar pelos boletins de Ibope até hoje: o Forno na Gazeta chegou a ser líder de audiência por muito tempo. Chegando ao absurdo de dar cinco pontos de Ibope à uma e meia da tarde na TV Gazeta. Era realmente um absurdo, porque a programação da Gazeta, o máximo que dava era dois pontos, com o Mesa Redonda. E o Forno chegou a dar cinco pontos mais de uma vez. Neusa Barberini, uma de suas culinaristas desde a época da Gazeta conta: O Geraldo iniciou sua vida na TV na década de 1960. Viveu grande parte de sua vida nos estúdios, dirigindo e apresentando seus programas. No que diz respeito à culinária, foi o percursor das aulas de culinária na TV. Tudo o que vemos de programação de culinária hoje, usa de alguma forma o formato do Forno, Fogão & Cia criado pelo Geraldo há quase 30 anos. E isso vai ficar na história da TV brasileira. Como o próprio Geraldo dizia: o programa mais gostoso da TV brasileira, e isso resume tudo. Foi um programa que faz falta hoje na TV. Geraldo Rodrigues contou sobre a criação do Forno : Desde o início sempre teve uma culinarista por dia. Uma equipe de cinco profissionais. Eu comecei o Forno, com a Cinthia Maggi, Alda Miranda, Marlene Bispo, Graça Machado, Miriam Kheller, enfim... E coube ao Forno também quebrar o tabu da presença de homem na cozinha. Pelos idos de 70 e poucos anos, homem se gostasse de culinária, se ia à cozinha, ia escondido, porque ele poderia ser bem falado. [risos]. Achavam que homem que sabia cozinhar era bicha. E não tem nada a ver isso. Romeu Júnior foi o primeiro homem a trabalhar iso ladamente no dia do Forno, Fogão. Todos os dias havia um subtítulo e eu criei então um, digamos, um subtítulo do programa, Cozinhar e gostar é só começar. Baseado no nome da comédia. E lancei uma culinária a quatro mãos. E provei, por A mais B, que o irmão pode ajudar a irmã na cozinha, o marido pode ajudar a esposa, o namorado à namorada, o amigo à amiga, e, depois, à medida que a coisa foi sendo aceita, eu acabei desmembrando e ficou só o rapaz na cozinha, o Romeu Júnior. Compreendeu? Porque nós quebramos o tabu. A ponto de hoje ter quase mais homens na culinária do que mulheres. O nome TV Culinária surgiu dentro do Forno, Fogão & Cia. Era o subtítulo do programa das segundas-feiras, apresentado por Cleide Chiara. Tive o prazer de trabalhar com o Seu Geraldo na última fase do For-no, Fogão & Cia. na Rede NGT. Cuidava da parte de comunicação do canal, mas tinha um carinho especial pelo programa e, claro, pela pessoa especial que era Geraldo Rodrigues. Um entusiasmado por trabalhar, o que fez até a véspera de seu falecimento, em 2 de dezembro de 2007. Me orgulho de ter criado, junto do Arthur Ankerkrone, a última abertura do Forno, Fogão & Cia. e a logomarca do seu 20º aniversário (aliás, 20º se contado a partir da reinauguração do Seu Geraldo em 1987, na TV Gazeta!). Lembro-me da campanha que criei, onde aparecia uma foto dele, com a frase: Há 20 anos ele trabalha com sabor. E trabalhou. Nos últimos tempos foi ainda criando uma discípula, que quando ele tinha que tratar da saúde ou faltar, passava a produzir o programa: Sandra Miranda, excelente profissional. Afinal, o Forno nunca foi dirigido, sempre produzido. Seu Geraldo era do tempo em que, na TV, o cargo alto no programa era o produtor, e até falecer não concordava com a ideia de colocá-lo como o diretor do programa. Era um professor maravilhoso, daqueles que repreendem quando é preciso. Uma vez me deu uma bronca no estúdio após um ataque de riso por conta de uma engasgada na cantora que se apresentava: Quando você estiver trabalhando, não ria. Só da pessoa estar lá na frente já é digna de nosso respeito. Ao escrever esse capítulo, realizo o último sonho do Seu Geraldo. Ele faleceu antes de eu lançar meu primeiro livro na Coleção Aplauso, sobre a Rede Manchete. E sempre me dizia: Veja se no próximo você faz o da TV Gazeta. Lá vou ter muita história para te contar. Arrepia-me dizer, mas graças a uma entrevista que me concedeu em 2003, para a área de comunicação da emissora, pude cumprir o combinado. Aos amigos, àqueles que orgulhosamente fizeram parte da família Forno, Fogão & Cia., dedico este capítulo. E, Seu Geraldo, onde estiver, me desculpe pela entrada atrasada das receitas no site do Forno. Espero que me perdoe com esse capítulo! Você merece essa homenagem. 53. De São Paulo para São Paulo A TV Gazeta, em 1985, entrou em uma nova fase, usando como estratégia associar a imagem da emissora com a cidade de São Paulo. Um ano depois, em 1986, o logo da emissora foi modificado para um mapa de São Paulo, envolto por um círculo. E foi adotado o slogan: TV Gazeta: Uma emissora de São Paulo para São Paulo. Essas mudanças foram reflexos da troca da direção. Sobre a fase, Tico (Silvio Alimari), na época nomeado como gerente de eventos, explicou em matéria à Gazeta Esportiva (16/2/1987): Quando o empresário Constantino Cury assumiu a presidência da Fundação Cásper Líbero, em dezembro de 1985, resolveu colocar na superintendência da televisão o jovem Sérgio Felipe dos Santos. Formado em administração de empresas e um dos mais antigos funcionários da Fundação, Sérgio decidiu que a programação seria direcionada para o jornalismo, principalmente porque percebia que as outras emissoras não estavam tratando nossa cidade com o carinho que ela merece. [...] E esta audiência tende a aumentar, principalmente depois de julho próximo, quando os nossos transmissores estiverem funcionando plenamente. Já contratamos uma empresa para reparar as falhas que eles vinham apresentando e que o impediam de levar a nossa imagem para todo o Estado de São Paulo. Para instituir a nova programação Sérgio Felipe primeiro reorganizou a casa. Reestruturou as gerências da TV: Guilherme Araújo continuou na gerência-geral de programação, Alimari assumiu a gerência de eventos especiais, como já foi dito, e retornou à TV Gazeta, Luiz Francfort para comandar a gerência artística. O objetivo da nova programação foi a de sustentar a programação do canal 11 em um esquema estruturado e consistente, mantendo ainda os programas esportivos, femininos, musicais e infantis. Investiram na aquisição de equipamentos, comprando quatro câmeras DXC-M3A, da Sony (as mais modernas na época), um gerador de caracteres, ilhas de edição e reforma na área técnica, no 7º andar. Em 1986, para dar uma cara mais jornalística à emissora, contrataram Gabriel Priolli e Alberto Helena Júnior. Aos poucos grandes patrocinadores, como Bradesco, Sharp, Pullman, Casas Bahia, Unibanco e Volkswagen, retornaram para a cartela de clientes do departamento comercial da Gazeta. Ano premiado O resultado da nova programação também garantiu prêmios à TV Gazeta: um Vladimir Herzog ao jornalismo na emissora; o Troféu Destaque a Sérgio Felipe dos Santos (como melhor administrador e diretor de TV); Prêmio Esso para o jornalista de economia Luís Nassif; outro Prêmio Esso de jornalismo para Roberto Avallone, diretor de esportes; Prêmio Homem de Visão (Revista Visão) ao apresentador Ferreira Netto. Entre os programas, ganharam destaque Realce, na época já com Beto Rivera e Capivara, Mesa Redonda Futebol Debate, ancorado por Roberto Avallone, e Nosso Jornal, noticiário com Alberto Helena Júnior. Carnaval 1987 Todos torciam, acreditando que 1987 seria o ano de a TV Gazeta colher tudo que começou a cultivar nos anos anteriores. Começaram pela transmissão do carnaval 1987, direto da Avenida Tiradentes, em São Paulo. Com os desfiles das Escolas de Samba do Grupo Especial paulistano – o que regularmente a TV Gazeta já fazia. Na cabine, Gabriel Priolli Neto, Lourival Pereira de Queirós, com comentários do jornalista especializado em samba Lampião, e participação especial do radialista Evaristo Costa. Dos estúdios da TV Gazeta, Eduardo Fortunato e Marci Heleine, para acionar os repórteres Adilson Silva, Cláudia Alguim e Astrid Fontenelle. Um bom clima, novo posicionamento. Por enquanto os ventos sopravam a favor da TV Gazeta. 54. Uma visão jornalística Gabriel Priolli fez parte nessa fase da TV Gazeta. Ficou na emissora de 1986 a 1987. Quando chegou ao canal 11, Priolli veio para dar uma cara mais jornalística ao Mulheres em Desfile, assumindo a direção do programa. Colocamos mais reportagens e pautas jornalísticas no programa. Nessa época eu tinha uma amiga, que foi minha aluna na PUC, a qual chamei para trabalhar comigo fazendo reportagens para o programa. Era a Astrid Fontenelle, que mais tarde despontaria mais ainda com o TV Mix. Nessa fase, precisou organizar o número de médicos que vinham ao programa, pelo excesso de profissionais presentes: Eram muitos. Iam sem ganhar nada, pois pela repercussão do programa, pelo sucesso, já tinham agendado clientes para mais de dois anos, pelo menos. Isso porque eram considerados os médicos do Mulheres. Intercalando seu trabalho no Mulheres em Desfile, Gabriel Priolli assumiu a direção executiva do jornalismo da TV Gazeta no final de 1986. E, em janeiro do ano seguinte, fez uma suada transmissão do carnaval: Enquanto a Globo trocou de equipe várias vezes, lá estava eu, narrando o carnaval por quase 24 horas ininterruptas. Comigo mais duas pessoas. Uma delas era o comentarista de samba Evaristo Costa. Eu não aguentava mais de cansaço, mas não entreguei os pontos. E fizemos uma boa transmissão, com os nossos recursos possíveis. Eu só tinha sido repórter de carnaval da TV Cultura, e lá na Gazeta, estreei como narrador de desfile. É uma experiência e tanto! Fora que nossa cabine virou um point, porque sempre tinha bebida e comida. Da fase em que esteve na Gazeta ainda se lembra das mudanças administrativas com a entrada de Jorge da Cunha Lima na presidência da Fundação e, junto dele, a troca da superintendência-geral de Rádio e TV: de Sérgio Felipe dos Santos para o jornalista Ferreira Netto. As consequências foram cruciais no futuro da Fundação. Priolli se recorda da demissão coletiva, no ar, dos apresentadores do Nosso Jornal : O Nosso Jornal era uma espécie de jornal da tosse da Gazeta. Aquele episódio aconteceu depois que o Ferreira Neto demitiu o Alberto Helena Jr. Os demais foram se demitindo aos poucos. Ainda dessa fase, o jornalista recorda a histórica implosão do Edifício da Cesp, em 7 de junho de 1987. Foi a primeira implosão de prédio realizada no Brasil, algo jamais visto e que teve repercussão em toda a mídia. Isolou toda a região da Avenida Paulista próxima da Rua Augusta, onde ficava o prédio. O edifício antes havia sofrido grande incêndio, o que fez com que passasse por esse procedimento inédito. Nos preparamos por vários dias, estudamos os posicionamentos das câmeras para pegar a melhor imagem, os efeitos que causaria e como seria a implosão, para no final tudo durar... apenas 15 segundos. Chegou a ser engraçado. Externamente, Gabriel Priolli ficou no controle da transmissão, próximo ao prédio da Cesp. Na sede da TV Gazeta, Solange Serpa foi quem ficou. E ela comenta que por lá apareceu o Ferreira Neto: Ele cismou que devíamos reprisar a cena da implosão. Ficou indo e voltando a fita no ar, com as imagens do prédio implodindo. Outro fato que Priolli destaca é a confusão criada pela vitória de Jorge da Cunha Lima, da oposição, e a derrota de Constantino Cury, da situação. Isso gerou uma revolta dentro da Fundação: Em 1987 coloquei meu cargo à disposição porque apoiava a situação [Constantino Cury], mesmo tendo bom relacionamento com Cunha Lima. Apoiei porque foram eles, da situação, que me convidaram para trabalhar na Gazeta. Sobre a TV Gazeta, Gabriel Priolli fala como estudioso da TV: A TV Gazeta deixa para a história a imagem de uma TV pequena, porém esforçada e combativa diante das grandes redes. Um exército Brancaleone. É um laboratório de muita gente. Para a produção independente foi o primeiro passo para muitos, como os garotos da Olhar Eletrônico e TVDO [lê-se TV Tudo]. E, sobre o Mesa Redonda, assisto todo domingo. Sou um daqueles pontos de audiência do programa há muito tempo. Desde a época do Peirão de Castro. E hoje estudo o programa para a reformulação do Cartão Verde na TV Cultura. Ele é o melhor exemplo de programa de esporte da TV brasileira há décadas. É tradicional e traz aquele ambiente de debate esportivo, com calor nas conversas. O Mesa Redonda é, sem dúvida, a união e a tradição do esporte na Fundação Cásper Líbero, com A Gazeta Esportiva e a programação esportiva da Rádio Gazeta. A TV Gazeta não teve até hoje a força que o jornal A Gazeta e A Gazeta Esportiva possuíram, mas se vê hoje uma programação de qualidade. Seja com o Mesa Redonda, com o Mulheres, referencial até dos programas vespertinos e que ainda tem força, ou com o Todo Seu, com a elegância do Ronnie Von e seu jeito diferenciado de apresentar. Gabriel Priolli, atualmente, é coordenador do núcleo de rede e expansão da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura. É ainda jornalista, crítico e estudioso sobre TV. 55. A era Cunha Lima O mês de março de 1987 trouxe para a Fundação um clima estranho, que fez com que se partisse ao meio aquela serenidade com que as coisas aconteciam. A tensão veio do alto, direto das eleições para o novo presidente do conselho diretor da Fundação. O que estava certo era que naquele momento o presidente Constantino Cury teria a renovação de seu mandato ou deixaria o cargo para outro membro ocupar. A entrada repentina de Jorge da Cunha Lima, ex-secretário da Cultura do governo estadual, não foi vista com bons olhos. Constantino tinha o apoio da maioria, principalmente dos funcionários. Começaram as acusações, principalmente pela ligação de Cunha Lima com o governo, chefiado desde o início do ano por Orestes Quércia (PMDB). Diziam que o PMDB, por não encontrar apoio na TV Cultura (emissora pública e governamental), transformaria a Fundação Cásper Líbero na máquina da propaganda política do partido através de seus veículos. Um fato foi o estopim dos protestos. A troca do representante da Secretaria da Cultura no conselho diretor. Saiu João Evangelista Leão e entrou a então secretária Bete Mendes. Os funcionários acusaram Cunha Lima de dar a si mesmo um voto, já que foi ele que nomeou a secretária para seu lugar. Vaias, protestos, um clima tenso pairava nos andares do Edifício Gazeta. No dia 30 de março a eleição durou, com grande nervosismo, 5 horas e 20 minutos. Ao final, Jorge da Cunha Lima foi eleito, com dez votos contra sete de Constantino. Um pouco desta tensão pode ser vista nos trechos da matéria Cunha Lima Vence eleições na Gazeta (Folha de S. Paulo, 1º/4/1987): Jorge da Cunha Lima nega essa estratégia. É ingênuo imaginar que vamos colocar a TV a serviço do PMDB, diz. Quero colocar a Fundação a serviço da transformação da sociedade. [...] Os funcionários da Fundação – cerca de 900 – preferiam a continuidade de Cury. Não temos nada contra o Cunha Lima, mas não queremos mexer no que está dando certo, argumentava a repórter e apresentadora de esportes da TV Gazeta, Regiani Ritter, 40. Porque trocar um trabalho bom por um trabalho incerto?, perguntava o repórter esportivo Roberto Avallone, 42. O trabalho bom, citado por Avallone, talvez nem possa ser visto pelos telespectadores. Mas há todo um clima na emissora que aponta para mudanças. Pela primeira vez as pessoas sentem orgulho de trabalhar na Gazeta, comenta o jornalista Alberto Helena, diretor-geral de jornalismo da TV. Antes mesmo de Cunha Lima ser eleito, o orgulho foi substituído pela animosidade – mais de cem funcionários formavam um corredor polonês à frente da sala de reunião do conselho curador, através do qual todos os curadores foram obrigados a passar. Cartazes indicavam apoio total a Cury. Técnicos da Gazeta repetiam que se Cunha Lima ganhasse iriam afrontar a vitória com uma greve, que acabou não acontecendo. [...] De concreto, Cunha Lima, que toma posse dia 30 de maio para cumprir o mandato de três anos, quer integrar as unidades estanques da Fundação. O fundamental é transformar o arquipélago em continente, é a frase de efeito para definir seu projeto. A posse de Cunha Lima aconteceu um mês antes, em 30 de abril. Ao seu lado, o vice-presidente Rubens Murillo Marques. E, no conselho curador, os conselheiros Ulysses Vasconcellos Diniz, Vicente Trevas e Clóvis Garcia. Na posse, Cunha Lima disse que sua meta era dinamizar a Fundação Cásper Líbero, melhorando os canais de comunicação internos. Quanto aos funcionários, Cunha Lima admite que fará mudanças, mas apenas em alguns cargos de confiança. Nessas posições o presidente da Fundação prefere contar com a equipe de assessores que o acompanha desde que era secretário estadual da Cultura, no governo Montoro (A Gazeta Esportiva, 1º/5/1987). Entre as mudanças, Cunha Lima destitui Sérgio Felipe dos Santos da função de superintendente-geral de Rádio e TV, colocando no lugar Ferreira Neto, que virou braço direito do novo presidente naquele momento. O jornalista resolveu promover uma série de mudanças que acabaram por chocar boa parte dos funcionários da Fundação, principalmente os antigos. Uma delas foi a demissão do gerente de qualidade da TV, Silvio Alimari (Tico). Foi o primeiro a ser demitido por Ferreira Neto. Os ânimos estavam acalorados. As mudanças diretivas começaram. E o próximo da lista foi o diretor de jornalismo Alberto Helena Júnior. Sua demissão foi por telefone, no dia 11 de maio de 1987. A alegação de Ferreira Neto à Alberto Helena foi de que havia discordância da nova direção da Fundação quanto à pluralidade ideológica dos analistas do programa Nosso Jornal, que tinha entre os comentaristas Rodolfo Konder, filiado ao PCB, Freitas Nobre, ex-deputado do PMDB, e Randal Juliano, de posições mais conservadoras. Ferreira Neto disse à Folha de S. Paulo (13/5/1987): Era um jornalismo antiprofissional. Cada um falava o que queria. [...] Ele estava deslocado para o novo esquema do telejornalismo. Na mesma matéria, Helena Júnior disse sobre o momento em que a Fundação vivia: O espírito de macartismo tupiniquim esteve presente. O jornalista referia-se à perseguição e demissão daqueles que apoiaram Constantino Cury nas eleições (como o seu caso), indo contra Cunha Lima. Uma caça às bruxas. Os últimos passos antes da demissão foram vários. Entre eles, a tentativa malsucedida de Alberto Helena de marcar uma reunião com Cunha Lima, já que comentários se avolumavam dentro da Gazeta sobre as mudanças no jornalismo. Depois, a redução do horário do telejornal, comunicada ao diretor-executivo Gabriel Priolli por Ferreira Neto, de três horas e meia para uma e meia. E, conforme este, a retirada de Helena Júnior do jornalismo e sua mudança para o departamento de esportes. Ferreira Neto chamou Alberto Helena Júnior para uma con-versa final em sua sala. Como ele não apareceu, o superintendentegeral resolveu demiti-lo pelo telefone no início da noite do dia 11. Só que o tiro saiu pela culatra. Um fato jamais acontecido na história da televisão brasileira foi a forma de protesto dos integrantes do Nos-so Jornal após o comunicado da decisão. Conversaram por um bom tempo e, na edição do dia seguinte, 12 de maio, a partir das 10h30, o público da TV Gazeta presenciou cenas nunca vistas. No início do programa, Rodolfo Konder fez um breve elogio à escritora Lygia Fagundes Telles (que entrava para a Academia Brasileira de Letras) e depois se despediu do telespectador. Com um dedo em riste à tela, disse: O Estado de São Paulo vive sob um clima de macartismo brega. Vários dos meus amigos têm sido demitidos por perseguição, por razões políticas. Uma coisa que eu achava que já tinha acabado. Olhou firme para a câmera, completando: Antes de perder a dignidade, eu prefiro perder o emprego. E lamentou por Cunha Lima desempenhar esse papel na TV Gazeta. Retirou o microfone de debaixo de sua gravata e agradeceu aos telespectadores, dizendo que sua dignidade pedia sua saída imediata. Levantou-se e saiu de cena. Randal Juliano, que substituía Helena Júnior no comando do programa, passou a palavra ao poeta Décio Pignatari, da equipe de articulistas da Folha de S. Paulo. Para surpresa do telespectador, Pignatari também começou a se despedir: Nós todos conseguimos fazer um programa inovador, que obteve êxito. Uma grande resposta do público... Foi um período maravilhoso... Até a vista e adeus. – Permaneceu no lugar e ainda fez elogios à Helena Júnior, que foi quem o convidou a participar do programa. Freitas Nobre estava emocionado. Ele não esperou que Pignatari terminasse de falar e declarou: Não sei o que dizer a vocês. Fez um gesto acanhado de adeus e completou: Até mais! Nesse momento Décio Pignatari o interrompeu dizendo: Essa grana vai me fazer falta. Fez uma longa explicação sobre sua saída e se demitiu, concluindo: Só não saio hoje para não deixar meu companheiro Randal Juliano falando sozinho aqui na mesa. Mas amanhã não estarei mais aqui. E Freitas Nobre completou, com voz embargada: Não tenho condições de fazer o mesmo. É difícil para quem viveu os momentos mais árduos, mais duros. Não tenho condições de ficar. Soltou o microfone do paletó e saiu. Aí foi a vez de Marci Heleine: Lamento o que está acontecendo. Estendo minha tristeza a todos os companheiros e todos os telespectadores do Nosso Jornal. Alberto Helena foi e é uma pessoa sensacional. Um excelente profissional. Nós ficamos acéfalos, porque o Alberto Helena era a alma desse projeto. Era a alma que tinha voz. Nós tínhamos voz através dele. Disse que não se manifestou antes sobre a demissão porque queria primeiro conversar com a direção da TV Gazeta para ter mais detalhes. Marci tirou o microfone e também saiu. Telefonemas começaram a chover na TV Gazeta. Os telespectadores manifestavam solidariedade e revolta pela demissão de Alberto Helena e de seus colegas. Os jornalistas, no ar, passaram a atender aos telefonemas. A maioria das perguntas foi dirigida à Pignatari, que continuou na mesa após a demissão. Ele respondeu a um telespectador: A gente se torna solidário com uma ideia, não com uma pessoa. Se tivesse havido qualquer garantia que o programa continuaria com a sua impostação livre, com toda a sua graça e liberdade que nós temos de discordar um dos outros - para não dizer que discordamos até de vocês, telespectadores – seria diferente. Randal ainda tentou tocar o programa para frente. Resolveu então solicitar um comentário do jornalista Kleber de Almeida. Mas continuou seu constrangimento porque Kleber também elogiou Alberto Helena e se demitiu também com voz embargada. Randal passou a ler o teor de um telefonema, quando percebeu que Kleber de Almeida se levantava, e disse: Kleber, meu muito obrigado a você também. Um telespectador telefonou lamentando o desagregamento da equipe do programa e pediu sua continuidade. Até o final do programa, Randal Juliano foi torturado pelos telefonemas e perguntas dos telespectadores, visivelmente sem saber o que fazer. Concluiu o programa dizendo que conversaria com a direção da TV Gazeta e que no dia seguinte explicaria os fatos. No dia seguinte, a direção orientou-o a tecer o seguinte editorial: Aquilo que os jornais publicaram no dia de ontem, contando todos os detalhes, se transformou, segundo o ponto de vista da direção da emissora, num editorial público. O comentarista Nicodemus Pessoa, que cobria as férias de Moacir Japiassu, disse: Moralmente eu também me demiti. Pessoa era ex-assessor de Quércia e disse que também classificou a demissão como macartismo puro, dizendo-se chocado caso a decisão tivesse partido do governador. À Folha de S. Paulo, Quércia rebateu dizendo estar abismado, completando: Não tenho nada a ver com a TV Gazeta, nem com a Fundação Cásper Líbero. Você acha que eu vou me meter em assuntos de uma fundação? Tenho até queixas contra o presidente anterior. Ora, todo mundo sabe que isso é bobagem. Nos dias que se sucederam, Randal Juliano manteve o Nosso Jornal sozinho, assumindo interinamente a direção do jornalismo da TV Gazeta. E na imprensa os ex-colegas continuavam a fazer acusações de que o governo Orestes Quércia, por meio de Cunha Lima, utilizava a TV Gazeta para motivos políticos e pessoais. Dentro da Fundação, o clima continuou pesado. O início dos cortes e atraso no pagamento dos funcionários começou. No dia 10 de outubro de 1987, as rádios AM, FM e a TV Gazeta entraram em greve. Na TV, a programação normal foi interrompida e colocaram filmes em seu lugar. Foi na mesma época a greve geral promovida pelos sindicatos dos jornalistas e radialistas de São Paulo. Foi como relatou a Folha de S. Paulo (11/10/1987): Segundo o presidente do Sindicato dos Radialistas, Francisco Pacheco, alguns funcionários da Fundação reuniram-se no sindicato logo de manhã para discutir o descaso com que os diretores da Cásper Líbero vêm tratando os empregados. Estamos tentando negociar há quinze dias e até hoje eles não abriram a boca, disse ele. Além disso, continuou Francisco, a Fundação vem desrespeitando até o piso salarial de jornalistas e radialistas e, o pior, não vem recolhendo o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, FGTS, há mais de dois anos. [...] A diretora do Sindicato dos Radialistas, Sônia Bongiovanni, estranhou a ausência dos diretores da casa. Nenhum, segundo ela, apareceu para negociar. E olha que já estamos aqui há mais de duas horas. A greve durou vários dias e o embate entre a direção da Fundação deixava de ser apenas com os funcionários. Agora tinha apoio dos sindicatos para regularização dos direitos trabalhistas. Naquela época era muito fácil invadir a Gazeta com o pessoal do sindicato. Não tinha a segurança como é hoje. Tinha uma recepção por andar. Quando não invadíamos pela frente, entrávamos por trás, pela entrada da garagem na São Carlos do Pinhal. – conta Marco Ribeiro, funcionário da TV Gazeta e membro do Sindicato dos Radialistas de São Paulo. Entre as demissões novas contratações também aconteceram. Principalmente quando a Fundação passou a investir no novo projeto da TV Gazeta: o TV Mix. Uma programação baseada principalmente em jornalismo, com a criação dos repórteres-abelha e uso das câmeras VHS, que popularizaram a criação de matérias feitas na rua e davam maior flexibilidade aos câmeras de externa. Voltando a falar dos novos contratados, entre eles estavam Marcelo Machado (ex-produtor independente da Olhar Eletrônico, novo diretor de programação da TV Gazeta), Alexandre Machado (ex-Abril Vídeo, para direção do jornalismo), Marcos Amazonas (da produtora Diana, como novo diretor-comercial e administrativo da Fundação). Além de Fernando Meirelles e Marcelo Tas, da Olhar Eletrônico, e os jornalistas Múcio Borges e Marco Antônio Coelho. Novas vinhetas foram criadas pela produtora DVT para a TV Gazeta, com criação de Francesc Petit (o P da DPZ e conselheiro da Fundação Cásper Líbero) e coordenação de Marcos Amazonas. Foram as primeiras a utilizar computação gráfica, com uso também de ADO, efeitos especiais AVC Amplex, com 163 tipos de efeitos e oito canais de Key (que recortam a imagem). Nas vinhetas já sobressaía a nova logomarca: as três argolas coloridas. Atrações como Dinheiro Vivo, com Luís Nassif, e Programa Ferreira Neto, com o próprio, foram reformuladas, mas continuaram no ar. Estreou Vamos Sair da Crise, com Alexandre Machado. Sobre a fase que se inauguraria no dia 14 de dezembro de 1987, com a estreia da nova programação, repetia-se dentro da emissora uma frase do romancista inglês Gilbert Chesterton: Se uma coisa merece ser feita, merece ser malfeita. O sentido dela no contexto da emissora foi explicado por Cunha Lima à Folha de S. Paulo (3/12/1987): Tínhamos que optar entre mudar para uma programação mediana ou pela ruptura. Preferimos a ruptura. No dia 18 de dezembro de 1987, outro episódio marcou a fase de Cunha Lima. Ferreira Neto, que até então foi considerado o carrasco da história com as demissões, se desentendeu com a direção da Fundação Cásper Líbero. Ele deixou a superintendência-geral de Rádio e TV com a chegada de Marcos Amazonas, que acumulou o comercial, o administrativo, a gerência-geral da TV Gazeta e, com a sua saída, também a superintendência-geral de Rádio e TV. Assim como no episódio do Nosso Jornal, Ferreira Neto naquele dia se demitiu no ar. No início do programa agradeceu o apoio dos patrocinadores, debateu com os deputados João Cunha, Fernando Santana e Cunha Bueno, e, no final, demitiu-se. Dias depois processou a Fundação, alegando que a emissora também devia dinheiro a ele. No espaço que ocupava na grade da TV Gazeta, surgiu o Paulista 900. 56. TV Mix e os abelhas A estrutura Uma nova administração da Fundação Cásper Líbero e um novo comando na programação da TV Gazeta: Marcelo Machado. Foi ele quem pensou na moçada da produtora Olhar Eletrônico para tocar um novo projeto da TV Gazeta. Queria um formato diferente, meio mambembe, que fosse barato de fazer e desse um diferencial para a TV Gazeta. Juntou-se com o também jovem Fernando Meirelles, que havia feito na emissora o Crig-Rá!. E Meirelles virou o diretor da nova atração. Depois de muito pensarem, criaram com a equipe um forma-to onde a câmera na mão e o improviso deixavam de ser problemas técnicos para se transformar em um novo modo de fazer televisão. Um modo introspectivo, que muito influenciou o telespectador a descobrir o que existia por trás das câmeras. Foi assim que em 14 de dezembro de 1987 estreou o TV Mix. No horário das 8h às 13h15, antes ocioso na emissora. O formato do TV Mix tinha o imediatismo das informações do rádio e o investimento na alta rotatividade entre seus diversos quadros. Cada quadro não podia passar de dois minutos no ar (mais do que isso era tempo suficiente para o telespectador resolver trocar de canal). A programação do TV Mix era montada como uma pizza (foi o TV Mix que criou o termo, hoje tão utilizado pelas produções televisivas) – cada fatia era um quadro de dois minutos. Outra inovação foi a criação dos repórteres-abelha pelo jornalista Nivaldo Freixeda, também da equipe. Eram videoamadores que, com câmeras VHS, saíram às ruas, fazendo sozinhos matérias inteiras. Eles mal chegavam na redação, já tinham suas matérias colocadas no ar. Dario Vizeu era o coordenador dos abelhas. E ele disse à Gazeta Esportiva (25/4/1988): A matéria que chega não é editada nem sofre censura prévia. Confiamos no bom senso de nossos abelhas. O jornalismo feito pelas outras emissoras é quase um show: é criado suspense com as matérias de maior importância que depois têm um tratamento excessivamente dramático. No Câmera Aberta o público que transitava pela Avenida Paulista fazia declarações à TV Gazeta. Um repórter sempre estava lá (Alê Primo era o mais frequente), nas escadarias do Edifício Gazeta, para coletar a opinião do povo. Muitos que sabiam o horário em que o TV Mix estaria no ar chegavam a se deslocar até a Paulista para dar a sua opinião. Por essa razão, a frente da TV Gazeta virou uma tribuna livre, um símbolo da liberdade de expressão. Mesmo décadas depois todo tipo de manifestação popular é feita nos arredores da Gazeta, sempre na Avenida Paulista. E o TV Mix contribuiu para influenciar essa escolha popular. Tinha também o giro na redação, que funcionava no 7º andar do Edifício Gazeta. Nesse giro, os repórteres e apresentadores do TV Mix circulavam pela redação perguntando aos produtores, pauteiros e jornalistas, o que viria no próximo bloco. Havia ainda um quadro de humor, feito por Cecília Homem de Mello, videoclipes e entrevistas. Marcaram essa primeira fase do TV Mix os apresentadores Luís Fernando Ramos (ex-TV Cultura), que ficava no ar das 8h às 10h, o Eduardo Fortunato (ex-apresentador do Nosso Jornal ) e Paula Dip (que depois faria o Paulista 900 ), das 10h às 11h, e, posteriormente, até às 13h15, Astrid Fontenelle (que antes fez reportagens para o Mulheres em Desfile, apresentou o Hollywood Rock na Rede Globo e fez também reportagens para a revista Imprensa), Eliana Fonseca e outros. No início do programa Alex Solnik lia as matérias publicadas nos jornais do dia. Na direção de imagens, inicialmente era Clóvis Aidar e, posteriormente, Fábio Rolfo. Na editoria geral, Ellen Dastry e Solange Serpa. E, na produção executiva, Luís Filipe Fratino. Havia também os esquetes de humor, denominados Mix Mil. Marcelo Mansfield, do grupo Harpias, Ângela Dip, os irmãos Renato Côrte-Real e Ju Côrte-Real, o comediante Luís Henrique – que fazia inúmeros personagens, sendo a Condessa Giovanna Civetta a mais famosa e a estreante Giovana Gold. TV Mix: Fase 2 O programa se expandiu cada vez mais. E com mais profissionais envolvidos. A segunda fase do TV Mix começou em 11 de julho de 1988. A mudança se deu bem na passagem de comando do programa. Saiu Fernando Meirelles e entrou Tadeu Jungle. Nessa fase temos que lembrar também de Hugo Prata e Walter Silveira. O novo diretor criou dois horários: TV Mix I, com a Condessa Giovana Civetta (Luiz Henrique), e TV Mix II, com Astrid. Posteriormente, foram criados os TV Mix III, com Aline Sassahara, Roberto Avallone e Cléber Machado (programa de esportes dos Mix ) e TV Mix IV, com Sérgio Groisman. O TV Mix inovou em sua época. Não deu tanta audiência, mas todo dia o telespectador zapeando parava um pouco para assisti-lo. O mercado publicitário não estava preparado para o TV Mix. Hoje seria diferente. Ele abriu espaço para uma programação jovem, como o da MTV, que surgiu pouco tempo depois – diz o repórter-abelha David Molinari. Por conta da falta de apoio do mercado, financeiramente não compensou. Era moderno demais para sua época. Só que sem o TV Mix, a MTV, PlayTV, a Mix TV (que não tem relação alguma com o programa) e tantas programações jovens não teriam espaço na televisão brasileira atualmente. Ele preparou o campo. E foi martirizado. Pagou pela inovação. Inclusive os abelhas, considerados uma ameaça ao mercado de radialistas e jornalistas, que na teoria tiveram seus empregos roubados pela falta de necessidade que os abelhas tinham. Os videorrepórteres hoje nada mais são que uma evolução, ou melhor, uma mudança de nome, dos antigos repórteres-abelha. Em 1º de junho de 1990 o diretor-geral da TV Gazeta, Luiz Guimarães, tirou do ar o TV Mix e o Paulista 900, dando lugar a filmes e noticiários. O TV Mix foi um momento de catarse dentro da televisão brasileira. Era reinventar aquela televisão que estávamos acostumados a assistir. Fugimos do comum, do trivial. Transgredimos os padrões. Fizemos a nossa revolução. Claro que uma pequena revolução, já que a Rede Gazeta se limitava a São Paulo e Santos, além de retransmissoras. Podia ter sido maior, mas ninguém estava preparado para o TV Mix. Foi um momento bom da televisão brasileira e da TV Gazeta. – afirma o diretor do TV Mix, Tadeu Jungle. Bate-boca no TV Mix IV Um episódio marcou o TV Mix pela polêmica gerada. Foi uma entrevista no TV Mix IV, apresentado por Sérgio Groisman, em 25 de julho de 1988. O debate foi entre Groisman, o deputado estadual Afanásio Jazadji (e candidato a prefeito de São Paulo, pelo PDS) e punks. Curiosamente foi a estreia do TV Mix IV. A primeira pergunta foi do punk Mauro, professor de História: -Deputado, o que significa AFANAR? -É só você ler no dicionário. – respondeu Afanásio, já irritado com o trocadilho com seu nome – Significa roubar, afanar. Vejo que você não sabe ler. Depois de um tempo os punks Jacal e Redson questionaram se aqueles dois homens que os olhavam atravessado durante a gravação eram seus capangas. Esses começaram a berrar atrás das câmeras, mesmo com Afanásio dizendo serem candidatos a vereadores. Começou então um bate-boca, com direito a Afanásio apontando o dedo em riste ao punk João Carlos, que o acusava até mesmo de desonestidade política. Quase saíram no braço. E o jovem Sérgio Groisman teve que segurar o tranco. Na hora de encerrar, próximo à entrada do programa Vamos Sair da Crise, Groisman pediu que se despedissem com algumas palavras e perguntou aos punks se a imagem que tinha de Afanásio havia se confirmado: • Corresponde completamente. A direita tenta sempre tumultuar com violência, seja violência verbal... • Quem é de direita, seu patife? Quem é de direita aqui? – interrompeu Jazadji. -Aí está a violência! – apontou o punk Mauro. -Quem é de direita aqui? – insistiu Afanásio. Ainda se seguiram alguns insultos e perguntas que fizeram Jazadji perder as estribeiras. Acabou o programa. Entrou Vamos Sair da Crise. No estúdio, fora do ar, novas farpas foram trocadas. E o estúdio ficou repleto de funcionários da TV Gazeta, prontos para intervir se o episódio acabasse em tapas. Câmera Aberta e os abelhas Graças ao Câmera Aberta, transmitido pela manhã, entre o TV Mix I e TV Mix II, e aos abelhas, a Avenida Paulista virou referência de atos públicos, uma verdadeira tribuna à céu aberto. Um grande time fez parte dessa fase. Para vocês terem uma ideia de como chamavam a atenção os câmeras da TV Gazeta, conto abaixo três histórias. Duas referentes ao Alê Primo, considerado o mais presente no Câmera Aberta: Uma vez, no Dia da Criança eu me fantasiei de diabo, todo de vermelho. E, de repente, eu estava no ar quando escutei uma batida de carro. Era a polícia que passava, ficaram olhando eu pulando de diabinho na calçada da Paulista e o sinal fechou. Eles não perceberam, pois estavam ligados na minha performance. Bateram com tudo num outro carro! [risos] E ainda entraram ao vivo no Câmera Aberta! – conta o próprio, que enfatiza a importância dos abelhas – Eu costumo dizer que o brasileiro é bom de bola e de câmera. Foi o público que descobriu e aceitou o repórter-abelha. Eles levaram a leveza da câmera portátil para a reportagem. E logo a liberdade de se fazer televisão com equipamento barato, mas sem perder a qualidade. O público aceitou muito rapidamente os abelhas, ao contrário dos técnicos de TV que torciam o nariz para esses jovens repórteres. Uma vez o tema do Câmera Aberta era preconceito racial. O Alê Primo se pintou todo de verde e foi lá para a frente da Gazeta. Ele parava as pessoas e perguntava se deixariam que a filha da pessoa entrevistada se casasse com uma pessoa de outra cor, no caso, verde! As respostas mais inusitadas surgiram. Era uma criatividade absurda! -lembra o diretor Tadeu Jungle. Teve uma reunião de vários ministros na Fiesp, em São Paulo. Eles debatiam o futuro do Brasil e seus problemas. Eu não tive acesso aos ministros e acabei entrevistando seus motoristas, fazendo a eles a mesma pergunta que estava sendo debatida lá dentro. As respostas foram hilárias, pois cada motorista só falava da área do seu ministro. – conta a abelha Anna Muylaert. Alê Primo, David Molinari, Geraldo Anhaia Mello, Bruno Mascarenhas, Marcos Rezende, Wilson Ferreira Jr., Rogério Gallo, Anna Muylaert, Aline Sassahara, Renato Levy, Marcelo Guedes, Silvio Henrique Barbosa e muitos outros abriram um grande campo aos videorrepórteres de hoje, os abelhas do passado. 57. Da Gazeta para o Oscar Leia agora o depoimento de Fernando Meirelles, gentilmente cedido por Maria do Rosário Caetano, sua biógrafa em Biografia Prematura, da Coleção Aplauso, Imprensa Oficial. Este foi o início de Fernando Meirelles na TV Gazeta; ele que foi o único brasileiro indicado ao Oscar, como diretor, por Cidade de Deus, 2002. Em 1988, o Jorge da Cunha Lima assumiu a presidência da TV Gazeta e nos fez um convite para ajudá-lo a fazer uma grande reformulação na emissora. Ele tinha conhecimento do nosso envolvimento fracassado com a MTV. Marcelo Machado tornou-se, então, diretor de programação da Gazeta e me contratou para ajudá-lo a criar e dirigir um projeto para o horário matinal. Uma espécie de nepotismo entre amigos. Criamos o TV Mix. O TV Mix era, na verdade, o cruzamento entre um programa e uma programação. Ia ao ar, ao vivo, diariamente das 7h30 às 13 horas. Resolvemos transformar a TV Gazeta numa espécie de TV/rádio, de forma que o espectador pudesse deixar o aparelho ligado enquanto trabalhasse ou arrumasse a casa e só olhasse para a tela quanto algo lhe despertasse o interesse. Esse conceito já estava presente no nosso Crig-Rá!, de anos antes, cujo slogan era: O Primeiro Programa de Rádio da TV Brasileira. O segundo seria, portanto, o TV Mix. Inventávamos o programa, com o programa no ar. Eu corria vários quilômetros por dia entre a redação, onde ficavam os apresentadores, e a técnica, no andar de baixo. Fiquei em forma naquele período. A fórmula do programa, como sempre, era a síntese de toda a nossa experiência até então: um pouco do que havíamos aprendido na MTV, a estrutura fragmentada do Rá-tim-bum, com o molho e a liberdade do Crig-Rá! e mais o escracho do Antenas. Regra única: nada podia permanecer no ar por mais que três minutos. Não precisa mudar de canal, o TV Mix muda de canal por você. Entrevistas, notícias, música, receitas, sexo, muito serviço da cidade e esquetes de humor. Como nossa técnica era precária, fazíamos dos erros atração extra do programa. Aliás, o charme do TV Mix era não esconder sua precariedade. Está provado que a audiência gosta disso. O Faustão e o Chacrinha perderam muito do seu encanto inicial quando entraram num esquema superproduzido. Foi um esforço convencer os técnicos e tirar as câmeras de dentro do estúdio e recabeá-las no andar de cima onde mandávamos derrubar várias paredes. O que era antes escritórios virou uma enorme redação com vista para a Av. Paulista. Como ainda tínhamos amigos na casa (amigos da época do programa do Goulart de Andrade), conseguimos. Hoje todos os telejornais mostram sua redação ao fundo, mas em 1988, não era assim nem fora do Brasil. Algumas pessoas na Gazeta achavam aquilo estúpido, mostrar a bagunça da redação, gente entrando e saindo. Pode até ser que ninguém tenha nos copiado, inclusive porque pouca gente nos assistia, mas fomos o primeiro programa a assumir seu processo de produção no ar. Como nossa base física era o 7º andar de um edifício envidraçado na Paulista, a cidade estava presente. Os âncoras usavam as janelas o tempo todo: O tempo em São Paulo está claro, mas olha lá, tem muitas nuvens se formando ali na Zona Sul, acho que vai chover, anunciavam. Ou, às vezes, viam uma passeata ou alguma presidente na Avenida Paulista e pediam para o boy ir lá embaixo ver o que estava acontecendo. Em seguida, quando o boy voltava, ele era entrevistado para contar o que se passava. TV feita em casa. A cada três minutos, o âncora dava o rolê na redação e entrevistava os radioescuta, que repetiam as notícias ouvidas nas rádios. Uma equipe de estudantes, municiada com câmeras VHS, fazia planos-sequência pela cidade. Eram os repórteres-abelhas. Eles foram a nossa solução para driblar a falta de verba e, ainda assim, ter um pouco mais do dia a dia da cidade no ar. Pelo preço de uma equipe de jornalismo tradicional, contratamos oito estudantes que saíam, às vezes até de ônibus, e voltavam correndo com suas matérias para colocarmos no ar em VHS mesmo, sem edição nenhuma. Muitas vezes, quando se tratava do assunto mais complexo, enquanto a VHS ia ao ar, o apresentador de plantão entrevistava o abelha na redação e ele ia explicando o que as imagens que acabara de fazer mostravam. Esse aí de terno é o presidente da Fiesp, e aquele ali é o tal segurança, que não me deixou entrar... O programa abrigava também vários quadros de humor pré-gravados. Convidei um time de humoristas e de amigos engraçados e gravávamos quadro de stand-up comedy. Na verdade, seat down comedy. Um banquinho, um estúdio branco e cada um ia ali e fazia seus números de até três minutos. Parte deste elenco continuou trabalhando junto e hoje faz o Terça Insana, show de humor que faz muito sucesso em São Paulo. O Música Ligeira, uma extraordinária dupla de músicos levemente engraçados, nasceu ali no banquinho. A dupla Wandi Doratiotto e Artur Khol, depois estrelas de filmes da Brastemp que fiz (Não é assim uma Brastemp...), também foi reunida ali no TV Mix. A impagável Cecília Homem de Melo fazia a faxineira Zefa, que limpava a redação e casualmente esbarrava nos entrevistados, puxando assunto ou fazendo alguma pergunta. Em geral, os entrevistados não sabiam que se tratava de uma atriz. Para um programa quase sem audiência, o TV Mix revelou uma respeitável geração de profissionais da TV como o Serginho Groisman, que fez sua estreia ali, depois de muita insistência para que saísse da Rádio Cultura e viesse para a TV, a Astrid Fontenelle e os comediantes mencionados. Lançamos também uma rapaziada que estava começando por trás das câmeras. Fiquei no TV Mix sete meses. Quando ele estava implantado, saí fora. O Tadeu Jungle, outro parceiro de longa data, entrou no meu lugar e, assim que assumiu, começou a reformular tudo. Ainda bem. Quando a MTV finalmente veio para o Brasil, como já disse, convidaram o Marcelo Machado para dirigir. Ele aceitou e levou junto toda a galera da TV Mix, a Astrid, a Ione Sassa, nossa programadora de clipes, Rogério Gallo, o pessoal da técnica, editores, entre outros. A primeira geração da MTV saiu basicamente do TV Mix. Eu não tive nada a ver com isso. Assim que saí do TV Mix voltei para a Olhar Eletrônico e para a publicidade, que me recebeu de volta mais uma vez. 58. Democracia no vídeo Nesta época do TV Mix mais uma vez ficou reforçada a posição democrática da TV Gazeta, abrindo espaço para falar sobre assuntos diversos, desde política até entretenimento. Mas é bom lembrarmos também dos outros programas fora da grade TV Mix I, TV Mix II, TV Mix III e TV Mix IV. O Dinheiro Vivo teve uma relação muito próxima com a TV Gazeta. O programa surgiu na fase da Abril Vídeo (como quadro do São Paulo na TV, em 1983) e foi e voltou diversas vezes para a grade da TV Gazeta. Sempre com a apresentação de Luís Nassif. Do mesmo gênero, que desvendava a economia e os segredos das finanças, existiu também o CA$H, com Fátima Tursi, porém com vida curta. Mas, voltando ao Dinheiro Vivo, ele permaneceu no ar (como programa, não como quadro) de 1986 a 1988 e, depois de se transferir para a Rede Bandeirantes, retornou à Gazeta em 2 de maio de 1989. Em 1991 deixou a grade da TV Gazeta e foi para a Record, ficando até 1995. Interrompeu-se por alguns anos sua regularidade, estreando em 1997 na Band. E em 2000, com o término da parceria com a CNT e a criação da Rede Gazeta, ele voltou à grade, transferindo-se para a TV Cultura em 2002. Também havia Vamos Sair da Crise?, com Alexandre Machado. Ele trabalhou também na Abril Vídeo, mas lançou em 1987 o Vamos Sair da Crise?. Teve uma breve interrupção entre 1990 e 1991 (retornando em março desse ano para a grade de programação). E, posteriormente, em 1993, o programa se transformou em Fogo Cruzado. É como comenta Alexandre Machado: A mudança de nome e de formato foi também uma decorrência das mudanças econômicas que o país vivia. Quando foi batizado como Vamos Sair da Crise? ainda era a época do Sarney, do Plano Cruzado. Com o Fogo Cruzado, a abrangência foi maior. Mas o foco principal de meus programas era a entrevista com grandes nomes da política. Todos passaram por lá, até presidenciáveis. Nessa fase do Fogo Cruzado, a direção do programa era do Rogério Brandão. Após as eleições de 1994, com a vitória do Mário Covas, eu saí do programa para me tornar assessor do futuro governador. No meu lugar ficou o Paulo Markun, por pelo menos um ano, creio eu. O Vamos Sair da Crise? surgiu numa época muito importante, quando o Brasil vivia um período economicamente frágil, com a moeda desvalorizada e o valor do dólar subindo cada vez mais. E o terceiro programa foi o inovador Paulista 900, programa de entrevistas que ia ao ar no horáro nobre, às 20 horas, junto com a novela da Globo, e era apresentado pela jornalista Paula Dip, que conta como foi sua passagem pela TV Gazeta: Quando eu fui trabalhar na Gazeta, estava chegando de Londres, onde eu trabalhei durante três anos como apresentadora e produtora da BBC. O Fernando Meirelles dirigia a nova programação da Gazeta e me chamou para apresentar o TV Mix no horário do almoço. Um dia eu cheguei para fazer o programa e fiquei sabendo que o Ferreira Neto tinha saído da emissora e que havia um espaço vazio na grade noturna da TV. O Marcelo Machado me disse: Volta para casa que hoje à noite você vai entrar no ar com um programa de entrevistas. O programa nasceu assim, do dia para a noite, não tinha nome, não tinha cenário, nada. A gente foi inventando no dia a dia, eu costumava dizer que a gente fazia uma revolução por dia na TV. Semanas depois • o programa ganhou o nome genial de Paulista 900, que é o endereço da Fundação Cásper Libero, onde fica a Gazeta. A avenida Paulista é • o cartão postal de São Paulo, a avenida mais importante e imponente do Brasil. E lá estávamos nós, naquele cenário lindo, fazendo o primeiro talk show diário da TV brasileira, ao vivo. O nome virou um endereço simbólico da cidade e eu dizia toda noite: Paulista 900: o endereço certo de São Paulo. • O momento era de muita criatividade: eu vinha de uma boa experiência em TV. Antes de ir para a BBC de Londres eu apresentava um programa ótimo na TV Cultura, o Panorama, que até hoje está no ar e se chama Metrópolis, que é um jornal de artes e espetáculos. E já tinha uma sólida carreira no jornalismo escrito com passagens por revistas da Editora Abril, como a Veja, e pela Around, uma revista superinovadora que eu dirigia na época. Tudo isso somado à experiência em Londres, onde se faz a melhor TV do mundo, foi definitivo para que a gente criasse algo novo na TV. O Ney Marcondes (que dirigiu o programa) era um cara cheio de ideias. O Fernando Meirelles e o Marcelo Machado vinham da produtora Olhar Eletrônico, hoje O2, que faz cinema e publicidade com qualidade internacional. O mais bacana do programa era seu tom espontâneo e articulado. Nossas entrevistas eram leves, bem-humoradas, ao contrário daquele estilo sério e inquisitivo que dominava a TV brasileira na época. Eu deixava o entrevistado muito à vontade, ele tinha liberdade de fazer • o que quisesse no programa. Cada dia o show era diferente. Lembrome que a Inezita Barroso levou suas tartarugas, o roqueiro Nazi levou seu sagui, nossa pauta era diferenciada, única. A Gazeta era um canal alternativo, para quem não queria ver a novela da TV Globo. A gente colocava no ar o filme, a música, as fotos e até a comida favorita do entrevistado; ele me ajudava a falar as notícias do dia, como se fosse um apresentador de jornal, era muito divertido. Lembro-me de uma entrevista antológica que fiz com o Hermeto Paschoal, que sempre foi um gênio musical, e fizemos nossa performance à parte, ele tocou sua flauta e eu o acompanhei num pianinho colorido, de brinquedo. Foi emocionante. O Paulista 900 ia ao ar ao vivo, no mesmo andar em que ficava a redação do TV Mix, que servia de cenário para o programa, como até hoje se faz no Jornal Nacional. Eu recebia meus convidados numa bancada, e nós sentávamos lado a lado, criando instantaneamente uma atmosfera de intimidade. Eu fazia questão de não me encontrar com • o convidado antes do programa, como se costuma fazer, para discutir a pauta e combinar as perguntas. No Paulista 900 nada era ensaiado. Eu deixava tudo acontecer direto, ao vivo, justamente para manter aquele frescor e aquela sensação de um primeiro encontro. Um amor à primeira vista, sabe? Acho que isso foi um dos segredos do sucesso do programa. No lugar de Paula Dip, de 1990 até 1993, esteve Amália Rocha no Paulista 900. 59. TV Gazeta, o veículo da ano Jorge da Cunha Lima (Reprodução da coluna Opinião, de A Gazeta, escrita por Jorge da Cunha Lima, presidente da Fundação Cásper Líbero) em 10 de fevereiro de 1988, por ocasião da vitória da TV Gazeta ao Prêmio Colunistas): Não há agência de publicidade ou veículo de comunicação que não se orgulhe de pregar em hall de entrada um quadro com o Prêmio Colunistas. Ele reflete a mais alta láurea concedida a um setor no qual é fortíssima a concorrência da criação, do serviço e da informação. A TV Gazeta, que apenas iniciou seu processo de profunda transformação, foi escolhida como veículo do ano, entre centenas de outros no Brasil. A boa surpresa não foi maior que a emoção, quando soubemos do voto dado por unanimidade pelos mais prestigiados colunistas de publicidade de todo o País. O que significa isso? Um prêmio tão alto, concedido a uma televisão regional, última em audiência, e financeiramente pobre. Talvez a mesma coisa que um prêmio Nobel de literatura que, com seu lazer sensível, descobre um poeta numa aldeia distante da Grécia ou num loft de Nova Iorque. Creio que os colunistas detectaram um sintoma. Ninguém aguenta mais a imagem pasteurizada. Ninguém suporta mais a dicção oficial. Chegou a hora das soluções alternativas. De cara nova. Da fala nova. Do vídeo que parece rádio e da rádio que parece vida. A Gazeta da TV Mix, do Paulista 900, do Vamos Sair da Crise, sabe que a erosão dos hábitos leva anos. Sabe que a humanidade gastou séculos para sacar que a terra é redonda. Nós buscamos fazer isso num único dia, numa única manhã. Caótica. Inesquecível. Com os astros a postos e os abelhas também. 14 de dezembro de 1987. A virada da nossa Gazeta. Um pouco a revirada da TV brasileira. Um grupo novo, vindo das independentes para inovar a lente. O grupo técnico da emissora capaz de utilizar e reaproveitar qualquer equipamento velho. O grupo jornalístico que optou pela pauta da vida em lugar da pauta do poder. O grupo administrativo que tem a ética e a estética da transformação. Nenhuma vedete. Trabalho de equipe. Acho que foi isso. Por isso somos o veículo do ano. 60. Mário Amato e as greves A TV Gazeta vivia um momento adverso. De um lado, ganhava prestígio ao criar uma fórmula nova de fazer televisão com o TV Mix. De outro, o clima era de confusão. Mário Amato surgiu nos bastidores da Fundação, empossado em 27 de janeiro de 1988 como membro do conselho curador, coordenado por Constantino Cury. Mas a presença de Amato se sobressaiu posteriormente, quando assumiu a função de vice-presidente do conselho diretor, ficando ao lado de Cunha Lima em 10 de agosto de 1988. O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) entrou para a diretoria com o industrial Homero Belintani e o advogado Murilo Ferraz para criar um plano administrativo-financeiro que, até o final de 1988, desse um mínimo de equilíbrio financeiro à Fundação. Esta que, naquele momento, tinha um déficit acumulado e problemas de capital de giro. Mário Amato já havia dirigido a Fundação em 1978, fase que ajudou a Fundação a continuar com seu processo de crescimento após o fim da parceria com a Folha de S. Paulo. Os problemas se transformavam numa bola de neve. Cada vez mais aumentavam. E entre a transição de Amato do conselho curador para o conselho diretor, um episódio levou ao público o que acontecia nos bastidores da TV Gazeta. Na manhã do dia 13 de abril de 1988, os técnicos da emissora paralisaram o trabalho em protesto por não terem recebido os salários do mês anterior. Até às 15 horas a TV Gazeta exibiu imagens de arquivo no lugar da programação ao vivo. A discussão entre grevistas, sindicalistas e diretores tomou os bastidores. O 9º, 10º e 11º andares agitaram-se com a barulheira e os protestos à direção da casa. O departamento de jornalismo foi o único a não aderir à greve, apostando que o projeto do TV Mix salvaria todos financeiramente. Isso dividiu a harmonia que existia entre os funcionários. Na reunião com os funcionários, Jorge da Cunha Lima prometeu apresentar publicamente um relatório de sua gestão até os primeiros dias de maio. Quanto aos salários atrasados, comprometeu-se a pagar imediatamente um teto de até 30 mil cruzados aos funcionários e o restante no dia 25. (O Estado de S. Paulo, 14/4/1989) Ainda era a marca dessa fase a continuidade das demissões (agora principalmente de técnicos) e até acusações feitas por funcionários de sonegação de impostos e desvio de verba por parte da direção da Fundação, sempre rebatidas pela alta cúpula. Foi uma fase difícil. Lembro que quem não foi demitido junto, ficou rodando de departamento em departamento. Meu chefe foi demitido e eu, como secretária, fui passando por vários departamentos diferentes até encontrar um lugar fixo. Para ter ideia, na minha carteira de trabalho apenas parte das novas funções que eu acumulei nesse tempo foram registradas. Muitas ficaram de fora – conta Rosângela Rodrigues. Para o plano de recuperação, Amato criou um regime fixo de adiantamento parcial dos salários atrasados. Pela quantidade de pessoas, não fizeram no Departamento de Recursos Humanos o pagamento da parcela do salário. Era realizado na Sala VIP, no 8º andar -que recebeu um apelido irônico nos bastidores: Sala VIP - Vim Implorar o Pagamento. Enquanto Mário Amato colocava aos poucos a casa em ordem, as pressões sobre Cunha Lima continuavam. E chegavam a uma esfera maior ainda: encontrava discordâncias dentro das opiniões do conselho curador. Cunha Lima alegava que a administração da Fundação Cásper Líbero era engessada. Na primeira semana de janeiro de 1989 Jorge da Cunha Lima pediu demissão do cargo de presidente do conselho diretor, tendo seu pedido formalizado no dia 17 daquele mês, com Mário Amato tomando posse em seu lugar. O motivo de seu afastamento, segundo alegou, é a falta de apoio da parte majoritária do conselho curador – que entre suas atribuições elege o presidente – para obter recursos para investir em equipamento e pessoal. Fui eleito por um conselho curador que hoje é outro. A situação econômica da Fundação é séria, mas com o apoio decidido do conselho curador seria fácil transpor essa emergência, disse Cunha Lima ontem à noite à Folha, sem querer especificar nomes... (Folha de S. Paulo, 10/1/1989). No dia 24 de janeiro, após a posse de Amato, o clima ainda era tenso. Surgiu uma greve entre os repórteres-abelha, que não recebiam desde novembro. Muitos se demitiram. Com a saída de Jorge da Cunha Lima, funcionários de sua confiança aos poucos saíram de cena. Marcelo Machado, diretor de programação da TV Gazeta, pediu demissão no dia 26 de janeiro. Foi para a TV Cultura à convite do presidente da Fundação Padre Anchieta, Roberto Muylaert. O segundo a sair foi Marcos Amazonas, cujo substituto foi Rogério Brandão, na gerência-geral da TV Gazeta. Esse antes era gerente de produção do canal (desde 1987) e assumiu a nova função em 2 de fevereiro de 1989. Rogério Brandão vai se dedicar a fazer uma radiografia na emissora. De princípio, segundo explicou, deve manter a programação atual da Gazeta e realizar estudos que equilibrem melhor a receita com a despesa da emissora paulista. [...] O desafio agora é mais comercial, para viabilizarmos a emissora. (Jornal da Tarde, 3/2/1989). Ficou vago por um tempo o cargo de superintendente-geral de Rádio e TV. Antes Marcos Amazonas também acumulou a função. Em seu lugar retornou à Fundação Sérgio Felipe dos Santos. Mário Amato respondeu pela presidência interinamente até que fossem convocadas as novas eleições da Fundação Cásper Líbero. O conselho curador, no dia 6 de março de 1989, elegeu Constantino Cury para cumprir o mandato de Cunha Lima oficialmente até o final (março de 1990). Mário Amato, Homero Belintani e Murillo Alves Ferraz de Oliveira passaram a vice-presidentes do mesmo conselho. José Carlos Graça Wagner, vice de Constantino no conselho curador, passou a ocupar essa função até a nova eleição desse conselho (sendo substituído por Rubens Murilo Marques). Ninguém nega que a Fundação esteja passando por problemas financeiros. Na atual situação econômica do País, é raro apontar as instituições que conseguem se livrar desse problema. No entanto, para Constantino Cury, as dificuldades da Fundação não chegam a representar um bicho de sete cabeças se levado em conta o patrimônio que ela possui. São mais de 200 milhões de dólares. Só o prédio aqui da Gazeta vale no mínimo 100 milhões de dólares, justifica. Se o problema é sanarmos compromissos da ordem de quatro ou cinco milhões, não fica assim tão difícil se comparado aos primeiros números, não é? Mas não pretendemos vender nada, tampouco emprestar dinheiro a juros. O que queremos, na verdade, é arrecadar fundos através de maior investimento ainda na TV, nas rádios Gazeta (AM e FM) e em A Gazeta Esportiva... (A Gazeta Esportiva, 8/3/1989) No dia 5 de março de 1990 foi eleita a nova diretoria do conselho diretor da Fundação, para o triênio 1990-1993. A posse foi em 4 de maio do mesmo ano. Foram eleitos por unanimidade: Constantino Cury (presidente), André Beer (vice-presidente), Homero Belintani, Ricardo Iglesias e Victor Malzone Júnior (diretores). Essa fase de reconstrução da Fundação Cásper Líbero pode ser dividida em duas partes: a retomada de Constantino Cury e, posteriormente, a estabilização administrativa-financeira na fase Paulo Camarda, a partir de 1995. Fizeram parte dessa nova fase, além dos já citados, o curador de Fundações, Bandeira Lins, e os conselheiros José Eduardo Martins Cardoso, José Carlos Chiarin, José Afonso da Silva, Miguel Alberto Ignácio, Paulo Camarda (futuro presidente), Júlio Deodoro, Aníbal Horta, Mauro Salles, Olímpio da Silva e Sá, Sérgio Felipe dos Santos, Márcio Luiz Valente e Renato Craidy Cury. O então superintendente-geral de Rádio e TV, Sérgio Felipe dos Santos, fala sobre a crise e o processo de retomada: Nessa época [do Cunha Lima] eu estava fora da empresa. O curador da Fundação, dr. Bandeira Lins, é promotor público, foi na minha casa e me pediu para voltar. Disse que iríamos quebrar. Meu projeto na época era ir para o interior, montar um hotel, numa cidade perto de minha fazenda, em Cesário Lange. Mas resolvi ficar 20 dias em casa desenhando o projeto de reconstrução da Fundação. Voltei, com o Constantino Cury e com o Paulo Camarda, atual presidente. Resolvemos montar um jornalismo consciente, uma coisa que não fosse cara para uma emissora que não tinha repetidoras. Levantamos a Fundação e formamos novos superintendentes, como a Marinês Rodrigues, a Maria Cristina Abreu e outros. Eram todos recém-formados. Nenhum profissional já veterano queria assumir a Fundação quebrada daquele jeito, porque o nome ia junto. Trabalhávamos 20 horas por dia. Os alunos se uniram e viram que a nossa luta era violenta. Foi uma história muito bonita. Não sou o único responsável, foi um trabalho de equipe. Se não fosse o presidente do conselho, Paulo Camarda, e vários diretores, nada seria feito. Um projeto que eu acho que, artisticamente, foi perfeito foi o TV Mix. Mas completamente mal administrado. Não tinha dinheiro, não vendia, quebrou a TV Gazeta no meio. As pessoas não recebiam, não tinham mais salário, isso foi uma coisa louca. Como é que você monta uma televisão sem analisar o sinal do seu transmissor? Sem saber se você tem capital de giro para tocar um projeto? Então vira uma coisa que lança pessoas, que ficam famosas, mas a emissora fica com a conta. Nós ficamos com bons caráteres, como Silvio Alimari [que também retornou à Fundação], já veterano, e lançamos vários profissionais novos, que hoje estão na superintendência, começando quase todos como os meus assistentes. Era para formar uma equipe com a mesma linguagem, porque não se faz um programa sem planejar, não se lança um programa antes do transmissor pegar direito na capital, não há possibilidade de algo ter sucesso. Fico feliz que o Meirelles esteja hoje no cinema, fico feliz pelo Serginho estar onde ele está, fico feliz pelo Tas, mas isso teve um preço e quem pagou foi a Fundação e os funcionários dessa casa. Eu voltei com o Constantino e pedi para o Paulo Camarda, que já estava aposentado, voltar. Ele voltou, e nós começamos um trabalho extremamente profissional. Montar equipes, escolher pessoas sérias. Além de buscar o equilíbrio administrativo e financeiro da Fundação, Constantino Cury colocou como prioridade reequipar os veículos da Cásper Líbero, entre eles, a TV Gazeta, que tinha seus equipamentos em estado precário, precisando urgentemente ser renovados. Mudar, sem contrair dívidas. 60. A TV desindexada Desindexar a programação. Essa era a nova lei na TV Gazeta. Mas, afinal, o que é fazer uma TV desindexada? É uma televisão que não termina um programa nas faixas de horário das demais, que tem uma cara única. Ser diferente. Por exemplo, se todas as emissoras terminavam seus programas para começar o próximo às 19h, na TV Gazeta esta mudança poderia acontecer às 18h30 ou às 19h15. Um horário alternativo às demais, para pegar o público despercebido e cansado da padronização geral. A TV desindexada foi um projeto ousado, que pegou ingredientes da TV Mix, reciclou e passou do improviso para uma programação alternativa, com resoluções mais teóricas e mercadológicas no modo de ser. A criação do projeto TV Desindexada foi de Rogério Brandão, que contratou a agência Agnelo Pacheco para realizar a campanha. Várias personalidades estavam na campanha: Inácio Loyola Brandão, Zé Celso Martinez Corrêa, José Goldemberg, Paulo Caruso, Glauco, Laerte, Angeli, Marc Seguin, João Bosco, Caio de Carvalho, Jean Mourgues, Marcelo Rubens Paiva, Gabriel Priolli, Taumaturgo, Nelson Motta, Agnello Pacheco, Evandro Mesquita, Carlos Moreno, Walter Clark, Leon Cakoff, Supla, Fabio Feldman, Paula Toller e Antunes Filho. Eles falavam sobre porque era importante desindexar a programação. A assinatura da campanha era um fundo preto e o nome TV Desindexada vinha de lá até a frente, como uma rotativa colocada sob um colorbar (barra de cores da TV), com o slogan: Gazeta: a primeira TV desindexada do Brasil. O diretor-geral Rogério Brandão conta: Quando optei por desindexar a programação da TV Gazeta das demais emissoras, numa atitude de ruptura com os demais padrões da TV existente, busquei única e exclusivamente uma nova postura para nossa abordagem. Éramos a única TV onde personalidades de todas as áreas tinham um espaço franco e aberto para emitirem sua opinião. O país ficou 20 anos em silêncio. Era a hora de as pessoas inteligentes falarem o que pensavam e do que gostavam. E era na Gazeta que elas falavam. O diretor sempre, desde aquela época, citava Walter Clark, numa carta em que o antigo diretor da Globo falava sobre o projeto: A TV Gazeta vai ao encontro não só do novo, mas do moderno. O diretor de jornalismo Marco Antônio Coelho disse à Gazeta Esportiva (5/5/1989): Desindexar é também assumir. Depois de um ano quebrando pedra em busca de novos produtos para a população paulistana, a emissora, neste momento, assume de vez sua cara de veículo alternativo. [...] Sabemos que os nossos programas dificilmente atingirão as grandes massas e as grandes audiências, inclusive porque não são construídos e criados com essa finalidade. Nós queremos apenas falar com o público qualificado, formador de opinião pública. E é por isso mesmo que não precisamos e não queremos estar indexados aos horários da Rede Globo, como fazem todas as outras emissoras. Estamos buscando aquele que reage, que se revolta, que participa. Buscamos fazer uma programação para pessoas ativas e provas que ainda há vida inteligente na televisão. No dia 6 de maio de 1989 nasceu a TV desindexada, a nova proposta da TV Gazeta. Fazia parte da nova programação: Nashville, Momento do Esporte (com Roberto Avallone), TV Turismo, Memória Nacional, Mix News, Intervalo e a volta do Dinheiro Vivo. A campanha da TV desindexada foi marcada pelo bom humor de suas peças. Veja algumas abaixo: • Chegou a primeira televisão desindexada do Brasil • O mal do Brasil são os índices, criticando o Ibope. • Assista aos programas que não querem ser o primeiro lugar em audiência • Noveleiros, a TV desindexada não é para vocês • Ajude a TV Gazeta a não ser a primeira • Anunciante, índice não é tudo em televisão Rogério Brandão ficou na Globo até 1994. Saindo da função de diretor-geral, ficou dirigindo o programa Fogo Cruzado e Clip-Trip. Pas-sou pela TV Cultura, DirecTV, Bandeirantes e Canal 21. Em meados de 2008, voltou para a TV Gazeta, ocupando o cargo de gerente de produção. E desligou-se da TV Gazeta, pela segunda vez, em 8 de maio de 2009. 61. Tribuna Livre: um debate histórico A TV Gazeta na terça-feira, 12 de setembro de 1989, promoveu um debate que ficaria para a história da televisão: Tribuna Livre, com mediação de Alexandre Machado. Foi pioneiro no formato e horário, que a partir dali seria copiado por todas as emissoras. Foi o primeiro debate entre presidenciáveis a ser realizado no horário nobre da TV brasileira, às 19h30. A grande inovação foi por conta da utilização do tempo que cada candidato teria para suas respostas, permitindo mais debates e me-nos monólogos. Dividido em quatro seções, cada uma possuía re-gras diferentes. Na primeira seção, com cerca de meia hora, houve a apresentação dos candidatos, sendo que em seguida cada candidato teve que se manifestar no tempo máximo de quatro minutos, respondendo a perguntas encaminhadas pela direção do programa. Na segunda seção, com cerca de uma hora e meia, foram encaminhados aos candidatos perguntas das sete entidades promotoras do evento: ECA-USP (Escola de Comunicações e artes da USP), Sociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado, Revista Imprensa, Diário do Grande ABC, Rádio e TV Gazeta, e TV Rio. A terceira seção, de meia hora, foi dedicada às respostas aos telefonemas de telespectadores. Assim, cada candidato respondeu às dúvidas da população. Foi o primeiro debate na TV a contar com a participação do público. Na última, a quarta seção, os candidatos debateram entre si, livremente, com Alexandre Machado como agente regulador. Nas três anteriores, o debate aconteceu quando um acusava ou se referia ao outro, dando direito à réplica e tréplica. O debate foi realizado no Teatro Gazeta, no 3º andar, e exibido ao vivo pela TV Gazeta, Rádio Gazeta, TV Capital (de Brasília) e TV Rio (do Rio de Janeiro). Participaram do Tribuna Livre os candidatos Luis Inácio Lula da Silva, Mário Covas, Roberto Freire, Guilherme Afif Domingos, Paulo Maluf e Leonel Brizola. O candidato Fernando Collor de Mello, futuro presidente do Brasil, por meio de sua assessoria, disse que não poderia ir ao programa. Capítulo V Anos 1990: Conexões interestaduais Da parceria com a Globo à afiliação com a CNT Cronologia (1990-1999) 1990 • Final de fevereiro: acordo entre TV Gazeta e Globo Filmes foi assinado. A parceria previa a exibição de filmes e minisséries antigas do acervo da Globo. • 27 de março: o presidente Constantino Cury, a arquiteta Angela Esther de Oliveira e outros membros da Fundação foram receber o caminhão que trouxe o novo transmissor da TV Gazeta. O transmissor Harris, de 15 quilowatts, triplicou o sinal da emissora a partir do início de julho, atingindo um raio de até 150 quilômetros. E aumentando a potência das retransmissoras de Santos, Paranapiacaba, Socorro e Serra do Japi. O diretor-geral da TV Gazeta, Rogério Brandão, disse à Gazeta Esportiva: O novo transmissor é o mais moderno da América do Sul. E completou sobre a emissora: [a TV Gazeta] vai se transformar numa verdadeira alternativa de mídia, não só em São Paulo, mas também no interior. • Maio: Luiz Guimarães (ex-Globo) assumiu a direção-geral da TV Gazeta e Silvio Fernandes a direção comercial. Roberto Buzzoni respondia já pela Globo Filmes. Walter Silveira continuou como gerente de programação. Algumas das primeiras mudanças foram a compra de vários equipamentos de som e a mudança do parque de iluminação da TV Gazeta (pensando na melhoria de sua imagem com o novo transmissor). • 4 de junho: estreou a nova programação, em parceria com a distribuidora de filmes da Globo. • Junho: a Fundação Cásper Líbero fez um investimento de US$ 6 milhões em novos e modernos equipamentos, conforme a coluna Propaganda & Marketing (Folha da Tarde, 9/7/1990). 1991 • 4 de março: após 14 meses fora do ar, reestreou o programa Vamos Sair da Crise, com Alexandre Machado. Dois dias antes, com grande festa na boate Gallery, a produção e a alta cúpula da Fundação comemoraram a volta. As produtoras do programa eram Cristina Viegas, Cidinha Mattos e Rosana Ferreira. A convidada especial da estreia foi a ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello. • 6 de maio: estreou Gazeta Meio-Dia, com apresentação de Maria Lydia Flandoli, nova contratada da TV Gazeta. • Setembro: a Feeling Editorial, editora da Revista Imprensa, estreou duas produções independentes na TV Gazeta. No dia 21, foi o talk show Dose Dupla, às 0h30, com apresentação de Bob Coutinho. Marília Gabriela e Silvia Poppovic foram suas entrevistadas. No dia seguinte, à zero-hora, Primeiro Mundo, apresentado por Mino Carta, debates sobre o principal tema da semana. • 17 de outubro: a TV Gazeta (canal 11) comemorou o 11º aniversário do Mulheres com o show Onze no Onze, no Anhembi, das 13h30 às 18h. Claudete e Ione receberam mais de 30 artistas para comemorar a festa. Pepeu Gomes, Fagner, Wando, Cidade Negra, Fábio Júnior, Agnaldo Rayol, Sandy e Júnior, Balão Mágico, Trem da Alegria, Dominó e muitos outros. • 20 de novembro: a TV Gazeta e a Rede OM assinam contrato para produção conjunta de programas e exibição em rede nacional do conteúdo de ambas, a partir de 1992. • 1º de dezembro: o departamento de jornalismo da TV Gazeta promoveu, junto à direção da Fundação Cásper Líbero, uma série de eventos em homenagem ao aniversário dos 100 Anos da Avenida Paulista (8 de dezembro). No teatro do prédio, no 3º andar, foi apresentado o seminário O Artista e a Paulista. O publicitário Agnello Pacheco, a artista plástica Lilian Pacheco, o urbanista Carlos Fenerich, o fotógrafo da Agência Estado Paulo Vitalli e a personagem Condessa Giovanna (interpretada pelo ator Luís Henrique, na TV Gazeta) participaram com suas opiniões. Ainda no 3º andar, às 16 horas, a Fundação recebeu o povo que, ao passar na rua, era convidado a ir até lá participar da festa. No teatro se encontravam 15 barracas de artesanato, performances teatrais, rodas de samba, exposições com fotos da Avenida Paulista, aulas de iquebana e até apresentação do Balé Stagium. Antes do bate-papo foi também apresentado o documentário A Paulista Inspira e Expira. O Edifício Gazeta, um dos símbolos da Avenida Paulista, nas comemorações do centenário teve ainda um ato solene com a lavagem de suas simbólicas escadarias, da mesma forma como na Bahia fazem com os degraus que levam à Igreja de Nossa Senhora do Bonfim. Na frente do prédio foi colocado um enorme símbolo da TV Gazeta, com suas três argolas. A comissão organizadora da Fundação foi composta por Angela Esther de Oliveira, Marinês Rodrigues, Solange Serpa, Ellen Dastry, Maria Auxiliadora, Janete Domingues e Luiz Viana. 1992 • 15 de fevereiro: a TV Gazeta passou a integrar a Rede OM, com sede em Curitiba. Das 18 às 24 horas, o canal 11 retransmitiu a programação da rede curitibana. Alguns programas da TV Gazeta, como o Mulheres, passaram a ser transmitidos em rede nacional. • 30 de março: após uma fase inicial de testes, a TV Gazeta oficialmente transmitiu a programação da Rede OM, que já fazia parte desde fevereiro, mas cuja estreia foi adiada por três vezes. Estrearam as novelas Árvore Azul e Manuela. E o telejornal Fala Brasil (não confundir com homônimo da TV Gazeta), com matérias nacionais e internacionais, utilizando sucursais da Rede OM em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Miami. Entre os comentaristas do programa, Luís Nassif, Serginho Leite e Nelson Tatá Alexandre. A vinda de Galvão Bueno foi uma grande contratação, depois de anos como locutor esportivo na Rede Globo. E sua participação na Rede OM fez com que o público também se sentisse mais atraído por suas transmissões esportivas. Tanto é que ao longo da transmissão da Taça Libertadores da América a Rede OM conseguiu suas maiores audiências, inclusive na TV Gazeta. Em 17 de junho, a vitória do São Paulo Futebol Clube, de 3 a 2 (nos pênaltis) contra o Newell’s Old Boys foi uma das maiores audiências da emissora, que apresentava com exclusividade o campeonato, com narração de Galvão Bueno. • 12 de abril: às 22 horas do domingo mais próximo do sétimo aniversário do Mesa Redonda: Futebol Debate, 14 de abril, o programa fez festa no palco do Palladium, grande casa de shows da época, com mais de 500 pessoas. O programa especial teve apresentação de Roberto Avallone e Wanya Westphall. Entre os convidados estavam Carlos Alberto Parreira, Telê Santana, Ricardo Teixeira, Maguila, o casal Vicente Matheus e Marlene Matheus, com números musicais de Chitãozinho e Xororó, Fagner, Elza Soares, Jair Rodrigues, Maria Alcina e Luís Américo. O evento foi de gala, com direito à presença do presidente da Fundação, Constantino Cury. Nos bastidores, a edição foi de Luís Calvozo, Rita Suzano, Humberto Carlos, Rafael Varella e Márcia Flores; redação de Chigo Lang e Luís Carlos Ramos; reportagens de Maria de França, Acaz de Almeida, Paulo Arapuã, Luís Henrique Gurian, Dalmo Pessoa, Fernando Solera, Mauro Betting, Chico Lang e Márcio Bernardes; produção executiva de Helô Campanholo e Luiz Gomieri; e como editora-chefe Fátima Roggieri. • 20 de junho: após diversos dias anunciando a exibição do polêmico filme Calígula (censura 18 anos), a CNT Gazeta colocou-o no ar. O juiz José Antônio de Andrade Martins, da 18ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, através de liminar, determinou o cancelamento da exibição pela CNT Gazeta. Escreveu a Folha de S. Paulo no dia seguinte: A TV Gazeta usou de todos os artifícios para impedir que o oficial de Justiça entregasse a notificação da liminar. O funcionário acompanhado de policiais militares chegou ao prédio da Gazeta às 22h, uma hora antes do horário previsto para a exibição. Segundo a chefe de reportagem da emissora, Maria Auxiliadora do Nascimento, os seguranças impediram a entrada do oficial de Justiça e com isso se foi ganhando tempo para a exibição de Calígula. Em Santa Catarina, Pernambuco e Rio de Janeiro, juízes cassaram na sexta-feira as liminares que proibiam a exibição do filme. No Paraná, a exibição só estava liberada para depois da 1h de ontem. Mas, nem foi ao ar. O na época operador de VT, Marcelinho Fernandes, conta: Apesar de já trabalhar na TV eu não presenciei a cena, mas quando a emissora iria colocar no ar o filme Calígula gerou-se uma grande expectativa, pois o filme era muito pesado, inclusive para os padrões de hoje. Criaria polêmica na certa. Na noite de exibição a Polícia Federal e um promotor de justiça entraram na Gazeta e exigiram que tirassem o filme do ar! O coordenador de programação, que era o Manoel Teixeira (conhecido como Mané), ficou em dúvida sobre o que fazer, mas o promotor foi taxativo: Ou tira do ar ou vai preso! Tirou, rapidinho. Celso Berne, também da mesma área, completa: Foi exibida a primeira parte do filme e cortaram na segunda. Calígula criou polêmica. • 24 de agosto: a Rede OM demitiu cerca de 50 funcionários da sucursal de São Paulo. • 14 de setembro: a Rede OM, com direção-geral de Guga de Oliveira, demitiu da sucursal de São Paulo mais 61 funcionários. • 16 de setembro: o Sindicato dos Radialistas foi conversar com a direção da Rede OM, por conta do não pagamento da rescisão dos contratos e do salário correspondente aos dias trabalhados em agosto. Na sucursal carioca, Paulo Alceu, diretor de jornalismo da OM, se demitiu. Preferiu tomar essa decisão porque não concordava em demitir colegas jornalistas, conforme pedido da direção. A situação pesava para o lado da Rede OM, que aos poucos acertou os atrasados. • 1º de dezembro: o programa Forno, Fogão & Cia. comemorou dez anos no ar, com grande festa no Terraço Itália. Teve a presença de Ofélia Anunciatto, madrinha do programa. E, claro, do produtor e diretor Geraldo Rodrigues. 1993 • 2 de maio: o Mesa Redonda registrou um bom índice, garantindo 9% da audiência total da televisão em São Paulo. Enquanto isso o concorrente no horário, o Cartão Verde (TV Cultura), registrava 2% do Ibope total. • 23 de maio: as Organizações Martinez, para melhorar a imagem do grupo, mudaram o nome da Rede OM para CNT (Central Nacional de Televisão). Essa mudança estratégica foi necessária após a mídia e a CPI do Congresso Nacional acusarem o deputado José Carlos Martinez de ter tido envolvimento no Esquema PC Farias. Martinez foi caixa da campanha presidencial de Fernando Collor de Mello. A Rede OM foi inclusive acusada de ter sido criada para dar apoio ao presidente Collor, prestes a sofrer o impeachment e renunciar ao cargo. No final, nada foi comprovado contra José Carlos Martinez. No dia da mudança de nome, a CNT reestreou o programa Clodovil em Noite de Gala, ao vivo, diretamente do Teatro Ópera de Arame, em Curitiba. Nenhuma parte do escândalo afetou a TV Gazeta, nem sua audiência. • 5 de junho: estreou, às 22h, Gourmet – programa independente sobre gastronomia produzido pela Broadcast, do empresário João Dória Jr. • Outubro: o presidente Constantino Cury designou uma comissão para cuidar dos festejos dos 50 Anos da Fundação Cásper Líbero. Na comissão: Angela Esther de Oliveira, José Benedito Peixoto, Elcio Carvalho de Castro, Erasmo de Freitas Nuzzi, Olímpio da Silva e Sá, José Romanucci Neto, Gilberto Gomes de Alencar e Ivens Roberto B. Gonçalves. No dia 17 de dezembro apresentaram aos funcionários o projeto das festividades, a serem realizadas até 4 de setembro de 1994, data do cinquentenário da Fundação Cásper Líbero. • 25 de outubro: Alexandre Machado estreou seu novo programa, o Fogo Cruzado, às 22h30. Com direção de Rogério Brandão, os debates eram feitos ao vivo no Teatro Cásper Líbero, no 3º andar. • 26 de outubro: o 13º aniversário do Mulheres teve a presença de um público de 3.368 pessoas. • Manhã Paulista: o programa, exibido às 9h30 da manhã só pela TV Gazeta, tinha a presença do crítico de cinema Christian Peterman, que futuramente voltou à emissora no Todo Seu, no século 21. • INSS: o órgão decidiu tomar medidas contra a Fundação Cásper Líbero em outubro de 1994, por conta de ainda não ter sido feito o pagamento integral dos salários atrasados e recolhimentos dos tributos do final da década de 1980. A Fundação se defendeu dizendo que na época priorizou o pagamento dos salários atrasados dos funcionários. Visando a solucionar o problema, a Fundação propôs um novo esquema de pagamento, o que regularizou o caso em poucos anos, sem demitir funcionários. • 15 de novembro: estreou Tudo Por Brinquedo na CNT Gazeta, com Sérgio Mallandro e direção de Hilton Franco. • 12 de dezembro: Galvão Bueno deixou a rede CNT, após receber um cheque sem fundo de Cr$ 1,8 bilhão como pagamento de parte do seu salário. Com ele, a maioria dos 30 profissionais do departamento de esporte também resolveu deixar a emissora. 1994 • 31 de março: estreou Questão de Ordem, apresentado por Paulo Markun, às 23 horas. Com exibição pela CNT Gazeta, o programa teve a participação do presidenciável e ex-ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso. Com direção de Marília Assef e direção de jornalismo de Marco Antônio Coelho. Sempre às quintas-feiras, com transmissão nacional pela CNT. • Março: Rosana Hermann passou a roteirizar o programa Clip Trip, apresentado por Beto Rivera, com direção de José Carlos Alimari. • Abril: em entrevista ao Jornal da Aesp, a Fundação Cásper Líbero fez um raio-x do faturamento da TV Gazeta. Havia a perspectiva de faturarem US$ 30 milhões naquele ano, sendo que em 1993 a TV Gazeta faturou US$ 15 milhões – o equivalente a 1.000% em relação ao ano anterior (1992). Isso correspondia a 1,5% do bolo publicitário destinado ao mercado televisivo, colocando a TV Gazeta como o 4º maior faturamento no mercado de broadcast. Na época, a Gazeta respondia por 70% do faturamento da Fundação, tendo como principais fontes de renda os programas Mulheres, Clodovil Abre o Jogo, Mesa Redonda e CNT Jornal. Sobre as produções independentes, respondeu ao Jornal da Aesp o superintendente-comercial da Fundação Cásper Líbero, Luiz Fernando Taranto Neves: As produções independentes que a TV Gazeta veicula são exibidas aos sábados e domingos. Além disso, existem também algumas associações. A diferença entre ambas é que enquanto algumas produções pagam pelo espaço que utilizam, no caso das associações, a emissora participa na comercialização do programa, dividindo o lucro proveniente dos anunciantes com a produtora. Para o superintendente, é fundamental que a produção independente tenha qualidade para não prejudicar o prestígio e a audiência da emissora. Quando se tem qualidade, o negócio é bom para as duas partes: a produtora pode exibir seu produto e uma emissora pequena encontra mais uma forma de se manter equilibrada financeiramente, revela Luiz Fernando. • Junho: a Fundação Cásper Líbero e a CNT renovaram contrato de parceria até o ano 2000. • 31 de agosto: o jornal Mural, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, publicou nota parabenizando a TV Gazeta por seu crescimento: Depois de mudanças na gerência administrativa da TV Gazeta, a direção da empresa constatou a necessidade de equiparar o salário de seus profissionais ao mercado. Para tanto, foi dado aos profissionais um aumento real em torno de 40%, para correção na curva salarial. O aumento está sendo pago em duas parcelas, uma em julho e outra em agosto. Como outra novidade, está sendo acelerado o processo de informatização nas redações. • 4 de setembro: a Fundação Cásper Líbero comemorou os 50 anos de sua inauguração. O lançamento do livro Cásper, do conselheiro Silveira Peixoto, foi um dos eventos em comemoração à data. • Novembro: Clodovil é demitido por justa causa da CNT Gazeta. A medida foi tomada pela direção da CNT após o apresentador, ao entrevistar Adriane Galisteu (ex-namorada de Ayrton Senna, falecido em 1º de maio daquele ano), questionar a masculinidade do piloto. • 20 de dezembro: estreou na Gazeta o programa Cia. da Música, com apresentação de João Marcelo Bôscoli, às 21 horas. Antes, às 19 horas, foi a vez do Festival Mazzaropi, com filmes do comediante. E a Sessão de Cinema passou a exibir grandes filmes como Os Intocáveis e Jornadas das Estrelas. • 31 de dezembro: Mário Covas se despediu da bancada do Gazeta Meio-Dia. A despedida se deu antes, em almoço promovido por Constatino Cury, presidente da Fundação, no dia 21 de dezembro. A âncora Maria Lydia e mais 22 convidados participaram da festividade. No dia 1º de janeiro de 1995, Covas assumiu o governo do Estado de São Paulo, não podendo participar efetivamente da mesa. 1995 • Paulo Matiussi assumiu a direção de programação da CNT Gazeta. • 17 de fevereiro: a CNT Gazeta firmou contrato com a emissora argentina ATC (Argentina Television Color), de Buenos Aires, para transmissão dos Jogos Panamericanos de Mar Del Plata, na Argentina. De 10 a 26 de março as transmissões do Pan deram maior visibilidade à CNT Gazeta. Por pouco o mundo todo não ficou sem a transmissão do Pan devido a uma briga entre a ATC e a OTI (OTI - Organización de la Televisión Iberoamericana). A OTI comercializava as imagens para o resto do mundo e a ATC resolveu romper, para que esta se autocomercializasse. Curiosamente, no passado, através da OTI, a TV Gazeta fez a primeira transmissão colorida da ATC, em 1975. • 27 de fevereiro: após se desligar da Rede Bandeirantes, Marília Gabriela estreou na CNT Gazeta o programa Marília Gabi Gabriela, gravado no auditório do 3º andar do Edifício Gazeta. Desde 1993, na época em que o Eduardo Lafon estava na CNT, o auditório foi reativado e existia uma equipe própria de operações destinada a gravar os programas do teatro. Eu fazia parte dessa equipe. – conta o Supervisor Wilson Borges, o Tatu. Lá também gravávamos o Sérgio Mallandro. Tinham até aquelas pizzas onde as dançarinas ficavam dançando em cima. Era um ótimo auditório. – conta Rodrigo Caires, também integrante da equipe. • 28 de março: Paulo Camarda assumiu a presidência do conselho diretor, com o vice-presidente Victor Malzoni Jr. e o diretor dr. Leonardo Placucci Filho. • Março: Douglas Rocha assumiu a gerência administrativa da TV Gazeta. • 24 de abril: estreou na CNT Gazeta o programa esportivo Na Linha do Gol, às 23h, com apresentação de Alberto Helena Jr. e direção de Fernando Faro. Helena comentava jogos e contava histórias do esporte. • 1º de julho: o Geração Universitária começou na TV Gazeta, às 13h, todos os sábados. • 30 de julho: o jornal O Estado de S. Paulo, nesta data, publicou matéria sobre o crescimento da TV Gazeta, dizendo que até outubro se riam investidos R$ 5 milhões na modernização dos equipamentos e da programação da TV Gazeta. Reforçaram a questão de que o contrato com a CNT estava renovado até 2000, ressaltando: O acordo obrigou o ministro da Agricultura e banqueiro José Eduardo de Andrade Vieira, 56 anos, a um desembolso adicional à negociação com o grupo de José Carlos Martinez. Em janeiro, Andrade Vieira adquiriu 49% da CNT, assumindo dívidas do grupo Martinez, avaliadas em R$ 30 milhões. O jornal ainda falou sobre as mudanças positivas da nova administração, tendo Paulo Camarda como novo presidente da Fundação Cásper Líbero. Uma das melhorias foi o investimento de aproximadamente R$ 2,8 milhões apenas em novos equipamentos, tendo contratado a Panasonic para operacionalização. Na programação da TV Gazeta, tiraram do ar o Manhã Paulista, privilegiaram o Mulheres, cancelaram o Realce e Tudo Por Brinquedo para colocar no ar o Cartoon Mania, com desenhos como Gasparzinho, Pantera Cor de Rosa e Riquinho. O programa de televendas Telestore substituiu Deles e Delas e João Kleber Show. No jornalismo, em setembro reformularam o Brasil Já. • Setembro: estreou Circulando, uma revista das madrugadas na CNT Gazeta. Foi o primeiro programa apresentado por Luciano Huck, antes da Band e Globo. Todas as notícias são quentes e a revista é supereclética, disse Huck ao Jornal do Brasil (7/7/1995). • 18 de outubro: a CNT Gazeta estreou Ponto G, programa apresentado por Adriane Galisteu (onde a modelo começou a carreira de apresentadora). A atração possuía os quadros: Speed, de esportes radicais; Tabu, com personalidades debatendo temas polêmicos; Comédia, com situações inusitadas, com Adriane Galisteu disfarçada, falando com transeuntes pelas ruas; On The Road, com um convidado andando com a apresentadora em uma rota escolhida pelo mesmo. Na estreia esteve Dona Canô, mãe de Caetano Veloso, Henry Sobel e Lobão. A atração passava aos sábados, 18h, tendo como diretor Billy Bond. • 30 de outubro: o game-show Hugo estreou na CNT Gazeta. 1996 • Janeiro: à beira da falência o ex-ministro da Agricultura José Eduardo de Andrade Vieira devolveu à família Martinez as ações que havia comprado da CNT. Entre os bens de Andrade Vieira, o Banco Bamerindus foi vendido ao HSBC. • 26 de janeiro: a Fundação Cásper Líbero e a Federação Paulista de Futebol firmaram contrato para exibir o Campeonato Paulista do ano. • 4 de março: a CNT Gazeta estreou a novela Irmã Catarina, a primeira novela produzida pela Associação do Senhor Jesus, de Valinhos (dona do canal católico TV Século XXI). Como protagonista, Myrian Rios no papel de Irmã Catarina. A novela tinha tamanho de minissérie, com 25 capítulos. E, em campanha criada pela agência Young & Rubicam, era anunciada da seguinte forma: Não tem cenas de sexo, nudez nem violência. Vai ver que é por isso que só dura um mês. Até dia 30 de março foi ao ar. No dia 15 de abril estreou Antônio dos Milagres, com Eriberto Leão como Santo Antônio. As duas tramas foram as últimas escritas pelo autor Geraldo Vietri, que revolucionou a história da teledramaturgia, com sucessos como os teleteatros TV de Comédia, as novelas Nino, O Italianinho, Antônio Maria e Meu Rico Português. • 25 de março: no telejornalismo da CNT Gazeta estreou Fátima Turci para falar de economia, retornou Leila Richers ao comando do CNT Jornal e passaram a participar do telejornal Mino Carta, Anselmo Góes, Ricardo Amaral, Ricardo Kotscho e Juca Kfouri. • 10 de maio: o Gazeta Meio-Dia comemorou cinco anos com almoço festivo no Esplanada Grill. Muitos políticos presentes, como Mário Covas, Maluf e Erundina. • 28 de junho: Claudete Troiano se despediu do Mulheres ao lado de Ione Borges, que continuou na atração. Apesar da tristeza, o clima foi de alegria, em uma grande festa junina. • 2 de julho: Helcio Henrique Vieira reassume o cargo de diretor-comercial da CNT Gazeta, em São Paulo. • 4 de julho: o programa Mesa-Redonda fez debate especial com o ministro extraordinário dos Esportes, Pelé. Estavam no debate Avalone, Chico Lang, Alberto Helena Jr., Márcio Bernardes, Luís Henrique Gurian, Márcio Leuzzi, Wagner Lima e Drica Lopes. Pelé criticou a seleção e disse que iria perseguir os bingos. • 5 de julho: estreou na CNT Gazeta a sessão de cinema Sexta Brasil, apenas com filmes brasileiros. Na estreia exibiu-se A Rota do Brilho, com Alexandre Frota, Gretchen e Lilian Ramos. • 23 de setembro: começou Gincana Estrela na CNT Gazeta, com Eliana Fonseca e Juarez Malavazzi interpretando Lily e Jujuba. Os Brinquedos Estrela tentaram recriar a atração de sucesso na década de 1960 (na época exibida pela TV Record). • 12 de outubro: início do programa Boxing em Ação, apresentado por Hector Medina, o mais ativo empresário de boxe do país. Foi a volta do boxe à TV Gazeta. • 18 de outubro: o Ministério Público abriu inquérito para apurar irregularidades praticadas pelas redes de televisão SBT, Manchete, Bandeirantes, Record e CNT Gazeta no uso do sistema de sorteios Disque 0900. O Departamento de Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça tentou achar meios para considerar ilegal a realização dos sorteios via telefone, inclusive chamando a atenção da Receita Federal para o Disque 0900, com relação à sonegação fiscal. Conforme Gláucia Ferreira, responsável pelo Disque 0900 na TV Gazeta: Nós na Gazeta fazíamos tudo corretamente. Eu tinha um cuidado extra com entrega de prêmios. Era uma responsabilidade muito grande. • 25 de outubro: a juíza Regina Helena Costa, da 4ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, considerou ilegal os Disque 0900, suspendendo o sorteio de todas as emissoras que o utilizavam, inclusive a CNT Gazeta. • 31 de outubro: TVs comerciais fecham acordo com o Ministério da Justiça para regularizar o Disque 0900. Em dez dias as TVs deveriam regulamentar legalmente o sorteio. • 3 de novembro: concluíram-se as reformas no 6º e 7º andar do Edifício Cásper Líbero, coordenadas pela superintendente patrimonial Ângela Esther de Oliveira. Toda a central técnica e o departamento de operações da TV Gazeta passaram para o 6º andar. Com o apoio da Fundação foram renovados todos os equipamentos da emissora. O espaço, antes ocupado pelo controle-mestre e ilhas de edição, abrigou o grêmio Gazeta e o departamento de recursos humanos da Fundação. A partir de 2007, o local passou a abrigar a Gazeta Press. Para mudança geral dos espaços, do ponto de vista técnico, a coordenação foi feita pelo engenheiro da TV Gazeta, Hélio Sposito. Foram montadas 12 ilhas de edição no 6º andar e a potência do sinal da emissora subiu para 25 quilowatts. • Novembro: Alberto Helena Jr. foi contratado novamente pela TV Gazeta, assumindo a direção do jornalismo. • 15 de dezembro: o jornalista policial Gil Gomes foi ao Mesa Redonda e pediu, durante debate, para que a CBF criasse a Delegacia do Esporte para apurar e prender nos casos de vândalos nos estádios. Disse ele: Não é justo, nem estético, ver estádios vazios graças à meia dúzia de vândalos. É necessária a volta da Gaviões da Fiel, da Mancha Verde, da Leões da Fabulosa, da Independente, da Sangue Santista e outras organizadas. Mas, veja bem, eu disse organizadas e, não, desorganizadas. O programa mobilizou as autoridades que aos poucos trataram com mais cuidado o assunto, inclusive permitindo a volta das torcidas organizadas aos estádios, após proibição meses antes. • Dezembro: o programa 190 Urgente, apresentado por Ratinho, mantinha quatro pontos de média, com picos de sete. Carlos Massa deu mais ritmo e vida ao modelo criado por Alborguetti na própria CNT anteriormente. • 20 de dezembro: a CNT firmou parceria com a emissora mexicana Televisa. Novelas, seriados, shows e o jornalístico do canal ECO (do grupo Televisa) foram exibidos a partir de janeiro de 1997. Entre as atrações confirmadas para a nova grade, as novelas Simplesmente Maria (a segunda parte, pois a primeira foi exibida com sucesso pelo SBT), Alcançar uma Estrela, Coração Selvagem (com Ricky Martin como ator), Prisioneira do Amor e o seriado Chespirito (com Roberto Bolaños, o Chaves). 1997 • Janeiro: foi inaugurada em Santos (SP), a sucursal CNT Gazeta Baixada Santista. Eram feitas matérias locais, principalmente para o Gazeta Paulista, uma parceria com as empresas CNC/Quadrante que durou até outubro. Fizeram matérias também para o Gazeta Esportiva, Mesa Redonda, Mulheres e 190 Urgente. A sucursal tinha coordenação-geral de Arthur Ankerkrone. Na equipe, Leandro Forli (editor de reportagem), Marcelo de Almeida (diretor das matérias locais), Julio Francfort (editor de imagem e câmera), Manso Jr. (cinegrafista), Fernanda Soares e Tânia Maria (produtoras), Mirian Cláudia, Luciana Leal e Celso Bandarra (repórteres). Arthur Ankerkrone conta: Houve uma matéria que foi muito elogiada pela direção em São Paulo. A das Mães Canguru. Era uma experiência que vinha sendo feita pela prefeitura de Santos, com mães de bebês prematuros, que colocavam as crianças amarradas ao corpo para que se desenvolvessem com a ajuda do calor maternal. • Fevereiro: o 190 Urgente ganhou auditório para 60 pessoas e parte do programa passou a ser gravado na TV Gazeta, em São Paulo. Mais sucesso para Ratinho. • 24 de fevereiro: a TV Gazeta lançou o telejornal Gazeta Dois Minutos, apresentado por Dáfnis da Fonseca (o mesmo do Gazeta Paulista ). São dois boletins diários, apresentados às 9h e 11h45, com notícias sobre São Paulo. • 11 de abril: estreou o primeiro site da TV Gazeta (www.tvgazeta. com.br) na Internet, desenvolvido pela empresa Foster. Com uma estrutura simples, possuía a grade de programação e uma breve descrição dos programas. A partir de 1998, a Fundação criou um departamento próprio para cuidar de seus sites, chamado FCL Net. • Abril: estreou Ligação na TV Gazeta. Era uma versão televisiva do programa musical da Rádio Gazeta FM, sucesso de audiência. Com apresentação de Gutto Moreno, foi transmitido diretamente do Teatro Gazeta, no 3º andar do Edifício Gazeta, com a presença de 340 telespectadores que lotavam o espaço. O público vindo principalmente dos amantes de pagode e alunos da Faculdade Cásper Líbero. • 22 de junho: em pesquisa do Instituto Gallup, publicada na Revista Imprensa, o programa Mesa Redonda garantiu o primeiro lugar entre os esportivos, tendo 30,5% da preferência do público. Cartão Verde, da TV Cultura, foi o segundo colocado, com 16,3%. • • 14 de julho: o programa Mulheres ganhou novos colaboradores, com quadros de Xênia Bier (após afastamento por nove anos da televisão) e Afanásio Jazadji (com prestação de serviço à sociedade), esquetes humorísticos com Artur Miranda e José Roberto Sampaio. Nessa época a direção do Mulheres era de Marcelo Amadei. • 21 de julho: Madrugada Sexy estreou na CNT Gazeta, à 1h30 da madrugada. Apresentado por Elaine Pontim, o programa pretendia ser uma revista eletrônica sobre comportamento sexual. Atingindo um ponto de audiência, rivalizou com filmes pornô do Cine Privê (Band). O Madrugada Sexy mostrou mulheres transando, drag queens, sadomasoquismo e outras práticas sexuais. Ainda lançou concurso de vídeos pornográficos caseiros com prêmios de R$ 2 mil. Pontim entrevistava artistas, dava dica de vídeos pornôs. Tinha ainda um quadro dirigido ao Disque 0900. A produtora Tulia Yamamoto disse à Folha da Tarde, em 27/7/1997: Não exigimos que os convidados transem, mas, quando acontece, colocamos tarjas nas cenas para não chocar as pessoas. Foi o primeiro programa sobre sexo exibido pela TV Gazeta em toda sua história. As cenas eram fortes e ousadas. • 11 de agosto: a CNT Gazeta ganhou três troféus Santa Clara. A premiação, promovida pela Folha de S. Paulo, elegia os piores programas da TV brasileira no ano anterior. A emissora venceu com Ratinho e o 190 Urgente em três categorias: pior apresentador, pior programa jornalístico e prêmio Ah, Eu Tô Maluco! – dado para programas considerados insanos! Bárbara Gancia ainda deu um voto para o Mulheres, na categoria Santa Clara de Ouro, pelo programa ter promovido um concurso para escolha do melhor cuscuz, com os jurados Gerson de Abreu e a dupla de cantores Rosa e Rosinha. Foi a primeira edição do Troféu Santa Clara, que, com um ar de brincadeira, criticava a televisão. • 20 de agosto: o Ministério Público do Paraná entrou com uma ação na Justiça Federal solicitando a suspensão do 190 Urgente, por alegar que o programa feria as liberdades individuais e incitava o crime. O diretor do programa, Maurício Cavalcante, disse à Folha de S. Paulo uma semana depois: A imprensa tem o dever de mostrar o que está certo e o que está errado e tem que apontar algumas soluções. O que Ratinho faz é tecer comentários sobre a atuação da polícia. 190 Urgente dava cinco pontos de audiência para a rede CNT. Com a saída de Ratinho para a Record, Wagner Montes assumiu a atração. • 6 de setembro: o Juiz da 9ª Vara Federal de Curitiba, Tadaaki Hirose, determinou que o 190 Urgente ficasse proibido de mostrar reportagens que desrespeitassem a dignidade humana, a honra, imagem e moral dos presos. Ratinho começou a criar polêmica. • 1ª semana de outubro: depois do pedido dos telespectadores, Madrugada Sexy passou a ter uma hora de exibição. De 25 minutos pas-sou em meados de setembro para 40 minutos. Agora, com 60 minutos, atingia uma das maiores audiências da grade da rede CNT. E com um novo quadro fixo, sobre gays. • 31 de outubro: o conselho curador da Fundação Cásper Líbero não viu com bons olhos a expansão do Madrugada Sexy. O programa baixou o nível, aumentando demais o número de vídeos caseiros de sexo. Boatos diziam que até a Liga das Senhoras Católicas interviu para derrubar o programa da grade. Disse o jornal Notícias Populares (18/10/1997): Segundo Sérgio Felipe dos Santos, vice-presidente do conselho curador da Fundação Cásper Líbero (que é dona da TV Gazeta), o Madrugada não será mais exibido pela emissora principalmente por razões morais. [...] Santos disse que o projeto original do Madrugada Sexy que foi apresentado para a CNT/Gazeta não trazia os vídeos caseiros com cenas de sexo. Nós compramos uma coisa e depois veio outra. No programa piloto só havia a apresentadora [Elaine Pontim] falando e dando orientações sobre sexo, diz. A decisão de eliminar o Madrugada, de acordo com Santos, partiu diretamente da direção da Gazeta – o programa dava quatro pontos de audiência. A atração era feita pela produtora independente Daitan Vídeo. • 20 de outubro: estreou o programa Brigando com Zig-Zag, com o palhaço de mesmo nome, das 8h30 às 8h45. • 16 de novembro: o promotor Fernando Capez deu a notícia, em primeira mão, do pedido de extinção da torcida Gaviões de Fiel (60 mil sócios) no Mesa Redonda: Futebol Debate, ao lado do apresentador Roberto Avallone. • 28 de novembro: a TV Gazeta investiu na troca de seu transmissor. A ampliação possibilitou à emissora operar com potência igual à das demais emissoras VHF de São Paulo, atingindo a mesma área de cobertura de outros canais. Com alcance de 100 quilômetros, os sinais do canal 11 VHF atingiram os municípios da Grande São Paulo. Através de repetidoras em UHF, chegou a cidades paulistas como São Carlos, Sorocaba, Rio Claro, Limeira, Americana, Bragança Paulista, Araras, além de várias capitais e cidades brasileiras como Cuiabá, Florianópolis, Recife, entre outras. E também via satélite Brasilsat B1 analógico (frequência 1.040 H), através de parabólicas em todo território nacional. Para a inauguração do novo transmissor Harris (HT-30 HS), de 30 quilowatts de potência, foi promovido um grande show no auditório da Anhembi, a partir das 14 horas. Do show, chamado Nova Força, participaram os apresentadores da TV Gazeta e, como atrações musicais, Fábio Jr., Sandra de Sá, Maurício Mattar, Martinho da Vila, Timbalada, Grupo Malícia, Roberta Miranda, José Augusto, Sensação, Boquinha da Garrafa, Soweto, Redenção, Cia. do Pagode, Toke Individual e Negritude Júnior. 3,3 mil pessoas assistiram ao show, comandado por Gutto Moreno, Claudete Troiano e Ione Borges. • Operações: nessa época, estavam na supervisão de operações da TV Gazeta Wilson Borges (Tatu), Fábio Rolfo, Jorge Eduardo Oliveira e José Roberto Alves. E, na coordenação de programação, José Azenha e Manoel Teixeira Filho. 1998 • 11 de janeiro: a TV Gazeta revelou à Folha da Tarde qual era seu projeto para 2000, quando se desvincularia da rede CNT: A TV Gazeta quer ser a televisão de serviços de São Paulo – 24 horas por dia – a partir do ano 2000. • 8 de junho: por conta da Copa 98, foi lançado o programa especial Mesa Redonda na Copa, tendo a presença, entre os apresentadores, de Ione Borges e Regiani Ritter. • 10 de julho: estreou Mulheres Especial, edição de sexta-feira do Mulheres, apresentado por Drica Lopes, das 14h30 às 17h. Entrou para competir com H (Band), com Luciano Huck, e Programa Livre (SBT), com Sérgio Groismann. Com participação de Pedro Bismark, o Nerso da Capitinga. O programa era dirigido a um público mais jovem, com game-shows e brincadeiras. Nani Machado interpretava Mosca, apelidada pela imprensa como a a Tiazinha da Gazeta, interpretada por Suzana Alves no programa H (Band). A modelo loira usava lingerie e uma capa preta. • 12 de julho: o Mesa Redonda fez mais um furo, declarando a volta da torcida Gaviões da Fiel, que saiu da ilegalidade. A declaração foi dos advogados Gilberto, Geraldo Jabur e Carlos Alberto Ferreira no programa. • Final de agosto: a socialite Vera Loyola estreou na CNT Gazeta o programa de auditório Vera Loyola Atrás do Balcão da Padaria, às quartas, às 21h30. O programa não durou muito, mas o telespectador pode ver Vera Loyola num estilo Hebe, com direito a aparições de seus queridos cães Pepezinha e Perepepê! • 13 de agosto: estreou Festa do Mallandro, com Sérgio Mallandro, na CNT Gazeta. Uma versão ampliada do quadro que fazia no Domingo Total (Rede Manchete). O festival de pegadinhas do Mallandro e quadros, que foram considerados pelo Ministério Público como baixaria (como Teste de Fidelidade), deram grande audiência à atração. • 11 de outubro: o programa Pra Você foi o primeiro da TV Gazeta a ser assistido pela Internet. No site www.tvgazeta.com.br/pravoce o internauta podia ver diversos vídeos nas páginas Receitas (sobre culinária), Cuide-se! (sobre saúde), Seus Direitos (sobre direito do consumidor) e Moda & Beleza e Variedades. O programa na época era apresentado por Cátia Fonseca. • 18 de novembro: plantou-se o boato de que o Banco Pactual, representando um grupo de estrangeiros, estaria interessado em arrendar a programação da TV Gazeta. Isso após desistirem da compra da Rede Manchete, já em crise. Mas nada foi comprovado. 1999 • 13 de novembro: a Fundação Cásper Líbero criou as superintendências, ficando todas subordinadas à superintendência-geral, de Sérgio Felipe dos Santos. Na TV Gazeta, Silvio Alimari, que respondia pela gerência-geral de operações e produções, passou à superintendentegeral de TV, e sua assistente, Marinês Rodrigues, transformou-se em superintendente de programação. • 27 de setembro: estreou Ione, programa noturno apresentado por Ione Borges. Era exibido às quintas, 22h15. Claudete Troiano retornou à emissora, voltando a apresentar o Mulheres, agora sozinha. O Ione era um programa chamativo. Era quase um programa Hebe da Gazeta. Tinham destaque as estátuas vivas e o belo cenário do Marcelo Alencar. A produtora Célia Moreira completa: Nessa época, no 7º andar, funcionava a central de produção. Era um núcleo que abastecia todos os programas, uma produção única. Conforme a escala, a gente se unia para criar o programa determinado no papel. 62. Gazeta Meio-Dia O Gazeta Meio-Dia começou na TV Gazeta em 6 de maio de 1991, após a contratação de Maria Lydia Flandoli um dia antes. Esse, posteriormente se transformou no Em Questão, que atualmente continua no ar. Quem contará a história do programa é ela, uma das figuras mais importantes na história do jornalismo da TV Gazeta, Maria Lydia. Eu entrei na TV Gazeta em 1991. Fui convidada para desenvolver um trabalho que seria novo aqui. Era o Gazeta Meio-Dia. Na época nem tinha nome, mas escolhemos depois. Seria um debate ao meio-dia, conforme pesquisas da emissora, que tinha informação que a audiência disponível no horário do almoço aceitava bem o debate político neste horário. Eu antes trabalhava na TV Record, em um programa que se chamava Record em Notícias, e eu era uma das debatedoras, a única mulher. Era o chamado Jornal da Tosse. Por conta do que viram lá, surgiu o convite na Gazeta. Quem mediou toda a conversa sobre a minha contratação foi o Alexandre Machado, que fazia o Vamos Sair da Crise?. Aí marcamos um almoço: eu, ele e o Constatino Cury, que na época respondia pela Fundação Cásper Líbero. E acabou dando certo. Tanto é que o Gazeta Meio-Dia ficou mais de dez anos no ar. Era uma tribuna onde a ideia fluía livremente e isso é um fato que eu entendo ser a razão do sucesso do jornalismo da TV Gazeta, como marca registrada e liberdade editorial. E isso me atraiu muito ao vir para cá. Nós montamos a ideia de termos representantes de diferentes correntes de pensamento político à mesa para o debate. Pegamos dos principais partidos os nomes mais representativos e principalmente, aqui de São Paulo. Tinha uma bancada fixa e de vez em quando trazia alguém de fora para integrar a bancada. PSDB, PMDB, PFL, PT... A época do impeachment do Collor foi importante. Nós víamos da janela do prédio da Gazeta os caras-pintadas na Paulista. A efervescência era tal que estava praticamente ao alcance da mão. Foi uma grande ocasião: o crescimento da importância do exercício da cidadania. E isso ajudava a palavra a fluir livremente num programa como o Gazeta Meio-Dia. Nele nós tínhamos aberto para o público uma forma de comunicação, primeiro através do telefone no ar e depois com o fax. Uma novidade para a época. E as pessoas participavam muito. Na ocasião eu tinha na banca fixa: do PT o Aloísio Mercadante e o José Genoíno; do PSDB o Mário Covas e o Alberto Goldma; do PFL o Cláudio Lembo; e tinha também o lado mais conservador, representado por Ives Gandra Martins e também pelo José Carlos Graça Wagner, que chegou a ser presidente do conselho curador da Fundação. Muitos participaram. O Lula foi um que cansou de vir como convidado por ser um líder metalúrgico importante, o Palocci também vinha muitas vezes. Aliás, tenho uma história boa. O programa adquiriu um prestígio tão grande que de repente os políticos me pediam para participar. Eu recebi um telefonema que era do Fernando Henrique Cardoso. Oi, Maria Lydia. Eu sei que você tem uma bancada fixa. Porque eu não participo desta bancada? Eu admirava o Fernando Henrique, senador por São Paulo, também do PSDB. Mas fui obrigada a dizer: Não vai dar porque nós já temos o Mário Covas, representante do mesmo partido. O pessoal ria de mim, porque depois que ele foi eleito presidente diziam: Puxa vida, você não tem feeling! [risos] Mas eu acho que a escolha do Covas tinha sido perfeita também. Ele foi um grande nome da política, na defesa dos Direitos Humanos. Na época eleitoral, o programa era obrigado a ter representantes dos partidos com igualdade de número e minutagem certa para falar, por conta da lei eleitoral. E cumpríamos estritamente. O departamento jurídico da Fundação Cásper Líbero sempre nos deu total apoio. Uma época a direção da emissora queria acabar com o programa. Ele dava prestígio para casa, mas não era um programa popular, de show, que desse audiência. Você media a audiência dele qualitativamente, não quantitativamente. Aí eu fui avisada que iam tirar o Gazeta Meio-Dia do ar. Fiquei chateada, porque adorava fazê-lo. Eu sei que eu comentei com os meus parceiros de bancada e contei o que estava acontecendo, que nós éramos terminais. Fui surpreendida por uma ação inacreditável, um abaixo-assinado enorme com nomes de todos os segmentos, e nomes importantes e representativos da sociedade! Empresários da Fiesp, trabalhadores, gente da CUT e outros sindicatos, gente ligada à área da saúde, médicos importantes, artistas, porque eu trazia todas essas pessoas naquela vaga que era do convidado. Aquela bancada fixa se mexeu e foi atrás pedindo às pessoas que subscrevessem uma carta para a superintendência pedindo que não tirassem o programa do ar. E foi o que aconteceu. A comissão foi até a superintendência, com o abaixo-assinado, falar com o Sérgio Felipe. Ele os recebeu gentilmente para falar da reivindicação deles. Fato é que não foi tirado o programa do ar. Fiquei muito comovida e até hoje guardo cópia daquele abaixo-assinado. Depois o programa foi para a noite e se transformou no Em Questão. Inicialmente três vezes por semana e depois numa segunda fase foi diário, voltando ao meio dia. Na fase da Gazeta Mercantil, fiquei no Em Questão. Com a saída do Sardenberg e o fim daquela parceria, fui para o Jornal da Gazeta e terminaram com o programa. Foi a fase do Albino Castro no jornalismo. Um pouco depois repensaram e fiquei com o Jornal da Gazeta e com o Em Questão, que voltou uma vez por semana, no final da noite de domingo. No jornalismo recente da Gazeta, com o Marco Nascimento, me chamou a atenção as eleições presidenciais de 2006. Fizemos um debate no primeiro turno e o Lula não veio. Um jornalista do Estadão queria fazer a pergunta para a cadeira vaga. Eu tive que ser firme e manter a ordem do debate. No segundo turno acabou não acontecendo o debate, porque o Alckmin aceitou vir e o Lula disse que não poderia. Democraticamente optamos por não realizar o debate, seríamos parciais se fizéssemos e perderíamos a nossa tradição democrática. Fiz na Gazeta também o Defenda-se, que ficou no máximo um ano no ar. Eu o fazia antes na Record. Foi o primeiro programa de defesa do consumidor. O nome foi criado pelo Dante Matiussi. A Gazeta teve sempre a tradição de ser o espaço aberto para as tribunas democráticas e o debate político. Com Vamos Sair da Crise, Opinião Nacional, Fogo Cruzado, Gazeta Meio-Dia e o Em Questão. 63. Globo na Gazeta Na segunda-feira, 4 de junho de 1990, estreou a nova programação da TV Gazeta. No comando, Luiz Guimarães, ex-diretor de programação da Rede Globo. A TV Gazeta contratou 40 novos profissionais, subindo para 300 o número de funcionários da emissora. Vinte por cento foram englobados pelo departamento de jornalismo. Luiz Guimarães tirou do ar o TV Mix e o Paulista 900, dando lugar a filmes e noticiários. O jornalismo virou o carro-chefe na programação da TV Gazeta. Marco Antônio Coelho, diretor de jornalismo, instituiu os novos programas: Jornal da Gazeta, de segunda a sábado, às 19h15, com apresentação de Kátia Maranhão, Suzana Rangel e Miriam de Castro; Opinião, de segunda a sexta, às 23h30; Gazeta Paulista, às 12h30, com as principais notícias de São Paulo e apresentação de Daphnes da Fonseca; Gazeta Notícia, às 16h55, um resumo informativo de cinco minutos. Vamos Sair da Crise foi extinto, dando lugar ao Opinião. Nesse, também de entrevistas, a cada dia um jornalista diferente ficava no comando. Carlos Brickmann, Etevaldo Dias, Aloísio Biondi, Luís Nassif e Washington Novaes. Já o Dinheiro Vivo, com Luís Nassif, continuou, sendo apresentado das 19h45 às 20 horas. Roberto Avallone também continuou, na direção do departamento de esportes. Os programas esportivos foram divididos em três edições, todas com o nome Gazeta Esportiva, no ar às 12h15, 19h e 00h30, de segunda a sábado. Com apresentação de Débora Menezes (que depois se tornou apresentadora do Esporte Espetacular, do Globo Esporte paulistano e até do SP TV, na Globo) e Avallone. Estrearam também os novos programas: o famoso seriado Casal 20, às 18h; Minisséries, horário destinado às produções de teledramaturgia em minisséries, dos Estados Unidos e Europa (a primeira foi Pedro, o Grande ), de segunda a sexta, 20h30; Gazetinha, de segunda a sábado, 20h, uma sessão só com desenhos animados para o público infantojuvenil; e Cine Gazeta, com longa-metragens conhecidos (Gente como a Gente marcou a estreia, seguido de Norma Rae, Doce Sabor de Um Sorriso, De Repente o Amor, Alice Não Mora mais Aqui e Em algum Lugar do Passado durante a primeira semana e Oh, que Bela Guerra e À Sombra do Vulcão na dobradinha dominical). Era sempre após o Gazetinha, começando às 21h30, tendo dose dupla aos domingos, das 18h às 20h. Mesa Redonda e Mulheres em Desfile ganharam nova cara – o último, por intervenção de Luiz Guimarães, passou a se chamar apenas Mulheres. Conforme Guimarães: A única coisa que eu fiz foi mudar o nome. Era Mulheres em Desfile e não tinha mais desfiles. Quando eles montaram o programa tinha. Com Mulheres seria tudo o que a mulher faz. O público já chamava só de Mulheres. Luiz Guimarães era um nome forte no mercado de televisão em São Paulo. Um dos grandes executivos de TV na cidade, começou sua carreira na TV Tupi, em 1950. Ele inaugurou o canal 5, então TV Paulista, em 1952. Ali foi ator, diretor, narrador esportivo, diretor de programação e responsável pela transferência do canal para a Rede Globo (após sua aquisição em 1966). Lá ficou até 1988. Era considerado o braço direito de Boni em São Paulo. Até 1986 foi diretor-geral de programação, indo para o Rio de Janeiro naquele ano, com a função de diretor-adjunto nacional da vice-presidência da operações da Rede Globo. Quando saiu da Globo, trabalhou por dois anos na área comercial, sendo chamado por Boni para gerir o projeto com a TV Gazeta. É ele quem nos conta sobre sua passagem pelo canal 11: Em 1990, partiu da própria Globo o pedido. A ideia inicial era montar uma nova programação na Gazeta, que seria provavelmente uma TV Globo 2. No fundo seria isso, para utilização de novelas que já foram usadas, filmes que estavam disponíveis com contrato ainda em vigor... A Fórmula 1, quando a Globo não fizesse, a Gazeta faria. E outras coisas mais... Assim como partidas de futebol que a Globo comprava e não tinha onde colocar. Nós colocaríamos. Disso aí não aconteceu tudo, porque houve uma forçação de barra das outras emissoras de São Paulo. Não quiseram apoiar a ideia porque sentiram que seria mais uma emissora da Globo em São Paulo. No fundo não deixaria de ser mais uma emissora, mas ela não teria conotação nenhuma de TV Globo. Ela usaria material que a Globo já usou ou material que não usaria. Não teria nunca uma configuração de TV Globo. A parte de faturamento era 50 e 50 (50% para cada uma, Gazeta e Globo Filmes). Eu fiz parte de toda a conversação, de todos os acordos firmados com a Gazeta, com o Sérgio Felipe, Constantino Cury. Fui como diretorgeral da programação no lugar do Rogério Brandão. Da Globo fui só eu. Na Gazeta montei outra equipe que não tinha participação nenhuma na Globo. Eram elementos conhecidos de lá, da própria Gazeta. A ideia era essa: usar o pessoal de lá para montar uma nova programação. Mas, nós não conseguimos levar novela da Globo porque o Buzzoni, que era o diretor [da Globo Filmes], não forneceu mais o material que tínhamos acertado. Eu tive que mudar a programação, uma programação tampão, para poder manter a emissora no ar, porque não tinha jornalismo, não tinha nada. Nós não fizemos muita coisa, tanto é que quando eu fui demitido de lá eu não tinha o que fazer. Com esse material eles fizeram novamente a mesma programação: Mulheres, Mesa Redonda... Não tivemos muita oportunidade de fazer uma programação específica com aquela ideia com que nós fomos para lá. Nós fizemos uma reforma nas vinhetas. Modificamos todas. Fizemos com muito auxílio do Tico e do meu assistente. Mudamos muito a característica da Gazeta no aspecto visual, mais atual para a época. Isso modificou um pouco. Tivemos algumas respostas de agências de publicidade, o que ajudou um pouco no faturamento. E o interesse da Globo na Gazeta? É porque era a única que aceitava esse tipo de programação. Não podia ser com a Bandeirantes, não podia ser com a Manchete. A Gazeta tinha uma ligação muito íntima já com a TV Globo. O sinal da Globo saía do prédio da Gazeta. Nós tínhamos a torre, tínhamos a central técnica lá. Era praticamente uma coirmã. Nós usávamos também o que ela tinha para trabalhar em São Paulo, as externas, fazíamos uma parceria com eles em troca de compactos de futebol, dávamos para a Gazeta. – Luiz Guimarães se refere às parcerias com a Globo nos anos 1970 e 1980 - Então, tinha que ser a Gazeta. Era uma emissora de São Paulo e a nossa ideia era fazer da Gazeta uma emissora da cidade, com mais prestígio, muita programação, muita produção. Coisas para ela se identificar com São Paulo. Quando chegou o novo transmissor, eu estava lá na Gazeta. Foi uma grande conquista. Era o melhor transmissor que existia na praça, era um Harris. Jogou o sinal da Gazeta lá em cima. Imagina se tivesse feito uma programação como se imaginava ter, similar a da Globo? Teria feito uma conquista muito grande, teria hoje realmente uma emissora de segundo lugar. Você teria futebol, os melhores filmes, as melhores novelas... Teria condições de ter cobertura, que era o mais importante. As outras emissoras reagiram mal. A Bandeirantes, quando a gente precisava de alguma coisa, de algum material que estava lá, dizia: Eu não vou te dar material, vocês estão montando em São Paulo a TV Globo 2. E em outras emissoras por onde eu fui a indagação era a mesma: Vocês não estão montando a TV Globo 2?. Não, não tem nada a ver com TV Globo. Nós estamos utilizando um equipamento e um material em troca da utilização das unidades da Gazeta. Marinês Rodrigues, fala de sua participação dentro dessa fase: Eu trabalhei por alguns anos com o Luiz Guimarães. Ele era o gestor desse projeto, nomeado pela Globo, mas com a concordância da Gazeta. Era responsável pela TV e pela parte de programação. E eu fiquei lá dando assessoria a ele. Marinês comenta sobre a polêmica causada na época, sobre o possível domínio da Globo sobre a Gazeta: É um sentimento natural, até pela dimensão da Globo. Falar que uma emissora, que não tem a pretensão de disputar a liderança de mercado, tem uma parceria com a Globo Filmes, automaticamente as pessoas imaginam que a Gazeta deixaria de existir e a Globo faria a gestão de tudo aqui dentro. Mas não foi o que aconteceu. Até porque não era o propósito do negócio. Ele estava muito bem-dimensionado. Nós somos uma Fundação. A TV é uma unidade de negócios desta Fundação. Ela não pode perder sua autonomia, não vai ser vendida, não vai ser passada para as mãos de ninguém. Ela não viveu isso em nenhum momento da história. A gente sabe que em algumas situações, quando se associou, a TV Gazeta interferiu mais ou menos em relação ao parceiro, mas com a Globo era um projeto muito claro. Era uma questão da exibição de produtos de que a Globo dispunha. Tínhamos acesso não era ao catálogo, mas ao que eles tinham em arquivo e com possibilidade de liberar para veiculação. Foi uma relação legal. Eu não tenho uma má memória dessa experiência. Desta fase em parceria com a Globo Filmes, um fato importante foi a implantação do novo transmissor Harris, que expandiu o sinal da TV Gazeta. O superintendente-geral, Sérgio Felipe dos Santos, conta: Um momento marcante da TV Gazeta, para mim, foi uma conversa com o Boni. A Gazeta tinha um transmissor RCA. E eu fui discutir à São Silvestre com a TV Globo. Estava falando com um diretor e na outra sala estava o Boni. Ele veio me cumprimentar e eu falei: Você precisa me dar um transmissor. E não é que ele acreditou e me deu? Isso foi marcante. E eu falei: Sério? Poxa! Preciso de um transmissor, não tenho potência. Este episódio, apesar do tom de brincadeira, foi o que abriu as portas para aquela parceria. A implantação presenteada do novo transmissor fez parte do acordo. E, com certeza, foi a maior contribuição desta fase para a história da Gazeta. 64. Reformulações no esporte No dia 6 de julho de 1991, após o recente fim da parceria com a Globo Filmes, a TV Gazeta reformulou sua programação esportiva. Débora Menezes se transferiu para a Rede Bandeirantes meses antes, ficando em seu lugar no Gazeta Esportiva a jornalista Wânia Westphal. O gerente de esportes, Roberto Avallone, aproveitou para marcar a mudança modificando o formato das edições do Gazeta Esportiva. Outro fator que impulsionou as transformações foi a boa audiência do programa no dia 25 de junho anterior, quando o empate de 1 a 1 do Corinthians com o Boca Juniors desclassificou o time brasileiro da Taça Libertadores da América. Os comentários do Gazeta Esportiva deram cinco pontos de Ibope à TV Gazeta, num total de 119 mil televisores assistindo. O Gazeta Esportiva – 1ª Edição passou a ter 15 minutos, começando às 11h45. Oitenta por cento do programa ficou destinado ao futebol e 20% aos demais esportes. Roberto Avallone falou ao jornal A Gazeta Esportiva (5/7/1991) sobre o programa: O 1ª Edição nasceu com outro nome. Era o Momento do Esporte, com a duração de 35 minutos, com câmera aberta (entrevista ao vivo com torcedores) e um link (flash direto de um local ao vivo). Depois o Momento passou a ser ao meio dia. Daí criamos o 1ª Edição, depois o 2ª Edição (que ia ao ar ás 19h00) e o 3ª Edição (encerrando a programação da emissora). Agora vamos aperfeiçoá-lo entrando pela porta da concisão, resumindo as notícias e os comentários o máximo possível. No novo formato Wânia Westphal continuou junto à Avallone, tendo como comentaristas Márcio Bernardes (às segundas-feiras e sábados) e Chico Lang (às terças-feiras). Outro destaque na imprensa foi a questão de que boa parte da equipe de esportes da TV Gazeta era formada por mulheres, indo contra qualquer preconceito de que mulher não entende de futebol ou coisas do tipo. No time que produzia seis programas diários de 15 minutos, além do Mesa Redonda Futebol Debate, destacam-se a editora-chefe de redação de esportes, Ruth Aisemberg, Fátima Roggieri, também em cargo de chefia, a repórter Marisa de França (campeã brasileira de caratê em 1983), a redatora e repórter Luciene Balbino (com o quadro Camisa do Artistas, no Mesa Redonda ), a editora de texto Márcia Flores, a produtora Elô Campanholo. Entre os homens, o produtor Luiz Gomieri (que por anos produziu programas femininos no canal 11), o jornalista Luís Carlos Moreira; na equipe de externas Tomzé Rodrigues (seu nome era Tomzé mesmo), Marcos Isoppo, Acaz de Almeida, Luís Henrique Gurian; na narração das mais diversas competições esportivas Fernando Solera e Carlos Eduardo Leite, o Dudu; e, para finalizar, Chico Lang auxiliando também nas pautas. 65. CNT Gazeta Mais uma fase, novos ares para a TV Gazeta. A oportunidade de finalmente ser vista nacionalmente. Em 20 de dezembro de 1991 a Fundação Cásper Líbero firmou contrato com a Rede OM de Televisão, pertencente ao ex-candidato do PRN ao governo do Paraná, José Carlos Martinez. Do jornal A Gazeta Esportiva (21/11/1991), destaca-se um trecho: O documento foi firmado na sede da Fundação Cásper Líbero, na Avenida Paulista, 900, entre José Carlos Martinez e Constantino Cury, presidente da Fundação. Depois do ato, ambos fizeram um pronunciamento. Martinez disse: A base do nosso entendimento está na ideia de emissoras independentes trabalharem juntas. Constantino Cury foi mais fundo: Esse é um negócio muito bom para as duas organizações, porque não se trata de uma emissora se filiar à outra, mas de trabalhar de forma autônoma, contribuindo para uma programação comum. É a primeira vez que isso acontece no Brasil. [...] São os ventos da CNN, os ventos da modernização, chegando à televisão brasileira. Integravam a Rede OM de Televisão ( OM de Organizações Martinez) as seguintes emissoras: TV Paraná (Curitiba/PR, canal 6), TV Tropical (Londrina/PR, canal 7), TV Maringá (Maringá/PR, canal 6), TV Carimã (Cascavel/PR, canal 10), TV Corcovado (Rio de Janeiro/RJ, canal 9 e ex-TV Continental e TV Record-Rio) e, agora, a TV Gazeta de São Paulo. Além de repetidoras pelo interior do país e afiliadas não próprias em outros Estados. Entre elas as antigas emissoras da extinta RCE (Rede de Comunicações Eldorado): TV Eldorado (Criciúma/SC), TV Xanxerê (Xanxerê/SC), TV Itajaí (Itajaí/SC), TV Cultura (Florianópolis/SC); as emissoras do Grupo SPI: TV SPI (Americana e Campinas/SP); a TV Brasília (Brasília/DF); TV Paraíso (Caxias/MA); TV Mearim (Lagoa da Pedra/ MA); TV Cidade (Machadinho D´Oeste/MA); TV EA (Macapá/AP); TV Gazeta (Cuiabá/MT); TV Cidade (Arquimedes/RD); TV Ferrovia (Guaja-rá-Mirim/RD); TV Ouro Verde (Outo Preto D´Oeste/RD) e TV Serra do Carmo (Palmas/TO). Meio a meio A estreia oficial da Rede OM foi em 30 de março de 1992. E em sua chegada surgiu como um canal possivelmente competitivo entre as emissoras de São Paulo. Em 60% do horário da TV Gazeta foram retransmitidos programas da Rede OM. Em contrapartida, a OM exibiu programas da Gazeta, como Mulheres, Clip Trip, Vamos Sair da Crise, Dinheiro Vivo e Mesa Redonda, em sua programação. Na faixa da Rede OM vários programas estrearam. Programas musicais comandados por Leonor Corrêa ( Blues Jeans ), Jimmy Raw ( Ser... Tão Brasileiro ) e Tamara Taxman ( Coçando o Sábado ). As novelas Árvore Azul (coprodução argentina-americana, infanto-juvenil) e Manuela (coprodução ítalo-americana, escrita pelo autor brasileiro Manoel Carlos). No esporte, veio a Taça Libertadores da América e Hot Sports, com apresentação do locutor Galvão Bueno (que saiu da Globo para ser diretor de esportes da Rede OM – o último programa era coproduzido pela produtora do próprio Galvão). No jornalismo, Imprensa na TV, com Paula Dip e Jornal da OM, com Leila Richers. E, aos domingos, o seriado Os Monkees e o programa de pugilismo Luta Livre. A programação era dirigida por Guga de Oliveira, que chegou a convidar o diretor Walter Avancini para comandar o núcleo de teledramaturgia da emissora, realizando produções próprias. Mas não deu certo. A jornalista Cristina Padiglione escreveu na Folha da Tarde (30/3/1992): Entre filmes, novelas e equipamentos, Guga estima em US$ 15 milhões o investimento inicial da rede. Segundo ele, as negociações com novas filiadas foi o principal motivo do atraso da estreia da OM. Guga afirma que 12 emissoras fecharam contrato com a OM. Entre elas, a rede Amazônica e três TVs em Santa Catarina. Em agosto começaram a atrasar os salários dos profissionais da Rede OM, o que se estendeu até meados de setembro. Demissões também começaram após a OM contratar um grande grupo de profissionais. A rede, considerada inflada por conta dos sindicatos dos jornalistas e dos radialistas, teve seu quadro de funcionários reduzido gradativamente. Quem nos conta mais sobre a Rede OM é Flávio Martinez, irmão e braço direito de José Carlos Martinez. É o atual presidente da CNT. Nós começamos como Rede OM de Televisão. OM era Organizações Martinez. Resolvemos depois fazer um trabalho com agências. E o Agnello Pacheco criou o nome CNT – Central Nacional de Televisão. Entrar em São Paulo nós sempre tentamos. Era preciso, afinal, é o mercado mais importante do Brasil. Assim, nós tivemos um contrato com a Gazeta, que a gente fornecia programação e a Gazeta era parceira nossa no esquema comercial do que era produzido pela CNT, pela OM. Depois viramos CNT Gazeta. Foram sete anos de duração do contrato. Foi muito bem, até o fim. Ambas as partes foram feliz. Nós e eles. E depois nós resolvemos tomar nosso rumo pessoal que era ter • o próprio canal, como nós temos hoje. Nem sempre as coisas vem na velocidade que desejamos. A CNT foi a única rede de TV aberta que foi montada, construída, comprada. As outras todas foram dadas pelo governo: Globo, Manchete, Record, todas foram concessões do governo para seus empresários. Nós compramos um canal dos Diários Associados, compramos um do Paulo Pimentel, compramos o canal do Silvio Santos, compramos • o do Chaim. Nós sempre tivemos uma boa programação. Fizemos nessa época da CNT Gazeta o Clodovil Abre o Jogo (que foi campeão de audiência); inventamos a transmissão da Copa do Brasil – fizemos os dois primeiros anos. Naquele momento nós contratamos o Galvão Bueno e tínhamos vários eventos esportivos. Chegamos a fazer a Libertadores com exclusividade. Eu lembro que nós fomos primeiro lugar de audiência numa semana aqui, onde foram feitas bastantes ações [no início de junho de 1992]. Foi feito também Marília Gabi Gabriela, Rolando Boldrin, o Circulando [primeiro programa que o Luciano Huck fez, com direção do Billy Monte], o Mãe de Gravata, com o Ronnie Von, e o Sérgio Mallandro – que foi primeiro lugar em audiência em São Paulo. Quando fizemos a CNT Gazeta, revelamos um monte de gente: Lucia-no Huck, Adriane Galisteu, Ratinho, todos nomes que viraram nomes nacionais. O contrato com a Gazeta foi cumprido. Primeiro foi de cinco anos e depois teve um aditivo e foi para sete anos. Nós somos muito amigos, me dou muito bem com a Gazeta. A aliança naquele momento foi boa para todos. Nós crescemos e a Gazeta cresceu. Depois, como não tínhamos São Paulo mais, recuamos um pouco, até conseguir o canal 26 UHF. Começamos a fazer programação mais regionais. Hoje voltamos a ter uma programação mais competitiva, com Márcia Peltier, Notícias e Mais, No Pique com o Avallone e Fala Sério. A CNT hoje é uma empresa que está crescendo, presentes em 17 capitais. É um sonho que está se tornando realidade. 66. Hugo: o primeiro programa interativo A CNT Gazeta foi pioneira na interatividade. Foi bem além do TV Pow!, na década de 1980, quando no SBT o telespectador ao gritar Pau! disparava um tiro no videogame do programa. No canal 11, o game-show Hugo, se transformou no primeiro programa interativo do país, a partir de 30 de outubro de 1995, data de sua estreia. Foi exibido em dois horários: 11h30, com apresentação de Matheus Petinatti, e 18h30, com Vanessa Wholker. O programa era uma parceria da CNT Gazeta com a Richers Entretenimento, dirigido pelo conhecido diretor de dublagem Herbert Richers. Através de um sistema chamado ITE 3.000, desenvolvido pela Interactive Television Entertainment (ITE), da Dinamarca, o telespectador podia através do telefone falar com o apresentador da atração e acionar os botões do game, correspondentes aos botões do telefone. O aparelho virava um verdadeiro joystick. Cada botão, uma ação no jogo. O primeiro pedido dos apresentadores, de costume, era que o telespectador que fosse jogar abaixasse o som do televisor de sua casa. Isso porque o som do telefone dava um retorno de áudio (que para os demais telespectadores soaria como um eterno eco ). Depois disso, acompanhando pela televisão e pelo som do telefone, o telespectador dava as ações para o duende Hugo. O enredo da história sempre foi o mesmo. Hugo era um duende que vivia feliz com sua família numa floresta, até que a bruxa Maldícia raptava sua esposa Hugolina e seus três filhos, Rit, Rat e Rut. A missão de Hugo era salvar sua família das garras da bruxa com a ajuda do telespectador. Quinze dias depois da estreia a audiência do game era de 4 a 5 pontos no Ibope. Uma surpresa para todos. Uma boa marca para a CNT Gazeta. Quem atingia 60 mil pontos no jogo ganhava um kit consolação (camiseta, boné e bola). E os três primeiros colocados ganhavam brinquedos e jogos. José Carlos de Toledo, o Billy, câmera de Hugo fala sobre o programa: Ele funcionava na base da telefonia, interagia por telefone. Eu adorava fazer porque o Herbert Richers deixava a gente criar, compor as imagens. Além do telefone, havia um sistema interessante, em que ficava alguém numa cabine, com um capacete. Era o ator que fazia a voz do Hugo. Ele emitia a voz para o boneco e alguns movimentos, além do que era acionado pelo telefone. Tinha uma parafernália de coisas lá com ele, que emitia sinais para interagir também com o Mateus, quando ele resolvia conversar com o Hugo. Capítulo VI Século 21: A volta da Rede Gazeta Uma nova rede, a renovação, a pioneira da TV digital, o BestShopTV e os 40 anos da Gazeta Cronologia (2000-2010) 2000 • 2 de junho: com o término da parceria com a CNT, um dia antes, nasceu a nova Rede Gazeta. É um momento muito importante para a TV Gazeta, disse a superintendente de programação Marinês Rodrigues à Folha On Line. Houve o Super Esporte (segunda a sexta, das 21h30 ás 22h), além da transmissão dos jogos do Campeonato Paulista de Juniores (sábado e domingo). Continuou Marcelo Costa com Festa Sertaneja e Sérgio Mallandro ganhou dois programas: Festa do Mallandro e Só Alegria - nesta época Mallandro era líder de audiência, com audiência média de 5 pontos e picos de 10 no Ibope. A índia Aigó integrou o time de Ligação (seu apresentador, Gutto Morenno, mudou-se para a CNT, assumindo Marcelo Augusto) e Clipper, com Drica Lopes, passou a ser diário (ela que também apresentava o Mulheres Especial, às sextas-feiras, no auditório do 3º andar, dirigido a um público mais jovem). O Em Questão voltou para o horário do meio dia, com Maria Lydia. O Vida de Artista se transformou em Bastidores da Fama. Luís Nassif retornou à programação com Dinheiro Vivo. O Comando da Madrugada, com Goulart de Andrade, também foi mantido na programação. E começou a parceria em janeiro de 2001 com o The Weather Channel, canal americano de previsão do tempo, com boletins durante o dia (apresentados por Michelle Gianella). Iniciouse o Liquida Mix no período da manhã. Nova logomarca foi criada para a TV Gazeta, um G prateado, criado por Richieri Pazzetti. Nessa divisão, o Ronnie Von foi o único que ficou com a CNT. Ele apresentava o Mãe de Gravata. Anos depois mudamos a programação, acabamos com boa parte dos programas e o Ronnie voltou para cá. - conta Marinês Rodrigues. • Agosto: a Rede Gazeta assinou acordo com a Embratel para ser transmitida, a partir de setembro de 2000, via satélite analógico para todo país. Desde 1998 o sinal só era visto por meio de canal de satélite digital, o que limitava sua recepção. Com o novo canal analógico, 10 milhões de pessoas puderam assistir à Rede Gazeta por todo o país. O superintendente-geral da TV, Silvio Alimari (Tico) disse à revista A Imprensa : O acordo com a Embratel inaugura uma nova etapa da emissora. • 2 de setembro: Claudete Troiano foi para a Rede Record apresentar o Note & Anote. Em seu lugar, estreou Márcia Goldschmidt no Mulheres. Leão Lobo já era responsável pelo quadro de fofocas do programa. Foi mantido, às sextas, o quadro Churrasco com os Astros, na laje do 8º andar do Edifício Gazeta. • 24 de outubro: a Rede Gazeta comemorou, com festa no Anhembi, os 20 anos do programa Mulheres. Auditório lotado. • Novembro: o quadro TV Culinária, com Palmirinha Onofre, deixou de fazer parte do Mulheres e se transformou em programa. Exibido de segunda a sexta, das 13h30 às 14h. • Dezembro: Leão Lobo estreou Arroz, Feijão e Fofoca. O programa, apresentado aos sábados, das 14 às 16 horas, era, conforme Leão, levemente inspirado no antigo Almoço com as Estrelas, programa de sucesso na extinta Rede Tupi. Leão contava com o apoio de Cláudia Pacheco na apresentação. 2001 • Janeiro: foi feita uma reformulação grande no departamento comercial da TV Gazeta. Luiz Fernando Taranto Neves, superintendentecomercial da Fundação, supervisionou as mudanças, que deixaram a equipe da seguinte forma: Edson Rocha (diretor-comercial da TV Gazeta), Gilberto Corazza e Sidney Spozito (diretores de publicidade), Alexandre Barsotti, Marcelo Ayello, Juarez Macedo e Sandor Romanelli como executivos de conta. • 1º de janeiro: a TV Gazeta de São Paulo passou a retransmitir suas imagens para o canal 32 de Belo Horizonte (MG), a TV Itatiaia - que passou a usar o nome de Gazeta Minas. Foi o início, propriamente dito, da Rede Gazeta. A emissora contava já com 31 repetidoras de seu sinal. • Fevereiro: a Gazeta fez parceria com a gravadora Trama, transmitindo para toda a rede shows de MPB, sob o nome Movimento Musical Brasileiro. • 21 de março: a TV Gazeta e o jornal Gazeta Mercantil fecham parceria para produção de programas jornalísticos. • Abril: a Gazeta assinou contrato com Amanda Françoso, para apresentar Bastidores da Fama. • 1º de maio: Christina Rocha e Clodovil Hernandes passaram a apresentar o programa Mulheres no lugar de Márcia. Nessa época surgiram a personagem Mamma Bruschetta, interpretada pelo ator Luís Henrique, o quadro Giro do Guerreiro (com Antonio Guerreiro), as reportagens de Regina Guimarães e a culinária de Fábio Arcanjo. Leão Lobo saiu da Gazeta, indo para a Band. • 16 de julho: estreou a nova programação da Rede Gazeta, começando a parceria com a Gazeta Mercantil. A Rede Gazeta lançou o Jornal da Gazeta, às 18h50, com Carlos Sardenberg e Camila Teich; Mercado, às 19h50 (com dez minutos), com Silvia Araújo; e Primeira Página, às 23h45 (com 20 minutos), com Ricardo Lessa. Boletins chamados Gazeta On Line foram inseridos durante a programação da tarde da Gazeta. Gustavo Camargo se tornou editor chefe do jornalismo e Albino Castro, o diretor de conteúdos digitais da Gazeta Mercantil. Os bole-tins poderiam ser visto através do site da Gazeta Mercantil. Nessa fase • o slogan do Jornal da Gazeta era: O jeito novo de ver a notícia. Com • o fim do acordo, Albino Castro continuou como diretor de jornalismo da TV Gazeta e todos os programas foram extintos, menos o Jornal da Gazeta, que ficou sob o comando de Maria Lydia Flandoli. Surgiu também Giro do Guerreiro, com Antônio Guerreiro, e Mundo Clipper, com Drica Lopes. A superintendente de programação da TV Gazeta, Marinês Rodrigues, disse à revista A Imprensa (setembro/2001): Tivemos que ajustar a nossa programação e procuramos fazer isso da melhor maneira possível. Os novos jornais viriam logo depois do Mulheres e, para deixar a passagem mais harmoniosa, trocamos o Gazeta Esportiva de horário. Agora ele entra no ar diariamente às 18h, já que • o esporte é mais democrático. • Julho: depois do grande apagão de luz que o Brasil viveu em 11 de março de 1999, o governo federal, para evitar novo corte de energia elétrica (em 1999, 70% do território nacional ficou no escuro), obrigou que todo o Brasil fizesse um grande racionamento de luz. A Fundação Cásper Líbero precisou cortar 36% de sua energia, reduzindo as operações. Na TV Gazeta, a primeira medida foi desligar os televisores presentes na redação e produções, para evitar o consumo excessivo. Foi desligada a iluminação da torre da TV Gazeta (apenas o pisca-pisca de segurança, que orienta as aeronaves sobre a existência da torre, continuou ligado). O racionamento persistiu até o final de 2002. • 11 de setembro: a política mundial é abalada pelo atentado terrorista ao World Trade Center. O choque dos aviões, nas duas torres, abalou o mundo e sua economia. • 24 de setembro: a TV Gazeta estreou as séries americanas Ally Mc-Beal e Millenium, inéditas na TV aberta. O programa Festa Sertaneja deixou de ser exibido às segundas, 22h15, dando lugar ao Mundo Clipper. Ligação e Bastidores da Fama também fizeram parte dessa nova fase da emissora. 2002 • 20 de fevereiro: Cátia Fonseca foi contratada para apresentar o Mulheres. Com ela permaneceu Mamma Bruschetta e os repórteres. • Maio: uma série de produções independentes estreou na emissora. No dia 1º foi Estilo Ramy, com Ramy Moscovic, trazendo à Gazeta novamente a tradição do colunismo social. No sábado, dia 4, Beleza em Close, com Noeli Santilli, com novidades sobre medicina estética e dicas de beleza. Também no mesmo dia, às 19 horas, o seriado humorístico Spa Fantasia, com grandes nomes do cinema e da TV, mesclado com nomes do teatro: uma criação de Evê Sobral. No dia 5, foi a vez de Oxente Brasil, com a cantora Gallega. Era um programa dirigido ao forró, gravado no Teatro Záccaro. • 2 de setembro: em nota à imprensa a Fundação informou sobre as mudanças estratégicas, consideradas um tanto drásticas: o fim da central de produção. Eis a nota: A Fundação Cásper Líbero informa que, dado o atual cenário macroeconômico, cujos efeitos têm atingido duramente o setor de comunicações, com uma retração sem precedentes no mercado publicitário, deu início a um processo de reestruturação na TV Gazeta. A reestruturação é formada por um conjunto de medidas tomadas para preservar e manter a saúde financeira da Fundação, assegurando condições para retomada do crescimento tão logo o cenário se reverta. Os principais pontos deste programa de reestruturação são os seguintes: 1 - redução de custos fixos; 2 - reorganização operacional; 3 - reestruturação no seu quadro funcional; e 4 - renegociação de contratos com terceiros. Como efeito dessa reestruturação os seguintes programas na área de variedades serão provisoriamente suspensos: (de 2ª a 5ª) Mundo Clipper; Ione; Bastidores da Fama; Mesa Redonda Nova Geração; (de 2ª a 6ª ) Clodovil e (aos sábados) Festa do Mallandro e Giro do Guerreiro. Será mantida a programação em que a TV Gazeta é tradicionalmente bastante competitiva e conhecida pelo público e mercado publicitário: os programas destinados ao público feminino, os esportivos e o jornalismo. Fundação Cásper Líbero Diretoria. Foi mantida a promessa de recontratação da maioria dos funcionários após a reestruturação, o que de fato aconteceu. Ione Borges ficou na geladeira da emissora, Antônio Guerreiro passou a repórter do Mulheres e Celso Cardoso apenas deixou de apresentar o Mesa Redonda Nova Geração, ficando só no Gazeta Esportiva. Os demais foram demitidos. Entre eles, Clodovil, Amanda Françoso, Drica Lopes e Sérgio Mallandro. Foi um corte de 27% dos funcionários do canal (80 pessoas). Escreveu o Jornal da Tarde (4/9/2002): Segundo a assessoria de imprensa da emissora, a hipótese da venda da Gazeta para sanar as finanças está descartada. Ao contrário da TV Manchete, que atrasou salários antes de dar fim à sua grade de programação, a diretoria afirma que a situação pode ser revertida, pois não foram contraídas dívidas altas. O crítico de TV, da Rádio Jovem Pan AM, José Armando Vanucci, lembra: Era uma situação estranha. Muitos colegas da imprensa chegaram a comparar aquele episódio ao fim da Manchete, poucos anos antes. Felizmente tudo não passou de um grande susto e a Gazeta continuou de pé. A diretora Carmen Farão, uma das demitidas naquela data, conta: Teve gente que chorou, mas lembro que a maioria estava em estado de transe, principalmente porque nos foi prometido pela Fundação que, melhorando a situação, a maioria voltaria. Eu, por exemplo, fui uma das que voltei. Naquele dia lembro de mim, Ione, e a equipe. Descemos do prédio e nos reunimos para conversar, fomos comer todos juntos em uma mesma mesa. Acabamos batendo papo, relembrando coisas boas do passado. Sempre foi assim o clima da Gazeta, de família, de grandes amizades. Só depois é que caiu a ficha do que havia acontecido. Tínhamos certeza que uma hora iríamos voltar. • 24 de setembro: o jornal Agora São Paulo diz que Gugu Liberato visitou a TV Gazeta. Uma das hipóteses levantadas pelo jornal era a do apresentador estar interessado em retransmitir a TV Gazeta na emissora a qual havia garantido a concessão em Cuiabá (MT). Outra era o aluguel de horários da noite e madrugada, então ocupados pelo canal de televendas Polishop, para colocação de programas da GGP, produtora de Gugu. Mas não passaram de hipóteses. • 30 de setembro: após ter seu programa noturno eliminado da grade de programação, Ione Borges retornou ao ar, apresentando o matutino Pra Você. 2003 • 1º de janeiro: a Igreja Universal passou a locar o horário nobre da TV Gazeta para exibir seus programas. Um dia antes se encerrou o contrato com a Igreja da Graça, que ocupava o mesmo horário desde setembro de 2002. • Outubro: Roberto Avallone foi demitido da Rede Gazeta. Em seu lugar, assumiu o comando do Mesa Redonda o jornalista Flávio Prado. 2004 • 20 de dezembro: a TV Gazeta, na noite deste dia, fez a primeira edição do Troféu Mesa Redonda, apresentado por Flávio Prado e Michelle Gianella. O troféu ganhou o apelido de Oscar do Futebol Brasileiro. Começava assim a noite de gala do esporte brasileiro. Com a presença de Rogério Cenni, Parreira, Zetti, Zagalo e outros grandes nomes do futebol (e da narração esportiva, como Osmar Santos). • 3 de maio: estreou o programa Todo Seu, com Ronnie Von, de segunda a sexta, das 10h às 12h. Com direção de Ellen Dastry. Marinês Rodrigues falou à revista A Imprensa (junho de 2004): Todo Seu não é apenas mais um programa feminino, ela garante. Cada uma das nossas produções tem um caráter próprio: o ‘Todo Seu’ acrescenta um olhar masculino ao universo feminino; o ‘Pra Você’, da Ione Borges, tem uma pitada extra de cultura e culinária de Palmirinha Onofre; e o ‘Mulheres’, da Cátia Fonseca, é o feminino clássico devidamente atualizado, com receitas, artesanato, reportagens, dicas de beleza etc. O Todo Seu ganhou destaque com o quadro Visão Masculina, em que homens debatiam assuntos do cotidiano e relacionamento. 2005 • Nova gestão da Fundação: o conselho diretor, composto por Paulo Camarda (presidente), dr. Leonardo Placucci Filho (vice-presidente), e dr. Ulysses Vasconcellos Diniz (diretor) foi reeleito pelo conselho curador por unanimidade para o seu terceiro mandato. Ainda nesse ano aconteceu a posse, com mandato até 30 de abril de 2010. • 11 de fevereiro: o jornalismo da TV Gazeta ganhou duas novas edições diárias, batizadas de Gazeta On Line, sempre com a presença de Anna Paola (1ª edição) e Simone Queiroz (2ª edição). A primeira abria a programação própria da emissora, das 11h às 11h10, e a segunda ia ao ar à tarde, das 17h54 às 18h, após o Mulheres. Albino Castro falou para A Imprensa (março de 2005): Foi uma proposta da superintendência de programação e nós da equipe de jornalismo vibramos, pois esse é um espaço importante que a casa dá para a informação. Ainda na gestão de Castro, entraram Luciana Camargo e Laerte Vieira, em 2006. • 28 de fevereiro: o programa Todo Seu transferiu-se para as 22h30. O programa Pra Você se expandiu, então, das 11h10 até às 13h15. E o quadro deste programa, denominado TV Culinária, transformou-se em um programa próprio, das 13h15 às 14h. 2006 • 19 de abril: Marco Nascimento assumiu o cargo de diretor de jornalismo da Rede Gazeta. • 9 de agosto: depois de anos sem debates, a Rede Gazeta promoveu um entre candidatos ao governo do Estado de São Paulo. Nos primeiro e segundo turnos foi feita intensa cobertura das eleições presidenciais daquele ano. No mesmo estúdio, uma mesa debatedora ancorada por Maria Lydia conversava com especialistas, enquanto os resultados de boca de urna e prévias oficiais eram anunciadas ao telespectador pela dupla Laerte Vieira e Luciana Camargo. A Gazeta também realizou o debate de 1º turno entre presidenciáveis, na mesma época. • 10 de julho: a TV Apoio, de Brasília (43 UHF), passou a retransmitir o sinal da Rede Gazeta. Com ela, a TV Gazeta criou uma sucursal em Brasília, com dez pessoas. O acordo entre os canais tinha duração de três anos. A Rede Gazeta era transmitida para 260 municípios em dez Estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul. Florestan Fernandes Jr. fazia a editoria regional do Jornal da Gazeta, com comentários políticos, direto de Brasília. • 11 de dezembro: estreou na Rede Gazeta o BestShopTV, tendo sido contratados para a nova programação Viviane Romanelli, Cláudia Pacheco e novos apresentadores. • Gerências: Douglas Rocha ocupava a função de gerente administrativo, Fábio Rolfo como gerente de operações (com os supervisores Wilson Borges - o Tatu -, Marco Albuquerque e Rodrigo Caires) e gerente de engenharia, Iury Saharovsky. 2007 • 29 de janeiro: realizou-se a terceira edição do Troféu Mesa Redonda, tendo em sua abertura a presença do presidente Lula. O programa foi exibido no dia 4 de fevereiro. • 5 de março: o Todo Seu inovou criando a Mostra de Decoração, que mensalmente decorava o cenário da atração, substituído e montado por novos decoradores, sempre com a supervisão do cenógrafo Marcelo Alencar. Participaram da 1ª Mostra de Decoração: Patrícia Anastassiadis, Dado Castello Branco, Gilberto Cioni, José Roberto Moreira do Valle, Flavio Miranda, Teresinha Nigri, Brunete Fraccaroli, Bya Barros, Alessandro Jordão e Jô Candeloro. E da 2ª Mostra: Léo Shehtman, Consuelo Jorge, Jóia Bérgamo, Zoe Gardini, Titina Leão, Denise Barreto, Lionel Sasson, Camila Klein e Tatiana Moreira, Ângela Tasca, Fernando Piva, Antonio Ferreira Jr. e Mario Celso Bernardes, Debora Aguiar, Alexandre Fantin e Eduardo Siqueira, Maurício Queiroz, Francisco Calio e Marcelo Bacchin. • 5 de outubro: a Rede Gazeta estreou Papo de Amigos, programa de entrevistas e musicais. Com Amanda Françoso, o programa foi ao ar até setembro de 2009 (quando a apresentadora transferiu-se para Rede Record). Sempre às sextas-feiras, 22h. O Papo de Amigos começou com a proposta de fazer uma atração diferente para aquele que não ia sair na sexta-feira ou se preparavam para sair. Música, muito agito, um programa gostoso de fazer – conta Amanda Françoso. • 21 de novembro: com autorização do governo, começaram os testes de TV digital. Foram autorizados oficialmente todos os canais de TV aberta com concessão da cidade de São Paulo. A TV Gazeta acompanhou as demais emissoras, iniciando seus testes no canal 17 UHF. • 2 de dezembro: a TV digital estreou no Brasil. Em São Paulo, a primeira cidade a receber os sinais digitais, teve grande festa na Sala São Paulo. Por um problema de organização, não convidaram a TV Gazeta a participar da festa e integrar o pool de emissoras para o discurso oficial do presidente Lula. A TV Gazeta Digital foi ao ar à sua moda. 2008 • Dezembro: para despreocupar seus funcionários com relação à grande crise mundial deflagrada nesse ano, a Fundação se manifestou. Através de reportagem especial (à publicação interna A Imprensa) o superintendente-geral, Sérgio Felipe dos Santos, declarou: A primeira preocupação da Fundação é manter todos os benefícios e manter as pessoas empregadas. [...] Resumindo: apagou a luz do túnel para todo mundo. Qual a melhor opção? Sair demitindo como um doido, ou procurar manter o túnel até que a luz volte? Eu prefiro manter o túnel. A Fundação evitou horas extras, gastos excessivos em combustível, dando prioridade a investimentos altamente necessários. Analisando caso a caso, não demitiu, como aconteceu em boa parte das emissoras. • Outubro: o Jornal da Gazeta realizou uma série de entrevistas com candidatos à prefeitura de São Paulo. Na mesma época aconteceu o 1º aniversário do Papo de Amigos, gravado no Rio de Janeiro, com uma entrevista marcante com Chico Anysio, afastado da televisão por mais de um ano na época. Esse programa foi muito especial para todos nós. Não tinha como não se emocionar ouvindo um mestre como o Chico Anysio contar sua carreira. Aquela viagem marcou toda a equipe, conta o diretor do programa Laércio Alves, o Lalá. • 8 de dezembro: foi realizada a quinta edição do Troféu Mesa Redonda. A primeira feita logo após o fim do Campeonato Brasileiro, em dezembro (ao invés de janeiro, como era de costume). Nessa edição, os craques que ganharam a Copa de 1958 foram homenageados pelos 50 anos da primeira conquista da Seleção Brasileira. 2009 • Março: começaram as obras no 8º andar. A primeira mudança foi transferir os programas do estúdio A (Mulheres e Todo Seu) para o auditório do 3º andar, desativado como estúdio desde o grande corte de 2002. No 8º, os estúdios foram adaptados para gravações de TV digital. • Final de maio: após longo período no 3º andar, o acervo de filmes e fitas quadruplex da TV Gazeta foi transferido para as dependências da Gazeta Press, no 7º andar, sendo mais bem acondicionado. Passo importante para a recuperação do antigo acervo. • 9 de junho: Claudete Troiano assinou contrato para retornar à TV Gazeta. A negociação durou seis meses, desde que Claudete deixou o SBT, onde apresentava Olha Você. À noite, o crítico de TV José Armando Vanucci anunciou a contratação em primeira mão no Todo Seu, com imagens de Claudete assinando o contrato. Reunida com os superintendentes Silvio Alimari e Marinês Rodrigues, Claudete declarou: Estar na Gazeta é, comparando, como estar no colo da mãe. E tem coisa melhor que colo de mãe? De carinho de mãe? É assim que eu vejo e sinto essa casa. • 14 de junho: Ramy Moscovic voltou para a TV Gazeta, apresentando Entrevista & Cia., aos domingos, 19h30. • 13 de julho: após mais de uma década Ione e Claudete dividiram um mesmo programa. Estreou Manhã Gazeta, ancorado inicialmente por Claudete, que no meio da manhã, às 11h, sempre passava o bastão à colega Ione, que ficava até às 13h30. Com a participação da jornalista Ana Paola com as últimas notícias ao vivo, o chef de cozinha Allan Villa Espejo e a consultora de artes Carol Guaraldo. • 20 de julho: o Jornal da Gazeta estreou a série A Odisseia Lunar: 40 anos, uma série de cinco reportagens realizadas pelo repórter Carlos Bighetti sobre as quatro décadas do primeiro pouso do homem à Lua. Os especiais foram apresentados por Maria Lydia e Luciana Camargo. • 15 de agosto: a Rede Gazeta firmou parceria com a TV Esporte Interativo, detentora dos direitos de exibição dos campeonatos europeus no Brasil. Na parceria estabeleceu-se que a TV Gazeta exibiria, ao vivo, quatro jogos por final de semana (três no sábado e um no domingo), além do telejornal diário Caderno de Esportes, às 22h, e umo videoteipe das 2h às 4h. O contrato vale até o final da temporada de campeonatos europeus, em meados de 2010. A TV Gazeta passou a ser a maior exibidora de futebol na televisão aberta. No acordo, foram exibidos os campeonatos inglês, alemão e italiano. No total, oito horas de programação esportiva. • 1º de novembro: foi lançado o projeto Gazeta 40 Anos. Naquele dia, durante os intervalos da programação, pequenos boletins com imagens de arquivo retrataram a história do canal. As comemorações se estenderam até janeiro de 2010, mês do 40º aniversário da TV Gazeta. • 3 de novembro: a Gazeta atingiu a vice-liderança em audiência, com o jogo Milan 1 x 1 Real Madrid, com picos de 7,3 pontos de audiência. • 4 de novembro: a Rede Gazeta lançou, por mais um ano consecutivo, a campanha beneficente Direito de Viver, em prol do Hospital do Câncer de Barretos. A campanha, promovida durante o programa Todo Seu, manteve-se após a saída de Amanda Françoso (a apresentadora é madrinha do Hospital do Câncer e se transferiu para a Rede Record em setembro). • 8 de dezembro: aconteceu a 6ª edição do Troféu Mesa Redonda, com apresentação de Flávio Prado e Michelle Gianella. 2010 • 25 de janeiro: a TV Gazeta comemorou seus 40 anos de história, com uma programação totalmente direcionada à data: o lançamento do livro Av. Paulista, 900: A História da TV Gazeta, no Teatro Gazeta, e a exibição, no final da noite, do documentário sobre sua história, com diversos depoimentos e imagens de arquivo. 67. A Rede Gazeta Em 2010, nos 40 anos da emissora, a Rede Gazeta está desta forma constituída: • Cabeça de rede: TV Gazeta (São Paulo, SP - canal 11 VHF). • Retransmissoras da TV Gazeta (canais UHF): São Paulo -Amparo (canal 56), Araçatuba (canal 47), Araraquara (canal 17), Araras (canal 31), Barretos (canal 21), Bauru (canal 53), Campinas (canal 18), Caraguatatuba (canal 24), Franca (canal 33), Guaratinguetá (canal 33), Jaú (canal 18), Jundiaí (canal 38), Marília (canal 49), Mococa (canal 48), Orlândia (canal 54), Ourinhos (canal 43), Pereira Barreto (canal 46), Peruíbe (canal 47), Presidente Prudente (canal 30), Ribeirão Preto (canal 19), Rio Claro (canal 47), Santa Rita do Passa Quatro (canal 57), Santos (canal 32), São Carlos (canal 36), São José do Rio Preto (canal 59), São José dos Campos (canal 54), São Roque (canal 34), São Vicente (canal 32), Serra Negra (canal 40), Sorocaba (canal 55) e Votuporanga (canal 14); Goiás – Goiânia (canal 38); Minas Gerais – Uberlândia (canal 39); Paraná – Londrina (canal 46) e Ponta Grossa (canal 40); Pernambuco – Recife (canal 33); Rio de Janeiro - Volta Redonda (canal 58); Santa Catarina – Cascavel (canal 52) e Florianópolis (canal 15). • Afiliadas: Big TV (Cianorte, PR - canal 16), TV Amizade (Umuarama, PR - Walpecar - canal 51), TV Aymoré (Ubiratã, PR – Walpecar – canal 4), TV Caimã (Campo Mourão, PR – Walpecar, canal 2), TV Época (Assis Chateaubriand, PR – Walpecar, canal 9), TV Ativa (Boa Vista, RR – canal 20), Rede Médio Norte (Cuiabá, MS - canal 19), TV Metrópole (Gravataí, RS – canal 30), TV Rauland (Belém, PA, com cobertura estadual – canal 14) e TV Alternativa (São Luís, MA – Sistema WCS de Comunicação, com cobertura estadual - canal 34). 68. Universitários na TV Quem já esteve no Edifício Gazeta sabe como é a integração e a convivência de todas as empresas da Fundação sob um mesmo prédio. E, é claro, a curiosidade dos alunos da faculdade em saber como funciona a TV Gazeta, a Rádio Gazeta... E mais ainda: a vontade de deixar de ser aluno para virar funcionário ou só estagiário. Afinal, a mídia é rodeada de um glamour que envolve todos que a buscam. Mas essa integração, se lembrarem do testamento de Cásper Líbero, vem de lá, quando o dono de A Gazeta revelou seu desejo de criar uma escola onde as pessoas se formassem em jornalismo e, posteriormente, pudessem trabalhar no próprio jornal. Aí o tempo passou, a Fundação se transformou e, quando colocaram a TV Gazeta às pressas no ar, quem estava lá? Os alunos da Cásper Líbero e também do Objetivo, que estudavam no mesmo prédio. Com o apoio da garotada, o Mingau Quente saiu do papel e na televisão todos apareceram dançando e, ao mesmo tempo, salvando a pele da TV Gazeta, para que não perdesse a concessão. Ainda assim a vontade de trabalhar na TV Gazeta aumentava. A proximidade da faculdade para a emissora era cada vez maior: desde 1996, a primeira termina na metade do 6º andar e a segunda começa na outra metade do mesmo andar. Quando não tem algum aluno que erra de andar e invade os domínios da TV Gazeta, é sempre algum curioso a explorar o recinto, só para ver o que é o tal mercado de trabalho que na faculdade tanto se fala. Já vi até cenas curiosas, como algumas universitárias não deixarem o apresentador Celso Cardoso sair direito do elevador do 6º, apenas para pegar autógrafos e falar por um minuto com ele. E os universitários que lotaram o auditório do 3º andar nos programas como Ligação? A mesma coisa! Muitos alunos da Cásper Líbero passaram para o outro lado. Galvão Bueno, Flávio Prado, Mariana Godoy, Maria Cândida, Anna Paola, Michele Giannella, Maria Júlia, Leão Lobo, Maria Lydia... Outros até não passaram pela TV Gazeta, mas estudaram na Cásper, como Gugu (Augusto Liberato), Ana Maria Braga, Celso Freitas, César Tralli, Carlos Nascimento e Rodolfo Gamberini. E há outros que fizeram o caminho inverso, como Heródoto Barbeiro: ele começou na TV Gazeta e foi estudar jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Mas já houve embates entre os dois lados. Em meados da década de 1970 os universitários resolveram perguntar para a direção da emissora porque não aproveitavam alunos no quadro de funcionários. Veja trecho da entrevista, concedida pelo diretor-administrativo Fuad Cury, ao house organ A Imprensa (realizada por alunos da Cásper Líbero), em junho de 1976: Sobre práticas em rádio ou TV, o entrevistado afirmou que pode acontecer, mas não como uma aula onde o professor entra com 10 ou 15 alunos em um estúdio. Isto atrapalharia o andamento de um programa. O que pode ser feito, continuou, é um programa produzido e apresentado pelos alunos, mas teria que ser de nível bom, pois será apresentado ao público. Portanto, não será circuito interno. Para isso, basta que seja apresentado o programa para aceitação ou não, e o problema será resolvido. Fuad não vê porque alunos de jornalismo tenham que entender de técnica, pois para o desempenho dessas funções existem os operadores: Cada macaco no seu galho. Em junho de 1982, com a parceria entre a Fundação e a Editora Abril, criaram-se estágios para os alunos da Cásper nos veículos da Fundação e na Abril Vídeo. Na TV, a editora-chefe de jornalismo, Maria Auxiliadora, ficou responsável pela supervisão dos estagiários. Por conta da abertura aos jovens produtores independentes no início da década de 1980, a TV Gazeta sofreu nova investida dos universitários. E abriu espaço com Ondas Livres, entre 1984 e 1985. Chegou a ser produzido um quadro denominado Propaganda & Publicidade, feito pelos alunos de publicidade da Cásper Líbero. Ainda existia o musical Música com S, produzido pelos alunos de jornalismo da faculdade. Os dois programas duraram pouco. Em 1º de julho de 1995 novamente os universitários ocuparam a tela da TV Gazeta, numa parceria com a Universidade São Judas. Naquela data estreou o programa Geração Universitária. A coordenação do projeto foi do jornalista Luiz Guedes e do professor da São Judas Flávio Prado (sim, o ex-casperiano). Rui Mesquita Chioccarello, diretor de marketing da São Judas, foi responsável pela compra do horário. O programa, produzido por 12 universitários (que cursavam o último ano), começou com reportagens sobre o rali universitário, sobre points frequentados por acadêmicos e uma entrevista com o apresentador Sérgio Groisman. Durou até dezembro de 1995, por razões comerciais, já que o horário era comprado. Mas chegou um dia em que finalmente a TV Gazeta colocou a faculdade para dentro. Nasceu o programa Edição Extra : o primeiro jornal-laboratório da TV aberta brasileira. Todo primeiro domingo do mês, à meia-noite. A apresentadora da TV Gazeta Anna Paola Fragni fez parte do Edição Extra. É ela quem nos conta sobre o programa: Eu fiz o primeiro. Infelizmente eu peguei nos últimos anos. Hoje os alunos têm um laboratório antes de fazer o Edição Extra. Como foi o critério de escolha? Perguntavam quem queria aparecer no vídeo. Não era muita gente, porque muitos tinham medo de câmera. E me chamaram. Eu era e sempre fui a representante de classe, sempre falei mais, então sempre me jogaram: A Anna vai para o ar. E aí eu fiz e foi uma grande recordação que ficou. Quando entrei no Edição Extra estava indo do 2º para o 3º ano. Entrei na faculdade em 1995. A repórter Maria Julia, que trabalha no Bom Dia São Paulo (Rede Globo), começou na atração quando era universitária da Cásper Líbero, no início do século 21. E em 2008, a Fundação Cásper Líbero começou um projeto da inclusão de estagiários da faculdade nos programas da TV Gazeta. O superintendente-geral da Fundação, Sérgio Felipe dos Santos, nos conta: Hoje eles interagem com a gente. Não aceito estagiário servindo como office-boy. Queremos estagiários trabalhando, aprendendo como se faz, trabalhando em conjunto com nossas equipes. Sempre batalhei por isso, pela formação de profissionais. Marco Nascimento, na época diretor do departamento de jornalismo da TV Gazeta, acrescenta: Já que a Fundação possui a estrutura que tem, nada melhor do que formar profissionais que já vivenciam a nossa realidade. Começa na faculdade, passa para TV e se forma não só como aluno, mas como profissional. Isso tem a ver até com os ideais de Cásper Líbero. 69. Gazeta Digital Os projetos para implantação do canal de TV digital da Rede Gazeta começaram com o retorno do engenheiro Iury Saharovsky à emissora, em 2006. Ele nos relata: A minha missão, quando vim para cá, era colocar o canal digital no ar. No dia em que eu pisei aqui, eu já comecei a tomar café da manhã, almoçar e jantar TV digital. Num curto espaço de tempo eu tive que ir atrás de fornecedor, de tecnologia. E tivemos a felicidade e propusemos uma parceria para a Linear, que eles prontamente aceitaram. Levamos quase um ano para colocar o transmissor digital no ar e estamos a praticamente mais de um ano no ar, sem falhas. A ideia de procurar a Linear partiu de mim. Aliás, foi uma coisa interessante porque a Linear é uma empresa 100% brasileira. Ela iniciou como uma empresa incubada dentro de uma universidade lá em Santa Rita do Sapucaí e veio a se tornar o que é hoje. Na época, eles promoveram uma palestra falando sobre o conceito de TV digital, em 2006, logo que voltei para Gazeta. Aí nessa palestra conheci a fábrica, e fazia muitos anos que eu não ia na Linear. Eu fiquei muito impressionado com o estado da arte da tecnologia deles. Aí conversei com um dos sócios e, jogando conversa fora, falei: Poxa, nós podíamos fazer uma parceria. E ele disse: Mas o que a Fundação tem a nos oferecer?, e eu disse: Posso te oferecer um dos melhores pontos do planeta, para você instalar o seu primeiro transmissor, e ele falou: Nós vamos conversar a respeito. Alguns dias depois já estávamos assinando o contrato. A Fundação ofereceu o espaço e a Linear ofereceu o equipamento. Então, na realidade, nós não tivemos um desgaste financeiro de comprar equipamento; e outra coisa, todo mundo estava comprando transmissores importados, que é o que normalmente o povo de engenharia faz e, naquele momento, eu achei que seria muito importante alguém apostar em tecnologia nacional. É uma grande parceria de sucesso. Eu não tenho nem o poder para decidir, mas, graças a Deus, eu tive o apoio do Tico, do Sérgio Felipe dos Santos, porque não era uma decisão fácil. E nós tínhamos um convite inclusive para nos instalarmos na nova estrutura da TV Globo. Íriamos compartilhar, mas achamos por bem, com o apoio da superintendência, seguir o caminho de uma solução doméstica, quer dizer, seria bom se instalar na Globo, mas é sempre bom você estar em casa para resolver qualquer problema. A montagem da antena também foi uma parceria que aconteceu com a NGT, canal 48 UHF. Coincidentemente, o dono da Mectrônica é quem detém a concessão do 48 UHF. Eles tinham uma parceria de dez anos para a utilização da torre da Fundação e o contrato estava se esgotando. Então, como eles representavam a Teracom no Brasil, responsável pelo sistema de antena, linha, combinador, fizemos a parceria em troca da renovação do contrato e da continuação da prestação de serviços à Fundação. Eu acho, sem falsa modéstia, que nós fizemos uma grande coisa. Quem sabe para a história da televisão somos, em São Paulo, a única que está 100% no ar com transmissor nacional. O canal 17 UHF [o digital] já é uma realidade. O colocamos no ar no dia 3 de novembro de 2007, praticamente um mês antes da inauguração oficial da TV digital. Nós já estávamos no ar. Não foi nem em caráter de teste, já entramos em definitivo e estamos até hoje. Com muita satisfação, eu tive a tarefa de receber oficialmente o nosso canal digital em Brasília. Houve uma cerimônia no gabinete do ministro Hélio Costa, onde oficialmente os canais foram contemplados com canais digitais e eu recebi a honra de representar a Fundação Casper Libero nesse evento. Foi em 9 de abril de 2007. Eu tenho uma lembrança ruim do dia 2 de dezembro de 2007. Não imagino o motivo de a Fundação sequer ter sido convidada para a cerimônia de inauguração da TV digital. Sobre este fato, sem explicações a TV Gazeta e a MTV foram excluídas da festa – que aconteceu na Sala São Paulo - e do pool que estreou a TV digital no Brasil. Apenas as emissoras de São Paulo inaugura ram seus canais digitais, com pronunciamento do presidente Lula, da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, e do ministro das Comunicações, Hélio Costa. Eu assisti à estreia, em digital, nesse dia. Após os discurso, teve um clipe com imagens históricas da TV brasileira, introduzidas após um esquete com a fictícia Família Nascimento, que já vinha desde meses antes explicando como funcionaria a TV digital no Brasil. Nesse dia a Rede Gazeta começou com um editorial apresentado por Maria Lydia, com um protesto pela exclusão da TV Gazeta nas festividades. Ironicamente, a emissora que fez tudo pelo padrão em vigência até então, a TV analógica em cores. Depois soube que tal editorial foi uma síntese da carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 29 de novembro de 2007. Nela a Fundação Cásper Líbero manifestava sua indignação pela não participação na estreia da TV digital, em 2 de novembro daquele ano: São Paulo, 29 de novembro de 2007 Excelentíssimo Senhor, Em um momento marcante para todo o País, e em especial para a história da televisão brasileira, a Fundação Cásper Líbero vem manifestar a V. Excelência sua indignação pelo fato de a TV Gazeta ter sido preterida pelas demais emissoras e pelo Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre na solenidade que marca o início das transmissões digitais na cidade de São Paulo, no próximo dia 2 de dezembro. Este fato ganha ainda mais relevância ao considerarmos que o início das transmissões ocorre justamente em São Paulo, cidade com a qual a TV Gazeta é imediatamente associada, e onde mantém sua sede e opera ininterruptamente há quase 38 anos. Inspirada nos ideais visionários do jornalista Cásper Líbero, a TV Gazeta foi inaugurada no dia do aniversário da cidade, em 25 de janeiro de 1970. Nesse período, a emissora cresceu muito, e hoje tem sua programação retransmitida para mais de 300 cidades em dez Estados. É importante ressaltar ainda que a TV Gazeta foi a única emissora a apostar na capacidade tecnológica da indústria do país, ao optar por equipamentos de transmissão de um fabricante genuinamente brasileiro. Em parceria com a Linear Equipamentos Eletrônicos, a TV Gazeta já transmite desde o dia 21 de novembro sua programação em sistema digital e pôde comprovar a qualidade e confiabilidade do equipamento escolhido. Além disso, o transmissor digital da TV Gazeta, instalado pela Linear, foi homologado pela Anatel – e, portanto, opera em total conformidade com as regulamentações legais no País. Nesse momento de indignação, a TV Gazeta reafirma sua postura independente e de compromisso com a sociedade brasileira e com o público telespectador, motivo de sua existência e princípios dos ideais concebidos pelo jornalista Cásper Líbero. Atenciosamente, Sérgio Felipe dos Santos – Superintendente-geral Fundação Cásper Líbero É previsto para 2010, quando se comemora os 40 anos da Rede Gazeta, a compra dos equipamentos que faltam para captação e gravação em HD (high-definition ou alta definição ), o melhor formato digital. Será mais um grande passo para a história da emissora. Em 2009, seus estúdios foram reformados e preparados para receber o novo formato. 70. A nova fase O BestShopTV é o símbolo de uma nova fase na Rede Gazeta. Ele foi inaugurado no dia 11 de dezembro de 2006. Wellington Longo, superintendente de Contact Center da Fundação e implantador do formato do BestShopTV, conta: Nós trabalhamos vários dias sem parar montando os programas do BestShop. Corremos contra o relógio, mas tínhamos uma data para inaugurar. Sei que conseguimos. E me lembro que chamei alguns colegas, sentamos no Contact Center do BestShop para acompanhar a primeira exibição na TV através de um aparelho que existe lá. De repente começou na Gazeta e os telefones começaram a to-car sem parar. Aquilo para nós foi emocionante, sinal de que funcionaria o projeto. A apresentadora Viviane Romanelli foi a primeira escolhida para montar o time do BestShopTV. Conta ela: Eles acharam que eu tinha o perfil do programa. Conheciam bem meu trabalho no Shoptime, o canal de vendas de TV a cabo da Globosat. Viviane apresentou o programa até julho de 2009. Cláudia Pacheco (ex-apresentadora do Pra Você, na Gazeta) também entrou para a equipe, que hoje conta também com Carol Minhoto, Fernando Fernandes, Bruna Del Guerra, Regiane Tapias, Pamela Domingues, Thiago Oliveira e outros. A superintendente de programação da TV Gazeta, Marinês Rodrigues, explica sobre a relação da emissora com o BestShop: Depois da crise em 2002, de 2003 até 2006, se passaram alguns anos. E em um ano as coisas estavam melhores e nos outros havia um entendimento que a nossa capacidade de gerar negócios em mídia tinha um teto. A televisão de fato tinha muita ocupação comercial. Muitos clientes locados aqui dentro e produzíamos um pouco a menos do que seria o ideal para uma emissora que está buscando competitividade. O que se pensou nesses dois anos anteriores é que a Fundação precisava de outra unidade de negócios, que não estivesse baseada em mídia, porque os nossos momentos de crise ou de pior performance sempre acontecem nos mesmos meses. Então é na rádio, na televisão ou para o próprio site que vive de publicidade. Se janeiro é um mês ruim, é ruim para todos. E a Fundação vive da receita de suas unidades. O que se buscou foi um negócio diferente, que pudesse se agregar à carteira dos produtos da Fundação e que fosse uma alternativa, lidando com varejo. Foi o que se desejou com o BestShop. Você não está trabalhando com o mesmo segmento. As receitas podem ser complementares. Durante esse período muitos projetos foram pensados, os superintendentes foram convidados a sugerir também. O Tico, eu, todo mundo foi convidado a sugerir no que a Fundação poderia investir. Mas a decisão de fato de criar o BestShop partiu do Sérgio, que era pelo entendimento de que uma empresa de comércio eletrônico não seria ofensiva aos princípios da Fundação. A gente poderia garantir a questão da qualidade dos produtos, da entrega, não ia trabalhar com picaretagem. E, ao mesmo tempo, ia poder agregar uma nova fonte de receita aos negócios. Aí os esforços se voltaram para a estruturação do BestShop. O Sérgio contratou um executivo do mercado que é o Wellington Longo, que foi a pessoa que estruturou todo o projeto do Contact Center, a parte de tecnologia da empresa com apoio do pessoal de TI da Fundação. Do ponto de vista televisivo, foi todo implantado pela TV Gazeta, mas a gente teve uma participação externa do Pipoca [Antônio Carlos Rebesco] nos primeiros momentos do BestShop, mas como fornecedor, não como gestor do projeto. Na ocasião, não tínhamos na TV a capacidade de absorver todo o trabalho porque era muito e em muito pouco tempo. Então foi necessário contar com o Pipoca, por uns oito a dez meses. Todos os profissionais foram escolhidos aqui dentro. Isso fez parte da estruturação do projeto. O Wellington, como superintendente, tomou todas as decisões em relação ao vídeo. Só em janeiro de 2008 a televisão assumiu o controle completo do programa. Antes. o Wellington capitaneou, inclusive, o que envolvia os artistas. O Tico foi um grande apoiador do projeto desde o início, fazendo assessoria, até que veio totalmente para a TV. Hoje as contratações somos nós que fazemos. Na Gazeta nós adotamos uma postura que é produzir conteúdo com qualidade dentro das nossas possibilidades. Você não nos verá tentando fazer mais do mesmo feito pelas grandes emissoras, até porque nós não temos os mesmos recursos. As limitações, ela existem. Então, nós criamos um conceito de programação que contempla os programas que realizamos com qualidade. Os de conteúdo feminino e de variedades, esporte e jornalismo. E dentro desse foco, que a gente considera como um tripé, nós estamos empenhando os nossos esforços. É óbvio que a tendência e a nossa vontade é que a programação cresça e que a gente aumente o número de produtos, que ocupemos mais horas de programação com produção nossa. Foi uma decisão estratégica de não locarmos mais espaço na emissora. À medida que você loca, muitas coisas acontecem. Você perde a sua identidade, não consegue fazer um bom monitoramento de qualidade, e a televisão vira uma colcha de retalhos. Acontecia isso muito no final de semana. A gente ligava a televisão e não sabia em que emissora estava. Era tudo igual. Você não identificava a emissora sendo a Gazeta. Com isso você não atraía novos telespectadores para a programação de segunda a sexta. Quando se decidiu não mais locar, assumimos que o padrão, a qualidade, a identidade, passariam a ser da emissora para todo e qualquer produto que fosse exibido, ainda que fossem produtos de vendas. A gente criou uma carteira de serviços composta, em primero lugar, pelo BestShop e desenvolvemos o trio Gazeta -Imóveis, Motors e Shop [antes de formar o trio, na TV Gazeta também existiu o Liquida Mix e Super Ofertas]. Essa foi uma decisão que propiciou muitas mudanças e, na minha visão, todas foram muito boas para nós. E, além disso, tem a questão de nós não termos mais intermediários falando em nosso nome no mercado publicitário. Antes criava dúvida no mercado publicitário e agora isso também deixou de existir, com essa nova decisão que foi tomada. Silvio Alimari, superintendente-geral da TV Gazeta, completa: Nós estamos vivendo uma nova fase da Gazeta. Pela primeira vez a TV Gazeta tem um projeto de trabalho, que exclui venda de horário para terceiros, deixamos de colocar qualquer coisa no ar a troco de dinheiro. Eu espero que, se não comigo, mas no futuro, a Gazeta seja mais respeitada do que ela já é e se torne uma grande emissora também. 71. Programação atual E 40 anos depois? Quais são os programas da Rede Gazeta? Conheça um pouco sobre cada um. • Gazeta Esportiva: foi o primeiro telejornal esportivo da emissora, tendo se originado no início dos anos 1990. Possui diversos apresentadores, como Roberto Avallone, Chico Lang, Drika Lopes e Anna Paola. Atualmente é exibido de segunda a sexta, às 18h, com apresentação de Celso Cardoso e Michelle Gianella, além de comentários de Flávio Prado, Chico Lang e Osmar Garrafa. O programa traz a cobertura do dia a dia dos grandes clubes brasileiros, gols da rodada e notícias do mundo esportivo. • • Mesa Redonda: é o programa de debate esportivo mais tradicional da TV brasileira, presente na TV Gazeta desde 1970. Atualmente o comando da Mesa é de Flávio Prado, que apresenta em conjunto com Michelle Gianella. Tem o debate e comentários de atletas, técnicos e artistas, além da banca fixa: Chico Lang, Wanderley Nogueira, Fernando Soléra e Dalmo Pessoa. Todo domingo, 21h30. Direção de João Batista de Souza e Gerência de Esporte de Fátima Roggieri. • Corrida Internacional de São Silvestre: criada por Cásper Líbero, a corrida é transmitida pela TV Gazeta desde 1970. A partir da década de 1980 passou a ser transmitida em pool com a Rede Globo, transferindo-se para o horário da tarde em 1989. A narração da maior prova de atletismo do país é feita, normalmente, por Fernando Soléra, ten-do comentários dos companheiros do esporte. Exibida sempre à tarde do dia 31 de dezembro, véspera do ano novo. • Manhã Gazeta: o programa surgiu em 2009, adaptando o antigo horário do Pra Você, com Ione Borges. A mudança aconteceu com a volta de Claudete Troiano à TV Gazeta. Dirigido ao público feminino, traz variedades, informações médicas e musicais, além de comentários de esporte, com Flávio Prado e Chico Lang. Traz, ainda, boletins informativos durante a atração com Anna Paola, culinária com o chef Allan Villa Espejo e artesanato com Carol Guaraldo. O programa começa às 9h com Claudete, passando para a Ione às 11h10. O Pra Você nasceu no final da década de 1990, quando a emissora separou a dupla Claudete e Ione, ficando Claudete no Pra Você e o Ione no Mulheres, como de costume. Posteriormente, Cátia Fonseca e Cláudia Pacheco também apresentaram a atração. Teve na direção do programa Valdemir Fernandes, José Carlos Alimari, Tereza Domingues, Carmem Farão e Célia Moreira, que continuou como diretora quando o Pra Você se transformou em Manhã Gazeta. O quadro TV Culinária foi criado dentro do programa, na direção de Carmem Farão. • TV Culinária: o programa começou em 1994, com apresentação de Betina Orrico e o chef Alan Villa Espejo. Começou como quadro do Mulheres, passou a ser um programa independente, depois voltou a ser quadro, agora no Pra Você e, posteriormente, como atração independente de novo até os dias atuais. Desde 1999 é apresentado por Palmirinha Onofre, sempre acompanhada pelo amiguinho Huguinho (boneco interpretado pelo manipulador Anderson Clayton há dez anos). De segunda a sexta, 13h10. Eu gosto muito de trabalhar na TV Gazeta. Aqui parece que todo mundo é da mesma família. E se hoje as pessoas me reconhecem, comentam o programa, esse sucesso eu devo à TV Gazeta, fala Palmirinha. • Mulheres: é o mais tradicional programa feminino da TV brasileira, no ar desde 1980. No início foi apresentado por Ione Borges e Claudete Troiano. Depois só por Ione, posteriormente por Claudete (em 2000, quando voltou para a emissora). E, mais para a frente, por diversas duplas: Márcia Goldschimidt e Leão Lobo (que fez também o programa Arroz, Feijão e Fofoca), Clodovil e Christina Rocha e, atualmente, Cátia Fonseca. Sempre com a colaboração de Mamma Brus chetta, interpretada por Luís Henrique, que traz notícias sobre o mundo artístico. Eu tinha me afastado da TV e um dia me convidaram para participar do Mulheres como a Condessa Giovana, do TV Mix. Não tinha a roupa mais, disse ao Leão Lobo, que foi quem me convidou a voltar. Então, improvisamos. Só que no final não ficou idêntico à Condessa. Foi aí que inventamos uma prima dela: a Mamma Bruschetta. Isso foi na época do Clodovil. Aí ele saiu, entrou a Cátia. E como a Mamma era muito má e tal, ela não queria fazer o programa comigo. – conta Luís Henrique. Cátia Fonseca completa: Não queria mesmo. Imagina conviver com uma pessoa má como era a Mamma! Mas aí a direção do Mulheres inventou uma história para repaginar a Mamma, o visual e o jeito dela. Ele ficou um tempo fora do ar. Foi falado que a Mamma teria ido ao Vaticano pedir a bênção do papa para se redimir dos pecados. Luís Henrique conclui: E aí ela tomou um esfrega do papa, que a deixou boazinha, simpática, como é até hoje. No final, eu e a Cátia nos entendemos muito bem, somos hoje unha e carne. Tivemos também quadros saudosos como o Baú da Mamma, que contava a história de artistas do passado. Era muito gostoso. Às sextas-feiras tinha o Mulheres Especial, no auditório do 3º andar, sendo numa época apresentado por Drica Lopes. O programa chegou também a ser apresentado, em fases efêmeras (por mudança ou férias de apresentadores), por Antonio Guerreiro, Amanda Françoso e Cláudia Pacheco, individualmente. De segunda a sexta, 14h. • Todo Seu: com apresentação de Ronnie Von, o programa foi dirigido inicialmente por Ellen Dastry, passando a função à Carmem Farão em 2008. Destaca-se o quadro Visão Masculina e a mostra de cenários, que mensalmente se renovam. Já teve um grande time de colaboradores: Esther Rocha (sobre artistas), José Armando Vanucci (sobre TV), Fábio Arruda (etiqueta – que depois ganhou projeção nacional no reality-show A Fazenda 1, da Record, em 2009), Christian Petterman (cinema), Leôncio Arruda (legislação, direito e seguro), Carolina Santos (nutrição). De segunda a quinta, 21h. Ronnie fala sobre o Todo Seu : O nosso maior objetivo é fazer um programa de qualidade, para que a bonitinha, o bonitão e toda a família possam assisti-lo. A televisão brasileira carece de programas que respeitem o telespectador. E tentamos justamente preencher essa lacuna com o Todo Seu. • Jornal da Gazeta: ancorado por Maria Lydia, é apresentado também por Laerte Vieira e Luciana Camargo. Criado na fase de parceria da Gazeta Mercantil, teve no comando Carlos Eduardo Sardenberg e, posteriormente, Maria Lydia e Anna Paola. A âncora dá ênfase à análises dos principais assuntos políticos, com comentários de Mário Almeida, Mauro Chaves e José Paulo Kupfer, que ocupa interinamente a direção de jornalismo desde a saída de Marco Nascimento, no final de 2009. De segunda a sábado, 19h. O jornalismo da Gazeta nos dá liberdade de abordar os mais diversos temas. É o que todo jornalista quer: um espaço democrático, aberto a análises dos temas, comenta Laerte Vieira. • Gazeta News: boletins diários apresentados por Luciana Camargo, Anna Paola Fragni e Luciana Magalhães. Com uma edição às 17h50 e outra no período da manhã, durante o programa Manhã Gazeta. A apresentadora Luciana Camargo confessa: A Gazeta foi o único lugar em que trabalhei em que fui e sou avaliada como profissional. Cheguei a sofrer discriminição por ser negra e mulher. Na Gazeta, não. Me sinto respeitada. E no Gazeta News faço gosto de encerrar com notícias leves, porque chega daquele noticiário que você assiste e sai carregado, tenso, por conta da gravidade das noticias. • Em Questão: programa de debate político mais tradicional da TV Gazeta, nasceu em 1991 como Gazeta Meio-Dia. Sempre foi apresentado por Maria Lydia Flandoli. Aos domingos, 23h45. • Programa Seguro: programa sobre o mundo das seguradoras e dicas relacionadas ao tema. Com Leôncio Arruda e Carol Minhoto, aos domingos, 20h. Tendo sido anteriormente aos sábado, 19h30. • BestShopTV.com: no ar desde 2006, é uma vitrine eletrônica com vendas diretas por telefone e internet, através do site www.bestshoptv.com. É exibida durante toda a programação da TV Gazeta, inclusive durante os programas da casa. Seus principais horários: segunda a sexta, 8h, 10h e 00h30; sábados, 9h, 13h30, 20h, 21h e 0h. • Gazeta Imóveis: no ar desde abril de 2008, apresenta opções de vendas de terrenos e imóveis novos ou em construção. Apresentado por Bel Lorenço e Cris Melo. Transmitido de segunda a sexta, 0h30 e 8h30; sábado, 11h; e domingo, 12h. • Gazeta Shopping: exibição diária, com vendas voltadas ao mercado de varejo, com ofertas de roupas e serviços. Apresentação de Cris Melo, Marcelo Dias, Adilson Jr. e Michelle Francine. De segunda a sexta, 9h; sábado, 9h, 14h e 22h30; e domingo, 9h15 e 13h. • Gazeta Motors: programa de classificados de carros e demais veículos. Apresentado pelos mesmos apresentadores do Gazeta Shopping. De segunda a sexta, 9h40; sábado, 10h e 13h30; e domingo, 10h. • Outros programas: a TV Gazeta ainda transmite Entrevista & Cia., com apresentação de Ramy Moscovic, sobre o mundo empresarial (direção de Lala Alves), Feiras & Negócios e Perfil Empresarial, com apresentação de Sandro Augusto. E também Esporte Interativo, com jogos dos principais campeonatos da Europa, sem horário fixo (transmite, ainda, o programa Caderno de Esportes) – apresentação de André Henning e distribuição da TV Esporte Interativo, parceira da Rede Gazeta. E retornou, em 2010, o Autoshop, herdeiro natural do antigo Feira Livre do Automóvel (programa independente, realizado pela Matel). Capítulo VII A vida começa aos 40 Quarenta anos, Gazeta. Realmente o tempo voou. O último canal a entrar em operação em São Paulo já chegou à maturidade. Mas sabe qual é o seu maior segredo? Quem te faz. E quem te fez. A história seria outra se não fossem os funcionários. Como disse o Honoré Rodrigues, lá no início do livro: Éramos o exército Brancaleone. Infelizmente o livro se encerra, mas a sua história, TV Gazeta, só está começando. É a hora de mostrar a que você veio e sem ninguém dizer: Mas você não tem o que contar, não tem história. Agora tem. E sabe onde errou, onde acertou, onde pode mudar, onde pode aperfeiçoar. E lá no início, também, coloquei a frase Há um grande passado em nosso futuro. Claro que se remete à importância da Fundação, de Cásper Líbero. Mas, me permitam: para a TV Gazeta eu vou inverter a frase. Há um grande futuro em nosso passado. Quem já foi o que foi, agora que sabe o que plantou, saberá por onde colher. E, como eu disse, a maior riqueza está nos seus funcionários, que merecem o respeito de todas as emissoras. Tem muita gente por aí que não tem o pique de manter uma programação ao vivo, sem parar, como a Gazeta faz. Se eu perguntar ao câmera Billy o que ele acha do que falei, ele vai dizer o seguinte: É gostoso, é gratificante trabalhar aqui. Eu gosto da casa. Falo para o Tico que eu luto pelas argolas, que eu sou uma delas. Quando eu entrei o logo era esse, mas o que quero dizer é que sou parte da Gazeta. Sabe o que acontece, se eu falar Bem, mas na Gazeta... para a jornalista Anna Paola? Ela reage firme, dizendo assim: Ah, Eu já falo... É porque você não sabe metade da história! Tem que ter uma inteligência de fazer a leitura da coisa. Tem que ter respeito, ver que ela é diferente mesmo e oferece um caminho diferente. Por que é que tantos profissionais saíram daqui e foram para outras? A Gazeta está sempre em movimento. Já o Flávio Prado, âncora do Mesa Redonda, vai além: Ela é a cara de São Paulo, que é a mais importante cidade do país. Ela retrata São Paulo, é um SPTV o dia inteiro! É a nossa cara, a nossa casinha, o nosso pé no chão. Isso não tem preço. E a Gazeta cria laços. Bem disse, o Luiz Agustinho, encarregado do Tráfego de fitas: Sabe quando você perde uma pessoa, uma mãe, uma avó e passa a ver o quanto ela era importante para você? É assim que vou me sentir o dia que sair daqui. A TV Gazeta é como se fosse parte da minha família. Laços tão fortes que 40 anos passam como se fosse ontem. E a Gazeta acompanhou a vida de muita gente. Pergunte ao coordenador de programação, Dirceu dos Santos: Foi o meu primeiro emprego. Eu tenho isso aqui como a minha segunda casa. Eu já cheguei a dormir aqui, mas não por questão de trabalho, não. Às vezes eu ficava aqui com o pessoal e dava aquelas horas, ficava tarde. Eu era meio rapazinho ainda e já não tinha mais como ir embora. Aí eu ficava aqui. Tinha uns andares para cima que o pessoal da obra dormia. Eu já fiquei dormindo na minha sala mesmo, no carpete lá. Depois que eu voltei para cá, quero me aposentar aqui, eu gosto muito daqui. Dizem que o primeiro emprego a gente nunca esquece. E eu não esqueci, faço o que eu gosto, e gosto da empresa. Foi coisa do destino. Na segunda eu ia começar como empacotador do mercado, na terça estava na televisão. E o que acontece, se alguém chamar a emissora de Gazetinha ? O editor de pós-produção, Marcelinho Fernandes (também no diminutivo!), vai nos responder: Lembro-me, antes mesmo de fazer parte da família Cásper Líbero, que todos chamavam a TV de Gazetinha. Eu pensava que, sem perceber, os profissionais acabavam menosprezando-a! Eu, àquela altura já trabalhando na casa, abandonava o apelido de Marcelinho pelos mesmos motivos, e foi aí que me dei conta de que o que parecia desdém era na verdade um carinho muito grande. Algo que só quem trabalha na emissora consegue entender. A Gazeta sempre teve algo de mambembe, certa dificuldade de colocar em prática os projetos, as ideias, lidando com limitações orçamentárias. E o que em qualquer outra emissora pareceria uma ofensa na Gazeta, e somente na Gazeta, é um elogio! Isso fazia com que nos desdobrássemos, usássemos a criatividade para superar os problemas. Descobríamos a nós mesmos como excelentes profissionais, capazes de qualquer superação. Ganhava a emissora e ganhávamos nós! E vão continuar ganhando. Quem sabe, daqui a 40 anos, eu escreva um novo livro contando o tanto de coisas que a Gazeta lançou de agora em diante. Quantos novos talentos, quantos novos formatos. É uma coisa de vocação, mais forte que filosofia. E o que lhe é de direito, não tem nem como tentar tirar, porque o maior segredo da Gazeta é a liberdade que ela dá. Por essa razão é que tanta coisa, tantas pessoas se formaram ali. Gazeta e você, juntos há 40 anos Um depoimento pessoal Agora vou deixar de lado um pouco do escritor e pesquisador. Afinal, eu também tenho minhas histórias na Gazeta para contar e que tem a ver com este projeto. Na verdade, minha história vai além de mim. Venho de uma família de jornalistas e radialistas, cuja tradição espontaneamente se mantém desde a virada para o século 20. Meu bisavô, Maurice Louis Francfort, trouxe da França para o Brasil a primeira agência de notícias internacionais: a Agência Havas, que após a guerra se transformou em France Presse. Seu filho, meu avô, Julio Correia Francfort, também trabalhou na Havas e foi fundador da API – Associação Paulista de Imprensa, em 1933. Foi na API que conheceu Cásper Líbero e colegas cujos nomes são simbólicos dentro de A Gazeta, como Galeão Coutinho e Alberto Siqueira Reis. Ele estava naquela festa, quando Cásper voltou do exílio. E, como jornalista da Havas, fez parte da talvez mais antiga parceria da Fundação Cásper Líbero. Cedia para o jornal A Gazeta e A Gazeta Esportiva fotos e matérias da Havas (atualmente, a France Presse fornece fotos para a Gazeta Press). E, na mesma década de 1930, ele lutou pela regularização das oito horas de trabalho, ao fazer parte da Associação Comercial de São Paulo. Era secretário de Francisco Ferreira Jorge, curiosamente o presidente da Fundação Cásper Líbero e responsável pela mudança para o prédio da Avenida Paulista. Mas essa relação, que vai de antes da inauguração da Fundação, acabou evoluindo. Tudo mudou dentro da entidade, poucos ficaram. E aí veio a rádio, depois a TV. Pois bem, quando essa chegou, o filho do Julio, o meu tio Luiz Francfort, foi um dos funcionários da Excelsior que vieram montar a TV Gazeta em 1970. Exatos 40 anos atrás. Foi aqui que ele conheceu minha tia e realizou em televisão suas maiores criações, nas palavras dele. Virou diretor-adjunto do Marco Aurélio, o primeiro diretor-geral da emissora. Enquanto um atacava de um lado, o outro ia de outro. E implantou as cores, ajudou na torre, adotou realmente esta TV. Pelas histórias dele, adquiri um carinho especial pela Gazeta, lugar que frequento também desde cedo. Meus irmãos também passaram por aqui. E não para por aí: minha noiva é formada pela Cásper e chegou a estagiar dentro do Edifício Gazeta, enorme a coincidência! Na década de 1990 eu, mais novo, comecei a colaborar na entrega das fitas com matérias da sucursal da Gazeta na Baixada Santista. Meu irmão, o Arthur, era o responsável e eu voluntariamente passei a ajudá-lo. Foi assim que a Gazeta entrou pela primeira vez na minha vida. Transportava aquele bando de fita para o tráfego e tinha que ser rápido. Sabe como é, estacionamento na Paulista é caro! Então, descia correndo do carro, levava as fitas e voltávamos. Dava para dar um oi rápido, trocar umas palavras, mas sempre na corrida. Aí eu cresci, me formei. Muito devo àquele início na Gazeta na escolha profissional. Sou radialista. Fui parar na Pró-TV, a associação presidida pela Vida Alves, que deseja criar o Museu da TV. Comecei a produzir o jornal da entidade e passamos a mandá-lo para as emissoras. Lembrei daquele pessoal da Gazeta, do Tico, que fazia tempos que eu não via. E foi por seu intérmédio que, por anos seguidos, eu vinha trazer o jornal na Gazeta. Aí fui convidado a escrever meu primeiro livro, em 2004, pela Coleção Aplauso. Era sobre a Rede Manchete. Entrevistei mais cem ex-funcionários (quantidade próxima de entrevistados que fiz para este livro que leem agora). E passei a ir de emissora em emissora buscando ex-funcionários. Lembrei novamente da Gazeta. Tatu! Sim, o sr. Wilson Borges, o supervisor de operações com mais tempo de casa na Gazeta. Conversei com ele, também com o Tico, e me liberaram para fazer as entrevistas. Lembro do dia em que eu cheguei na Gazeta e o Tatu me fez passar uma vergonha na entrada da técnica do 6º andar, falando alto: Garoto! Como você cresceu! E eu, que por incrível que pareça, sou um pouco tímido, me surpreendi com a espontaneidade do Tatu. Achava até que ele nem lembrava mais de mim, pelo tempo que fiquei sem ir à técnica. E ele, antes, trabalhava como supervisor tanto na Manchete como na Gazeta. Revi pessoas, fiz até novas amizades. Aí o Rubens Ewald Filho me incumbiu de uma difícil tarefa: escrever o primeiro livro da Coleção Aplauso sobre uma emissora ainda em atividade. De todas as extintas, ou foram publicados livros ou estavam em preparação. Sugeri, claro, a querida Gazetinha. É diferente de escrever uma história de uma emissora extinta, porque a história se mexe, os fatos mudam, os personagens estão vivos... e trabalhando! Surpresas aconteceram, inclusive até a volta da dupla Claudete e Ione num mesmo programa, depois de tantos anos. Aí passei a ir direto, acompanhar a rotina da Gazeta novamente e sabatinar funcionários e ex-funcionários. Todos, sem exceção, da segurança até a presidência da Fundação, foram formidáveis. Tive comigo mais de 5 mil coautores diariamente. E acabei ganhando até apelidos carinhosos. Um deles, da Carmem Farão: Gazetólogo. E, no meio da produção do livro, lançaram o Ambulatório Nelson Líbero – passei de tempos em tempos a explicar quem era o Nelson Líbero e até a dar entrevistas para faculdade e para pesquisadores, que apareciam na Gazeta Press querendo saber sobre a história da Fundação, da TV Gazeta e até do Cásper. Eu passei a ver em vários funcionários - após me perguntarem alguma coisa relacionada à história – um olhar de mais orgulho por onde trabalham. Resgatar essa história realmente era algo necessário. Levar ao público quem foi Cásper Líbero e quais foram as grandes iniciativas da TV Gazeta e da Fundação eram necessário. Foi uma responsabilidade muito grande. Um dia fui procurado pelo Marco Nascimento, diretor de jornalismo, que pensou no meu nome para o projeto Gazeta 40 Anos. Projeto que antes eu tentei plantar aqui, no sentido de a casa fazer, mesmo que sem mim (não é todo dia que se tem uma data simbólica como esta). Ele disse que a Marinês Rodrigues o tinha incumbido de pensar num projeto. Ele pensou em mim, eu topei e ele foi conversar com a Marinês sobre a minha entrada. Ela gostou e a história chegou ao Sérgio Felipe e também ao Tico, que me deram seus votos de confiança. Eu acredito em sinergia, de pensamentos que surgem ao mesmo tempo de maneira parecida. E, sabendo que a Marinês tinha dado o aval, eu senti confiança no projeto. Isso porque tempos antes nós havíamos conversado sobre um especial que a Gazeta fez em 1990, pelos seus 20 anos. Eram 15 minutos, apresentados no 40 anos de TV, série da TV Cultura sobre a história da televisão brasileira. E ela estava na produção, foi uma das preocupadas em levantar essa bandeira lá atrás. Com certeza nada seria feito sem o apoio dessa direção. Eu sei que mesmo com pouco tempo para formatar tudo, o projeto Gazeta 40 Anos foi nascendo. De outubro de 2009 à 25 de janeiro de 2010 me juntei ao jornalismo, ao Marco, que soube delegar as devidas funções como coordenador do projeto. E com o nosso grupo, que posso dizer pequeno mas aguerrido (assim como toda Gazeta também é), passamos a trabalhar mentalmente e executivamente o projeto pelo menos umas 48 horas por dia, se é que isso é possível! Virei consultor e produtor-executivo do projeto. O Hélio Jacintho, nosso editor de texto, formatava os roteiros, enquanto eu ia dando suporte a ele. Aí veio o Renato Rocha, chefe de reportagem, que muito nos auxiliou em agendar as entrevistas (sim, também virei repórter das sonoras e diretor nas externas) e a equipe do Marco Froner, sempre ajustando as escalas. E, para completar, o Cadu (Carlos Eduardo Lenza), editor de imagem, e os profissionais do tráfego, Luiz Agustinho, Sinão, Reinaldo, e Ribeiro, que ajudaram a mexer no manancial que garimpamos. E o pessoal da copiagem, que ralou mudando as imagens de um formato para outro. Também o jornalista Luiz Marcondes, que deu um apoio na pesquisa de imagens. Na verdade, todos da TV Gazeta, sem exceção, porque o projeto foi crescendo e ganhando o apoio de todos. Os que citei antes eram os mais próximos, mas também não deixo de citar os câmeras. Seria pecado eu colocar o nome de um, já que todos ajudaram e deram uma visão mais cinematográfica às sonoras e inserts. Capricharam, saindo do padrão para uma produção mais elaborada em termos de imagem e luz. Teve dia em que os câmeras disputavam quem ia comigo, já que as famosas histórias de corredor eram ali contadas, com caráter histórico. Um deles até me disse, numa das reportagens com pioneiros da TV Gazeta: Elmo, é muito importante para a gente essas histórias. Afinal, nós somos o hoje, a realidade atual, do que eles construíram. Aquela frase para mim foi sensacional, como diria o Tico. É o que uma empresa precisa, seja ela qual for, se dar conta de sua história para crescer. Ter registro para aprender, aperfeiçoar. Foi um sentimento de dever cumprido. Outra coisa foi quando convenci o Richie (Richieri Pazzetti) a recriar as logomarcas da TV Gazeta desde 1970. Dei as bases, antigas, já desbotadas, com sinais do tempo, e ele reconstruiu tudo com a equipe da computação gráfica. Com o Honoré Rodrigues, pioneiro do primeiro dia da TV Gazeta, recriamos e ele refez o discurso inaugural 40 anos depois. Todo mundo colaborou. Não posso falar de outros casos, senão seria injusto com alguém. Mas cito também o apoio externo, da TV Cultura, para transformar as quadruplex da TV Gazeta. E aí, colocamos o projeto na tela, nos corredores da TV Gazeta, na Internet. No dia 1º de novembro de 2009 começaram as comemorações, quando os primeiros boletins foram ao ar pela TV Gazeta. E aí, fixouse a assinatura: Gazeta e você, juntos há 40 anos. Agradecimentos Agradeço, em especial, à direção da Fundação Cásper Líbero e da TV Gazeta (e aos que dela fazem parte), como também à Gazeta Doc/Gazeta Press, à Rádio Gazeta, à Faculdade Cásper Líbero, que abriram as portas e os arquivos para desvendar a própria importância que possuem. Nominalmente dedico: A Luiz Francfort e Nina (Regina da Glória Lopes), pioneiros da TV Gazeta, onde se conheceram e formaram o primeiro casal de funcionários da emissora. A Marcela Bezelga, meu braço direito para a criação deste livro e também à minha família. A Vida Alves, que sempre fez questão de batalhar para que um dia se fizesse justiça à TV Gazeta, da qual fez parte. Postumamente, a Marco Aurélio Rodrigues da Costa, representando todos os funcionários que já se foram e que se dedicaram ao canal 11. E, mais do que especial, a Cásper Líbero, que não viu nascer seus dois últimos sonhos: a Fundação e a TV Gazeta. Superintendentes: Sérgio Felipe dos Santos (e secretária. Rose), Silvio Alimari (e secretária Rosângela), Marinês Rodrigues (e secretária Vanessa), Luiz Fernando Taranto Neves (e secretária Rosely), Paulo Camarda (e secretária Ivone e Regina), Ângela Esther de Oliveira (e secretária Ivânia), Wellington Longo (e secretária Andréa), Júlio Deodoro e Beto Rivera (secretária Enaide); Gerências: Douglas Rocha (e secretária Danielli), Fabio Rolfo, Rogério Brandão e Iury Saharovsky (e secretária Mônica e Valdir); Supervisores: Wilson Borges (Tatu), Marco Albuquerque e Rodrigo Caíres; Marco Nascimento (e secretária Antônia), Hélio Jacintho e departamento de jornalismo; Copiagem de fitas: Henrique e Rita. Biblioteca Prof. José Geraldo Vieira/Faculdade Cásper Líbero: Silvia Arata Martins Pontes, Daniela Paulino Cruz Bissolato, Letícia Marina dos Santos, Lígia Cristina dos Santos Nunes, Luís Carlos Pereira, Agamenon Picolli Leite, Alessandra Aparecida Moreira, Aruana Marcondes, Clarisse Pastorin, Nataly Munhoz de Oliveira, Noadia Santos Costa de Oliveira, Diogo De La Torres Kubota e Fabiana Coutinho Conserva; Centro de Documentação TV Cultura (Fundação Padre Anchieta); Denise Pragana e Alexani Barbosa (Assessoria TV Cultura); Silvia Marques (Biblioteca - TV Cultura), Luiz Marcondes; Carlos Bighetti; o grupo Délio Santiago, Felipe Zboril, Henrique Peres, Juliana Mello, Rafael Torres; Maria do Rosário Caetano; a equipe da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. A Fabio Rolfo, e: Gazeta Press: Luiz Casimiro de Queiroz, Juliana Miyuki Kobayashi, Alessandro R. Ramos, Ivo Camanzano e Walter Pimentel); Assessoria TV Gazeta (Débora dos Santos); Tráfego de Fitas (TV Gazeta): Luiz Agustinho, Sinão, Ribeiro e Reinaldo; Discoteca Rádio Gazeta: Márcio de Paula e equipe; Rádio Gazeta AM: prof. Pedro Vaz; Richieri Pazzetti e equipe. Colaboradores: Billy (José Carlos de Toledo), Carmem Farão, Célia Moreira, Fátima Roggieri, Gabriel Priolli, Dirceu dos Santos, Celso Berne, Gláucia Ferreira, José Armando Vanucci, Leane Fava, Magnólia (Programação), Marcelinho Fernandes, Márcio Gabriel, Neusa Barberini, Paula Dip e Regiani Ritter; Faculdade Cásper Líbero: profa. Tereza Vitalli e prof. Welington Andrade; Alzira F. Ankerkrone, Arthur Ankerkrone, Clarice Amaral, Carlito Adese, Claudete Troiano, Fábio Siqueira, Fernando Morgado, Guilherme Araújo, Honoré Rodrigues, Ione Borges, Julio Francfort, Lígia Dotti, Luiz Gomieri, Ricardo Xavier (Rixa), Solange Serpa, Stella Liberato, Vida Alves e Wilma Aguiar; Pró-TV – Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da Televisão Brasileira; Segurança, Recepção e Brigada de Incêndio (Fundação Cásper Líbero). E a todos os entrevistados e funcionários da Fundação Cásper Líbero, além de todos que de alguma forma me apoiaram nesta obra. Bibliografia Livros MENDES JR., Osmar. O Despertar da TV: Anotações de um Telespectador Pioneiro. São Paulo : Scortecci, 2002. AMORIM, Edgar Ribeiro de. TV Ano 40 : Quadro cronológico da Televisão Brasileira : 1950 – 1990. São Paulo: CCSP, 1990 ALVES, Vida. Vida – Uma Mulher! São Paulo: Totalidade, 2002 MATTOS, Sérgio Augusto Soares, 1948. História da Televisão Brasileira: uma visão econômica, social e política. Petrópolis : Vozes, 2002 BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Mercado Brasileiro de Televisão. 2. ed. ver. e ampl. São Cristóvão : Universidade Federal de Sergipe ; São Paulo : Educ, 2004 CAETANO, Maria do Rosário. Fernando Meirelles : Biografia Prematura. São Paulo : Imprensa Oficial de São Paulo ; Cultura – Fundação Padre Anchieta, 2005 AMAURY JUNIOR. Flash: Fora do Ar. 3. ed. São Paulo : Elevação, 1999 XAVIER, Rixa; SACCHI, Rogério. Almanaque da TV : 50 Anos de Memória e Informação. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 Jornais e revistas A Imprensa (house organ da Fundação Cásper Líbero), A Gazeta, A Gazeta Esportiva, A Gazeta Ilustrada, Revista Veja, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, Revista Meio & Mensagem, Re-vista Intervalo Sites http://www.fcl.com.br http://www.gazetapress.com.br http://www.memoriaglobo.com.br http://www.museudatv.com.br http://www.tvcultura.com.br/40anos/ http://www.tvgazeta.com.br http://www.tvgazeta.com.br/40anos/ http://www.tv-pesquisa.com.puc-rio.br/ Índice No Passado Está a História do Futuro – Alberto Goldman 5 Coleção Aplauso – Hubert Alquéres 7 Introdução – Elmo Francfort 11 A importância da TV Gazeta – Fundação Cásper Líbero e Pró-TV/Museu da Televisão Brasileira 13 Alicerces: de A Gazeta à televisão 15 Inauguração: a estreia oficial da TV Gazeta 71 Anos 1970: a primeira década 91 Anos 1980: parcerias e parceirinhas 245 Anos 1990: Conexões interestaduais 339 Século 21: A volta da Rede Gazeta 373 Crédito das fotografias Acervo Beto Rivera 286 Acervo Billy 326 Acervo Carlito Adese 222 Acervo Clarice Amaral 112, 114, 116, 118, 119, 120, 121, 126, 127, 128, 130, 131, 141 Acervo Claudete Troiano 152, 256, 258, 260, 262, 264, 374 Acervo Elmo Francfort 74, 187, 269, 272, 295 Acervo Fabio Rolfo 279 Acervo Guilherme Araújo 289 Acervo Honoré Rodrigues 153 Acervo Iury Saharovsky 391 Acervo Luiz Casimiro 267 Acervo Luiz Francfort 135, 209, 210, 213, 214, 216, 225, 229, 230, 238, 239 Acervo Luiz Gomieri 170 Acervo Marinês Rodrigues 123, 354, 372, 385 Acervo Museu da TV 108, 143, 163, 235, 282, 306 Acervo Paula Dip 328, 326 Acervo Revista A Imprensa 269, 300 Acervo Rogério Brandão 336 Acervo Solange Serpa 301, 313, 314, 315, 318 Acervo Stella Liberato 42, 236 Acervo Tráfego de Fitas TV Gazeta 291 Acervo Wilma Aguiar 145, 147, 148 A Gazeta 85 Divulgação Fernando Meirelles 321 Divulgação Hugo 371 Divulgação Mister Sam 286 Divulgação NASA 83 Divulgação Sérgio Mallandro 355 Divulgação TV Gazeta 375, 387, 397, 398, 401, 402 Gazeta Press 16, 17, 18, 19, 21, 24, 28, 30, 31, 35, 36, 37, 39, 40, 42, 45, 47, 48, 49, 50, 52, 60, 66, 69, 76, 79, 81, 90, 92, 104, 106, 146, 156, 158, 159, 161, 164, 173, 175, 177, 183, 180, 190, 192, 193, 197, 200, 201, 203, 222, 225, 236, 238, 241, 244, 274, 277, 285, 293, 297, 305, 312, 315, 318, 325, 331, 333, 341, 357, 360, 361, 365, 371, 383 Reprodução MTV 289 Richieri Pazzetti 385, 388, 393, 404 A despeito dos esforços de pesquisa empreendidos pela Editora para identificar a autoria das fotos expostas nesta obra, parte delas não é de autoria conhecida de seus organizadores. Agradecemos o envio ou comunicação de toda informação relativa à autoria e/ou a outros dados que porventura estejam incompletos, para que sejam devidamente creditados. Coleção Aplauso Série Cinema Brasil Alain Fresnot – Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot Agostinho Martins Pereira – Um Idealista Máximo Barro Alfredo Sternheim – Um Insólito Destino Alfredo Sternheim Ana Carolina – Ana Carolina Teixeira Soares – Cineasta Brasileira Evaldo Morcazel O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias Roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger Anselmo Duarte – O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Antes Que o Mundo Acabe Roteiro de Ana Luiza Azevedo Antonio Carlos da Fontoura – Espelho da Alma Rodrigo Murat Ary Fernandes – Sua Fascinante História Antônio Leão da Silva Neto O Bandido da Luz Vermelha Roteiro de Rogério Sganzerla Batismo de Sangue Roteiro de Dani Patarra e Helvécio Ratton Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak – Fragmentos de uma Vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra – Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person O Céu de Suely Roteiro de Karim Aïnouz, Felipe Bragança e Maurício Zacharias Chega de Saudade Roteiro de Luiz Bolognesi Cidade dos Homens Roteiro de Elena Soárez Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero O Contador de Histórias Roteiro de Luiz Villaça, Mariana Veríssimo, Maurício Arruda e José Roberto Torero Críticas de B.J. Duarte – Paixão, Polêmica e Generosidade Luiz Antonio Souza Lima de Macedo Críticas de Edmar Pereira – Razão e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas de Inácio Araújo – Cinema de Boca em Boca: Escritos Sobre Cinema Juliano Tosi Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda Leão Críticas de Ruben Biáfora – A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista – Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Os 12 Trabalhos Roteiro de Cláudio Yosida e Ricardo Elias É Proibido Fumar Roteiro de Anna Muylaert Estômago Roteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade Feliz Ano Velho Roteiro de Roberto Gervitz Feliz Natal Roteiro de Selton Mello e Marcelo Vindicatto Fernando Meirelles – Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano Fim da Linha Roteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Storyboards de Fábio Moon e Gabriel Bá Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Francisco Ramalho Jr. – Éramos Apenas Paulistas Celso Sabadin Geraldo Moraes – O Cineasta do Interior Klecius Henrique Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta Cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton – O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito Ivan Cardoso – O Mestre do Terrir Remier Jeremias Moreira – O Cinema como Ofício Celso Sabadin João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jogo Subterrâneo Roteiro de Roberto Gervitz Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Antonio Garcia – Em Busca da Alma Feminina Marcel Nadale José Carlos Burle – Drama na Chanchada Máximo Barro Leila Diniz Roteiro de Luiz Carlos Lacerda Liberdade de Imprensa – O Cinema de Intervenção Renata Fortes e João Batista de Andrade Luiz Carlos Lacerda – Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla – A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Mauro Alice – Um Operário do Filme Sheila Schvarzman Máximo Barro – Talento e Altruísmo Alfredo Sternheim Miguel Borges – Um Lobisomem Sai da Sombra Antônio Leão da Silva Neto Não por Acaso Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Narradores de Javé Roteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu Olhos Azuis Argumento de José Joffily e Jorge DuranRoteiro de Jorge Duran e Melanie Dimantas Onde Andará Dulce Veiga Roteiro de Guilherme de Almeida Prado Orlando Senna – O Homem da Montanha Hermes Leal Ozualdo Candeias – Pedras e Sonhos no Cineboca Moura Reis Pedro Jorge de Castro – O Calor da Tela Rogério Menezes Quanto Vale ou É por Quilo Roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi Radiografia de um Filme: São Paulo Sociedade Anônima Ninho Moraes Ricardo Pinto e Silva – Rir ou Chorar Rodrigo Capella Roberto Gervitz – Brincando de Deus Evaldo Mocarzel Rodolfo Nanni – Um Realizador Persistente Neusa Barbosa Salve Geral Roteiro de Sergio Rezende e Patrícia Andrade O Signo da Cidade Roteiro de Bruna Lombardi Ugo Giorgetti – O Sonho Intacto Rosane Pavam Viva-Voz Roteiro de Márcio Alemão Vladimir Carvalho – Pedras na Lua e Pelejas no Planalto Carlos Alberto Mattos Vlado – 30 Anos Depois Roteiro de João Batista de Andrade Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende Série Cinema Bastidores – Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Série Ciência & Tecnologia Cinema Digital – Um Novo Começo? Luiz Gonzaga Assis de Luca A Hora do Cinema Digital – Democratização e Globalização do Audiovisual Luiz Gonzaga Assis De Luca Série Crônicas Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças Maria Lúcia Dahl Série Dança Luis Arrieta – Poeta do Movimento Roberto Pereira Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo – Dança Universal Sérgio Rodrigo Reis Série Música Maestro Diogo Pacheco – Um Maestro para Todos Alfredo Sternheim Rogério Duprat – Ecletismo Musical Máximo Barro Sérgio Ricardo – Canto Vadio Eliana Pace Wagner Tiso – Som, Imagem, Ação Beatriz Coelho Silva Série Teatro Brasil Alcides Nogueira – Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta – Circo e Poesia Danielle Pimenta Bivar – O Explorador de Sensações Peregrinas Maria Lucia Dahl A Carroça dos Sonhos e os Últimos Saltimbancos Roberto Nogueira Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Jefferson Del Rios – Volume I – Crítica Teatral Org. Jefferson Del Rios Críticas de Jefferson Del Rios – Volume II – Crítica Teatral Org. Jefferson Del Rios Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior Federico Garcia Lorca – Pequeno Poema Infinito Antonio Gilberto e José Mauro Brant Ilo Krugli – Poesia Rasgada Ieda de Abreu João Bethencourt – O Locatário da Comédia Rodrigo Murat José Renato – Energia Eterna Hersch Basbaum Leilah Assumpção – A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu – Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau – Artista Múltiplo Leila Corrêa Renata Palottini – Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Abílio Pereira de Almeida Abílio Pereira de Almeida O Teatro de Aimar Labaki Aimar Labaki O Teatro de Alberto Guzik Alberto Guzik O Teatro de Antonio Rocco Antonio Rocco O Teatro de Cordel de Chico de Assis Chico de Assis O Teatro de Emílio Boechat Emílio Boechat O Teatro de Germano Pereira – Reescrevendo Clássicos Germano Pereira O Teatro de José Saffioti Filho José Saffioti Filho O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso – Pólvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Antonio Bivar: As Três Primeiras Peças Antonio Bivar O Teatro de Eduardo Rieche & Gustavo Gasparani – Em Busca de um Teatro Musical Carioca Eduardo Rieche & Gustavo Gasparani O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora – Os Cantos de Maldoror – De Profundis – A Herança do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Marici Salomão Marici Salomão O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Rodolfo Garcia Vasquez – Quatro Textos e Um Roteiro Rodolfo Garcia Vasquez O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor – A Terra Prometida Samir Yazbek O Teatro de Sérgio Roveri Sérgio Roveri Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda – Quatro Décadas em Cena Ariane Porto Série Perfil Analy Alvarez – De Corpo e Alma Nicolau Radamés Creti Antônio Petrin – Ser Ator Orlando Margarido Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Arllete Montenegro – Fé, Amor e Emoção Alfredo Sternheim Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros Rogério Menezes Aurora Duarte – Faca de Ponta Aurora Duarte Berta Zemel – A Alma das Pedras Rodrigo Antunes Corrêa Bete Mendes – O Cão e a Rosa Rogério Menezes Betty Faria – Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati – Luz Natural Carlos Alberto Mattos Carmem Verônica – O Riso com Glamour Claudio Fragata Cecil Thiré – Mestre do seu Ofício Tania Carvalho Celso Nunes – Sem Amarras Eliana Rocha Cleyde Yaconis – Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso – Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Débora Duarte – Filha da Televisão Laura Malin Denise Del Vecchio – Memórias da Lua Tuna Dwek Dionísio Azevedo e Flora Geni - Dionísio e Flora: Uma Vida na Arte Dionísio Jacob Ednei Giovenazzi – Dono da Sua Emoção Tania Carvalho Elisabeth Hartmann – A Sarah dos Pampas Reinaldo Braga Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da Vida Maria Leticia Emilio Di Biasi – O Tempo e a Vida de um Aprendiz Erika Riedel Etty Fraser – Virada Pra Lua Vilmar Ledesma Ewerton de Castro – Minha Vida na Arte: Memória e Poética Reni Cardoso Fernanda Montenegro – A Defesa do Mistério Neusa Barbosa Fernando Peixoto – Em Cena Aberta Marília Balbi Geórgia Gomide – Uma Atriz Brasileira Eliana Pace Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no Ar Sérgio Roveri Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do Cinema Maria Angela de Jesus Haydée Bittencourt – O Esplendor do Teatro Gabriel Federicci Ilka Soares – A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache – Caçadora de Emoções Tania Carvalho Irene Stefania – Arte e Psicoterapia Germano Pereira Isabel Ribeiro – Iluminada Luis Sergio Lima e Silva Isolda Cresta – Zozô Vulcão Luis Sérgio Lima e Silva Jece Valadão - Também Somos Irmãos Apoenam Rodrigues Joana Fomm – Momento de Decisão Vilmar Ledesma John Herbert – Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa Jonas Bloch – O Ofício de uma Paixão Nilu Lebert Jorge Loredo – O Perigote do Brasil Cláudio Fragata José Dumont – Do Cordel às Telas Klecius Henrique Laura Cardoso – Contadora de Histórias Julia Laks Leonardo Villar – Garra e Paixão Nydia Licia Lília Cabral – Descobrindo Lília Cabral Analu Ribeiro Lolita Rodrigues – De Carne e Osso Eliana Castro Louise Cardoso – A Mulher do Barbosa Vilmar Ledesma Marcos Caruso – Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral – A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado – A Estrela, O Mistério Luiz Carlos Lisboa Marlene França – Do Sertão da Bahia ao Clã Matarazzo Maria Do Rosário Caetano Mauro Mendonça – Em Busca da Perfeição Renato Sérgio Miguel Magno - O Pregador De Peças Andréa Bassitt Miriam Mehler – Sensibilidade e Paixão Vilmar Ledesma Naum Alves de Souza: Imagem, Cena, Palavra Alberto Guzik Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em Família Elaine Guerrini Nívea Maria – Uma Atriz Real Mauro Alencar e Eliana Pace Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Norma Blum - Muitas Vidas: Vida e Carreira de Norma Blum Norma Blum Paulo Betti – Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José – Memórias Substantivas Tania Carvalho Paulo Hesse – A Vida Fez de Mim um Livro e Eu Não Sei Ler Eliana Pace Pedro Paulo Rangel – O Samba e o Fado Tania Carvalho Regina Braga – Talento é um Aprendizado Marta Góes Reginaldo Faria – O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi – Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Borghi – Borghi em Revista Élcio Nogueira Seixas Renato Consorte – Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin – Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho – Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza – Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst – Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti – O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silnei Siqueira – A Palavra em Cena Ieda de Abreu Silvio de Abreu – Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Sônia Guedes – Chá das Cinco Adélia Nicolete Sonia Maria Dorce – A Queridinha do meu Bairro Sonia Maria Dorce Armonia Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodriguiana? Maria Thereza Vargas Stênio Garcia – Força da Natureza Wagner Assis Suely Franco – A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tania Alves – Tânia Maria Bonita Alves Fernando Cardoso Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio Roveri Theresa Amayo – Ficção e Realidade Theresa Amayo Tonico Pereira – Um Ator Improvável, uma Autobiografia não Autorizada Eliana Bueno Ribeiro Tony Ramos – No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Umberto Magnani – Um Rio de Memórias Adélia Nicolete Vera Holtz – O Gosto da Vera Analu Ribeiro Vera Nunes – Raro Talento Eliana Pace Walderez de Barros – Voz e Silêncios Rogério Menezes Walter George Durst – Doce Guerreiro Nilu Lebert Zezé Motta – Muito Prazer Rodrigo Murat Especial Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso Wagner de Assis Beatriz Segall – Além das Aparências Nilu Lebert Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Célia Helena – Uma Atriz Visceral Nydia Licia Charles Möeller e Claudio Botelho – Os Reis dos Musicais Tania Carvalho Cinema da Boca – Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dicionário de Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro Antonio Leão Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor – O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma – Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira – TV Excelsior 2a Edição Álvaro Moya As Grandes Vedetes do Brasil Neyde Veneziano Ítalo Rossi – Ítalo Rossi, Isso é Tudo Antônio Gilberto e Ester Jablonski Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Lilian Lemmertz - Sem Rede de Proteção Cleodon Coelho Marcos Flaksman – Universos Paralelos Wagner de Assis Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Mazzaropi – Uma Antologia de Risos Paulo Duarte Ney Latorraca – Uma Celebração Tania Carvalho Odorico Paraguaçu: O Bem-amado de Dias Gomes – História de um Personagem Larapista e Maquiavelento José Dias Raul Cortez – Sem Medo de se Expor Nydia Licia Rede Manchete – Aconteceu, Virou História Elmo Francfort Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte Nydia Licia Tônia Carrero – Movida pela Paixão Tania Carvalho TV Tupi – Uma Linda História de Amor Vida Alves Victor Berbara – O Homem das Mil Faces Tania Carvalho Walmor Chagas – Ensaio Aberto para Um Homem Indignado Djalma Limongi Batista © 2010 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Francfort, Elmo Av. Paulista, 900 : a história da TV Gazeta/ Elmo Francfort. – São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, [2010]. 436p. : il. – Coleção aplauso. Série especial / Coordenador geral Rubens Ewald Filho) ISBN 978-85-7060-821-5 1. TV Gazeta – História 2.Televisão -História – Brasil Ewald Filho, Rubens. II. Título. III. Série. CDD 791.450 981 Índice para catalogo sistemático: 1. Televisão brasileira : História 791.450 981 Proibida reprodução total ou parcial sem autorização prévia do autor ou dos editores Lei nº 9.610 de 19/02/1998 Foi feito o depósito legal Lei nº 10.994, de 14/12/2004 Impresso no Brasil / 2010 Reimpresso no Brasil / 2010 Todos os direitos reservados. 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