Irene Ravache Caçadora de Emoções Edição especial para a Secretaria de Estado de Educação Governo do Estado de São Paulo São Paulo, 2007 Irene Ravache Caçadora de Emoções Tania Carvalho 2a edição Governador José Serra Secretária da Educação Maria Helena Guimarães de Castro Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Série Cinema Brasil Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Apresentação A relação de São Paulo com as artes cênicas é muito antiga. Afinal, Anchieta, um dos fundadores da capital, além de ser sacerdote e de exercer os ofícios de professor, médico e sapateiro, era também dramaturgo. As doze peças teatrais de sua autoria – que seguiam a forma dos autos medievais – foram escritas em português e também em tupi, pois tinham a finalidade de catequizar os indígenas e convertê-los ao cristianismo. Mesmo assim, a atividade teatral só foi se desenvolver em território paulista muito lentamente, em que pese o Marquês de Pombal, ministro da coroa portuguesa no século XVIII, ter procurado estimular o teatro em todo o império luso, por considerá-lo muito importante para a educação e a formação das pessoas. O grande salto foi dado somente no século XX, com a criação, em 1948, do TBC –Teatro Brasileiro de Comédia, a primeira companhia profissional paulista. Em 1949, por sua vez, era inaugurada a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, que marcou época no cinema brasileiro, e, no ano seguinte, entrava no ar a primeira emissora de televisão do Brasil e da América Latina: a TV Tupi. Estava criado o ambiente propício para que o teatro, o cinema e a televisão prosperassem entre nós, ampliando o campo de trabalho para atores, dramaturgos, roteiristas, músicos e técnicos; multiplicando a cultura, a informação e o entretenimento para a população. A Coleção Aplauso reúne depoimentos de gente que ajudou a escrever essa história. E que continua a escrevê-la, no presente. Homens e mulheres que, contando a sua vida, contam também a trajetória de atividades da maior relevância para a cultura brasileira. Pessoas que, numa linguagem simples e direta, como que dialogando com os leitores, revelam a sua experiência, o seu talento, a sua criatividade. Daí, certamente, uma das razões do sucesso, dessa Coleção, junto ao público. Daí, também, um dos motivos para o lançamento desta edição especial, voltada aos alunos da rede pública de ensino de São Paulo. Formado, inicialmente, por um conjunto de 20 títulos, ela será encaminhada a 4 mil escolas estaduais com classes de 5a a 8a série, do Ensino Fundamental, e do Ensino Médio, estimulando o gosto pela leitura para milhares de jovens, enriquecendo sua cultura e visão de mundo. José Serra Governador do Estado de São Paulo “O que lembro, tenho.” Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, visa resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cinema, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural, para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de maneira singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados, arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir suas trajetórias. A decisão sobre o depoimento de cada um para a primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor. Um aspecto importante da Coleção, é que os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo e o biografado se colocaram em reflexões que se estenderam sobre a formação intelectual e ideológica do artista, contextualizada naquilo que caracteriza e situa também a história brasileira, no tempo e espaço da narrativa de cada biografado. São inúmeros os artistas a apontarem o importante papel que tiveram os livros e a leitura em suas vidas, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico, ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso País. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro, cinema e televisão, portanto, linguagens diferenciadas – analisando-as e suas particularidades. Muitos títulos extrapolam os simples relatos biográficos, explorando – quando o artista permite – seu universo íntimo e psicológico, revelando sua autodeterminação e quase nunca a casualidade por ter se tornado artista – como se carregasse consigo, desde sempre, seus princípios, sua vocação, a complexidade dos personagens que abrigou ao longo de sua carreira. São livros que além de atrair o grande público, interessarão igualmente nossos estudantes, pois na Coleção Aplauso foi discutido o intrincado processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Foram desenvolvidos temas como a construção dos personagens interpretados, bem como a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns dos personagens vividos pelos biografados. Foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Gostaria de ressaltar o projeto gráfico da Coleção e a opção por seu formato de bolso, a facilidade para se ler esses livros em qualquer parte, a clareza e o corpo de suas fontes, a iconografia farta, o registro cronológico completo de cada biografado. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado – é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe, coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica, e contar com a disposição, entusiasmo e empenho de nossos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sortilégios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagens, cenários, câmeras, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que nesse universo transitam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de todo o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Para aqueles que me antecederam com o sinal de fé de que o teatro era uma coisa digna e bonita de ser seguida. Irene Ravache Para meu pai, Adalberto, que me ensinou a voar, e minha mãe, Amaryllis, que fincou os meus pés no chão. Tania Carvalho Prefácio Irene é intensa, sem ser chata. Emocional, mas não melosa. Racional, quando necessário, mas jamais fria. E, principalmente, é engraçadíssima. Afinal, fora do humor não há salvação. Anos de análise, especialmente os últimos cinco que fizeram-na deitar no divã realmente, deram-lhe uma clareza de pensamento inacreditável. Suas palavras fluem com rapidez, mas é evidente que já passaram pelo crivo arguto dos pensamentos, que foram mastigadas por horas, anos talvez. Para a realização deste livro foram marcados di-versos encontros em um apart-hotel no Leblon, onde Irene se hospedou durante a temporada carioca de Intimidade Indecente. De volta à cidade onde nasceu – surpresa, Irene é carioca, embora a maior parte da sua carreira tenha sido feita em São Paulo – ela estava totalmente à vontade, andando de maiô e canga pela praia, tomando café nos inúmeros e charmosos locais do bairro e se encontrando com algumas primas queridas. Irene é superfamília e garante adorar festa de aniversário, batizados, casamentos e até Natal, tudo aquilo, ela sabe, que as pessoas em geral detestam. E adora também fazer sucesso na cidade em que nasceu. Lembra sempre, como exemplo, de Florinda Bolkan, que, apesar de estourar na Itália, queria mesmo era ser amada pela vizinha de Uruburetama no Ceará. Só Irene para se lembrar disto! Foi neste clima, totalmente desarmado, que ela topou falar. Corpo aberto para as emoções. Sem defesas, Irene contou da infância dominada pela mãe poderosa, que a obrigou a desistir de ser bailarina e tentar ser uma concertista de piano; do desafio de se tornar atriz; de todos os projetos que se envolveu no teatro, TV e cinema; da sua caçada por temas, peças, emoções; do marido, o jornalista Edison Paes de Mello, dos filhos Hiram e Juliano e dos netos, Cadu e Maria Luiza, as pessoas mais importantes na sua vida; dos autores e diretores que passaram por sua carreira; dos sucessos e dos ensinamentos advindos deste; da beleza e da insegurança; da fama e da tomada de posição em relação a isto; da diferença entre ser uma pessoa mediana, como se considera, íntegra e centrada e estar em alguns momentos glamourosa e sob os refletores e flashes. E mais, muito mais. Diversas histórias foram contadas com o gravador ligado. Outras, em deliciosos almoços, sempre frugais – será esta a receita de beleza de Irene, está incrivelmente linda quase sessentona? – nos quais ela se dedicava ao seu esporte predileto, que é contar tudo com riqueza de detalhes: locações, figurinos, cenários, como se fosse um filme. Como um caleidoscópio ela alternou emoções. Risos na maior parte do tempo, especialmente quando se lembrou de brincadeiras nos estúdios de Éramos Seis, quando até a gravação de um enterro era motivo para gargalhadas, só porque ela resolveu bater no caixão e sussurrar vem pra caixa você também, escangalhando uma cena para desespero do diretor. Chora de rir só de lembrar. Chora de chorar ao pensar na mãe Lygia e os problemas de rejeição que ela carregou pela vida inteira pela ausência do pai. Se emociona ao se lembrar do pesadelo que foi enfrentar as drogas dentro de sua casa. Se enternece ao falar dos netos e de todas as maneiras que sempre inventou para encantá-los. Uma delas: ler todas as faixas de pano penduradas nas esquinas de São Paulo de uma maneira absolutamente particular. Vovó te ama, por exemplo. Quando eles aprendem a ler, bem, isso é uma outra conversa. Sabe aquele jeito bem brega, pois bem, aí vai: Irene é gente! Como a gente. Coisa rara nos tempos olímpicos de hoje. Sabe a sua posição na vida, na arte, no mundo. E é um privilégio conviver com ela, isso posso garantir. Tania Carvalho Novembro de 2003 Capítulo I A Gênese Nasci em 6 de agosto de 1944, primeira filha – e única – de Lygia e Carlos Ravache, no Rio de Janeiro, em Laranjeiras, pertinho da casa dos meus avós paternos, em que passei a maior parte da minha infância. Era um domingo, dia de Sweepstake, o Grande Prêmio Brasil, a mais importante corrida de cavalos na cidade, e as pessoas nas ruas estavam lindas, com chapéus, luvas e suas roupas mais arrumadas, chiques. Quase toda a família havia ido ao Hipódromo da Gávea. Ficaram meu pai e as avós, que levaram a minha mãe para a Maternidade-Escola. Quando as minhas avós me viram, uma disse: É uma linda menina. E a outra completou: Ai, que menina esquisita. Já até escrevi alguma coisa sobre isso: cresci ouvindo esta história e me sentindo assim, meio esquisita e meio linda. Todos esperavam um Eduardo, a avó Irene havia perdido um filho, que seria meu padrinho e se chamava assim. Em todas as fotos da minha avó comigo recém-nascida no colo ela está de luto. Aí vim eu. A avó materna queria que eu me chamasse Penha Maria, minha mãe gostava de Gertrude e acabei virando Irene Yolanda, em homenagem a duas tias. Minha mãe sempre disse que eu era o seu Grande Prêmio! Como muitos brasileiros, sou uma mistura de nacionalidades: alemã, os Ravache, italiana, os Zanotta, suíça, os Bücher, que me deram esta cara de européia, as sardas, o cabelo claro, o perfil. Sou também brasileiríssima, descendente direta de índios, embora só tenha descoberto quando estava grávida do meu primeiro filho. Fui fazer o exame pré-natal, e o médico disse assim pra mim: Que coisa curiosa, porque você é tão clarinha, mas tem no seu biótipo tantos componentes indígenas, que, com certeza, é forte a presença do índio na sua família. Eu rebati que não havia índio algum, que era européia, e ele insistia que as coxas, o formato dos meus seios, as maçãs acentuadas do rosto eram, sem dúvida, características indígenas e falava com conhecimento porque havia vivido entre várias tribos e estudado bastante sobre o assunto. Você é uma índia branca. É muito forte a sua ascendência indígena. Saí de lá, a primeira coisa que fiz foi ligar pra minha mãe e descobri que a sua avó era uma índia que havia se casado com um suíço. Ele era farmacêutico, veio para o Brasil estudar as plantas e casou, casou mesmo, com ela, uma índia novinha, com quem teve 14 filhos. Bastava olhar com atenção, minha avó tinha mesmo cara de índia, cabelos escorridos e negros, só que com a pele absolutamente alva. Já a irmã dela, tinha um narizinho fino, uma boquinha delicada e a tonalidade de uma azeitona. O irmão da avó Octavia era a cara dela, mas bem moreno e com imensos olhos azuis. Ou seja, uma grande mistura. Assim como eu, uma síntese do povo brasileiro, feita de tantos povos, tantas culturas e tantos imigrantes. Sou filha de Lygia, neta de Octavia e de Irene, mulheres fortes, que foram muito importantes na minha vida e formação, inclusive artística. Com a avó Octavia ia ao cinema, ela dizia: Ah, vamos ficar mais um pouquinho. E íamos ficando, ficando, emendando uma sessão na outra. Posso dizer que devo o amor ao cinema a esta avó. A outra, Irene, teve uma formação artística bem acadêmica, porque veio de uma abastada família italiana, e estudara música, canto, pintura. Em sua casa se conversava sobre artes de uma forma, digamos, mais fluente e natural do que nas casas das minhas colegas. Minha mãe sempre quis que eu fosse uma pianista, embora eu quisesse ser bailarina, e me tirou da escola de dança me fazendo estudar anos a fio música, mas esta é uma longa história, longa mesmo, mas que de alguma maneira me colocou em contato com a arte, mesmo que a contragosto. Às vezes até me arrependo, hoje em dia, claro, de não ter me dedicado mais ao piano. Minha mãe era muito enérgica, perfeccionista e colocou diversas expectativas em cima de mim. Sua vida foi dura, seu pai largou a sua mãe quando ela tinha 4 anos, abandonou a família, nunca mais apareceu e ainda levou tudo: parou um caminhão de mudanças na porta e carregou todos os móveis. Só não levou a cama do casal porque a minha avó sentou-se nela com a minha mãe e avisou que, se levassem, elas iriam junto. Foi a única coisa que sobrou, além de uns vestidos de carregação que ele havia comprado na véspera para a filha. Ela passou uma infância de muitas privações, digna de um filme da Pelmex, estilo Chispita, um dramalhão. Como ela não pôde estudar o grande sonho dela era que eu fizesse as coisas que ela não tivera oportunidade de fazer: ser diplomata e pianista. Então eu não fui ser bailarina, porque ela não queria ser bailarina. Simples. Então, tinha aula de canto e de piano. Fiz um exame feroz pra entrar na Escola Nacional de Música e passei. Fui preparada por uma professora, que morava na Rua Almirante Tamandaré, Ruth era o nome dela, uma mulher severa, tão severa, que batia com régua nos dedos dos alunos. Quando comecei a estudar com a Dona Ruth, eu tinha uma finalidade, que, na verdade, não era entrar na Escola Nacional de Música, mas sim eu não vou deixar essa mulher bater na minha mão, e falei isso para os meus colegas, pois todo mundo já tinha levado uma reguada. Um dia, errei e ela pegou a régua e eu dei uma pausa, parei, e fiquei olhando pra ela, muda, e a mensagem era: Não se atreva. Nunca tocamos nesse assunto, nunca apanhei, mas acho que teve tudo a ver com essa pausa dramática. Já era uma coisa teatral. Nunca soube o que eu ia fazer se ela me desse com a régua nos dedos, mas sabia que precisava fazer aquela pausa. Minha mãe sempre dizia: Irene é tão boazinha. Na verdade eu era uma rebelde aprisionada. Meu pai, Carlos, que era só doçura, sabia que eu estudava piano para mamãe, não para mim, mas não tinha coragem de enfrentá-la. Ela era muito poderosa, dura até, para ganhar um agrado, você precisava merecer. Além disso, minha mãe sempre dizia assim, quando estávamos com algum problema, vai dar tudo certo, eu estou falando que vai dar certo, confia na sua mãe. Quando se é criança e ouve a sua mãe falando isso, você tem a firme convicção que é verdade. Quando você começa a ficar maior e a coisa não dá certo, acontece uma falha sua, é inevitável pensar: se fosse com ela teria dado certo. Sofri muito com uma exigência enorme comigo mesma que nem sempre pude cumprir, e que nem era para ser cumprida, e um medo, medo mesmo, de falhar, que tem tudo a ver com essa frase forte que ainda ecoa. Mas hoje eu tenho um distanciamento brech-tiano para ver isso. Um respeito por ela enorme, sei separar direitinho tudo que foi positivo pra mim. Acho que ela me preparou para o mundo. Eu vim a ter uns embates na vida que, se não fosse o exemplo que ela me deu, acho que teria quebrado. Dona Lygia não quebrava! Pensando bem, acho que vi somente uma vez ela vergar e cada vez que penso nisso choro. Passei a vida inteira ouvindo a minha mãe falar mal deste pai que a deixou, foi embora, e ela contava com muita mágoa que não havia podido estudar, que todo mundo chamava de papai e ela não tinha a quem chamar, essa mágoa infinita, essa rejeição absoluta de um pai que não a queria. Nos anos 80, conheci no Rio de Janeiro uma irmã dela, somente por parte de pai, porque ele havia tido uma outra família e esta minha tia mandou uma foto grande do meu avô. Levei para a mamãe, que fingiu pouco interesse, me serviu um café e depois de algum tempo, com a sobrancelha levantada, uma característica dela, falou casual e secamente, bem, vamos ver esta tal foto. Aos 69 anos, ela se abraçou com a foto do pai que não via desde os quatro, começou a chorar e beijar a foto e dizer: Ai, papai, quanta coisa você não viu, quanta coisa você perdeu. Eu não sabia o que fazer, tinha medo de interromper aquele momento de tanta dor, de quebrar o encanto daquela menina de 4 anos outra vez, somente coloquei o braço em volta da cadeira dela e esperei que ela se recompusesse, mas para mim foi importante ver este momento dela sem amarras, fragilzinha, pedindo colo. Posso dizer que fui feliz quando era criança, apesar do piano. O Rio de Janeiro da minha infância era lindo. Eu morava perto do Largo do Machado e tudo era lá: a parada de bonde, a Igreja de Nossa Senhora da Glória – cansei de cruzar a praça vestida de anjinho para ir cantar no coro – , o meu colégio, a agência dos Correios e Telégrafos em que a minha mãe trabalhava, o cinema Polytheama, a primeira loja do Bob´s do Rio de Janeiro, lanchonete em estilo ame-ricano que vendia cheeseburger (se bem que banana split boa era a da Lojas Americanas, também ali na praça, que vinha com uma toalha de papel bordadinha embaixo, um luxo!), um armarinho chamado Miveste e ao lado uma confeitaria que vendia o melhor suspiro do mundo, grande, diferente daquele que era feito pelas nossas avós, miudinho, era crocante por fora e puxa-puxa por dentro. No Largo do Machado havia também o cinema mais lindo do mundo: o São Luiz. Adiante, na Rua do Catete, existia o Azteca, que eu achava moderno, arrojado, mas o São Luiz, ah, o São Luiz!, era o auge do chique. Ia demais com a minha mãe também ao centro da cidade ver espetáculos de balé no Theatro Municipal e achava o máximo passear na Rua da Carioca. Havia uma loja de brinquedos e meu sonho durante algum tempo era ganhar um carrinho da Kibon pequenininho. É claro que achava que dentro haveria todos os chicabons de chocolate, já-jás de coco, tonbom de limão que eu quisesse. Achei o máximo também quando a minha mãe me mostrou duas confeitarias, a Cavê e a Lalê e me explicou: Quem vem de cá, vê; quem vem de lá, lê. Nossa, era o máximo da inteligência, embora tenha ficado um pouco encafifada porque podia ver as duas e ler os nomes também das duas. No dia 7 de setembro, meu pai colocava terno e minha mãe vestia a sua roupa mais arrumada e nós íamos ver a parada militar. Eu adorava, ainda mais porque os meus pais não trabalhavam e podia passar o dia com eles. Lembro bem da casa da avó Octavia em Irajá, onde se brincava na rua de passar anel, de pique-esconde, pega-pega e não passava um carro. Aliás, carro era coisa rara em toda a cidade. Havia também a casa do avô Alberto e da avó Irene, uma casa muito especial. Éramos sete netos – Noeli, eu e Lívio e nove anos depois chegaram as outras quatro, Eliana, Hortência, Lúcia e Denise – todos criados juntos. Passávamos os finais de semana na casa deles, no caminho do Corcovado, de onde se abria a janela e se via o Cristo Redentor. Era um Rio de Janeiro cheio de mato, diferente da praia, Copacabana, Ipanema ou Leblon. Diferente também do subúrbio. A casa era linda, de pedra, estilo normando, festeira, sempre cheia de gente. Brinco que vivi a infância entre o dramalhão e o filme inglês nos trópicos. Na família materna tudo era encarado de uma forma bastante pesada e na casa dos meus avós paternos tomava-se chá todos os dias às quatro horas da tarde, havia uma mesa sempre bem posta, em que se falava de vinhos, arte e cultura. Claro que este lado da família teve perdas, mas lidava de uma forma mais leve com isto. A dor não contaminava. A minha infância, repito, foi boa, amorosa e alegre e tenho boas recordações desta casa e destes momentos de enorme afeto familiar. Na adolescência, porém, comecei a me sentir mais desajustada no mundo, achava que tinha uma coisa esperando por mim no fundo do caminho, e que não era exatamente aquilo para o qual os meus colegas estavam sendo destinados. Os meninos, o que eles iriam fazer? Engenharia, advocacia, medicina. As meninas iam casar. Eu até queria casar, ter filhos, mas achava que não era só isso, era alguma coisa mais, mas também não sabia o que queria. Eu estudava no Liceu Franco Brasileiro, colégio misto, maravilhoso, também no Largo do Machado, e pedi, aos 14 anos, para ser interna. Eu pedi! Acho que queria sossego, não suportava mais aula de piano. Precisava ficar quieta num canto. Além disso, tinha visto um filme e achava que aquilo podia acontecer comigo: Uma Cruz à Beira do Abismo, com a Audrey Hepburn em que ela é uma freira que vai para o Congo Belga. Na verdade, eu queria mesmo conhecer o galã, o Peter Finch. Meu pai achava aquilo uma coisa de gente maluca, tinha estudado no Santo Inácio e não queria ver padre e freira na frente dele. Fui para o Colégio São Marcelo, estudei dois anos lá, um ano interna e outro semi-interna. Era bolsista, porque meus pais não tinham grana para me colocar nesse colégio. Meus avós tinham dinheiro, mas os meus pais não. Meu avô Alberto era uma estrela, um homem centralizador, mas muito amoroso também. Ele queria ter um filho engenheiro e outro médico. O mais velho se formou em engenharia, meu pai até fez vestibular só para satisfazer o desejo paterno, mas acabou largando e se tornando mecânico, que era uma coisa que gostava. Talvez meu avô pudesse ter incentivado que ele fizesse engenharia mecânica, mas não o fez. Então, minha mãe trabalhava nos Correios e meu pai era mecânico. É claro que os tempos eram outros, pois podíamos viajar nas férias, jantar fora toda semana, lá em casa se comia filé-mignon, camarão, eles compraram casa própria, enfim meu pai não precisava ser socorrido financeiramente pelo avô Alberto. Havia, no entanto, uma diferença de classe social entre eu e as outras alunas, entrei para um mundo que não convivia até então. Eu não tinha muitos meios de acompanhar as colegas, elas até me convidavam, mas eu não tinha condições financeiras de ir. Eu pensei: Tenho que inventar uma coisa para ser diferente. Decidi dizer que estava noiva, eu nem tinha namorado, aliás nunca tinha tido o primeiro namorado, e acho que as meninas começaram a ver que era uma invenção da minha cabeça, porque da mesma forma que começou, esse noivado acabou, mas digamos que foi o meu primeiro personagem. Além do dinheiro, outra coisa que me deixava sempre fora, eram as escalações para jogar vôlei. Eu era péssima, ninguém me colocava no time. E quando você não é escalada para o esporte, o que te sobra? A arte. Ah, mas tem uma coisa que eu faço legal, na hora que me mandam falar poesia, faço bem. Então acho que fui saindo por aí, descobrindo pouco a pouco o caminho. Era a década de 60, a gente ouvia falar dos beatniks, eu achava que essa gente estava se divertindo à beça. Quando vi o primeiro filme dos Beatles, pensei: Não é isso que eu quero fazer, mas essa gente acho que me entende, porque eu os entendo, essa é minha turma. Eu tinha certeza que a minha turma não era a que botava anágua engomada – odiava botar anágua engomada – a que usava rabo-de-cavalo com um laçarote enorme, e nem aquela que usava maquiagem exagerada. Eu via os filmes com a Lana Turner, Joan Crawford, e me perguntava porque elas não lavavam a cara, porque a boca era tão pintada, com o batom saindo do lábio. Eu tinha um olhar supercrítico. Nem os filmes da Atlântida escapavam do crivo. Eu me divertia muito, mas ao mesmo tempo achava que as roupas e a maquiagem da Eliana e da Adelaide Chiozzo não ajudavam em nada, só pioravam, em vez de embelezarem, enfeavam. E me sentia meio perdida porque estes eram os parâmetros, as nossas tias imitavam essas maquiagens, elas eram as estrelas e eu achava tudo horrível, brega. Mais uma vez tinha certeza que havia uma outra coisa além. Um dia fui tentar ver um filme, que não tinha idade para entrar, mas entrei, e fiquei estatelada: E Deus Criou a Mulher, dirigido pelo Roger Vadim. Fiquei tão maravilhada com o cabelo daquela menina, a Brigitte Bardot, as roupas simples que ela usava e feliz por descobrir que não estava louca, que havia gente fazendo coisas como eu pensava em outro lugar. Descobri o cinema europeu, uma outra turma. Foi um choque para a família eu gostar de roupa amassada, de cabelo desarrumado e rostos sem maquiagem, achar bonito aqueles homens de cabelos compridos, aquelas mulheres com as saias hippies, isso foi demais. E fiquei mais dividida, confesso. Ao mesmo tempo em que me apaixonei pelo cinema francês, pelo neo-realismo italiano, pelos filmes do Antonioni, do Fellini, ha-via um outro lado que estava preocupado com o drama da Princesa Soraya que não conseguia ter filhos com o Xá da Pérsia. Ora, a turma que gostava de Dolce Vita não tinha estas preocupações burguesinhas, estava pouco se importando com a Soraya. Ou seja, ainda estava meio dividida qual era a minha verdadeira turma. Eu ainda não sabia que queria ser atriz. Um dia fui ver A Ratoeira, de Agatha Christie, e me deu um clique imediato: Êpa, eu posso trabalhar aqui, isso eu posso fazer. Esperei o Labanca, um dos atores da peça e uma figura importantíssima do teatro na época, sair e perguntei com a inocência dos ignorantes, como é que eu faço para ser isso?. Ele me perguntou se eu queria ser atriz. Não tinha muita certeza, só sabia que queria estar com eles, queria estar com aquela gente, finalmente havia encontrado a minha turma. Capítulo II Lições de Atriz Aconselhada pelo Labanca, lá fui eu me inscrever no curso da Fundação Brasileira de Teatro, da Dulcina de Moraes, que ficava na Alcindo Guanabara, no centro do Rio. Era um domingo, dia de prova eliminatória. Lá eles te davam um texto, você fazia, entrava se passasse, mas, mesmo assim, a cada semana alguns eram eliminados. Eu fui ficando, cada vez mais empolgada. Sabia que mesmo que não fosse para ser atriz eu iria fazer qualquer coisa, mas ali dentro. Era com aquelas pessoas que queria falar, achava graça só das conversas delas, este era o mundo que me interessava, enfim, estes eram os meus amigos. Finalmente eu estava no universo em que não me sentia sempre à beira de um abismo. As aulas eram maravilhosas. A Dulcina ensinava intepretação; a Raquel Levy, expressão corporal; o Junito Souza Brandão era nosso mestre de teatro grego, aliás uma das maiores autoridades no assunto. Mais do que tudo, no entanto, ha-via uma preocupação com a ética da profissão, um respeito à beleza de ser ator, um propósito, uma coisa maior, que é a arte, isto permeava todas as aulas. A Dulcina era didática demais, sempre com aquela boca muito vermelha, absolutamente teatral, dava aulas excelentes. Ela fazia, por exemplo, com que os alunos tomassem contato com situações ligadas às sensações e outras às emoções. Atrapalha bastante ao ator confundir as duas! Lembro de um exercício, em que havia três banquinhos e era preciso percorrer um caminho: no primeiro banco sentia um pouco de angústia, não sabia bem o que está acon-tecendo; no segundo banco, se defrontava com o medo; e no terceiro banco, chegava-se ao desespero. Nossa, como foi importante decodificar estes três sentimentos. Sem dúvida, os exercícios de Dulcina, o teatro grego, romano, Brecht, Stanislavski, me ensinaram mais sobre mim do que havia aprendido até então e foram a primeira terapia que fiz, minhas primeiras sessões de psicanálise. O teatro te solicita coisas, umas que você acha que não tem, outras que não gosta de saber que tem. Quando você vai fazer o papel de uma assassina, não quer entrar em contato com esta parte sua, capaz de um gesto extremo. Não, claro que não! Todo mundo quer ser legal, herói, bacana. Então eu vou fazer uma mulher que dá veneno para a mãe, para o pai, para os filhos? Não, não quero entrar em contato com isso. É doloroso. E é mesmo. É muito doloroso. Dolorosíssimo. Você até pode não entrar em contato com estes lados escuros, e fazer uma interpretação menos doída, mais distanciada, fria, mas certamente será também menos surpreendente. Porque estará no controle. Uma vez li uma definição da Fernanda Montenegro, que considero uma maravilha, sobre o que é o ator e o personagem. Ela dizia que entre os dois existe a mesma relação que um jóquei com seu cavalo. Há um momento que é o cavalo que conduz, que define o ritmo do galope; há outro momento, porém, que o jóquei puxa as rédeas, porque sabe o momento do cavalo dar uma diminuída no ritmo para poder chegar até a reta final. Ator e personagem são assim mesmo. Se eu controlo muito, qual é a chance que tenho de ser surpreendida pelo personagem? Nenhuma. Posso até fazer um trabalho bom, mas ele vai ser linear, não vai ter sujeira. Os que faço têm muita sujeira, uma coisa mal-comportada, por mais certinhos que pareçam. E esta sujeira é o personagem que me dá. Há uma coisa no processo que adoro. Quando acho que estou dando as cartas, que sei a hora do riso, a hora em que a platéia vai se emocionar, um dia entro em cena, sou a mesma pessoa, digo o mesmo texto e não acontece mais nada. A mágica se foi. O teatro puxa o meu tapete. Quando o personagem começa a ver que não está sobrando nada para ele interagir comigo, pensa: Aha, vou tirar o tapetinho dela. Como isso acontece? Ninguém ri, no momento que precisava rir, nem se emociona na hora que você imaginava. A sensação que você tem é que não sabe mais fazer o espetáculo, que perdeu a mão, desandou a receita. É neste momento que estou me sentindo canastrona que tenho que reverter tudo. Volto a buscar o minimalismo, o mínimo de gestual, a interiorização absoluta, a verdade que vai grudar de novo a platéia naquele personagem. É o que chamo de close no teatro. Depois de um longo tempo de espetáculo, é inevitável ficar meio folgadona, ocupando um imenso espaço. Quando você vai à casa de uma pessoa a primeira vez, senta direitinho, cruza as pernas, fala mais baixo. Depois, com a intimidade, já senta no chão, coloca as pernas para cima, abre a geladeira. O mesmo acontece no palco. Quando eu percebo que estou com as pernas para cima vejo que é hora de recuar. Limpo tudo, todos os gestos, fico quieta, busco de novo o interior do personagem e consigo que a platéia me veja em close, bem de pertinho, por inteira. Essa é a grande mágica do teatro! O grande jogo! A emoção! Tem gente que prefere fazer no automático. Ah, eu ligo o f... e vou! Não sei fazer assim. O automático me cansaria profundamente. Desse jeito o espetáculo seria um paquiderme que eu teria que carregar durante duas horas. O que me deixa estimulada é não saber o que vai acontecer. É essa interação com o público, essa brincadeira, este to play. Nós, atores, por muito tempo tivemos uma idéia totalmente antiquada, de que existia uma quarta parede. Os atores trabalham no palco e à frente existe uma quarta parede, separando-os da platéia. Você contracena com o seu colega e as pessoas estão ali porque vieram te ver. Eu não acredito nisto, para mim a quarta parede está exatamente no lugar onde acaba o espaço que as pessoas estão sentadas, senão não há razão de estar no palco. O teatro não acontece sem a participação de uma segunda pessoa, que é o público. É ele que me devolve e que me dá a exata medida se tenho que soltar mais a rédea, se tenho que prender, se o cavalo pode esperar até o final, se ele tem que de repente pular um obstáculo. Sempre me pareceu esquisito esta divisão de palco e platéia, pois ambos fazem parte do mesmo fenômeno que é o teatro. Senão, porque a gente estréia o espetáculo e não fica só ensaiando? Teatro é, com certeza, uma combinação lúdica entre atores e platéia, como uma brincadeira de crianças. Nós vamos fingir e vocês vão acreditar. É exatamente como uma brincadeira de crianças em que se determina que uma será mãe, a outra a filha e todas acreditam. Se uma não quiser ser a mãe, a brincadeira não acontece. A mesma coisa é o teatro, se não existir este acordo mútuo não dá certo. Estamos aqui pra fazer um jogo, em que você vai me dar umas coordenadas e eu te devolvo as impressões. Jogo no qual um fala e o outro escuta. Onde aprendi tudo isso? Na vida e com meus professores. Com a Dulcina, com certeza, que um dia, depois de ver um exercício que eu havia feito, declarou para os outros alunos, para imenso orgulho meu: Queridos, isto é uma atriz. Aliás, neste dia eu saí tão orgulhosa, tão cheia de mim que precisava contar para alguém. Fui para um boteco, em que se reunia o pessoal de teatro, louca para falar e não via a hora de encontrar uma brecha para a história. Chegou um cara que não conhecia e um amigo se virou e disse: Ah, quem pode falar sobre a Fundação Brasileira de Teatro é a Irene. E emendou: Aliás, você sabe que a Dulcina disse para Fernanda Montenegro depois de um exercício? Minha filha, desista, você jamais será uma atriz! Bom, calei a boca, não sabia onde enfiar a cara e fiquei espantada que a Dulcina, que acabara de me elogiar, pudesse ter cometido um erro de avaliação tão grave com alguém que já era uma das atrizes mais maravilhosas do Brasil. Foi um banho de água fria, voltei murcha para o curso, mas acho que no fundo foi bom porque eu já estava de salto alto, me fez voltar à realidade. Sabe que nestes anos todos jamais falei sobre isto com a Fernanda? Sempre que a gente se encontra me esqueço de perguntar se realmente a Dulcina mandou que ela procurasse outra profissão. Se a Dulcina me ensinou os primeiros passos para separar as sensações das emoções, foi a fonoaudiólogia Glorinha Beutmüller quem aprofundou este trabalho e considero-a uma das grandes mestras que tive, um marco na minha carreira profissional. Tudo pode ser dividido entre antes e depois dela. Com ela aprendi que posso ter uma sensação de frio sem nenhuma emoção. Apenas estou sentindo frio. O frio sempre fará encolher, fechar os braços, mas independe se isso me dará uma angústia ou um enorme prazer. Teatro é voz. E Glorinha me deu também lições de como usar a voz. Quando se entra em um espetáculo é preciso encher aquele espaço, tanto o palco quanto a platéia, com o que a Glorinha chama de abraço sonoro. A platéia precisa se sentir abraçada, como se fosse realmente tocada pela sua voz. O volume de voz usada num teatro, exige demais do físico do ator, ator fraco não faz, porque é tudo baseado na respiração, no diafragma. Nós, atores, passamos a vida escutando que precisávamos falar para a velhinha surda na última fila, falar alto, muito alto. Pois foi ela que me conscientizou que o efeito da voz no teatro é o mesmo de uma pedra jogada em um lago, que vai fazendo círculos concêntricos. Então, não é necessário jogar a voz no fundo e, sim, no centro da platéia. E daí ela se espalhará. Desde então nunca mais fiquei rouca. Fala-se também sobre microfone, e realmente até existe este recurso atualmente no teatro, mas, na minha opinião, ele serve para determinados efeitos, um eco, e produz também pequenos ganhos. Se o ator não souber falar, porém, de nada adianta. Se ele falar pequeno, o microfone somente amplifica este falar pequeno. Foi com a Glorinha também que acabei com outro mito do teatro: tem duas sessões? Ah, então vamos nos poupar na primeira. Não, não economize nunca, não fale baixinho, quem se poupa, gasta bem mais na segunda sessão. Deixa a energia circular na platéia, e receberá em dobro e terá vigor para a segunda. Desgasta, mas a energia é reposta com o retorno do público. Quem poupa, nunca tem nada. Enfim, aprendi na vida. E, com certeza, posso dizer que é uma profissão que exige uma enorme doação. Quem não for generoso, esqueça, está na profissão errada. Cada vez acredito mais nisso, inclusive agora, depois de 40 anos de carreira, estou cada vez mais inquieta em dividir o que aprendi. O projeto Teatro Simples surgiu na minha vida por causa disto. Acho que qualquer profissional, depois de tantos anos de carreira, tem necessidade de dizer: Meninos, eu vi. Senão seria injusto! A partir de 2004, vou me dedicar à supervisão artística deste projeto, que pretende resgatar a origem do teatro: uma pessoa falando e outra escutando. É um teatro que será feito com muito, médio ou nenhum patrocínio. Teremos um bom texto, uma direção de qualidade, bons atores, mesmo que não sejam tão conhecidos, uma luz absolutamente preciosa e um tablado. Se não conseguirmos emocionar os donos de teatro, para que não cobrem altos percentuais, vamos procurar espaços alternativos: auditórios, salas de igrejas, galerias de arte. Por que não? Além disso acontecerão workshops, oficinas e, de certa forma, abriremos um pouco o mercado para jovens autores e atores, que não conseguem visibilidade, especialmente aqueles que estão fora do Rio de Janeiro, onde efetivamente existe a Rede Globo para projetar. Um dia meu pai me aconselhou assim: Quer fazer teatro? Sem problemas, mas tenha uma profissão para você poder ter o seu dinheiro, trabalhar, afinal, sendo atriz onde você vai trabalhar? Era natural a preocupação dele, a profissão nem regulamentada era, mas ainda bem que não ouvi os seus conselhos. Já havia desistido de ser bailarina! Ser atriz seria para sempre a minha profissão! O meu destino. Capítulo III Caçando Emoções O que me leva a fazer um espetáculo? Uma inquietação. Com certeza, é o produto final de alguma indagação, que me atormenta há algum tempo. É a concretização de um processo que parte do inconsciente para o consciente. De repente quero falar sobre um homem e uma mulher que, mesmo gostando um do outro, não conseguem ficar juntos. Por quê? Porque vejo isto acontecendo em volta de mim. Como atriz/produtora dos meus espetáculos, o que venho fazendo desde os anos 80, dificilmente me interessa fazer um texto distante do meu cotidiano. Como convidada posso fazer coisas diferentes, grandes clássicos, o que adoro também. Mas como produtora, quero falar do meu tempo. Digamos que, se eu fosse uma escritora, seria uma cronista, alguém antenada com a minha época, com o meu lugar. Parto da minha própria vida, primeiro porque a matéria prima do meu trabalho sou eu, a minha tinta sou eu, o meu papel sou eu, e o interior é o meu também, ou seja, além de dar forma física ao personagem, dou a ele o meu caráter, então não tenho pudor algum de me utilizar, de me emprestar. Posso não ter vivido o que acontece no palco, o que ocorre a maior parte das vezes, mas o assunto me interessa, me incomoda, quero falar sobre isso e deixar claro para o público que é importante entrar na discussão. Em segundo lugar, como sou uma pessoa mediana, parto do princípio que, se alguma coisa está me incomodando, está afetando também à vizinha do lado. Não é uma busca voltada para o meu próprio umbigo ou uma grande indagação sobre Deus e o destino dos homens. Quero falar da vizinhança e para ela. E sou modesta: sei que não vou atingir a todos, mas àqueles parecidos comigo, da mesma faixa etária, social, econômica e cultural. Como já disse: teatro exige alguém falando e outro alguém ouvindo. Se vou falar de algo que interessa ao outro, pode dar um pingue-pongue legal. É assim que escolho a peça que vou fazer. Feito isto, parece que acontece uma conspiração! Aquele tema, que me despertou a atenção e que remoí sozinha em casa, começa a entrar avassaladoramente na minha vida. Recebo o convite de uma exposição e os quadros são sobre o tema; sintonizo uma rádio no carro, toca uma música e a letra fala deste assunto; entro em uma livraria, o olho bate exatamente em um livro, vou lá ler a orelha e, pronto!, cai como uma luva naquele momento de inquietação. Resolvo procurar um texto. Telefono para diversos autores para ver se eles têm algo sobre o que desejo falar. É só ter paciência que ele aparece. Este processo demora bastante, mas acho que, quando você está pronta para dar determinado recado, não escapa desta missão. Dará... Gosto que seja desta forma, esta é uma das facetas da minha personalidade artística. Sinto quase como se houvesse um chamamento de alma. Uma solicitação: Faça aquilo. Ao mesmo tempo em que acontece este processo subjetivo, bastante emocional, cheio de questionamentos, filigranas, buscas há de haver um respaldo intelectual, senão não é teatro. Quero deixar bem claro: não há nada de mediúnico, não recebo personagens e teatro não é centro espírita. A intuição me guia, mas é a técnica que encontra, assina e avaliza. Às vezes começo a busca por causa de um som que desperta em mim uma emoção profunda. Como transformar esta emoção em um sentimento a ser traduzido para uma platéia é a técnica que me dá. Por isso preciso de um bom texto, de uma boa direção, de uma grande equipe. Não se faz teatro sozinha. Acho que o público vem me acompanhando nesta viagem. Ele sabe o que vai ver. Com certeza, por exemplo, haverá alguém que, em determinado momento da vida, dá uma virada, por alguma insatisfação que esteja vivendo. Será, porém, sempre a mesma coisa? Claro que não, mas haverá uma marca, uma personalidade. Posso dizer que tenho um público no teatro, não é um arrasa-quarteirão, embora meus espetáculos sejam sucesso, mas digamos, umas 400 pessoas por noite e, por muitas noites, acompanham as minhas peças desde os anos 80, quando decidi que iria produzir. Claro que nem sempre pude ter o domínio do que estava fazendo. Se fechar os olhos agora e tentar me lembrar do meu primeiro espetáculo (Aconteceu em Irkustsk, de Alexei Arbusov, 1962) não consigo saber o nome da personagem que interpretei, mas posso relembrar que fazia absolutamente tudo o que me mandavam. Tenho certeza que não aconteceu só comigo, mas todo ator em sua primeira peça não sabe muito bem o que está fazendo naquele palco; se freqüentou uma escola, até sabe, teoricamente, ler um texto, usar a expressão corporal, mas ainda não viveu a experiência de transpor tudo isto para o palco. A gente aceita o convite no frisson do primeiro emprego. Eu, aliás, nem posso dizer que fui chamada. Um colega me levou para fazer uns testes, tive uma conversa com o Kléber Santos, que era o diretor e ele nem foi severo. Acabei ficando com o papel. Não tinha noção do que estava fazendo lá, era uma peça sobre russos e o que ele me indicava, eu fazia. Era um pouquinho peixe fora d’água nessa primeira encenação. Ficava na cola dos colegas, eles eram todos mais velhos, e acho que tudo aquilo que havia aprendido na Fundação Brasileira de Teatro não coloquei em prática. Eu não queria desagradar. O Teatro Jovem tinha uma importância, seria hoje um desses grupos chamados alternativos, mas com muita importância intelectual. Fazia montagens diferentes, jamais comerciais. Eu ficava a maior parte do tempo de queixo caído, encantada com tudo aquilo, o teatro era muito diferente do cotidiano, da casa, da família. Era uma gente descolada, que falava de amor livre, prazer, naquela efervescência dos anos 60, coisas que nem passavam pela minha cabeça. De repente estava lidando com pessoas que não viviam na teoria, mas acreditavam na prática. Era fantasticamente diferente e maravilhoso. Eu não era uma jovem da minha geração. Imagina que com 16 anos comecei a namorar e me casei com 19 anos, virgem. E era um namoro triste, não era animado, vamos para a praia, solar, mas sim uma coisa meio deprimida. Era um privilégio ser jovem no Rio de Janeiro dos anos 60, pois tudo fervilhava, a bossa-nova, o engajamento político, a mudança de comportamento. Eu via tudo isto naquele grupo do Teatro Jovem e, embora não participasse, era uma espectadora maravilhada. Lá fiz também Aonde Vais Isabel, de Maria Inês Barros de Almeida, junto com a Dirce Migliaccio, Ginaldo de Souza, Armando Garcia, Ary Coslov e Ênio Gonçalves. E já comecei a poder utilizar mais o que sabia, com um pouquinho mais de segurança. Digamos que me sentia mais atriz, mas ainda existia a quarta parede, o processo pertencia só aos atores, não tomava muito conhecimento da platéia. O que o diretor mandava, era lei. E o texto precisa ser dito exatamente como estava escrito. Só fui perder esta reverência um pouco mais tarde. Afinal, autor não é Deus. E diretor não é Espírito Santo! Muitas vezes ele é um espírito de porco muito grande. Na década de 70 era moda e peguei diretores bastante hostis, que sempre me deram a sensação que estávamos em barcos diferentes. Era como se existissem alguns deuses refestelados no Olimpo e uma gente abaixo, nós, os atores. Era um processo cheio de mágoa, hostilidade e, principalmente, desnecessário. Hoje, que tenho quase 60 anos, tenho certeza que o teatro não pede isto. Você precisa ter disciplina, mas não ser espezinhado, humilhado. Mas naquela época a gente era boba, achava que só se perdia a virgindade de forma desagradável. Aí chega alguém e te prova que pode ser bom e te surpreende! Sou de uma geração que trabalhou em grupos, que marcaram o teatro brasileiro: Arena, Oficina. Embora tenha trabalhado no Centro Popular de Cultura (Eles Não Usam Black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, direção de Oduvaldo Viana Filho, 1963), feito peças em cima de caminhões, em sindicatos, sempre tive perfeita consciência que o papel de favelada não me caía bem. Posso fazer uma favelada com esta cara que tenho? E, para dizer a verdade, com meus 20 anos queria mais era cenário com sofá e figurino de salto alto. Queria fazer o teatro que a Tônia Carrero, a Fernanda Montenegro, a Nathalia Timberg faziam, bem mais do que o teatro da Glauce Rocha, embora a achasse maravilhosa. Posso dizer que até hoje existe um teatro que gosto de ver, que acho importante que seja feito, mas que não quero fazer. Se fui discriminada por isso? Se fui não liguei. Estava vivendo um momento tumultuado na vida pessoal, acabara de ter o primeiro filho. Parei um tempo e, em 1968, fui para São Paulo trabalhar com Antunes Filho em A Cozinha. Odiei! Não tive nenhum prazer em participar do processo. Tive, sim, medo, respeito, mas prazer nenhum. Valeu ter feito, claro, mas jamais repetiria. Aprendi com Antunes? Aprendi, mas muito menos do que com José Possi. Se me perguntam com quem gosto de trabalhar respondo rápido: Possi, Ulysses Cruz, Sérgio Britto, gente bem mais jovem do que eu, como a Regina Galdino, o William Pereira. Eles têm indagações, sabem trocar. Sou questionadora? Sou, sim. Não me contento nunca com uma só leitura do texto. Mas aprendi com o Sérgio Britto a sempre fazer o que o diretor manda, mesmo que ache errado. Eu mostro o que ele me pede, ensaio é feito para errar, é rascunho, não discuto, faço e partir daí buscamos uma solução. Não dá para entrar em uma imensa discussão teórica. Em teatro não existe tese, mas produto final. O fazer mostra. Acho que tenho uma qualidade: questiono, mas não sou defendida, assim como não o sou na vida. Atores? Juca de Oliveira, Juca de Oliveira, Juca de Oliveira. Ele vem com tudo todos os dias. Diariamente é uma estréia. Fúlvio Stefanini, que tem um à vontade enorme em cena. Marcos Caruso, um homem da comédia, com quem aprendo sempre. Wilker, um ator que você não consegue tirar o olho. Nanini, que ator admirável! Paulo Autran, com quem aprendi todos os dias, olhando-o representar. Rubens Corrêa, com quem nunca trabalhei, mas que ator... As mulheres: Yara Amaral, que tinha uma força admirável, pela sua personalidade e força de intérprete. Marília Pêra e Fernanda Montenegro, com quem nunca dividi o palco, mas admiro demais. Andréa Beltrão, que atriz boa! A peça que mais gostei de fazer, por causa de todo o processo, foi Os Filhos de Kennedy, de Robert Patrick, com direção do Sérgio Britto, em 1977. Nós todos havíamos vivido com intensidade os anos 60 e sentíamos uma nostalgia muito grande da década que havia passado há pouco tempo. O espetáculo começava na entrada do teatro, na ante-sala, com cartazes que mostravam a nossa visão dos 60. Como dedicação ao personagem, sem dúvida, foi Os Filhos do Silêncio, de Mark Medoff, com direção de José Possi Neto, em 1982, em que eu vivia uma surda-muda, que se comunicava somente pela linguagem dos sinais. Quando saí do nosso útero, que era a sala de ensaio e pisei pela primeira vez no palco comecei a chorar. Tinha certeza absoluta que jamais ia conseguir. Uma coisa era fazer sinais entre os colegas em uma sala, em que podia eventualmente falar, brincar, errar. Outra era subir em um palco e saber que não poderia falar e precisaria me comunicar muito bem através de sinais, porque haveria na platéia pessoas que entenderiam esta linguagem e para aquelas que não soubessem precisariam acreditar que eu estava dizendo um texto com as minhas mãos. Pior, o teatro, um projeto magnífico da Lina Bo Bardi (Sesc Pompéia - SP), tinha uma platéia à frente e outra que ficava nas minhas costas. Os surdos só se comunicam de frente! Fiquei em pânico. Como convencer a Lina que iria estrear aquele teatro magnífico dela com uma das platéias fechada! Foi tudo difícil, e me exigiu 24 horas de dedicação. Ainda bem que era produtora do espetáculo. Porque também tive que explicar para a Lina que ia oferecer almofadas para o público colocar nas cadeiras lindas que ela havia bolado, mas que eram duríssimas. Aliás, ser produtora exige isso, se meter em tudo, em todas as fases, e é uma posição que não me incomoda nem um pouco. Muito pelo contrário. Não tenho o menor problema de colocar um projeto embaixo do braço e vendê-lo, porque parto do princípio que tenho uma coisa para oferecer eo não eu já conheço como resposta. Não acho que ninguém tem obrigação de comprar a minha idéia. Muita gente diz que o empresário tem que ter consciência, eu não acho não. A consciência é dele, ele faz o que bem quiser. Se por um acaso eu tiver alguma coisa que o mova, vou adorar que ele faça comigo. Nunca me senti passando pires, não é essa imagem que tenho de mim como produtora. Não posso dizer também que usufrui as benesses do poder. Acho que o Sérgio Motta gostava de mim, embora tenha convivido pouco com ele e bem mais com a sua mulher, Vilma. Ele gostava do meu trabalho, mas nunca a ponto de me fazer concessões ou exigir contrapartidas. Os governos passam, o que faço segue. Eu vou para todos os lugares, tenho muitas portas abertas, e outras fechadas também. Vivo procurando saber o que posso, muito mais do que não posso. Posso furar o chão do teatro? O teatro tem pé-direito, então posso... Posso chamar estes atores? Posso estrear quando? Teatro já criou mitos. Hoje é uma atividade de sobrevivência. Tudo é difícil, desde conseguir um espaço a montar um elenco. É como se existisse um mal-entendido no fazer teatro, um buraco negro a ser escarafunchado. No mundo inteiro, ir ao teatro é uma festa. Aqui não! Parece que todos – do bilheteiro ao vendedor de balas, passando pelo dono do teatro – estão em outro barco, diferente do produtor e dos atores. O amigo do dono do teatro vende uma bala que faz um puta barulho, mas isso não tem a menor importância. A bilheteira trata mal. O atendimento ao público é péssimo, e o público vai de teimoso. Não sei se escolhi um caminho mais difícil. Sei que é uma trilha diferente. Mas o teatro me deixa envelhecer com mais conforto que a televisão. Não preciso ficar obcecada com a forma física, e me permite este contato direto com o público. Sei o caminho das pedras como atriz e produtora e faço até algumas experiências bissextas, como diretora ou autora, quando sou convidada. Fiz a direção, por exemplo, de alguns projetos do Raul de Orofino, que apresentava peças nas casas das pessoas e depois a bordo de aviões. Que experiência! Ficamos muito amigos e de vez em quando no Dia das Mães ele me liga primeiro que o Hiram e Juliano. Tive o prazer de dirigir uma edição do Prêmio Sharp, a convite do Maurício Machline, que era uma homenagem para Elis Regina e considero um dos trabalhos mais emocionantes que já realizei. Como autora, me arrisquei a pedido do diretor Antônio Gilberto, que ia dirigir A Mais Forte, de Strindberg, que é uma peça curta, de um ato só. Ele perguntou se eu não queria escrever alguma coisa. Engraçado, até cinco minutos antes eu não havia pensado em escrever nada. Quando o convite veio, chegou também a vontade, mas uma insegurança grande também. Conversei com as atrizes e perguntei o que elas queriam falar e escrevi sobre duas mulheres que estão se maquiando para entrar em cena. Tenho vontade de escrever mais, as pessoas me incentivam e estou até dedicando um tempo a isso. Quem sabe. Gosto de fazer cinema, embora tenha feito pouco. Nunca fui muito convidada; às vezes fui e não gostei do roteiro; noutras não podia me afastar para uma locação. Não me sinto tão confortável no cinema, quanto no teatro e na televisão, eu patino um pouco ainda. Gostei, porém, dos filmes que fiz. Lição de Amor, do Eduardo Escorel, foi uma experiência especial: a locação – nós filmávamos e ficamos morando em uma casa em Petrópolis – a convivência com a genialidade da Lílian Lemmertz, a atmosfera nas filmagens com o Escorel, que é um príncipe. Foi um momento muito feliz e difícil de ser repetido, pois tínhamos as condições ideais para trabalhar, que é altamente improvável hoje em dia com as dificuldades que os cineastas enfrentam. Quando a Lúcia Murat me trouxe o roteiro de Que Bom te Ver Viva disse não e pensei que ninguém sairia de casa para ver um filme pesado, difícil, sobre uma realidade dura. Assim que ela foi embora, descobri que tudo o que eu queria fazer era aquele filme, porque senti a importância de falar da nossa história, recente, doída, horrorosa. E fiz e é um dos trabalhos que mais me orgulho. Filmar com a Sandra Werneck em Amores Possíveis, e com o Luiz Carlos Lacerda em Viva Sapato! foi divertidíssimo: os personagens e as pessoas da equipe eram bem-humoradíssimas. Achoque ocinema,noentanto,é umcaminhoque tenho muito a explorar, personagens a descobrir. E, confesso, gostaria de trabalhar como roteirista – estou até revendo uma sinopse que escrevi há algum tempo, como exercício – fazer um filme, por exemplo, com o Beto Brant, que é um cineasta que admiro, que tem um cinema forte, uma linguagem alucinada, uma assinatura. Novelas fiz muitas, não tantas quanto vários colegas. Gosto demais de algumas coisas que fiz: Beto Rockfeller, Sol de Verão, Sassaricando, Éramos Seis. Hoje em dia, porém, quando vou fazer novela me sinto um pouco de férias, ah, que bom, vou rever os meus colegas, vou fazer uma outra coisa. Teatro é, definitivamente, o meu negócio. Capítulo IV Anatomia de Uma Paixão Teatro é vida, amor, paixão, às vezes casamento chato. O ator vive fases com sua personagem como em um relacionamento amoroso. Primeiro, o conhecimento. É encantador construir uma personagem, pegar um texto e se indagar: o que sei desta pessoa? O que o autor está querendo dizer? Que dados ele me dá? Então, por exemplo, você descobre que ela é medrosa, que em determinado momento da vida tomou uma atitude e se tornou um pouquinho mais corajosa. Sabe também coisas de ordem prática: o sonho dela era aprender violino, mas ela nunca pôde estudar música, sua família é grande, ela gosta de chocolate e mora no subúrbio. São informações que vêm de fora para dentro. Aí começa o trabalho e o processo se inverte, começa a ser de fora para dentro. O medo que ela sente, já vivi? Não, mas algo parecido já aconteceu comigo? É neste momento que entra a famosa memória afetiva, o método Stanislavski, que é uma mão na roda muito grande. E quanto menos o ator se defender, evitar entrar em contato com seus lados escuros, melhor e mais rápido passa esta fase do confronto. A paixão explode, quando você começa a emprestar o seu corpo, seu cabelo, sua cara, seus sentimentos, enfim, a sua alma, para a personagem. Nesta fase você discute com o autor, contesta-o. Se ele diz no texto que a personagem chorou desconsoladamente, não tenho escrúpulos em achar que não é bem assim, que discordo, que ela chorou, mas parcimoniosamente. Se eu pego o caráter da mulher e viro-a do avesso, tenho o direito de saber como ela reage. Sei que vou dar o recado do autor, mas não necessariamente exatamente como ele escreveu. Para o que está escrito virar ação é necessário uma pessoa e esta também tem coisas para dizer. Lembra no tempo da relação aberta? Um dizia para o outro: Ah, eu não me importo que você tenha relações com outros, mas ninguém levava em conta que a terceira pessoa do triângulo podia não gostar. O autor tem uma personagem e entrega-a para um ator. Pronto, estabeleceu-se a confusão. Não dizem que bastam dois para dançar um tango e três para uma neurose? Pois bem, desta forma neurótica e quase obsessiva, o ator se apossa da personagem. E tudo fica sem a menor importância. Família, filhos, sua vida particular vai para o buraco. Você até continua beijando o seu marido, fazendo dever com os filhos, organizando a casa, mas a sua cabeça está na paixão, só pensa nisso 24 horas por dia, não vê a hora de ir para o ensaio, porque nada é tão interessante, nada te faz pulsar nem te dá tanta alegria. É um momento insubstituível. Desde o primeiro momento me preocupo com os mínimos detalhes da personagem: a roupa, o cabelo. Acho que no teatro o hábito faz o monge. Em Afinal Uma Mulher de Negócios coloquei um salto alto, um coque e um vestido abaixo do joelho desde o primeiro ensaio, ainda quando discutíamos o texto em volta da mesa. Tudo isso precisava ser absolutamente comum, corriqueiro, normal quando pisasse no palco. Acho que no tempo da minha mãe, quando ela vestia a gente com uma anágua engomada – eu já falei que odiava anágua engomada? – e nos arrumava toda não haveria este problema, porque seria a roupa do dia-a-dia, mas hoje não. A gente pode ir para a rua de pijama que ninguém vai perceber. Como posso ser uma executiva no palco se não me acostumar com tudo que compõe o seu visual? Aquele salto faz parte do cotidiano, tem que parecer que nasci com ele e não que acabei de vestir uma roupinha nova. Eu considero o figurino uma coisa muito difícil e nem totalmente bem resolvida no teatro brasileiro de modo geral. Porque é a sua segunda pele e ela só chega, às vezes, três dias antes da estréia. Até ficar totalmente à vontade, demora. O figurinista, em muitas ocasiões, não assiste aos ensaios, para ver as dificuldades que um ator tem e o que ele necessita. De repente o ator descobre que o personagem necessita ter um lenço o tempo todo, mas o figurinista diz: Não, a roupa que eu fiz pra você não tem lugar pra botar lenço. Procuro entender todos os lados do personagem. Fiz vários anos de terapia, primeiro nos anos 70 e recentemente com uma pessoa superbacana, Alice Cobello, que me fez perder a rigidez, o medo do diferente, me fez entender que existe alternativa para tudo. Que nada só pode ser feito de uma maneira. Levo para as meus personagens esta maneira de encarar o mundo, a vida. Acho que torno-os mais saborosos não considerandoos um monolito e fazendo o que chamo de uma interpretação em bloco. O Juca também chama assim. Debato muito, também desde a mesa, nas primeiras leituras que a personagem não pode ser uma coisa só. Nem a Madre Tereza de Calcutá era boa 24 horas por dia. Não é possível que ela passasse 24 horas por dia, à beira do Rio Ganges, e em algum momento não dissesse, ou pelo menos pensasse, puta que pariu, que merda! Ou Hitler. Ele não era mau o dia todo. Algum momento de poesia devia haver em sua vida, quando olhava um quadro, ouvia uma ópera, não sei. Ou seja, é preciso buscar essas várias facetas das personagens e não torná-las um bloco. É um mau-caráter então já entra dando bom-dia como um mau-caráter, vira um enorme clichê. Outra fase muito importante é decorar. Muita gente boa acredita que decorar em teatro é diferente da televisão. Que você deve ir ensaiando, ensaiando até o texto ficar orgânico. Discordo! Decorar é uma coisa, interpretar é outra completamente diferente. Decorar usa um hemisfério do seu cérebro, que é matemático, sintético. Interpretar precisa do outro hemisfério, o emocional. Decoro uma peça como se estivesse decorando o catálogo telefônico, não me interessam as sensações, nem as emoções envolvidas nas frases. Quero, sim, que elas fiquem devidamente guardadas em um escaninho na cabeça, como se fossem fichas, que devem saltar diante dos meus olhos na hora do exercício. Preciso que estas palavras estejam completamente naturais para transformá-las em ação, sentimentos, sensações. Alguns colegas acham meio estranho, me olham de lado e garanto que se perguntam como eu posso decorar assim. Pois é, decoro friamente porque quero me desvencilhar do texto o mais rapidamente possível para poder trabalhar, brincar em cima dele. Não nego que aprendi na televisão a decorar assim, porque tudo é rápido, meio nas coxas, e os atores têm uma quantidade absurda de texto por dia, mas por que não posso usar esta forma a meu favor no teatro? Não sou respeitosa com o texto e já disse isto. Mas sou incapaz de colocar cacos nas primeiras leituras. Tenho colegas que fazem assim, vão adaptando o texto ao seu jeitinho, colocando um sabia ali, um entende acolá. Também não troco palavras logo de cara. Intuitivamente sei que algumas palavras não são boas, mas ensaio dizendo-as, mesmo sabendo que irei substituílas. Gosto de pegar as dificuldades e ver como lido com elas. Sou um cachorrinho sem-vergonha que não desiste no primeiro pontapé. Já fiz dois textos da Maria Adelaide Amaral e ela adora a palavra perspicaz. Odeio esta palavra, ela é um convite a você se ferrar no meio do espetáculo. Mas eu ensaio com o perspicaz, mesmo sabendo que na hora vou trocar por esperto, ladino. Afinal, é um exercício e só ganho com isso. Por isso tento, tento, tento com o perspicaz. Quem sabe, aprendo a falar bem e, em um terceiro espetáculo da Maria Adelaide, estarei falando perspicaz com uma perspicácia, que deixarei a todos – e a mim mesma – perplexos. São as fases do namoro, do conhecimento, do amor, das pequenas brigas. A peça estréia e você casa com a personagem, estabiliza a sua relação, mas tem que ter cuidado para que ela não caia na monotonia. É preciso reinventá-la sempre. Buscar aquela paixão inicial. Faço isto sempre quando perco uma persona-gem, uma cena, um monólogo, uma cena que me emocionava e não me emociona mais. Tento resgatar o início do ensaio, como começou a paixão, o que me atraiu naquela personagem, o que me fez amá-la. Busco uma humildade absoluta e retorno a tudo o que o autor colocou, retiro a minha colaboração, e a personagem retorna com outro frescor, vigor. Buscoo closeejá falei sobre isso.A relação renasce. Em Intimidade Indecente, de Leilah Assumpção, há um monólogo que adoro fazer, que é a menina dos olhos, para mim, do espetáculo. Um dia perdi e não sabia como retomar. Fiz exata mente o resgate da paixão. Retomei pequenas filigranas. Por exemplo, em vez de dizer uma frase simplesmente comecei a fazer o espectador acompanhar o meu raciocínio, como se estivesse pensando naquele momento antes de falar. É um truque? Claro que é. Mas a lágrima também. Tudo é truque no teatro, mas há que saber fazêlo. Senão todo mundo seria ator. Tem gente que todo mundo acha engraçadíssimo. Coloca no palco e acontece um desastre. Sabe por que? Ele não era ator. Era só desinibido! Aliás, o meu marido diz que hoje temos um monte de desinibidos. Como toda relação, chega o momento do fim. É hora de parar. Eu começo a implicar com a personagem. Pego um bode, que tenho que rezar, pedir a Deus ajuda para não implicar tanto, fico numa antipatia. Fiz De Braços Abertos, de Maria Adelaide Amaral, por três anos, e um dia, sem mais nem menos, comecei a implicar. Estava muito cansada e queria parar. Todos me disseram que eu era maluca, que não podia virar as costas para o sucesso, que os Deuses do Teatro não me perdoariam. Na maior angústia liguei para a Marília Pêra que me disse uma frase salvadora: Você é putinha para trepar sem amor? Sou grata a ela até hoje. Parei, e os Deuses me perdoaram, sim, porque a peça que fiz em seguida ficou quatro anos em cartaz. É uma decisão supremamente difícil. Mas necessária. E que deixa um gosto de Quarta-feira de cinzas na boca. É, sem dúvida, um luto. Fica difícil se desligar da personagem. Não digo psicologicamente, mas do seu cotidiano. Se todo dia há uma hora de enrolar o cabelo, a gente estranha quando chega o momento e não tem nada para fazer. Automaticamente você começa a enrolar o cabelo até se dar conta que não precisa mais. Sabe quando uma pessoa vai embora da casa e desaparecem as pistas dela? É a mesma coisa: a roupa jogada do filho que se casou, por exemplo. É uma perda que aos poucos vai sendo substituída por outras coisas. Por uns tempos surge uma neutralidade, uma zona difusa, que nem depois da separação: Ah, vou ficar sozinha, não vou namorar mais ninguém. Aí surge um novo texto, uma nova personagem, uma nova paixão e tudo recomeça.... Capítulo V A Pororoca, que Linda! Comecei na televisão por um caminho muito diferente: no jornalismo. Havia uma seção de perguntas e respostas no Jornal do Brasil chamada Pergunte ao João, que resolveram transformar em um programa de televisão, na TV Rio, e me convidaram para apresentá-lo. Estavam procurando uma cara que não fosse conhecida, soubesse fazer perguntas, e fosse também atriz. Achei interessante, porque havia um fundo cultural e não era telenovela, que tinha a maior bronca de fazer. Em seguida, já registrada como radialista, fui convidada para apresentar outro programa, também na TV Rio, o Atualidades Esportivas. O Walter Clark um dia me chamou e queria que eu fizesse um programa infantil. Ele achava que eu tinha uma cara boa, que despertaria confiança nas mulheres e nas crianças, mas eu estava grávida e combinamos que voltaria para conversar depois do bebê nascer, mas na época já havia outra pessoa no meu lugar. Foi assim que deixei de ser a Xuxa! Aí me chamaram para o jornalismo na TV Globo. Bom, me chamaram é força de expressão. Fiquei um dia inteiro esperando para ser atendida pelo Rubens Amaral, que era o diretor, e a secretária não me dava a menor esperança – Ah, você não vai conseguir falar com ele, não – e eu , firminha. Levantei para fazer xixi, afinal estava o dia inteiro sentada e quando voltei ouvi: Viu como você não tem sorte, ele acabou de sair. Desci, ele estava na porta do carro dele conversando com outra pessoa, eu esperei que ela saísse e me aproximei dizendo: Rubens Amaral, eu vou dizer uma coisa: o senhor pensa que está dirigindo bem esta emissora, mas não está, há uma falha muito grande, porque eu não estou nela e preciso fazer parte da sua equipe, com licença. E me retirei. Ele me chamou, perguntou quem eu era. Meu nome é Irene Ravache, eu canto, danço, represento, apresento telejornais e acho imperdoável esta emissora ainda não ter me contratado. Ele fechou a porta do carro, mandou eu entrar na emissora com ele, ligou para o Paulo de Grammont, pediu que ele fizesse todos os testes possíveis comigo e me avisou: Se você passar, está contratada, se não passar, me encarregarei pessoalmente de falar para todo o Rio de Janeiro que tem uma louca chamada Irene Ravache solta pela cidade. Eu, confesso, morri de medo. Só pensava que tinha acabado a minha carreira de vez. O Paulo foi um encanto comigo, superpaternal, fez todos os testes e me avisou que ia haver uma vaga nos telejornais, porque a Nathalia Thimberg precisaria se afastar por causa do teatro, e que ele iria me indicar para apresentar pequenas notícias. Mas a Nathalia não lê pequenas notícias, retruquei. Ele me respondeu que ela lia três seções escritas pelo Newton Carlos, Sebastião Néri e Fernando Leite Mendes. Mas ela é a Nathalia Thimberg, completou, me colocando no meu devido lugar. Bom, lá fui eu, uns dias depois, para uma reunião com os patrocinadores e o pessoal do jornalismo. Só tinha homem. Eu, sentadinha em uma cadeira fora da mesa. Quietinha. Ninguém olhava para mim e nem falava comigo. E só ouvia eles dizerem: Não, não vamos colocar mulher, não. Mulher não tem credibilidade, não convence mesmo, tem que ser homem. Não posso nem dizer que era uma coisa machista, não era nada, porque eu não existia. Aí me levantei, avisei que ia me retirar. Só estava lá porque haviam me dito que teria uma presença feminina no jornal, mas que só escutara na reunião que mulher não convencia. Olhei para todos na mesa e perguntei olhando firme para cada um: Você é casado? E você? E você? Ah, é casado? Todos eram casados, que eu já tinha observado a aliança. E dei o tiro de misericórdia. Ah, e mulher não convence. E fui embora. No outro dia fui chamada para fazer o telejornal. Eu adorava fazer o jornal na bancada ao lado do Hilton Gomes. Deste programa nasceu o Jornal Nacional. Recebi de herança as três colunas da Nathalia. Era ao vivo, numa época em que não existia o teleprompter. Decorava muita coisa, ficava com o texto na frente e dava umas olhadas, fingindo que ia fazer um comentário, batia o olho e sabia o que tinha que falar. Além de apresentar, eu saía para fazer algumas reportagens. Um dia fui fazer uma matéria com o Carlos Machado, fiquei encantada com o show que ele dirigia. Nunca havia entrado em uma boate, muito menos de dia, com as cadeiras emborcadas em cima da mesa, as pessoas ensaiando, parecia filme. Havia um corpo de bailarinos fantástico, o Lennie Dale, um clima bárbaro. Quando acabou a entrevista com o Carlos Machado, perguntei: Como é que faço para trabalhar aqui? Ele me respondeu: Não, o que eu faço para ter a moça séria do telejornal no meu show? Eu, totalmente embasbacada, garanti que queria trabalhar lá, que faria qualquer coisa e dois dias depois voltei e ele me deu dois esquetes para fazer. Estavam no show o Ary Fontoura, a Suely Franco, o João Paulo Adour, uma gente maravilhosa. Eu comecei com os dois esquetes pequenininhos e as minhas inserções foram aumentando, aumentando. Um dia o Carlos me chamou para dizer que eu já era a estrela do show dele, que merecia um vestido à altura e pediu para a Gisela, sua esposa e figurinista dos espetáculos, para fazer um lindo para mim. E apareci com decote imenso nas costas, alcinhas de strass, felicíssima... Lá cantava também, primeiro uma música do Johnny Mathis deitada em cima de um piano de cauda. Era uma maravilha! Depois, uma da Brigitte Bardot sentadinha em um banquinho. Nesta época aprendi a sambar com os Originais do Samba, que eram companheiros tanto no show do Fred´s, quanto em uma peça que eu encenava na mesma época. Aliás, era uma loucura, saía da TV, ia para o teatro e de lá para a boate. Um dia, quando saia do Fred´s, o Rubens Amaral veio me cumprimentar. Perguntei se ele tinha gostado do show. Ele me disse que tinha ido assistir para ver o que a minha moça do telejornal estava fazendo em um show de boate, e vim achando que ia ter que despedir você, mas... pode continuar. Claro que fiquei feliz, sabia que fazia com muita seriedade, com muita classe. E ele continuou: Eu tenho que lhe dizer mais uma coisa, estive no Norte do Brasil e assisti ao encontro do rio com o mar e é lindo. Você é como a pororoca. E foi embora. Não é bonito? Foi a primeira vez que alguém me disse uma coisa tão forte, tão emocionante. Fiquei mais algum tempo fazendo telejornalismo, ganhei um prêmio como revelação da noite, mas tive um acidente de carro e não pude nem fazer o novo show do Carlos Machado. Nesta época tive uma conversa com ele e sugeri que convidasse uma pessoa para o espetáculo, o meu maquiador. E assim surgiu a maravilhosa Rogéria. Foi um dos primeiros grandes trabalhos dela. Não é o máximo? Fiquei engessada um bom tempo, precisei ser operada e também não pude continuar no jornal da televisão. Nesta época tudo estava muito complicado, a vida pessoal era demasiadamente ruim. Se o namoro tinha sido dramático, o casamento, conseqüentemente, também não foi gostoso. Fiquei dos 18 aos 23 anos casada e infeliz e um dia peguei o bebê, a coisa boa desta relação, e fui para São Paulo. Capítulo VI O Êxodo O primeiro lugar que pensei em ir foi o Rio Grande do Sul. Tinha a ilusão dos pampas, das planícies, do verde. Havia uma imagem na minha cabeça: um prado muito grande, uma enorme árvore, embaixo dela uma cama com um lençol imaculado, em volta dela as folhas caídas – na cama não caía nada! – uma coisa linda, romântica. E era lá que ia viver. Eu tinha uma visão romanceada do Rio Grande do Sul, os homens de bombacha, Capitão Rodrigo, aquele jeito de cidade européia. Havia vivido lá também uma linda história de amor absolutamente platônica, romântica, bonita e melancólica. No final de 1962, quando já estava noiva, viajei com a minha madrinha e o marido: passamos o réveillon em São Paulo, assistimos à Corrida de São Silvestre, depois fomos para Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Caxias do Sul. Eles formavam um casal bonitinho, enamorado, eu ficava ouvindo as conversas deles e me encantava. Não via isso em casa: meu pai era carinhoso, mas minha mãe, seca. Pois bem, em Caxias do Sul conhecemos um grupo que estava no mesmo hotel e, entre eles, havia um homem mais velho, lindo, que soube ser jornalista, que se parecia com o Glenn Ford e me olhava muito. Fizemos vários passeios juntos, em grupo, mas ele não conversava comigo, só com o meu tio. E eu, noiva, com aliança no dedo, nunca me aproximei também. No dia em que viemos embora ele me entregou um pacote e pediu que só abrisse dentro do ônibus. Dentro havia bombons, balas, coisas que se dão para uma criança, e um bilhete. Ele sabia que o meu noivo era mineiro, pois meu tio havia contado. Estava escrito: Irene. Este tem só uma finalidade: saber se você prefere Minas Gerais ou Rio Grande do Sul. Se você preferir Minas, desejo que você seja muito feliz. Se você preferir o Rio Grande do Sul... e aí ele me dava todos os dados dele, nome, endereço, telefone. Voltei para o Rio, continuei o namoro sofrido, casei e fui infeliz. Durante vários anos este bilhete ficou guardado na bolsa, de vez em quando eu o lia e ficava imaginando como seria a vida se tivesse preferido o Rio Grande do Sul. Um dia rasguei o bilhete, terminei o casamento, quase fui para o Rio Grande do Sul, mas acabei me mudando mesmo para São Paulo, onde estava parte da família. Ele? Uma vez, anos mais tarde, fui ao Festival de Gramado e dei uma entrevista contando que havia conhecido um jornalista em Caxias do Sul e que tinha muita vontade de revê-lo. Nada! Em outra vez resolvi procurar na lista telefônica e acabei falando com a cunhada dele e soube que ele estava internado há anos com uma doença degenerativa no cérebro. Ela sabia tudo de mim e me garantiu que eu havia marcado a vida dele, que de uma forma muito especial ele tinha sido apaixonado por mim. É uma história linda, não? Se a minha vida não seria no Rio Grande do Sul, teria que ser em São Paulo. E eu queria demais que desse certo. Meu avô Alberto havia decidido tempos atrás vender a casa do Cosme Velho, dividir tudo o que tinha em vida entre os filhos e se mudar para São Paulo, porque as filhas estavam morando lá por causa dos maridos. De certa forma, fui atrás deles, porque sabia que seria acolhida. E fui maravilhosamente recebida. Meus pais logo depois também se mudaram, porque minha mãe especialmente sentia muita falta do meu avô, a quem chamava de pai, o pai que ela não havia tido, de mim e do neto. Se eu penei um pouco na parte profissional, foi fundamental este reforço familiar para que conseguisse me firmar. As primeiras coisas que fiz ao chegar a São Paulo foram: encompridar a saia, perder o bronzeado, comer pizza e engordar 20 quilos. Não tinha pizza no Rio de Janeiro. Além disso achei uma maravilha aquela coisa das famílias se reunirem no domingo para comer pizza. Eu adoro reuniões familiares: casamento, batizado, tudo o que as outras pessoas acham chatíssimo. Até hoje sou grudada nas primas e no primo, aqueles com quem passei a infância. É difícil um Natal que não estejamos todos juntos. Neste dia, invariavelmente, as seis primas se sentam em cima do Lívio, sufocando-o completamente. O sotaque? Este não foi um problema, porque nos anos 60 só carioca suburbano é que chiava. Eu me lembro da minha mãe falando os prefixos dos telefones da zona norte, chiando bem forte, brincando com o jeito que as pessoas falavam pros lados de lá, pras bandas da casa da avó Octavia. Eu queria muito dar certo em São Paulo. E acho que o fato de ser carioca, mas não ser tão carioca, de não ser paulista, mas ser tão paulista deu uma combinação engraçada. Mas é claro que tive alguns problemas. Fui bater nas portas pedindo emprego e a primeira pessoa que fiz contato era carioca, o Ivan Mesquita, que era diretor da TV Excelsior e ele me recebeu bem. No primeiro dia de trabalho, cheguei atrasada. Eu morava em Santo André, precisava pegar um trem, descer na Estação da Luz e apanhar um ônibus para chegar na Vila Guilherme. Na véspera os meus primos me explicaram tudo direitinho como eu tinha que fazer. Pois bem, saio de manhã cedinho, com uma roupinha de carioca, um vestido curtinho, pop-art, bem decotadinho, com um casaco nas costas, pernas de fora bronzeadas. Cheguei na estação de trem e todos, literalmente todos, se viraram. Causei um frisson, que nem em filme de faroeste. Dei meia volta correndo e fui para casa trocar de roupa. Depois disto tudo, lá estava eu atrasada no primeiro dia de gravação. O Walter Avancini parou tudo, apontou para mim e disse: isto é uma carioca, a que chega atrasada é a carioca. Eu queria morrer, mas a Íris Bruzzi, outra carioca do elenco, me avisou que ele era boa gente, embora vá fazer a gente sofrer. Tive muitas brigas com o Avancini, mas acabei amiga dele. Era divertido fazer novelas na Excelsior. Eu ficava colada com a Íris – que me levava para a casa dela, cuidava do meu filho – e com o Sílvio de Abreu, que era ator na época. Nós ficávamos num canto e ele cantava tudo dos musicais da Broadway. Tinha uma turminha legal: a Nadir Fernandes, linda, linda, linda; o Tarcísio e a Glória, o Cuoco, todo mundo fazia Excelsior. O Cassiano Gabus Mendes estava também na Excelsior, e me indicou para fazer um teste na TV Tupi, pois tinha acabado de sair de lá depois de uma briga. Passei e fui para lá fazer o seriado com o Zé do Caixão, dirigida pelo Abujamra. Aí o Cassiano voltou para a Tupi para a novela do Bráulio Pedroso, Beto Rockfeller, e foi a grande felicidade da minha vida. O elenco era um sonho: Luiz Gustavo, Ana Rosa, Leonor Bruno, Jofre Soares, Plínio Marcos, Walter Forster, Etty Frazer (foi aí que começou a enorme amizade com ela). Todos nós éramos diferentes, porém nos amamos à primeira vista. O Lima Duarte na direção foi magnífico: doce, carinhoso, gentil, sabia dizer a coisa certa de uma forma gostosa. Deu no que deu: aquele sucesso estrondoso! Nós sabíamos que estávamos fazendo uma coisa diferente, porque o galã não usava terno e gravata, mas não tínhamos noção que iria ser um marco na teledramaturgia. Acho que, se soubéssemos, não teria dado tão certo. Não sei se foi o Lima ou o Walter que um dia disse que nunca havia visto um núcleo de atores querer tanto ir embora para casa. E era verdade. A Leo-nor, Nonoca, ficava fazendo tricô, louca para ver os netos; eu só pensava no meu filho em casa; o Jofre tinha os interesses dele no cinema; Plínio Marcos precisava escrever; o Luiz Gustavo, bem o Tatá, precisava casar... Nós tínhamos muitas cenas, mas só gravávamos três ou quatro dias por semana. As externas eram feitas na pracinha, em frente à TV Tupi. Não só as nossas, mas de todas as novelas, fossem de época, atuais, não tinha a menor importância. Havia uma padaria na esquina que agregava todos, a Real. Todo mundo ia lá. Todo mundo mesmo. Era lá que a gente tomava café, esperava a chuva passar, se emprestava dinheiro, Meu Deus, como era bom. A Tupi era uma grande família. Quando o pagamento atrasava, todo mundo se ajudava. O primeiro apartamento que comprei foi com um financiamento que a Ana Rosa me avisou que o Juca de Oliveira também tinha conseguido. Todo mundo namorava todo mundo e o namorado de ontem virava o grande amigo de hoje e namorado da sua melhor amiga. Foram tempos maravilhosos... Saí da Tupi quando estava há nove anos lá. Com dez anos na casa, ganharia estabilidade e não poderia ser demitida. Um dia entro lá e vejo três grandes atrizes, que haviam sido estrelas da Tupi sendo tratadas como móveis e utensílios, peças do almoxarifado. Fiquei muito mal e decidi que não ia deixar que o mesmo acontecesse comigo. Sempre fui uma pessoa mediana, que aprende com a experiência dos outros. Se me sentisse um gênio, uma maravilha, jamais olharia para o lado, mas não é o caso. O que acontece com os outros acontece comigo. O que acontecera com elas poderia acontecer comigo. Tomei uma atitude suicida e pedi as contas. Digamos que foi uma atitude sábia, mas na época eu não sabia e todos me aconselhavam o contrário. Eu sabia que se não saísse naquele momento, todos os planos que tinha de ser produtora, ter a minha companhia, investir em teatro iriam por terra. Mas sempre senti saudades daquela família. Capítulo VII Risos e Brigas em Família Acho que fiz um trabalho muito bonito em Éramos Seis, no SBT. Nesta novela recuperei o sentimento de família que havia na TV Tupi. Foi tudo mágico, desde o convite. Houve uma conspiração cósmica para que eu fizesse a novela. Não só por causa das pessoas envolvidas, amigos, mas por causa do local. Na época, estava bem situada como produtora no teatro, vindo de dois grandes sucessos que haviam ficado anos em cartaz. Quando o Nílton Travesso me chamou para fazer a novela fiquei tentada pelo texto do Rubens Ewald Filho e do Sílvio de Abreu, baseado em um livro que todo mundo havia lido, mas não estava a fim de fazer televisão. Aí ele me avisou que íamos gravar nos antigos estúdios da Tupi e me deu o endereço da casa onde a produção estava instalada. Quando cheguei lá era a casa de um primo irmão do meu pai, Francisco Castro Neves, que havia sido ministro do Jânio Quadros, e a primeira coisa que vi foi aquele chão lindo, que me lembrava de tantas festas. Eu não queria acreditar que estava na casa do tio Chiquinho e da tia Roseles! De lá fui dar uma volta nos estúdios, entrei naquele prédio vazio, sem ninguém, e vi a sala onde era a maquiagem, a outra das costureiras e comecei a ouvir as vozes das pessoas, o barulho das máquinas, como se estivesse em uma viagem no tempo. Entrei no estúdio, uma imensidão porque eles tinham juntado dois, e começou a aparecer gente na memória, a Ana Rosa, a Débora Duarte, o Lima, o Tatá. Quando saí do estúdio, ouvi alguém me chamar, me virei e vi um antigo câmera-man, agora com o cabelo grisalho, a gente se deu um abraço lindo, ele me pegou pela mão e nós fomos tomar café, lógico, na padaria. Quando o Nilton chegou, avisei: Vou fazer a no-vela. Fui a primeira pessoa a aceitar, me tornei a madrinha do núcleo e fizemos um trabalho lindo. Fomos muito felizes em Éramos Seis, deu tudo certo. Outra vez houve um espírito de família. Nunca me diverti tanto, jamais ri como em Éramos Seis. Era uma coisa absurda. Eu, a Denise Fraga e a Jussara Freire vivíamos três irmãs e por causa de uma almofada que tinha no cenário, a gente inventou um diálogo absolutamente maluco que, cada vez que estávamos juntas, parava tudo. Bastava olhar para a almofada que começava a conversa louca. O Henrique Martins jogava o texto no chão, quase nos xingava. Em algumas cenas ele colocava cada uma de nós em um canto da sala, que nem em colégio. Nas cenas de almoço e de jantar, com aquela gente toda, os filhos, o drama rolava no texto e ninguém imagina o que acontecia debaixo da mesa. Nós levávamos bolinhas de gude para ficar tacando um no outro e todo mundo entrava na farra. No enterro do meu marido, o personagem do Othon Bastos, Paulo Figueiredo, Marcos Caruso e Osmar Prado seguravam o caixão. O Caruso, que é muito alto, já estava meio sem jeito. Na hora que eles vão descer uma escadinha eu bati no caixão e cantarolei: Vem pra caixa você também. Pra que fui fazer esta merda? Todo mundo desequilibrou, o caixão quase caiu, para disfarçar que estávamos rindo, nós, os canastrões, começamos a chorar alto, um horror. O Henrique Martins – era sempre ele nestas horas – fingiu que não percebeu nada e continuou gravando. No final ele nos deu uma bronca, mas acabou morrendo de rir quando contei o que tinha feito. Ah, era muito bom! Mas como acontece em família, também teve briga, tive que bater pezinho. Eu fazia o papel de uma mulher com quatro filhos, casada com um homem com uma situação financeira, não diria precária, mas que se tornaria em breve, que morava em uma casa que era dela, mas que seria vendida. Ele trabalhava em um armarinho, numa casa de tecidos, ela era dona-de-casa, nenhum dos dois tinha herança, ela cuidava de três filhos homens e de uma menininha, filhos que se sujavam, claro. Chego no primeiro dia pra gravar, e me colocaram cílios postiços, uma roupa chiquérrima, pérolas. O quarto dos meninos era todo arrumadinho, a sala tinha piano, coisas de prata em cima do piano. Fiquei infelicíssima. Gravei o dia inteiro numa tristeza que não tinha tamanho. Quando terminou o Henrique Martins, falou: Por que que você está fazendo tudo tão sem tesão? Eu fiquei pensando, pensando, pensando, fui para casa e, é obvio, estava tudo errado. Liguei para o Rubens Ewald Filho, para o Nílton Travesso e coloquei todas as questões. Falei tudo. O maquiador insistia que todas as mulheres na época usavam cílio postiço e eu rebatia que dona-de-casa não, e mandava ele perguntar para a avó dele se ela ficava de cílio postiço dentro de casa. Eu insisti que não podia botar os filhos para dormir com colar de pérolas, como se fosse melindrosa, que as minhas roupas estavam erradas, que queria usar a roupa da figuração, avental manchadinho e o assistente do figurinista ficou com ódio. Pedi para desmancharem a minha casa e o cenógrafo não gostou nada, porque teve que tirar os candelabros. Enfim, fiz uma revolução, mas fui apoiada. Sabia que a história era linda e precisava confiar nela. Um dia fomos gravar um casamento e tudo estava lindíssimo. Quarteto de cordas, empregadas com luvas, uma mesa que era uma coisa. Mais uma vez, estava tudo errado. Cheguei para o diretor, que era o Del Rangel, e mostrei o que o texto pedia. O casamento era para ser feito com bandeirinhas no quintal e não com quarteto de cordas. Ele me olhou com uma certa superioridade e me disse: Ah, Irene, eu nivelo por cima, isso é Visconti. Retruquei se ele vira Rocco e Seus Irmãos, em que os personagens chafurdavam na lama e o aconselhei a procurar um meio-termo, sem luvas, aliás, sem empregados. No dia seguinte gravamos um belíssimo casamento campal. Só que ele mandou construir o cenário ao lado da pocilga. Ficamos sentindo aquele cheiro o dia inteiro. Não sei se foi de propósito, jamais perguntei. Acho que este tipo de participação só foi possível porque fui superapoiada pelo Nílton Travesso, pelo Rubens Ewald Filho, e era uma novela no SBT. Na Globo seria impossível, é uma outra estrutura, muito grande. Uma nave que anda sozinha. Eles não ouvem, ou melhor, eles não só não ouvem, como não acreditam. Quando houve aquela polêmica envolvendo Os Maias, da Maria Adelaide Amaral, a minissérie que foi criticada por ser lenta, eu peguei o telefone e falei com dois diretores na Globo. Nem fazia parte do elenco, mas me senti na obrigação de defender um trabalho tão bonito. Pedi que eles assumissem fazer um programa belíssimo, mesmo que lento, pois só a Globo poderia fazer isto. Perguntei que medo eles tinham, se era dos anunciantes fugirem para a Record, e que isso não iria acontecer. Graças a Deus existem diretores que imprimem um ritmo mais lento, ninguém agüenta tanta pauleira na TV. Sabe que a primeira vez em que gravei em Sol de Verão, dei uma pausa e, imediatamente, o assistente de estúdio deu a minha fala. Meu filho, sei o texto, estou só dando uma pausa, personagem também pensa, pára antes de falar. Acho que pausa era e ainda é sinônimo de palavrão na TV. Eles acham que sou maluca quando pego o telefone para defender uma obra da qual nem faço parte? Não, acham que sou bobinha, romântica. Não posso negar que a TV me ensinou muita coisa: decorar é uma delas e já contei sobre isso. Outra é me dar bem com qualquer tipo de colega. Você contracena com tanta gente, com estilos tão diferentes que te dá um jogo de cintura maravilhoso. Solucionar rapidamente as cenas, não ficar de nhénhénhém, lidar com a câmera também foram aprendizados importantes. Mas se eu não puder dar pausa, fazer esta coisa saborosa que é desvendar o pensar da persona-gem, a TV me interessa pouco. Além do mais, as novelas enveredaram por um caminho que não me agrada tanto, abriram mão de contar histórias, para seguir o que eles acham que o público gosta, uma coisa meio oportunista. Gosto de novela folhetim, que a história te agarra e te faz ir até o fim acompanhando. Novela de Janete Clair. Novela de noveleiro. Novela com história, não com peito e bunda em close. Além do mais, o esquema está cada vez mais difícil, especialmente na Globo, que se orgulha muito de conseguir colocar no ar com a maior qualidade, mesmo com os capítulos sendo gravados, em algumas situações, no mesmo dia. Mentira! Eles precisam urgentemente de um ombudsman lá. Eles até põem no ar, mas não é com qualidade não. É necessário que seja feita uma reavaliação, que haja um olhar um pouco mais cuidadoso em cima da teledramaturgia, é perigosíssimo que não exista esta crítica, autocrítica, sobre as telenovelas. Quando alguém levanta estas questões, corre o risco de ser tachada de antipática, chata. Faço questão de preservar o meu meio de trabalho e refletir sobre ele. Sempre. Mas bom, bom mesmo, é trabalhar em família e rir muito. Capítulo VIII Beleza e Sucesso de General-de-Quatro-Estrelas Amei fazer Sol de Verão. Já havia feito novelas na Globo antes, nos primórdios, nos anos 60, aquelas tramas de Glória Magadan, mas tinha marcado mesmo como atriz de novelas da Tupi. Fui convidada e topei fazer em 1982 a novela do Maneco. E foi um estouro. A novela foi um escândalo de Ibope. Aliás, eu tinha mais de 20 anos de carreira, já havia ganhado o primeiro Molière e uma tia só passou a me considerar atriz mesmo depois de Sol de Verão. Uma coisa muito maluca. Eu, com 38 anos e meio, me tornei símbolo sexual, musa do verão e nem acreditava que isto podia estar acontecendo comigo! De repente comecei a ser vista como um mulherão. Eu fazia com o Jardel Filho um par sensualíssimo. Acho que nós protagonizamos uma das cenas mais eróticas da televisão brasileira. Era uma coisa simples: ele, uma mesinha, eu, um pão em cima desta mesa. Nós conversávamos e íamos mordendo este pão. Meu Deus, era de uma sensualidade! E não acontecia absolutamente nada, só duas pessoas vestidas comendo um pão. Virei capa de todas as revistas. Todo mundo queria saber sobre a minha vida. Foi uma avalanche. Engraçado porque me vi obrigada a conviver com um lado que nunca havia me dado conta, que jamais havia lidado bem: a beleza. Lembra do bebê esquisito? Cresci ouvindo as pessoas dizerem que eu tinha um rosto bonito. Uma amiga da minha mãe, nordestina, simpaticona, me apelidou de caralinda, assim mesmo, tudo junto. Ou seja, todo mundo me achava bem bonita, mas eu era gordinha. Na década de 60, quando comecei a ficar mocinha, emagreci um pouco, mas continuei rechonchudinha. Digamos que o padrão era a Twiggy e eu estava mais para Certinha do Lalau. Havia também um grande mal-entendido na minha geração, uma confusão entre mulher bonita e burra. E eu queria ser inteligente, embora já percebesse o preço que uma mulher pagava por se destacar. Um dia uma pessoa me convidou para ser Miss Guanabara, e fiquei horrorizada: Meu Deus, por que razão eu estou dando pistas erradas, pois não é isso absolutamente o que quero ser. Queria ser intelectual, Simone de Beauvoir, outra coisa. Aliás, adorei quando no auge do sucesso o Alberto Dines veio me entrevistar para a Playboy e começou o texto assim: Primeira surpresa: a musa pensa. Além disso tudo, eu era profundamente tímida, envergonhava, me apagava, não lidava bem com a beleza, me enfeava, me escondia. Eu me olhava no espelho e me achava normal. Mais para a feia, mais para a sem graça. Nas festas ficava em um canto e ninguém me tirava para dançar. Era meio desajeitada. A minha prima querida Noeli sempre foi ágil, magrinha, miudinha, engraçadinha, bonitinha. Todos os adjetivos bacanas eram para ela. Para mim sobrava: Ah, como ela é grandona. Eu era grandona, imagine!, hoje sou pequena perto das grandonas, é uma coisa de geração. Eu entrava num lugar e aparecia. Demorei anos para usar isso a meu favor. Lembro que uma vez, abri a revista Manchete, havia uma matéria sobre beleza e o meu rosto estava lá. Pegaram uma foto que havia feito para divulgação de uma peça, nem colocaram o meu nome e uma legenda que dizia: Linda. Nem as romanas têm um rosto tão expressivo assim. Levei um susto enorme e achava que ninguém ia saber que aquela moça da foto era eu, e, é claro, todo mundo havia me reconhecido. Na verdade, as pessoas me diziam que eu era bonita e eu custava a acreditar. Quando fui trabalhar na TV Tupi, o maquiador Eric Rzepecki me disse que eu tinha os olhos do mesmo formato da Greta Garbo, olhos de mormaço e mandou que eu fosse maquiada de forma totalmente diferente das outras atrizes: Vamos fazer, porque ela pode. Outra história engraçada: um cirurgião plástico um dia me chamou de general-de-qua tro-estrelas. General-de-quatro-estrelas? É, maçãs do rosto, testa e queixo. Combinação óssea perfeita, general-de-quatro-estrelas. Ainda sou apanhada de surpresa quando alguém me elogia, especialmente hoje em dia, quando não espero mais ouvir nada. Não me sinto feia, posso dizer hoje que sou harmoniosa. E estou sempre meio desconfiada. Outro dia me convidaram para fazer um personagem que achei meio novo para mim e perguntei: Será que não estou meio velha? Você não me vê há muito tempo... A resposta: Jogaram ácido em você? Despencou totalmente em um mês? Parece maluca... Claro que sou vaidosa! Fiz uma plástica no final de 1993, um pouco antes de Éramos Seis. Eu começava a novela com uma filhinha de cinco anos e meu pescoço estava ruim. Pescoço é fogo! Acho que tive muita sorte, escolhi bem o cirurgião, Leonard Pannet, e pedi que ele não mexesse nos olhos, porque ainda estava agüentando – e acho que ainda agüento – um close legal. E sempre tem uma boa maquiagem. Fiz ainda a orelha e diminuí os seios, que queria fazer há um tempo. Além de Sol de Verão ter sido um estouro, aconteceu a morte do Jardel Filho no meio da novela, uma tragédia. E fiquei mais ainda no foco. Eu fechei o Jornal Nacional com o meu depoimento. Confesso que foi um momento em que tinha tudo para me deslumbrar, mas preferi outro caminho. Não que me ache imune. Se acontece com os outros, pode acontecer comigo. Mas estou atenta sempre. Vi numerosos colegas optarem pelo caminho do deslumbramento. Pessoas que começaram a ser achar acima do bem e do mal. Outro dia fui ao lançamento de um livro e fiquei uma hora e quarenta minutos esperando. Muitos colegas vinham e mandavam eu ir lá para frente. E eu lá, na fila. Fui aplaudida, não esperava e nem queria que isso acontecesse, fiquei constrangidíssima. Mas é assim que me comporto: se tem uma fila, fico nela, não sou melhor do que ninguém. Vi muita gente esperando em antesalas, cujas portas estavam sendo abertas para mim. Olhava para elas e sabia que a qualquer momento a situação podia se inverter. Naquele momento eu estava sendo tratada como estrela, mas a novela podia acabar, meu contrato não ser renovado e tudo mudar. Dizem que o fracasso ensina, mas o sucesso ensina também, a não ser que você seja bobinha e acredite que ele é para sempre. No fracasso e no sucesso muitas coisas são colocadas em cheque: a humildade e os limites, por exemplo. É importante separar o que é um sucesso que está diretamente ligado àquilo que você está fazendo no momento, e o seu sucesso pessoal. O brilho momentâneo muda de mão, necessariamente no próximo trabalho pode não acontecer. Não dá para ter esta consciência lá adiante, quando o sucesso escapar pelos dedos, é preciso trabalhála durante o processo, sem deixar se embriagar pela fama fácil. Pode parecer meio bobo o que estou falando, neste momento em que fama, celebridade, peitos de fora, casamentos e separações acontecem nas páginas das revistas. Sou somente uma espectadora deste mundo. De vez em quando até passo por perto e me divirto. Mas me mantenho firme no meu pequeno universo, dando continuidade às coisas em que acredito, procurando pessoas que pensam como eu. Se hoje não estou em muitas capas de revista ou não saio em determinados veículos com certeza é por escolha e não por exclusão. E fiz esta escolha há tempo, quando optei em ter uma família e não abrir mão dos momentos com ela, quando resolvi fazer teatro em São Paulo, ser uma atriz fora do Rio de Janeiro, longe da Vênus Platinada, do Projac. Mesmo quando estourei em Sol de Verão eu podia ter ficado, mas voltei para o meu lugar, pois ainda havia indagações a serem respondidas. É importantíssimo para mim jamais perder o prumo, ter muito claro que sou a Irene Yolanda, mulher do Edison, mãe do Hiram e do Juliano, avó do Cadu e da Maria Luiza, dona do nosso apartamento, proprietária de um Ford Ka, amiga dos meus amigos que, às vezes, posso estar estrelando uma novela das oito, em um palco em uma peça de sucesso, jantando no mais luxuoso restaurante da cidade, usando um belíssimo colar de pérolas em um desfile. Mas nestes casos eu estou, não sou. Finco o pé no que sou e não arredo. E neste bloco vou até o fim. Capítulo IX O Bloco da Irene Sempre quis ter a minha família. Mesmo já tendo sido casada e mãe, só fui deixar de ser a filhinha da mamãe e do papai e ter a minha turma, o meu bloco, com a chegada do Edison na minha vida, em 1971. Quando ele veio, era tudo o que eu queria para mim. Não que tivesse sido totalmente infeliz no meu casamento e namoros anteriores, se falasse isso seria mentira, mas nada havia sido o que imaginara, nada era exatamente o que desejara para ficar para sempre na minha vida. Com a chegada do Edison, tudo ficou fácil. Nós nos reconhecemos de cara, não nos conhecemos. Nossos corpos se entenderam desde o primeiro instante, e isto vai muito além da inteligência, do racional. É apesar de você, digamos. Eu lembro de um exercício de expressão corporal extremamente sensorial que fiz uma vez, em que todos estávamos com os olhos bem vendados, vestindo o mesmo tipo de malha, homens e mulheres. Se passávamos a mão no tórax, em alguns lugares, sabíamos que era uma mulher ou um homem que estava ali do lado, mais nada. Em determinado momento quando mandaram parar e tirar a venda dos seus olhos, levei um susto porque o ser com quem eu mais me envolvera, mais me acasalara, era uma mulher, uma alemã cheia de arestas, aquela que chegava, cumprimentava e não tinha uma turma, como todos nós outros tínhamos. Foi uma surpresa, o meu corpo que foi atrás dela, que se acasalou e se sentiu confortável. Com o Edison foi confortável e maravilhoso desde o primeiro momento. Entre nós sempre houve o ficamos combinados assim, sem necessidade de palavras. O Edison já sabia, jamais precisei explicar nada. Sabe aquela preguiça que dá explicar tudo o que você gosta ou não no início de um relacionamento? Nunca precisei fazer isto. É por isto que digo que nós nos reconhecemos. Ele era o que tinha que ser. Nós nos conhecemos em um grupo grande, que misturava jornalistas e artistas. Um dia, estávamos saindo de um restaurante e ele simplesmente me disse: Nós estamos namorando, você sabia? Não tinha rolado beijo nem nada. Eu concordei. Fiquei dias louca para dar para ele, mas ele decidiu estudar o terreno – segundo diz – mas acho que nem ele poderia imaginar que seria tão bom. E até hoje, 32 anos depois, é muito bom. A gente sempre disse um para o outro que a cama era o melhor programa. De vez em quando um ainda olha para a cara do outro e pergunta: Ainda é o melhor programa? Com certeza! Mesmo que hoje a cama tenha um monte de momentos de leitura e de conversa e menos piroctenia e perfomance sexual, ainda é o melhor programa. Ainda existe esta linguagem forte entre nós. Outro dia uma amiga me mandou uma coisa tão bonita do Afonso Romano de Sant’Anna, que falava que os corpos, mesmo que estejamos dormindo, continuam a fazer amor. É verdade, é um entendimento de pele rico, muito saudável. Mas só isso não seguraria um casamento, claro! Além deste entendimento que existiu desde o primeiro momento entre os nossos corpos ainda havia a profunda admiração por aquela pessoa inteligente, engraçada e que adorava família, que nem eu. Uma pessoa cortês, delicada, doce, embora elétrico, que faz 300 coisas ao mesmo tempo, agitado. Que presente maravilhoso! O seu humor fez com que o meu aparecesse mais. Eu tinha umas dores, umas amarguras, uns ressentimentos e a convivência com ele fez com que o lado engraçado brotasse, se tornasse mais forte. Ele me ajudou até a perder um pouco a vergonha que sentia por ter medo de cachorro. Acredite! Eu tinha pânico de cachorro – até que o meu medo diminuiu – mas durante muito tempo tive a certeza que era a única pessoa na América do Sul que tinha medo de cachorro, era a vergonha que sentia. Era a única babaca que tinha medo de cachorro. O Edison me ajudou demais, me apontando pessoas, logo que a gente conhecia, ele dizia assim: Irene, sabe que ela também tem medo de cachorro? Ou seja, esquece essa convicção louca que você é a única. É claro que a terapia completou este tratamento de choque do Edison, porque nela descobri que não era a detentora, que não carregava nos ombros, só eu e mais ninguém, aqueles defeitos ou aqueles medos. Ou seja, acho que deixei de olhar pra o meu próprio umbigo. Inclusive acho que esse deve ser o primeiro caminho de uma terapia. Dizem que a gente casa com alguém parecido com o próprio pai ou o seu oposto. Acho que o Edison lembra o meu pai na doçura, que não era homem de bater pau na mesa. Uma vez, um grande machão daquele tipo estou armado, faço, bato, aconteço começou a provocar o meu pai. Ele queria me atingir, falava alto e ameaçava. Meu pai fez uma coisa absolutamente cinematográfica: à medida que o homem falava, ele tirou a calça, a camisa, as meias, os sapatos e ficou somente de cuecas. Deu uma voltinha em torno de si mesmo e numa voz bem calma, baixa, sem desafiar, avisou: Agora eu vou brigar com você. Acabou o clima! O Edison seria capaz disso também. Nós nos conhecemos e nos casamos no mesmo ano. Meu filho Hiram estava com cinco anos e gostou de cara do Edison. Um dia expliquei que talvez fôssemos morar todos juntos e ele quis saber se o Edison ia ser o seu pai. Expliquei que não, que ele já tinha um pai, que o Edison também não ia ser tio, porque não era irmão de ninguém, enfim, que ele ia ser meu marido. Se ele concordasse, claro! Senão deixaríamos como estava: eu morando em casa com ele e o Edison em outra. Ele me pediu um tempo para pensar, este tempo durou dois minutos, e disse que gostaria muito que o Edison viesse morar com a gente. Os dois sempre se deram bem, o Edison foi extremamente atencioso em todas as fases da vida. Quando o nosso filho Juliano nasceu, quatro anos depois, quando ele chegava em casa, primeiro ia ver o Hiram, os deveres dele e depois olhar o bebê. Uma delicadeza extrema e neste ponto ele terá sempre a minha gratidão eterna! Nossa vida foi sempre um mar de rosas? Claro que não! Sofri muito, por exemplo, quando percebi que ele não estava mais apaixonado por mim como no começo. Foi triste! Não aconteceu só comigo, claro!, acontece em todos os casamentos, aquele momento que você percebe que os olhos do outro já não brilham mais como antes. Uma vez alguém me perguntou: Mas você queria o quê, que ele matasse um leão por dia para te provar isto? Não, claro que não. Que ele cortasse uma orelha igual a Van Gogh, ah, isso eu queria. Não me conformava com a transição dos primeiros anos de paixão para a sensação de plenitude do amor. Eu chegava a acordar o Edison às quatro horas da manhã – Meu Deus, como eu conseguia ser tão chata – só para dizer: Você já pensou que pode morrer agora e não estar apaixonado e isso será um desperdício? Ele me mandava sossegar, me dava um beijo e continuava dormindo. Para mim a perda da paixão foi um luto. É claro que um dia ela chegou para mim também. Mas se a paixão do Edison foi embora antes, o amor dele chegou mais rápido. Eu perdi a paixão um dia e não sabia o que colocar no lugar. Só entendia a vida de um jeito. Queria dançar de rosto colado, olhos nos olhos, com todos os ingredientes juvenis e mais conhecidos da paixão. Achava também que seria indecente viver o arremedo de uma paixão, que, sem ela, só indo embora. Acho que o Edison me ajudou a fazer a passagem, que é como navegar por um rio e passar por uma eclusa, uma comporta se fecha e outra se abre, você não precisa pular do barco porque não vai ser tragada pela cachoeira. Se quando era jovem não conseguia imaginar uma vida sem a paixão desenfreada, hoje não posso me imaginar vivendo de outra forma que não seja com um amor calmo, companheiro e cúmplice. Quem agüenta viver na sofreguidão sempre? Já estaria há anos em uma UTI, com soro na veia. Não é à toa que a primeira crise nos casamentos acontece depois de sete anos. No meu não foi diferente. Mas do mesmo jeito que reinvento os personagens quando eles estão ficando sem paixão, acho que reinventei a minha vida. E ele a dele. E que bom que quisemos fazer esta reinvenção juntos. Nossa separação aconteceu quase duas décadas depois, no final dos anos 80. Mas assim como começamos o nosso namoro, terminamos o período separados. Eu estava na França, em Aix-la-Provence, na casa do Sábato Magaldi e da Edla Van Steen, e ela ligou para alguém no Jornal da Tarde e quem atendeu foi o Edison. Ele pediu para falar comigo, disse que estava com saudades, pediu para eu avisar quando ia voltar. Bem, ele foi me buscar e na volta do aeroporto já fomos falando com a maior naturalidade na volta dele para casa. É engraçado, não teve grandes lances de romantismo, mas um profundo conforto. Neste tempo em que estive separada, porém, sempre tive uma certeza, e esta permanecerá mesmo que a gente se separe de novo: ele sempre será o meu homem, o meu companheiro. Passamos por muitas coisas juntos nestas três décadas. Uma delas, pesada, que foi a droga entrando pela porta da casa, porém, no fim da grande batalha, acabou fortalecendo demais a nossa família. Tudo começou em uma época em que estava me sentindo maravilhosa, com uma casa adorável, uma carreira indo superbem. Achava que eu era o MÁXIMO como mãe. Quando via outras mães terem problemas com os filhos – e não estou falando de drogas – me achava uma vitoriosa. Eu não via os meus filhos como indivíduos, eles eram uma continuação de mim. Se eu sentia frio, eles sentiam frio e eu mandava que eles colocassem casaco. Se eu estava com fome, era hora deles comerem. Como eu os achava lindos e perfeitos, jamais podia admitir que eles pudessem ter depressão. E eu havia sido uma menina cheia de angústias e questionamentos! Mas os meus filhos, não. Eles eram lindos, perfeitos, maravilhosos, inteligentes e ainda podiam contar com uma mãe maravilhosa também e liberal, com quem eles conversariam, evidente, quando tivessem algum problema. Na verdade eu ha-via inventado um mundo cor-de-rosa que não existia. Aí chegou a droga e puxou o tapete de todos nós. Quando tudo aconteceu, fiquei muito revoltada. Era como se uma maldição divina tivesse caído sobre mim. O Juliano foi um turista da droga, aquele que entra e sai, sem maiores problemas. Hiram, não, é um adicto, e só falo isso porque ele abriu mão do seu anonimato. Ele tem uma doença, que é progressiva e pode levar à morte se não for tratada. Primeiro é preciso aceitar que é uma doença para depois tentar entender o que significa, o que também não é fácil. Depois, pedir ajuda, partilhar o que está sentindo, perder a vergonha. Nós quatro, toda a família, tivemos que percorrer um longo caminho para que conseguíssemos sair desta. A droga deixa toda a família doente e pode dissolvê-la. São diversos ritos de dor, angústia e drama que todos precisam passar. Culpa e vergonha caminham juntas. Para que serve a culpa? No meu caso serviu para demorar a tomar uma atitude. A droga é um inimigo tão forte, tão forte, um Golias, que não imaginava que eu pudesse ser um Davi. Ela entrou no meu lar, é poderosa, e eu, muito fraca, assim me sentia. Quando comecei a entender que ela era um inimigo, sim, e que precisava ser combatido, sabe lá com qual exército, ou mesmo com uma pedra e que temos o poder para fazê-lo, é que se comecei a buscar um caminho. Um dia acordei sentindo mais uma vez que a única coisa que não queria fazer era levantar para aquela vida de enterro, para aquele cotidiano em que se enterravam todos os sonhos, projetos, o futuro e perguntei a Deus se ele havia se esquecido de mim. E nessa pergunta eu emendei outras: me ajuda, me mostra quem sabe, quem devo procurar, procuro um padre? Fui criada em igreja católica, mas estava afastada. Resolvi ligar para a Tereza Salles, mulher do Mauro, que é bem religiosa e pedi ajuda. Já que era um monstro extraterrestre, só ajuda divina. Ela me convidou para ir a um grupo de orações. Decidi ir, conversar com outras mulheres, parar de me virar só para a minha culpa, para o meu umbigo, porque, enquanto não me abrisse, ajuda não iria aparecer mesmo. Você tem que pedir ajuda, isso é muito importante. Para qualquer coisa, pedir ajuda, sempre. A partir daí, me deram a indicação de um terapeuta que mexia com isso, não é no primeiro que a gente acerta. Nem no segundo. O fato de você querer ir, não quer dizer que o filho vá. Mas a gente começou o caminho que acabou no Instituto Souza Novaes, nos Doze Passos. No primeiro passo você admite que é impotente diante da doença, no segundo se entrega a um poder superior, dê a ele o nome que quiser, Deus, o seu próximo, a Natureza. O começo já foi difícil. Impotência e entrega não existiam no meu vocabulário. Eu podia, eu centralizava e, ignorante, achava que a cura do meu filho havia de partir de mim. Tive que entender que antes de ser meu filho, ele é filho de Deus, da Natureza e que não detinha o destino dele. Nós todos aprendemos muito. E continuamos aprendendo. O Hiram trabalha hoje como monitor dos Doze Passos na clínica, faz abordagem nas ruas, encaminha ajuda àqueles que passam pela mesma. Uma vez estava andando e vi um homem jogado, dormindo no meio da rua em frente a um boteco. Era um homem vestido normalmente, via-se logo que não era um morador de rua. O primeiro pensamento foi: é um bêbado. O segundo: podia ser meu filho. Eu me abaixei e comecei a tentar tirá-lo do meio da rua, pelo menos encostá-lo. E quando comecei a fazer isto, muita gente se juntou para me ajudar. Às vezes basta um pequeno gesto. E é importante dizer para todos: Existe luz no fim do túnel! É uma frase feita, mas uma pura verdade. É longo, dolorido, doído, mas o inimigo não tem todas as forças. Um dia me ofereceram um personagem, e não sabia como conseguiria subir num palco para viver uma mãe. Com que autoridade, logo eu, tão cheia de culpa? Minha ex-terapeuta (não me conformo que ela seja ex-terapeuta, ela é minha terapeuta e pronto!) me deixou bem claro que não precisava de autoridade, que subiria no palco com o sofrimento, dor, lágrima e amor de mãe. Com certeza o teatro me ajudou neste processo todo, um longo processo, que durou pelo menos 12 anos. Não sei como teria sido sem ele. Sempre soube que o bem venceria o mal, talvez porque seja uma Poliana incurável. Eu só não sabia se estaria viva para ver e graças a Deus tive esta oportunidade. E acho que cada vez mais as pessoas estão saindo das drogas. Digamos que o exército do bem se organizou. E digo do bem com certeza. E não há nenhum preconceito nisso. É conceito formado. A droga é o mal, é o inimigo. Como diz a Bíblia, se reconhece um inimigo porque ele chega para destruir, para roubar, para matar. E não é isso que a droga faz? Às vezes eu imaginava, e acredito que muita gente imagine também, que para existir felicidade a vida precisava ser toda arrumadinha, bonitinha, que nem nas histórias que a gente cresce ouvindo. Se não fosse assim então era nada. Demorei a entender que existia um meio-termo, que sou uma pessoa mediana, nossa, quanto tempo para aceitar estes termos, que não precisa ser TUDO maravilhoso ou NADA. E que os remendos, os machucados fazem parte também da história da felicidade. Meus filhos cresceram, são homens feitos, como disse uma vez uma senhora quando perguntei como iam os filhos: Velhos, graças a Deus. Hoje felicidade para mim é ter os filhos dormindo em casa; comemorar o Natal com toda a família, pode ser até em outro dia. Reunir o Edison, o Hiram, o Juliano, o Cadu e Maria Luiza (Ah, meu Deus, finalmente chegou alguém nesta família para eu colocar cílios postiços) e fazer coisas até fora do convencional, mas estando juntos. Com uma alegria genuína, o coração em paz, gostoso. Se me tornei mais católica depois de tudo isso? Sem dúvida, mais religiosa, mais cristã, gosto de Jesus Cristo, se tem alguém que merece estar à direita do Pai Eterno é ele. Gosto de seus ensinamentos e de tê-lo como Filho de Deus. Religião é pra mim uma escolha. Quanto ao Paraíso não tenho noção se tenho um lugar destinado para mim nele. E nem quero saber. Se existe uma coisa que não abro mão é a surpresa deste momento. Não quero morrer tão cedo, acho que seria uma pena, pois adoro viver, acho a vida lindíssima e que existe muita coisa ainda que quero ver e fazer. Não quero, também, segurança alguma sobre o outro lado. Não desejo que ninguém venha me dizer que tem isto ou aquilo por lá. Reencarnação, inferno ou paraíso. Sou ao contrário dos meus amigos, que querem ao menos uma centelha de confirmação do algo mais, a certeza da continuidade. Quero que o último suspiro esteja bem longe, mas não gostaria que ele fosse como o nascimento que não lembro. Amaria que houvesse uma fração de segundo para constatar: Ah, então é isso! Na verdade, não adianta ensaiar, ensaiar, ensaiar, a gente só sabe o que acontece na hora que a cortina levanta. E não gostaria de perder esta estréia por nada! História de Uma Carreira Teatro Criou o Teatro Simples com o espetáculo As Turca, texto de Andréa Bassit, com direção de Regina Galdino. Estreou em São Paulo em 2005 e permaneceu até junho de 2007, com apresentações em São Paulo, Rio, cidades do Interior do Estado de São Paulo. Em 2007, preparava a segunda produção do Teatro Simples, Miguel Magno, o Pregador de Peças, monólogo escrito para o ator por Andrea Bassit, com direção de Regina Galdino. 2003 Intimidade Indecente de Leilah Assumpção, direção de Regina Galdino 1997 Inseparáveis* de Maria Adelaide Amaral, direção de José Possi Neto (Na foto, com Jussara Freire e Eduardo Conde) 1996 Brasil S/A de Antônio Ermírio de Moraes, direção de Marcos Caruso 1995 Eu me Lembro de Geraldo Mayrink e Fernando Moreira Salles, direção de Ullyses Cruz 1989 Uma Relação Tão Delicada* (Na foto, com Regina Braga) de Loleh Belon, direção de William Pereira 1984 De Braços Abertos* de Maria Adelaide Amaral, direção de José Possi Neto (Na foto, com Juca de Oliveira) 1982 Filhos do Silêncio* de Mark Medoff, direção de José Possi Neto 1981 Afinal Uma Mulher de Negócios* de Rainer Werner Fassbinder, direção de Sérgio Britto 1980 Pato com Laranja de William Douglas Home, direção de Adolfo Celi 1979 Tem um Psicanalista na nossa Cama de João Bethencourt, direção de Odavlas Petti 1978 Bodas de Papel de Maria Adelaide Amaral, direção de Cecil Thiré 1977 Os Filhos de Kennedy de Roberto Patrick, direção de Sérgio Brito 1975 Roda Cor de Roda de Leilah Assumpção, direção de Antônio Abujamra (Na foto, com Lilian Lemmertz) 1972 Os Inocentes (do romance de Henry James) adaptação de William Archibald, direção de Egydio Eccio 1971 A Ratoeira de Agatha Christie, direção de Egydio Eccio 1968 A Cozinha de Arnold Wesker, direção de Antunes Filho 1966 Pindura Saia de Graça Mello, direção de Graça Mello (Na foto, com Milton Moraes) 1963 Eles Não Usam Black-Tie de Gianfrancesco Guarnieri, direção de Oduvaldo Viana Filho Aonde Vais Isabel? Maria Inês Barros de Almeida, direção de Kleber Santos 1962 Aconteceu em Irkustsk de Alexei Arbusov, direção de Kleber Santos * As peças assinaladas foram produzidas pela IR Produções Artísticas que, em 2004, apresentou As Turca, de Andréa Bassit, com direção de Regina Galdino, primeiro espetáculo do projeto Teatro Simples, que tem também supervisão artística de Irene Ravache. Televisão Novelas 2007 Eterna Magia (como Loreta) Rede Globo De: Elizabeth Jihn. Direção: Ulysses Cruz. Direção de Núcleo: Carlos Manga Elenco: Malu Mader, Maria Flor, Eliane Giardini, Osmar Prado, Thiago Lacerda, Cássia Kiss. Sinopse: Duas irmãs disputam o mesmo homem, filho de Loreta, que vive atormentada pela traição no passado. 2005 Belíssima (como Katina Solomos Güney) Rede Globo De: Sílvio de Abreu. Direção: Denise Saraceni Elenco: Lima Duarte, Tony Ramos, Glória Pires, Fernanda Montenegro, Pedro Paulo Rangel. Sinopse: As intrigas pelo poder na empresa Belíssima, que envolvem também a família do turco Murat, casado com Katina. 2000 Marcas da Paixão (como Dete) Rede Record De: Solange Castro Neves. Colaboração: Enéas Carlos, Maria Duboc. Direção: Cláudio Cavalcanti, Henrique Martins, Atilio Riccó, Fernando Leal, Antônio Seabra. Elenco: Carla Regina, Vanessa Lóes, Carlos Casagrande, Nathalia Thimberg, Antônio Abujamra Sinopse: A briga de duas irmãs por parte de pai, Guida e Cíntia, pelo amor de Diogo é apimentada pelas intrigas da governanta Dete. 1999 Suave Veneno (como Eleonor) Rede Globo De: Aguinaldo Silva, com a colaboração de Fernando Rebello, Filipe Miguez, Ângela Carneiro, Maria Helena Nascimento e Marília Garcia. Direção: Alexandre Avancini, Daniel Filho, Marcos Schechtman, Moacyr Góes. Direção-Geral: Marcos Schechtman e Ricardo Waddington Elenco: José Wilker, Glória Pires, Letícia Spiller, Luana Piovani, Vanessa Lóes, Rodrigo Santoro, Betty Faria. Sinopse: Waldomiro Cerqueira, o Rei do Mármore, tem sua vida mudada quando atropela Inês e ela perde a memória. Waldomiro tenta recompensar a falha levando-a para morar na casa dele. Apesar do protesto de suas três filhas, Maria Regina, Maria Antônia e Maria Eduarda, o empresário se apaixona por Inês e se divorcia de sua esposa Eleonor. 1996 Razão de Viver (como Luzia) SBT De: Nara Gomes, Analy Pinto, Zeno Wilde. Supervisão: Chico de Assis. Direção: Del Rangel, Henrique Martins, Nilton Travesso. Elenco: Ana Paula Arósio, Petrônio Gontijo, Adriana Esteves, Joana Fomm, Gabriel Braga Nunes. Sinopse: Versão de Meus Filhos, Minha Vida,a novela gira em torno de Dona Luzia às voltas com três filhos – André, Pedro e Mário. 1995 Sangue do meu Sangue (como Princesa Isabel) SBT De: Vicente Sesso. Adaptação: Rita Buzzar, Paulo Figueiredo, Ecila Pedroso. Direção: Del Rangel, Henrique Martins, Antonino Seabra, Nilton Travesso Elenco: Jayme Periard, Tarcísio Filho, Lucinha Lins, Bia Seidl, Osmar Prado, Lucélia Santos, Rubens de Falco e Tônia Carrero. Sinopse: Um homem luta para descobrir a história de sua família e para que a escravatura seja abolida no Brasil. 1994 Éramos Seis (como Lola) SBT De: Rubens Ewald Filho, Sílvio de Abreu, baseada em obra de Maria José Dupré. Direção: Del Ran-gel, Henrique Martins, Nilton Travesso Elenco: Othon Bastos, Ana Paula Arósio, Tarcísio Filho, Jandir Ferrari, Leonardo Brício, Caio Blat, Denise Fraga, Osmar Prado. Sinopse: O cotidiano da vida de Dona Lola ao lado do marido, Júlio, e dos quatro filhos: Carlos, Alfredo, Julinho e Isabel. Era também a história de Clotilde, que não conseguia romper com os padrões morais da sociedade quando tem de decidir morar com um homem desquitado – Almeida. 1987 Sassaricando (como Leonora Lammar) Rede Globo De: Sílvio de Abreu. Direção: Cecil Thiré,Lucas Bueno, Miguel Falabella. Direção-geral: Cecil Thiré. Elenco: Paulo Autran, Tônia Carrero, Eva Wilma, Edson Celulari, Cláudia Raia, Cristina Pereira, Lolita Rodriguez. Sinopse: Aparício Varella perde a esposa Teodora Abdala e resolve recompensar os anos de submissão namorando três amigas de uma só vez: Rebeca, Penélope e Leonora, embora o fantasma da esposa insista em atormentá-lo. 1983 Champagne (como Antônia) Rede Globo De: Cassiano Gabus Mendes. Colaboração: Luciano Ramos. Direção: Fred Confalonieri, Wolf Maya; Direção-geral: Paulo Ubiratan. Elenco: Antônio Fagundes, Tony Ramos, Cássio Gabus Mendes, Marieta Severo, Armando Bogus, Beatriz Segall. Sinopse: Um assassinato ocorrido numa festa 13 anos antes é o fio condutor desta história. Em 1983, o principal acusado, Gastão, ao tentar provar sua inocência com a ajuda do filho Nil, acaba interferindo na vida de cada um dos envolvidos no crime. A novela apresenta também a dupla de trapaceiros, Antônia e João Maria. 1982 Sol de Verão (como Rachel) Rede Globo De: Manoel Carlos. Co-autoria: Lauro César Muniz. Direção: Guel Arraes, Jorge Fernando, Roberto Talma. Direção-geral: Roberto Talma. Elenco: Jardel Filho, Tony Ramos, Yara Amaral, Beatriz Segall, Carla Camurati, Débora Bloch, Gianfrancesco Guarnieri, Isabel Ribeiro. Sinopse: Rachel acaba de se separar, deixando para trás um casamento sólido. Ela conhece Heitor, que faz o tipo machão carioca e não esperava se apaixonar, mas os dois vivem um forte romance. 1979 Cara a Cara (como Zeny) TV Bandeirantes De: Vicente Sesso. Direção: Jardel Mello, Arlindo Pereira. Elenco: Fernanda Montenegro, Nathalia Thimberg, Débora Duarte, Márcia de Windsor, Edson França, Carmem Silva, Rolando Boldrim Sinopse: Ingrid von Herbert teve um filho num campo de concentração nazista. Anos depois, milionária, volta ao Brasil atrás do herdeiro e se envolve com os demais personagens da novela. 1979 O Profeta (como Teresa) TV Tupi De:IvaniRibeiro.Direção:EdsonBraga,DavidGrimberg, Antonino Seabra. Supervisão: Carlos Zara. Elenco: Carlos Augusto Strazzer, Débora Duarte, Elaine Cristina, Cláudio Corrêa e Castro, Yolanda Cardoso, John Herbert. Sinopse: Daniel é um paranormal que vê o passado e prevê o futuro e torna-se muito famoso e rico ao montar um consultório ao usar os seus dons em benefício próprio. 1975 A Viagem (como Estela) TV Tupi De: Ivani Ribeiro. Direção: Edson Braga. Supervisão: Carlos Zara Elenco: Eva Wilma, Tony Ramos, Altair Lima, Elaine Cristina, Ewerton de Castro, Rolando Boldrin, Joana Fomm. Sinopse: O espírito de um jovem que cometeu um assassinato volta para se vingar de todos que o fizeram sofrer. 1974 O Machão (como Dinorah) TV Tupi De: Sérgio Jockyman, baseada em argumento de Ivani Ribeiro. Direção: Luiz Galon. Elenco: Antônio Fagundes, Maria Isabel de Lizandra, Flávio Galvão, Lisa Vieira, João José Pompeo, Rogério Márcico. Sinopse: Para pagar as suas dívidas Julião Petruchio precisa domar a voluntariosa Catarina, feminista convicta, com quem deve se casar. 1973 A Volta de Beto Rockfeller (como Neide) TV Tupi De: Bráulio Pedroso. Direção: Oswaldo Loureiro. Elenco: Luiz Gustavo, Bete Mendes, Raul Cortez, Odete Lara, Esther Góes, Elaine Cristina, Flávio Galvão. Sinopse: O oportunista Beto Rockfeller volta a circular entre milionários e oportunistas tentando subir na vida. 1972 Na Idade do Lobo (como Cláudia) TV Tupi De: Sérgio Jockyman. Direção: Walter Avancini e Carlos Zara. Elenco: Carlos Alberto, Bete Mendes, Maria Izabel de Lizandra, Dênis Carvalho, Márcia de Windsor, Stênio Garcia, Tony Ramos. Sinopse: Homem quarentão se apaixona por uma jovem do Exército da Salvação. 1970 Simplesmente Maria (como Inez) TV Tupi De: Benjamim Cattan, escrita com Benedito Ruy Barbosa. Direção: Walter Avancini. Elenco: Yoná Magalhães, Carlos Alberto, Tony Ramos, Walderez de Barros, Etty Frazer, Paulo Figueiredo. Sinopse: Moça pobre do interior trabalha como doméstica, se apaixona pelo patrão, tem um filho com ele e se torna uma famosa modista. 1969 Super-Plá (como Majô Prado) TV Tupi De: Bráulio Pedroso, escrita com Marcos Rey. Direção: Walter Avancini e Antônio Abujamra. Elenco: Rodrigo Santiago, Marília Pêra, Hélio Souto, Bete Mendes, Walter Forster, Karin Rodrigues. Sinopse: História de amor entre Baby Stompanato e Joana Martini, da socialite Majô e de Plácido, que só fica brilhante quando toma o refrigerante Super-Plá. 1968 Beto Rockfeller (como Neide) TV Tupi De: Bráulio Pedroso, escrita com Eloy Araújo e Ilo Bandeira; Direção: Lima Duarte e Walter Avancini. Elenco: Luiz Gustavo, Bete Mendes, Débora Duarte, Plínio Marcos, Marília Pêra, Jofre Soares, Leonor Bruno. Sinopse: Vendedor de uma loja de sapatos consegue freqüentar a alta sociedade, com seu charme, simpatia e uma namorada rica. Os Tigres TV Excelsior De: Marcos Rey. Direção: Gonzaga Blota. Elenco: Fúlvio Stefanini, Suzana Vieira, Felipe Carone, Fernando Baleroni, Yara Lins, Elizabeth Gasper. Sinopse: Três detetives amadores e seus contatos com policiais. Sublime Amor (como Gina) TV Excelsior De: Gianfrancesco Guarnieri, baseada em original argentino. Direção: Cassiano Gabus Mendes. Elenco: Hélio Souto, John Herbert, Cacilda Lanuza, Aracy Balabanian. Sinopse: Dois irmãos brigam por causa da fortuna da madrasta. 1967 O Grande Segredo (como Zuleika) TV Excelsior De: Marcos Rey. Direção: Walter Avancini e Carlos Zara. Elenco: Glória Menezes, Tarcísio Meira, Íris Bruzzi, Nadir Fernandes, Ivan Mesquita, Paulo Figueiredo. Sinopse: Um segredo envolve cinco pessoas, mas só uma delas tem a chave do mistério. 1966 Eu Compro Esta Mulher Rede Globo De: Glória Magadan. Direção: Henrique Martins, Régis Cardoso. Elenco: Carlos Alberto, Yoná Magalhães, Cláudio Marzo, Leila Diniz, Myrian Pires, Ziembinski. Sinopse: A novela conta a história de amor entre Francisco Aldama e Maria Tereza, mas, para atrapalhá-los, a interferência da perversa Úrsula. Baseada no romance O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. 1965 Paixão de Outono Rede Globo De: Glória Magadan. Direção: Fernando Torres e Líbero Miguel. Elenco: Yara Lins, Walter Forster, Rosita Thomas Lopes, Reginaldo Faria, Leila Diniz, Emiliano Queiroz, Thelma Elita. Participações 2007 Amazônia, de Galvez a Chico Mendes (como Beatriz -segunda fase) Rede Globo De: Glória Perez Direção: Pedro Vasconcelos, Marcelo Travesso, Carlo Milani, Roberto Carminati e Emílio di Biasi Direção Geral: Marcos Schechtman Elenco: José Wilker, Alexandre Borges, Cássio Gabus Mendes, Vera Fischer, Christiane Torloni Sinopse: A história do Acre contada em diversas fases. 2003 A Casa das Sete Mulheres (como Madalena Aguilar) Rede Globo De: Maria Adelaide Amaral e Walther Negrão Direção: Jayme Monjardim Elenco: Camila Morgado, Thiago Lacerda, Giovana Antonelli, Eliane Giardini, Luís Melo Sinopse: Mulheres refugiadas em uma casa, durante a Revolução Farroupilha dividem angústias e apreensões. 1982 Elas por Elas -Rede Globo de Cassiano Gabus Mendes Amiga de Márcia Outros Programas 1984 TV Mulher -Rede Globo Apresentadora 1982 Elis Regina – Rede Globo Apresentadora 1977 A História da Telenovela -TV Cultura 1973 Programa Flávio Cavalcanti -TV Tupi Jurada 1969 Elas e Ele -TV Tupi Programa de entrevistas 1968 Teatro do Zé do Caixão -TV Tupi Direção de Antônio Abujamra 1966 Os Galãs Atacam de Madrugada -TV Excelsior Direção de Cassiano Gabus Mendes Telejornal – apresentadora, TV Globo Poltrona A -teleteatro, TV Globo 1963 Grande Teatro -TV Rio Direção de Sérgio Britto (Colomba, com Sérgio Britto e Nathalia Timberg) Telejornal da TV Rio -TV Rio Rio Antigo -Brasil/Alemanha -TV Rio Atualidades Esportivas -TV Rio Pergunte ao João -TV Rio Shows e Espetáculos 1985 Amor de Poeta Roteiro e direção de Ivan Lima -MASP -São Paulo 1978 Rei David de Artur Honegger – Sociedade de Cultura Artística – São Paulo 1966 Carlos Machado’s Holiday Boite Fred’s – Rio de Janeiro Cinema 2005 Depois Daquele Baile Direção: Roberto Bomtempo Elenco: Marcos Caruso, Lima Duarte Sinopse: uma viúva é disputada por dois freqüentadores do seu restaurante. 2003 Viva Sapato! Isolda Roteiro e Direção: Luiz Carlos Lacerda. Elenco: José Wilker, Maitê Proença, Ney Latorraca, Caio Junqueira, Ângela Vieira. Sinopse: Uma bela dançarina cubana resolve abrir um restaurante e sua tia, a mãe-de-santo carioca Isolda, manda-lhe um sapato para que ela comece o investimento. Só mais tarde ela descobre que o dinheiro estava no salto do sapato, começando uma busca louca pelo dinheiro. 2002 Helena (curta-metragem), Helena Roteiro e direção: André Bukowinski. Elenco: Sílvio de Abreu Sinopse: Casal de sexagenários dialoga sobre a vida e a morte em um banco de praça. 2001 Amores Possíveis Sônia Direção: Sandra Werneck. Roteiro: Paulo Halm e Maya Werneck Da-Rin. Elenco: Murilo Benício, Carolina Ferraz, Emílio de Mello, Beth Goulart. Sinopse: As inúmeras possibilidades de vida de dois jovens, Júlia e Carlos, que se desencontram uma tarde no cinema e se reencontram 15 anos depois. Em uma das histórias, Carlos tem uma relação de dependência e afeto com a mãe protetora, Dona Sônia. 1999 Até que a Vida nos Separe Participação como mãe de Maria. Direção: José Zaragoza. Roteiro: Leopoldo Serran e José Zaragoza. Elenco: Murilo Benício, Alexandre Borges, Júlia Lemmertz, Betty Gofman, Narco Ricca, Norton Nascimento. Sinopse: As relações entre um grupo de jovens yuppies paulistas, vivendo na metrópole. 1997 Ed Mort Participação como mulher de Nogueira Direção: Alain Fresnot. Roteiro: José Rubens Chachá e Alain Fresnot. Elenco: Paulo Betti, Ary Fontoura, Cláudia Abreu, Otávio Augusto, Luiza Thomé. Sinopse: As desventuras de um detetive particular fracassado, personagem criado pelo escritor Luiz Fernando Veríssimo e transformado em quadrinhos por Miguel Paiva. 1989 Que Bom te Ver Viva (documentário) Roteiro e Direção: Lúcia Murat. Sinopse: Delírios e fantasias de uma personagem anônima, interpretada por Irene Ravache, o qual alinha os depoimentos de oito ex-presas políticas brasileiras que viveram situações de tortura. 1978 Curumin Roteiro: Cavalheiro Lima, Guilherme Lisboa, Plácido Campos Jr., Rudá de Andrade. Direção: Plácido Campos Jr. Elenco: José Lewgoy, Guilherme Durante, José Roberto Retti, Ana Maria Marin, Dirce Militello, Benedita Silva. Irene Ravache tem participação especial. Sinopse: Curumin é filho de dono de armazém de periferia, e penetra em um buraco fantástico que o leva ao lendário mundo dos índios. Doramundo Dora (Na foto, com João B. de Andrade e Antônio Fagundes) Roteiro: João Batista de Andrade, Alain Fresnot, David José, baseado em romance de Geraldo Ferraz. Direção: João Batista de Andrade. Elenco: Rolando Boldrin, Antônio Fagundes, Armando Bógus, Rodrigo Santiago, Assunta Peixoto. Sinopse: Assassinatos assombram a pequena cidade de Cordilheira e revelam um triângulo amoroso do qual faz parte Dora. 1975 Lição de Amor Laura Costa Roteiro: Eduardo Escorel, Eduardo Coutinho, baseado em Mário de Andrade. Direção: Eduardo Escorel. Elenco: Lílian Lemmertz, Rogério Fróes, Marcos Taquechel, Maria Cláudia Costa, Magali Lemoine. Sinopse: Nos anos 20, governanta alemã é contratada para ensinar piano e alemão a um jovem, filho de Laura, e acaba introduzindo-o na arte de amar. 1974 O Supermanso Roteiro: Ary Fernandes, Marcos Rey. Direção: Ary Fernandes. Elenco: Mário Benvenutti, Jussara Freire, Fausto Rocha Jr, Francisco Di Franco, Robert Bolant, Marlene França. Irene tem participação especial, assim como grande parte do elenco da TV Tupi na época. Sinopse: Dois amigos em férias no litoral paulista procuram por aventuras amorosas. 1972 Geração em Fuga, Malu Roteiro: Antônio Gighonetto e Maurício Nabuco. Direção: Maurício Nabuco. Elenco: Yara Lins, Zanoni Ferrite, Suzana Gonçalves, Edgard Franco, Marcus Toledo, Malu Rocha. Sinopse: Família rica vive entre Santos e São Paulo. O pai é um fraco e a mãe amoral. Separam-se e ela mantém um romance com outro, criando problemas com os filhos. Outras Atividades Direção 2004 Presença de Guedes De Miguel Paiva, com Othon Bastos, Ângela Vieira, Flávia Monteiro 1995 Os Gordos Também Amam Show musical com Maurício Machline e Célia 1995 Prêmio Sharp 1995 Clarice em Casa Com textos de Clarice Lispector e interpretação de Raul de Orofino, projeto Teatro a Domicílio 1993 Teatro a Bordo Espetáculo encenado a bordo dos aviões da Taba, com o ator Raul de Orofino 1992 Beijo de Humor Primeiro espetáculo do projeto Teatro a Domicílio, com o ator Raul de Orofino 1988 A Fábrica de Chocolate De Mário Prata, direção e leitura do texto, Curitiba, Paraná 1979 As Avestruzes De Michelline Bourday 1979 A Gema do Ovo da Ema De Sílvia Orthof Autoria 1988 Fragmentos Com direção de Antônio Gilberto, Imara Reis e Suzana Saldanha no elenco, encenada no Teatro Tereza Rachel, Rio de Janeiro. Prêmios Teatro 1992 Shell – Uma Relação Tão Delicada Melhor Atriz 1984 Troféu Inacen – De Braços Abertos Produtora 1983 Moliére, Mambembe – De Braços Abertos Melhor Atriz 1982 Moliére, Mambembe – Filhos do Silêncio Melhor Atriz Troféu Inacen – Filhos do Silêncio Produtora 1975 Moliére, APCA, Governador do Estado – Roda Cor de Roda Melhor Atriz Cinema 2003 2o Curta Santos -Helena Melhor Atriz 1990 Golden Metais, Rio Cine Festival – Que Bom te ver Viva Melhor Atriz 1989 APCA, Air France, Festival de Brasília Que Bom te ver Viva Melhor Atriz 1976 APCA – Lição de Amor Melhor Atriz Coadjuvante Televisão 1995 APCA – Éramos Seis Melhor Atriz 1994 Troféu Imprensa – Éramos Seis Melhor Atriz 1982 APCA – Sol de Verão Melhor Atriz 1975 APCA – A Viagem Melhor Atriz Índice Apresentação -Hubert Alquéres 5 Prefácio 13 A Gênese 17 Lições de Atriz 31 Caçando Emoções 41 Anatomia de Uma Paixão 61 A Pororoca, que Linda! 71 O Êxodo 77 Risos e Brigas em Família 85 Beleza e Sucesso de General-de-Quatro-Estrelas 95 O Bloco da Irene 103 História de Uma Carreira 119 Créditos das fotografias pág.16 -João Caldas pág.48 / 123a -acervo Maria Adelaide Amaral pág.51a -Manuk pág.52b -Olney Krüse pág.57 / 58 -acervo Rubens Ewald Filho pág.60 -Cláudia Raynsford pág.69 / 122 -Valdir Silva pág.87 / 90 / 132 -Francisco C. Inácio pág.92 / 129 / 133 / 158 -TV Globo / Nelson Di Rago pág.93 -Edson Iwassaki pág.121 -Gabriela Oliveira pág.124 -Ricardo Alves pág.126 -Carlos (Rio) pág.143 -TV Globo pág.150 -acervo João Batista de Andrade demais págs. -acervo Irene Ravache Coleção Aplauso Série Cinema Brasil Alain Fresnot – Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot Anselmo Duarte – O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Ary Fernandes – Sua Fascinante História Antônio Leão da Silva Neto Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak – Fragmentos de uma Vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra – Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero Críticas de Edmar Pereira – Razão e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda Leão Críticas de Ruben Biáfora – A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista – Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Fernando Meirelles – Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta Cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton – O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Carlos Burle – Drama na Chanchada Máximo Barro Luiz Carlos Lacerda – Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla – A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Narradores de Javé Roteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu Pedro Jorge de Castro – O Calor da Tela Rogério Menezes Ricardo Pinto e Silva – Rir ou Chorar Rodrigo Capella Rodolfo Nanni – Um Realizador Persistente Neusa Barbosa Ugo Giorgetti – O Sonho Intacto Rosane Pavam Viva-Voz Roteiro de Márcio Alemão Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende Série Crônicas Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças Maria Lúcia Dahl Série Cinema Bastidores – Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Série Ciência & Tecnologia Cinema Digital – Um Novo Começo? Luiz Gonzaga Assis de Luca Série Teatro Brasil Alcides Nogueira – Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta – Circo e Poesia Danielle Pimenta Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior João Bethencourt – O Locatário da Comédia Rodrigo Murat Leilah Assumpção – A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu – Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau – Artista Múltiplo Leila Corrêa Renata Palottini – Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso – Pólvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora – Os Cantos de Maldoror – De Profundis – A Herança do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor – A Terra Prometida Samir Yazbek Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda – Quatro Décadas em Cena Ariane Porto Série Perfil Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros Rogério Menezes Bete Mendes – O Cão e a Rosa Rogério Menezes Betty Faria – Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati – Luz Natural Carlos Alberto Mattos Cleyde Yaconis – Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso – Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da Vida Maria Leticia Etty Fraser – Virada Pra Lua Vilmar Ledesma Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no Ar Sérgio Roveri Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do Cinema Maria Angela de Jesus Ilka Soares – A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Stefania – Arte e Psicoterapia Germano Pereira John Herbert – Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa José Dumont – Do Cordel às Telas Klecius Henrique Leonardo Villar – Garra e Paixão Nydia Licia Lília Cabral – Descobrindo Lília Cabral Analu Ribeiro Marcos Caruso – Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral – A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado – A Estrela, O Mistério Luiz Carlos Lisboa Miriam Mehler – Sensibilidade e Paixão Vilmar Ledesma Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em Família Elaine Guerrini Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Paulo Betti – Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José – Memórias Substantivas Tania Carvalho Pedro Paulo Rangel – O Samba e o Fado Tania Carvalho Reginaldo Faria – O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi – Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Consorte – Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin – Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho – Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza – Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst – Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti – O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silvio de Abreu – Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodrigueana? Maria Thereza Vargas Suely Franco – A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio Roveri Tony Ramos – No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Vera Holtz – O Gosto da Vera Analu Ribeiro Walderez de Barros – Voz e Silêncios Rogério Menezes Zezé Motta – Muito Prazer Rodrigo Murat Especial Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso Wagner de Assis Beatriz Segall – Além das Aparências Nilu Lebert Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Cinema da Boca – Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor – O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma – Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Ney Latorraca – Uma Celebração Tania Carvalho Raul Cortez – Sem Medo de se Expor Nydia Licia Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte Nydia Licia Formato: 12 x 18 cm Tipologia: Frutiger Papel miolo: Offset LD 90 g/m2 Papel capa: Triplex 250 g/m2 Número de páginas: 176 Tiragem: 4.000 Editoração, CTP, impressão e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo © 2007 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Carvalho, Tania Irene Ravache: caçadora de emoções/Tania Carvalho. – 2.ed. – São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007. 176p. : il. - (Coleção aplauso Série perfil / coordenador geral Rubens Ewald Filho) 1. Cinema–Brasil 2. Teatro brasileiro 3. Televisão–Brasil 4. Ravache, Irene, 1944 - , – Biografia I. Título. II. Série CDD 792.0981 Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei nº 10.994, de 14/12/2004) Direitos reservados e protegidos pela lei 9610/98 Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Rua da Mooca, 1921 Mooca 03103-902 São Paulo SP www.imprensaoficial.com.br/livraria livros@imprensaoficial.com.br Grande São Paulo SAC 11 5013 5108 | 5109 Demais localidades 0800 0123 401 Coleção Aplauso | em todas as livrarias e no site www.imprensaoficial.com.br/livraria