TV Tupi do Rio de Janeiro LUÍS SÉRGIO LIMA E SILVA Uma Viagem Afetiva TV Tupi do Rio de Janeiro Uma Viagem Afetiva TV Tupi do Rio de Janeiro Luís sergio Lima e siLva Uma Viagem Afetiva No passado está a história do futuro A Imprensa Oficial muito tem contribuído com a sociedade no papel que lhe cabe: a democratização de conhecimento por meio da leitura. A Coleção Aplauso, lançada em 2004, é um exemplo bem-sucedido desse intento. Os temas nela abordados, como biografias de atores, diretores e dramaturgos, são garantia de que um fragmento da memória cultural do país será preservado. Por meio de conversas informais com jornalistas, a história dos artistas é transcrita em primeira pessoa, o que confere grande fluidez ao texto, conquistando mais e mais leitores. Assim, muitas dessas figuras que tiveram importância fundamental para as artes cênicas brasileiras têm sido resgatadas do esquecimento. Mesmo o nome daqueles que já partiram são frequentemente evocados pela voz de seus companheiros de palco ou de seus biógrafos. Ou seja, nessas histórias que se cruzam, verdadeiros mitos são redescobertos e imortalizados. E não só o público tem reconhecido a importância e a qualidade da Aplauso. Em 2008, a Coleção foi laureada com o mais importante prêmio da área editorial do Brasil: o Jabuti. Concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a edição especial sobre Raul Cortez ganhou na categoria biografia. Mas o que começou modestamente tomou vulto e novos temas passaram a integrar a Coleção ao longo desses anos. Hoje, a Aplauso inclui inúmeros outros temas correlatos como a história das pioneiras TVs brasileiras, companhias de dança, roteiros de filmes, peças de teatro e uma parte dedicada à música, com biografias de compositores, cantores, maestros, etc. Para o final deste ano de 2010, está previsto o lançamento de 80 títulos, que se juntarão aos 220 já lançados até aqui. Destes, a maioria foi disponibilizada em acervo digital que pode ser acessado pela internet gratuitamente. Sem dúvida, essa ação constitui grande passo para difusão da nossa cultura entre estudantes, pesquisadores e leitores simplesmente interessados nas histórias. Com tudo isso, a Coleção Aplauso passa a fazer parte ela própria de uma história na qual personagens ficcionais se misturam à daqueles que os criaram, e que por sua vez compõe algumas páginas de outra muito maior: a história do Brasil. Boa leitura. Alberto Goldman Governador do Estado de São Paulo Coleção Aplauso O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, visa resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cinema, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de maneira singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor. Um aspecto importante da Coleção é que os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Bió grafo e biografado se colocaram em reflexões que se estenderam sobre a formação intelectual e ideoló gica do artista, contextualizada na história brasileira. São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas – analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos exploram o universo íntimo e psicológico do artista, revelando as circunstâncias que o conduziram à arte, como se abrigasse em si mesmo desde sempre, a complexidade dos personagens. São livros que, além de atrair o grande público, interessarão igualmente aos estudiosos das artes cênicas, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Foram abordadas a construção dos personagens, a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns deles. Também foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sortilégios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que neste universo transitam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de todo o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Sumário Apresentação – O Caixote Lúdico 10 Capítulo 1 – O Cacique Chateaubriand 14 Capítulo 2 – Pedra Fundamental 23 Capítulo 3 – A Chegada na Urca 36 Capítulo 4 – As Garotas-propaganda 46 Capítulo 5 – Teledramaturgia e o Grande Teatro tupi 52 Capítulo 6 – TV de Brinquedo 71 Capítulo 7 – O Reinado do Humorismo 94 Capítulo 8 – Programas de Auditório e Festivais 106 Capítulo 9 – Slide de Emergência 122 Capítulo 10 – Eventos – Miss Brasil e Carnaval 130 Capítulo 11 – 6 Divas do 6 140 Capítulo 12 – Mauricio Sherman 170 Capítulo 13 – O Carisma de Flávio Cavalcanti 176 Capítulo 14 – Telecentro – A Era Boni 184 Capítulo 15 – Guerra é Guerra 188 Capítulo 16 – Novelas Made in Urca 192 Capítulo 17 – Bar Canal 6 208 Capítulo 18 – Ascensão e Queda de um Império 212 Capítulo 19 – Epílogo 214 Capítulo 20– Broadcasting – 1951/1980 220 Agradecimentos 230 Crédito Fotografias 230 Apresentação O Caixote Lúdico A tela era como um caleidoscópio mágico que nos remetia a um mundo desconhecido, sem que saíssemos de nossas casas. O que era aquilo? Não era fácil entender aquela engenhoca, que desfilava uma variedade de atrações inéditas em nossas vidas. Como é que cabia aquilo tudo dentro de um caixote? A curiosidade infantil me levava a olhar atrás do aparelho, buscando alguma confirmação: a Virgínia Lane está aí dentro? O Falcão Negro esgrimia pelo castelo, e eu corria para ver através de alguma fresta algum ângulo oculto que confirmasse minhas suspeitas. Mas eu só via válvulas. Lindas e brilhantes válvulas... Assim mesmo, no meu imaginário, tinha certeza que eles estavam ali dentro. Não existia brinquedo tão surpreendente que um menino pudesse brincar. Ele passou a habitar minha vida, atravessando infância e adolescência direto. Um indiozinho de sorriso maroto era slide estático, que emoldurava a abertura e o encerramento daquelas transmissões. Villa-Lobos/ Roquette Pinto abriam a programação: Nozanina ná ôrê kuá, kuá, kaza êtê êtê... E Caymmi encerrava com voz de trovão: É tão tarde, a manhã já vem, todos dormem, a noite também, só eu velo por você, meu bem... Que mêda, sô. Os programas infantis eu não perdia um: Gladys e seus Bichinhos, O Falcão Negro, Coelhinho Teço-Teco , Vesperal Trol, As Aventuras de Rin-Tin-Tin, Disneylândia e Circo do Carequinha. Gladys era muuuito melhor que nossas mães e tias contando histórias, ela desenhava ao mesmo tempo, nos dando forma e imagem àquelas fantasiosas aventuras do Sapo Godô e da inteligente formiga Gilda. Virgínia Lane não ficava atrás. Ela saía saltitante de dentro de uma árvore, com porta e tudo, e munida de enorme livro contava histórias da Família Coelho, cuja culinária era toda na base da cenoura, claro: torta de cenoura, bolinhos de cenoura e até sorvete de cenoura! Enquanto isso o viril Falcão Negro lutava contra todo tipo de inimigo pelo amor de Lady Bela. As lutas eram impressionantes, e a doçura de Lady Bela um primor de submissão feminina. Carequinha foi o meu primeiro grande ídolo. E Fred, Zumbi, Meio Quilo e Oscar Polidoro, sua trupe, povoaram meu universo infantil com soberania. O concurso de cambalhotas interagia direto. A gente ensaiava os saltos circenses nas nossas camas, sonhando um dia ir lá na televisão também participar. Um bom menino não faz pipi a cama, um bom menino vai sempre à escola, e na escola aprende sempre a lição. Quem diria, nosso primeiro professor de Educação Cívica foi um palhaço. E que palhaço! A televisão mudou o comportamento da sociedade nos anos 1950. Formou, divertiu e, de uma certa maneira, civilizou todos nós através da televisão artesanal de alto nível. Fez literalmente escola porque tudo se aprendeu ali, e dela saíram os maiores profissionais do revolucionário veículo de comunicação. Todos eles jovens e cheios de gás, que aprenderam fazendo e vice-versa. É a fase escolar, amadora e introdutória da televisão, localizada no primário de seu aprendizado, quando se aprendeu o a, e, i, o, u do tal lúdico caixote. A Taba Tupi reverbera, seus tambores são capazes de ainda nos emocionar quando conseguimos captar seu som, e se inteirar do seu grito primal. Capitulo 1 O Cacique Chateaubriand Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1892-1968) é o grande Cacique da Taba Tupi. Um dos homens mais influentes e polêmicos do século XX. Foi jornalista, empresário, colecionador, mecenas, advogado, político e diplomata. Paraibano, nascido em Umbuzeiro, na Paraíba, no dia de São Francisco de Assis, apesar da homenagem do nome, não teve vida despojada e muito menos santa. A audácia sempre foi sua bandeira, por isso mesmo colecionou inimigos e críticos que o chamavam de chantagista, crápula, patife, em contrapartida aos muitos admiradores e seguidores que enalteceram sua figura, e o consideravam grande empreendedor, genial e visionário. Criou o império da comunicação no Brasil, somando noventa empresas, com mais de cem jornais, as primeiras emissoras de televisão, 76 estações de rádio, duas das mais importantes revistas nacionais, agências de notícias e de propaganda, o maior museu de arte do País, o Museu de Arte de São Paulo com espetacular coleção de arte, e ainda nove fazendas produtivas, indústrias químicas e laboratórios farmacêuticos. Em 1959, começou a ter problemas de saúde, que o deixaram tetraplégico no ano seguinte, levando-o a assinar escritura pública, doando o conglomerado de suas emissoras e jornais para 22 empregados, 49% do controle acionário do maior império de comunicações jamais visto na América Latina. Muitos apostam que foi a partir de 1968, quando faleceu, que o castelo das Associadas começou a ruir. Fundou a primeira emissora de televisão no Brasil em 1950, a TV Tupi canal 3 de São Paulo. E quatro meses depois, a primeira estação carioca, a TV Tupi canal 6, cuja história é contada nesta edição da Coleção Aplauso como um recorte vivo do pioneirismo de Chateaubriand e seus comandados. A ele, inspirador maior, ave! A Mola-mestra Almeida Castro Não foram poucos os colaboradores que Assis Chateaubriand contou não só na criação da televisão como também na administração do seu império. Um nome dos mais importantes é o baiano Almeida Castro, braço-direito do Velho Capitão em sua saga. Grande articulador, de pulso firme, Castro foi a mola-mestra de todo esse processo, cujo período somou 37 anos nas Associadas. Residindo atualmente em São Paulo à frente de sua empresa de turismo, Castro tem contado seu rico aprendizado e brilhante trajetória de vida profissional através de livros, como 25 Anos de Televisão Via Satélite, 135 Anos de Histórias da Bola e Tupi – a Pioneira, este último lançado em 2000 nos 50 anos da TV Tupi de São Paulo. Contratado recentemente pela Rádio Bandeirantes, apresentou e redigiu 40 programas sobre os bastidores da Copa do Mundo, relatando seu testemunho em 14 campeonatos mundiais vividos por ele. Extraordinário contador de histórias, Almeida Castro é memória viva do pioneirismo de nossa televisão, onde esteve presente desde a Venezuela até a Urca em seu esplendor. Dirigiu e escreveu programas, foi diretor de programação, ajudou Chateaubriand a criar emissoras nos Estados e municípios brasileiros, preparou profissionais para estas novas estações e supervisionou 84 emissoras. Foi também apresentador da primeira fase de A Estrela é o Limite, ao lado de Neyde Aparecida, programa de sabatina infantil de muito sucesso. Relembra Castro: – O J. Silvestre estava escalado para ser o apresentador, acontece que ele trabalhava para a Standard Propaganda, e queria levar a conta da Estrela para lá, mas o anunciante estava com os publicitários Tibério e Toninho Velásquez. Em cima da hora de estrear o programa ele desistiu, então eu entrei e apresentei. Ficamos quatro anos no ar em primeiro lugar de audiência. Depois de um tempo com tanto trabalho eu saí, e o programa ficou com o Carlos Henrique e a Neyde Aparecida. Assim como esta rápida solução encontrada para estrear o programa, Castro tem coleção de histórias que atestam a sua maneira safa de encarar qualquer problema, rápido no gatilho sempre. E o que não faltam são momentos curiosos, os quais estão presentes em sua privilegiada memória, como a história que envolve Millôr Fernandes. – O presidente Juscelino Kubitschek tinha um telefone particular que só pessoas muito chegadas tinham acesso. O Millôr fazia um programa do Rei da Voz, e um dia falou que JK estava muito preocupado com os problemas de falta de água na cidade, e que tinha um número que atendia pessoalmente sobre o assunto. A brincadeira custou caro, 10 minutos depois de ter anunciado no ar o número particular do presidente, recebi um telefonema do secretário de Juscelino, dando ordem de acabar com o quadro do Millôr. Ele foi proibido de atuar e nunca mais fez programa de televisão algum na Tupi. Capítulo 2 Pedra Fundamental O prédio da Avenida Venezuela, 43, foi presente que Assis Chateaubriand ganhou do Barão de Saavedra, do Banco Boavista, para fazer ali um centro cultural. A Praça Mauá, o cais do porto da cidade, era um burburinho só, lá estavam a Rádio Nacional e a Rádio Mayrink Veiga movimentando os artistas mais populares da época, entre cantores, animadores, músicos e atores. Chateaubriand instalou as Rádios Tamoio e Tupi no prédio de quatro andares, um deles ocupado pelo gigantesco auditório da Rádio Tupi, conhecido como o Maracanã dos Auditórios. As salas do quarto andar foram adaptadas e transformadas em dois estúdios e um controle-mestre. Com enormes colunas de sustentação, que estavam presentes ou disfarçadas nos programas da primeira fase de funcionamento, sem tratamento acústico e um calor avassalador, a televisão engatinhou em completo desconforto, sinalizando assim para os pioneiros tempos de criatividade e muito jogo de cintura. Todo mundo se espremia – técnicos, artistas, apresentadores e locutores, era um frisson único e inquestionável, afinal, o show não podia parar. Inaugurada no dia 20 de janeiro de 1951, dia da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, a TV Tupi canal 6 teve sua torre de transmissão instalada no Pão de Açúcar. Presentes ao evento, o presidente Eurico Gaspar Dutra e o prefeito do Rio de Janeiro, general Ângelo Mendes de Moraes, além de 20 caboclinhos da região de Paulo Afonso, mais um toque de originalidade de Chatô: Trouxe esses bugrinhos do São Francisco para agradecer e homenagear o Pai Grande do Pão de Açúcar – disse ele em seu discurso. Na fase de testes da instalação do equipamento técnico, Fernando Chateaubriand, o primeiro diretor da emissora, colocou no ar a imagem de Haydée Miranda em fotografia estática. Haydée foi o primeiro rosto feminino que apareceu no vídeo do canal 6. Mas, antes da inauguração, foram produzidas transmissões experimentais para acertos técnicos, o que despertou enorme curiosidade na cidade. Almeida Castro escreveu para a série Memória do Cadernos da Comunicação da Prefeitura do Rio sobre o momento, quando ele tinha acabado de inaugurar com João Calmon a Rádio Tamandaré de Recife. Voltei ao Rio de Janeiro no dia 18 de janeiro de 195l. Dois assuntos dominavam as conversas: o julgamento dos recursos para a proclamação do vencedor das eleições presidenciais de outubro anterior, em que a maioria dos votos reconduzia Getúlio Vargas à Presidência da República e o sucesso das transmissões experimentais da TV Tupi feitas do Teatro Recreio, de uma revista de Walter Pinto; do Teatro Rival, de uma comédia com Aimée; do Maracanã, do jogo Flamengo x Olaria narrado por Antônio Maria e da mais recente de todas as corridas de cavalo, no Hipódromo da Gávea, com narração de Aldo Viana. Os câmeras Walter Campos e Moacir Masson, o técnico Oswaldo Leonardo na chefia de operações e o engenheiro Fernando Chateaubriand na Direção-geral haviam demonstrado que estava tudo pronto para a inauguração da segunda emissora de televisão brasileira. Relembra Almeida Castro: Outra transmissão experimental de excelente repercussão foi o recital estrelado pelo mais festejado artista latino da Hollywood de então, o fradecantor mexicano Frei Mojica (José de Guadalupe Mojica). Coube ao publicitário Victor Berbara dirigir esta apresentação, que foi transmitida experimentalmente para aparelhos espalhados na cidade. Depois de ter acompanhado Frei Mojica por quatro meses em excursão patrocinada pela Peixe, cliente da Standard Propaganda, Berbara conquistou a confiança e a admiração do clérigo, que aceitou fazer um único recital para o rádio e para a televisão. Isso ocorreu em julho de 1950, antes da inauguração da Tupi de São Paulo em 18 de setembro, que teve Mojica como atração principal. Em seu livro O Homem das Mil Faces, da Coleção Aplauso, escrito por Tânia Carvalho, Berbara relata como montou o show no auditório da Rádio Tamoio, para fazer a transmissão como chamariz para este novo objeto (ainda) não identificado. Diz Berbara em seu livro: – Não existiam aparelhos de televisão ainda para vender, e Chateaubriand teve a ideia genial de espalhar dez televisores pela cidade: um na porta da Rádio Tupi, na Avenida Venezuela; outro nas barcas, na Praça Quinze; outro nas barcas em Niterói; o quarto no Largo da Carioca; o quinto na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, diante do Cinema Metro; o sexto na Galeria Cruzeiro; o sétimo defronte do Cinema Odeon, na Cinelândia; e o oitavo no Largo do Méier. O nono e o décimo, confesso que não me lembro... Estreia. Frisson. Televisões ligadas, multidões nos locais. Vai para o ar. Uma loucura. Foi um sucesso incrível, inesquecível. Essa foi a inauguração da televisão brasileira. O tempo passou, as pessoas passaram, nunca contei a história, e São Paulo abiscoitou a primazia de ter feito o primeiro programa artístico da televisão brasileira, mas não é verdade. No esperado dia da inauguração, O Jornal, principal periódico dos Diários Associados, estampou anúncio com a programação de estreia: às 20h30, apresentação de Luiz Jatobá e Haydée Miranda, seguida da Orquestra Tabajara de Severino Araújo; às 21 horas, o Calouros em Desfile de Ary Barroso; às 21h30, grande show apresentado pelo jornalista e compositor Antônio Maria, com as presenças dos cartazes da PRG-3: Dorival Caymmi, Dircinha Baptista, Linda Baptista, Aracy de Almeida, Jorge Veiga, Trio de Ouro, Alvarenga e Ranchinho, José Vasconcelos, Ghyta Lamblousky e Mazzaropi. Às 22h30, Telejornal em edição especial, com documentário da cerimônia de inauguração. E, finalizando, às 22h45, Hélio Gracie, lutador de jiu-jitsu, desafiando convidados. Depois da inauguração, o que apresentar a seguir? Pouco foi esquematizado como programação, e, assim, pegos de surpresa, os pioneiros cariocas foram à luta com independência surpreendente; afinal, seria natural que tivessem alguma interação com os paulistas, já que eles estavam no ar há quatro meses e pertenciam ao mesmo grupo associado. Mas isso não rolou, e nasceu então um estilo carioca de fazer televisão, a TV artesanal, criativa, improvisada e espontânea. Beberam da fonte do rádio, que era a maior diversão popular da época, o que levou a se dizer tratar-se do rádio com imagem. Nem tanto. A inspiração reverberou também no teatro de revista, no teatro contemporâneo que se fazia na cidade, nos shows de cassinos e no cinema que a Atlântida fazia na época. Foi fincada, assim, em pleno cais da Praça Mauá, a bandeira da carioquice explícita da primeira estação de televisão do Rio de Janeiro. As agências de publicidade se animaram com o novo veículo, e ajudaram não só a criar um departamento comercial, mas também interferiram diretamente na programação, fornecendo conteúdo, profissionais e uma infraestrutura que a televisão não possuía. Casé, McCann Ericsson, Standard, Norton e Midas Propaganda são as principais agências que impulsionaram esses primeiros tempos. Os publicitários Adhemar Casé, Henrique Laufer, Abraão Medina, Sangiradi Jr., Cícero Leuenroth e Geraldo Alonso, entre outros, viabilizaram os primeiros programas comercialmente. Assim, verbas publicitárias foram injetadas por intermédio de grandes empresários – Costa, da loja Tonelux; Samuel Garson, das Casas Garson; Cláudio Ramos, da Casa Neno; J. Medina, das Casas Gebara; e Imperatriz das Sedas, entre outros. À testa da produção e direção dos primeiros programas – Oduvaldo Vianna, Dermeval Costa Lima, Mário Provenzano, Jacy Campos, Chiquinho Salles, Barros Barreto, Chianca de Garcia, Victor Berbara, João Loredo, Bob Chust, Guilherme Figueiredo, Almeida Castro, Mauricio Sherman, Oduvaldo Vianna, Alcino Diniz e Fernando Amaral deram o start à maratona de programas ao vivo, uma avalanche de tentativas, trocadas ou mantidas de acordo com as possibilidades e, principalmente, do agrado. Para decifrar e traduzir a parte técnica do equipamento utilizado na época, Dirceu Camargo preparou o Manual de Operações da Televisão Brasileira, explicando em português as descrições das câmeras, desde as primeiras Dumont e GE, até as RCA TK-31 – adquiridas para reforço e atualização de equipamento. Dirceu, que fez de tudo um pouco na emissora, foi câmera, coordenador de operações e diretor, também colaborou na tradução dos primeiros equipamentos de videoteipe, as volumosas máquinas VT Quadro Plex, e a aparelhagem dita portátil, em que o operador carregava nas costas quatro caixotes com uma antena, assemelhando-se à figura de um astronauta. Primeiros Programas O Telejornal Brahma foi o primeiro noticioso da casa, e era apresentado por Luiz Jatobá. Ficou no ar até início de 1952 quando a McCann Ericsson chegou com seu cliente Esso, e lançou na TV o grande sucesso radiofônico O Seu Repórter Esso. Segundo João Loredo, em seu livro Era uma Vez...a Televisão (Alegro Editora), o publicitário Rocha Spielg escolheu Gontijo Theodoro para comandar o telejornal. Diz Loredo: – No entanto, surgiu um impasse: a Rádio Nacional apresentava o Repórter Esso em sua grade de programação e não permitiu que a televisão usasse o mesmo nome, razão pela qual ao estrear em 1º de abril de 1952, chamava-se Telejornal Tupi. Um mês depois, o nome foi alterado para Telejornal Esso, mas a Esso ainda não estava satisfeita. Somente depois de muita discussão, todos entraram num acordo, e o programa recebeu seu nome definitivo – O Seu Repórter Esso – com o qual ficaria no ar por 18 anos, até 31 de dezembro de 1970. Na retaguarda do jornal, competente equipe de cinegrafistas dava cobertura às reportagens do dia, na medida do possível e das distâncias. Até hoje, filmagens jornalísticas de fatos importantes dos anos 1950 são registros da turma de O Seu Repórter Esso – a morte de Getúlio Vargas, o enterro de Carmen Miranda, a Copa do Mundo de 1958, a eleição de Martha Rocha como Miss Brasil, entre outros. Os redatores Marcos Reis, Raymundo Magalhães Jr. e Maurício Dantas assinavam o noticiário nacional. As notícias internacionais vinham por meio da UPI, em radiofotos. E Gontijo Theodoro, com simpatia e timbre vocal impecável, garantia o sucesso do primeiro e mais famoso telejornal da televisão brasileira. O telejornalismo tomou proporções grandiosas no desdobramento da televisão. A Era da Comunicação se anunciava, e o veículo era superadequado à nova linguagem. Os telejornais, programas de entrevistas e debates, se multiplicaram no decorrer das décadas. O radialista Jair Martins alcançou popularidade com o seu O Índio Não Tem Bandeira, que fazia jornalismo denúncia com imparcialidade e seriedade. Arnaldo Nogueira comandou dois programas – Falando Francamente e Ideias e Imagens. O primeiro era de comentários políticos e o segundo de debates. Em ambos, Nogueira conduzia com brilho os temas abordados, mostrando perfeito conhecimento das questões em estudo. Al Neto Comentando e Encontro Entre Amigos eram apresentados por Al Neto (Afonso Alberto Ribeiro Neto), catarinense descendente de bascos, uma das figuras mais influentes de notórias ligações com autoridades das mais elevadas esferas nacionais e internacionais. Extremamente esnobe, fumava cachimbo durante seus programas, e exigia ser maquiado antes de entrar no ar. Muitos programas jornalísticos fizeram parte da programação da Tupi. Destacamos três dos principais, apresentados em épocas diversas: Reportagem Ducal, O Diário de um Repórter e As Grandes Reportagens de David Nasser, os dois últimos comandados pelo grande amigo de Chateaubriand, o jornalista e compositor David Nasser. Os musicais e programas de variedades dos primeiros anos da televisão tinham em seu formato a mistura dos shows dos cassinos, fechados desde 1946, com os espetáculos do teatro de revista da Praça Tiradentes, para onde o português Chianca de Garcia levou vedetes, bailarinos, redatores, músicos e técnicos. Por isso mesmo esses programas eram repletos de paródias, imitações e esquetes, os quais comentavam com bom humor o comportamento do carioca e do brasileiro de então. Mas Chianca de Garcia se celebrizou na televisão artesanal pelos primeiros teleteatros e novelas apresentados duas vezes por semana inicialmente – Eu, a Mulher e os Filhos, telenovela escrita e dirigida por ele, apresentada em junho de 1953. A História do Teatro Universal apresentava repertório de clássicos, e foi o mais importante teleteatro realizado nos estúdios da Venezuela. A encenação de Lucrécia Bórgia no programa, adaptada do clássico de Victor Hugo, e estrelada por Heloísa Helena, Paulo Porto, Jacy Campos, Paulo Maurício e Fregolente foi um acontecimento. Retrospectiva do Teatro Nacional, Teatrinho Kibon, Teatro Policial, Teatro Gebara e Teatro Moinho de Ouro também conquistaram espaço para o teatro na televisão. O primeiro assinado por Jacy Campos, os dois seguintes dirigidos por Bob Chust, o quarto por Mauricio Sherman e o quinto por Victor Berbara. O Calouros do Ary era a versão com imagem do sucesso de Ary Barroso na Rádio Tupi. Era realizado no Maracanã dos Auditórios, na mesma Rádio Tupi, com Haydée Miranda controlando o termômetro das cotações, que iam de mau a ótimo. Ary foi quem lançou o gênero no rádio, por sinal o mais exigente e criterioso programa de calouros de todos os tempos. Trazida por Chianca de Garcia, Virgínia Lane, a vedete do Brasil, apresentava quadros musicais luxuosos nos Espetáculos Tonelux, dirigido por Mário Provenzano. O programa foi sucesso total, com Virgínia à vontade na frente das câmeras, cantando, dançando com o corpo de baile ou representando esquetes. Muitos cantores contratados da Rádio Tupi se apresentavam em quadros montados, casos de Luiz Vieira, Alcides Gerardi, Nelly Martins, Almira e Jackson do Pandeiro, Ademilde Fonseca, Tito Madi e Lucy Rosana. Acrobatas de circo e a rumbeira Nancy Montez também faziam parte do quadro de convidados. Neyde Aparecida fazia o comercial da Loja Tonelux, e depois da saída de Virgínia do programa, Neyde assumiu o comando. Como era constantemente requisitada para viagens pelo Brasil, Virgínia Lane se ausentou de alguns programas, sendo substituída também por Angelita Martinez, até que depois de um tempo saiu em definitivo. Aulas de Inglês, apresentado pelo simpático Prof. Robert Blum, trouxe sua filha Norma Blum para o vídeo. Ela participava do programa com desembaraço e falava um inglês de primeira. Depois disso, Norma foi muito bem aproveitada nos diversos teleteatros da Tupi, especialmente no Vesperal Trol, onde se tornou a princesinha oficial. O primeiro programa de culinária da televisão data de 1952, e era comandado por Sílvia Autuori, escritora de sucesso da Rádio Tupi (também conhecida como Tia Chiquinha), que fascinou a dona de casa com suas receitas de bolos e pudins. Com o sucessodo programa, Sílvia editou diversos livros de receitas culinárias. Queridíssimo por Assis Chateaubriand, o palhaço Carequinha abriu os trabalhos circenses na televisão brasileira, e foi o primeiro palhaço a pisar no picadeiro da TV a convite de Chatô. Circo Bom Bril começou com o nome de Variedades Tupi, e ficou 16 anos no ar. Depois do primeiro dia de exibição, com uma câmera só e feitoem estúdio, Carequinha foi à direção e disse que necessitava de plateia. A seguir, colocaram 40 cadeiras com crianças e pais presentes, e o programa virou uma febre para o público infantil. A vedete Mara Rúbia estrelou programa marcante do início na Venezuela: Feira de Amostras, dirigido por Chianca de Garcia, uma revista autêntica onde os quadros cômicos eram o ponto alto, e eram intercalados com as charadinhas, o maior barrigudo, o casal mais adorável do mundo, etc. Participavam Zezé Macedo, Martim Francisco, Armando Nascimento, Grijó Sobrinho e Duarte de Moraes. Bibi Ferreira, a convite também de Chianca de Garcia, fez diversas aparições em quadros musicais, até que foi criado para ela e seu pai Procópio Ferreira o programa Tal Pai, Tal Filha, que comentava assuntos do cotidiano em bate-papo informal. O grande ator de teatro da época Jayme Costa também esteve presente nesta primeira fase da Tupi. Ele estrelou com Mara Rúbia o seriado Um Casal do Barulho, dirigido por Mário Provenzano. Capítulo 3 A Chegada na Urca E chegou uma hora que os estúdios da Venezuela ficaram pequenos para abrigar a Tupi com quatro anos em atividade superprodutiva, crescendo dia a dia. A saída foi encontrar lugar mais espaçoso, quando Joaquim Rolla ofereceu a Chateaubriand o Cassino da Urca, fechado desde 1946 com a proibição do jogo no Brasil. No segundo semestre de 1954 aconteceu a mudança. Ora, foi como mudar da água paro o vinho, da lata de sardinha onde todos se espremiam para o mar da Urca com dois prédios em área privilegiada, lugar que já havia sido um hotel balneário e o cassino mais famoso do Brasil. Tudo ficou muito mais confortável, havia lugar para todo mundo, da técnica à administração, da diretoria aos produtores e artistas. Além dos enormes estúdios, do grill de 600 lugares e as muitas salinhas nos andares inferiores, um verdadeiro labirinto, tinha aquela mureta na entrada dos dois prédios, considerada a sala de visitas da emissora. Com vista panorâmica para a praia da Urca, era ali o ponto efervescente da Taba Tupi: bailarinos, atores, comediantes, produtores, assistentes, cenotécnicos, cantores e compositores passavam a maior parte do tempo, quando não estavam no ar, ou produzindo, na murada da Urca. Quantos programas foram bolados ali, quantos romances e paqueras nasceram neste lugar e quantos casos complicados foram resolvidos sob a gostosa brisa marinha da praia da Urca... Em toda a existência da TV Tupi na Urca, aquele caldeirão humano de pessoas de todas as origens, egressos do rádio, do teatro de revista, do meio literário, do teatro contemporâneo e do jornalismo, transitaram e conviveram na mureta e arredores, entre carros estacionados nas calçadas, lambretas, pipoqueiro, sorveteiro, cenários carregados de uma calçada para a outra, araras com figurinos, microfones-girafas levados de um estúdio para o outro, figurantes fantasiados, enfim, uma verdadeira Hollywood sem filtro! Do outro lado da calçada, fazendo esquina com a Avenida São Sebastião, estava localizado o Bar Canal 6, point da trupe e agregados. Muitos artistas, mesmo os que não estavam escalados, frequentavam e almoçavam aquele PF esperto sempre acompanhado de caipirinha e cervejas. Usina de Ideias Jacy Campos abria a programação com Meio-Dia, programa de variedades com convidados, onde muitos cantores deram os primeiros passos – Elza Soares, Marisa Gata Mansa, Altemar Dutra, Leny Andrade e Sérgio Ricardo. Carlos Imperial criou o Clube do Rock, com um iniciante Roberto Carlos, ainda dividido entre o novo gênero da juventude e o cantar macio de João Gilberto. Levado por Otávio Terceiro, Roberto cantou Tutti-frutti, e arrasou o quarteirão. Impera ficou tão animado com ele que resolveu orientá-lo na carreira. Tim Maia, Erasmo Carlos e Wilson Simonal eram sócios também, todos em início de carreira. Os jovens ganharam um outro programa: Alô Brotos, comandado por Sônia Delfino e Sérgio Murillo. Os dois funcionaram muito bem no vídeo, conquistando audiência e prestígio para as tardes de sábado. Em tempo de música ocupou o horário nobre com Altamiro Carrilho e sua bandinha, executando repertório de chorinhos e sambas. O tema principal do programa era Rio Antigo, famoso maxixe de Carrilho, que com o sucesso do programa vendeu 960 cópias em seis meses. Aos domingos o show-man José Vasconcelos apresentou seu solo de humor em Arca de Noé, onde sozinho fazia vozes e personagens diversos apenas com adereços que ilustravam seu monólogo. Com o sucesso do programa, Vasconcelos abriu campanha para construir a Vasconcelândia, o que nunca conseguiu realizar. Quem sou eu?, apresentado inicialmente por Heloísa Helena e Lourdes Mayer, contava com a participação do telespectador para adivinhar a identidade de uma personalidade. Depois de um tempo, Lourdes Mayer assumiu sozinha a apresentação. Vinícius de Moraes, Hélio Gracie, Tenório Cavalcanti, Dulcina de Moraes e David Nasser foram alguns célebres que participaram como convidados. O casal Lídia Mattos e Urbano Lóes apresentou aos sábados com seus quatro filhos Urbano Jr., Dilma, Tânia e Luís Carlos, Eles Estão em Casa. O ator Fininho dava o toque de humor com suas trapalhadas. O maestro Villa-Lobos comemorou seus 70 anos no programa, apresentando dois números ao piano. O esporte marcou os primeiros anos de televisão com o comentarista José Maria Scassa no comando de Ídolos de Todos os Tempos. E as primeiras transmissões de futebol, além de Scassa, contaram com as narrações de Oduvaldo Cozzi e Ruy Viotti. Esta é a Sua Vida, dirigido por Alcino Diniz, homenageava uma personalidade, que tinha sua vida contada através de parentes e amigos, como a primeira babá, a professora do primário etc., só que o homenageado era pego de surpresa. Convidado para apenas dar uma entrevista, ele se surpreendia com o teor do programa, e sempre a emoção rolava solta. Em geral, todos ficavam radiantes no final, mas com Oscar Niemayer isso não aconteceu. O famoso arquiteto amarrou a cara o tempo todo, provocando um dos maiores constrangimentos já vistos no vídeo. Carlos Frias apresentava com a classe de sempre. Ritmos S. Simon trazia a orquestra de Waldir Calmon para o vídeo, fazendo um autêntico baile ao vivo, com casais dançando ao som do repertório contagiante do músico, que ia do samba, passando pela rumba, o chá-cháchá e o bolero. Abelardo Barbosa, o Chacrinha, saltou do rádio para a televisão em 1957 com oprograma Rancho Alegre no clima western, ao lado dos caubóis Bob Nelson e Paulo Bob. Em seguida ele emplacou a Discoteca do Chacrinha, mergulhando no mundo do disco e alavancando as carreiras de inúmeros cantores – Clara Nunes e Paulo Sérgio. Roberto Carlos participou por diversas semanas como o Cantor Mascarado, chamando a atenção do público para o então desconhecido artista. A figura alegre e comunicativa de Barbosa Junior, também vindo do rádio, foi bem aproveitada em Variedades. Sempre muito elegante, trajando um summer, Barbosa era uma espécie de Maurice Chevalier dos trópicos. Ele cantava trechos de cançonetas francesas, fazia paródias e contava piadas inteligentes, era a simpatia em pessoa e excelente mestre de cerimônias. Ao lado do Conjunto de Chuca-Chuca, mandava as famosas beijocas do Barbosa, contando casos verídicos e entrevistando um convidado em cada programa, que acabava sendo levado por ele a cantar de improviso. Tia Amélia, suas histórias e seu piano antigo, era um delicioso musical comandado pela pianista pernambucana Amélia Brandão Nery, a tia Amélia. Muito carismática e exímia pianista, conquistou o Rio de Janeiro. Depois de ter estreado na TV Rio com o nome de Velhas Estampas, seu produtor João Loredo levou o programa para o canal 6, e o sucesso aumentou. Conversando em off com tia Amélia, Loredo encenava as histórias que ela contava, com o seu piano ao fundo entretendo o público. Uma simpática experiência foi Domingo no Arpoador, realizada ao vivo em externa da então famosa praia do Castelinho, no Arpoador. Apresentado nas manhãs de domingo, este programa foi um dos primeiros transmitidos direto de um ponto turístico do Rio de Janeiro, o badalado Castelinho dos anos 1960. Myriam Pérsia e Oswaldo Loureiro eram os apresentadores, que comandavam informalmente a atração das areias de Ipanema com o charme carioca devido. Em 1962, o jornalista e publicitário Fernando Barbosa Lima revolucionou o telejornalismo brasileiro com o Jornal Excelsior, futuro Jornal de Vanguarda. Ele tirou do ar o locutor estático que ficava diante da bancada lendo as notícias, e desdobrou-o em diversos apresentadores, dando uma dinâmica de show de notícias, como dizia o seu slogan. Fernando esteve na Tupi apresentando o Jornal de Vanguarda com equipe sofisticada, do qual faziam parte Sérgio Porto, Luiz Jatobá, Fernando Garcia, Newton Carlos, Tarcísio Hollanda, Gilda Muller, Borjalo, Carlos Alberto Vizeu, Célio Moreira e Appe. Em 1980, na carona do momento político que anunciava a saída de cena dos militares, Fernando criou o Abertura, que trouxe Glauber Rocha para o vídeo, fazendo matériascontestadoras e anárquicas. O programa foi um marco no jornalismo e uma saideira honrosa para os últimos momentos da emissora. Outro marco no gênero foi Perspectiva, criado por Marcos Reis para os fins de noite, um telejornal de análise política, mais soft, apresentado por uma dupla afinada: Íris Lettieri e Corrêa de Araújo. Capítulo 4 As Garotas-propaganda Elas chegaram na hora certa. Não dava mais para ver os teleanúncios apenas falados com um locutor em off, enquanto o produto era mostrado estaticamente. Oduvaldo Vianna contratou João Loredo, já atuando como ator nos primórdios da Venezuela, para criar o Departamento de Comerciais ao Vivo. Loredão deitou e rolou,convocando moças bonitas, ensaiando, dirigindo e criando uma linguagem nova para a televisão por meio das garotas-propaganda. Egresso do teatro amador da Mabe, Loredo tinha todo um respaldo teatral, que foi útil na tarefa de ensaiá-las, a fala, a postura e a entonação correta para desempenhar o papel da vendedora diante de uma câmera de televisão. E deu o maior pé. Surgiram então as primeiras garotas-propaganda. Quem resistiria a um rostinho bonito, que sorria, fazia seu charminho, e recomendava com delicadeza feminina o tal produto anunciado? Na primeira fase, ainda na Venezuela, apareceram Neyde Aparecida, Ilza Lobo, Wilma Rocha, Maria da Glória, Maria Luiza, Ana Maria Rodrigues, Diana Bomans, Regina Helena, Sonia Ketter, Nina Costa, Aurelina Lisboa, Teresinha Mendes, Lia Farrel e, pasmem, Sylvinha Telles, a maravilhosa cantora. Na segunda fase, na Urca, outra geração despontou: Maninha de Castro, Marlene, Elvira Rodrigues, Marise, Alzira Rosas, Riva Blanche, Kitty e Íris Arts, entre outras. Neyde Aparecida, segundo Loredo, foi a maior de todas, vinda do Clube do Guri, onde apenas sorria enquanto a câmera exibia o produto. Era ainda menor de idade, sempre acompanhada pela mãe, o que fez com que Loredo aumentasse sua idade para poder assinar seu primeiro contrato com o anunciante, a Discoteca Stylos. Realmente, no saldo geral, a Neyde era um escândalo. Além de fotogênica, tinha um jeito especial de falar com o público, o que era um tiro para o anunciante. E sua carreira como garotapropaganda foi longe, a fábrica Estrela a contratou para seus comerciais, o que ela vendeu de bonecas não está no gibi. Depois foi exclusiva da Joalheria Jaguaré, até chegar aos Espetáculos Tonelux, onde marcou tanto quanto Virgínia Lane, a estrela do programa. Os anos passaram e Neyde vendeu Perucas Lady com tanto charme e convicção, a ponto de muitos pensarem que fosse sócia ou dona do produto. Ilza Lobo tinha meiguice e graciosidade muito próprias, marcou também. Maninha de Castro era leve, sorridente e com sorriso sedutor. Marise, com desvio no septo, operou o nariz com Dr. Pitangui para melhor fotografar no vídeo. Wilma Rocha vendia simpatia, e acabou se tornando uma apresentadora de primeira, tal o desembaraço em cena. Gilma Coelho, segundo Loredo, era doce e linda, o que, provavelmente, contribuiu para que ganhasse a Antena de Ouro como melhor garota-propaganda no primeiro ano de atuação das garotas-propaganda. Alzira Rosas também se destacou com personalidade e empatia. Sylvinha Telles, aquela doçura, revelou-se quando do comercial da Martini diariamente antes do Repórter Esso. Aliás, paralela à sua excelente e tão rápida carreira como cantora, Sylvinha atuou como atriz em Câmera Um e na Vesperal Trol. João Loredo especializou-se no assunto e, anos depois, foi para a TV Rio lançando o programa Garota-propaganda Polo Ártico, onde um júri escolhia as melhores. E seu trabalho repercutiu geral, a ponto dos jornais de São Paulo publicarem: – ...As emissoras de São Paulo que quiserem melhorar o seu quadro de locutoras devem consultar o caderninho do João Loredo no Rio de Janeiro. Capítulo 5 Teledramaturgia e O Grande Teatro Tupi O volume e a diversificação de teleteatros, novelas e seriados marcaram os primeiros anos da programação da Taba, desde a Venezuela até a Urca. Nunca se produziu tanta teledramaturgia tal qual na época pioneira da televisão. Era produção em massa, ao vivo, com poucos recursos técnicos e pessoas se desdobrando em funções para que tudo desse certo. Dois nomes foram marcantes nessas produções: o figurinista Sorensen e o cenógrafo Pernambuco de Oliveira. O primeiro, sensível figurinista, criou o guarda roupa básico da Tupi, onde tudo era reformado e utilizado inúmeras vezes. Pernambuco, homem de teatro, criou cenários (e também figurinos), disfarçando as colunas plantadas no estúdio da Venezuela, e depois na Urca, fez de tudo: teleteatros, novelas, shows e programas de entrevistas. Dois craques. O Jovem Dr. Ricardo foi um seriado passado dentro de um hospital, onde o galã de cinema Cyll Farney, em sua única aparição na telinha como protagonista, vivia o Dr. Ricardo, jovem médico, tipo bonzinho e competente. Ele era apaixonado pela enfermeira interpretada por uma belíssima Teresa Rachel. Depois do caso médico resolvido brilhantemente pelo jovem Dr. Ricardo, o gancho final era sempre o mesmo: quando ele e a enfermeira se encontravam com ameaças de carícias, o alto-falante interrompia imperativo: – Dr. Ricardo, por favor, dirija-se até a sala de cirurgia. Dr. Ricardo, é urgente! Muitas vezes, oh, dor, nem um beijinho de despedida. Cassiano Gabus Mendes escreveu e dirigiu o seriado romântico Alô Doçura, em 1953, na Tupi paulista, levando para a televisão o programa que seu pai Otávio Gabus Mendes realizou no rádio com o nome de Namorados de São Paulo. Inicialmente protagonizado por Eva Wilma e Mário Sérgio, Alô Doçura ganhou outro galã no segundo ano de exibição, John Herbert, casado com Eva Wilma durante os quase dez anos de permanência no ar. Ambos viveram as pequenas histórias de casais e situações pertinentes à rotina doméstica e agradaram em cheio, especialmente pela alquimia dos atores. Alô Doçura foi replicado na programação do Rio, tendo Haydée Miranda e Paulo Maurício como o casal principal. Em seguida, Eva-John passaram a fazer a versão carioca, frequentando a ponte aérea por muitos anos. Os teleteatros abundavam: Teatro Walita, O Contador de Histórias, Teatro de Equipe, Teatro Cássio Muniz, Teatro Policial e Teatro Gebara, só para citar alguns, mas três merecem destaque: Câmera Um, Teatro de Comédias da Imperatriz das Sedas e Clube dos Morcegos. Com uma Câmera Só Jacy Campos é figura de proa na história da TV Tupi. Foi lá que criou, apresentou e dirigiu História do Teatro Universal (em parceria com Chianca de Garcia), Retrospectiva do Teatro Nacional, Meio-Dia, O Anfitrião e Câmera Um, este último um toque de genialidade, criatividade e originalidade na programação da televisão artesanal. Jacy viveu alguns anos nos Estados Unidos, onde se aprimorou em jornalismo, produção, direção e representação. Estagiou nas redes americanas ABC, CBS e NBC, e cursou o famoso Actor’s Studio. Foi lá, assistindo a um programa feito com uma câmera só, que teve a ideia de criar um teleteatro neste formato. Quando contou para a amiga Lourdes Mayer, ela vibrou, e o aconselhou que procurasse a direção da Tupi. Da ideia inicial, Jacy criou um teleteatro experimental que fazia misérias com uma única câmera – mexia, trocava a roupa dos atores enquanto um close garantia a mudança de cenário ou uma passagem de tempo. Com isso, enquadramentos fantásticos foram criados a serviço de peças de suspense, grand-guignol e até tragédias gregas. O programa consagrou-se de cara. Jacy pediu que a radialista Sílvia Autuori, a tia Chiquinha do rádio, adaptasse a peça Um Beijo nas Trevas, e colocou no ar pela primeira vez o seu experimento de uma nova linguagem televisiva. Foi um sucesso! Jacy Campos apresentava o programa, sempre com a mão em primeiro plano com um anel e um cigarro aceso, e conversava sobre o tema da noite, criando um clima superenvolvente: – ...Hoje é sexta-feira, e, como toda sexta-feira, é dia do Câmera Um, dia em que conto uma história. Assim, ele abria o programa sob a fumaça misteriosa do seu cigarro. Como o programa só tinha uma câmera, Jacy entrava e saía durante a dramatização, comentando e narrando ao mesmo tempo. Lourdes Mayer e Carlos Duval foram os atores mais presentes nos 15 anos que Câmera Um foi apresentado (1953 a 1967) , ao lado de elencos diversos que misturavam também os cantores Sylvinha Telles e Tom Jobim, que contracenaram com afiados intérpretes, Alberto Perez, Aracy Cardoso, Herval Rossano, Maria Pompeu, Cláudio Cavalcanti, Érico de Freitas, Nair Amorim, Sadi Cabral, Ribeiro Fortes, Milton Moraes, Norma Blum, Ibañez Filho, Ida Gomes, Maria da Glória, Jorge Dória, Zilka Salaberry, Oswaldo Lousada, Nelly Rodrigues, Osmar Frazão e muitos outros. Daniel Filho foi assistente de direção de Jacy Campos e, segundo declarou em seu livro de memórias, Antes que me esqueçam, ele foi seu grande mestre no aprendizado de dirigir televisão. O Teatro de Comédias Sábado era dia do Teatro de Comédias da Imperatriz das Sedas, programa obrigatório para o público telespectador da época. Dirigido por Mauricio Sherman e depois por Ilsa Silveira, o Teatro de Comédias levava peças conhecidas e também textos criados especialmente, escritos por Ilsa e Aparecida Menezes principalmente. Heloísa Helena quase sempre estrelava, ao lado de Jayme Costa, Yoná Magalhães, Aimée, Aracy Cardoso, Herval Rossano, Theresa Amayo, Renata Fronzi, Ribeiro Fortes, Jomery Pozolli, Ida Gomes, Lídia Reis, Alair Nazareth, Edson Silva e outros. No intervalo, Carlos Frias apresentava o longo comercial da loja de tecidos com sua possante voz, anunciando: – ...Essa é a estrondooosa liquidação da Imperatriz das Sedas! Entre Vampiros e Morcegos Um dos maiores craques do pioneirismo da televisão é João Loredo, ator, produtor,diretor e criador das garotas-propaganda. Ele entrou para a TV Tupi em 10 de outubro de 1951, poucos meses depois da inauguração. Loredo fez de tudo na Tupi, entre programas de humor, musicais, seriados, teleteatros e novelas. Quando não estava na frente das câmeras, estava atrás, e sempre criando algo novo. É difícil enumerar todos os programas em que participou, tal a quantidade e variedade de gêneros. Sua enorme competência o levou a diretor de teledramaturgia entre 1972-1973. Pode-se afirmar, sem medo de errar, que seu programa favorito, criado e dirigido por ele, foi o Clube dos Morcegos, teleteatro de terror apresentado em 1965 por dois anos com sucesso absoluto. Já na era do teipe, a direção da Tupi não quis saber: – ...Você sabe fazer, vai ao vivo mesmo. Isso fez com que o programa tivesse mais calor humano, mais adrenalina e mais agilidade. No formato, o presidente do clube era um morcegão brabo, que, após fazer mais uma vítima nas ruas da cidade, descia as escadarias do seu castelo, abria enorme livro negro, e iniciava a narração da peça a ser apresentada.Vários presidentes revezaram-se no papel do personagem – Dary Reis, Átila Iório e Castro Gonzaga, todos assessorados pelo secretário do castelo, o ator Paulo Graça Mello. As histórias eram de arrepiar e as caracterizações de meter medo, com maquiagens apavorantes feitas pelo Antonio Abreu, expert no assunto. No elenco fixo: Mário Brasini, Lourdes Mayer, Marília Pêra, Paulo Max, Henriqueta Brieba, Fregolente, Ida Gomes, Dinorah Marzullo, Theresa Amayo,. Ribeiro Fortes, Angelito Mello, Alfredo Murphy, Lourdes Mayer, Luiz Carlos de Moraes, Paulo Porto, Suely Franco, Célia Azevedo e Gilberto Martinho, entre outros. As peças, especialmente escritas, eram assinadas por Hélio do Soveral, Heddy Maia, Mário Wilson, Gisela Gonzaga, Luiz Simões e Mary Souza. O Clube dos Morcegos assustou muito aos notívagos de então, a ponto de João Loredo ouvir do comediante Zé Trindade: – ...Assisto ao programa de costas, porque fico realmente com medo. O Célebre Grande Teatro Tupi O Grande Teatro Tupi é capítulo especial na história da televisão brasileira, e este trunfo pertence à Tupi carioca. Foi lá que ele nasceu, tornou-se célebre por quase dez anos direto no ar, graças à dedicação de artistas apaixonados e... loucos, segundo se autodefinem. Paixão, esse sentimento avassalador, é a mola-mestra na condução do trabalho de jovens cheios de gás e talento, cujo núcleo foi formado por Sérgio Britto, Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Nathalia Timberg, Ítalo Rossi, Flávio Rangel, Zilka Salaberry, Aldo de Maio e Manoel Carlos. Visionários, curiosos, e corajosos, jogaram-se de cabeça no projeto mais sério e bem-sucedido de teledramaturgia realizado na televisão artesanal do Rio de Janeiro. O grande mentor é Sérgio Britto, obstinado sem limites que sedimentou a semente do Grande Teatro Tupi, comandando com pulso forte os 450 programas, quase a metade realizado ao vivo. Britto e todos os outros sabem que foi este projeto que alavancou suas carreiras e abriu as portas para a ribalta, quando foi formado o grupo do Teatro dos Sete, marco dos palcos brasileiros. Ninguém melhor do que ele, talking head absoluto, para falar sobre a experiência. Com a palavra, Sir Sérgio Britto: O Grande Teatro Tupi foi muito importante, lembro-me que quando se passava pela cidade às 10 da noite, das janelas saía o Smile, que era o tema musical. O horário não era muito rígido, às vezes entrava às 10 horas, às 11, à 1 hora da manhã. Não me esqueço que quando fizemos o Werther, no dia seguinte, a caminho de São Paulo, o jornaleiro do aeroporto me disse: ...Ah, seu Sérgio, acabou às quinze pras duas, e ainda por cima o mocinho morre no final... Eu respondi: é, o Goethe escreveu assim.... Ele me falou: ...Se o senhor encontrar com ele, diz que eu gostei muito. O programa atingia todo tipo de público, não era só elite não. Pois é, Goethe serve como cartão de visitas para o repertório exibido pelo programa, que elevou o nível cultural da televisão experimental de então, provando, sem querer provar nada, que qualidade e apuro em clássicos da literatura e do teatro são muito bem recebidos pelo público, o qual tem sensibilidade e inteligência para alcançá-los. Dando uma geral no panorama dos textos montados pelo Grande Teatro Tupi, pinçamos alguns títulos e autores: Os Espectros, de Ibsen; Helena, de Machado de Assis; Bom dia, Tristeza, de Françoise Sagan; À Margem da Vida, de Tennessee Williams; Nossa Cidade, de Thorton Wilder; Floradas na Serra, de Dinah Silveira de Queiroz; História de Herói, de Maria Inês Souto de Almeida; Assim É, selhe Parece, de Pirandello; O Tio Vânia, de Tchekhov; O Telescópio, de Jorge Andrade; Os Possessos, de Dostoievski; Visita da Velha Senhora, de Dürrenmatt; Chuva, de Somerset Maugham; Frankel, de Antonio Callado; Pecado Original, de Jean Cocteau; O Profundo Mar Azul, de Terence Rattigan; e Breve Encontro, de Noel Coward, entre muitos outros. –...Em 1956, quando eu voltava da temporada de Casa de Chá do Luar de Agosto de São Paulo, prossegue Sérgio Britto, montagem essa que lançou Ítalo Rossi para o estrelato, soube que a Tônia (Carrero), o Celli (Adolfo) e o Paulo Autran tinham desistido de fazer teleteatro às segundas-feiras, porque acharam muito cansativo. Procurei o Guilherme Figueiredo, que estava dirigindo a Tupi, e disse que eu podia fazer um programa semanal com elenco fixo. Ele disse: – ...Duvido, é impossível. Mas se você quer tentar, vamos fazer uma experi ência, numa semana o Sérgio Cardoso faz um e na outra você faz. Eu fiz Os Espectros, do Ibsen, com a Natália no papel de a Senhora Alvim, e eu fazendo o seu filho, Oswald. Tinha também o Sabag e a Maria Helena Dias. Foi um sucesso. A peça do Sérgio Cardoso não foi bem, aí o Guilherme me chamou, e me deu o horário. Começamos, e durou na Tupi até 1962, depois fomos para a TV Rio onde ficamos até 1964, e fizemos seis meses na Globo, em 1965, quando ela inaugurou. O público respondeu de cara, tinha umas votações na revistinha TV Programas, que nós ganhávamos todo ano, era o público quem votava. A Fernanda acha que o Grande Teatro foi a nossa escola de teatro. Na Europa eles avaliam a capacidade do ator por intermédio do teatro de repertório, e montam dez peças por ano. Nós fizemos isso, a Fernanda diz que o teatro que não tivemos para evoluir, tivemos no repertório do programa. Ela está certa. Além de Sérgio Britto, a direção era revezada com Fernando Torres e Flávio Rangel, sendo que Aldo de Maio e Fábio Sabag dirigiram alguns programas também. Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg protagonizaram em rodízio um duelo de grandes performances para o público de casa: qual delas estaria no programa? Ambas excelentes atrizes. –...Quando eu e Fernando estávamos em São Paulo contratados pela Maria Della Costa, recorda Fernanda, nos reaproximamos de Sérgio Britto, e ficamos amigos, chegamos a fazer uns teleteatros lá, quando fomos para o TBC. Então, quando começamos o Grande Teatro no Rio, estávamos morando em São Paulo, ensaiávamos aquelas peças enormes, comíamos um picadinho no Nick-Bar, ensaiávamos à tarde, depois fazíamos espetáculo à noite, e de madrugada era o ensaio do programa. No domingo, após a peça, a gente pegava o Corujão, que era a última ponte aérea, e vínhamos para o Rio. Na manhã seguinte, íamos cedo para a emissora e aconteciam mais três ensaios no cenário: um pra nós, outro pra suíte e outro com as câmeras. Só tínhamos tempo pra comer alguma coisa, e apresentávamos o programa à noite. A formação de plateia é saldo relevante na história do Grande Teatro, muita gente teve o interesse despertado para o teatro por causa do programa, e não são poucos os que primeiro assistiram ao teatro pela televisão. Muitos atores têm como referência a opção pela carreira o teleteatro de Sérgio Britto e sua trupe, casos específicos de Neila Tavares, Marco Nanini e Pedro Paulo Rangel, só para citar três. ... Formamos plateia, afirma Fernanda. Até hoje encontro pessoas na rua, nas lojas, no restaurante, que nos assistiam quando eram crianças. Aí, veja o que é: uma televisão pioneira, não industrializada, sem administração tecnológica, muito modesta... tínhamos um patrocínio que só entrava no intervalo do ato. Quando a gente quis montar nosso grupo para fazer teatro, a televisão nos possibilitou isso. ... Em 1959, prossegue Sérgio, fui ao Almeida Castro e pedi autorização para vender assinaturas para o público do programa a fim de montarmos o Teatro dos Sete. Ele permitiu, assim eu entrava no intervalo e dizia: ...Quero saber se vocês podem nos ajudar, comprando assinaturas para as três primeiras montagens que queremos fazer. Conseguimos dez milhões de cruzeiros, o que possibilitou estrearmos as primeiras produções do Teatro dos Sete: Mambembe, A Senhora Warren e Cristo Proclamado. Até o pintor Cândido Portinari telefonou e comprou sua assinatura. Com isso, o grupo realizou o maior de todos os sonhos que acalentava: Mambembe, de Arthur Azevedo e José Piza. Oitenta e dois atores em cena e casas lotadas no Municipal e no Teatro Copacabana. Foi um acontecimento o espetáculo dirigido por Gianni Ratto. Superelenco encabeçado por Sérgio, Fernanda, Renato Consorte, Ítalo Rossi, Zilka Salaberry, Grace Moema, Iara Cortes, Napoleão Muniz Freire, Milton Carneiro, Waldir Maia, Sandra Dartus, Maria Gladys, Armando Nascimento e Dom Rosse Cavaca, entre muitos outros. Ao contar sobre o último dia que apresentaram a peça no Municipal, Fernanda se emociona quando lembra da multidão na plateia acenando seus lenços para o elenco no final: – ... Ganhamos todos os prêmios do ano, aquele ano não teve pra ninguém. Sabe quando você é visionário? Peças, contratos trabalhistas de um ano, muita gente envolvida. Se você pensa, não faz. É mambembe mesmo! Não tem dinheiro, vamos pedir na televisão.Você não pode ter medo na juventude, não pode temer, a vida já faz você não temer muito, né? Foi um encontro de loucos. Hoje, rememorando o acontecido, chego à conclusão que Sérgio Britto, Ítalo Rossi, enfim, nós, éramos um bando de malucos. Idem o Gianni Ratto, que não se deu bem lá na terra dele e retornou. Mas foi a televisão que nos proporcionou o fazer. Fizemos as três peças, porém o Cristo Proclamado foi um fracasso memorável, aí nós remontamos rapidamente O Mambembe e fizemos mais dois espetáculos, quando estreamos O Beijo no Asfalto,que Nelson Rodrigues escreveu para o grupo. Demos (em vez de três) cinco espetáculos para quem apostou em nós. Aproximadamente quinhentas peças foram encenadas no Grande Teatro Tupi. Sérgio Britto calcula que Manoel Carlos tenha adaptado 120, por aí. No caprichado livro O Grande Teatro Tupi do Rio de Janeiro (Editora UFJF), que a Profa Cristina Brandão escreveu como dissertação de mestrado, patrocínio da TV Panorama, afiliada da TV Globo em Juiz de Fora, uma análise muito bem-cuidada da experiência do teleteatro foi feita, e colheu depoimento do núcleo básico do programa. Manoel Carlos é um dos entrevistados: – ... O Sérgio Britto, durante o Grande Teatro, foi a pessoa mais popular do Rio de Janeiro. Inclusive o Teatro dos Sete, feito por ele e por Fernanda, deveu-se muito ao Grande Teatro, porque as pessoas queriam dar dinheiro para assistir à companhia. Sérgio recebia uma quantidade de cartas só comparável à dos galãs de novela. Há de se levar em conta o pequeno universo, só no Rio. Nós todos tínhamos grande popularidade e grande prestígio. E como levávamos textos literalmente muito valiosos, tínhamos manifestações de Carlos Drummond de Andrade, de Manuel Bandeira. Lembro-me que Augusto Frederico Schmidt, poeta, se comunicava muito com Sérgio Britto. A Raquel de Queiroz também. Havia um universo de pessoas cultas, inteligentes, as quais prestigiavam muito o Grande Teatro Tupi. Quando terminava o programa, o telefone da Tupi não parava. A repercussão era muito grande, e a gente sabia disso. Os anos 1950, românticos e reprimidos por excelência, foram mexidos pela libido ao deparar com a novidade de uma trupe de gostosos e talentosos ali na frente de todos. Lembro-me de moças da zona sul que se declaravam apaixonadas por Sérgio, que chegavam a bater em seu apartamento com a mala debaixo do braço, levadas por incontrolável impulso. Sérgio corrobora com Manoel Carlos: – ...Quando terminava o programa, tinha telefonemas a noite toda na emissora. Era gente cantando não só a mim, mas a Fernanda, a Natália, o Ítalo, todos. Uma mulher me ligava insistentemente oferecendo um cachê, meu marido não está aqui, vem. Nessa época, tive encontros memoráveis. A Ângela Maria, cantora, em certo momento achou que estava apaixonada por mim. Ofereceu-me um almoço maravilhoso. Eu era o galã do momento. Eu disse pra ela: você é uma criança, está sonhando com uma coisa que não é verdade. Aí ela me levou no carro dela. Imagina um conversível vermelho na porta da Tupi na Urca, passando pelas ruas, todo mundo nos olhando. Teve uma mulher que me perseguia de automóvel sempre. Um dia, comecei a ficar apavorado, ela me seguindo na Avenida Copacabana, aí eu chamei o guarda e falei que estava sendo seguido. Ele foi ver e ela zarpou. No livro de Cristina Brandão, Nathalia Timberg fala sobre a resposta do público: – ...Com o mesmo tipo de retorno de hoje. Telefonemas, repercussão do espetáculo na cidade, comentários, críticas e o aumento das pessoas que sempre assistiam. O público já tinha conhecimento dos atores pela atividade teatral... é claro que a televisão divulgava mais. Uma coisa que eu me lembro muito é que eu morava em Copacabana e, se você passasse nas ruas, ouvia Smile que vinha das casas. Sabia-se que as pessoas estavam ligadas na televisão. Tínhamos prêmios semanais, era muito prêmio. Mas eu não os guardei, pois fui muito cigana, me mudei muito e as coisas se perderam. As coisas ficaram dentro de mim, na minha memória, e uma que me marcou era saber que Portinari nos via assiduamente. Ítalo Rossi era também muito cumprimentado e assediado, conforme relata num trecho do livro: – ...Não vou exagerar, mas nós parávamos o Rio de Janeiro, posso garantir. A cidade ficava parada à noite para ver O Grande Teatro. Nós éramos aplaudidos na rua, mal podíamos sair pra comprar uma camisa, um sapato. Eu fui sequestrado na porta da televisão por uma fã alucinada, louca, que abriu a porta do carro e me enterrou dentro dele... e eu fui embora... Cartas maravilhosas, não dá pra guardar tudo aqui, seria impossível... Depois da ida do grupo para a TV Rio, em 1963, batizado apenas de Grande Teatro, a Tupi manteve o título original, e passou o Grande Teatro Tupi para os domingos, sob a direção de Carlos Lage. Nesta fase, peças americanas adaptadas foram apresentadas com elenco eficiente, tentando manter a mesma audiência que foi conquistada anteriormente. Os atores não eram contratados, faziam cachê, portanto rolava um rodízio dos mais disponíveis, ou seja, os que não estavam presos a contratos em outras emissoras. Lygia Nunes (hoje a escritora Lygia Bojunga), Delorges Caminha, Érico de Freitas, Suzy Arruda, Jacqueline Laurence, Milton Luiz, Mário Petraglia, Maria Pompeu, Oduvaldo Vianna Filho, Isolda Cresta, Sérgio Viotti, Souza Lima, Castro Gonzaga e Léa Bulcão, entre outros. Capítulo 6 TV de Brinquedo Não havia nada melhor para uma criança que chegar da escola, lanchar café com leite e pão com manteiga, sentar diante da TV e curtir bons programas, mesmo que a mãe ameaçasse desligar o aparelho, se a gente não fizesse primeiro o célebre dever de casa. Conseguíamos driblar, arrumando horários que se adequassem aos cadernos escolares, mas... perder o Falcão Negro, jamais! A hora da Gladys e seus Bichinhos era sagrada, assim como quando viajávamos com Neyde no País das Maravilhas... Os programas do meio de semana tinham esse inconveniente, mas os de sábados e domingos combinavam bem com a folga da escola, e, assim, podíamos saboreá-los mais tranquilos. O Iluminado Teatrinho Trol Aos domingos, às 14 horas, durante dez anos, precisamente de 1956 a 1966, era a hora de parar tudo para assistir à Grande Vesperal Trol, mais conhecido como Teatrinho Trol. O acabamento refinado magicamente conseguido pelo diretor Fábio Sabag nas produções, substituía qualquer limitação de equipamento ou recursos de então, o resultado superava tudo, e atingia em cheio a poderosa imaginação da criança, assim era fácil a gente se transpor para um castelo, uma floresta ou uma casa de lenhadores. O programa nasceu pelas mãos de Almeida Castro, que abriu o horário para Fábio Sabag realizar uma das maiores realizações da TV Tupi em toda a sua história. O Teatrinho Trol foi tesouro conquistado por intermédio de muito trabalho por equipe afiada e talentosa comandada pelo Sabag, um mago com alma de criança, espirituoso, brincalhão e jeito bonachão de quem estava sempre prestes a aprontar alguma. Às vezes tentava ficar sério, falava com maturidade e sabedoria, mas logo depois desmanchava o tipo e se revelava aquela criança capaz de uma tirada bem-humorada ou travessa. Ele dirigiu, produziu e adaptou especialmente para o programa contos e peças dos maiores escritores brasileiros e estrangeiros, desde Grimm, Dickens e La Fontaine a Monteiro Lobato, Maria Clara Machado e Tatiana Belinky. O Trol teve sua primeira fase ao vivo, até a chegada do teipe em 1962, quando passou a ser gravado. Peça importante do programa era J. Reis, responsável pelas maquetes, que eram perfeitas, primorosas, com engenhosa iluminação e muito gelo seco. Os cenários de Pernambuco de Oliveira, a maioria telões pintados, tinham acabamento teatral, seguiam séria pesquisa de arte, especialidade do grande artista que foi Pernambuco. Os figurinos inicialmente eram alugados do Mundo Teatral e devidamente adaptados pela equipe de costureiras. Depois, Sorensen assumiu o guardar roupa e criou desde luxuosos trajes a soluções originais e de efeito. Moacyr Deriquém foi o braço-direito de Sabag como assistente e produtor, no suporte à produção que o diretor necessitava, além de ser seu amigo particular. A maquiagem também era peça importante, afinal, barbas, perucas e envelhecimentos faziam parte da proposta lúdica do encantamento, quando Erick Repzski e Antônio Abreu davam banho de talento e criatividade. O elenco era numeroso, boa parte do teatro do Rio de Janeiro da época passou pelo Trol, mas alguns atores eram fixos, casos do trio Roberto de Cleto, o príncipe; Norma Blum, a princesa; e Zilka Salaberry, a bruxa. A alquimia de Cleto e Blum passava para a criança a doçura, o romântico, a parceria. Eles eram apaixonantes. Zilka no papel de bruxa era terrível, com a voz rascante e expressões faciais de meter medo, ao mesmo tempo que transmitia infinita alegria por suas maldades. Oscar Felipe, Edson Silva, Antonio Ganzarolli, Paulo Padilha, Renata Fronzi, Odilon del Grande e Mário Petraglia foram os atores que mais atuaram. Na dobradinha com o príncipe Roberto de Cleto, Érico de Freitas e Souza Lima também participaram, assim como nas folgas de Norma Blum, as princesas foram defendidas por Íris Bruzzi, Carmem Sílvia Murgel e Neyde Aparecida. Maria Pompeu,. Beatriz Veiga, Isabel Teresa, Estelita Bell, Iolanda Cardoso, Gracinda Freire, Kleber Macedo, Jurema Magalhães, Suzy Arruda, Myriam Pérsia, João Carlos Barroso, Haroldo de Oliveira, Matosinho e Nildo Parente também passaram pelo mais famoso teleteatro infantil de todos os tempos. Momentos de pura magia, como a versão apresentada de A Cigarra e a Formiga, com interpretações inesquecíveis da cantora Sylvinha Telles como a saltitante Cigarra, e de Isabel Teresa na pele da trabalhadora Formiga, um primor de escalação. Sylvinha cantava e tocava violão com alegria contagiante, enquanto Isabel era uma Formiga convincente, o que deixava o público infantil completamente dividido. Outra peça memorável foi A Onça e o Bode, onde Zilka Salaberry, uma onça sem-teto, era obrigada a dividir o mesmo pedaço com um bode, defendido por um carrancudo Paulo Padilha. Ou o mesmo Padilha, mais suave, na pele de um rei, que mandava colocar tecidos de veludo preto por todo o céu do Oriente para não acordar sua filha encantada, Norma Blum, é claro. Para o intervalo comercial foi criado o personagem Dom Trolino, feito pela radioatriz Nair Amorim de maneira delicada e carismática. Ela anunciava os brinquedos Trol, fosse a boneca Pierina para as meninas ou o Lig-Lig para os meninos. Eram uma atração à parte sua voz em falsete e as caras e bocas que fazia. Falcão Negro, Destemido Mascarado Com ele não tinha muita conversa, para qualquer ameaça de injustiça ou de maldade, era só sacar da espada e o pau comia. O Falcão Negro, um primo do Zorro tropical, era personagem de capa e espada que gostava de justiçar quem quer que fosse, mas era ele o principal alvo dos ataques inimigos por ser tão destemido e corajoso. Ele tinha o apoio incondicional da amada Lady Bela, e quase sempre seus antagonistas eram bandidos orientais, não se sabe por que essa preferência tão constante nos episódios apresentados, talvez por trazerem algo de misterioso. Mas os enredos serviam apenas como motivo vago para acontecer o mais esperado: as lutas. Elas tomavam a maior parte do programa e eram encenadas com muito treino, o que provocava uma adrenalina deliciosa no público infantil. Afirmam contemporâneos do seriado quehavia um táxi na porta da emissora sempre à espera do término para levar algum ator machucado ao hospital. Às vezes acontecia inevitável – e risível – acidente o qual ia pro ar: as espadas de madeira se quebravam quando as lutas pegavam fogo. Com o tempo, foram substituídas por espadas de ferro, responsáveis por cortes e ferimentos nos atores. Mas o barulhinho metálico era excitante. O Falcão Negro é uma criação de Péricles Leal, primeiramente realizada em São Paulo com José Parisi no papel principal. No Rio de Janeiro o programa era feito por Gilberto Martinho, que vivia o personagem 24 horas no dia. O sucesso foi tão grande que Gilberto, apesar da máscara negra que cobria seus olhos, era reconhecido pelas crianças na rua, e era convidado constantemente para festas de aniversários e eventos infantis. A dedicação do ator foi tanta que quando não estava atuando no programa, estava treinando e aperfeiçoando as lutas. Ao seu lado tinha Haydée Miranda no papel de Lady Bela, depois substituída por Delly Azevedo, que fazia par com Parisi na Tupi paulista. Dirigido por Dary Reis, que também participava do elenco, o programa estreou em 1954 e bombou sete anos direto no ar, com as presenças marcantes de Alberto Perez, Herval Rossano, Daniel Filho, Roberto Duval, Alfredo Murphy e Osmar Frazão. Apresentado às terças e sextas-feiras às 19 horas, era ruim esperar o próximo episódio na expectativa de que o Falcão conseguisse se desamarrar das cordas que o prendiam da cabeça aos pés, ou afastar as pedras gigantescas do castelo que tentavam esmagá-lo, ou ainda livrar Lady Bela de um sinistro sequestro. Roberto Duval, que era mão pesada, quase sempre ia parar no prontosocorro, com um dedo quebrado ou um corte na cabeça. Quando as lutas fugiam ao controle dos atores e o quebra-quebra não tinha fim, Herval Rossano se escondia atrás das tapadeiras até tudo se acalmar. Coelhinho Teco-Teco e Outros Bichinhos Duas contadoras de histórias desses tempos deixaram marcadas na infância de muito marmanjo lembranças profundas de uma ingenuidade datada. Virgínia Lane como o Coelhinho Teco-Teco e Gladys Ribeiro como a tia Gladys convenciam plenamente meninas e meninos na arte de contar histórias, tarefa superpraticada pelas mamães, titias, dindinhas e vovós de plantão. Virginia usava mais os truques de atriz, enquanto Gladys era coloquial, ela mesma. O Coelhinho Teco-Teco transformava a apimentada vedete do Brasil em uma coelhinha saltitante, alegre, faladeira, sempre elétrica e brejeira. Eu sou o Coelhinho Teco-Teco Quero à minha gurizada agradar, Contar para vocês tintim por tintim, Sou o Coelhinho da Casa Valentim ! Com esta musiquinha, a coelhinha-vedete saía de uma árvore cenográfica, sentava-se e começava a contar uma história da Família Coelho. E conseguia o intento de segurar as crianças com a interpretação e o poder vocal, as historinhas eram apenas contadas. O resto ficava por conta da imaginação infantil. A Coelhinha Virgínia nunca mais saiu do imaginário de seus pupilos. Gladys e seus bichinhos alimentaram também a imaginação da garotada. Mas nesse programa as histórias eram visualmente mostradas, pois Gladys, exímia desenhista, ilustrava com carvão na cartolina a história narrada. Era o máximo. Enquanto explicava as situações e detalhava suas personagens, desenhava no tempo certo até o ponto final de cada parágrafo numa rapidez e sentido de timing primorosos. Seus personagens mais famosos eram a formiga Gilda, a gatinha Clarinha, o peixinho Marci, a abelhinha Dani, a cadelinha Lelete e o sapo Godô. Gladys fez tanto sucesso no Rio que foi escalada imediatamente para repetir o programa nas outras capitais, assim ela fazia às segundas na Urca, terças em São Paulo, quartas no Paraná e quintas em Belo Horizonte. Gladys escreveu 38 livros e gravou 20 discos a reboque de sua popularidade na TV. O programa marcou época na Tupi, até o dia que Gladys aceitou o convite da TV Excelsior, naquela famosa revoada de artistas, e mudou de emissora, mas não foi a mesma coisa no canal 2. Os tempos já eram outros, e as crianças idem. No Clube do Guri Quem não queria ser sócio desse clube? Tudo gente da nossa idade metida a adulto, sem tatibitate de princesinhas e dragões. O guri era tratado como gente grande exibicionista, tinha lugar certo no Clube do Guri, fosse participante ou espectador, ao mesmo tempo em que era exaltada a alma da criança, passeando no ufanismo e nos bons costumes, de preferência. O programa permaneceu 25 anos no ar, iniciado na Rádio Tupi em 1949 e exportado para a TV sob o nome de Gurilândia, mas a partir de 1955 revelou diversos artistas – Leny Andrade, Neyde Aparecida, Wanderléa, Rosemary, Elisangela, Telma Elita, Sônia Delfino e Leila Mícolis, entre as mais conhecidas. Na versão gaúcha de o Clube do Guri, Elis Regina menina foi lançada. Produzido pelo radialista Samuel Rosemberg com dedicação, tudo passava pelo seu crivo, desde a seleção dos minitalentos até a escolha das músicas e dos poemas que eram declamados. Clube do Guri ia ao ar aos domingos de 11 às 13 horas, em duas horas de exibição. Crianças-prodígio estimuladas por mães-corujas cantavam músicas conhecidas – tangos, sambas-canções dramáticos, boleros sensuais e sambas ufanistas, e também declamavam muito Castro Alves e similares. Os suburbanos corações vibravam e a petizada da zona sul também. Collid Filho era o apresentador, tarefa a qual desempenhava cuidadosamente, a fim de tratar a criança igualmente, revelando suas aspirações e sonhos ao estrelato. Unidos pelo mesmo ideal Daremos ao Brasil um canto triunfal, De fé, amor e esperança Elevando a alma da criança! Com esses versos, animadíssimo coro abria o programa todas as tardes de domingo, por onde em seguida desfilavam as atrações mirins. Entre outros nomes que marcaram época, Mariza Nazareth, José Leão, Maryland Lima, Zaira Cruz e Neuci José da Cruz também apareceram com destaque, alguns tinham até fã-clube. Sônia Delfino estreou aos 9 anos cantando Dora, de Caymmi, e foi logo contratada. Ela gostava tanto do programa que, aos 13 anos, quando entrava na adolescência, apertava os seios para parecer mais criança. Mas a produção deixou que ficasse, até que naturalmente sua carreira decolou, e anos depois foi apresentar com muito sucesso o programa juvenil Alô, Brotos ao lado de Sérgio Murillo. O programa foi dirigido por Mauricio Sherman durante um ano, e seu formato seguiu com Rosemberg e Collid com pulso firme. Excursões e mais excursões levaram o grupo para clubes de municípios e cidades vizinhas, diversos discos foram gravados, campanhas sociais foram promovidas, inclusive a que Rosemberg considerava um marco: o programa conseguiu uma piscina térmica para crianças vítimas de paralisia infantil. O que emocionava mesmo era quando o coro superbem-ensaiado mandava a famosa Canção da Criança, de Renée Bittencourt e Francisco Alves, e todo mundo cantava junto: Criança feliz, feliz a cantar Alegre a embalar seu sonho infantil Oh, meu bom Jesus, que a todos conduz, Olhai as crianças do nosso Brasil! Carequinha, Primeiro e Único George Savala Gomes viveu o personagem Carequinha de um jeito intenso, de doação mesmo, era o palhaço alto-astral o tempo todo. A facilidade que interagia com a criança daquele tempo conquistou uma geração que nunca mais esqueceu o seu ídolo. Essa empatia que tinha naturalmente criou um elo tão forte que o Circo Bom-Bril, desde as primeiras tentativas na Venezuela, lhe abriu as portas para uma carreira brilhante, que confirmou a supremacia de ser o palhaço número um do Brasil. Quando chegou na Urca, o picadeiro era todo seu, e o programa permaneceu no ar por 16 anos. Acompanhado por uma trupe animada, ele dividia a cena com os companheiros Fred Villar, Zumbi, Meio Quilo e Oscar Polidoro. Com Fred formou a dupla clássica do clown e palhaço, um fazendo escada para o outro brilhar, mas quando entrava o Zumbi era pastelão puro. Porretadas e cenas de briga cumpriam o jogo cênico circense, bem coadjuvado pelo trapalhão Meio Quilo. Oscar Polidoro era o mestre de cerimônias do Circo, que apitava e batia o chicote: – ... Senhoras e senhores, aí vem Carequinha e sua turma! O Circo Bom-Bril foi o melhor passaporte para um artista genial como Carequinha se consagrar. Ele realmente aproveitou toda a oportunidade que a vida lhe ofereceu. De cara criou o personagem como herói, ao contrário dos palhaços de então que eram humilhados e autênticos sacos de pancada. Carequinha virou o jogo e em vez de apanhar, batia. Sempre por causa justa, claro. Com isso, criou moral, e seu palhaço se tornou forte, vivo, uma referência. Em seguida, usava sua liderança junto ao público infantil para passar boas mensagens, foi quando bombou geral, cantando: O bom menino não faz pipi na cama, O bom menino faz sempre a lição. O bom menino vai sempre na escola, E na escola aprende sempre a lição O Bom Menino, de Irany de Oliveira e Altamiro Carrilho, vendeu, em 1962, dois milhões e quinhentas mil cópias, e abriu um filão de 26 discos gravados por Carequinha, emplacando vários temas conhecidos – Rock do Ratinho, Saudade de Papai Noel, Marcha do Carrapato, Minha Burrinha e Parabéns, Parabéns, também de Carrilho e Irany, que até hoje é cantada nas festinhas de aniversário. Fanzoca de Rádio, de Miguel Gustavo, levou de novo Carequinha para as paradas e virou um clássico do carnaval. Em 1956, estreou em cinema no primeiro longa-metragem produzido pelos Estúdios Herbert Richers, Sai de Baixo, dirigido por J. B.Tanko, onde atuou ao lado de Fred Villar, Adelaide Chiozzo, Costinha e Renato Restier. Saiu-se muito bem e o filme também agradou, abrindo-lhe as portas do cinema para outros sucessos populares, Com Jeito, Vai (1956), Com Água na Boca (1957), Sherlock de Araque (1958) e O Palhaço, o que É? (1959). Tudo isso e muito mais aconteceu na vida de Carequinha, ao mesmo tempo que o Circo Bom-Bril o mantinha no ar multiplicando sua popularidade com o correr dos anos. Trapezistas, acrobatas, engolidores de fogo e malabaristas revezavam-se entre as atrações, mas o leitmotiv era ele. O concurso de cambalhotas era imbatível, toda criança tentava repetir, treinando em casa entre travesseiros e almofadas para depois participar no picadeiro da TV. E não era fácil, não, a maioria se esborrachava no chão, mas era uma emoção. Com destreza física e genética, Carequinha parecia de borracha quando dava a cambalhota e saía em pé fazendo gaiatices, com flexibilidade única. Era o máximo! Depois, quase sempre, para complementar a palhaçada, soltava o suspensório da calça e, fingindo não ver, era alertado por todo o picadeiro: – ...Sua calça caiu!... Gargalhadas sem fim. Eu obedeço sempre à mamãezinha, por isso estou de parabéns do carequinha! Com esse extraordinário artista, o maior ídolo do público infantil da época, fecho esse recorte de programas que marcaram a programação para crianças da Tupi. Muitos outros também povoaram nossa infância, provando que essa fatia de público sempre foi cativa na televisão. Vale o registro de alguns igualmente marcantes: Pullman Jr, Capitão Aza, Neyde no País das Maravilhas, A Estrela é o Limite, Clube do Titio, O Mundo é das Crianças e Capitão Estrela. Capítulo 7 O Reinado do Humorismo O humor na televisão foi herança do rádio e do teatro de revista, inspiradores maiores do gênero que está presente desde o início até os dias de hoje na TV: os humorísticos. O esquete, com ou sem número musical, é a base de tudo. Ele flagra situações do cotidiano em tipos caricaturados, verdadeiras piadas encenadas, que transmitem identificação imediata com o espectador. Paródias, críticas, deboche, gírias, tudo isso faz parte do universo do humor, muitas vezes resultando em preconceitos e até em certo moralismo de época. A crítica política, tal qual no teatro de revista, era um prato cheio. Mas o escracho sempre dava uma cobertura, e tudo acabava na mais autêntica galhofa. O apelo popular é forte em se tratando de humor, afinal ele é característica fundamental no DNA do brasileiro e em especial no do carioca. O cinema brasileiro da época, anos 1950, também inspirou os programas de humor, tida como a fase áurea das comédias carnavalescas da Atlântida e da Herbert Richers. Assim, aconteceu o boom de comediantes no vídeo. Eles estavam sempre empregados, contratados ou a cachê, pulando de um lado para o outro, revelando-se extraordinários atores de comédia. Não, não se fazem mais comediantes como antigamente... A fornada surgida no rádio, televisão, cinema e teatro de revista desse tempo é sangue azul da cabeça aos pés. São raros os comediantes que não passaram pela Tupi: Ema e Walter D’Ávila, Chico Anísio, Brandão Filho, Nádia Maria, Octavio França, Vagareza, Matinhos, Orlando Drumond, Moacyr Franco, Germano, Nancy Wanderley, Jorge Loredo, Zezé Macedo, Martim Francisco, Rafael de Carvalho, Consuelo Leandro, Tutuca, Antonio Carlos, Nair Amorim, Ronald Golias, Ankito, Chocolate, Colé, Lílian Fernandes, Wellington Botelho, Isa Rodrigues, Dorinha Duval, Gordurinha, Bruno Netto, Canarinho, Dinorah Marzullo, Manoel Vieira, Castrinho, Armando Nascimento, Nena Nápoli, Mário Tupinambá, José Santa Cruz, Renato Aragão, Dedé Santana e Lúcio Mauro, são os principais nomes de proa do humorismo da televisão carioca. Na retaguarda destes consagrados atores estavam os escritores que bolavam os quadros, e criaram a galeria de tipos populares, seus trejeitos, sotaques e bordões. O mestre do humor, sem dúvida, é Max Nunes, seguido hierarquica mente por Haroldo Barbosa, J.Maia, Chico Anysio, Sérgio Porto, Antônio Maria, Roberto Silveira, Meira Guimarães, Aloísio Silva Araújo, Mário Tupinambá, Manoel da Nóbrega, Arnaud Rodrigues, Jô Soares, Renato Corte Real e A. G. Mello Jr., entre outros. Max Nunes e os 40 Garçons Importado do rádio, onde pontificava na Rádio Tupi e depois na Nacional, Max Nunes trouxe para a TV o seu Uma Pulga na Camisola, repetindo o sucesso radiofônico. O sucesso obtido alavancou seu primeiro grande programa criado para o novo veículo: Ali Babá e os 40 Garçons é o programa que mais está vivo na minha memória infantil. Todo passado numa boate – digo, boîte – era assim francesamente grafada, que ali desfilavam tipos da classe média, comandados pelo ator gaúcho Avalone Filho, uma espécie de mestre de cerimônias da boîte, que narrava e passava a bola para os esquetes. Nádia Maria era a crooner sensual, cantando acompanhada de um trio musical em inglês macarrônico com chicletes na boca e uma enorme piteira, o sucesso americano da cantora Teresa Brewer, Till I Waltz Again With You. Era hilário. Orlando Drummond pontificava nos tipos, um deles era um japonês aprontador e o outro, um índio muito louco. Octávio França, excelente comediante, era sempre o freguês que reclamava: – O, seu garçom, por favor, esse bife está duro, parece uma sola de sapato, eu não vou pagar, não! Wellington Botelho, Matinhos, Martim Francisco, Hamilton Ferreira, Jomery Pozolli, Osmar Frazão, Bruno Netto e João Loredo também atuavam com destaque. Outro quadro marcante era o Seu Encrenquinha que Hamilton Ferreira e Jomery Pozolli levaram do rádio para a TV, criação do genial Max. O figurante Orani Cardoso, um senhor de cabelos brancos que aparece em quase todos os filmes nacionais da época, era presença obrigatória, como cliente, garçom, maître ou porteiro. Eva Todor e Oscarito Eva Todor teve um seriado de humor, As Aventuras de Eva, um formato que também se experimentou na televisão artesanal de então. Escrito e dirigido por seu marido Luiz Iglesias, Eva agradou em cheio com seu tipo amalucado, meio esquecida e desligada, que tinha fixação por seu cachorro, o Sebastião, um vira-lata que carregava pra tudo quanto era lugar. Funcionou superbem, permanecendo dois anos no ar, o que não aconteceu com Oscarito, que tentou emplacar As Trapalhadas de Oscarito, dirigido por João Loredo. O programa foi bem aceito, mas durou apenas uma temporada porque o ator não se adaptou ao ritmo ágil da televisão, e, assim, nunca mais atuou no vídeo. A Praça, de Manoel da Nóbrega Manoel da Nóbrega chegou ao público carioca com a sua maior criação, A Praça da Alegria, sucesso que percorreu outras emissoras, e que foi apresentada no canal 6 sob os cuidados de sua produtora independente, a primeira da televisão, a qual também realizou os programas Não Durma no Ponto, Os Cosmonautas, Ponto Frio Show e Torre de Babel. Com seu filho Carlos Alberto da Nóbrega e a presença constante do comediante Ronald Golias, Manoel da Nóbrega marcou presença no humor da TV. O Grande Antônio Carlos Consagrado criador de tipos Chico Anysio, não os criou só pra si, também escreveu para grandes comediantes, no caso Antônio Carlos, um dos melhores atores e humoristas de todos os tempos. Desde 1948, no rádio, Antônio Carlos viveu personagens marcantes saídos da genialidade de Chico – Seu Simão, o moralista; o Repórter Valmir; o Coronel Bem-Bem; Gengivinha; e o de maior sucesso, o Professorzinho, que era tarado pela escultural aluna Dona Gegé, que só ganhava nota máxima, apesar de completamente burrinha. O quadro saiu do rádio e foi pra TV Tupi, tornado-se grande sucesso. Contracenando com Sônia Lancelotti, a boazuda dona Gegé, Antônio Carlos foi parar no carnaval, cantando marchinha conhecida na época. Dona Gegé, dona Gegé, é de fazer parar um monge, Merece cem, merece mais, merece mais, Mecê vai longe. Ai, Gegé, não me abandona, Nessa lambreta eu quero uma carona! Antônio Carlos, cujo talento foi herdado pela filha, a atriz Glória Pires, seguiu caminho, criando na TV Rio personagens memoráveis, como o cabeleireiro de Noites Cariocas, o malandro do Café Bola Branca e o fã de Amaral Netto em Chico Anysio Show, quando contracenava com seu mestre Chico Anysio Os Musicais Humorísticos Os anos 1960 trouxeram um plus a mais nos programas de humor: foi a era dos musicais humorísticos, febre iniciada na TV Rio e logo desdobrada na Excelsior, no início da Globo e na Tupi. Os atores e comediantes cantavam e dançavam com bailarinos temas musicais, paródias e quadros montados. Nesse segmento apareceram programas que marcaram época, Devagar com a Louça, Pandegolândia, Rua do Ri-Ri-Ri, Gira, o Mundo Gira e A,E,I,O...Urca. Em Pandegolândia, com músicas e direção de Eduardo Sidney, os quadros eram musicados com apuro. Pouco João e muita Maria, Cadê João, cadê João ? Neste quadro, as mulheres demonstravam em plena década de 1960 a sua soberania no mundo masculino, indagando aos quatro ventos onde estavam os homens brasileiros? Bailarinas e quatro atrizes protagonizavam com seus pares a brejeirice musical: Arlete Salles, de americana (com Aguinaldo Batista), era a Mary; Celeste Farr, a italiana (com Antonio Lara), era a Mariela; Margot Morel, a francesa (com Bruno Netto), era Marie; e Esmeralda Barros, a brasileira (com Carlos Koppa), era a Maria. Também brilharam no programa ao lado de comediantes tarimbados Aimée, Theresa Amayo, Maria Pompeu, Neyde Aparecida, Moacyr Deriquém, Henriqueta Brieba, Mário Petraglia, Jomery Pozolli, Pocci Grey e Waldemar Rocha. A Rua do Ri-Ri-Ri, dirigido inicialmente por Maurício Sherman e depois por Carlos Alberto Santos, era uma movimentada rua carioca na qual se cruzavam os tipos mais comuns, como o vendedor de bilhetes, o pipoqueiro, o engraxate, o bicheiro, a madame, o guarda, o malandro, a empregadinha, a criança, o fanático pelo futebol e tantos outros. Começa aqui, acaba ali, A Rua do Ri-Ri-Ri, Venha morar, ou passear Na Rua do Ri-Ri-Ri. Tem gente boa, tem gente à toa, As vezes tem rififi, Pra conhecer, venha aqui ver, A Rua do Ri-Ri-Ri ! Dinorah Marzullo e Manoel Vieira eram Maria Rita e Bina, um casal que toda semana se mudava para um bairro novo, porque eles sempre tinham enormes problemas com os vizinhos, os credores, com a falta d’água, a luz cortada, etc. Os dois excelentes comediantes davam um banho de graça e improviso. O futebol tinha quadro de destaque com representantes dos times cariocas fazendo paródias com os acontecimentos esportivos da semana. Zé Trindade (América), Duarte de Moares (Vasco), Bruno Netto (Fluminense), Germano (Flamengo) e Welllington Botelho (Botafogo) cantavam e ironizavam à vontade, tirando sarro uns dos outros. Armando Nascimento, em quadro mudo, andava de um lado para o outro, seguindo a escultural Esmeralda Barros, que só rebolava e sorria (e precisava mais?) acompanhada por uma cuíca indiscreta. Gira, o Mundo Gira colocava o cast de black-tie e vestido soirée, como nos musicais da Excelsior. Alcino Diniz dirigia elenco de primeira encabeçado por Neyde Aparecida, Thelma Elita, Margot Morel, Dinorah Marzullo, Abel Pêra e Moacyr Deriquém. Neste programa, Dinorah criou outro tipo muito curioso, uma milionária encalhada com uma feiúra que espantava os pretendentes. Desengonçada e maquiada monstruosamente, ela arrancava gargalhadas com a Agripina, cuja voz já era de assustar, e contracenava com seu cunhado Abel Pêra, que fazia o inconsolável pai, e um convidado especial. ...E nesse mundo de alegria Onde tudo faz girar, Girando o céu, lindas estrelas, E o mundo gira no canal 6, Nosso sucesso, agradecemos a vocês! Com esse tema, o elenco descia uma rampa com neon e enorme globo no cenário, cantando e dançando coreografia de Blanche Murr, era delícia pura. Em 1965, renovando o time de humoristas, escassos e valorizados por outras emissoras, as Associadas importaram da TV Ceará e TV Rádio Clube de Recife novos comediantes. Foi uma leva de artistas que vieram para o Sul maravilha e arrebentaram. Renato Aragão, José Santa Cruz, Lúcio Mauro, Arlete Salles, Agnaldo Batista, Luiz Jacinto, Jomba, o escritor A.G.Mello Jr e tantos outros. Todos foram parar no A,E,I,O...Urca, humorístico dominical que marcou época. Renato trouxe da TV Ceará o seu carro-chefe, o quadro dos Legionários, criando dupla com Dedé Santana, e coadjuvado por Roberto Guilherme, Átila Iório, Carlos Kurt e Dino Santana. Esta foi a estreia de Renato Aragão na televisão carioca, quando dava piruetas, fazia acrobacias incríveis, numa elasticidade nível Carequinha, e passou a viver o tipo que o consagraria, o safo Didi. Lúcio Mauro e José Santa Cruz criaram uma dupla muito engraçada, o Zé das Mulheres e Jojoca, um superpaquerador, o outro tímido e bobão. Eles contracenavam com Sandra Menezes e Arlete Salles, provocando inúmeras gafes e situações constrangedoras. O programa era teatro de revista puro, com lindas vedetes enfeitando os quadros – Lia Mara, Margot Morel, Pocci Grey, Lígia Rinelli, Suzy Montel, Teresa Costelo, Carla Miranda, Paulete Silva, Ana Maria Sagres, Manon Kroff e Celeste Farr. A variedade de programas humorísticos que infestou a programação da Tupi é infinita. Acredito que o gênero humor era o que mais rápido cativava o telespectador, sempre aceito e bem-vindo, numa projeção espontânea por parte do público. É saudável rir da gente (e da nossa gente), acompanhado de talentos tão brilhantes, isso contagia. Não é à toa que, na época, bordões, tipos e temas musicais faziam parte dos assuntos cotidianos da sociedade: – Cabecinha de Santo Onooofre!... dizia Rafael de Carvalho, ou... Vamos tirar Camões do ostracismo!, do Jorge Loredo, ou, ainda, ... Crique procê..., impagável tirada de Golias. Eram comentários repetidos nas esquinas, nas praças e nas residências, os quais fizeram parte do inconsciente popular. Todas as Escolas de Humor Tinha mesmo que acontecer no picadeiro da Tupi tão diversas correntes do humor. A Taba foi habitada por artistas vindos de diversas vertentes, que se misturaram, formando verdadeiro caleidoscópio, onde todos tinham seu espaço. Assim, na programação da Tupi carioca transitaram artistas tão diversos quanto Leon Eliachar (Show de Sorrisos), José Vasconcellos (Arca de Noé), Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta Show), Millôr Fernandes (Noite de Gala), Ronald Golias (A Praça da Alegria e Show do Golias), Moacyr Franco (Moacyr Franco Show), Chico Anysio (Chico Anysio Show), Ema D’Ávila (Aí Vem Dona Isaura) e Renato Aragão (A,E,I,O...Urca e Os Trapalhões) somados a todos estes citados anteriormente, e mais alguns que certamente me fogem à memória. Capítulo 8 Programas de Auditório e Festivais Não havia nada mais animado do que um programa de auditório. A fórmula herdada do rádio deu o maior pé na TV em todas as suas fases. Tinha tudo a ver com aquele veículo tão novo quanto surpreendente juntar atrações com entrevistas, sorteios, jogos, concursos, parada de sucessos, perguntas e respostas, calouros, prêmios, muitos prêmios. E não foram poucos os programas que provocaram filas imensas nos arredores da Urca. Vamos pinçar os principais deles, uma amostra em forma de síntese. O Céu é o Limite Era um programa de perguntas e respostas, que agradou em cheio. Dois anos depois de ter estreado na Tupi paulista em 1955, sob o comando de Aurélio de Campos, a Tupi carioca colocou no ar a sua versão, apresentada por J. Silvestre. Marly Bueno coapresentava e anunciava com classe: – ...Prove o batom de Helena Rubinsteeein!... A Varig também patrocinou o programa, e tinha uma lindíssima Ilka Soares vestida de aeromoça, anunciando a pioneira companhia de aviação. Com a presença do auditório, a cada semana o programa empolgava mais com a evolução do candidato, que respondia sobre os mais variados assuntos, sempre vencendo etapas que o levavam ao prêmio máximo. Os participantes estudavam exaustivamente a vida de uma personalidade, uma ciência, um fato histórico, preparando-se para o escrutínio do apresentador. Era a maior emoção quando alguém vencia, e igualmente emocionante quando se perdia, errando uma data, um detalhe aparentemente ínfimo que eliminava o concorrente do programa. Com o bordão absolutamente certo!. criado por Aurélio de Campos (que Silvestre manteve), e virou marca incondicional de O Céu é o Limite, a atração liderougeral, era programa obrigatório daqueles primeiros telespectadores cariocas de então. Boliche Royal Outra atração que levou muita gente ao auditório da Urca foi o Boliche Royal. Apresentado por Lídia Mattos e Murilo Nery com animação e empatia, o programa conquistou a classe média da zona sul, que ia ao auditório para participar, assim como enviava a embalagem da gelatina para ser sorteada. A montanha de embalagens espalhadas pelo palco empolgava o público, quando Lídia mergulhava nela e jogava para o alto a fim de sortear os participantes. Liquidificadores, batedeiras, geladeiras, aparelhos de TV e rádio eram os ambicionados prêmios. O programa tinha uma agilidade, uma dinâmica, principalmente pela enorme simpatia da dupla de apresentadores, que deixou a marca de uma das mais bem-sucedidas realizações daqueles tempos. AP Show Era apresentado nas tardes de sábados por Aérton Perlingeiro. Nele, vários programas embutidos num só faziam uma sequência de variedades que o telespectador habituou a sintonizar por muitos anos: Almoço com as Estrelas, Bar de Melodias, Presença de Aziza e Samba de Primeira formavam o conjunto da programação produzida pela agência de Aérton, a AP Publicidade, que trabalhava com a mulher Aziza, o irmão Perlingeiro Neto e com o filho Jorge Perlingeiro. Na retaguarda da produção trabalharam também Luiza Biá, Neide Costa e Mário Chaves, o Mariza. O Almoço, formato repetido em São Paulo por Airton e Lolita Rodrigues, era uma ideia importada do chileno Lorenzo Madrid, que inicialmente comprou o horário da Tupi paulista para implantar o projeto. Mas era completamente diferente da versão carioca, a começar pela personalidade absolutamente original de Aérton, radialista fluminense nascido em Macaé, que fugia aos padrões de apresentador da época. Não fazia charme, não tinha vozeirão, e possuía um humor oscilante, capaz de dar uma resposta mais dura para quem quer que fosse, dependendo do momento. Aérton impulsionou a carreira de muitos cantores, como Elizeth Cardoso, Tito Madi, Leny Andrade, Pery Ribeiro e Sylvinha Telles. Eles eram presenças habituais no Bar de Melodias, acompanhados por Anselmo Mazzoni, lá foram lançadas profissionalmente Elza Soares e Dolores Duran. O Almoço com as Estrelas era a maior atração, chegou à marca de 2.204 programas no ar. Aérton virou o maior incentivador do teatro, abrindo espaço para a divulgação dos espetáculos da cidade, entrevistando atores e indicando montagens. O velho Almoço era repleto de estrelas do teatro brasileiro, todo mundo ia. Ele criou o troféu Velho Capitão, busto de bronze de Assis Chateaubriand, e entregou a mais de trezentas personalidades do teatro, cinema, televisão, rádio, política e esportes, inclusive para Chateaubriand, três meses antes de falecer, em 1968. O AP Show ficou no ar direto por vinte e três anos, tendo estreado em 1957, e apresentado até o fechamento da emissora, em 1980. Foi o programa mais longevo da programação da Tupi. Outra atração era Presença de Aziza, programa de moda comandado com delicadeza e competência pela mulher de Aérton, Aziza Perlingeiro, que apresentava desfiles dos grandes estilistas da época e butiques conhecidas. O time de modelos era formado pelas jovens Elke (pré-Maravilha), Maria Sônia, Noemi, Geórgia Quental, Eloá Dias, Camile e Maria Rosa. O Samba de Primeira, com outro nome inicialmente, abria espaço para o samba, e revelou o filho Jorge como apresentador. Jorge Perlingeiro mantém até hoje o programa no ar em produção independente, produzido por sua produtora, a JP Publicidade. Ele fez o dever de casa com determinação, aprendeu com o pai os segredos da comunicação, tornando-se um profissional que sabe comunicar com a plateia, e é figura importante no mundo do samba, especialmente no desfile das escolas de samba, onde é diretor social da Liesa, Liga Independente das Escolas de Samba. O Samba de Primeira é apresentado em rede nacional pela CNT, canal aberto. Jorge, que está completando quarenta anos de carreira, criou o troféu Pandeiro de Ouro, que homenageia o pessoal do samba há vinte e quatro anos. Os Melhores da Semana Produzido por Paulo Soledade, o programa conferia troféus aos que se destacavam na semana, no teatro, cinema, rádio e televisão. Os apresentadores Lourdes Mayer e Carlos Frias recebiam os homenageados com muita classe em noite de gala no grill, onde a elegância falava mais alto, todos trajando luxuosos figurinos, o palco com cortinas e com o elevador de fundo em funcionamento. Um clássico no gênero. A Grande Chance Em 1968, Flávio Cavalcanti lançou uma bossa muito pessoal: um programa de calouros bem produzido com a presença de um júri competente, com intenção de lançar novos artistas, entre cantores, locutores e compositores. A Grande Chance deu um banho de loja nos programas de calouros, deu principalmente dignidade ao iniciante, e cumpriu o prometido, revelando profissionais do nível de Alcione, Áurea Martins, Emilio Santiago, Luiz de França, Ivan Mendes, Jorginho Telles e outros. O júri era formado por jornalistas, que agiam principalmente no universo fonográfico, como Sérgio Bittencourt, Mr. Eco, Hugo Duppin e Mariozinho Rocha. Além deles, havia um rodízio com as presenças de dirigentes de gravadoras, produtores musicais e personalidades especialmente convidadas. Festivais O final dos anos 1960 ficou marcado pelos festivais de música, que tomaram conta da programação das emissoras. Foi um período rico de renovação na música popular brasileira. A Record e a Excelsior saíram na frente, seguidas pelas Rio e Globo. A Tupi não ficou de fora, e realizou o Concurso de Músicas para o Carnaval (de 1967 a 1971) e o Festival Universitário de Música (de 1968 a 1971). Dirigidos por Mauricio Sherman, eram dois eventos da maior qualidade musical que somaram prestígio para a Tupi, e entraram para a memória nacional do nosso cancioneiro, afinal, destes dois festivais se eternizaram músicas até hoje conhecidas. Unido aos dois eventos está o paulista Adonis Karan, coordenador de ambos, que antes já havia passado pelo célebre Festival da Record no primeiro ano de realização, em 1966, quando A Banda de Chico Buarque e Disparada, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, venceram empatadas em primeiro lugar, e também pela TV Excelsior, em O Brasil Canta no Rio, vencido por Sérgio Bittencourt com Modinha, cantada por Taiguara. Karan é um craque no assunto, ele virou o diretor de eventos da Tupi no Rio de Janeiro depois dos bem-sucedidos Concurso de Músicas para o Carnaval e Festival Universitário de Música, permanecendo na casa por seis anos. O Festival de Carnaval Quanto riso, oh, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão... são os versos inspirados de Zé Ketti para Máscara Negra de sua autoria e Pereira Santos, que venceram o primeiro Concurso de Músicas para o Carnaval, realizado em 1967 no Maracanãzinho. Na ficha técnica do concurso aparecem Adonis Karan na direção executiva, os produtores Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes do Grupo de Criação, mais Leon Eliachar e Carlos Alberto Loffler, o diretor-geral Mauricio Sherman, o produtor musical Lúcio Alves, o assistente Hélio de Souza e o Grim (Grupo Universitário Musical) na divulgação e relações públicas do evento. A promoção era da Secretaria de Turismo do então Estado da Guanabara com a Tupi, e a curadoria das músicas do Museu da Imagem e do Som. – Foi a década dos festivais, afirma Karan. Eles mobilizavam tanto como a Copa do Mundo. Sucessos que ficaram para sempre, surgiram no Concurso de Carnaval, como Máscara Negra, O Primeiro Clarim, de Rutinaldo e Klecius Caldas, Bloco de Sujo, de Luiz Antonio e Luiz Reis, Levante a Cabeça, de Oswaldo Nunes, A Cabeleira do Zezé, de João Roberto Kelly e Bandeira Branca, de Max Nunes e Laércio Alves, entre tantas outras. O Canto dos Universitários Foi uma grande sacada levar o som universitário para o efervescente universo dos festivais. Os poder jovem estava na ordem do dia em contestação e participação social no mundo inteiro. Havia um nó na garganta, que através da música se fez presente quando os universitários soltaram seu canto. A censura rebolou com esses caras. Na Tupi dessa época, ventos progressistas ventilavam pela Urca, sob o comando do Grupo de Criação, encabeçado por Vianinha e Paulo Pontes, dois brilhantes representantes da geração 1968 . Na direção estava José Arrabal, que pilotava a casa com pulso forte, em tempos de prestígio e audiência. Quando Arrabal foi procurado pelas meninas do Grupo Interuniversitário Musical, o Grim, encaminhou-as ao Adonis Karan, que tinha acabado de realizar com sucesso o Concurso de Carnaval: – Elas faziam parte do Movimento Artístico Universitário (MAU), uma rapaziada da Tijuca formada por Gonzaguinha, Ivan Lins, Aldir Blanc, César Costa Filho e Paulinho Tapajós, todos ilustres desconhecidos até então. Fechamos com a ideia de realizar o Festival Universitário da Canção Popular, o Grim fazia a ponte com os universitários e a Tupi entrava com a realização geral. Eu, Vianinha, Paulo Pontes e Lúcio Alves montamos a estrutura geral e fomos à luta. Enquanto a Record e a Globo investiam nos compositores da moda, a gente vinha com uma rapaziada completamente desconhecida. E aconteceu que nosso festival fez muito sucesso, e acabou revelando uma geração de compositores que está aí até hoje. Foram momentos inesquecíveis para quem viveu essa época. O primeiro Festival Universitário foi realizado no Teatro República, apresentado por Blota Júnior e Maria da Glória, com um júri da mais alta pesada, saquem só: Sérgio Cabral, Fernando Lobo, Nestor de Holanda, Sidney Miller, Paulinho Soledade, Jofa Efegê, Paulo Roberto, Moisés Fuks, Dori Caymmi e Marcos Vasconcellos. A música vencedora foi Helena, Helena, Helena, de Alberto Land, interpretada com brilho por Taiguara. O segundo lugar ficou com Irinéa Ribeiro e Neville Jordan Larica, autores de Vida Breve, cantada por uma Claudette Soares possessa. Ivan Lins ficou com o quatro lugar: Até o Amanhecer, parceria com Valdemar Correia, defendida por Ciro Monteiro. No segundo ano, Gonzaguinha venceu com O Trem, canção emblemática para tempos de repressão. No terceiro foi a vez de Ruy Maurity, em parceria com Jorge Miquinioty, arrebatar com Dia Cinco. E na quarta edição do festival, Belchior levou a melhor, junto com Jorginho Telles e Jorge Néri, com Na Hora do Almoço. Karan relembra alguns momentos dos bastidores: – Eu me lembro quando o Ivan Lins foi chamado por nós para conversar sobre uma de suas músicas que foi selecionada. Nós sempre perguntávamos quem o compositor gostaria que fosse o intérprete. Quando nos falou que ele queria cantar a sua música, o Lúcio Alves perguntou: Ah, você canta? Então mostra aí... O Ivan cantou e não parava de mexer com os braços, era uma coisa impressionante. Foi quando o Lúcio disse pra ele sentar no piano e cantar. Ficou ótimo, e assim surgiu o Ivan Lins que nunca mais deixou de cantar tocando piano. O César Costa Filho foi selecionado com duas músicas: Mirante e De Esquina em Esquina, um samba lento muito bonito. Eu sugeri a ele que Clara Nunes cantasse, e ele: Que é isso, uma cantora de bolero? Aí eu disse que me responsabilizaria, a Clara ia dar conta do recado. E não deu outra, ela cantou lindamente e tirou o quarto lugar. O Amigo é pra essas coisas, eu tinha convidado o Ciro Monteiro e o Paulinho da Viola, mas por uma questão de agenda não pudemos juntar os dois. O Lúcio escalou então o MPB4, que arrebentou. O Augusto Marzagão, criador do Festival Internacional da Canção, me disse que em termos de qualidade musical o nosso Festival Universitário foi dos melhores que aconteceram. Capítulo 9 Slide de Emergência Televisão ao vivo é sinônimo de tropeço, todo mundo sabe. As saias justas que os pioneiros vestiram foram muitas, era quando acontecia algo inesperado, e o flagrante era cruel, porque era denunciado ali, ao vivo e em preto e branco. Algumas vezes era possível se safar, e o improviso salvava, mas, na maioria dos casos, o Curumim estava a postos, e o slide de emergência entrava, e ficava chapado até que tudo de novo estivesse em ordem. Muitos causos entraram para o farto repertório de piadas do tempo da TV ao vivo. EU Sou a Mosca Que Pousou... João Loredo conta em seu livro Era uma vez... a televisão alguns destes momentos que fazem a história do anedotário da televisão, como o ocorrido na encenação da Vida de Cristo, dirigida por Chianca de Garcia durante a Semana Santa. – ... Cristo pregado na cruz, Madalena e Maria chorando a seus pés, sonoplastia perfeita, elenco ligado e contrito, tudo perfeito... De repente, Dalvo Ferreira, diretor de TV do programa, grita na cabine de controle: Ih, olha lá! Uma mosca estava prestes a entrar no nariz do figurante que interpretava Jesus Cristo, que já estava no limite da tolerância. E Dalvo Ferreira, que poderia cortar para outra câmera, manteve, petrificado, a câmera em close no rapaz. A mosca prosseguiu seu caminho, entrou no nariz do ator, o qual, não resistindo, tirou a mão da cruz, afastando a mosca com um grande tapa. Gargalhadas no estúdio, ira de Chianca, e entrou o slide emergência. UM Monte de Mulheres... O ator e historiador Osmar Frazão viveu uma situação hilária no Falcão Negro (onde fazia um pirata) causada por uma saída impossível de salvar o esquecimento do saudoso e intenso ator Mauricio do Valle: – Certa vez o Mauricio do Valle fez entrar o slide emergência após esquecer o texto, e inventar algo completamente fora do assunto. Deveria ele dizer dentro de um navio: Falcão Negro, os piratas estão chegando, trazendo muitos reféns, o que faremos? Mas com o esquecimento da frase, improvisou: Falcão Negro, os índios estão à cavalo trazendo um monte de mulheres com eles, o que faremos? Ficou impossível dar continuidade, risada geral de todos os piratas, e eu era um deles. O assistente de estúdio, José Gonçalves, não se contendo, deu uma gargalhada, incluindo o herói Falcão Negro. Foi interrompida a encenação. As Dálias de Fregolente No meio artístico, o termo dália quer dizer a cola que o ator usa para ler na hora um texto que não conseguiu decorar. A origem do termo vem do ator Fregolente, que era o rei de colocar pedaços de suas falas em todos os cantos do cenário, como conta João Loredo: – Quando acabou o ensaio, Fregolente voltou ao cenário e começou a colar os seus papéis nas portas, janelas, cortinas e colunas que atravancavam o estúdio e... nas dálias que estavam sobre a mesa, nestas ele pregava os papéis com alfinetes. Mario Provenzano, que assumira a direção artística da emissora, chamou Pernambuco de Oliveira, e disse que o cenário estava muito florido. Pernambuco não teve dúvida, retirou as dálias de cena, e substituiu-as por outros adereços. À noite, programa no ar, primeira entrada de Fregolente em cena: Boa noite, amigos! E foi direto à mesa para continuar o texto, lendo os papeizinhos. Desesperado, ele olha para a mesa e nenhum vaso. Aquelas falas ele não tinha decorado, dependia da leitura dos papéis, o que ele fazia com grande naturalidade. E agora? Ele não sabia nada, e foi em pânico que exclamou: Cadê as minhas dálias? Gargalhadas de todo o elenco em cena, ao vivo. Padrão da emissora no ar. O Dedo Mauricio Sherman, na fase de ator, contracenava com Alberto Perez, e encarou uma tremenda saia justa: seu personagem morreu com um tiro de... dedo. Conta Sherman: – Tudo era precário, a gente fazia de conta... Tinha cena na cozinha, a gente abria a torneira para lavar a mão, e a água não saía. O jeito era fingir que estava lavando, e depois enxugava na toalha. As maçanetas saíam na nossa mão, a gente colocava no bolso e ia em frente. Uma vez eu fazia uma cena com Alberto Perez, ele era um detetive, que me encurralava pra me matar. Na hora, ele meteu a mão dentro do casaco para pegar o revólver, e parou. Uma pausa enorme, eu vi logo que ele tinha esquecido a arma. Aí ele tirou a mão, apontou o indicador para mim e falou: Pá! Eu morri, claro. Geladeira Concorrente O apresentador Murilo Nery estava sorteando dez geladeiras Frigidaire no Boliche Royal. O auditório estava no maior clima de animação e expectativa. Com o sorrisão escancarado, fazendo bonito para o anunciante, ele anunciou com seu vozeirão: Vamos agora sortear dez geladeiras GE! A agência Mc Cann Ericsson, que detinha a conta da Frigidaire, estava em peso no suíte, puxou os cabelos, ele promoveu a concorrente. O jeito foi entrar o salvador Curumim para acalmar os ânimos... Diplomação de Deputados A gargalhada inesperada era o único recurso de impulso daqueles que passavam por situações difíceis na TV ao vivo. Outra do Loredo: – Um episódio muito engraçado aconteceu com o ator Armando Nascimento. Numa das apresentações no Teatro Gebara, ele se dirigia a um chefe político, interpretado pelo ator Francisco Dantas, para informar como havia sido a diplomação dos novos deputados. Entra em cena, em close, e diz ao chefe com toda a convicção: Excelência, a deputaria foi excelente! Gargalhadas gerais no estúdio e comerciais no ar. Capítulo 10 Eventos: Miss Brasil e Carnaval Não podia faltar novidades a uma programação que se propunha dinâmica e diversificada, por isso os eventos davam colorido especial ao universo da televisão que ainda não estava presa a uma grade programação estabelecida. Um destes eventos foi o Concurso de Miss Brasil, promovido pelos Diários e Emissoras Associadas, com sua fase máxima nos anos 1950 e 1960. Estávamos no início da década de 1950, a mulher era admirada por sua beleza física, a própria mulher objeto, seus dotes físicos e suas medidas absolutamente certas dentro de um padrão de beleza falavam mais alto. O concurso de miss foi uma vitrine superadequada ao comportamento de uma época, e tinha tanta força popular quanto a Copa do Mundo, o carnaval ou outras celebrações religiosas. O peso era o mesmo. Em 1952, começou o Miss Universo, dois anos depois aconteceu o primeiro ano de Miss Brasil no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, quando foi despertado o interesse das Associadas, que entraram na promoção a partir de 1955. A baiana Martha Rocha, eleita miss Brasil em 1954, ficou com o segundo lugar no Miss Universo, tornando-se a miss mais emblemática de todos os tempos, não só por sua beleza, mas pelas tais duas polegadas a mais nos quadris que a fizeram perder o primeiro lugar para a miss americana. Os estados brasileiros apresentam Nesta festa de alegria e esplendor, Jovens misses seus estados representam, Seus costumes, seus encantos, seu valor... Estes versos de Lourival Faissal foram feitos para a Canção das Misses, cantada pela cantora Ellen de Lima, e emolduravam o clima ingênuo e ufanista do evento, que a TV Tupi produzia e transmitia com exclusividade todos os anos. Inicialmente apresentado por Hilton Gomes, o concurso ganhou a seguir o comando dos apresentadores Marly Bueno e Paulo Max, com patrocínio de Helena Rubinstein e Maiôs Catalina. Por trás dos bastidores, uma numerosa equipe dava conta de organizar tudo, e não era pouco, pois antes de se chegar ao Miss Brasil rolavam as fases preliminares de escolha das candidatas regionais em todos os municípios e Estados brasileiros. Entre os profissionais envolvidos, estava o jovem Ricardo Kathar, que trabalhou na organização de diversas formas, inclusive como coordenador do evento, sempre ao lado do irmão mais velho, o diretor Sérgio Kathar. – Era um concurso nacional, lembra Ricardo, que tinha filiação com o Miss Universo e Miss Mundo. O chefe desta organização era um dos comunheiros do condomínio associado, Edílson Cid Varela, diretor da área de Brasília do Correio Brasiliense, TV Brasília e rádio. O concurso tinha uma força muito grande, nós lotávamos o Maracanãzinho todas as vezes. Nós procurávamos fazer, além de um bom programa de televisão, um evento limpo com credibilidade e isenção. Cuidávamos de tudo, desde o contato com as famílias das misses até planejamento de viagens, escolha de júri e montagem de palco. Eu e meu irmão Sérgio éramos funcionários da Tupi, tínhamos muito trabalho, mas o concurso atravessava o ano todo paralelamente. Depois de um tempo, eu e o Paulo Max entramos na produção e, autorizados pelas Associadas, montamos uma produtora que dava suporte ao concurso. Em 1963, a gaúcha Ieda Maria Vargas venceu o Miss Universo. A baiana Martha Vasconcellos repetiu a dose em 1968, no mesmo ano em que Maria da Glória Carvalho tornou-se Miss Beleza Internacional. Em 1971, Lucia Tavares Petterle, segunda colocada no Miss Brasil, foi eleita misse mundo. A safra de mulher bonita saída do Miss Brasil é extensa. Pode-se destacar algumas outras rainhas da beleza sem medo de errar: Adalgisa Colombo, Teresinha Morango, Maria Raquel de Carvalho e Vera Fisher. Em 1966, a escolhida foi a carioca Ana Cristina Ridzi, irmã gêmea de Maria Elizabeth Ridzi, que participou também. No ano seguinte, depois de ter passado o cetro e a coroa, Cristina casou-se com o diretor Sérgio Kathar, irmão de Ricardo. Mas o apogeu do concurso durou até o início dos anos 1970, quando o mundo em completa transformação perdeu o interesse pelo concurso. A mulher também estava ficando independente, e esse papo de misse não dizia mais nada a ela. A partir de 1973, transferido para Brasília, o Miss Brasil foi se esvaziando de tal maneira que virou cafonice ao gosto do público. Com o fechamento da Tupi em 1980, o Concurso de Miss Brasil passou às mãos de Silvio Santos, e hoje é realizado pela TV Bandeirantes. Sobre o atestado de virgindade que era especulado em torno das candidatas, Ricardo Kathar bate o martelo enfático: – Não existia isso, nós tínhamos o cuidado de dar uma supervisão às moças, não tinha razão controlar namoros ou a vida pessoal delas, éramos rígidos sim, na produção, nos ensaios e nas viagens. Para o tratamento direto com elas e a família, quem gerenciava essa parte era a Edite Cremona e a Teresinha Monte. A Maria Augusta da Socila ensinava postura. Nós cercávamos tudo com a maior seriedade possível, não era fácil tomar conta de trinta moças. Tinha maquiagem, troca de roupas, hospedagem e uma agenda de compromissos enorme: visitas ao Presidente da República, ao prefeito e ao governador, assim como inaugurações e estreias importantes. Não havia assédio de lado nenhum, tudo era cercado de maneira que evitávamos qualquer coisa que ficasse fora de propósito. Quanto ao declínio do concurso, acredito que houve uma mudança de conceitos na sociedade, só. Transmissão de Carnaval Outro evento que anualmente mexia com a cidade era a transmissão do carnaval feita pela televisão. Ao se reportar a esse tempo, vale registrar que não só a folia momesca era outra, como também era outro o panorama das emissoras de TV da época, inicialmente só a Tupi transmitia, mas depois as TVs Rio, Continental, Excelsior e Globo passaram também a transmitir e a disputar a audiência do telespectador. O carnaval não se resumia somente aos desfiles das escolas de samba, haviam os grandes bailes de hotéis e clubes, como o do Copacabana Palace, Quitandinha, Monte Líbano, Fluminense, e o mais famoso de todos, o baile do Teatro Municipal. Os desfiles de fantasias chamavam atenção nas categorias de luxo e originalidade. Evandro de Castro Lima, Clóvis Bornay, Wilza Carla, Zélia Hoffman, Jésus Henrique, Margarette Marie Vantre, Ana Maria Sagres, entre outros, estavam sempre à frente das premiações, alguns campeoníssimos absolutos atingiam o patamar de hors concours. Ricardo Kathar, que entrara na Tupi em 1962 com a disposição plena do aprendizado, fez de tudo: segurou cabo de câmera, foi assistente, diretor de imagem, coordenador e diretor, desenvolvendo nas transmissões de carnaval um trabalho dedicado, que lhe deu destaque e prestígio. Era uma operação de guerra, em tempos de pouca tecnologia e modestos equipamentos. Mas o resultado era sempre um grande acontecimento, devido principalmente aos profissionais envolvidos por trás e na frente das câmeras. Os apresentadores, atores e repórteres da casa comandavam a cobertura com alegria e empatia, como Lourdes Mayer, Murilo Nery, Corrêa de Araújo, Hilton Gomes, Hilton Abi-Rian, Zélia Hoffman, Tânia Scher e Íris Letieri, entre muitos outros. Mas uma cantora se destacou na função, Dircinha Baptista, revelando-se uma repórter absolutamente espontânea e divertida. Suas intervenções em tom over action eram uma atração à parte, ela chegava a brigar no ar com colegas de outras emissoras para dar o furo de reportagem, que sempre era seu. O repórter José Luiz Furtado da equipe de Carlos Pallut, da TV Continental, rebolava na sua mão quando tentava passar sua frente. Enfática, Dircinha narrava para o público de casa as condições desconfortáveis que se submetia levar a melhor informação: vejam, senhoras e senhores, estamos aqui na entrada da sala do júri, o Ricardinho Kathar está com a câmera no ombro para levar o melhor até vocês! Em tempo, ainda não existiam câmeras portáteis, eram aqueles caixotes pesados que dois ou três assistentes ajudavam a equilibrar no ombro do jovem Kathar. – A Dircinha era muito querida, prossegue Ricardo, então ela conseguia entrar na sala do júri, e furava o esperado resultado final do Concurso de Fantasias em primeira mão. Nós éramos românticos, ingênuos, não acredito que o público de casa ficasse virando o seletor para ver quem ia informar primeiro a vitória do Clóvis Bornay ou do Evandro de Castro Lima. Mas a Tupi se firmou nas transmissões, elas tinham um apelo comercial muito forte, todas as nossas coberturas eram patrocinadas. Os equipamentos eram modestos, mas recebíamos reforço das outras emissoras afiliadas, principalmente de São Paulo que era bem equipada, e nos mandava o caminhão de externa, mais câmeras e também técnicos. Kathar permaneceu na emissora até seu fechamento em 1980. Depois trabalhou com o Prof. Gilson Amado na TV Educativa, mas sua motivação foi diminuindo, até que, formando-se em Direito, tornou-se advogado e hoje é Procurador da União. Hoje, apenas como mero telespectador, ainda vê na televisão atual resquícios da Tupi: – Tecnologicamente a televisão evoluiu muito, óbvio. Mas sua essência, acredito ser a mesma. A Tupi foi a escola da televisão, nós éramos amadores de uma certa maneira, estávamos plantando, iniciando todo um processo. Mudou a época, mudou a dinâmica, mas ainda encontramos na TV de hoje um Mauricio Sherman fazendo o mesmo padrão de programa que ele fez na Tupi. O Carlos Alberto de Nóbrega também no mesmo tipo de programa que seu pai Manoel de Nóbrega implantou tantas décadas atrás. Você ainda encontra o Zé Bonitinho, eu pergunto, o que mudou? Não mudou nada. Uma vez eu perguntei ao Carequinha: eu estou aqui na ânsia de aprender, me diz uma coisa. Todo dia você entra na televisão, dá as mesmas cambalhotas, faz as mesmas brincadeiras, diz as mesmas piadas e o seu público continua aí firme. Como é que é isso? Ele me respondeu o seguinte: É muito fácil, é o meu público que se renova. O garotinho daquela faixa etária cresceu, e vem outro garotinho no lugar, que o substitui. O público como um todo vai se renovando. Acho que é por aí. Capítulo 11 6 Divas do 6 Atrizes, apresentadoras, produtoras ou garotas-propaganda, elas marcaram a história da televisão brasileira, cada uma com sua personalidade, empatia e característica tão próprias que são peças originais em matéria de talento e vocação. Entre aquelas que já se foram desta dimensão, nomes como Heloísa Helena, Wilma Rocha, Ilza Silveira, Ida Gomes, Lourdes Mayer, Nádia Maria, Zilka Salaberry e Dircinha Baptista merecem ser evocadas. Elas estão no panteão da glória pioneira, pois deixaram seus nomes eternizados e permanecem na memória histórica da televisão brasileira. Elas estão representadas e niveladas ao lado de colegas que brilham até hoje, umas na ativa, outras não, e que fazem parte do status de estrelas absolutas da Tupi. Pinçamos as seis mais divas do seis: Fernanda Montenegro, a Número Um A primeira atriz contratada pela TV Tupi carioca foi a não menos primeiríssima Fernanda Montenegro, precisamente em 1951, quando da inauguração da emissora. Oriunda do rádio, onde começou na Rádio Ministério da Educação e Rádio Guanabara, Fernanda pisou no estúdio da Venezuela fazendo esquetes, a convite de Jacy Campos e Olavo de Barros. Saiu-se tão bem que um contrato lhe foi oferecido, e aceito, o primeiro que assinou como atriz na sua longa carreira de sessenta anos. Com memória prodigiosa e entusiasmo na narrativa, ela lembra com detalhes tudo que se passou nesse tempo: – Entrei para a Rádio Ministério da Educação em 1945 num projeto muito ligado ao espírito do Roquette Pinto, um projeto de formação de radialistas, onde tínhamos aulas de Português, declamação e logopedia. A rádio tinha uma biblioteca muito boa, e nós éramos orientados em leituras e estudos. Nessa época, o diretor artístico era o René Calvet e o diretor-geral, o Fernando Pires de Souza, uma pessoa muito próxima do Roquette Pinto. Tinha o Fernando Sigismundo e o Alfredo Souto de Almeida também. Trabalhei lá dez anos, e no terceiro ano tive um programa literário de adaptações de romances e contos com grupo de radio-atores da casa. Quando chegou em 1950 fizemos um espetáculo no Teatro Copacabana, que apesar de não ter ido muito bem, eu recebi boas críticas. Comigo estavam Nicette Bruno, Margarida Rey, Jorge Cherques, Magalhães Graça, Beatriz Segall e o Fernando (Torres), que estava ainda na Faculdade de Medicina. A televisão estava começando com o Jacy Campos, vindo do Teatro do Estudante do Paschoal Carlos Magno e o Olavo de Barros, um ator brasileiro do tempo do Leopoldo Fróes, que era excelente diretor de rádio-teatro da Rádio Tupi. Eles me convidaram e, depois dos esquetes, fui contratada. Fazíamos tudo numa sala pequena, quando um navio chegava no porto, apitava, e o som vazava, aqueles panelões e as câmeras enormes com um ajudante auxiliando na operação. E não tinha muitos aparelhos ainda, então fazíamos uma programação para ninguém, mas eram poucas horas, só à noite. Foram convi- dando pessoas, e ali se amalgamou o Teatro do Estudante do Paschoal, o teatro de revista da Praça Tiradentes, gente do Teatro Universitário da Jerusa Camões e do teatro de comédia da Cinelândia, e eventuais do rádio, como eu. Este caldeirão de influências e vertentes foi um prato cheio para o talento da jovem Fernanda, com 22 anos, que mergulhava de cabeça no ofício que a consagraria a seguir. Além de História do Teatro Universal com Chianca de Garcia e Retrospectiva do Teatro Nacional, com Jacy Campos, participou de esquetes e apresentações de eventos musicais. – Eu tenho essa vivência do arcaico, relembra Fernanda, foi muito interessante. Eu trabalhei com comediantes populares como Grande Otelo, Colé e Chocolate. No Teatro Universal comecei em Antígona, fiz A Dama das Camélias, A Mandrágora e Plauto, entre outras. No teatro moderno, com Jacy Campos, fizemos desde os autos de José de Anchieta até Silveira Sampaio e Nelson Rodrigues. Apresentei os recitais de Maurice Chevalier e Josephinne Baker. O elenco dito sério era formado por Paulo Porto, galã saído do Teatro do Estudante, Fregolente, vindo do Paschoal também, a Heloísa Helena, que era a primeira figura da Companhia do Jayme Costa, tinha a Ida Gomes, o Mauricio Sherman também era dessa época, tanta gente. Eu e o Sherman nos olhamos de longe com distância, mas com um sentido de passado bem forte. Depois de três anos, Fernanda saiu da Tupi para se dedicar ao teatro, quando foi convidada por Heloísa Helena e seu marido Paulo Magalhães para integrar os elencos de Loucuras do Imperador e Está lá Fora um Inspetor, estrelada pelo grande ator português João Villaré. – Eu saí da Tupi, ela já atrasava o salário. Aí me deparei com o teatro na minha frente, foi quando o encarei como carreira mesmo. Em seguida, Morineau me convidou para integrar os Artistas Unidos, que era a maior companhia de teatro no Rio, me casei e nunca mais saí do palco. A convite do Gianni Ratto fui para a Companhia de Maria Della Costa, em São Paulo, quando eu e Fernando nos aproximamos de Sérgio Britto, fizemos uns teleteatros com o Antunes Filho, e fomos para o TBC. Mas o melhor ainda estaria por vir: Em 1956 o Grande Teatro Tupi trouxe de novo Fernanda para a emissora por quase dez anos, desta vez já na Urca, onde, dentre quatrocentas e cinquenta peças apresentadas, ela esteve presente em quase quatrocentas, calcula: – Eu sou muito grata à televisão, a minha história de artista seria outra se não fosse a televisão, essa televisão pioneira. Ela deu espaço para nossa geração toda, cada um a seu modo, os que estão vivos aí... A TV na minha vida tem o mesmo vigor, a mesma presença e o mesmo envolvimento que eu tenho pelo teatro, porque eu sempre fiz teatro na televisão, e ela sempre me ajudou a fazer teatro. Eu posso dizer a você que eu tenho sessenta anos de televisão e mais sessenta anos de teatro, portanto são cento e vinte anos espalhados, fora o cinema, a publicidade e o rádio. Trabalhando ininterruptamente na telinha desde então, Fernanda, sempre antenada e se renovando com frescor de iniciante, está no ar atualmente na novela Passione da TV Globo. Sua vitalidade não tem limites: viaja, grava, estuda e está sempre pronta para dar o melhor de si, com a mesma disciplina e interesse dos tempos da televisão artesanal. Traz também ao longo da experiência adquirida a noção perfeita do parâmetro com a TV industrial: – Hoje, eu gostaria de dizer também que a televisão se industrializou de tal ordem que é uma indústria pesada. A novela que faço atualmente é uma loucura de investimento. Quem tem de sustentar isso dentro do projeto empresarial é o patrocinador. Entre uma publicidade e outra, tem alguma coisa que segura o espectador. Hoje não tem espaço para o teleteatro por que ele era muito caro. Na sofisticação que chegou a imagem e na quantidade de profissionais reunidos para essa tarefa, são dezenas de pessoas que se unem para prender o telespectador até o próximo capítulo, acho que a novela supre uma dramaturgia que é necessária. As minisséries se aproximam mais do teleteatro, elas já são feitas dentro de um processo que garante a entrada do patrocinador em formato adequado. Acho que depois que terminou o Grande Teatro, começou uma outra televisão, ele produziu uma dramaturgia qualificada com apuro interpretativo, que não se resolvia com muita tecnologia, mas na qualidade de fazer. Foi o artesanato que trouxe isso para a televisão. E essa grande viagem foram anos de aprendizado empírico, autodidata, eu ligada a meus irmãos de vida, Sérgio, Ítalo, companheiros de trabalho e respeito humano como eu tenho com a Natália, o convívio amoroso com a Zilka e com a imensa quantidade de colegas como Guarnieri, Francisco Cuoco, Carminha Brandão, Isabel Teresa, Teresa Rachel, Glauce Rocha, Bógus, Norma Blum, Cláudio Cavalcanti, Cláudio Correia e Castro, Jacqueline Laurence, Labanca, e tantos outros. O Ítalo diz uma coisa que eu gosto muito: éramos felizes e... sabíamos! Lídia Mattos, a Rainha da Simpatia A naturalidade de Lídia Mattos na frente das câmeras replicava em quem estava em casa uma sensação de intimidade natural de alguma parente superquerida, ou amiga de longa data. Ela foi o arquétipo da mulher feliz dos anos 1950, a mãe, a esposa, a mulher realizada que estampava essa verdade. Casada com o radialista e escritor Urbano Lóes por quase 40 anos, mãe de quatro filhos, ela se dividia entre a televisão e a família publicamente, jornada dupla ao vivo e em preto e branco. O programa Eles Estão em Casa, do qual toda a família participava, não tinha texto, apenas um roteiro, tudo era improvisado. Mas sua primeira incursão na televisão data de 1954, ainda na Venezuela, no programa Teletestes Lutz Ferrando, dirigido pelo publicitário Sangirardi Jr., da Standard Propaganda. Programa de perguntas e respostas, eram dados 30 segundos para o telespectador pensar e responder. A resposta certa era confirmada pelo Prof. Telebatata, vivido pelo múltiplo João Loredo. Hoje, octogenária, sorridente e plena, ela vive no agradável Solar da Gávea, no Rio de Janeiro, sempre cercada pelos filhos, netos e bisnetos, seu grande orgulho, e estampa aquele sorrisão marca registrada com o mesmo olhar luminoso quando conversa. Adora lembrar seus momentos na carreira e seu casamento feliz com Urbano. Lembra do Al Neto, com o cachimbo, meio prosa? Ele fazia o Encontro com os Amigos. Eu apresentava com ele e fazia o comercial. Um dia ele estava entrevistando o Nelson Rockefeller, eu cheguei e coloquei uma batedeira na mão dele: essa é uma batedeira Arno! Dizem que o João Calmon não gostou, poderia ter criado um caso diplomático, eu não sei. O poder comunicativo de Lídia desdobrou-se do seu lado atriz, quando anteriormente atuou no rádio e no cinema, filmando duas vezes com Humberto Mauro, em Argila (1940) e O Despertar da Redentora (1942), vivendo a Princesa Isabel. Raul Roulien, Moacyr Fenelon, Carlo Hugo Christensen e Eurides Ramos foram diretores com quem atuou também. Mesmo afastada da carreira, rodou o filme de estreia da diretora Florinda Bolkan, em 2001, Eu não Conhecia Tururu , e ganhou o Kikito de melhor atriz coadjuvante do Festival de Gramado daquele ano. Mas a televisão a roubaria definitivamente do cinema, ela estava sempre no ar, muito bem aproveitada nos programas de auditório e de entrevistas. Seguiram-se no vídeo, Tele-semana Garson, um programa de variedades dirigido por Alcino Diniz, É Proibido Falar, programa de mímica, e o famoso Boliche Royal, que apresentou com Murilo Nery. Eu conheci o Urbano na Rádio Mayrink Veiga, ele era o meu galã e um dia... acabamos nos casando. Tivemos quatro filhos, eles são formidáveis: Dilma, Tânia, Urbano Jr. e Luiz Carlos. Dilma (Loes) foi atriz muito tempo, agora é decoradora, a Tânia é médica sanitarista, Urbano é economista e Luiz Carlos é escritor. Estou sempre com eles, com meus netos, que já estão me dando bisnetos, já tenho três, vê que maravilha! A Vanessa (Lóes) que é casada com o Thiago Lacerda, são pais de Gael, e agora acabam de me dar uma bisnetinha, a Cora. A outra bisneta é a Maria Eduarda, a Duda. Mas a xodó de Lídia no momento é a bisneta Cora, que acaba de nascer, filha da neta Vanessa Lóes e do ator Thiago Lacerda. Ela está orgulhosa em reunir quatro gerações do matriarcado Lóes-Mattos: Lídia, Dilma, Vanessa e Cora, como na foto exclusiva que o papai Thiago clicou para o nosso livro. As recordações se misturam, e Lídia fala da família, ao mesmo tempo em que se lembra do programa que comandava com o marido e os filhos. Na verdade, sua trajetória de vida está entrelaçada dessa maneira. Urbano, que faleceu em 1980, é lembrança permanente em todos os assuntos, é quando seus olhos brilham e o sorriso aumenta. – Nosso programa era semanal, aos sábados. Eu, Urbano e os Quatro. Era tudo natural, as pessoas pensavam que a gente estava em casa mesmo. Uma falava: mamãe, quero ir ao banheiro. Eu falava, vai, é ali. O ambiente na Urca era maravilhoso, eu não ficava com todo mundo, tinha família, acabava o programa e íamos para casa. Assim mesmo, você sabe, as mulheres eram tachadas de prostitutas, a gente não tinha uma profissão respeitada. Mas comigo era diferente, eu era casada, estava sempre com meus filhos e com meu marido. O Ary Barroso sabia que eu era casada, e me assediava. Um dia, na porta da Tupi, na Urca, eu falei tudo que eu queria para ele. Para mim ele morreu. Grande amigo da família, João Loredo foi um dos diretores que mais trabalhou com o casal. Em seu livro Era uma vez...a televisão, Loredo dedica capítulo especial à Lídia Mattos, de onde pinçamos: Lídia foi a primeira atriz a ser agraciada com o título A Mãe do Ano, e foi escolhida também para representar o Brasil no Internacional Comittee of Women in the World, em Nova York. De 1954 a 1960 ganhou todos os prêmios instituídos: Melhor Animadora de TV, Melhor Apresentadora e Maior Figura da TV. Posteriormente se transferiu para a TV Rio, onde ao lado do marido Urbano Lóes, apresentava o programa 5 Para às 5, escrito por Pedro Anísio, um dos grandes novelistas da época áurea da Rádio Nacional, e dirigido por mim. Neyde Aparecida no País das Maravilhas Tal qual o Curumim símbolo da Tupi, Neyde Aparecida é signo tão forte quanto presente dessa maneira em nossa memória emotiva, quando nos remetemos a esse passado histórico. Fiel à emissora desde 1954 até seu término em 1980, Neyde vestiu a camisa da emissora com extrema fidelidade, e nunca aceitou convites tentadores para trocar de canal. Tida como exemplar profissional, enaltecida pelos colegas e muito querida pelo público, Neyde Aparecida construiu sua carreira na Tupi, atuando com brilho especial como garota-propaganda, a maior de todas, atriz de novelas, teleteatros e musicais, e como apresentadora de programas infantis, onde foi cultuada como ídolo da garotada de então. Com as devidas proporções de tempo e espaço, ela teve peso de popularidade tão grande junto ao público infantil como o de Xuxa Meneghel em tempos atuais. Um fenônemo. Esse fenômeno, inteiraço fisicamente nos dias de hoje, continua transmitindo a leveza e a beleza desses tempos. Mas o que é mais vivo na sua maneira de se expressar hoje é o mesmo jeitinho dócil que tinha quando se dirigia às crianças, ou quando vendia com igual doçura seus produtos, fosse ele um liquidificador Arno, uma boneca Estrela ou um sofá-cama Drago. Falando sorrindo,seu melhor truque na frente das câmeras, ela criou estilo na tarefa de vender produtos, tornando-se a mais conhecida garota-propaganda de todos os tempos. No momento que conversamos para este livro, que ela relutou a princípio, Neyde está vivendo momento delicado, ela perdeu sua adorada mãe recentemente, Cleonice Aparecida, a maior incentivadora e companheira de toda a vida, e por isso deixa transparecer uma fragilidade, uma tristeza infinita, como uma ferida aberta que está sendo difícil de cicatrizar. Mas ao falar do universo da televisão, seus olhos brilham de novo, e ela parece viver aquilo tudo outra vez, parece mesmo que se transforma naquela princesinha dos tempos do Trol e de Neyde no País das Maravilhas, que um dia brincou com o melhor brinquedo da sua vida. – Eu entrei para Tupi em 1954, no finzinho da Venezuela, fazendo o Clube do Guri com o Samuel Rozemberg e o Collid Filho. Eu tinha 13, 14 anos, e ficava sorrindo, segurando os produtos anunciantes. Eu não falava, só ficava ilustrando a imagem. Aí eu falei para o João Loredo, que era o diretor de comerciais: eu fico só sorrindo, eu quero falar, me dá um texto pequeno. Ele me deu, e quando nos mudamos para Urca eu fiz o comercial das Óticas Fluminense. A partir daí comecei a fazer comerciais para as grandes agências. Dois comerciais me marcaram para o resto da vida: o da Tonelux, que eu fazia nos Espetáculos Tonelux, estalando o dedo e soletrando To-ne-lux, aquilo fui eu que bolei, e deu certo. E depois, o das Perucas Lady, tá? Pensavam até que eu era sócia porque ficou um lance muito forte. No início, a Estrela me chamou e, além de garota-propaganda, passei a apresentar vários programas para eles. O primeiro foi o Teatrinho de Fantoches, com o Geraldo Casé. Atuando em diversos programas para a Estrela, Neyde conquistou o público infantil de cara, e vendeu muita boneca, autorama e pega-vareta. Prossegue Neyde: – Eu tenho a alma de criança, tenho paixão pelos bichos, por brinquedos. O meu quarto é cheio de bichinhos de pelúcia, que compro até hoje. Tenho uma criança dentro de mim que eu não perco nunca. De tudo que eu fiz na televisão o que eu mais gosto de recordar é o Neyde no País das Maravilhas, que fiz com a Ilza Silveira, que profissional! Ela escrevia, dirigia e cortava o programa. Eram contos de fadas teatralizados ao vivo apresentados como novela duas vezes por semana. Foi o que eu mais gostei de ter feito, e olha que eu fiz muita coisa. Quando a Norma Blum foi ter neném, o Sabag me chamou, e eu fiz o Trol diversas vezes. Fiz um seriado também com a Ilza, o Rosinha e Janjão, um casal caipira tipo Violeta e Ferdinando, era eu e o Moacyr Deriquém. Apresentei com o Luiz de Carvalho o Gincana Estrela, A Estrela é o Limite, com o Almeida Castro, com quem também apresentei o Encontro com a Priminha, no eu ficava num balanço contando histórias. Quando aquela princesinha desabrochou em mulher bonita, gostosa e desejada, Neyde botou logo as pernas de fora, e foi escalada para os musicais humorísticos, que tanto sucesso fizeram nas décadas de 1960 e 1970. Virou uma das Certinhas do Lalau, e até convidada para posar na Playboy ela foi. Mas isso acabou não rolando. – Fui fazer os programas musicais e também fiz cinema, uns oito ou nove filmes. Adorava meus quadros, onde cantava e dançava, como em Pandegolândia, Gira, o Mundo Gira, Rua do Ri-Ri-Ri e Black and White, entre outros. Na linha de shows, atuou também nos programas Moacyr Franco Show, Show do Golias e Chico Anysio Show. Em Pandegolândia ela fazia com muita graça o quadro de uma garota paquerada ao mesmo tempo por um grupo de coroas (Moacyr Deriquém, Waldemar Rocha, etc.) e outro de garotões (Mário Petraglia, Antonio Lara, etc.), e cantava com deliciosa ingenuidade, assim: Ainda estou um pouco verde pros titios, Para os brotinhos já passei daquele ponto ideal, É uma questão de compreender, e eu compreendi, Que não estou aqui, nem estou ali Eu vivo só! Coro: Quem sabe é ela, quem sabe é ela, quem sabe é ela que dá o que tem, Quem sabe é ela! A paquera rolava solta, claro. Superexposta, Neyde vivia no imaginário masculino da época, além de ser alvo de especulações da imprensa e do público, mas era muito reservada em sua vida particular. Casada somente uma vez por seis anos com o diretor Alcino Diniz, foi noiva, e namorou com quem quis. Mas sua mãe achava que ela não sabia escolher. – Eu era virgem, queria casar de véu e grinalda, sonho que nunca realizei. Naquela época a gente prezava muito a virgindade, só a perdi com o Alcino, aos 21 anos. Antes, fui noiva do Ruy Porto, com 15 anos. Quando terminei o noivado, namorei o Cyll Farney, mas terminamos. Quando eu fui chorar no ombro do Alcino, que era seu amigo, acabei namorando ele, e nos casamos. Tinha um senhor que mandava flores, mas eu dava para os câmeras. Um dia ele apareceu, e se apresentou, um cara bonitão, grisalho, com um carro Lotus, que era uma Ferrari, e disse: sou eu quem está mandando as flores, gostaria de jantar com você. Eu não fui, não sei como perdi essa oportunidade de ter um pai na minha vida. Sempre senti a falta da figura paterna, não conheci meu pai, ele abandonou minha mãe quando eu tinha dois anos, e foi construir outra família. Era uma chance de ter um porto seguro, um respaldo. Eu me detesto, namorei errado, minha mãe dizia que eu tinha um radar para porcaria, perdia um tempo (três, quatro anos) namorando, chorando, brigando, voltando... Tive várias oportunidades, inclusive o Jango Goulart, que era meu fã, como o Brasil inteiro era. Recebi mil recados, diziam que ele queria me conhecer, que me admiravam. Falavam: olha, emprego de tesoureira na Caixa Econômica! E eu fui? Sempre fui muito tímida e amarrada pela minha mãe. Ela me incentivava na carreira, me acompanhava direto na televisão, mas para fazer esses contatos, não me estimulava. Era só um encontro, o Presidente da República é a maior autoridade do País, mas ele é também uma pessoa que tem simpatias, gosto pessoal. Eu podia ter ido, fui mal-educada, estúpida, insensível. E também todo mundo sabia que ele estava brigado com a esposa dele, não estavam mais convivendo, ele estava liberado. Mas ele só queria me conhecer, como eu fui ao encontro de tanta gente, por que não fui ao seu? Se hoje ele estivesse vivo, eu iria de joelhos pedir desculpas por ter sido tão insensível. Capa das principais revistas brasileiras e premiada diversas vezes como Melhor Apresentadora, Melhor Garota-propaganda, A Mais Elegante, A Mais Bela, Neyde é uma colecionadora de títulos e troféus. Acha que tem aproximadamente uns oitenta prêmios. – Recebi uma medalha de ouro do presidente Juscelino. Fomos um grupo grande para Brasília, inclusive a Hebe Camargo, que também foi premiada. Engraçado, ele discursava e não tirava o olho de mim. As pessoas todas comentando: aí, hein ? Depois tiveram uns recadinhos, mas eu não tinha vivência para isso. Tinha umas colegas que diziam: eu queria ser Neyde Aparecida por um dia! Mas era uma época que o romantismo falava mais alto, o mundo era outro. A Tupi foi minha segunda casa, quando o canal foi cassado pelos militares, eu senti que essa casa tinha caído na minha cabeça. Foi o meu primeiro trabalho, lá eu fiquei famosa no Brasil inteiro. Nunca fui para nenhuma outra emissora, apesar de ter sido convidada, nem Excelsior, nem Globo. O convívio na Urca era maravilhoso, eu beijava desde o porteiro até os diretores. Eu marquei uma época, até hoje me falam Maria é a Glória! Ela é outra imagem simbiose da Tupi: Maria da Glória, a Glorinha, é padrão inconteste do canal 6. O inconfundível sorriso, a voz rouquinha, a brejeirice natural e bem carioca fazem o envelope de uma mulher inteligente sempre disposta a aprofundar na vida. E ela foi fundo em tudo, especialmente na carreira que abraçou com determinação. Garota-propaganda, atriz, apresentadora e produtora, encarou tudo isso com talento e coragem, desde os tempos da Venezuela até a Urca. – Cheguei na Tupi através da McCann Ericsson, agência poderosa onde trabalhava meu primeiro marido, Ivan Meira. Ele me deu o toque que estavam precisando de profissionais na área de comerciais para esse fabuloso veículo que despontava. Fui lá e peguei logo o comercial da Relevã – releva sua personalidade! No primeiro dia do teste minha língua pesava dez quilos. No início, a televisão tinha poucos talentos, por isso comprava os talentos das agências, que tomavam conta de tudo. O Chateaubriand não tinha retaguarda financeira, ele meteu a cara e fez. No exterior, eles ficavam bobos com o poderio econômico de uma estação, de um paizinho que eles nem conheciam. Era fantástico porque tudo que a TV tinha as agências que forneciam. E pagavam muito bem. Quando cheguei na Tupi estavam lá a Neyde Aparecida, o Carequinha, tudo numa sala só. Era comercial, circo, programas de entrevistas, todo mundo convivendo numa imensa sala na Venezuela. O cabeça desse tempo foi o João Loredo, ele criou as garotaspropaganda, deu nomes aos bois, sempre aos gritos, mas tudo dava certo com ele. Junto com Mário Provenzano e outros ele criou a televisão no Rio de Janeiro. A carreira de Glorinha deslanchou nas praias da garota-propaganda e da apresentadora, especialmente de programas femininos que se tornaram clássicos da TV, mas sua origem é o teatro. Como atriz amadora, sob as bênçãos de Pascoal Carlos Magno, ela participou do Teatro Escola, em Fortaleza, protagonizando A Moreninha, no Teatro José de Alencar, sob a direção de Maristher Gentil e figurinos de Flávio Phebo. Saiu-se tão bem que logo em seguida fez o monólogo O Belo Indiferente, de Jean Cocteau, sendo aplaudida de pé em todas as récitas. Apesar deste começo promissor, seu caminho foi outro, até porque a mãe não desejava a carreira de atriz para a filha. – Quando chegamos na Urca foi uma festa. Primeiro, todo mundo ficou meio deslocado, meio triste, nos acostumamos com o quarto andar na Praça Mauá. Mas depois nos espalhamos naquele prédio gigante do Cassino. Eu tenho uma saudade da TV Tupi na Urca, era uma coisa extraordinária o que acontecia ali. Quando eu dizia isso, o Corrêa de Araújo achava que eu estava supervalorizando, mas existia um coleguismo, uma força de equipe, todo mundo torcendo um pelo outro, e a criatividade rolando solta. Impressionante que só tinha a Tupi, e logo depois a Rio, mas o que a gente trabalhava, tinha emprego para todo mundo. As Associadas foram se expandindo e a gente viajava muito, eu ia muito para Belo Horizonte fazer programas na TV Itacolomi. Substituí a Heloísa Helena no programa Qual é o Assunto? e fiz uma escolinha para formar garotas-propaganda em Minas. Usei muitos textos dos programas da Silvia Autuori, eu me lembro. Era uma correria, eu voltava correndo, e muitas vezes fui do aeroporto direto para Urca, a tempo de chegar, entrar no estúdio, e fazer um comercial ao vivo. Com este pique, Maria da Glória foi parar nos programas femininos, que buscavam mulheres inteligentes, rápidas no gatilho e com visual legal. Fez diversos, não só apresentando, mas também produzindo: Boa Tarde Cássio Muniz, Superbazar e Boa Tarde são três exemplos básicos. – O Geraldo Casé me convidou para fazer o Boa Tarde Cássio Muniz, que ficou um ano no ar, um sucesso extraordinário. Foi quando eu conheci a Edna Savaget, que era produtora do programa. Ela vinha da Rádio Ministério da Educação e não aparecia no vídeo. Eu apresentava, e ela conversava comigo em off, como se fosse a mulher que estava assistindo ao programa. Recriamos uma casa onde tudo acontecia ligado ao universo feminino. Tinha Geraldo Casé, Haroldo Costa, Renato Consorte, Gil Brandão e a Dudu Barreto Leite, que era muito engraçada e comunicativa. A Célia Biar também participava, ela pegava um corte de tecido, rasgava e fazia um vestido com a ajuda do Gil Brandão. A Edna, com o respaldo intelectual de pessoa letrada e bastante respeitada no meio, levava pessoas de gabarito da área de Literatura. Depois de um ano, a Agência Casé parou com o programa, não sei o porquê. O Almeida Castro queria manter a equipe, continuar no ar, enquanto arranjava novo patrocinador. Ele sempre teve um feeling para conteúdos de qualidade na televisão, impressionante, mas o Castro não conseguiu. Precisava de uma autorização da Agência Casé, mas não sei se por ciúme, alguma coisa, não deu mais. A seguir veio o Superbazar no final da tarde diariamente, um magazine movimentado com elevadores cenográficos, gente entrando e saindo, e os quadros se sucedendo nos departamentos. Edna Savaget, Gil Brandão, Myrtes Paranhos, Armando Nascimento e Grijó Sobrinho dividiam com Glorinha o comando. A artista plástica Nina Rosa, senhora Max Nunes, também entrou no programa, quando Edna Savaget saiu para a TV Globo. Mas... Gira, o Mundo Gira no canal 6, como cantavam naquele programa humorístico, e Edna não esquentou na Globo. Em 1968, a Tupi, sob o comando de José Arrabal, traz de volta Edna com Glorinha no programa Boa Tarde, quando a dupla voltou a atuar e mais a atriz Tânia Scher como companheira na apresentação. Aí foi a “farra da terra”! O trio era impagável. Elas comandavam o programa no mais saudável bom humor, classe e charme. O que tinha de descontração em Glorinha e Tânia, tinha de seriedade e sofisticação em Edna. A mulher também não era mais a mesma de décadas atrás, e por isso se identificou com aquele programa mais solto, dinâmico, moderno. Também estavam na equipe o locutor Luiz de França, recém-lançado pela A Grande Chance, de Flávio Cavalcanti, e o casal Yara Sarmento e Érico de Freitas, que costurava os quadros. Boa Tarde ficou dois anos no ar bombando audiência nas tardes da Tupi, até que na mudança de direção da emissora, quando saiu Arrabal e entrou Alcino Diniz, o programa acabou. Alcino propôs mudar o nome para Programa Edna Savaget, e reformular tudo. Glorinha não concordou, e saiu. – No meio disso tudo eu fiz duas participações como atriz no Grande Teatro Tupi, em Floradas na Serra e A Canção do Berço. Fui convidada pelo Sérgio Britto, fiquei muito feliz e orgulhosa, eu ao lado daquele superelenco, nossa, foi o máximo! Também fiz dois Câmera Um, com o Jacy Campos. Num deles eu contracenava com a Sylvinha Telles e o Jorge Dória, e tinha o Tom Jobim, que também participava tocando piano. Ele ficava me olhando, me fuzilando, mas eu estava noiva do Ralf, e ele se segurava. Anos depois encontrei com ele no Antonio’s, e ele falou: eu não podia competir, você era noiva daquele aviador bonitão, só me restava ir pra casa e ficar te olhando pelo vídeo. O casamento com Rafael Grossi da Veiga, o Ralf, lhe deu duas filhas: Cristiane e Carla. Infelizmente, em acidente fatal, Glorinha perdeu a filha Carla, uma barra que enfrentou com coragem e apoio incondicional dos amigos, irmã e sobrinhos. Afastou-se da televisão, retornando um ano depois no programa Click, ao lado do comunicador Antonio Carlos, e dizendo poemas no programa do apresentador Mauro Montalvão, na Rádio Continental. – A maior felicidade que Ralf me deu foram milhas filhas Cristiane e Carla. Prossegui dizendo poemas, que sempre disse nos programas femininos. Fui convidada pelo Gilson Amado para fazer o seu programa Comunicação, dirigido por Carlos Alberto Loffler. Ele morria de medo porque eu dizia poemas de Adalgisa Nery, e ele: mas ela está proibida, Maria da Glória! E eu respondia para ele que era poema de amor, e era uma lindeza. No dia que eu recitei um poema do catalão Félix Cucurull, o Gilson ficou petrificado me olhando, ele terminava assim: ...E da tumba daqueles que ousaram ser audazes demais. Aí deram um close no Gilson, e as bochechas balançavam, ele ficou trêmulo! Muitos programas, muitos comerciais, muito tudo na trajetória de Glorinha na Tupi. Passou também pelos programas infantis (Pullman Jr.), pelos grandes musicais do Telecentro (A Grande Parada e Black and White) e pelo Festival Universitário de Música, apresentando os dois primeiros ao lado de Blota Júnior, e fazendo entrevistas na terceira edição. O Dó Ré Mi de Dóris Monteiro Não era qualquer cantora que tinha programa próprio, como era chamado na época. Na Tupi, só Ângela Maria e Dóris Monteiro tiveram os seus, ambos com muito sucesso. Encontro com Dóris Monteiro era apresentado em 1956, às sextas-feiras à noite, um musical de gala com a cantora, orquestra e convidados. E tinha o patrocínio exclusivo dos sabonetes Cinta-Azul, da Carlos Pereira Indústrias Químicas, indústria do compositor Fernando César. Dele, Dóris gravou sambas-canções inesquecíveis, como Graças a Deus, Joga a Rede no Mar, Vento Soprando e o clássico Dó Ré Mi, seu carro-chefe. Dirigida por Mário Provenzano, com orquestra dos maestros Carioca e Cipó, ela abria o programa com a introdução de Dó Ré Mi, desfilava seus sucessos, quase todos de Fernando, e recebia convidados com desembaraço. Descia escadarias, tinha bailarinos ilustrando seus números, e estava sempre com a elegância em dia, trajando vestidos de soirée, luvas e joias. Nessa época, Dóris já tinha abandonado a trança que lhe deu fama, e usava um corte de cabelo bem curto. Com vestidos tomara que caia, que realçavam as saboneteiras, ela também exibia seu novo nariz, esculpido pelo bisturi do Dr. Fabrini. Fotografava uma deusa, deixando o público (principalmente o masculino) admirado com sua beleza estonteante. – O Fernando comprou o horário, muita gente pensava que eu ganhei o programa do Chateaubriand, imagina! Fernando César foi-me apresentado pelo Chacrinha, fiquei amiga dele e da mulher, a Arlete. Frequentava a casa deles e gravei todas as suas músicas, era um grande compositor. O programa ficou um ano com audiência absoluta, também pudera, não tinham muitos canais de televisão, mas mesmo assim as pessoas adoravam, e assistiam toda semana. Eu ficava em pânico quando acendia aquela luzinha vermelha da câmera, acho que era uma adrenalina gostosa, dava um nervoso que me concentrava, sabe? Até hoje eu sinto esse mesmo nervoso quando entro para cantar, depois me acostumo, e fica confortável. Era tudo ao vivo, tinha de acontecer ali, naquele momento. Eu me lembro que uma vez eu ia cantar Se é por Falta de Adeus do Tom Jobim e da Dolores Duran. O maestro fez a introdução, deu o sinal, quando fui entrar me deu um branco que não me lembrava de nada. Fiquei apavorada por um segundo, aí comecei a fazer mímica, como se tivesse cantando normalmente, fazendo caras e bocas, e à minha volta pude perceber os técnicos correndo pelo estúdio, checando os fios, uma correria geral. Quando acabou o programa, ligaram muitas pessoas para a emissora: que porcaria essa Tupi, a cantora cantando sem som! A direção veio falar comigo, e eu disse que não tive outra saída. Um comercial filmado com o jingle composto por Fernando César mostrava Dóris enrolada na toalha no banheiro, cantando: Quando eu entro no banheiro Só quem entra no chuveiro É o sabonete Cinta-Azul, sabonete Cinta-Azul! Para um banho bem gostoso É preciso muita água e o sabonete Cinta-Azul. Depois em close ela finalizava: Sabonete Cinta-Azul, um sooonho de sabonete! O programa só acabou porque eu não parava de trabalhar, eu viajava o Brasil todo, tinha show toda semana e, claro, eram sempre nos fins de semana. Eu estourei no norte, como falavam na época, com o Sou Tão Feliz do Roberto Mário e Maurício de Lima, eu estourei em Recife. Chegava, e no aeroporto já tinha gente com faixas com o nome da música, eu tive muito trabalho como cantora. Depois da Tupi fui para Rádio Nacional, fui Rainha dos Cadetes e Rainha do Rádio duas vezes. Fiz também oito filmes como atriz, dois com o Alex Viany, Rua sem Sol e Agulha no Palheiro, que me deu prêmio de melhor atriz. Não filmei mais porque realmente a cantora não deixava. A admiração de Assis Chateaubriand por Dóris, que muitos pensavam se tratar de um caso amoroso, já foi explicada diversas vezes pela cantora em livros e programas de televisão. A versão contada no livro Chatô, o Rei do Brasil de Fernando Morais (Companhia das Letras), sobre a compra de votos por Chatô para sua eleição de Rainha do Rádio, segundo ela, não bate. – Não foi nada disso. Eu fui ao João Calmon e disse que eu não podia perder, eu era da Tupi, estava na crista da onda e eles tinham de me prestigiar. O Calmon me ofereceu um cheque em branco para cobrir a diferença. Acontecia que as pessoas tinham de comprar votos para a construção do hospital dos radialistas, que nunca existiu. Então o Calmon agiu, e eu venci. Imagina se o Chateaubriand ia ter tempo de se preocupar com isso. Sabe como eu conheci o Chateaubriand? Nós, os contratados das Associadas, éramos convidados para apresentações não só nas emissoras, mas em festas da sociedade, Brasil a fora. Eram todos amigos dele, e ele comparecia a muitas dessas recepções. O Ciro Monteiro, a Odete Amaral, Dircinha, Linda Baptista e eu fomos convidados diversas vezes. Eles me chamaram uma vez, a festa era em São Paulo, e lá fui eu com a minha mãe para o aeroporto de Congonhas. Ficamos lá, e ninguém aparecia. Depois de horas, me chamaram no alto-falante, fui no balcão e um assistente do Chateaubriand estava no telefone furioso com meu atraso. O encontro era no aeroporto de Marte e não em Congonhas. Tomei um táxi e fui encontrá-los. Quando cheguei, fui entrando pela pista, onde estava um grupo de convidados e secretários com ele, ao lado de um avião. Quando cheguei perto do Chatô, ele estava nervoso: que absurdo, que falta de responsabilidade, você está nos fazendo de palhaços! Eu estava tão irada que nem sabia quem era ele, e explodi: falta de responsabilidade é de vocês que me avisaram o aeroporto errado. Todo mundo ficou me olhando, acho que nunca ninguém se dirigiu a ele dessa maneira. Ele me falou: não fale assim comigo, você sabe quem sou eu? Eu sou Assis Chateaubriand! Aí eu respondi: e eu sou Dóris Monteiro, uma das melhores cantoras desse País. Minha mãe segurou meu braço, ficou apavorada. Ele ficou em silêncio, suas feições foram mudando, aí ele deu uma gargalhada, e disse: gostei, garota, você é das minhas, adorei você! Depois disso, sempre me prestigiou, mas nunca teve qualquer tipo de aproximação ou assédio. As pessoas inventam, né? Comemorando 60 anos de carreira, iniciada na Rádio Tupi e no Golden Room do Copacabana Palace, Dóris gravou seu depoimento para este livro em almoço, na pérgula do Copacabana, a convite da relações públicas do hotel, Claudia Fialho. À certa altura, Fialho presenteou-a com uma xérox da sua ficha de inscrição como contratada do Copacabana Palace. Os olhos de Dóris marejaram de emoção. Dóris é Dó... é Ré, Mi, Fá, é Sol Tupi. Bibi Ferreira ao Vivo A televisão nunca passeou de babydoll no coração de Bibi Ferreira. Ela sempre se manteve a certo grau de distância do veículo, ambos se experimentaram, mas não se apaixonaram. Na verdade, a televisão teve o privilégio de tê-la em alguns momentos, quando Bibi emprestou seu brilho com o profissionalismo impecável de sempre, e sua empatia interagiu direto com o público. Bibi não teve medo de encarar aquela novidade de então, quando a convite de Chianca de Garcia, seu conhecido do teatro de revista, participou de diversos quadros musicais nos primórdios da Venezuela.Contracenando com Mauricio Sherman e Jacy Campos, encenou a música O Orvalho Vem Caindo, de Noel Rosa, onde cantava travestida de mendigo: ... Meu cortinado é o vasto céu de anil e o meu despertador é o guarda civil, que o salário ainda não viu ! E o Sherman, de guarda, apitava. Bibi lembra quando fez uma paródia de Hamlet, de malha preta e a caveira na mão, em monólogo humorístico. Depois, ela teve uma experiência definitiva, também na Venezuela, ao lado do seu pai, o grande ator Procópio Ferreira, em Tal Pai e Tal filha, onde os dois conversavam sobre assuntos diversos de costumes a política. Um dia, a produção do programa revelou para eles algo que ficou para sempre para ela, como Bibi conta: – A produção disse para nós que a televisão era uma radiografia, não se tapeava nela. Aí, papai me disse que, se era uma radiografia, nós estávamos passando exatamente que não gostávamos de fazer televisão, eles estavam vendo isso. Nós estávamos carregando um piano nas costas! Depois de seis meses nós paramos. Ela só reencontraria a televisão em 1960, na TV Excelsior, no programa Brasil 60, uma série de programas jornalísticos realizados nos estados brasileiros, seguindo nos anos seguintes em videoteipe, o que a obrigava a viajar direto para realizá-los. Apesar de bem-sucedida na empreitada com o programa muito bem recebido, ela não ficou animada com o resultado gravado. – O público começou a rejeitar o videoteipe, prossegue Bibi, ele via que não acontecia na hora, senti que isso ficou no inconsciente coletivo. Aí só aceitei fazer televisão de novo se fosse ao vivo. Foi quando fiz na Tupi o Bibi ao Vivo, com muito sucesso. Fui jantar na Fiorentina com o pessoal da produção depois que acertamos tudo, e o Carlos Imperial apareceu, e foi ele quem sugeriu o nome: o programa é ao vivo, então é Bibi ao Vivo! Precisamente às 20h20, depois do Repórter Esso, a orquestra do Maestro Cipó, em meio a canhões cruzando o palco do grill, dava a introdução, e Bibi surgia iluminada, cantando com uma taça de champagne: Celebrations, celebrations, Não há festa como esta, Para celebrar, não há! Quem há de resistir? Era o formato ideal para aquela show-woman, a maior de todas, cantar, dançar e entrevistar personalidades: um programa musical, para cima, focado na personalidade histriônica de Bibi Ferreira. O quadro O dia que você nasceu, escrito pelo Departamento de Jornalismo chefiado pelo brilhante Marcos Reis, ocupava bom espaço do programa, em que um convidado especial ficava ciente dos principais acontecimentos ocorridos no dia do seu nascimento. Entravam o coro e a orquestra: No dia que você nasceu Muita coisa aconteceu E agora que você cresceu Vamos todos lhe contar... Bibi cantando: No dia que você nasceu Muita coisa aconteceu! Dirigido por Eduardo Sidney, e posteriormente por João Loredo, Bibi ao Vivo liderou a audiência nas sextas-feiras da televisão carioca por mais de um ano. Com empatia que atravessava a telinha, Bibi algumas vezes dançava números de jazz moderno com o grande bailarino Nino Giovanetti, formando uma dupla irretocável. Também fez quadro musical com as travestis Rogéria e Brigite Búzios, que faziam na época grande sucesso no show Les Girls, de Meira Guimarães. A atriz Tânia Scher teve marcante participação em Bibi ao Vivo, ela aparecia entre os quadros com um relógio de algibeira, informando a hora, provando em plena era do videoteipe que o programa era ao vivo. Tânia também esteve em quadros montados ao lado de Bibi, como em uma imitação antológica de Marylin Monroe, cantando nua numa banheira de espumas. Capítulo 12 Mauricio Sherman Aos 20 anos, Mauricio Sherman colocou pela primeira vez os pés num estúdio de televisão, e nunca mais os tirou. Era 1951, e a Tupi abria seus trabalhos, ele era estudante de Direito e, depois de passar pela Rádio Guanabara, estreava no teatro na peça Massacre, na Companhia do ator e produtor Graça Mello. Paralela à temporada da peça que o premiou como ator revelação do ano, Sherman começou a fazer pontas no Histórias do Teatro Universal de Chianca de Garcia e números musicais com Renata Fronzi e Bibi Ferreira. Mas isso foi apenas o começo de tudo. Com memória privilegiada capaz de se reportar a detalhes minuciosos de sua trajetória, verdadeiro labirinto de idas e vindas, recomeços e tentativas, ele sabe rigorosamente as datas e os locais por onde passou, quem cruzou seu caminho e os fatos mais marcantes que viveu. Até se tornar um dos diretores mais importantes da televisão brasileira muita água rolou, e a carreira de ator falou mais alto, tanto no teatro como na televisão e no cinema. Diga-se de passagem, ótimo ator, nascido no Teatro Universitário de Niterói, sua cidade natal, seguido do aprendizado na Rádio Guanabara ao lado de Paulo Renato, Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Chico Anysio, Lupe Gigliotti, Antonio Carlos e Jayme Barcellos. – O sucesso da peça Massacre me levou para temporada em São Paulo, relembra Sherman, juntamente com mais duas peças que a gente fazia em repertório. Fui procurar trabalho na Tupi paulista, e como tinha teatro à noite, só podia trabalhar na programação infantil. Foi quando conheci o Júlio Gouveia, casado com a Tatiana Belinsky, que faziam Fábulas Encantadas e também o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Nessa época o Cassiano Gabus Mendes nos convidou para apresentar Massacre na televisão. E foi tão marcante, fez tanto sucesso, que tivemos de repetir a encenação quinze dias depois, tantos foram os pedidos dos espectadores. A essa altura, eu não queria largar a faculdade de Direito, eu acreditava que seria mesmo advogado, o ator era só uma vaidade que atendia a um processo íntimo de realização, tanto que me formei já com a carreira engrenada. Eu vivia no noturno, aquele trem para São Paulo, às vezes ia e vinha de kombi para prestar exames na faculdade. Quando terminou a temporada em São Paulo, Sherman voltou para o Rio de Janeiro para se dedicar aos estudos, e foi procurar na Rádio Tupi aquele que seria um dos mais constantes parceiros e grande amigo: Max Nunes. Foi contratado como ator de novelas, participando também de Uma Pulga na Camisola, o célebre programa de Max. – A rádio era no terceiro andar e a televisão no quarto. Eu estava no covil! Eu gostava de rádio, mas a televisão me fascinava, aí comecei a fuxicar, sugeri ao Barros Barreto de fazer o programa Fábulas Encantadas no Rio, ele gostou da ideia. Comecei a trabalhar no Teatro Policial do Bob Chust e me tornei seu assistente. Foi quando o Cassiano foi mandado para o Rio para dar uma mexida na programação, a TV Rio tinha chegado e a Tupi não estava bem nesse momento. O Cassiano mudou a linha da emissora, e me convidou para dirigir o Teatro Gebara, estrelado pela Heloísa Helena. Foi a minha prova de fogo. Eu me apresentei a ela, mas ela disse que eu era muito jovem para dirigi-la, me pediu licença e foi falar com o Cassiano. Voltou depois e disse que estava tudo bem. Depois que fiz o primeiro programa, onde coloquei umas externas em filmes 16 milímetros, ela adorou, e ficamos amigos. Depois, ela nunca mais quis ser dirigida por ninguém que não fosse eu, e trabalhamos muito tempo juntos. Foi aí que começou a minha carreira de diretor. É impossível localizar todos os programas dirigidos por Mauricio Sherman na Tupi. Alô Doçura era sucesso em São Paulo, e Cassiano, mais uma vez, confiou a Sherman que fizesse a versão carioca do programa, inicialmente com Haydée Miranda e Paulo Mauricio. Dirigiu shows e o humorístico de Max Nunes, que era o Balança Mas Não Cai com outro nome, porque a Rádio Nacional não permitiu usá-lo. Sucederam-se programas, muitos programas, até que dirigiu como minissérie de 45 episódios a famosa Gabriela de Jorge Amado pela primeira vez apresentada na televisão. A protagonista foi testada e aprovada pelo próprio Jorge Amado, que veio ao Rio a convite de Sherman para a escolha. Ela era uma girl belíssima dos shows de Carlos Machado. – A Gabriela quase não falava, ela tinha de ser uma mulher gostosíssima, uma figura maravilhosa. O Paulo Autran era o Mundinho Falcão, a Glauce Rocha era a Malvina, o Grande Otelo fazia o Tuísca e o Nacib era o Renato Consorte. O elenco era de primeira, ainda tinha o Milton Moraes que fazia um jagunço, o Jece Valadão que era um bandido e Cláudio Correia e Castro e Magalhães Graça, os coronéis. O Antonio Bulhões, que era casado com a Glauce, fez a adaptação. Foi um sucesso incrível. Tudo foi conseguido na base do sangue que a gente deixava lá, quando saía tudo bem era uma adrenalina! Eu nem conseguia dormir depois. Imagina, ainda tinha de controlar o horário, era ao vivo e tinha de durar 24 minutos cada episódio. Eu ficava na hora com o relógio, e muitas vezes tínhamos de cortar alguma coisa para não estourar o horário. A precariedade era uma constante, câmeras pifavam durante o programa, água não saía das bicas dos cenários, os atores saíam de cena sempre com maçanetas nas mãos e a iluminação era chapadona. Os famosos panelões da Tupi incendiavam de calor as cucas dos pioneiros, e não havia ainda o cuidado de iluminar as cenas com orientação de um diretor de fotografia, foi quando ele conheceu um mestre da fotografia. Fala Sherman: – Eu ia pegar um ônibus ali na rodoviária, que era na Praça Mauá, e vi um cabo man (o profissional que segurava o cabo da câmera) da Tupi ali esperando condução também. Ficamos conversando, e acabei descobrindo quem era ele, tratava-se de Ozen Sermet, um russo diretor de fotografia que tinha filmado muito na Turquia, terra de sua mulher. No dia seguinte, procurei o Oduvaldo Vianna, que estava dirigindo a Tupi enquanto Guilherme Figueiredo não chegava da Europa, e falei para ele: o cara é tudo isso e está trabalhando de cabo man! O Vianna, que adorava cinema, mandou chamá-lo e nomeou o Ozen diretor de fotografia. Eu consegui uns refletores emprestados de um técnico da boate Night and Day, e começamos a mexer na iluminação. Na sequência, a mudança para a Urca deu uma guinada tão grande em todo o processo de criação e realização dos programas, que Sherman considera o momento um divisor de águas: – Quando fomos para Urca foi uma transformação, aí é que começou mesmo a televisão. Tudo era feito com o entusiasmo nosso, fomos os “amadores”, entre aspas mesmo, nós gostávamos do que fazíamos, porque em condições normais era coisa de maluco. Era tudo com pouco dinheiro, a gente levava de casa objetos e roupas, para usar nos programas. O Pernambuco de Oliveira tinha obras de arte que ele colocava nos cenários, o Sorensen também, muito talentoso, arrumava roupas emprestadas. A gente queria fazer direito, pedia emprestado microfones, recondicionava o tubo Orticom ali na esquina, senão a imagem fixava e ficava com fantasmas. A importação tinha mil burocracias, não era fácil comprar equipamentos também, tinha de mandar vir no contrabando mesmo. E o espetáculo continua na tentativa de localizar títulos de sucesso assinados por Sherman na Urca: Teatro de Comédias da Imperatriz das Sedas, Ali Babá e os 40 Garçons, O Céu é o Limite, A Bela e a Fera, Cidinha Livre, Festival Universitário de Música e Concurso de Músicas para o Carnaval, dentre muitos. Uma experiência muito marcante também aconteceu em Sítio do Pica-Pau Amarelo, que ele trouxe de São Paulo com a parceria dos criadores Júlio Gouveia e Tatiana Belinsky. A única exigência de Júlio era que a boneca Emília tinha de ser feita pela atriz Lúcia Lambertini, a criadora da personagem em São Paulo, que era realmente um primor de trabalho de atriz. No elenco participaram também André José Adler (Pedrinho), Leny Vieira (Narizinho), Iná Malaguti (Dona Benta), Zeni Pereira (Tia Nastácia), Elísio de Albuquerque (Visconde de Sabugosa) e Daniel Filho (Dr. Caramujo). Assim, Sherman dirigiu e apresentou em capítulos o primeiro Sítio do Pica-Pau da TV carioca. Sherman foi casado com a atriz e apresentadora Riva Blanche, umas das mais atuantes profissionais na televisão da época. Riva, classuda e muito bonita, atuou em muitos teleteatros e novelas, assim como apresentava programas de entrevista com elegância e competência. Da união, nasceu Alexandre, único filho de Sherman: – Conheci a Riva quando eu estava fazendo Massacre, ela se apresentou no nosso teatro com um espetáculo de alunos de uma organização judaica. Depois dirigi uma peça infantil com ela, a Telma Elita e o Nestor de Montemar. Para Sherman, quem foi o cabeça que deu uma dimensão especial na história da TV Tupi? – Foi o Almeida Castro. Todos os diretores que conheci tiveram um peso importante, como o Oduvaldo Vianna, que ficou interinamente enquanto o Guilherme Figueiredo não chegava. O Guilherme era um intelectual brilhante, mas quando veio o Almeida, ele foi muito importante em todo o processo da Tupi, me prestigiou muito, nos demos muito bem. Ele deu uma dimensão especial em tudo. Quanto aos apresentadores, a palavra catedrática de Mauricio Sherman elege os seus favoritos. Quem são? – Como apresentadora foi a Heloísa Helena, sem dúvida. Ela apresentava muito bem, era culta, bem nascida, falava muito bem, chegava a ser sofisticada. Ela não era uma atriz esplendorosa, mas era uma presença, uma personalidade. Quanto ao melhor apresentador, escolho dois, porque foram os melhores igualmente: o J. Silvestre, que era muito preparado, inteligente e elegante, e o Flávio Cavalcanti, que foi o melhor apresentador farsante, ele chegava a ser cínico, inventava na hora o que quisesse... Capítulo 13 O Carisma de Flávio Cavalcanti Se for contar nos dedos os apresentadores revelados desde a inauguração do canal 6, pode-se preencher duas mãos bem cheias. Quase a maioria oriunda do rádio. Eles tinham a noção perfeita da postura do mestre de cerimônias, a elegância, a identidade masculina e a boa emissão vocal. Carlos Frias, J. Silvestre, Paulo Max, Murilo Nery, Hilton Gomes, Corrêa de Araújo, Urbano Lóes, Aérton Perlingeiro, Jorge Perlingeiro, Paulo Monte e Mauro Montalvão, entre outros, são nomes marcantes que brilharam na tarefa de conduzir programas de auditório ou de estúdio. Flávio Cavalcanti ia mais longe no conceito do apresentador classudo que emanava aquela simpatia contagiante. Ele era jornalista, e com isso o mix de mestre de cerimônias com repórter aconteceu plenamente. Isso dava uma dinâmica às suas performances, uma teatralidade, ele encenava a notícia, e sempre usando sua verve inquieta, polêmica, instigante. Batia uma identificação imediata com o público, concordasse ou não com suas afirmações. O carisma de Flávio atravessava a tela. Esse Coqueiro que Dá Coco? ... Foi em 1957 que Flávio Cavalcanti estreou na Tupi apresentando e produzindo o programa Um Instante, Maestro!, que de cara agradou em cheio. Vindo da Rádio Mayrink Veiga, onde além de Discos Impossíveis o inspirador do programa da televisão também produziu com o amigo Jacinto de Thormes, o Maneco Muller, Nós os Gatos – sobre a noite carioca, ele pisava pela primeira vez naquele veículo que dominaria como poucos a seguir. Um Instante, Maestro! comentava discos, recebia cantores e dava uma geral no mundo fonográfico com personalidade. Como crítico, Flávio quebrava discos, que considerava ruins, na beira da estante, o que dava um impacto forte, e rendia comentários entre o público, imprensa e músicos durante o resto da semana. Casado com a mineira Belinha e pai de três filhos, Marzinha, Flávio e Fernanda, deixou quatro netos (Jarbinhas, Rafael, Flavinha e Isabel) e quatro bisnetos (Luisa, Thiago, João Flávio e Antônio Pedro). Flávio Cavalcanti Jr. seguiu os passos do pai, tornando-se figura indispensável em sua equipe, e mais tarde homem das telecomunicações, trabalhando com os empresários Adolpho Bloch e Silvio Santos na implantação de suas emissoras de televisão. Flavinho, como é conhecido entre os colegas, está acabando de escrever o livro Juro que Vi, de memórias e aventuras com Flávio, e está viabilizando comercialmente os filmes e vídeos do produtor Nelson Hoineff. Ao falar de seu pai, sua expressão se ilumina e aparece uma semelhança impressionante em suas expressões: – Ele escrevia nos jornais O Jornal e Diário da Noite, quando conseguiu entrevistar o Getúlio Vargas numa recepção oferecida pelo Alencastro Guimarães, figura importante na época, se disfarçando de garçom! Ele penetrou na festa, pegou uma bandeja e chegou até o Getúlio. Esta matéria colocou o velho como um jornalista ousado e criativo. Foi quando o Jacinto de Thormes (que além do programa de rádio, fazia na televisão um programa de colunismo social com entrevistas) pediu ao papai que o substituísse porque ele ia acompanhar a Seleção Brasileira nos jogos preliminares da Copa de 1958 na Europa. Quando o Maneco voltou, o Adhemar Casé, que patrocinava o programa, falou para ele: você tem bossa para televisão, bola um programa que a gente bota no ar. Aí nasceu o Um Instante, Maestro!. O programa foi o melhor passaporte para Flávio adentrar à televisão, falava de música, criticava discos, apresentava cantores e compositores que estavam no mercado carioca, lançando sua marca registrada de apresentador: a polêmica. Prossegue Flavinho: – Ele achava que a facilidade que o telespectador tinha para mudar de canal era muito grande, mesmo só com outra emissora no ar (a TV Rio), por isso ele tinha de despertar a polêmica, até que fosse para o sujeito descordar ou esculhambar ele. Isso prendia a atenção, e aumentava o interesse daqueles que também concordavam com suas opiniões. Papai achava que tinha músicas com letras inimagináveis, horrorosas, que deviam ser expurgadas, como aquela do Teixerinha, Churrasquinho de Mãe. Com o Ary Barroso ele provocou: como é, Ary, esse coqueiro que dá coco? Ele também começou a fazer campanhas na área da política e do bem-estar social, por exemplo: foi um guerrilheiro contra os fogos de artifício no Rio de Janeiro. Ele achava aquilo um absurdo. Tinha um lobby da indústria produtora que queria matá-lo. Com rigor crítico e bom gosto, Flávio apresentava também compositores e intérpretes que produziam o fino da MPB. Dolores Duran tinha suas canções comentadas e cantadas com destaque. Flávio exaltou os versos de Orestes Barbosa em Chão de Estrelas, parceria com Sylvio Caldas: A porta do barraco era sem trinco,/ Mas a lua furando o nosso zinco salpicava de estrelas nosso chão,/ Tu pisavas nos astros distraída,/ Sem saber que a aventura dessa vida/ Era a cabrocha, o luar e o violão... Flávio saboreava cada verso, declamando a letra e acompanhando depois na melodia. Suas expressões emocionadas em close faziam vibrar o telespectador que também viajava na maionese. Depois de dissecar a letra, apresentava o próprio Sylvio Caldas, figura rara na televisão, cantando a obra que ele considerava como uma das mais belas do cancioneiro popular. Delírio na Urca. Mas além do tradicional, ele passeava com inteligência pelo som dos jovens que estavam dando uma renovada na abrangente música da terra. Assim, apresentou o ainda desconhecido Raul Seixas, alavancando seu primeiro hit, Ouro de Tolo, onde o inconformismo fala mais alto: ... Eu é que não me sento no fundo de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar... Comentando a letra com admiração, Flávio lançou Raulzito na televisão. Em retribuição, o baiano citou Flávio em uma de suas emblemáticas canções, Tu és o MDC da minha vida. As Reportagens Noite de Gala, o luxuoso musical jornalístico de Geraldo Casé, dirigido por Carlos Thiré, teve em Flávio Cavalcanti uma das principais estrelas. Apresentado pela bela Márcia de Windsor, ele fazia as reportagens na parte final do programa. Depois de uma temporada na TV Rio, o empresário Abrahão Medina, dono do Rei da Voz, que patrocinava o programa, se mudou de malas e bagagens para a Tupi. Prossegue Flávio Cavalcanti Jr.: – Noite de Gala foi o primeiro grande programa da televisão. Thiré, Casé, a Márcia, o maestro era o Tom Jobim novinho. Por trás estava o Medina, uma figura muito importante na Guanabara daquela época, especialmente na área do turismo. O velho fazia as reportagens: raspou a barba do Tenório Cavalcanti, líder importante de Caxias, entrevistou o presidente Kennedy na Casa Branca, sentou nos ponteiros do relógio da Central do Brasil para mostrar ao vivo como era o seu funcionamento, fez várias maluquices. Esta reportagem teve uma precisão fantástica, porque ele estava todo amarrado, sentado no ponteiro do relógio, e tudo tinha de acontecer às 10h10, porque senão ele caía! E assim foi feito, começou a entrevista com o maquinista no horário, o relógio foi andando, e cinco minutos depois ele fechou o papo. Mas, por que isso? Ele logo falava: mas não é um barato? A amizade de Flávio Cavalcanti com Carlos Lacerda era absoluta. Se os dois se pareciam fisicamente, ideologicamente, então, era lance de almas gêmeas. Flávio foi importante nas ascensão do governador udenista, e comprou muita briga pela causa do não menos polêmico Lacerda. relembra Flavinho. – O Lacerda, então governador, denunciou que a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro era uma roubalheira. Papai então abriu espaço no Noite de Gala. O Lacerda dava aquelas entrevistas incandescentes, e ele empolgou tanto o público que colocou a opinião pública contra a Câmara. Resolveram fechar a Câmara de madrugada, e depois do programa foi uma multidão para Cinelândia. O Lacerda colocou o apelido de gaiola das loucas! Você vê que o Brasil não mudou tanto... Mas o velho me dizia que tinha nojo de político, ele achava que os bastidores da política não era coisa de família. Foi convidado diversas vezes para se candidatara deputado, senador, mas ele achava que não era o espaço dele. Apesar de amigo do Lacerda, ele achou a revolução militar uma coisa horrorosa, ele rompeu com os generais que eram amigos dele, todos eles: vocês estão dando um golpe no País, não é isso que a gente queria. As pessoas não falam, por má-fé ou por ignorância, mas o que se queria naquele instante era abrir eleições diretas onde os dois candidatos colocados seriam Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda. O Juscelino tinha acabado de deixar a presidência com aquela simpatia, papai queria que o povo escolhesse entre duas figuras decentes, honestas, patriotas. Esta história foi jogada na lata do lixo. Em casa era uma disputa ótima, mamãe como boa mineira era apaixonada pelo Juscelino, e achava o Lacerda um radical. Mas isso é democracia, vamos nessa. Via Embratel Foi em 1970, a convite de Antônio Lucena, superintendente da emissora, que Flávio aceitou juntar dois programas num só, para brigar pelos domingos, então divididos entre Silvio Santos e Chacrinha, ambos arrebentando na TV Globo. A televisão entrava neste ano em outro ciclo, o das transmissões via satélite, e além da Copa do Mundo transmitida pela Embratel com entusiasmo e sucesso, estreava em setembro o Programa Flávio Cavalcanti, com quatro horas de duração ao vivo para toda a rede associada. A essa altura, Flávio já tinha inventado o júri televisivo no programa A Grande Chance, um programa de calouros black-tie, que deu um banho de loja no gênero. Assim, ele abriu sua empresa TV Studio Produções, presidida pelo Flavinho, numa casa ali mesmo na Urca, e montou equipe de primeira: Eduardo Sidney na direção, José Messias e Ghiaroni na criação e redação, e mais: Gilda Muller, maestro Erlon Chaves, Jorge (Pavão) Bernardo, Léa Penteado e outros. O júri dividia com Flávio as atenções, e recebia os convidados com charme e competência. Nomes como Marisa Urban, Maysa, Sérgio Bitencourt, Mr. Eco, Carlos Renato, Marisa Raja Gabaglia, Márcia de Windsor, Nelson Motta, Mariozinho Rocha, Ronaldo Bôscoli, Denner e a misse Brasil eleita Vera Fischer deram brilho especial ao programa. Entre as atrações, Marcos Lázaro garantia a presença de artistas do top de Elis Regina, Wilson Simonal e Roberto Carlos com exclusividade, bombou geral. Com uma vibrante e popular pauta jornalística (e bem produzida), pano de fundo de seu programa, a questão polêmica em torno da figura de Flávio cresceu muito. Ele liderou a audiência aos domingos diversas vezes, batendo a concorrente TV Globo com força em algumas faixas de horário, comprava brigas e fazia campanhas, criando sempre desdobramentos nos assuntos abordados. Inimigos e detratores aos montes, que ele colecionava, e encarava com coragem, sofrendo ameaças e até suspensão. – Ele não tinha medo nenhum, até hoje eu fico perplexo com a maneira que ele enfrentava as situações. Na fase pré-revolução, e depois também, a gente recebia ameaças de morte, principalmente pelo aval que dava ao Carlos Lacerda. Ele sofreu dois atentados: um pneu estourado e um tiro que felizmente não o atingiu. Nunca teve seguranças, a ousadia dele se aproximava da irresponsabilidade. Ele dizia: ah, se tiver que acontecer, vai acontecer, segurança o Kennedy tinha, e mataram ele, não adianta. O velho gostava dessa tensão, de esticar a corda, ele achava importante para carreira e para o ego. Era uma figuraça! Sofrendo censura e perseguições, ele só se abateu quando foi suspenso por dois meses porque levou ao programa um assunto que saiu na imprensa, sobre uma mulher que foi ganha numa aposta, uma bobagem. Isso foi usado como pretexto para tirá-lo do ar. Aí ele quebrou. A volta já não foi a mesma coisa, perdeu patrocinadores, contratos ficaram difíceis de segurar. O Marcos Lázaro ficou até o fim, foi grande amigo, e nos ajudou a manter o programa forte de atrações. O programa ficou no ar nesse formato até 1974. Depois só voltou em 1978, mas a Tupi estava mal, ele voltou enfraquecido. Flávio circulou pelas TVs Excelsior, Rio, Bandeirantes e SBT, sua última casa de trabalho onde veio a falecer depois da apresentação do seu programa em 1986, aos 63 anos. Capítulo 14 Telecentro: A Era Boni O Telecentro foi um capítulo especial na estória da Tupi, ele deu uma superrenovada na programação da emissora, e alavancou audiência para a rede associada. À frente do projeto estava José Bonifácio de Oliveira, o Boni, em fase pré-Globo, precisamente no ano de 1966. Ele conta via e-mail como tudo começou: – A ideia do Telecentro saiu dos condôminos João Calmon e Edmundo Monteiro, do Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente, visando a unificar a programação das Emissoras Associadas de Televisão em todo o Brasil. Foram montados dois polos: novelas em São Paulo, dirigido por Cassiano Gabus Mendes, e shows e eventos no Rio, dirigido por mim. As compras de filmes e de direitos esportivos eram feitas de comum acordo por nós dois, e mensalmente nos reuníamos para discutir todos os produtos de todos os gêneros, e decidir que show ou novela iríamos produzir, e que eventos e filmes compraríamos. A essa altura do campeonato a Tupi estava bem plantada em todo o território brasileiro com emissoras do Oiapoque ao Chuí, literalmente. Esse foi o momento que despertou o gigante adormecido, e a ficha caiu, no sentido do conceito de rede nacional, embora a Embratel ainda não tivesse chegado, mas isso era questão de pouco tempo, e já existiam o videoteipe e os links, que faziam a ponte para a unificação. Assim, Boni causou uma revolução na Urca. Altos contratos, artistas de primeira linha e programas montados movimentaram a chegada do Telecentro. O famoso grill, com seu palco montado pelos franceses para o cassino, foi restaurado e reativado, usando os elevadores e gavetas. E foi ali que grandes musicais foram montados, varando madrugadas e dobrando equipes que ralaram direto. Entre as principais produções com a grife Telecentro destacaram-se: – A Grande Parada, parada de sucessos apresentada por Jerry Adriani e um time de atrizes famosas e glamorosas como Marília Pêra, Betty Faria, Neyde Aparecida, Maria da Glória, Zélia Hoffman e Marivalda. – I love Lúcio, musical humorístico com Arlete Salles e Lúcio Mauro, então casados. Nesse programa apresentou-se Sylvinha Telles pela última vez, pouco antes de sofrer o acidente fatal que tirou sua vida. Farennheit 2000 formou uma dupla de apresentadores-cantores surpreendente: Eliana Pittman e Taiguara, os dois funcionaram muito bem. Black and white, nos moldes dos musicais humorísticos tão em moda na época, foi o mais luxuoso produto realizado. Números musicais com balé e orquestra, textos do craque Meira Guimarães, direção de João Loredo e comediantes que cantavam em quadros montados com apuro. Ainda na fase preto e branco, o programa caiu como uma luva para os cenários e figurinos em op art, do maior bom gosto. O quadro musical com três louras deliciosas, Marivalda, Zélia Hoffman e Carla Miranda, era o ponto alto do programa: É black and white, Está tudo all right, Tá bonito como que, Junta loura com crioulo Vamos fazer degradé Sabadabadá! Os standards Moacyr Franco Show e Chico Anysio Show davam conta do recado do humorismo clássico da TV. No programa de Moacyr, seu filho Guto Franco, com cinco anos, era a maior atração. Era genial a sua participação, desafiando o pai em duelo musical: canta, uai, canta, mas não mente... Chico Anysio, além dos personagens de sua primeira fornada, aparecia de cara limpa e black-tie, fazendo o stand up comedy com maestria absoluta. Os programas de Bibi Ferreira e Flávio Cavalcanti deram suporte aos melhores programas de auditório que se celebrizaram por si só. Enfim, esse luxo todo e mais as novelas muito bem produzidas em São Paulo resultaram em momento progressista para a Tupi, ela nunca esteve tão bonita e bem equipada artística e tecnicamente falando. Entre os títulos que pontuaram boa audiência para a teledramaturgia estão: O Preço de Cada Um, estrelada por Francisco Cuoco; Calúnia, reunindo Sérgio Cardoso e Fernanda Montenegro; O Amor Tem Cara de Mulher, original de Cassiano protagonizado por quatro estrelas: Vida Alves, Cleyde Yáconis, Eva Wilma e Aracy Balabanian; A Ré Misteriosa com Nathalia Timberg e Luiz Gustavo; Ciúme comCacilda Becker e Somos Todos Irmãos, adaptação do romance A Vingança do Judeu, estrelada por Sérgio Cardoso (de lentes azuis) e Rosamaria Murtinho. Mas, e o retorno comercial de todo investimento empregado, valeu? – O retorno comercial foi acima do esperado, prossegue Boni. O problema é que o resultado das vendas comerciais era repassado diretamente às emissoras que retransmitiam a programação do Telecentro. Em contrapartida, havia um rateio de custos entre todos e proporcional ao tamanho de cada área coberta por cada emissora. O plano parecia perfeito. Surpreendentemente somente Rio, São Paulo, Minas e Brasília pagavam suas cotas. As outras emissoras atrasavam seus pagamentos, ou simplesmente não pagavam suas cotas, o que inviabilizou o projeto. E a audiência, Boni, qual foi o saldo positivo da empreitada? – A Tupi, com o Telecentro, passou a brigar de igual para igual com a Excelsior e a Record. A Globo ainda engatinhava no Rio, e não tinha em São Paulo. A Tupi assumiu a liderança em vários horários de shows e novelas. O saldo de audiência foi positivo, e o saldo artístico mais positivo ainda. O caminho estava certo. Se o dinheiro das emissoras tivesse entrado como previsto, teríamos sido a Rede Globo de hoje. Tinham de trinta a cinquenta pontos de audiência no Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística). Os programas de Bibi Ferreira, Flávio Cavalcanti, Moacyr Franco, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso e, com vários programas, o Chico Anysio. Aliás, o Chico foi quem me indicou para o Telecentro. Entre as novelas, uma delas causou sensação nacional, de autoria de Benedito Ruy Barbosa, Somos Todos Irmãos, com Sérgio Cardoso e Rosamaria Murtinho. Mas o que é bom... dura mesmo pouco. O projeto não chegou a um ano devido a esse entrave comercial. Além de tudo, os custos eram altos, e os contratos milionários causaram desconforto entre a turma antiga que ganhava muito menos. O sonho de criar uma televisão nacional, a reboque das poderosas torres bem fincadas por Chateaubriand em todo o País, foi por água abaixo. Boni pegou as malas e foi se encontrar com o amigo e parceiro Walter Clark, na TV Globo, assumindo a chefia de programação e produção da casa. Foi o pulo do gato da Globo, quando a emissora acordou para o futuro, e criou asas, realizando o que o Telecentro não conseguiu: uma programação única em rede nacional. Terá servido como laboratório a experiência para Boni? – Serviu e muito. Quando o Walter Clark foi para a Globo, e me chamou, a primeira coisa que eu relatei a ele foi esse defeito do projeto Telecentro que, de forma ingênua, repassava verbas publicitárias para as emissoras, e tentava receber depois o pagamento pela programação. O Walter, engenhosamente, encontrou uma fórmula que perdura até hoje na Globo. Os contratos com as afiliadas, na prática, asseguram à Rede Globo o direito de vender e retirar os custos das produções na fonte, passando para as emissoras apenas o saldo. Creio que foi essa a principal lição que o Telecentro deixou. Capítulo 15 Guerra é Guerra A luta pela audiência sempre existiu na história da televisão, desde os primórdios até os dias de hoje. Antes mesmo do surgimento de outras emissoras, portanto, ainda sem efeito de competição, era importante saber quais os hábitos preferenciais daqueles primeiros espectadores do novo veículo de massas que estava engatinhando. Os anunciantes, que investiam meio no escuro, precisavam de informações que os colocassem na ordem do dia. Em 1953, com três anos de televisão no Brasil, as Associadas encomendaram pesquisa ao Ibope, denominada Hábitos e Preferências dos Ouvintes de Televisão, que procurava também indagar quais efeitos aquela tela mágica estava causando no público do rádio. E o estrago não foi pequeno. A pesquisa mostrava o ótimo interesse despertado por parte do ouvinte, interesse esse que se multiplicaria nos próximos anos da década de 1950, roubando a primazia da preferência do rádio como o primeiro veículo de massas de até então. No capítulo O Público e seus Programas Favoritos, do livro sobre o Grande Teatro Tupi, da Profa. Cristina Brandão, editado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, é mostrado o gráfico desta pesquisa através dos trinta programas mais assistidos. Entre os cinco primeiros colocados aparecem em quinto lugar o humorístico Uma Pulga na Camisola, seguido das transmissões de futebol, Circo Bom Bril, Espetáculos Tonelux e, em primeiro lugar, Feira de Amostras. Os teleteatros pontuaram com destaque com História do Teatro Universal, Teatro Gebara e Teatro Kibon, assim como o Clube do Guri, ainda com o nome de Gurilândia, apareceu em oitavo lugar na preferência. Nos primeiros lugares saíram vencedores os programas de variedades bem chegados ao teatro de revista, que eram comandados por duas vedetes de peso: Mara Rúbia e Virgínia Lane, seguidos por Carequinha, que começou liderando os programas Infantis. O primeiro programa humorístico, Uma Pulga na Camisola que abriu os trabalhos do humor televisivo (e foi passaporte para a segunda incursão de Max Nunes no gênero que o faria imbatível: Ali Babá e os 40 garçons), os teleteatros e o futebol, que é sempre o futebol, inaugurando o confortável hábito de assistir a seu time favorito da poltrona. Em resumo, o público focou seu gosto no entretenimento popular. Com o aparecimento das coirmãs, a disputa pela audiência ficou acirrada, tipo briga de cachorro grande. A TV Rio , a segunda emissora carioca, foi a primeira opção do telespectador, e quebrou de leve a supremacia da Tupi. A chegada da Continental foi de maneira discreta e com pouca repercussão, mas a Excelsior fez um barulhão logo de saída: contratou todo o elenco da TV Rio, e também nomes de peso da Tupi, o que causou grande impacto no mercado da televisão. Por fim, a Globo chegou silenciosamente e, depois de algum tempo, partiu para briga com vontade. A chaleira ferveu nos anos 1960, quando a guerra pela audiência deixou a televisão em ebulição total. Artistas trocavam de canal, e patrocinadores partiam para novos caminhos, levando programas e diretores. Uma verdadeira dança das cadeiras aconteceu, visando a aumentar pontinhos no Ibope. E os departamentos comerciais trabalharam ativamente, pesquisando faixas de público, horários e emissoras bem posicionadas. Para o produtor Flávio Cavalcanti Jr., a medição da audiência foi um processo natural no desenvolvimento da televisão. Diz Flavinho: – Para o bem e para o mal, o Ibope é indispensável na TV. Não tem que adjetivar, ele é uma realidade substantiva. O mercado publicitário tem interesse em saber quem está vendo o quê, ele precisa saber para quem está falando. No início, o Ibope não tinha o suporte da informática que tem hoje, era empírico, tinha um extrato da sociedade baseado nos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e agia como pesquisador. Era um sinal, uma diretriz muito importante para nós, o objetivo de uma TV como veículo de massas é captar o interesse do maior número de pessoas. Eu fui um aluno muito aplicado do Dr. Paulo Montenegro, pai do Carlos Augusto, e criador do Ibope. Ele desenvolveu uma metodologia para fazer pesquisa de televisão. O vale-tudo pela audiência foi longe, muitos casos aconteceram no desdobramento desta briga. Flavinho lembra de um fato ocorrido em plena disputa da Tupi com a Globo nas noites de domingo, quando seu pai Flávio Cavalcanti enfrentava Chacrinha em pleno apogeu: – Havia uma senhora que incorporava o seu Sete da Lira, uma entidade que fazia curas no subúrbio carioca, aí resolvemos levá-la ao programa. Colocamos no ar chamadas para o programa de domingo, e o Chacrinha resolveu entrar na disputa. Foi lá e convidou o Seu Sete da Lira para, no mesmo dia, comparecer ao programa da Globo. Não podíamos fazer nada, ele se apresentaria antes do programa do velho. Assim sendo, eu fui pessoalmente na porta da Globo buscá-la, já que se apresentou antes do nosso. E ela fez os dois programas, fumou charuto, cuspiu, um quadro dantesco! Seu Sete deu alta audiência para os dois, como comprovamos. Tempos depois, eu e papai vimos que essa audiência não era importante, não valia a pena disputar a audiência pela audiência. A grande maioria dos patrocinadores não tem interesse de ver o seu produto ligado a eventos considerados baixaria. O Aqui Agora, programa do Wilton Franco, liderou muitas tardes na Tupi, mas não tinha resultado financeiro, quem anunciava ali era remédio para calo e coisas do gênero. Capítulo 16 Novelas Made in Urca A novela está presente na vida do telespectador desde os primeiros anos de existência da televisão. Elas eram apresentadas somente duas vezes por semana e, mesmo assim, prendiam a atenção do público feminino. Chianca de Garcia e J. Silvestre foram os primeiros autores que se aventuraram no gênero ainda na Venezuela. Nos estúdios da Urca, Sessão das Cinco, Teatro do Lar Feliz e Teatro de Novelas Coty apresentaram diversas novelas em trinta capítulos, tendo à frente da empreitada a gaúcha Ilsa Silveira, escritora e diretora, que também fazia a direção de TV, cortando ao vivo cada capítulo. A capacidade de trabalho de Ilsa era impressionante. Trabalhava direto com dedicação total, pois além do horário da tarde realizava também outra novela no horário noturno, uma às segundas e quartas, e outra às terças e quintas-feiras. No numeroso elenco, que se dividia simultaneamente nos horários, estavam Ribeiro Fortes, Lourdes Mayer, Theresa Amayo, Ida Gomes, Dary Reis, Norma Blum, Milton Moraes, Miguel Rosemberg, Joméri Pozzoli, João Loredo, Simone de Moraes, Maria Pompeu, Kleber Macedo e Armando Nascimento, entre outros. Os casais protagonistas eram formados por duas duplas: Aracy Cardoso e Alberto Perez no horário vespertino e Yoná Magalhães e Paulo Porto no horário noturno. Aconteceu de algumas vezes haver uma troca de casais, assim como também Herval Rossano fazer par com Aracy ou Yoná, dependendo da escalação. A Canção de Aracy Cardoso Novelas religiosas mexiam com o coração católico da telespectadora da época, e todas as produzidas pontuaram audiência. O maior sucesso foi A Canção de Bernadette, de 1957, dirigida por Paulo Porto e inspirada na vida de Santa Bernadette Soubirous, religiosa francesa canonizada pela Igreja Católica. No papel principal, Aracy Cardoso se consagrou, quando já era a estrela de Sessão das Cinco. Na estória, depois de afirmar ter visto uma aparição da Nossa Senhora em uma gruta em Lourdes, Bernadette vira alvo de polêmica, com milagres e outras aparições da santa se sucedendo. Obrigada a se refugiar no hospital das irmãs de caridade, ela vai parar no tribunal eclesiástico, que investiga a veracidade de suas visões. A freira má interpretada brilhantemente por Ida Gomes marcou a atriz, assim como Norma Blum nas iluminadas visões de Nossa Senhora de Lourdes. Foi em A Canção de Bernadette que Zilka Salaberry estreou em novelas. Mas a interpretação convincente de Aracy Cardoso mobilizou a televisão daquele momento, como ela relembra: – Eu fiz boas personagens nessa época, como em Primavera, O Manto Sagrado e Antígona, mas Bernadette foi a que eu mais curti ter feito. O grande sucesso da novela deveu-se principalmente à Ilsa Silveira. Ela realizou tudo com tanto cuidado que resultou no maior sucesso do texto, e as atuações do elenco. Ganhei todos os prêmios de atriz do ano. Aracy Cardoso, na época casada com Ibañez Filho, não beijava em cena. Questionada sobre o primeiro beijo dado na televisão carioca, ela não tem ideia como aconteceu: – Eu não beijava, todo mundo me respeitava. Só uma vez, quando eu estava fazendo uma cena com o Oduvaldo Vianna Filho, ele me beijou no ar. Depois ele veio correndo se desculpar, porque no ensaio não teve beijo. Não sei quem deu o primeiro beijo, pode ter sido a Yoná, ela beijava. Maria Pompeu, a Miss Polly de Poliana O clássico romance da literatura infanto-juvenil Pollyanna, de Eleanor H. Porter, ganhou adaptação de Tatiana Belinky e Júlio Gouveia em 1956 na Tupi paulista. Dez anos depois virou novela na Urca com o título aportuguesado para Poliana, dirigida pela incansável Ilsa Silveira. A história da órfã de 11 anos que vai morar com a única parente viva, a severa Tia Polly, e vê otimismo em tudo o que acontece, foi muito bem recebida pelo público. Se estava chovendo, Poliana se saía assim: vamos dormir, porque amanhã virá o sol e as flores estarão mais bonitas porque foram regadas! Era por aí... Arquétipo do jogo do contente, a personagem ia desmontando a austeridade da tia e de todos que se cercavam dela. Tia Polly era Maria Pompeu em atuação muito elogiada, contracenando com Dinorah Marzullo, Kleber Macedo, Oswaldo Campozano, Castro Gonzaga e outros. Pompeu lembra o dinamismo de Ilsa Silveira: – Era impressionante a vitalidade da Ilsa. Ela fazia tudo muito bem, e estava sempre atrasada, correndo com scripts na mão, entrando e saindo. Nós ficávamos horas na mureta aguardando a sua chegada. De repente, ela que morava ali na Urca, lá vinha Ilsa atravessando a rua cheia de textos, e a gente cansada, falava: vamos ver qual vai ser a desculpa que ela vai arrumar dessa vez.... Hoje, um autor tem três coautores ajudando a escrever, e um diretor tem outros três para dirigir novelas, a Ilsa fazia tudo sozinha, ainda sentava no suíte e cortava a novela ao vivo. E Apareceu Aparecida Menezes O time de mulheres pioneiras que ficou à frente de produções para a televisão é reforçado com a presença de Aparecida Menezes, que também escrevia, dirigia e criava um sem-número de programas, incluindo peças e adaptações para os teleteatros,da casa. No livro Era Uma Vez...a Televisão, João Loredo destaca o trabalho demAparecida, com quem trabalhou em diversos programas. Diz Loredo: Aparecida Menezes surgiu em 1958 quando a TV Tupi estava na Urca; publicitária da McCann Ericsson, onde havia participado de um curso sobre televisão para funcionários ligados à comunicação, promovido pela agência, ela se destacou, e Almeida Castro, o diretor-geral da emissora, contratou a nova profissional. Ela colaborou nos teleteatros Câmera Um, O Grande Teatro, Teatro de Romance, Teatro de Comédias e em novelas. Vivendo atualmente em Angra dos Reis, ela recorda esse tempo: – Havia a Sessão das Cinco com novelas mensais de trinta capítulos, que eram escritas em rodízio por mim, Ilsa Silveira e Moysés Weltman. Ao mesmo tempo, eu escrevia para a Rádio Tupi. Hoje, pensando em tudo quanto escrevia, não sei como encontrava tempo para tanto. Era uma loucura, além de ficar o dia inteiro na emissora trabalhando, ainda escrevia em casa, à noite, madrugada adentro. Chegava a dormir três ou quatro horas somente. Bons tempos em que a juventude aguentava tudo, e o corpo não reclamava. Janete Clair Escreve O Acusador Nos anos 1960, já na era do teipe, Fábio Sabag dirigiu a novela O Acusador, escrita por Janete Clair. Na estória, Jardel Filho interpretava irmãos gêmeos que se confrontavam em dois temperamentos opostos: um bonzinho e o outro uma peste, mau-caráter, aprontador e arrogante. O ator brilhou e Sabag igualmente na direção, conseguindo efeitos surpreendentes quando os dois contracenavam. No elenco também Márcia de Windsor e Vera Gertel, a grande atriz do Teatro de Arena em sua única aparição na TV Novelas do Brasini Mário Brasini arregaçou as mangas, assumiu o Departamento de Teledramaturgia da Tupi em 1967, e engrenou três novelas: O Retrato de Laura, Enquanto Houver Estrelas e Um Gosto Amargo de Festa. Neila Tavares participou da primeira em papel menor, apesar de ser a mocinha, e estrelou a segunda, revelando-se no vídeo com a personagem Mirella: – Eu fazia o Conservatório de Teatro, hoje Uni-Rio, o curso de atores, quando ouvi falar que a Tupi formava elenco para uma nova novela. O diretor era Mário Brasini, velho profissional, que para fazer teatro de repertório, num tempo em que não se tinha mais de uma semana para ensaiar uma peça, havia inventado o ponto eletrônico, para auxiliar os atores no texto. Decidi procurar trabalho e me apresentei ao Brasini. Coincidentemente, com o elenco praticamente fechado, havia um único papel vago para O Retrato de Laura, estrelado por Diana Morel. Eu tinha o exato physique du rôle para o papel. Saí contratada. A novela estreou em 1968, eu era a mocinha, par romântico com Cláudio Cavalcanti. O Retrato de Laura agradou ao público e contou com elenco afiado: além de Neila e Cláudio, apareceram Elza Gomes, André Villon, Iracema de Alencar, Ítalo Rossi, Lourdes Mayer e Diana Morel protagonizando a novela com garra. Este razoável sucesso impulsionou Brasini para uma segunda novela: Enquanto Houver Estrelas, onde ele escrevia, dirigia e atuava, levando para a televisão o famoso personagem do velho italiano, que tanto sucesso fez no rádio em Boa Noite, Carmela, criação sua. Relembra Neila: – Eu tinha um papel bastante importante, que por eleição do público, acabaria crescendo e se tornando a principal personagem da estória. Menina criada como menino na sapataria do pai, cresce e se torna uma mulher. Novamente par romântico com Cláudio Cavalcanti. Enquanto Houver Estrelas foi uma novela muito carismática, atingiu grande número de espectadores, e Mirella centralizava o seu afeto. Ainda encontro hoje mulheres chamadas Mirella em homenagem à minha personagem. Mário Brasini era um excelente ator-diretor, tínhamos um bom jogo cênico e uma boa relação pessoal. Ele tinha orgulho de ter me lançado na TV, e eu o tinha como mestre, um pai espiritual que me ensinou os caminhos da televisão. A terceira novela, Um Gosto Amargo de Festa, foi escrita pelo ator Cláudio Cavalcanti, baseada em original de Henrique Jarnes, e marcou a estreia de Renata Sorrah na televisão, que contracenava com João Paulo Adour, Leila Santos, Carlos Vereza, Riva Blanche, Gracinda Freire, Antero de Oliveira, Camilla Amado e Rosita Thomas Lopes. E Nós, Aonde Vamos? A avaliação geral destas novelas foi tão boa que a Gessy-Lever resolveu investir nas novelas cariocas da Tupi. A essa altura do campeonato, a emissora importava de São Paulo suas novelas, muito melhor estruturada e já com tradição de qualidade que os paulistas imprimiam na teledramaturgia. Mas os boatos de uma nova novela carioca vingaram, só que Brasini e seu elenco dançaram. – Festejamos o boato num primeiro momento, lembra Neila, mas depois foi preocupante. Dizia-se que a empresa patrocinadora impunha mudanças radicais: um novo departamento e uma nova autora em substituição a Mário Brasini. Era a mexicana Glória Magadan que chegava à Tupi, depois de tantos sucessos capa-espada na Globo. Não sabíamos se teríamos continuidade ainda, lembro da Lourdes Mayer no Bar Canal 6, brincando com o título da nova novela: E Nós, Aonde Vamos? Fomos para a rua, desempregados todos. Glória Magadan estreou, e foi um fracasso, afundando de vez as novelas da Tupi do Rio. Dirigida por Sérgio Britto e com elenco encabeçado por Leila Diniz, no auge do sucesso no teatro de revista, em Tem Banana na Banda, quando também tinha dado a bombástica entrevista ao jornal O Pasquim, mas nada disso ajudou. E Nós, Aonde Vamos? simplesmente não foi. É Tempo de Viver Até 1972 a Tupi continuou passando com sucesso as novelas paulistas. Foi quando tentou-se mais uma investida nos estúdios da Urca com Tempo de Viver, escrita por Péricles Leal, que lançava sua mulher Tatiana Leal ao lado de elenco estelar: Reginaldo Farias, Adriana Prieto, Paulo César Peréio, Isabel Ribeiro, Joel Barcellos, Neila Tavares, Jece Valadão, Myrian Pérsia e outros. Inicialmente, a novela foi dirigida por Marlo Andreucci, que veio a falecer durante as gravações, sendo substituído por Jece Valadão. Com a proposta de fazer a novela mais próxima do cinema, não existiam cenas em estúdio, tudo era externa: apartamento no Arpoador, interior de boates e restaurantes, muita praia, muita paisagem, mas... nada funcionou. – Foi durante esta novela que conheci o Peréio, e nos casamos, diz Neila, mas a novela foi um caos, nada funcionava. O Jece Valadão fazia um vilão chamado Anjo, e o seu contrato era absurdo, inacreditável, no qual ele não podia morrer no curso ou no final da novela, não poderia ser punido, um horror. Quer dizer, um contrato que obrigava o autor a fazer do vilão um herói. Entre as principais personagens de Tempo de Viver, estava Isabel Ribeiro vivendo uma moça do subúrbio muito estranha, que sonhava ser modelo. Este foi seu terceiro trabalho na televisão. Atriz de teatro e cinema premiada que era, ela evitava o veículo. Mas a novela serviu para quebrar essa rejeição, o que mais tarde se confirmou com trabalhos memoráveis da atriz nas novelas da Globo. Na ocasião do lançamento de Tempo de Viver, Isabel declarou à revista Cartaz, da Rio Gráfica: – Eu sempre fui uma atriz muito para dentro, e trabalhava minhas personagens numa linha muito introvertida. Agora estou descobrindo que é importante a gente se relacionar com as pessoas. A TV é exatamente isso, ela atinge o grande público, é você dando o recado e se relacionando com uma multidão. Capítulo 17 Bar Canal 6 E onde é que esse povo todo se reunia? Claro que no Bar Canal 6, esquina da São Sebastião com a João Luiz Alves, na porta da Tupi, um autêntico botequim carioca, que além da cerveja e da caipirinha, servia um PF (prato feito) esperto, bom e barato, que matava a fome dos indígenas daquela gigantesca oca. De frente para a mureta, ele estava estrategicamente situado, tendo a bela vista da praia da Urca como fundo. O burburinho acontecia o dia todo, todo mundo apertado, fumando, falando alto e... bebendo, claro. Era muito assunto, muitas conversas, decisões, opiniões, entra e sai de artistas, técnicos e jornalistas, alguns atrasados, outros em pleno ócio, mesmo que não estivessem escalados para nada não deixavam de comparecer. Um clima de taberna pairava literalmente no ar. Tinha-se de falar alto porque as discussões eram superinflamadas, fosse por causa do atraso de pagamento, fosse por uma comemoração, era vivo, ou melhor: ao vivo! Entre os frequentadores assíduos, de épocas diversas, pode-se citar alguns nomes sem medo de errar, como Lourdes Mayer, Lúcio Alves, Corrêa de Araújo, Vianinha, Paulo Pontes, Edna Savaget, Maria da Glória, Adonis Karan, Erlon Chaves, Eduardo Sidney, Ricardo e Sérgio Kathar, os cantores Cyro Monteiro e Orlando Silva, Osmar Frazão e Nádia Maria, entre outros. O comentarista esportivo Mário Vianna praticamente morava na mureta, era fácil encontrá-lo dia e noite sentado, falando sobre futebol em alto e bom som, indo e vindo do bar, conversando com todo mundo. Edna Savaget escreveu em 1976 o livro Silêncio no Estúdio (Record Editora), onde o Bar Canal 6 é ponto de partida para seu desabafo amargo sobre “o árduo caminho que conduz à Luz, Câmera, Ação”, segundo o subtítulo da obra. Trocando alguns nomes, e mantendo outros, Edna misturou romance com reportagem, pitadas de novela e jornalismo denúncia, uma catarse hermética e bem escrita. Aliás, ela e Glorinha estavam lá diariamente antes ou depois de seus programas femininos, comendo siri e papeando. Era uma festa, chegava o Lúcio Alves, o Karan, o Erlon e o papo se estendia direto. Causos não faltavam, como o da Vera Fischer, do júri de Flávio Cavalcanti, procurando Erlon, e ele se escondendo no banheiro, se esgueirando, sabe-se lá por quê. Ou o Aérton Perlingeiro dando bronca no assistente Paulo Palace, que brincou com ele, desmunhecando como Mariza, que era o Mário Chaves seu funcionário. Foi lá que o elenco das novelas do Brasini – Lourdes Mayer, Neila Tavares, Cláudio Cavalcanti e Maggi Rodrigues – caiu na real ao saber que ia ficar desempregado por causa da chegada de Glória Magadan à emissora: E Nós, Aonde Vamos? Perguntavam-se. Os irmãos Kathar, Sérgio e Ricardo resolveram um dia comprar o bar, afinal, ali era o clube da Tupi, todos se confraternizavam e, também, algumas vezes, se desentendiam. Uns bebiam caipirinha e cerveja abertamente, outros malocavam uma birita numa garrafa de refrigerante para não dar bandeira, afinal, poderiam ser chamados a qualquer momento para alguma tarefa, ou mesmo para entrarem no ar. Às vezes entrava alguém fantasiado com roupa de personagem para um cafezinho rápido, uma risada e um alô, saindo em disparada de volta ao estúdio. Gargalhada geral. Nos fins de semana, o Bar Canal 6 fervia mais. Com praia cheia, era uma geleia geral de banhistas, artistas, autógrafos, paqueras e até histeria coletiva, afinal, cantores populares chegavam e saíam a toda hora para os programas de auditório. De repente surgia Jerry Adriani no bar, e era alvoroço, as macacas ficavam loucas. Na época do Telecentro, o Bar Canal 6 ficava aberto dia e noite, as gravações dos grandes shows varavam a madrugada e, para esperar, bailarinos, atores, vedetes e cantores iam para lá com roupa de cena, plumas, capas e cartolas, um footing feérico. Muitas estórias indiscretas são contadas sobre acontecimentos que animavam o ambiente, como brigas de namorados ou amantes, cadeiras voando, ou broncas escancaradas de diretores, mas isso... abafa o caso, só interessa para quem viveu o momento. Capítulo 18 Ascensão e Queda de um Império Nem tudo são flores, aliás nunca foi para a primeira emissora de televisão brasileira. Desde a inauguração, a Rede Tupi viveu turbulências em sua administração, que se multiplicaram depois do falecimento de Assis Chateaubriand, em 1968, quando o império de comunicação dos Diários e Emissoras Associadas começou a ruir. Salários atrasados, má administração e divergências entre os condôminos herdeiros ajudaram a fomentar o caos interno das empresas, esvaziando um poder conquistado com o sangue e a garra dos pioneiros, que implantaram em cada Estado, município, e nos mais distantes vilarejos o mais importante veículo de comunicação de massas surgido depois do rádio. E assim a Tupi foi cassada em 18 de julho de 1980 pelo governo militar, então no comando do Presidente João Figueiredo, o último dos militares no poder. Vigília Com a aproximação do prazo para o desligamento dos transmissores de toda a rede, o pânico tomou conta dos funcionários, artistas e técnicos, que se uniram numa vigília dramática iniciada no dia 17, e virando a madrugada até quase ao meio dia seguinte – o momento do desfecho. A agonizante Tupi espalhou sua dor para o público, e o povo foi para a Urca em peso, se aglomerando pelas dependências da estação e arredores, numa demonstração de apoio incondicional para que ela não fechasse as portas. Artistas da casa e de outras emissoras, cantores e jornalistas se juntaram atônitos e tristes. O grill, palco de tantos musicais realizados nos vinte e nove anos e dez meses de existência da Tupi, e mais tantos outros de espetaculares shows do Cassino da Urca, em sua forma arredondada, virou a taba da agonia, com o apresentador Jorge Perlingeiro ancorando a vigília, e abrindo microfone para o apelo derradeiro de todos os presentes. Estes momentos dramáticos estão postados em diversos vídeos no YouTube, onde aparecem Agnaldo Timóteo, Rosamaria Murtinho, Lourdes Mayer, Milton Gonçalves, Luíza Biá, Ângela Leal, Anselmo Mazzoni e Neila Tavares, entre outros, ao lado de câmeras, cenotécnicos, assistentes e demais funcionários que, por ironia, transmitiram seu próprio funeral. A contagem regressiva foi aproximando do momento final, e a barra foi ficando pesada na Urca. Com a emoção à flor da pele, muitos choravam, e não escondiam a revolta pelo fechamento. Descontrolados, os câmeras não conseguiam prosseguir, e as atrizes Neila Tavares e Ângela Leal manejaram as câmeras para que tudo fosse registrado. Neila lembra com clareza esses momentos em seu blog Geleia Geral (http://neilatavaresgeleiageral. blogspot.com): – Não foi pelas mãos dos credores que a TV Tupi foi fechada, mas por manobras da Ditadura, mais precisamente de Golbery. A TV Tupi acabou em 1980, sob o governo Figueiredo, que teve início em 1979, e que tinha, desde o governo anterior, Golbery como Chefe Civil da Presidência da República. Golbery era um mestre em manobras político-econômicas... Lembro-me que estava ao lado da Ângela Leal, as duas em silêncio. A ordem era recolher câmeras, fitas, tudo que fazia parte do patrimônio da Tupi numa de suas salas. Os cameramen decidiram que eles mesmo levariam as suas câmeras, suas ferramentas de trabalho, a este depósito, não permitindo que ninguém as tocasse. Nós duas olhávamos apenas, sem palavras, havia um burburinho à nossa volta. Eu vi Neizinho, antigo câmera conhecido por Câmera Um, apelido que recebeu por fazer o famoso programa dirigido por Jacy Campos... e Neizinho agora arrastava lentamente a câmera para o depósito, como se esta pesasse toneladas, quando passou e sobre ela se debruçou, chorando convulsivamente. Então, não sei quem falou primeiro, se Ângela Leal ou eu, mas uma de nós comentou: isso devia estar sendo gravado. No palco do grill, um Jorge Perlingeiro muito sério, como nunca tinha aparecido no vídeo, fazia os últimos apelos, cercado por faixas com os dizeres: Queremos trabalhar! Como recurso final, os funcionários pleiteavam a criação de uma cooperativa para assumir o comando da casa, mas não foram ouvidos. Fernando Chateaubriand, filho de Chateaubriand e o primeiro diretor da TV Tupi carioca, apareceu, foi ovacionado, e falou, se dirigindo ao Presidente Figueiredo em nome da amizade de seus pais. Encarando a câmera, Fernando pediu o cancelamento da cassação. Não adiantou. Minutos antes do meio-dia de 18 de julho de 1980, três engenheiros do Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel) retiraram o cristal dos transmissores, lacrando a Tupi. Pela ordem foram desligadas: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Porto Alegre, Fortaleza e Recife. O governo militar preferiu a cassação a entregar o canal a uma cooperativa de funcionários. A concessão da Tupi foi dividida entre os empresários Adolpho Bloch (TV Manchete) e Silvio Santos (TVS/SBT). Capítulo 19 Epílogo Eu não consigo localizar direito a força atávica que me une à TV Tupi. Nunca fui seu funcionário ou contratado, só trabalhei lá uma vez através do Prof. Gilson Amado, de quem fui assessor. Desconfio que existe um sentimento de admiração e identificação que vem lá do fundo da infância, quando aos seis anos surgiu à minha frente aquela tela mágica que me guiou, me entorpeceu e me seduziu. Este livro está sendo escrito há muitos anos na minha vida, agora eu sei. Tenho armazenadas significativas lembranças ligadas à televisão que estão sempre presentes, como flashes que espocam a toda hora, e parecem me dizer algo ligado ao imponderável. Nos últimos vinte anos, tentei criar um museu sobre a Tupi no prédio do Cassino da Urca – TV Tupi Ao Vivo, um Museu em Movimento – passei por diversos encontros, reuniões, fax, telefonemas e projetos escritos contatando secretários de cultura e pessoas influentes. Não rolou. Entre tantas tentativas, uma mais recente alcançou repercussão. Em 2004, cheguei ao vereador Alfredo Sirkis, então secretário municipal de Urbanismo do prefeito César Maia, ele estava projetando o Museu do Rio no prédio da Urca, que contaria a evolução urbana da cidade através dos bairros. Atendendo ao pedido de pioneiros como Mauricio Sherman e Neyde Aparecida, Sirkis se sensibilizou com a ideia de abrir um espaço para a realização do nosso museu. Mas no meio do caminho, o prefeito desistiu do Museu do Rio, e Sirkis não teve outra saída: engavetou o projeto. Na mesma época conheci o neto de Assis Chateaubriand e filho de Fernando, o psicólogo Phillippe Bandeira de Mello, que postou um vídeo no YouTube tentando desvendar os mistérios que deterioraram o patrimônio deixado por seu avô para vinte e dois condôminos, e querendo resgatar a identidade dos Diários e Emissoras Associadas. Resolvemos engrossar fileiras e fazer um novo vídeo, reforçando a ideia do museu da Tupi. Uniu-se a nós o fotógrafo e cineasta Luiz Carlos Saldanha e, assim, rodamos o vídeo de nove minutos numa tarde chuvosa na praia da Urca, com a participação de Sirkis contando pela primeira vez todo o imbróglio por que passou. O vídeo Museu da TV Tupi é atualmente um dos mais acessados no YouTube. Apesar disso as questões colocadas por Phillippe não tiveram respostas, nem mesmo um aceno qualquer surgiu para que pudéssemos instalar o museu lá. Atualmente, a Amour (Associação dos Moradores da Urca) move uma ação cível pública contra a Prefeitura e o IED (Instituto de Design Italiano), questionando a cessão do espaço por vinte e cinco anos. A verdade é que o prédio do Cassino da Urca/TV Tupi está encantado. Desde o fechamento da emissora em 1980 o gigante está adormecido. Trata-se de um edifício histórico que merece não ser descaracterizado. Nem seus fantasmas concordam com isso... Acredito que é hora de justiçar a trajetória da primeira emissora de televisão do Rio de Janeiro, é uma história inédita, abafada e esquecida. Este livro propõe ser um recorte que resgata a identidade Tupi impressa na própria história da televisão tão diluída e mal contada. Cada momento do livro foi um quebra-cabeça que foi sendo montado, tudo artesanalmente como a própria Tupi, movido a generosas colaborações e mexidas nos baús. Muito pouco do conteúdo do livro originou de documentos ou registros publicados, tudo foi pinçado, pescado e refletido, deve ser porque o essencial está mesmo escrito nas estrelas... Capítulo 20 Broadcasting – 1951/1980 N ó s E s t a m o s A q u i! Abelardo Barbosa (Chacrinha) – apresentador, produtor Adonis Karan – produtor Aérton Perlingeiro – apresentador, produtor Afonso Brandão – escritor A. G. Mello Jr. – escritor Alcino Diniz – diretor, produtor Aldo Cesar – ator Aldo de Maio – ator Aldo Viana – escritor, narrador esportivo Altivo Diniz – comediante Aimée – atriz Alair Nazareth – atriz Alberto Perez – ator, produtor Alfredo Murphy – ator Almeida Castro – diretor, apresentador, supervisor Al Neto – comentarista, produtor Ana Maria Sagres – atriz Angela Bonatti – atriz Ângela Maria – cantora, apresentadora Angelita Martinez – vedete Annik Malvil – apresentadora Antônio Andrade – ator, apresentador Antônio Carlos – comediante Antônio Ganzarolli – ator Antônio Lara – ator Aparecida Menezes – escritora Apolo Correia – comediante Aracy Cardoso – atriz Aracy Rosas – apresentadora Ary Leite – comediante, escritor Arlete Salles – atriz, apresentadora Artur Farias – diretor, produtor Armando Couto – ator, diretor, produtor Armando Nascimento – ator Arnaldo Nogueira – apresentador, produtor Aziza Perlingeiro – apresentadora, produtora Betty Faria – atriz, apresentadora Bibi Ferreira – atriz, apresentadora Blanche Murr – coreógrafa Blota Júnior – apresentador Bruno Netto – ator, produtor, redator Carequinha – palhaço Carla Miranda – atriz, vedete Carlos Alberto – ator Carlos Alberto dos Santos – ator, diretor Carlos Alberto Loffler – diretor, produtor Carlos Duval – ator Carlos Frias – apresentador Carlos Henrique – apresentador Carlos Imperial – apresentador, produtor Carlos Lage – diretor, produtor Carlos Koppa – ator Cláudio Cavalcanti – ator Celeste Farr – atriz Célia Azevedo – atriz Cidinha Campos – apresentadora, produtora Cyll Farney – ator Collid Filho – apresentador Costinha – comediante Daniel Filho – ator, diretor Dary Reis – ator David Nasser – repórter, redator, produtor Dedé Santana – comediante Delly Azevedo – atriz Denise Rocha de Almeida – apresentadora, entrevistadora Dilma Lóes – atriz Dinorah Marzullo – atriz Dirceu Camargo – câmera, coordenador de operações, diretor Dircinha Baptista – cantora, entrevistadora Dóris Monteiro – cantora, apresentadora Edson Silva – ator Edna Savaget – apresentadora, produtora Eva Todor – atriz Eva Wilma – atriz Eliana Pitman – cantora, apresentadora Eduardo Sidney – diretor, produtor Ema D’Ávila – comediante Esmeralda Barros – atriz Fábio Sabag – ator, diretor, produtor Fernanda Montenegro – atriz Fernando Amaral – diretor Fernando Torres – ator, diretor Fernando Barbosa Lima – diretor, produtor Fininho – ator Flávio Cavalcanti – apresentador, produtor Flávio Cavalcanti Jr. – produtor Flávio Rangel – diretor Fred Villar – ator Fregolente – ator Germano – comediante Gérson Alvim – produtor Gilda Muller – apresentadora, produtora Ghiaroni – escritor, produtor Gilberto Martinho – ator Gilson Amado – apresentador, produtor Gladys – apresentadora Gontijo Theodoro – apresentador, noticiarista Haydée Miranda – atriz, garota-propaganda e apresentadora Haroldo Barbosa – escritor, produtor Hélio De Souza – assistente de estúdio, produtor Heloísa Helena – atriz, apresentadora Hilário Marcelino – jornalismo esportivo Hilton Gomes – repórter, apresentador Ibanez Filho – ator, diretor Ida Gomes – atriz Ilsa Silveira – produtora, escritora Ilsa Lobo – garota-propaganda Ilka Soares – garota-propaganda Iris Bruzzi – atriz Isabel Ribeiro – atriz Isabel Teresa – atriz Isolda Cresta – atriz Ítalo Rossi – ator Jayme Barcellos – ator Jayme Costa – ator Jacy Campos – apresentador, diretor, produtor Jerry Adriani – cantor, apresentador João Carlos Barroso – ator João Loredo – ator, escritor, diretor, produtor John Herbert – ator Jomery Pozolly – ator Jorge Bernardo (Pavão) – diretor Jorge Perlingeiro – apresentador, produtor José Bonifácio de Oliveira (Boni) – diretor José Maria Scassa – comentarista esportivo José Rios – diretor Jurema Magalhães – atriz Léa Penteado – assessora, produtora Leila Diniz – atriz Leila Santos – atriz Lia Mara – atriz, vedete Lídia Mattos - atriz, apresentadora Lygia Nunes – atriz Ligia Rinelli – atriz, vedete Lourdes Mayer – atriz, apresentadora Lúcia Lambertini – atriz Lúcio Alves – cantor, produtor Lúcio Mauro – comediante Luis Carlos Moraes – ator Luíza Biá – produtora Maggi Rodrigues – atriz Maninha de Castro – garota-propaganda Manoel da Nóbrega – apresentador, produtor Manon Kroff – atriz, vedete Márcia de Windsor – atriz, apresentadora, jurada Mara Rúbia – apresentadora, vedete, atriz Margot Morel – atriz, vedete Maria da Glória – atriz, apresentadora, produtora Maria Pompeu – atriz Mário Brasini – ator, diretor, escritor Mário Petraglia – ator Mário Provenzano – diretor, produtor Mário Tupinambá – comediante Marivalda – atriz, vedete Marise – garota-propaganda Marly Bueno – apresentadora, garota-propaganda Marlo Andreucci – diretor Marília Pêra – atriz, apresentadora Matinhos – comediante Mauricio Sherman – ator, diretor, produtor Mauro Montalvão – apresentador, produtor Max Nunes – escritor, produtor Meira Guimarães – escritor, produtor Meio Quilo – palhaço Milton Luiz – ator, assistente Milton Morais – ator Myriam Pérsia – atriz, apresentadora Moacir Masson – câmera Moacyr Deriquém – ator, assistente, produtor Moacyr Franco – comediante, apresentador Murilo Nery – apresentador Nádia Maria – comediante Nair Amorim – atriz, garota-propaganda Nancy Montez – vedete, rumbeira Nathalia Timberg – atriz Neila Tavares – atriz, apresentadora Neyde Aparecida – garota-propaganda, atriz, apresentadora Nina Rosa – apresentadora Norma Blum – apresentadora, atriz Noira Mello – garota-propaganda, atriz Oduvaldo Cozzi – locutor e comentarista esportivo Oduvaldo Vianna Filho – ator, escritor, diretor Orlandivo – cantor, produtor musical Orlando Drummond – comediante Oscar Felipe – ator Oscar Polidoro – apresentador Oscarito – ator Osmar Frazão – ator Osvaldo Loureiro – ator, apresentador Oswaldo Leonardo – operador técnico Otávio França – comediante Paulo Maurício – ator Paulo Monte – ator, apresentador Paulo Padilha – ator Paulo Pontes – diretor Paulo Porto – ator Paulete Silva – atriz, vedete Péricles Leal – escritor, diretor Pery Ribeiro – câmera, cantor Pocci Grey – atriz, vedete Procópio Ferreira – apresentador Renata Fronzi – atriz Renato Aragão – comediante Renato Restier – ator Ribeiro Fortes – ator Ricardo Kathar – diretor Riva Blanche – atriz, apresentadora Roberto de Cleto – ator Roberto Duval – ator Roberto Guilherme – ator Roberto Roney – comediante Roberto Silveira – escritor Ronald Golias – comediante Rosemary – cantora, apresentadora Ruy Porto – comentarista esportivo e apresentador Ruy Viotti – diretor e comentarista esportivo Salúquia Rentini – comediante Samuel Rozemberg – produtor Sandra Menezes – atriz Selma Lopes – atriz Sérgio Kathar – diretor Sérgio Murillo – cantor, apresentador Sílvia Autuori – apresentadora Sylvia (Sylvinha) Telles – cantora, atriz, garota-popaganda Sônia Delfino – cantora, apresentadora Sônia Ketter – garota–propaganda Sônia Lancelotti – atriz Souza Lima – ator Suely Franco – atriz Taiguara – cantor, apresentador Tania Scher – atriz, apresentadora Tatiana Leal – atriz Telma Elita – atriz Teresa Rachel – atriz Theresa Amayo – atriz Tia Amélia – pianista, apresentadora Urbano Lóes – apresentador, produtor Virgínia Lane – apresentadora, vedete Yoná Magalhães – atriz Walter Campos – câmera, ator, diretor Wanderley Cardoso – cantor, apresentador Wellington Botelho – comediante Wilton Franco – apresentador, produtor Zélia Hoffman – atriz, apresentadora Zezé Macedo – secretária, atriz Zilka Salaberry – atriz Zumbi – palhaço Agradecimentos Alda Bagno, Alexandre Martinho, Anna Margarida, André Ruffier, Bruno Riodi, Carlos Alberto Vizeu, Célia Borzino, Cláudia Fialho, Cláudio de Oliveira, Cláudio Erlichman, Clayton Policarpo e equipe da Via Impressa Design Gráfico, Christovam Chevalier, Cristina Brandão, Dilma Lóes, Dirceu Camargo, Emiliano Queiroz, Eva Todor, Henrique Ferreira, Hildegard Angel, Hubert Alquéres, Jomir, Léa Penteado, Luíza Biá, Marcelo Del Cima, Márcia Cláudia (Cedoc-Funarte), Martha Bruno, Nelson Hoineff, Norma Blum, Paulo Marcelo Lima e Silva, Rubens Ewald Filho, Sérgio Fonta, Sheila Gonçalves, Scyla Tavela Ramos, Theresa Amayo, Victor Berbara, Yoná Magalhães, Zilah Constante Ramos Entrevistados Adonis Karan, Almeida Castro, Aparecida Menezes, Aracy Cardoso, Bibi Ferreira, Dóris Monteiro, Fernanda Montenegro, Flávio Cavalcanti Jr., João Loredo, José Bonifácio de Oliveira, Lídia Mattos, Maria da Glória, Maria Pompeu, Mauricio Sherman, Neila Tavares, Neyde Aparecida, Osmar Frazão, Ricardo Kathar e Sérgio Britto Créditos das Fotografias Acervos de: A Cigarra 12 Damásio 155 Dóris Monteiro 159, 161 Fábio Sabag 57, 69 Flávio Cavalcanti Jr. 176, 179 Isabel Ribeiro 205 João Loredo 40, 92, 111 Jomeri Pozzoli 168 Jornal da Moças 22,24,27,28,34,96 Maria da Glória 48, 156, 209 Nelson Hoineff 43, 44, 45 Neyde Aparecida 33, 51 O Cruzeiro 18, 101, 133, 149, 188 Paulo Macedo 50, 194, 214 Radiolândia 144 Revista Cartaz 203 Revista do Rádio 95, 107, 187 Sérgio Britto 59, 141, 142 Waldyr de Souza 105 Paulo Marcelo 20, 21, 37, 214 Thiago Lacerda 146 Coleção Aplauso SÉRIE CINEMA BRASIL Alain Fresnot – Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot Ana Carolina – Ana Carolina Teixeira Soares – Cineasta Brasileira Evaldo Morcazel Antes Que o Mundo Acabe Roteiro de Ana Luiza Azevedo Agostinho Martins Pereira – Um Idealista Máximo Barro Alfredo Sternheim – Um Insólito Destino Alfredo Sternheim O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias Roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger Anselmo Duarte – O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Antonio Carlos da Fontoura – Espelho da Alma Rodrigo Murat Ary Fernandes – Sua Fascinante História Antônio Leão da Silva Neto O Bandido da Luz Vermelha Roteiro de Rogério Sganzerla Batismo de Sangue Roteiro de Dani Patarra e Helvécio Ratton Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak – Fragmentos de uma vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra – Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person O Céu de Suely Roteiro de Karim Aïnouz, Felipe Bragança e Maurício Zacharias Chega de Saudade Roteiro de Luiz Bolognesi Cidade dos Homens Roteiro de Elena Soárez Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero O Contador de Histórias Roteiro de Luiz Villaça, Mariana Veríssimo, Maurício Arruda e José Roberto Torero Críticas de B.J. Duarte – Paixão, Polêmica e Generosidade Luiz Antonio Souza Lima de Macedo Críticas de Edmar Pereira – Razão e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas de Inácio Araújo – Cinema De Boca Em Boca: Escritos Sobre Cinema Juliano Tosi Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda Leão Críticas de Ruben Biáfora – A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista – Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Os 12 Trabalhos Roteiro de Cláudio Yosida e Ricardo Elias É Proibido Fumar Roteiro de Anna Muylaert Estômago Roteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade Feliz Ano Velho Roteiro de Roberto Gervitz Feliz Natal Roteiro de Selton Mello e Marcelo Vindicatto Fernando Meirelles – Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano Fim da Linha Roteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Storyboards de Fábio Moon e Gabriel Bá Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Francisco Ramalho Jr. – Éramos Apenas Paulistas Celso Sabadin Geraldo Moraes – O Cineasta do Interior Klecius Henrique Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta Cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton – O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito Ivan Cardoso – O Mestre do Terrir Remier Jeremias Moreira – O Cinema Como Ofício Celso Sabadin João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jogo Subterrâneo Roteiro de Roberto Gervitz Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Antonio Garcia – Em Busca da Alma Feminina Marcel Nadale José Carlos Burle – Drama na Chanchada Máximo Barro Leila Diniz Roteiro de Luiz Carlos Lacerda Liberdade de Imprensa – O Cinema de Intervenção Renata Fortes e João Batista de Andrade Luiz Carlos Lacerda – Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla – A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Mauro Alice – Um Operário do Filme Sheila Schvarzman Máximo Barro – Talento e Altruísmo Alfredo Sternheim Miguel Borges – Um Lobisomem Sai da Sombra Antônio Leão da Silva Neto Não por Acaso Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Narradores de Javé Roteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu Ninho Moraes – Radiografia De Um Filme: São Paulo Sociedade Anônima Onde Andará Dulce Veiga Roteiro de Guilherme de Almeida Prado Orlando Senna – O Homem da Montanha Hermes Leal Pedro Jorge de Castro – O Calor da Tela Rogério Menezes Quanto Vale ou É por Quilo Roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi Ricardo Pinto e Silva – Rir ou Chorar Rodrigo Capella Roberto Gervitz – Brincando de Deus Evaldo Mocarzel Rodolfo Nanni – Um Realizador Persistente Neusa Barbosa Salve Geral Roteiro de Sergio Rezende e Patrícia Andrade O Signo da Cidade Roteiro de Bruna Lombardi Ozualdo Candeias – Pedras e Sonhos no Cineboca Moura Reis Ugo Giorgetti – O Sonho Intacto Rosane Pavam Viva-Voz Roteiro de Márcio Alemão Vladimir Carvalho – Pedras na Lua e Pelejas no Planalto Carlos Alberto Mattos Vlado – 30 Anos Depois Roteiro de João Batista de Andrade Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende SÉRIE CINEMA Bastidores – Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Série Ciência & Tecnologia Cinema Digital – Um Novo Começo? Luiz Gonzaga Assis de Luca A Hora do Cinema Digital – Democratização e Globalização do Audiovisual Luiz Gonzaga Assis De Luca SÉRIE CRôNICAS Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças Maria Lúcia Dahl SÉRIE DANçA Luis Arrieta – Poeta do Movimento Roberto Pereira Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo – Dança Universal Sérgio Rodrigo Reis SÉRIE MúSICA Claudette Soares – A Bossa Sexy e Romântica de Claudette Soares Rodrigo Faour Diogo Pacheco – Um Maestro Para Todos Alfredo Sternheim Rogério Duprat – Ecletismo Musical Máximo Barro Sérgio Ricardo – Canto Vadio Eliana Pace Toquinho – Acorde Solto no Ar João Carlos Pecci Wagner Tiso – Som, Imagem, Ação Beatriz Coelho Silva SÉRIE TEATRO BRASIL Alcides Nogueira – Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta – Circo e Poesia Danielle Pimenta Antonio Bivar – O Explorador De Sensações Peregrinas Maria Lucia Dahl A Carroça dos Sonhos e Os Últimos Saltimbancos Roberto Nogueira Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Jefferson Del Rios – Volume II – Crítica Teatral Críticas de Jefferson Del Rios – Volume I – Crítica Teatral Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior Federico Garcia Lorca – Pequeno Poema Infinito Antonio Gilberto e José Mauro Brant Ilo Krugli – Poesia Rasgada Ieda de Abreu João Bethencourt – O Locatário da Comédia Rodrigo Murat José Renato – Energia Eterna Hersch Basbaum Leilah Assumpção – A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu – Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau – Artista Múltiplo Leila Corrêa Renata Palottini – Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Abílio Pereira de Almeida Abílio Pereira de Almeida O Teatro de Alberto Guzik Alberto Guzik O Teatro de Antonio Rocco Antonio Rocco O Teatro de Cordel de Chico de Assis Chico de Assis O Teatro de Emílio Boechat Emílio Boechat O Teatro de Germano Pereira – Reescrevendo Clássicos Germano Pereira O Teatro de José Saffioti Filho José Saffioti Filho O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo 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Antônio Petrin – Ser Ator Orlando Margarido Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Arllete Montenegro – Fé, Amor e Emoção Alfredo Sternheim Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros Rogério Menezes Aurora Duarte – Faca de Ponta Aurora Duarte Berta Zemel – A Alma das Pedras Rodrigo Antunes Corrêa Bete Mendes – O Cão e a Rosa Rogério Menezes Betty Faria – Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati – Luz Natural Carlos Alberto Mattos Carmem Verônica – O Riso Com Glamour Claudio Fragata Cecil Thiré – Mestre do seu Ofício Tania Carvalho Celso Nunes – Sem Amarras Eliana Rocha Cleyde Yaconis – Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso – Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Débora Duarte – Filha da Televisão Laura Malin Denise Del Vecchio – Memórias da Lua Tuna Dwek Dionísio Azevedo e Flora Geni – Dionísio e Flora: Uma Vida na Arte Dionísio Jacob Ednei Giovenazzi – Dono da Sua Emoção Tania Carvalho Elisabeth Hartmann – A Sarah dos Pampas Reinaldo Braga Emiliano Queiroz – Na 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Fragata José Dumont – Do Cordel às Telas Klecius Henrique Laura Cardoso – Contadora de Histórias Julia Laks Leonardo Villar – Garra e Paixão Nydia Licia Lília Cabral – Descobrindo Lília Cabral Analu Ribeiro Lolita Rodrigues – De Carne e Osso Eliana Castro Louise Cardoso – A Mulher do Barbosa Vilmar Ledesma Marcos Caruso – Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral – A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado – A Estrela, O Mistério Luiz Carlos Lisboa Marlene França – Do Sertão da Bahia ao Clã Matarazzo Maria Do Rosário Caetano Mauro Mendonça – Em Busca da Perfeição Renato Sérgio Miguel Magno – O Pregador De Peças Andréa Bassitt Miriam Mehler – Sensibilidade e Paixão Vilmar Ledesma Naum Alves de Souza: Imagem, Cena, Palavra Alberto Guzik Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em Família Elaine Guerrini Nívea Maria – Uma Atriz Real Mauro Alencar e Eliana Pace Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Norma Blum – Muitas Vidas: Vida e Carreira de Norma Blum Norma Blum Paulo Betti – Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José – Memórias Substantivas Tania Carvalho Pedro Paulo Rangel – O Samba e o Fado Tania Carvalho Regina Braga – Talento é um Aprendizado Marta Góes Reginaldo Faria – O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi – Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Borghi – Borghi em Revista Élcio Nogueira Seixas Renato Consorte – Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin – Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho – Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza – Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst – Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti – O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silnei Siqueira – A Palavra em Cena Ieda de Abreu Silvio de Abreu – Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Sônia Guedes – Chá das Cinco Adélia Nicolete Sonia Maria Dorce – A Queridinha do meu Bairro Sonia Maria Dorce Armonia Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodriguiana? Maria Thereza Vargas Stênio Garcia – Força da Natureza Wagner Assis Suely Franco – A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tania Alves – Tânia Maria Bonita Alves Fernando Cardoso Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio Roveri Theresa Amayo – Ficção e Realidade Theresa Amayo Tonico Pereira – Um Ator Improvável, Uma Autobiografia Não Autorizada Eliana Bueno Tony Ramos – No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Umberto Magnani – Um Rio de Memórias Adélia Nicolete Vera Holtz – O Gosto da Vera Analu Ribeiro Vera Nunes – Raro Talento Eliana Pace Walderez de Barros – Voz e Silêncios Rogério Menezes Walter George Durst – Doce Guerreiro Nilu Lebert Zezé Motta – Muito Prazer Rodrigo Murat ESPECIAL Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso Wagner de Assis Av. Paulista, 900 – a História da TV Gazeta Elmo Francfort Beatriz Segall – Além das Aparências Nilu Lebert Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Charles Möeller e Claudio Botelho – Os Reis dos Musicais Tania Carvalho Cinema da Boca – Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dicionário de Astros e Estrelas Do Cinema Brasileiro Antonio Leão Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor – O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma – Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Gloria in Excelsior – TV Excelcior 2ª Edição Álvaro de Moya As Grandes Vedetes do Brasil Neyde Veneziano Ítalo Rossi – Isso É Tudo Antônio Gilberto e Ester Jablonski Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Lilian Lemmertz – Sem Rede de Proteção Cleodon Coelho Marcos Flaksman – Universos Paralelos Wagner de Assis Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Mazzaropi – Uma Antologia de Risos Paulo Duarte Ney Latorraca – Uma Celebração Tania Carvalho Odorico Paraguaçu: O Bem-amado de Dias Gomes – História de um personagem larapista e maquiavelento José Dias Raul Cortez – Sem Medo de se Expor Nydia Licia Rede Manchete – Aconteceu, Virou História Elmo Francfort Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte Nydia Licia Tônia Carrero – Movida pela Paixão Tania Carvalho TV Tupi – Uma Linda História de Amor Vida Alves Victor Berbara – O Homem das Mil Faces Tania Carvalho Walmor Chagas – Ensaio Aberto para Um Homem Indignado Djalma Limongi Batista Imprensa Oficial do Estado de São Paulo diretor-presidente Hubert Alquéres diretor industrial Teiji Tomioka diretor financeiro Flávio Capello diretora de gestão de negócios Lucia Maria Dal Medico gerente de produtos editoriais e institucionais Vera Lúcia Wey Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Silva, Luís Sérgio Lima e Tupi do Rio de Janeiro : uma viagem afetiva / Luís Sérgio Lima e Silva – São Paulo : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010 240p. : il. – (Coleção aplauso. Série especial / Coordenador geral Rubens Ewald Filho) ISBN: 978.85.7060-970-0 1. TV Tupi – Rio de Janeiro - História 2. Televisão – Brasil – História I. Ewald Filho, Rubens. II. Título. III. Série. CDD 791.450 981 Índice para catálogo sistemático: 1. Televisão brasileira : História 791.450 981 Impresso no Brasil / 2010 Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional [Lei no 10.994, de 14/12/2004] Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98 Proibida a reprodução total ou parcial sem a prévia autorização dos editores. Imprensa Oficial do Estado de Sao Paulo Rua da Mooca, 1.921 Mooca 03103-902 Sao Paulo SP Brasil sac 0800 01234 01 sac@imprensaoficial.com.br livros@imprensaoficial.com.br www.imprensaoficial.com.br Nesta edição, respeitou-se o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa