a bossa sexy e romântica de Claudette Soares RODRIGO FAOUR GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Governador Alberto Goldman Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho No passado está a história do futuro A Imprensa Oficial muito tem contribuído com a sociedade no papel que lhe cabe: a democratização de conhecimento por meio da leitura. A Coleção Aplauso, lançada em 2004, é um exemplo bem-sucedido desse intento. Os temas nela abordados, como biografias de atores, diretores e dramaturgos, são garantia de que um fragmento da memória cultural do país será preservado. Por meio de conversas informais com jornalistas, a história dos artistas é transcrita em primeira pessoa, o que confere grande fluidez ao texto, conquistando mais e mais leitores. Assim, muitas dessas figuras que tiveram importância fundamental para as artes cênicas brasileiras têm sido resgatadas do esquecimento. Mesmo o nome daqueles que já partiram são frequentemente evocados pela voz de seus companheiros de palco ou de seus biógrafos. Ou seja, nessas histórias que se cruzam, verdadeiros mitos são redescobertos e imortalizados. E não só o público tem reconhecido a importância e a qualidade da Aplauso. Em 2008, a Coleção foi laureada com o mais importante prêmio da área editorial do Brasil: o Jabuti. Concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a edição especial sobre Raul Cortez ganhou na categoria biografia. Mas o que começou modestamente tomou vulto e novos temas passaram a integrar a Coleção ao longo desses anos. Hoje, a Aplauso inclui inúmeros outros temas correlatos como a história das pioneiras TVs brasileiras, companhias de dança, roteiros de filmes, peças de teatro e uma parte dedicada à música, com biografias de compositores, cantores, maestros, etc. Para o final deste ano de 2010, está previsto o lançamento de 80 títulos, que se juntarão aos 220 já lançados até aqui. Destes, a maioria foi disponibilizada em acervo digital que pode ser acessado pela internet gratuitamente. Sem dúvida, essa ação constitui grande passo para difusão da nossa cultura entre estudantes, pesquisadores e leitores simplesmente interessados nas histórias. Com tudo isso, a Coleção Aplauso passa a fazer parte ela própria de uma história na qual personagens ficcionais se misturam à daqueles que os criaram, e que por sua vez compõe algumas páginas de outra muito maior: a história do Brasil. Boa leitura. Alberto Goldman Governador do Estado de São Paulo Coleção Aplauso O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, visa resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cinema, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de maneira singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor. Um aspecto importante da Coleção é que os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo e biografado se colocaram em reflexões que se estenderam sobre a formação intelectual e ideológica do artista, contextualizada na história brasileira. São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos exploram o universo íntimo e psicológico do artista, revelando as circunstâncias que o conduziram à arte, como se abrigasse em si mesmo desde sempre, a complexidade dos personagens. São livros que, além de atrair o grande público, interessarão igualmente aos estudiosos das artes cênicas, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Foram abordadas a construção dos personagens, a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns deles. Também foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso e merece ser destacado, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sortilégios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais que neste universo transitam, transmutam e vivem também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de todo o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Sumário Introdução 14 A cantora mirim 19 A Princesinha do Baião 34 Os primeiros discos 46 Garota Biruta e Sapeca 48 Cegueira 56 Os primórdios da bossa nova 62 Virada à paulista 71 A briga com Isaurinha Garcia 80 O encontro com César Camargo Mariano 86 A primavera no Juão Sebastião Bar 90 Primeiro tempo: 5x0 102 Loura na TV Record 117 Os festivais da canção. Elis & outras bossas 121 A bossa sexy 126 Fica combinado assim 145 De tanto amor 152 Um casamento de parar o trânsito 159 A bossa sóbria e romântica 170 O reencontro com Isaura e o fantasma de Walter Wanderley 182 O fim do casamento 185 A volta triunfal 190 Novas conquistas 206 Balanço Atual 210 Depoimentos 217 Discografia 230 Créditos das fotografias 271 Introdução Assim como um grande filme não é feito apenas com protagonistas e grandes estrelas, a música brasileira também tem seus coadjuvantes de luxo. Artistas que, mesmo sem estarem toda hora em evidência liderando movimentos, polemizando aqui e ali ou vendendo milhões de discos, participam de seus momentos mais importantes, de vez em quando tendo a sorte de conseguir um papel ou outro de maior destaque, mas o tempo todo colaborando incansavelmente para a harmonia do conjunto. Claudette Soares é uma dessas figuras. Ela não pode ter seu nome esquecido ou apagado da história da MPB por pelo menos três motivos. Esteve no epicentro de três grandes momentos de nosso cancioneiro: no auge do baião, entre o final dos anos 1940 e o começo dos 50; no surgimento e na fixação da bossa nova, entre 1958 e 1965, e na era dos festivais, na segunda metade dos anos 1960. Gravou com ícones do instrumental brasileiro, tendo tido a honra de lançar (ou ajudar a lançar) alguns de nossos mais expressivos músicos, bem como alguns de nossos maiores compositores e, como se não bastasse, vários clássicos da moderna música brasileira. De quebra, inundou de ritmo e glamour nosso cancioneiro com suas interpretações sempre muito sussurradas, ora deslavadamente românticas ora bastante maliciosas. E dentre as intérpretes femininas da bossa nova, foi sem dúvida a voz mais sexy. completar foto acima completar foto acima A cantora mirim Claudette Soares nasceu em Laranjeiras, zona sul carioca, dia 31 de outubro de 1935. Era uma família de posses modestas, mas nunca lhe faltou nada. Morou em vários bairros entre a infância e a adolescência até adotar a glamourosa Copacabana dos anos dourados como seu habitat, isso já no final da década de 50 um ambiente que combinava perfeitamente com seu estilo sexy e despojado, uma figura mignon que chega a 1m50 de salto alto, como ela faz questão de frisar. Nesse período, trazia sempre a tiracolo a mãe, o pai e a avó. Os dois últimos a incentivaram desde pequena a seguir a carreira artística. Muito curioso este fato, pois nos anos 40 e 50 ter um filho artista não era exatamente o sonho dourado que um pai de família acalentasse, quanto mais uma filha mulher. O pai de Claudette, por exemplo, tanto gostava do meio artístico que lhe batizou com o mesmo nome de uma atriz francesa que ele adorava, Claudette Colbert (1903-1996). Muito famosa em seu tempo, fez carreira em Nova York, atuando na Broadway na década de 20 e, depois dos anos 30, revelou-se uma grande atriz de cinema da chamada screwball comedy (comédia excêntrica), tendo sido premiada com o Oscar por seu desempenho em Aconteceu naquela noite (It happened one night). E esta premiação se deu justamente em 1934, um ano antes do nascimento da nossa cantora. Como quase sempre ocorre no Brasil, o escrivão do cartório que a registrou, não entendeu o sobrenome francês, e a batizou de Claudette Cloubert . E assim ficou. Essa veia artística de Claudette tem alicerces sólidos em sua família. Seu pai, Durval Martins Soares, era comerciante (no ramo da tinturaria), mas adorava pintar, desenhar, criar esculturas, além de dar aulas de dança na famosa gafieira Estudantina, na Praça Tiradentes. Chegou mesmo a ser premiado de tão bem que dançava. E a mãe, Dejanira Maria Soares, embora fosse dona de casa, gostava de cantar e tinha a voz muito parecida com a dela, além de ter seguido uma breve carreira de atriz antes do matrimônio. É bem verdade que a mãe a princípio não via com bons olhos esta carreira para sua filha, mas isso de nada adiantou. Seu talento era inato. Dona Dejanira gostava mesmo era de crianças. Tanto que, depois que a filha saiu da adolescência, chegou a pegar filhos de outras pessoas para criar e depois de crescidinhos devolvia-os aos pais naturais. Ainda na família, havia um tio seu Antenor que cantava muito bem, na linha de Orlando Silva. Tudo isto influenciou Claudette a querer ser cantora, desde que se entende por gente. E se orgulha até hoje de não ter tido nenhuma outra profissão na vida. Sempre se manteve assim, cantando. Claudette passou boa parte da infância subindo e descendo os paralelepípedos da rua Cândido Mendes, no bairro da Glória, primeiro da zona sul do Rio, a partir do Centro. Estudou na Escola Deodoro, e depois no Educandário Ruy Barbosa, no Largo do Machado. Morou ainda ali pertinho, em Santa Teresa, e em vários bairros da Zona Norte e do subúbrio, como Tijuca, Grajaú e Bonsucesso. Curiosamente, uma de suas amigas mais queridas de infância (e colega de ginásio) era a futura atriz e certinha do Lalau Anilza Leoni (19332009), um de seus vizinhos era o violonista Baden Powell (1937-2000) e o baterista Wilson das Neves fez o primário na mesma escola. Houve ainda um episódio curioso em sua infância no que se refere a essa alternância constante de endereços. Um belo dia, seu pai resolveu mudar de vida e saiu de mala, cuia e levando toda a sua trupe para Macaé, interior do Estado do Rio. A pequena Claudette chorava noite e dia, pois odiara sair da civilização e ir morar na roça. Felizmente, os negócios não deram certo e a família voltou correndo para o Rio de Janeiro. Ela respirou aliviada e não tardou muito a promover uma campanha dentro de casa rumo ao estrelato. Devo o fato de ser cantora à minha avó materna, Etelvina, porque ela que me levava aos programas de calouros infantis junto com uma amiga nossa, a Zezé. A minha mãe queria mesmo que eu estudasse, porque ela sabia que eu detestava a escola. Já o meu pai adorava que eu fosse artista era calminho, para ele tudo estava bom! Ao contrário, minha mãe era geniosa. Era daquele tipo que se a gente dissesse ‘bom-dia’, ela olhava e respondia: ‘Bom-dia, por quê?’. Costumo dizer que herdei o tamanho do meu pai e o temperamento de mamãe, brinca. Com o tempo, Claudette foi furando o cerco, dobrando o gênio da mãe e, muitas vezes encoberta pela avó e pela amiga Zezé, começou a aparecer nos programas de rádio dedicados a descobrir talentos infantis. Não eram exatamente programas de calouros daqueles que consagram ou traumatizam de vez os cantores, no estilo do de Ary Barroso, com direito a mau humor do apresentador, piadinhas, gongos ou buzinas horrorosas. Esses eram mais light . As crianças ou os adolescentes faziam o teste. Se passassem, cantavam durante uma temporada no programa. Atuavam como semiprofissionais. Mesmo quando havia competição, como no caso do Papel Carbono, não eram concursos que deixavam grande rastro de complexos nos futuros astros. Sua primeira aparição foi por volta dos onze anos, no Programa do Guri, de Silveira Lima, na Rádio Mauá (no tempo em que Silvio Santos figurava em seu cast de locutores). Nesta apresentação, imaginem, ela teve o auxílio já luxuoso do guri Baden Powell, de calças curtas, lhe acompanhando com um pequeno violão que parecia um cavaquinho . Classificada, ela foi se tornando uma atração fixa do programa, cantando a rumba Escandalosa de sua ídola Emilinha Borba grande sucesso de 1947. Passada a fase do Programa do Guri e já fã do programa A raia miúda (assim mesmo, raia ), comandado pelo consagrado locutor Renato Murce, Claudette começou a infernizar a vida da mãe para que ela lhe levasse ao Teatro João Caetano apenas para assisti-lo . Um belo dia lá foram elas, mais a colega Zezé. Em dado momento, ela disse que iria ao banheiro. Zezé, já mancomunada com ela, a acompanhou. Desviaram do itinerário do toalete e foram para a coxia. Claudette foi direto procurar o maestro Dante Santoro, e lhe disse: Eu canto em programas infantis, sou sobrinha do Nonô apelido de seu tio Antenor, já conhecido no meio dos músicos, você não poderia tirar um tom para mim para que eu cante hoje? Ele respondeu dizendo que ela não estava programada, mas que iria atender porque era um pedido de seu tio. A essa altura, sua mãe já estava causando uma miniguerra na plateia do teatro. Quando abre a cortina, o sujeito anuncia: Vamos abrir uma exceção hoje e apresentar a sobrinha de um cantor amigo de nosso maestro e a cantora mirim atacou de Escandalosa um de seus carros-chefe. A apresentação agradou e compensou sua ousadia, apesar da surra miserável que levou da mãe quando descobriu que sua filha não havia sido sequestrada, que foi tudo armação. De volta ao Programa do Guri, certa vez passou por um aperto. Quis cantar a obra-prima Na Baixa do Sapateiro, de Ary Barroso, sucesso de Carmen Miranda nos anos 30. O pianista, que vinha a ser o grande compositor Luiz Reis, ainda em início de carreira, deu os primeiros acordes, só que Claudette se embananou e na hora do agudo deu a nota uma oitava acima do que deveria. Fiquei traumatizada, pois minha voz não alcançava tons tão altos. Ali aprendi que jamais seria cantora de grandes atributos vocais. Então vieram conselhos... ‘Comece a cantar coisas que não dependam tanto da voz’. Era pura falta de experiência... Mas isso não me fez desistir, recorda. Esse equivocado tom acima que ela tentou dar, na linha dos vozeirões da Era do Rádio, não foi por acaso. Precoce, Claudette sonhava em ser dramática como Dalva de Oliveira, Linda & Dircinha Batista ou dark e misteriosa como Nora Ney, mas sua voz era suave. Adorava uma música de fossa. Linda Batista cantando Vingança, de Lupicínio Rodrigues, era o máximo que havia para ela naquele início da década de 1950. O que me fascina não é cantar liricamente, mas a interpretação, a emoção, frisa. Então, como não gostava de meios-termos, passou a privilegiar em seu repertório os extremos: músicas mais ligeiras e suingadas ou bem lentas, românticas, derramadas, que não necessitassem tanto de agudos lancinantes. Além das divas fantásticas daquele tempo, Claudette era muito ligada nos conjuntos modernos nacionais como o Trio Surdina, o Garotos da Lua (na época que João Gilberto era crooner) e toda sorte de artistas americanos, como o pianista George Shearing, a orquestra de Count Basie, o divo Ray Charles, a diva Ella Fitzgerald, a doce Doris Day... e paralelamente a isso adorava a música erudita instrumental, ou seja, os clássicos que não incluíssem óperas, pois nunca se identificou com elas. Não sou uma cantora jazzística, mas minha formação foi assim, sofisticada, analisa. Meu pai meu deu minha primeira vitrola. E eu economizava para poder comprar discos do Frank Sinatra e depois da Julie London. Fiquei impressionada como eu cantava parecido com ela... Se não fosse quem sou, gostaria de ter sido a Julie. O dia que vi aquele primeiro disco dela que tem Cry me a river, procurei saber tudo que havia sobre ela. Tinha tudo a ver comigo, diz a cantora, referindo-se ao clássico álbum Julie is her name, que também influenciou uma legião de futuros bossa-novistas, graças à voz suave da cantora e à guitarra cool de Barney Kassel. Nessa altura, já tinha uma professora na escola que admirava sua voz e, talvez influenciada pelo som da própria Julie e outras cantoras americanas de voz pequena, tentou lhe aconselhar a seguir essa linha internacional. Ela dizia que eu tinha de cantar em inglês, mas eu sempre achei que não, conta. De fato, o tempo foi mostrando que Claudette estava no caminho certo. Além de estudar balé desde pequenina, razão pela qual até hoje tem uma postura um tanto ereta, Claudette eventualmente chegou a participar de pequenos esquetes teatrais alguns ao lado da colega Ellen de Lima chegando mesmo a encenar a canção Boneca de Pixe, no Teatro João Caetano, com direito à amiga pintada de preto. Originalmente lançada por Carmen Miranda e Almirante, a canção (e a encenação) foi baseada numa fábula do folclore brasileiro sobre um mono (macaco) que é preso por uma armadilha em forma de boneca, feita de piche. Havia uma mulher que já conhecia a gente do Programa do Guri e vendo um talento na gente nos chamava para fazer umas pecinhas em colégios, clubes e teatros, recorda. Ainda como caloura mirim, passou rapidamente pelo Pescando estrelas, de Arnaldo Amaral, na Rádio Clube do Brasil, e em pouco tempo já encarava o Papel Carbono, do mesmo Renato Murce que apresentava o A raia miúda, na mesma Rádio Nacional. Era um programa em que os calouros mirins imitavam cantores consagrados. É claro que ela imitou sua querida Emilinha Borba, desfiando seus sucessos populares, como o samba-canção Se queres saber e o bolero Dez anos. Também chegou a cantar o baião Adeus, adeus morena, imitando Carmélia Alves, então, recém-empossada Rainha do Baião. Mal sabia ela que muito em breve integraria essa dinastia nordestina. Porém, antes de se aprofundar neste assunto, vale dizer que nem tudo eram fl ores na vida da pequena pequena mesmo Claudette. Como já cantava desde pré-adolescente e tinha estatura bem mais baixa que a maioria das coleguinhas, sofria muito preconceito da turma de escola. Hoje isso já tem nome: bullying. Mas naquele tempo, ninguém se dava conta do quanto certas crianças sofriam com achincalhes agressivos de toda ordem por serem baixas ou altas demais, muito gordas ou muito magras, usarem óculos, terem inclinações homossexuais, etc. No caso dela, não precisa dizer que a baixíssima estatura combinada com o fato de tão jovem ser artista era algo imperdoável para a crueldade infanto-juvenil. E como Claudette já não era muito chegada aos estudos, ir ao colégio significava uma tortura. Era péssima aluna, confessa. Claudette confessa ainda que o único trauma que teve foi o de ser baixinha e que, segundo ela, já foi, há muito, superado. Não tenho saudades da minha fase escolar. É ruim de falar isso, né? Mas hoje está na moda: pessoas que são um pouco massacradas na escola... Acho que já era moderna até nisso, ri, com seu humor ácido. Como já cantava em programas infantis desde os 10 anos, o inspetor me facilitava muito, relevava meus atrasos, mas em termos da relação em turma, sofri muito. Se não tivesse feito uma lição ou por acaso respondesse algo errado, os colegas diziam: ‘Claro, ela é cantora’. Fora aquelas piadinhas: ‘O que vai querer ser quando crescer?’. Era unanimidade jogar pedra em mim, explica. Havia também o preconceito por seu nome ser homônimo ao da atriz Claudette Colbert. A coisa só estancou quando ela teve seu primeiro namorado, Amadeu. Ele tinha 1m80 e era muito bonito. Foi quando criei autoestima. Pensava: ‘Pois é, sou baixinha, mas olha o tamanho do meu namorado... eu posso, né? A partir daí nunca tive outro homem com menos de 1m80, diverte-se a cantora, afirmando que dessa fase escolar só tem saudades de privar mais com as amigas Lenir e Agnes, das poucas que a compreendiam e faziam seu cotidiano estudantil se tornar mais afável. Numa breve passagem pelo subúrbio de Bonsucesso, ela também sofreu preconceito dos garotos da rua, que também caçoavam por ela tão nova, miudinha, baixinha e... artista. Tenho péssimas recordações. Naquela época, no Rio de Janeiro, o subúrbio era ainda mais preconceituoso que a zona sul com essa coisa de mulher artista, ainda mais eu, pequena, miúda. Foi tudo muito traumático. Ainda bem que foi um período curto e que logo, logo, eu já soube brincar em cima disso tudo . Mesmo no início de suas atividades profissionais, no intuito de agradá-la, muitos radialistas e colegas do meio lhe apelidaram de tudo que se possa imaginar, em referência à sua baixa estatura: Menininha Compacto-Simples, Pequena-mas-Resolve, Coisinha-Pneumática, Tamanho-não-é-Documento ... Simpático até certo ponto, mas também, convenhamos, irritante. Para se defender e se impor, adotou um certo tom irônico de se expressar, que passou a ser sua marca pela vida afora. Sempre fui viadinha, bichinha, ri. Tenho sempre uma resposta na ponta da língua. Isso vem de minha mãe, acrescenta. A grande verdade é que Claudette, embora miudinha, já tinha pose de mulher madura. Sempre conviveu mais com adultos e, desde criança, gostou de maquiagem e sapato alto ( Nasci de sapato alto ). Tinha algumas poucas amiguinhas na vizinhança, como Anilza Leoni, vaidosas como ela, ou seja, já tinham cabeças de artista. Meu maior divertimento era brincar de ser grande, de me maquiar, andar de sapato alto. Eu praticamente só brincava disso, recorda. Cinema sempre foi uma paixão em sua vida. Ela adorava especialmente os musicais em que atuavam gênios como Fred Astaire, Gene Kelly, Betty Grable e Doris Day e nos intervalos, traçava sempre uma banana split. As divas glamourosas também sempre lhe chamaram a atenção: Bette Davis, Lana Turner, depois Marylin Monroe... e, no Brasil, a nossa Eliana Macedo (que fazia sempre dupla com Adelaide Chiozzo nas chanchadas). Seu pai, entre uma tinturaria e outra, chegou a ter outras profissões. Trabalhou no Hotel Glória e, em certo período, foi uma espécie de gerente de dois cinemas no Centro do Rio (Cine Plaza e Cine Palácio, ambos na Cinelândia carioca). Então, nessa fase, ela passou a ir com mais frequência a cinemas ver os musicais americanos. Chegava em casa, ficava fazendo mímica do que via na tela . Foi daí que veio a paixão pelo glamour americano, incluindo roupas, big bands, cabelos bem penteados e muita sedução. Parece pedante dizer isso, mas quando me colocavam para cantar no rádio acompanhada de regional (violão, cavaquinho, bandolim, flauta e pandeiro), achava que estava faltando alguma coisa. Não me identificava muito com aquilo, não, diverte-se ela que, anos mais tarde, quando criou seu estilo, nunca mais prescindiu de piano nas apresentações e gravações. Mesmo quando morava em Bonsucesso, era um prazer para ela tomar um ônibus e ir até o centro do Rio para se deleitar com aqueles filmes maravilhosos. Ela só se irritava profundamente com as chamadas fitas em série, como as dos seriados, que continuavam sempre na semana seguinte, como se fosse uma novela. Meu Deus, que coisa antiga!, ri. Princesinha do Baião Depois de pular de galho em galho, em programas de rádios como a Mauá e a Nacional onde conheceu sua ídala Emilinha Borba e muitos outros artistas ao vivo, foi a primeira contratada do programa PRE-Neno (patrocinado pelas Casas Neno, de eletrodomésticos, no qual atuou ao lado das cantoras Norma Suely e Rogéria), e logo a seguir teve uma proposta da Rádio Tamoio para integrar o elenco do programa Salve o baião. Era um programa que difundia o novo ritmo que, desde 1946, tomava de assalto o lar de todos os brasileiros: o baião, fixado no Sudeste por Luiz Gonzaga, que virou mania em todo o território nacional e acabou norteando o repertório de artistas como Carmélia Alves, Adelaide Chiozzo e Luiz Vieira, além de ser interpretado até mesmo pelos grandes astros de então, como Ivon Curi, Dalva de Oliveira, Emilinha Borba e Marlene. O cantor Luiz Vieira foi um dos cartazes revelados neste programa. O Salve o baião foi invenção do Paulo de Gramont, diretor da Tupi. Surgiu no começo dos anos 50. Era produzido por Antonio Leite e apresentado pelo locutor José Saleme. Ocorre que um patrocinador comprou este horário e queria que tivesse apenas baiões no programa. Então criaram a Orquestra Marajoara, do Raymundo Lourenço, para acompanhar os artistas. Ainda me lembro do jingle do patrocinador: ‘Você comeu demais, a barriga doeu...? Tome Hepatina Nossa Senhora da Penha’ (risos). Um dia, o locutor José Saleme se entusiasmou e disse: ‘Aí está o Príncipe do baião’. E assim fui batizado, explica o cantor. Nós estávamos experimentando: ou dá ou desce. O Brasil inteiro curtia esse ritmo. Imagino que esse fogo que abrasou a minha sardinha, também tenha abrasado a dela, pois éramos ouvidos em todo o País. Recebíamos cartas... Uma vez recebi uma da Bahia e fiquei tão feliz que quis conhecer esta moça pessoalmente. Ela acabou se tornando a presidente do meu fãclube. E a Claudette incorporou bem o lance da Princesinha do baião, cantava com excesso de alma tudo aquilo, testemunha Luiz. A essa altura, Claudette já namorava o Haroldo Mauro (sobrinho de José Mauro, grande diretor da Tamoio, que por sua vez era parente do cineasta pioneiro Humberto Mauro). Ele era um sujeito bem enturmado, chefe de sonoplastia da emissora. Por conta disso, acabou ganhando um contrato para atuar nesta rádio, mesmo sem fazer teste coisa rara na ocasião, que fazia parte do grupo de Emissoras Associadas, ligada também à Rádio Tupi. Ficou neste programa mais ou menos uns dois anos e meio, chegando, por conta do mesmo, a viajar por algumas cidades brasileiras, conquistando seus primeiros fã-clubes: em Anápolis (Goiás), Gouveia (MG) e no próprio Rio de Janeiro. Sua carteira de trabalho não mente. O referido contrato foi assinado no dia 15 de novembro de 1954, quando ela acabava de completar 19 anos. E foi renovado pelos próximos oito anos. Ganhava 2.400 cruzeiros mensais. Nesse período, já havia concluído primário, ginásio e admissão. Adoraria ter feito psicologia, mas não gosto de estudar, só o que se relaciona à minha profissão, admite ela, cujo contrato, com o passar dos anos, lhe permitiu também estrear na televisão, que começava lentamente a ganhar o país substituindo a audiência maciça do rádio. Os que lhe deram as primeiras chances na telinha carioca foram o produtor Geraldo Casé e o apresentador Flávio Cavalcanti. Embora o baião não fosse nem de longe seu gênero musical favorito, pegou essa oportunidade com unhas e dentes; afinal, era o ritmo da moda, e isso lhe faria conviver com vários artistas famosos, almoçar no lindo restaurante da rádio e outros mimos. Fato é que Luiz Gonzaga era uma estrela de primeira grandeza na ocasião e autoproclamado o rei do baião já havia coroado Carmélia Alves como rainha do baião e neste programa a dinastia prosseguia. Além do referido Luiz Vieira ter sido coroado príncipe do baião, o cantor Jair Alves merecera o título de barão do baião . Agora só faltava Claudette ser a próxima condecorada. Embora Gonzagão não fizesse parte do cast da Tamoio (era da Nacional, só se apresentava ali eventualmente como convidado), passou a ouvi-la neste programa e a gostar dela, não tardando em coroá-la a princesinha do baião . Eu tinha que ser batizada de alguma coisa, né? Pensaram em baronesa, mas pelo meu tamanho princesinha era mais simpático, ri. Cantando baião, mas sem perder o glamour. Imaginem que muito por causa de sua paixão pelo cinema hollywoodiano, Claudette chegou ao cúmulo de criar o hábito de sempre chegar à Rádio Tamoio de táxi. Como não tinha dinheiro para seguir o itinerário inteiro, de sua casa até a Praça Mauá (onde ficava a emissora, vizinha à Nacional), naquele veículo, não se fazia de rogada. Me arrumava toda bonitinha, com um vestidinho, de anáguas e tudo, ia com minha avó de ônibus. Quando faltavam uns três quarteirões para chegar, a gente saltava e pegava um táxi, só para chegar com mais glamour, ri. Desta fase, Claudette tem várias boas recordações. Foi quando ela conheceu uma rainha de outra dinastia: Ademilde Fonseca, a rainha do choro ótima também em interpretações de xotes e baiões ligeiros e prestou atenção na forma como ela dividia os difíceis intervalos rítmicos daqueles gêneros e de maneira tão veloz. Minha boa divisão rítmica vem daí, admite. Outra cantora que lhe causou impacto foi Marinês. Sempre achei que não ia cantar bem baião porque era fascinada pela Marinês e ela dava um banho, tinha uma coisa diferente no seu cantar. Quando a conheci, fiquei enlouquecida. Achava-a sensacional, diz Claudette sobre a criadora de sucessos, como Peba na pimenta e Pisa na fulô. completar foto a acima É claro que Jackson do Pandeiro que nessa época era casado com Almira Castilho era outra referência rítmica muito forte para ela. Sua música lhe soava também moderna. Além desses, também se encantou com as sutilezas do acordeon de Sivuca e com o maestro (e clarinetista) Severino Araujo, todos descobertos por ela nessa fase da Rádio Tamoio. No fundo de sua alma, Claudette sabia que esse namoro com o baião e os ritmos nordestinos era uma fase. Ela recorda que o próprio Luiz Gonzaga, já vendo as companhias musicais da pupila nas horas vagas (sempre músicos mais sofisticados de jazz e samba moderninho), lhe dizia: É, minha filha, eu gostaria muito, mas sei que você não vai seguir isso por muito tempo. Você não quer ser nada de baião . Entretanto, ela tem muito orgulho desse período, apesar da nova onda de preconceitos que sofreu posteriormente, quando decidiu abraçar a bossa nova, uma música de estilo diametralmente oposto, um tanto fechada a harmonias simples e cantores de origem mais popular. Essa turma mais moderninha sempre carregou isso em cima de mim. Por essa razão minha saída do Rio de Janeiro para São Paulo, em 1961, foi providencial; porque em São Paulo ninguém tinha essa referência minha como Princesinha do Baião, então pude desenvolver minha carreira longe, livre de patrulhamentos. Mas realmente não posso ter vergonha do passado, foi exatamente nesta fase que eu aprendi a cantar, por exemplo, frevos, que sempre gostei. Daí, saio do Salve o Baião, na Tamoio, e vou para a Rádio Tupi, onde cantei todos os gêneros musicais, esclarece. Mas isso já foi por volta de 1957. Os Primeiros Discos Durante a fase de atuação na Tamoio, outro fato importante ocorreu na carreira de Claudette: no mesmo ano de 1954 que estreou no programa Salve o Baião, foi levada pelo produtor Roberto Côrte-Real à gravadora Columbia, recémimplantada no Brasil. Isso a excitou muito, principalmente porque pela primeira vez deixaria o regional de lado para gravar com orquestra (no caso, do maestro Renato de Oliveira). Tremia de medo, mas era tudo que queria. Mas ela não estreou gravando um long-play de 33 rotações por minuto e sim no velho bolachão de 78 rotações formato adotado no País desde 1902 e que perdurou até 1964, ainda que a partir do final dos 1950 já fosse lentamente superado pela produção de LPs. O bolachão de 78 rpm era um discão pesado com uma faixa apenas de cada lado e que quebrava com muita facilidade. Talvez por conta de sua figura miudinha e jeitosinha, seu repertório inicial era composto de músicas animadinhas e letras, na maioria, um tanto maliciosas para os moralistas anos dourados. O disco de estreia, por exemplo, trazia o mambo Ping pong (Nilo Ramos) e do outro lado o Baião da despedida (Américo Castro/ Ari Vieira). Se o lado B era inofensivo, a que realmente importava, ou seja, a do lado A, era bem safadinha: Ping-pong, ping-pong, ping-pong/ Foi meu ex-amor que me ensinou a jogar. (...) Agora eu sei e também posso ensinar/ Fique espertinho do lado de lá/ Com muita atenção que eu vou começar/ Deixemos o amor para depois/ Agora é ping-pong que interessa a nós dois . Reparem que se foi seu ex-amor que lhe ensinou a jogar, isso dava a entender que ela já não era uma mulher, digamos, inocente, se é que me entendem... Logo em seguida, ainda em 54, viria outro bolachão, desta vez com dois baiões, Você não sabe (Jane/ Castro Perret) e Trabalha, mané (João Batista da Silva e José Luís) este um baião corridinho, onde nota-se a influência de Ademilde Fonseca em sua divisão rítmica. Este disco até que não pegava pesado na malícia, mas nos dois próximos a chapa, ou melhor, a cera esquentava. Ao contrário dos cartazes da época (era assim que os astros de sucesso eram chamados pela imprensa), que gravavam vários discos de 78 rpm por ano, Claudette teve um início de carreira fonográfico um tanto tímido. Entre 1955 e 56, gravou apenas um bolachão por ano. Seu terceiro disquinho trazia de um lado o inenarrável fox Biruta (Amado Régis/ Castro Perret) e do outro o baião Se eu pudesse rebolar (Laerte Santos/ J. Alex/ Araguari). Novamente, era a do lado A que a gravadora apostava, e justo a que pegava pesado na malícia: Eu sou o tipo da garota biruta/ Biru, biruta demais/ Não levo nada a sério/ Gosto muito de cartaz/ Hoje com um, com outro amanhã/ Todos me querem/ De todos sou fã/ Porém se algum deles me fala em casar/ Eu arranjo logo um jeito de brigar . Que tal? E finalmente no quarto disco para a Columbia, gravava outra pérola safadinha impressionante: o mambo Garota sapeca uma espécie de continuação da (Garota) Biruta, não por acaso do mesmo autor, Castro Perret (com Renato Araujo): O papai já disse, mamãe também/ Menina, toma jeito para o seu bem/ Quem namora todo mundo/ Sempre acaba sem ninguém/ Por isso me chamam garota sapeca / Eu tenho sete namorados, mas não amo nenhum/ Namoro a semana inteira/ Cada dia tenho um . Nada mal. Do outro lado, havia o samba Velho gagá (Fernando César), crônica de costumes enfocando os velhos babões que davam em cima das garotinhas do centro do Rio. Anos mais tarde, esta música faria sucesso na voz de sua futura rival Isaurinha Garcia. Garota Biruta e Sapeca O mais divertido é que essas letras não estavam muito distantes do universo da jovem Claudette. Que sua mãe não nos ouça! Mas ela era uma mulher muito à frente de seu tempo. Ao contrário de 90% das garotas da época, não tinha como principal objetivo de vida casar e ter filhos, tampouco a virgindade era um peso em sua vida. Ah! Como eu agradava cantando essas coisas. Acho que a música me influenciou, ri, comentando que sua mãe achava esse repertório o fim da picada. Mãe é mãe, né? Ela me censurava tanto... ‘Como você pode cantar essas coisas? Vão dizer o quê de você?’ O mesmo acontecia quando eu posava de maiô em fotos para revistas. Ela achava um absurdo. Fato é que passei a achar divertido cantar essas músicas maliciosas e mostrar um lado mais sensual . O grande lance é que Claudette fazia tudo no sapatinho. Nem pensava em casamento. Foi casar mesmo aos 36 anos, o que naquela época era tardíssimo para uma mulher. Sempre fui muito discreta. Todos os meus romances, eu ia, fazia, voltava. O que eu fiz, o que eu não fiz é problema meu... Minha mãe nem sonhava o que eu fazia. Nunca quis fazer de minha mãe uma confidente da minha vida afetiva e sexual. Por isso, acho até hoje que a gente deve separar família de romances. Se mora com os pais tem que fazer essas coisas num outro lugar, ensina. Virgindade para mim nunca foi um peso. Perdi logo com meu primeiro namorado da escola, o Amadeu. Mas não era bobinha, sempre me informava sobre esses assuntos com pessoas de mais idade... com a mãe de uma colega de escola... porque não ia falar com a minha, senão ela ia ter um treco, conta. A exemplo das garotas biruta e sapeca, Claudette perdeu a conta de quantos namorados teve. Tive muitos, mas nunca vivi com ninguém. Quase casei com o Haroldo Mauro e com o Celsinho, filho do Celso Guimarães, enumera. O que acontece é que o casamento para as mulheres daquele tempo implicava quase que necessariamente uma prisão. E liberdade era palavra-chave em sua vida. Achava que sua carreira teria de estar sempre em primeiro lugar. O único problema para uma mulher que pretendesse ser mais livre era o fato de não haver preservativos nem pílulas anticoncepcionais. Resultado: chegou a engravidar algumas vezes, mas por não querer ter filhos para os pais criarem, acabou optando por uma decisão mais lúcida no seu entender. Fiz assumidamente alguns abortos, mas minha mãe nunca soube. Quando vinha meio tombada de uma das minhas internações, ela me dizia: ‘Você não vai comer um feijãozinho?’ E eu: ‘Não precisa, já comi na rua’. Eu a enganava nesse sentido para não fazê-la sofrer. Seria uma covardia com ela, conta a cantora, que, já nos anos 1970, vivenciou uma passagem curiosa, que lhe marcou muito a vida, com o líder espírita Chico Xavier. Nessa época, já casada, eu ficava tentando engravidar, aí ele me perguntou: ‘Por que você quer ter filho? Você não nasceu para ser mãe de filho, e sim para ser mãe de pai, mãe e avó. Se você quiser criar, adotar, não há problema, mas se eu fosse você não faria tratamento de fertilidade. Então, como ele me disse que não nasci com essa missão, acho que estou absolvida, né? . Aos 21 anos, em 1956, a Revista Rádio-TV Magazine fez um perfil de sua personalidade . É bastante interessante lê-lo para se ver como a imprensa tratava seus artistas e o Brasil desse período incluindo o que era esperado de uma moça nessa idade, os bens de consumo possíveis, seus supostos sonhos e aspirações. Nasceu aqui mesmo no Distrito Federal, no bairro de Laranjeiras. Iniciou em rádio através do Programa de Renato Murce, Papel Carbono, aos 10 anos. Suas cores preferidas: verde e branco. Gosta de usar o cabelo à rabo de cavalo. Adora ouvir o fox Laura. Solteira, mas há alguém em seu coração. No teatro é fã incondicional de Rodolfo Mayer. Adora meias compridas. Só dorme com o rádio ligado, bem baixinho. Almoça em casa, sempre às 12 horas. Tem verdadeiro pavor de chuva. Irrita-se com sapatos apertados. Possui como estimação uma pulseira de ouro. Gosta de flores. Na cidade, só anda de táxi. Seu dentifrício é Colgate. Reside em Bonsucesso. Delicia-se ouvindo músicas melodiosas. Seu passatempo predileto é o cinema. Não fuma nem bebe, só água mineral. É supersticiosa. Nasceu num 31 de outubro que não vai muito longe. Está estudando inglês e já vai indo muito bem. No cinema, é fã de Tony Curtis e Elizabeth Taylor. Emocionou-se quando ouviu sua voz pela primeira vez em disco. Seu primeiro disco: Ping-pong e Trabalha, mané. Aprecia as orquestras de Percy Faith, Benny Goodman e Paul Weston. Gosta de cantores americanos: Frank Sinatra e Doris Day. Devido a sua pouca altura, só anda de sapatos altos. Adora um bife com fritas. É considerada um bom garfo. Seus vestidos são confeccionados pela Mme. Clarice. Sua maior ambição é trabalhar no cinema. Torcedora renitente do Flamengo. Seu esporte preferido é a natação. Seu cabeleireiro é o José Moreno. Dorme geralmente depois da meia-noite. Detesta falsidades. Pinta-se moderadamente: apenas o necessário. Acorda invariavelmente às 10 horas da manhã. Está aprendendo dança clássica. Grava na Columbia. Eis os seus 5 discos preferidos: Molambo, com Roberto Luna, Do-re-mi, com Doris Monteiro, Laura, com qualquer orquestra, Biruta, com Luizinho e (modéstia à parte) Claudette, Graças a Deus, com Elizeth Cardoso. Ao lhe ser pedida uma frase para os leitores da Rádio-TV Magazine exclamou: É gostoso saber que sou querida por vocês . Curiosamente seu sonho de trabalhar no cinema nunca aconteceu. Era comum os cantores dos anos 50 e início dos 60 serem convidados a atuar nas chanchadas da época, entoando seus sucessos eram os verdadeiros clipes de uma fase em que a TV ainda não dominava a audiência. Mas Claudette não teve a sorte de ser chamada. Se bem que hoje ela dá graças a Deus. Antigamente achava o máximo aquilo, mas acho que foi até melhor eu não ter participado. Hoje vejo esses filmes e não gosto, resigna-se. Em outras revistas, as manchetes apelavam Com quarenta e um quilos de talento, Claudette Soares olha pro repórter e diz: ‘Sucesso que é bom, agrada. Mas toda mulher precisa casar!’ ou ainda: Claudette Soares: ‘Só serei eternamente feliz quando casar e tiver filhos’ . Contradição? Não! Puro marketing. Preciso confessar. Essas declarações eram falsas. Usava essa personagem porque as cobranças em cima de mim eram muito grandes. A Elis (Regina) era baixinha, mas já tinha o apelido de Pimentinha. Todo mundo já esperava que ela fosse aprontar alguma. Eu, ao contrário, tenho essa imagem de meiguinha, engraçadinha, mas também tenho uma personalidade forte, até no signo! Sou de escorpião. Me considero um travesti mirim. A Rogéria brinca comigo: ‘Nunca vi um travesti que calça 33’ (risos). Mas, é verdade! Me apelidaram agora de brinquedinho assassino (gargalhadas). Mas, a verdade é que nunca fui santa. Sempre gostei de viver. Adorava namorar, mas a algema era o meu grande problema. Nunca fui muito fiel. Tanto que quando me casei, aos 36 anos, e decidi ser realmente fiel a um homem só, ninguém acreditou. Nem eu, diverte-se. Reouvindo depois de tantos anos as músicas (Garota) Biruta e Garota Sapeca, ela ainda se incomoda muito com elas, mas dá a mão a palmatória: Elas me incomodam porque eu fui assim mesmo. (risos). Acho que fui a mulher que mais namorava naquela época. Teve momentos de eu ter dois, três ao mesmo tempo. Tenho que admitir que essas músicas tinham tudo a ver comigo. Era noiva, tudo bem, mas aí chegava uma pessoa, outra e mais outra. Uma vez eu estava doente, gripada, e minha mãe abre a porta do quarto e diz: ‘Você levante daí e vá resolver sua vida’. Sabe o que estava acontecendo? Três namorados estavam na sala me procurando! (risos) Sabe o que eu fiz? Aí vem o lado atriz que eu não fui. Entrei na sala, com um penhoar bem glamouroso, me sentindo com 1m80 e disse: ‘Oi gente, tudo bem? Mamãe vai passar um cafezinho, estou tão gripada... Depois falo com vocês’. Aí fiquei tossindo feito Greta Garbo em A dama das camélias e não falei com ninguém (risos). Fui para o quarto e voltei a dormir. Ah! E sempre tive uma amiga do lado. A Alaíde Costa segurou tanto minhas barras já na fase que eu fui para São Paulo: ‘Mamãe vou dormir na casa da minha amiga’. Quando ligava, ela dizia: ‘Saiu daqui agora mesmo’. A Sylvinha Telles também foi muito minha cúmplice, recorda. De fato, seus romances nesta fase nunca foram muito adiante. Em matéria de homens, tinha sempre um ‘plano B’. Só muitos anos mais tarde é que a ‘garota biruta’ foi embora, aí fiquei mais seletiva, mais leal . Cegueira Tudo ia muito bem na carreira de Claudette na década de 1950, mas eis que de repente ocorreu um fato um tanto bizarro em sua vida. Havia terminado de ganhar o concurso Três brotinhos em desafio, na Rádio Tupi, em que o Brasil todo se manifestava através de cartas e acabou vencendo as colegas Cláudia Moreno e Célia Vilela. Quando foi receber o prêmio num outro programa da Rádio Tupi apresentado por Carlos Frias, começou a ficar com a vista turva. Fiquei muito preocupada, mandei chamar minha mãe, que andava sempre comigo a tiracolo. Só sei dizer que quando entrei no palco não vi mais nada. Hoje se diz stress, somatização, qualquer coisa assim de sistema nervoso. Mas naquela altura, fiquei muito preocupada. As pessoas viram que tinha algo errado comigo. Foi uma coisa estranhíssima, era como se minhas vistas estivessem sido apunhaladas, como se tivessem cravado uma faca nelas, conta. Na manhã seguinte, quando Claudette acordou, continuava sem enxergar absolutamente nada. Nesta fase, passou até a comer com colher para não se machucar. Chorava muito, achava que ia ficar cega. Entrou em pânico. Primeiramente recorreu à medicina tradicional. Foi para Campinas numa clínica especializada em olhos e não atestaram nada. Depois, já morando no Bairro de Fátima, foi à Clínica de Olhos Dr. Paulo Filho e novamente nada foi constatado. Não tinha nada para não enxergar e a coisa mais incrível é que andava com óculos escuros e qualquer claridade me causava muita dor. Então, embaixo dos óculos, usava um paninho que vedava toda a claridade, relata. Certa vez, uma vizinha, Dona Palmira, convenceu-a a ir numa senhora espírita kardecista, benzedeira. Era em Campo Grande, num bairro muito distante de sua casa. Chegando lá, lhe foi recomendado um tratamento no qual ela deveria ir diariamente àquele local durante uma semana e que no último dia ela voltaria a enxergar. Ela passava uma água de fl ores, de rosas brancas, na minha vista e rezava. No último dia, ela abriu as janelas, deixou passar toda a luz do quarto que ela atendia, me tirou os óculos, a venda que eu tinha e comecei a enxergar. Foi tão impressionante que não tenho nem palavras para descrever . Na época até pensava que isso tinha se dado pela minha mudança de menina para moça, mas acontece que eu menstruei pela primeira vez aos 12 anos, então não podia ser. O mais incrível é que clinicamente não tinha nada. Tanto que até hoje quando faço exames de vista, os médicos dizem que não há nenhuma sequela em minha vista . Antes de apelar para o espiritismo, um de seus médicos lhe receitou uma vacina chamada BK, muito cara. Seus pais, sem ter dinheiro para adquirirem tantas doses, apelaram para a Rádio Tupi. Nessa época, Julio Louzada era líder de audiência de um programa às seis horas da tarde, em que na hora da Ave-Maria tocava a música e fazia uma oração. Ele então conclamou a todos que tivessem possibilidades que enviassem a tal vacina para a rádio. Ganhei tantas vacinas, que depois de ficar boa até doei as que sobraram para outros necessitados. Tinha estoque para quase um ano . Ganhei um prêmio de poder renovar o meu contrato com a Tupi, mas naquela época nem consegui usufruir. Fiquei muitos meses parada. Quando melhorei, pude finalmente renová-lo. Os espíritas disseram que eu estava com uma carga muito negativa. Aí começo a descobrir que o meio artístico é uma carreira em que você está exposto a tudo e que a gente tem que subir no palco, aconteça o que acontecer . O lado bom do meio artístico, entretanto, foi a convivência com os colegas de sua época. De Emilinha Borba (que lhe cedia seus arranjos originais, deixando que ela cantasse seu repertório nos programas de rádio) e Dalva de Oliveira (que em certa altura cismou que seu filho Pery teria de casar com Claudette, pois a adorava) a outras cantoras que hoje são pouco lembradas pela mídia, ela só tem boas recordações. Convivia com todas elas nos corredores e no bar da Rádio Tupi. Lembra-se de ser tratada como uma filha por Odete Amaral ( Me pegava no colo. Que voz bonita ela tinha! ), e também das colegas de geração, como Aracy Costa ( uma morenona linda. Diziam que eu a imitava, mas é só intriga. Sempre fomos boas colegas ), Zilá Fonseca ( Foi ela quem me deu os primeiros conselhos de como cuidar da pele, de jamais dormir de maquiagem... ), Doris Monteiro, Marilene Cairo, Aidée Miranda, Carmen Déa, Rosita Gonzáles, além de Célia Vilela e Cláudia Morena ( Vivíamos sempre juntas ). Claudette também recorda de outras colegas menos lembradas, não necessariamente contratadas da Tupi, como Neli Martins, Dalva de Andrade, Vera Lúcia, Neusa Maria e de uma certa Lucy Rosana ( Uma morena muito bonita, que largou tudo. Dizem que o marido não queria que ela seguisse carreira. Mulher é muito otária, né?, brinca). De todas que conheceu nessa fase da Tupi & companhia, quem ficou foi Alaíde Costa, sua amiga até hoje. Os Primórdios da Bossa Nova Depois dos quatro bolachões na gravadora Columbia, Claudette começava a ficar mais mocinha e, já afastada do Salve o baião, sentia que precisava dar novos rumos à sua carreira. Foi então que, em 1957, conseguiu através do radialista José Messias chegar à pequena etiqueta Repertório, onde gravou um 78 rotações por minuto que trazia no Lado B Escolinha do bebop, do violonista Carlinhos Castilho (com quem teve um ligeiro affair) e do lado A, não por acaso, Foi a noite (Tom Jobim/ Newton Mendonça), considerada por especialistas o marco zero da bossa nova tendo sido lançada um ano antes pela estreante Sylvinha Telles e pelo já consagrado cantor-galã Cauby Peixoto. Na cozinha instrumental desse disquinho, futuras feras da MPB, como João Donato e os irmãos Bebeto e Carlos Castilho. Como Foi a noite foi parar em seu disco? Aí já entra uma personagem fundamental em sua vida, que acabei de citar: Sylvia Telles. Mas antes dela, é preciso contextualizar a vida de nossa personagem além das ondas do rádio. Nas horas vagas, Claudette já atuava como crooner em bailes noturnos aqueles típicos dos anos dourados. Naquele tempo não havia discotecas. Os jovens botavam sua melhor roupa e iam aos bailes, normalmente em grandes clubes, para tentar conquistar as meninas quase sempre vigiados pelos olhares de rapina dos pais das garotas. Pois bem, ela atuou nas orquestras de Moacyr Silva e Ferreira Filho e no conjunto do vibrafonista Chuca Chuca. E também já começava a se enturmar com músicos mais sofisticados, que no futuro seriam ases da bossa nova. Aprendi muito com o Moacyr Silva. Ele fazia muito o Clube Fluminense, que era bem chique. Eu ficava de (vestido) longo, sentada na cadeira esperando a minha vez. Quem fazia minhas roupas era uma tia maravilhosa, a Penha. Naquela época era difícil comprar vestido pronto. Havia muitas festas de debutantes que a gente animava... Eram coisas grandiosas. Cantava de tudo, menos música internacional . Em seus últimos meses de Salve o Baião, por volta de 1956, e depois quando já tomava parte em outros programas da Tupi, começou a dar suas escapadas na sensacional noite de Copacabana dos anos dourados, levada pelo contrabaixista Luiz Marinho, que era chegado num jazz (e tinha também outros dois irmãos músicos). Inicialmente, frequentou o bar do Hotel Plaza, que ia da Av. Princesa Isabel à Prado Junior, no qual Sylvia Telles, em início de carreira, era a grande estrela. Por ali, circulavam Ed Lincoln, que nessa altura já estava trocando o contrabaixo pelos teclados e o pianista Luiz Eça que eram fixos da casa, o acordeonista (e futuro pianista e compositor) João Donato, o também pianista e compositor Johnny Alf, os violonistas Carlos Castilho e Baden Powell, e muitos outros cobras ainda pouco ou nada conhecidos. Outra figura que se tornaria muito importante na MPB também dava expediente no local. Ali no bar do Hotel Plaza acontece a minha grande sorte. Começo uma grande amizade com a Sylvinha Telles. Quando a carreira dela começou a decolar, ela me chamou para assumir o seu lugar no bar, relembra Claudette, que ainda não tinha completado 21 anos, e por muitas vezes teve que escapar do Juizado de Menores, indo esconder-se no banheiro do hotel. Vale dizer que, num primeiro momento, quando ainda morava em Bonsucesso, antes de se mudar para a Av. Prado Junior, ali ao lado, sua mãe estava sempre lhe acompanhando o que era uma constante naquela época. Filhas de cantoras, misses e atrizes menores de 21 anos traziam sempre as mães de brinde, onde quer que fossem se apresentar. Neste caso, porém, a coisa se justificava, pois ela tinha que voltar de madrugada de ônibus para o subúrbio. E a pequena Claudette que aparentava ser uma menina por conta da estatura de fato seria uma presa um tanto indefesa para sujeitos mal-intencionados. Quando passou a morar perto das boates onde atuava, a mãe deu um tempo. Nessa fase, Claudette era bem crooner. Não era apresentada por ninguém e tinha apenas uma entrada por noite. Cantava os sucessos da época, especialmente o repertório de Sylvinha, como Por causa de você, de Tom Jobim e Dolores Duran, muitos sambas-canções e sambas modernos, com leve acento jazzístico. Era uma loucura porque na rádio cantava um gênero, o baião, e lá, outro completamente diferente. Foi nessa época que comecei a perceber que estava tudo errado. Que já era moderna sem saber, pois no programa eu sempre fugia dos instrumentos essenciais do baião, como zabumba, gostava de cantar sempre que possível com orquestra. Por isso o Gonzagão me dizia que eu nunca ia ser cantora de baião, que eu era metidinha e moderninha, diverte-se. Um dia no bar do Plaza, no meio de um bate-papo, Sylvia Telles olhou no fundo de seus olhos e lhe deu um sábio conselho: Claudette, você acredita em mim? Pare de me ouvir e de ouvir quaisquer cantoras, senão tudo que você cantar vai ficar parecido comigo ou com elas. Vá ouvir homens cantando. Temos tantos cantores bons... . Ela acatou a amiga, imediatamente. Como já gostava de Sinatra e outros, passou a ouvir com mais atenção Dick Farney e Tito Madi, depois Agostinho dos Santos, Silvio César... A exceção feminina ficou por conta da referida americana Julie London, que ela adorava. O canto macio de Julie, o fraseado do canto de Dick e os agudos contidos de Tito acabaram moldando seu estilo de interpretação. Um personagem muito marcante da noite dos anos dourados recorda essa fase. Nos fundos do bar do Plaza vi um garoto tocando um violão muito bom: era o Baden Powell. Chamei ele, o Luiz Marinho no contrabaixo, e formamos um trio. Aí o proprietário da boate, Zé Augusto, disse que queria ‘pista’, música pra dançar. Então chamei um baterista que ia lá de vez em quando, mas ainda precisava de uma crooner. Me disseram que tinha uma garotinha que tinha sido a princesinha do baião e... era a Claudette!, atesta o mítico Ed Lincoln, que a partir daí virou fã da cantora e dentro em breve gravaria, com seus futuros conjuntos, inúmeros discos dançantes que marcaram a vida de várias gerações. Segundo Claudette, nessa época, Ed era um rapaz muito bonito e ela foi uma das que não resistiram aos seus encantos. A certa altura, o bar do Hotel Plaza passou a tocar discos para as pessoas dançarem e foi aberta uma boate no mesmo local. Então, depois da fase de crooner no bar, fez temporada como cantora nesta boate, apresentando-se diariamente, com três ou quatro entradas. Foi ali que um certo Roberto Carlos cujo estilo ainda era um carbono de João Gilberto revezava-se no palco com ela. Foi ali também que o pianista Pedrinho Mattar lhe viu pela primeira vez e iniciou-se uma longa amizade entre eles. Numa dessas noites na boate do Hotel Plaza, Claudette teve o privilégio de encontrar com Dolores Duran, cantora e compositora precoce, que morreu aos 29 anos, dali a pouco tempo, em outubro de 1959. Conheci Dolores com um namorado que era um rapaz tão bonito, lindo mesmo, o Nonato. Ela ia muito lá, às vezes na companhia do Antonio Maria, e de vez em quando dava canja. Uma vez me disse: ‘Gostei da sua voz’. E eu: ‘Obrigada, sou sua fã’. Sou tímida, ninguém acredita. Eu jamais ia chegar a ela para me apresentar. Como era uma iniciante, fiquei na minha. Mas sempre que conseguia, dava uma fugida para vê-la no Beco das Garrafas, conta. Os anos se passaram e, novamente a convite de Ed Lincoln, Claudette saiu da boate do Hotel Plaza e foi cantar na famosa e chique boate Drink, ali, do outro lado da rua Princesa Isabel, àquela altura de propriedade do organista Djalma Ferreira, e que tinha como crooners o futuro astro Miltinho e Lila (irmã de Dalva de Oliveira), entre 1959 e 1960. Claudette cantou novamente acompanhada do conjunto de Ed Lincoln, que trazia o mesmo ao piano, Hélcio Milito (bateria), Waltel Branco (contrabaixo elétrico), Amaury (ritmo) e o referido Djalma Ferreira (órgão), além de eventuais canjas de Araken Peixoto (Trumpete) que dali a quatro anos se tornaria um dos sócios do Drink, junto com seus irmãos Cauby, Moacyr e Andyara. Me lembro que Maysa esteve na plateia algumas vezes. Era um ambiente muito chique e um tempo que mulher não entrava desacompanhada em boates, explica ela, que, ao contrário dos outros colegas crooners, não cantava com o intuito de que a plateia dançasse. Queria mesmo era ser ouvida com atenção. E muitas vezes conseguia. Sua parte era mais suave, entre o suingado e o romântico, entre a bossa nova e o sambalanço (espécie de interseção do samba tradicional e a bossa, sem tanta percussão e sem ser tão jazzístico). Mas dependendo do arranjo, tudo virava uma coisa só. Então, sambalanços clássicos como Nunca mais e Olhou pra mim se revezavam com bossas igualmente clássicas como Minha saudade e Sambou, sambou. Para matar a vontade de dançar, eles esperavam a hora de seu colega Miltinho dar expediente no local. Aí a coisa esquentava. Pouco antes disso, em agosto de 1958, como se sabe, João Gilberto lançou Chega de saudade, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, que mudou a vida de um monte de jovens que viriam a integrar a nata da MPB nos anos 1960. Mas, muito sinceramente, não impactou tanto a cantora. Claudette, que se lembrava dele da época do Garotos da Lua e dos corredores do bar do Hotel Plaza, não chegou a se chocar ou a se entusiasmar tanto com esta gravação. Para pessoas como ela, que são da chamada pré-bossa nova, que foram testemunhas de que esse tipo de samba moderno já se fazia há muitos anos, isso tudo foi muito natural. Por outro lado, por Vinicius e, principalmente, por Tom Jobim, ela tinha verdadeira paixão que se renovava a cada dia. Tanto que nas duas vezes que foi à casa do maestro uma vez levada por Sylvinha Telles e outra por vários colegas bossa-novistas ficava de longe, babando. Eu sempre o tive como um mito. Nem ousava me expor muito com ele, confessa. Tom era um homem lindo. Acho que todas as cantoras tiveram um amor platônico por ele. Acho que jamais poderia ter trabalhado com ele, senão ia me declarar toda, ri. No final das contas, o tempo mostrou que Claudette tinha fascinação mesmo pelo instrumento piano e, por tabela, pelos próprios pianistas. Não por acaso namorou muitos deles e os seus arranjadores foram na maioria grandes magos das teclas. Nesse ínterim, entre o trabalho no Plaza e no Drink, por intermédio de seu ex-noivo Haroldo, que era muito bem relacionado, se enturmou com jovens músicos e futuros bossa-novistas de pedigree, como Durval Ferreira, Bebeto Castilho e Maurício Einhorn, frequentando algumas das famosas reuniões em apartamentos da zona sul carioca e já começando a atuar em shows para universitários. No repertório, aquele tipo de som moderno, que o futuro encarregou de batizar como bossa nova . Nessa altura, já mais enturmada, Claudette participou do LP Nova geração em ritmo de samba, numa chance que o fl autista e arranjador Altamiro Carrilho, então diretor artístico da Copacabana Discos, concedeu à tal nova geração de intérpretes da música brasileira. Era um LP de 12 faixas, na maioria de autoria de Silvino Junior (o hoje humorista Paulo Silvino, filho de outro humorista famoso do rádio brasileiro, Silvino Netto) e de outros estreantes, como Nonato Buzar, Orlandivo, Durval Ferreira, Maurício Einhorn e Bebeto Castilho. Nos vocais, além de Silvino, a cantora Marilucia (de quem Claudette tinha uma invejinha, por conta de sua voz rouca, segundo ela, muito interessante ), Myrna Romani e Waldir Falcão, que depois desapareceram, e Claudette em duas faixas: a ingênua A fábula que educa (Silvino/ Orlandivo/ Eumir) e a suingada Sambop (Durval Ferreira/ Maurício). Quem estreou como arranjador neste disco, aos 17 anos, foi Eumir Deodato. Ele recorda que quem o convidou para o posto foi o Paulo Silvino, seu amigo na ocasião. Ele me perguntou se eu sabia fazer arranjo. Eu respondi: ‘Lógico’. Só que nessa altura eu nem sabia o que era arranjo, ri. Nessa época, nem tinha piano, só acordeom. Fiz todos os arranjos baseado em um livro de canto orfeônico do Colégio Pedro II. Pra você ter uma ideia, não tinha nem conhecimento de violino! Coloquei até bombardino, um instrumento de Corpo de Bombeiros. Me lembro que Durval fez o violão. Foi nesse contexto que conheci a Claudette, já cantando muito bem, relata Eumir, de Nova York, onde reside atualmente. Ronaldo Bôscoli, que era habitué nas reuniões dessa turminha de músicos e cantores chegados num jazz e num samba moderno, fora apresentado a Claudette por Sylvinha Telles há alguns anos. Num desses encontros, a convidou para participar da famosa Noite do amor, do sorriso e da fl or, pioneira reunião de artistas da bossa nova da Faculdade de Arquitetura, na Praia Vermelha, em 20 de maio de 1960. Embora ela não tenha tido seu nome no cartaz, há fotos e relatos do próprio Bôscoli que comprovam sua participação. A seu lado, estavam, entre outros, Tom Jobim, a atriz e cantora Norma Bengell, Roberto Menescal, Os Cariocas, Trio Irakitan, Elza Soares, Rosana Toledo, Bebeto Castilho, João e Astrud Gilberto, Nara Leão (com quem manteve vida afora uma relação de admiração, amizade e respeito mútuo), além de dois que vieram de São Paulo para a apresentação: o precursor Johnny Alf e o pianista Pedrinho Mattar, que nessa altura já era seu grande amigo e a acompanhou naquela noite. Curiosamente havia ocorrido um racha naquele momento na turma da bossa emergente. Ronaldo Bôscoli teria brigado com Carlos Lyra, e este programou um outro show na mesma noite, na PUC da Gávea, intitulado A Noite do sambalanço, ao lado de outros novos astros, como Alaíde Costa, Oscar Castro- Neves, Sylvinha Telles, Baden Powell e Juca Chaves. Certa vez, após um desses shows de bossa nova, promovido por Ronaldo, este disse à Claudette a famosa frase que, segundo ela, marcou sua vida. Você deveria ir para São Paulo. Aqui você será mais uma cantora de bossa nova, igual a todas as outras. Lá, um dia você poderá contar a sua história . Apoiado pelo seu colega, o pianista Pedrinho Mattar, que também estava presente, a princípio ficou um pouco chocada com o conselho, mas começou a digeri-lo. Hoje, vejo que ele teve uma visão incrível de jornalista, de produtor que ele era. Porque o Dick Farney e o Johnny Alf já haviam ido do Rio pra São Paulo, já eram modernos, mas sem a intenção de divulgar as novas bossas que se fazia pelo Rio. Faziam o que sempre fizeram. Quando eu vim, era para cantar esse tipo de repertório que ninguém cantava aqui, a divulgação dessas músicas acabava ficando em boa parte comigo, compara. Virada à Paulista Claudette estava inclinada a aceitar os conselhos de Ronaldo Bôscoli de partir rumo à pauliceia. Acontece que ela precisava de uma oportunidade profissional, afinal, não poderia chegar com uma mão na frente e a outra atrás e, desconhecida por lá, tentar um emprego... Ela só havia passado por Sampa uma vez, a convite do cantor Agnaldo Rayol, par apresentar-se em seu programa de TV, ainda na década de 1950. Foi, aliás, a primeira vez que ela apareceu na televisão. Fora isso, daquela cidade ela mal conhecia de nome a Avenida São João. Fato é que o pianista e amigo Pedrinho Mattar já estava empenhado em levar Claudette para sua terra. Estávamos em 1961 e nessa altura, ela já morava na Av. Prado Junior, mas não tinha telefone que naquela época era um bem de consumo muito caro. A sorte é que a mãe da atriz Maria Gladys, que já estava começando a fazer teatro e cinema àquela altura, lhe adorava e permitiu que ela desse seu número a pessoas importantes de modo a facilitar seus contatos de trabalho. A intimidade entre as duas era tanta que muitas vezes a cantora desabafava em seus ombros toda a angústia em querer ir pra São Paulo, mesmo à revelia de dona Dejanira. Só lhe faltava, de fato, uma oportunidade com um mínimo de estrutura, pois se manter sem um mínimo de estabilidade naquela cidade seria inviável. Um dia, a mãe de Gladys bate na porta de Claudette e diz, sorridente: São Paulo está te chamando . Era Pedrinho Mattar. Quando ela atendeu, seu amigo foi breve: Tô tocando na Baiuca, você vem? Era o empurrão de que ela precisava. A boate Baiuca era uma das mais chiques da noite paulistana, situando-se no entorno da Praça Roosevelt, no Centro antigo da cidade. Negócio fechado, ela foi para lá. A princípio, Heraldo Funaro, proprietário da boate, a hospedou no belo Hotel Comodoro, na Avenida Rio Branco, ali mesmo no centro, e depois conseguiu um apartamento para que ela ficasse por mais tempo, enquanto durasse a temporada. Não imaginava que, a partir daquele momento, a cantora nunca mais largaria a cidade em definitivo. Claudette tinha duas entradas em cena por noite e seu repertório era basicamente de bossas novas cariocas, ainda praticamente desconhecidas dos paulistanos, que ela lançava por lá em primeira mão. O barquinho eu cantava umas mil vezes por semana, diverte-se. A temporada na Baiuca, ao lado do trio de Pedrinho Mattar ia muito bem, mas enchia de interrogações a cabeça de Heraldo, seu proprietário. Ele não entendia direito o som que fazíamos. Imaginou que eu fosse uma cantora mais no estilo crooner, que cantasse todos os tipos de música, inclusive estrangeiras, para distrair as pessoas na boate. A Mary Gonçalves, que fez temporada pouco antes de mim ali, era assim; fez sucesso lá cantando também em outros idiomas. E eu entrava e cantava só coisas modernas. Além disso, a gente fazia com que o povo nos ouvisse. Uma vez um cliente de uma mesa de gente graúda pediu que eu cantasse O Barquinho, e quando fui cantar ele ficou conversando. No outro dia, quando ele pediu de novo, eu disse que não iria cantar por essa razão. Numa outra ocasião, cantei uma música e ninguém aplaudiu, aí o Chu Viana, contrabaixista, disse: ‘Já que ninguém aplaudiu, eu vou aplaudir’. E com isso a gente transformava aquilo quase num pocket show, para que as pessoas de fato prestassem atenção na gente e naquelas músicas diferentes, e não naquele repertório de noite que todo mundo já estava careca de conhecer, explica a cantora. Certa noite, o Heraldo chegou para mim e disse: ‘Não quero mais que você cante O barquinho aqui’. Eu, que já era geniosa, disse: ‘Então não cantarei mais na sua casa’ e fui-me embora. Só que o público começou a exigir esse repertório. Nessa altura, recebemos um convite para tocar na boate Claridge, do Hotel Cambridge, na Praça da Bandeira, e aí não adiantou. Depois ele se arrependeu, mas aí já era tarde, recorda. Já cantei pras pessoas dançarem, falarem e comerem. Foi um aprendizado, uma grande escola. Mas, nesse tempo, comecei a ser rebelde mesmo. Não dava mais para aguentar isso. Queria ser ouvida!, atesta. Nas duas ou três entradas por noite na Baiuca, Claudette estava ora acompanhada do trio de Pedrinho Mattar (com Chumbinho, na bateria, e Mathias, no contrabaixo) ora do conjunto de Walter Wanderley (que incluía Papudinho, no pistom, e Azeitona, no contrabaixo) sim, ele mesmo, o genial pianista e organista, preferido dos modernos da época. E tome clássicos fresquinhos da bossa nova no repertório! Muito Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Menescal, Bôscoli, Marcos & Paulo Sérgio Valle, Carlos Lyra... No Claridge, ela foi acompanhada mais por Pedrinho, que tocava num piano branco, o grande diferencial desta boate e eventualmente de César Camargo Mariano, ainda desconhecido, que dava canjas ali. Segundo ela, foi neste instrumento que Nat King Cole tocou quando foi a São Paulo, pois o proprietário o pintou de branco já que ele só tocava em pianos desta cor. Era comum também o pessoal esticar em restaurantes depois das quatro da manhã, horário final do expediente musical nas boates, pois uma lei instituída por Jânio Quadros proibia música ao vivo depois deste horário. A boemia desse tempo era realmente um tanto intensa. Além desses músicos fantásticos, quem abraçou a causa da bossa nova em São Paulo foram alguns jornalistas com colunas influentes nos periódicos da época, como Moracy do Val e Franco Paulino, da Última Hora (lida por 180 mil pessoas numa população que beirava os 3 milhões àquela altura). Moracy recorda que ele e o colega começaram a fomentar reuniões para promover o novo gênero e caçar novos talentos: Fazíamos reuniões na casa de grã-finos, como do grande maestro Souza Lima, da cantora Ana Lúcia e de um monte de gente. Foi quando apareceu Théo de Barros e o Cesinha (Cesar Camargo Mariano), que descobrimos tocando numa boatezinha na Rua Augusta . Uma matéria na prestigiosa revista Senhor, assinada pelo jornalista Nemércio Nogueira Santos em maio de 1963, dá pistas de que Claudette foi uma das agentes mais ativas dessas reuniões. Note que o tratamento carinhoso que ele lhe dava no artigo não era por acaso. Eles também tiveram um breve affair. A coisa começou a pegar fogo no Cambridge Hotel. Aos poucos, no fim da noite, formou-se um grupo de amigos: jornalistas, artistas e interessados que deram nascimento à tentativa de implementar a bossa nova em São Paulo. A ideia de reunir o pessoal para tocar, cantar e fazer música foi da própria Claudette Soares, um mimo de pessoa, entre outras coisas. Mário Lima, redator e locutor da Rádio Eldorado de São Paulo, Alaíde Costa, Pedrinho Mattar, Fernando Pacheco Jordão, redator do Estado de SP e secretário dos noticiosos da Rádio Difusora, Mathias (contrabaixista), Chumbinho (baterista do conjunto) e eu mesmo, Nemércio Nogueira Santos, fomos o início da bola de neve que foi rolando e rolando e foi parar no Juão Sebastião Bar. Paulo Cotrin, dono do JSB, também participou dessa bola de neve porque sempre foi um entusiasta apaixonado pela bossa nova. E a ideia que pegou (...) incorporou uma turma vibrante que, incentivada pela coluna de Moracy do Val na Ultima Hora, de São Paulo, começou a reunir-se e o movimento continua até hoje, cada vez maior, e provocando adesões e debates que só podem fazer bem à bossa nova, ajudando a incentivá-la e também a defini-la. Franco Paulino não é mencionado no texto acima, mas conforme testemunhou Moracy, também estava no bolo, e se recorda bem dessas reuniões, mas assinala que paralelamente a esses shows havia ainda encontros para tocar e discutir bossa nova, promovidos por universitários. Eram conferências semanais, onde sempre havia um pocket show de algum artista iniciante. Me lembro que o poeta José Carlos Capinam chegou a me chamar pra ir num desses encontros. Torquato Neto frequentava também. Gilberto Gil na fase que morava em São Paulo, que ainda era gordinho e vestia terno e gravata, também passou por algumas delas . São Paulo tinha uma atividade muito intensa em relação à bossa nova. Era uma praça que se vendia muito disco. Muita gente tocou esse gênero por lá. O (pianista) Moacyr Peixoto tocava música moderna; o Coalhada, que depois passou a ser chamado de Hermeto Paschoal, já tocava nos intervalos do show dele na Baiuca... O Johnny Alf tocava mais o repertório dele, autoral. O Walter Santos, que foi amigo de João Gilberto na Bahia nos anos 50, foi uma estrela da noite paulista. Tocava um bom violão, cantava muito e era grande compositor. Teve a turma do Zimbo Trio, o Walter Wanderley, o César Camargo que estava começando, Ana Lúcia, Alaíde Costa... A Claudette, embora não fosse uma grande estrela, tinha muito prestígio, um repertório de bom gosto, era muito respeitada! E batalhava muito cantava em tudo que era lugar. Possuía uma personalidade marcante como intérprete, explica Paulino. Apesar de já ser uma intérprete ligada à chamada bossa nova, desde os seus primórdios, Claudette não teve sorte de gravar discos próprios no período de gestação desta primeira fase do movimento, entre 1958 e 1962. Mas essa mudança para São Paulo fez com que as oportunidades discográficas começassem a aparecer. Em 1962, capitaneados por Pedrinho Mattar, juntaram-se ao contrabaixista (cego) Manfred Fest, à sua amiga Alaíde Costa e ainda ao Hamilton baterista que tocava com César Camargo Mariano, antes de o mesmo formar o Bossa 3, e formaram o grupo Os Bossais, gravando na etiqueta Áudio Fidelity um compacto duplo. Foi tudo uma grande brincadeira da gente. Nós fizemos tantos shows juntos, trabalhamos tanto que decidimos formar um grupo para gravar esse compacto, conta Claudette. Neste disco, havia clássicos iniciais do movimento, como o referido O barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli), Minha saudade (João Gilberto e João Donato), que ela já cantava desde os tempos da boate Drink, Quem quiser encontrar o amor (Carlos Lyra e Geraldo Vandré) e uma das duas primeiras gravações da Marcha da quarta-feira de cinzas (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes), pois nesse ano apenas o próprio compositor a havia registrado em seu LP Depois do Carnaval, o sambalanço de Carlos Lyra. Mas o grupo não foi adiante. Ficou só nesse disquinho porque a gravadora logo fechou e cada integrante decidiu seguir seu rumo. Um belo dia, Claudette estava se apresentando na Baiuca e um dos diretores da gravadora pernambucana Mocambo a convidou para assinar um contrato. Ansiosa por gravar e não perder definitivamente o bonde da história musical daquele período, assinou o contrato correndo, de olhos fechados. Para começar, ainda em 1962, foi lançado um 78 rotações com Só saudade, de seu ídolo Tom Jobim, e Nós e o mar, bela e sensual bossa de Menescal e Bôscoli, que ela foi das primeiras a gravar e fora logo em seguida imortalizada por Maysa naquele mesmo ano, em seu LP Canção do amor mais triste, da RGE. A Briga com Isaurinha Garcia Na ausência de fitas k7, os discos que compilavam a parada de sucessos nos anos 1950 e 1960 vendiam que nem água, pois garantiam o divertimento das festinhas familiares. As pessoas arrastavam os móveis, chamavam os amigos e curtiam para valer! Houve vários líderes de conjuntos e orquestras que se especializaram nesse estilo de discos, como o saxofonista Moacyr Silva e os pianistas Waldir Calmon e... Walter Wanderley. Admirado por músicos da noite que curtiam um som mais moderno, ele foi se tornando um símbolo da noite paulistana. Na vida pessoal, a partir do final dos anos 1950, ele iniciou um tórrido romance com a famosíssima Isaura Garcia, a única cantora brasileira até então a conseguir projeção nacional sem ter de mudar-se para o Rio de Janeiro. Pois bem, esta união teve ecos na carreira da cantora, pois ele a acompanhava em seus discos na Odeon, fazendo uma curiosa combinação. Ela, uma sambista totalmente tradicional, já com quase 20 anos de carreira, e ele um rapagão alto, bonito, jovem, antenado no que havia de mais sofisticado na música brasileira seja em repertório e harmonizações. Tudo estaria às mil maravilhas se Walter não fosse mulherengo e, vez por outra, bebesse além da conta. Por essas e por outras, ele e Isaura viviam às turras. Não era segredo para ninguém que muitas vezes as brigas terminavam em agressões físicas, até porque ela também tinha um temperamento explosivo. Pois nosso pianista-galã não resistiu aos encantos de Claudette (e vice-versa) e acabaram vivendo um romance, em meio às brigas do casamento com Isaurinha. Tudo começou logo que Claudette se mudou para São Paulo, se hospedando no Hotel Comodoro. Uma bela noite, Pedrinho Mattar foi pegá-la para irem trabalhar, mas como havia mais tempo, ele quis lhe mostrar um pianista moderno maravilhoso que tocava no bar daquele hotel. Era Walter. Quando vi aquele homem de 1m85, que parecia o Antonio Banderas, lindo!!! e tocando daquele jeito aquele piano... fiquei doida, admite, frisando que a verdade é que nove entre dez artistas da época sonhavam em namorá-lo. O encantamento foi recíproco, tanto que ele passou a ir vê-la com frequência na Baiuca. Ela, que não era de ferro, acabou cedendo aos encantos do nosso mestre das teclas. É bem verdade que fiquei nervosa, pois já conhecia a sua fama de mulherengo. Mas, como não estava interessada em casar, e sabia que ele vivia brigando com a Isaura, não achava nada de mais termos nossos encontros eventuais. Fora que sempre que a gente saía, ele dizia que a relação deles estava por terminar, que a separação ia sair e tal e coisa, analisa hoje. Só fico com raiva quando dizem que fui mulher dele, que vivi com ele, que o roubei da Isaura. Isso é tudo mentira, pondera. Dois anos depois, quando Claudette já estava em temporada no Juão Sebastião Bar, eles finalmente fizeram uma temporada juntos. Isto fez Isaurinha ficar mordida, roxa de ciúmes. Começou a bater no ouvido dela que os dois poderiam estar tendo, de fato, um caso. Aí o bicho pegou. Esta é uma história que virou lenda: a briga entre Claudette & Isaurinha na porta do Juão. E cada um que conta, aumenta um pouco e exagera. Já foi dito que as duas saíram no tapa, que se engalfinharam na porta da boate, que ela puxou e arrancou um chumaço de seu cabelo, que Claudette foi seguindo Isaura pelo interior da boate, chorando, e se ajoelhou para pedir perdão a ela, que por sua vez se referia à rival como anã . Mesmo se ter havido pancadaria entre as duas, o que houve no duro já daria umas boas cenas de filme. O Pedrinho uma noite me ligou e disse: ‘Não venha aqui hoje porque a Isaura disse que vai te matar’. Imagina se eu ia deixar a casa lotada e não iria por causa de uma ameaça dessas. Quando eu chego lá, já vi que ela não estava armada. Virou-se para mim e disse: ‘Vim aqui pra te matar!’. E eu: ‘Isaura, se eu morrer aqui na porta será uma grande morte, na frente do meu templo, do lugar que eu faço mais sucesso. Pare de palhaçada porque você tem a sua filha para criar! Além do mais, eu não divido a casa com o Walter e nós nunca moramos juntos. Até porque moro com pai, mãe e avó. Se você quiser, pode ir até lá comprovar’. E ela: ‘Está bem, mas um dia eu te mato!’, diz Claudette, expondo a sua versão dos fatos. Ficou aquele clima todo e ela foi embora. Passou um tempo, menos de um mês, e tocou a campainha lá de casa. Minha mãe tomou um susto quando abriu a porta e foi logo até o meu quarto me chamar: ‘Vá até lá atender a porta que o assunto é seu... Você começa suas encrencas, então agora vá resolver!’ Quando abro a porta da sala, estava Isaura com a Mônica, a filha dela com o Walter, que devia ter entre oito e dez anos. Assim que me viu, falou: ‘Esta mulher aqui é que roubou teu pai de mim. Ela é a causadora! Olhe bem pra ela para você não esquecer’. E a garota, na sua inocência, falou: ‘Ah, mãe! Mas ela eu já conheço. A gente já foi tomar sorvete! Já saí com ela e o papai’, relembra hoje, Claudette, aos risos. A Isaura ficou tão passada quando a filha disse aquilo que nem quis saber de mais nada, pegou-a pelo braço e saiu em direção ao elevador para sumir dali na mesma hora. E realmente teve um dia que o Walter quis me apresentar à filhinha e a gente saiu para um passeio, diz. Por essa Isaurinha não esperava. Era a gota d’água que faltava para azedar de vez a relação entre as duas divas. Curiosamente, anos antes dos rumores do romance entre Walter e Claudette, Isaura chegou a perguntar à colega como deveria interpretar algumas canções de bossa nova no LP que ia gravar na Odeon acompanhada do marido no órgão. Fã da maior sambista de São Paulo, negou-se a ajudá-la. Disse-lhe que ela já sabia tudo, que não precisava de nada, pois já era uma cantora consagradíssima, com 20 anos de estrada, um nome nacional. Imagine! O que eu ia ensinar para aquela cantora maravilhosa?, indaga. Por causa disso acho que no fundo ela gostava de mim como cantora. O que rolava eram ciúmes da parte dela, aliás, com toda razão, admite. O Encontro com César Camargo Mariano Musicalmente, Claudette diz que aprendeu muito tanto com Walter quanto com Pedrinho, seu fiel escudeiro: Com o Pedrinho aprendi a coisa do palco, do pocket show, do improviso, de falar nos intervalos, de fazer humor. Ele às vezes imitava o Liberace, era uma delícia... Com o Walter, aprendi harmonia, a coisa do moderno, compara, afirmando que este último era um tanto vaidoso e tentou fazer um jogo com ela, que por sua vez não cedeu por orgulho. Ele fez um disco lindo com a Doris Monteiro (em 1962) e eu também poderia ter feito, mas não temos nenhum registro juntos, sabe por quê? Numa das vezes em que saímos para tomar sopa de cebola que ele tanto gostava naquele frio de São Paulo, ele falou: ‘Você só vai ser Claudette Soares quando gravar comigo’. E eu respondi: ‘É mesmo? Então eu jamais vou ser famosa porque nunca vou gravar com você’, diverte-se. Claro que eu sabia que se gravasse com ele, isso seria ótimo pra mim, mas eu sou muito orgulhosa e não cedi não, ri. Por intermédio de Walter Wanderley, ela conheceu ainda um terceiro pianista muito importante em sua carreira. Foi um pouco antes de chegar na boate Claridge do Cambridge e no Juão Sebastião Bar, ainda na fase da Baiuca um verdadeiro ponto de encontro de artistas, que o jovem César Camargo Mariano, aos 18 anos, dava canjas no local. Um dia o Walter apareceu com a Claudette e um bando de gente. No meio da conversa, ele pediu para eu tocar um pouco e que ela cantasse. Eu perguntei: ‘Quem é essa moça?’. E ele: ‘Você é burro mesmo, muito moleque! Essa é a famosa Claudette Soares, a Princesinha do Baião, mas ela agora está cantando bossa nova bem pra caramba!’, diverte-se César. Nessa época, início dos 60, eu era jazzista ao extremo, radical. Só aceitava o jazz e a música erudita. A bossa nova estava bem no comecinho, que era um gênero que tinha um pouco da qualidade musical do jazz. Só que eu não aceitava muito os cantores... era muito radical. Mas fiquei impressionado com a Claudette. Quando acabou a canja, ela veio e ficou no piano. Cantou um pouquinho com a gente e notei que deu uma liga musical muito boa. Mais tarde, veio falar comigo: ‘Escuta, tô querendo gravar um disco e queria fazer com o som desse trio’ piano, baixo e bateria, que de vez em quando tinha o Theo de Barros tocando violão, relata. O meu trio era muito bom, modéstia à parte! Tinha o baterista Hamilton Pitorre e o baixo do Sabá. Esse trio virou Quarteto Sabá por causa da Claudette. Isso foi entre 1962 e 1963. Ela queria gravar um disco com aquele som e fiquei meio gelado porque nunca tinha entrado num estúdio de gravação. Não tinha a menor ideia de como seria. O Sabá me convenceu de que seria uma oportunidade boa para mim e para o próprio quarteto. Comecei a ter milhões de sonhos, imaginando como seria aquilo, diverte-se ele que, afinal, estreou em gravações no estúdio da Rádio Eldorado, de São Paulo. Não foi só Walter Wanderley e César Camargo que repararam na simpatia, no charme e na musicalidade de Claudette Soares. O jornalista Paulo Cotrin, encantado com a cantora e a bossa nova que divulgava no Claridge, disse a ela e seu trio encabeçado por Pedrinho: Me aguardem. Um dia vou abrir uma boate e vou levar vocês pra lá . E, de fato, ele cumpriu a promessa. Arrendou um bom endereço, na Rua Major Sertório, onde já havia o La Licorne um rendez-vous de luxo, com mulheres lindas, elegantérrimas, cheias de peles para lá e para cá, em carros conversíveis, e ali bem próximo à Faculdade Mackenzie, abriu o Juão Sebastião Bar, templo da bossa nova paulista, onde Claudette reinou alguns anos como uma das principais atrações. O nome era uma paródia ao do alemão Johann Sebastian Bach, gênio da música erudita. A decoração parecia com um castelo de Drácula, tudo de pedra, a porta abria feito a de um saloon, e em cima havia um restaurante. Ao lado da porta, havia um candelabro enorme, com muitas velas... Era lindo e muito bem frequentado por gente rica e influente, que depois viraram políticos e empresários. Ali ficou sendo o ‘point da bossa nova’. A partir de seu surgimento, a coisa cresceu e eu também cresci musicalmente no sentido da importância que se tornou aquilo. Era a única casa de São Paulo que competia com o Beco das Garrafas no Rio, compara Claudette que cantou ali até mesmo para astros internacionais como os atores Kirk Douglas e Rock Hudson e para expoentes do jazz como Dizzy Gillespie. Antes o point era a Baiuca, onde chegou a ser ouvida por outros astros de Hollywood, como John Gavin e Vivian Leigh. Em 1963, a Mocambo soltava o primeiro compacto duplo solo da cantora e na contracapa já avisava ser uma prévia de seu LP, que seria lançado brevemente, e já com o acompanhamento de César Camargo e seu conjunto. Tamanho não é documento é o slogan que se ajusta perfeitamente à cantora Claudette Soares. Com o tamanho de 1,50m, Claudette Soares tomou conta de São Paulo, onde, no Juão Sebastião Bar, local onde se reúne a nata da bossa nova, ela é a vedete máxima. No recente festival da bossa nova realizado no Rio de Janeiro, Claudette obteve a consagração da crítica especializada que superlotava o Copacabana Palace, onde não regateavam aplausos a essa cantora. O seu disco de estreia na Mocambo, o 78 rpm 15.424 com as músicas Só saudade e Nós e o mar despertou por parte dos disc jockeys um interesse incomum, o que levou a Mocambo a preparar um elepê que se intitula Claudette é dona da bossa, e do qual este compacto é uma espécie de trailer. Note-se que já havia se passado um ano desde que ela assinara o tal contrato com a gravadora pernambucana. Nesse meio tempo, seguiu com amigos para uma rara apresentação no Rio de Janeiro, onde, conforme atesta o texto acima, cantou na chiquérrima boate do Hotel Copacabana Palace, na companhia de Durval Ferreira, Bebeto Castilho, Maurício Einhorn, seu amigo Pedrinho Mattar e outros bambas da bossa numa apresentação vitoriosa. Era um tipo de show que eles chamavam de festivais, uma Jam session sofisticada que reunia muita gente boa, diferente daquelas reuniões bagunçadas dos primeiros tempos, atesta Bebeto, à época já se iniciando no Tamba Trio, recordando que Claudette sempre tomava parte nesses eventos ao lado do Pedrinho Mattar. Mas se pudesse cantar com outros músicos, nunca se fez de rogada. Era uma pessoa sempre muito legal na turma, elogia. O jornalista Franco Paulino escreveu uma crítica deste compacto na Última Hora, enaltecendo o talento de Claudette e criticando o aspecto técnico do disco e realmente os discos desta gravadora tinham um som bastante sofrível. Senhores: a curiosidade é a alma do negócio. O sujeito gasta um dinheirão, reúne o pessoal no estúdio e pronto. Eis mais um disco. Na hora de passar para a cera é aquele fiasco. No Juão, a Claudette era noite inspirada, mostra a todos a bossa que tem: você vibra, canta, chora, gesticula e aplaude a moça. Ela é uma intérprete, enchendo de chama bem grande sua voz bem pequena. Nada disto há neste compacto (33 rotações). Não souberam dosar os sons e destacar o fraseado rico da menina. Claro que se deixarem um Wilson Miranda, por exemplo, num estúdio, tentando cantar samba entre os maiores técnicos de som do mundo, nem assim ele balançaria. A não ser que lhe dessem uma corda. Mas em se tratando de Claudette não se entende um disco confuso, uma tristeza de gravação. Funcionou a curiosidade: largaram a moça, sem assistência nenhuma no estúdio da rádio Eldorado um bom estúdio, por sinal. O repertório é razoável: a superbatida Garota de Ipanema, de Tom-Vinicius-João e mais três sambas Crediário do amor, do Téo, Samba só, de Walter Santos e Tereza Souza e Bossa na praia, de Geraldo Cunha e Pery Ribeiro. A letra do Samba só, de Teresinha Sousa, é uma tentativa de explicar e afirmar a bossa nova. As outras não fogem ao padrão coquetel de frescurinha. Já as melodias são ótimas. E o conjunto que acompanha Claudette fez bons arranjos e soube executá-los. O nome dos rapazes deveria constar na contracapa: Sabá (baixo), César (piano), Hamilton (bateria) e Teo (guitarra). Ouvindo o disco pela primeira vez, tem-se a impressão que a rapaziada obriga Claudette a se manter sempre dentro de um esquema harmônico (talvez porque a sua voz pouco permaneça em primeiro plano). Defeito de gravação. Claudette não merece isso. Mesmo porque este compacto (mostra antecipada do LP quem vem por aí) é, praticamente, o seu primeiro disco importante. Antes ela só apareceu em algumas faixas de um LP da Copacabana, no compacto-duplo gravado pelo quarteto vocal Os Bossais e em um 78 rotações lançado há pouco pela Mocambo, cantando Nós e o mar e Só saudade . Mas não tem nada não, Claudette. A falha não é irremediável na sua carreira. O problema é que a Mocambo era uma gravadora pequena, com pouca penetração no mercado e pouco dinheiro para investir em seus artistas. Estava de pés e mãos atados à gravadora e não havia como sair daquela arapuca. Perdi o grande miolo da bossa nova com esse contrato, lamenta Claudette. A Mocambo sempre fui ruim nesse aspecto técnico. Mas teve repercussão boa. A importância deste disco foi porque o gravei com César Camargo Mariano, quando ele estava começando. Quando o convidei para gravar comigo, ele ainda não tinha confiança de que pudesse fazer arranjos para um disco inteiro. Então a outra metade dos arranjos do meu primeiro LP coube ao Erlon Chaves . Primavera no Juão Sebastião Bar O tal LP, Claudette é dona da bossa, só saiu em 1964 (vejam a morosidade da gravadora e a falta de sorte da cantora que já divulgava standards do movimento desde antes de João Gilberto gravar o famoso Chega de saudade!). Pelo menos, Claudette conta que teve autonomia na escolha do repertório. Além das quatro que já haviam saído no compacto duplo, ela atacava de músicas da parada de sucessos daquele início dos anos 1960 que se tornaram clássicos atemporais da bossa nova e da própria MPB, mapeando alguns dos principais autores do gênero: Pra que chorar (Baden Powell & Vinicius de Moraes), Samba do avião (Tom Jobim), Sem você (Tom & Vinicius), Ah! Se eu pudesse (Menescal e Bôscoli), Tristeza de nós dois (Durval Ferreira, Bebeto e Maurício Einhorn), Conselho a quem quiser voltar (Sílvio César) e duas bossas que sumiram na poeira Evolução (Pery Ribeiro e Geraldo Cunha) e Azul contente (Walter Santos e Teresa Souza). Claudette conta que Tristeza de nós dois foi no dia de seu aniversário de 24 anos mostrada a ela em sua casa no Rio, no Grajaú, em outubro de 1959, quando ainda namorava o Haroldo Mauro. Durval, Bebeto e Maurício Einhorn foram à sua casa, bebericaram e lhe mostraram em primeira mão. A canção foi lançada no já referido LP coletivo Nova geração em ritmo de samba, do ano seguinte (aquele que marcou a estreia de Eumir Deodato nos arranjos), por um sugestivo grupo de amigos intitulado Conjunto da U.R.S.A. (União Reabilitadora do Samba de Asfalto). E, agora, finalmente, quatro anos depois, Claudette a registrava em sua voz, justo em seu primeiro LP solo. César Camargo que tocou piano e assinou todos os arranjos do lado B do álbum, como integrante do Quarteto Sabá (com este no contrabaixo, Théo de Barros na guitarra e violão e Hamilton Pittore, na bateria) conta que Claudette, a dona da bossa, apesar da pouca divulgação, foi importante para um grupo de pessoas naquela ocasião: Este disco explodiu dentro da área da música moderna brasileira, no Rio e em São Paulo, por conta da cantora e da banda. Logo que saiu, recebi um telegrama do Menescal, que ainda não conhecia pessoalmente, dizendo maravilhas sobre o disco e sobre o Quarteto. Nesse mesmo período, o Paulo Cotrin inaugurou o Juão Sebastião Bar. Eu já o conhecia da época de jornalista da Última Hora e ele então me convidou para inaugurar a sua casa. Desta vez, eu estava com outro conjunto, com Nascimento, do Sambalanço Trio, Airto Moreira, na bateria, e Humberto Cleyber, no baixo . Outro motivo de felicidade para César é que ele revezava suas entradas no Juão com o trio do ídolo e amigo Walter Wanderley (formado por Zelão, no contrabaixo, Cláudio Slon, na bateria, e Hermeto Paschoal, na fl auta), com Claudette cantando todas as noites. Cada um tocava meia hora a noite inteira. De oito da noite às quatro da manhã. Embora a gente já tivesse gravado o disco, não tínhamos tocado juntos ao vivo. E durante as noites, muitas vezes ela vinha e cantava um pouco com a gente também. Éramos muito amigos, recorda o pianista, enfatizando que o JSB era um reduto de intelectuais do cinema, do teatro e da música. Era difícil ver gente da alta sociedade lá, a não ser que fossem ligados também à cultura. Já a Baiuca era mais social, meio clube. Foi a primeira vez na vida que eu vi garrafa de bebida com nome das pessoas, dos clientes. Era um hábito da Europa e do Japão, com direito a muito charuto e música erudita. Um clube só pra ouvir jazz, mais elitista, 50% voltado pra arte, 50% para o glamour da noite, compara. Pois no Juão Sebastião Bar, o maior barato que se tinha era ver Claudette sentadinha em cima do piano, com um grande candelabro logo atrás dela. Como surgiu essa ideia? Coisa do proprietário Paulo Cotrin. Como a casa era muito comprida e eu muito baixinha, quem sentasse lá no fundo não me veria. Uma bela noite, ele tem um estalo, me pega e me põe em cima do piano. A princípio, me senti esquisita, fora o problema da respiração. Cantar sentada, como ficava o diafragma? Fora que não sou muito de cantar sentada. Eu brincava com a Nara Leão, dizendo que ela só cantava sentada pra mostrar os joelhos lindos e eu cantava em pé porque nem tenho perna direito (risos). Mas acabei me adaptando. Era eu de um lado, o candelabro do outro. Isso mais a minha interpretação de Primavera, do Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, se tornaram minhas maiores marcas naquela casa . É que o meu amor é tanto Um encanto que não tem mais fim No entanto ela não sabe que isso existe É tão triste se sentir saudade Amor, eu lhe direi Amor que eu tanto procurei Ah! Quem me dera eu pudesse ser A tua primavera e depois morrer Primavera, por sua vez, se tornou o carro-chefe de seu segundo LP que a Mocambo colocava na praça, já em 1965. Foi o Vinicius quem levou essa música para eu aprender, porque ela já estava sendo sucesso no Rio, no espetáculo Pobre menina Rica, para o qual ela foi composta, relembra. Desta vez, o segundo álbum da cantora levava apenas seu nome na capa. O texto de contracapa, assinado pelo radialista Fausto Canova, sublinhava seu pioneirismo em cantar novas bossas em São Paulo. A novidade deste LP, porém, ficava por conta do elenco estelar de maestros-arranjadores e músicos convidados de primeira grandeza na cozinha instrumental, incluindo Severino Filho (do grupo Os Cariocas), Erlon Chaves, Zezinho (José Antonio Alves), Manfredo Fest Trio, Jongo Trio, Pedrinho Mattar Trio e Ely Arcoverde Quarteto. Das 12 faixas do LP, oito foram se convertendo com o tempo também em clássicos atemporais da bossa/MPB: Gente, A resposta e Preciso aprender a ser só (Marcos & Paulo Sérgio Valle), Chuva (Durval Ferreira e Pedro Camargo), Vivo sonhando (Tom Jobim), Razão de viver (Eumir Deodato e Paulo Sérgio Valle), além de Barquinho diferente, do violonista paulista Sérgio Augusto, que estava se lançando na ocasião e com quem Claudette teve mais um affair. Mais um não! Foi outro de seus romances que quase culminaram num casamento. Além de Sérgio, havia ainda algumas bossas da turma de Sampa: uma canção de Ely Arcoverde (com Newton Campos), Ode à primavera; outra de Messias Santos Jr., Tem que ser azul, e finalmente das compositoras Vera Brasil e Myriam Ribeiro, Eu só queria ser. Por esse disco, Claudette foi eleita em 1965, pelo jornal Diário de Notícias, como a melhor cantora do ano, fazendo par com Silvio Caldas (por seu LP O seresteiro). Tuca e Walter Santos as revelações de 1965. Jair Rodrigues e Elis Regina foram os melhores sambistas (o primeiro pelo LP Dois na Bossa, e a segunda pelo LP Samba eu canto assim). Bons tempos! Há pelo menos três anos sendo a rainha do Juão Seabastião Bar, Claudette na companhia do trio de Pedrinho passou a abrir espaço às quartas-feiras, para canjas de novos talentos. Toquinho, Chico Buarque e seu futuro grande amigo Taiguara foram alguns que deram canjas ali no templo da bossa nova paulistano. Aliás, Chico ficou para morrer porque Claudette lhe prometera há algum tempo gravar uma de suas primeiras músicas, a Marcha para um dia de sol, algo que nunca aconteceu, frustrando-o um bocado. A cantora põe hoje a culpa na gravadora. Se a Mocambo tivesse tido visão, já pensou? Teria sido a lançadora de Chico Buarque. Imaginem... Apesar do sucesso estrondoso do Juão que chegava a abrir um dia na semana até para recitais de artistas de música erudita, como os do maestro Diogo Pacheco Claudette, Pedrinho & cia. foram surpreendidos por mudanças internas por parte da direção da boate. Nós teríamos que sair da casa porque o Cotrin teria decidido transformá-la em pista de dança, sem música ao vivo. Não sei se isso era mesmo verdade. Fato é que nessa fase já havia inaugurado outra boate, a Ela, Cravo e Canela, com uma ótima aceitação da imprensa, ali mesmo na mesma rua Major Sertório. Então, na mesma hora fomos convidados pelos proprietários para fazer aquele que seria nosso primeiro pocket show oficial, montado mesmo, conta ela, que estreou com o trio de Pedrinho e o violonista Sérgio Augusto Um show de show, dirigido por Abelardo Figueiredo (futuro grande empresário da noite paulistana) e textos de Lauro César Muniz (depois, grande autor de novelas). Nesse período, viajou com esse pocket show por outras praças brasileiras, sempre ao lado de Pedrinho. Depois, outro show nos mesmos moldes foi armado com eles, desta vez com a presença da violonista e compositora Vera Brasil. As lembranças do Ela, Cravo e Canela são as melhores possíveis. Era uma casa também muito chique, de certa forma parecida com o Juão. Maysa fez muito show lá e eu dei muita canjas em shows dela cantando Primavera, que ela adorava me ver cantar, recorda Claudette, que já conhecia a amiga desde os tempos em que foi crooner no Drink, no Rio. Já em São Paulo, a diva dramática foi vê-la algumas vezes na Baiuca e já era fã tanto dela, como de Walter Wanderley e Pedrinho Mattar, com quem inclusive excursionou por Portugal e Espanha no início dos anos 1960. A convivência com Maysa a fez conhecer seu primo, Ronaldo Youle, que é seu amigo até hoje, e a namorar durante cerca de um ano o irmão da cantora, Alcebíades, o Cibidinho. Ele era alto, tinha um olho azul, era uma versão homem da Maysa, um escândalo! Tivemos um longo romance. O Ronaldo ficava comigo até o Cibidinho sair do trabalho. Por conta disso, íamos muito ao apartamento dela. Foi Maysa quem me ensinou que primeiro de tudo é preciso impor aquilo que você quer profissionalmente. Eu brincava com ela: ‘Ah, se eu tivesse esses seus olhos e o seu tamanho, eu dominava o mundo’. (risos) Era muito generosa, elogia. Certa noite, Maysa telefonou dizendo que ia vê-la no Juão Sebastião Bar e alertou: Estou precisando de uma promoção na imprensa. Você vai ver o que vou fazer . Claudette não entendeu nada. Quando ela chegou à boate, para descer os três degraus em pedra que havia em sua entrada, tirou o par de sapatos altos, e entrou descalça. No dia seguinte, um colunista foi certeiro: ‘Maysa entrou tão bêbada no JSB que precisou tirar os sapatos para se aguentar em pé’, diverte-se. Primeiro Tempo: 5 x 0 Uma noite Claudette está a caminho do Ela, Cravo e Canela para fazer seu show habitual e antes de chegar vê uma faixa enorme estendida sobre a porta da boate vizinha, o Juão Sebastião Bar, que dizia: Esta casa está fechada pela ignorância musical . Até hoje não entendeu a razão da desilusão de Paulo Cotrin em tê-la fechado definitivamente. Seguiu em frente e, chegando ao seu destino, recebeu o convite de seu velho amigo Ronaldo Bôscoli para que retornasse ao Rio de Janeiro para estrelar um show que estava idealizando. Na mesma hora, sentiu um frio na barriga: Voltar ao Rio, depois de tanta batalha para fazer seu nome em São Paulo? Será que daria certo? Fato é que Bôscoli lhe convenceu. Havia num beco, na Rua Rodolfo Dantas, em Copacabana, uma pequena casa de shows, o Rui Bar Bossa. Ele queria que fosse um show com um casal de cantores e um trio de músicos, a exemplo do Gemini V, que reuniu Leny Andrade, Pery Ribeiro e o Bossa Três. Eles queriam a dupla Claudette & Silvio César, mas ela bateu pé para fazer com um iniciante, o jovem Taiguara, que ela conhecera em São Paulo dando canjas e foi assisti-lo num simpático espetáculo chamado Receita para Vinicius, em que ele recitava e cantava textos e versos do Poetinha. Taiguara era muito interessante. Além de cantar, tinha um lado de ator muito bom, de vanguarda. Ele vinha de uma geração bossa nova, mas era de uma musicalidade completamente diferente, mais passional. Ele era uruguaio, talvez tivesse algo de tango no sangue, analisa. Acatada a sugestão, que foi definitiva na consagração da carreira do cantor, surgiu então o espetáculo 1º tempo 5 x 0. Para tanto, trouxeram de Sampa também o Jongo Trio (Cido, Mário e Milton Banana). Pronto! Em pouco tempo, o show pegou e Orlando Miranda (com seu sócio, o empresário Pedro Veiga) decidiu levá-lo ao Teatro Princesa Isabel, do qual era proprietário. O resultado foi um sucesso retumbante, de público e crítica, batendo recordes de permanência em cartaz. Luiz Carlos Miéle explica hoje em que contexto este show foi montado. Eu e o Ronaldo criamos um tipo de show de teatro sempre com uma dupla de cantores e um trio de bossa nova. Primeiro foi o Quem tem bossa vai à rosa, no Teatro Santa Rosa, que depois virou Preto 22 e Boate New York, na Visconde de Pirajá 22, reunindo Wilson Simonal, Marly Tavares e o Bossa Três. Depois veio o Gemini V, com Leny Andrade, Pery Ribeiro e o Bossa Três, e finalmente o 1º Tempo 5 x 0. Foi uma marca da dupla que começou no Beco das Garrafas, de criar coisas engraçadinhas, ser mais do que uma simples apresentação e justificar uma produção. Os três shows foram sucesso, recorda. Era ‘Primeiro tempo 5 x 0’ porque esse show comemorava as cinco vitórias do Brasil no campeonato mundial de futebol, de 1962. Além de cantarem, tinha esquetes com um pouco de humor, o que surpreendeu os fãs dos dois, da Claudette e do Taiguara, recorda ele, cujo show girava em torno da expectativa de que a seleção brasileira ganhasse fácil a Copa de 66. Com a derrota do time no dia 19 de julho, pensou-se até que o espetáculo sairia de cartaz. Mas ele acabou sendo reescrito, com algumas alterações, e a temporada continuou com ainda maior sucesso. Claudette Soares e Taiguara estão abafando no bonito show apresentando no Rui Bar Bossa, diariamente, e que leva por título Primeiro Tempo: 5 X 0, onde o Jongo Trio brilha com os acompanhamentos e execuções de solos, de segunda a sábado. Ex-repórter das madrugadas e ex-médico Maurício Paiva abriu a boate da Rua Rodolfo Dantas. A folga dos artistas era segunda, mas depois dos protestos passou a domingo. Voltando à Guanabara, depois de muito tempo longe de nós, a bonita voz da bela Claudette Soares. A menina ainda brilha como nos áureos tempos de quando começou há 10 anos. Dizem até que Claudette está cantando muito mais. O tempo não envelheceu nem o broto que ainda hoje é, nem a voz bonita e carinhosa de CS. Aliás, o espetáculo é todo versado no Tempo . É tempo disso, tempo daquilo, tempo passado, tempo presente, tempo de repouso, tempo de luta, enfim, tempo de tudo. A meiguice de Claudette, sua beleza e sua voz, unem-se ao anjinho que é a estrelinha do espetáculo do Rui Bar Bossa. (Jornal Luta Democrática, 15/5/1966 Bossa é Taiguara, Claudette e Jongo, texto de Francisco Pinto) o Primeira coisa que chama a atenção: uma temporada de segunda a sábado!!! Assim era a noite carioca dos anos 60... A seguir, a crítica do jornal O Globo destaca as qualidades de cada um dos participantes. Depois do Gemini V (oito meses em cartaz, em boate e teatro), volta a dupla Miele-Bôscoli, que sem dúvida fez escola dentro da madrugada lançando mão de uma única fórmula, mas que, até agora, vem atingindo em cheio o público boêmio: dois cantores e um trio. Pouco texto o que não é bem o caso desse 1º Tempo 5 x 0, e muita música moderna, bem arranjada e colorida, com a dinâmica que só essa dupla sabe dar aos espetáculos que produzem. Mas vamos por partes como sempre: Claudette Soares: desde que se transferiu para SP que essa moça enveredou pelo caminho da moderna música brasileira. No 1º Tempo, Claudette é uma presença terna e sua voz tem, mesmo, um calor e um poder de comunicação muito válidos. Além disso com aquele seu jeitinho e trejeitinhos, a moça colabora, fl agrantemente, na dinâmica do show. Do roteiro, constam algumas piadas (uma ou outra fortes) e uma ótima imitação da cantora Isaurinha Garcia, de São Paulo, muito benfeita por Claudette: só não concordo com o tom gozador-polêmico que mandaram a moça dar ao seu trabalho. Mas, pela imitação em si, Claudette merece grau onze... Taiguara: está aí um moço em quem pouca gente acreditava, mas que resolveu levar a carreira a sério e colocar-se numa posição bastante interessante, no cenário musical. Pode-se mesmo afirmar que Taiguara livrou-se, por toda vida, daquilo chamado Samba de copo na mão, coisa com a qual foi lançado aos olhos do público e da crítica. Taiguara inclusive em alguns momentos consegue representar e para isto já havíamos chamado a atenção do leitor quando da crítica do Receita de Vinicius. Também acontece uma imitação, muito boa, a cargo do rapaz: a de Miltinho. Jongo Trio: lindo o arranjo feito pelo conjunto para o samba Tristeza, do último carnaval que tivemos. Lindo mesmo. O novo Jongo também vocaliza, e consegue alcançar momentos de rara felicidade. Tem uma atuação modesta em todo o roteiro, e mesmo os solos do piano, nos números isolados do trio, são bem dosados e não cansam. Em síntese: poder-se-ia, apenas, fazer uma restrição ao espetáculo no que tange ao tom, essencialmente polêmico, de quase todas as frases do texto. A dupla pretendeu muito responder às críticas feitas por um jornalista só ao movimento bossa-novista. Mas (...) há de fato, um direito de a dupla dirigir todo o texto do show em direção de uma só figura da imprensa. Outras críticas, tão ou mais violentas, aconteceram por aí, e mereciam resposta. No mais, é preciso ir ver, urgentemente, um espetáculo com muita dinâmica e lindos números musicais, no Rui Bar Bossa . (O Globo, 13/5/1966) O único comentário desfavorável do crítico, com razão, é no que se refere ao tom da imitação caricata de Isaurinha feita por Claudette, da mesma forma que Taiguara imita Miltinho, como se ambos fossem cantores de samba de estilo velho e ultrapassado. Este último chega mesmo a colocá-lo como se fosse um cantor repetitivo que cantava como um disco arranhado. Uma galhofa que hoje daria processo, mas que em tempos politicamente incorretos dava motivo apenas a gargalhadas. E, como se sabe, a bossa nova era muito elitista e, como se sabe também, ninguém bate em cachorro morto... O humor do texto é um tanto datado aos dias de hoje, mas naquele tempo funcionava. Outra crítica favorável foi de Hugo Dupin no Diário de Notícias, este já noticiando a transferência do show do pequeno Rui Bar Bossa ao Teatro Princesa Isabel. Do Rui Bar Bossa passou para o Teatro Princesa Isabel, repetindo no segundo tempo a goleada do primeiro. Um show completo com a defesa bem plantada e os atacantes Claudette e Taiguara marcando todos os gols, e o Jongo Trio fazendo a cobertura na boca da área. Piadas e repertório bem escolhidos, destacando-se Apelo, People e Tempo feliz, além de um pot-pourri de Vinicius e seus parceiros. Para o time Rui Bar Bossa, a Copa da noite está garantida. E não há líbero que resista. (Diário de Notícias, 5/6/1966, Nova goleada de Claudette e Taiguara, texto de Hugo Dupin) A revista Manchete destacava o bom gosto geral do roteiro e o talento dos intérpretes. No palco do Teatro Princesa Isabel (RJ), Claudette Soares, Taiguara e o Jongo Trio formam uma linha de ataque da música popular brasileira capaz de alcançar as mais sensacionais goleadas. O espetáculo que eles estrelam tem o título de Primeiro Tempo 5 x 0, o que deve ficar por conta da modéstia de Luis Carlos (Miéle) e Ronaldo Bôscoli, autores e produtores do show. Isto porque, sua atual apresentação é, de longe, a melhor que a dupla já realizou, merecendo, pelo menos um placar de dez ou quinze. Baseados num roteiro de bom gosto, escolhendo excelentes canções e sem complicar as jogadas, Miéle e Bôscoli compuseram um espetáculo divertido e agradável, destinado a obter farta bilheteria. Os intérpretes estão à vontade e bem adaptados ao clima dos números musicais; o jovem Taiguara esbanja talento, enquanto Claudette Soares mostra que já sabe de tudo em matéria de bossa nova. (Revista Manchete, 8/6/1966, Primeiro Tempo 5 x 0. A boa goleada de Miéle e Bôscoli, texto de Luis Guedes) A Manchete destacava a comoção do público, que lotava o Teatro Princesa Isabel, diariamente. Quando a dupla Miéle e Bôscoli escreveu o show 1º Tempo 5 x 0, certamente referiu-se apenas ao Primeiro Tempo (o da Boate), porque no segundo, o do Teatro Princesa Isabel, o escore transforma-se numa goleada sem precedentes na história dos espetáculos desse gênero no Rio de Janeiro. A consagração do show é comprovada diariamente com o público aplaudindo de pé no final do espetáculo e insistindo nos pedidos de repetição dos gols. Aprovado sem cortes, censura livre . Expressões da crítica: O show é lindo, lindo, O show é um hino de amor, O show é vibrante e romântico, É uma receita poética, humorística e musical, Este show merece ser visto várias vezes . (O Jornal, 12/6/1966 Coluna No cartaz - Goleada no Princesa Isabel ) Roteiro do show 1º tempo 5x0 Primeiro tempo: Samba tempo (Pingarilho/ Marcos de Vasconcellos)/ Canto de Ossanha (Baden & Vinicius)/ Improviso (Cido)/ Civilização (Pingarilho e Marcos de Vasconcellos)/ Pot-pourri: Pra você (Silvio César)- Preciso aprender a ser só (Marcos e P. Sérgio Valle)-Minha namorada (Carlos Lyra/ Vinicius)-Estrada do sol (Tom/ Dolores Duran)/ Feitinha pro poeta (Baden/ Lula Freire)/ Carnaval (Chico Buarque)/ Tristeza (Niltinho/ Haroldo Lobo)/ A volta (Menescal/ Bôscoli)/ Sou sem paz (Adilson Godoy)/ Mar amar (Menescal & Bôscoli)/ Barquinho diferente (Sérgio Augusto)/ Por um amor maior (Francis e Ruy Guerra)/ Samba do carioca (Carlos Lyra/ Vinicius) Segundo tempo: Aruanda (Lyra/ Vandré)/ People (Styner e Merril)/ A mesma canção (Menescal e Bôscoli)/ Surf board (Tom)/ Meninos, eu vi (Pingarilho e Marcos)/ Primavera (Carlos Lyra/ Vinicius)/ Tempo feliz (Baden/ Vinicius)/ São Salvador (Durval e Aglaé)/ São Sebastião (Taiguara)/ Apelo (Baden/ Vinicius)/ Marcha da 4ª Feira de Cinzas (Carlos Lyra/ Vinicius)/ Se todos fossem iguais a você (Tom/ Vinicius)/ Final. Há ainda mais um detalhe digno de registro. Neste show, Claudette lançava duas pérolas da MPB: o tristíssimo samba-canção Apelo, da dupla Baden Powell e Vinicius de Moraes, e a sensualíssima e apaixonada Mila, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, que teve, anos depois, seu título trocado para A volta, segundo a cantora, por exigência de Elis Regina, quando esta já estava casada com Bôscoli. Quero ouvir a sua voz, E quero que a canção seja você, E quero, em cada vez que espero, Desesperar, se não te vir... (...) Levanta e vem correndo, Me abraça e sem sofrer, Me beija longamente, O quanto a solidão precisa para morrer. Este show foi gravado pela Philips e saiu em disco em 1966. Mas Claudette estava presa à Mocambo. Como na ocasião da assinatura do contrato, ela nem sequer o havia lido, antes de assiná-lo, não percebeu que o mesmo era 100% unilateral, ou seja, tudo para a gravadora e nada para a artista. Sendo assim, o produtor João Araújo, naquela altura, diretor de produção da Philips, travou uma batalha judicial com a Mocambo e conseguiu retirá-la de lá. Ganhei o processo, conversando com o juiz. A Mocambo apelou dizendo que ela havia me lançado, que eu devia tudo a ela. Mas eu provei que já gravava discos na Columbia desde 1954, que tinha uma carreira toda no Rio desde pequena, que era arrimo de família e tudo mais. Então o juiz falou: ‘Eu sei da sua história. A partir de agora você está livre’. O Jorge Ben também passou por um processo parecido com ela, relata Claudette, afirmando que por conta da demora do registro do show 1ºTempo 5 x 0 sair em disco, perdeu a chance de lançar a canção Apelo, pois outras pessoas a lançaram nesse ínterim, como a divina Elizeth Cardoso. Ah, meu amor não vás embora Vê a vida como chora Vê que triste esta canção Não, eu te peço, não te ausentes Pois a dor que agora sentes Só se esquece no perdão... Claudette é eternamente grata ao produtor João Araujo por tê-la ajudado neste momento crucial de sua carreira, mas a recíproca também é verdadeira. Claudette salvou minha vida, diz o produtor. Fato é que, uma noite, ele estava no Rui Bar Bossa lhe assistindo, quando, pouco antes do show começar, a polícia chegou fazendo barulho. Já estávamos na época da ditadura e os homens resolveram fazer uma batida no local atrás de possíveis comunistas, subversivos . João, que já estava com boas doses de whisky nas ideias, ao ser inquirido por documentos, por um lapso, levantou um cartão de crédito e disse que poderiam levar o que quisessem. Mal-interpretado pelos policiais, pensaram que o estivessem desacatando e foi levado para o camburão. Lá chegando, travou-se uma disputa. Ele não queria entrar de jeito nenhum, ficou sendo empurrado por quatro policiais, até que, nesse empurra-empurra, acabou sem querer ferindo um deles na vista, que começou a sangrar sem parar. Os caras ficaram com ódio de mim e me enfiaram lá dentro. Quando pensei que não houvesse mais jeito, apareceu o delegado e pediu pra me soltar. Foi a Claudette que falou com o Mariel Mariscot, seu amigo, que era o xerife de Copacabana, naquela época. Se não fosse por ela, nem sei se uma hora dessas estaria vivo . A cantora explica que ele era seu fã e estava, por coincidência, na plateia, também assistindo ao show e ela, ao saber da situação, correu em sua direção e lhe contou tudo. Em tempo, Mariel era conhecido como o Ringo de Copacabana, famoso por ser um policial severo, invencível e justiceiro. Este não foi o primeiro episódio de violência que a cantora presenciou. Esse movimento da bossa nova tinha uma pecha de ter comunistas infiltrados. Então havia sempre essa desconfiança por parte da polícia da época, explica Claudette que, meses antes da estreia deste show, ainda em São Paulo, no Ela, Cravo e Canela, presenciou certa vez uma invasão dos policiais à boate, levando artistas e frequentadores para averiguação na delegacia, atrás de informações sobre possíveis comunistas que frequentariam a casa. Foram inclusive fichados e fotografados e ainda saíram no jornal. Eu escapei, nem sei como. Estava já arrumando as minhas coisas no camarim pra ir à delegacia, já chorando, quando o delegado que estava presidindo a invasão queria saber o que estava acontecendo e quem estava atrasando a operação. Quando disseram que era uma pessoa que estava ali no camarim, ele meteu o pé na porta para saber quem era. Quando me viu, falou para o outro: ‘Ah deixa ela. Essa baixinha aí é a cantora da casa. Canta aquela música Primavera. Deixa ela quieta. E me perguntou: ‘Vou passar aqui amanhã, você canta essa música para mim?’ E eu disse: ‘Claro! Todas as noites’. E ele passou mesmo! Escapei porque tinha cara de inofensiva, meu tipo físico nesses casos ajudava, ri. Faroeste tropical à parte, o produtor Armando Pittigliani, que trabalhava na Philips nessa época, também estava de olho em Claudette e chegou a sugerir seu nome para integrar o grupo de Sérgio Mendes (Brasil 66), para o qual Gracinha Leporace acabou sendo escalada e, mais tarde, inclusive casou-se com seu líder. Entretanto, cuidando sozinha de pai, mãe e avó disse que não poderia aceitar esta missão e também porque não queria nessa altura do campeonato fazer parte de nenhum grupo. Houve ainda um empresário americano que, em 1965, quando Walter Wanderley mudou-se para os EUA, também queria levá-la com ele, depois de testemunhar a química musical excelente que havia entre os dois no Juão Sebastião Bar. Quando o sujeito lhe perguntou se queria ir para lá, ela aceitou, pensando que era mentira. Eis que alguns meses depois o camarada volta com o contrato para ela assinar. Não quis pelas mesmas razões. O gringo ficou furioso, disse que eu não era profissional. Mas realmente não tive coragem de largar minha família, conta. Contratada pela Philips, gravadora em ascensão, que no início dos anos 1970 chegou a ter o melhor cast do País, Claudette foi em busca do tempo perdido, agora com produtores dispostos a investir pesado em seu talento. Daí passou a gravar com regularidade, às vezes, mais de um disco por ano. Em 1967, produzida por Pittigliani, fez um disco bem bossa nova, com arranjos de Roberto Menescal e Oscar Castro-Neves, arrancando elogios da crítica, que já havia lhe consagrado com o Prêmio Euterpe para a Música Popular Brasileira como a melhor cantora de 1966 . No repertório, destaca-se a catita Ciúme, de Carlos Lyra, e outras canções inéditas ou semi-inéditas dos dois arranjadores e também de Marcos Valle, Pigarilho, Marcos Vasconcellos, Sérgio Augusto, Candinho, Lula Freire, Ely Arcoverde, Ronaldo Bôscoli e Silvio César. Mais uma vez, gravava a nata da bossa. Para mim, não há nada melhor em matéria de música. São eles que continuam fazendo coisas boas, apesar dos quatro anos que se passaram desde a fase boa da bossa nova. Dizendo isso, não pretendo, é claro, negar o valor de gente como Gilberto Gil, Edu Lobo, Caetano Veloso e Sidney Miller, mas acho que o caminho deles é bem diferente do meu. Eles estão fazendo música essencialmente brasileira e o meu gênero é mais internacional, sem deixar de ser brasileiro, declarou Claudette na época à revista Intervalo. Mas o disco não aconteceu. Ela precisava se renovar e com certeza essa frase não seria proferida por ela no ano seguinte, pois seu trabalho dali a pouco daria uma cambalhota. Loura, na TV Record Nessa altura já estávamos na segunda metade da década de 1960, um momento explosivo no Brasil e no mundo. Por aqui havia uma repressora ditadura militar, no mundo inteiro os jovens começavam a transgredir limites da velha moral comportamental e, na música popular, novos ritmos, modismos e protestos proliferavam. Os Beatles a partir de 1963 tomaram o mundo, trazendo o elemento pop definitivamente para a música e, no nosso país, havia uma guerra entre a música moderna de raiz brasileira e a americanizada das guitarras elétricas. No meio disso tudo, os festivais da canção. Era muita informação e Claudette estava ali no meio, participando de tudo. Foi inclusive o início do auge de sua carreira. Claudette deixou de dar expediente exclusivamente na noite paulistana para fazer temporadas em pequenas casas de shows por todo o País, em geral com Pedrinho Mattar e seu trio, e eventualmente na companhia de César Camargo Mariano. A TV Record, que também vivia seu auge, a contratou. Antes ela havia feito muitos programas na Tupi e Excelsior, como os de Flávio Cavalcanti e Bibi Ferreira. Mas agora estava sempre no Fino da Bossa, de Elis Regina e Jair Rodrigues, depois no Bossaudade, de Elizeth Cardoso e Cyro Monteiro. Aliás, foi nessa fase que admirou mais de perto a divina Elizeth. Ela passou a ser um modelo de elegância e glamour para mim. Aquele coque que ela fazia, os vestidos, a maneira elegante de cantar e se apresentar... era uma inspiração, elogia. Havia ainda outros programas da Record que ela tomava parte, como Show em Simonal, Corte-Rayol Show e Show do Dia 7. Foi nos bastidores deste último que o diretor Nilton Travesso, por volta do final de 1967, colaborou para fixar para sempre a imagem de Claudette, conforme a conhecemos hoje. Ela, de morena ficou loura. Uma vez o Nilton chegou pra mim e dis- se: ‘Claudette, não sei o que vai achar. Mas você tem algumas feições que fazem com que não fotografe tão bem, com um nariz grande e os lábios grossos. Se pintar o cabelo de louro, vai suavizar muito o seu rosto’. Ele insistiu tanto que acreditei. É muito engraçado porque, a partir daí, minha vida começa a tomar outro rumo. Se você bota uma foto minha de cabelo preto ninguém sabe mais que sou eu. E, realmente, vejo hoje que meu rosto ficava muito escuro, me envelhecia pros padrões da época, revela. Uma matéria na revista Intervalo, de 1968, traduz bem esse clima da época da TV Record e também essa mudança de visual: O programa está no ar, Roberto Carlos transpira muito, cantando ao microfone, no palco do Teatro Record, em SP. Nos bastidores, o diretor de estúdio, normalmente um homem tranquilo, dá um berro pedindo silêncio, mas sua voz se perde no alarido. Claudette Soares comenta a nova cor de seus cabelos, diz que assim, loura, fica melhor: Eu me vi no tape. Achei que está ótimo . Depois, fala do seu novo costureiro, o Ronaldo, e pergunta às colegas; Meu vestido não é uma uva? Adoro roupas novas . Logo ela é chamada à cena para cantar Januária, de Chico Buarque. Jorge Ben presta muita atenção ao seu número: Como canta bem a danada! Mais tarde, Jorge encontra Roberto Clossi, empresário de Chico Buarque, e o bate-papo gira em torno da viagem que o Bidu fará, provavelmente aos EUA. Wandeca passa se queixando. Não quero fazer muito show, tenho trabalhado muito, quase não paro em casa. Cinema, sim: quero fazer outro filme . Simonal fica ao seu lado, os dois conversam bastante. Wandeca está entusiasmada e explica: É a primeira vez que bato um papo assim com Simonal. Sabe de uma coisa? Ele ganhou uma amiga, tá? . Cidinha Campos e Claudette Soares passam o tempo todo fazendo sinais uma para a outra. Que é que há? pergunta alguém. Ficaram malucas? . Claudette sorri, diz que estão treinando para o Esta noite se improvisa, já têm vários códigos em mímica. (Revista Intervalo Wanderléa, Jorge Ben e Caçulinha batem papo enquando Cidinha e Claudette aproveitam para treinar mímica, 1968) A televisão me promoveu muito, principalmente o tal programa do aperta botão aqui, faz mímica ali, no entanto, se naquela época eu tivesse um empresário como o Marcos Lázaro, que tenho hoje, o sucesso talvez chegasse mais depressa. Mas não tem importância, como eu sou de escorpião, as coisas acontecem devagar e com muito esforço, revelou a cantora ao Correio da Manhã, um ano depois. De fato, houve um tempo em que os cantores na TV brasileira eram realmente os grandes astros do entretenimento nacional. Até pequenas historinhas musicadas com texto e tudo os cantores encenavam. Certa vez, num Show do Dia 7, na Record, Claudette participou de um desses, em que interpretava O pato, clássico do repertório de João Gilberto, ao lado das cantoras Silvinha (Araújo), Nalva Aguiar e Martinha e da atriz e comediante Maria Tereza. Lá pelas tantas aparece Jair Rodrigues vestido de patinho feio (!), cantando Casa de bamba, de Martinho da Vila. Parte deste vídeo sobreviveu ao tempo e é uma pena que não possa vir encartado com este livro. Os Festivais da Canção, Elis & Outras Bossas Ah, sim! Não podemos esquecer que essa fase do final dos anos 1960 era profícua em festivais e Claudette, por ser uma cantora moderna e antenada, naturalmente, não deixaria de tomar parte deles. Antes mesmo de assinar com a Record, estava presente no 1º Festival Nacional da MPB da TV Excelsior, entre março e abril de 1965, vencido por Elis Regina cantando Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius, se transformando da noite para o dia numa estrela atemporal de nossa música. Coube à Claudette defender Eu só queria ser, de sua amiga e compositora Vera Brasil (com Myriam Ribeiro), que ficou com a terceira colocação. Quando vi a Elis no ensaio cantando Arrastão neste festival, comentei com vários colegas que essa cantora seria um trator, que não teria para mais ninguém. Pergunta se alguém acreditou? Deu no que deu, recorda. Um mês depois deste festival, Elis já estava contratada pela TV Record, apresentando o Fino da Bossa, ao lado de Jair Rodrigues. Convidada a participar do programa, Claudette começou a sacar o temperamento desafiador da colega. A Elis era terrível. Cheguei pra ela e perguntei: ‘Vamos cantar uma música juntas? Mas tem que ser do meu repertório!’ E ela: ‘Por mim pode ser qualquer uma’ E eu: ‘Pode ser aquela do festival! Você conhece?’ Ela: ‘Claro!’. ‘Mas e o tom?’. E ela: ‘Em qualquer tom eu canto’. Ai, que saudade dessa segurança dela! Eu nunca fui assim, diverte-se. Mais de 30 anos depois, este flagrante saiu num CD com raridades do Fino da Bossa e Claudette chorou muito ao reouvir a gravação, sentindo o respeito que Elis tinha por ela, pois, com seu vozeirão, poderia tê-la massacrado, mas isso não aconteceu. Numa outra oportunidade, Elis perdeu a ponte aérea Rio-São Paulo e não pôde apresentar seu programa na Record. Claudette então foi escalada para substituí-la. No dia seguinte, um diretor virou-se para Elis e intimou: Elis, agradeça à Claudette por ter comandado seu programa, ao que ela retrucou: Não tenho nada que agradecer, ela fez porque quis . A Elis era uma briga de talento, você tinha que blefar o tempo todo. É isso que me fascinava. Ela procurava um jeito de fazer melhor, de se destacar. Então eu virei para ela, dei um tapinha em seu braço e disse: ‘Você está certa, fiz porque eu quis. Não tem nada que me agradecer, não!’. Ela ficou numa saia justa danada. Esse era o jeito de lidar com ela, ri. Mais tarde, porém, a chapa esquentou. Claudette foi convidada por Roberto Carlos para cantar Como é grande o meu amor por você em seu programa Jovem Guarda. À época, as fronteiras estéticas eram muito rígidas. Era direita e esquerda, engajado e alienado, brega e chique. Não havia espaço para nuances. Por conta de sua ousadia, Elis mandou cortá-la do Fino da Bossa. A raiva foi tanta que Claudette armou um quiproquó com os diretores da emissora, conseguiu voltar ao programa seguinte da colega, esboçando uma pequena vingança. Tratou de achar um exemplar do LP de estreia da Pimentinha, Viva a brotolândia, de 1961, em que ela cantava rocks e calypsos, e o colocou estrategicamente em cima do piano. Era uma maneira de lembrá-la que cantar música pop não era pecado mortal e que a própria Elis havia começado assim. Mas em breve, as duas voltariam às boas. Elis era muito jovem quando foi colocada sobre seus ombros a responsabilidade de ser a maior cantora do Brasil. Carregar esse peso com 20 e poucos anos é enlouquecedor, analisa hoje. Três anos depois de ter gongado Claudette por ter cantado uma música de Roberto Carlos, em 1970, Elis gravaria a clássica As curvas da estrada de Santos, dele e do parceiro Erasmo. Um dia nos encontramos no corredor da Philips e brinquei: ‘Resolveu apelar?’ Ela riu muito. Ficamos amigas, diz. Só sinto raiva dela quando lembro que foi embora tão cedo. A Elis, com todo respeito às outras grandes estrelas, era muito instigante, criava projetos, produzia coisas que impulsionavam a gente a fazer melhor. Ela tinha essa força. Era uma pessoa muito honesta no sentido da emoção, elogia. Em outubro de 1966, veio o I Festival Internacional da Canção Popular, onde ela cantou outra música de Vera Brasil, em parceria com seu pai Sivan Castelo Netto, Chorar e cantar. Outro samba moderno com arranjo de Eumir Deodato que nessa altura já morava fora do país, mas assinou os dois arranjos da cantora. Este e o do ano anterior, segundo ela. A música não alcançou as primeiras colocações e a disputa foi vencida por Nana Caymmi cantando Saveiros, de seu irmão Dori com Nelson Motta, debaixo de uma vaia monumental. No ano seguinte, entre setembro e outubro de 1967, cantou Brinquedo, de Alfredo Noffah Neto e Walter de Carvalho no 3º Festival da Música Popular Brasileira da TV Record. Mas ela confessa hoje que, neste caso, a escolha foi à sua revelia. Entrei de gaiata em alguns festivais porque acabava cantando o que sobrava e ninguém mais queria só porque eu tinha contrato com a Record. Foi ali que aprendi que acordo a gente só faz com Deus, ri. Boas lembranças traz mesmo dos dois festivais universitários dos quais participou. No primeiro, da TV Tupi do Rio de Janeiro, novamente entre setembro e outubro de 1968, ela classificou duas músicas na final: Frevo da saudade, de Fred Falcão e Paulinho Tapajós, e Vida breve, de Irineia Maria. Esta última teve mais êxito, empatando em primeiro lugar com Helena, Helena, Helena, de Alberto Land, defendida por seu amigo Taiguara. Na hora do desempate, perdi por meio ponto e acabei em segundo lugar, mas juro a você que nunca perdi tão feliz, diverte-se, elogiando a música do amigo. Já no 2º Festival Universitário da Canção Popular foi procurada pelo diretor musical do mesmo, o cantor Lucio Alves, que lhe mostrou uma música de um iniciante que ninguém queria cantar por preconceito. Era a moderníssima Mundo novo, vida nova, de um certo Luiz Gonzaga Junior, filho do Rei do Baião . Ela que já sabia na pele o que era preconceito por conta da fase de Princesinha do gênero, gostou da música e foi para o palco defendê-la. Acabou sendo a primeira intérprete feminina do compositor (o primeiro foi Jorge Neri no Festival Universitário do ano anterior, que defendeu seu samba Pobreza por pobreza, que chegou às finalistas, mas sem alcançar as primeiras colocações). Gonzaguinha acabou ganhando este 2º Festival, como intérprete também, em setembro de 1969, cantando outra de suas pérolas, O trem, vencendo nomes de peso como Agostinho dos Santos, Golden Boys, Antonio Adolfo & A Brazuca, Taiguara, Marília Barbosa e iniciantes como Luiz Carlos Sá, Clara Nunes e Maria Creuza. Claudette obteve a quarta colocação; no entanto, ficou contente em ter colaborado para o lançamento de uma estrela da grandeza de Gonzaguinha para a MPB. E também feliz pelo arranjo da canção (de ambos os festivais universitários, diga-se) ter sido feito pelo maestro Lindolfo Gaya, por quem nutria grande admiração. Vou buscar um mundo novo, vida nova E ver se desta vez faço um final feliz Deixar de lado aquela velha história O verso usado, o canto antigo, vou dizer adeus Fazer de tudo e todos mera lembrança Deixar de ser só esperança Ir por minhas mãos, lutando, me superar Vou rasgar no tempo o meu próprio caminho E assim, abrir meu peito ao vento, me libertar Essa música tinha tudo a ver com a fase de renovaçãoque sua carreira vivia naquele momento. A Bossa Sexy Depois de um disco menor, em 1967, em que cantava bossas tradicionais, o produtor Manoel Barenbein outro ás da gravadora Philips, também chamada à época Cia. Brasileira de Discos teve um de seus grandes insights. Sentiu que era hora de dar uma renovada na carreira de Claudette e propôs que ela gravasse um LP com a obra de três dos compositores mais interessantes revelados naquela era dos festivais e que são mitos da MPB até hoje: Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Pois então, logo após o carnaval de 1968, saiu o LP Gil-Chico-Veloso por Claudette Soares. Aproveitando que os dois últimos já integravam o cast de sua gravadora (Chico só assinaria com a Philips dois anos depois), tudo ficava ainda mais fácil. Gil chegou mesmo a fazer um dueto na canção Clara que seria lançada, naquele mesmo ano, no primeiro álbum solo de seu autor, Caetano. E os três contribuíram com músicas inéditas para o álbum. O disco era muito arrojado e com um pé fincado na vanguarda tropicalista. Não por acaso, um dos arranjadores capitaneados para o disco foi Rogério Duprat; os demais ficaram a cargo de seu velho amigo, César Camargo Mariano. Estava plantada a semente de uma Claudette mais moderna, pop, que em algumas faixas já conseguia mostrar com mais clareza seu jeito sexy de fazer bossa. Isto fica evidente na inédita Bandolim (Chico) e em Mancada e Frevo rasgado (ambas de Gil, sendo a última parceria com Bruno Ferreira). São interpretações cheias de gás. Sua faceta romântica também não foi esquecida, presente na faixa de abertura, Januária (Chico), que fez relativo sucesso em sua voz. Fechavam o repertório as inéditas Lia (Gil/ Caetano), Deus vos salve essa casa santa (Caetano/ Torquato Neto), Yemanjá (Gil/ Othon Bastos), além de Desencontro (Chico), Lua cheia (Chico/ Toquinho) e Domingou (Gil/ Torquato Neto) presentes também nos álbuns de seus autores daquele ano, mais a recriação de Remelexo (gravada por Caetano no ano anterior, em seu álbum bossa-novista com Gal Costa). Rogério Duprat, o jornalista e apresentador Randal Juliano e o poeta e também jornalista Torquato Neto escreveram a contracapa do LP. Este último destacava a honestidade do trabalho e o teor vanguardista da cantora. Viva o Tropicalismo! Vocês vão ouvir que este disco não é apenas o mais honesto que ela poderia fazer agora. É também um dos mais bonitos gravados no Brasil de uns muitos anos para cá . De uma forma geral, a crítica recebeu bem as mudanças. Há de se notar que neste tempo a crítica era um tanto implacável, sem meias palavras. Provocações estavam na ordem do dia e, apesar de toda a situação política, os formadores de opinião se expunham muito mais do que hoje. Estávamos num período de rivalidades, torcidas polarizadas e uma avalanche de novidades e transformações gerais em todos os níveis da sociedade. Claudette Soares há muito precisava de um produtor de discos como Manuel Barenbein, seu repertório estava um tanto fora de moda e a moça tinha tendências a conservar canções antiquíssimas sem mais razão alguma de serem cantadas neste momento de efervescência da música popular brasileira. Uma cantora do nível de Claudette precisava atualizar o seu repertório. Manuel Barenbein colocou Claudette no centro de um quarteto moderníssimo formado por Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Rogério Duprat, a revelação musical do III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record. Se o psicodelismo e o Tropicalismo fizeram bem a alguém, foi para a Claudette que, com este LP, mostra uma nova imagem de artista, uma cantora jovem e moderna, bem diferente daquela monja do samba dos tempos clássicos do Juão Sebastião Bar. Portanto, as cismas antitropicais não cabem aqui contra Claudette que fez um disco muito bem bolado, onde canta de maneira quente e agradável algumas canções da atualidade. Salvo-conduto, pois, para a passagem de Claudette em sua novíssima maneira de cantar. Os arranjos de Duprat são bastante bons, mas o moço já começa a se ressentir da carga de trabalho fora do comum que tem recebido. Cuidado Rogério, trabalhe menos para fazer melhor! Honra ao mérito para Barenbein que inovou a Claudette. Bom. (Revista Intervalo, Uma nova Claudette, texto de R. Valentini, 1968) Claudette gravou um novo elepê. Músicas de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. O suficiente. As críticas surgiram: Mudou de faixa, Comercializou-se, Apelou . Não podiam e não queriam admitir que Claudette Soares, após 15 anos de excelente carreira, sempre cantando coisas nossas, mudasse para outra faixa, que não é outra senão o Tropicalismo. Claudette mudou. Ela confirma e diz que sua transformação (na base da gravação, é claro) foi para melhor. Cansou de cantar Primavera, Apelo e outras músicas tradicionais brasileiras, que não nega deram-lhe algumas glórias. Depois de 15 anos fala Claudette consegui me libertar do preconceito musical, tão em voga entre nós . E mais não diz. Escolhe, agora, as músicas que grava. Surge uma Claudette mais livre. (Revista Intervalo, Claudette vai bem, 1968) Na ocasião, Claudette declarou à repórter Maria de Lourdes de Almeida do Correio da Manhã as razões de sua mudança de estilo: Um dia conheci o produtor da Philips, Manuel Berenbein, que me aconselhou a mudar de estilo; passei então a cantar músicas atuais, de Gil, Caetano e Chico, adaptadas ao meu gênero. Sylvinha Telles me dizia: ‘Você precisa ter coragem e cantar aquilo que gosta’, e, pelo simples fato de ter gravado ‘Deus vos salve esta casa santa’, da nova fase do Caetano, e por ter feito o arranjo com o Rogério Duprat, houve um verdadeiro escândalo. Todo mundo me perguntava como é que eu tinha coragem de gravar o Caetano, que eles achavam que era um louco: mas como eu achava lindo não me importava com o que poderiam pensar de mim. A gente deve cantar o que quer, o certo, o válido é ter uma personalidade vocal; eu tenho minha voz, não imito ninguém, eu sou Claudette Soares e pronto. O que não admito é ter que mudar de aparência e uma prova disso é que o público me aceita como sou, não existe pilantragem, existe é balanço . No disco seguinte, Claudette, a transformação foi ainda mais radical. Em maio de 1969, a revista Intervalo a flagrou nos estúdios da Philips, na Avenida Rio Branco, no centro do Rio, e exalta esta sua nova fase, mostrando como se deu o processo de criação dela, seus maestros e músicos. Diz que este LP colocaria em cena uma Claudette livre, desinibida, sem limitações e que tudo estava sendo feito na intenção de adequar a orquestração aos modos da cantora, quando se costumava naquela altura adotar o critério inverso. O produtor Manoel Barenbein não poupava elogios: Vão dizer que sou suspeito para opinar. Mas o negócio é tão evidente, que falo tranquilo: se Claudette é genial no gênero romântico, no balanço é genialíssima. O jeitão é dela, vem de dentro pra fora. Impressionante! . E ia além: No Brasil, sempre se gravou primeiro o playback para depois o cantor colocar a voz, esforçando-se por ajustar-se ao arranjo. Nós fizemos diferente: o Som 3 bolou arranjos de base e Claudette colocou a voz. A fita foi ouvida pelos maestros Rogério Duprat e José Briamonte, que então idealizaram os arranjos definitivos, de acordo com as diretrizes ditadas pela interpretação da cantora, relatou Barenbein à Intervalo. A cantora estava radiante. Sempre quis cantar assim, jogando pra frente o que vem lá do fundo da alma, disse à época. Inicialmente, tive algum receio de não ir bem até o fim. Depois, me senti desinibida, pondo de lado todos os formalismos que talvez tenham sido os maiores responsáveis pelo meu insucesso em discos, até então. Neste, estou completamente livre, como sempre desejei . Neste disco, Claudette começa a gravar Antonio Adolfo, compositor revelado nos festivais da canção da época, em canções como Meia volta (Ana Cristina) e Correnteza, e que em breve estaria também na ficha técnica de seus discos como arranjador. Também incluiu no repertório uma impressionante interpretação suingada da bossa Vem balançar (Walter Santos/ Tereza Souza) e uma versão meio frevo-rumba, muito diferente, para a carnavalesca Atrás do trio elétrico, de Caetano Veloso, além de recriações para a romântica O amor é chama (dos irmãos Valle) e a nordestina Trem de ferro (Lauro Maia). Havia ainda o balanço de O cravo brigou com a rosa, presente do amigo Jorge Ben, numa gravação que ficou para a posteridade, virando um hit nas pistas de dança dos jovens moderninhos, décadas depois, a partir da virada do novo milênio. Eclética, como se vê. O humorista (e dublê de compositor) Chico Anyso era só elogios na contracapa do disco e a crítica, por sua vez, tornou a aprovar as mudanças mais radicais. Claudette assimilou as melhores influências dos novos movimentos musicais brasileiros e internacionais e o resultado é um LP forte e bem dosado, que empolga sem cansar. O ágil balanço de Vem balançar, Trem de ferro e Atrás do trio elétrico e os arranjos excelentes de César Mariano e José Briamonte para as baladas, num disco excepcional. (Revista Veja, 16/4/1969) Nesse disco, Claudette é a cantora de dicção perfeita, de uma divisão absolutamente insuperável, de um ritmo impressionante. Uma cantora que não se perde em nenhum momento, mesmo em uma música difícil como ‘Trio Elétrico’. (...) Em ‘Vem balançar’, um samba ligeiro, Claudette dá um show: um show de interpretação, um show de balanço, um show que a consagra, definitivamente, como uma das melhores cantoras brasileiras do momento. Que ninguém perca a oportunidade de ter esse disco em casa: é sensacional. (Jornal da Tarde, texto de Jota Magalhães, 1969) Depois do período em que privou com Claudette no Juão Sebastião Bar e em seu primeiro LP, de 1964, César Camargo Mariano fez temporadas vitoriosas, como a de nove meses no Teatro de Arena paulista, ao lado de Lennie Dale, em seguida mais nove na boate carioca Zum-zum, e ao lado do Sambalanço Trio gravou 5 discos entre 1964 e 1965 (incluindo o de Raul de Barros e o do próprio Lennie Dale, na Elenco). Mais tarde, trabalhou com o grande astro da época, Wilson Simonal, nessa onda mais suingada, fazendo crossover entre várias vertentes do pop e do jazz. Foi com o acúmulo dessas experiências todas que chegou aos discos de Claudette desta fase Philips, tendo participado do anterior, de 1968, deste (e do próximo que gravaria ainda em 1969) e no de 1971, que talvez possam ser considerados o ponto alto da carreira da cantora. Esses arranjos eram de fato criados pela minha cabeça. Não sou discófilo. Não ouço muita música. Uma coisa aqui, outra ali. Se tive alguma influência, foi do jazz muito lá atrás. Quando sento para fazer um arranjo, minha primeira preocupação é o que o intérprete sente. É como o trabalho de um alfaiate. Aí, visto e passo a roupa dele, respeitando o que o intérprete quer e o que o autor e compositor quiseram quando compuseram a canção, analisa César. Ele lembra ainda que, de fato, voz e instrumentos eram gravados ao mesmo tempo. Para ter uma interação absoluta entre cantor e banda era preciso gravar assim. Era raro a gente fazer playback para depois o cantor botar a voz. Nos discos da Elis, por exemplo, nunca houve playback. Assim como Claudette, ela gravava ao mesmo tempo da banda, explica. O segundo disco que gravaram juntos em 1969 era ainda mais impactante que o primeiro. Um repertório também mais expressivo. Já começava provocativo no próprio título: Feitinha pro sucesso ou Quem não é a maior tem que ser a melhor, numa referência à sua baixa estatura. Abria com uma versão moderníssima do clássico frevo pernambucano Evocação, de Nelson Ferreira. Trazia ainda bossas-pop suingadíssimas Feitinha pro poeta (Baden Powell/ Lula Freire), Psiu e Os dentes brancos do mundo (Marcos e Paulo Sérgio Valle), dois presentes de seu admirador Jorge Ben (Jor): Carolina Carol Bela e Que maravilha futuro clássico atemporal da MPB, dele com Toquinho. E, só para provocar, Como é grande o meu amor por você, de Roberto Carlos, a tal que provocara sua suspensão do Fino da Bossa. Antes dela, no meio da bossa nova, só sua madrinha Sylvinha tinha tido coragem de cantar (e gravar) Roberto Carlos a canção Não quero ver você triste em 1966, pouco antes de falecer, sendo muito vaiada por isso. Manoel Barenbein explica hoje que foi sua a ideia de juntar a cantora ao Som 3, de César Camargo, Toninho e Sabá, como banda de base. A Claudette era vendida como cantora romântica e a maioria das pessoas não conhecia o ritmo dela, o lado ‘princesinha do baião’, que dava às músicas um espírito com mais charme e suíngue. Ao mesmo tempo, é uma da cantoras que mais força têm na hora de cantar o romântico. Ela vem de uma safra que começa com Sylvia Telles, de cantar com suíngue e muito romantismo. Tem um poder de transmissão incrível. É uma das grandes intérpretes que o Brasil teve e não foi reconhecida como deveria. Merece mais, atesta. Berenbein explica ainda de onde veio a ideia de gravar de um jeito praticamente ao vivo, em estúdio. Um dia o Aloysio de Oliveira me confidenciou que o que lhe dava mais prazer era gravar do jeito americano, tipo o Sinatra na frente com a banda atrás, estando todos olhando um para o outro, de modo que as pessoas sentissem melhor a emoção da música, com se fosse o processo do show ao vivo. Como ele fez com o disco da Sylvia Telles ‘in USA’. Esse álbum virou um parâmetro para mim do que é uma gravação ao vivo feita em estúdio! Quis então fazer essa experiência com a Claudette. Senti que ela tinha capacidade e competência para gravar assim, tudo direto. Seria mais fácil ela sentir o ritmo das músicas, da forma como a via cantando nos seus shows. Quando eu a conheci, ela cantava na noite. Eu a vi cantar muito o baião e outras bossas. Senti o ritmo dela. Você tentar fazer isso num playback não é tão forte, não é a mesma coisa . A experiência sonora levada a cabo neste segundo LP de 1969 foi exaltada e estranhada pela crítica. Os mais modernos adoraram e os que estavam mais ligados à tradição da MPB espantaram um pouco. Segundo Ari Vasconcelos, Claudette está perfeita. Contando com ótimos arranjos, ela não tem uma falha sequer no LP. Claudette é toda som e, acima de tudo, comunicação. Seu LP já está na lista dos melhores álbuns vocais de 1969 . Como vemos o novo disco da baixinha vai abafar. (Folha Esportiva, Fernando Veronezi, 1969) Sem tornar-se a maior ou a melhor cantora brasileira, Claudette Soares já foi a Princesinha do Baião e uma das lançadoras da bossa nova em São Paulo. Agora, regrava o baião (Qui nem jiló), o frevo (Evocação) ou a toada moderna (Juliana), acrescentando pouco às músicas à base de sussurros. (Revista Veja Tárik de Souza, 12/11/1969) Por sua vez, o pianista e arranjador César Camargo Mariano já estava sendo notado na imprensa como um grande gênio de sua geração pelos analistas mais progressistas: César tem também a responsabilidade de haver modificado o panorama da música popular brasileira: foi ele o verdadeiro inventor da escola conhecida como Pilantragem, que consagrou, entre outros, o cantor Wilson Simonal. César voltou a trabalhar com Claudette depois de vários anos. Recebeu elogios até do implacável maestro Rogério Duprat: César não copia ninguém, é criativo mesmo . Segundo Duprat, César soube como ninguém utilizar a velha experiência da bossa nova, de mistura com a pilantragem e o iê-iê-iê, com resultados espetaculares de balanço e comunicação . Para César, o novo disco representa uma comemoração: Com Claudette comecei as pesquisas que resultaram no meu som atual . Em julho, César parte para a Europa, onde vai fazer, na Itália e França, dois LPs com Chico Buarque. (Revista Veja, A César o que é de César, 1969) O título deste segundo disco de 1969 tem uma história curiosa motivada por um encontro curioso com Clara Nunes no programa de J. Silvestre, Show sem limite, na TV Tupi do Rio de Janeiro. Como Clara era alta e Claudette baixinha, toda vez que a primeira ia pegar o microfone para responder as perguntas do apresentador tinha que levantá-lo, e dizia isso em tom de brincadeira para o público. Numa dessas, a enfezada e irônica Claudette botou a mão na cintura e mandou: Quem não é a maior tem que ser a melhor, né? O que Claudette não sabia é que ela acabara de dizer o slogan da companhia de petróleo Atlantic. Pois no dia seguinte, executivos entraram em contato com sua gravadora e queriam contratá-la para ser a estrela de sua nova campanha. É o que eu sempre digo, tenho língua comprida. Às vezes dá muito certo! Em outras vezes, não dá, ri. A empreitada funcionou, mas apenas 50%. Por um lado, foi bom. Claudette teve uma boa promoção de seu novo disco, pois em sua tiragem promocional trazia estampada a logomarca da Atlantic e uma foto da cantora com os bonequinhos-propaganda da mesma na contracapa de seu LP. A empresa bancou ainda um suntuoso coquetel de lançamento do álbum numa boate de prestígio da época, a Bilboquet, em Copacabana, com direito a um pocket-show da cantora no dia de seu aniversário, 31 de outubro daquele ano de 1969. Porém a campanha propriamente dita ela acabou não estrelando. Motivo? A versão que lhe chegou aos ouvidos foi a seguinte: seu empresário Marcos Lázaro que à época tinha cachorros grandes como Elis Regina e Roberto Carlos teria sugerido o nome da primeira, que era baixinha como Claudette, para estrelar esta campanha na televisão em seu lugar, afinal, ela era sua grande estrela. Aborrecida, a empresa disse então que se a sua escolhida não pudesse fazer, a outra também não faria e acabaram contratando o jogador Rivelino em seu lugar. Pelo menos, a promoção que eu tive foi maravilhosa. O coquetel com show fortaleceu a venda do disco. Não me considero perdedora nesse caso, contemporiza. Naquele instante, saía uma matéria no Correio da Manhã onde Claudette fazia um balanço de sua carreira até então. Em questão de festival, eu sou contra a organização, e para ser sincera, agradeço não ter sido lembrada este ano porque não participaria. O cantor novo não perde nada, se ele for vaiado não tem importância, mas eu prefiro tirar o último lugar com aplauso do que o primeiro com vaia. Os festivais não estão contribuindo em nada, só destruindo. Acho que é muito chato para cantoras do gabarito de Maysa, Elis Regina e Elizeth entrar num festival e serem vaiadas, é uma coisa que dói... Afinal, por uma noite não vale a pena jogar uma carreira construída a custo de tanto sacrifício, disparava. De fato, a era dos festivais estava chegando ao fim. No ano seguinte, 1970, já entraria em franca decadência, com a saída dos nomes mais expressivos da MPB, numa forma de boicotar a censura e perseguição que se dava a alguns dos nomes mais expressivos de nossa música na ocasião. E as torcidas organizadas exageravam na hora de aplaudir seus eleitos ou vaiar seus desafetos. Na mesma entrevista, Claudette dava sua visão sobre ser artista e mulher naquele contexto de transformações da sociedade, que foi a virada dos anos 1960 para os 1970: Todo mundo diz que não existe preconceito em relação à mulher artista, mas acho que os homens continuam vivendo na idade da pedra, pois ainda têm esse tabu e principalmente o da virgindade . Coincidência ou não, o principal destaque de seu álbum recém-lançado era Juliana (Antonio Adolfo/ Tibério Gaspar), que fora defendida pelo autor e seu grupo A Brazuca, no IV Festival da Canção Popular daquele ano, promovido pela TV Globo, cuja letra falava, por meio de metáforas, da primeira relação sexual de uma mulher, sem dramas. Botão de rosa perfumosa e linda Tão menina ainda a desabrochar Pelos canteiros do amor primeiro Foi chegada a hora do seu despertar E a poesia então fez moradia Na roseira vida que se abria em par Entre suspiros junto à ribeira Juliana viu o amor chegar E Juliana então se fez mulher E Juliana viu o amor chegar Em 1970, Claudette gravou o quarto disco nesta linha ascendente de bossa, suíngue, modernidade e sensualidade para a Philips, Claudette nº 3, obtendo boa repercussão do público e também dividindo as opiniões da crítica. A maioria dos arranjos azeitadíssimos desta vez ficou a cargo de outro craque, Antonio Adolfo, uma evolução daquela linhagem moderna, aberta por César Camargo Mariano e Rogério Duprat em seus álbuns anteriores. O trabalho já abre com um daqueles sambas irresistíveis de Jorge Ben (Jor), Se você quiser, mas sem bronquear. Na linha do balanço, traz releituras deliciosas do pioneiro Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), Pescaria (Canoeiro) (Dorival Caymmi) e Superbacana (Caetano Veloso), uma interpretação muito sensual de Por quem morreu de amor (Menescal & Bôscoli música que lançou Beth Carvalho, em 1965) e outra mais ainda de Os grilos (Marcos & Paulo Sérgio Valle), com uma espécie de simulação de orgasmo ao final. Havia ainda três canções da dupla Antonio Adolfo & Tibério Gaspar, Vermelho, Ao redor e Gloria, Glorinha, uma de Arthur Verocai e Paulinho Tapajós (Clara), uma balada soul de Tim Maia, I don’t care (Não quero nem saber), um ano antes de seu estouro nacional com Primavera e Azul da cor do mar que ela não estava lá muito a fim de gravar, mas hoje vê que o resultado foi bem interessante, a tristíssima canção As fl ores do jardim de nossa casa (Roberto & Erasmo) e uma mais séria, romântica, com fundo politizado, Hoje, do amigo Taiguara. Mais uma vez, o crítico Tárik de Souza, na revista Veja, se incomodou com a interpretação pop e sexy da cantora. Chiados e sussurros de Claudette, inventados para aumentar seu balanço, conseguem tornar monótonos os arranjos atraentes do LP, até mesmo o da vibrante versão soul do Canoeiro de Caymmi. (Revista Veja, 24/6/1970, texto de Tárik de Souza) Deixa que digam, que pensem e que falem... Este é, senão o melhor, um dos melhores discos de Claudette Soares e também desse gênero que batizei de bossa sexy numa compilação que produzi com os melhores momentos desta fase em 2006, pelo fato de nenhuma outra cantora de bossa nova ter a ousadia de ir tão longe nesse quesito pop e sexy. Ora, em plena era da canção de protesto e de pós-iê-iê-iê, ela não hesitou em cantar músicas divertidas (porém consistentes) e suaves (mas com grooves), e explorar seu potencial sensual, sem que com isso fosse alienada para seu tempo. Lembre-se que foi só no início dos 70 que Gal Costa virou sex symbol. Entre a fase das cantoras do rádio e de Gal Fatal, que cantora optou por um gênero na MPB dado a tanta sensualidade, sem abrir mão da qualidade? Em parte, Wanderléa, para um público adolescente. E para um público mais adulto, quem cantou? Claudette Soares. Resumindo: era mais um discaço que coroava perfeitamente a grande fase da Companhia Brasileira de Discos, conhecida também como Phonogram, Philips e Polydor, cujo cast passou a ser tão estelar que seus anúncios na imprensa apresentavam a foto de todos os seus membros e traziam a seguinte legenda: Só não temos Papai Noel . Fica Combinado Assim Claudette estava numa boa em sua rotina paulista, em meio às turnês de seus discos e o trabalho em televisão, quando o produtor Orlando Miranda e seu sócio Pedro Veiga batem à sua porta para lhe convidar para um segundo espetáculo em seu Teatro Princesa Isabel. Era o Fica combinado assim, escrito por João Bethencourt, em que atuou ao lado do humorista Agildo Ribeiro (que fazia imitações impagáveis da comediante Dercy Gonçalves e do costureiro Dener), de seu fiel escudeiro, o pianista Pedrinho Mattar, e do Conjunto Somterapia (Julio César, no órgão; Zequinha na bateria; Edson Lobo, no baixo e Jorginho Arena, na tumbadora). Fica combinado assim estreou no verão de 1971, de terça a domingo, com duas sessões nos finais de semana, às 17h e 21h30, repetindo o êxito do 1º Tempo 5 x 0, cinco anos antes no mesmo teatro. Foi um sucesso retumbante de público e crítica. A parte musical do programa não poderia estar melhor defendida. Claudette Soares vestida com graça e inventiva por Arlindo Rodrigues, responsável pelo sucesso visual do espetáculo, mostra ainda mais uma vez que é uma de nossas melhores cantoras, com um repertório variado, que nos possibilita ouvir sua voz em todas as suas possibilidades, do romantismo das canções de Taiguara à animação do Superbacana de Caetano. (Coluna Thereza Raquel viu O Globo 4/5/1971) (...) E é buscando seu próprio caminho que Claudette tenta agora o voo maior. Está cantando músicas de Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque criando aos poucos uma nova imagem, para ela e para seu público. Quando explica essa mudança, gesticula muito e faz caretas já notada por Cacilda Becker que prometera escrever uma peça cômica para ela estrelar , está sendo aproveitada por João Bethencourt, seu diretor no show Fica combinado assim, no Teatro Princesa Isabel, ao lado de Agildo Ribeiro e Pedrinho Mattar. Durante uma hora e meia ela dança, imita Carmen Miranda e canta samba de breque com os trejeitos de Moreira da Silva. Um espetáculo que exige pela primeira vez o máximo de Claudette como artista. E ela está gostando da experiência. Acha que está ficando mais corajosa, que afinal vai encontrar-se. Tanto no plano sentimental como no artístico, já sonhou demais, e agora sente-se mais realista. (...) Permanece solteira e cantando. Mas sem muitas esperanças nem sonhos cor-de-rosa . (Merval Soares, Rio Show, O Globo, 20/3/1971). Roteiro musical: 1º ato: Madalena (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro)/ Tema de Aeroporto (Alfred Newman)/ Hoje (Taiguara)/ Vim (Sérgio Bittencourt e Eduardo Souto Neto)/ Na tonga da mironga do kabuletê (Toquinho & Vinicius)/ Universo no teu corpo (Taiguara)/ Sonho de amor (Franz Liszt)/ Sombrero sam (Charles Lloyd)/ Na subida do morro (Geraldo Pereira)/ Quarenta graus (Julio César e Uarani) 2º ato: Superbacana (Caetano Veloso)/ Pot-pourri Jorge Ben/ Pot-pourri Carmen Miranda/ Pot-pourri Roberto e Erasmo/ De tanto amor (Roberto & Erasmo)/ Pot-pourri Chopin/ Shirley sexy (Fred Falcão e Arnoldo Medeiros)/ Apelo (Baden Powell e Vinicius)/ Dizzy fingers (Zef Confrey)/ Tenebroso (Ernesto Nazareth)/ Não siga a carreira de artista (João Bethencourt)/ Vou criar galinhas (Roberto Correia e Sylvio Son)/ Jesus Cristo (Roberto & Erasmo) Roteiro dos textos: 1º ato: Edifício Joga a chave meu amor (Max Nunes)/ Rosário (Vinicius)/ Elefante no caos (cena da peça) (Millôr Fernandes)/ Mestre sala (Max Nunes e Agildo Ribeiro)/ Diversos (João Bethencourt) // 2º ato: Dener (Max Nunes)/ Festival (Pedrinho Mattar)/ Dercy Gonçalves (Max Nunes e Agildo Ribeiro)/ Morte de Bessie Smith (Edward Albee)/ Oração (Drummond)/ Diversos (João Bethencourt). No final do primeiro ato, eu entrava de malandrinha para cantar Na subida do morro. E o Moreira da Silva foi lá no teatro me ensinar, fazer laboratório comigo. Eu usava um chapeuzinho, terninho branco para parecer bem com ele. No final desse numero, tirava o paletó e cantava uma música do Fluminense, que é o meu time, relembra a cantora, dizendo que no final do show Agildo fazia uma imitação de Roberto Carlos, enquanto ela cantava Jesus Cristo, maior sucesso do cantor naquele período. Neste roteiro, também foi incluído em dado momento o polêmico samba Apesar de você, que Chico Buarque lançara em compacto no ano anterior, e que pouco depois, quando um monte de gente já havia regravado, a censura descobriu o duplo sentido político da letra, e mandou retirar seu disco das lojas e proibiu a execução pública da canção. Pois Claudette foi a única que pôde manter a música no programa. Tiraram até do show da Elizeth no Canecão! Comigo, a censura não implicou porque, acredito, os militares realmente me achavam tão pequenininha, tão bonitinha e engraçadinha. Torno a dizer que ser baixinha tem suas vantagens... O que eu já sentei em colo de homens, você nem imagina!, diverte-se. Neste show, ela cantava, entre outras, Vim (Sérgio Bittencourt), Superbacana (Caetano) e lançava Coisas, de Taiguara. Mas o ponto alto era quando ela interpretava a balada De tanto amor. Foi um presente de Roberto Carlos (e Erasmo). O rei havia prometido a ela uma música inédita desde os tempos da TV Record e a balada acabou caindo como luva neste espetáculo, sendo a partir de então o maior sucesso de sua carreira. Ah! Eu vim aqui amor só pra me despedir E as últimas palavras desse nosso amor Você vai ter que ouvir Me perdi de tanto amor, ah, eu enlouqueci Ninguém podia amar assim e eu amei E devo confessar, aí foi que eu errei Este show foi marcante na vida de Claudette não apenas por ter revelado seu maior sucesso, mas porque teve de amadurecer na marra profissionalmente (como veremos mais adiante) e pelo fato de, aos 36 anos, a solteira mais convicta da MPB ter deixado seu coração ser fisgado por um dos componentes do Conjunto Somterapia, que a acompanhava neste show. Ali se iniciou um namoro, que dentro de um ano daria lugar a um casamento. A nota abaixo, publicada em 1971 na revista Amiga, é testemunha. Como nos versos de Erasmo ela está se despedindo do seu amor, o cantor marroquino Gilbert, conforme confessou num dos últimos programas de Aérton Perlingeiro. Com a mesma simplicidade com que rompeu os compromissos com Gilbert, Claudette já está de novo romance, desta feita com o organista Julinho do grupo Somterapia, do show Fica Combinado Assim . (Claudette Soares vai de novo amor / Ela esqueceu o cantor Gilbert, revista Amiga, 1971) Há mais de um ano, Claudette estava de namoro firme, ou melhor, noiva do cantor romântico Gilbert, especializado no cancioneiro francês. O único problema é que ele era de família judaica e isso acabou se tornando um grande empecilho. Ele gostava muito de mim e eu dele, mas eu não contava que o Julio César fosse aparecer na minha vida daquela maneira, esclarece a cantora. A saber. Júlio César Figueiredo era um garotão de 21 anos em 1971. Moreno claro, alto (1m85) e bonitão, tocava contrabaixo, mas aos poucos já estava se sentindo mais à vontade nas teclas do piano, e seu gosto musical estava entre o pop/rock dos Beatles e a bossa-jazz repaginada da época dos festivais. Um de seus primeiros trabalhos profissionais foi no teatro Opinião, num show com Sérgio Ricardo e Sidney Miller, em que recebiam vários convidados, como Gal Costa, Dori Caymmi e Beth Carvalho com esta última, trabalharia pouco depois. Tinha um parceiro meu, Uarani Valente, que conhecia o Arnaldo, um sujeito que gostava muito de cantar, amigo da Claudette. E esse Arnaldo convidou o meu amigo para ir ver um show da Marisa Gata Mansa na boate Scoth Bar, em Copacabana, e me chamou para ir com ele. Chegando lá, a Claudette estava na plateia também convidada pelo mesmo cara e foi ali que a conheci pessoalmente. Ela foi chamada para dar uma canja e como não havia pianista no recinto, disseram que eu tocava. Daí, ela me perguntou se eu conhecia a música O amor é chama, do Marcos e do Paulo Sérgio Valle. Ela se surpreendeu porque eu conhecia, e um jovem da minha idade naquela época dificilmente a conheceria. Foi sorte porque eu tinha na ocasião um quarteto vocal em que cantávamos essa música. Ela ficou fascinada. Depois, conversamos e não aconteceu nada naquele dia, relata. Eu sou terrível, né? Pedi essa música do Marcos Valle de propósito para ver se o Júlio sabia tocar... porque é uma música dificílima! Quem toca isso, toca qualquer coisa. Queria testar para ver se ele era bom mesmo, diz, hoje, morrendo de rir. Uma semana depois, teve um show num clube em Botafogo, e nos encontramos novamente. Quando acabou, ela continuou no salão e nós começamos a dançar. O engraçado é que eu não sou de dançar e nem ela é. Isso talvez tenha sido o estopim para que ela me chamasse para tocar com ela com nesse show Fica Combinado Assim, conta Julio César. Eu devia estar de pilequinho já. Só assim que eu danço, ri Claudette. Por incrível que pareça, a cantora ainda não havia lhe contado sobre seu noivado com Gilbert. Quando ficou sabendo, ela justificava lhe dizendo que não estava mais com ele, mas que o mesmo vivia pegando em seu pé. Fato é que ela, acostumada à liberdade da solteirice, não estava querendo admitir que o cupido estava lhe flechando o coração. E justo por um garotão 15 anos mais novo que ela, numa fase em que isso ainda era um tabu muito maior do que é hoje. Então continuava a dizer a todos que não estava namorando com o Julio e que a relação com Gilbert também não ia bem. Um dia, Julio acompanhou Claudette no Canecão para ver o primeiro show de Roberto Carlos produzido pela dupla Miéle & Bôscoli. No camarim, Roberto, sabe-se Deus por que, simpatizou com Julio e disse à Claudette: No dia que você se casar com esse rapaz, me chame porque eu vou ser o padrinho . Interrogações gerais e saias justas. De Tanto Amor Nesse meio tempo, se deu o show Fica combinado assim. Tudo ia muito bem, acontece que a música De tanto amor estava roubando a cena literalmente. E como havia três estrelas em cena ela, Agildo e Pedrinho, a ciumeira começou. A razão? Os aplausos eram contínuos sempre que ela terminava de cantá-la e sempre havia pedidos de bis. E como eles estavam num espetáculo que era mais teatro do que show, os componentes achavam que esta música estava prejudicando a fluência da encenação. Resultado: Claudette começou a ser pressionada para retirar a música do roteiro. Ela ficou uma fera por três razões: primeiro porque a música era seu maior sucesso até então, segundo porque foi um presente que Roberto Carlos lhe dera no auge da carreira e terceiro porque sua gravadora, a Philips, não acreditava no sucesso comercial da música e não a deixava gravar. Parecia um complô do universo contra a sua primeira grande chance de fazer e curtir um sucesso retumbante. Sabendo da confusão, Roberto Carlos, que nunca foi de ir assistir a shows de artistas amigos pelo fato de causar um reboliço terrível onde quer que esteja, foi até lá com o amigo de fé, irmão camarada, Erasmo Carlos, assisti-la, justamente porque soube por alto o que estava acontecendo e quis lhe dar uma força. Eu chorava muito no camarim antes de entrar em cena porque já estava sendo pressionada. Me lembro que cheguei para o Pedrinho e falei: ‘hoje nada pode sair errado porque ele está aí!’ Nessa altura da temporada, já havia até contratado um advogado para ficar no meio da plateia para que fosse testemunha, caso eu sofresse alguma ‘agressão’ do elenco, vê se pode?, ri hoje a cantora, que apesar de achar injusta a pressão que sofreu dos colegas, admite que foi ela mesma quem pôs tudo a perder. Jovem serve pra ser jovem! É tão inconsequente e intolerante, acha que o mundo vive em torno dele. Quando me colocaram contra a parede, o sangue me subiu à cabeça. Sabe como eu sou... bem visceral, uma espoleta. Aí houve um afastamento do Agildo e do Pedrinho comigo. Hoje sei que me faltou o profissionalismo. Sabe aquela história de ‘Sua mãe morreu? Primeiro faz o show que assinou o contrato, depois chora’? Pois é. Eu fiz o contrário. No meio daquele sucesso todo, eu disse: ‘Eu prefiro sair’. Que nem a Greta Garbo: ‘Leave me alone!’. Pensando friamente, a estupidez foi minha, porque o show foi montado para mim, eu não poderia ter saído, explica. E a história fedeu muito mais. Pedrinho e Agildo ainda tentaram buscar o diálogo com ela. Chegaram a comprar uma corbelha de flores e escrever-lhe um cartão carinhoso. Sabem o que ela fez? Mandei o porteiro botar a corbelha porta afora, em frente ao teatro, no meio da rua, pode? Isso foi uma atitude muito agressiva minha que hoje eu jamais faria, assume. A coisa não foi legal. Foi uma troca de agressões, ofensas, discussões de cabeça cheia. Aí, ainda tentaram fazer o show com outros artistas no nosso lugar, mas não deu certo, conta. Agildo e Claudette foram substituídos por Pery Ribeiro e Renata Lu a certa altura, mas a coisa não foi muito longe. Este incidente acabou causando o rompimento da amizade de mais de 10 anos entre ela e Pedrinho Mattar. Só nos anos 1980 eles voltaram a se falar por telefone e ainda houve tentativas de se agendar novos shows da dupla mas que nunca saíram do papel. Sou grata a ele até hoje. Pedrinho era filho de estrangeiros, e por isso mesmo muito rigoroso, então ele me ensinou a ser profissional. Eu era ‘cariocona’, avoada, me lembro que quando o Walter Wanderley entrava na Baiuca, eu dizia para ele: ‘Ah, hoje não vou mais cantar, vou sair para jantar com ele’, e o Pedrinho: ‘Nada disso, vai cantar sim senhora’, ri. Pedrinho faleceu em 2007. Com o passar dos anos, Agildo também fez as pazes com ela e hoje recorda aquele episódio da maneira irreverente que lhe é peculiar. Ela tem um temperamento muito forte, isto eu testemunhei. Mas aquilo foi uma menopausa artística que todos nós temos. Homem também tem e eu tive! Depois passa, tudo isso é uma bobagem frente ao poder da voz dessa mulher, contemporiza. O show foi um baita sucesso. Ficou muitos meses em cartaz e tive o privilégio de ouvir durante todo esse tempo a voz maviosa, linda e dramática daquele pingo de gente... Claudette é de um talento e uma musicalidade incríveis, capazes de comover qualquer plateia, de qualquer idade, incensa. Noves fora, o show fez tanto sucesso que a atriz Marília Pera certa noite foi lhe assistir para saber quem era o concorrente que estava fazendo tanto sucesso quanto ela . Ela me adorava. Nessa época só era páreo para a gente a peça que ela estava fazendo A vida escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato, no Teatro Ipanema, diz Claudette. A balada De tanto amor foi pivô de outro episódio curioso durante a temporada do Fica combinado assim. Apesar do sucesso retumbante que a balada Publicidade de fim de ano da Companhia Brasileira de Discos, mostrando seu cast imbatível, no início da década de 1970, do qual Claudette fazia parte. Os artistas que aparecem em pôsteres estavam exilados pela ditadura ou autoexilados por conta própria. À esquerda, acima: Trio Mocotó (Fritz Escovão, João Parahyba e Nereu Gargalo), Jorge Ben Jor, Marcus Pitter (provavelmente), Ronnie Von, Armando Pittigliani (produtor) e mulata não identificada À esquerda, no meio: Os Mutantes (Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e Rita Lee), pôster de Caetano Veloso, Maria Bethânia, Roberto Menescal, Nelson Motta (de cachecol), Umas & Outras (Dorinha Tapajós, Regininha e Málu Ballona), Manoel Barenbein (produtor), Erasmo Carlos, Wanderlea, Miéle, pôster de Gilberto Gil e Aldo Luiz (artista gráfico) À direita, acima: Marcos Samm, Claudette Soares, Jackson do Pandeiro, Jairo Pires (produtor), MPB/4 (Aquiles, Ruy, Miltinho e Magro), Ivan Lins (de cavanhaque) e Eustáquio Senna (cantor e produtor) À direita, no meio: João Mello (produtor), Nilo de Paula (fotógrafo e artista gráfico, sentado, de cabelo black power), Luiz Eça, Gal Costa, Jair Rodrigues, Elis Regina e pôster de Edu Lobo Sentados na frente: O Terço (Sergio Hinds, Vinicius Cantuária e Jorge Amiden), pôsteres de Nara Leão e de Chico Buarque, este, ao fundo, à direita. fazia no show, a Philips não queria deixá-la gravar a música de jeito nenhum. Foi uma tortura. A diretoria da gravadora dizia: ‘essa música é muito lenta, não dá’! Porque saía fora dos moldes da música do Roberto, era diferente. O Marcos Lázaro ainda estava trabalhando comigo e quando a ouviu, disse: ‘Claudette, essa música acho que não vai dar certo. Não tem como você pedir outra música pro Roberto?’. Só que eu coloquei o meu molho, a minha divisão diferente, aquela música me enlouquecia! Eu sabia o que tinha nas mãos. Aí, as pessoas saíam do teatro, iam para as lojas e não tinha meu disco com essa música à venda. Eu ficava pra morrer! Foi quando decidi mandar uma carta para o André Midani, presidente da Philips, dizendo que a gravadora não tomava uma atitude, e numa determinada noite ele foi até o teatro assistir ao espetáculo. Quando terminou ele me falou: ‘Em quantos dias você pode ir ao estúdio para gravá-la?’ Eu disse: ‘Quando você quiser!’. Nem acreditei! Aí, finalmente, gravei a música num disco que o Menescal foi o produtor. O Antonio Adolfo tocou piano na faixa, o Chiquinho de Moraes pôs as cordas, ficou um clima bem erudito, e foi o maior sucesso da minha vida, explica Claudette que viu tal canção permanecer por 54 semanas nos primeiros lugares do hit parade, entre 1971 e 1972. Tempos depois, o Marcos Lázaro vem ao Rio assistir ao show e disse: ‘Eu sei quando eu erro. Entrego a mão a palmatória’. Não me pergunte por que, mas ninguém acreditava nessa música, diz. O LP De tanto amor, lançado pela Philips no final de 1971, trazia uma Claudette completamente diferente. Nada do clima de bossa nova do Juão Sebastião bar, nem da bossa sexy do final dos anos 60. Agora, sua imagem era a de uma cantora essencialmente romântica que entrava em cena. Canções mais austeras como Coisas, do amigo Taiguara, se revezavam com outras românticas de pano de fundo engajado, como Medo (César Costa Filho e Aldir Blanc). De linhagem mais suave, havia outra de Roberto: o tema de Não quero ver você triste, que também foi bem tocada à época, e cujo arranjo era a estreia em disco de seu futuro marido e tecladista, Julio César Figueiredo. De clima bossa-novístico, apenas a recriação do samba-canção moderno Por causa de você, de Tom Jobim & Dolores Duran, e o lançamento da bossa Ao amigo Tom, que Marcos & Paulo Sérgio Valle fizeram com Osmar Milito para homenagear o maestro soberano, então autoexilado nos Estados Unidos. Os arranjos do álbum, em sua grande maioria, estavam novamente a cargo de seu velho pupilo, César Camargo Mariano. Outra canção importante praticamente lançada por ela foi De palavra em palavra (Miltinho/ Maurício Tapajós/ Aldir Blanc). Sua versão saiu simultaneamente à gravação do MPB-4, no selo Elenco. Havia ainda a canção Depois, da dupla iniciante Ivan Lins & Ronaldo Monteiro e uma Ave-Maria, de Menescal e Paulinho Tapajós, que abria o álbum com participação do grupo de rock progressivo O Terço (!). Mas foi a tão polêmica balada de Roberto que fez o disco vender feito água, marcando a vida de muitos casais de namorados daquela geração. A canção também saiu num compacto duplo com cinco músicas, que antecedeu o LP e vendeu muito. E foi gravada até mesmo em espanhol, para o mercado latino. Quem lhe ajudou com a pronúncia correta foi a cantora Rosita Gonzáles, sua contemporânea da Era do Rádio, especializada em canções hispano-americanas. Pois bem... Claudette sempre teve a sofisticação típica da geração bossa nova. Entretanto, cantou baião, Roberto Carlos e misturou a bossa com pop quando tudo isso era pecado mortal para boa parte da intelligentsia brasileira. Por essas e por outras desabafou certa vez: Me considero uma ovelha negra da bossa nova, porque muitas vezes fui na contramão do que esperavam de mim . Tem toda razão. Um Casamento de Parar o Trânsito Outro fato curioso que ocorreu durante a temporada do Fica combinado assim foi que uma mulher que trabalhava com o dono do teatro Princesa Isabel, Orlando Miranda, começou a dar em cima do organista da banda, ou seja, de Julio César. Ela me perguntou se eu estava namorando o Julio. Eu disse: ‘Claro que não, estou envolvida com o Gilbert’. Então ela começou a sair com ele. Aí eu percebi que estava dando o bofe de bandeja praquela baranga, diz, às gargalhadas. Nessa altura, todos os bilhetinhos que as mulheres deixavam para ele na porta do teatro, o porteiro me dava, porque era meu fã. Claro! Eu mesma havia lhe pedido para fazer isso. Olha que louca que eu sou: dizia que não queria nada com ele, e já me sentia sua dona, diverte-se. Essa ciumeira foi parar nos ouvidos de Julio César e ele sentiu que havia algo mais, de fato, entre os dois. A intuição do rei Roberto Carlos estava certa. O casamento ia rolar mesmo. Ao contrário dos problemas que teve com a família do ex-noivo, a do atual foi 100% receptiva com ela. Os pais dele foram me ver e me acolheram logo de cara. Fiquei muito amiga da irmã dele até hoje. Encontrei o meu príncipe, sabe? Mas, sem brincadeira, naquela ocasião, ele foi mesmo o meu príncipe. Ele era carioca também, mas se mudou comigo para São Paulo e se encantou pela cidade, conta a cantora, que se casou no dia 18 de maio de 1972. Casei nesse dia por causa do Roberto. Ele escolheu a data e a igreja. Quis que fosse numa quinta-feira, porque dizia que dava sorte. Jamais teria pedido para ele ser padrinho. Isso só aconteceu porque foi ele mesmo quem se ofereceu, então deixei que marcasse o dia que fosse melhor para ele . Só pela presença do padrinho famoso e de sua esposa à época, Nice, seu casamento já seria um acontecimento. Acontece que sua madrinha no civil era Hebe Camargo, e no religioso, além de alguns amigos e familiares, foram lhe apadrinhar duas figuras também muito populares na ocasião, o casal Aírton e Lolita Rodrigues, que apresentavam entre os anos 1960 e 1970 programas clássicos como Almoço com as estrelas e Clube dos Artistas, na TV Tupi. Todos eles também se ofereceram para ser padrinhos. Era uma fase que cantor e música na televisão eram importantes. Hoje não é mais assim, compara. Julio César recorda que o casamento civil aconteceu de manhã e à noite o religioso. Como a madrinha do civil era Hebe Camargo, ela saiu de lá e foi logo para o programa dela de rádio, anunciando que naquela noite Roberto Carlos estaria na igreja tal, na hora tal. Me lembro que havia todo tipo de gente no casamento. Quando a gente viu as fotos, a gente morria de rir. Tinha mulher que se emperiquitou toda, se meteu ali no meio de penetra mesmo, na cara dura, sem ter sido convidada, conta. Fiquei no altar afl ito porque Claudette demorou muito. Depois fiquei sabendo que o próprio Roberto havia lhe dito que ‘noiva tem que se atrasar’. E no fim das contas, ele é que se atrasou pra caramba. Isso também porque o trânsito da cidade parou por conta do nosso casamento e num dado momento ele pediu para parar o carro e mandou esperar . Muito antes da hora marcada para o casamento a Igreja de Santa Teresinha, em São Paulo, já estava tomada por uma verdadeira multidão. O noivo, muito elegante, de terno branco, foi o primeiro a chegar. Cerca das 18h30, meia hora atrasada, a noiva desceu de um Dart preto e se encaminhou pra o altar, conduzida pelo padrinho famoso, que permaneceu escondido até o momento da cerimônia: Roberto Carlos. Claudette Soares estava linda, com um vestido luxuoso, de enorme cauda de plumas, e tiara de brilhantes na cabeça. Após a cerimônia, os noivos receberam os cumprimentos dos convidados, quase todos, nomes famosos do rádio e da televisão. Claudette diz que continuará cantando por algum tempo, sob a orientação de Júlio César, a quem considera um grande músico. Mais tarde se dedicará apenas ao marido e aos filhos. (Revista TV Tudo Claudette casou-se sem pressa! Antes foi amizade, depois amor Texto de Luiz Gonzáles, maio, 1972) Quando o casamento acabou, Roberto se despediu dos noivos na igreja e se mandou. Quando chego perto de casa e vejo a minha rua interditada, pensei: ‘Puxa, que sucesso eu tenho agora, nem me aguento. Quando entro na porta do prédio, o porteiro: ‘Dona Claudette, isso aqui está impossível’. Quando eu ia falar ‘Ah, não tenho culpa’, ele me diz: ‘Seu padrinho taí!’. (risos) Nem minha mãe sabia que o Roberto ia à nossa casa. Foi uma alegria. Ele me deu de presente a frota de carros lindíssima dele para me acompanhar até a igreja. Foi muito bacana, foi a fase que tivemos mais contato, conta. Sobre o modelito e a coroinha que usou na cabeça, Claudette destila seu veneno básico. As noivas mais bonitas de hoje daqui a 50 anos vão se achar ridículas. Hoje não colocaria aquilo na cabeça nem morta. Foi meu costureiro que me sugeriu. O Eurico era italiano, muito chique. Usei um vestido caríssimo branco, com plumas... Casei no auge do meu sucesso e aquilo tudo fazia parte de uma coisa grandiosa que estava a meu redor. A gente não pode se arrepender do que fez, concorda?, indaga. Como Claudette se hospedou muito tempo no Hotel Plaza, em Copacabana, local nos anos 1950 ela estreara como crooner e onde se instalou naquela época por muitos meses, durante toda a temporada do Fica combinado assim, acabou que ela e seu noivo ficaram muito amigos do gerente. Ele então pediu que quando se casassem passassem pelo menos uma noite ali antes de seguirem para a lua de mel. E assim o fizeram. De lá foram para a aconchegante (e fria) cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul. A Bossa Sóbria e Romântica Antes e depois de seu casamento, ou seja, de março a junho de 1972, esteve em temporada na prestigiosa casa de shows, Bigode do meu tio, em Vila Isabel, zona norte carioca, depois ainda cantou em outras casas. Mas em disco, deu uma parada. Ainda se manteve contratada da Philips até 1973, mas sem gravar LPs. Foi quando decidiu pedir rescisão de contrato. Estava insatisfeita porque, segundo ela, queriam que repetisse o sucesso da canção De tanto amor. E ela odiava ser contrariada. Odiava ter que se submeter a quem quer que fosse. Em abril de 1973, deu uma entrevista ao jornal Última Hora em que não media palavras. Aliás, na década de 1970, era moda ser franco em entrevistas. O politicamente correto estava muito longe de ser inventado. Ela não estava para brincadeiras e soltou a língua. Estado de espírito Claudette Soares se define e confessa: Não me pisem. Sou capaz de explodir! . Se ser gritante é ser como sou, estou muito feliz por isso . Processo Faz show todas as noites no Up’s, em São Paulo. Antes cantou lá no Boteco e não recebeu um tostão e processou o Lima, empresário do local. Sobre a saída da Philips Hoje enviei uma carta a Philips, avisando antecipadamente (meu contrato terminará em junho deste ano) que não tenho mais interesse em renová-lo. São sete anos sob contrato que gravo meus discos na Philips. Agora acho que não tenho mais ambiente para continuar gravando lá. Acho que a Philips cresceu demais e não há mais interesse pelo meu trabalho . Sobre Elizeth Cardoso Meu ídolo é Elizeth Cardoso. Quero continuar minha carreira seguindo o exemplo magnífico que é Elizeth. Ela sempre soube ser respeitada e admirada na sua profissão . Sobre Roberto Carlos e De tanto amor Depois que gravei De tanto amor, minha carreira mudou completamente. Passei a atingir uma outra faixa do público. Vieram mais shows e ganhei muito com isso. Roberto é importante em minha carreira. Tão importante quanto acredito que tenha sido o movimento da bossa nova. Não vi nada mais bonito que a bossa nova . (Última Hora, 5/4/1973) Em janeiro de 1974, uma nota animadora dava pistas de que sua ausência dos estúdios seria breve. Claudette Soares, uma das melhores cantoras brasileiras, há alguns anos afastada dos discos (após uma série de LPs editado pela Philips) passou para a Odeon e antes do novo LP, aparece cantando em Compacto Simples Só Tristeza, do casal Walter Santos-Tereza Souza e Mentiras de João Donato-Lysias Ênio. (Estado do Paraná, texto de Aramis Millarch, 19/1/1974) Quem estava por trás disso era o cantor Dick Farney, que já conhecia Claudette de outros carnavais, embora não fossem tão íntimos, e havia lhe convidado para dividir os vocais com ele na nova versão da bossa nova Você (Menescal & Bôscoli), onze anos depois do dueto antológico realizado com a atriz Norma Bengell. Isto se deu em seu LP Dick Farney e você. E há de se constatar que esta nova gravação não deixava nada a desejar à anterior. Ao final, um surpreendentemente malicioso Dick lhe indaga: Claudette, posso dizer uma coisa no seu ouvido? . Pode . Pequena pausa. E ela: O quê???? (risos). Ele: É isso mesmo . Ela: Você, heeeein, Dickkkk?!!!! Ele: O que é que eu vou fazer? . E termina a canção em fade-out. Claudette conta que Dick realmente a surpreendeu. Ele falou no meu ouvido algo do tipo: ‘Você é tão pequenininha, tão gostosinha... Por isso é que todo homem gosta de você!’. Foi uma surpresa. Aí eu ri mesmo, de verdade, até porque sempre houve um respeito muito grande dele comigo, e meu marido estava ali do lado no estúdio, pois foi ele que fez os arranjos e tocou no disco. Essa brincadeira foi muito comentada na época. Nos programas de rádio, todo mundo perguntava o que é que ele tinha me falado, mas eu nunca disse (risos). Respondia que era um teatrinho e tal. Até lá em casa, a minha avó foi a primeira a perceber a malícia da coisa. Ela e a minha mãe acharam um horror por eu já ser uma mulher casada, vê se pode! E elas morreram sem saber o que ele falou pra mim, ri. Esta deliciosa gravação estimulou o diretor artístico da Odeon, Milton Miranda, a contratar a cantora para integrar o cast de sua gravadora segundo ela, por sugestão do cantor e amigo. Pois já em julho de 1974 saía seu LP Você, cuja faixa-título por coincidência tinha o mesmo nome da bossa nova que acabara de gravar, mas desta vez era uma referência a outro presente do padrinho Roberto Carlos. Só costumo falar com Roberto nos camarins de seus shows, mas eis que um belo dia estava na casa de uma amiga, e minha mãe me avisa que Roberto estava ligando para mim. Eu fui para casa e fiquei aguardando que ele ligasse novamente. Ele ligou e me falou: ‘Você vai para a Odeon, né? Tô sabendo. Tenho uma música aqui para você’. Quando cantou no telefone, fiquei louca. Pediu que eu mandasse chamar o Júlio, com o violão. Ele veio, pegou o gravador e foi tirando as notas. Eu disse ao Roberto que já tinha regravado o Proposta, mas ele não viu problema nenhum, que poderia colocar as duas no disco, relembra. A balada Você era outra daquelas fossas brabas, na linha da outra que já havia presenteado a amiga três anos antes. Você, que já não diz pra mim As coisas que eu preciso ouvir Você, que até hoje eu não esqueci Você, que eu tento me enganar Dizendo que tudo passou Na realidade, aqui em mim Você ficou Você que eu não encontro mais Os beijos que já não lhe dou Fui tanto pra você E hoje nada sou Segundo Claudette, Você teve lá seu sucesso, deu nome ao disco, mas não se compara ao estouro da balada De tanto amor, que foi um sucesso espontâneo, nasceu no show antes mesmo de ser gravada. É o tal negócio. Às vezes a gravadora te pressiona para você gravar tal música e tal autor. Mas isso não quer dizer nada. Às vezes é lindo e não acontece nada. Por isso saí da Philips, porque não queria essa pressão . Este seu disco de estreia na Odeon era romântico, porém suave e classudo, assim como os demais que ela gravaria nesta fase dos anos 1970. Ou seja, bem longe da linha popularesca que tentaram impingi-la a seguir. Mesmo nas faixas mais suingadas, como as duas de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro (Nem de ouro nem de lama e Seu carinho) e as regravações de Vestido de bolero (Dorival Caymmi) e Adeus, Maria Fulô (Sivuca/ Humberto Teixeira) do repertório da Rainha do Baião, Carmélia Alves, e recriada pelos Mutantes, alguns anos antes, estavam léguas distantes da bossa tradicional dos tempos da Mocambo e mesmo da bossa sexy do final dos anos 1960. Claro que alguns autores como Marcos Valle, Johnny Alf, Jorge Ben e Antonio Adolfo permaneciam em seu repertório. Mas na sua grande maioria o que se via era uma mudança de estilo na direção da sobriedade. Os arranjos ficaram a cargo de seu marido Julio Cesar, eventualmente se revezando com José Briamonte e Antonio Adolfo. O LP de 1975, Corpo e alma, era de atmosfera ainda mais densa que o anterior, de uma dramaticidade em algumas faixas de fazer inveja a uma Nora Ney, uma Maysa ou uma Maria Bethânia. Em geral é um clima de piano-bar, chique, mas bem down. Entre novidades de grandes autores da MPB, como Edu Lobo, Francis Hime e Ivan Lins, há versões delicadas do velho samba Se eu errei (lançado por Risadinha, no carnaval de 1953), em andamento ralentado, e do samba-canção Meiga presença, sucesso de Elizeth Cardoso em 1966. Essas e mais a faixa Vê, de Antonio Adolfo, trazem uma brisa daquela cantora que um dia sacudiu as noites frias de Sampa com sua voz sensual, ainda que em tom um tanto mais melancólico que o normal. Alegre mesmo apenas o samba-rock Eles querem amar, de Jorge Ben. E lambam os beiços! Sua fase Odeon teve ainda um terceiro disco solo, Fiz do amor meu canto (1976), um tributo a outro ás da MPB pré-bossa nova, seu velho amigo (dos tempos da Rádio Tupi) Tito Madi. A bem da verdade Claudette queria há muitos anos prestar um tributo a Roberto Carlos, fazer um disco só com músicas dele. Acontece que um dos diretores da Odeon me disse que eu não podia fazer um disco só de Roberto porque outra cantora já estava gravando. Este era um projeto que eu já queria ter feito na Philips, mas não me deixaram. Mais tarde a Nara acabou fazendo lá na Philips. Foi quando tive a ideia então de homenagear o Tito Madi. Era uma fase que ninguém estava gravando suas músicas. Gravei o disco e levei de presente ao Roberto. Disse a ele: ‘Pela vigésima vez não deixaram fazer a sua obra, então fiz este aqui’, conta a cantora, que, assim como Roberto, sofreu grande influência do autor de canções românticas derramadas, como Chove lá fora e Cansei de ilusões. Depois de uma série de discos na Philips, hoje na Odeon, nos parece que Claudette não tem sido aproveitada na dimensão de seu trabalho: fez romântico disco com Dick Farney (em cujo grupo instrumental, Julinho César Figueiredo trabalhou até há pouco) e agora dedica todo um elepê a Tito Madi (Chauki Madi, Pirajuí, SP, 18 de julho de 1929), além de inspirado compositor, também um cantor de voz agradável. Assim, Fiz do Amor Meu Canto (Odeon, SMOFB 3925, dezembro/76) é um elepê reto, romântico - suave como as músicas de Madi - um romantismo anos 1950, que nos diz, particularmente, muito - mas que, temos dúvidas, se chegará ao público mais jovem. Mas isso não importa, pois a voz gostosa de Claudette, os arranjos de Júlio Figueiredo e as palavras e melodias bonitas de Tito, em canções como Cansei de Ilusões, Não Diga Não, Gauchinha Bem Querer, Canção dos Olhos Tristes etc., sempre chegam suaves aos nossos olhos - concretizando as palavras da canção-título do LP: Fiz do Amor Meu Canto . (Estado do Paraná, texto de Aramis Millarch, 1/5/1977) Trata-se de um belo trabalho e uma justa homenagem ao excelente compositor, mas a Claudette outrora vanguardista dava lugar a uma inusitada intérprete de sambas-canções retrô . O diferencial da cantora seu suíngue, sua malícia e sua perene jovialidade estava perdido em alguma gaveta, junto com recibos empoeirados de velhas faturas, bilhetes esquecidos e um kit de costura jamais usado. Em comparação com a minha fase na Philips, esta da Odeon tem um repertório mais denso. Meu tipo já é de baixinha, então não podia continuar com aquela leitura que fazia antes. Aquilo foi um momento jovial. Depois, precisei me renovar, criar outra coisa. Nos discos com o Dick consegui um som que fosse mais a minha praia. Mas, de fato, não estava num momento legal. Por isso pouco depois me permiti dar uma parada, justifica. Em 1976, Claudette perdeu sua avó, que tanto lhe incentivou a seguir a carreira e sempre lhe acompanhava na fase das rádios Tamoio e Tupi. Ela estava com 95 anos (!). Mas isso não atrapalhou sua ida aos estúdios da Odeon. Nesse ano gravou dois LPs e logo a seguir um terceiro que saiu no ano seguinte. Explica-se. Alguns meses antes de lançar o disco-tributo a Tito Madi, e logo após o mesmo, realizou dois álbuns antológicos em dueto com o amigo Dick Farney intitulados Tudo isto é amor. Nestes sim, é possível sentir como está à vontade, íntima da agradável interseção entre o sambacanção sofisticado, a MPB jazzística e, claro, a bossa nova. A delicadeza das canções e o canto macio de Dick tinham (e têm) tudo a ver com ela. O repertório, basicamente, de standards (Minha namorada, Demais, Fim de caso, O que é amar, Fotografia...) conjugado à felicidade do encontro fez com que esses discos entrassem para a história da MPB como clássicos, tendo sido reeditados em CD algumas vezes a partir dos anos 1990, ao contrário da maior parte da obra da cantora que dentro em breve passaria a virar item de colecionador. A empreitada que uniu Dick e Claudette em disco começou por volta de 1975, quando o marido de Claudette, Julio César, tornou-se o pianista de Dick Farney. Ele conheceu os arranjos que fiz pra Claudette e me convidou para trabalhar com ele numa época em que resolveu cantar em pé e não mais se acompanhando ao piano. Comecei também a ser o arranjador dele no susto porque um dia ele foi para o Rio de Janeiro gravar um disco e o cara que ia fazer o trabalho sumiu. Aí o Dick me telefonou e me perguntou se eu poderia fazer os arranjos. Acontece que eu precisaria ir para o Rio e teria apenas uma semana para trabalhar! Mas eu topei e consegui aprontar tudo a tempo. A partir daí, produzi um disco dele na Odeon e também os que ele fez com a Claudette, explica ele, frisando que os dois volumes de Tudo isto é amor tinham uma continuidade interessante. A última faixa do primeiro disco, Somos dois, acabava só com piano. E a primeira do segundo volume, Chuva, começava com a mesma terminação daquela última, revela ele que contou com canjas no disco de bambas como Paulo Moura (sax), Marcio Montarroyos (flugelhorn) e Geraldo Vespar (guitarra). A carreira de Claudette, entretanto, parecia dar sinais de desgaste. A cantora já começava a pensar em se afastar do meio artístico. A Revista Som documentou essa fase na reportagem Claudette pode parar de cantar. Que pena!, pouco antes realmente da retirada de cena. Talvez porque o romântico saiu de moda, talvez porque as pessoas não saibam escutar, não há o devido reconhecimento de um bom trabalho . Magoada por essa falta de reconhecimento, Claudette Soares acha que não dá mais pra continuar e é bem provável que em breve encerre a carreira. ‘Mas é preciso pensar bastante, pois quando resolver parar é porque não voltarei nunca mais. Paro com tudo e vou ser somente esposa e talvez mãe’. Enquanto não se decide, Claudette continua tentando e acaba de lançar mais um LP, Claudette Soares e Dick Farney. ‘Esta é a primeira vez que gravo com alguém. Mas, como nós temos muita afinidade musical, o Dick deu a ideia e eu topei. É uma história de amor que começa com um olhar e que ao longo do disco se desenrola numa briga, no reencontro e no final feliz como qualquer história de amor que se preze. E aí entram os trabalhos de Dolores, Tom, Lyra, Vinicius e outros. Mas como andam dizendo por aí que o amor já está ultrapassado, que a fossa já era, o disco se torna um pouco anticomercial, sem músicas de fácil aceitação. Mas qualidade para mim é mais importante que quantidade, que popularidade. Sou cantora de catálogo, não tenho nenhum compromisso ou melhor não sou escrava da parada de sucessos. O disco foi gravado pela Odeon, que acredita nesse tipo de trabalho, com arranjos de meu marido, Julio César Figueiredo, que faz parte do Trio do Dick e com quem estou casada há quatro anos. Para as pessoas que não curtem o amor e consideram a vida a dois uma caretice, saibam que continuo bem careta e bem casada. E por isso tenho colocado a minha carreira em segundo plano . (Revista Som, Claudette pode parar de cantar. Que pena!, texto de Ilvaneri Penteado, 1976) Na esteira do sucesso do primeiro, o segundo volume, de 1977, foi ainda mais bem falado que o anterior, mas isto não impediu que fosse seu último álbum na gravadora, iniciando um jejum fonográfico em sua carreira que perduraria pelos próximos 18 anos. Intercalando seus elepês-solos, encontrou no pianista-cantor Dick Farney (Farnésio Dutra e Silva, 56 anos, 37 de carreira) um parceiro para uma nova série - Tudo Isto é Amor - cujo segundo volume está ainda melhor do que o primeiro lançado há menos de dois anos. Produzido pelo pianista e arranjador Júlio César Figueiredo, Tudo Isto é Amor é um disco romântico, com músicas já conhecidas - mas que nas vozes de Claudette e Dick são ouvidas com grande prazer. (Estado do Paraná, texto de Aramis Millarch 19/6/1977) Esses ótimos discos com Dick só não foram ainda mais badalados porque, apesar de toda a amizade que mantiveram até a sua morte em 1987, Claudette admite que ele não era uma pessoa das mais fáceis de lidar. Ele nunca quis fazer shows para promover o disco. As únicas vezes que cantamos juntos ao vivo foi quando eu ia assisti-lo na boate Regine’s e ele me chamava para dar canja. O (programa) Fantástico, na época, queria nos levar e ele pediu um cachê altíssimo justamente para não ir. Era uma coisa complicada. Nunca entendi isso. Ele também tinha um lado um tanto reticente com músicas que não fossem de artistas ligados à praia musical dele. Nem o Samba em prelúdio ele quis gravar comigo porque o lançador tinha sido o Geraldo Vandré, conta. O final dos anos 1970 representou para a MPB um período de grandes mudanças. As canções ficaram mais alegres e sensuais, a música engajada se tornava mais sarcástica do que nunca, porém já deixando o bom humor aflorar. As discotecas tomavam o País e a juventude descolada já sabia que não era pecado mortal se divertir, mesmo com os problemas da ditadura rolando lá fora. A abertura política iria acontecer mais cedo ou mais tarde e a MPB parecia intuir. Por conta disso, os artistas veteranos de música romântica e de bossa nova estavam um tanto fora de moda, pois o momento era explosivo demais para aquele peso do romantismo repleto de valores morais antigos nas letras das serestas e sambas-canções ou para a leveza do amor, do sorriso e da flor das bossas cariocas dos anos dourados, pré-festivais. Claudette sentiu isso na pele e neste momento lhe faltaram bons produtores para orientá-la de modo que ela se renovasse mais uma vez. Então acabou se retirando de cena. Não é que Claudette tenha parado definitivamente de cantar neste período, mas ela se apresentou pouquíssimo em público e, sem lançar discos, foi ficando esquecida pela mídia. Concordo com você que acha minha fase na Odeon pesada. Eu precisava mudar, mas necessitava de alguém que me chegasse com uma proposta nova, da mesma forma que aconteceu com o César, o Antonio Adolfo e o Benjor na época da Philips. Não foi fácil fazer aquilo, criar daquele jeito. Foi preciso um empenho de todos. E quando a gente se casa, ainda mais com músico, se acomoda a trabalhar somente com o marido. Vira um círculo vicioso. Existe um cansaço. Por isso no casamento de cantora com músico sempre há um desgaste. Porque liberdade para fazer show com outro músico é difícil. Na época, era como se nós dois fôssemos um só, diz, resignada. O Reencontro com Isaura e o Fantasma de Walter Wanderley Nesta fase de sumiço da mídia, houve um episódio muito interessante na vida de Claudette. Por essas ironias do destino, em 1981, Isaurinha Garcia ia fazer um especial para a TV tendo Ângela Ro Ro como convidada, e adivinhem quem foi o pianista escalado para a empreitada? Julio César, o marido de Claudette. Quando a grande diva da terra da garoa se deparou com ele, disse com aquele sotaque peculiar. Minha nossa senhora, o ‘Warte’ voltou?!!! . Pouco depois, ela o convidou para gravarem um LP da série O fino da fossa, pela DiscoBAN, um selo da TV Bandeirantes, com clássicos do gênero. Foi nesta fase que a rusga entre Isaurinha e a Claudette diminuiu. Até porque o jogo se invertia. É como se a Claudette estivesse emprestando o marido dela para lhe acompanhar, o inverso do que havia ocorrido no passado, diz Júlio, que ao contrário de Claudette & Walter no início dos anos 1960 não chegou a ter um romance com Isaurinha, até porque nessa altura, já era uma senhora de mais de 60 anos, aparentando mais devido ao sofrimento de sua vida. Era minha fã e eu fã dela. O sentimento era mais de mãezona. Era uma pessoa muito doce, relata. Entretanto, há outras coincidências sensacionais nessa história. Numa de suas idas ao apartamento de Isaurinha para os ensaios deste LP que gravaram juntos, Julio conheceu Mônica, a filha única dela com Walter, que ao avistá-lo ficou tão impressionada com a semelhança dele com seu pai quanto os músicos veteranos que o viam pela noite paulista, onde ele e Claudette costumavam frequentar para ouvir boa música. Quando era adolescente, o Walter era meu ídolo. Ouvia muito as músicas dele no rádio, procurava gravá-las numa fitinha e me influenciava pelo estilo dele, mas nunca tinha visto uma foto sua. Pois só vim a ter discos dele mesmo já na época que me casei com a Claudette. Quando Mônica me mostrou uma foto do pai, mais novo, de óculos, iguais aos meus, fiquei espantado. Era realmente parecido demais comigo. Parecia que eu era filho do cara, conta Júlio que começou a matutar se de fato um parentesco entre os dois seria possível, já que, como se não bastasse, até no estilo de tocar muita gente achava os dois semelhantes. O que vou dizer aqui é fruto de pura especulação. Ocorre que de tanto as pessoas falarem da semelhança, o Walter começou a virar um fantasma para mim. Poxa, eu já gostava dele tocando agora descubro que sou fisicamente parecido...? Comecei a viajar na minha mente e, pesquisando a sua vida, descobri que ele nunca soube quem foi seu pai. E me lembrei que meu avô paterno, também muito parecido comigo, era piloto do navio Lloyd brasileiro. E existe aquele ditado popular que ‘todo marinheiro tem um amor em cada porto’, certo? Pois bem, o Walter era pernambucano e meu avô andou por aquelas bandas. Aí que me veio uma suposição. Será que meu avô deu uma escapada no Nordeste e ficou com quem seria a mãe do Walter? Quem sabe eu não poderia ser seu sobrinho? Jamais poderei provar essa minha teoria, mas isso foi fruto da minha imaginação em função do excesso de gente falando da nossa semelhança, diverte-se. Mas o melhor vem agora: Claudette, que conviveu intimamente com ambos, diz que Júlio e Walter têm um sinal de nascença idêntico uma mancha na canela no mesmo lugar do corpo. Isso faz lembrar o ator Jack Palance naquela conhecida série televisiva: Acredite, se quiser... . Não daria uma novela? O Fim do Casamento Nos 18 anos (20 oficialmente) que Claudette e Júlio César viveram juntos, no geral, a convivência foi um tanto harmoniosa. Ela foi extremamente amável e afetuosa comigo. Uma coisa é a pessoa na vida pessoal e outra coisa na vida artística. Na artística, ela brigava pelo espaço dela, não aceitava concessões que tentassem lhe impor, era mais rígida, compara, lembrando que o casal tinha uma boa vida social. Gostavam muito de visitar amigos. Iam muito à casa do amigo em comum Dick Farney para ouvir música e bater papo. Chegaram a fazer uma pequena turnê por Punta del Leste, no Uruguai, e iam frequentemente para um hotel em Águas de São Pedro, um lugarejo a 20km da cidade de São Pedro, próximo a Piracicaba, onde havia uma imensa área verde. De meados dos anos 1970 até o final do casamento, o único show que Claudette fez foi em 1983 no Ópera Cabaré, uma casa na Avenida Ruy Barbosa, em São Paulo, a convite do produtor Abelardo Figueiredo, acompanhada de Júlio e de um quarteto de cordas. No mais, só pequenas canjas em casas como a velha Baiuca, onde ela estreara em São Paulo, no início da década de 60, e ainda resistia como uma boa opção noturna, e eventos de amigos. O que ficava difícil para qualquer pessoa um pouco mais chegada a ela entender era a razão de seu afastamento dos palcos. Uma pessoa que cantava desde os 10, 11 anos de idade, com uma carreira tão intensa, de repente, parar? Esquisito. Depois de muitas conversas, Claudette deixa escapar que tudo começou com um profundo trauma causado pelo sucesso da canção De tanto amor. Sua antiga gravadora Philips exigiu que ela fizesse um disco romântico-popular, leia-se, tendendo ao brega. Ela se recusou, ainda tomou um chá de cadeira de uns dois anos na gravadora, até terminar seu contrato e ela poder sair. Há que se explicar que, naquela época, uma cantora considerada de MPB estourar com uma balada romântica de Roberto Carlos gerava uma mudança estratégica na cabeça dos executivos das gravadoras. É como se ela deixasse de ser vista como uma cantora de MPB bossa-novística e passasse a ser considerada como possuidora de grande potencial na linha do românticopopular, o que, definitivamente, não estava nos planos de Claudette. Na fase Odeon, foi mais uma cantora de catálogo . Já não fazia tantos shows nem era tão requisitada pela televisão. Como já estava casada e seu marido poderia sustentá-la, acabou se acomodando. Minha carreira fonográfica foi morna e sempre apareci na mídia naturalmente quando lançava algo de novo, mas sem alarde. De repente quando estourei, e a coisa poderia dar um impulso à minha carreira, fui pressionada a cantar músicas românticas mais bregas. Isso foi um baque para mim, então preferi parar e paguei um preço alto por isso. Parei para não cair na armadilha do sucesso imediato. Como estava casada, apaixonada, me acomodei nessa situação, explica. Seu ex-marido dá sua versão. O que se operou nesse tempo foi uma espécie de superproteção que quis dar a ela por causa das coisas que aconteciam em sua carreira, pois andava insatisfeita. Tentei preservá-la de uma série de coisas, que hoje são piores ainda no meio artístico, mas que já havia naquela época. Os produtores queriam obrigá-la a gravar determinados estilos que ela não desejava; naquele tempo as televisões pagavam cachês aos artistas e ela não estava a fim, nem eu achava que deveria aceitar cantar ou fazer shows por cachês baixos. Foi um afastamento proposital não porque eu disse ‘Não quero que cante mais’. Nem de longe eu faria isso nem ela aceitaria, mas que eu daria respaldo até financeiro caso quisesse se afastar. Disse a ela: ‘Faça aquilo que está a fim de fazer que eu seguro as pontas’. Hoje penso que agi errado nesse sentido, porque acabei criando, sem querer, esse afastamento dela na mídia, que por ter sido tão longo acabou gerando um problema sério na carreira dela. E ela aceitou esse meu apoio e tomou isso como uma superproteção, avalia. O que talvez nem Julio soubesse é que Claudette nunca deixou de cantar. Bastava ele sair de casa que ela corria para o quarto, colocava seus discos antigos na vitrola e começava a cantar em cima. Foi horrível. Chorei muito escondida. Quando eu via outros colegas cantando na TV muitas vezes eu chorava mesmo. Deixei um pouco de ser a artista que sempre fui. Com o casamento, ainda mais com um músico, acho que acontece uma disputa inconsciente que começa a nos podar. E a gente, apaixonada, vai cedendo, não quer brigar, diz ela, ponderando que foi uma atitude em que ela também teve parcela de culpa. O Julio jamais me botou presa nos pés da cama, mas essa ‘autovalorização’ que o parceiro tenta nos dar às vezes atrapalha. ‘Para que cantar por esse cachê?’, ‘Por que fazer show só por couvert artístico?’... O casamento deixa a gente babaca, sabe? Então eu preferia nem tentar fazer para não criar caso, ficava insegura. Por isso quando me separei as pessoas tinham o direito de achar que era meu marido que não queria que eu cantasse, porque eu retomei tudo com força total logo depois da separação. Tinha que provar para mim mesma que eu era capaz de voltar a ser a Claudette Soares . Nessa fase do afastamento, ela descobriu que seus pais e especialmente sua mãe, que no início era radicalmente contra sua profissão sofreram tanto quanto ela quando se afastou dos palcos. Minha mãe quando me via cantando no quarto dizia: ‘Isso mesmo, minha filha, comece a treinar outra vez’. Esse treino me valeu de uma coisa: quando voltei, não me encontrava enferrujada, estava segura no gogó. Vim com tudo . Mas até o seu retorno, ela confessa hoje pela primeira vez que viveu um sofrimento calado, que nem se dava conta. Fiquei muito mal sim, mas ter passado por tudo isso me fez amadurecer. Só no sofrimento você amadurece. Uma vez, numa das últimas viagens daquele trem que havia entre Rio e São Paulo, nos anos 70, o Vinicius (de Moraes) me falou: ‘O artista é ímpar. Você só vai voltar a ser Claudette no dia que se separar’. Ele tinha razão . Quem pensa que a novela entre ela e Isaurinha Garcia havia chegado ao fim com o episódio do reencontro entre as duas, via Julio César, está enganado. Pouco antes de retomar a carreira, quando sentiu que o casamento estava acabado, Claudette tomou coragem e ligou para a colega e ex-desafeto, marcando de ir à sua casa, dizendo que tinha uma coisa muito importante a lhe dizer. Ela me convidou para tomar um chá, nessa época já tinha parado de beber, e virei para ela e falei exatamente assim: ‘Vim aqui para te dar uma notícia. Agora eu sei o que é a dor de uma separação, acabei de me separar do Julio’. Ela ficou numa tristeza tão grande que eu nunca imaginei. Ali eu percebi o quanto ela tinha bom coração, conta. A partir daí até a morte de Isaurinha, as duas sempre se falavam por telefone. Um de seus últimos pedidos é que, quando morresse, Claudette fosse chamada para cantar caso houvesse algum evento ou show em sua homenagem. Por isso, quando o fato inevitável aconteceu, em 1993, ela, já separada de Júlio, foi convidada pela filha da cantora para interpretar dois números num especial-tributo da TV Cultura em que o ex-marido também tomou parte, lhe acompanhando. Ali se encerrava um ciclo. Veja só, fiz um especial homenageando a pessoa que mais me odiou na vida, e por um motivo justíssimo, claro! A vida é muito louca! . Alguém duvida? A Volta Triunfal Ainda que não tivesse se divorciado, o que se deu somente em 1992, para ela a relação estava acabada já na virada de 1990 para 1991. Sentiu que, para cair fora do barco, teria que voltar rapidinho ao batente. Entraram em cena seu amigo (e ator) Luiz Sérgio, colega do jornalista e pesquisador Demétrio Ferreira, que conheciam a atriz Angela Leal, proprietária do democrático Teatro Rival, e viram que ali parecia ser o local ideal para a sua retomada, pois o teatro estava sendo reaberto numa linha de shows ligada à MPB, sem preconceitos. E começaram a armar sua ida para o Rio de modo a fazer a ponte com o pessoal do teatro. Quando Claudette chegou, foi logo assistir naquele palco ao show do grupo As Eternas Cantoras do Rádio, que reuniu as veteranas Carmélia Alves, Nora Ney, Rosita Gonzáles, Violeta Cavalcante, Zezé Gonzaga e Ellen de Lima. Durante o show, Carmélia lembrou de sua fase de Princesinha do Baião, reverenciando-a em cena. A resposta do público foi calorosa e imediata. Quando acabou o espetáculo, Ângela Leal chega para mim e diz: ‘Você teria um show montado?’ e eu respondi: ‘O show já está pronto’. Foi um blefe. Não havia nada pronto, ri a cantora que na mesma hora teve um palpite e lembrou-se de um show que havia feito oito anos antes no Ópera Cabaré paulista, com piano acústico e um quarteto de cordas. Queria voltar com uma formação diferente, uma novidade. A Ângela adorou e aí corremos atrás para levantar a produção . Seu quase ex-marido estava ocupado com negócios em São Paulo, então ela partiu para encontrar um novo pianista que pudesse topar tal empreitada carioca e encontrou no iniciante, mas já muito comentado, Leandro Braga o apoio que lhe faltava. Ela o tinha visto na noite paulista tocando e gostou do seu som, mas não imaginou que ele fosse topar. Liguei para ele e perguntei se poderia me dar um nome de um pianista que eu pudesse fazer um show, ao lado de um quarteto de cordas e tal. E ele me respondeu: ‘Por que não eu?’ E eu disse: Mas eu não vou ter como pagar você’. Ele quis saber qual era o show e topou na hora. Tenho um carinho imenso por ele porque ele me segurou no colo . Estava seca para voltar a cantar, então vim como um leão esfomeado, conta ela que, bolou um show retrospectivo que chamou de Nova leitura para esta volta no Rio, bisando a minitemporada em São Paulo, logo a seguir, em novembro de 1991, obtendo ainda maior repercussão. E o momento não poderia ser mais oportuno. Na virada dos anos 1980 para os 1990, houve um revival de bossa nova no ar. Para começar, a partir de 1989, Leila Pinheiro, produzida por Roberto Menescal, estourou com seu álbum Bênção bossa nova, revivendo os grandes standards do movimento. Logo em seguida, em 1990, Ruy Castro lançou o livro retrospectivo Chega de saudade A História e as histórias da Bossa Nova. Pronto! O que faltava era a volta de Claudette Soares à cena. Em crítica publicada no jornal O Estado de S. Paulo, Ruy Castro, em pessoa, disse o seguinte: Em seu show no Teatro Crowne Plaza, a cantora surpreende seu público cantando como Dalva de Oliveira, mas continua a ser a ‘dona da bossa’, dos tempos do Juão Sebastão Bar . Ela não podia se conter de tanta emoção e felicidade ao ler essas linhas. Quem foi à estreia de seu show na última terça-feira, esperando saudar a volta de uma das mais suaves intérpretes da bossa nova, depois de dez anos de ausência, teve uma fulminante surpresa: reencontrou uma Claudette que parece ter recebido uma carga vocal de (juro!) Dalva de Oliveira e tomando uns goles certeiros da dramaticidade de Maysa sem, felizmente deixar de ser a swinguíssima Claudette Soares nem por um centímetro. É ver (e ouvir) para crer. No seu estilo de bolso, é um show perfeito: grande música popular, texto ágil e uma cantora que dá uma aula de ritmo nas canções que pedem ritmo e de sentimento nas que pedem sentimento às vezes, vice-versa. O pianista é o incrível e jovem Leandro Braga, que saiu de São José dos Campos para se tornar um dos acompanhantes mais requisitados do mercado e, ele próprio, um respeitável solista. Invejáveis sucessos particulares: ‘Bom tempo’, ‘Apelo’, ‘Mundo novo vida nova’, ‘Rosa desfolhada’. Ela foi desencavar dois sambas-canções do violonista Meira (em parceria com Augusto Mesquita): ‘Molambo’ e ‘Por que perdoei’. Meira pertenceu ao Regional do Canhoto nos anos 50 e foi professor de Baden Powell. Faz um medley sobre Copacabana, com ‘Baião de Copacabana’, de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa, ‘Copacabana’, de Braguinha e Alberto Ribeiro, e ‘Sábado em Copacabana’, de Caymmi e Carlos Guinle. E a cantora levanta a plateia no medley sobre São Paulo, composto por um trecho da ‘Sinfonia Paulistana’, do paraense Billy Blanco, ‘Dobrado de amor a São Paulo’, do carioca Vinicius e do pernambucano Antonio Maria, ‘Sampa’, do baiano Caetano, e antes que se diga que os paulistas não cantaram São Paulo, ‘Ronda’, de Paulo Vanzolini, e ‘São Paulo Quatrocentão’, de Garoto. Em outros momentos, relembra Tito Madi (‘Quero-te assim’, ‘Chove lá fora’), Maysa (‘Meu mundo caiu’, ‘Resposta’ e ‘Ouça’) e Dolores Duran (‘A noite do meu bem’). Medley bossa nova: ‘De palavra em palavra’ (Maurício Tapajós, Paulo César Pinheiro e Miltinho), ‘Se é tarde me perdoa’ (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli) e ‘Samba do avião’ (Tom). Ou quando ela revive o Juão Sebastião Bar cantando ‘Primavera’ (Lyra e Vinicius), como o fazia todas as noites em 1963. (O Estado de S. Paulo Claudette ressurge como Dalva, texto de Ruy Castro, 19/11/1991) Revigorada, Claudette não parou mais. No ano seguinte, participou em março do show Chega de saudade, no Olympia (SP), um evento baseado no referido livro homônimo do mesmo Ruy Castro, ao lado de Luiz Carlos Miéle; Rubinho, Luis e Amilton Godoy (do Zimbo Trio), e ainda do compositor e produtor Roberto Menescal e das cantoras Joyce, Leny Andrade e Rosa Passos. Pouco depois, por sugestão do veterano pesquisador Demétrio Ferreira, montou um show sensacional somente com canções de compositoras brasileiras das mais famosas às mais obscuras em que cantava 42 composições (!), sem cola. Detesto cantar lendo. Acho que se você põe uma estante na sua frente, nunca mais se livra dela. Fica inseguro, conta. Era seu retorno ao palco do Teatro Rival após temporada vitoriosa de reestreia no ano anterior, com direção de Ângela Leal e do ator Emiliano Queiroz. Roteiro do Show Não há mulheres iguais 1º ato Ô abre alas (Chiquinha Gonzaga), Bar da noite (Bidú Reis e Haroldo Barbosa), Ombro amigo (Leci Brandão), O lado quente do ser (Marina Lima e Antonio Cícero), Coisas da vida (Rosinha de Valença), Outra vez (Isolda), Só nos resta viver (Ângela Ro Ro), Jura secreta (Sueli Costa e Abel Silva), Fiz a cama na varanda (Dilú Mello e Ovídio Nunes), Eu só quero um xodó (Anastácia e Dominguinhos), Eu daria minha vida (Martinha), Companheiras da noite (Linda Rodrigues, Aylce Chaves e William Duba), Lama (Aylce Chaves e Paulo Marques), Sonho meu (Ivone Lara e Délcio Carvalho), Samba da madrugada (Dora Lopes, Carminha Mascarenhas e Herotides Nascimento), Sofro (Vera Falcão e Nelson Alves), Dor de cotovelo (Fafy Siqueira e Sarah Benchimol), Remendos (Joanna e Sarah Benchimol), Meu mundo caiu, Resposta e Ouça (todas de Maysa), Só de você (Rita Lee e Roberto de Carvalho), Vida breve (Irineia Ribeiro), Chorar e cantar (Vera Brasil/ Neville). Intermezzo: Mulher (Custódio Mesquita/ Sady Cabral) solo: Hélvius Vilela. 2º ato De igual pra igual (Roberta Miranda e Matogrosso), Desilusão (Concessa Lacerda), Verdade da vida (Concessa Lacerda e Raul Mascarenhas), Dor medonha e Tanto que aprendi de amor (Fátima Guedes), Você não é feliz porque não quer (Marília Batista e Henrique Batista), Opção (Gisa Nogueira), Bésame mucho (Consuelo Velasquez), A grande verdade (Marlene e Luiz Bittencourt), Sempre assim (Carolina Cardoso de Menezes/ Armando Fernandes), Ave rara (Rosinha de Valença e Thereza Tinoco), Viajante (Thereza Tinoco), Fraqueza (Dora Lopes e Lolita França), Não me culpe e Solidão (Dolores Duran), Por causa de você (Dolores Duran e Tom Jobim), Amélia de você (Elena e Eliane de Grammont), Faxineira das canções (Joyce) e Não há mulheres iguais (René Bittencourt). Ainda em 1992, Claudette se separou oficialmente do marido Julio Cesar, após 20 anos de casamento. Segundo ela, ninguém entendeu essa separação porque eles eram vistos no meio artístico com um Casal 20, mas o desgaste natural da longa convivência acabou por gerar o rompimento. Por sua vez, Julio Cesar admite hoje que teve uma atitude precipitada em querer a separação. Foi uma burrice minha. Depois, tentei retroceder, mas já tinha feito m..., diz, afirmando que neste caso o gênio forte da ex-mulher prevaleceu. Como boa nativa de escorpião, ela é oito ou oitenta. Se separou, separou, não tem meio-termo. Depois do trauma natural do rompimento, voltamos a trabalhar mais tarde. A separação cristalizou a nossa amizade. Não houve ressentimentos, contemporiza. Livre, leve e solta, Claudette passou a mandar brasa em busca do tempo perdido. Claro que nem tudo foram flores. A partir de então, ela passou a tentar como até hoje reaver seu espaço na música brasileira num momento em que até a forma de ouvir música mudou e num país onde a memória jamais foi valorizada. Foi se virando como pôde, participando de inúmeros projetos seja homenageando compositores ou o próprio gênero que ajudou a consagrar: a bossa nova. Fez um show interpretando canções de Vinicius de Moraes, em 1993, com seu ex-marido ao piano, no Centro Cultural São Paulo. No ano seguinte, dividiu o palco do Memorial da América Latina com sua velha amiga Alaíde Costa, tendo novamente Julio ao piano e um quarteto de cordas, e no Rio, na Sala Funarte, acompanhada do pianista Osmar Milito, incluiu no repertório, entre outras, a nova pérola de Ivan Lins e Vitor Martins, Lembra de mim. Ainda em 1994, teve duas fortes emoções para o bem e para o mal. Seu pai faleceu em fevereiro, já bem idoso, aos 90 anos, seguindo a lei natural da vida, mas logo um projeto viria para redimir sua tristeza: após um jejum de quase 20 anos, voltaria aos estúdios a convite do produtor Jonas Silva (ex- Garotos da Lua), que três anos antes havia relançado em CD seu primeiro LP na Mocambo, para gravar o CD Vida real, com 18 faixas, que só foi lançado no ano seguinte pela Movieplay. Um CD irregular, como todo disco independente, por não ter tantos recursos de modo a obter aquela potência de som ou aqueles arranjos de grande banda e orquestra. Ainda assim, teve alguns excelentes momentos, como sua nova recriação para o Baião inaugural de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, evocando sua fase de Princesinha do Baião, e algumas inéditas de Johnny Alf (E aí? e Choratina), Eduardo Dusek & Isolda (Faz de conta), além de uma releitura de seu sucesso Primavera, da época do Juão Sebastião Bar. O show de lançamento de Vida real foi levado com grande sucesso ao palco da famosa casa paulistana, Inverno & Verão. Até o final da década, Claudette se apresentou em novos shows bacanas. Em 1996, estreou em Sampa seu Tributo a Taiguara, novamente no Memorial da América Latina. Tudo começou no ano anterior. A cantora chegou a se encontrar com o homenageado, lhe mostrou o roteiro do espetáculo e ele lhe deu inclusive alguns palpites. Sugeriu que o Julio fizesse os arranjos, que a música Mudou abrisse o show e pediu que eu retirasse Helena, Helena, Helena, pois não ficaria bem uma mulher cantar uma declaração de amor daquelas a uma prostituta, diverte-se, lembrando que ele quis gravar uma pequena locução em off para fazer parte do espetáculo, entretanto, não teve tempo. Depois de inúmeras tentativas de vencer um câncer, acabou falecendo três meses antes da estreia, em fevereiro. Seu amigo e empresário à época, Riva, teve a ideia então de sugerir que Claudette fosse acompanhada apenas de uma orquestra de violoncelos, semelhante à que Taiguara havia visto e se encantado numa apresentação na Alemanha, anos antes. Acabou conseguindo junto à Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e assim a homenagem acabou sendo dupla. Por conta da ligação forte da cantora com Taiguara, na véspera de sua morte, a seu pedido, esteve no hospital para vê-lo. Sentindo a tristeza do amigo em não poder gravar o depoimento que havia imaginado, ainda tentou argumentar que, mesmo doente, poderia dar um jeito de assistir ao show. E ele lhe disse que, se não pudesse, de alguma forma todo mundo iria ver que ele estaria presente. Pois bem, no segundo e último dia da temporada, no final do bis, enquanto cantava a música Hoje, ela foi surpreendida por uma borboleta coral que invadiu o palco do Memorial, cujo ambiente é todo fechado, não tem uma janela. O público começou a se levantar ouriçado e, enquanto eu estava de braços abertos, cantando o verso ‘Eu não queria amar assim como eu te amei’, e ela apareceu do nada, vindo num facho de luz que havia sobre mim, deu uma volta ao meu redor e pousou em cima da palma da minha mão. Depois, voltou pelo mesmo facho de luz e desapareceu de novo. Como a borboleta é o símbolo da ressurreição, aquilo foi um negócio tão forte que a mulher dele, Ana, que até então não acreditava em espiritismo, passou a acreditar . Roteiro do show Tributo a Taiguara I parte Abertura A transa, Mudou, Berço de Marcela, Teu sonho não acabou, Viagem, Piano e viola, Momento de amor, Amanda II parte Geração 70, Tributo a Jacob do Bandolim, Romina e Juliano, Hoje, Universo no teu corpo, Coisas, Que as crianças cantem livres. Ainda em 1996, no dia 12 de março, foi condecorada com o título de Cidadã Paulistana pela Câmara Municipal de São Paulo. A jornalista Zildete Montiel, antiga assessora de imprensa da casa, sugeriu seu nome, que foi eleito por unanimidade nesta ocasião. O coquetel ocorreu no mesmo local, com a presença de deputados e vereadores, e um coral que entoou De tanto amor e, claro, Primavera, que simbolizou muito sua fase da boemia paulistana, com direito a canja da cantora. Em junho de 1997, Claudette cantou com outra orquestra, desta vez a Filarmônica Norte/Nordeste, regida pelo maestro Aylton Escobar, no Teatro Guararapes, em Recife, no show Encontro com Villa-Lobos, jazz e Bossa Nova. No programa, a Bachiana Brasileira n.2 e duas serestas do referido maestro (Na paz do outono e Modinha), além de uma seleção de músicas de Tom & Vinicius. No ano seguinte, entre uma temporada e outra, integrou, ao lado de um elenco estelar, o projeto Casa da Bossa, da PolyGram, reunindo duplas de artistas sempre um veterano do movimento em dueto com um mais jovem interpretando clássicos do gênero, regidos por César Camargo Mariano. Coube a Guilherme Arantes ser seu partner na gravação de Samba em prelúdio, clássico de Baden Powell e Vinicius de Moraes, lançado por sua velha amiga Ana Lúcia em dueto com Geraldo Vandré nos idos de 1962. O elenco chegou a fazer um grande show no Claro Hall (antigo Metropolitan), na Barra da Tijuca, e programas de TV pelo país. Em junho de 1998, dividiu o palco pela primeira vez com outro velho amigo, Roberto Menescal, no projeto Brasil Musical Bossa Brasil, em duas apresentações no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. No repertório, as bossas Você e Dindi e a derramada Todo o sentimento, de Cristóvão Bastos e Chico Buarque. Também se apresentou ao lado de outro grande amigo, Sílvio César, no Ballroom, casa de shows no bairro do Humaitá, zona sul carioca, além de ter feito vários shows ao lado do pianista Leandro Braga por várias capitais, como Belo Horizonte e Brasília. Por essa época, Claudette voltou a morar no Rio e ficaria pela cidade por cerca de quatro anos. Foi um pedido da mãe idosa. Queria morrer no local onde nasceu, o que se deu em outubro de 2001. Desde meados daquele ano, Luiz Otávio Costa, seu empresário nesta fase carioca, começou a capitanear um time de artistas do primeiro time da MPB para homenagear os (pelo menos) 50 anos de carreira de Claudette. O resultado pôde ser conferido entre os dias 6 e 9 de janeiro de 1999 na prestigiosa casa de MPB & jazz Mistura Fina, na Lagoa, zona sul do Rio. O objetivo foi gravar os shows e registrar os melhores momentos num CD duplo, o que só veio se concretizar um ano depois, via Som Livre, graças ao apoio do cantor Elymar Santos que levou o projeto para o velho amigo da cantora, o produtor João Araujo, que décadas atrás ajudou-a a se livrar do maldito contrato com a Mocambo, levando-a para a Philips. Participaram da homenagem, cantando com ela músicas representativas de sua carreira, os grandes cantores e compositores Paulinho da Viola e Jorge Ben Jor, as cantoras Fafá de Belém, Lucinha Lins, Cláudia Telles (filha de sua inspiradora e madrinha Sylvia Telles) e Regininha (dos tempos da Pilantragem). Não faltaram os românticos Fábio Jr. e Elymar Santos, o cantor cool Zé Luiz Mazziotti, os grupos Garganta Profunda e Velha Guarda da Mangueira, jovens talentos como Kiko Furtado, Cláudio Pinheiro e Daniel Gonzaga (filho de Gonzaguinha), além dos músicos Roberto Menescal, Caçulinha, Leandro Braga, Chico Costa e Délia Fisher. Só lamentou a ausência de Chico Buarque, que estava coincidentemente estreando no Canecão, após uma longa ausência dos palcos, justo no dia das gravações. Nessa ocasião, estava tão eufórica, que não tardaria a destilar seu delicioso veneno em tiradas hilariantes algumas reunidas numa faixa bônus de seu CD duplo e outras à imprensa, como esta que chegou a ser uma das frases da semana da Revista Veja: Só tive um casamento de mais de 20 anos; hoje sou a divorciada mais feliz do mundo . Novas Conquistas O novo milênio começou e Claudette decidiu então selar a amizade e a parceria de uma década com o pianista que a acolheu desde a sua volta aos palcos em 1991, gravando em apenas quatro dias do mês de maio de 2001 as 14 faixas que compuseram o CD Claudette Soares e Leandro Braga. O disco foi lançado pela gravadora CID no final daquele ano, trazendo no repertório pérolas inéditas em sua voz como Falando sério (Maurício Duboc e Carlos Colla, do repertório de Roberto Carlos), Grito de alerta (Gonzaguinha), Charme do mundo (Marina e Antonio Cícero), Minha voz, minha vida (Caetano Veloso) e Amanhã (Guilherme Arantes). Ainda em 2001, seu velho amigo Ronaldo Youle primo de Maysa e de Cibidinho, que ela namorou que trabalhava à época na Fenaseg Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização teve uma ideia. Homenagear os 50 anos de sua fundação com um CD em que vários intérpretes fariam uma nova leitura do hit parade do ano em que ela foi implementada, ou seja, 1951. Ele fez uma pesquisa e chamou sua velha amiga Claudette para interpretar sete das 12 faixas do CD, tais como Sábado em Copacabana, Canção de amor, Ave-Maria, Vingança e o bolero Dez anos, sucesso de Emilinha Borba, todas, canções que marcaram sua adolescência. E dividiu com o cantor Cláudio Pinheiro a versão de Too young, sucesso de Nat King Cole, que na versão de Ronaldo Bastos virou Em fl or, sendo um grande êxito da cantora Simone nos anos 80. Em outubro de 2003, voltou ao Memorial da América Latina (SP) para se apresentar com a Orquestra Jovem Tom Jobim, regida pelo maestro Roberto Sion, no show Ao Poetinha com Carinho, homenageando outro velho conhecido seu, Vinicius de Moraes. Quando Vinicius fez Apelo e me deu em primeira mão para que eu cantasse no show 1º Tempo 5 x 0, disse que eu precisaria sofrer muitas dores de amor para entender o que ele escreveu na letra. Acho que agora estou pronta, disse, à época, lembrando que também ganhou a canção A rosa desfolhada, dele com Toquinho, que gravou num compacto em 1972. No ano seguinte, participou de um revival da bossa nova no Teatro Princesa Isabel, onde reinou absoluta nas temporadas do 1º Tempo 5 x 0 e do Fica combinado assim, nos anos 60 e 70 e continuou fazendo seus shows pelo país. No final de 2006, a Universal Music lançou o CD duplo A bossa sexy de Claudette Soares, coletânea com direito a um libreto biográfico, em que chegavam finalmente ao formato digital suas gravações antológicas suingadas da fase Philips (1966-1971). Antes disso, algumas destas canções só haviam sido lançadas em CD no Japão. O disco foi muito bem recebido pela crítica e ganhou quatro estrelas do crítico Luiz Fernando Vianna, na Folha de S. Paulo. Em julho de 2007, por sugestão do jovem produtor paulista Thiago Marques Luiz, Claudette voltou aos estúdios para registrar Foi a noite Canções de Tom Jobim. Um disco de melodias derramadas, porém interpretadas de forma bem mais intensa que seus álbuns românticos dos anos 1970. Este repertório de Tom lhe remete aos tempos do bar da boate Plaza, onde Sylvinha Telles lhe cedeu o lugar de crooner e ela cantava boa parte de suas canções. Certa vez, Sylvinha apresentou para mim um LP, Amor de gente moça, que havia feito em homenagem ao Tom. Fiquei maravilhada com o trabalho e ela me disse que um dia eu faria melhor, revelou a cantora, cujo CD foi muito bem recebido pela imprensa, que lhe deu uma ótima cobertura e muito boas críticas, como a do Estado de Minas, que publicou: Claudette chega às sete décadas de vida como exemplo de integridade e sabedoria para o país das cantoras . Ainda naquele ano, o mesmo produtor lançava a coletânea Você, Claudette Soares, reunindo pérolas de sua fase Odeon (1974-1977) e o diretor Daniel Filho incluiu em seu filme O primo Basílio a gravação de Apelo, da cantora em dueto com Dick Farney. Entre 2008 e 2009, participou de dois projetos de shows coletivos, homenageando os 50 anos de falecimento de Dolores Duran. Fez o circuito de SESCs paulistas ao lado de Célia e Vânia Bastos, e eventualmente também de Denise Duran e Wanderléa. Em outras capitais, como Curitiba, Fortaleza e Brasília, os espetáculos foram nos teatros do Centro Cultural Banco do Brasil, ao lado de colegas, como Leny Andrade, Doris Monteiro, Soraya Ravenle e Quarteto em Cy. Sozinha no palco, apresentou-se na Sala Baden Powell, em Copacabana, cantando canções de seu querido Roberto Carlos, no show Eu te amo tanto. Para variar, casa lotada. Mesmo tendo morado a maior parte da vida em São Paulo, sempre trabalhei mais no Rio do que lá. O público carioca é muito fiel comigo, é impressionante, analisa. De volta à Sampa, em 17 de setembro do mesmo ano, estava mais uma vez no palco do Memorial da América Latina para única apresentação do show Claudette Soares & Orquestra Tom Jobim, trazendo as canções mais marcantes de sua carreira, que foi todo filmado para se tornar seu primeiro DVD, previsto para ser lançado em 2010. É uma sonoridade muito moderna, uma mistura de jazz com sinfônico, diz ela, lembrando que esta orquestra é formada apenas por adolescentes e jovens estudantes de música de até 20 anos de idade. Neste ano de 2010, reeditou seu CD Foi a noite com duas faixas bônus: Modinha e Vivo sonhando (esta, cantada em português e inglês). A Sylvinha foi a primeira a gravar o Vivo sonhando em inglês. Como este CD era em homenagem a ela, topei a parada. Foi um desafio porque eu nunca quis e nunca gostei de cantar em inglês. Simbolicamente, ofereço isso ao Dick Farney, porque ele queria muito gravar comigo um terceiro volume daquela série que fizemos juntos nesta língua . Balanço Atual Claudette vive hoje, em 2010, num pequeno apartamento na Bela Vista, em São Paulo. Continua na batalha e, nem que quisesse, poderia hoje parar de trabalhar, como, aliás, ocorre com grande parte dos artistas de sua geração. Vivo sempre com a corda no pescoço, brinca. Mas não deixa a peteca cair. Em seu dia a dia, ela tem lá seus rituais. Embora deteste cozinhar, não abre mão de um café da manhã portentoso, daqueles de hotel. Depois, ou compra comida ou faz o trivial. Detesto cozinha. Não sou de prendas domésticas. Só gosto de arrumar a casa. Seria, aliás, uma boa decoradora. Mas se tivesse filhos, seria terrível, porque teria uma rotina de dona de casa que eu não suporto . Sua silhueta, a propósito, sempre foi elegante. Mas ela é um bom garfo, embora saiba se controlar. Minha predileta é a cozinha francesa. Sou neta de português, adoro batata, bacalhau... mas confesso que sou mais carnívora. Um bom filé cura qualquer depressão!, diverte-se, dizendo que não é muito boa cozinheira, mas que seu ex-marido Julio César poderia até abrir um restaurante, graças aos atributos culinários. Voltando à sua rotina, quando liga a TV é somente para ver noticiários. Também gosta de assistir a filmes em casa, inclusive rever alguns antigos, clássicos só não pode ser dublado . Também gosta de musicais americanos, até mesmo mais modernos. Madonna no palco é um escândalo. Michael Bubblé é um ótimo cantor . Mas de ouvir as eternas divas do jazz ela não se cansa. Fico ouvindo pra ver se aproveito alguma coisa para o meu trabalho. No mais, estou sempre com a cabeça trabalhando a memória, estudando alguma música. Se pudesse ter um estúdio de gravação em casa, eu adoraria. É o trabalho que eu mais gosto. Estúdio e palco. É onde me sinto mais feliz . Continua simpática, geniosa e com ironia deliciosamente ferina, incluindo suas tiradas sarcásticas, de alvo certeiro. Ainda que não seja daquelas que não veem qualidades em novos talentos, muito pelo contrário, é fã, por exemplo, de cantoras pop como Rita Lee e Marina Lima, não resistiu a dar seu parecer sobre parte da nova seara de cantoras padronizadas da nova safra da MPB: Acho tudo muito parecido. Venho de uma época em que uma cantora não imitava a outra. Vejo muitas vozes infantis. Falta glamour e estilo, disse em 2007. Meu grave defeito foi ter nascido nos anos dourados, carrego esse glamour até hoje. Gosto muito de perfume, maquiagem... A Sharon Stone disse uma vez que toda mulher que se preze não vai a um supermercado sem um batom! Ainda existem as glamourosas, ri. Claudette é artista mesmo. Quando marco um show para ela, já fica pensando em que roupa vai usar. Chegando ao Rio, deixa as malas, e já sai à rua para comprar maquiagem e uma roupa nova. Faz questão de ensaiar muito. Dá palpites sobre os arranjos e também aceita sugestões dos músicos. Fica ouvindo as coisas que vai cantar num disc-man sem parar para não errar na hora e decora tudo! No dia do show, chega cedo e vai sempre bem vestida com uma roupa tal, canta com outra e sai do local com uma terceira. Isso quando não leva várias para escolher no camarim qual usará em cena, conta Vanderley Lopes, seu empresário atual, destacando o misto de profissionalismo, garra e glamour que vê numa artista veterana como Claudette, que nessa altura da carreira já poderia até descuidar de um desses tópicos. Cuidados com a voz? Alguns. Por volta dos anos 90, quando voltou à ativa, apareceu falando muito alto num camarim e seu colega Cauby Peixoto lhe deu um conselho certeiro, que ela tenta seguir à risca até hoje. Meus pais naquela época estavam meio surdos e eu naturalmente comecei a falar mais alto. Aí o Cauby me ensinou a falar baixo para economizar a voz . No plano existencial, não é muito religiosa. Considera-se cristã. Acredita muito no kardecismo, mas confessa que seria difícil conjugar tantas renúncias com a vaidade inerente ao ofício de artista para seguir esta ou outras religiões com mais afinco. Claudette viajou pouco em sua vida por uma razão um tanto curiosa. Não gosto de lazer. Acho chato viajar. Viajar pra quê? Tenho uma profissão que saio, conheço pessoas, lugares. Não gosto de férias. Isso nunca fez parte da minha vida. Se tivesse condições, iria a Nova York, Paris e outras grandes capitais somente para cuidar de mim. Para comprar uma roupa especial, um perfume. Iria com um objetivo, para o meu bel-prazer, mas não para descansar ou tirar férias, surpreende. Entre suas qualidades, Claudette diz ser honesta, leal e muito sincera . Entre as fraquezas, diz que gostaria de gostar de ler mais. Quando começo um livro, já quero chegar logo no final. Na verdade, é uma impaciência, por isso não gosto de ler. Substituo a leitura pelas letras que adoro cantar. Não leio bem de perto, então, como sou muito vaidosa, trato de decorar tudo porque não aprecio entrar no palco de óculos. Imagina eu de óculos de vovó, você acha que vou entrar em palco assim? (risos) Cantar lendo em palco, só quando é inevitável. Também odeio aquelas estantes no palco. E olha que gosto de cantar três compositores que têm letras enormes: Taiguara, Gonzaguinha e Chico Buarque. E beber água no palco o tempo todo? Acho um horror! Aprendi o truque da salivação justamente para evitar isso. Cada pessoa tem um jeito. Como nunca fui uma menininha televisiva, cinematográfica... sempre gostei mais do palco. Se fosse atriz, seria atriz só de palco. No palco, você é dono. Faz o que quiser . Esquentada ela é. E vingativa? Não preciso ser porque o escorpião já nasceu vingativo. Você faz algo para o escorpião e paga na próxima esquina, ri Claudette, que adora a alcunha que lhe deram recentemente, brinquedinho assassino . O apelido lhe foi dado por Riva, seu amigo desde o início dos anos 90, quando uma assistente em um teatro, encantada em trabalhar com a cantora, brincou dizendo que queria levá-la para casa, e tê-la ali como um brinquedo. E ele disse: Leva, pode levar, mas cuidado que é um brinquedinho assassino . Riva atesta que o temperamento de Claudette é, de fato, explosivo. Se alguém fala algo dela de uma maneira que sugira alguma coisa negativa, já vira fera! Ela não perdoa, é de extremos, diz o amigo, que começou a admirá-la de longe, não só como cantora, mas por ser seu vizinho à época que ambos moravam em Higienópolis. Antes mesmo de sermos amigos, conheci uma outra Claudette. Aquela que tinha uma paciência incrível com os pais idosos, que saía com eles e os levava para passear pelas ruas do bairro. A sua dedicação com eles era admirável. Depois, quando ficamos amigos, se fosse a qualquer festa, ligava constantemente para eles e também atendia pacientemente às suas ligações. Quando o pai morreu, e foi morar no Rio, a mãe quis vir para São Paulo comemorar os 90 anos e elas vieram de ônibus porque a mãe não gostava de avião. Ela fazia tudo por eles. Essa dedicação com a família passa por cima de qualquer defeito que ela possa ter, de por vezes atropelar certas pessoas em algumas situações, porque ela realmente tem um gênio do cão. Já brigamos várias vezes, mas sempre acabamos nos entendendo, rindo e brincando . Frustrações? Hoje, as tem de menos. Tinha complexo de ser baixinha, fui muito ridicularizada por isso. Mas depois do primeiro namorado de 1m80, superei, ri, afirmando que talvez a sua única frustração seja a de ter gravado pouco e por isso não ter tido a chance de vestir com o seu estilo canções de autores que apareceram em gerações seguintes à sua, como Fátima Guedes, Rosa Passos e Marina Lima. Gostaria de ter feito mais trabalhos. Meus discos não são os melhores do mundo, mas fui coerente, diz. Ela destaca sua fase bossa sexy, do final dos anos 1960, como a mais marcante da sua discografia. Minha fase da Philips foi sensacional, a melhor da minha vida, pela criatividade dos músicos. Não sou metade a Claudette, metade o músico. Sou 20% a cantora e 80% o músico. Sempre me permiti ser cobaia de invenções dos sons e dos ritmos deles. Não toco instrumentos, mas minha identificação sempre foi com os músicos, confessa ela, que sempre teve um fraco especialmente pelos pianistas e, não por acaso, conviveu durante sua vida artística com tantos pesos-pesados dos teclados, tais como César Camargo Mariano, Antonio Adolfo, Walter Wanderley, Ed Lincoln, Leandro Braga, Eumir Deodato, Luiz Eça, Pedrinho Mattar, Júlio César Figueiredo e tantos outros. Geralmente músico bom é meio conflitado. A cabeça dele é diferente. Muitas notas, uma matemática sem-fim. Já pensou escrever partitura? Até juntar aquilo tudo, o cara não pode ser uma pessoa totalmente normal. Como amo músico, tenho uma tendência a entender o confl itado. Quanto mais confl itado o homem, mais eu amo (risos). Nunca tive problema com nenhum deles, explica. Claudette adorou ser filha única e sempre segurou a onda de sua família. Não tive filhos, cuidei de avô, avó, mãe e pai e dois irmãos de criação. Sempre gostei muito do idoso, desde pequena. Sempre achei o idoso à margem, aquele que ninguém gosta de cuidar e tinha muita pena. Quando me casei, falei para o Júlio: tenho que levar o pacote minha avó, meu pai e minha mãe. Continuei, casada, morando com eles na mesma casa. Ele foi maravilhoso nesse ponto, assumiu. Meus pais ainda estavam vivos quando me divorciei. Sempre tive uma meta: casar uma vez só. Se não der certo, vou voltar ao que era antes: namorar muito, sair, me divertir, explica. Diz que está adorando poder morar sozinha pela primeira vez na vida. Agora eu só fico. Casar, jamais. Não me acostumaria mais a morar com ninguém. É claro que quando você perde a família toda é como se ficasse sem chão. Mas vejo isso como uma terceira etapa mesmo da minha vida que preciso encarar, diz ela, sem desmerecer seu passado. Tive muita sorte. Todos os homens da minha vida foram escolhidos acertadamente e nunca nenhum deles falou mal de mim nem ficou naquela de contar vantagem, diz, orgulhosa. Solidão? A música não me deixa ter essa solidão. Adoro trabalho que tenho que decorar músicas novas . E quando pode se encontrar com amigos ou falar ao telefone... sai de baixo! Fala pelos cotovelos. Acho que isso vem do meu tamanho. O meu modo de impor no mundo sempre foi falando. Porque uma pessoa de 1.80 quando chega, você já notou. No meu caso... já viu, né? . Amor? Acho que amor é de mãe, de Deus, pela natureza, pelas coisas. Entre homem e mulher o que existe mesmo é paixão para não dizer outra coisa, alfineta. Vaidosa, ela gosta muito de ser querida. De contar seus louros. Os casos do passado são muito fortes em sua mente. Claudette às vezes demonstra um ressentimento por nem sempre ser lembrada por certos colegas e pela própria mídia do País, apesar de ter cruzado o caminho de tantos artistas do primeiro time da MPB e ter sido fiel a um estilo moderno da música brasileira que até hoje faz escola no mundo inteiro. Ainda assim, não se considera saudosista, embora tenha vivido uma fase do meio musical em que a coisa mais comum do mundo eram os cantores irem ver shows uns dos outros nas noitadas do eixo Rio/São Paulo, com direito a dar canjas por puro prazer, e depois do expediente se reunirem nas mesas de bar, sempre trocando informações sobre novas composições, muitas vezes futuros clássicos da MPB que brotavam a todo momento bem ali no seu nariz. Não adianta querer viver desse passado porque senão a coisa não vai para a frente, mas realmente preciso encontrar algo hoje que me cative, como aquele ambiente me seduzia . Me defino como uma cantora aberta para novas tendências, mas sempre com a preocupação de ser honesta comigo mesma. Por maior que seja a imposição comercial, um artista nunca deve entrar numa praia que não seja a sua, porque o público não é bobo. O povo sabe quem eu sou: não adianta dizer que canto axé, pop ou sambão. Prezo pela minha verdade musical e, ao mesmo tempo, tento tirar de cada compositor atual o que melhor se adapta a mim, declarou em 2000 a José Roberto Neves, no jornal A Gazeta. Nunca fui uma cantora de ir para primeiro lugar, meu trabalho é devagar e sempre. O mais difícil é você permanecer e ter uma história pra contar, desabafa. Seu pensamento deu certo. Pelo menos boa parte dessa história está perpetuada agora aqui neste livro. CLAUDETTE DEPOIMENTOS ERASMO CARLOS, cantor e compositor Conheci Claudette como grande cantora da noite e os primeiros contatos foram nos bastidores da TV Record, quando todos nós éramos contratados. Era sempre uma festa, uma confraternização de artistas antes de começar os programas. Um dia Roberto chegou e me chamou para gente fazer uma música para ela. Aí fizemos o De tanto amor. Tempos depois, soube que ela sofreu muito preconceito por ter gravado Roberto & Erasmo. E realmente foi o maior sucesso da vida dela. Tínhamos certeza de que iria sair uma grande interpretação porque ela bota alma mesmo nas músicas que canta . MARCOS VALLE, cantor e compositor A mistura do estilo de Claudette sempre me fascinou. As vezes sussurrado, balançado, as vezes vigoroso, mas sempre instigante e emocionante, assim é o canto de Claudette, único e inovador. Cantou e canta a bossa nova, mas também o samba, o samba canção, o baião, o bolero, sem preconceitos, com sua marca inconfundível. Tive varias musicas gravadas por ela, desde as tranquilas Preciso aprender a ser só e O amor é chama até as ritmadas Os grilos, Gente e A resposta (todas essas com letra de meu irmão Paulo Sergio). Também gosto demais de Lá eu não vou (com letra de Marcos de Vasconcellos), e Ao amigo Tom (melodia minha e Osmar Milito, e letra do Paulo). Sou fã de carteirinha de Claudette, a outra Pequena Notável. CARLOS LYRA, cantor e compositor Claudette foi uma das grandes figuras de um dos lugares mais importantes da bossa nova, o Juão Sebastião Bar, onde estava presente o tempo todo. Ali mostrou que era possível fazer um movimento de bossa nova em São Paulo, num dos lugares tão ou mais importantes que o Beco das Garrafas, no Rio. Ela é uma grande cantora e me contemplou com uma das melhores gravações de Primavera . GILBERTO GIL, cantor e compositor Claudette era uma colega convivendo com aquela turma toda que havia no ambiente da TV Record. Todos nós começando e ela foi das primeiras cantoras a se aproximar do meu trabalho, dos novos autores... e colocou algumas das minhas canções no repertório dela, como Frevo rasgado. Ela e Elis foram as duas que mais se aproximaram do meu repertório com aquele cuidado, aquele interesse pelo sentido geral da obra, pela peculiaridade do autor. Ela é muito musical, musicalíssima . TITO MADI, cantor e compositor Conheci Claudette em 1955 quando vim da Rádio e TV Tupi de São Paulo para a Rádio e TV Tupi do RJ, onde ela era conhecida como a Princesinha do Baião. Nós cantávamos sempre juntos na rádio, inclusive uma música minha chamada Eu e você, que tinha algumas palavras francesas. De Princesinha, ela passou para outros gêneros, como bossa nova e o samba-canção, com sua voz bonita e afinada. Depois, sempre que ia a São Paulo, a via em boates como o Juão Sebastião Bar, onde era a cantora principal. Devo a ela uma grande alegria. Gravou um LP apenas de músicas minhas, que só não teve uma repercussão maior porque logo em seguida a Odeon lançou um LP dela em dueto com Dick Farney. Conheci o pai dela também, um senhor muito carinhoso, e a mãe, uma guardiã daquela joia preciosa que é Claudette. Continua cantando muito bem, além de ser uma colega muito agradável . LEANDRO BRAGA, músico Comecei a tocar com Claudette em 1991 no Teatro Rival onde tinha também um quarteto de cordas. Nossa relação ficou mais intensa quando iniciamos a fazer espetáculos somente de piano e voz, e gravamos um disco juntos. Ela canta muito bem e estimula quem a está acompanhando, porque ela nos dá uma liberdade de criar, variando de show para show, não é daquelas cantoras que a gente tem que pegar pela mão e só sabe cantar dentro de um padrão de acompanhamento. Canta com muita autoridade, energia e estimula o músico. Uma vez toquei num show de aniversário dela e lhe dei uma flor de presente, e escrevi num guardanapo uma dedicatória algo como ‘para a melhor de todas as cantoras’. Ela ficou tão feliz que transformou isso num quadro e pregou na parede da casa dela . ALDIR BLANC, poeta e letrista Claudette, quando a barra pesa e penso que a letra não vai pintar prazo quase estourado, tenho dois fetiches: coloco no velho toca-discos Violão vadio, do Baden e do Paulo César Pinheiro, novamente juntos eu e o violão... e aí, na sequência obrigatória, ouço você, Claudette, cantando ‘Eu quero ouvir a sua voz e quero que a canção seja você... E até hoje, minha estrela, eu quero que a canção seja você’ . (crônica do jornal O Dia, em 29/5/2000) ED LINCOLN, músico Claudette é uma cantora sensacional. Até hoje gosto muito dela. Ela foi crooner do meu conjunto no bar do Hotel Plaza e no Drink, em Copacabana AGILDO RIBEIRO, humorista Trabalhamos juntos fazendo um baita sucesso no show Fica combinado assim. Ali tive o privilégio de ouvir durante muitos meses a voz maviosa, linda, dramática daquele pingo de gente, mas que é de um talento, de uma musicalidade que comove qualquer plateia, de qualquer estilo. Tem um temperamento muito forte, mas todos nós artistas somos um pouco assim. Só nesse país atravessado é que ela não tem uma posição mais destacada. Se fosse italiana, francesa ou americana seria uma diva admirada por todos . CÉSAR CAMARGO MARIANO, músico No início dos anos 1960, eu era jazzista ao extremo, radical. Só aceitava o jazz e a música erudita. Estava bem no comecinho da bossa nova e eu não aceitava muito cantores... era muito radical. Fiquei impressionado com a Claudette cantando na Baiuca. Eu tinha um trio, que modéstia à parte era bom. Claudette veio e cantou um pouquinho com a gente. Tivemos uma liga musical muito boa. Depois, veio falar comigo: ‘Escuta, tô querendo gravar um disco e queria fazer com o som desse seu trio’, que tinha o Theo de Barros no violão e o Sabá no baixo e o Hamilton Pittore na bateria, ‘você tá a fim?’. Fiquei meio gelado, porque nunca tinha entrado num estúdio de gravação, mas o Sabá disse que era uma boa oportunidade para nós, então gravei e foi meu primeiro trabalho em disco. O disco explodiu dentro da área da música moderna brasileira, entre Rio e São Paulo. A partir daí, ficamos muito amigos . ADEMILDE FONSECA, cantora Claudette é uma cantora excelente, que, embora pequenininha, cresce muito no palco . VERA BRASIL, violonista e compositora Claudette tem uma voz gostosa, que mexe com a gente. Me chamou a atenção desde a primeira vez que a ouvi. Minhas músicas que ela defendeu nos festivais da canção ficaram muito bem vestidas em sua voz . BEBETO CASTILHO (TAMBA TRIO), músico Gosto muito da Claudette. Ela foi uma das que começaram todo esse movimento de bossa nova, já estava por dentro de tudo antes de muita gente. Me lembro que conheci a canção Por causa de você em sua voz, no bar do Hotel Plaza. Mais tarde, já na fase do Tamba Trio, ela já morava em São Paulo e íamos sempre vê-la ao vivo nas boates. Ela também começou a empurrar a bossa nova por lá ANTONIO ADOLFO, músico e compositor Claudette tem muita bossa. Sempre primou pelo bom gosto do repertório. Esteve sempre sintonizada com o que estava pintando de mais moderno em cada época. Gravava músicas minhas, do Ben Jor, do Marcos Valle desde o começo das nossas carreiras. É extremamante musical e afinada, uma grande cantora que tem um lance leve, bem suingado e com uma característica interessante: passa sempre muita alegria. Canta sorrindo, com um suíngue danado. Os discos que gravou músicas minhas são tocados até hoje nas discotecas de Londres, Bruxelas e Japão . LUÍS CARLOS MIÉLE, produtor musical e showman Produzi com o Ronaldo Bôscoli o show 1º tempo 5x0 com o Jongo Trio, ten- do Claudette e Taiguara como cantores por alguns meses no Ruy Bar Bossa e depois no Teatro Princesa Isabel. Era um show que, além de cantarem, tinham esquetes com um pouco de humor que surpreendeu os fãs dos dois . BETH CARVALHO, cantora Quando criança a conhecia como Princesinha do Baião. Depois, já como profissional, tive meus primeiros encontros com ela nos festivais universitários, quando ela ganhou cantando Vida breve, da Irineia Maria. Ela era já uma estrela e eu estava começando. Fui ver várias vezes o show 1º Tempo 5 x 0, dela com Taiguara, no Princesa Isabel, aqui no Rio. Também vi o Fica combinado assim. Mais tarde, ela começou a namorar um cara que era meu pianista, o Julio César. Sempre que ia para São Paulo, via show dela. Nessa época as cantoras eram muito unidas, a gente se encontrava na casa da Célia. Sempre achei a Claudette ótima cantora, sempre muito simpática e carinhosa comigo. É uma cantora que veio da Era do rádio e permaneceu, coisa que grande parte da geração dela não conseguiu. Ela se modernizou, foi cantar músicas sofisticadas, bossa nova e está aí. Foi vitoriosa na carreira . ELLEN DE LIMA, cantora Nos encontramos no Programa do Guri, do Silveira Lima, na Rádio Mauá, onde também atuaram Leny Andrade, Rodney Gomes, Paulo Bob, Edson Santana, e que o Luiz Reis era o pianista e o Silvio Santos um dos locutores da emissora. Fazíamos muitos shows juntas e tínhamos uma afinidade extraartística naquela época. Também fizemos juntas o Teatro Infantil do SESI cantando Boneca de pixe e atuamos juntas na Rádio Tupi . ALAÍDE COSTA, cantora Nos conhecemos talvez antes de 1950, na época do programa A raia miúda, do Renato Murce. O tempo passou, uns dois anos depois, a gente se encontrou na Rádio Tupi, do Rio de Janeiro. Foi aí que travamos uma amizade que dura até hoje. Um belo dia, o Pedrinho Mattar achou que nós, a Claudette e o baixista Mathias poderíamos formar um quarteto. Então criamos o grupo Os Bossais e gravamos um compacto. Depois, fui cantar na Baiuca por sua indicação . AGNALDO RAYOL, cantor Conheci Claudette na Rádio Tupi do Rio de Janeiro, quando ela ainda era a Princesinha do Baião. Saímos juntos muitas vezes no Rio. Quando comecei a fazer o meu programa de TV em São Paulo, eu a convidei para se apresentar lá. Foi a primeira vez que ela veio para cá, de ônibus. Me lembro que fui pegá-la na rodoviária, mostrei a cidade para ela, que ficou encantada. Chegamos a ir no Cinema Olido, onde havia uma orquestra que tocava temas de filmes e os lugares eram numerados. Tive esse prazer de conviver um pouco com ela no início das nossas carreiras . JORGE BEN JOR, cantor e compositor Gosto muito da Claudette. Além de ser uma pessoa maravilhosa, sempre foi uma das mais afinadas que conheci na música. Sempre cantou demasiadamente bem e é muito versátil. Quando podia, eu a acompanhava, assistia às suas apresentações. É gente fina comigo, com todos. Gravou Que Maravilha, que, na minha opinião, ficou melhor que na minha versão com o Toquinho, e foi um estouro... Foi lindo demais a forma que ela cantou essa canção. Daí para a frente, sua voz se espalhou para o Brasil inteiro . JOÃO DONATO, músico e compositor Eu acompanhei a Claudette algumas vezes em canjas que dava no Bar do Hotel Plaza. Nessa época, os contratados eram Luiz Eça e o Ed Lincoln. É uma pessoa delicada, com voz doce e uma personalidade agradável . CLAUDIA MORENA, cantora Conheci a Claudette com Tito Madi, Odete Amaral, Carmen Déa, Ademilde Fonseca, aquela turminha da Rádio Tupi do Rio. Nos encontrávamos mais no bar e nos programas da rádio e chegamos a concorrer no concurso Três Brotinhos da Tupi, juntamente com a Célia Vilela . MORACY DO VAL, jornalista Claudette é uma cantora sensacional. Tem uma comunicabilidade que vinha do pessoal mais antigo, porque ela começou muito nova. Ela transmitia aquela malícia que aprendeu com Luiz Gonzaga. Nos anos 1960, ficou conhecida como a rainha da bossa paulista. Ela cantava muito O barquinho, Marcha da 4ª Feira de Cinzas, Tom & Vinicius pra caramba... Criamos um movimento de bossa nova em São Paulo. FRANCO PAULINO, jornalista Claudette fez história na noite paulista com uma voz pequenininha como ela, afinada, charmosa, com estilo e muito ritmo. Realmente, era uma voz sexy do ponto de vista sonoro, que reinou no Juão Sebastião Bar, que foi uma casa que realmente divulgava a bossa nova. Ali só se tocava e cantava bossa nova . LUIZ VIEIRA, cantor e compositor Conheci Claudette num programa que fazíamos nos anos 1950 chamado Salve o baião, na Rádio Tamoio. Apareceu essa menina, levada pelos pais e começou a cantar aquele gênero. Aí na mesma hora foi batizada ‘Princesinha do baião’. Ela cantava com excesso de alma. Imagino que esse fogo que abrasou a minha sardinha também tenha feito bem a ela, porque o Brasil inteiro ouvia esse programa . MANOEL BARENBEIN, produtor musical Trabalhei com a Claudette na Phonogram. Tive a ideia de juntá-la com Som 3, do César Camargo Mariano, Toninho e Sabá. Até então, era vista mais como cantora romântica de bossa nova, as pessoas não conhecem o ritmo dela, o lado ‘princesinha do baião’, um espírito de cantar com mais charme, com mais suíngue. Claudette é uma das grandes cantoras que o Brasil tem, não sendo reconhecida como deveria. Ela merece mais. Ela é também uma das que mais força têm na hora de cantar o romântico. Ela vem de uma safra que começa com Sylvia Telles, de cantar com suíngue e ao mesmo tempo também com muito romantismo, com um poder de transmissão incrível . MARINA LIMA, cantora e compositora Eu gosto muito da Claudette, desde adolescente acompanho as suas gravações pelo rádio . CLÁUDIA TELLES, cantora e filha de sua madrinha musical Sylvia Telles Adoro Claudette, por seu temperamento forte, por sua amizade ímpar, por sua língua afiadíssima, por sua feminilidade, como ela mesma se traduz: ‘Sou um travesti mirim’. Sempre com respostas na ponta da língua, tipo: Ah, Claudette, minha mãe gostava tanto de você’ e ela: ‘Gostava é, por quê? Ela morreu?’ Assim é essa carioca baixinha, mas imensa na sua luta pelo que ama: cantar . RUY CASTRO, jornalista e escritor A carioca Claudette Soares é assim: quando você pensa que ela está quietinha, cantando os standards de seu repertório, ela reaparece com um estoque novo de canções e, de repente, são essas canções que se tornam standards, ou seja: aquelas que todos os outros começam a cantar. (...) Quanto ao estilo, é a mesma coisa. Ela não fica parada. Quando mal tinha idade para sair à noite quanto mais para cantar em boates já estava nas madrugadas da boate Plaza, em Copacabana, onde se cozinhava a maior revolução da música brasileira: a Bossa Nova. (...) Mais alguns anos e ei-la em São Paulo, desbravando a noite paulistana, sentada sobre o tampo do piano do Juão Sebastião Bar (por falta de espaço na vertical). Passa o tempo e, em plenos anos 1990, quando parecia cristalizada a sua imagem de grande cantora da Bossa Nova, Claudette ressurge com um gogó à Dalva de Oliveira e sacode as plateias de Rio e São Paulo com o seu vigor e sentimento . DORIS MONTEIRO, cantora Sempre que ia a São Paulo ligava pra ela. Na época que ela parou, eu insistia sempre para que ela voltasse a cantar. A música que sempre me lembra a Claudette é Samba só, que diz: ‘Bossa nova/ Samba-jazz / O que importa é que o balanço é bom/ Nosso samba agora está demais’, que ela gravou com o César Camargo, o Sabá e o Hamilton . LENY ANDRADE, cantora Trabalhamos juntas em São Paulo, no Juão Sebastião Bar, nos anos 1960. Eu acompanhada do Milton de Paula no piano e ela com o Pedrinho Mattar. Fazíamos duas entradas cada uma por volta de 1963, 1964. Era uma casa chique para gente que curtia bossa nova, esse som, essa nova onda, e descontraída ao mesmo tempo. Havia dois castiçais de prata em cima do piano. Como ela é muito miudinha, cantava sentada no piano. Ela é muito charmosa, tem muito sentimento. Namorou o Walter Wanderley nessa época. Me lembro muito dela cantando Barquinho diferente, do Sergio Augusto . ROBERTO MENESCAL, compositor e produtor musical Me lembro da Claudette no primeiro show que a gente fez na Faculdade de Arquitetura, na Praia Vermelha, em 1960. Foi uma das primeiras cantoras de bossa nova, numa época em que não havia tantas nesse segmento. Cantou muita música do Durval Ferreira e Maurício Einhorn. Logo depois, fiquei muito ligado a ela por causa da bossa nova, ela ia muito à minha casa. Produzi uns dois discos dela na Philips, como o LP De tanto amor, e fiz vários arranjos para ela. Claudette botava coisas do Roberto Carlos no repertório porque tinha um lado romântico até maior que o tamanho dela. Como começou cantando baião, tinha um balanço que não era muito comum nas cantoras. Quando veio com essa coisa de bossa nova, usava muito esse aprendizado nas divisões dela e isso era seu diferencial . EUMIR DEODATO, compositor e arranjador Conheci Claudette quando participei do meu primeiro LP como arranjador, ‘Nova geração em ritmo de samba’, em 1960, levado pelo Paulo Silvino. Eu tinha 17 anos, nem tinha piano ainda, só acordeon. Não sabia nem o que era arranjo e fiz tudo baseado num livro de canto orfeônico do Pedro II. Foi aí que conheci Claudette, cantando muito bem. Ela tem uma voz muito bonita e um suíngue que não tem tamanho . JULIO CÉSAR FIGUEIREDO, músico e ex-marido Mesmo tendo sido casado com ela, sei separar bem as coisas. Ela é uma injustiçada. Claudette é única no jeito de cantar, no timbre que tem assinatura, bom de se ouvir, musical. Não consigo entender por que ela não tem um lugar de destaque maior na música brasileira . RONALDO BÔSCOLI, jornalista, letrista e produtor musical (na ocasião da estreia do show Nova Leitura, em 1991) Poucas cantoras integram com tanta propriedade a Bossa Nova como essa amiga de nome Claudette Colbert Soares, carioca como eu. É bem verdade que seu talento e afinação permitem incursões em outras praias. Claudette também se deu muito bem cantando repertório de Roberto e Erasmo Carlos. Enfim, estamos diante de uma cantora romântica e total. Curtidora da Bossa Nova que então começava, Claudette foi imediatamente escalada por mim para participar do maior evento que a Bossa Nova realizou até hoje: A noite do amor, do sorriso e da fl or, na antiga Faculdade de Arquitetura em 20 de maio de 1960. Além de muitos festivais, Claudette trabalhou com Miéle & Bôscoli no Teatro Princesa Isabel e na Boate Ruy Bar Bossa: 1º Tempo 5x0, 1966. Claudette Soares tem duas inaugurações importantes; Lançou a canção Mila (posteriormente se transformou em ‘A volta’) e ganhou da dupla Baden Powell e Vinicius de Moraes o Apelo . Vivemos vários outros trabalhos em shows e nos festivais musicais das televisões pelas quais passamos. Tudo isso me credencia dizer que Claudette Soares ainda é das melhores cantoras do Brasil. Depois de certo tempo sem pintar no Rio só posso parafrasear a minha própria letra e saudá-la: Quero ouvir a sua voz e quero que a canção seja você. Quero em cada vez que espero, desesperar se não te ver . CLAUDETTE SOARES DISCOGRAFIA 78 RPM COLUMBIA CB 10.101 (1954) 1. Ping Pong (Nilo Ramos) mambo 2. Baião da despedida (Américo Castro/ Ari Vieira) baião COLUMBIA CB 10.049 (1954) 1. Você não sabe (Jane/ Castro Perret) baião 2. Trabalha, mané (João Batista da Silva/ José Luís) baião COLUMBIA CB 10.161 (1955) 1. Biruta (Amado Régis/ Castro Perret) fox 2. Se eu pudesse rebolar (Laerte Santos/ J. Alex/ Araguari) baião COLUMBIA CB 10.247 (1956) 1. Garota sapeca (Castro Perret/ Renato Araújo) mambo 2. Velho gagá (Fernando César) samba REPERTÓRIO 9.074 (1957) 1. Foi a noite (Tom Jobim/ Newton Mendonça) samba-canção 2. Escolinha do be-bop (Carlinhos) samba MOCAMBO 15.424 (1962) 1. Só saudade (Tom Jobim) samba-canção 2. Nós e o mar (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) samba DISCOS DE CARREIRA CLAUDETTE É DONA DA BOSSA (1964) Mocambo LP 40214 Reeditado pela Imagem (1991 e 2003) e pela InterCD Records (2000) Reeditado no Japão pela Bomba Records BOM 822 Lado A 1. Pra que chorar (Baden Powell/ Vinicius de Moraes) 2. Azul contente (Walter Santos/ Tereza Souza) 3. Samba do avião (Tom Jobim) 4. Sem você (Tom Jobim-Vinicius de Moraes) 5. Ah! Se eu pudesse (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) 6. Tristeza de nós dois (Durval Ferreira/ Bebeto/ Maurício Einhorn) (arranjos de Erlon Chaves) Lado B 1. Garota de Ipanema (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) 2. Samba só (Walter Santos/ Tereza Souza) 3. Crediário do amor (Theo) 4. Bossa na praia (Pery Ribeiro/ Geraldo Cunha) 5. Evolução (Pery Ribeiro/ Geraldo Cunha) 6. Conselho a quem quiser voltar (Silvio César) (arranjos de César Camargo Mariano) OBS: As quatro primeiras faixas do Lado B do LP foram lançadas em 1963 no compacto duplo Mocambo 3076 Produzido por Claudette Soares CLAUDETTE SOARES (1965) Mocambo LP 40283 Reedições em LP nos selos Passarela e Beverly, todos com a ordem das músicas alteradas Reedição em CD em 2000 pela InterCD Records Lado A 1. Gente (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) Arranjo e regência: Maestro Zezinho 2. Chuva (Durval Ferreira/ Pedro Camargo) Part. Esp.: Manfredo Fest Trio 3. Mar, amar (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) Part. Esp.: Pedrinho Mattar Trio e Sérgio Augusto (violão) 4. Primavera (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes) Arranjo e regência: Maestro Severino Filho 5. Barquinho diferente (Sérgio Augusto) Part. Esp.: Jongo Trio 6. A resposta (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) Part. Esp.: Manfredo Fest Trio Lado B 1. Preciso aprender a ser só (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) Part. Esp.: Pedrinho Mattar Trio e Sérgio Augusto (violão) 2. Vivo sonhando (Tom Jobim) Arranjo e regência: Maestro Zezinho 3. Ode à primavera (Ely Arcoverde/ Newton Campos) Part. esp.: Ely Arcoverde Quarteto 4. Tem que ser azul (Messias Santos Júnior) Arranjo e regência: Maestro Severino Filho 5. Eu só queria ser (Vera Brasil/ Myriam Ribeiro) Arranjo e regência: Maestro Erlon Chaves 6. Razão de viver (Eumir Deodato/ Paulo Sergio Valle) Part. Esp.: Manfredo Fest Trio Produzido por Claudette Soares 1º TEMPO: 5 x 0 Claudette Soares, Taiguara e Jongo Trio (1966) Philips P 632.913 L Lado A 1. Abertura: Samba tempo (Pingarilho/ M.Vasconcellos) Claudette e Taiguara 2. Canto de Ossanha (Baden Powell/ Vinicius de Moraes) Taiguara 3. Tempo (Ronaldo Bôscoli/ Miele) Claudette e Taiguara A banca do distinto (Billy Blanco) Claudette e Taiguara 4. Tempo de humor (Diálogo) Civilização (Pingarrilho/ M.Vasconcellos) Claudette e Taiguara 5. Pra você (Silvio César) Taiguara Preciso aprender a ser só (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) Claudette Estrada do sol (Tom Jobim/ Dolores Duran) Claudette e Taiguara Lado B 1. Mila (A volta) (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) Claudette 2. Tristeza (Haroldo Lobo/ Niltinho) Taiguara 3. Soneto da separação (Vinicius de Moraes) Declama: Miele Apelo (Baden Powell/ Vinicius de Moraes) Claudette 4. Tempo de humor (Diálogo) 5. Por um amor maior (Francis Hime/ Ruy Guerra) Taiguara 6. Tempo de 5 X 0 (Diálogo) Samba do carioca (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes) Taiguara Encerramento Arranjos de Jongo Trio Produzido por João Araujo CLAUDETTE SOARES (1967) Philips P 765.010 P Lado A 1. E agora (Silvio César) 2. Ciúmes (Carlos Lyra) 3. Vim (Oscar Castro Neves/ Ronaldo Bôscoli) 4. A noite da ilusão (Ely Arcoverde/ Nilton Campos) 5. Balada do tempo e da vida (Sergio Augusto/ Fábio Sarapo) 6. Nós (Candinho-Luiz Fernando Freire) Lado B 1. Rosa dos ventos (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) 2. Lá eu não vou (Marcos Valle/ Marcos Vasconcellos) 3. A um amor dormindo (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) 4. Deixa pra lá (Sergio Augusto/ Luiz Fernando Freire) 5. Para você somente (Pingarilho) 6. Tão doce que é sal (Pingarilho/ Marcos Vasconcellos) Arranjos: Roberto Menescal e Oscar Castro-Neves Produzido por Armando Pittigliani GIL, CHICO E VELOSO POR CLAUDETTE (1968) Philips R 765.021 L Lado A 1. Januária (Chico Buarque) 2. Lia (Caetano Veloso/ Gilberto Gil) 3. Frevo rasgado (Gilberto Gil/ Bruno Ferreira) 4. Desencontro (Chico Buarque) 5. Deus vos salve esta casa santa (Caetano Veloso/ Torquato Neto) 6. Mancada (Gilberto Gil) Lado B 1. Bandolim (Chico Buarque) 2. Remelexo (Caetano Veloso) 3. Domingou (Gilberto Gil/ Torquato Neto) 4. Lua cheia (Chico Buarque/ Toquinho) 5. Clara (Caetano Veloso) com Gilberto Gil 6. Yemanjá (Gilberto Gil/ Othon Bastos) com Gilberto Gil Arranjos de Rogério Duprat Produzido por Manoel Barenbein CLAUDETTE (1969) Philips R 765.077 L Reedição em CD no Japão pela Universal Music Lado A 1. Trem de ferro (Lauro Maia) 2. Meia volta (Ana Cristina) (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) 3. Rosa da gente (Dori Caymmi/ Nelson Motta) 4. Kosmus (César Camargo Mariano/ Mariozinho Rocha) 5. Canção de chorar (Nonato Buzar/ Chico Anysio) 6. Atrás do trio elétrico (Caetano Veloso) Lado B 1. Correnteza (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) 2. O cravo brigou com a rosa (Jorge Ben) 3. O amor é chama (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) 4. Vem, é primavera (Tito Madi/ Arnoldo Medeiros) 5. Vem balançar (Walter Santos/ Tereza Souza) Arranjos: César Camargo Mariano e Rogério Duprat Produzido por Manoel Barenbein FEITINHA PRO SUCESSO OU QUEM NÃO É A MAIOR TEM QUE SER A MELHOR (1969) Philips R 765.095 L 1. Evocação (Nelson Ferreira) 2. Como é grande o meu amor por você (Roberto Carlos) 3. Só faltava você (Sabá) 4. Qui nem jiló (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira) 5. Sinhazinha (Nonato Buzar/ Paulinho Tapajós) 6. Feitinha pro poeta (Baden Powell/ Luiz Fernando Freire) Lado B: 1. Juliana (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) 2. Carolina, Carol Bela (Jorge Bem/ Toquinho) 3. Psiu... (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) 4. Os dentes brancos do mundo (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) 5. Que maravilha (Jorge Ben/ Toquinho) Arranjos: César Camargo Mariano Produzido por Manoel Barenbein CLAUDETTE Nº 3 (1970) Philips R 765.114 L Lado A 1. Se você quiser mas sem bronquear (Jorge Ben) 2. As fl ores do jardim de nossa casa (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) 3. Glória, Glorinha (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) 4. Canoeiro (Dorival Caymmi) 5. Clara (Arthur Verocai/ Paulinho Tapajós) 6. Superbacana (Caetano Veloso) Lado B 1. Hoje (Taiguara) 2. Baião (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira) 3. Vermelho (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) 4. Os grilos (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) 5. I don’t care (Não quero nem saber) (Tim Maia) 6. Por quem morreu de amor (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) 7. Ao redor (Tema de amor) (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) Arranjos: Antonio Adolfo Produzido por Manoel Barenbein DE TANTO AMOR (1971) Philips 6349 016 Reedição em LP: Fontana 8262271 Lado A 1. Ave Maria (Roberto Menescal/ Paulinho Tapajós) com O Terço 2. Amigo (Fred Falcão/ Arnoldo Medeiros) 3. Por causa de você (Tom Jobim/ Dolores Duran) 4. De palavra em palavra (Miltinho/ Maurício Tapajós/ Paulo César Pinheiro) 5. Depois (Ivan Lins/ Ronaldo Monteiro) 6. Coisas (Taiguara) Lado B 1. Não quero ver você triste (Tema) (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos/ Mário Telles) 2. Um novo sol (Ângelo Antônio/ Carlos Imperial) 3. Ao amigo Tom (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle/ Osmar Milito) 4. Escada para o anti-sol (Julinho César/ Uarani) 5. Eu corro pra ver (T. B. Guimarães/ Sergio Cruz) 6. Medo (César Costa Filho/ Aldir Blanc) 7. De tanto amor (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) Arranjos: César Camargo Mariano, exceto (1A) Roberto Menescal e (1B) Júlio César Figueiredo Produzido por Roberto Menescal VOCÊ (1974) Odeon SMOFB 3830 Reedição em CD no Japão pela Toshiba EMI Lado A 1. Proposta (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) 2. Fraqueza (César Costa Filho/ Paulo César Pinheiro) 3. Adeus Maria Fulô (Sivuca/ Humberto Teixeira) 4. Preciso aprender a só ser (Gilberto Gil) 5. Tarde (Milton Nascimento/ Márcio Borges) Lado B 6. Nem de ouro, nem de lama (Ivan Lins/ Ronaldo Monteiro) 1. Você (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) 2. Seu carinho (Ivan Lins/ Ronaldo Monteiro) 3. Suas mãos (Pernambuco/ Antônio Maria) 4. Vestido de bolero (Dorival Caymmi) 5. Chove outra vez (Tito Madi/ Romeo Nunes) 6. Eu ando precisado de encontrar você (Maurício Duboc/ Carlos Colla) Arranjos: Julio César Figueiredo e José Briamonte Produzido por Milton Miranda CORPO E ALMA (1975) Odeon SMOFB 3874 Lado A 1. Corpo e alma (Francis Hime/ Ruy Guerra) 2. Eles querem amar (Jorge Ben) 3. Beijo sideral (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) 4. O tempo (Reginaldo Bessa) 5. Se eu errei (Francisco Netto/ Humberto de Carvalho/ Edu Rocha) 6. Solidão (Antônio Bruno) Lado B 1. As mesmas histórias (Edu Lobo) 2. Vê (Antônio Adolfo) 3. Meiga presença (Paulo Valdez/ Otávio) 4. Arianna, Arianna (Geraldo Cunha/ Antônio Mercado) 5. Desalento (Ivan Lins/ Ronaldo Monteiro) 6. Minha serenata (Johnny Alf) Arranjos: Julio César Figueiredo e Antonio Adolfo Produzido por Renato Corrêa TUDO ISTO É AMOR DICK FARNEY e CLAUDETTE SOARES (1976) EMI-Odeon SMOFB 3904 Reedição CD em 1993 e 2003, dentro da Série 2 em Um EMI Music Lado A 1. O que é amar (Johnny Alf) 2. Minha namorada (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes) 3. Este seu olhar (Tom Jobim) 4. De você, eu gosto (Tom Jobim/ Aloysio de Oliveira) 5. É preciso dizer adeus (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) 6. Castigo (Dolores Duran) Lado B 1. Tudo isto é amor (Laura Maria) 2. Fotografia (Tom Jobim) 3. Tenderly (Lawrence/ Gross) 4. O nosso olhar (Sergio Ricardo) 5. Somos dois (Armando Cavalcanti/ Klécius Caldas/ Luiz Antônio) Arranjos: Julio César Figueiredo Produzido por Sabá FIZ DO AMOR MEU CANTO (1976) EMI-Odeon SMOFB 3925 Dedicado às composições de TITO MADI Lado A 1. Cansei de ilusões (Tito Madi) 2. Quero-te assim (Tito Madi) 3. Sonho e saudade (Tito Madi) 4. Não diga não (Tito Madi/ Georges Henry) 5. Fracassos de amor (Tito Madi/ Milton Silva) 6. Gauchinha bem-querer (Tito Madi) Lado B 1. Fiz do amor meu canto (Tito Madi/ William Prado) 2. Chove lá fora (Tito Madi) 3. Canção dos olhos tristes (Tito Madi) 4. Carinho e amor (Tito Madi) 5. Há sempre um amanhã (Tito Madi) Arranjos: Julio César Figueiredo Produzido por Renato Corrêa TUDO ISSO É AMOR VOL. 2 DICK FARNEY e CLAUDETTE SOARES (1977) EMI-Odeon SMOFB 3935 Reedição em CD em 1993 e 2003, dentro da Série 2 em Um, EMI Music Lado A 1. Chuva (Durval Ferreira/ Pedro Camargo) 2. Nós (Johnny Alf) 3. Demais (Tom Jobim/ Aloysio de Oliveira) 4. Casualmente (Berimbau) 5. Fim de caso (Dolores Duran) 6. Apelo (Baden Powell/ Vinicius de Moraes) Lado B 1. Nick Bar (José Vasconcellos) 2. Preciso aprender a ser só (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) 3. Ela foi embora (Oscar Belandi/ Djalma Ferreira) 4. Tomara (Novelli/ Paulo César Pinheiro/ Maurício Tapajós) 5. O amor em paz (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) Arranjos: Julio César Figueiredo Produzido por Sabá VIDA REAL (1995) Imagem 2010 1. Vida real (Déjame ir) (Chico Novarro/ Michael Ribas versão: Nelson Motta) 2. Desde que o samba é samba (Caetano Veloso) 3. Frase de adeus (Joyce/ Paulo César Pinheiro) 4. Doce mentira (Sueli Costa) 5. E ai? (Johnny Alf) 6. Gente (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) A resposta (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) Samba de verão (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) 7. Outra noite (Luiz Cláudio Ramos/ Chico Buarque) 8. Se é por falta de adeus (Tom Jobim/ Dolores Duran) 9. Choratina (Johnny Alf) 10. Valsa de Eurídice (Vinicius de Moraes) 11. Faz de conta (Eduardo Dusek/ Isolda) 12. Ave-rara (Thereza Tinoco) 13. Condenados (Fátima Guedes) 14. Baião (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira) 15. Amigo amado (Alaíde Costa/ Vinicius de Moraes) 16. Primavera (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes) 17. O que tinha de ser (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) 18. Cenário (Eduardo Lages/ Paulo Sergio Valle) Arranjos: Julio César Figueiredo, Hélvius Vilela e Paulo Sanny Produzido por Claudette Soares e Nelson Valencia CLAUDETTE SOARES AO VIVO (2000) Som Livre 5002/2 CD 1 1. De tanto amor (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) com Elymar Santos 2. Teletema (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) com Regininha Ao redor (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) Meia volta (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) Juliana (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) 3. Lágrimas por dentro (Kiko Furtado) 4. Registro (Durval Ferreira/ Marcelo Silva) com Roberto Menescal Ao amigo Tom (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle/ Osmar Milito) De palavra em palavra (Miltinho/ Maurício Tapajós/ Paulo César Pinheiro) 5. A volta (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) com Roberto Menescal e Chico Costa 6. Bom tempo (Chico Buarque) com Zé Luiz Mazziotti 7. Autonomia (Cartola) com Leandro Braga 8. Primavera (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes) com Garganta Profunda 9. Hoje (Taiguara) com Fafá de Belém 10. Coisas (Taiguara) com Cláudio Pinheiro 11. Razão de viver (Eumir Deodato/ Paulo Sergio Valle) Tristeza de nós dois (Durval Ferreira/ Maurício Einhorn/ Bebeto) com Lucinha Lins 12. Como é grande o meu amor por você (Roberto Carlos) CD 2 1. Como é grande o meu amor por você (Roberto Carlos) com Fábio Jr. 2. Fotografia (Tom Jobim) Demais (Tom Jobim/ Aloysio de Oliveira) com Cláudia Telles 3. Eu gosto mais do Rio (How about you?) (Roberto Menescal) com Roberto Menescal 4. O que é amar (Johnny Alf) com Délia Fischer e Kiko Furtado 5. O cravo brigou com a rosa (Tradicional) com Jorge Ben Jor Que maravilha (Jorge Ben/ Toquinho) 6. Mundo novo, vida nova (Gonzaguinha) com Daniel Gonzaga 7. Acontece (Cartola) com Velha Guarda da Mangueira 8. Tudo se transformou (Paulinho da Viola) com Paulinho da Viola 9. Se eu pudesse dizer que te amei (Roberto Menescal/ Paulo César Feital) com Caçulinha 10. Quando eu errei (Giovanni Bizzotto) 11. Cenário (Eduardo Lages/ Paulo Sergio Valle) 12. Jogando conversa dentro Fragmentos de diálogos ocorridos durante o show Direção musical: Giovanni Bizzoto Arranjos: Kiko Furtado, entre outros Produzido por Luiz Otávio Costa A MÚSICA BRASILEIRA DESTE SÉCULO POR SEUS AUTORES E INTÉRPRETES - CLAUDETTE SOARES (2000) SESC-SP JCB-0709-053 1. Preciso Aprender a ser só (Marcos Valle/ Paulo Sergio Valle) 2. Baião (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira) 3. Garota biruta (Castro Perret/ Amado Regis) 4. Molambo (Jayme Florence/ Augusto Mesquita) Porque perdoei (Jayme Florence/ Augusto Mesquita) 5. Ilusão à toa (Johnny Alf) 6. Primavera (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes) 7. Bom tempo (Chico Buarque) 8. Mundo novo, vida nova (Gonzaguinha) 9. A volta (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) 10. Apelo (Baden Powell / Vinicius de Moraes) 11. De tanto amor (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) 12. Fim de caso (Dolores Duran) 13. Meu mundo caiu (Maysa) Resposta (Maysa) Ouça (Maysa) 14. Cenário (Eduardo Lages/ Paulo Sergio Valle) OBS: O áudio deste CD foi gravado originalmente pela Fundação Padre Anchieta do Programa Ensaio, de Fernando Faro, realizado no dia 28 de janeiro de 1992. CD produzido por J. C. Botezelli Pelão . CLAUDETTE SOARES E LEANDRO BRAGA MPB (2001) CID CD 00570/8 1. Falando sério (Maurício Duboc/ Carlos Colla) 2. Grito de alerta (Gonzaguinha) 3. Charme do mundo (Marina Lima/ Antônio Cícero) 4. Você (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) 5. Minha voz, minha vida (Caetano Veloso) 6. Realejo (Chico Buarque) Até pensei (Chico Buarque) Carolina (Chico Buarque) 7. Não quero ver você triste (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos/ Mário Telles) 8. Se eu quiser falar com Deus (Gilberto Gil) 9. A ventura (Leandro Braga) 10. Altos e baixos (Sueli Costa/ Aldir Blanc) Cão sem dono (Sueli Costa/ Paulo César Pinheiro) 11. Velho arvoredo (Hélio Delmiro/ Paulo César Pinheiro) 12. Sem você (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) Eu sei que vou te amar (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) 13. Choro bandido (Edu Lobo/ Chico Buarque) 14. Amanhã (Guilherme Arantes) Arranjos: Leandro Braga Produzido por Luiz Otávio Costa FOI A NOITE CANÇÕES DE TOM JOBIM (2007) Lua Discos LUA 221 1. Foi a Noite (Tom Jobim / Newton Mendonça) 2. Cala, Meu Amor (Tom Jobim / Vinicius de Moraes) 3. Derradeira Primavera (Tom Jobim / Vinicius de Moraes) 4. Inútil Paisagem (Tom Jobim / Aloysio de Oliveira) 5. Sucedeu Assim (Tom Jobim / Marino Pinto) 6. Andam Dizendo (Tom Jobim / Vinicius de Moraes) 7. Discussão (Tom Jobim / Newton Mendonça) Samba Torto (Tom Jobim / Aloysio de Oliveira) Eu Preciso de Você (Tom Jobim / Aloysio de Oliveira) 8. Sabiá (Tom Jobim / Chico Buarque) 9. Esquecendo Você (Tom Jobim / Aloysio de Oliveira) 10. Retrato em Branco e Preto (Tom Jobim / Chico Buarque) 11. Só Saudade (Tom Jobim / Newton Mendonça) 12. Solidão (Tom Jobim / Alcides de Souza) Arranjos: Giba Estebez Produzido por Thiago Marques Luiz DVD / CD CLAUDETTE SOARES E ORQUESTRA TOM JOBIM (2010) Por do Som/ Cultura Marcas Gravado ao vivo no Memorial da América Latina 1. Abertura instrumental Orquestra Tom Jobim 2. Cenário (Eduardo Lages/ Paulo Sérgio Valle) 3. Razão de viver (Eumir Deodato/ Paulo Sérgio Valle) 4. Sabe você (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes) 5. Eu sei que vou te amar (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) 6. A volta (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) 7. Painel Tom Jobim (pot-pourri) Orquestra Tom Jobim 8. Pra sempre (Roberto Carlos) 9. O que é amar (Johnny Alf) 10. Mundo novo, vida nova (Gonzaguinha) 11. A rosa desfolhada (Toquinho/ Vinicius de Moraes) 12. Esquecendo você (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) 13. Valsa de Eurídice (Vinicius de Moraes) 14. Primavera (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes) 15. Carta ao Tom 74 (Toquinho/ Vinicius de Moraes) 16. O que tinha de ser (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) 17. Que maravilha (Toquinho/ Jorge Ben) 18. De tanto amor (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) 19. Hoje (Taiguara) 20. Se todos fossem iguais a você (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) Arranjos. Roberto Sion, Julio César Figueiredo e Tibor Fittel Direção: Carlos de Oliveira Produção de Vanderley Lopes COMPACTOS: OS BOSSAIS AUDIO FIDELITY AFC 1097 (1962) Lado A 1. Quem quiser encontrar o amor (Carlos Lyra/ Geraldo Vandré) 2. Minha saudade (João Donato/ João Gilberto) Lado B 1. Barquinho (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) 2. Marcha da quarta-feira de cinzas (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes) MOCAMBO CD 3.076 (1963) Lado A 1. Garota de Ipanema (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) 2. Samba só (Walter Santos/ Tereza Souza) Lado B 1. Crediário do amor (Theo de Barros) 2. Bossa nova na praia (Geraldo Cunha/ Pery Ribeiro) MOCAMBO CS 1.049 (1965) Lado A 1. Eu só queria ser (Vera Brasil/ Miriam Ribeiro) Lado B 1. Barquinho diferente (Sérgio Augusto) MOCAMBO CS 1.116 (1965) Lado A 1. A resposta (Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle) Lado B 1. Chuva (Durval Ferreira/ Pedro Camargo) OBS: Faixas fazem parte do LP Claudette Soares (65) CPS (1967) Philips 365.205-PB Lado A 1. Chorar e cantar (Vera Brasil/ Sivan Castello Neto) Lado B 1. Dia das rosas (Luiz Bonfá/ Maria Helena Toledo) OBS: As faixas também foram lançadas no LP Festival dos festivais CPS (1967) Philips 365.218 1PB Lado A 1. Realejo (Chico Buarque) Lado B 1. Amanhã ninguém sabe (Chico Buarque) CPS PHILIPS 365.167 (1968) Lado A 1. Bandolim (Chico Buarque) Lado B 1. Januária (Chico Buarque) OBS: As faixas fazem parte do LP Gil-Chico-Veloso por Claudette Soares CPS PHILIPS 365.256 (1968) Lado A 1. Helena, Helena, Helena (Alberto Land) Lúcio Alves Lado B 2. Vida breve (Irineia Maria) Claudette Soares CPS PHILIPS 365.522 (1968) Lado A 1. O muro (Adilson Godoy) CPS PHILIPS 365.269 (1969) Lado A 1. Trem de ferro (Lauro Maia) Lado B 1. Meia volta (Ana Cristina) (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) OBS: As faixas fazem parte do LP Claudette Soares CPS PHILIPS 365.287 (1969) Lado A 1. Que maravilha (Toquinho/ Jorge Ben) Lado B 1. Vem balançar (Walter Santos/ Tereza Souza) OBS: As faixas fazem parte do LP Claudette nº 3 CPD: QUEM NÃO É A MAIOR TEM QUE DAR MAIS AMOR (1971) Philips 6245.001 Lado A 1. De tanto amor (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) 2. Amiga (Roberto Menescal/ Paulinho Tapajós) com Ivan Lins 3. Manequim (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) Lado B 1. Shirley Sexy (Fred Falcão/ Arnoldo Medeiros) 2. Coisas (Taiguara) OBS: As faixas 1A e 2B fazem parte do LP De tanto amor e 2A do LP da trilha da novela Assim na terra como no céu CPS CLAUDETTE SOARES (1971) Philips (lançado na América Latina) Lado A De tanto amor (em espanhol) (Roberto/ Erasmo Carlos) Lado B Amiga (em espanhol) (Roberto Menescal/ Paulinho Tapajós) CPS CLAUDETTE SOARES (1972) Philips 6069030 Lado A 1. Ave Maria (Roberto Menescal/ Paulinho Tapajós) Lado B 1. Tema de Não quero ver você triste (Roberto/ Erasmo/ Mário Telles) OBS: As faixas fazem parte do LP De tanto amor CPD CLAUDETTE SOARES (1972) Philips 6245.012 Lado A 1. Estrada estreita (Taiguara) 2. Por uma noite maior (Julio César/ Uarani Valente) Lado B 1. Palavra boa (Ivan Lins/ Ronaldo Monteiro de Souza) 2. A rosa desfolhada (Toquinho/ Vinicius de Moraes) CS CLAUDETTE SOARES (1973) Odeon S7B 707 Lado A 1. Só tristeza (Walter Santos/ Tereza Souza) Lado B 1. Mentiras (João Donato/ Lysias Ênio) CS CLAUDETTE SOARES (1974) Odeon SDP 564 Lado A 1. Proposta (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) Lado B 1. Você (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) OBS: As faixas fazem parte do LP Você CPD CLAUDETTE (1974) Odeon S7BD 1312 Lado A 1. Preciso aprender a só ser (Gilberto Gil) 2. Fraqueza (César Costa Filho/ Paulo César Pinheiro) Lado B 1. Nem de ouro, nem de lama (Ivan Lins/ Ronaldo Monteiro) 2. Vestido de bolero (Dorival Caymmi) OBS: As faixas fazem parte do LP Você PARTICIPAÇÕES EM OUTROS DISCOS LP NOVA GERAÇÃO EM RITMO DE SAMBA VÁRIOS INTÉRPRETES (1960) Copacabana CLP 11158 Faixa A Fábula que educa (Silvino Júnior/ Orlandivo/ Eumir Deodato) Intérprete: Claudette Soares Faixa Sambop (Durval Ferreira/ Maurício) Intérprete: Claudette Soares Arranjos: Eumir Deodato LP SÉRGIO AUGUSTO BARQUINHO DIFERENTE (1965) Continental PPL 12219 Faixa Amar é bom (Roberto Ribeiro/ Fúlvio Stefanini) Participação: Claudette Soares LP FESTIVAL DOS FESTIVAIS II FESTIVAL DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA (1966) Philips P 765.000 P Promoção da TV Record Faixa Dia das Rosas (Luiz Bonfá/ Maria Helena Toledo) Intérprete: Claudette Soares Faixa Chorar e Cantar (Vera Brasil/ Sivan Castelo Neto) Intérprete: Claudette Soares LP I FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO POPULAR DISCO 1 (1966) Independente ST-1 Promoção da Secretaria de Turismo do Estado da Guanabara Gravado ao vivo no Maracanãzinho Rio, nos dias 22 e 30 de outubro de 1966 Faixa Chorar e Cantar (Vera Brasil/ Sivan Castelo Neto) Intérprete: Claudette Soares LP III FESTIVAL DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA VOL. 1 (1967) Philips R 765.014 L Promoção da TV Record de São Paulo Faixas - Ela Felicidade (Vera Brasil) - E Fim (Sônia Rosa) Intérprete: Claudette Soares LP III FESTIVAL DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA VOL. 2 (1967) Philips R 765.015 L Promoção da TV Record de São Paulo Faixa Brinquedo (Alfredo Naffah Neto/ Walter de Carvalho) Intérprete: Claudette Soares LP II FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO POPULAR (1967) Philips R 765.019 L Faixa De serra, de terra e de mar (Geraldo Vandré/ Theo de Barros/ Hermeto Pascoal) Intérprete: Claudette Soares OBS: Claudette não defendeu a canção no festival, apenas participa do disco LP A BIENAL DO SAMBA (1968) Philips R 765.044 L Promoção da TV Record de São Paulo Faixa Bom Tempo (Chico Buarque) Intérprete: Claudette Soares OBS: Claudette não defendeu a canção no festival, apenas participa do disco LP I FESTIVAL UNIVERSITÁRIO DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA (1968) Philips R 765.061 L Promoção da TV Tupi - Canal 6 e Secretaria de Turismo da Guanabara Faixa Vida Breve (Neville/ Irinéa Ribeiro) Intérprete: Claudette Soares LP III FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO POPULAR - RIO - VOL. I (1968) Philips R 765.062 L Faixa Amada Canta (Luiz Bonfá/ Maria Helena Toledo) Intérprete: Claudette Soares OBS: Claudette não defendeu a canção no festival, apenas participa do disco LP III FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO POPULAR - RIO - VOL. II (1968) Philips R 765.063 L Faixa Despertar (Hedys Barroso Neto/ Flávia de Queiroz Lima) Intérprete: Claudette Soares OBS: Claudette não defendeu a canção no festival, apenas participa do disco LP III FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO POPULAR - RIO - VOL. III (1968) Philips R 765.064 L Faixa O Tempo será tua paz (Salvador da Silva Filho/ Maria Inês da Silva) Intérprete: Claudette Soares OBS: Claudette não defendeu a canção no festival, apenas participa do disco LP II FESTIVAL UNIVERSITÁRIO DA MÚSICA BRASILEIRA - TV TUPI (1969) Philips R 765.088 L Gravado ao vivo no Teatro João Caetano - Rio de Janeiro Faixa Mundo novo, vida nova (Gonzaguinha) Intérprete: Claudette Soares LP IV FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO POPULAR FASE NACIONAL (1969) Philips R 765.090 L Promoção da Rede Globo de TV e Secretaria de Turismo da Guanabara Faixa Juliana (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) Intérprete: Claudette Soares OBS: Claudette não defendeu a canção no festival, apenas participa do disco Também no LP Feitinha pro sucesso LP PIGMALIÃO 70 - Trilha Sonora da Novela da Rede Globo (1970) Philips R 765.108 L Faixa Ao redor (Tema de amor) (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) Intérprete: Claudette Soares LP ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Trilha Sonora da Novela da Rede Globo (1970) Philips R 765.120 L Faixas - Quem viu Helô (Tema de Helô) (Antônio Adolfo/ Tibério Gaspar) Intérprete: Claudette Soares - Amiga (Roberto Menescal/ Paulinho Tapajós) Intérpretes: Claudette Soares e Ivan Lins LP TEMPO DE VIVER - Trilha Sonora da Novela da Rede Tupi (1972) Philips 6349 035 Faixa Um dia no circo (Roberto Menescal/ Paulinho Tapajós) Intérprete: Claudette Soares LP OS MAIORES SAMBAS-ENREDO DE TODOS OS TEMPOS - VOL. 2 (1972) Philips 6349 053 Faixa Vale do São Francisco (Cartola/ Carlos Cachaça) Intérprete: Claudette Soares LP MÁXIMO DE SUCESSOS - Nº 8 (1973) Fontana/Philips 6470 502 Faixa Estrada Estreita (Taiguara) Intérprete: Claudette Soares OBS: Também no compacto duplo Philips 6245 012 LP DICK FARNEY E VOCÊ (1974) London/Odeon LLB 1101-S Faixa Você (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) Participação: Claudette Soares LP PAULISTANA - RETRATO DE UMA CIDADE (1974) Evento/Odeon SE 11001 Faixa O Céu de São Paulo (Billy Blanco) Intérprete: Claudette Soares CD ELIS REGINA NO FINO DA BOSSA - AO VIVO (1994) Velas 11-V030.V1 Faixa Eu só queria ser (Vera Brasil/ Miriam Ribeiro) Gravação realizada em 12 de outubro de 1966 Intérpretes: Elis Regina, Claudette Soares e Orquestra Ciro Pereira CD TEMPOS DE BOSSA NOVA (TIMES) HISTÓRIA, SOM E IMAGEM DA BOSSA NOVA (1995) Ventura Music Faixa A volta (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) Produção de Lula Freire CD BOSSA NOVA VOL. 1 O AMOR (1996) Castle Brasil/Albatroz 3213011-2 Faixa Triste (Tom Jobim) Intérprete: Claudette Soares CD BOSSA NOVA VOL. 2 O SORRISO (1996) Castle Brasil/Albatroz 3213012-2 Faixa Nós e o mar (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) Intérprete: Claudette Soares CD BOSSA NOVA VOL. 3 A FLOR (1996) Castle Brasil/Albatroz 3213013-2 Faixa Fim de noite (Chico Feitosa/ Ronaldo Bôscoli) Intérpretes: Claudette Soares e Chico Feitosa CD CASA DA BOSSA (1997) Polygram 536 061-2 Gravado ao vivo nos jardins da Polygram - Rio de Janeiro, no dias 28 e 29 de abril de 1997 Faixa Samba em prelúdio (Baden Powell/ Vinicius de Moraes) Intérpretes: Claudette Soares e Guilherme Arantes Arranjo: César Camargo Mariano CD 50 ANOS DE FENASEG (2001) Independente Gravado para comemorar os 50 anos da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização Faixas: Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi/ Carlos Guinle) Canção de amor (Elano de Paula/ Chocolate) Ave Maria (Vicente Paiva/ Jayme Redondo) Tributo a Noel Rosa: Três apitos (Noel Rosa) Pra que mentir (Vadico/ Noel Rosa) Com que roupa? (Noel Rosa) Vingança (Lupicínio Rodrigues) Dez anos (Diez años) (Rafael Hernandez/ versão: Lourival Faissal) Em fl or (Too young) (Sylvia Dee/ Sid Lippman/ versão: Ronaldo Bastos) Intérprete: Claudette Soares CD IVETTHY SOUZA DE ONDE VENS (1999) Eldorado MH 0011 Relançado pela Lua Music (LD 040) em 2002 Faixa Aos nossos filhos (Ivan Lins/ Vitor Martins) Participação: Claudette Soares CD/DVD ROBERTO MENESCAL 40 ANOS CHEIOS DE BOSSA (2002) CID 10003-8 • Gravado ao vivo no Rio de Janeiro, no dia 12 de julho de 2000 Faixa Se eu pudesse dizer que te amei (Roberto Menescal/ Paulo César Feital) Intérprete: Claudette Soares Faixa O barquinho (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) Participação: Claudette Soares, Cláudia Telles, Cris Delanno, Danilo Caymmi, Emílio Santiago, Kay Lyra, Kiko Furtado, Leila Pinheiro, Marcos Valle, Miéle, Tânia Maya, Wanda Sá, Grupo Cucamonga, Equale e Os Cariocas CD A MÚSICA DE KLECIUS CALDAS (2005) Independente Faixa Somos dois (Klecius Caldas/ Armando Cavalcanti/ Luiz Antonio) Intérprete: Claudette Soares DVD COISA MAIS LINDA HISTÓRIA E CASOS DA BOSSA NOVA (2005) Columbia Filme de Paulo Thiago. Claudette participa dos extras com depoimento e cantando Primavera (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes) CD DISNEY BOSSA NOVA VÁRIOS INTÉRPRETES (2005) DISNEY RECORDS 61313-7 Faixa Parte de seu mundo (Part of your world) (de A Pequena Sereia ) (Alan Menken/ Howard Ashman) Intérprete: Claudette Soares CD MAYSA, ESTA CHAMA QUE NÃO VAI PASSAR VÁRIOS INTÉRPRETES (2007) BISCOITO FINO BF 685 Faixa Tema de Simone (Maysa) Intérprete: Claudette Soares CD DOLORES VÁRIOS INTÉRPRETES (2007) LUA MUSIC 236 Faixa Não me culpe (Dolores Duran) Intérprete: Claudette Soares CD UMA NOITE PARA MAYSA (2010) LUA MUSIC Gravado ao vivo no SESC Vila Mariana em abril de 2008 Faixas - Resposta (Maysa) - O barquinho (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) COMPILAÇÕES EM CD A BOSSA SEXY DE CLAUDETTE SOARES (2006) UNIVERSAL MUSIC 60251701391 CD 1 1. Se você quiser, mas sem bronquear (Jorge Ben) (1970) 2. Shirley sexy (Fred Falcão/ Arnoldo Medeiros) (1971) 3. Superbacana (Caetano Veloso) (1970) 4. Vem balançar (Walter Santos/ Tereza Souza) (1969) 5. Glória, Glorinha (Antonio Adolfo/ Tibério Gaspar) (1970) 6. Ciúmes (Carlos Lyra) (1967) 7. I don’t care (Não quero saber) (Tim Maia) (1970) 8. Januária (Chico Buarque) (1968) 9. Meia volta (Ana Cristina) (Antonio Adolfo/ Tibério Gaspar) (1969) 10. O cravo brigou com a rosa (Jorge Ben) (1969) 11. Frevo rasgado (Gilberto Gil/ Bruno Ferreira) (1968) 12. Por quem morreu de amor (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) (1970) 13. Hoje (Taiguara) (1970) 14. Que maravilha (Jorge Ben) (1969) CD 2 1. Juliana (Antonio Adolfo/ Tibério Gaspar) (1969) 2. Canoeiro (Pescaria) (Dorival Caymmi) (1970) 3. Baião (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira) (1970) 4. Amanhã ninguém sabe (Chico Buarque) (1967) 5. Feitinha pro poeta (Baden Powell/ Luiz Fernando Freire) (1969) 6. Os grilos (Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle) (1970) 7. Clara (Caetano Veloso) com Gilberto Gil (1968) 8. Carolina, Carol bela (Toquinho/ Jorge Ben) (1969) 9. Mancada (Gilberto Gil) (1968) 10. Bandolim (Chico Buarque) (1968) 11. Psiu... (Antonio Adolfo/ Tibério Gaspar) (1969) 12. Manequim (Antonio Adolfo/ Tibério Gaspar) (1971) 13. Tema de Não quero ver você triste (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos/ Mário Telles) (1971) 14. De tanto amor (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) (1971) Compilação produzida por Rodrigo Faour VOCÊ, CLAUDETTE SOARES (2007) EMI MUSIC 508859-2 1. Você (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) 2. Fraqueza (César Costa Filho/ Paulo César Pinheiro) 3. Seu carinho (Ivan Lins/ Ronaldo Monteiro) 4. Vê (Antônio Adolfo) 5. O tempo (Reginaldo Bessa) 6. Preciso aprender a só ser (Gilberto Gil) 7. Adeus, Maria Fulô (Sivuca/ Humberto Teixeira) 8. Eles querem amar (Jorge Ben) 9. Beijo sideral (Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle) 10. Corpo e alma (Francis Hime/ Ruy Guerra) 11. Meiga presença (Paulo Valdéz/ Octávio de Mores) 12. Vestido de bolero (Dorival Caymmi) 13. Sonho e saudade (Tito Madi) 14. Você (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) com Dick Farney Compilação produzida por Thiago Marques Luiz CRÉDITOS DAS FOTOGRAFIAS Acervo Folha de São Paulo: 81, 184 Beti Niemeyer: 200, 215 Erasmo Coelho de Souza: 175a,175b Lauro S. Lima: 50 Studio WR: 04, 191, 194, 202 A despeito dos esforços de pesquisas empreendidos pela Editora para identificar a autoria das fotos expostas nessa obra, parte delas não é de autoria conhecida de seus organizadores. Agradecemos o envio ou comunicação de toda informação relativa a autoria e/ou a outros dados que porventura estejam incompletos, para que seja devidamente creditados Agradecimentos especiais aos entrevistados para este livro Ademilde Fonseca, Agildo Ribeiro, Alaíde Costa, Antônio Adolfo, Armando Pittigliani, Bebeto Castilho, Beth Carvalho, Carlos Lyra, César Camargo Mariano, Cláudia Morena, Doris Monteiro, Ed Lincoln, Ellen de Lima, Eumir Deodato, Erasmo Carlos, Franco Paulino, Gilberto Gil, João Araújo, João Donato, Jorge Ben Jor, Júlio César Figueiredo, Leandro Braga, Leny Andrade, Luiz Vieira, Manoel Barembein, Marcos Valle, Maria Bethânia, Marina Lima, Miéle, Moracy do Val, Roberto Menescal, Riva, Ronaldo Youle, Tito Madi e Vanderley Lopes. Agradecimentos gerais Deuzeni e Alberto Goldman, Carlos Eduardo Sabbag, Cláudia Telles, Denílson Monteiro, Gabriel Gonzaga, Flávio Pinheiro (Sony Music), William Tardelli (Universal Music), Cláudio Erlichman (Imprensa Oficial), Cláudio Alves Lopes (amigo de Claudette), Rogério Augusto Oliveira, Ruy Castro, Thiago Marques Luiz e Tiago Marques. Coleção Aplauso SÉRIE CINEMA BRASIL Alain Fresnot Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot Agostinho Martins Pereira Um Idealista Máximo Barro Alfredo Sternheim Um Insólito Destino Alfredo Sternheim O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias Roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger Anselmo Duarte O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Antonio Carlos da Fontoura Espelho da Alma Rodrigo Murat Ary Fernandes Sua Fascinante História Antônio Leão da Silva Neto O Bandido da Luz Vermelha Roteiro de Rogério Sganzerla Batismo de Sangue Roteiro de Dani Patarra e Helvécio Ratton Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak Fragmentos de uma vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person O Céu de Suely Roteiro de Karim Aïnouz, Felipe Bragança e Maurício Zacharias Chega de Saudade Roteiro de Luiz Bolognesi Cidade dos Homens Roteiro de Elena Soárez Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero O Contador de Histórias Roteiro de Luiz Villaça, Mariana Veríssimo, Maurício Arruda e José Roberto Torero Críticas de B.J. Duarte Paixão, Polêmica e Generosidade Luiz Antonio Souza Lima de Macedo Críticas de Edmar Pereira Razão e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas de Jairo Ferreira Críticas de invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda Leão Críticas de Ruben Biáfora A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Os 12 Trabalhos Roteiro de Cláudio Yosida e Ricardo Elias Estômago Roteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade Feliz Natal Roteiro de Selton Mello e Marcelo Vindicatto Fernando Meirelles Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano Fim da Linha Roteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Storyboards de Fábio Moon e Gabriel Bá Fome de Bola Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Francisco Ramalho Jr. Éramos Apenas Paulistas Celso Sabadin Geraldo Moraes O Cineasta do Interior Klecius Henrique Guilherme de Almeida Prado Um Cineasta Cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito Ivan Cardoso O Mestre do Terrir Remier João Batista de Andrade Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jorge Bodanzky O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Antonio Garcia Em Busca da Alma Feminina Marcel Nadale José Carlos Burle Drama na Chanchada Máximo Barro Liberdade de Imprensa O Cinema de Intervenção Renata Fortes e João Batista de Andrade Luiz Carlos Lacerda Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Mauro Alice Um Operário do Filme Sheila Schvarzman Máximo Barro Talento e Altruísmo Alfredo Sternheim Miguel Borges Um Lobisomem Sai da Sombra Antônio Leão da Silva Neto Não por Acaso Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Narradores de Javé Roteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu Onde Andará Dulce Veiga Roteiro de Guilherme de Almeida Prado Orlando Senna O Homem da Montanha Hermes Leal Pedro Jorge de Castro O Calor da Tela Rogério Menezes Quanto Vale ou É por Quilo Roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi Ricardo Pinto e Silva Rir ou Chorar Rodrigo Capella Rodolfo Nanni Um Realizador Persistente Neusa Barbosa Salve Geral Roteiro de Sergio Rezende e Patrícia Andrade O Signo da Cidade Roteiro de Bruna Lombardi Ugo Giorgetti O Sonho Intacto Rosane Pavam Viva-Voz Roteiro de Márcio Alemão Vladimir Carvalho Pedras na Lua e Pelejas no Planalto Carlos Alberto Mattos Vlado 30 Anos Depois Roteiro de João Batista de Andrade Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende SÉRIE CINEMA Bastidores Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Série Ciência & Tecnologia Cinema Digital Um Novo Começo? Luiz Gonzaga Assis de Luca A Hora do Cinema Digital Democratização e Globalização do Audiovisual Luiz Gonzaga Assis De Luca SÉRIE CRÔNICAS Crônicas de Maria Lúcia Dahl O Quebra-cabeças Maria Lúcia Dahl SÉRIE DANÇA Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo Dança Universal Sérgio Rodrigo Reis SÉRIE MÚSICA Rogério Duprat Ecletismo Musical Máximo Barro Sérgio Ricardo Canto Vadio Eliana Pace Wagner Tiso Som, Imagem, Ação Beatriz Coelho Silva SÉRIE TEATRO BRASIL Alcides Nogueira Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta Circo e Poesia Danielle Pimenta Cia de Teatro Os Satyros Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Maria Lucia Candeias Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior Federico Garcia Lorca Pequeno Poema Infinito Antonio Gilberto e José Mauro Brant Ilo Krugli Poesia Rasgada Ieda de Abreu João Bethencourt O Locatário da Comédia Rodrigo Murat José Renato Energia Eterna Hersch Basbaum Leilah Assumpção A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau Artista Múltiplo Leila Corrêa Renata Palottini Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Abílio Pereira de Almeida Abílio Pereira de Almeida O Teatro de Alberto Guzik Alberto Guzik O Teatro de Antonio Rocco Antonio Rocco O Teatro de Cordel de Chico de Assis Chico de Assis O Teatro de Emílio Boechat Emílio Boechat O Teatro de Germano Pereira Reescrevendo Clássicos Germano Pereira O Teatro de José Saffioti Filho José Saffioti Filho O Teatro de Alcides Nogueira Trilogia: Ópera Joyce Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso Pólvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Ivam Cabral Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora Os Cantos de Maldoror De Profundis A Herança do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em São Paulo De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista O Fingidor A Terra Prometida Samir Yazbek O Teatro de Sérgio Roveri Sérgio Roveri Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda Quatro Décadas em Cena Ariane Porto SÉRIE PERFIL Aracy Balabanian Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Arllete Montenegro Fé, Amor e Emoção Alfredo Sternheim Ary Fontoura Entre Rios e Janeiros Rogério Menezes Berta Zemel A Alma das Pedras Rodrigo Antunes Corrêa Bete Mendes O Cão e a Rosa Rogério Menezes Betty Faria Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati Luz Natural Carlos Alberto Mattos Cecil Thiré Mestre do seu Ofício Tania Carvalho Celso Nunes Sem Amarras Eliana Rocha Cleyde Yaconis Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Débora Duarte Filha da Televisão Laura Malin Denise Del Vecchio Memórias da Lua Tuna Dwek Elisabeth Hartmann A Sarah dos Pampas Reinaldo Braga Emiliano Queiroz Na Sobremesa da Vida Maria Leticia Etty Fraser Virada Pra Lua Vilmar Ledesma Ewerton de Castro Minha Vida na Arte: Memória e Poética Reni Cardoso Fernanda Montenegro A Defesa do Mistério Neusa Barbosa Fernando Peixoto Em Cena Aberta Marília Balbi Geórgia Gomide Uma Atriz Brasileira Eliana Pace Gianfrancesco Guarnieri Um Grito Solto no Ar Sérgio Roveri Glauco Mirko Laurelli Um Artesão do Cinema Maria Angela de Jesus Ilka Soares A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache Caçadora de Emoções Tania Carvalho Irene Stefania Arte e Psicoterapia Germano Pereira Isabel Ribeiro Iluminada Luis Sergio Lima e Silva Isolda Cresta Zozô Vulcão Luis Sérgio Lima e Silva Joana Fomm Momento de Decisão Vilmar Ledesma John Herbert Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa Jonas Bloch O Ofício de uma Paixão Nilu Lebert Jorge Loredo O Perigote do Brasil Cláudio Fragata José Dumont Do Cordel às Telas Klecius Henrique Leonardo Villar Garra e Paixão Nydia Licia Lília Cabral Descobrindo Lília Cabral Analu Ribeiro Lolita Rodrigues De Carne e Osso Eliana Castro Louise Cardoso A Mulher do Barbosa Vilmar Ledesma Marcos Caruso Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado A Estrela, O Mistério Luiz Carlos Lisboa Mauro Mendonça Em Busca da Perfeição Renato Sérgio Miriam Mehler Sensibilidade e Paixão Vilmar Ledesma Naum Alves de Souza: Imagem, Cena, Palavra Alberto Guzik Nicette Bruno e Paulo Goulart Tudo em Família Elaine Guerrini Nívea Maria Uma Atriz Real Mauro Alencar e Eliana Pace Niza de Castro Tank Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Paulo Betti Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José Memórias Substantivas Tania Carvalho Pedro Paulo Rangel O Samba e o Fado Tania Carvalho Regina Braga Talento é um Aprendizado Marta Góes Reginaldo Faria O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Borghi Borghi em Revista Élcio Nogueira Seixas Renato Consorte Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silnei Siqueira A Palavra em Cena Ieda de Abreu Silvio de Abreu Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Sônia Guedes Chá das Cinco Adélia Nicolete Sonia Maria Dorce A Queridinha do meu Bairro Sonia Maria Dorce Armonia Sonia Oiticica Uma Atriz Rodriguiana? Maria Thereza Vargas Stênio Garcia Força da Natureza Wagner Assis Suely Franco A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tatiana Belinky ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio Roveri Theresa Amayo Ficção e Realidade Theresa Amayo Tony Ramos No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Umberto Magnani Um Rio de Memórias Adélia Nicolete Vera Holtz O Gosto da Vera Analu Ribeiro Vera Nunes Raro Talento Eliana Pace Walderez de Barros Voz e Silêncios Rogério Menezes Walter George Durst Doce Guerreiro Nilu Lebert Zezé Motta Muito Prazer Rodrigo Murat ESPECIAL Agildo Ribeiro O Capitão do Riso Wagner de Assis Av. Paulista, 900 a História da TV Gazeta Elmo Francfort Beatriz Segall Além das Aparências Nilu Lebert Carlos Zara Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Charles Möeller e Claudio Botelho Os Reis dos Musicais Tania Carvalho Cinema da Boca Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dina Sfat Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Maria Della Costa Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Mazzaropi Uma Antologia de Risos Paulo Duarte Ney Latorraca Uma Celebração Tania Carvalho Odorico Paraguaçu: O Bem-amado de Dias Gomes História de um personagem larapista e maquiavelento José Dias Raul Cortez Sem Medo de se Expor Nydia Licia Rede Manchete Aconteceu, Virou História Elmo Francfort Sérgio Cardoso Imagens de Sua Arte Nydia Licia Tônia Carrero Movida pela Paixão Tania Carvalho TV Tupi Uma Linda História de Amor Vida Alves Victor Berbara O Homem das Mil Faces Tania Carvalho Walmor Chagas Ensaio Aberto para Um Homem Indignado Djalma Limongi Batista Coleção Aplauso Série Música Coordenador Geral Editor Assistente Assistente Projeto Gráfico Direção de Arte Editoração Tratamento de Imagens Revisão Rubens Ewald Filho Claudio Erlichman Karina Vernizzi Via Impressa Design Gráfico Clayton Policarpo Paulo Otavio Douglas Germano Deiverson Rodrigues Emerson Brito José Carlos da Silva Wilson Ryoji Imoto Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Faour, Rodrigo A bossa sexy e romântica de Claudete Soares / Rodrigo Faour São Paulo : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010. 280p. : il. (Coleção aplauso. Série música / Coordenador geral Rubens Ewald Filho) ISBN 978-85-7060-877-2 1. Cantoras Brasil - Biografia 2. Cantoras populares brasileiras 3. Soares, Claudete, 1935 I. Ewald Filho, Rubens. II. Título. III. Série. CDD 780.092 Índice para catálogo sistemático: 1. Cantoras : Brasil : Biografia 780.092 Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Rua da Mooca, 1921 Mooca 03103-902 São Paulo SP www.imprensaoficial.com.br/livraria livros@impresaoficial.com.br SAC 080001234 01 sac@imprensaoficial.com.br Imprensa Oficial do Estado de São Paulo diretor-presidente Hubert Alquéres diretor industrial Teiji Tomioka diretor financeiro Flávio Capello diretora de gestão de negócios Lucia Maria Dal Medico gerente de produtos editoriais e institucionais Vera Lúcia Wey Formato 21 x 26cm Papel Miolo Couché fosco 150g/m2 Papel Capa Triplex 350g/m2 Tipologia ChaletComprime, Univers Número de páginas 280 CTP, Impressão e Acabamento Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Nesta edição, respeitou-se o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa