Tania Alves Tania Maria Bonita Alves Tania Alves Tania Maria Bonita Alves Fernando Cardoso Imprensa Oficial São Paulo, 2010 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Governador Alberto Goldman Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho No Passado Está a História do Futuro A Imprensa Oficial muito tem contribuído com a sociedade no papel que lhe cabe: a democratização de conhecimento por meio da leitura. A Coleção Aplauso, lançada em 2004, é um exemplo bem-sucedido desse intento. Os temas nela abordados, como biografias de atores, diretores e dramaturgos, são garantia de que um fragmento da memória cultural do país será preservado. Por meio de conversas informais com jornalistas, a história dos artistas é transcrita em primeira pessoa, o que confere grande fluidez ao texto, conquistando mais e mais leitores. Assim, muitas dessas figuras que tiveram importância fundamental para as artes cênicas brasileiras têm sido resgatadas do esquecimento. Mesmo o nome daqueles que já partiram são frequentemente evocados pela voz de seus companheiros de palco ou de seus biógrafos. Ou seja, nessas histórias que se cruzam, verdadeiros mitos são redescobertos e imortalizados. E não só o público tem reconhecido a importância e a qualidade da Aplauso. Em 2008, a Coleção foi laureada com o mais importante prêmio da área editorial do Brasil: o Jabuti. Concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a edição especial sobre Raul Cortez ganhou na categoria biografia. Mas o que começou modestamente tomou vulto e novos temas passaram a integrar a Coleção ao longo desses anos. Hoje, a Aplauso inclui inúmeros outros temas correlatos como a história das pioneiras TVs brasileiras, companhias de dança, roteiros de filmes, peças de teatro e uma parte dedicada à música, com biografias de compositores, cantores, maestros, etc. Para o final deste ano de 2010, está previsto o lançamento de 80 títulos, que se juntarão aos 220 já lançados até aqui. Destes, a maioria foi disponibilizada em acervo digital que pode ser acessado pela internet gratuitamente. Sem dúvida, essa ação constitui grande passo para difusão da nossa cultura entre estudantes, pesquisadores e leitores simplesmente interessados nas histórias. Com tudo isso, a Coleção Aplauso passa a fazer parte ela própria de uma história na qual personagens ficcionais se misturam à daqueles que os criaram, e que por sua vez compõe algumas páginas de outra muito maior: a história do Brasil. Boa leitura. Alberto Goldman Governador do Estado de São Paulo Coleção Aplauso O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Ofi cial, visa resgatar a memória da cultura nacio nal, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cine ma, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de ma nei ra singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato en tre biógrafos e bio gra fados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor . Um aspecto importante da Coleção é que os resul ta dos obtidos ultrapassam simples registros biográ ficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Bió grafo e biogra fado se colocaram em reflexões que se estende ram sobre a formação intelectual e ideo ló gica do artista, contex tua li zada na história brasileira. São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atua do tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas – analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos exploram o universo íntimo e psicológico do artista, revelando as circunstâncias que o conduziram à arte, como se abrigasse em si mesmo, desde sempre, a complexidade dos personagens. São livros que, além de atrair o grande público, inte ressarão igualmente aos estudiosos das artes cênicas, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Foram abordadas a construção dos personagens, a análise, a história, a importância e a atua lidade de alguns deles. Também foram exami nados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sorti légios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que neste universo transi tam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de to do o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Introdução Minha paixão pela atriz Tania Alves começou quando a vi na minissérie Lampião e Maria Bonita. Tudo nessa produção era ótimo e a atuação dela, inesquecível. Difícil dissociar Maria Bonita de Tania Alves. Depois disso, enfrentei as filas dos cinemas para ver Parahyba Mulher Macho e descobri que, além de ótima atriz, Tania é excelente cantora. Cada vez mais encantando, acompanho sua carreira desde então. O tempo passou, virei produtor de teatro e, numa excursão pelo Sul, mais especificamente em Porto Alegre, tive a felicidade de ficar no mesmo hotel em que ela estava hospedada. Descobri o apartamento, liguei me apresentando e a convidei para a peça. Ela não podia, tinha show no mesmo dia e me convidou. Eu fui e comprovei no palco o talento dessa artista de múltiplas possibilidades. Um ou dois anos mais tarde, eu estava trabalhando na Rede Globo. Fiz um novo convite a Tania. Dessa fez para um papel na série Retrato de Mulher da qual eu era assistente de direção. Ela adorou a ideia, mas sua agenda de shows era uma loucura. Ainda não estávamos na era do telefone celular e tínhamos grandes dificuldades de comunicação. Ela me ligava de cidades que eu nunca tinha ouvido falar. Eita mulher que trabalha! Que viaja!! Não deu certo, mas fomos criando vínculos, amizade... Continuei comprando seus discos, indo aos seus shows e peças... Até que tive o enorme prazer de dirigi-la no show Palavra de Mulher, ao lado de Lucinha Lins e Virgínia Rosa, espetáculo que inaugurou o Teatro Cosipa Cultura (hoje Teatro Cleyde Yáconis) em março de 2008 na cidade de São Paulo. Tania é precisa e disciplinada. Quando está em cena, passa segurança ao diretor. Uma certeza de que se alguma coisa der errado com a luz, com o som, com o figurino, ou o que quer que seja, ela vai tirar de letra. E tira! É um grande prazer trabalhar com ela. E também foi um grande prazer entrevistá-la para escrever este livro. Tania foi sincera, aberta para falar sobre qualquer assunto, paciente e muito generosa. Nossas primeiras conversas foram gravadas em Friburgo, no Spa Maria Bonita. Fiquei lá três dias sendo muito bem tratado, ouvindo histórias interessantes e remexendo o baú de fotos, matérias, críticas, entrevistas... Depois disso conversamos muitas vezes em São Paulo, onde Tania estava em cartaz com a peça Os Monólogos da Vagina e gravando uma novela na Rede Record. Nosso último bate-papo para este livro aconteceu em maio de 2009, no saguão de um hotel, também em São Paulo. Adorei esta experiência. Nunca me imaginei escrevendo um livro. Agradeço especialmente ao convite e à confiança de Rubens Ewald Filho, ao grande incentivo dos meus amigos Ana Paula Degobi Campos e Wilmar Ledesma e a minha querida amiga Ciça Corrêa, que revisou meu texto, me deu inúmeras dicas e me fez acreditar que fiz um trabalho digno. Tania, querida, espero que você goste. Obrigado por colocar sua vida em minhas mãos. Fernando Cardoso Capítulo I Entre a Cruz e a Espada 12 de setembro de 1953. Nasci Tania Maria Rego Alves e, contrariando o que muitos pensam a meu respeito, não sou nordestina, não. Sou carioca! Carioca da gema! Nascida e criada em Copacabana, onde passei minha infância. Morava em frente à Rua Prado Júnior, esquina das avenidas Princesa Isabel e Nossa Senhora de Copacabana. Fui vizinha de Dercy Gonçalves e Clóvis Bornay. Os atores Ítalo Rossi e Sérgio Britto também andavam sempre por ali. Da janela do meu quarto espiava toda essa gente maravilhosamente maluca que muitas vezes passava pela rua indo e vindo do Teatro Princesa Isabel. Nessa época ficava fascinada também quando Virgínia Lane e Mara Rúbia apareciam na televisão. Não foi por acaso que cresci querendo ser vedete. Pintava o rosto todo com arabescos – e olha que não tinha Alice Cooper, nem os Secos e Molhados nessa época! Depois pegava uns vestidinhos lindos que minha avó fazia, colocava a saia por dentro da calcinha e ficava em frente ao espelho com as pernas de fora. Era meu lado artista querendo aflorar. Mas, quando me atrevi a dizer que queria ser bailarina, meu pai proibiu – Não quero minha filha mostrando as pernas por aí – e esse grande sonho de menina ficou só na fantasia. Apesar de me considerar tímida até hoje, sei que sempre fui um pouco exibida. Lembro que bem garotinha, com uns 4 anos de idade, meu pai me deu um acordeão de presente e, para me incentivar a tocar, falou que a cada música que eu tirasse através do método ganharia umas moedinhas. Como sempre fui muito ávida por saber, por aprender, tudo o que me desafiava eu encarava e queria dominar. Ultrapassar os meus limites. Aprendia tão rápido que logo juntei dinheiro para comprar o meu primeiro rádio. Apesar de portátil, era um trambolhão enorme que coloquei no quarto, ao lado da minha cama. Esse rádio foi um grande companheiro e também fez aumentar a minha paixão pela música. Aos 10 anos já estava formada em acordeão e podia até ser professora. Nessa fase da minha infância me apresentava em clubes e programas de televisão tocando com os outros alunos da academia do professor George Brás, um austríaco. Eu imitava a Brenda Lee cantando Jambalaya, tocando e dançando. Na realidade o grande responsável por minha formação musical foi meu pai, Ubirajara Motta Alves, um pernambucano muito repressor, conservador e, ao mesmo tempo, um homem apaixonante e talentoso. Meu pai faleceu em 2007. Era um artista completo: tocava qualquer instrumento, escrevia maravilhosamente bem, desenhava, compunha... Papai me ensinou a tocar violão e a cantar vários boleros. A letra de um dos meus favoritos na época era assim: Ele é casado/E eu sou a outra na vida dele/Que vive qual uma brasa/Por me faltar tudo em casa/Ele é casado/Eu sou a outra/Que o mundo difama/Que a vida ingrata maltrata/E sem dó cobre de lama… Minha mãe ficava irritadíssima quando ouvia a filha, uma criança de mais ou menos 5 anos, cantar canções como essa, superdramáticas e melancólicas que falam de paixões perdidas e de morrer de amor. Ela pedia que papai nos ensinasse músicas mais leves, canções de ninar como Boi Boi Boi/Boi da Cara Preta/Pega essa menina/Que tem medo de careta... Alguns boleros que aprendi com o meu querido pai, entre eles o Eu Sou a Outra, gravei anos e anos depois convidada pela Polygram para um projeto especial chamado Amores e Boleros. O sucesso foi tamanho que fizemos seis discos com boleros clássicos e algumas versões aboleradas de outras canções. Esse repertório rendeu também inúmeros shows pelo Brasil afora e, quando cheguei a Santa Catarina, onde meu pai morou por muito tempo, ele me disse que não aguentaria tanta emoção e não foi ao espetáculo. Por incrível que pareça, ele nunca me viu no palco. No início da minha carreira, porque era radicalmente contra e ficou muito tempo brigado comigo. Para ele, arte não era trabalho, era prazer, era diletantismo... Por causa desse pensamento, tive muita dificuldade em encarar a minha carreira como um ofício, uma profissão remunerada. Seu Ubirajara nunca poderia imaginar que a filha dele um dia seria artista profissional. Tocar piano, flauta, acordeão e violão era importante para a boa educação que ele queria dar aos filhos, assim como estudar em bons colégios, praticar esportes e aprender línguas. Por puro patriotismo, meu pai abandonou a faculdade de arquitetura em Pernambuco para lutar na II Guerra Mundial como voluntário no Exército Brasileiro. Mas quando chegou ao Rio de Janeiro para se alistar a guerra já tinha acabado. E foi no Rio, jogando tênis, no Tijuca Tênis Clube, que ele conheceu minha mãe, carioca criada em Paquetá: Yolanda Rego Motta Alves. Logo começaram a namorar, casaram-se e nasceram os filhos. Mamãe também não gostou nada quando o seu cristalzinho virou artista. Eu só tinha permissão para ser exibida em casa. Podia cantar e tocar para os amigos, mas uma garota de família, criada com tantos cuidados, jamais poderia tornar-se cantora e atriz. Ela ficou muito decepcionada quando já adulta me decidi pela carreira artística. Ficamos um tempo de mal, mas aos poucos o meu trabalho começou a ser reconhecido. As pessoas me elogiavam, comentavam e ela foi aceitando. Hoje é a minha maior fã e tem muito orgulho da filhota. Dona Yolanda era professora primária – depois de separar-se do meu pai, estudou jornalismo e direito – e se ficava sem empregada em casa, volta e meia arrastava os três filhos para a sala de aula junto com ela. Graças a esse cuidado materno, aprendi a ler com 4 anos de idade e, com 5, já estava na primeira série. Li meu primeiro romance – O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway – aos 7 anos. Aos 12, já havia lido a coleção completa de Eça de Queiroz. Estudei sempre em escola pública – na época eram ótimas – e mais tarde cursei a Faculdade Nacional de Letras no Rio de Janeiro. Contar a minha história dessa maneira faz parecer que desde pequena batalhei para ser artista. Não foi bem assim. Tive uma educação tradicional. Fui criada para outro tipo de vida. Então, nunca passou pela minha cabeça ser atriz profissional. Mas não adianta, o destino da gente se impõe. Eu queria expressar as coisas que eu sentia e acabei entrando num grupo de teatro. Fiz canto coral. Fui cantora lírica. Também fui flautista num quarteto de música barroca. Tudo isso porque sentia necessidade de me expressar. Nunca pensei em ser famosa, ser profissional... Eu não tinha a menor consciência do que que-ria fazer da vida, muito menos pensava em ser artista ou sequer pensava que esse seria o meu caminho. Sempre fui reservada. Até os 18, 19 anos era muito passiva e tinha pouca liberdade. Embora achasse uma injustiça ser educada de maneira diferente dos meus dois irmãos – por ser homens, eles tinham muito mais liberdade do que eu –, aceitava pacificamente. Minha filha não faz parte de turmas! Minha filha não namora! Esse era o discurso do meu pai como se isso fosse uma qualidade, um mérito. Eu não podia ter amigos, então era muito solitária e vivia confinada. Por um lado foi bom, porque tive um grande desenvolvimento intelectual e espiritual. Criei um mundo paralelo – lia muito, estudava música e rezava. Nesse tempo eu queria ser freira! Quer dizer, queria ser freira, trapezista, aeromoça... Eu queria ser tudo! Ainda hoje tenho um interesse, uma busca mística, mas a minha formação religiosa foi uma completa loucura. Para se ter uma ideia, a minha mãe era católica fervorosa e temente a Deus. Meu pai completamente ateu! Não esqueço o dia em que mamãe me ensinava a rezar e, não sei por que, eu estava em pé em cima de uma cadeirinha. Dona Yolanda rezava agachada na minha frente: Salve rainha, mãe de misericórdia... De repente, atrás dela aparece papai exibindo uma revista com ilustrações da Santa Inquisição, cenas de tortura e uma porção de imagens igualmente impactantes. Eu ali no meio, entre a cruz e a espada. Já ouviu falar de alguém que teve que fazer Primeira Comunhão escondido? Eu! É claro que a religião acabava sendo mais um dos motivos para as inúmeras discussões que eles tinham. Minha mãe, mulher com opiniões próprias e personalidade forte, não aceitava as malandragens do marido mulherengo e machista – do tipo que acha que a esposa é propriedade dele. Meus irmãos e eu presenciamos situações horríveis. A relação nada fácil dos dois passou a ser temperada por brigas constantes. Eu, a mais sensata e adulta de todos da família, era sempre convocada por eles para mediar as confusões. Sempre fui mediadora. Eu detesto pessoas discutindo. Acho que é um trauma que carrego da infância. Não teve jeito. E o casamento dos meus pais acabou em separação, quando eu tinha 18 anos. Capítulo II Criativa e Cheia de Energia Fui criada com todos os mimos burgueses. Meu pai era executivo de uma multinacional, o que garantia à família uma situação econômica bastante confortável. Tínhamos até um barco e lembro que passeávamos pela Baía da Guanabara e sempre nos aproximávamos da Ilha do Sol, o primeiro clube naturista do Brasil fundado por Luz del Fuego, aquela bailarina que se apresentava nua enrolada em duas jiboias. Ficava fascinada quando meu pai contava que várias personalidades de Hollywood – como Errol Flynn, Lana Turner, Ava Gardner, Tyrone Power, Cesar Romero, Glenn Ford, Brigitte Bardot e Steve McQueen – tinham estado ali. Ficávamos olhando pelo binóculo na esperança de ver algumas dessas personalidades como vieram ao mundo. Parece que até mesmo estrelas do porte de Jayne Mansfield foram barradas por não querer ficar nuas. Lá a nudez total era obrigatória. Ninguém, nem mesmo autoridades e personalidades, entrava na ilha sem deixar toda e qualquer peça de roupa no píer. Confortos à parte, minha infância e adolescência foram meio estranhas, diria mesmo difíceis. Sentia que era um pouco rejeitada. A filha mais velha, única mulher no meio de dois irmãos homens mais novos: Luiz César e Luiz Alberto. Um era o preferido da mamãe e o outro o preferido do papai. Graças a Deus eu não era a preferida de ninguém. E foi por isso que consegui a minha alforria e cortei o cordão umbilical mais cedo. Os apelidos que dona Yolanda deu para os filhotes, Dandãozinho Precioso e Miolinho, dão ideia do padrão de relacionamento que se estabeleceu entre eles. Meus dois irmãos já passaram dos 50 anos e até hoje minha mãe os chama por esses apelidos absurdos, o que é mortal para eles, já que ela fala na frente de todo mundo. Eu não tenho apelido, ela me chama de Tania Maria. Sempre Tania Maria. Parecia uma chamada militar: Tania Maria! Nessa época, tinha certeza de que era preterida e, então, me trancava no quarto e buscava a companhia dos livros. Lia Eça de Queiroz, Alexandre Dumas, mas sempre me liguei em ocultismo também. As minhas primeiras leituras foram contos de terror e histórias do sobrenatural. Nada de romances de Madame Delly ou revistas da Luluzinha e do Bolinha, que seriam mais apropriados a uma garota de minha idade. Com 12 anos comecei a ler filosofia oriental – o que me deu uma compreensão mais científica do que seria a verdade do homem na Terra. Sem os conceitos de pecado, culpa, bem e mal e sem mitos. Não havia nenhum modismo nesse tipo de literatura. A minha intuição despertava certos interesses e algumas coisas que passavam pela minha frente me atraíam muito. Embora meu pai fosse pernambucano e minha mãe, filha de baianos, eles me criaram como se eu tivesse nascido na Europa. As pessoas esperam que eu conte que vim do Nordeste fugida da seca, de família pobre, que cheguei ao Rio de Janeiro e venci. A minha história é diferente dessa que imaginam como sendo minha. Nós éramos de classe média ascendente e tentávamos manter um padrão de vida além do que podíamos segurar. Nosso apartamento em Copacabana era decorado com antiguidades autênticas compradas em leilão. Papai sempre teve um gosto muito sofisticado. Detestava forró e adorava jazz, por exemplo. Além de tudo isso influenciar a minha maneira de ser, estudei música clássica e alemão, aprendizados que exigiam disciplina em ambientes bastante sérios. Resumindo: tudo era muito rígido na minha vida. Quase germânico. Fui me tornando uma adolescente criativa e cheia de energia, embora sem vida própria. Por sugestão do meu pai – ele queria que os filhos tivessem uma profissão – comecei a fazer cursos para preencher meu tempo livre. Como eu desenhava bem desde pequena, fiz propaganda e layout. Então meu pai começou a trabalhar numa empresa alemã e fui estudar alemão no ICBA – Instituto Cultural Brasil/Alemanha. Lá comecei a me interessar também por música erudita. Eu já tinha passado pela fase dos boleros, bossa nova e Beatles. A atividade cultural no ICBA era muito intensa e, com a minha sede de conhecer, produzir e criar, me envolvia em absolutamente tudo. Aprendi canto lírico com as professoras Fátima Alegria e Charlotte Lehmann – foi com elas que comecei a desenvolver minha voz de soprano e me especializei nos românticos Schumann e Schubert e no barroco alemão. Fiz curso de música barroca, participava do coral... Recordo uma tarde em que, andando pelos corredores do instituto, ouvi um som lindíssimo: flauta doce. Na semana seguinte já fazia parte do quarteto de música barroca, tocando Bach, Handel e Buxtehude. Minha incursão pela música erudita durou dos 15 aos 20 anos. Cheguei a cantar no coral da UFBA e apresentamos a Missa em Dó Menor de Beethoven no Teatro Castro Alves, quando morei em Salvador. Como entrei na escola muito novinha e sempre fui boa aluna, aos 17 anos já estava na faculdade de letras, cursando português/literatura. E foi lá que vi um anúncio convidando alunos para o grupo de teatro amador da faculdade. Esse teste é uma das lembranças mais fortes que tenho dos tempos de faculdade. A outra recordação é que eu era, provavelmente, uma das únicas virgens. É até engraçado contar isso. As pessoas que conhecem apenas a imagem da Tania Alves criada pela mídia não podem imaginar que perdi a virgindade com 20 anos, depois de casada. Nessa fase eu era uma pessoa completamente diferente da que me tornei depois. Os colegas de faculdade diziam que eu não parecia nem brasileira por causa da minha postura germânica e do meu jeito de vestir. Eu não tinha ginga, não rebolava, não tinha jogo de cintura... Era como se não tivesse quadris. Não havia brasilidade nenhuma em mim. Tinha uma toalete diferente para cada fim de semana. Quando ia dançar no clube parecia saída da capa da Vogue – os cabelos lisos, presos, vestida com um casacão ou tailleur. Todo mundo me achava feia. Se eu não fosse simpática e não soubesse dançar bem, ficaria sentada numa cadeira a noite inteira nas poucas festas que tinha permissão dos meus pais para ir. Voltando ao teatro amador da faculdade, acho que passei no tal teste porque cantava bem. A peça era As Incelenças, de Luiz Marinho, que por coincidência foi meu primeiro texto como atriz profissional anos depois. Nessa montagem da faculdade eu apenas cantava no prólogo super-revolucionário que falava da mortandade infantil no Nordeste. Assim que terminava de cantar ia embora correndo pra casa, porque meu pai não permitia que eu ficasse nem para os aplausos finais. Mas, muito mais grave do que a repressão paterna, era o regime militar e o movimento político dessa época: professores e alunos sumiam, uns eram presos, outros eram mortos... Quase não se tinha mais aula. Uma noite tivemos que fugir da polícia pelos fundos do teatro. Simpatizava com a causa, mas não fiz parte do movimento estudantil porque ainda vivia no meu universo paralelo e estava lendo os Vedas – Rg, Yajur, Sama e Atharv – que são escrituras compiladas por um sábio hindu chamado Vyasadeva. Imagina só a minha loucura: meus colegas de faculdade lutando contra a repressão e eu mergulhando na autorrealização espiritual. Capítulo III A Virgem e o Peruano No tal curso de propaganda e layout conheci o artista plástico Juan Toulier: peruano, 35 anos, divorciado. A diferença de vinte anos entre a gente – eu tinha 15 – não nos impedia de ser colegas e conversar muito. Certo dia, na sala de aula, ele fez um desenho do meu rosto e me deu de presente. Para retribuir fiz um poema dedicado a ele. Desse dia em diante se estabeleceu uma relação diferente entre nós: mais que uma amizade, um caso de amor platônico. Como já contei, naquela época eu era virgem. Era e fui durante muito tempo... A perda da minha virgindade fica para o próximo capítulo. Vou fazer um pouquinho de mistério. Falei também do lado extremamente repressor de meu pai, certo? Às vezes, ele era até violento e nem podia imaginar que eu estava namorando, escondida, um homem estrangeiro, divorciado e vinte anos mais velho. Durante a minha adolescência ele, Seu Ubirajara, mantinha um rapaz contratado para trabalhar para a família. Esse empregado era uma espécie de pajem – responsável por me levar e trazer da faculdade e dos cursos que eu fazia. Papai, mamãe e esse moço se revezavam na vigilância constante da filha querida. Driblar esse trio era praticamente impossível e, é claro, meu segredo acabou descoberto. Fui obrigada a abandonar o curso e meu pai quase deu uma surra no Juan. O namorico terminou e o Juan sumiu. Mas não da minha cabeça. O tempo foi passando e aquele homem, o Juan, não saía dos meus pensamentos e do meu coração. Já estava com 19 anos e, livre da repressão paterna desde a separação dos meus pais, tive maiores possibilidades de buscar meus próprios caminhos e de ser eu mesma. Um dia, fazendo tricô na casa da minha avó, tive uma vontade enorme de gritar, de chorar. Acho que hoje essa minha fase poderia ser classificada como depressão. Foi o meu primeiro surto. Juntei uma graninha fazendo tapeçaria e pintura em tecido, tranquei a matrícula na faculdade e fui passar uns tempos em Salvador com uns parentes da minha mãe. Assim que cheguei à cidade encontrei o Juan. Ele estava se separando e começamos a namorar. Durante um tempo ele manteve duas casas: a da ex-mulher e a minha, que também era seu ateliê. Juan era artista plástico e, enquanto moramos em Salvador, fiquei curtindo o universo dele. Costumo mimetizar as coisas, sou muito observadora. Não é uma observação crítica, eu absorvo e de repente gostaria de ser aquela pessoa por alguns instantes. Com o Juan eu ficava em casa desenhando, pintando... Tivemos um casamento nos moldes tradicionais: ele me sustentava e eu era a esposa e mãe. Tivemos uma filha: Gabriela Alves, que também é atriz. Capítulo IV Um Dia a Casa Cai Juan acabou deixando a família e mudou-se definitivamente para o estúdio. Estava completamente apaixonada, meu pai era contra o nosso relacionamento, principalmente por causa da diferença de idade. Embora trocássemos carícias, fizéssemos mil loucuras, continuei virgem até o dia em que oficializamos a nossa relação. Para mim um ritual era muito importante. Como ele era divorciado e não podia casar-se no religioso, conseguimos um padre que nos abençoou. Finalmente, depois do pseudocasamento ele degustou minha virgindade por doze dias. O Juan era um homem muito experiente, com quase 40 anos de idade, e me ensinou tudo. Morávamos em Salvador há um ano e meio, quando viemos passar uns dias no Rio de Janeiro e uma tempestade fez a nossa casa literalmente desabar com tudo dentro. O casamento também estava desmoronando, mas eu era muito passiva e fui levando a situação, embora começasse a perceber que havia trocado um pai repressor por um marido equivalente e o que eu buscava era liberdade. Essa tal liberdade eu descobri na yôga, que comecei a fazer por razões estéticas. A Gabriela havia nascido e eu queria cuidar do meu corpo. Entrei para o Instituto Brasileiro de Yôga, do professor DeRose e, obviamente, me apaixonei pela prática. Passava o dia inteiro lá: cinco horas de yôga por dia. Passei a sentir que eu existia independentemente de contextos. Atingi um equilíbrio físico e mental incríveis. Fazia parte de uma turma de tantra yôga, sete homens e sete mulheres, que formava círculos de mentalização terapêutica para curar pessoas. O jejum semanal era sagrado. Rapidamente me formei instrutora de yôga. Esse lado da minha vida foi-se tornando incompatível com meu casamento. Minha relação com o Juan piorava a cada dia. Tinha a sensação que vivia menos plenamente do que podia ou deveria. De certa maneira, repetia a fórmula do casamento horrível que meus pais tiveram. As divergências aumentavam e a necessidade de liberdade e de ganhar meu próprio dinheiro também. Então, alguém me disse que eu deveria tentar encontrar um emprego como dubladora por causa da minha voz trabalhada. Simplesmente abri o catálogo telefônico e li: Cine Castro. Anotei o endereço e fui até lá. Uma senhora lituana, muito simpática e paciente, dona Carla – até hoje lembro o nome dela – me recebeu e logo perguntou se eu era atriz. Disse que não. Já trabalhou com microfone minha filha? Não senhora, respondi. Não sei explicar por que, mas ela me deixou fazer um teste e, por mais inacreditável que possa parecer, passei. No início fazia umas pontinhas em desenhos animados: voz de pato, galinha, velhinha... Não ter estudado arte dramática não dificultava a minha atuação. Eu falava com verdade aquilo que o personagem queria dizer. Fui recebendo papéis maiores e melhores... Em pouco tempo estava dublando Brigitte Bardot, Ursula Andress, Susannah York, Virna Lisi... Esse trabalho foi o primeiro vislumbre da possibilidade concreta de ser atriz. Até então eu dizia: Nunca vou conseguir fingir ser alguém que não sou. Eu não nasci pra isso. Sou cantora. Nesse tempo, meu vínculo com arte estava muito mais ligado à música e sempre de uma maneira amadora. Capítulo V Um Novo Amor Embora estivesse mais independente por causa do dinheiro que ganhava trabalhando com dublagem, continuei casada por três anos e meio. Realmente tinha sido apaixonada pelo pai da minha filha, mas nossa história terminou quando encontrei um novo e revolucionário amor: o teatro. Nos estúdios de dublagem, conheci a atriz baiana Ilmara Rodrigues que me convidou para fazer a gatinha Florípedes na peça infantil O Rapto das Cebolinhas, de Maria Clara Machado. Aceitei e fui para o primeiro dia de ensaio feliz da vida. O ator Tonico Pereira, que era meu amigo e via meus recitais nos tempos do coral, também estava no elenco. Nós até tivemos um namorico... O curioso é que ele, à noite, participava de uma montagem profissional da peça As Incelenças, a mesma que eu havia feito na faculdade. O espetáculo, dirigido pelo pernambucano Luís Mendonça, era lindo e eu, que estava em processo de libertação e não ficava mais em casa com o Juan, passava as noites no teatro. O casamento estava na reta final e já havíamos conversado sobre cada um ter sua vida e sua liberdade. A nossa filha, Gabriela, tinha uma babá. A revolução na minha vida começa aqui. Estávamos nos meados da década de 1970: sexo, drogas e... forró! Descobri que nunca fui careta... Eu fui reprimida! O teatro foi o grande responsável pelo meu amadurecimento. Comecei a questionar tudo. A minha vida ficou de cabeça pra baixo. As minhas verdades se fragmentaram e as convenções se esfacelaram. Os costumes da gente de teatro eram completamente diferentes dos meus. Eu, que nunca tinha tido turma de amigos, estava deslumbrada com o pessoal do teatro: todos muito à vontade e liberais. Sem dúvida, as pessoas mais malucas que tinha conhecido. Nem no meu mais remoto sonho – ou nos pesadelos da minha mãe – me imaginaria num boteco bebendo cerveja com Madame Satã. Quando eu o conheci, como colega de elenco da peça Lampião no Inferno, descobri a marginália urbana. A minha amizade com ele foi pirante. Íamos juntos a todos os lugares e ele me contava histórias sobre a Lapa, o teatro de revista, os travestis, as vedetes... Esse universo ia de encontro a uma Tania que, menina, fantasiava ser uma grande vedete do teatro de revista quando, sozinha no quarto, pintava o rosto na frente do espelho. Eu via As Incelenças todos os dias, completamente fascinada. Era tiete do grupo e já sabia o texto inteiro de cabeça quando, certa noite, uma das atrizes não apareceu. O Luís Mendonça, diretor da peça, desesperado falou: Você vem aqui todo dia, já conhece a peça. Não quer substituir a atriz que faltou? Só tem três falas e tem que cantar as músicas. Ele insistiu, me convenceu, aceitei e fiz o papel nesse mesmo dia. A outra atriz nunca mais voltou. Então eu fiquei. Como era um musical, acabei fazendo parte da banda tocando flauta. Na hora de falar eu saia lá do fundo, fazia a minha cena e voltava para junto dos músicos. Virei atriz assim: completo e total acaso. Na montagem seguinte do grupo, o pastoril Viva o Cordão Encarnado, Mendonça me chamou novamente e passei a integrar o grupo de teatro liderado por ele, que se chamava Chegança. Artistas como Elba Ramalho, Alceu Valença, Geraldinho Azevedo, Walter Breda, Tonico Pereira, Joel Barcelos, entre outros, também passaram por lá. Nesse espetáculo eu fazia quase uma figuração, mas a crítica notou meu trabalho e falou de mim. Pensei: acho que levo jeito, porque se na figuração a crítica já falou bem... Então comecei a sentir que yôga e teatro eram incompatíveis. A yôga trabalha seu lado mais puro e espiritual, enquanto o teatro tira o seu útero, sua carne e seu sangue. Você tem que ser um pouco desequilibrado emocionalmente para ser ator. Armazenado lá no fundo deve haver um pouco de cada personagem. Em algum lugar dentro de você tem que ter a loucura, a histeria, a malvadeza, a tristeza… Você tem que carregar todas as possibilidades na sua barriga. A santa e a puta. Não podia mais continuar sendo aquela figura plácida flutuando de tanto equilíbrio. Parei com as aulas de yôga e mergulhei no teatro. No início, o Mendonça teve muitas dificuldades comigo. O teatro dele era social, político e eu, com a minha formação erudita, não era nada dionisíaca ou lúdica. Parece uma lady. Não tem nada da mulher brasileira. Cadê os teus quadris?! Ele falava essas coisas com carinho, mas exigia muito de mim. Ele me mostrou como a cultura popular é revolucionária e me ajudou a descobrir o Brasil em mim. Parei de alisar o cabelo, assumi minhas raças, negra e índia, e minha mestiçagem. Partindo da cultura nordestina, que embasava todo o trabalho do nosso grupo, conheci a cultura brasileira. Acho que tenho uma participação importante na conquista do Nordeste de um espaço na música, na mídia. Todas essas descobertas e conquistas me fortaleceram e tornaram a minha relação com o Juan impossível. Nossa separação definitiva foi muito complicada. Ele era um escorpiano bravo e, mesmo depois de separados, ainda me fez passar por algumas situações constrangedoras que hoje considero bem engraçadas: quando eu fazia Reinações de Monteiro Lobato, num teatro no segundo andar de um shopping no Rio, ele entrou no camarim transtornado querendo me jogar lá de cima. Fugi como louca pelos corredores do shopping vestida de Narizinho. Numa outra ocasião, encenando Lampião no Inferno, novamente o Juan, completamente descontrolado, invadiu o camarim do teatro e, xingando nomes horríveis, disse que ia tirar a Gabriela, nossa filha, de mim. Elba Ramalho, que também era do elenco, pôs ele pra fora e tentou me acalmar. Mas eu tinha certeza que ele havia saído dali para ir até a minha casa raptar a Gabi. A minha personagem nesse espetáculo era a filha do Satanás, interpretado por ninguém menos do que o lendário Madame Satã, e chamava-se Trepadeira. Usava chifres e uma maquiagem hilária. Saí desesperada do teatro e peguei o primeiro táxi que encontrei vestida de Trepadeira – com chifres e tudo. Ao dobrar a esquina da rua em que morava, avistei a nova mulher do Juan, já na calçada, com a Gabriela no colo. Eu chorava e gritava: Me dá minha filha!! Devolve a minha filha!!! e a arranquei dos braços dela. No mesmo táxi segui direto para a casa da minha mãe e deixei minha filha com ela. Voltando para o teatro, acho que pela primeira vez senti um pouco de pena de mim mesma. Chorei muito e percebi que tinha escolhido um caminho extremamente difícil. Viver de teatro, especialmente naquela época, com o tipo de espetáculo que o nosso grupo fazia – fora dos padrões e do mercado e totalmente baseado na cultura nordestina – era um suicídio financeiro. Embora com o nosso grupo tivéssemos conseguido viajar o Brasil inteiro, as condições de trabalho eram péssimas. Chegamos a nos apresentar num leprosário no interior da floresta amazônica em troca de comida. Em termos de vivência esse período foi fundamental. Mesmo sem querer, a gente acaba crescendo como ser humano e incorporando o que vive e o que vê. Capítulo VI São Paulo da Garoa, da Crítica, dos Prêmios e do Reencontro Minha vida estava toda errada. Não tinha lugar certo para morar e vivia de favor na casa dos meus irmãos quando o Mendonça resolveu levar o Lampião no Inferno para São Paulo e ensaiar, também, um novo espetáculo: Viva o Cordão Encarnado. Um produtor paulista nos ofereceu um salário simbólico e hospedagem. Quando chegamos à cidade descobrimos que o hotel era, na verdade, o andar de cima do Teatro Aplicado, hoje o Teatro Bibi Ferreira. Não tinha nem cama. Dormíamos em esteiras espalhadas pelo chão e nas janelas, que não tinham vidros, colocamos jornal. Fazia um frio! Os atores Walter Breda, Elba Ramalho, Paulo Leite, eu e a Gabriela, minha filha, dormíamos todos no mesmo quarto. As refeições? Um sanduíche por dia. Era quase uma indigência. Minha mãe, eu não sei como, descobriu a situação em que vivíamos e acabamos por decidir que seria melhor para a Gabriela morar uns tempos com a avó para poder estudar e ter uma vida mais confortável. Foi muito difícil me separar dela. Sofri muito. Do banheiro do nosso hotel víamos a plateia quase sempre vazia, talvez porque as pessoas tivessem preconceito contra a cultura nordestina naquele momento. A base do nosso teatro era a literatura de cordel. Se não fosse um texto musical, nós adaptávamos e, como os cordéis são curtos, teatralizávamos e criávamos muito em cima dos textos. A crítica paulistana adorou a montagem de Viva o Cordão Encarnado e nos tornamos cult. Ganhei meu primeiro prêmio de Atriz Revelação (APCA) e recebi ótimas críticas. Na verdade essa era a segunda montagem que o Grupo Chegança fazia desse texto. Na primeira versão, em 1973, a estrela era Elke Maravilha, mas quando o espetáculo foi remontado em São Paulo ela não pôde fazer. Eu tive que tomar um porre pra ter coragem de pedir ao Mendonça pra fazer o papel dela. Ele disse, simplesmente: Tudo bem. A boa aceitação do meu trabalho melhorou a minha autoestima. Fiquei mais segura com relação ao meu talento e à certeza de seguir a carreira artística apesar de todas as dificuldades. Muitas das minhas conquistas eu devo a esta cidade generosa e produtiva. Apesar de ter retornado para o Rio de Janeiro em seguida, acabei morando em São Paulo algumas vezes e sempre foi muito positivo profissional e pessoalmente. Na capital paulista, reencontrei uns dos grandes amores da minha vida: Enzo Merino, o músico chileno com quem tive meu segundo filho, Leonardo. Foi em 1980, quando o Luís Antônio Martinez Corrêa me convidou para a versão paulista de Ópera do Malandro. Ele já havia me chamado para a primeira montagem, mas nessa fase da minha vida, Jonas Bloch e eu fazíamos enorme sucesso com o espetáculo Dois Pontos. Fomos nós dois que criamos, produzimos, roteirizamos e dirigimos juntos essa peça que estreou no Rio de Janeiro em 1977. Jonas não entendia como eu poderia recusar um papel importante numa obra do Chico Buarque. Era uma grande produção com um elenco maravilhoso e, participar de um musical dessa importância, poderia ser uma grande alavanca na minha carreira. Só que eu era muito imatura, meio inocente e não tinha o menor senso de oportunidade com relação à profissão. Não tinha a dimensão da importância desse convite. Minha única ambição era realizar um belo projeto artístico. E nós fizemos isso com o Dois Pontos. Ganhamos o prêmio do SNT de Melhor Espetáculo do Ano. Além disso, esse trabalho me permitia mostrar a minha versatilidade. Eu cantava, sapateava, interpretava, tocava, dançava, declamava... Jô Soares me viu nesse espetáculo e, até hoje, quando me entrevista comenta sobre a minha performance. Ele gostou tanto que escreveu um texto para mim. Essa é mais uma das histórias que não posso esquecer de contar! Enfim! Estava muito feliz na dupla com o Jonas Bloch e até ganhávamos um dinheirinho... Não tinha por que sair e, então indiquei Elba Ramalho, minha amiga e companheira do Grupo Chegança. Elba foi muito elogiada por sua atuação como Lúcia, nessa primeira versão da Ópera do Malandro e, realmente, esse trabalho serviu de catapulta para a carreira dela. Mas parece que estava escrito no meu destino que eu deveria atuar nesse musical de alguma maneira. Quando a peça foi produzida em São Paulo fui convidada novamente pelo diretor. A surpresa é que desta vez era para o papel de Terezinha, a protagonista. Marieta Severo, que era a estrela da versão carioca, estava grávida e eu a substituí. O elenco da produção paulista tinha também nos principais papéis a cantora Marlene (Vitória Régia), Abrahão Farc (Duran), Walter Breda (Max), Cláudio Mamberti (Tigrão) e Stella Miranda (Lúcia). A Geni era feita por um travesti mesmo, Andreia de Mayo. A crítica nunca gostou muito da Ópera, mas fui bastante elogiada e recebi minha segunda indicação ao Prêmio Mambembe de Melhor Atriz. No ano anterior, 1979, havia sido indicada por minha atuação no espetáculo O Fado e a Sina de Mateus e Catirina, de Benjamim Santos, em que eu fazia várias personagens, dirigida pelo Cecil Thiré. Quando me mudei para São Paulo, para ensaiar, já sabia que o Enzo morava na cidade e ficava de olho na programação musical dos jornais para tentar descobrir alguma apresentação dele. Eu fazia aula de circo no estádio do Pacaembu bem cedo e, na volta, sempre parava numa lanchonete para comer alguma coisa e tomar uma vitamina de frutas. No dia do meu aniversário daquele ano não foi diferente: pedi a mesma vitamina de frutas de sempre. Meio distraída, me aquecendo ao sol da manhã do inverno paulistano, percebo um índio de 1,90 m, cheio de instrumentos às costas se aproximando da balcão: era ele, Enzo Merino! Não falamos nada! Simplesmente entregamos os beijos e os abraços guardados nos nossos corações desde o dia em que nos conhecemos, e que eram proibidos porque eu era casada com outro homem. Minha história de amor com o Enzo começou assim: através do meu segundo marido, Loro – também músico –, conheci o poeta Thiago de Mello, pai do compositor Manduka que estava chegando do exílio no Chile. Numa reunião dessa turma, eu e o Manduka resolvemos fazer, juntos, um show: Tanto Quanto Você É. Durante os ensaios, o Manduka trouxe um amigo que tinha conhecido no Chile e que precisava muito trabalhar. No instante que esse homem entrou na sala senti uma coisa diferente, uma atração fortíssima: amor à primeira vista. Só que, além de casada, estava grávida de quatro meses e decidi fingir que o Enzo Merino, mesmo tocando na nossa banda, simplesmente não existia. Ensaiamos, fizemos uma temporada de shows no Rio e eu sequer olhava para ele. No dia seguinte ao último show com Manduka, resolvi fazer um vatapá – receita da minha avó baiana – para os músicos da banda na casa de uns amigos em Santa Teresa. Havia preparado esse jantar para mais ou menos vinte pessoas. Sabe como é o Rio de Janeiro? Apareceram umas duzentas... A casa estava um caos. O pessoal tinha bebido demais e alguns já tinham até apagado... No final da noite, aos poucos, a casa foi esvaziando e eu, que tinha cozinhado para aquele batalhão e estava morta de cansaço, deitei na rede da varanda com aquela vista linda do Rio de Janeiro... Quando já ia adormecendo ouvi uma voz masculina com sotaque chileno: Você é linda. E eu respondi: Você também. Falamos apenas isso e o Loro apareceu. Nem havíamos encostado um no outro, mas ele percebeu o clima entre nós e disse que ia embora. Saí atrás dele pelas ladeiras de Santa Teresa chorando e dizendo que não tinha acontecido nada entre mim e o Enzo. Muito nervoso, ele não me ouvia e não queria conversar. Continuava andando como um maluco pelas ruas do bairro. Nem sei quantos quarteirões depois, parou e sentou-se na calçada. Sentei ao seu lado e ele falou que não confiava mais em mim. Devíamos nos separar. Voltamos para casa em silêncio e, no dia seguinte de manhã, batem à porta. Era o Enzo: Quero falar com o seu marido. Eu não sabia o que fazer, imaginando que os dois iriam brigar ali na porta de casa. O Enzo pediu desculpas e explicou que nada tinha acontecido e que esse nada tinha sido única e exclusivamente culpa dele. Fiquei mais apaixonada ainda, é claro. Na madrugada seguinte, sozinha em casa, acordei banhada em sangue. Estava abortando meu bebê de quatro meses. O Loro estava fazendo um show em Brasília e quem me levou para o hospital foi um dos meus irmãos. Quando despertei da anestesia tive um acesso de fúria e foram obrigados a chamar duas enfermeiras para me segurar. Eu gritava, chorava e tentava bater nas pessoas. Um horror esse episódio da minha vida. Apesar da anestesia geral que tive que tomar para poder fazer uma curetagem, dois dias depois já ensaiava um novo show com o músico nordestino Flaviola e retomava a minha vida profissional. O casamento acabou mesmo. Quando eu e o Enzo nos encontramos em São Paulo, e ele ficou sabendo que eu havia perdido a criança, me disse que estava me devendo um filho. Vivemos uma história de amor linda! Capítulo VII Chico Buarque: o Padrinho Na temporada de Ópera do Malandro, conheci Chico Buarque e, por intermédio dele, assinei contrato com a Polygram para gravar meu primeiro LP: Bandeira, lançado em 1980. Jamais havia pensando em ter uma carreira fonográfica, mas apaixonada por música como sempre fui (no disco, além de cantar, toco flauta) e casada com Enzo Merino, que era músico, não poderia perder a oportunidade. Embora deva admitir não ter a menor personalidade musical na época. Até então eu cantava com a voz dos meus personagens no teatro ou no cinema e isso, em disco, resultou meio estranho: cada faixa parece ter uma cantora diferente. É um belo trabalho, mas não repercutiu. Bandeira é muito conceitual, um disco de sátira política e muito teatral. Tem até uma música do Tavinho Moura que faz parte da trilha sonora do filme Cabaret Mineiro, de Carlos Alberto Prates Correia, cuja letra é o poema de Carlos Drummond de Andrade. Minha personagem, nesse longa-metragem, era a dançarina espanhola e, por essa atuação, ganhei o Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Gramado em 1981, meu primeiro prêmio em cinema. O filme ganhou diversos outros prêmios, entre eles o de Melhor Filme. O protagonista era Daniel Dantas e no elenco tinha Louise Cardoso, em começo de carreira, Tamara Taxman, Zaira Zambelli e diversos atores de Minas, onde o filme foi rodado. O sucesso como cantora experimentei anos mais tarde quando gravei a chula Amor de Matar (de Roberto Mendes e Jorge Portugal) – lançada no meu terceiro LP, Dona de Mim – que fazia parte da trilha sonora da minissérie Tenda dos Milagres (baseada na obra de Jorge Amado), na qual também trabalhei como atriz. A música Amor de Matar estourou no Nordeste e, graças a ela, tenho um público muito grande por lá até hoje. Para um artista ter uma música nas rádios é um enorme prazer: você entra no supermercado ou está dirigindo seu carro e, de repente, ouve a sua canção tocando. Viaja para fazer um show e, quando chega lá, estão todos cantando com você... É uma delícia! Cheguei a gravar dois discos na Bahia (Folias Tropicais e Humana) com diversos compositores da região. Fui uma das primeiras cantoras a gravar Carlinhos Brown e samba-reggae, o ritmo dos blocos afro que muitos chamam de axé. Essa minissérie me deu dois grandes prazeres: o sucesso em disco e Ana Mercedes, minha perso nagem – uma jornalista, consciente da discriminação da comunidade negra, que lutava para mudar esse quadro. Ela decide, então, fundar o jornal Tenda dos Milagres, especialmente criado para difundir suas ideias antirracismo. Ao longo da história, ela acaba se envolvendo com Pedro Arcanjo, vivido pelo sempre excelente Nelson Xavier, o grande amor da sua vida. Mas vamos voltar ao Bandeira: assim que terminei de gravar esse meu primeiro disco, fui convidada para interpretar a personagem Bárbara, protagonista do musical Calabar, também do Chico Buarque – desta vez em parceria com Ruy Guerra. Essa peça, a primeira experiência do Chico como autor teatral, havia sido censurada em 1974 pelo regime militar, poucos dias antes da estreia no Rio de Janeiro. Além de vetar o espetáculo, proibiram a imprensa de falar sobre o assunto. Os produtores – o casal Fernanda Montenegro e Fernando Torres – tiveram um prejuízo enorme. A peça foi liberada somente seis anos mais tarde e nessa segunda montagem, em São Paulo, o elenco era formado também por Sérgio Mamberti, Othon Bastos, Marta Overbeck, entre outros, com direção de Fernando Peixoto. Para esse musical, Chico Buarque compôs músicas que ficaram famosas e importantes como Fado Tropical, Não Existe Pecado ao Sul do Equador, Cala a Boca, Bárbara e Tatuagem, uma das minhas preferidas, tanto que dezenove anos depois a incluí no CD Coração de Bolero (lançado em 1999). A letra é deslumbrante: Quero pesar feito cruz nas tuas costas/Que te retalha em postas/Mas no fundo gostas... De tanto que chorei, jamais vou esquecer o dia em que gravei Tatuagem. Prestando muita atenção à gravação, acho até que dá pra perceber o quanto eu estava emocionada. Essa peça musical contava a história do soldado Calabar, um homem que durante a invasão holandesa em Pernambuco negou-se a lutar a favor dos portugueses porque acreditava que os holandeses poderiam trazer ao país um governo mais livre e mais humano, menos opressivo e escravocrata. Por isso, considerado traidor da pátria, foi morto e esquartejado. Só saí do espetáculo no sétimo mês de gravidez do Leonardo, o filho que Enzo havia me prometido no dia em que nos reencontramos em São Paulo. Quando meu filho nasceu fiquei em casa amamentando até ele ter seis meses. Como não conseguia ser a mãe e esposa tradicional, acompanhava meu marido em gravações e shows do grupo Raíces de América, do qual ele era um dos líderes. Enzo era chileno e conhecia profundamente o folclore andino e latino-americano em geral. Com ele aprendi a tocar charango e foi ele também quem me apresentou Violeta Parra, Mercedes Sosa, Victor Jara... Aos poucos, de brincadeira, comecei a compor. Ele fazia as músicas, eu as letras. Não me considerava compositora, mas a minha personalidade como cantora começou a se definir na medida em que eu passei a escrever o que eu ia dizer. Compondo, descobri como me comunicar com as pessoas sem personagens. Desse nosso casamento profissional nasceu o show Tentação com direção musical dele e cinco músicas nossas. Eu estava meio nordestina e o Enzo, latino-americano. Então nasceram forrós pan-americanos, ou seja, juntamos o pique do forró com outros ritmos que têm o mesmo espírito, como a cúmbia, a salsa e a guajira. Ficamos em temporada no Opera Cabaret, no bairro da Bela Vista em São Paulo. Pena não termos, naquele momento, maiores recursos de produção e divulgação. Mas quem viu não esquece! Era um escândalo! Virou um programa cult na cidade. Era uma loucura deliciosa! Uma grande festa abrindo as fronteiras. Dessa mistura toda surgiu um disco com a mesma proposta musical, Novos Sabores, lançado pela Polygram em 1983, com diversas músicas da parceria Enzo Merino e Tania Alves. O tema de amor de Anayde Beiriz, minha personagem no filme Parahyba Mulher Macho, de Tizuka Yamasaki, é uma composição da dupla e está gravada nesse LP. Acho que sou uma das únicas artistas da minha geração que conseguiu construir uma carreira de atriz e de cantora paralelamente. Não foi nada fácil. Naquela época os artistas brasileiros tinham que optar entre cantar e atuar. As duas coisas era sinal de oportunismo. Fulaninha tá se aproveitando do sucesso na televisão para lançar um disco... Atriz que canta é uma categoria à parte. Marília Pêra, por exemplo, canta, mas gravou muito pouco e não tem uma carreira de cantora desvinculada da de atriz. Elba Ramalho, com quem trabalhei muito no teatro, optou pela música. Lucinha Lins, que participou de festivais de música, gravou jingles, atua em musicais e shows, é muito mais conhecida pelo público como atriz e tem apenas dois discos gravados. Zezé Motta é mais um exemplo de atriz que canta, tem vários discos gravados, mas é mais conhecida por sua atuação no cinema e na televisão. Na verdade, a cobrança por uma opção sempre foi muito grande e não era nada fácil conciliar as duas coisas. No meu caso é diferente. Algumas pessoas não sabem que sou atriz porque me conhecem apenas como cantora. É verdade que, em determinado momento da minha carreira, abri mão de atuar para investir mais na música. Nessa fase nenhum papel era irrecusável. Na minha cabeça não estava abandonando a atriz, apenas queira cada coisa a seu tempo. Acabei por me afastar das novelas e do teatro. Por outro lado, a geração que me descobriu em trabalhos na TV, fica surpresa quando me ouve cantar, já que só conheciam a Tania Alves atriz. Para mim, a criação e a expressão são livres. Essa é a minha verdade, por isso jamais tive minha autoconfiança abalada. Acho, sim, que tenho uma carreira bastante equilibrada com bons e importantes trabalhos no cinema, no teatro, na televisão e mais de 20 discos lançados. Sem falsa modéstia, me orgulho disso. Minha mãe conta que, antes de eu começar a falar, eu já cantava no berço. Acho que minha carreira de cantora começou quando eu nasci. Capítulo VIII Travessa Veloso Guerra Depois que ganhei o prêmio por Cabaret Mineiro choveram propostas de trabalho. Aceitei fazer O Olho Mágico do Amor, o primeiro longa-metragem do José Antônio Garcia e Ícaro Martins. Filmamos com o pessoal da Boca do Lixo em São Paulo. Era 1981 e nessa época todas as produções nacionais tinham cenas de sexo e muita nudez para ter apelo comercial. Foi o primeiro trabalho em cinema da Carla Camurati. A personagem dela era uma garota de 17 anos que ia trabalhar num escritório na Boca do Lixo e lá descobria um buraco na parede por onde podia espiar o quarto da prostituta Penélope, interpretada por mim. Aliás, no final do filme elas acabam transando. Tem também outra cena bem forte no filme em que eu tenho que introduzir uma vela no ânus de um cliente e, embora só as sombras da ação apareçam, o Zé Antônio disse, depois que terminamos de rodar, que nem Ingrid Bergman faria aquilo com tanta dignidade. Mas recusei uma cena do roteiro em que tinha que colocar um pênis em mim e simular sexo com um homem. Embora como artista eu não tenha pudores, não consegui fazer essa cena. Por esse trabalho ganhei o Prêmio APCA de Melhor Atriz. Adoro esse filme. Acho um trabalho superatual: meio Quentin Tarantino, meio trash. Não no sentido ruim da expressão. É um filme baixo mundo, underground, despudorado... Era muito gostoso trabalhar com o Zé Antônio. Era fácil, não me sentia sendo dirigida. É uma pena o Zé Antônio – diretor talentoso, criativo e delicado com os atores – ter morrido tão novo, no final de 2005, e deixado tão poucos filmes como legado. Uma curiosidade dessa produção é que os diretores não tinham dinheiro para filmar, então procuraram produtores de pornochanchadas e ofereceram O Olho Mágico como se fosse um filme pornô. Quando os produtores descobriram que não se tratava de um filme pornô, começaram a exigir mais e mais cenas de sexo e queriam que o filme se chamasse O Buraco do Amor. Mesmo assim o Ícaro e o Zé conseguiram fazer um filme maravilhoso e muito premiado. Logo em seguida, a mesma dupla de diretores rodou o filme Onda Nova, também com a Carla como protagonista. Aqui eu cantava várias músicas, mas minha personagem era pequena. De qualquer modo sempre adorei trabalhar com Zé Antônio que, além de excelente diretor, era um amigo muito querido, supercriativo e generoso. Até morou uns tempos na minha casa. Minha casa é modo de falar. Na verdade era a nossa casa. Imara Reis, Denise Stoklos, Mirna Grzich e eu morávamos juntas e, nos fundos desse sobrado na Travessa Veloso Guerra, no bairro da Bela Vista, em São Paulo, tinha uma edícula que alugávamos para ajudar nas despesas. Por lá passaram inquilinos como Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé... E Zé Antônio Garcia também. Essa casa era praticamente um centro cultural de malucos-beleza!!! Final da década de 1970... Rolava de tudo nessa casa: drogas, sexo e muito mais do que só rock and roll. Deixe sua imaginação criar um filminho de como era viver ali nessa fase e com essas pessoas... Imaginou? Era pior. No bom e no mau sentido. Mas muito divertido! Os artistas underground do momento reuniam-se todos lá. Não tinha hora pra nada. Atravessávamos as noites conversando, rindo e bebendo... Lembro que contratamos um empregado baiano, que cozinhava maravilhosamente bem, na esperança de que ele botasse um pouco de moral no ambiente e organizasse tudo. Nada! Ele também pirou e entrou na bagunça. A Travessa Veloso Guerra merece um livro só com suas histórias. Muita gente interessante morou ali. É uma rua bonita, uma ladeira que começa na Rua dos Franceses e desce até a Rua Almirante Marques de Leão. É cheia de casinhas de tijolo aparente. Um charme! Esse lugar foi cenário de vários comerciais de televisão e também de alguns filmes e novelas. Quem me convidou para morar lá foi Imara Reis, minha querida amiga até hoje. Ela, Denise e Mirna estavam procurando alguém para dividir o aluguel e eu topei. Conhecia Imara do Rio. Fizemos a mesma faculdade, só que nessa época eu tinha um pouco de medo dela. Imara fumava, tinha os cabelos pintados de loiro… Era intelectual, militante política, totalmente independente e não era mais virgem. Eu, comparada a ela, era praticamente uma retardada. Além de virgem, é claro. Seguimos nos encontrando pela vida e nos tornamos grandes amigas, apesar de muito diferentes. Imara é aquariana e eu sou virginiana. Se você entende um pouco de astrologia tire suas conclusões. Falando em horóscopo, tenho tentado contar minha história de maneira cronológica porque, como todo virginiano, sou metódica e organizada. Devo admitir, no entanto, que não sou muito precisa em datas – talvez porque minha vida profissional tenha sido sempre muito diversificada. Fiz muitas coisas ao mesmo tempo, morei no Rio, em São Paulo, em Nova York... Nós artistas temos uma vida nômade mesmo! Somos meio ciganos. Embora hoje eu tenha uma estrutura de vida muito mais definida, continuo sempre na estrada: faço shows pelo Brasil inteiro; tenho meu spa em Friburgo e moro no Rio. É uma loucura! E eu adoro! Capítulo IX Tania Maria Bonita Alves Agora que já disse que não tenho o compromisso de ser precisa com datas e que já contei um pouco da minha trajetória, vamos conversar sobre a personagem que foi a principal responsável pela minha... Posso dizer decolagem? Ok. Devo a ela a minha decolagem como atriz! Maria Bonita, da minissérie Lampião e Maria Bonita, dirigida por Paulo Afonso Grisolli e Luís Antônio Piá para a Rede Globo em 1982, foi o papel que me deu o grande reconhecimento popular, além do prêmio APCA de Atriz de Televisão, entre outros. Eu já havia feito pequenas participações em especiais e programas de televisão, alguns bastante elogiados como Morte e Vida Severina, com direção de Walter Avancini, ao lado do Zé Dumont e Elba Ramalho – esse programa ganhou o Emmy Internacional, considerado o Oscar da televisão, em 1982. Elba e eu também trabalhamos numa versão para o cinema do Morte e Vida com direção do Zelito Vianna em 1977, premiado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que foi censurada pelo governo militar. A minissérie escrita por Aguinaldo Silva e Doc Comparato, que contava a história do casal Maria Bonita – minha primeira protagonista na televisão – e Lampião, magistralmente interpretado por Nelson Xavier, fez um sucesso absurdo e eu ainda não havia passado por essa experiência. Eu conhecia apenas o prestígio profissional, o reconhecimento através dos prêmios que ganhei por trabalhos em cinema e teatro, nos quais o alcance do seu trabalho é muito menor. Não sabia como era ser apontada na rua, dar autógrafos e ser famosa... No dia da estreia da minissérie, 26 de abril de 1982, eu estava fazendo um show em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Quando acabou a apresentação e saí do teatro, havia uma multidão querendo ver a Maria Bonita. A repercussão do seu trabalho na televisão é instantânea. Nelson Xavier e eu havíamos trabalhado juntos em O Mágico e o Delegado com roteiro e direção de Fernando Coni Campos. Nesse filme, Nelson é o mágico Don Velásquez e eu a sua partner, Paloma. Ambos chegam a uma pequena cidade do interior da Bahia para apresentar um espetáculo de mágica e números de canto e dança. O delegado local não permite a estreia e ainda manda prender o mágico. Assim começa esse longa-metragem que foi, sem dúvida, um dos que mais gostei de fazer. Nelson é um grande ator! Nossa química no set de filmagem sempre foi muito boa. Moramos uns dois meses em Castro Alves, interior da Bahia, filmando. Esse foi o último trabalho que Fernando dirigiu. Infelizmente ele morreu muito jovem, aos 54 anos. Quando voltou para o Rio de Janeiro, Nelson foi logo convidado para viver o Lampião. A direção da emissora queria a Sônia Braga no papel de Maria Bonita, mas ela estava impossibilitada por causa de algum outro trabalho. O Nelson então falou de mim para o Grisolli, um dos diretores da minissérie, só que o Boni não gostou nada da ideia. Eu havia participado do programa O Planeta dos Homens, mas fui dispensada porque não correspondia ao padrão de beleza que a Rede Globo exigia naquela época. Graças a Deus Daniel Filho saiu em minha defesa dizendo que conhecia meu trabalho, que eu era talentosíssima, que eu arrasaria etc. e tal... Ganhei o papel e conquistei também a admiração do Boni, que andava pelos corredores da Rede Globo com uma foto minha caracterizada de Maria Bonita e mostrava para as pessoas todo orgulhoso. Também gosto muito dessa foto e do meu trabalho na minissérie. Tenho muito orgulho de Lampião e Maria Bonita. Acho que é um dos pontos altos da teledra maturgia brasileira e é a primeira experiência da Rede Globo no formato minissérie – razão de este projeto ter sido tratado com muito cuidado em todas as etapas da produção. Autores, diretores e produção visitaram as regiões em que o cangaço imperou, percorrendo de Jeremoabo, na Bahia – município onde Lampião e Maria Bonita se conheceram –, até Grota do Angico, em Sergipe, onde os dois foram mortos e degolados. Os principais locais por onde a dupla passou com seu bando viraram locações da minissérie. Para a maquiagem, foi convidado Jaques Monteiro, profissional conhecido por trabalhos no cinema, como Dona Flor e Seus Dois Maridos, A Dama do Lotação, Rio Babilônia e Fitzcarraldo, do alemão Werner Herzog. Este foi o primeiro trabalho dele em televisão. A criação dos figurinos envolveu diversos profissionais e muita pesquisa. Eles constataram, baseados na indumentária, que os cangaceiros eram muito vaidosos. Suas roupas mostravam suas glórias, eram carregadas de adornos, até mesmo suas armas eram enfeitadas. As roupas eram todas bordadas e o artesanato que produziam em couro era extremamente sofisticado. Cerca de 100 profissionais ficaram um mês no Nordeste para realização da minissérie. Para que o equipamento suportasse o calor e as árduas condições de trabalho, foram montadas duas unidades portáteis: uma de supervisão e outra de manutenção. Uma das unidades estava sempre revisando os equipamentos. Durante as gravações ficamos hospedados em Paulo Afonso, na Bahia, e de lá viajávamos para as locações nos sertões de Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Eu acordava sempre às 4 horas da manhã para me preparar e cuidar de todos os detalhes. Dava um trabalho enorme a minha caracterização de época e aquelas ondinhas que tinha que fazer no cabelo. Eu também era muito branca e tinha que maquiar o corpo todo. Às 6 horas o resto da equipe chegava e o trabalho iniciava. Eu tinha uma sensação muito difícil de descrever quando me via vestida de Maria Bonita. Olhava o Nelson Xavier vestido como Lampião e via os demais atores, também caracterizados, todos nós no meio da caatinga... Era como se estivéssemos realmente vivendo aquela vida, como se tudo aquilo fosse real. Uma vez, num intervalo de gravação, uma senhora da figuração, bem mais velha, conversou muito tempo com Nelson achando que estava realmente falando com Lampião. Esse clima realista ficou de certa maneira impregnado nas nossas atuações e no trabalho como um todo. Eu, na verdade, tenho muito pouco de Maria Bonita: sou carioca. Ela, baiana. Além disso, somos pessoas de universos e formação muito diferentes. Talvez a nossa única semelhança seja a entrega passional ao amor. Em 1929, Maria Déa, a Maria Bonita, então com 19 anos de idade, largou o marido sapateiro para seguir a paixão da vida dela: Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que era cangaceiro. Ela admirava esse homem e eu, Tania, também tenho que admirar o meu homem para me apaixonar por ele. Sou uma mulher romântica e homem pra mim tem que ser meu herói. O engraçado nisso tudo é que quando eu era criança, papai, pernambucano, não contava as fábulas de Branca de Neve, Bela Adormecida, Os Três Porquinhos... Ele passava a noite pelo meu quarto para narrar histórias de Lampião e mentia dizendo que ele também fazia parte do bando de cangaceiros. Cresci com Virgulino Ferreira no meu imaginário e, pra mim, ele era quase um superherói, um tipo de Robin Hood, que roubava os comerciantes e fazendeiros e distribuía parte do dinheiro para os mais pobres. Para encarnar Maria Bonita fiz trabalho de composição: estudei o sotaque baiano, pesquisei tudo que havia sobre o casal e, assistindo aos documentários que a Rede Globo forneceu, percebi que eles tinham um ego enorme. Numa cena de um dos documentários, Lampião olha diretamente para a lente da câmera e Maria Bonita ajeita o cabelo e a roupa dele. Ambos eram muito vaidosos. Tive que engordar 8 quilos para ficar mais parecida fisicamente com as mulheres daquela época. Depois criei um andar para ela e lhe dei um porte de rainha, uma altivez que acredito que ela tivesse. Geralmente me aproximo das personagens, descobrindo o jeito como elas se movimentam no ambiente delas. Aí vem o texto, a personalidade, as conversas com o diretor e, de repente, a personagem manda, conduz, flui. Você passa a ser apenas um instrumento, um corpo para ela. Esse trabalho me levou ao estrelato: muitas entrevistas, capas de revistas, convites para festas, ofertas de trabalho, comerciais de televisão... Todo mundo queria conhecer melhor a Tania Maria Bonita Alves. Certa noite, jantando com amigos em um restaurante no Rio, uma senhora se aproximou de mim dizendo ser médium. Disse que Maria Bonita estava muito feliz com a maneira como eu a retratei na televisão. Outra grande emoção que tive graças à Maria Bonita, aconteceu num voo de ponte aérea: alguém, de repente, cutuca meu braço e passa um papelzinho. Achei que fosse um pedido de autógrafo, mas era um bilhetinho muito carinhoso assinando assim: sua filha. Olhei para trás e era Expedita, filha do casal Lampião e Maria Bonita. Tive uma crise de choro no avião. Trocamos telefones e falamos algumas vezes. Verinha, neta do famoso casal, tornou-se minha amiga. Meu spa em Friburgo, onde passo grande parte do meu tempo e recebe minha dedicação especial, chama-se Maria Bonita. Tenho muito amor e respeito por essa personagem. Ela foi muito generosa comigo. Logo em seguida a mesma equipe bem-sucedida de Lampião e Maria Bonita foi chamada para um novo trabalho: Bandidos da Falange, que retratava o problema da criminalidade urbana e contava a história da famosa Falange Vermelha. Tivemos problemas com a censura. A minissérie foi adiada por cinco meses e só foi liberada com cortes. Minha personagem, Glória, era casada com o manobrista Valdir, o ótimo Zé Dumont, principal suspeito de um crime que na verdade não cometeu. Aguinaldo Silva utilizou sua experiência de dez anos como repórter policial para escrever a trama dessa minissérie ambientada na Baixada Fluminense e na Zona Sul do Rio de Janeiro. O grande destaque desse trabalho foi o ator José Mayer, em seu primeiro papel de peso na televisão. Ele compôs um bandido romântico e foi muito elogiado por seu desempenho. Capítulo X A Paixão É a Minha Bússola Ao terminar as gravações de Lampião e Maria Bonita fui convidada para os testes do filme Parahyba Mulher Macho da diretora Tizuka Yamasaki. Todas as estrelas da época foram testadas, incluindo Vera Fischer, Lucélia Santos e Christiane Torloni. Não sei se é boato, mas soube que Sônia Braga não quis fazer o filme porque teria de cortar o cabelo em cena – se for verdade, essa é a segunda personagem que ela não aceitou e que eu fiz com enorme repercussão. A cena do corte de cabelo existe, sim, no filme. Anayde Beiriz, a protagonista, entra numa barbearia e ordena que cortem seu cabelo. Uma cena linda! Os cabelos longos que eu usava na época foram cortados à la garçonne logo no início das filmagens. Quando a diretora me ouviu lendo uma cena do roteiro decidiu que eu seria Anayde. Não cheguei nem a fazer os testes de vídeo. O filme foi um grande sucesso de bilheteria. Lembro de passar em frente aos cinemas de Copacabana e ver filas enormes na rua. Ganhei prêmios de Melhor Atriz nos festivais de Cuba e Cartagena. E o filme venceu os festivais de Brasília, Cartagena e Biarritz. Para encontrar a alma da paraibana libertária Anayde Beiriz, pivô involuntário da Revolução de 30, na Paraíba – depois de ver sua honra lavada com sangue pelas mãos do amante João Dantas, assassino do governador João Pessoa –, me inspirei em mulheres como Patrícia Galvão, a Pagu, e Leila Diniz. Não foi fácil trabalhar com Tizuka. Naquele tempo não existiam os preparadores de elenco e tudo era responsabilidade do diretor. Eu tinha muita dificuldade com o modo como ela me dirigia. Na maioria das vezes me apontava apenas o negativo, dizendo que eu estava no caminho errado, só que eu não conseguia perceber qual era o correto. Mesmo com todos os problemas que tive, admiro muito o trabalho da Tizuka. É impressionante vê-la num set de filmagem comandando a equipe. Algumas cenas do Parahyba, com uma multidão de figurantes, foram dirigidas com o filho dela mamando no peito. Era assim: o bebê num braço e o megafone no outro. Acho que essa imagem traduz a força da Tizuka. Com Cláudio Marzo, que fazia o João Dantas – meu amante no filme – a relação também não era nada tranquila. Não existia um entrosamento especial entre nós dois e o filme é cheio de cenas de sexo do casal. Imagine minha situação! Sentia-me muito sozinha nesse trabalho e, quan do revejo minha atuação, me acho um pouco over – talvez por conta do meu temperamento passional e da minha formação teatral. A minha escola era o teatro musical, cantar sem microfone em teatros grandes. Até eu aprender que cinema exige um relaxamento facial e que a atuação está toda no olhar... Mas tive muita sorte nesse momento da minha carreira: vinha de um enorme sucesso na televisão e consegui emplacar outro sucesso no cinema quase simultaneamente. Meu segundo LP, Novos Sabores, também foi lançado nessa onda. De repente parecia que Tania Alves estava em todos os lugares. Até na capa da revista Playboy de dezembro de 1983, que publicou um ensaio meu feito pelo fotógrafo Antônio Guerreiro. Ao lado da minha foto, escrito embaixo do meu nome, lia-se a seguinte frase: A estrela sexy do ano. Rótulos são sempre limitadores para um ator, mas ser eleita símbolo sexual, para quem já tinha perdido trabalhos por não ter um padrão de beleza convencional, foi de certa forma uma vitória. De qualquer maneira era um carimbo e ele acabou me atrapalhando um pouco. Com o estouro do Parahyba no Brasil inteiro começaram a chegar convites de políticos, governadores, prefeitos querendo prestar homenagens e eu dizia placidamente: Infelizmente não posso, muito obrigada. Eu tenho um show nessa data... Para mim a recompensa pelo trabalho benfeito era mais trabalho. Novos projetos que me apaixonassem. Sempre fui movida pela paixão. A paixão é a minha bússola. Não me tornei artista para ser famosa. Sou artista porque a arte é minha maneira de expressão. Claro que todos nós buscamos o sucesso, mas nunca fiz isso calculadamente e talvez nem tenha aproveitado bem as oportunidades. Não sabia capitalizar e administrar o sucesso. Não me arrependo porque acredito que em tudo há um aprendizado: muito mais difícil do que decolar é manter o avião voando! Mas o ponteiro dessa bússola na escolha dos caminhos a seguir também pode fazer das suas. Quando Jô Soares assistiu ao espetáculo Dois Pontos, foi ao meu camarim e, encantado com o meu trabalho, disse que escreveria uma peça para fazermos juntos. Adorei a ideia! Uma peça eu e Jô Soares!!! O tempo foi passando, ele me ligava eventualmente, nos encontrávamos para falar sobre o projeto... Até que certo dia tocou o telefone e era o Jô dizendo que o texto estava pronto e que ele queria começar os ensaios. Chamava-se Brasil da Censura à Abertura baseado no anedotário político do jornalista Sebastião Nery. Lembra daquela história do reencontro com Enzo Merino, em São Paulo, que contei capítulos atrás? Pois é, foi naquela fase. Nem sei o porquê, mas fiquei com vergonha de falar que estava grávida e que a tal bússola da paixão indicava que eu deveria ficar curtindo o casamento e a gravidez – e foi isso que eu fiz! Menti pro Jô dizendo que não poderia fazer a peça porque estava me dedicando exclusivamente à carreira de cantora. Ele convidou Marília Pêra para o meu papel. Marília ganhou vários prêmios. No elenco tinha também Marco Nanini, Geraldo Alves e Sylvia Bandeira. Olha só o que perdi! Mas não me arrependo, porque troquei esse trabalho por outro muito mais apaixonante: meu filho Leonardo! Capítulo XI O Tititi das Novelas Para muita gente, o auge da carreira de um ator brasileiro é a telenovela da Rede Globo. Tem uma história engraçada de uma colega de profissão que ouviu uma vizinha comentar que duvidava que ela fosse realmente atriz porque nunca a tinha visto na televisão. Mas eu já fiz duas novelas!!!, disse ela para a tal vizinha. E teve que ouvir: Na Globo, não. Não me recordo de ter passado por isso, mas minha mãe, que em princípio tinha um pouco de vergonha da minha profissão, mudou de opinião quando eu comecei a ter meu talento reconhecido e a atuar mais em televisão e chegar, finalmente, à minha primeira novela: Tititi, de Cassiano Gabus Mendes, com direção de Wolf Maya. Participar dessa produção consolidou minha popularidade. Como já contei, o sucesso de Lampião foi enorme, mas ainda que inesquecível o trabalho não passou de oito capítulos exibidos às 10 horas da noite. Tititi teve quase duzentos capítulos e era uma novela das 7, com excelentes índices de audiência. Lembro desse trabalho com muito carinho, principalmente porque Clotilde foi minha primeira personagem urbana: a trama da novela se passava no mundo da moda, em São Paulo. Agradeço essa oportunidade ao Wolf Maya, que me escalou para interpretar a secretária elegante e sofisticada do costureiro da alta sociedade paulista, Jacques Léclair (Reginaldo Faria). Até então eu só havia feito personagens rústicas, de época, com sotaque. O grande barato do ator é fingir, é ser algo completamente diferente do que ele é. Não gosto que me prendam a um único tipo. De qualquer forma, sei que minha brasilidade é uma marca registrada, mas eu gosto da liberdade de poder mudar, de experimentar. Eu gosto de fazer coisas sempre bem diferentes. De início, criei uma Clotilde meio Greta Garbo: misteriosa e muito chique! Mas assistindo ao primeiro capítulo percebi que não aguentaria passar a novela inteira daquele jeito. Então, para que eu me divertisse fazendo esse papel, resolvi que ela teria um pé na vulgaridade, um lado meio bagaceiro que vez por outra apareceria revelando sua verdadeira origem. Isso deu muito certo, não só internamente – Reginaldo e eu ríamos muito –, mas também para os telespectadores que adoravam a dupla. Quase no final da novela o grupo de pesquisas da Rede Globo fez uma enquete com o público para decidir quem ficaria com o galã: Clotilde, a amante, ou Jacqueline (Sandra Bréa), a noiva? A aceitação popular de Clotilde surpreendeu a todos porque ela era a vilã da trama, mas o público ria das maldades que ela arquitetava e sua sofisticação e elegância não passavam de verniz. Apesar das características – fofoqueira e mentirosa – minha personagem foi eleita para a maior de todas as recompensas, que só acontece no último capítulo das novelas: o casamento! Pois é, Clotilde desbancou Jacqueline, a noiva de Jacques Léclair. Em 1985, a televisão não era tão liberal como hoje e a produção de Tititi teve problemas com a censura por causa de algumas cenas protagonizadas pelo casal Clotilde e Jacques Léclair. Embora todas elas fossem muito ingênuas, o autor começou a escrever sobre as fantasias sexuais da dupla: Clotilde, toda chamuscada, pedindo socorro porque seu apartamento estava em chamas e Jacques aparecendo vestido de bombeiro. Em outro capítulo ela era uma camponesa e ele o lobo mau... Poucas cenas como essas com apelo levemente erótico foram exibidas, mas a repercussão foi excelente. O autor, para driblar a patrulha moralista, escrevia cada vez mais sutilmente e nós, Reginaldo e eu, apimentávamos um pouco no estúdio, com nossa atuação cheia de sutilezas. Viver um mau-caráter na ficção pode ser uma espécie de exorcismo para o ator. É necessário desconstruir-se e dar passagem à personagem guardada dentro de você. Todos nós somos múltiplos. Pensamos não ter certas características, mas se formos buscar bem lá no íntimo a gente acaba achando. O fundamental é não julgar quando se está atuando. Se o ator souber aproveitar pode ser terapêutico viver persona-gens tão distantes e capazes de praticar coisas que você jamais faria. Para Maria Bonita, por exemplo, matar ou não matar alguém era quase indiferente. Eu, Tania, não poderia brigar com esse pensamento dela ou ter algum tipo de pudor em relação aos métodos de conquista pouco ortodoxos de Clotilde. O tema – Dança do Amor – da minha personagem era cantado por mim e, como estava lançando meu terceiro LP (Dona de Mim), convidei o Wolf para dirigir o show que estreou no Teatro Casa Grande no Rio de Janeiro. Concebemos juntos vários números musicais para esse espetáculo: uns engraçados, outros românticos e também sarcásticos e dramáticos. Um, em especial, me marcou: eu tocando acordeão e cantando o tango Veias Abertas, da Cátia de França. Quem olhasse da plateia me via nua, calçando apenas sapatos de salto alto porque o acordeão escondia o maiô que eu usava. Não era somente uma cena bonita. Era forte e vigorosa. E em seguida eu cantava O Funeral de um Lavrador, do musical Morte e Vida Severina. Só tenho boas recordações da novela Tititi e dessa época da minha vida. O clima das gravações era ótimo e os colegas de elenco, todos maravilhosos: Marieta Severo, Luís Gustavo, Natália Thimberg, Malu Mader, Aracy Balabanian, Yara Cortes, Lúcia Alves, José de Abreu, Tato Gabus Mendes, Adriano Reys... E, para melhorar ainda mais, foi nessa fase que conheci Tadeu Viscardi, o homem por quem me apaixonei, com quem casei e com quem divido, até hoje, a sociedade no Spa Maria Bonita. Pensamos que é impossível ter tudo ao mesmo tempo: trabalho, sucesso, amor… Mas isso acontece, sim. Aconteceu comigo. Capítulo XII Meu Grande Companheiro: Tadeu Viscardi A base de produção do longa-metragem Parahyba Mulher Macho ocupava algumas salas dentro de uma academia de ginástica na Lagoa, Rio de Janeiro. O elenco principal do filme podia frequentar as aulas e utilizar os aparelhos gratuitamente. Como filmaria nua muitas cenas, resolvi ganhar um pouco de massa muscular e, sempre que tinha tempo livre, depois dos ensaios, ficava por lá treinando. Certo dia um dos produtores do filme me apresentou a um dos donos dessa academia: Tadeu Viscardi. Eventualmente encontrava com ele, mas nunca falava nada além de bom-dia ou boa-tarde, como vai e tudo bem? O filme começou a ser rodado em Recife, Pernambuco, e quando retornei para o Rio não fui mais à academia. Tempos depois, Paulinho, sócio de Tadeu, telefonou me convidando para conhecer a nova sede que eles estavam abrindo no Leblon. Scrett era o nome desse novo espaço. Ele me ofereceu uma cortesia e disse para levar alguns colegas da novela Tititi. Como morava perto da academia, com meus dois filhos, comecei a malhar lá. Na época, eu tinha um secretário, meio gordinho, que pediu para eu conseguir uma cortesia para ele também e lá fui eu batalhar o tal presente com o Paulinho. Fale com o meu sócio, Tadeu. Ele é quem cuida desses assuntos. Ok, respondi e fui procurar Tadeu. Quando cheguei à sala dele, ele foi simpático, mas estava superocupado e disse que telefonaria para mim mais tarde. Algumas noites depois ele ligou e apareceu lá em casa, de moto, para bater um papo. Até então, Tadeu era quase invisível para mim, talvez por ser de um mundo diferente do meu, um homem mais sério e fechado… O que é um absurdo, já que ele é um homem realmente muito atraente, de uma beleza clássica, uma pessoa muito especial. Conversamos um pouco em frente ao meu prédio e ele me convidou para tomar alguma coisa. Quando subi na moto, percebi que, além de um rosto muito bonito, ele tinha um corpo todo trabalhado. Sendo bem sincera: tirei umas casquinhas montada na garupa enquanto ele procurava um lugar tranquilo para conversarmos. Terminamos indo para a academia, onde ele estava morando. Conversamos muito, falamos da vida e ele me contou que queria dar uma badalada na academia promovendo alguns eventos. Foi pintando um clima… Nós dois estávamos separados e começamos a sair juntos. Tadeu telefonava, convidava e eu aceitava sem pensar em algo mais sério. Vivia uma fase muito produtiva profissionalmente e não queria compromissos além de cuidar dos meus dois filhos. Meu disco Dona de Mim estava pronto e eu queria fazer um lançamento diferente, num local descolado. Tadeu acabou oferecendo as instalações da academia. A festa realmente aconteceu lá. Usamos várias salas, fizemos uma decoração linda, pista de dança, performances, celebridades… Um sucesso! Aos poucos, nossos encontros ficaram mais frequentes e logo nos víamos diariamente. Após uns seis meses, mais ou menos, ele me convidou para ser sua sócia num empreendimento que estava desenvolvendo: um spa. Adoraria, mas não tenho dinheiro para investir e ele emendou que também não tinha recursos financeiros, mas acreditava que juntos poderíamos dar um jeito, que eu era a mulher da vida dele e que, se eu quisesse, poderíamos viver juntos e ... Costumo brincar que, até conhecer Tadeu, não tinha me relacionado amorosamente com nenhum civil. Os meus namorados e maridos tinham sido todos artistas, músicos… Sempre ligados ao meio artístico e eu acreditava que seria difícil um cara de outro meio relacionar-se bem comigo. Estava totalmente errada. Tadeu foi, desde o início, um grande companheiro: me deu apoio profissional, lidou muito bem com o meu sucesso, com a minha imagem de símbolo sexual, com os fãs, com o assédio e com tudo aquilo que costuma assustar e aborrecer os maridos. Mais ou menos um ano depois do nosso primeiro encontro, fomos morar juntos. O apartamento onde eu vivia era alugado e a proprietária pediu o imóvel para vender. Tadeu já havia encontrado uma propriedade, em Friburgo, para construir o spa, e todas as nossas reservas seriam utilizadas na compra dessas terras. Assim, fui convencida por ele que seria muito mais econômico morarmos juntos. Obviamente, a essa altura, éramos mais que namorados: éramos sócios, parceiros, cúmplices. Compramos o hotel fazenda onde construímos o Spa Maria Bonita. Foram seis anos de dívidas, passando por situações de grande aperto financeiro. E, para administrar melhor nosso dinheiro, ele tornou-se meu empresário também. Estávamos sempre juntos, mesmo quando eu viajava fazendo shows. Ele foi até meu guarda-costas quando necessário. Depois de um tempo, Tadeu cansou do meio artístico e, como o Spa Maria Bonita necessitava cada vez mais da presença dele, passei a ter outros agentes para cuidar da minha carreira. É difícil ser mulher, mãe, atriz, cantora… Difícil para mim, para os empresários e para os homens com quem vivi. Tadeu foi um grande marido e ótimo companheiro. Tivemos um casamento feliz por catorze anos. E por que nos separamos? Talvez o fato de trabalharmos juntos e vivermos muito em função do spa tenha atrapalhado nossa relação amorosa. Pode ser também que as relações tenham mesmo um começo, o meio e o fim. Apesar de separados, somos sócios no Spa Maria Bonita que é fruto da nossa parceria, da nossa história de cumplicidade e é nosso projeto de vida. Depois do Tadeu tive alguns relacionamentos, mas não me casei mais. Uma parte de mim sempre foi contra o casamento, mas acabei me casando algumas vezes. Quando o casamento começa a virar família me incomoda. Gosto muito mais do romance. Estar sozinha também é gostoso, sou ótima companhia para mim mesma. Mas adoro estar apaixonada. Estou aberta a um novo amor, disponível para a vida e espero que ele aconteça. Capítulo XIII New York/Pantanal/New York Com a popularidade em alta, depois do sucesso da novela Tititi, eu era muito solicitada para fazer shows no Brasil inteiro. Como estava investindo o que tinha e o que não tinha na construção do Spa Maria Bonita, não deixava escapar nenhuma possibilidade de ganhar dinheiro extra. Às vezes fazia dois shows na mesma noite e ter o meu marido, Tadeu, por perto me deixava mais tranquila e segura. Nos anos em que ficamos casados viajamos muito. Ou a trabalho ou em férias, ele sempre foi um excelente companheiro. Por causa da minha agenda repleta de apresentações em lugares dos mais improváveis, fiquei muito tempo longe das novelas. Não sumi da televisão porque estava sempre divulgando meu trabalho como cantora em programas de auditório como da Hebe, do Chacrinha – que eu adorava!!! –, Perdidos na Noite, que Fausto Silva apresentava na TV Bandeirantes. Fiquei quase cinco anos sem fazer novelas me dedicando exclusivamente à carreira de cantora. Nesse período – entre as novelas Tititi e Pantanal – havia morado nos Estados Unidos uns dez meses, no ano de 1988. Fui a convite de empresários americanos que queriam me lançar como artista americana de origem brasileira. Gravei um disco chamado Brasil-Brazil que foi muito bem recebido pelos DJs de lá. O pessoal da gravadora me explicou que, quando se trata de dance music, primeiramente distribuem singles com a música de trabalho para os DJs e, aí, eles testam o som nas pistas de dança. De acordo com a repercussão e aceitação dão uma nota. Meu disco foi avaliado como hot, o que era ótimo. Estava tudo caminhando muito bem: minha música começando a ser executada e alguns pequenos shows programados para associar a voz à minha imagem. Fiquei um tempo aperfeiçoando meu inglês, porque os tais empresários queriam que eu fizesse as entrevistas e os shows apenas falando inglês. Enfim, queriam que eu fosse um produto americano. Só que era tudo tão lento! Eu ficava ansiosa. Recebia convites de trabalho no Brasil e tinha que recusar, ainda que não estivesse efetivamente trabalhando nos Estados Unidos. Na verdade eu ficava aguardando as coisas acontecerem e sentia muitas saudades dos meus filhos, da família e dos amigos. No meio de toda essa insatisfação, a TV Manchete me convidou para apresentar um programa semanal de música: Agita Brasil. Que tentação! Música! Negociei com meus agentes americanos viagens quinzenais para São Paulo onde o programa seria gravado. Eles aceitaram e comecei a viver na ponte aérea Nova York/São Paulo. Nesse programa, que estreou muito bem e logo ganhou alguns prêmios importantes, recebia cantores, instrumentistas e compositores que, além de apresentar seus trabalhos, eram entrevistados por mim. Às vezes eu também cantava com eles e até brincava com a plateia. O programa era gravado no extinto Teatro Zaccaro, no tradicional bairro do Bixiga, em São Paulo Embora tivesse participado de alguns projetos e programas de televisão nos EUA, inclusive junto com os Gipsy Kings, um grupo de música cigana que também estava sendo lançado e fez sucesso mundial, não sentia a evolução do meu trabalho nos Estados Unidos. Meus empresários eram muito perfeccionistas, para não dizer chatinhos. Para dar uma ideia da exigência deles, quando fui convidada para abrir um show do Santana, em Las Vegas, eles não permitiram porque eu ainda não tinha um show todo cantado e falado em inglês. Quase enlouqueci, mas respeitei a opinião deles porque acreditava no profissionalismo da equipe, até que uma bomba caiu no meu sonho americano. Um deles – era um time de 15 pessoas (agentes, advogados, empresários, bookers etc.) – foi preso por promover apresentações com jogadores de basquete amadores. Parece que isso é um crime sério e sem fiança por lá. Resumindo: a equipe se desintegrou e minha carreira ficou abandonada. Decidi, então, que era hora de voltar ao Brasil. No final de 1989, já morando novamente no Rio de Janeiro, gravei e lancei meu sexto LP, Folias Tropicais, e continuei fazendo shows até que o diretor Jayme Monjardim me convidou para encarnar Filó na novela Pantanal. Infelizmente só pude participar da primeira fase da produção porque estava comprometida com uma turnê por diversas cidades americanas. Nesta nova investida nos EUA não havia mais o objetivo de uma carreira internacional ou de ser apresentada como uma artista americana. Na verdade, apenas cumpria uma agenda de shows com repertório brasileiro, músicos brasileiros e cantando em português. Em Nova York fiz muito sucesso. O público adorava e a crítica elogiou muito. John Pareles, do The New York Times, um dos críticos mais importantes dos EUA, falou maravilhas do meu trabalho e até ganhei um apelido de Allan Gershwin, filho do famoso compositor George Gershwin: Jungle Fever. Fiquei seis semanas seguidas em cartaz entre a The Blue Angel e a The Ballroom, ambas em Manhattan, até então a maior temporada de um artista brasileiro na cidade. Cheguei a fazer 38 apresentações em 40 dias! Depois de um desses shows e muitos aplausos, numa madrugada fria, fui para o quarto do hotel insone. Da janela da minha suíte, lá no alto, olhei a cidade coberta de neve. Linda! Iluminada! Lembrei imediatamente de outra janela. A janela do meu quarto no apartamento dos meus pais em Copacabana, de onde, ainda menina, assistia a vida passando, pintava o rosto escondida de todos, ensaiava passos de balé e sonhava ser, um dia, uma vedete como Virgínia Lane. Nesse momento pensei no longo, belo, difícil e generoso caminho que percorri. Posso até dizer que a garotinha carioca e tímida chegou arrasando a capital do mundo depois de escalas em Porto Alegre, Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Aracaju, João Pessoa, Fortaleza, Tóquio, Roma, Veneza… Voando de volta ao pantanal do Mato Grosso, a novela escrita por Benedito Ruy Barbosa foi exibida na extinta TV Manchete em 1990 e tornou-se um marco na história da televisão brasileira por ameaçar a liderança da Rede Globo na audiência do horário nobre. Minha personagem chamava-se Filó, mais uma criatura simplória que ajudei a dar vida. Ela era mato-grossense, do meio do pantanal, e bem caipira. Inocente, meio ignorante… Mas acredito que tínhamos duas coisas em comum: a delicadeza e a paixão pelo seu homem. Comecei meu trabalho de criação da Filó pelo sotaque e maneira de falar. Adoro fazer sotaques e, como já viajei o Brasil inteiro cantando e tenho ouvido musical, fica mais fácil. No Nordeste cada estado tem um sotaque diferente. Maria Bonita tem um sotaque e Anayde Beiriz tem outro. Uma é baiana. A outra paraibana. Em Morte e Vida o sotaque é pernambucano. Outra coisa que me ajuda bastante na compreensão dos meus personagens é estudar e entender como eles se relacionam com os outros personagens da trama. Isso vai me dando pistas de quem essa pessoa é, e assim vou costurando uma colchinha de retalhos… No início sempre tem um grande esforço e trabalho meus, mas depois não tenho mais controle e o acabamento não sou mais eu quem dá. É como se eu fosse um cavalo e aí a personagem flui através de mim. Grande parte da novela Pantanal, especialmente os primeiros capítulos, foi gravada em locações no pantanal mato-grossense. Lá as condições de trabalho eram mínimas, mas a expectativa de um grande sucesso e a sensação de estar fazendo algo novo e muito bom tomavam conta da equipe. Realmente foi isso que aconteceu quando a novela estreou e, ao deixar o pantanal rumo a Nova York, senti uma pontinha de tristeza no coração. A atriz Jussara Freire viveu lindamente a Filó na segunda fase da novela e Pantanal marcou a televisão brasileira com uma nova linguagem, quase cinematográfica. Muitas externas, planos abertos, planos-sequência, locações maravilhosas, natureza… Além do genial diretor Jayme Monjardim, esta produção também revelou atores como Paulo Gorgulho, Marcos Palmeira, Cristiana Oliveira, Marcos Winter e outros. Capítulo XIV Com os Pés na Bahia Sempre fui apaixonada pela diversidade dos ritmos da música baiana e já havia gravado compositores da Bahia em discos anteriores. Depois da temporada de shows nos EUA entre 90/91 resolvi passar um tempo em Salvador para fazer um disco com 90% de músicos e músicas baianos. Esse trabalho chama-se Humana e foi lançado quase simultaneamente ao chamado da Rede Globo para voltar às novelas como Lola em Pedra sobre Pedra, de Aguinaldo Silva. Adorei o convite. Estava novamente nas mãos do autor que me consagrou em trabalhos como Lampião e Maria Bonita, Bandidos da Falange e Órfãos da Terra (que ganhou o prêmio Olho do Leopardo de Bronze no Festival Internacional de Televisão de Locarno como Melhor Especial do Ano) – minha atuação em televisão de que mais gosto. Revejo esse trabalho de 1984 com muito orgulho. Do Carmo era bruta, analfabeta e acho que consegui colocar no meu olhar o vazio, a fome e a ignorância dessa criatura quase selvagem. A história de Pedra sobre Pedra, do Aguinaldo, se passava no sertão da Bahia, na cidade de Redentor, palco das disputas políticas das famílias Pontes e Batista. O Grêmio Recreativo Resplendorino era o bordel da cidade, administrado por Adamastor (Pedro Paulo Rangel), onde atendiam Alva (Lilia Cabral), Nair (Paula Burlamaqui), Concy (Concy Maduro) e Lola, minha persona-gem, a prostituta preferida de Murilo Pontes (Lima Duarte). Acho que meu trabalho era eficiente, mas o roteiro não me oferecia material para ser trabalhado e talvez eu também estivesse muito dependente da direção naquele momento – o que em televisão, especialmente em novelas, não é nada recomendável. Na maior parte do tempo, os diretores não têm tempo para burilar o trabalho do ator e criar junto. É tudo imediato. Ritmo alucinado. Nessa produção o meu prazer vinha mesmo era do núcleo maravilhoso do qual faziam parte Lima Duarte, Osmar Prado, Pedro Paulo Rangel, Renata Sorrah, Lilia Cabral e Eva Wilma. Preciso falar mais alguma coisa? Pedra sobre Pedra fez muito sucesso. Quem não se lembra do Jorge Tadeu, personagem brilhantemente defendido por Fábio Jr.? E, como todo mundo sabe, quando se está no elenco de uma novela das 8 da Globo, com excelentes índices de audiência, as propostas de trabalho se multiplicam e isso para mim significava mais shows, mais viagens e, consequentemente, mais investimento no spa. E, claro, muito cansaço, porque passei a morar novamente num avião, me dividindo entre o Projac, no Rio de Janeiro, e diversas cidades onde fazia shows, em grande parte na Bahia. De tanto cantar em terras baianas acabei convidada para me apresentar no carnaval da Bahia em trios elétricos e no Afoxé Filhas d’Oxu. Essa é uma experiência incomparável! Uma emoção que só pode ser entendida por quem já botou os pés num trio, soltou a voz e sentiu o chão tremer com a multidão cantando e dançando alucinadamente. Assim que acabaram as gravações da novela, meu parceiro, Pedro Paulo Rangel, e eu fizemos uma comédia romântica, Detalhes Tão Pequenos de Nós Dois, peça escrita e dirigida pelo Felipe Pinheiro. Foi meu retorno ao teatro depois de dez anos e aconteceu assim: eu estava em casa assistindo ao programa TV Pirata e pensei como seria divertido fazer uma comédia contracenando com o PP. Como ele é bom ator, meu Deus! Na manhã seguinte falei isso pra ele na sala de maquiagem dos estúdios da Rede Globo, onde gravávamos a novela. Mas falei muito mais como um elogio mesmo. Sem nenhuma pretensão. Ele disse imediatamente: É pra ontem. Falou desse texto, me apresentou ao Felipe, fizemos algumas leituras, tudo foi dando certo e… abre-se o pano! Eu fazia uma empregada doméstica fã do Roberto Carlos que passa o dia cantando as canções do Rei e vai trabalhar na casa do solteirão vivido pelo PP. Tivemos alguns problemas de produção e a peça ficou pouco tempo em cartaz no Teatro Princesa Isabel, no Rio de Janeiro. Bárbara Heliodora, a temida crítica teatral do jornal O Globo, escreveu que, nesse trabalho, eu me revelava uma comediante muito agradável. Vindo dela esse elogio singelo tem quase o peso de uma indicação ao Oscar. Ela escreveu também que a dupla, Pedro Paulo Rangel e Tania Alves, enchia o teatro de alegria, tornando o espetáculo uma festa contagiante. Depois de Detalhes fiquei mais dez anos sem pisar num palco, como atriz, até ser convidada, em 2002, para atuar em E Daí, Isadora? com direção de Bibi Ferreira. Ela é, para mim, a maior atriz e a verdadeira diva brasileira. Como público, eu gosto de obras de arte que me raptem, que me tirem da racionalidade e me emocionem. Isso aconteceu quando eu vi Bibi Ferreira em Gota d’Água. Ela me fez chorar compulsivamente. Amei ser dirigida por Bibi. Como atriz ou como diretora, ela sabe absolutamente tudo de teatro e faz o ator se sentir seguro. É uma octogenária moderna, ousada e tranquila. Assim que começaram os ensaios, me tornei espectadora dessa mulher maravilhosa. Queria aprender o máximo com ela. Sentava em silêncio ao seu lado e a olhava, a observava, a admirava… Não sei se quero, como ela, estar trabalhando na sua idade, mas com mais de 84 anos Bibi Ferreira tem uma beleza maior! O texto de E Daí, Isadora? era da psicanalista Eliza Maciel em parceria com o compositor e autor Paulo César Feital – responsável por inúmeros sucessos da MPB – que também fez seis músicas para a peça. Minha personagem era uma mulher misteriosa que ao longo da peça revelava ser a morte. Éramos duas atrizes em cena, Jalusa Barcelos e eu. E um pianista, Wilson Nunes, que me acompanhava nos números musicais. A peça era uma comédia dramática que analisava o sentido da vida e mesclava poesia, psicanálise e música, permeadas de diálogos reflexivos. Estreamos no Teatro Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, em setembro de 2002, e fizemos temporada em São Paulo, no Teatro Imprensa. Recebi diversas críticas positivas, especialmente para uma cena em que eu vivia uma mendiga. Cenários e figurinos eram do premiado Claudio Tovar, que em 2003 me dirigiu no show De Bolero em Bolero. Para esse meu show, Tovar, que também assinou os cenários e figurinos, ensinou a mim e a meu parceiro Chocolate a dificílima coreografia de Lennie Dale para a música Dois Pra Lá Dois Pra Cá, de Aldir Blanc e João Bosco, que ele dançava num dos espetáculos dos Dzi Croquetes a que eu havia assistido embevecida. Para quem não sabe, Lennie foi um coreógrafo americano que veio para o Brasil e trabalhou com Carlos Machado, diretor de teatro de revista. Trabalhou também com Elis Regina e diversos outros artistas importantes dos anos 60 e 70 e fundou o Dzi Croquetes, um grupo conhecido pelo humor gay que misturava dança com teatro, do qual Tovar era um dos principais integrantes. Ter conseguido dançar essa coreografia foi uma realização para mim. Adorava esse show, acho que é um dos meus melhores, e fico feliz que ele tenha sido lançado em DVD, o meu primeiro. Capítulo XV Nas Mãos de Walter Avancini Ser artista não é fácil e aqui no Brasil talvez seja ainda mais difícil. Se você fica um tempo sem fazer novela, especialmente as da Rede Globo, o público acha que você desistiu da carreira, se aposentou ou, no meu caso, que resolvi ser exclusivamente dona de spa. O teatro e a música recebem muito menos atenção dos veículos de comunicação. Isso significa que se você não está na televisão, também não está nos jornais e revistas e a divulgação do seu trabalho fica mais complicada. Várias vezes, na rua ou num shopping, pessoas me perguntaram por que eu não era mais atriz. E eu respondia que estava lançando um novo CD, ou ensaiando uma peça de teatro ou fazendo uma novela em outra emissora. Na TV Manchete, por exemplo, depois de Pantanal, fiz três outras novelas: Tocaia Grande, em 1995 – a retomada da teledramaturgia na emissora depois de anos; Mandacaru, em 1997, e Brida em 1998, a última realização da Manchete. De Tocaia Grande, inspirada na obra de Jorge Amado, guardo especiais recordações porque contracenava com minha querida filha, a atriz Gabriela Alves. Na trama ela era filha da minha personagem, Julia Saruê, uma prostituta perseguida por coronéis no sul da Bahia. As condições de trabalho na TV Manchete não eram as mais confortáveis, mas tive o prazer de reencontrar e ser novamente dirigida por Walter Avancini nessas três novelas. Já havíamos trabalhado juntos em 1981, no especial Morte e Vida Severina da Rede Globo, que recebeu o Prêmio Emmy Internacional, o Oscar da televisão, e que considero um dos mais importantes trabalhos da minha carreira. Avancini sempre foi um diretor extremamente exigente e detalhista, às vezes terrorista. Diversos atores tinham medo dele e alguns até choravam por causa de suas estranhas estratégias de direção. Ele parecia acreditar que somente através da dor é que se chega à criação. Então ele podia apelar para tortura psicológica. Mas esse não é meu caminho e acho que ninguém precisa seguir por ele. Comigo, o saudoso Walter Avancini sempre foi educado, gentil e atencioso. Sinto que ele realmente gostava de mim e respeitava meu trabalho. Ele me educou e me ensinou a linguagem televisiva, fazendo com que eu buscasse a não teatralidade e o relaxamento. Dizia também para nunca projetar a voz. Cá entre nós, dependendo do equipamento da emissora, fica meio difícil. Walter Avancini foi, sem dúvida, um dos mais inovadores e criativos diretores da televisão brasileira. Suas obras – especialmente algumas minisséries como Anarquistas Graças a Deus, Grande Sertão: Veredas e Rabo de Saia – comprovam isso. A telenovela brasileira também deve muito ao Avancini por tê-lo no comando das equipes responsáveis por novelas tão arrojadas como Gabriela, Saramandaia e Xica da Silva, por exemplo. No início dos anos 1990, Avancini me convidou para o principal papel feminino no filme, que seria sua estreia como diretor de cinema, baseado na obra de Nelson Rodrigues: Boca de Ouro, tendo Tarcísio Meira como protagonista. Li o roteiro e havia muitas cenas de nudez e sexo. Como eu estava querendo aliviar um pouco o estigma de símbolo sexual, não gosto de rótulos limitadores, comecei a negociar com ele o corte de algumas cenas de sexo. O nosso papo era um pouco constrangedor e, de certa maneira, até engraçado. Ia desde a iluminação das cenas, até a fração de corpo a ser exibida, tipo: Mostre apenas os seios; Não, só um seio de perfil; Só um mamilo, então; Não, meio mamilo etc. e tal. Claro que Avancini acabou por me convencer sem muita dificuldade. Sempre confiei na indubitável qualidade, imenso bom gosto e genialidade dele. Aceitei o trabalho e começaram os ensaios numa favela, onde eu treinava para viver a porta-bandeira Celeste. Tadeu, na época meu empresário, e com quem fui casada, como já falei anteriormente, começou a negociar com os produtores a minha contratação. Nós queríamos colocar em contrato que as minhas cenas de nudez e/ou sexo fossem excluídas do material de divulgação. Estava preocupada com a possível utilização das minhas cenas de nudez no trailer e nas fotos de promoção do filme. Ser vendida mais uma vez apenas como símbolo sexual começou a me tirar o sono. Só pensava nisso. Então, um dos produtores do longa disse ao Tadeu que eu devia parar com tanta frescura e que havia uma fila de atrizes querendo o papel. Começaram uma pressão para que assinasse um contrato que não previa direitos conexos. O presidente do sindicato dos atores, o ator Otávio Augusto, me informou que eu só conseguiria um documento com minhas exigências em uma negociação individual, porque naquele momento não havia nenhuma lei que defendesse melhor os interesses dos atores. Acabei concordando em assinar um contrato que, segundo a produção, o próprio Tarcísio Meira e a atriz Cássia Kiss, também no elenco do filme, já haviam assinado. Continuei insistindo na questão do trailer e das fotos de divulgação. Mas em uma reunião para finalização das negociações, no escritório da produção, um dos produtores do filme com seu inseparável copo de gim na mão, às 9 horas da manhã, disse que eu estava muito exigente e que se fosse uma determinada atriz ela teria entrado pelada na sala para assinar o contrato. Desisti do filme imediatamente. Não me vi fazendo parte de uma produção em que atrizes eram tratadas dessa forma, como se atrizes profissionais se comportassem assim. Aceitar seria o começo de uma relação que poderia me trazer outros vários tipos de desconforto. Como estar no primeiro longa do Avancini era um privilégio, de fato havia uma fila de atrizes interessadas no papel. No dia seguinte, outra atriz filmava no set, encarnando a personagem que seria minha. O filme teve vários problemas, foi mal lançado e não muito bem-aceito pela crítica e pelo público. Acho que não perdi muito. Mais valeu seguir a minha consciência! O bom de tudo isso é que essa minha negativa não atrapalhou em nada minha relação carinhosa com o grande diretor que foi Walter Avancini, sem dúvida o homem de televisão que mais me ensinou sobre esse apaixonante veículo de comunicação. Como não estudei teatro, preciso e gosto de ser dirigida. Quero ser corrigida, orientada e adoro quando um diretor acrescenta algo que não havia percebido. Ao longo do tempo descobri que em televisão ou no cinema é melhor não ter o texto totalmente decorado e que procurar uma palavra ou pensamento deixa a atuação mais natural. De certa maneira, também aprendi isso com o Avancini, que não deixava os atores entrarem no estúdio com o texto. Outro diretor de televisão que admiro muito é Daniel Filho, apesar de ter trabalhado com ele apenas uma vez no longa-metragem O Cangaceiro Trapalhão. Essa foi sua primeira experiência como diretor de cinema: um filme da série Os Trapalhões estrelado por Renato Aragão e Regina Duarte. Nelson Xavier e eu repetimos o casal Lampião e Maria Bonita em versão mais soft, para crianças, e eu tinha um número musical delicioso ao lado de Renato Aragão, Zacarias, Mussum e Dedé. Inesquecível!!! Daniel, assim como Wolf Maia – diretor que respeito profundamente e tenho excelente química de trabalho –, tem uma qualidade que admiro e me ajuda imensamente no entendimento de determinadas cenas: com poucas e precisas palavras, consegue que eu me conecte com o personagem de maneira clara e objetiva. É como se eles me entregassem uma chave que abre a cabeça e o coração da pessoa que estou investigando, interpretando. Talvez porque ambos também sejam atores, nossa comunicação é fácil e isso torna o trabalho com eles prazeroso e produtivo. Nos últimos anos Daniel Filho tem-se dedicado exclusivamente ao cinema, como dire-tor e produtor, e tem conquistado cada vez mais sucesso em filmes como os dois Se Eu Fosse Você e o elogiado Tempos de Paz, ambos estrelados pelo ótimo ator Tony Ramos. Capítulo XVI Checov ou Dercy? O processo de falência da TV Manchete e uma greve, do elenco e dos técnicos, causada por salários atrasados, fizeram com que a exibição da novela Brida, inspirada no best-seller de Paulo Coelho, fosse interrompida abruptamente. O último capítulo foi apresentado com imagens dos personagens principais frisadas na tela e com narração em off contando o destino de cada um na trama. Não tenho conhecimento de nada parecido na história da televisão brasileira. Era a primeira vez que eu experienciava um grande fracasso em televisão. Decorei falas da minha personagem, Mercedes, que nunca foram ditas. O cancelamento definitivo das gravações aconteceu repentinamente. Essa novela nunca foi lá grande coisa. O mais triste, na verdade, era cruzar colegas chorando nos corredores da emissora com problemas financeiros, demissões, pessoas sendo revistadas para evitar roubos. O fechamento definitivo da TV Manchete ocorreu em meados de 1999. Em 2000 e 2005 fiz, na Rede Record, as novelas Marcas da Paixão e Essas Mulheres, respectivamente. Entre elas, em 2001, uma participação especial na primeira fase de O Clone na Rede Globo. Essa experiência de intercalar trabalhos na Record, que recomeçava a produção de teledramaturgia, com outro na Globo, a maior emissora do País, foi muito interessante. O nível de produção e de acabamento das novelas da Rede Record tem melhorado muito nestes últimos anos e nessas duas produções vivenciei essa evolução. A primeira era uma novela contemporânea e minha personagem, Zefinha, nordestina determinada, uma líder natural que vira prefeita da cidade onde se passava a trama. A novela tinha muitas externas gravadas no interior da Bahia. O elenco era bem tratado, mas as condições técnicas eram razoáveis e o resultado do trabalho apenas satisfatório, com bons índices de audiência. Mas, é claro, muito aquém do padrão global de produção. Já em Essas Mulheres, novela de época de Marcílio de Morais e Rosane Lima, baseada em três obras de José de Alencar, percebi maior apuro na produção, melhores equipamentos e maiores cuidados com os cenários, os figurinos e a direção de fotografia. Ótimos profissionais de diversas áreas foram contratados e os diretores Flávio Colatrello, Fábio Junqueira e João Camargo comandavam toda a equipe da novela com garra e talento. Acho que essa foi a produção que posicionou definitivamente a Rede Record na disputa real e contínua por qualidade e audiência. A Escrava Isaura, produção anterior, conquistou excelentes índices de audiência, mas não tinha o apuro técnico e artístico de Essas Mulheres. Adorei ter feito parte dessa equipe. Reencontrei colegas de Pantanal como Paulo Gorgulho e Ingra Liberato e também outros atores-cantores como Daniel Boaventura e Adriana Garambone. O astral no estúdio era maravilhoso e nós elogiávamos o desempenho uns dos outros com entusiasmo e vontade de fazer melhor a cada cena. É claro que quem, como eu, passou pela Rede Globo sabe que o know-how lá é muito maior e que as condições de trabalho em geral também. Mas em Essas Mulheres todos do elenco estávamos em total sintonia e com boa vontade para superar os problemas. Aliás eles sempre acontecem em qualquer produção, seja que emissora for. Era como se houvesse um pacto silencioso de cooperação para ampliar o mercado de trabalho para diretores, atores, autores, produtores, figurinistas, cenógrafos, maquiadores e demais profissionais da área. Ter mais emissoras produzindo teledramaturgia com qualidade e continuidade é muito importante para nós artistas e para o público, que pode fazer suas escolhas e exercitar seu senso crítico. Nessa fase as novelas da Rede Record de Televisão ainda eram gravadas em São Paulo, cidade que de tão frutífera me deu até um filho, Leonardo: o mais carioca dos paulistas. Tenho amigos queridos em São Paulo e, profissionalmente essa cidade sempre foi muito generosa comigo. Ou seja, além da televisão tinha também o teatro, já que estava fazendo parte do elenco de Os Monólogos da Vagina, no Teatro Gazeta em plena Avenida Paulista. Vi Os Monólogos da Vagina, no Rio de Janeiro, com Zezé Polessa, Cláudia Rodrigues e Betina Vianny na estreia em 2001. Adorei a adaptação e a direção do Miguel Falabella. O texto da americana Eve Ensler é baseado em entrevistas realizadas por ela com mais de 200 mulheres de todo o mundo e de diversas realidades diferentes, revelando intimidades, vulnerabilidades, temores e conquistas. Me surpreendi com a seriedade com que os assuntos do cotidiano feminino eram abordados, apesar de ser uma comédia. Na estreia fiquei impressionada especialmente com uma cena sobre uma mulher na Bósnia. É interessante lembrar disso agora, porque em certos momentos naquela noite, enquanto assistia ao espetáculo, me imaginei fazendo esse trabalho. Era o destino me apresentando aos meus futuros personagens, porque quatro ou cinco anos depois, ao lado de Betina Vianny e Vera Setta, também produtora do espetáculo, formei o novo trio de Os Monólogos da Vagina e viajamos pelo Brasil inteiro. Ter feito essa comédia foi terapêutico para mim. Tenho um lado recatado e falar a palavra vagina e seus inúmeros sinônimos em público foi uma libertação! Até falo alguns poucos palavrões eventualmente, no meu dia a dia. Mas todo o final de ano me dou como meta, entre outras é claro, parar de falar palavrões no ano seguinte. Acho palavrão muito deselegante, mas ainda não consegui me livrar deles totalmente. Por outro lado palavrões são tão fortes que muitas vezes para expressar ressentimentos ou desabafar só mesmo lançando mão de um belo e sonoro pqp. Talvez eu faça parte da geração de mulheres que começou a falar palavrão com mais liberdade. Até então era muito grosseiro e vulgar esse tipo de linguajar para o sexo feminino. Também descobri que não sabia tudo sobre sexualidade feminina e que, assim como mulheres de outras partes do mundo com culturas completamente diferentes, tinha as mesmas dúvidas e inseguranças sobre esse assunto. Minha colaboração na criação das personagens de Os Monólogos foi muito pequena porque entrei para substituir a atriz Totia Meirelles, que por sua vez substituiu Zezé Polessa. Quando isso acontece você, obviamente, fica fora do processo criativo e acaba seguindo o que já existe. Depois, aos poucos, a marcação das cenas fica orgânica e começam a aparecer suas contribuições. Fiz questão, por exemplo, de fazer cada um dos meus sete personagens completamente diferentes um do outro, quase que personagens de sete peças distintas. E, como não gosto de composição, procuro o sentimento deles e não o corpo. O sentimento faz aparecer a voz e o jeito de falar e andar e olhar… Trabalhar em novela e teatro simultaneamente é um desgaste enorme. Mas não deixo escapar boas oportunidades e consegui conciliar os dois, já que quando começaram as gravações de Essas Mulheres eu já estava em cartaz no teatro há pelo menos três meses. Se ainda estivesse ensaiando a peça seria quase impossível. Mesmo assim, às vezes sentia a Firmina, minha personagem da novela, interferindo na minha atuação no teatro. Explico: como gravava uma novela de época, eu era extremamente rigorosa ao pronunicar as palavras. Dizia todos os erres e jamais falaria tô no lugar de estou. Graças à minha faculdade de letras, falo muito bem e os diretores elogiavam minha naturalidade ao dizer os textos escritos em português antigo e formal de maneira muito natural. Quase todos os dias da semana estava nos estúdios da Rede Record incorporando Firmina Mascarenhas, a ex-cortesã que abandona a corte do século XVIII e vai para a província escondendo seu passado. Como eu convivia muito mais com a personagem da televisão do que com as do teatro, o português mais formal da Firmina, eventualmente contaminava as falas das minhas personagens de Os Monólogos da Vagina. Nada muito grave, mas sou virginiana e perfeccionista. Então, quando percebia isso, imediatamente botava Firmina pra correr do palco. Talvez por estar em dois trabalhos diferentes simultaneamente e com várias personagens vivendo na minha cabeça – sete na peça mais a Firmina que, na verdade, era uma mulher com dupla personalidade, já que ela fingia ser uma pessoa que não era –, no início das gravações da novela eu solicitava um pouco mais a atenção dos diretores, embora eu saiba que em televisão o ator deve chegar com a maior parte do trabalho pronto por causa do pouco tempo disponível. Mas sinto que preciso ser dirigida. Já disse e repito que minha escola de teatro foram os musicais, que eu era histriônica e tinha que cantar sem microfone para a última fila da plateia e blá-blá-blá. Como sou uma atriz de extremos, e meu temperamento é passional, se bobear faço Checov... ou Dercy. Quando a novela terminou, segui em longa temporada com Os Monólogos da Vagina até que uma noite, após o espetáculo, dois produtores me esperavam no saguão do Teatro Gazeta em São Paulo, onde ficamos em cartaz, entre idas e vindas, uns três anos. Fomos tomar um café, conversamos e eles me fizeram um convite irrecusável: estrelar um musical inspirado no livro Tieta do Agreste, de Jorge Amado. Capítulo XVII No Coração da Floresta Produzir teatro no Brasil é missão para heróis. É preciso paciência, perseverança, dedicação, muito trabalho e tempo. Então, enquanto os produtores batalhavam leis de incentivo e patrocínio para a produção do musical Tieta do Agreste, recebi mais um convite irrecusável: voltar às minisséries no papel de Dos Anjos em Amazônia – de Galvez a Chico Mendes, de Glória Perez com direção geral de Marcos Schechtman na Rede Globo. Havia trabalhado com a dupla Glória/Schechtman na novela O Clone, um enorme sucesso de audiência que tratava de um tema polêmico: clonagem de seres humanos. A novela revelou as atrizes Débora Falabella, no papel da drogada Mel, e Juliana Paes como a ambiciosa golpista Carla. Também transformou Jade, a personagem de Giovanna Antonelli, em mania nacional. Eu tinha um papel pequeno na primeira fase da novela e contracenava muito com Vera Fischer e Totia Meirelles. Talvez por causa desse trabalho, autora e diretor me chamaram para participar de Amazônia, uma superprodução com muitas cenas gravadas no estado do Acre, em pleno coração da selva amazônica. Dos Anjos era uma nordestina que se mudou para o Acre na tentativa de ganhar dinheiro da extração do látex das seringueiras. Tinha uma energia positiva, alegre e amorosa no meio daquele gueto. Ela era mãe de Viriato, vivido por Ilya São Paulo, e casada com Zuca, José Ramos, ambos ótimos atores. Os conflitos de Dos Anjos na minissérie estavam focados na relação dela com a namorada de seu filho, Delzuite, Giovanna Antonelli. Minha personagem, uma mãe protetora e dedicada, perseguia Delzuite porque desconfiava do amor dela por seu filho, a quem, é claro, defendia com unhas e dentes. Foi gostoso criar essa personagem, embora ela não me desafiasse como atriz. O mais trabalhoso era parecer mais velha e maltratada, o que consegui com a ajuda da ótima equipe de visagistas da Rede Globo. Eles fizeram para Dos Anjos uma peruca perfeita com vários cabelos brancos que me dava uma aparência mais senhoril. A pouca maquiagem que eu usava servia para reforçar minhas rugas e as marcas de expressão do meu rosto. Ter participado dessa minissérie foi incrível, especialmente pela possibilidade de morar um mês no Acre, onde gravamos muitas cenas. O Acre é um lugar muito especial, um polo significativo em todo o movimento de proteção ao meio ambiente. É impressionante o nível de conscientização ecológica que existe por lá. Eu e muitos colegas do elenco da minissérie ficamos hospedados a maior parte do tempo em Rio Branco. Lá fizemos laboratório, nos apropriamos do lugar, conhecemos os moradores, entre os quais alguns ex-seringueiros, estudamos os personagens e gravamos cenas externas, sempre as mais complicadas e trabalhosas de qualquer produção. Quando tinha tempo livre, ia para uma academia de ginástica local numa bicicleta emprestada. Malhava e quando retornava ao hotel quase sempre encontrava com os demais atores e equipe no hall. Era quase um ritual: antes do jantar, todo mundo descia com seus laptops para o foyer, onde, às vezes, tinha sinal de internet, na tentativa de se comunicar com a vida real, deixada para trás, no Rio de Janeiro ou em outras cidades. Depois todo mundo comia junto, curtia, batia papo, jogava buraco… Conviver intensamente com pessoas que você quase não conhece, criar vínculos, amizades e depois, ao final do trabalho, nunca mais as ver, é uma característica da minha profissão. Acho isso muito estranho. É como se você tivesse amizades com tempo predeterminado de duração. Num filme ou minissérie elas podem durar uns três meses, numa novela uns oito meses. No teatro, depende muito do sucesso de bilheteria. Às vezes dois meses, às vezes três anos – ou mais. Muito louco isso! Nessa nossa temporada em Rio Branco, também fizemos laboratório dentro de um seringal e ficamos alguns dias hospedados em uma pousada no meio da floresta amazônica. A floresta é inesquecível! Impressionante! É um lugar com muita vida! Esses dias foram muito marcantes. A floresta é massacrante, poderosa, maravilhosa… É indescritível. Uma das coisas que mais me impressionou foi o som da mata. Ao cair da tarde, com o pôr do sol se aproximando, todos os animais começam a emitir sons: cantos, pios, guinchos, uivos... Milhares de sons. Acho que só de pássaros são centenas de sons diferentes. Sempre que possível, nessa hora eu ia deitar na minha rede e, sozinha, mergulhava nesse mar sonoro, de vida, de natureza. Era mágico e, ao mesmo tempo, 100% real. Taí uma experiência que eu recomendo: alguns dias no coração da floresta amazônica. Você volta para sua realidade, sua vida na cidade com uma nova percepção da vida, como se tomasse consciência de como nós, seres humanos, somos arrogantes perante a natureza, perante tudo. Quando o trabalho lá no Acre terminou, voltamos para o Rio de Janeiro onde a minissérie continuou sendo gravada nos estúdios e na cidade cenográfica do Projac. Amazônia – de Galvez a Chico Mendes estreou na Rede Globo em 2 de janeiro de 2007 com excelentes índices de audiência e também foi exibida em Portugal. Capítulo XVIII O Palco Cura O que não existe na minha vida é rotina. Quando não estou trabalhando em televisão, estou fazendo teatro ou shows, gravando discos, cuidando do Spa Maria Bonita, fazendo palestras sobre qualidade de vida. Sempre viajando muito. Quando terminaram as gravações de Amazônia logo fui reconvocada pelos produtores de Os Monólogos para pôr o pé na estrada de novo. De novo topei. Visitamos diversas cidades por aí afora e fizemos nova temporada em São Paulo, geralmente aos finais de semana. Nos demais dias, me dividia entre o spa, em Friburgo, e os shows em inúmeros lugares. Se alinhasse todos os quilômetros que meu trabalho já me fez percorrer daria umas trinta voltas na Terra. Não reclamo. Gosto! Acho que sou meio nômade, meio cigana. Por causa disso, minha vida pessoal, afetiva, muitas vezes fica em terceiro plano. Sinto saudades dos meus filhos, da minha querida mãe, dos meus amigos, da minha casa… Pra ser artista, além do talento, é fundamental ter determinação e entrega. Bom mesmo é ter os três em equilíbrio. Muito de um e pouco do outro pode fazer a receita desandar. Por outro lado, a experiência me mostra que não existe lógica na química entre talento, determinação e entrega. Vários são os exemplos de artistas com muito dom que mal conseguem expressar sua arte e de outros que vivem maravilhosamente bem apenas com dedicação, muito esforço e pouquíssimo talento. No início da minha carreira duvidei um pouco do meu talento, mas as portas foram se abrindo, ganhei prêmios, elogios e fui ficando mais segura. Há tempos sei que tenho dons artísticos e que sou talentosa. Mas cheguei a questionar se o melhor caminho a seguir seria mesmo fazer dos meus dons a minha profissão. A gente passa por tantas dificuldades na carreira que pensei, algumas vezes, se não teria sido melhor ter-me tornado professora, já que me formei em letras. Só que a vida nos palcos me fez entender que o dom é também uma missão, uma responsabilidade e se você tem um dom ele deve ser o seu ofício. A função do artista é a reflexão, a diversão, a emoção. A relação artista e público em apresentações ao vivo é uma incrível troca de energia. No palco, me entrego ao máximo, sem economia, e o retorno é altamente terapêutico. No palco eu fico em equilíbrio total. É o meu habitat, minha casa. Lá tenho visão de 360 graus. Tenho controle do que acontece. Eu sei tudo de palco. Isso eu posso falar sem nenhuma modéstia. Tenho domínio por know-how e por dom. Recentemente, após um show que fiz em Goiânia, uma senhora, que havia sofrido um acidente e estava há meses sem poder andar, me falou que ter-me visto cantando no palco tinha lhe trazido vontade de viver, de emagrecer, de dançar, de amar novamente… O que mais me agrada nessa profissão é saber que transformo, de alguma maneira, as pessoas e que levo alguma coisa boa para elas. O palco cura! Já entrei em cena com febre e saí boa. Já entrei congestionada e melhorei. Já entrei triste e saí feliz… Claro que algumas vezes tive que fazer um esforço enorme pra ir até o fim de um espetáculo. E fiz pela profissão. Para honrar meu ofício. Depois, no camarim, achando meu desempenho horrível, porque sabia que não estava no meu melhor, recebia elogios emocionados dos fãs. Por falar em fãs, minha relação com eles sempre foi ótima. Respeito todas as pessoas que gostam do meu trabalho e que, através dele, se aproximam de mim, com educação, é claro. Por mais inacreditável que possa parecer, ainda existem, em pleno século XXI, homens por aí que vêm com gracinha e já partem do princípio que você, sendo atriz, topa qualquer parada. Tem também aquele tipo de pessoa inconveniente que encontra você, jantando romanticamente com seu marido, ou namorado, num restaurante, enfim, num dia especial, e te chama gritando: Ô Tania, vem aqui. Me dá um autógrafo. Acho que qualquer pessoa pública tem histórias pra contar de assédio de gente mal-educada. Graças a Deus, a grande maioria das pessoas é gentil e tenho, hoje, alguns amigos que no passado eram fãs. Germano, o presidente do meu fã-clube, é um exemplo disso. Minha relação com ele é muito especial e carinhosa. Eu sou muito grata e acho que devo meu sucesso a meus fãs! E o artista que não entende isso é um louco. Ter gente acompanhando a sua carreira, consumindo o seu trabalho é meio que um amor correspondido. Nós artistas precisamos ser reconhecidos. Nós amamos a plateia e quando ela está lotada é um prazer enorme. Quando ela está vazia vem um sentimento de rejeição enorme e uma tristeza grande! Eu fui treinada a entrar em cena com o mesmo tesão e profissionalismo, independentemente do número de pessoas que está ali pra me ver. Mas como todo artista é um carente nato, e estamos sempre buscando aprovação, nesse momento penso também naquelas pessoas que não vieram e por que não vieram. Cadeiras vazias são horríveis, horríveis. Sempre fui movida a paixão e a possibilidade de conquistar mais fama e mais sucesso nunca foi determinante nas minhas escolhas. Jamais arquitetei a construção da minha carreira. Nos momentos em que fui obrigada a optar entre o amor e a carreira, quase sempre escolhi o amor. Não sei se existe fórmula para uma carreira artística bem-sucedida. Talvez o fator sorte seja mesmo o mais importante e sei que tive muita, porque não sou de criar oportunidades ou fazer lobby. Para mim as coisas realmente foram caindo do céu e fui aproveitando, seguindo minha intuição. Lembro, por exemplo, que em 1994 encontrei numa festa Marcos Maynard – na época diretor artístico da gravadora Polygram, da qual já havia sido contratada em 1980. Marcos, sempre muito carinhoso e atencioso comigo, assim que me viu falou que eu era a cantora que ele estava procurando para um projeto especial da gravadora: uma revisitação de boleros e de canções brasileiras antigas. Assim nasceu a série de CDs Amores e Boleros, um dos trabalhos fonográficos de que mais gostei e que mais frutos me rendeu. Só na Polygram lançamos três CDs e na Abril Music, depois do fechamento da Polygram, dois de boleros e um de forró. Nesse caso posso lançar mão do clichê: Estava no lugar certo na hora certa. Hoje, mais madura e experiente, penso que, em certos momentos, não soube como conduzir bem minha carreira. Sempre fui muito solitária nesse aspecto. Não tive um mentor, um empresário que administrasse a minha trajetória artística. Se eu achasse que determinado projeto me traria prazer eu aceitava dizendo para mim mesma: Ai que delícia!!! Que tesão poder fazer isso!!! E me atirava de cabeça. Só me frustrava quando apostava no prazer e ele não acontecia. O tal prazer pesava muito mais para mim do que a bilheteria, a crítica ou o tamanho da plateia. Não me arrependo do caminho que trilhei. Acho que tive mais satisfação na vida profissional do que quem seguiu apenas guiado pelo interesse material e pela fama. Mas quem sabe, com melhores conselhos, tivesse conseguido conciliar o prazer com outras conquistas, mais dinheiro, mais sucesso… Por ser uma pessoa com muitas possibilidades de trabalho, não somente na área artística – além de atriz e cantora, fui professora de yôga, trabalhei com artesanato, cuido do meu spa, dou palestras, escrevi um livro de receitas etc. – não foquei 100% da minha atenção na carreira de atriz. Aliás, em determinados momentos, me senti pressionada a escolher entre ser atriz e ser cantora. Os diretores das gravadoras achavam que eu deveria ter tempo livre para divulgação dos meus discos em programas de televisão e rádios e que um contrato de exclusividade com uma emissora de televisão poderia limitar muito esse trabalho. Como a música sempre foi muito importante na minha vida, e é minha primeira forma de expressão artística, em diversos momentos me dediquei mais à música, abrindo mão de convites para atuar que me prenderiam por muito tempo. Apesar de toda pressão, nunca quis – e não quero – suicidar nem a cantora nem a atriz. Eu sempre quis as duas. E por que eu teria que me definir? Que horror! Nunca soube escolher entre a cantora e a atriz. Eu tenho que expressar tudo. Então, reunir meu talento de atriz e de cantora para contar a maravilhosa história de Antonieta Esteves, a Tieta do Agreste, em um espetáculo musical foi um grande prazer. Desses prazeres que movem minha vida e minha carreira. Bemvinda Tieta! Capítulo XIX Chegou Tieta!!! Quando a novela Tieta estreou na Rede Globo, em 1989, algumas pessoas que cruzavam comigo por aí falavam que eu é que deveria fazer essa personagem. Pra mim esse comentário era absurdo. Betty Faria fazia tão bem! E Betty é um patrimônio nacional. Acho até que ela tinha os direitos autorais de Tieta do Agreste para televisão e que a novela era um projeto pessoal dela. A novela fez um sucesso absurdo e merecido. Joana Fomm, como a irmã beata Perpétua, é inesquecível! Na adaptação para cinema, com direção de Cacá Diegues, foi Sônia Braga quem defendeu o papel. Já a minha Tieta chegou para mim da maneira mais adequada: um musical. A montagem de Tieta do Agreste – O Musical tem uma história muito particular: o espetáculo teve duas montagens com o mesmo elenco, a mesma equipe de criação, direção geral e adaptação de Christina Trevisan e direção musical de Pedro Paulo Bogossian. Na primeira versão, os ensaios – dois meses exaustivos em São Paulo – começaram em setembro de 2007 e estreamos em novembro no Teatro Frei Caneca. Ficamos dois meses em cartaz. A segunda versão estreou em janeiro de 2009, com algumas alterações sugeridas por mim, nos figurinos, nos adereços, novas músicas e readaptações no texto. Dessa vez o musical ficou em cartaz por três meses no Teatro Brigadeiro, também em São Paulo, e depois fizemos algumas viagens. Quando estreamos pela primeira vez, eu não tinha consciência de que não estava satisfeita com o trabalho. Os ensaios me absorviam e exigiam tanto… Na verdade ensaiar é sempre muito desgastante. Nós, atores, ficamos muito sensíveis nesse período de criação e, para um musical, a exigência, especialmente física, é muito grande com aulas de corpo, de voz. Ter algum distanciamento crítico nessa fase do trabalho é quase impossível para mim. Precisei de tempo para identificar onde estava minha insatisfação. Em teatro sempre começamos o trabalho lendo e analisando o texto. Em Tieta não foi diferente, mas já nas leituras percebia uma tendência da diretora de politizar demais o espetáculo e colocar isso acima de tudo. Eu acho Jorge Amado maravilhoso e a obra dele é fantástica. Tieta é uma superpersonagem, parece ser a síntese de todos os personagens femininos dele, e a parte mais política, para mim, seria esta. Mas a diretora, Cristina Trevisan, mais tradicional em termos de política, queria valorizar os conflitos sociais que aparecem no livro. Por isso, no final das contas, a Tieta da primeira versão ficou sendo mera espectadora de acontecimentos e de conflitos políticos da sua cidade. Talvez fosse mais adequado se essa primeira adaptação do livro para o teatro se chamasse Santana do Agreste, porque destacava a comunidade e seus conflitos. Conflitos, aliás, que se comparados ao que lemos e assistimos nos jornais de hoje são água com açúcar. Só que essa clareza e consciência eu só consegui quando a temporada foi interrompida, dois meses após a estreia, por questões financeiras. Aí, sim, percebi que não estava feliz. Que nem o espetáculo e nem eu estávamos do tamanho que eu gostaria. Com tanto tempo de carreira, piso no palco e sei o que cada um está sentindo por mim e a pior coisa é estar no palco e sentir estranheza por parte do público. E o público estranhava porque não havia a jocosidade, a brejeirice, a sensualidade, aquela coisa engraçada, irreverente e livre da Tieta. Acho que a plateia se perguntava onde estava a Tania Alves, mas eu estava tão envolvida nos conceitos intelectuais da peça que não consegui fazer florescer, na minha Tieta, o lado instintivo, visceral, espontâneo, emocional e temperamental dela. Era tudo muito cérebro, pensando nos valores e questões políticas. Foi uma experiência muito complicada, porque nunca senti necessidade de me identificar com os personagens que interpreto. Muito pelo contrário, quanto mais diferente de mim, quanto maior o desafio, mais me estimula e mais me diverte fazer. Tieta, porém, é a personagem que mais se parece comigo em toda a minha carreira. Um dos traços que temos em comum é a ligação com a natureza. Ela própria é uma força da natureza! Mas apesar disso, nessa primeira montagem eu não conseguia alcançá-la. Meses depois, quando resolveram as questões econômicas e de patrocínio, os produtores Valdir Archanjo e Ubirajara Saide novamente me chamaram. Aí conversamos sobre a possibilidade de uma nova versão para Tieta do Agreste – o Musical. Obviamente não começamos do zero. Conversei abertamente com a diretora sobre minhas insatisfações e muitas alterações foram propostas e aceitas. Todas com o único objetivo de melhorar o espetáculo. As perucas que eu usava foram trocadas, os meus figurinos refeitos, cenas foram reescritas, novas músicas foram criadas… Não sei se no teatro brasileiro algum outro espetáculo teve essa chance de ser testado por dois meses, sair de cartaz, corrigir os erros, ensaiar novamente e reestrear. Todo esse processo foi desgastante e até meio frustrante. Eu tinha enorme expectativa com esse trabalho. Era a minha volta aos musicais depois de vinte anos e num momento de renascimento, no Brasil, desse gênero de teatro com o qual eu tanto me identifico. Queria estar na minha melhor forma e não medi esforços para isso. Já faz tempo, aprendi que trabalhos artísticos dependem de vários fatores para alcançar êxito. Nunca existe garantia de que vai dar certo. A única saída é correr o risco. E talvez o risco seja mesmo o grande tempero da vida. Então novamente me joguei de cabeça, junto com toda a equipe de criação, para reinventar Tieta. Valeu a pena! Ficamos todos muito felizes com a nova montagem. Grande parte do que eu pretendia foi conquistado. Algumas pessoas tinham senões, ou melhor, restrições, mas eu fiquei muito mais feliz como essa nova versão. Por exemplo: Tieta ganhou uma música para sua chegada e mais algumas músicas durante o espetáculo, afinal era um musical. O figurino também foi trocado. O primeiro me cobria inteira. Como Tieta chega em Santana do Agreste de camisa masculina?! Não existe isso. Tieta é pele, é sensualidade. Também deram uma mexidinha no texto para ter mais as tiradas de Tieta. No final ficou satisfatório. Era delicioso sentir que o público imediatamente me reconhecia e reconhecia em mim a Tieta. Para falar a verdade, se eu fosse a diretora e adaptadora, teria feito diferente. Optaria por um caminho mais baiano. Nossa prova de fogo foi apresentar Tieta em Salvador, no Teatro Castro Alves. Todo mundo morrendo de medo e o público de lá adorou. João Jorge, filho do Jorge Amado, foi nos ver e se emocionou profundamente. Amou! Para nós foi um aval fantástico. A gente pensando que os baianos poderiam nos rejeitar – afinal era uma montagem paulista, com atores paulistas na sua maioria e, além disso, não havia nenhuma música baiana na peça. Só uma batucada, que eu pedi pelo amor de Deus para colocarem, porque sei sambar no pé, como baiano samba, e achava que Tieta tinha que mostrar as cadeiras, o pé no chão quando volta pra sua terra. A outra preocupação era, sem dúvida, o sotaque que, apesar das aulas de prosódia que tivemos, sempre pode parecer caricatural, especialmente num elenco enorme com atores de diversos lugares. Ainda bem que os baianos nos receberam de braços abertos e adoraram a nossa Tieta. Eu amo a Bahia! E o baiano é muito especial! Eles têm características muito próprias que eu adoro. Meus avós maternos são baianos. Eu vou sempre pra lá. As melhores lembranças desse trabalho são o contato que tive com atores maravilhosos, como Maria do Carmo Soares e Luís Araújo. Que maravilha contracenar com eles! Ela fazia a devota viúva Perpétua, ressentida e severa, para quem Tieta era o diabo em pessoa. Ele fazia o sobrinho Ricardo, filho de Perpétua, seminarista forte, moreno e cheio de vigor físico com quem Tieta se envolve amorosamente. Capítulo XX Praia Deserta e Beijo na Boca Nunca fiz planos para o futuro e continuo a não fazer. Mas artisticamente tenho alguns sonhos. Por exemplo, fazer um espetáculo no qual eu possa mostrar ao público, mais a fundo, todos os meus dons de atriz e cantora, explorando novamente minha voz de cantora lírica e tocando algum instrumento. Adoraria também que a nova geração de diretores brasileiros de cinema me redescobrisse. Sou apaixonada por cinema, cinéfila mesmo! Vejo tudo! Já na televisão, meu maior desejo é fazer uma novela do Gilberto Braga ou do Manoel Carlos, uma personagem totalmente urbana. Uma mulher sofisticada. Eu tenho esse lado também. Sou do signo de Virgem. Tenho um céu maravilhoso: Lua em Touro, Vênus em Libra. Cabeça de dragão em Áries. Segundo o horóscopo, os virginianos são organizados, metódicos e muito disciplinados. Eu sou! E minha disciplina não aparece só na vida profissional, ela está presente também na vida pessoal. Sou séria e dedicada em tudo o que faço. Cuido da minha alimentação e do meu corpo. Quero estar sempre na minha melhor forma. Não para aparentar mais jovem do que sou. Isso não é uma preocupação para mim. Já fiz, sim, algumas cirurgias cosméticas, pequenas correções, que acho necessárias para que o tempo e a lei da gravidade não escondam o teu real sentimento. Explico: com a idade, seu rosto não reflete mais a sua alma com tanta fidelidade. Muitas vezes você está sorrindo por dentro, mas a imagem refletida no espelho é pesada, grave, séria… Bom, nessa hora, a evolução da medicina pode ser sua aliada. Na verdade o que eu busco é que meu corpo revele o meu sentimento. Meu objetivo é estar sempre melhor e minha vaidade sempre esteve ligada à saúde. A alimentação macrobiótica e a vegetariana, das quais fui adepta por anos, a yôga e depois o higienismo fazem parte dessa busca por bem-estar. Acredito que um ator deve estar sempre pronto fisicamente. O corpo e a voz têm que estar sempre em cima, para quando a oportunidade vier a seu encontro você esteja preparado. Se te chamam pra fazer um papel você não pode estar obeso, fora de forma ou com a voz ruim. Teu instrumento é teu corpo e tua voz. Meu conselho: esteja sempre pronto. Teu equipamento tem que estar sempre em dia. Aí você pode fazer qualquer coisa com ele. Se tiver que engordar para um determinado pa-pel, você engorda. Se tiver que ser mais magro, emagrece. Mas sua base é saudável. É só lembrar do que a linda atriz Charlize Theron fez com o próprio corpo no filme Monster! Acho a atuação dela antológica. Saúde, para mim, significa energia e energia é fundamental porque a vida de artista é pedreira. Recentemente, num mesmo dia, apresentei uma palestra sobre alimentação no SESC Pinheiros, em São Paulo, que terminou às 18h30. De lá, saí correndo para chegar ao Teatro Brigadeiro e me preparar para duas horas e meia vivendo Tieta, que começava sempre às 21 horas. Terminada a sessão, um carro já me esperava na porta do teatro e seguimos para o Teatro Gazeta, onde à meia-noite participei de uma sessão fechada de Os Monólogos da Vagina. A vida artística pode levar a desgastes físicos e emocionais muito grandes. Processos até mais difíceis, como depressão, acontecem às vezes. Todos nós temos que ter força para enfrentar as dificuldades da vida. Seja qual for a profissão, os obstáculos sempre aparecem e precisam ser superados. Sem saúde você pifa! Apesar de toda a loucura do dia a dia, das via-gens pelo Brasil, do tempo que passo em Friburgo cuidando do Spa Maria Bonita e de todos os compromissos e disponibilidade exigidos para manter uma carreira artista, conseguia reservar alguns momentos para me dedicar a este livro. Escrevê-lo me fez rever minhas escolhas, minhas conquistas, minhas perdas... Me fez amar ainda mais meus filhos, meus pais e meus amores. Descobrir que alguns sonhos viraram realidade e que a maioria dos pesadelos foi esquecida. Quando, no meu apartamento na Barra da Tijuca, me debruçava sobre minhas memórias, coisas que ganhei, cartas, bilhetes, fotos, cartazes de cinema e programas de teatro e tantas outras lembranças para fazer este livro, revivia situações quase esquecidas, reencontrava pessoas que nunca mais vi, viajava novamente por caminhos tão distantes… Ao buscar minha história perdia a noção de tempo e espaço. Não havia distância entre os fatos. Viajei de Tóquio, onde representei o Brasil num festival de música, para o interior de Goiás, onde rodei um filme, em segundos e sem escalas. Fiz um flashback da década de 90 para a de 60 em algumas palavras. Parecia que tudo estava acontecendo outra vez e simultaneamente dentro da minha cabeça. As recordações se misturavam como se eu não pudesse selecionar minhas próprias memórias. Revirava as gavetas do meu arquivo e encontrava imagens que pareciam fazer parte da vida de outra pessoa e que, aos poucos, ficavam mais e mais nítidas na minha mente. Nessa restrospectiva, que fui obrigada a fazer, tomei consciência da minha maluca trajetória artística. Sou esquisita mesmo: Rh negativo e uma vértebra a mais. 10% da humanidade tem esse tipo de sangue e 3% essa vértebra a mais. Sou mestiça de negros, índios, portugueses, holandeses e judeus. E, como disse, nasci no Rio e todo mundo pensa que sou nordestina. Imagina só. Organizar tanta vida neste livro não foi fácil, mas foi muito prazeroso, mesmo sabendo que muitas histórias se perderam definitivamente no passado. Olho para trás e vejo um longo e digno caminho trilhado. E olho para o futuro com otimismo. Acho que as terceira e quarta idades são pra curtir os frutos que você plantou, usufruir suas conquistas. Também faço planos de viajar muito e conhecer este planeta. Ah! E quero sempre poder ver meus filhos felizes, com saúde e com conforto. Hoje, me conhecendo melhor, tenho mais certezas e mais tranquilidade para escolher. Daqui a vinte anos quero estar ao lado de um companheiro, vivendo tranquilamente perto da natureza. Amo a natureza. Adoro praia deserta e silêncio. Não sou uma solitária e nem acho a solidão uma coisa ruim. Gosto da sensação de retiro e solidão. Fico plena, preenchida quando estou sozinha. Às vezes, no meio de um monte de gente, me sinto só, como se ali nada fizesse sentido para mim e então vem a certeza de que numa praia totalmente deserta, ao lado de um grande amor, eu estaria mais feliz. Há muito tempo batalho para conquistar esses privilégios quando estiver mais velha. Sei que não quero morrer no palco. Não quero ter necessidade de trabalhar na velhice. Atuar ou cantar? Só por prazer! Sem me preocupar com meu sustento e com questões do dia a dia. Meu ideal de felicidade é praia deserta e beijo na boca. Cronologia Teatro 2007 • Tieta do Agreste – O Musical De Christina Trevisan. Direção: Christina Trevisan. Com Maria do Carmo Soares, Luís Araújo, Emanuelle Araújo, Blota Filho e outros 2004 • Os Monólogos da Vagina De Eve Ensler. Direção: Miguel Falabella. Com Vera Setta e Betina Vianny 2002 • E Daí, Isadora? De Eliza Maciel e Paulo César Feital. Direção: Bibi Ferreira. Com Jalusa Barcelos 1992 • Detalhes Tão Pequenos de Nós Dois De Felipe Pinheiro. Direção: Felipe Pinheiro. Com Pedro Paulo Rangel 1979 • Ópera do Malandro De Chico Buarque. Direção: Luís Antônio Martinez Corrêa. Com Walter Breda, Abrahão Farc, Marlene, Cláudio Mamberti, Stella Miranda, Andréa de Maio, Cláudia Jimenez 1978 • O Fado e a Sina de Mateus e Catirina De Benjamim Santos. Direção: Cecil Thiré 1977 • Dois Pontos De Jonas Bloch e Tania Alves. Direção: Jonas Bloch e Tania Alves. Com Jonas Bloch 1977 • Onde Canta o Sabiá De Gastão Tojeiro. Direção: Luís Mendonça. Com Grupo Chegança • A Incrível História de Pedro Bacamarte De Vital Souza. Direção: Luís Mendonça. Com Grupo Chegança 1976 • Mumu, a Vaca Metafísica De Marcílio de Morais. Direção: Silney Siqueira. Com Antônio Petrin, Sônia Guedes e Carlos Au-gusto Strazzer • Canção do Fogo De Jairo Lima. Direção: Luís Mendonça. Com Grupo Chegança • Lampião no Inferno De Jairo Lima. Direção: Luís Mendonça. Com Grupo Chegança 1975 • Viva o Cordão Encarnado – 2ª versão De Luiz Marinho. Direção: Luís Mendonça. Com Grupo Chegança • Doroteia, a Bruxinha Rebelde De Sebastião Apolônio. Direção: Sebastião Apolônio 1974 • Lampião no Inferno De Jairo Lima. Direção: Luís Mendonça. Com Grupo Chegança • Gran Circo Gonzaga De Vera Raiser. Direção: Vera Raiser 1973 • Viva o Cordão Encarnado De Luiz Marinho. Direção: Luís Mendonça. Com Grupo Chegança • Reinações de Monteiro Lobato De Maria Helena Kuner. Direção: Luís Mendonça. Com Grupo Chegança 1972 • As Incelenças De Luiz Marinho. Direção: Luís Mendonça. Com Grupo Chegança • O Rapto das Cebolinhas De Maria Clara Machado. Direção: Ilmara Rodrigues. Com Tonico Pereira Cinema 1998 • A Hora Mágica Direção: Guilherme de Almeida Prado. Com Julia Lemmertz, Raul Gazzola, Maitê Proença, Imara Reis, José Lewgoy, John Herbert, Walter Breda 1991 • A República dos Anjos Direção: Carlos Del Pino. Com Denise Milfont, Ednei Giovenazzi, Raimundo Fagner, Tito Amejeiras 1984 • Onda Nova Direção: José Antônio Garcia e Ícaro Martins. Com Carla Camurati, Regina Casé, Cida Moreira, Caetano Veloso, Vera Zimmermann, Casagrande, Osmar Santos • Sole Nudo Direção: Tonino Cervi. Com David Brandon, Paolo Bonacelli, Carlos de Carvalho, Girolamo Marzano, Miguel Falabella, Bebeto Alves 1983 • O Cangaceiro Trapalhão Direção: Daniel Filho. Com Renato Aragão, Zacarias, Mussum, Dedé Santana, Regina Duarte, Bruna Lombardi, Tarcísio Meira, José Dumont, Lutero Luiz, Cininha de Paula • O Mágico e o Delegado (Paloma) Direção: Fernando Coni Campos. Com Nelson Xavier, Vera Setta, Ivan Setta, Cacilda Alves, Wilson Grey, Lutero Luiz, Maria Sílvia • Parahyba Mulher Macho (Anayde Beiriz) Direção: Tizuka Yamasaki. Com Cláudio Marzo, Walmor Chagas, Chico Diaz, Grande Othelo, Valéria Loretto, Cristina Cavalcanti 1981 • O Olho Mágico do Amor Direção: José Antônio Garcia e Ícaro Martins. Com Tito Alencastro, Carla Camurati, Arrigo Barnabé, Sérgio Mamberti, Jorge Mautner, Cida Moreira 1980 • Cabaret Mineiro Direção: Carlos Alberto Prates Correia. Com Nelson Dantas, Tamara Taxman, Louise Cardoso, Zaira Zambelli, Sônia Santos, Nildo Parente, Carlos Wilson 1979 • Meu Coração É um Metrônomo (aka Bachianas Brasileiras – Meu Nome É Villa-Lobos) Direção: José Montes-Baquer. Com Rildo Gonçalves, Amilton Monteiro, Sérgio Mamberti, Monique Lafond 1977 • Morte e Vida Severina Direção: Zelito Vianna. Com José Dumont, Stênio Garcia, Elba Ramalho, Jofre Soares • Emanuelle Tropical Direção: J. Marreco. Com Selma Egrei, Monique Lafond, Luiz Parreiras, Matilde Mastrangi, Walter Prado Curtas 1975 • Trem Fantasma Direção: Alain Fresnot. Com Marcos Aidar, Ricardo Blat, Walter Breda, Márcia Pompeu, Elba Ramalho • O Filho do Poderoso Chefão Direção: Vital Lima. Com Carlos Imperial Televisão Novelas Rede Record 2005 • Essas Mulheres – Firmina De Marcílio de Morais e Rosane Lima. Com Christine Fernandes, Paulo Gorgulho, Gabriel Braga Nunes, Carla Regina, Ana Beatriz Nogueira, Daniel Boaventura, Roberto Bomtempo, Miriam Freeland Rede Globo 2001 • O Clone – Norma De Glória Perez. Com Giovanna Antonelli, Juliana Paes, Murilo Benício, Débora Falabella, Reginaldo Faria, Vera Fischer, Jandira Martini Rede Record 2000 • Marcas da Paixão – Zefinha De Enéas Carlos e Maria Duboc. Com Irene Ravache, Antônio Abujamra, Fabiana Alvarez, Renato Borghi, Walmor Chagas, Jussara Freire, Eriberto Leão TV Manchete 1998 • Brida – Mercedes De Jaime Camargo. Com Othon Bastos, Sandra Barsotti, Carolina Kasting, Nádia Lippi, Fafy Siqueira, Wanda Stefânia, Anselmo Vasconcelos 1997 • Mandacaru – Severina Dantas De Gregório Reis. Com Victor Wagner, Carla Regina, Murilo Rosa, Bemvindo Sequeira, Jonas Mello, Carlos Alberto, José Dumont, Angela Leal 1995 • Tocaia Grande – Julia Saruê De Walter George Durst. Com Gabriela Alves, Neuza Amaral, Carlos Alberto, Taís Araújo, Roberto Bonfim, Marcélia Cartaxo, Gerson Brenner, Henrique César, José Dumont, Denise Del Vecchio, Suely Franco, Nelson Freitas, Edwin Luisi, Antônio Petrin, Suzana Pires, Dalton Vigh Rede Globo 1992 • Pedra sobre Pedra – Lola De Aguinaldo Silva. Com Lima Duarte, Adriana Esteves, Fábio Jr, Nívea Maria, Marco Nanini, Osmar Prado, Pedro Paulo Rangel, Arlete Salles, Renata Sorrah, Eva Wilma, Nelson Xavier TV Manchete 1990 • Pantanal – Filó De Benedito Ruy Barbosa. Com Cláudio Marzo, Cássia Kiss, Jussara Freire, Luciene Adami, Marcos Winter, Marcos Caruso, Ingra Liberato, Cristiana Oliveira Rede Globo 1985 • Tititi – Clotilde De Cassiano Gabus Mendes. Com Luís Gustavo, Reginaldo Faria, Sandra Bréa, Marieta Severo, Malu Mader, Nathalia Timberg, Paulo Castelli, José de Abreu, Yara Cortes, Aracy Balabanian, Lúcia Alves Minisséries Rede Globo 2007 • Amazônia: De Galvez a Chico Mendes – Dos Anjos De Glória Perez. Com Débora Bloch, Antonio Calloni, Juca de Oliveira, Cássio Gabus Mendes, Eduardo Galvão, Vera Fischer, Irene Ravache, Pedro Paulo Rangel, Giovanna Antonelli, Leopol do Pacheco, Eva Todor, Malu Valle, José Wilker, Christiane Torloni 1985 • Tenda dos Milagres – Ana Mercedes De Aguinaldo Silva. Com Othon Bastos, Mário Lago, Julia Lemmertz, Angela Leal, Milton Gonçalves, Lima Duarte, Louise Cardoso, Daniel Dantas, Nicete Bruno, Nelson Xavier 1983 • Bandidos da Falange – Glória De Aguinaldo Silva e Doc Comparato. Com José Dumont, Betty Faria, Stênio Garcia, Gracindo Jr, Yolanda Cardoso, Francisco Milani, Marieta Severo, José Mayer, Léa Garcia 1982 • Lampião e Maria Bonita – Maria Bonita De Aguinaldo Silva e Doc Comparato. Com Nelson Xavier, Regina Dourado, Roberto Bonfim, Jofre Soares, Hileana Menezes, José Dumont, Cláudio Corrêa e Castro Especiais de Televisão Rede Globo 1994 • Compadre de Ogum Direção: Roberto Talma TV Manchete 1987 • Tania Alves em Curaçao Rede Globo 1984 • Tiradentes, Nosso Herói Direção: Augusto César Vanucci • Órfãos da Terra Direção: Paulo Afonso Grisolli 1983 • O Santo Milagroso Direção: Antônio Pedro 1981 • Morte e Vida Severina Direção: Walter Avancini. Com Elba Ramalho, José Dumont, Cacilda Lanuza, Martha Overbeck, Sebastião Vasconcelos TV Cultura 1976 • Caixa Forte Direção: Silvio de Abreu • Hoje É Dia de Rock Direção: Silvio de Abreu • A História de São Francisco de Assis Direção: Ademar Guerra Participações em Seriados e Programas de TV Rede Globo 2001 • A Grande Família – A Desquitada da Freguesia 1993 • Você Decide – Chofer de Táxi 1986 • Armação Ilimitada – A Outra 1982 • Estúdio A… Giildo 1979 • Plantão de Polícia • Sítio do Pica-Pau Amarelo – A Fábrica de Bonecas • O Planeta dos Homens Programas de Televisão – como apresentadora: SBT 2000 • Meu Brasil Brasileiro TV Manchete 1988 • Agita Brasil Vídeos e DVDs 2003 • De Bolero em Bolero Direção: Raymundo Bittencourt 1990 • Lambada Direção: Fábio Barreto Discografia Bossas e Boleros (2003) Albatroz De Bolero em Bolero (2001) Abril Music Todos os Forrós (2000) Abril Music Coração de Bolero (1999) Abril Music Me Deixas Louca (1998) Polygram Amores e Boleros – Vol.III (1997) Polygram Amores e Boleros – Vol.II (1996) Polygram Amores e Boleros (1994) Polygram Humana (1992) independente Folias Tropicais (1989) Continental Brasil-Brazil (1988) – Lançado apenas nos EUA Tania Alves (1987) CBS Dona de Mim (1986) CBS Novos Sabores (1983) Polygram Bandeira (1980) Polygram Participações em Trilhas Sonoras (TV, Cinema e Teatro) E Daí, Isadora? – 2002 – teatro A Hora Mágica – 1998 – cinema Tititi – 1985 – novela Tenda dos Milagres – 1985 – minissérie Tiradentes, Nosso Herói – 1984 – especial de TV Cangaceiro Trapalhão – 1983 – cinema Cabaret Mineiro – 1980 – cinema Morte e Vida Severina – 1977 – cinema Participações especiais em disco Tania Alves gravou participações em inúmeros discos de outros artistas como Dominguinhos, Vital Farias, Bebeto Alves, Alceu Valença, Manduka, Waldick Soriano e outros. Principais Shows A Era de Ouro do Rádio – 2010 Palavra de Mulher (com Lucinha Lins e Virgínia Rosa) – 2008 De Bolero em Bolero – 2003 Todos os Forrós – 2000 Amores e Boleros – 1996 Asa Branca (com Dominguinhos) – 1993 Humana – 1992 Folias Tropicais – 1989 Dona de Mim – 1986 Tentação – 1981 Tanto Quanto Você É (com Manduka) – 1978 Prêmios Teatro 1975 Prêmio APCA de Atriz Revelação por Viva o Cordão Encarnado 1976 Prêmio SNT de Melhor espetáculo Dois Pontos Cinema 1981 Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Gramado pelo filme Cabaré Mineiro 1983 Prêmio APCA de Melhor Atriz pelo filme O Olho Mágico do Amor 1984 Melhor Atriz no Festival Internacional de Cinema de Cartagena (Colômbia) pelo filme Parahyba Mulher Macho 1984 Melhor Atriz no Festival Internacional de Havana (Cuba) pelo filme Parahyba Mulher Macho Televisão 1983 Prêmio APCA de Melhor Atriz por Lampião e Maria Bonita Índice No Passado Está a História do Futuro – Alberto Goldman 5 Coleção Aplauso – Hubert Alquéres 7 Introdução – Fernando Cardoso 11 Entre a Cruz e a Espada 15 Criativa e Cheia de Energia 25 A Virgem e o Peruano 31 Um Dia a Casa Cai 35 Um Novo Amor 39 São Paulo da Garoa, da Crítica, dos Prêmios e do Reencontro 53 Chico Buarque: o Padrinho 69 Travessa Veloso Guerra 83 Tania Maria Bonita Alves 87 A Paixão É a Minha Bússola 99 O Tititi das Novelas 107 Meu Grande Companheiro: Tadeu Viscardi 115 New York/Pantanal/New York 123 Com os Pés na Bahia 131 Nas Mãos de Walter Avancini 143 Checov ou Dercy? 151 No Coração da Floresta 159 O Palco Cura 165 Chegou Tieta!!! 181 Praia Deserta e Beijo na Boca 197 Cronologia 205 Crédito das Fotografias Bazílio Calazans/TV Globo 73, 109, 111 Carlos Bikics/TV Globo 106 Cláudio Ribeiro 60, 61, 62, 209 João Caldas 196, 203, 204, 239, 240 Marcelo Rey 233 Marta Viana 134, 136, 137, 208 TV Globo 89, 92, 93 William Aguiar 179, 183, 184, 187, 188, 190, 191, 193, 194, 206 A despeito dos esforços de pesquisa empreendidos pela Editora para identificar a autoria das fotos expostas nesta obra, parte delas não é de autoria conhecida de seus organizadores. Agradecemos o envio ou comunicação de toda informação relativa à autoria e/ou a outros dados que porventura estejam incompletos, para que sejam devidamente creditados. Coleção Aplauso Série Cinema Brasil Alain Fresnot – Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot Agostinho Martins Pereira – Um Idealista Máximo Barro Alfredo Sternheim – Um Insólito Destino Alfredo Sternheim O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias Roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger Anselmo Duarte – O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Antonio Carlos da Fontoura – Espelho da Alma Rodrigo Murat Ary Fernandes – Sua Fascinante História Antônio Leão da Silva Neto O Bandido da Luz Vermelha Roteiro de Rogério Sganzerla Batismo de Sangue Roteiro de Dani Patarra e Helvécio Ratton Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak – Fragmentos de uma Vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra – Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person O Céu de Suely Roteiro de Karim Aïnouz, Felipe Bragança e Maurício Zacharias Chega de Saudade Roteiro de Luiz Bolognesi Cidade dos Homens Roteiro de Elena Soárez Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero O Contador de Histórias Roteiro de Luiz Villaça, Mariana Veríssimo, Maurício Arruda e José Roberto Torero Críticas de B.J. Duarte – Paixão, Polêmica e Generosidade Luiz Antonio Souza Lima de Macedo Críticas de Edmar Pereira – Razão e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda Leão Críticas de Ruben Biáfora – A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista – Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Os 12 Trabalhos Roteiro de Cláudio Yosida e Ricardo Elias Estômago Roteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade Feliz Natal Roteiro de Selton Mello e Marcelo Vindicatto Fernando Meirelles – Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano Fim da Linha Roteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Storyboards de Fábio Moon e Gabriel Bá Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Francisco Ramalho Jr. – Éramos Apenas Paulistas Celso Sabadin Geraldo Moraes – O Cineasta do Interior Klecius Henrique Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta Cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton – O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito Ivan Cardoso – O Mestre do Terrir Remier João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Antonio Garcia – Em Busca da Alma Feminina Marcel Nadale José Carlos Burle – Drama na Chanchada Máximo Barro Liberdade de Imprensa – O Cinema de Intervenção Renata Fortes e João Batista de Andrade Luiz Carlos Lacerda – Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla – A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Mauro Alice – Um Operário do Filme Sheila Schvarzman Máximo Barro – Talento e Altruísmo Alfredo Sternheim Miguel Borges – Um Lobisomem Sai da Sombra Antônio Leão da Silva Neto Não por Acaso Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Narradores de Javé Roteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu Olhos Azuis Argumento de José Joffily e Jorge Duran Roteiro de Jorge Duran e Melanie Dimantas Onde Andará Dulce Veiga Roteiro de Guilherme de Almeida Prado Orlando Senna – O Homem da Montanha Hermes Leal Pedro Jorge de Castro – O Calor da Tela Rogério Menezes Quanto Vale ou É por Quilo Roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi Ricardo Pinto e Silva – Rir ou Chorar Rodrigo Capella Rodolfo Nanni – Um Realizador Persistente Neusa Barbosa Salve Geral Roteiro de Sergio Rezende e Patrícia Andrade O Signo da Cidade Roteiro de Bruna Lombardi Ugo Giorgetti – O Sonho Intacto Rosane Pavam Viva-Voz Roteiro de Márcio Alemão Vladimir Carvalho – Pedras na Lua e Pelejas no Planalto Carlos Alberto Mattos Vlado – 30 Anos Depois Roteiro de João Batista de Andrade Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende Série Cinema Bastidores – Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Série Ciência & Tecnologia Cinema Digital – Um Novo Começo? Luiz Gonzaga Assis de Luca A Hora do Cinema Digital – Democratização e Globalização do Audiovisual Luiz Gonzaga Assis De Luca Série Crônicas Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças Maria Lúcia Dahl Série Dança Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo – Dança Universal Sérgio Rodrigo Reis Série Música Maestro Diogo Pacheco – Um Maestro para Todos Alfredo Sternheim Rogério Duprat – Ecletismo Musical Máximo Barro Sérgio Ricardo – Canto Vadio Eliana Pace Wagner Tiso – Som, Imagem, Ação Beatriz Coelho Silva Série Teatro Brasil Alcides Nogueira – Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta – Circo e Poesia Danielle Pimenta Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior Federico Garcia Lorca – Pequeno Poema Infinito Antonio Gilberto e José Mauro Brant Ilo Krugli – Poesia Rasgada Ieda de Abreu João Bethencourt – O Locatário da Comédia Rodrigo Murat José Renato – Energia Eterna Hersch Basbaum Leilah Assumpção – A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu – Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau – Artista Múltiplo Leila Corrêa Renata Palottini – Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Abílio Pereira de Almeida Abílio Pereira de Almeida O Teatro de Aimar Labaki Aimar Labaki O Teatro de Alberto Guzik Alberto Guzik O Teatro de Antonio Rocco Antonio Rocco O Teatro de Cordel de Chico de Assis Chico de Assis O Teatro de Emílio Boechat Emílio Boechat O Teatro de Germano Pereira – Reescrevendo Clássicos Germano Pereira O Teatro de José Saffioti Filho José Saffioti Filho O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso – Pólvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora – Os Cantos de Maldoror – De Profundis – A Herança do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor – A Terra Prometida Samir Yazbek O Teatro de Sérgio Roveri Sérgio Roveri Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda – Quatro Décadas em Cena Ariane Porto Série Perfil Analy Alvarez – De Corpo e Alma Nicolau Radamés Creti Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Arllete Montenegro – Fé, Amor e Emoção Alfredo Sternheim Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros Rogério Menezes Berta Zemel – A Alma das Pedras Rodrigo Antunes Corrêa Bete Mendes – O Cão e a Rosa Rogério Menezes Betty Faria – Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati – Luz Natural Carlos Alberto Mattos Cecil Thiré – Mestre do seu Ofício Tania Carvalho Celso Nunes – Sem Amarras Eliana Rocha Cleyde Yaconis – Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso – Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Débora Duarte – Filha da Televisão Laura Malin Denise Del Vecchio – Memórias da Lua Tuna Dwek Elisabeth Hartmann – A Sarah dos Pampas Reinaldo Braga Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da Vida Maria Leticia Emilio Di Biasi – O Tempo e a Vida de um Aprendiz Erika Riedel Etty Fraser – Virada Pra Lua Vilmar Ledesma Ewerton de Castro – Minha Vida na Arte: Memória e Poética Reni Cardoso Fernanda Montenegro – A Defesa do Mistério Neusa Barbosa Fernando Peixoto – Em Cena Aberta Marília Balbi Geórgia Gomide – Uma Atriz Brasileira Eliana Pace Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no Ar Sérgio Roveri Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do Cinema Maria Angela de Jesus Ilka Soares – A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache – Caçadora de Emoções Tania Carvalho Irene Stefania – Arte e Psicoterapia Germano Pereira Isabel Ribeiro – Iluminada Luis Sergio Lima e Silva Isolda Cresta – Zozô Vulcão Luis Sérgio Lima e Silva Joana Fomm – Momento de Decisão Vilmar Ledesma John Herbert – Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa Jonas Bloch – O Ofício de uma Paixão Nilu Lebert Jorge Loredo – O Perigote do Brasil Cláudio Fragata José Dumont – Do Cordel às Telas Klecius Henrique Leonardo Villar – Garra e Paixão Nydia Licia Lília Cabral – Descobrindo Lília Cabral Analu Ribeiro Lolita Rodrigues – De Carne e Osso Eliana Castro Louise Cardoso – A Mulher do Barbosa Vilmar Ledesma Marcos Caruso – Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral – A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado – A Estrela, O Mistério Luiz Carlos Lisboa Mauro Mendonça – Em Busca da Perfeição Renato Sérgio Miriam Mehler – Sensibilidade e Paixão Vilmar Ledesma Naum Alves de Souza: Imagem, Cena, Palavra Alberto Guzik Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em Família Elaine Guerrini Nívea Maria – Uma Atriz Real Mauro Alencar e Eliana Pace Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Paulo Betti – Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José – Memórias Substantivas Tania Carvalho Paulo Hesse – A Vida Fez de Mim um Livro e Eu Não Sei Ler Eliana Pace Pedro Paulo Rangel – O Samba e o Fado Tania Carvalho Regina Braga – Talento é um Aprendizado Marta Góes Reginaldo Faria – O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi – Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Borghi – Borghi em Revista Élcio Nogueira Seixas Renato Consorte – Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin – Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho – Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza – Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst – Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti – O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silnei Siqueira – A Palavra em Cena Ieda de Abreu Silvio de Abreu – Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Sônia Guedes – Chá das Cinco Adélia Nicolete Sonia Maria Dorce – A Queridinha do meu Bairro Sonia Maria Dorce Armonia Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodriguiana? Maria Thereza Vargas Stênio Garcia – Força da Natureza Wagner Assis Suely Franco – A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio Roveri Theresa Amayo – Ficção e Realidade Theresa Amayo Tony Ramos – No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Umberto Magnani – Um Rio de Memórias Adélia Nicolete Vera Holtz – O Gosto da Vera Analu Ribeiro Vera Nunes – Raro Talento Eliana Pace Walderez de Barros – Voz e Silêncios Rogério Menezes Walter George Durst – Doce Guerreiro Nilu Lebert Zezé Motta – Muito Prazer Rodrigo Murat Especial Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso Wagner de Assis Av. Paulista, 900 – a História da TV Gazeta Elmo Francfort Beatriz Segall – Além das Aparências Nilu Lebert Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Célia Helena – Uma Atriz Visceral Nydia Licia Charles Möeller e Claudio Botelho – Os Reis dos Musicais Tania Carvalho Cinema da Boca – Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor – O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma – Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Mazzaropi – Uma Antologia de Risos Paulo Duarte Ney Latorraca – Uma Celebração Tania Carvalho Odorico Paraguaçu: O Bem-amado de Dias Gomes – História de um Personagem Larapista e Maquiavelento José Dias Raul Cortez – Sem Medo de se Expor Nydia Licia Rede Manchete – Aconteceu, Virou História Elmo Francfort Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte Nydia Licia Tônia Carrero – Movida pela Paixão Tania Carvalho TV Tupi – Uma Linda História de Amor Vida Alves Victor Berbara – O Homem das Mil Faces Tania Carvalho Walmor Chagas – Ensaio Aberto para Um Homem Indignado Djalma Limongi Batista © 2010 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Cardoso, Fernando Tania Alves: Tania Maria Bonita Alves /Fernando Cardoso. – São Paulo : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010. 264p. : il. – (Coleção aplauso. Série perfil / Coordenador geral Rubens Ewald Filho) ISBN 978-85-7060-839-0 1. Atrizes – Brasil – Biografia 2. Cantores – Brasil – Biografia 3. Cantores populares brasileiros 4. Alves, Tania Maria Alves, 1953 I. Ewald Filho, Rubens. II. Título. III. Série. CDD 791. 092 Índices para catálogo sistemático: 1. Atrizes brasileiras : Biografia 791.092 2. Cantores : Brasil : Biografia 780.092 Proibida reprodução total ou parcial sem autorização prévia do autor ou dos editores Lei nº 9.610 de 19/02/1998 Foi feito o depósito legal Lei nº 10.994, de 14/12/2004 Impresso no Brasil / 2010 Todos os direitos reservados. 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