O Bandido da Luz Vermelha Argumento e roteiro de Rogério Sganzerla Imprensa Oficial São Paulo, 2008 Governador José Serra Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Apresentação Segundo o catalão Gaudí, não se deve erguer monumentos aos artistas porque eles já o fizeram com suas obras. De fato, muitos artistas são imortalizados e reverenciados diariamente por meio de suas obras eternas. Mas como reconhecer o trabalho de artistas ge niais de outrora, que para exercer seu ofício muniram-se simplesmente de suas próprias emoções, de seu próprio corpo? Como manter vivo o nome daqueles que se dedicaram à mais volátil das artes, escrevendo, dirigindo e interpretando obras-primas, que têm a efêmera duração de um ato? Mesmo artistas da TV pós-videoteipe seguem esquecidos, quando os registros de seu trabalho ou se perderam ou são muitas vezes inacessíveis ao grande público. A Coleção Aplauso, de iniciativa da Imprensa Oficial, pretende resgatar um pouco da memória de figuras do Teatro, TV e Cinema que tiveram participação na história recente do País, tanto dentro quanto fora de cena. Ao contar suas histórias pessoais, esses artistas dão-nos a conhecer o meio em que vivia toda uma classe que representa a consciência crítica da sociedade. Suas histórias tratam do contexto social no qual estavam inseridos e seu inevitável reflexo na arte. Falam do seu engajamento político em épocas adversas à livre expressão e as conseqüências disso em suas próprias vidas e no destino da nação. Paralelamente, as histórias de seus familiares se en tre la çam, quase que invariavelmente, à saga dos milhares de imigrantes do começo do século pas sado no Brasil, vindos das mais variadas origens. En fim, o mosaico formado pelos depoimentos com põe um quadro que reflete a identidade e a imagem nacional, bem como o processo político e cultural pelo qual passou o país nas últimas décadas. Ao perpetuar a voz daqueles que já foram a própria voz da sociedade, a Coleção Aplauso cumpre um dever de gratidão a esses grandes símbolos da cultura nacional. Publicar suas histórias e personagens, trazendo-os de volta à cena, também cumpre função social, pois garante a preservação de parte de uma memória artística genuinamente brasileira, e constitui mais que justa homenagem àqueles que merecem ser aplaudidos de pé. José Serra Governador do Estado de São Paulo Coleção Aplauso O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Ofi cial, visa a resgatar a memória da cultura nacio nal, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cine ma, teatro e televisão. Foram selecionados escri tores com largo currículo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileira vem sendo re constituída de ma nei ra singular. Em entrevistas e encontros suces sivos estreita-se o contato en tre biógrafos e bio gra fados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se recons titui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor . Um aspecto importante da Coleção é que os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográ ficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Bió grafo e biogra fado se colocaram em reflexões que se esten de-ram sobre a formação intelectual e ideo lógica do artista, contextua li zada na história brasileira, no tempo e espaço da narrativa de cada biografado. São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas – analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos extrapolam os simples relatos bio gráficos, explorando – quando o artista permite – seu universo íntimo e psicológico , reve lando sua autodeterminação e quase nunca a casua lidade por ter se tornado artista – como se carregasse desde sempre, seus princípios, sua vocação, a complexidade dos personagens que abrigou ao longo de sua carreira. São livros que, além de atrair o grande público, inte ressarão igualmente a nossos estudantes, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Desenvolveram-se te mas como a construção dos personagens inter pretados, a análise, a história, a importância e a atua lidade de alguns dos perso nagens vividos pelos biografados. Foram exami nados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Gostaria de ressaltar o projeto gráfico da Coleção e a opção por seu formato de bolso, a facili dade para ler esses livros em qualquer parte, a clareza de suas fontes, a icono grafia farta e o regis tro cronológico de cada biografado. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empe nho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiris tas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sorti légios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de fil ma-gem, textos, imagens e pala vras conjugados, e todos esses seres especiais – que nesse universo transi tam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de to-do o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Introdução Se uma das características centrais de O Bandido da Luz Vermelha é a vivacidade, a capacidade de captar os tipos, modos de falar, de comunicar e mesmo os gestos das pessoas de uma cidade como São Paulo no fim dos anos 60 do século passado, a suposição imediata é de que a improvisação fosse sua marca. Engano. Já na leitura do roteiro percebe-se o tom inquieto, de reportagem, que caracterizaria o filme concluído. Até as indicações de câmera inclinada foram pensadas previamente, como se Rogério Sganzerla conseguisse visualizar durante a elaboração do roteiro as imagens que pretendia criar. Mesmo o caráter sinfônico do Bandido, em que sons, vozes, letreiros luminosos, música misturamse surgem já no texto, denotando a proximidade do filme com suas referências mais estridentes, Orson Welles e Jean-Luc Godard. Talvez fosse possível acrescentar aqui um terceiro nome - mais um cineasta anti-roteiro -, que é o de Roberto Rossellini. Os três compõem uma espécie de tríade do cinema liberador do cinema, isto é, que buscava escapar das amarras do classicismo. O detalhamento do roteiro não impede, no entanto, nem o improviso, o contato com as descobertas imediatas da filmagem, nem a contribuição dos atores (a de Luiz Linhares parece decisiva em vários momentos) e menos ainda mudanças entre o concebido originalmente e o realizado (num show de boate, pede-se José Mojica Marins fazendo um número de mágica, ali onde se viu Roberto Luna cantando – a mudança, não importa, o motivo, beneficiou o filme, já que evitou a auto-referência cinematográfica). O Bandido parece, por seu texto, ter um caminho pré-estabelecido: distanciar-se do Cinema Novo. Não apenas de certo academismo cinema-novista, que naquele momento já se insinuava, mas do que ele criara de mais produtivo, por exemplo, a idéia de um cinema terceiro-mundista. Não que Sganzerla não a reconheça, nem perceba muito bem tudo que ela trouxe. Mas seu olhar é outro. O Terceiro Mundo vai explodir. O Terceiro Mundo não presta. O Terceiro Mundo não é uma parte do mundo, é uma anomalia. Se Glauber Rocha estabelecera as bases de um cinema político, de transformação, o momento seguinte (e que marcará a geração que surge no final dos anos 60 e sucede a do Cinema Novo) se caracteriza pela pouca esperança. Ou por um ruidoso niilismo, como a perceber os caminhos barrados por tudo que começava a ser despejado sobre ela, a começar pela repressão política, com todos os seus reflexos intelectuais e existenciais. Em face disso, O Bandido se debate, convocando todos os meios à disposição: as imagens oblíquas, os sons estridentes, a locutora cafona, as manchetes sensacionalistas. O Bandido se debate como RG: convocando a metrópole ao sobressalto, revelando sua estranha vitalidade, as contradições gritantes, a boçalidade, a ignorância, a beleza, o conservadorismo, as impossibilidades. Este é um filme em que as potencialidades cinematográficas, sua originalidade de olhar, emergem já no texto, embora o texto depois vá se transformar, pois, embora preciso, parece aberto à improvisação, ao aproveitamento das circunstâncias do momento ou até aos impasses da produção. Que isso não sirva, no entanto, para confundir. O Bandido não é um monumento, não é obra para ser preservada em naftalina. É filme, como dizia RG na época, para ser visto num poeira e depois esquecido. Hoje talvez seja possível acrescentar: esquecido e depois revisto, lembrado e fruído como obra viva, visível, que ainda hoje nos interroga. A leitura deste roteiro é, sem dúvida, um instrumento a mais, muito especial, na tarefa sempre agradável de conhecer esta obra maior. Inácio Araujo Cinema Fora da Lei Manifesto de Rogério Sganzerla, escrito em 1968, durante as filmagens de O Bandido da Luz Vermelha. 1 – Meu filme é um far-west sobre o Terceiro Mundo. Isto é, fusão e mixagem de vários gêneros. Fiz um filme-soma; um far-west mas também musical, documentário, policial, comédia (ou chanchada?) e ficção científica. Do documentário, a sinceridade (Rossellini); do policial, a violência (Fuller); da comédia, o ritmo anárquico (Sennett, Keaton); do western, a simplificação brutal dos conflitos (Mann). 2 – O Bandido da Luz Vermelha persegue, ele, a polícia enquanto os tiras fazem reflexões metafísicas, meditando sobre a solidão e a incomunicabilidade. Quando um personagem não pode fazer nada, ele avacalha. 3 – Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime. 4 – Jean-Luc Godard me ensinou a filmar tudo pela metade do preço. 5 – Em Glauber Rocha conheci o cinema de guerrilha feito à base de planos gerais. 6 – Fuller foi quem me mostrou como desmontar o cinema tradicional através da montagem. 7 – Cineasta do excesso e do crime, José Mojica Marins me apontou a poesia furiosa dos atores do Brás, das cortinas e ruínas cafajestes e dos seus diálogos aparentemente banais. Mojica e o cinema japonês me ensinaram a saber ser livre e - ao mesmo tempo – acadêmico. 8 – O solitário Murnau me ensinou a amar o plano fixo acima de todos os travellings. 9 – É preciso descobrir o segredo do cinema de Luís poeta e agitador Buñuel, anjo exterminador. 10 – Nunca se esquecendo de Hitchcock, Eisenstein e Nicholas Ray. 11 – Porque o que eu queria mesmo era fazer um filme mágico e cafajeste, cujos personagens fossem sublimes e boçais, onde a estupidez – acima de tudo – revelasse as leis secretas da alma e do corpo subdesenvolvido. Quis fazer um painel sobre a sociedade delirante, ameaçada por um criminoso solitário. Quis dar esse salto porque entendi que tinha que filmar o possível e o impossível num país subdesenvolvido. Meus personagens são, todos eles, inutilmente boçais – aliás como 80% do cinema brasileiro; desde a estupidez trágica do Corisco à bobagem de Boca de Ouro, passando por Zé do Caixão e pelos párias de Barravento. 12 – Estou filmando a vida do Bandido da Luz Vermelha como poderia estar contando os milagres de São João Batista, a juventude de Marx ou as aventuras de Chateaubriand. É um bom pretexto para refletir sobre o Brasil da década de 60. Nesse painel, a política e o crime identificam personagens do alto e do baixo mundo. 13 – Tive de fazer cinema fora da lei aqui em São Paulo porque quis dar um esforço total em direção ao filme brasileiro libertador, revolucionário também nas panorâmicas, na câmara fixa e nos cortes secos. O ponto de partida de nossos filmes deve ser a instabilidade do cinema – como também da nossa sociedade, da nossa estética, dos nossos amores e do nosso sono. Por isso, a câmara é indecisa; o som fugidio; os personagens medrosos. Nesse País tudo é possível e por isso o filme pode explodir a qualquer momento. Sinopse do Argumento de Rogério Sganzerla O Bandido da Luz Vermelha Na favela do Tietê quatro meninos gângsters massacram alguns freqüentadores de um bar suburbano. O filme concentra-se na evolução de um dos garotos, no crime, que assalta uma mansão e violenta a proprietária. Progressivamente, ratica assaltos maiores, até virar mito e abalar a opinião publica. O Bandido da Luz Vermelha foge das viaturas policiais pelas ruas centrais de São Paulo. Sua habilidade confunde os policiais mais experimentados. Numa das habituais batidas surpreendem marginais num dos cabarés da chamada Boca do Lixo. O assaltante aproveita a confusão para fugir dos seus perseguidores, não resolvem o caso da mulher atirada do décimo segundo andar de um dos edifícios centrais da cidade. Mas eles não descansam e continuam levantando dados e depoimentos, tentando identificar o Bandido da Luz Vermelha. Na mesma noite, rouba um automóvel e assalta uma mansão luxuosa. Quando os policiais se aproximam – atendendo a uma denúncia anônima – ele simplesmente veste o melhor terno do proprietário, sai calmamen te, confundindose com os policiais e jornalistas que cercam a residên cia. No outro dia as manchetes de jornais publicam versões contraditó rias sobre suas feições. Com o dinheiro roubado compra roupas extravagantes numa loja central. Deposita parte das jóias na Caixa Econômica. Do seu hotel - na Boca do Lixo - escreve bilhetes audacio sos contra as autoridades policiais. Pretende assaltar as duas melho res mulheres da cidade... Cumpre a sua ameaça e sacrifica a família de um industrial - que, desesperado, se suicida. Suas indústrias entram em crise provocando certo pânico na Bolsa de Valores. O rádio e a televisão denunciam sua ação criminal, exigindo a extinção de tal perigo social. No seu pequeno quarto do hotel, ele continua indiferente a tudo. Num novo assalto, chega a restituir parte do dinheiro a uma jovem que sofre dificuldades financeiras. Mas o vigia da casa o persegue e é friamente chacinado. Ele faz questão de não perder as boas partidas de futebol, especialmente do Corínthians. Por sua vez, a polícia prende inúmeros sus peitos -inclusive um jogador de futebol e outro lutador de telecatch. Tudo não passa de um mal entendido, imediatamente resolvido. Mas um jornal apresenta - em suas manchetes diárias - o lutador como o verdadeiro culpado, que se vinga na pessoa de um repórter indefeso... A polícia continua tentando retrato falado, impossibilitado pela discordância das vítimas, quanto as suas feições, idade, cor do cabelo, etc... Num dos seus habituais passeios a Santos, o estranho assaltante descreve a uma pivete suas dificuldades na infância e outros dissabores. Freqüentemente saem juntos. Uma estranha relação de amizade e afeto, inicia-se entre a prostituta cínica e o bandoleiro solitário. Mas ele percebe que está sendo enganada, embora não conheça sua verdadeira identidade. Entre vários marginais presos como suspeitos de serem o Bandido da Luz Vermelha, está Lucho, protegido do Rei da Boca e amante da pivete. Para livrá-los ela denuncia o verdadeiro assaltante. J.B., o Rei da Boca, toma pessoalmente o encargo de libertar seu protegido e deposita sua inteira confiança na ação da polícia contra o Mascarado. Para comemorar a libertação do amigo, dá uma festa numa das boates da Galeria Metrópole - enquanto o mascarado coloca uma bomba no seu auto móvel. A perseguição aumenta e o marginal, cada vez mais solitário, desespera-se. Assalta mansões e motoristas de táxi, pois já não mais exerce nenhum controle sobre sua vontade. O cerco aperta com os policiais invadindo os locais anteriormente freqüentados por ele. Num rápido encontro com os policiais o bandido atira num assaltante do alto de um prédio. Este e seu último crime, pois no dia seguinte é visto no cinema e denunciado à polícia pela vendedora de bilhetes que reconhece em seu rosto a visível marca provocada pela máscara. Finalmente ruma para os arredores do rio Tietê. Não resiste à perseguição policial. Depois da rápida perseguição, é abatido a tiros de metralhadora por um detetive. Mesmo ferido, consegue se arrastar alguns metros até os fundos de uma fábrica, onde, ao subir uma escada toca num cabo de alta tensão. Morre eletrocutado enquanto os poli ciais partem, deixando o corpo carbonizado contra a cidade que tanto ameaçara. Fim Argumento e roteiro de Rogério Sganzerla São Paulo, 1967 O Bandido da Luz Vermelha OFF Macumba/batucada 1 – EXT: NOITE NOTICIÁRIO LUMINOSO DA AV. SÃO JOÃO Títulos no noticiário luminoso: Os personagens não pertencem ao mundo, mas ao Terceiro Mundo; O Bandido da Luz Vermelha, um filme de cinema de Fulano de Tal com... Enquanto isso ouve-se a voz, rápida e vulgar de Speaker que narrará todo o filme: Texto 1 - Decretado hoje estado de sítio no País. O dispositivo policial reforça todos seus órgãos de segurança... OFF – Metralhadoras esporádicas. Uma segunda voz, uma Speaker feminina repSete: Texto 2 - Os personagens não pertencem ao mundo, mas ao Terceiro Mundo. Corte brusco. Quando se ouve as palavras Terceiro Mundo, a tela, fica branca. OFF – Batucada funde-se com tiroteios. Som de aviões a jato pelo céus. Longa tela branca 2 – EXT: DIA; CAMPO DE MARTE PG: Plano flash, câmera fixa e verticalmente inclinada: aviões cortam os céus. 3 – EXT; DIA; FAVELA DO TIETÊ Superexposição Cenas rápidas e nervosas Grua desce - Quatro meninos gângsteres saem dum barracão miserável, todos armados com grandes pistolas, um deles nu, alguns bebendo, outros atirando... Contra transeuntes... Corte. 4 – INT; DIA; BAR SUBURBANO Closes agitados. Pans nervosas. Dinheiro cai dos bolsos dos garotos que abatem dois freqüentadores do bar, no tiroteio, sucedem-se socos e pontapés. 5 – EXT; DIA; FAVELA Pan oblíqua – um dos garotos atacando motorista de carro luxuoso que percorre uma rua miserável da favela. 6 – EXT; DIA; FAVELA PAN oblíqua (pp) de garoto esfaqueando alguém com facão grande 7 – EXT; DIA; FAVELA (diante do depósito de lixo) CLOSE CONTRE PLONGEE de garoto, contra o depósito de lixo avançando com metralhadora (obs: progressivamente o garoto vai tornando-se maior, mais velho). 8 – EXT; DIA; MANSÃO 1 PA (MF) TRAVELLING: O mesmo marginal, agora com maior idade, avança correndo e arromba a janela da mansão com pé de cabra próxima ao sítio. Música yé, ye, explosiva 9 – INT; DIA; MANSÃO 1 Marginal (BANDIDO) avança pela casa, batendo, matando. A câmera idem: TRAVELLING rápidos na mão. Corte: PA (FI) alguém se ajoelha, beijando seus pés, pedindo clemência. Depois de certo tempo o BANDIDO implacavelmente dispara. 10 – EXT; NOITE: NOTICIÁRIO LUMINOSO DE O ESTADO DE SÃO PAULO PG: CAMERA INCLINADA INSERTO: rapidíssimo do noticiário – O Monstro Mascarado, O Zorro dos Pobres – 11 – INT; NOITE; TAXI PA (MF) O Bandido da Luz Vermelha aponta a pistola Luger contra o chofer amedrontado. Olha para trás OFF: Sirena policial Força o chofer a a acelerar mais. 12 – EXT; NOITE; RUAS CENTRAIS DA CIDADE PG: TRAVELLING E PANORÂMICAS da perseguição das viaturas policiai atrás do táxi ocupado pelo assaltante. Texto 3 - Narrador – Ninguém sabe quantos assaltos, roubos, incêndios e atentados ao pudor ele já praticou. Com 22 anos E 22 mortes ele, o Bandido Mascarado, foi condenado a 167 anos. 8 meses e 2 dias de reclusão – além de multa de 15 contos, mas se for levado novamente aos tribunais poderá pegar 480. Só se safará dos seus crimes se conseguir provar que é louco. 13 – INT; NOITE; TÁXI CLOSE, PANS AGITADAS ENTRE BANDIDO E CHOFER. Excitado, BANDIDO exige maior velocidade. O chofer apavorado. OFF – Tiros. BANDIDO abre porta, tentando pular. Antes disso – bem frio – dispara contra o chofer. Salta no escuro. 14 – EXT. NOITE; PRAÇA JÚLIO MESQUITA PG, PAN em câmera na mão: a polícia. Subitamente: BANDIDO sai correndo pela Av. São João. Entra em edifício movimentado. 15 – EXT; NOITE; AV. SÃO JOÃO 83 PAN nervosa pelo prédio. Atiram mulher de edifício alto. Música yé yé PAN, PA, o corpo caindo. Enquanto o corpo cai, ouve-se o texto seguinte: Texto 4 – Darcy Ruth Brasil, 23 anos, dona de casa, ex-balconista, ex-manicure, ex-parteira, ex-vestibulanda de Direito, a popular Gaúcha, também conhecida como Mara ou Sophia Loren. 16 – INT/EXT; NOITE; AV. SÃO JOÃO Câmera instalada dentro de viatura policial. Ouvem ordens dadas pelo rádio. OFF- voz fanhosa: ...atiraram uma mulher do décimo segundo andar CABEÇÃO... São João 83 sim... Planos rápidos das ruas. O carro avança contra os pedestres. OFF – Ruídos de pneus, freados CABEÇÃO (INÍCIO OFF) Passa, passa por cima do gado... Pode fazer o tapete Euclides... Atapetar essas ruas de gente. São todos uns pulhas! CLOSE do delegado CABEÇÃO. PAN até seu assistente TARZAN. CHOFER - OFF Hoje quase matei uma velhinha na Paulista... Dessas que fazem que vão passar, desistem, e na hora passam... CABEÇÃO Comigo é diferente. Ponho o carro em cima desses pulhas! Se querem viver tem que pular pra fora! Não tenho tempo pra perder na rua! Aproximam-se do local. Pequena multidão cerca o corpo da mulher. 17 – EXT. NOITE; CALÇADA TRAVELLINGS: reboliço na calçada. Uma carteira vazia ao lado do corpo, que é coberto por anônimo com jornal. As rádio-patrulhas chegam, provocando estardalhaço. OFF – Sirenes Delegado CABEÇÃO desce, nervoso, do carro, gritando e ostentando seus documentos. TARZAN o acompanha: CABEÇÃO Tranca tudo, tranca o prédio Carvalho, que já chamei o fotógrafo! Fica onde está, já disse! Vamos ver se desta vez aquele negro escapa! (gritando) não pode boneca sair nem entrar, olha a autoridade aqui, olha que te racho a cara boneca! Entra em porta de boite suspeita. Câmera o segue, sempre seguido pelos policiais. 18 – INT. NOITE: BOITE CLOSE, câmera na mão: CABEÇÃO desce as escadas. Esbofeteia um anônimo que tenta sair: CABEÇÃO Já disse... já disse minha flor, segura esse aqui, TARZAN... Eu só quero uma coisa: saber quem foi o que jogou a mulher lá de cima! Vai todo mundo, prendo todo mundo – Acabou com essa folga de ma-tar gente a torto e a direito – se não me disserem logo eu vou embora! Estamos aqui para manter a ordem! Na boite, PC, ambiente de fumaça e decadência. Mulher faz strip-tease ao som do tango Uno. Câmera aproxima-se, em TRAVELLINGS SEMICIRCULARES Um mágico (José Mojica Marins) apresenta truque velhíssimo. CABEÇÃO intima bêbado deitado numa mesa. Como não tem seus documentos em dia, o prende. O lento e melancólico strip-tease, ao som do tango. 19 – INT/EXT: NOITE: PORTA DE BOITE DE RUA PA (MF) TRAVELLING P/ FRENTE, câmera levemente inclinada. Policiais empurram Anônimo pelas costas, conduzindo-o à rádio patrulha. TRAVELLING os segue. Desembocam na rua. PAN nervosa do ambiente, acentuada pelos barulhos fortes que abafam a voz de um bêbado. O anônimo semi-bêbado berra: ANÔNIMO (uma silhueta móvel contra um fundo claro) O terceiro mundo vai explodir! Vai explodir! E não vai sobrar ninguém de sapato, quem tiver de sapato não sobra, não pode sobrar... Guardas o agarram, atirando-o dentro da rádiopatrulha que parte furiosamente. Sem perceber o rosto do Anônimo, ouvimos diálogos semi-inteligíveis: ANÔNIMO OFF Podem me levar que não adianta nada... O extermínio... A solução para o Brasil é o extermínio total, seu guarda... Vão ver só... (mais forte) eu sou poeta! Eu sou Poeta! Seu guarda, veja, sou poeta! PANORÂMICA até CABEÇÃO: CABEÇÃO Leva esse bêbado cachorro pro porão do DI; deixa comigo que amanhã de manhã eu resolvo o caso... Sai do quadro. PG. Entra em outra viatura que arranca lentamente. O ambiente se acalma. 20 – INT: NOITE: DENTRO DO CARRO CABEÇÃO entra silenciosamente no carro, olhando para o chofer e TARZAN. Está cansado. Silêncio significativo. O carro arranca CLOSES alternados dos três tiras: chofer, cabeção e TARZAN. CABEÇÃO tira cigarro do bolso e fura ainda silencioso. Depois de longo silêncio CABEÇÃO (QUASE NUM MONÓLOGO) Numa batida dessas o coração estoura... O doutor já disse: o cigarro, se eu não parar em seis meses vou acabar debaixo da terra. Escuta TARZAN: pra mim, só uma coisa séria na vida: coração da gente, o resto é bafo... Com o coração não, você não pode brincar... Explode e a Delegacia como é que fica? (olha pela janela contemplando as ruas) 21 – EXT; NOITE; RUAS PG documentais; câmera instalada dentro do carro: ruas que passam. Voz de CABEÇÃO fica em OFF 22 – INT; NOITE; CARRO (BAR SUSPEITO) Carro estaciona. CABEÇÃO sentado no carro, em primeiro plano. Do fundo – vistos através da porta aberta – vêm TARZAN e CHOFER, vindos de bar suspeito. Acabam de tomar café e comprar cigarros. TARZAN cochicha com algum marginal e depois dá tapa nas nádegas de prostituta que posa na calçada, esperando freguês. Entram no carro falando: TARZAN Olha CABEÇÃO, você pode fazer o qua quiser mas a boca não acaba nunca... é um negócio assim, não sei, uma instituição nacional... tão séria como Tiradentes ou o sete de setembro... essas mulheres a gente não acaba nunca... CABEÇÃO folheia baralho. INSERTO: detalhe do baralho de mulheres nuas misturado com fichas de criminosos Preguiçoso, ele não responde nada. Silêncio. OFF – ruído de arranque do carro 23 – EXT; NOITE RUAS DA BOCA (DOCUMENTÁRIO: CÂMERA DENTRO DO CARRO) TRAVELLINGS documentais PA (FI) câmera oferecendo-se por detrás do portão. A pequena multidão de homens. Ruas suspeitas, especialmente rua do Triunfo. PANS rápidas de sinucas, bares, cinemas proibidos até 21 anos. Carro de cabeço no quadro (TRAV PC/ p/ trás). Texto 5 - É o império da bolinha, da prostituição em massa, do tráfico de menores, do crime industrializado e do comércio automobolístico, uma cidade dentro de uma cidade, um bairro criminal cheio de fome e culpa: a Boca do Lixo; a mais completa; a consagração de todas as Bocas, a falada Boca das Bocas, do crime, leve, pesadas, sujas ou do fumo. É o lixo sem limites, senhoras e senhores. 24 – INTERIOR; NOITE; APARTAMENTO DE MAU GOSTO Enquanto ouvem-se as últimas palavras do texto anterior: Plano fixo em contra-plongeé: prostituta veste-se ao lado de freguês. 25 – EXT; NOITE; ESTACIONAMENTO PA(MF) TRAV. BANDIDO caminha pondo máscara. Carrega uma mala velha. Apanha um molho de chaves. Escolhe um carro vistoso. CLOSE fixo de guarda que dorme numa cadeira e acorda-se lentamente com o ruído de arranque de carro (OFF). Faz cara de sono e de indiferente. 26 – EXT; NOITE; POSTO DE GASOLINA DETALHE- Bomba de gasolina enchendo o tan-que do carro do BANDIDO. Ele passa arranca pela noite PG. Texto 6 - Se você, meu amigo, tem jóias, muito dinheiro ou uma pessoa atraente em casa – mas atraente mesmo – então muito cuidado porque ele pode atacar a qualquer momento de dia ou de noite: o Bandido da Luz Vermelha não respeita a mulher ou a propriedade privada de ninguém (esse texto se prolonga até início de ação da seqüência seguinte). 27 – EXT; NOITE; MANSÃO 2 CLOSE em TRAV acompanha o trabalho calmo do mascarado. Depois de observar detidamente a casa, retira de sua mala um pano embebido em éter. Atrai o cachorrão da casa. Imprime o pano nas suas fuças, adormece-o. Tira macaco do seu carro para arrombar janela, mas não consegue manejar o mesmo macaco. Entra na garagem e arromba outro carro, retirando seu macaco. Finalmente, arromba a janela. 28 – INT; NOITE; MANSÃO 2 CLOSE em TRAV acompanha o trabalho calmo do mascarado. PA (FI) o assaltante percorre a residência, sempre com sua lanterna. Procura algo. Encontra pequena toalha de mesa, veste-a, improvisando uma máscara que não o satisfaz. Arranca-a. No banheiro, apanha toalha de rosto. Veste também um chapéu de mulher, com plumas. DETALHE- desliga chave elétrica geral. Corte: Vasculha móvel onde não encontra nada de valor. Aproxima-se da cama do casal proprietário, acordando-os bruscamente: Aponta foco de luz diretamente nos olhos do proprietário, homem de certa idade. BANDIDO Oh, seu Zé, acorda seu Zé... o negócio é o segu inte: tou querendo as jóias e o dinheiro. Qualquer coisinha, passo fogo. Qual é o segredo do cofre? PROPRIETÁRIO Mas meu filho no momento eu não sei... Proprietário tenta apanhar óculos. BANDIDO afasta-o, colocando em seu rosto o revólver. O proprietário atrapalha-se enquanto ele aponta pistola e lanterna. BANDIDO (DANDO-LHE UM PONTAPÉ) Acho bom o senhor saber seu Zé logo! Quer levar uma bala na cabeça,qué seu Zé? PROPRIETÁRIO (levantando-se ainda semidesperto) Mas meu amigo. BANDIDO (dando outro pontapé) Ta falando demais... (empurra-o com o cano do revolver) BANDIDO Por aí não, aqui (aponta outro quarto) Corte: PP, fixo: Proprietário empurra quadro de parede, desvendando o cofre. PROPRIETÁRIO Ilumina direito (Apanha jóias, relógios, dinheiro, dólares que o BANDIDO não apanha). Proprietário observa sempre engolindo seco. PROPRIETÁRIO Será que o senhor pelo menos não podia deixar o relógio da minha filha que faz 21 anos amanhã seu Luz? BANDIDO Toma aí. Não reclama. Leva. Eu vou me mandar pra América; Sem um pio. Lá vou ter mais chances seu Zé... Corte PA(MF) BANDIDO sentado em poltrona, ainda com chapéu de plumas e máscara improvisada. Termina de comer omelete, entregando o prato à Madame. Retira balas de revolver e caramelos do bolso. Oferece flor a ela. BANDIDO Agradecido madame, bala ou drops? A senhora quer? A madame não sabe como o azul fica bem pra senhora... em sempre fui assim mesmo, sempre gostei de ver mulher assim bem vestida...(berrando bruscamente) e agora agradeça o elogio! Agradeça Madame! Empurra o proprietário dentro de quarto ou banheiro, enquanto berra: BANDIDO Tá falando com o campeão de tiro alvo do Mato Grosso... Mulher apavora-se com a situação. O Marginal, forçando-a a descer escada com ele... OFF - ruídos forte (marido bate na porta) BANDIDO volta, aproxima-se da porta e diz: BANDIDO Os moleques estão aí no quarto, qualquer coisa eu passo fogo em todo mundo aqui. É só bater mais uma vez, olha, são seis balas... com elas é um minutinho só... Na sua angústia contida, mulher explode: MULHER Mas como é que pode, entrar aqui, pegar tudo, como é que o senhor pode mandar na gente assim? Ele ameaça-a com o revolver, empurrando-a até o sofá. 29 – INT; NOITE; BANHEIRO OU BIBLIOTECA Proprietário abre porta de armário, pega telefone e disca um número. 30 – INT; NOITE; SALA VAZIA PA (MF) vultos em contra luz: BANDIDO e mulher lutam no sofá. 31 – EXT; DIA; FRENTE DE MANSÃO TRAVELLING recua em PC: amanhece e os carros da polícia aproximam-se lentamente. 32 – INT; DIA; MANSÃO 2 PA (MF) BANDIDO apanha jóias, dinheiro e um quadro, deixando Madame deitada no sofá, ao fundo. Olha subitamente em volta, sai do quadro, entra novamente e retorna ao quarto onde abre o guarda roupa. CLOSE - Tripé. Escolhe um terno e experimenta sapatos. Lentamente faz e refaz o nó da gravada. Penteiase enquanto escreve numa parede com tinta spray: Deveriam desistir de me pegar, mas vocês são meninos maus com armas de brinquedo. (Embaixo, desenho de máscara pintado de preto) 33 – EXT; DIA; MANSÃO 2 PC - TRAVELLING LATERAL - Nervoso o delegado cabeção sai do carro transmitindo ordens. CABEÇÃO Desta vez não, não pode escapar, vocês por aqui, que é que tão esperando? Olha, podem atirar pra matar, eu agüento a mão! Ta dormindo, TARZAN? Um grupo de jornalistas acompanha. PC da casa. PA (MF) dos policiais. BANDIDO saindo da casa, escondendo-se atrás de muro até aproximar-se de grupo e confundirse com os jornalistas. Os policiais continuam cercando a casa com grandes carabinas. BANDIDO apanha seu carro. Música insinuante. PAN-PG do carro, que some pelas ruas. Texto 7 - Ele revolucionara o crime no Brasil; Dentro de 48 horas, no máximo, o criminoso deverá estar preso, garante o Coronel Sade. 34 – INT; DIA; MANSÃO 2 Imagens mudas: TRAV. - PA pela casa assaltada, repleta de fotógrafos e jornalistas que cercam a madame (fugindo de todos). Policiais examinam roupas deixadas pelo assaltante. Excitado, CABEÇÃOopo de leite e Alka Seltzer lendo o bilhete. Um policial tenta fazer retrato falado com a madame sempre em prantos. Da Delegacia de Furtos de São Paulo, Cabeção para os íntimos. E aconselha todos os residentes dos Jardins a providenciarem imediatamente o armamento e a defesa prudentes. A 17ª vítima do bandido nacional não pode prestar declarações porque continua em estado de choque: suas jóias, no valor de oito milhões, estavam seguradas em 750 contos. Mas não foi só isso, senhoras e senhores, antes de roubar e ofender aquela infeliz família, o misterioso tarado obrigou um chofer de táxi a leva-lo à Boca do Lixo, atacando-o sem motivo. O motorista sobreviverá, mas caolho. Foram três os crimes ontem porque também uma mulher caiu – caiu ou foi atirada, só Deus sabe – do 12º andar do 83 da Av. São João. A polícia não acredita em suicídio. Subitamente, entram diálogos em perfeito realismo sonoro: TARZAN Não adianta procurar impressão digital que esse cara é muito vivo para cair do cavalo assim... CABEÇÃO observa parede sem o quadro (marca visível). Absorto CABEÇÃO Lixo, a arte moderna é lixo, coisa de depravado... TARZAN Depravado, mas ó o quadro valia mais de cinco milhões. CABEÇÃO É isto mesmo: quanto mais podre, mais caro. Eles querem assim mesmo. Uns porcos. Todos. Eu admito tudo menos essa laia de parasitas, intelectuais, por mim eu passava tudo no fogo... Ambos voltam ao trabalho, saindo do quadro. 35 – INT; DIA; CAIXA ECONÔMICA PA (MF) - BANDIDO empenha jóias, sendo gentilmente tratado pelos funcionários. 36 – INT; DIA; LOJA DE ROUPAS TRAV PA (MF) O marginal escolhe roupas extravagantes. Funcionário lhe dá especial atenção. Sapatos com fivelas enormes. Paletó de mau gosto. Compra gravata vermelha. Ele namora uma funcionária bonitinha. 37 – EXT; DIA; PRAÇA DA SÉ PA (FI) TRAV P/ FRENTE. BANDIDO, de costas, caminha pela multidão. Alguém lê jornal com manchetes sobre seus crimes (PP; jornal ocupa todo o quadro). Numa banca compra jornais. Manchete. Imagem muda (closes) conversa com tipo bizarro (charuto e pasta debaixo do braço) na esquina da R. Barão de Paranapiacaba. Tratase do receptador de jóias. 38 – INT; DIA; HOTEL DO ASSALTANTE (HOTEL MAGALHÃES) DETALHE - Abrindo a caixa de sapatos escrevendo bilhetes. OFF - harpas paraguaias. Bilhete: Tiras da cidade: dada minha calma e sangua frio, não os temo nunca. Caso venha a encontrar vocês no meu caminho atravessarei vossas cabeças com o chumbo da minha Luger. OFF - Esporadicamente, tiros fortes (terminando o bilhete) DETALHE- Mão limpando pistola em pia sórdida. Mão tirando balas e caramelos do bolso. Close do atacante. PG do quarto sórdido, com três camas. Sozinho, ele escreve o outro bilhete – em papel de cigarro – com balas e caramelos na mesa: Um milhão de recompensa é pouco para mim Cabeção, vê se o Governador aumenta o tutu para dez ou quinze. Vocês nunca me pegarão; Hoje é o dia. Vou... 39 – EXT; DIA; NOTICIÁRIO LUMINOSO DE O ESTADO PG CONTRE PLONGEE. Superexposição. O noticiário, cercado pela multidão, continua seu recadinho - Música: Vereda Tropical (Trecho) ...Pegar as duas melhores mulheres da cidade? Escolhidas a dedo – Foi seu último recado. Por enquanto a polícia só sabe duma coisa: vestígios de maconha encontrados numa casa assaltada provam que é um viciado... Rio de Janeiro – Continua a caça ao refugiado alemão Martin Birman, conselheiro e secretáio de Hitler... Corte 40 – INT; NOITE; QUARTO QUALQUER PA (MF) Plano fixo. Pans didáticas: Mulher deitada, com roupas rasgadas, no chão... BANDIDO passa ao fundo, fugindo com televisor portátil, relógio, uma calcinha e um presunto. Sai por uma porta. PAN retorna até ela. 41 – EXT; DIA; RUA TRAVELLING PA (FI) Câmera segue uma garota elegante. CLOSES do seu corpo. Parado numa esquina, o BANDIDO a observa, controlando o ambiente, chupando drops. Observa uma caderneta de endereços de mulheres (DETALHE). Risca e seleciona endereços. Anota o número do prédio em que entra a garota. 42 – INT; NOITE; APARTAMENTO CLOSE, TRAVELLING na mão: Garota caminha pelo apartamento desligando TV e escolhendo discos. OFF – Campainha. Ela atende. BANDIDO entra e a ameaça com navalha. Tempo. Ela não oferece qualquer resistência. Plano geral. O marginal aproxima-se. Pressionada, despe-se lentamente. BANDIDO larga a navalha. 43 – INT; NOITE; APARTAMENTO: COZINHA PP PANS soltas pelo décor: BANDIDO abrindo geladeira e tomando algo. Mulher entra no quadro. Abraça-a. 44 – INT; NOITE; APARTAMENTO QUALQUER PA(MF) PANS soltas: BANDIDO Entra em quarto. Alguém dorme. BANDIDO empurra cabeça da vítima para reconhecê-la: um rapaz cabeludo que o olha espantado. BANDIDO recusa-o, saindo rapidamente do quadro. Texto 8 – As autoridades só pedem uma coisa: Pelo amor de Deus não façam dele um herói. Principalmente o rádio e a TV que espalham a versão do ladrão bondoso e cavalheiro que roubava dos ricos para dar esmolas aos pobres, principalmente às criancinhas pobres, a quem compraria doces, sorvetes e outras guloseimas; era uma versão mentirosa porque ele não passava de um ladrão grosso chato faroleiro, com um imenso repertório de palavrões. 45 – EXT; DIA; FÁBRICA PG fixo: fábrica imensa. Depois de certo tempo morto, um tipo entra em automóvel de luxo - com chofer. TRAVELLING ascendente (na mão). BANDIDO em primeiro plano, com sua mala na mão. Observa fixamente o tipo. 46 – EXT; DIA; TRÁFEGO SÃO LUIZ PC; TRAVELLING LATERAL: Carro de tipo, correndo. OFF - buzina disparando intermitentemente. 47 – EXT; DIA; MANSÃO 4 (IMPONENTE) PG TRAVELLING LAT da mansão, com alguns carros da polícia no quadro. CABEÇÃO sai da porta principal. Em sentido inverso à câmera, entra carro luxuoso do tipo. CABEÇÃO vai até o jardim e retorna ao interior. 48 – INT; DIAS; MANSÃO 4 PA (MF) TRAVELLING acompanha CABEÇÃO entrando no interior da mansão, repleta de policiais e jornalistas. Nervosíssimo ambiente. Pessoas entram e saem de quadro. CABEÇÃO, sempre excitado, toma um Alka Seltzer (Close PAN rápida, na mão). TRAV descreve os corpos de duas crianças estendidas pelo chão. Mais adiante, o corpo da mulher, estendido numa banheira. TRAVELLING continua até plano Geral, tornando legível uma frase obviamente escrita com tinta vermelha: Quem tiver sapato não sobra. Fotógrafos disparam flashes contra a câmera. Texto 9 – Cruelmente, sem piedade, ele assassinara a mulher e dois filhos do homem que entregou um garoto ao juizado de menores por causa de um simples furto na sua fábrica. Esse hiomem infelizmente não sabia que Zica, o moleque, era afilhado do Bandido da Luz Vermelha... 49 – INT; DIA; TIRO ALVO CLOSE de BANDIDO exercitando tiro ao alvo em stand vulgar. DETALHE - bonecos que caem. PP: planos fixos de observa dores. PG: BANDIDO disparando. CLOSE; PANS soltas: recebe um prêmio qualquer (uma garrafa ou pacote de cigarros) 50 – EXT; DIA; NOTICIÁRIO LUMINOSO DE O ESTADO PA (MF) Câmera semi-inclinada. Superexposição. Vocês se lembrarão de mim como o mais perfeito dos bandidos encapuçados. Fui campeão de tiro ao alvo em Cuiabá e invencível pistoleiro profissional em Mato Grosso: com várias mortes. Outras notícias internacionais. Cortes sobre o mesmo plano. Em destaque com ZOOM (flecha). Washington – Suicidou-se nessa capital o industrial Peter Smith que residiu no Brasil mais de doze anos. Texto 10 - Mr. Smith não resistiu à morte da esposa e dos filhos. Pouco depois suas indústrias no Brasil entravam em crise, provocando certo pânico na Bolsa de Valores... 51 – INT; DIA; BOLSA DE VALORES PA (MF) TRAVELLING Agitado p/ frente, com PANS à direita e à esquerda. Os cartazes de cotação das ações; os inúmeros telefones; o movimento em geral. Um cinegrafista com Câmera simples entra e sai do quadro, sempre filmando a crise da bolsa, agitadíssima. 52 – INT; DIA; VÍDEO DETALHE: tela de TV; um pequeno filme de atualidades descreve sucintamente o assalto. CLOSE, fixo, de cinegrafista junto a aparelho de TV. DETALHE: Pequena reportagem sobre o número de indústrias, minas, companhias imobiliárias etc. A falência. A Crise. O seguinte texto se sobrepõe ao anterior: Texto 11 (mais rápido e excitado) - É o Brasil em fúria senhoras e senhores contra o monstro disfarçado de Robin Hood, o submascarado, esse criminoso subdesenvolvido... 53 – TRAV. P/ FRENTE: ESTÚDIO DE TELEVISÃO (INT DIA) PC Cercada de câmaras uma mulher discursa, diante de bandeira. Música (marcha) cresce enquanto a câmera se aproxima: CLOSE UP. MULHER (com pequeno eco de alto falante) ... Um bárbaro minhas ouvintes... Só pode ser um bárbaro porque a ciência não prevê tantos requintes de selvageria e perversidade... Um bárbaro ou (tempo) então um tarado. Nem os guerrilheiros de Belo Horizonte meu Deus, nem Brizola e Jango Goulart foram tão longe... TRAVELLING LATERAL por cartazes: Cruzada Contra a Corrupção Marcha Contra o Crime E a Polícia o que Faz? A Família Protesta MULHER ... Em seu cinismo doentio... Em nome das mais ameaçadas, das senhoras de todo o Brasil, exigimos que as autoridades... OFF - ruídos de estúdio abafam o discurso. Numa outra mesa, moralista cercado de câmeras. MORALISTA Em certos casos como vínhamos dizendo senhores espectadores somos favoráveis à pena de morte. Em favor de sociedade porque a grande família paulista sabe pouco ou quase nada pode fazer por elas, as infelizes vítimas... (tempo) 54 – EXT; DIA; BOCA DO LIXO; RUAS PA (FI) DE MARGINAIS SENDO BRUTALMENTE AGREDIDOS PELOS POLICIAIS. PC; PLANO FIXO e Mudo de Rua. PG idem idem. MORALISTA OFF ... A morte violenta é uma constante da humanidade “não matarás” já dizia a Santa Bíblia e Caim foi o primeiro! o primeiro senhores espectadores! Não será o último. 55 – EXT; NOITE; NOTICIÁRIO LUMINOSO DA AV. SÃO JOÃO PA (FI) CÂMERA FIXA Inserte rápido: Um Gênio ou uma Besta MORALISTA OFF (CONT.) De lá para cá a criatura humana não melhorou nada: continua a mesma... OFF - batucada crescendo... Texto 12 – Ou estava na cara ou então ele jamais seria descoberto (tempo). 56 – INT; DIA; REDAÇÃO DE JORNAL SUCESSÃO DE PLANOS RÁPIDOS E DOCUMENTAIS. Mudos: CLOSE de homens com capuz. PA (MF) Fotógrafos). PA (MF) Um garoto entregando manchete: Máscara Negra Ainda Solto Desenhos (INSERTOS) Fotografia de bilhetinhos (INSERTO) Folhetim de suas aventuras. Legendas diversas: INSERTOS: Luz Vermelha: Porque as Mulheres o Protegem O Monstro Maníaco Sexual Texto 12 (cont) – Por quê? Por que essa raiva louca contra os felizes e satisfeitos? Esse desprezo cada vez mais doentio pelos outros e o desejo de destruí-los? Essa fúria desenfreada, seria o início de uma nova maldição, uma praga social destinada a apavorar a população ou as autoridades? 57 – EXT; DIA; BOCA DO LIXO DETALHE: mão apertando abotoadura de revólver. Plano geral: Plano flash: BANDIDO andando pela rua com “smoking”, botinhas brancas e outros componentes de mau gosto. Texto 12 (cont.) – Quem era este marginal lendário, o mais famoso bandido nacional dos últimos anos? (tempo) Um espantoso tarado sexual, um simples provocadro, um gozador? Ou então seria um anormal, um mágico sem lei, um monstro apenas? 58 – EXT; DIA; LAGO DA RUA DOS ANDRADAS PP, TELEOBJETIVA, PAN acompanha-o: banha-se no lago. Sai com sabonete, tamanco e toalha nas costas. SUCESSÃO DE PLANOS MUDOS E DOCUMENTAIS FIXOS; PC; flagrantes mudos de ruas, gente, prédios. Progressivamente, a câmera aproxima-se de hotel inclassificável. (fachada: hotel Continental) Silêncio total. É o hotel do BANDIDO. 59 – INT; DIA; HOTEL MAGALHÃES PA (MF) num quarto de três camas. É dia. BANDIDO dorme, outro anônimo também. Acorda lentamente. Veste-se sai de quadro. No banheiro sórdido: BANDIDO faz a barba, cortando ligeiramente. Com cuidado, faz curativo. Penteia-se e depois lava suas três máscaras. Põem-nas para secar. No quarto do hotel faz oração espírita, utilizando defumador. 60 – EXT; DIA; CENTRO MAUÁ PA (MF) PANORÂMICAS LENTAS À DIREITA E À ESQ: encontra conhecidos no bar, inclusive Pé de Chumbo. Ao garçom pede café. Come rosquinha. Depois (CLOSE) bebe cachaça, fazendo questão de deitar um pouco para os santos. 61 – EXT; DIA; ENGRAXATARIA PA(FI) FIXO: engraxa sapatos, chupando laranja – comprada na rua. Dá boa gorjeta ao engraxate. 62 – EXT; DIA; MERCEARIA Uma garota sai da mercearia. (PLANOS RÁPIDOSFI DA GAROTA) BANDIDO observa-a (Close). Segue até prédio. Tira caderno de endereços e anota número do prédio; Ainda para hoje. Número tal. (DETALHE) Depois entra em bar e bebe até a noite. 63 – EXT; NOITE; MANSÃO 5 Abre portãozinho com chave falsa, mesmo podendo pulá-lo facilmente (só para esnobar). Deixa sapatos no jardim. Com seu molho de chaves abre a porta da casa. Vigia vê sapatos no jardim. 64 – INT; NOITE; MANSÃO 5 O assaltante, sempre chupando caramelos, desliga a chave geral da casa. Surpreende empregada que, sonolenta, desce uma escada. Ela tenta arrumar qualquer defeito de instalação elétrica, pensando que se tratava de algum curto-circuito. Do escuro, semi-iluminado pela lanterna, o vulto do homem que fala: BANDIDO Não grita porque senão é pior! EMPREGADA Com que direito o senhor entra assim na casa dos outros! Sem nem pedir licença! BANDIDO Desde quando ladrão pede licença para entrar na casa dos outros! EMPREGADA Então o senhor me desculpe porque eu não sei de nada; dona Carmem tá dormindo lá em cima porque os donos tão viajando. BANDIDO Isso eu sei! EMPREGADA Olhe; me desculpe, eu sofro dos nervos e não posso fazer nada. BANDIDO Não precisa berrar! Feche a janela (aponta quarto, tentando distrai-la para prendê-la dentro). EMPREGADA Não quero mais conversa com o senhor. Não falo com estrangeiro, deixa eu ir fazer o café que já tou atrasada. BANDIDO Já disse para não gritar sua burra! EMPREGADA Burra não! Burro é o senhor, seu mal educado! BANDIDO Quieta aí, ô bagulho! EMPREGADA Já disse que não falo com estrangeiro. Não falo e pronto! BANDIDO aproxima-se, dá pontapé, empurra-a num quarto. Sobe ao primeiro pavimento. Corte 65-OUTRO QUARTO Com um maço de dinheiro na mão pergunta à garota: BANDIDO Mas vocês duas, sozinhas? E a patroa aonde está? GAROTA Tia Glória está lá em cima doente... Vivendo deste dinheiro pra pagar os remédios... BANDIDO Olhe minha filha, não pense que eu sou goiaba não. GAROTA Mas é verdade! O senhor quer ver? BANDIDO Quero! Leva-o a outro quarto. (CLOSE, passagem de tempo) BANDIDO É perigoso, Marta, sozinhas assim é um perigo. Ainda mais numa casa tão grande... Deviam tomar cuidado, você e sua tia... Vocês não sabem mas isto aqui está assim de ladrões... De cara morrendo de fome... Que topam qualquer parada. Depois de certo tempo, devolve o dinheiro. Ela oferece café com biscoitos. BANDIDO (EM OFF, CÍNICO) Ela me levou pro quarto pra ver a tal tia doente. Rapaz; era verdade. Sério. Aí eu não pude, tive dó: devolvi o tutu. Dos 300 fiquei só com 50 contos. Pros meus gastos. Devolvi porque era só uma pé-dechinelo como eu e ainda prometi voltar qualquer dia desses. Só assalto gente que pode. Não dá pé roubar de pobre, não dá pé... 66 – EXT; NOITE; MANSÃO 5 PA(FI) FIXO. Voltando, BANDIDO procura seus sapatos. Não os encontra. Atrai vigia que no fundo guarda sapatos. BANDIDO atira pedrinhas no jardim, tentando atrair o vigia. Quando este se aproxima, atira no peito, para matar. Apanha seus sapatos (guardados na guarita do vigia), e foge. Plano fixo. Sai de quadro. 67 – EXT; DIA; PACAEMBU PA(FI) PANS: jogo de futebol. (planos flashes negros e brancos). PG: estádio. Luzes fortes. Os torcedores semi-histéricos. PA(MF) craque discutindo - ou brigando? - com juiz. A partida. PC: luzes do estádio. Texto 13 – Enquanto o bandido corintiano gastava 45 contos de táxi de Bauru a São Paulo, e ainda dava mais dez contos de gorjeta, a polícia não descansava. Acreditavam até no aumento da recompensa para oito milhões; no auge do delírio prenderam mais de 200 suspeitos entre velhos marginais, estudantes, dois líderes sindicais e inclusive – Senhoras e Senhores - Jairzinho, ponta-esquerda do Palmeiras. 68 – INT; NOITE; VESTIÁRIO DO ESTÁDIO DO PACAEMBU PA (MF) TRAV P/ FRENTE, CONTRA PLONGÉE: Dois policiais (CABEÇÃO e TARZAN) seguram craque (apontando revólver) que está de camisa futebolística e com a bola na mão. Saem pela porta do vestiário. Expressionismo voluntariamente falso. Ao fundo, mapa do Brasil e o retrato de Che. Flashes eletrônicos espocam no rosto do craque. 69 – INT; DIA; ESTÚDIO DE T.V.; RINGUE DE TELECATCH PC.FIXO longo combate de telecatch. PP a torcida. PP o BANDIDO torce. Texto 13 (cont.) – Além de Dedão, um dos maiores ases do telecatch que apanhou duas noites na polícia para depois voltar ao ringue e conquistar o campeonato nacional de meios pesados. 70 – EXT; DIA; AVENIDA SÃO JOÃO PG a câmera mergulha pela avenida. Ao fundo um garoto jornaleiro oferece jornal: JORNALEIRO (GRITANDO) O Dedão! É o Dedão! Desmascarado o Luz! Um campeão de Luta Livre! Só poderia ser um rei do ringue! PAN o BANDIDO sai da multidão, com cabelo tingido e inteiramente diferente. Entra em táxi e sai. 71 – INT; DIA; REDAÇÃO DE NOTÍCIAS POPULARES Câmera corre pela redação semivazia. Foca e redator discutem. Foca está enfaixado com curativo enorme no rosto. Jornal com manchete ao fundo. REDATOR Esse café sai ou não sai! FOCA Eu falei, eu falei seu Jorge que era só uma hipótese! Uma hipótese, nada mais! Vocês largam assim na primeira página e quem apanha é o trouxa aqui! REDATOR Não podia. Ta certo: um imbecil, uma besta daquelas! (ao servidor de café) Me vê um outro. Pingado! (ao titulador) Lasca na primeira página, confirmado, é o Dedão mesmo. Pensa que é assim! Que é só chegar e bater; vai ver a encrenca com a polícia! Telefone chama. Redator: REDATOR NP, sim senhora. Pois não. Pode falar. (tempo) Progressivamente vai se interessando pelo telefonema. 72 – INT; DIA; TELEFONE PÚBLICO Uma misteriosa madame, bem vestida e bonita: MADAME (SIMPLÓRIA) Só uma conhecida do BANDIDO mascarado; me pediu pra avisar que não vai mais assaltar ninguém. Já está com a vida feita... Na semana que vem vai para os Estados Unidos fazer um tratamento... Contra a tuberculose naturalmente... Sofre muito, doença de família... Acontece que nunca assaltou ninguém por necessidade de dinheiro não, sempre foi uma pessoa de bem, criada em boa família, com berço de ouro e tudo... Sabe, ele é muito inteligente, tem curso científico e tudo, pois queria estudar química. Parece até um advogado... Mas ele é doente, sabe? Enquanto fala, madame observa os tipos do bar. Flagrantes mudos. MADAME De vez em quando fica assim, tem vontade de matar todo mundo no meio da rua; eu acho que os assaltos são um impulso que ele tem, sei lá, fica desesperado para assaltar alguém, uma casa qualquer... Não pode ver ninguém feliz. Também com a vida que ele teve... REDATOR Mas ele vai para os Estados Unidos, não vai? MADAME Eu já disse: vai para se tratar. Câncer não, tuberculoso. Mas não vai mais assaltar ninguém. Se acontecer outro assalto assim, podem escrever, não foi ele e pronto! Claro que sei; tenho certeza... Olha moço, quando ele voltar, se sobrarem jóias, é capaz de dar pros pobres... Pra Igreja também. Ele é muito religioso, sabe? Vive falando em Deus e nas almas do Purgatório... REDATOR Mas a senhora é alguma coisa dele? Uma parenta, uma amiga então? MADAME Olha moço, eu já disse que só conhecia de alguns meses... Conheço bem... Não é um ladrão qualquer; é um homem de bem, com fé e até que bem simpático... A madame ri. TRAV. PARA FRENTE; 73 – EXT; DIA; AVENIDA SÃO LUÍS. CÂMERA NA MÃO. PG do fundo da avenida, surge um táxi correndo em velocidade. Estaciona. Sai um casal que paga a corrida. O chofer do táxi. É o BANDIDO. Ele dá o troco. Uma bicha entra no veículo: BICHA Livre? (fazendo o gesto com a mão) Pan acompanha o carro que some (Quadro: parte superior do veículo e espaço branco) 74 – INT; DIA; CARRO CÂMERA DENTRO DO CARRO, CLOSE do BANDIDO. Pan nervosa até CLOSE da BICHA. BANDIDO olha-a pelo espelho retrovisor. Ela se excita. Exibe-se. CLOSES da BICHA que se descabela lentamente, até alcançar o cúmulo da bichice. Corte. BANDIDO dá coronhada na BICHA (PP, PAN solta) Revista os bolsos, mas encontra pouquíssimo dinheiro. 75 – EXT; DIA; MORUMBI PA(MF) da BICHA caída no assento de trás do carro. BANDIDO abre porta-malas do táxi, retirando um macaco. Sai correndo com o macaco na mão, em direção a uma residência luxuosa. 76 – INT; DIA; APARTAMENTO SIMPLES CABEÇÃO interroga a única mulher que viu o BANDIDO sem máscara, a empregada da seqüência 64. Mas esta é muito burra e não consegue defini-lo. Cercado por três ou quatro testemunhas tentam fazer o retrato falado, sem resultado prático: esboçam um monstro contraditório. Não se sabe se ele é louro ou moreno, alto ou baixo, tal a divergência entre as testemunhas. Toda descrição é vaga. Tiras discutem. TARZAN acha que trata-se de um homem invulgar, experimentadíssimo. Por exemplo: a forma com que empunha seu revólver, com a mão bem para trás e encostada na cintura. Com a mão esquerda empunha a lanterna, sempre mantendo distância da vítima. Um ladrão comum não agiria assim; esticaria muito a mão com que segura o revolver. Desconfiam que se trate de um ex-policial ou um guarda civil, lembram-se do caso, do seqüestro dos dois meninos do Morumbi. Tiras discutem. CABEÇÃO mantém-se à distância, preocupado e angustiado. Desconfiam que se trata de alguém que continua na Força Pública. Texto 14 - O tempo passa e o crime continua, Senhoras e Senhores. Além dos cinco delegados chefiando mais de 200 homens, com cinco Volkswagens frios equipados com rádio, 60 radio-patrulhas e 70 dedos duros espalhados por toda São Paulo. Contrataram algumas mulheres treinadas no tiro ao alvo e no karatê serviram de isca; cada uma recebeu um luxuoso carro para desfilar pelos pontos mais suspeitos, mas depois de 48 horas viram que não enganavam ninguém a não ser ladrões de segunda classe. 77 – EXT; DIA; RUAS DA BOCA Carros luxuosos desfilam pelas ruas. Flagrantes ocasionais. Policiais prendendo desocupados e marginais. Texto 14 (cont.) – Eram manjadas demais na própria Boca do crime. Ao mesmo tempo a Boca começou a ser freqüentada por estranhas madames em busca de emoções fortes. O bandido recebia ardentes declarações de mulheres que nunca tiveram coragem de dizer seu verdadeiro nome. 78 – EXT; DIA; LADO DA RUA DOS ANDRADAS PAN rápida até lago, onde ele se banha. Sai com sabonete e toalha nas costas. Encaminha-se ao hotel. 79 – EXT; DIA; HOTEL BANDIDO termina de escrever bilhete. Lê em voz alta: Está tudo certo mais eu fico invocado com uma coisa: A gente ataca, mata, faz o diabo e nunca acontece nada. Ninguém vai me pegar. Não sei como pode Cabeção, essa noite sou bem capaz de limpar os Jardins e botar fogo na tua casa. OFF – Música: Vereda Tropical 80 – INT; NOITE; MANSÃO 6 PG: enorme mansão deserta. Ninguém em cena, exceto o ladrão que procura objetos. Abre guarda-roupas, encontrando farda. BANDIDO OFF Com essa farda da Aeronáutica dá pra passar mais de cinco milhões em cheque, só em Belo Horizonte... 81 – EXT; DIA; RUA PG, PAN. Plano rapidíssimo. Vestido de oficial, BANDIDO caminha por rua semideserta, encontrando outro militar. Trocam continência. Música yé yé. 82 – EXT; DIA; OUTRA RUA PA(MF) TRAV LAT rápido. Furtivamente, ele entra em carro; faz ligação direta e arranca. Sempre vestido de oficial. 83 – EXT; DIA; OUTRA RUA DA BOCA PG; PAN: Carro conversível de BANDIDO estaciona em esquina em esquina, onde PIVETE faz trottoir - após curva violenta. Tempo morto: PG: PIVETE e BANDIDO conversam à distância. OFF - ruídos fracos de rua. PP, PAN alternando entre um e outro. PIVETE É, meu... Mas tem que dar uma nota, não pensa que vou contigo assim pra Santos, no peito, bem... BANDIDO (MOSTRANDO MAÇO DE CÉLULAS) Ta aqui o tutu! Aqui! Pausa. Ela entra no carro carregando sua bolsa. Veículo arranca fortemente. PAN até Plano Geral. 84 – EXT; DIA; PRAIA PA(MF) de PIVETE em biquíni, que corre até praia. PAN até BANDIDO se despe também. Seu revólver está escondido na ridícula botinha. PA(MF) TELEOBJETIVAS: mulheres na praia. CLOSE: BANDIDO lendo jornal (destaque: notícias policiais e de turfe) Close. BANDIDO fazendo ginástica sueca, enquanto PIVETE entra no quadro, vindo do mar. 85 – EXT; DIA; ILHA PORCHAT PC; PAN; plano flash: câmera acompanha carro em curva. 86-EXT; DIA; AMBIENTE VEGETAL DA ILHA PORCHAT PA(MF) BANDIDO e PIVETE amam-se na relva, mas ela não quer ceder. BANDIDO Deixa de luxo nega, um dia a terra vai comer a gente mesmo; pra quê esse xiquê agora? PIVETE Pensa que vou cair na tua onda, que você manda alguma coisa em mim! (rápido) que eu gosto de você! Qual é teu jogo diz? BANDIDO Nenhum (levantando-se, olhando o mar, indiferente, acendendo cigarro). Aí que ta: tou por fora: não tenho jogo nenhum, bem... CLOSE; TRAVELING SEMI INCLINADA o acompanha... BANDIDO Olha, pra mim não me interessa... PIVETE (INTERROMPENDO-O) Te manjo, bem. Você liga sim. Eu é que sou vagabunda mesmo e pronto, acabou! Mas você, meu bem, você fica cabreiro... Me diga uma coisa Morcego: que é que você quer afinal da vida?... Vamos diga... BANDIDO Fala o quê? PIVETE Não sei... Alguma coisa. Fala, Morcego... BANDIDO Da vida? (rindo) Nada... Antigamente queria ser grande... PIVETE Grande pra quê? BANDIDO Grande. Ser grande, sei lá pra quê... Grande e só... Não precisava mais nada... Já são cinco? PIVETE (OLHANDO RELÓGIO) Falta 15... BANDIDO Tem que andando, pra ta hoje em São Paulo. No quartel... Um cara chato me esperando... Mas hoje eu sei. Não sou nada... Câmera adianta-se em Grande Angular. Agachados, beijam-se ligeiramente. BANDIDO ... Meu negócio é o poder Mara... Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha... PIVETE Devia ter consultado o horóscopo antes de vim aqui pra Santos agüentar esse papo bosta... Olha bem: já tou ficando cabreira... BANDIDO (olhando o mar; música crescendo) Olha, eu sou um errado, um burro, uma besta... PIVETE Agora é que ta manjando? 87 – INT; NOITE; CLUBE 28 TRAVELING NA MÃO corre pelo inferninho. Casais que dançam Bolerão. Orquestra cafajeste. PA(FI) BANDIDO dança yé yé com PIVETE. Corte Música estridente (fim de música) Texto 15 (abafado pela música) - A bomba e a fome, Senhoras e Senhores... No século XX... A bomba e a fome... PA (MF): sentados em mesa, bebem cerveja. 88 – INT; NOITE; FUNDO NEUTRO PAN; CLOSE: BANDIDO banha-se com cachaça, fumando maconha de óculos escuros. 89 – INT; DIA; APARTAMENTO PP; PANS soltas. Numa cama pobre de quarto caracterizado pelo mau-gosto, amam-se BANDIDO e PIVETE. PC do quarto. Um televisor. Programas diversos. Corte na ação: Ambos na cama; longos panorâmicas em cima do corpo seminu de PIVETE. DETALHE: televisor, sendo bruscamente mudado de canal Outro corte na ação: discutem rispidamente PP; PAN oscila entre os dois PIVETE Vou ter que me mandar; sem o dinheiro não dá pé... BANDIDO Mas eu já não te dei um tutu, Mara? PIVETE O dinheiro do doutor, Morcego. Olha: tou aqui vivendo contigo mas não pense que vou ficar um dia a mais. Se você não me der o dinheiro pra tirar o filho (olha em direção de sua barriga) eu me arranco, juro que me arranco... Vamos, me diga uma coisa, você quer? Quer? O filho dos outros? De ninguém sabe quem? E o filho que você queria, como é que é? Quer tirar o corpo fora, quer? BANDIDO a olha. Depois de longo silêncio, entrega algumas notas. Ela sai por porta. BANDIDO encaminha-se até janela. PA(MF), de costas, dele contemplando a “boca do lixo”. 90 – EXT; DIA; BOCA PG PLANO FIXO: a boca. 91 – INT; DIA; STUDIO TV OFF SPEAKER Quantos tiros já levou excelência? JB Uns cinco mil mais ou menos, porém fui atingido apenas por 37. PA(MF) Ambiente de estúdio: cinegrafista com câmera na mão e outro anônimo. TRAVELING aproxima-se de JB e Speaker. Câmeras o cercam. Agitação no estúdio. JB (CONT.) ... Nunca fiquei mais de uma semana na cama porque tenho corpo fechado se nhores espectadores.. não morro assim tão fácil por obra de Cosme e Damião, os meus santos protetores... SPEAKER Que acha do colete Taterssal à prova de bala? JB Prefiro o meu, jovem. Uso a trinta anos. SPEAKER Já pensou em ser diplomata? JB Nunca tive inclinações para matemática, diplomata e gramático. SPEAKER Mas dizem que o Ministro... JB (INTERROMPENDO-O) Ministro não; Secretário... SPEAKER Exatamente.. dizem que o Secretário é um mestre no piano, um novo Mozart excelência? JB Compus chorinhos, valsinhas, coisas à toa. SPEAKER Já matou alguém excelência? JB Não, eu não: quem mata é Deus... Texto 16 - JB, o candidato da Boca à Presidência da República. JB toma água mineral. Câmeras avançam. Ambiente do estúdio. JB Sou praticamente vitorioso. Foi preciso senhores espectadores foi preciso aparecer um místico de terno branco o lenço encarnado no pescoço para dar ao povo uma luz de esperança. O programa do meu governo é eu mesmo! Eu! Vou abrir as portas das prisões. Comprar vassouras piaçavas, creolina e principalmente isto aqui (exibe uma bomba de Detefon). Vai ser a desinfecção dos cofres públicos. Ratoeira para os ratos oficiais. Meu governo vai ser a campanha do Detefon filhos... Corte SPEAKER (LENDO LIVRO) Ninguém deve ignorar que comente ao Estado compete o uso da violência organizada, educada na base da hierarquia e da disciplina, representada pela Justiça, Forças Armadas e a Polícia. Uma forma superior de organização destinada à manutenção do Estado do Direito, quer dizer, o império da lei - como bem assinala Tavares Holanda. JB (INTERROMPENDO-O BRUSCAMENTE) E tem mais uma coisa jovem: já vou avisando: se houver roubo nas eleições prometo que o assunto será resolvido a bala, pelas armas senhores espectadores... SPEAKER Mas a candidatura sairá quando, pelo seu partido? JB Exatamente. Pelo glorioso Partido Trabalhista Cristão. Sairá quando chegar a hora. Entre a pressa e a diligência, fico com a diligência. SPEAKER Mas excelência não estamos em cima das eleições? JB Não há motivo de pressa porque o Brasil em vez de andar, carangueja. SPEAKER A que deve tanta sorte nos atentados? JB A Divina Providência sem dúvida... Especialmente o Espírito Santo que sempre guiou os meus passos e também à fanática confiança em mim mesmo... Consigo até acertar num cigarro a vinte metros... Mas depende... Smith and Weston 38? SPEAKER É sua predileta? JB Desde mocinho. SPEAKER Com essa acerta? JB Não erro. SPEAKER E a morte do Delegado Pernambucano, seu velho inimigo? JB (INTERROMPENDO) Só se abrirem um novo inquérito. Fui absolvido por unanimidade. 5 a 0, senhores espectadores. SPEAKER Mas porque o chamam de pistoleiro? JB Porque não podem me chamar de ladrão. Ninguém pode me chamar de ladrão. Tudo, menos ladrão. Na Presidência, vou acabar com a ladroeira nacional, com os ladrões grandes e os ladrões pequenos. Tenho toda a ficha do B desse BANDIDO da Luz Vermelha... SPEAKER Mas a Excelência sabe de alguma coisa? JB Tudo, sei de tudo! 92 – INT; DIA; APARTAMENTO CLOSE de BANDIDO que vê televisão. Entrevista no vídeo (DETALHE) PP: abre vidro com preparado químico, destinado a tingir o cabelo. SPEAKER OFF Com que dinheiro fundou A Voz do Povo? JB OFF (CORRIGINDO-O) Vox Populi! A Vox Populi é um jornal que eu fundei com o dinheiro de amigos para ajudar os mais fracos. Uma coisa posso dizer de boca cheia: nunca pratiquei o crime da omissão! Não, essa não! De trinta para cá sempre estive em todos os movimentos revolucionários, e sempre evitando derramamento de sangue. Fui preso em 37 porque não quis a ditadura. Lott me perseguiu porque socorri Carlos Luz. Nunca fiquei protegido sob as marquises na hora da luta. Sempre estive lá, no meio dos vendavais. Eu, que nunca roubei, nunca explorei o jogo nem o lenocínio e nunca fui governo. Eles sim. Até que me provem o contrário, o Sr. Amaral Batista é o rei da corrupção paulistana. Quero saber onde eles puseram o dinheiros dos caças arrecadados do povo durante a II Guerra para comprar os caças submarinos. Tenho todos os documentos aqui (exibe pastinha). Senhoras e senhores: estou escrevendo um livro que vai ser a bomba atômica do momento, a verdadeira história do Brasil de 1800 para cá... 93-INT; DIA; APARTAMENTO DETALHE: Mão do BANDIDO escreve nas bordas de cédula monetária: 1967 Domingo sem sol. Santos 1 Corintians 3 CLOSE DO BANDIDO, já de cabelo loiro. PG: observa o televisor. Enfastio. Muda estações. Outros programas. Vai até janela e contempla a boca. Plongée de PIVETE na rua; ela conversa com LUCHO GATICA. 94 – EXT; DIA; BOCA PP PLONGEE; PIVETE dá dinheiro a LUCHO GATICA que se afasta rapidamente. TRAVELING semi-inclinado o acompanha. Alemão entra no quadro, sempre silencioso o circunspeto. PIVETE corre novamente até LUCHO, beija-o, dizendo: PIVETE Você é Bárbaro... Bárbaro LUCHO... LUCHO Mais ou menos... Mais ou menos. Ela se afasta; PG: um automóvel estaciona, cujo chofer conversa com ela, discutindo preços. Ainda PG: um outro freguês. Entram em hotel suspeito. O ambiente geral de prostituição. Alemão e LUCHO falam sobre negócios. Diálogos semi-inteligíveis. LUCHO, com nota de dez dólares na mão, exclama: LUCHO São os dólares.. aí eu falei pra ela... Como é que é minha filha? Meu negócio são os dólares... Daqui para frente só aceito dólares. TRAV câmera semi-inclinada dos dois homens que entram no Hotel Continental. 95 – INT; DIA; APARTAMENTO PP BANDIDO ligando novamente a Televisão: DETALHE: vídeo SPEAKER Mas dizem que a excelência não preenche os requisitos para governar o Estado, muito menos o país. JB Olha: eu posso destruir muita gente bacana, é só eu querer (exibe sua pasta). As provas, aqui estão as provas! Os políticos e os criminosos grandes desse país, quem joga na direita, na meia esquerda do Brasil. 362 nomes. São 342 nomes conseguidos no Ministério, diretamente do cofre do Ministro... SPEAKER Denunciam vossa excelência... Por explorar o lenocínio do estado? JB É porque são todos comunistas! Todos eles! Olha: 300 milhões (faz gesto de número com as mãos nervosas). Passaram a mão em 300 milhões e ninguém disse nada. Apropriação indébita. 17 são comunistas fichados, levantaram 80 milhões do fundo sindical para acabar com a honrosa campanha anticomunista brasileira, a única coisa séria desse país. São agitadores perversos e perigosos. Vou denunciar os verdadeiros professores do gatilho, eles, o Senador que embolsou meio bilhão só numa manobra cambial (exibe enorme mapa) aqui estão os grupos que exploram... 96 – INT; DIA; STUDIO TV SPEAKER E as bombas Secretário? JN De fonte segura, sei que um grupo - não sou eu quem diz, resolveu liquidar eu, o Lacerda, o Tenório e outros. Mas cavam a própria sepultura... SPEAKER Então há mesmo um complô? JB (sorri) SPEAKER E os nomes Ministro, aliás, Secretário? JB Meia dúzia de apaixonados. Vou soltar a bomba atômica do momento no dia do lançamento da candidatura. Na Sede do Esporte Clube Epopéia farei a nação despertar para a realidade. Precisamos mais dinheiro para acabar com a chaga comunista porque a lei aqui é como teia de aranha: só serve para prender moscas! Uma lâmpada, uma simples lâmpada, por exemplo: em qualquer lugar do mundo é feita para durar no mínimo vinte anos. Aqui dura 15 dias. Ora, isso pesa, pesa na economia do povo. Um roubo! Um crime! Defendo medidas drásticas contra o capital estrangeiro, apoio o intervencionismo econômico, o monopólio estatal do petróleo, e a exploração da Amazônia - ah a grande Amazônia, quando é que vai despertar? (delirando) a nacionalização dos depósitos - bancários, da indústria farmacêutica, das indústrias siderúrgicas e dos serviços públicos urbanos, é a defesa da reforma agrária.. total... quero servir o Brasil até o desespero, sem as distorções que se procura fazer aos que servem com devoção à lei, ao povo e à pátria... Música cresce. SPEAKER Acabaram de ouvir senhores espectadores mais um programa A Voz dos Líderes... 97 – INT; DIA; APARTAMENTO CÂMERA NA MÃO; CLOSE; BANDIDO batendo na PIVETE, exclamando: BANDIDO Com o meu tutu, vagabunda? Quem é esse cara? ... Um gigolô, pra cima de mim? Pensa que sou trouxa? Ela cai no chão. BANDIDO OFF Levanta, pega teus trapos e cai fora! Ela continua deitada no chão enquanto BANDIDO sai do quarto. Ela acompanha-o pelo apartamento. PIVETE apanha uma navalha e, num ímpeto violento, destrói objetos do apartamento. Rasga roupa do marginal; abre guarda-roupas e rasga vestes. Debaixo da cama, encontra a mala de BANDIDO Está trancada. Com dificuldade, arromba a fechadura. TRAV P/ FRENTE DETALHE: Mala repleta de objetos estranhos: jornais, placas de automóvel, santinhos, injeções, batina, retratos de família, banana de dinamite, lenços, máscaras. Batucada ou berimbau cresce. Texto 17 (Tom intom) - O Bandido da Máscara Negra ou da Luz Vermelha, o popular Homem Macaco ou Homem Mascarado? Sete nomes diferentes para despistar a polícia; inclusive Carlos Augusto Teixeira, industrial; Mauro Vargas, falso inspector de seguros; Perez Prado, falso fazendeiro do Rio Grande do Sul. Em cada lugar um nome; ex-garçom em Campo Grande; ex-camelô; vendedor de cortadores de unha na Av. São João; ex-porteiro de cinema de terceira linha; o Bandido da Luz Vermelha: primo de Mineirinho afilhado de crisma de D. Helder Câmara. 98 – INT; DIA; TELEFONE PÚBLICO BANDIDO falando em telefone público. 99 – EXT; DIA; RUAS Cartazes. Caricaturas. Flagrantes ocasionais de São Paulo em PM e PC. 100 – EXT; DIA; BOCA OFF - Ruídos de jatos cortando os céus. Pessoas olham (CLOSES, PANS) os céus. PANS de casas com grandes, esquinas da Boca, com seus picaretas de automóvel e vendedores de frutas. OFF - explode - ruídos fortes de chamas, gritos, sirena. TELA BRANCA 101 – EXT; DIA; RUAS Rádio patrulha correndo. Pessoas correm. Música Yé Yé Texto 18 (???díssimo) - E agora Senhoras e Senhores, o Brasil enfrenta a fúria criminosa de misteriosos agitadores que lançam bombas em fábricas, bares e edifícios de apartamentos antes mesmo da opinião pública esquecer os estranhos objetos luminosos que circulam pelos céus de todo o país. A polícia admite que novos atentados puderam se registrar a partir de hoje e aperta todo seu dispositivo especial de repressão. O petardo lançado na Av. do Estado não chegou a atingir nem o jardim da residência do Delegado Sade, explodindo contra o muro e quebrando algumas telhas. Os estilhaços chegaram a mais de 20 metros da explosão; todos os fragmentos foram recolhidos para investigação pelos agentes da polícia e do FBI que trabalham em colaboração. 102 – INT; DIA; FUNDO NEUTRO CABEÇÃO limpa o nariz, nervoso. Os acontecimentos vistos através do cotidiano do delegado. 103 – EXT; DIA; BAR CHIC-CHÁ PG o BANDIDO passa com bilhetes de loteria nas mãos. A equipe bebe num bar aberto. Alguém chama garçom que demora a atender. Quando esse se aproxima: 104 – TELA BRANCA: EXPLOSÃO OFF; 105 – EXT; DIA; RUAS Pessoas olham para o céu. TRAVELLINGS e PANORAMICAS agitadas de prédios altos. PG o BANDIDO corre. 106 – EXT; NOITE; RUA SÃO LUIS Dois guardas na escuridão. Ao fundo noticiário luminoso: São Paulo - Martin Bormas, secretário e conselheiro de Adolf Hitler, clandestinamente refugiado na Espanha, Peru, na Argentina de Perón e no Brasil não teria morrido em Ita, Paraguai, como noticiaram, mas distribuindo dólares falsos no Rio de Janeiro e São Paulo; agentes do Serviço Secreto de Israel avistaram-no em Guarujá e proximidades da Vila Dutra. Um pede fogo para o seu cigarro, mas o isqueiro não funciona. Subitamente, explosão. LONGA TELA BRANCA E NEGRA; Planos Flashes. OFF - ruídos característicos. Música Yé Yé, seguida de Texto 19 – Aquilo poderia explodir em qualquer lugar e a qualquer momento, aqui, num colégio de crianças ou numa fila de cinema. As autoridades desmentem categoricamente a hipótese de tudo ser obra de invasores internacionais mas admitem que começa o terrorismo no Brasil (tempo) O terror se instala e ninguém sabe o que pode acontecer, tudo é possível. (repetição da SEQ 2: aviões a jato) 107 – INT; NOITE; TELEFONE PÚBLICO Numa cabine escura o BANDIDO - com pistola na mão, fala. Câmera penetra em sua intimidade. BANDIDO (EXCITADO) Os jornais dizem que eu sou um gênio, um poeta dotado da Divina Providência, um santo, um santo... Um anjo anunciador... Sei lá... Eu sou o BANDIDO nacional... O BANDIDO da Luz Vermelha. 108 – INT; NOITE; FUNDO NEUTRO Dama misteriosa responde ríspida: DAMA Que palhaçada é essa Morcego! Ta ficando louco? 109 – EXT; DIA; PARQUE DOM PEDRO Policiamento a cavalo. Os cavalarianos exigem documentos das pessoas. Ao fundo, na praça, o BANDIDO acorda. É meio dia. Movimento forte dos pedestres. Corte. (planos longos, mas com tratamento de planos flashes) BANDIDO sendo fotografado por um fotógrafo da praça, com máquina caixão tosca. Corte BANDIDO lavando carros. Dormindo em carro aberto. Entra em mictório Público. 110 – INT; DIA; MICTÓRIO PÚBLICO Ambiente sórdido. Na porta do banheiro escreve mensagem criminal: Gosto de ver sangue jorrar. Fico alucinado mesmo e os meus balaços nunca erram. Minha pontaria é certeira, mortífera. 111 – EXT; DIA; RUA Policiais prendem alguém pelas ruas sem documentos. O policiamento a cavalo continua. 112 – INT; DIA; SINUCA MARAVILHA Confusão dentro da sinuca. Policiais levam LUCHO e Alemão. Texto 20 – Prendiam todo o mundo; naquela tarde as autoridades levaram também Lucho Gatica e Alemão, capangas do JB, o candidato da Boca à Presidência da República. 113 – EXT; DIA; RUA VITÓRIA BANDIDO segue PIVETE. TRAVELLING. Ela não o vê. PIVETE caminha agitada pelas ruas. Entra na mansão da J.BANDIDO Ao porteiro, responde: PIVETE Preciso ver o “seu” Nenen. É urgente! Sobe a escada rapidamente, chega numa saleta onde estão diversos capangas de terno e gravata. Entra na casa. BANDIDO a observa de longe. 114 – INT; DIA; QUARTO DE JB Em primeiro plano um dístico: Em política o verdadeiro santo é o que chicoteia e mata o povo pelo bem do povo. JB Câmera avança em TARV LAT (INSERTO), registrando uma série de fotografias enormes de JB, posando com Getúlio, de medalhas, etc... O movimento termina num plano geral do ambiente: Na sala enorme, está JB nu de costas fazendo yoga. Um brinquedo elétrico circula ao lado. OFF Seu Nenen... Seu Nenen... Uma pessoa... Aqui... Contrariado, ele veste o roupão cafajeste e grita: JB Já não disse para não incomodar durante o meu yoga? Que é que há filho? PA(LF) de Nenen. PIVETE entra no quadro, falando através de porta entreaberta. Capangas. Nervosa, exclama: PIVETE Levaram o LUCHO e eu não posso mais seu Nenen... Ele não tem nada a ver com essa história do BANDIDO da Luz... Não posso ta assim me arriscando no peito, agüentar esse abacaxi... Vou entregar o cara seu Nenen... Sim, ele, o BANDIDO da Luz Vermelha. JB choca-se com a revelação, introduzindo-a no quarto. Ouve-a atentamente. JB Certo... Por aqui... Minha filha... 115 – INT; DIA; AGÊNCIA DE AUTOMÓVEIS Lenta PAN PA (MF) pela agência. Ações paralelas ao fundo. Negócios. Vendas. Cercado por dois capangas, Poronga fala: PORONGA Foram os tiras, juro! Da sinuca sim!... O LUCHO e o Alemão... Tavam passando dólares... Aí eu espalhei pra imprensa o seguinte Seu Nenen: prenderam como suspeitos do caso do mascarado; uma história ridícula, sei disto. É porque - eles, a polícia - tão levando as bichas aqui da boca... Tão pensando que o mascarado não é nenhum tarado não, é uma bicha louca seu Neném. 116 – INT; DIA; MANSÃO DE JB CLOSE CONTRA PLONGEE DE JB com PIVETE em quadro. JB Absurdo... Pode deixar... Já rachei o caso... Tou com toda ficha desse ladrão de araque... Tá aqui, pra acabar duma vez com essa história ridícula de Zorro sei lá o quê... Trago o GATICA e o Alemão já, é só terminar uns negócios da imobiliária, vou ao distrito e trago. É o eu sempre digo Poronga: pra lidar com essa gente precisa classe, muita classe meu filho... Desligando o telefone, JB volta a falar com PIVETE. PP: mulher bonita entra no quadro, vestindo-se lentamente. JB continua atento à PIVETE. TRAV distancia-se lentamente. Os enormes quadros espalhados pela sala, com fotografias da carreira do JB: condecorado, com grandes medalhas, abraçando Getúlio, saindo de um avião, fotos de antigos e ilustres políticos, retratos de família. Texto 21 (o mais sensacionalista possível) – Essa é a verdadeira história do homem que bebia uma garrafa de uísque estrangeiro por dia; do inventor da revolucionária jogada aberta do bicho; do chefe supremo, rei e talvez a própria lei de um império de um milhão de metros quadrados: a Boca do Lixo, onde, segundo ele, não existem habitantes mas apenas sobreviventes. INSERTO: FOTOGRAFIA ANTIGA DE MENINO AJOELHADO ZOOM se aproxima de foto antiga. Texto 21 (cont.) - Há 45 anos, no dia da sua 1ª comunhão, JB jurava que seria Presidente da República para tirar o povo da miséria ou então no mínimo Deputado Estadual. Mas só conseguiu se eleger Vereador em 1936, quando obteve expressiva votação porque durante a Revolução de 32 foi espião dos paulistas no estado do Rio. INSERTO: CINEJORNAIS CONTRATIPADOS Cenas da guerra. Vistas aéreas do Brasil. O Amazonas. O Pão de Açúcar. Getúlio Vargas e os políticos do passado. Os mitos da época: Carmem Miranda, por exemplo (plano-flash documental). Texto 21 (cont.) OFF – Ninguém sabe nada de sua vida até os 20 anos porque sempre fez questão de cercar sua vida de mistério. Diz que foi lavador de garrafas, porteiro de hotel, pedreiro, carpinteiro e balconista, com muitas dificuldades conseguiu formar-se em Direito. Hoje JB domina o mercado automobilístico, o tráfico de menores, de certos entorpecentes, e da prostituição em massa. O legendário Rei – brasileiro, uruguaio ou paraguaio? Ninguém sabe – possui bilhões em carros, hotéis, agências de corretagem, apartamentos e fazendas no Mato Grosso com aeroporto particular especialmente para contrabando. JB é apontado como um dos cinco mais prósperos bicheiros do país. A macumba sempre foi sua religião oficial. Filantrópico, gabava-se de gastar mensalmente mais de cinco milhões em hospitais e obras assistenciais. (tempo) Imagem volta à Mansão de JB. Texto 21 (cont.) – Desgostoso com sua má fama e com a saúde abalada, decidiu abandonar as páginas dos jornais para garantir um lugar na história do Brasil até que – tendo dois jornais nas mãos – mudou seu nome, pois achava-o por demais vulgar para, assim, candidatar-se à Presidência da República. Teve seus direitos políticos cassados em 64, mas espera anistia. No ano seguinte produziu dois filmes para sua cadeia de salas dedicadas a programas impróprios até 21. Foi acusado de – antes de 64 – armar posseiros no Mato Grosso para invasão de fazendas particulares. Apóia a reforma constitucional, o direito de voto e a elegibilidade de analfabetos. Sua participação na vida pública brasileira foi considerada por muitos como simples palhaçada. 117 – EXT; DIA; MANSÃO DE JB PC, PRAV LAT: JB sai da mansão, acompanhado por PIVETE e dois Capangas. Entram em carro luxuoso que os espera no portão imenso. Arrancam fortemente. PAN rápida. Texto 21 (cont) - A casa do homem que se tornara símbolo do cangaceirismo político tanto poderia ser uma prisão, departamento de torturas ou uma fortaleza. A famosa Casa Azul, localizada no coração da Boca, nunca foi penetrada pelas autoridades. Só Deus e meus amigos - dizia JB – podem entrar na minha Casa Azul. O resto não passa da 1ª porta. Eram 3.200 m2 de construção com luz e força próprios, 12 telefones, 16 alto-falantes, 14 dependências, 9 banheiros de luxo – sem falar nos 4 subterrâneos, tanques de oxigênio e depósito de víveres com capacidade para esconder 50 pessoas durante 6 meses. Diziam também que as dependências eram à prova de gás, luz, som, cheias de complicados engenhos secretos, como alçapões, entradas e saídas misteriosas. Tenta JB, o Rei da Boca e da corrupção paulistana, utilizar as imunidades parlamentares para fugir a 7 processos, inclusive sendo acusado de co-provocador de incêndio num cartório de registro de imóveis e principal responsável pelo contrabando de mais de meio milhão de latas de sardinhas podres. 118 – INT; DIA; CARRO PP; carro repleto de Capangas - inclusive um com enorme curativo no rosto, outro com número de telefone escrito na testa. JB (gostos amplos e exagerados) recita poesia vulgar referindo-se a Deus, miséria, morte, discos voadores. De vez em quando enfia Vic no nariz. Após a poesia: JB Grande J.G. Meu Irmão J.G. A arte meus filhos, a arte é importante, só o dinheiro não dá pé... Mas a Arte com A maiúsculo (ao chofer) que é que tem essa lata velha? Não anda? Manda brasa! 119 – EXT; DIA; RUA (CÂMERA DENTRO DO CARRO) PC; CÂMERA NA MÃO; PLANO FLASH: igreja vista em curva. 120-INT/DIA; CARRO PP, JB faz sinal da cruz e dá beliscão na cara de Capanga que não reage: JB Da próxima vez já sabe boneca... É só mexer com a Silvia que eu te racho essa carinha pelo meio entendeu meu bem? Estão na Rua do Triunfo. Estacionam no meio da rua, diante de distribuidora cinematográfica. Capanga sai correndo, entra em escritório e volta acompanhado de advogado que carrega algumas garrafas de uísque estrangeiro JB e pacotes de cigarro americano. Carro arranca enquanto (PAN rápida até) BANDIDO passa - despercebidamente - vestido de mulher. Pede cigarro para outro transeunte; acende-o e joga fora cigarro do outro. 121-INT; DIA; CARRO (DIANTE DE AGÊNCIA) Câmera dentro do carro, que avança rapidamente. Uma pessoa permanece no meio da rua, obrigando-s a estacionar. Contrariado JB manda carro parar. Foca adianta-se e fala: FOCA Seu Nenen. JB Que é que há? FOCA Tava lhe procurando, desde manhã, posso entrar? (entra no carro, que arranca) É esse negócio do mascarado, a raiva Ne nen, a raiva desse cara pela polícia e pelo pessoal do jogo é uma coisa estrondosa! Nem eu mesmo que estou fazendo a co bertura acredito! Escrevo as matérias e aí penso: não pode ser! Imprensa marrom ou então esse BANDIDO é completamen te louco. Ou então eu, sou um mentiroso, um sensacionalista! ... Tem que ter algu ma relação com vocês, o pessoal do jogo, você viu o último bilhetinho? Entrega bilhetinho a JB que simula não dar a mínima atenção. 122 – EXT; DIA; BAIRRO DA LIBERDADE / DOCUMENTÁRIO PC TRAV CÂMERA NA MÃO (dentro do carro): Planos documentais e rápidos do bairro japonês. 123 – EXT; DIA; PORTÃO DA DELEGACIA (PATEO DO COLÉGIO) PA(MF) PAN Rápida. O carro estaciona. Todos descem do carro, mas JB chama PIVETE, segura-a pelo braço e, sós no carro, comenta: JB Olhe aqui meu bem (faz gesto com a mão na boca) se manca com a imprensa... Fala com CABEÇÃO, mais ninguém... Ele que sabe... O Luz é só meu, esse cara é meu entendeu? É meu! DETALHE: JB desamarra bilhetinho e lê: O próximo é você Cabeção. O Luz. CLOSE Cinegrafista filma-o, de longe. 124 – INT; DIA; BAR DIANTE DO PATEO DO COLÉGIO PA(MF) Foca disca um número ao telefone.. FOCA Alô Notícias Populares... Seu Jorge está... Percival... Nem um pio seu Jorge, não quis falar nada. Só a carona até aqui... Ta com medo, o Nenen, com medo que o BANDIDO passe fogo... 125 – INT; DIA; REDAÇÃO DE JORNAL PA (FI) de Jorge, Redator Chefe do jornal. Profundidade de campo: agitação na redação. JORGE Hoje! Eu quero hoje mesmo! Notícias sobre essa cara entendeu? Não, o Nenen não, o Luz! Você acredita mesmo que a polícia não sabe nada, mentira! (tempo) já devem ter o retrato falado, toda a ficha, tão prá pegar, questão de horas... Minutos... Quer saber duma coisa: tão deixando atacar um pouco mais pra pegar em flagra, pra subir a moral da polícia, claro... TRAVELING PA (FI) pela Redação. Voz de Redator: JORGE OFF Dê em cima do Nenen, o único por dentro. Amanhã temos que dar antes da polícia o retrato do Luz! FOCA Só tem uma coisa, seu Jorge: tou gastando uma nota em táxi... JORGE Pode gastar o que quiser. O jornal paga. Mas me traga o retrato, o retrato falado! Traga que eu pago! Faz o Nenen falar senão - diz pra ele que fui eu quem disse saem os podres, as negociatas na primeira página, em caixa alta! Ou dá a dica do BANDIDO ou a gente conta tudo os podres todos! Na primeira página em caixa alta! 126 – INT/EXT; DIA; BAR DO PATEO DO COLÉGIO PP, Foca ao telefone. FOCA Já tentei, não deu pé... Também pode ser o seguinte: querem acabar com o bandido porque tudo isso atrapalha... E tem os dólares que o Neném quer soltar... Falsos, claro... O negócio da embaixada? Batata! Alemão, expatriado, documentos falsificados viu! Perfeito! TRAV p/ FRENTE até distinguir um grupo de pessoas (jornalistas, principalmente) rodeando JB, no Páteo do Colégio. Ele sai da Delegacia com Lucho o Alemão. Câmera recua em TRAV inverso. FOCA Daqui a pouco to aí... Tchau... Desliga o fone, toma café rápido e corre até o portão, onde JB faz comício improvisado. 127 – EXT;DIA;PATEO DO COLÉGIO PA(MF) Câmera na mão. Grande angular, distorcendo a agitação geral. JB (ABRAÇANDO LUCHO O ALEMÃO) Com o melhor advogado do Brasil LUCHO GATICA... Trouxe o melhor para vocês um alto criminalista... Sempre abraçando a todos, repete JB O melhor, o bom e não é bafo! ADVOGADO (TIPO NEGRO) Exagere... Seu Nenen... Fiz o que pude... Todos falam ao mesmo tempo. Cinegrafista filma a figura vaidosa do JB JB No tempo que eu pagava enterro de tudo quanto era pobre lá da Boca, antigamente eu podia dizer de boca cheia jovens: eu estou em todas, nasci para tár em todas! Todo mundo besta com o BANDIDO da Luz Vermelha, aí chega o Ratão - escrivão de crime, meus compadres - chega e diz: Que é que há seu Dr.? O senhor nessa também? Nessa não, eu falei, o luz não me interessa pois confiamos na polícia. Espero que ela também saiba cumprir seu dever, como nós que pagamos impostos para proteger a sociedade dos assassinos como este: deixe o caso nas mãos do CABEÇÃO. JB olha em direção do CABEÇÃO que o observa, do alto da sacada da delegacia (PAN) Ambos sorriem entre si.. Algum jornalista pede pose especial. JB Oh meu filho você ta por fora mesmo, devia filmar esse aqui (segura o ADVOGADO). Ninguém dá nada por ele, mas é o melhor advogado desse país. Grande Bitti. Sem você não existo... Quem sou eu filho prá sair no jornal? Não sou ninguém. Nada meu filho (tempo). Já li muito gibi na vida, mas nunca pensei seriamente em matar ninguém. Cabeção, o homem é um animal! Esse criminoso é um animal sem alma! JB encontra um casal de suburbanos. JB Como vai minha filha, você o que faz, é doméstica? ELA Sou sim senhor. JB para o acompanhante. JB E o senhor trabalha em quê? ELE Em obras seu Ministro... JB Ministro não. Secretário e ex-deputado admito sim, mas Ministro não, não admito... Nunca mais me chamem de Ministro.. Nunca mais viram? Mas de Nenen.. REPÓRTER Mudando de assunto Secretario: e a sua banca: é verdade que está em vias de falir? JB Nunca. Como dizia aquele poeta, se não me engano o Ruy, ah o grande Ruy (TRAV LAT) rápido) o jogo não acaba nunca meu filho... Vocês se esquecem duma coisa: o lado... Humano e social. É uma coisa que ninguém pode destruir... (JB abraça Alemão, destacando-se do grupo) nem Deus na sua infinita sabedoria... Não é Alemão? FOCA Chegaram a falar Seu Nenen que o Alemão... (Alemão distancia-se do grupo em PC) foi preso por causa do derrame dos 250.000 dólares falsos aqui e no Rio... JB Meu amigo de infância, o Alemão... Não tem nada uma coisa com outra. Ele e LUCHO foram presos porque tinham esquecido os documentos em casa. É o que sempre digo: nunca esqueça sua carteirinha de identidade, sob nenhum pretexto! FOCA Só uma hipótese, seu Ministro, se Borman... JB (INTERROMPENDO-O) Já disse meu filho: nunca mais do Ministro não... FOCA Certo mas se ele fosse mesmo Martin Borman, o assassino nazista, o senhor entregaria às autoridades? JB Um criminoso de guerra é um criminoso como qualquer outro. Ele continua falando, mas a tela subitamente torna-se muda, ouvindo-se o seguinte texto: Texto 22 (rapidíssimo) – Atenção Senhoras e Senhores: os estranhos objetos em forma de bolas luminosas continuam sobrevoando os céus de todo o Brasil, polarizando a atenção, sendo vistos nos mais longínquos recantos - Manaus, Recife, Porto Alegre, Natal, Paranácapicuiba e Ribeirão Preto. As autoridades continuam em estado de choque. JB (VOLTA O DIÁLOGO) Se fosse, sim, entregaria. Mas conheço o Alemão há 40 anos. Foi ele quem me ensinou a nadar e a andar de bicicleta. Não. Essa não! Não admito hipóteses deste tipo. Com o Alemão não, nunca! (contrariado foge do grupo enquanto cinegrafistas o acompanham, filmando-o) Ele abraça – uma última vez – Alemão. JB (CHAMA CAPANGA) LUCHO GATICA! Não, não tenho vergonha, discordo do Ruy quando ele diz a frase célebre: de tanto ver crescer o poder nas mãos dos desonestos o homem de bem chega a ter vergonha de ser honesto! Repórter corre atrás. JB ouve a última pergunta: FOCA O Ministro ainda acredita na anistia? JB (depois de longo e teatral silêncio, pois está contrariado) Vamos acabar com essa mania de me chamar do que não sou.. FOCA Desculpe Secretário. JB Está desculpado. Acredito sim. Com sinceridade, continuo acreditando na justiça e na humanidade. Nela sim, sempre acreditarei. A justiça é como Nossa Senhora Aparecida e o bicho: tão sempre lá, se não o que seria de mim, de você, dos mais fracos? Vocês me conhecem. Sempre ajudei o próximo de todas as classes e nunca fiz fortuna, nenhuma! Quem sou eu LUCHO? Diz, diz, diz aí pra todo mundo o que tenho além daquele casarão sujo e dessa caranga? Nada. Quase nada, a não ser a consciência limpa. Esta sim, posso dizer de boca cheia, é podre de rica! Por isto querem minha candidatura. Eu sinceramente, com franqueza, não sei, seria difícil vencer o mau-caratismo e a corrupção, conciliara vida privada com a vida pública – gostaria de viver esquecido, esse é o sonho da minha vida – vocês sabem, mas eles querem, sim eles querem a candidatura e não posso fazer nada! É o povo quem quer! Olha aí: a voz do povo! (enquanto JB delira, entrando no seu automóvel conversível, Capangas atiram volantes pelo ar, com a seguinte inscrição: PARA PRESIDENTE JB. No delírio, os papéis rolam pelas cabeças) Não se pode tapar. Tudo menos isso. Seria um crime.Um crime viu? (entra no carro que arranca) 128 – INT; NOITE; BOITE CLOSE de LUCHO GATICA cantando tango Gira (PLAY BACK) PAN até JB, semibêbado. JB Canta canta porque quem canta seus males espanta!... É o rei da boca pagando pra todo mundo... Pela volta de LUCHO e Alemão, não, não, podemos trabalhar sem vocês... (ao garçom) Comendador! Oh Comendador! (delirando no álcool) ta subindo... Bebam porque o dólar vai pra cinco mil, vai subir o scotch e não é bafo... Tango. 129 – EXT; DIA; RUA SÃO LUÍS (AMANHECER) Movimentação em grua, se possível. Câmera acompanha o BANDIDO que retira um objeto – provavelmente uma bomba – da sua mala, colocando-a no porta-malas do luxuoso carro de JB. No fundo ouve-se gritos de JB e gang. 130 – EXT; DIA; GALERIA METROPOLITANA (MADRUGADA) Capangas carregam JB bêbado. JB (DELIRANTE) Eu sou o maior! Sou eu! O maior disso tudo aqui! Bitti agora falando sério, não é por tá aqui, mas eu sou o maior! Diga lá Bitti, sou ou não sou? E a vida moral onde é que fica? A minha! ADVOGADO Sim, é o maior mesmo. JB Como? Não entendi? ADVOGADO Já disse. JB é o maior. JB (GOZANDO) Eu não disse O maior e não é bafo. Eu! TRAVELLING isola a figura enigmática e sinistra do Alemão. JB Alemão, a guerra não acaba nunca. Manera aí... Se manca. Saída do carro. 131 – INT; DIA CARRO Entram no carro. A ação é narrada em função de Alemão, sempre silencioso. Entram no carro que arranca fortemente. CLOSES de Alemão, dentro do carro. 132 – EXT; DIA; RUAS A câmera segue o carro. Aproxima-se da Boca do Lixo, distanciando lentamente até sumir de quadro. OFF- Tristes harpas paraguaias ou sambão. TEXTO:- Quem seria o misterioso Alemão? Apontado como importante criminoso de guerra, ex falsário, ex carrasco do III Reich,... seria ele o verdadeiro culpado, e falsificador dos 250.000 dólares derramados em São Paulo e no Rio? Martin Borman, o grande responsável pelo extermínio de meio milhão de almas? O braço direito de Hitler – solto pela América do Sul. 133 – INT; DIA; MANSÃO 8 BANDIDO sai correndo pela residência. Enche a mala de objetos... Corte. Velho sendo abatido, rolando lentamente pela escada. PAN até BANDIDO que na sua fúria destrutiva quebra objetos da casa. 134 – INT; DIA MANSÃO 8 (OUTRO AMBIENTE) BANDIDO apanha lata de tinta e com o dedo escreve numa parede. Batucada cresce. Você é policial, malvado sem dor Me mate mas não faça isso Pare por favor Prefiro morrer, prefiro passar sede e frio, Mas você não me pegará nunca, nunca, Nunca mais ouvirá o bandido assaltar. Num assomo de loucura bebe a tinta... 135 – EXT NOITE; RUA AMADOR BUENO Câmera aproxima-se de rádio-atrulhas que estacionam em rua semideserta. De uma delas sai PIVETE com CABEÇÃO e capanga de JB (o do curativo no olho). Cochicha com CABEÇÃO. Insinuante – de óculos escuros. Texto 23 – Confirmado pela primeira vez na história a polícia paulista institui uma recompensa oficial pelo inimigo público número um, somando 13 milhões com os 5 oferecidos por certo programa de televisão. Música insinuante. 136 – INT; EXT; NOITE; PENSÃO RUA AMADOR BUENO Nervoso, BANDIDO corre pela pensão, fugindo da porta principal, pois do outro lado os policiais avançam. Fortes ruídos OFF. Caminha até o fundo, abrindo portinhola – desembocando na Av. Rio Branco. Foge levando a mala a tiracolo. 137 – EXT; NOITE AV.RIO BRANCO BANDIDO se confunde com a multidão. PG-Com mala 138 – INT; NOITE PENSÃO RUA AMADOR BUENO Os policiais e jornalistas invadem o quarto do marginal. Decorado com manchetes de jornais sobre seus crimes. Quadros de mau gosto, inclusive religiosos. Violão, botinhas bizarras. Na parede uma inscrição: Aqui dorme o homem que atirava em legítima defesa. Fotógrafos, flashes, destaque, PIVETE, CABEÇÃO e capanga de JB (aquele de curativo no olho) 139 – EXT; DIA FAVELA BANDIDO com mala na mão. Um locador de barracos abre um barraco miserável. BANDIDO dá dinheiro adiantado. Recebe chaves. BANDIDO Só por uns dias... Corte. 140 – INT; DIA BARRACÃO CLOSE-UP – o marginal dedilha acordes dissonantes no violão. Barulho de violão aumenta. 141 – EXT; DIA; FAVELA Câmera progressivamente distancia-se da favela. PANS lentas OF – música ao violão. PG – A Favela. 142 – EXT; NOITE; BOCA Fogos explodem pelo ar. Rojões. Barulho forte. Borborinho nas esquinas. PIVETE conversa com outra prostituta (olhando para o alto) PROSTITUTA (CHEGANDO) Que festa é essa bem? PIVETE Vê se mora. Vão abrir as pernas. Mudou o Secretário. Mataram o Nenen... PROSTITUTA Que bárbaro! Quero ser uma cadela, dessas bem sarnentas, se não chamar o Exú das Sete Cruzes ou o Exú Marabá para deixar podre esse Secretário que arruinou minha vida. Agora o cachorro paga. VOZ O secretário caiu fora, mudou! OUTRA VOZ O Rei da Boca se estrepou! Fogos pelos ares. O BANDIDO aproxima-se de PIVETE e com a pistola apontada contra ela, dispara. Fogos pelos ares, ao fundo. Ela morre nos braços do BANDIDO. Pânico. As pessoas correm. O BANDIDO sai do quadro. 143 – EXT; NOITE; NOTICIÁRIO LUMINOSO PM: PLANO FLASH, inserto do noticiário Os discos vÊm aí. 144 – EXT; NOITE; BOCA DO LIXO TRAVELLING agitado: Dois cavaleiros, soldados a cavalo, correm pela Boca. Perseguem o BANDIDO que entra num edifício. Os cavaleiros passam e descem dos cavalos. Cada um ingressa em posição oposta. BANDIDO monta um dos cavalos. Corre a cavalo pelas ruas da Boca – ainda com máscara. Rojões ao fundo, fogos. 145 – INSERTO; CONTRATIPO Fragmento de filme mexicano com Miguel Acevez Mejias vestido de cowboy, lutando contra vilões mascarados do cinema mexicano. Som e imagem. 146 – EXT; DIA; CINEMA SUSPEITO E RUA MOVIMENTADA Cartaz de filme proibido até 21 anos. São dez horas da manhã. BANDIDO sai do cinema. Movimento das ruas. Jornaleiro grita, exibindo jornal (onde se vê retrato falado do marginal). Sua reação é um misto de espanto e indecisão. 147 – EXT; DIA; BANCA DE JORNAIS Pessoas olham as manchetes em banca. Retratos falados do BANDIDO. Legenda: A polícia lança retrato falado. Alguém olha insistentemente para o marginal, que se esquiva e sai do quadro. 148 – EXT; DIA; FAVELA DO TIETÊ Entra no seu barracão. O locador o olha, desconfiado. Depois do BANDIDO sumir do quadro, locador levanta jornal e confere-o com retrato falado. Faz sinal para pessoas fora do quadro. BANDIDO sai do barracão com sua mala. Um carro escuro entra no quadro, cercando-o. Texto 24 – No dia seguinte no enterro do Ban-dido da Máscara Negra ou da Luz Vermelha – aquela figura estranha e radical de assassino, criminoso político talvez sem querer, bandido corintiano e guerrilheiro – tinham três pessoas: o padre abençoando o caixão de terceira, uma madame anônima e seu sobrinho Zica, recém fugido do juizado de menores, já procurado pela delegacia de furtos. Também, quem iria ao enterro de um criminal? Carro preto estaciona. 149 – EXT; DIA; PONTILHÃO DO TIETÊ PC: Bruscamente BANDIDO correndo pelo pontilhão. Polícia corre atrás. OFF: Buzina intermitente. CLOSE do BANDIDO que, percebendo a situação, joga a mala no rio. OFF: Batucada ou berimbau crescendo violentamente (cortes bruscos na música) Mala desliza lentamente pelo rio. BANDIDO OFF Agora pode deixar... Deus não existe, vai explodir mesmo e não vai sobrar ninguém de sapato. Quem tiver de sapato não sobra, não pode sobrar... Corte. 150 – EXT; DIA; DEPÓSITO DE LIXO (DESCAMPADO) Corte. OFF- Disparos intermitentes. A ação começa a desintegrar-se progressivamente. No campo vazio CABEÇÃO corre furioso, disparando esporadicamente sua metralhadora contra todas as direções, berrando loucuras. BANDIDO corre em outro sentido, derrubando caixas e latas. Aproxima-se de construção. Duas ações paralelas. OFF – Ruído de furadeira de solos. 151 – EXT; DIA; PRÓXIMO À CONSTRUÇÃO PA (FI) Corpo do BANDIDO abatido pelos tiros. Com barras de ferro, achadas no local, os policiais o massacram. Jogam água para não desfalecer completamente, voltando a desabafar nele semanas de frustração e nervosismo geral. Seu corpo repousa em cima de fios enormes. CABEÇÃO puxa outro fio, enrolando ao corpo seminu. Faz ligação e aciona a chave geral. Finalmente, é eletrocutado. OFF- Delicado, executado em bandolim. (obs: o BANDIDO morre de cabelo louro). 152-EXT; DIA; DEPÓSITO DE LIXO PA(MF) Um carro de polícia empurra o cadáver. Um policial oferece cigarros aos outros. Um outro comenta, vestido à paisana: POLICIAL Não pode. Pra mim nós matamos o cara errado... O Bêbado vai gozar da gente, perdendo tempo com um pé de chinelo... Olha a cara dele. Um coitado, um pobre diabo... É outro... Um outro policial não responde nada, pensativo. Música “Delicado” funde-se com o seguinte texto. Texto 25 – Enquanto o Bandido terminava sua carreira de crimes, morte e destruição numa sórdida favela do Rio Tietê sem revelar sua identidade. Eles chegavam do leste. Os policiais revistam o corpo. Ações rápidas, mas cotidianas, naturais. OFF- Cresce batucada Texto 25 (cont) – Sim naquela tarde os misteriosos discos voadroes aproximavam-se do centro de São Paulo vindos do leste para o poder. Câmera aproxima-se do corpo. Policiais o chutam. Fumaça negra sai pelo ar, vinda do corpo eletrocutado. Grua levanta-se lentamente. Fumaça domina o quadro. 153 – EXT; DIA; FAVELA DO TIETÊ Sem motivo aparente, crioulos batucam diante de favela miserável. CLOSES INCLINADOS, Banhados de fumaça negra. OFF – Batucada aumenta, enquanto SPEAKER entra em delírio. Texto 25 (cont) – Os invasores, aqueles mesmos objetos não identificados de forma circular e de cor amarelada, os invasores vieram para riscar o país do mapa... 154 – CONTRATIPO Contratipo: Planos-Flashes: DISCOS VOADORES no ar. Montagem paralela: os discos (contratipo) e crioulos batucando. Crioulos babam e sambam. Os discos. Batucada. Os discos. Progressivamente a tela explode em planos, flashes brancos. Texto 25 (cont): Até agora ninguém conhecia suas intenções. Num sensacional furo de reportagem da Nacional de Itapecerica da Serra, a minha, a sua, a nossa emissora, em edição extraordinária ouvintes da mais poderosa do Vale do Rio Doce. Em 15 segundos sobrevoaram toda a cidade em dois minutos estarão em Brasília... A prefeitura de Itapecerica não sabe o que fazer. Talvez seja isso mesmo Senhores e Senhoras, não há nada a fazer... É isso mesmo. Eles vêm para o poder e ninguém sabe o que vai acontecer. A voz do narrador abafa-se, cansando-se, devido à predominância de ruídos neutros e desconhecidos. 155-EXT; DIA; MARGEM DO RIO TIETÊ PANORÂMICA lenta do ambiente tropical. Mar-gem do rio Tietê. Os crioulos no samba. Os discos. (a voz do narrador apaga-se lentamente, sufocada por alguma força exterior) Texto 25 (cont) – Os discos voadores atacam... É o Brasil em pânico... Sem nada a fazer... Só um milagre meus senhores, só um milagre póde nos salvar do extermínio total... A batucada aumenta fortemente, dramaticamente, alcança o maior volume e depois progressivamente abaixa até o silêncio total. Enquanto isto: Um último movimento ascendente de Grua (ambiente tropical, Ro Tietê, favela). A imagem fotográfica vai dando lugar à luz. FADE-IN, tela Branca. IMAGEM CONTRATIPADA. SILÊNCIO. Discos voadores descem. Fim O Bandido da Luz Vermelha Argumento e Roteiro de Rogério Sganzerla Transcrição do roteiro original por João Marcos de Almeida Sergio Silva Vanda Lima Pós Escrito ao Roteiro Original de O Bandido da Luz Vermelha [verbetes/flashes para Helena, Sinai e Djin] O cinema é como um campo de batalha: Amor. Ódio. Ação. Violência. Morte. Em uma palavra: Emoção. Samuel Fuller Tudo que você precisa para fazer cinema é uma garota e uma arma. Jean-Luc Godard Idéias para um texto: Dicionário do Bandido, Glossário do Bandido – tarefa sisífea: organi-zar a panóplia de referências (a... Tudo?) que se encontram no roteiro para o Bandido da Luz Vermelha. Um cotejamento do roteiro com a lista de diálogos do filme pronto? En-tre outros objetivos, o de listar verbetes-flashes que acrescentassem à seqüência de páginas do livro proposto uma seleção pessoal e subjetiva das magistrais frases feitas de Sganzerla não constantes do roteiro original. Cinema também se faz no set. O depoimento de Helena dá testemunho a isso: Uma improvisação dentro dos limites; ele sabia o que pedia; e dentro disso você tinha total liberdade... mas dentro dum conceito muito específico. Listagem, pois, improvisada... Determinar aleatoriamente a inclusão dos verbetes. Deixar-me guiar pelo prazer, pelos motes oswaldianos através dos quais Sganzerla forjou seu cinema: Ver com Olhos Livres e A Alegria é a Prova dos Nove. Daí que a única modalidade de organização (possível) seria alfabética. Assaltos, roubos, incêndios e atentados ao pudor – Os travellings e panorâmicas iniciais indicados pelo roteiro estabelecem o caráter abrangente da violência que irá permear a história do bandido e o universo da grande metrópole que ele habita. Perfeita ilustração do estilo violento (...) à altura da violência dos acontecimentos históricos (Benjamin, Origem do 126 Drama Barroco Alemão, São Paulo: Brasili-ense, 1984). De acordo com Fernão Ramos (1987), mo mentos em que na vida, ou na história, o chão parece faltar e o buraco que se vislumbra é, ao mesmo tempo, aterrorizador e profundo demais para ser levado a sério. Asunción – (signo do ur-subdesenvolvimento latinoamericano) Minha história começa em Asunción, Paraguai, mas continua no Brasil. Tudo estava a um passo do Mandrake e dos filmes da Atlântida. Não sou canhoto e não gosto da minha profissão... No bosquejo do retrato falado resume-se uma trajetória, defi-ne-se uma estética. Automóvel – O conversível do Bandido talvez seja um dos principais personagens do filme. Como Rossellini, Godard e Welles, Sganzerla soube filmar automóveis. Alguns dos planos e seqüências mais líricos e surpreendentes do cinema de Sganzerla serão de automóveis (em movimento e/ou estacionados). Destaquem-se cenas/diálogos entre Helena Ignez e Antonio Pitanga em A Mulher de Todos (1969); Helena Ignez e Wilson Grey em Sem Essa, Aranha (1970); Helena Ignez e Jorge Mautner em Carnaval na Lama (1970); Norma Bengell em O Absimu (1978); João Braga em Isto é Noel (1990); Djin Sganzerla em O Signo do Caos (2003); e, eventualmente, o elenco inteiro do Bandido em uma multiplicidade de veículos (tomadas interiores e exteriores, táxi, camburão, fusquinhas, Karmann Ghia, Oldsmobile Cutlass). Avacalhar – Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha. A avacalhação como única possível saída no Brasil de 68. Boçal – Posso dizer de boca cheia: sou um boçal. Para quem ainda duvidasse, quando o per-sonagem principal do filme faz essa afirmação, fica claro que estamos a anos luz de qualquer folclore brasileiro, de regionalismos cinema-novistas, de qualquer coisa que tivesse vindo antes. Buate – cenário noir por excelência – o palco, a cobra, a odalisca, as strippers ecoarão dois a-nos mais tarde em Sem Essa, Aranha. Cosmetologia – O pote de Dippity-do da bicha do táxi; a aplicação do creme de barbear no espelho; o delineador e o batom da prostituta. Ditadura militar – O cenário da explosão criativa. O artista como antena da raça. O roteiro prevê claramente a instauração do estado de sítio do AI-5. Esfinge – um dos primeiros planos do Bandido da Luz Vermelha é de uma capa de gibi deita-da – está proposto o enigma sganzerliano: Deciframe ou devoro-te. De um modo ou de outro, são inevitáveis a devoração antropofá-gica do noir e o verdadeiro desrepresamento de imagens que se seguirão nos próximos 90 minutos. De acordo 128 com Pound, phanopoeia. Faroeste do 3º mundo – classificação do filme pelo autor. Gênio – Rogério Sganzerla é um cineasta para o terceiro milênio (dixit Bill Krohn, in Cahiers du Cinéma) Hotel Atlântico – Cenário para a defenestração de Darcy Ruth Brasil, 23 anos, dona de casa, ex-balconista, ex-manicure, ex-parteira, ex-vestibulanda de Direito, a popular Gaúcha também conhecida como Mara ou Sophia Loren. Iconografia religiosa – Santo Antônio e São Jorge (Ogum na Bahia e no Rio de Janeiro, respectivamente). Nossa Senhora Aparecida. Mais adiante, o Cristo crucificado do Aranha: Pé em Deus e fé na tábua. Invenção – o ápice da indigência é chamar o cinema de Rogério Sganzerla de marginal ou de udigrudi. Dar preferência à classificação Cinema de Invenção. Lembrete para os desavi-sados: na hierarquia estabelecida por Pound, Sganzerla seria tão inventor (a classificação mais alta) quanto mestre (homens que combi-nam vários processos de invenção e os utilizam tão bem ou melhor que os inventores). Inimigo Público Número Um – Cânone: Josef Von Sternberg, Paixão e Sangue (1927), O Super Homem (1928) e O Homem de Mármore (1929); William Wellman (The Public Enemy, 1931); Howard Hawks, Scarface, A Vergonha de uma Nação (1932); Orson Welles, A Marca da Maldade (1958); Jean-Luc Godard, Acossado (1959); Rogério Sganzerla, O Bandido da Luz Vermelha (1968). Janete Jane – Os 9 minutos e 9 segundos do filme marcam o aparecimento da prostituta numa cena-relâmpago estrelada por Paulo Villaça e Helena Ignez. Os dois riem na rua. Ainda está por vir a narração em off na qual o Bandido lista suas conquistas amorosas e apre-senta a femme fatale que irá destruí-lo. Na enumeração, Ivonete sucede Malu que lembra Salomé e, ao chegar em Janete Jane, o Bandido descreve um ...tipo perereca, mundana e mascadora de chiclete. Ela é a culpada de tudo. Entre a redação e a filmagem do roteiro surge uma das mais dramáticas e frutíferas histórias (reais) de amor do cinema brasileiro e a pivete Mara vira JJ. A prostituta será a primeira de uma série de personagens femininas cujos nomes – na tradição altamente sexual das consoantes dobradas: Lola Lola, Lulu, BB, MM – incluirão a Sonia Silk de Copacabana mon Amour (1970) e a manicure Finfa no Peri-go Negro (1992) de Oswald. Quis gamar em mim? Agora agüenta. 130 JB da Silva – Dos diálogos para a brilhante interpretação de Fioravante Pagano Sobrinho no papel de político corrupto: Um país sem miséria é um país sem folclore e num país sem folclore o que é que nós vamos mostrar para os turistas?; Vou criar a casa do pai solteiro e instituir o Natal da criança malcriada e o lar do milionário arruinado... Pagano Sobrinho inaugura o ilustre rol de interpretações de comediantes que será uma das marcas autorais de Sganzerla ao longo de sua filmografia, continuando com Jô Soares e Jorge Loredo, entre outros. Lixo – a matéria-prima da arte (a Favela do Tatuapé, o Lixão, a Boca do Lixo). Anos-Luz à frente de seu tempo... Loucura – O conceito de gênio como próximo da loucura foi cuidadosamente formado pelo complexo de inferioridade do público. [Ezra Pound] Luminoso – De longe e disparado, a melhor seqüência de créditos de qualquer filme do cinema nacional. Luz – Punti Luminosi. Dante. Goethe. Luz (e Cor) P/B de RS. Movimento – a vertiginosa sucessão de pla-nos, o ritmo frenético da trama, a dança da câmera lenta, o balé da violência aliados à total novidade dos enquadramentos (o Bandido passa creme de barbear no espelho; a câmera sobe em elevador de prédio em construção enfocando a Catedral da Sé) faz lembrar o mote de um outro cineasta (pouco identifica-do com RS): Motion is Emotion. Música – Não é de se estranhar que seja o que é a trilha musical de uma filmografia que comporta dois filmes sobre Noel Rosa, outros dois sobre Jimi Hendrix e um quinto em que Caetano Veloso, Gilberto Gil e João Gilberto gravam um elepê. O Bandido da Luz Vermelha abre com uma cantiga de Exu. Em rápida sucessão, ouviremos, ainda, cantigas para Ogum e Euá; música de fun-do orientalóide para strip-tease de vedete com cobra na Buate; Bill Haley e os Cometas cantando Rock around the Clock; Roberto Luna cantando Saborami, Perfume de Gardênia e Molambo, entre outras (Eu sei que vocês vão dizer que é tudo mentira, que não pode ser.... Nem Tudo é Verdade); e berim-baus. Luiz Gonzaga canta Asa Branca e, em meio à grande montagem dos últimos planos, ouvimos fragmentos de Hendrix. Nazismo – A presença de Martin Bormann na trama terceiro mundista não dá margem a equívocos. A América do Sul como segundo lar da SS (ver Ditadura militar). Omelete bem temperado – Meu fraco é mortandela... apontamentos para uma culinária do Bandido. Policial – Em termos de gênero, o parentesco mais próximo do Bandido seria com o filme policial. No entanto, reduzi-lo a tal seria um desserviço à grandeza da obra e do gênero. Quem sou eu? – A pergunta-chave do Bandi-do. Como caixas chinesas, as malas dentro da mala do Oldsmobile Cutlass trazem inscritas em si o pronome Eu (A identidade do Bandido: ...um gênio ou uma besta?) Radiofonia – O teatro do ar. A presença do grande radialista Orson Welles no recurso das vozes dos locutores Hélio de Aguiar e Mara Duval. A leitura inspirada dos textos radiofônicos que silabam e pontuam a narrativa cinematográfica. Telegrafia/código Morse na trilha sonora com o surgimento da torre de transmissão em plongé. Referências radiofônicas. RKO Radio Pictures. E, ainda: Atenção Senhoras e Senhores: os estranhos objetos em forma de bolas luminosas continuam sobrevoando os céus de todo Brasil, polarizando a atenção, sendo vistos nos mais longínquos recantos – Manaus, Recife, Porto Alegre, Natal, Paranacapicuiba e Ribeirão Preto. As autoridades continuam em estado de choque. A guerra dos mundos repercute no Brasil. Numa classificação poundiana, melopoeia. Rosto Velado – uma iconografia islâmico-tuaregegungun que inclui os lenços do Ban-dido, os véus das dançarinas de cabaré e, mais adiante, o lençol/burka que recobre o irmão de Sonia Silk em Copacabana mon Amour (1970). São Paulo Da mesma forma que os filmes da Be-lair (e, na verdade, a parte maior da produ-ção de Sganzerla posterior ao Bandido e à Mulher de Todos) constituem verdadeiras geogra-fias da Zona Sul do Rio de Janeiro, para muito além da Boca do Lixo, O Bandido da Luz Vermelha é uma ode à cidade de São Paulo e cer-canias. Figuram nele o Pátio do Colégio, o Campo de Marte, a Catedral da Sé, o Parque do Ibirapuera, a Ilha Porchat, o Guarujá, o lito-ral paulista e, é claro, a Estação da Luz. TransubstanciAÇÃO – Na cena em que o Bandido bate uma gemada no liquidificador, ocorre a transformação de roteiro em cinema, de palavra em imagens em movimento: No roteiro não se vêem a caixa de chá Tender Leaf, o vidro de Lysoform, a caixa de sabão em pó Rinso, o garrafa de Lux. Deus e o Diabo estão nos detalhes. Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. – Desambiguação. A importância de a-preciar, compreender e absorver se-pa-ra-da-me-nte cada elemento da composição. A riqueza audiovocovisual sganzerliana. Vaivém, VER OU/VIR – A inesgotável arqueologia Pop do jogo entre o áudio (trilha sonora) e o visual (imagem) no Bandido da Luz Vermelha é uma arqueologia inesgotável. Ver Música. Nas paredes das tomadas em interiores veremos Wanderley Cardoso e ídolos da Jovem Guarda. Em tomada externa, o cartaz para Roberto Carlos em Ritmo de Aventura. Wellesiano – Jogo de espelhos. Uma vida dedicada à música da luz, onde a própria luz já se anuncia perigosa, bandida, no título do primeiro longa-metragem. Juventude, ousadia, inventividade, precocidade e provocação, explicitamente contra a cultura. O que seria ser assim? O dom de um talento incomum para dirigir atores residiria na capacidade de permitir que aflorasse em todos eles a invenção como arma maior no processo de criação. Mistu-rar na máquina do tempo e agitar: seria Welles Sganzerliano? Espelhos a serem estilhaça-dos. Espelhos a serem atravessados. Espelhos a serem filmados para voltar ao Zero – Marco. Madame. Helena. Rio de Janeiro, novembro de 2008 Steve Berg Prêmios e Festivais Ficção – 35 mm -92 min – PB Elenco: Paulo Villaça, Helena Ignez, Pagano Sobrinho, Luiz Linhares, Sérgio Mamberti, Sonia Braga, Lola Brah, Maurice Capovila, Renato Consorte, Neville de Almeida, Sérgio Hingst, Roberto Luna, Miriam Mehler, Ítala Nandi, Ezequiel Neves, Carlos Reichenbach, Ozualdo Candeias, Maurício Segall, Renata Souza Dantas, Maria Carolina Whitaker e outros. • Melhor Filme - III Festival de Brasília (1968) • Melhor Direção - III Festival de Brasília (1968) • Melhor Montagem - III Festival de Brasília (1968) • Melhor Diálogo - III Festival de Brasília (1968) • Melhor Figurino – III Festival de Brasília (1968) • Prêmio Governador do Estado SP (categoria especial) • Prêmio INC (Inst. Nacional do Cinema) e Roquette Pinto • Exibido na Weelington Film Society, Nova Zelândia – 2007 • Auckland Film Society, Nova Zelândia – 2007 • 9º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, 2007 • 20º Festival Internacional de Cinema de Fribourg, Suíça, 2006 • Barbican Center, Londres, 2006 • 16° Festival Internacional de Bobigni, Paris, 2005 • Tekfestival – Roma, 2005 - Rogério Sganzerla’s Homage • Mostra Cinema do Caos CCBB - Rio de Janeiro, 2005 • Internacional Film Museum Festival, Áustria, 2005 • 22°Festival de Cinema de Turim, 2004 – Tribute to Rogério Sganzerla • III Discovering Latin America Film Festival – Londres, 2004 • Exibido no MoMa – Nova York, 1999 • Festival de Cinema de Taormina , Itália, 1998 • • Festival de Cinema de Seul – Coréia do Sul • – Ásia – 2007 • • Wellington Film Festival – Nova Zelândia • – 2007 • Auckland Film Festival – Nova Zelândia – 2007 • Rogério Sganzerla foi homenageado no Dia Nacional da Cultura e do Cinema Brasileiro, em 5 de novembro de 2003, com a exibição do longa-metragem • O Bandido da Luz Vermelha foi indicado na UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade Filmografia 2003 • O Signo do Caos Ficção – 35 mm – 80 min – Cor/PB Elenco: Otávio Terceiro, Sálvio Prado, Helena Ignez, Camila Pitanga, Guaracy Rodrigues, Giovana Gold, Djin Sganzerla, Freddy Ribeiro, Eduardo Cabus e outros. Melhor Direção – Festival de Brasília 2003 Melhor Montagem – Festival de Brasília 2003 Prêmio Especial Festival do Rio 2003 para Rogério Sganzerla Melhor MontagemAssociação Paulista de Críticos de Arte (APCA), 2006 20º Festival Internacional de Cinema de Fribourg , Suíça, 2006 9th Film Fest of Mar del Plata 2006 Tekfestival, Roma, 2005 – Rogério Sganzerla’s Homage Festival Internacional da Procida, Itália – “Il Vento del Cinema” 2005 58º Festival Internacional de Cinema de Locarno, Suíça – 2005 Présence et Passé du Cinéma Brésilien, Paris, 2005 Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 22º Festival de Cinema de Turim 2004 – Tribute to Rogério Sganzerla Festival de Cinema de Trieste, Itália, 2004, I Mille Occhi Festival Internacional de Cinema de Roma, 2004 • Informação: H. J. Koellreuter Documentário – 18 min – Cor 20º Festival Internacional de Cinema de Fribourg , Suíça, 2006 • 23º Festival de Cinema de Turim 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla • Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 2002 • B2 Ficção – 35 mm – 11 min – PB 20º Festival Internacional de Cinema de Fri142 bourg, Suíça, 2006 23º Festival de Cinema de Turim 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 1998 • Tudo é Brasil Documentário – 35 mm – 82 min – Cor/PB Prêmio de Montagem – Festival de Brasília,1998 Prêmio de Pesquisa Histórica – Festival de Brasília ,1998 Prêmio da Crítica – Festival de Brasília, 1998 Prêmio Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA),1998 Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 22º Festival de Cinema de Turim 2004 – Tribute to Rogério Sganzerla Exibido no Museu Guggenheim em Nova York, 1999 Marche du Film – Cannes, 1998 Convidado pela Cinemateca de München – Baviera – Alemanha, na Welles Conference, sobre a carreira cinematográfica de Orson Welles 1993 • Perigo Negro Ficção – 35 mm – 27 min – Cor Elenco: Antonio Abujamra, Abrahão Farc, Helena Ignez, Ana Maria Magalhães, Paloma Rocha, Guará Rodrigues, Conceição Senna, Betina Vianny e outros. 20º Festival Internacional de Cinema de Fribourg , Suíça, 2006 23º Festival de Cinema de Turim 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla 23° Festival de Cinema de LA 2005 Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 Festival de Cinema de Taormina , Itália 1998 1991 • A Linguagem de Orson Welles Documentário – 35 mm – 15 min – Cor/PB • 23º Festival de Cinema de Turim 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla 58º Festival Internacional de Cinema de Locarno, Suíça – 2005 Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 46º Festival Internacional de Cinema de Locarno – 1993 Convidado pela Cinemateca de Munchen – Baviera – Alemanha, na Welles Conference, sobre a carreira cinematográfica de Orson Welles • América – O Grande Acerto de Vespúcio Ficção – 27 min – Cor Prêmio de Melhor Ator – Cineesquemanovo – Porto Alegre 2007 23° Festival de Cinema de Turim, 2005 – Tri144 bute to Rogério Sganzerla Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 • Newton Cavalcanti: A Alma do Povo Vista pelo Artista Documentário – Cor Documentário sobre o gravurista Newton Cavalcanti 23º Festival de Cinema de Turim 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla 1990 • Anônimo e Incomum Ficção – 13 min – Cor Co-produção com a Rioarte 23º Festival de Cinema de Turim 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 • Isto é Noel Documentário – 35 mm – 43 min – Cor Elenco: João Braga. 20º Festival Internacional de Cinema de Fribourg, Suíça, 2006 Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 22° Festival de Cinema de Turim, Itália – Tribute to Rogério Sganzerla, 2004 Apresentado no 80º aniversário do compositor de Vila Isabel e na Galerie Nationale du Jeu de Paune, Paris, 1993 1985 • Nem Tudo é Verdade Ficção – 35 mm – 95 min – Cor/PB Elenco: Arrigo Barnabé, Grande Otelo, Helena Ignez, Nina de Pádua, Mariana de Moraes, Vânia Magalhães, Otávio Terceiro, Abrahão Farc, Mário Cravo, Nonato Freire e outros. Melhor Montagem – 14º Festival de Gramado, 1987 Melhor Trilha Sonora – 14º Festival de Gramado, 1987 Prêmio da Crítica, 1986 Melhor Filme – Festival de Caxambu – 1986 Associação Brasileira de Cineastas, Prêmio Abraci, no Fest-Rio, 1985 20º Festival Internacional de Cinema de Fribourg, Suíça, 2006 23° Festival de Cinema de Turim, Itália – Tribute to Rogério Sganzerla, 2005 22° Festival de Cinema de Turim, Itália – Tribute to Rogério Sganzerla 2004 Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de janeiro, 2005 Seattle International Film Festival, 1987 Melbourne Film Festival, 1987 Festival Internacional de Cinema de Chicago, 1986 Festival Internacional de Cinema de Berlim Exibido na TV BBC (Londres) e na TF-1 de Paris 1986 e 1985 Convidado pela cinemateca de Munchen –Baviera, na Alemanha, na Welles Conference, sobre a carreira cinematográfica de Orson Welles. 1983 • Irani Documentário – 16 mm – 8 min – Cor Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 1981 • O Petróleo Nasceu na Bahia Documentário – 16mm – 9 min – PB Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 • Brasil Documentário – 35 mm – 12 min – Cor Documentário realizado nos estúdios, durante a gravação do disco Brasil de João Gilberto, com a participação de Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gilberto Gil. Internacional Film Museum Festival, Áustria 2005 Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 22°Festival de Cinema de Turim, 2004 – Tribute to Rogério Sganzerla III Discovering Latin America Film Festival – Londres, 2004 • Noel por Noel Documentário – 35 mm- 10 min – Cor Prêmio de Melhor Montagem no Festival de Brasília, 1981 Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 1978 • Horror Palace Hotel Documentário – S8 – 50 min – Cor Direção: Jairo Ferreira Co-direção e montagem: Rogério Sganzerla 1977 • Umbanda no Brasil Documentário – 16 mm – 18 min – Cor 23° Festival de Cinema de Turim, 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 • Abismu Ficção – 35 mm – 80 min – Cor Elenco: José Mojica Marins, Wilson Grey, Jorge Loredo, Norma Bengell, Edson Machado, Satã, Rogério Sganzerla e outros. 20º Festival Internacional de Cinema de Fribourg , Suíça, 2006 Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 22° Festival de Cinema de Turim, 2004 – Tri148 bute to Rogério Sganzerla Festival de Cinema de Roma, 2004 Festival de Cinema de Trieste, Itália, 2004, I Mille Occhi • Mudança de Hendrix Ficção- 16 mm – 53 min – Cor/PB Mostra Cinema do Caos no CCBB – Rio de Janeiro, 2005 1976 • Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica (Villegaignon) Documentário – 16 mm – 17 min – Cor Prêmio Secretaria da Cultura RJ 23° Festival de Cinema de Turim , Itália, 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 1971 • Fora do Baralho Documentário -16 mm – 93 min – Cor 1970 • Sem Essa, Aranha Ficção – 16 mm – 96 min – Cor Elenco: Jorge Loredo, Luiz Gonzaga, Helena Ignez, Maria Gladys, Moreira da Silva, Aparecida e outros. 20º Festival Internacional de Cinema de Fribourg, Suíça, 2006 Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 23° Festival Internacional de Turim, Itália, 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla Apresentado a convite do Festival de Taormina, Itália, 1998 • Copacabana Mon Amour Ficção – 35 mm – 96 min – Cor Elenco: Helena Ignez, Liliam Lemmertz, Otoniel Serra, Paulo Villaça, Joãozinho da Goméia, Guará Rodrigues, e outros. Trilha sonora original de Gilberto Gil. 20º Festival Internacional de Cinema de Fribourg, Suíça, 2006 Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 23° Festival de Cinema de Turim, 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla Tekfestival – Roma, 2005 – Rogério Sganzerla’s Homage 22° Festival de Cinema de Turim, 2004 – Tribute to Rogério Sganzerla • Carnaval na Lama (Betty Bomba, a Exibicionista) Ficção – 35 mm – 90 min – PB/Cor Elenco: Antonio Bivar, Jorge da Cunha Lima, Helena Ignez, Chico Marcondes, Jorge Mautner, Maria Regina e outros. Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 1969 • Quadrinhos no Brasil Documentário – 35 mm – 7min – Cor/PB Curta-metragem 23° Festival de Cinema de Turim, 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 • Histórias em Quadrinhos (Comics) Documentário – 35 mm – 07 min – Cor/PB Rogério Sganzerla & Álvaro de Moya 23° Festival de Cinema de Turim, 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 • A Mulher de Todos Ficção (comédia) – 35 mm – 87 min – Cor/PB Elenco: Helena Ignez, Jô Soares, Stênio Garcia, Paulo Villaça, Antonio Pitanga, Renato Corrêa e Castro, Telma Reston, Abrahão Farc, Silvio de Campos Filho, J.C. Cardoso, José Agripino e outros. Melhor Montagem – IV Festival de Brasília Melhor Atriz – IV Festival de Brasília Melhor Filme – I Festival do Norte do Cinema Brasileiro Melhor Filme – Festival de São Carlos 20º Festival Internacional de Cinema de Fribourg, Suíça, 2006 Tekfestival – Roma, 2005 – Rogério Sganzerla’s Homage Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 22° Festival de Cinema de Turim – Itália, 2004 1968 • O Bandido da Luz Vermelha Ficção – 35 mm – 92 min – PB Elenco: Paulo Villaça, Helena Ignez, Pagano Sobrinho, Luiz Linhares, Sérgio Mamberti, Sonia Braga, Lola Brah, Maurice Capovila, Renato Consorte, Neville de Almeida, Sérgio Hingst, Roberto Luna, Miriam Mehler, Ítala Nandi, Ezequiel Neves, Carlos Reichembach, Ozualdo Candeias, Maurício Segall, Renata Souza Dantas, Maria Carolina Whitaker e outros. Melhor Filme – III Festival de Brasília (1968) Melhor Direção – III Festival de Brasília (1968) Melhor Montagem – III Festival de Brasília (1968) Melhor Diálogo – III Festival de Brasília (1968) Melhor Figurino – III Festival de Brasília (1968) Prêmio Governador do Estado SP (categoria especial) Prêmio INC (Inst. Nacional do Cinema) e Roquette Pinto Exibido na Weelington Film Society, Nova Zelândia – 2007 Auckland Film Society, Nova Zelândia – 2007 9º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, 2007 20º Festival Internacional de Cinema de Fribourg, Suíça, 2006 Barbican Center, Londres, 2006 16° Festival Internacional de Bobigni, Paris, 2005 Tekfestival – Roma, 2005 – Rogério Sganzerla’s Homage Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 Internacional Film Museum Festival, Áustria, 2005 22°Festival de Cinema de Turim, 2004 – Tribute to Rogério Sganzerla III Discovering Latin America Film Festival – Londres, 2004 Exibido no MoMa – Nova York, 1999 Festival de Cinema de Taormina , Itália, 1998 1966 • Documentário Ficção – 16 mm – 11 min – PB Elenco: Vitor Lotufo, Marcelo Magalhães. Melhor Documentário – Viagem a Cannes, 1967 Mostra Cinema do Caos CCBB – Rio de Janeiro, 2005 22° Festival Internacional de Turim, 2004 – Tribute to Rogério Sganzerla Indice Apresentação – José Serra 5 Coleção Aplauso – Hubert Alquéres 7 Introdução – Inácio Araujo 11 Cinema Fora da Lei 15 Sinopse do Argumento de Rogério Sganzerla 19 Argumento e roteiro Rogério Sganzerla 25 O Bandido da Luz Vermelha 125 Prêmios e Festivais 137 Filmografia 141 Crédito das Fotografias Acervo Mercúrio Produções Coleção Aplauso Série Cinema Brasil Alain Fresnot – Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot Agostinho Martins Pereira – Um Idealista Máximo Barro O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias Roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger Anselmo Duarte – O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Antonio Carlos da Fontoura – Espelho da Alma Rodrigo Murat Ary Fernandes – Sua Fascinante História Antônio Leão da Silva Neto Batismo de Sangue Roteiro de Dani Patarra e Helvécio Ratton Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak – Fragmentos de uma vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra – Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person O Céu de Suely Roteiro de Karim Aïnouz, Felipe Bragança e Maurício Zacharias Chega de Saudade Roteiro de Luiz Bolognesi Cidade dos Homens Roteiro de Elena Soárez Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero Críticas de Edmar Pereira – Razão e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de Invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda Leão Críticas de Rubem Biáfora – A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista – Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Os 12 Trabalhos Roteiro de Cláudio Yosida e Ricardo Elias Estômago Roteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade Fernando Meirelles – Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano Fim da Linha Roteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Storyboards de Fábio Moon e Gabriel Bá Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Geraldo Moraes – O Cineasta do Interior Klecius Henrique Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta Cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton – O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito Ivan Cardoso – O Mestre do Terrir Remier João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Carlos Burle – Drama na Chanchada Máximo Barro Liberdade de Imprensa – O Cinema de Intervenção Renata Fortes e João Batista de Andrade Luiz Carlos Lacerda – Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla – A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Mauro Alice – Um Operário do Filme Sheila Schvarzman Miguel Borges – Um Lobisomem Sai da Sombra Antônio Leão da Silva Neto Não por Acaso Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Narradores de Javé Roteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu Onde Andará Dulce Veiga Roteiro de Guilherme de Almeida Prado Orlando Senna – O Homem da Montanha Hermes Leal Pedro Jorge de Castro – O Calor da Tela Rogério Menezes Quanto Vale ou É por Quilo Roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi Ricardo Pinto e Silva – Rir ou Chorar Rodrigo Capella Rodolfo Nanni – Um Realizador Persistente Neusa Barbosa O Signo da Cidade Roteiro de Bruna Lombardi Ugo Giorgetti – O Sonho Intacto Rosane Pavam Vladimir Carvalho – Pedras na Lua e Pelejas no Planalto Carlos Alberto Mattos Viva-Voz Roteiro de Márcio Alemão Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende Série Crônicas Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças Maria Lúcia Dahl Série Dança Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo – Dança Universal Sérgio Rodrigo Reis Série Cinema Bastidores – Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Série Ciência & Tecnologia Cinema Digital – Um Novo Começo? Luiz Gonzaga Assis de Luca Série Teatro Brasil Alcides Nogueira – Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta – Circo e Poesia Danielle Pimenta Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior João Bethencourt – O Locatário da Comédia Rodrigo Murat Leilah Assumpção – A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu – Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau – Artista Múltiplo Leila Corrêa Renata Palottini – Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso – Pólvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora – Os Cantos de Maldoror – De Profundis – A Herança do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor – A Terra Prometida Samir Yazbek Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda – Quatro Décadas em Cena Ariane Porto Série Perfil Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Arllete Montenegro – Fé, Amor e Emoção Alfredo Sternheim Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros Rogério Menezes Bete Mendes – O Cão e a Rosa Rogério Menezes Betty Faria – Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati – Luz Natural Carlos Alberto Mattos Celso Nunes – Sem Amarras Eliana Rocha Cleyde Yaconis – Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso – Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Denise Del Vecchio – Memórias da Lua Tuna Dwek Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da Vida Maria Leticia Etty Fraser – Virada Pra Lua Vilmar Ledesma Geórgia Gomide – Uma Atriz Brasileira Eliana Pace Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no Ar Sérgio Roveri Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do Cinema Maria Angela de Jesus Ilka Soares – A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache – Caçadora de Emoções Tania Carvalho Irene Stefania – Arte e Psicoterapia Germano Pereira Isabel Ribeiro – Iluminada Luis Sergio Lima e Silva Joana Fomm – Momento de Decisão Vilmar Ledesma John Herbert – Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa José Dumont – Do Cordel às Telas Klecius Henrique Leonardo Villar – Garra e Paixão Nydia Licia Lília Cabral – Descobrindo Lília Cabral Analu Ribeiro Lolita Rodrigues – De Carne e Osso Eliana Castro Louise Cardoso – A Mulher do Barbosa Vilmar Ledesma Marcos Caruso – Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral – A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado – A Estrela, o Mistério Luiz Carlos Lisboa Miriam Mehler – Sensibilidade e Paixão Vilmar Ledesma Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em Família Elaine Guerrini Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Paulo Betti – Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José – Memórias Substantivas Tania Carvalho Pedro Paulo Rangel – O Samba e o Fado Tania Carvalho Regina Braga – Talento é um Aprendizado Marta Góes Reginaldo Faria – O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi – Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Borghi – Borghi em Revista Élcio Nogueira Seixas Renato Consorte – Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin – Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho – Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza – Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst – Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti – O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silvio de Abreu – Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Sônia Guedes – Chá das Cinco Adélia Nicolete Sonia Maria Dorce – A Queridinha do meu Bairro Sonia Maria Dorce Armonia Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodrigueana? Maria Thereza Vargas Suely Franco – A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio Roveri Tony Ramos – No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Vera Holtz – O Gosto da Vera Analu Ribeiro Vera Nunes – Raro Talento Eliana Pace Walderez de Barros – Voz e Silêncios Rogério Menezes Zezé Motta – Muito Prazer Rodrigo Murat Especial Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso Wagner de Assis Beatriz Segall – Além das Aparências Nilu Lebert Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Cinema da Boca – Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor – O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma – Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Ney Latorraca – Uma Celebração Tania Carvalho Raul Cortez – Sem Medo de se Expor Nydia Licia Rede Manchete – Aconteceu, Virou História Elmo Francfort Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte Nydia Licia TV Tupi – Uma Linda História de Amor Vida Alves Victor Berbara – O Homem das Mil Faces Tania Carvalho Walmor Chagas – Ensaio Aberto para Um Homem Indignado Djalma Limongi Batista Formato: 12 x 18 cm Tipologia: Frutiger Papel miolo: Offset LD 90 g/m2 Papel capa: Triplex 250 g/m2 Número de páginas: 176 Editoração, CTP, impressão e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo © 2008 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo O bandido da luz vermelha / Argumento e roteiro de Rogério Sganzerla – São Paulo : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008. 176p. : il. – (Coleção aplauso. Série cinema Brasil / Coordenador geral Rubens Ewald Filho) ISBN 978-85-7060-669-3 1. Cinema - Roteiros 2. Filmes brasileiros – História e crítica 3. O bandido da luz vermelha (Filmes cinematográficos) I. Sganzerla, Rogério. II. Ewald Filho, Rubens. III. Série. CDD 791.437 098 1 Índices para catálogo sistemático: 1. Filmes cinematográficos brasileiros : Roteiros : Arte 791.437 098 1 2. Roteiros cinematográficos : Filmes brasileiros : Arte 791.437 098 1 Proibida reprodução total ou parcial sem autorização prévia do autor ou dos editores Lei nº 9.610 de 19/02/1998 Foi feito o depósito legal Lei nº 10.994, de 14/12/2004 Impresso no Brasil / 2008 Todos os direitos reservados. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Rua da Mooca, 1921 Mooca 03103-902 São Paulo SP www.imprensaoficial.com.br/livraria livros@imprensaoficial.com.br Grande São Paulo SAC 11 5013 5108 | 5109 Demais localidades 0800 0123 401 Coleção Aplauso | em todas as livrarias e no site www.imprensaoficial.com.br/livraria