Joana Fomm Minha História é Viver Vilmar Ledesma Imprensa oficial São Paulo, 2008 Governador José Serra Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Apresentação Segundo o catalão Gaudí, Não se deve erguer monumentos aos artistas porque eles já o fizeram com suas obras. De fato, muitos artistas são imortalizados e reverenciados diariamente por meio de suas obras eternas. Mas como reconhecer o trabalho de artistas geniais de outrora, que para exercer seu ofício muniramse simplesmente de suas próprias emoções, de seu próprio corpo? Como manter vivo o nome daqueles que se dedicaram à mais volátil das artes, escrevendo, dirigindo e interpretando obrasprimas, que têm a efêmera duração de um ato? Mesmo artistas da TV pós-videoteipe seguem esquecidos, quando os registros de seu trabalho ou se perderam ou são muitas vezes inacessíveis ao grande público. A Coleção Aplauso, de iniciativa da Imprensa Oficial, pretende resgatar um pouco da memória de figuras do Teatro, TV e Cinema que tiveram participação na história recente do País, tanto dentro quanto fora de cena. Ao contar suas histórias pessoais, esses artistas dão-nos a conhecer o meio em que vivia toda uma classe que representa a consciência crítica da sociedade. Suas histórias tratam do contexto social no qual estavam inseridos e seu inevitável reflexo na arte. Falam do seu engajamento político em épocas adversas à livre expressão e as conseqüências disso em suas próprias vidas e no destino da nação. Paralelamente, as histórias de seus familiares se entrelaçam, quase que invariavelmente, à saga dos milhares de imigrantes do começo do século passado no Brasil, vindos das mais variadas origens. Enfim, o mosaico formado pelos depoimentos compõe um quadro que reflete a identidade e a imagem nacional, bem como o processo político e cultural pelo qual passou o país nas últimas décadas. Ao perpetuar a voz daqueles que já foram a própria voz da sociedade, a Coleção Aplauso cumpre um dever de gratidão a esses grandes símbolos da cultura nacional. Publicar suas histórias e personagens, trazendo-os de volta à cena, também cumpre função social, pois garante a preservação de parte de uma memória artística genuinamente brasileira, e constitui mais que justa homenagem àqueles que merecem ser aplaudidos de pé. José Serra Governador do Estado de São Paulo Coleção Aplauso O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, visa a resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cinema, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileira vem sendo reconstituída de maneira singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor. Um aspecto importante da Coleção é que os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo e biografado se colocaram em reflexões que se estenderam sobre a formação intelectual e ideológica do artista, contextualizada na história brasileira, no tempo e espaço da narrativa de cada biografado. São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas – analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos extrapolam os simples relatos biográficos, explorando – quando o artista permite – seu universo íntimo e psicológico, revelando sua autodeterminação e quase nunca a casualidade por ter se tornado artista – como se carregasse desde sempre, seus princípios, sua vocação, a complexidade dos personagens que abrigou ao longo de sua carreira. São livros que, além de atrair o grande público, interessarão igualmente a nossos estudantes, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Desenvolveram-se temas como a construção dos personagens interpretados, a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns dos personagens vividos pelos biografados. Foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Gostaria de ressaltar o projeto gráfico da Coleção e a opção por seu formato de bolso, a facilidade para ler esses livros em qualquer parte, a clareza de suas fontes, a iconografia farta e o registro cronológico de cada biografado. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sortilégios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que nesse universo transitam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de to-do o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Introdução Esse é um livro em vários tempos. Começou a surgir em 2004, quando as águas de março se esforçavam para fechar o verão e seu ponto final passou por várias etapas – a segunda, em setembro daquele ano; depois, mais uma no começo de 2006 e a última quando faltam três meses para o fim de 2008. Na primeira fase, permaneceu alguns meses em gestação, depois ganhou praticamente a forma e por alguns períodos descansou em algum recanto do computador aqui de casa ou no da minha biografada. Foram várias estações. Mas existe a contagem do tempo pelos ponteiros dos relógios, folhinhas de calendários e existe o tempo Joana Fomm. Pode estar certo de que este último é bem mais interessante. Com 23 anos, Joana Fomm largou avida promissora de jovem estrela carioca e, com a cara e a coragem, veio se arriscar nas trincheiras paulistas do Arena. Quarenta anos depois, ela estava outra vez em São Paulo gravando sua participação na novela Metamorphoses e nossa primeira conversa foi na sala de visitas de um apart-hotel, bem no alto de um daqueles prédios modernosos da Vila Nova Conceição. É uma parte urbana, próspera, da cidade, bem diferente do centro antigo que a abrigou no começo dos anos 60. Cinco da tarde, logo depois de uma daquelas chuvaradas quentes e torrenciais. Começamos a conversar justamente sobre os seus primeiros tempos na cidade e foram duas horas de papo gravado, só interrompido quando um arco-íris anunciou sua presença no azul-escuro do céu. A beleza era tamanha que Joana não resistiu e foi até seu quarto buscar a câmera digital para registrar a natureza em toda sua exuberância. Depois desse primeiro encontro, uma série de telefonemas e datas que nunca batiam. Ou eu ligava ou ela ligava, mas volta e meia um dos dois chamava. O tempo – o real – foi passando e, quando acabaram as gravações da novela, Joana voltou para seu lar carioca. Continuamos a falar ao telefone e uma nova conversa diante do gravador era apenas uma questão de marcar a data e cidade. Rio ou São Paulo? Foi no Rio, no alto Leblon, nos primeiros dias de junho 2004, quando um friozinho paulista tomava conta da cidade maravilhosa – e Joana não suporta frio. Como numa canção de Adriana Calcanhotto: cariocas não gostam de dias nublados... e nisso a carioquice de Joana é explícita. Nada da impessoalidade do cenário anterior, agora conversávamos nos sofás de sua sala. E como é a casa de Joana? Com estantes repletas de livros, vídeos e DVDs, todos com jeito de já terem sido manuseados e a maioria mais de uma vez. É uma casa de atriz sem a menor dúvida. Nas paredes, poucas fotos, a principal é um pôster preto-e-branco de uma cena de O Filho do Cão, montagem do Arena nos anos 60. Joana divide o confortável apartamento com o filho Gabriel e três gatos e havia alguma tensão no ambiente, pois um dos felinos, ainda novato no pedaço, desperta a desconfiança dos dois moradores mais antigos. Não é nem um pouco difícil retomar nossa entrevista e Joana não costuma fugir de perguntas ou assuntos. Com delicioso senso de humor e raciocínio rápido feito flecha, ela não desmente a fama de mulher inteligente. Nossa despedida foi na porta do elevador – antes ganho um exemplar autografado de À Hora do Café, livro de contos que ela lançou pouco depois da de viver a famosa Yolanda Pratini de Dancing Days – e marcamos novo encontro no dia seguinte e ao mesmo horário, ao cair da tarde. Deixei o Leblon no começo da noite sob uma chuva lenta e ininterrupta, que encobria as belezas naturais cariocas. Foram mais ou menos assim nossas sessões de entrevistas seguintes – longas se medidas pelos ponteiros do relógio e curtíssimas devido a tantos assuntos a serem tratados e a delícia que é ouvir a bela Joana Fomm falar de si, de trabalho e das coisas que a cercam. Ela circula com intimidade pelas palavras e sempre as escolhe com clareza, mesmo quando discorre sobre assuntos não necessariamente fáceis. E não costuma ser condescendente ao analisar acontecimentos de sua vida, muito pelo contrário. Inquieta – hoje mais contemplativa, como ela avalia – e encantadora, Joana dispensa as armadilhas do show business e, com caráter e dignidade, passeia pelo mundo com um jeito todo seu e sem nunca dispensar coisas tão simples e por isso mesmo meio complicadas para simples mortais, como afeto e generosidade. O computador entrou com força na vida de Joana. Além de usá-lo para escrever e se comunicar via e-mail, ela costuma passar horas envolvida com cores e formas, elaborando seus desenhos. E também não dispensa a parte cassino na surpresa das cartas da Paciência-Spider. Foi via computador que o livro seguiu para o Rio para apreciação da atriz. Poucos dias depois falamos ao telefone e ela me disse que “modificaria” algumas coisas. Mais ou menos nessa época, Joana aceitou o convite para encenar As Pequenas Raposas, peça de Lilian Hellman, com direção de Naum Alves de Souza. Entusiasmada com sua personagem, a perdedora Berdie, e com a volta aos palcos, o tempo real de Joana andava escasso. Exatamente dois meses depois, numa manhã de segunda-feira, recebo o livro de volta. As modificações de Joana vieram no sentido de acrescentar detalhes, dar mais claridade ao texto, já que ela é íntima das letras – escreve poesias, contos e crônicas. Joana não cortou nada que alterasse o rumo das coisas, muito pelo contrário, acrescentou alguns detalhes saborosos. Pronto eaprovadopela biografada, esseMinha História é Viver passou por mais um tempo de espera até virar livro.Ecomo otempo nãopára, Joanalogo estava envolvida em outra peça, Duas Vezes Pinter, e dessa vez numa retomada do trabalho em grupo, o que mais a entusiasma, ao lado dos amigos de muito tempo Ítalo Rossi e Esther Jablonski. E praticamente emendando um trabalho no outro, Joana voltava às novelas (e à Globo) como a Veridiana de BangBang. Claroqueessestrêstrabalhosnãopoderiam ficarfora desse livro euma atualização se fazia mais do que necessária, o que ocorreu via telefone e e-mail. Vieram outras atualizações e conversas ao telefone atéesse livro ganhar seuverdadeiro ponto final, quando Joana está envolvida com os ensaios deumanovapeça – RetiradadeMoscou –AHistória de Um Recomeço. Então, esqueça – se for capaz – Yolanda Pratini e Perpétua, megeras famosas que Joana Fomm viveu na TV, pois sua criadora é muito mais interessante que todaselas juntas e espera por você nas próximas páginas. Vilmar Ledesma Fevereiro 2006 Capítulo I Momento de Decisão No primeiro semestre de 1963, quando já era uma atriz com 23 anos, algumas peças, filmes e aparições na televisão, resolvi trocar o Rio, onde tinha vivido até então, por São Paulo. A decisão nasceu depois de ter conhecido a turma do Teatro de Arena, que estava com A Mandrágora, no Teatro Santa Rosa. Fiquei encantada com a peça e logo me tornei amiga do pessoal, principalmente de Juca de Oliveira, Fauzi Arap e Augusto Boal, que me convidou a entrar para as fileiras do Arena. O grupo paulistano, junto com o Oficina, fazia o melhor teatro dessas terras. Trocar a turma do Teatro Santa Rosa, com quem tinha feito três peças, pela do Arena e, conseqüentemente, o Rio por São Paulo, não foi uma decisão muito fácil. Eu era cria do Santa Rosa. Mas quando garota de classe média, aluna do Anglo-Americano, minhas colegas me chamavam de comunista ou babaca ou altruísta. Na verdade eu tinha preocupações sociais, embora na época não fizesse idéia do que era comunismo, sabia que altruísmo era uma coisa de santo ou de herói, então, sobrava o babaca, mas isso tinha certeza que não era. Quando conheci as pessoas do Arena, já adulta, achei que chegara a hora de me aprofundar no assunto. Atraída pela idéia de fazer um teatro engajado, com uma responsabilidade social, decidi largar meu mundinho carioca, descobrir São Paulo e abraçar um trabalho com compromisso social. Roupas, livros, jóias, papéis, canetas, pulseiras, sapatos, escova de dentes: acomodei toda a bagagem em malas e coloquei no meu carro. Estava pronta para a viagem, mas ainda passaria por um incidente tragicômico no meu amado Rio de Janeiro. Com a história da minha vida dentro daquele fusquinha azul e a cabeça fervendo pela excitação da viagem fui ao encontro de Flávio Império no Copacabana Palace. Parei numa porta, fiquei esperando e como ele não aparecia, decidi procurá-lo na outra entrada e realmente lá estava Flávio à minha espera. Na volta, encontramos o carro completamente vazio, haviam roubado tudo e eu estava só com a roupa do corpo, mas longe de apresentar qualquer desespero. Meu amigo simplesmente não acreditava que pudesse me manter calma naquela situação. O que você vai fazer, ele me disse. E eu: O que você acha? Que vou dar parte na polícia? Essas malas não vão aparecer nunca mais. Vamos embora. Peguei o carro e rumei para a capital paulista. O receio de que minha família usasse isso como pretexto para impedir a viagem, fez com que eu partisse com uma única bagagem – eu mesma. Cheguei em São Paulo só com a roupa do corpo e a solução foi improvisar um guarda-roupa usando peças que amigos, como Flávio Império e Juca de Oliveira, me emprestavam. Era um casaco de um, uma calça de outro, tênis, japona e óculos escuros, que sempre usei até por timidez, para que as pessoas não vissem os meus olhos. Muita gente achou que eu estava fazendo tipo; não era, mas acabei gostando desse tipo raro e assumindo. Jeans, camiseta, camisas largas e japona viraram o meu figurino nos primeiros tempos de São Paulo e do Arena e acho que isso até facilitou minha adaptação à cidade. Eu ficava meio à margem. Foi uma fase incrível, cheia de descobertas e que se estendeu por quase dois anos, mas sempre que penso nesses tempos acho que duraram muito mais. Aliás, minha relação com o tempo é estranha e a contagem dos anos real é bem diferente do tempo Joana Fomm. Capítulo II Entradas e Bandeiras Acostumada à rotina ipanemense, intelectuais e chope (e eu detestava chope), comecei a descobrir – e me encantar – pela diversidade de vidas que São Paulo proporcionava. A Avenida São João do começo dos anos 60, repleta de japoneses, italianos e até paulistas, enchia meus olhos de recém-chegada e sintetizava o modo de vida paulistano. Observar aquele burburinho era programa para as tardes de domingo, respiro para o ritmo de trabalho intenso do Teatro de Arena. Minha estréia oficial no Arena foi em O Melhor Juiz, o Rei, mas fiz algumas substituições enquanto ensaiávamos essa peça. Foi uma adaptação sem maiores problemas, embora algumas pessoas me olhassem meio de lado e entre elas estava Isabel Ribeiro, que logo viria a ser minha melhor amiga. Todo mundo por lá estudava muito e comecei a me preocupar com minha própria ignorância. Embora não fosse totalmente desprovida de informação, não era o suficiente. Isabel e eu mergulhamos nos livros. E cada vez mais achava que o pensamento de esquerda tinha muito a ver comigo. Morava bem no centro da cidade, perto do Arena. Acordava lá pelo meio-dia a tempo de almoçar numa pensão ou no Bar Redondo e depois ia direto para o teatro e passava o resto do dia lá dentro. Estudava, estudava; ensaiava, ensaiava; fazia a peça e depois da apresentação, ensaiava outra vez. Era semi-internato mesmo. Laboratório, aulas de expressão corporal e dicção, de canto: tinha tudo lá dentro, era uma universidadezinha. Embora já fosse adulta e profissional, essa fase Arena representa uma espécie de reencontro com meus tempos de estudante de teatro, pelo menos em termos de troca de experiências e convívio com pessoas interessantes. Cursei a Martins Pena do Rio, que era menos representativa que a EAD, a Escola de Arte Dramática paulistana. Na época, o mais conceituado dos cursos de representação cariocas era a Escola da Dulcina de Moraes, que cheguei a freqüentar; mas como comecei muito cedo, meus pais me proibiram e me recomendaram esperar um ano e se depois desse tempo continuasse com a idéia de fazer teatro eles deixariam. Passados os tais 12 meses de provação, eu estava mesmo decidida a estudar teatro e descobri que na Martins Pena a aula era de tarde e de graça. Foi uma sorte. Na Martins Pena tive um grande mestre: Jorge Kossovski, que havia sido aluno de Stanislavski e me abriu a porta da arte dramática com muita competência. Luis Peixoto era o diretor da escola e ficamos muito amigos, já que reformulei todo o horário para ter mais aulas de interpretação. Éramos três alunas na turma e o professor Kossovski me deu seu veredito: você é a única que vai ficar. Aquela vai ser dona de casa e a outra tá vaidosa demais para vingar. E tal aconteceu. Kossovski falava um português enrolado. Quando ele começou a explicar o método, em vez de falar subtexto, usava entrelinhas. E nos fazia reescrever todo o texto com as entrelinhas da personagem. Essa prática é fantástica para entender e fixar a personagem. Ainda estudava arte dramática quando pisei no palco pela primeira vez. A peça chamava-se Paixão na Terra e foi encenada no Municipal carioca em 1958, com um elenco misto entre amadores e profissionais, como Nicette Bruno e Paulo Goulart. Usava o nome Maria Guennard, o sobrenome é da minha avó e o Maria vem do meu nome mesmo que é Joana Maria Fomm. Como havia a briga da família para eu não fazer teatro, resolvi usar Maria Guennard e os primeiros elogios da crítica que recebi de Gustavo Dória, meu professor de história de teatro, foi com esse nome. Só que mestre Kossovski achou que não era uma boa idéia, pois já existiam Marias e nenhuma Joana. E ficou mesmo Joana Fomm. Nem tudo foram flores na estréia de Paixão na Terra: fiquei num nervosismo tal, que meu amigo Hélio Carvalho teve de me dar uma bofetada e me empurrar para entrar no palco. A história pode até ser clássica, mas foi assim mesmo. Capítulo III A Greve de Romeu e Julieta Concluí a escola de arte dramática em 1959 e fui à luta atrás de trabalho. Como soube que estavam precisando de atrizes na TV Rio, bati na porta da emissora e o diretor que me recebeu foi sincero e sucinto: Nunca ouvi falar em Joana Fomm. Com o impulso da juventude, respondi: Se não me der uma oportunidade de mostrar o que sei fazer, nunca vai ouvir, pois vim de uma escola de teatro. Devo ter impressionado Wilton Franco, pois ele me deu a primeira oportunidade. Fui razoável apresentadora e péssima garota propaganda, pois infelizmente nunca consegui ter um caso de amor com uma geladeira ou me apaixonar por um sabonete. Com nome de comediante, Jo Ana, entrei para o elenco dos programas humorísticos fazendo escada para Catalano, Zé Bonitinho, Renato Consorte, uma turma de cômicos maravilhosos. Na TV Rio me queriam como comediante e chegaram a me oferecer um quadro próprio. Como estava interessada em vôos dramáticos, fui bater em outra freguesia, a TV Continental, onde usei o mesmo método e ouvi a frase: Se você conseguir que alguém se interesse por seu trabalho, pode ficar na casa. A oportunidade veio quando Roberto Maia me convidou para protagonizar um teleteatro. E daí em diante progredi ganhando ótimos papéis e recebendo algumas rasteiras de atrizes veteranas. Nessa época, os teleteatros eram feitos ao vivo, o que causava alguns desastres bem engraçados, mas tinha um lado muito estimulante. Nos corredores da TV Continental, conheci o ator Francisco Milani e acabamos nos casando. Éramos muito novos, eu com 20 e ele 21. Minha história com os relacionamentos amorosos é complicada, e não só com os relacionamentos. Tive algumas paixões na vida e nenhuma durou muito tempo. Falo do tempo real, aquele que é marcado por relógios, calendários e outros instrumentos, pois, como já avisei, o meu tempo costuma ser diferente. Voltando: tive algumas paixões e nenhuma durou muito tempo. Talvez porque tenha sido antes do tempo, depois do tempo, não sei. Casei com Milani de véu e grinalda, contra a vontade de ambas as famílias, mas com muito humor. Quem realizou nosso casamento foi padre Geraldo Pawells, amigo de minha família e que me conhecia desde bebê. Diante da negatividade do público, optou por um discurso hilariante, que fez a platéia vir abaixo. Homem admirável, padre Geraldo Pawells amenizou o clima da cerimônia. Infelizmente meu casamento não durou muito. Éramos muito jovens, muito inexperientes, trabalhávamos demais e logo começamos a ter problemas de vários tipos. Gostava muito do Milani e permanecemos amigos até o fim de sua vida. Quando fomos assinar os papéis do desquite, entramos na sala do juiz de mãos dadas e o homem ficou tão impressionado que perguntou se tínhamos mesmo certeza da separação. Costumo ficar amiga dos meus namorados, com raras exceções. Eram, e são, todos muito boas pessoas e eu sabia sempre que a culpa era bilateral, porque eu era muito complicada, muito despreparada. Sou de uma geração que procurou destruir alguns modelos de realização pessoal que nos eram apresentados prontos. Minha geração tinha obrigação de quebrar fórmulas, mas não tínhamos nada de concreto para colocar em substituição. Acho que nunca me propus a construir algum relacionamento para a vida inteira. Eu não sabia por quê. Mais tarde, muito mais tarde, bastante mais tarde, descobri em terapia, que tinha sofrido ultrajes sérios durante minha infância. Muita coisa se explicou. Eu reagia em vez de agir. Mas o tempo já havia passado e os enganos cometidos. A TV Continental exibia três ou quatro teleteatros por semana, tudo ao vivo, e trabalhei bastante com Egydio Eccio e Antonino Seabra. Claro que ocorriam aqueles problemas todos que a gente imagina, mas sempre dava certo. Lembro de quando montamos os Irmãos Karamazov, de Dostoiévski, eu atravessava de tílburi de um estúdio para outro e o danado do cavalo resolveu empacar. Como o espetáculo não pode parar, acabamos entrando com aquela charrete puxada por cavalos e técnicos dentro do estúdio. Foi um sucesso. Fazíamos na Continental um teleteatro que se iguala aos melhores de hoje em dia. Francisco Milani e eu estávamos escalados para uma peça moderna, tipo Romeu e Julieta, numa fase em que já reinava na TV Continental a prática nada saudável de não pagar os salários; tinha gente desmaiando pelos corredores, aquela baixaria. Meu marido e eu decidimos não trabalhar se o pagamento não saísse, o que acabou ocorrendo. Poucos minutos antes de o programa entrar no ar, estávamos sentados no nosso fusquinha, sob o aplauso dos colegas, indo para a casa do diretor da emissora, Antonino Seabra, para festejar com champanhe nacional. Antonino, nosso padrinho de casamento, também era o diretor desse teleteatro. No dia seguinte, todos receberam uma parte do salário, menos nós, os ratos que tínhamos abandonado o barco, como chegou a escrever um crítico de TV da época. Convidei-o para vir à minha casa e esclareci a situação. Capítulo IV No Coração de Ipanema Minha estréia profissional no teatro foi com Um Estranho Bate à Porta, montagem da companhia de Henriette Morineau, subvencionada pelo meu pai, Artur Fomm. Eu tinha medo de pisar no palco, achava que não tinha voz e a perspectiva de uma platéia me enchia de angústia e tensão. A impressão que se tem dela num primeiro contato é de uma pessoa simpática, inteligente, espontânea, meio ingênua e sem maiores complicações. É míope e usa sempre óculos, o que acha ótimo porque, na hora de representar, tirando-os, não vê o público, valendo-se assim do processo psicológico semelhante ao do avestruz, que, numa tentativa inútil de proteção, enfia a cabeça na areia para não ver o caçador, com a esperança de que ele também não o veja. Trecho da reportagem Moça Nervosa Estréia em Suspense, escrita pelo jornalista Léo Victor. Ruth, minha personagem, era do tipo pequena e marcante. Diretor e protagonista do espetáculo, Sérgio Cardoso lidou maravilhosamente bem com meu jeitão introspectivo e minha timidez. Ele, que me deu força e também broncas homéricas, foi um diretor incrível e ficamos amigos. A peça era de suspense e a possibilidade de ouvir as reações de espanto da platéia virou um delicioso atrativo extra. Eu interpretava uma garota meio ingênua que via o personagem de Sérgio apenas como amigo de sua tia e nem intuía que estava diante de um assassino. A peça foi encenada na época da renúncia do Jânio Quadros, quando ninguém saía de casa e o país estava um rebuliço. Resultado: a temporada fracassou, mas essa estréia me deu um prêmio de atriz revelação, com O Asilado. Praticamente com esse prêmio veio também o de revelação no cinema do Festival de Teresópolis por Morto ao Telefone, de Watson Macedo. Nunca tinha feito cinema e até achava que não ia gostar tanto, mas foi uma experiência deliciosa e o início de uma relação bem interessante com as câmeras. Watson era o papa das comédias musicais da Atlântida e com esse filme enveredou por um novo gênero, o policial. O resultado foi muito bom, principalmente para a época em que foi feito. Tenho boas lembranças das filmagens, onde conheci Geraldo Miranda, que foi meu grande amigo até a sua morte. Fazia a mocinha, mas não lembro que tipo de mocinha. Eliana, estrela da Atlântida, e Oswaldo Loureiro encabeçavam o elenco. Meu casamento com Francisco Milani acabou mais ou menos nessa época e foi através dele que conheci o Teatro Santa Rosa. Milani trabalhara em Procura-se Uma Rosa, peça em três atos escrita por Vinicius de Moraes, Pedro Bloch e Gláucio Gil, que inaugurou o Santa Rosa, em 1961. O primeiro do Rio com planos de só encenar autores nacionais, o Santa Rosa era de Léo Jusi, Helio Bloch e Gláucio, um pessoal muito inteligente e com quem aprendi muito. Teatrinho adorável, ficava no subsolo de um prédio, no número 22 da Rua Visconde de Pirajá, bem no coração de Ipanema, que ainda era um paraíso. Lá funcionava também uma galeria com exposição de quadros e o nome do teatro veio em homenagem ao cenógrafo e artista plástico Santa Rosa. Eu já namorava Gláucio quando Jusi e Bloch me convidaram para trabalhar com eles. Existia um acordo que não podia entrar namorada no elenco; eu não sabia desse acordo, Léo e Hélio não sabiam do namoro. Depois de árduas discussões, tudo foi acertado – eu ficava. O/po A/pa/si/pi/la/pa/do/po (assim mesmo: O Asilado na língua do P), comédia de Guilherme Figueiredo passada no mundo da diplomacia e num país imaginário, a Ostrália, foi minha primeira peça no Santa Rosa. A imprensa da época me chamava de gostosa, o que eu odiava, e aparecia em cena de baby doll e maiô inteiro. Era para usar biquíni, mas os três sócios do Santa Rosa e Guilherme Figueiredo me protegeram e vetaram: nada de biquíni. Paulo Francis arrasou comigo numa crítica e me comparava a uma borboleta sei lá o quê. Era a minha primeira crítica má e fiquei fula. Depois do estouro de O Asilado, voltei como Nossa Senhora descendo de um andor em O Auto da Compadecida, montagem marcante do Santa Rosa do texto de Ariano Suassuna. Trabalhava com Agildo Ribeiro, que fazia um João Grilo maravilhoso, e o elenco era uma turma de amigos daqueles que já tinham se cruzado em alguma escola, em alguns lugares. Essas duas peças fizeram sucesso, mas nada que se compare a Toda Donzela Tem Um Pai Que é Uma Fera, comédia de Gláucio Gil que virou um fenômeno de público. Em tom de farsa, contava a vida agitadíssima de um conquistador de Copacabana. Gozado é que Gláucio não gostava de sua peça, que achava menor, comercial demais e ela só foi encenada porque a que entraria no lugar deu problemas. Renato Consorte faria o protagonista, mas teve dificuldade de decorar as muitas falas do personagem e Gláucio ficou com o papel. Gláucio era todo desajeitado e Renata Fronzi entrou em cena e lhe deu um banho de loja. Com um bom corte de cabelo e trajando roupas elegantes, Gláucio estourou como comediante e acho que ele nunca tinha pensado nessa possibilidade. No programa de Toda Donzela, Gláucio Gil escreveu sobre sua criação que ia na contramão da produção teatral engajada da época: A idéia desta peça é, evidentemente, uma brincadeira. Irresponsável e sem compromisso, como toda brincadeira que se preza. Sua finalidade é fazer rir, com o cuidado de não ter qualquer mensagem, nem conteúdo social. Apesar, entretanto, de tudo nessa farsa ter sido concebido de forma perfeitamente leviana, ela resultou, quase que a despeito de minha vontade, em algo com um misterioso quê de seriedade absurda. Mas isso só os iluminados entenderão o porquê. Eu representava a mocinha do título, filha do general durão, que era o Arthur da Costa Filho. Com Renata Fronzi, Daniel Filho e Gláucio éramos cinco atores em cena e a temporada foi uma farra. Caricaturas de gente solitária, em busca do amor, nossos personagens caíram nas graças do público que manteve a peça em cartaz por mais de um ano. Saí do Santa Rosa depois de Toda Donzela e quando eles se preparavam para montar uma peça de Carlos Lacerda, com quem eu não simpatizava muito. E como já contei aqui, estava enfeitiçada pelo pessoal do Arena. Capítulo V Risos e Sensações do Arena Antes de sair do Rio e mudar para São Paulo, havia sempre quem me dissesse: Você vai largar seu sucesso aqui para se enfiar no Arena? Eu me enfiei no Arena sim e hoje considero que houve perdas e ganhos. Mas a experiência no Arena me marcaria para sempre. O Arena era uma coisa muito séria e ao mesmo tempo gostosa de se fazer. Além de nossos ensaios habituais, existia por lá um ensaio crítico. Após ensaiarmos, Ary Toledo subia ao palco, imitava o que tínhamos feito de errado, esculhambava mesmo, para que a gente percebesse os equívocos. Em O Filho do Cão, quem estava ruim era Gianfrancesco Guarnieri, autor da peça e ator maravilhoso. Lembro muito bem de Ary imitando-o para mostrar como ele estava fazendo seu personagem completamente errado. E sabe-se lá Deus o porquê, Guarnieri não conseguiu realizar legal o papel, de repente até por ser autor, estar muito envolvido com a produção da peça. Depois do espetáculo, sempre saíamos para ver a noite paulistana, a boêmia, a marginália, onde eu passava pela beirada como falsa estrangeira. Antero de Oliveira e Isabel Ribeiro eram meus companheiros mais constantes nessas incursões a uma realidade a que eu não pertencia, mas respeitava. Íamos aos antigos cabarés da Major Sertório, antes de virarem inferninhos, e ficávamos curtindo a disciplina e a seriedade com que artistas da noite encaravam seus shows. Havia um balé inesquecível: o marido coreógrafo, mulher, sogra e filhas que repetiam religiosamente a eficiência, dia-a-dia. Tinha uma bailarina bem garota, mais magrinha, que era um primor. Isabel, Antero e eu a adorávamos. Havia também os tocadores de harpa paraguaia, os violinistas da madrugada e aquela infinidade de tipos humanos que não são fora ou dentro da lei, mas à margem de tudo. Aprendi muito com fracassados, vadias e bêbados que encontrava nessas andanças noturnas. Era uma vida bastante peculiar a dos tempos do Arena: almoço ao meio-dia, ensaio e estudo às duas, lanche, ensaio novamente, tempo para jantar, espetáculo das nove às onze e à meia-noite sessão poeira no Cine Oásis. Eram tempos de descobertas, mesmo quando a noite se restringia a uma longa conversa na Praça da República, curtindo de longe a esquina da Ipiranga com São João, ponto de encontro de artistas de circo e desempregados. Café da manhã e um sono completo até recomeçar. Capítulo VI Dá-lhe, Sancho! Foram cinco meses de ensaio para O Melhor Juiz, O Rei – e com direito a laboratórios, uma das manias da época. Continuo achando este tipo de exercício uma coisa muito útil, embora não falte quem diga que não funciona muito. Às vezes funciona bastante. No Melhor Juiz houve aprendizados muito estranhos. Num desses laboratórios eu tinha de encenar a emoção de receber o primeiro beijo. Era um exercício de improvisação com o Juca de Oliveira, que era meu namorado e a quem já tinha beijado muito, o que significava que não existia nenhuma novidade ali. Só que entrei tanto naquela história de que estava escondida atrás da pedra e quando Sancho (Juca) me viu e me beijou, a minha boca tremeu tanto que senti a emoção do primeiro beijo. Senti num laboratório o que na vida real não tinha acontecido, pois não guardava lembrança daquele dia que fora o do primeiro beijo de um grande amor. Meu primeiro beijo tinha sido aos 8 anos, de brincadeirinha. Senti essa emoção num exercício de laboratório. É engraçado essa história de laboratório, só que eu acho perigoso. Lembro de outro exercício que fazia com Abrahão Farc e tínhamos de ficar olhando um no olho do outro para chorar, mas a gente ria muito. Palco de uma nova geração de dramaturgos nacionais, a linguagem teatral do Arena era sempre brasileira, mesmo quando se montava um clássico como O Melhor Juiz, O Rei, do espanhol Lope de Vega. Era uma peça em versos, adaptada por Boal e Guarnieri, em que Juca de Oliveira e eu fazíamos os protagonistas, espécie de Romeu e Julieta camponeses, com um elenco poderoso que tinha Dina Sfat, Guarnieri e Isabel Ribeiro. Fizemos uma pré-estréia em São Paulo e, antes da temporada normal na cidade, viajamos ao Nordeste com apresentações nos Estados de Pernambuco, Paraíba e Bahia, sempre em feiras, praças públicas, adros de igreja e outros locais amplos, sem acústica, camarim, nada. Uma das primeiras apresentações foi em Recife, numa concha acústica gigantesca, em tempo de Miguel Arraes, Movimento de Cultura Popular e Ligas Camponesas. Chegamos atrasados e uns 2 mil camponeses nos esperavam impacientes e fazendo algum barulho de inquietação. Bateu uma certa paúra e Boal, receoso de que o público não entendesse, pediu para Juca ir lá na frente explicar o que era a peça, que era em versos, etc... Juca deu seu recado e entramos no palco completamente Romeu e Julieta na concepção paulista, burguesa. Foi um desastre, fomos vaiados de cara e no minuto seguinte estávamos inteiramente mudados, deixando de lado a inflexão e apostando no cara a cara. Fizemos bem machões, eu virei uma paraíba e o Juca parecia um touro. A partir daí funcionou e o público começou a participar, antecipando piadas que a platéia paulista sequer sacava. Numa determinada passagem, minha persona-gem tinha um texto imenso, onde contava ter sido violentada e estava sangrando com o vestido arrebentado. Na verdade, eu estava toda de branco, com um belíssimo vestido de Flávio Império, tudo certinho. Agora vai ou racha, dis-se pra mim mesma. Fui para a frente do palco, esperei que fizessem silêncio e comecei a falar aquele texto imenso. O povaréu em silêncio tal que se podia ouvir uma mosca passando. Logo começaram a torcer por minha personagem, dizendo coisas como É isso aí, Elvira, não fica com aquele homem que ele não presta. O Melhor Juiz falava de camponeses e senhores feudais e o público torcia mesmo, em clima de filme de mocinho e bandido. Da platéia vinham gritos de guerra como dá-lhe, Sancho e abaixo, Don Tello, na clara identificação com a luta do camponês contra o capitalista. Depois do espetáculo, eles queriam tocar os artistas, levavam os filhos para nos verem de perto, perguntavam como era fazer teatro, o que dava uma pena absurda porque não havia muito o que dizer para aquela gente sofrida. Eles perguntavam quando íamos voltar e todo mundo ficou angustiado: nós não sabíamos! Foi uma porrada, uma experiência marcante e inesquecível. Eu me senti inteiramente surpresa com aquela realidade, de estar desvendando um outro mundo. Os camponeses sabiam quais eram as informações que precisavam. Eles tinham um radinho vermelho, lembro que era vermelho porque a gente brincou com isso, e naquele aparelho já haviam alfabetizado um monte de gente de vários lugares que ia até lá para estudar. O líder era um negro baixinho, não lembro o nome, e foi assassinado pela revolução militar. Era um homem muito sábio, que achava que a revolução era para eles virarem pequenos burgueses. Os camponeses estavam por todo lado, inclusive algumas crianças, mas não tivemos contato com as mulheres camponesas. A agitação política por lá era intensa e também isso era surpreendente para mim. Achei – e acho que ainda deve ser até hoje – Recife o lugar mais politizado que conheci. Voltei lá algumas vezes, muito tempo depois, e encontrei tudo mais miserável do que no primeiro encontro, que já fora um susto. As pessoas na rua não pediam esmola, quase que exigiam dinheiro, mais ou menos o que ocorre nas grandes cidades brasileiras. Acho que de lá para cá a coisa só piorou. A temporada paulistana de O Melhor Juiz foi um fracasso total, com mais gente no palco que na platéia. A gente estranhou muito, porque no Nordeste eles riam muito antes das piadas do que em São Paulo. Foi uma surpresa, a rapidez, a vivacidade de eles anteciparem as coisas. Piadas, que tinha que dobrar a página para que o público paulistano se tocasse, lá eles riam no ato, reagiam no ato. Bem mais sagazes, inteligentes. E numa peça que nenhum deles tinha visto na vida. Era muito emocionante, muito bacana. Minha colega no Arena, Isabel Ribeiro era uma pessoa excepcional, inteiramente rara, única. Quando nos conhecemos houve um certo estranhamento, mas em pouco tempo viramos as melhores amigas e aprontávamos bastante. Uma hora, antes de uma apresentação de O Melhor Juiz, O Rei, lhe falei que seria ótimo se alguém desmaiasse e a sessão fosse cancelada, já que na platéia estavam só quatro gato pingados. Falei aquilo de brincadeira e ela caiu desmaiada. O público se agitou, Isabel foi atendida por médicos e nada. Hora depois ainda não tinha voltado a si. O espetáculo foi cancelado, o teatro ficando vazio, a colocaram na parte de cima do teatro, numa caminha e fui ficar com minha amiga, esperando para ver o que ia ocorrer. A esta altura, já estava preocupada, achando que ela tinha desmaiado mesmo. Depois que todo mundo foi embora, Isabel caiu na gargalhada e me disse até você acreditou, sua boba. Ela se divertiu muito com aquilo. Isabel era uma pessoa adorável, séria, talentosíssima e muito de pregar peças. Era muito cara-de-pau no bom sentido da coisa. Convivemos muito depois da revolução. Fomos para uma fazenda, Nélson Xavier também estava lá e depois teve que voltar para o Rio, naquela coisa de será que vem alguém atrás de nós? Isabel e eu moramos um tempo no apartamento do Chico de Assis, depois na casa dos meus pais. A gente se via diariamente. Das pessoas que conheci na intimidade, de me dar, ela era a única encantadora em todos os momentos, até quando brigávamos. Ela sempre me deu a sensação de estar convivendo com uma pessoa muito rara. Quando Isabel ficou doente, eu não soube segurar legal. O médico deixou para mim o encargo de dizer-lhe que ela estava com os dias contados. Ele me falou que já tinha dito, mas quando entrei no quarto ela perguntou: E então? Não é nada, né. Eu não tive coragem de dizer. Ela não queria ouvir também. Mas eu sofri muito com isso. Eu deveria ter dito. Isabel Ribeiro morreu em 1990, com 48 anos. Capítulo VII Garota de Copacabana Menina mimada, cheia de brinquedos e desejos realizados, filha única de Alice e Artur Fomm, abastado dono de um cassino em Santos, eu morava na Avenida Atlântica. O Posto Dois de Copacabana foi o cenário de minha infância e adolescência. Comecei a ir à praia com zero ano de idade e o mar era meio como minha casa. Considerada um peixinho pelos banhistas, nadava até à arrebentação, ajudava a salvar as pessoas, era muito metida. Aos 5 anos, brincava o carnaval fantasiada de índio guerreiro, toda de penas brancas, nos salões do Automóvel Clube carioca. É só olhar a fotografia da época para perceber que eu devia estar me esforçando muito para brincar e provar às mães – particularmente à minha – do que eu era capaz. Estudei no colégio Anglo-Americano, gostava de esportes e fazia parte do time de vôlei da escola e do de basquete do Flamengo. Péssima. Aos 10 anos, tinha aulas de piano e, aos 13, praticava hipismo na Sociedade Hípica brasileira. Romântica e sonhadora, era uma típica garota carioca de classe média alta, produto de um meio social alienado, mas já tinha preocupações sociais e inquietações existenciais que ainda não conseguia entender. Sempre gostei de escrever, no colégio era a redatora da classe, e meu professor de português, Paulo Freitas, foi uma pessoa importante nessa fase da minha vida. Uma vez fiz uma composição e ele me disse assim está muito boa, mas comunista demais. Comunista? Não tinha a menor idéia do que fosse aquele termo, mas depois fui perceber que minhas redações tinham mesmo um quê de comunistas. Teve uma em que escrevi que nosso País ainda não tinha conquistado a independência, ainda estava no caminho. Existia ali uma clara alusão à nossa dependência de outros países e essas coisas assustavam o professor, que era uma figura maravilhosa e uma das raras pessoas com quem eu conseguia conversar. Devia ter uns 15 anos, estava cursando o clássico, e a partir de episódios como esse, quis saber o que era essa coisa de comunismo e tal, que só veio a pintar com mais clareza na minha vida uns dez anos depois, quando passei a trabalhar no teatro de Arena. Meu professor, que queria me ver escritora, chorou no dia que eu lhe disse que ia parar de estudar para fazer teatro. Comecei a ler muito cedo. Lá pelos 8, 10 anos, já andava atrás de coisas para ler. Os primeiros foram os livros de minha mãe, que não eram umas maravilhas, mas havia os de um italiano, Pitigrilli, que escrevia uma literatura meio safada, erótica e foi bastante conhecido uma época por causa disso tudo. Interessei-me de cara por esse autor, que era muito inteligente, e escrevia de maneira engraçada. Não demorou muito para que eu me encantasse com o erotismo elegante de D.H. Lawrence em O Amante de Lady Chatterley e com as poesias românticas de J.G. de Araújo Jorge. Lia também os escritos de Suzana Flag, pseudônimo que Nelson Rodrigues usava. Minha mãe tinha também alguns livros de filosofia que até li, mas não entendi. Com 14 anos, tive poesias publicadas no Jornal do Brasil. Na escola de arte dramática, convivi bastante com Olegário Mariano, que era muito amigo do nos-so diretor. Olegário era conhecido como poeta das cigarras e eu não era fã dele como escritor, mas como homem. Ele era lindíssimo, muito mulherengo, muito engraçado. Estávamos muito próximos quando ele morreu, no final de 1958 e beirando os 70 anos – eu ainda não tinha 20. Lembro que o enterro de Olegário foi um acontecimento com um monte de mulheres circulando em volta do caixão, algumas botando cigarras e muitas com aqueles véus pretos de viúva. Convivi bastante com escritores. Começou com Olegário Mariano na escola, depois Gláucio Gil, Ignácio de Loyola Brandão e mostrei minha poesia a Manuel Bandeira. Há uma história muito bonita com Carlos Drummond de Andrade. Quando ele fez 80 anos, em 1982, deu uma entrevista onde me citava como uma mulher especial. O poeta disse que só assistia às cenas de novela em que eu aparecia e isso era bem mais do que um elogio, vindo de quem vinha era a glória total. Pediram para responder, respondi e logo começamos a falar ao telefone. Não lembro quem ligou primeiro para quem, mas sei que ficamos conversando ao telefone por bastante tempo. Eram telefonemas longos, ficávamos horas batendo papo e ele me mandou cartas também. Drummond tinha sido meu ídolo. Quando menina, vivia correndo atrás dele. O poeta estava sempre com a filha no ponto de ônibus e eu dava um jeito de pegar aquele mesmo veículo só para ficar perto dele. Depois descobri que meu médico era o mesmo dele e fiquei toda prosa. Por um tempo vivi assim na sombra do poeta. Drummond fez minha cabeça. Um namorado de adolescência me deu dois livros de poesia, um do Manuel Bandeira e outro do Drummond e me disse que seu favorito era Bandeira. Legal, mas o meu é Drummond, respondi. Quando nossos telefonemas começaram, ficava muito tímida. Ele realmente tinha sido o meu herói. Falávamos de tudo. Drummond era muito engraçado, dono de um maravilhoso senso de humor. Ziraldo diz que eu era a namorada platônica de Drummond por telefone. Era capaz de ser mesmo e eu nem ter percebido. Só vim a conhecê-lo no cemitério, no enterro de sua filha Maria Julieta e ele morreu 12 dias depois, em 17 de agosto de 1987. Capítulo VIII Mãe Nortista A pouca aceitação de O Melhor Juiz, O Rei pelo público paulistano acelerou a montagem de O Filho do Cão. Gianfrancesco Guarnieri escreveu à toda pressa essa peça que fala de superstição religiosa, miséria, camponeses sem terra, tudo de acordo com as intenções ideológicas do Arena. A censura já estava muito forte na época e a peça, que muitos chamavam de reforma agrária, estreou em 21 de janeiro de 1964. Foi a primeira direção do Paulo José no Arena, e um pouco por exigência de nós atores. Boal estava dirigindo muito tempo sozinho, o Paulo queria dirigir. Foi por isso. Quando jovem eu tinha uma cara muito infantil e fiquei parecendo ter 16 até os 26. Em O Filho do Cão interpretei uma anciã nordestina, mãe da camponesa, que era a Dina Sfat. O papel era de Myrian Muniz, mas como ela ficou grávida e saiu do elenco, Guarnieri me convenceu de que eu podia fazer – caricaturizada, evidentemente. E não é que deu certíssimo? Com nariz postiço e pano na cabeça, me transformei naquela velha de cócoras. Estava meio gorda e isso ajudou na caracterização. Foi meu grande trabalho no Arena. Engordei muito nessa época e acho que foi quando a neurose mais me atacou, só que eu não tinha consciência disso e nem sabia como lidar. O fato é que fiquei compulsivamente gorda. Comia muito. Devia ser alguma ausência, alguma coisa que eu não localizava e que supria comendo. E eu tinha trocado de cidade, de vida, de tudo. A revolução dos militares marcou o fechamento do Teatro de Arena, que chegou a ser invadido pela polícia. Todo mundo estava sendo procurado. Na verdade, ninguém sabia ao certo quem eram os alvos dos homens, mas os cinco sócios do Arena – Augusto Boal, Flávio Império, Juca de Oliveira, Paulo José e Gianfrancesco Guarnieri – eram prioridade entre os que seriam presos. Lá no teatro só ficou quem tinha menos – ou não tinha – implicação. Por exemplo, eu e as outras atrizes do Arena, Dina Sfat, Myrian Muniz, Isabel Ribeiro. Por telefone, a gente planejava a fuga das pessoas através de pseudônimos que muitas vezes eram nomes dos personagens que eles tinham representado. Era uma barra-pesada. Ficávamos fazendo tricô, fingindo que nada estava acontecendo e a polícia lá dentro, os caras sentados na sala com a gente, esperando para ver o que acontecia. Estacionado na frente do teatro, um furgão grande, que não era policial mas era utilizado por eles. Lembro que um dia saí com Paulo José para ir até o Bar Redondo e a gente passou por esses policiais que sempre diziam alguma piadinha, alguma coisa enlouquecedora. Paulo começou a chorar e tal, peguei na mão dele e disse não, segura aí. Outra vez, Juca de Oliveira veio correndo para entrar no teatro e quando o vi na escada, disse sai correndo. Ele se mandou em louca disparada com os policiais atrás dele. Pouco tempo depois, Juca e Guarnieri fugiram para a Bolívia. Paulo e Flávio Império se esconderam na casa de Cacilda Becker e Boal também se mandou. Uma das coisas que eu mais fazia era tirar os documentos do teatro, levá-los para minha casa e lá queimar tudo. Fogueiras eram constantes na minha vida. Também arranjava esconderijo para alguns amigos no Rio. Algumas dessas pessoas que eram procuradas foram pegas, presas, torturadas. Era uma barra incrivelmente pesada. Não cheguei a ser presa. Só estive com a polícia da repressão mais tarde, e no Rio de Janeiro, quando fui com Geraldo Miranda acompanhar Glauce Rocha, que tinha sido convocada a prestar depoimento. Nós tínhamos medo de que ela ficasse presa e fomos também. No começo dos anos 70, aqui em São Paulo, estive no DEOPS para fazer um filme. Um policial fez questão de mostrar para a equipe o chiqueiro, que é onde ficavam os presos antes de serem distribuídos pelas celas. Havia o dos homens e o das mulheres. Foi uma barra-pesada, pois aquele quadradinho infecto com um um cheiro horrível abrigava desde o cara que foi preso porque fumava maconha, misturado com preso político, com assassino. Quando chegamos ao chiqueiro das mulheres, o tira mandou uma delas andar e a coitada mancava, vítima de uma tortura que a deixara aleijada. O policial apontava uma outra e dizia aquela lá é a única virgem que a gente conhece, a gente examinou mesmo. Nossos anfitriões policiais nos levaram depois para uma sala onde um homem estava sendo torturado. O infeliz estava num pau-de-arara, entre duas mesas, nu e eles diziam cobre ele que tá entrando senhora aqui. Aí realmente foi demais para mim, que quase desmaiei e bati com a cabeça na parede, atordoadíssima. Felizmente veio alguém avisar que estava na minha hora de filmar. Depois de fazer minha cena, perguntei ao capelão o que ele tinha achado. O homem pensou que eu estivesse falando da cena e falou foi ótimo. Quando lhe disse que me referia ao homem que tínhamos visto no pau-de-arara, ele me desconcertou com um cheguei à conclusão que isso é necessário. O dia tinha sido pesado, mas ainda me reservava uma surpresa. Era o delegado que queria me conhecer porque me achava boazuda. Foi a gota d’água. Fiquei uma arara, saí do sério mesmo, fiz discursos contra a polícia nas dependências da polícia e nem sei como não fui presa. O filme era Os Desclassificados, produção bem comercial. Fiquei um tempão sem conseguir dormir, só sonhava com o DEOPS. Para completar, nas filmagens externas, os mesmos policiais participavam como figurantes. Nem lembro do que tratava esse filme. Era uma época em que já não tinha filme legal sendo feito e eu precisava ganhar dinheiro, queria permanecer em São Paulo. O Arena acabou em 1964 e alguns anos depois passou a ter uma revitalização com espetáculos como Arena Conta Zumbi. O pessoal até me chamou, mas eu já não estava tão convicta de que compartilhasse a mesma ideologia. Desliguei-me do Partido Comunista. Foi uma passagem curta. Precisava de um tempo para pensar e achar um caminho. Há um caminho? Foi uma fase complicada, com muito medo e sem certezas. Capítulo IX Aquele Abraço Voltei a trabalhar no Rio no segundo semestre de 1964, quando fiz minha primeira novela, O Desconhecido, a única escrita pelo Nelson Rodrigues, produzida pela TV Rio e da qual não guardo lembranças. Essa volta ao Rio representa o meu reencontro com o cinema, alguns anos depois de Um Morto ao Telefone. É dessa época Crime de Amor, sobre a Fera da Penha, uma criminosa que chocou o país e foi interpretada pela Beyla Genauer, uma atriz fantástica. Carlos Alberto e eu vivíamos os pais da menina assassinada pela Fera. Por este trabalho ganhei menção como atriz coadjuvante no Festival de Teresópolis. Reencontrei o prazer de trabalhar em equipe nos filmes que fiz nessa época. Foi assim com A Construção, um dos episódios de Três Histórias de Amor, que Alberto D´Aversa dirigiu. Era uma prostituta meio Irma La Douce, que, fugindo da polícia, encontra proteção junto a um grupo de nordestinos operários de uma construção, um deles, o Nélson Xavier, com quem eu estava casada. Ótimo diretor, D´Aversa era “o abraço”, guardava a gente em seus braços. Lembro da filmagem de uma cena, quando, de salto alto e vestida de prostituta, tinha de subir numa escadinha da construção à noite. Perigoso mesmo. Só quando cheguei lá em cima, lembrei que esquecera a bolsa. Para não me expor de novo ao perigo, D’Aversa liberou o acessório. Acho que as filmagens foram na construção do Museu de Arte Moderna do Rio e lembro que Ary Toledo canta no filme. Logo após a revolução, antes de irmos morar na casa dos meus pais, Isabel Ribeiro e eu ficamos um tempo no apartamento carioca do Chico de Assis, que tinha fugido para algum lugar. Todo mundo estava fugindo nessa época e nem se sabia bem por quê. Lá morava também Eduardo Coutinho, que ficou muito meu amigo e para quem fiz assistência de direção em Pacto de Morte, episódio do filme ABC do Amor. Estou nos créditos, mas é uma assistência muito relapsa. Eu não agüentava o tranco. Dia desses, Sílvio Tendler me disse que durante as filmagens eu estava dormindo debaixo de uma mesa e, quando ele me acordou e me viu, foi paixão imediata. Ele perguntou se eu lembrava, disse que sim, mas não lembrava. Nessa volta ao Rio, retomei contato com Gláucio Gil, que foi meu amigo, meu inimigo, meu namorado, meu irmão, foi tudo. Brigávamos, ríamos, éramos cúmplices. Falávamos todo dia ao telefone e sempre às seis da tarde. Brigávamos, nos admirávamos e continuávamos amigos. Era um amigão e foi meu amigo até a sua morte. Glaucio morreu diante das câmeras. Ele apresentava um programa toda noite na Globo, chamado O Show da Noite, dirigido pelo Domingos Oliveira. No dia 13 de agosto de 1965, uma sextafeira, estava assistindo ao programa quando o vi cair diante das câmeras. Peguei o carro, fui como louca para a emissora, e quando lá cheguei ele já havia morrido, vítima de um colapso cardíaco, aos 38 anos. E justamente quando Claudia Cardinale estava no Brasil acertando os detalhes para filmar Uma Rosa Para Todos, baseada na peça Procura-se Uma Rosa, que tinha sido montada no Teatro Santa Rosa. Fiquei deslocada durante muito tempo com a morte de Gláucio. Na hora do nosso telefonema diário, batia aquele desespero e ficava ligando para todo mundo. Ele era uma pessoa tão inteligente, tão brilhante. A gente riu tanto juntos. Lembro de uma madrugada que estávamos andando de carro na Praça General Osório, em Ipanema. Já estava amanhecendo e os operários tomavam café no botequim antes de se dirigirem ao trabalho. Tive um ataque de riso, a gente parou o carro, saltou, ele foi andando até o poste, se encostou para rir. Fiquei acocorada no meio da rua às gargalhadas. Ríamos tanto que contagiamos as pessoas em volta, toda a rua começou a rir. Nossa relação era muito intensa, acho que talvez por causa disso éramos muito amigos e tínhamos raiva um do outro, aquela coisa de extremos de emoção. Gláucio se achava muito louco e na verdade era louco, mas... A gente às vezes se acha muito pior do que é na realidade. Em 1966, depois de dois anos afastada dos palcos, Flávio Rangel me chamou para fazer O Senhor Puntila e Seu Criado Matti, de Brecht. Nos papéis-títulos, Ítalo Rossi e Jardel Filho. Minha personagem era pequena e no elenco imenso estavam Ítala Nandi, Isabel Ribeiro, Thelma Reston, José Wilker, Paulo César Pereio. A peça estreou em Curitiba, teve boas críticas, fez algum sucesso. De uma grandeza absoluta, Ítalo e Jardel eram um espetáculo em cena. Na última apresentação, teve o enterro da peça, quando a improvisação é permitida. A conversa final do criado foi uma coisa absurda. Num determinado momento, Ítalo pegou um charuto aceso e jogou para cima, para o teto do teatro. E não é que o tal objeto fumegante ficou por lá? Pra quê? Ítalo tirou uns dez minutos de riso da platéia só com esse fato. Ele fez o público se dobrar de rir, quando existia até o medo real de que aquilo estivesse mesmo pegando fogo. Foi inesquecível. Capítulo X Na Companhia dos Amigos Todas as Mulheres do Mundo foi realizado por uma equipe de amigos, que ajudou Domingos de Oliveira a levantar o dinheiro para levar ao cinema a história bem pessoal que ele tinha escrito em cima de sua relação com Leila Diniz. Domingos faria o papel principal e chegou inclusive a filmar, mas viu que não daria conta de representar e dirigir seu primeiro filme e Paulo José virou protagonista. Ocorre uma coisa engraçada com esse filme: tanto tempo depois vem gente falar comigo por causa do texto que eu falava na cena da sauna para os personagens de Isabel Ribeiro e Paulo José. Eu nem recordava mais. Acho engraçada essa coisa de uma mulher gorda, na época eu estava meio gorda, falando umas coisas meio mágicas na sauna e isso ficar na cabeça das pessoas tantos anos depois. Quem lembra do tal texto ou quer entender sobre o que estou falando, aí vai ele inteiro: No início, era um imenso vazio. Negro. E Deus, um cilindro. Vermelho. De dez metros de altura, com dois olhos numa das pontas. Não se sabe qual, pois no vazio não havia ponto de referência. Deus, evidentemente, não tinha nada para fazer, então pensava tudo o que aconteceu, o que acontecerá, em mim, em você. E um dia, tinha pensado tudo o que havia para pensar. Então vagou pelo vazio, um milênio ou dois, e morreu de tédio. Então, entrou em decomposição. O cilindro foi perdendo sua forma e virou aquela primeira nebulosa de que se fala nos livros. Rimos muito por causa desse texto. Todas as Mulheres do Mundo foi um sucesso e logo Domingos retornou àquele universo ipanemense com Edu, Coração de Ouro, que era sobre um personagem real, o escritor e psicanalista Eduardo Prado. Faço participação especial como a mulher que Edu mais amou, uma americana. Adorei ter interpretado a cantora Dolores Duran em A Noite do Meu Bem. O filme ficou anos per-dido e está sendo restaurado. Foi dirigido pelo Jece Valadão, que para mim foi um paizão. Eu era fã da Dolores e construí a personagem em cima do que os amigos dela me contaram. Encontrei muita gente que me dizia tudo da Dolores, como ela ria, o jeito que batia a testa, o jeito que batia a bochecha. Pesquisei tanto Dolores que já estava retratando-a, ria como Dolores, andava como Dolores. Em tudo eu era Dolores. Uso todos os cacoetes dela, o modo de rir. Dublava Dolores Duran no filme, mas no lançamento eu cantava suas músicas em programas de TV. Gosto de cantar. Capítulo XI Capa e Espada Tive uma primeira fase na Globo, no final dos anos 60, quando a emissora engatinhava e peguei os tempos capa e espada da Glória Magadan. Em Demian, O Justiceiro, da lendária autora cubana, encarnei uma má tradicional, daquelas só vilã, sem nenhum lado bom. Tinha vontade de colocar detalhes, humanizar aquela personagem do tipo bruxa de história infantil, mas a autora não queria nem saber de conversa e eu desobedeci. Depois estive em mais duas novelas dela: A Gata de Vison e A Última Valsa. Pouco ficou de ambas, mas tive o privilégio de ser colega de elenco da grande Glauce Rocha. Gravada no começo de 1968, quando Yoná Magalhães e Carlos Alberto estavam no auge da fama, Demian era um verdadeiro novelão, fez muito sucesso, e a realização era legal em termos de direção e cenário. Minha personagem era apaixonada pelo Carlos Alberto e eu ficava sempre atenta ao que o galã fazia. Certo dia, contracenávamos e quando cortou para mim ele arrumou o cabelo. Achei que meu colega tinha interrompido a gravação, parei e ele veio me perguntar por que não tinha continuado a cena. Quando disse que tinha sido aquela mexida dele no cabelo, o ator experiente me explicou: ah, mas a câmera não estava em mim. Foi aí que entendi que as coisas em televisão eram meio diferentes. Não conseguia entrar na minha cabeça que alguém, no meio de um personagem, pudesse arrumar o cabelo e continuar representando. Se fizesse uma piada ou até uma careta, eu iria entender, mas arrumar o cabelo era uma vaidade tão bobinha. Depois descobri quanto vale a aparência numa novela. Capítulo XII Sexo Feroz na Floresta Conheci Paulo José no Arena e fizemos muitos trabalhos juntos no cinema. Depois de Todas as Mulheres do Mundo, Edu Coração de Ouro e Homem Nu, contracenamos em Vida Provisória. Faço um triângulo amoroso com Paulo e Dina Sfat nesse filme que é injustamente esquecido. Logo depois, voltei a trabalhar com Paulo e Dina em Macunaíma, filme de Joaquim Pedro de Andrade que se transformou em clássico do cinema nacional. Eu era a feiticeira que transformava Grande Otelo em Paulo José. Paulo e eu éramos tão amigos que fizemos uma cena de sexo feroz na floresta e ele esqueceu de me beijar na boca. A gente só se deu conta quando acabou de filmar a tal seqüência. No filme carrego Grande Otelo, bebê, nas costas durante a maior parte das minhas cenas. Só que ele era adulto e pesado e eu saía das filmagens toda torta. Na tela eu passo lépida e faceira com Otelo de bebê nas minhas costas, e ninguém percebe o esforço. Macunaíma foi filmado em Jacarepaguá, no inverno, e teve momentos bem sacrificados, principalmente a cena da família tomando banho de rio. Fazia um frio desgraçado, o sol aparecia e desaparecia e nós dentro d´água, tiritando e esperando o sol ficar forte para poder filmar bonitinho com luz. Teve uma hora em que Grande Otelo não agüentou e saiu da água nuzinho, deitou numa pedra, o corpo tremendo e pedindo a todo mundo que não se aproximasse dele: Pelo amor de Deus, não faz sombra. E havia as seqüências filmadas na floresta, quando Joaquim Pedro chegava de tênis branco, short branco, camisa branca, como se fosse jogador de tênis. Depois de um dia de trabalho, ele saía imaculado e nós imundos, com lama até o pescoço e sem ter onde se lavar. Otelo fazia o papel de Macunaíma quando criança, andava com uma camisolinha de neném e uma chupeta na boca pra lá e pra cá. Ninguém notava, pois aquela figurinha já fazia parte do cenário. Quando o diretor lhe pedia para fazer uma careta, a figurinha se transformava e todo mundo em volta morria de rir. Agora chora, Othelo. E ele derramava lágrimas e mais lágrimas, deixando-nos emocionados. Uma vez lhe perguntei: Olha, eu sei que a gente ri e chora, mesmo, quando é preciso. Concentra um pouco, pensa no personagem, procura na memória alguma coisa parecida e manda ver. Mas você... diz pra rir, ri; manda chorar, chora. Tudo num estalo, sem truque. Como é que você consegue isso? Meu querido colega me olhou espantado e respondeu: Mas Joana, eu estou fazendo isso há 50 anos. É a minha profissão. Eu vivo disso. O que você queria? Foi a primeira vez que me passou pela cabeça que, dependendo das necessidades e da intuição e talento, Stanislavski e companhia podiam ser nada. Foi aí que comecei a conhecer o Grande – com ele não tinha porém. Faço a protagonista dos dois primeiros filmes de João Batista de Andrade, realizados no finalzinho dos anos 60. O primeiro foi O Filho da TV, um dos episódios de Em Cada Coração Um Punhal, hoje um clássico do cinema marginal. Vivo uma mulher que se apaixona por uma idealizada imagem da juventude, encarnada por uma criação do marido publicitário, que era o John Herbert. Ela e o tal garoto-propaganda transam assistindo TV e, ao final, aquela mulher gera esse filho da tevê, em meio a muita loucura, bem de acordo com o espírito do final dos anos 60. Na cena final, John Herbert e eu caíamos dentro d’água e eu com uma imensa barriga postiça de grávida. O lugar era raso e a gente teve de se esforçar para entrar lá. A barriga caía a todo instante, John e eu morríamos de rir. Gamal, O Delírio do Sexo, foi vítima da ditadura. Tantos cortes, tantos arranjos para dizer o que se pretendia, prejudicaram muito o filme. Meuenvolvimento com cinemaera total e, além do trabalho como atriz, fiz roteiros, produção e argumento. Escrevi o roteiro de Elas, um filme muito bacana, cheio de idéias feministas e que foi bastante prejudicado pela censura. Dessa mesma época é Fora das Grades, de Astolfo Araújo, com quem fui casada. É um filme bonito e típico daqueles anos de repressão, quando muita coisa ficava mesmo sem se entender. Muitos filmes eram fadados ao insucesso por causa da censura. O roteiro dizia uma coisa, mas com a tesoura dos censores, tudo podia acontecer. Além de ajudar na produção e figurinos, em Fora dasGrades contracenei comLuigi Picchi,de quem eu era fã. Também do Astolfo é As Gatinhas, onde Adriana Prieto e eu vivíamos as personagens do título, numa casa de campo, às voltas com um homem mais velho, que era o Sérgio Hingst. Em 1970, ganhei o Air France de melhor atriz por As Gatinhas e Gamal, O Delírio do Sexo. Muitos anos atrás, Jardel Filho me mostrou um livro sobre premiações do cinema. A única atriz mais premiada que eu era Ruth de Souza. Será que ainda somos as mais premiadas? Sei é que volta e meia o cinema continua me dando alegrias e no mês de junho de 2004 fui a homenageada do 27º Festival Guarnicê de Cinema, em São Luiz do Maranhão. Na abertura, teve exibição de O Filho da TV e depois uma homenagem simples e tocante. Foi uma das coisas mais emocionantes da minha vida. Minha colega de set em As Gatinhas, a bela Adriana Prieto, morreu jovem. Adriana era uma das estrelas de Palácio dos Anjos, que fiz com Walter Hugo Khouri. Este filme gira em torno de um bordel e eu representava uma cafetina. Trabalhar com Khouri significava ter o aparato de uma produção internacional, com uma pessoa para cuidar do figurino, outra da maquiagem, coisas até então inéditas nos quase 20 filmes que eu já havia feito. Enquanto esperava para filmar, ficava num camarim com cama e podia escolher entre dieta normal, dieta macrobiótica e outra sei lá o quê. Foi o único dos filmes que participei que tinha esse lazer. Capítulo XIII Andanças e Encontros Não gosto muito de viajar. A viagem para mim está muito ligada à pessoa com quem estiver viajando. Amo Paris porque a primeira vez que viajei para lá foi com Luís Carlos Pires, com quem eu estava namorando. Passei um réveillon na Argentina com amigos, ficamos num hotel horrível e nos divertimos às raias da loucura. Viagem para mim é isso. É gostoso viajar bem acompanhada. Como ando numa fase meio de contemplação, acho que agora até me divertiria viajando sozinha também. Adoro falar com gente de outros lugares. Quando cheguei em Paris me disseram que francês era antipático e fiquei amiga de tudo quanto era dono de bar. Uma vez levei uma bronca de um italiano pelo simples fato de que eu não conhecia a igreja Santa Maria Marjorie. O homem ficou indignado e me senti uma criminosa. São muito bacanas essas reações de comportamento de gente de outros lugares e me divirto muito com isso. Fui para a Europa com Luís Carlos aproveitando a passagem que eu havia ganhado com o prêmio Air France. Minha passagem dava direito a um vôo a mais do que a que ele comprou e em certo momento tivemos que nos separar. Ele foi para Roma e fiquei em Londres para depois ir a Paris e pegar o vôo de volta para o Brasil. Era minha primeira vez sozinha em terras estrangeiras, claro que estava preocupada, assim como Luís Carlos. E foi tão bom. Achei fenomenal estar sozinha no mundo. Quase perdi o trem que saía de uma outra gare e quando consegui pegá-lo e sentei, entrou uma brasileira com um português e tocaram a falar mal daquele trem. Quieta no meu banco, só pensava em como ia revelar que era brasileira. Resolvi não usar palavras e simplesmente coloquei meu passaporte no colo. A mulher me reconheceu, sabia quem era Joana Fomm, que ganhara o Air France e aí fomos juntos no train-boat e depois ao aeroporto onde eu ia pegar o avião para Roma, pois eu não saberia chegar lá. Não entendia nada de metrô porque antes estava com Luís e era ele quem tomava conta do nosso sentido de direção. Foi ótimo ficar sozinha em Londres, pela primeira vez na cidade, sozinha, recebi a atenção do sexo oposto, que se aproximava sem pudor. Muito pouco britânico. Dependendo da aparência do inglês eu ficava encanada se ele queria me roubar ou só me cantar. Foi uma sensação estranha. Viajávamos com pouco dinheiro. Eu tinha vendido meu carro para a viagem e Luís Carlos também tinha vendido alguma coisa. Éramos jovens, estávamos apaixonados e fomos parar em lugares fantásticos nessa brincadeira. Levara duas malas que acabei deixando no primeiro hotel que ficamos em Paris. Saí de lá com uma maletinha na mão e uma muda de roupa. Só peguei as malas quando voltei para Paris. Odeio literalmente o frio e nunca vi neve. Sofri muito no metrô de Londres, aquele inferno gelado que parece sugar a gente para dentro, aquele vento... Acho que viajar é feito desses encontros. Quando se tem uma série de encontros legais no lugar onde você está é maravilhoso. Quando se viaja com alguém que é um pentelho e tem um ritmo muito diferente do seu é insuportável. Luís se virava no francês e eu no inglês. Estávamos na frente de um teatro que exibia uma peça com Michael Redgrave, um dos meus idolaços. Tinha um senhor falando com Luís Carlos que não estava entendendo nada e me chamou. O cara tinha ingressos na mão – achei até que fosse cambista –, mas ele estava perguntando se não ficaríamos magoados de recebê-los, pois a mulher dele adoecera e não poderiam assistir. Achei que não era verdade. As entradas eram na primeira fila e até o momento de subir a cortina não acreditávamos. Estávamos com pouca grana e se tivéssemos comprado seria para a galeria. Assistimos à peça bem na frente e enlouquecemos um pouco as pessoas porque eu ficava traduzindo para o Luís. No aeroporto, à espera do avião para Roma, peguei no sono. Quando abri os olhos, com a lente de contato caindo e aqueles problemas todos, dei de cara com Krishnamurti. Naqueles dois últimos anos eu tinha lido muito os livros dele e agora o homem – meu companheiro de leito de toda noite antes de pegar no sono – estava bem ali do meu lado. Tomei um susto. Acordei e achei que estava diante da capa de um livro. Nos livros dele, tem sempre aquele perfil famoso, com cabelo branco e a aquela roupa branca. Ainda sonolenta, olhei e o homem tinha o cabelo branco, mas no lugar da roupona branca, usava um terno alinhadíssimo. E estava ansioso. O avião atrasara e ele começou a andar de um lado para outro e eu a observá-lo e a notar um ligeiro desequilíbrio quando fazia a voltinha. Esse cara tem labirintite, pensei, achando aquilo muito engraçado. E agora, vou ou não vou falar com ele? Decidi que era melhor não ir, pois todos os seus livros dizem que não adianta falar com ninguém, tem que falar com você mesmo. Então para que falar com ele? Fiquei só olhando. Ele deve não ter entendido nada, deve ter me achado uma chata porque eu ria nas curvinhas dele. Quando descemos em Roma, tinha uma mulher linda lhe esperando. Ok, ele não era casado mas também não era solteiro, estava lá aquela bela mulher que ele beijou na boca. Fiquei olhando a cena e pensando: Ah, Krishnamurti, você sabe das coisas. De vez em quando releio os livros de Krishnamurti. Ele diz algumas coisas muito sensatas, fala sobre alguns métodos de autoconhecimento, nada dessas coisas de conheça-te a ti mesmo e de auto-ajuda. Nada disso. Liberte-se do seu Passado é um livro dele que volta e meia eu releio. Sou meio ligada ao passado. Capítulo XIV Meus Tempos de Tupi Do finalzinho dos anos 60 até a metade da década de 70, fiz umas dez novelas na TV Tupi. Tem algumas que nem lembro de ter participado e de outras só me vêm flashes, como, por exemplo, João Juca Jr., uma tentativa de ficção científica estrelada pelo Plínio Marcos. Acho que meu personagem era uma mulher mecânica, um robô, uma coisa assim. Será? Tenho boas lembranças de A Fábrica, que era de Geraldo Vietri, figura incrível que também dirigia suas histórias. Briguei muito com Vietri, mas ele era um grande autor e diretor. Guardo um carinho especial por As Bruxas, de Ivani Ribeiro, que abordava a análise de grupo quando esse tema ainda era novidade. Foi uma novela de sucesso, um sucesso de segundo lugar, que era uma das características da Tupi. Vivia uma menina má e essa era também a característica de todos os meus familiares na trama. E olha só que família: Claudio Corrêa e Castro, Nathalia Timberg e Débora Duarte. As gravações eram uma farra e Débora, uma gracinha, menininha ainda, linda. Aprendi muito com ela que, por acaso, tinha aprendido com seu pai Lima Duarte e passava tudo pra mim. As Bruxas tinha aquela coisa rigorosa de Walter Avancini, os personagens ficavam muito definidos e todo mundo trabalhando bem. Avancini era o terror das atrizes. Homem de temperamento forte, o diretor xingava minhas colegas e aquilo me deixava impaciente. Ele gritava com umas atrizes tão dóceis, tão boazinhas. Fazia tempos que eu estava louca para responder por nós todas, mas não queria tomar as dores de ninguém, até que um dia virei o alvo dos impropérios do destemperado diretor. Tinha chegado a hora. Era numa época em que a Tupi não estava pagando, ele gritou comigo, disse um monte de palavrões, puxei o microfone e respondi num tom de voz bem controlado que estava indo para casa e só voltaria quando saísse o meu pagamento. Eu gosto assim, de gente que reage, ouvi de um Avancini todo simpático que encontrei nos corredores e me pediu para que voltasse atrás e ficasse gravando. Claro que não fiquei. Avancini era maluco, mas dirigia muito bem. Na mesma época de As Bruxas, participei do programa Elas e Ele. Minhas colegas eram Irene Ravache, Etty Fraser, Marilu Martinelli e Marilda Pedroso, e toda semana entrevistávamos um homem famoso. Morava a duas quadras da Tupi e ia gravar a pé. Todo mundo era amicíssimo. Na época de Ídolo de Pano, por exemplo, Laura Cardoso era minha grande amiga e Dennis Carvalho e Tony Ramos adoravam brincar de esconder meus sapatos. Eu ia levantar e cadê meus sapatos? Em Ovelha Negra, representei uma mulher do campo e usava uma peruca com um cabelão. Era uma gostosa do mato. Queriam que eu mantivesse o visual para A Viagem e achei que não tinha nada a ver com a nova personagem, mulher de um médico. Junto com meu cabeleireiro bolei um corte chanel retinho que todos odiaram. Olha que problema pode ser um cabelo. Capítulo XV Parem as Máquinas Voltei a morar em São Paulo no finalzinho dos anos 60 e encontrei uma cidade bem diferente. Aquela que eu havia conhecido e amado não existia mais e meus colegas e amigos haviam se dispersado pelo mundo. Era uma barra sobreviver naqueles anos, com a censura forte, a repressão atenta e a depressão tentando tomar conta. A saída era ganhar a vida com cinema, trabalhando com a minha turma, e novelas. Como sempre gostei de escrever, e antes mesmo de estudar teatro já era íntima das palavras, procurei asilo no jornalismo, na Última Hora, de Samuel Wainer, onde fiz entrevistas, matérias de comportamento, crítica de cinema. Antes mesmo de Wainer, já escrevia uma reportagem de página inteira aos domingos sobre arte. E escrevia também para a revista Mais, da Editora Três. Meu primeiro entrevistado na Última Hora foi Grande Otelo. A conversa foi em Brasília, durante o Festival de Cinema e meu querido colega usava um terno cor-de-rosa. Publicada em dezembro de 1969, a matéria traz declarações interessantes de Otelo que estava entusiasmado com um filme que acabara de fazer no Rio Grande do Sul, chamado Não Aperta, Aparício. Disse-me ele e eu escrevi: É a primeira vez, em 50 anos de trabalho, que eu, como negro, sou encarado com ternura. Tem uma hora lá no filme que a mocinha me dá um beijo. Mas meigo, assim, comum. Não é cena pra chocar. Porque negro sempre que beija ou é beijado por branca na tela é cena pra agredir a platéia. Mas nessa não é nada disso. É um beijo só, igual a qualquer beijo. Também passei pela Cartaz, uma revista sobre televisão que durou pouco tempo. Mas minha maior atividade como jornalista foi mesmo com Samuel Wainer, por volta de 1973. Ele tinha um grupo de jornalistas que faziam de tudo, de reportagens e perfis a matérias investigativas. Lembro de uma em que eu investigava o mundo da magia. Aos domingos, escrevíamos uma crônica. Entre meus colegas de redação estava Abílio Pereira de Almeida, que era bem mais velho, mas com uma cabeça de garotão. Eu era muito tímida na época e entrevistar alguém para mim era como uma tourada. Mas funcionou, deu certo. Às vezes, Samuel Wainer me dava carta branca para escrever sobre o que eu quisesse. Ser jornalista e escrever o que você quer é uma bênção. Tinha algumas matérias que Samuel dizia: Vai, que vai ser bom pra você. E eu ia. Na redação, a presença constante de dois caras da polícia com uma lista de palavras que não podíamos escrever – e censura era uma delas. Para conseguir publicar uma matéria de duas laudas, escrevíamos quatro vezes mais. Depois dos cortes, acabava sobrando mesmo as duas laudas. Um trabalho insano, mas com a vantagem de trabalhar com um grupo muito unido. Fui trabalhar como jornalista para não fazer novelas e filmes. Na época em que o cinema começava a ser dominado pelas pornochanchadas, porque a censura permitia (!), eu me afastei. Quando a censura começou a apertar o cerco ao jornalismo, decidi voltar a fazer televisão. Além das novelas, fiz alguns trabalhos interessantes para as TVs Bandeirantes e Cultura, dirigida por uma turma bacana, como Ademar Guerra, Antônio Abujamra, Roberto Santos e Ozualdo Candeias. Com Abujamra atuei numa adaptação de Yerma, de García Lorca, que considero dos meus melhores momentos em televisão. Quem quiser ver, é só procurar no YouTube. Com Roberto Santos fiz uma série de documentários sobre a história do curta-metragem e com Ademar Guerra, um trabalho mais experimental – eu auto-interpretava como Joana Grávida até o nascimento de meu filho Gabriel. O Desconhecido, especial produzido pela TV Cultura, foi um trabalho muito legal, dirigido pelo Ozualdo Candeias, uma pessoa única e difícil. Ele queria que eu esquecesse tudo o que sabia, eu achava que era mais fácil os extras aprenderem do que eu perder meus condicionamentos. Aí a gente brigava e depois ria, porque quando eu pensava que estava acertando, estava errando. Mesmo com todas as brigas, adorei trabalhar com Candeias e chegamos a planejar um filme, mas acabou não rolando. Durante muito tempo trabalhei quando tinha vontade e minha carreira foi sendo construída nesse ritmo. Era como se até então eu estivesse a passeio no mundo. O nascimento do meu filho desencadeou toda uma virada psicológica. Entre muitas alterações significativas, fez até com que eu me profissionalizasse mais. Ter um filho é uma viagem dentro de si mesmo, uma viagem que derruba todas as mentiras, o que é muito positivo. A gente acaba virando um terrível pensador, mas o Gabriel não me dá chance de curtir grandes raciocínios. Ele me obriga a ir sentindo as coisas todas, simplesmente. E eu já estava desabituada com essa espontaneidade. (Entrevista ao repórter Oswaldo Mendes, do jornal Última Hora). Ser mãe é uma coisa fantástica e a chegada de Gabriel me deu uma nova razão de vida. Ele nasceu em abril de 1974, não foi planejado, mas foi queridíssimo. Todas as minhas amigas, as primas também, já tinham tido filhos, mas eu não pensava em ter. Minha história familiar fora bem complicada e não pensava mesmo em ter filhos. Sempre evitei, cheguei a fazer aborto, mas me vi grávida e naquela idade de ter agora ou não ter – estava com 34 anos. Resolvi encarar essa e foi bom demais. Eu gostava demais do Ricardo Gouveia, o pai do Gabriel, e pensei quero ter um filho desse homem. Foi uma relação intensa, mas vivemos muito pouco tempo juntos e quando Gabriel nasceu já estávamos separados. Passei por momentos difíceis. Tive depressão pós-parto e fui tratada por um médico que me receitou um remédio que, segundo ele, não viciava. Só que viciava sim, entre outros efeitos colaterais. Um psicanalista ruim é o que de pior pode acontecer a um paciente carente, sem capacidade de discernir. Desde que saí de casa, minha família nunca me deu qualquer ajuda. Eu tinha aquele orgulho de jovem, aquele orgulho de me sustentar sozinha. Mais ou menos na época em que engravidei, meus tempos de garota rica ficaram definitivamente no passado com a falência de meu pai. Quando meu filho nasceu, meus pais tinham se separado e minha mãe passou a morar comigo. Pouco tempo depois voltei ao Rio. Capítulo XVI Dona de Sua Vida Corria o ano de 1937 no Rio de Janeiro. Edite não tinha nem 20 anos. Era bonita, audaciosa, enfrentando todos os preconceitos da época. Tinha cabelos longos e crespos, bonita como uma espanhola. Era dona do seu corpo, de sua vontade, de sua vida. Era livre, livre em excesso. Corria o ano de 1938. Sem explicação, Edite começou a sentir uma quentura, um certo cansaço, uma pequena febre, mas para que se preocupar, devia ser um resfriado malcurado. Edite continuava a sua rotina, indo à praia de manhã e chegando em casa de madrugada. Veio o diagnóstico: tuberculose. Edite foi para Belo Horizonte se internar num sanatório. Por lá, conheceu Honório, também muito doente, mulato, bonito, extremamente sedutor. Inteligente, letrado, Honório escrevia poemas. Roubou-lhe a alma e partiu para a conquista do seu corpo. Dizem que a tuberculose exacerba o desejo ou será a simples presença da morte? Edite e Honório se amavam loucamente, sem critério, uma paixão proibida. Nada de descanso, tratamento, paz. Pra viver esse amor, Edite abriu mão de tudo isso. Não só a progressão natural da doença a enfraquecia. Honório era extremamente possessivo com aqueles que amava. E Edite era linda demais. Foram morar numa pensão. Quando ele saia, deixava Edite trancada no quarto, horas, às vezes sem comer. Dizem que num momento de desespero, sem emprego e sem dinheiro, Honório vendeu todos os móveis do quarto e os dois, doentes, dormiam no chão. Ao mesmo tempo, Honório publicava sonetos apaixonados no suplemento literário do jornal local. Uma gangorra. Edite ficou grávida e contra o conselho médico resolveu ter o filho assim mesmo. E eu nasci em 14 de setembro de 1939: Joana Maria de Almeida. Filha de pai negro e mãe de origem espanhola. Nada a ver com Fomm. Meus pais voltaram ao Rio e fomos morar em Santa Tereza. O estado de saúde de mamãe piorava cada vez mais. Ficava muito difícil cuidar de mim, mais ainda com Honório imprevisível do jeito que era. Fui morar na casa de tia Alice, meio-irmã e muito unida à minha mãe biológica. Alice era casada com Arthur Fomm, um homem bem nascido, jogador inveterado, dono de cassino, bem de vida. Na família, o casal era quem mais tinha condições de ficar com a criança, isso é, comigo. Além disso não tinham filhos, o casamento andava mal e quem sabe eu não serviria para solidificar a união dos dois. Passei a ser criada a pão-de-ló – fui morar na Avenida Atlântica, tinha babá de uniforme branco e passeava de Mercury conversível azul ao lado dos meus pais postiços. Não sei como minha mãe biológica morreu. Nem como, nem onde. Honório, meu pai, se retirou para um mosteiro. E eu, Joana Maria, Joaninha, fui ficando com meus tios. Muitas histórias a respeito – Alice tinha um temperamento, Arthur tinha amantes e eu, colocada ali noutro ninho, tinha visões do fantasma da minha mãe morta. Pelo menos minha mãe Alice contava isso para a família inteira, talvez eu só tivesse visões através dos olhos de Alice. Quem vai saber agora? Estava com uns 3 anos quando comecei a ser motivo de disputas internas. Meus pais me disputavam, tias queriam a minha posse. Eu jogada de um lado para o outro para cumprir desejos de todos, menos os meus. Foi quando resolvi parar. Parar tudo. Parei de andar, parei de falar, retrocedi e fiquei quietinha no meu esconderijo, eu mesma. Claro que não tenho lembranças dessa época e quem me narrou o fato foi minha prima e madrinha Luciula. O que me fez lembrar que um dos médicos que meus pais consultaram, disse: Ela não tem nada, só quer ficar quieta. Era isso, eu apenas havia tirado férias. Que cara inteligente, pensei comigo. Essa mania de me esconder se estendeu. Fugia das pessoas e se alguma visita aparecia em casa eu ia rápido para debaixo da cama. Mas nada na vida é só ruim. Um dia chegou minha nova professora de inglês, Misses Elizabeth Carllot e eu lá embaixo da cama. Misses Lotta disse para minha mãe Alice: Não tem problema. Vou dar aula para ela assim mesmo. Minha querida Lotta me renasceu. Líamos Shakespeare para crianças, contos, Dickens. Misses Lotta foi meu mundo novo. Minha entrada na arte. Que saudade boa. Até hoje não sei de fato a história de meus pais biológicos, porque existem várias versões. Fui criada como filha por Arthur e Alice e até os 13 anos não sabia que era filha de criação e ninguém falava sobre isso. E eu não lembrava de nada. Bastou uma prima dar a dica para destampar minha memória. Quando fui falar com Fomm que eu era filha adotiva, ele simplesmente disse que não, o que ferrou com a minha cabeça completamente. Ele era muito importante na minha vida e eu achava que jamais mentiria para mim numa coisa tão séria assim. Em vez de melhorar, a minha situação piorou muito. Alice tinha medo do marido e ficava meio que por trás dizendo que eu era filha da Edite, mas não tinha coragem de me encarar de frente. Quando descobri que era mesmo adotiva, quis conhecer meu pai verdadeiro, a quem eu tinha visto pela última vez aos 4 anos, encontro do qual lembrei mais tarde em terapia. Fui ao encontro de Honório, mas não lhe disse que sabia que ele era meu pai. Fui simplesmente visitar o tio Honório. Ele morava em Macaé, marcamos na prefeitura de Niterói e assim que bati os olhos nele vi que só podia mesmo ser o meu pai, tínhamos vários traços em comum, inclusive o formato do rosto, a testa, a postura. Começamos a conversar e naquela época o jornal O Globo promovia um concurso de trovas sobre amor. E não é que ele tinha mandado uma e eu outra? Ficamos trocando trovas, falando da vida e eu muito introvertida, muito tímida, porque não queria que ele percebesse que já sabia do segredo. Ele me olhou e disse: Incrível, você é igual a sua tia Edith, só que você não tem a risada escancarada dela. Eu tinha sim, só que não estava conseguindo rir na frente dele de jeito nenhum. Honório casara de novo e me levou até a sua casa para me apresentar a mulher. Diz pra ela aí o que eu acho sobre isso, sobre aquilo. E a mulher falava as mesmas coisas que eu acabara de falar. Será possível que a herança genética me fazia acreditar nas coisas que ele acreditava? Honório havia sido ator, era jornalista. Eu tinha seguido os passos dele. Saí de lá sem contar que estava sabendo de tudo. Quando a situação foi esclarecida foi um desastre. Tio Honório resolveu que ia ser meu pai, mas eu já era uma adulta e muito independente para ser dirigida. Do casamento com Adélia, Honório teve três filhos: Ana Maria, Francisco (batizado em homenagem a meu primeiro marido Francisco Milani) e Augusto. Ana era um sonho de pessoa e acabou morrendo numa enxurrada aos 13 anos de idade; Francisco, muito profundo e inteligente; Augusto é da Marinha, mora em Brasília e não temos contato. Honório era inteligente, tinha um humor parecido com o meu, mas era muito intolerante, inclusive com Ana Maria que era esse encanto. E essa intolerância dele nos levou a brigas enormes. Na casa onde ele vivia com mulher e filhos existia um altar com fotos da minha mãe e minhas. Aquilo era absurdo, muito louco. Ele não podia obrigar a família a viver esse culto. Disse-lhe isso e claro que tivemos uma briga feia. Capítulo XVII Amor que Destrói Minha relação com Alice era bastante conturbada. Minha mãe adotiva tinha uma personalidade muito perigosa. Ela me amava muito, mas era aquele amor que destrói, que anula a pessoa. Entrei na vida de Alice para salvar o casamento com o Fomm, que não podia ter filhos, e isso não aconteceu. Acho que ela nutria por mim um misto de amor, raiva e ódio. Havia detalhes bem peculiares: Alice cortava a carinha dela de todas as fotos e quando jovem ia à praia de luvas para não estragar as lindas mãos. Um dia recorri ao Fomm, e lhe falei que eu não estava agüentando a barra com Alice. Aquele homem que tinha me criado como filha me disse: Ainda bem que você é uma pessoa forte porque eu não posso te ajudar em nada. Foram tempos complicados, não existia nem aquele ombro amigo onde deitar. Havia algo muito engraçado no meio de toda essa história trágica: durante um período da minha vida eu tive três mães. Adélia, mulher do Honório; Celeste, a segunda do Fomm, e Alice. As três diziam que eram minha mãe. Isso gerava situações surreais. Alguém me encontrava e dizia: estive com sua mãe hoje, e antes de comentar eu perguntava: Onde?, que era para saber de quem estavam falando, pois as três moravam em partes diferentes da cidade. Tanto Alice como Fomm ficaram bastante tempo doentes antes de morrerem. Durante algum tempo consegui manter Alice num asilo, mas a culpa me fez buscá-la de volta e ela morou comigo até o fim, na cadeira de rodas, com enfermeira em dois turnos em casa. Fomm morreu algum tempo depois dela e lembro da última visita que lhe fiz. Meu pai adotivo era dono de cassino, jogava em cavalo, uma coisa completamente diferente do meu pedaço. Ele era muito chique, conquistador, tinha cara de diplomata e era chamado de doutor. Era um tipo. Criou um teatro de ópera brasileiro, produziu espetáculos de teatro, teve revistas sobre Jockey. Vê-lo ali na minha frente, frágil, magro, nas últimas, foi muito difícil. Segurei sua mão durante toda a tarde. Na hora de ir embora dei um beijo na testa e ele beijou meu rosto. Espero que a gente tenha se dito tudo. Capítulo XVIII Cuca Legal Recorrer à ajuda da psicanálise foi quase sempre a solução que encontrei para resolver meus problemas. Como dizia Nara Leão, não sei para os outros, mas para mim a análise é necessária. Pra mim também. Pudera. A primeira vez que falei com Hélio Pelegrino sobre a fobia que me assombrava, disse-lhe que não conseguia en-tender porque eu, antes tão destemida, agora tinha medo de tudo. Hélio me respondeu: É que antes você fugia para a frente. Direto na caçapa. Alguns analistas me ajudaram muito e outros me prejudicaram bastante. Eu preciso estar sempre botando graxa nas juntas da cabeça, trocando óleo: a máquina tem de ser cuidada. Essa busca de cura para meus problemas pessoais me levou a fazer experiências com ácido lisérgico. Isso em 1963, nos tempos do Teatro Santa Rosa, quando essa droga era total novidade por aqui e seu uso permitido como tratamento médico. Sou do primeiro grupo que experimentou o LSD como terapia, em forma de injeção, e com acompanhamento do doutor Murilo Pereira Gomes. Do grupo faziam parte alguns artistas plásticos paulistas e eu levei um amigo ator. Tomei ácido para ficar boa. Era maluca sim, mas nunca fui burra e nem muito influenciável. Doutor Murilo nos dava aquilo e ficava vendo o que acontecia. Sob o efeito da droga, vivese experiências de delírio que são belíssimas ou terríveis, a bad trip. Teve uma vez em que estávamos no Parque da Cidade, eu tinha cinco anos químicos e agia como se essa idade tivesse. Depois regredi até feto, uma coisa incrível. A percepção exagerada das cores, as dimensões que uma criança tem do mundo em relação a ela. Era inacreditável. Certa vez eu estava na grama da casa do médico, com a mão enfiada dentro da perna sentindo as raízes, minhas veias pulsarem. Estava viajando. Depois eles me falaram: Você não sentiu o cachorro te mordendo?. Não sentira, estava em outra, com a mão toda machucada, quer dizer, era um negócio forte. Logo chegou o meu amigo entusiasmado: Descobri que sou Jesus. Mesmo ainda sob o efeito do ácido, aquela declaração me deixou desesperada. Não tive uma bad trip, tive uma trip horrorosa e dizia para o médico me dar algo que parasse com aquilo, eu não queria continuar. Não, você tem que ir até o fim, ele me dizia. Tomei LSD umas quatro vezes e decidi dar um basta àquelas experiências ao perceber que as pessoas em minha volta estavam ficando louquinhas. Você é um assassino se não parar com isso, disse ao médico. Eu o achei inteiramente louco e ele morreu por causa dos tóxicos. Eu não fiquei triste. Tomei LSD a sério e para ficar boa. Mas não me dou bem com drogas e nem todas experimentei. Por exemplo: cocaína, pois dizem que deixa a gente elétrica e eu acho que não precisava ficar mais elétrica, eu precisava baixar. A maconha, que é mais inócua, às vezes me fazia entrar em pânico. Comigo não tem essa de puxar fumo e dormir, eu puxo e acordo. Eu tinha medo de sair do estado de lucidez. Não queria sair. Já era difícil ficar lúcida. Capítulo XIX Arroz, Feijão e Sensualidade Convivi bastante com o pessoal do Cinema Novo, numa época em que as pessoas buscavam fórmulas mágicas para se falar verdades. A coisa ficou muito hermética por causa dos caminhos pessoais tentados para se fugir da censura, aí as pessoas se perderam e eu me desliguei logo. Estava há quase cinco anos longe das câmeras de cinema, quando retornei com dois bons filmes, Um Brasileiro Chamado Rosaflor e Contos Eróticos. Dirigido pelo meu amigo Geraldo Miranda, Rosaflor foi filmado no Rio de Janeiro. O meu papel era a mãe de um garotão, o Stepan Nercessian. Viúva bonita, a personagem se suicida depois de ser violentada pelos primos. Nesse filme, briguei com meu amigo Geraldo até quase às raias da loucura. Na seqüência do enterro, ficava num caixão de acrílico, transparente, de vestidinho branco, da Vogue. Como era uma produção mambembe, a produção pegou as flores brancas no próprio cemitério, já achei aquilo horrível. Geraldo resolveu improvisar e filmar o caixão dentro da cova. Stepan Nercessian, que é um grande sacana, começou a jogar areia em cima de mim e dizia pro Jofre Soares fazer a mesma coisa. E eu lá dentro, sentindo aquilo batendo no acrílico. De repente, o acrílico quebrou e eu saí daquela cova num segundo e já batendo boca com Geraldo. Ele podia pelo menos ter me dito que o caixão iria para a cova. Foi uma cena horrorosa, mas o filme é bem interessante. Contos Eróticos enfrentou problemas com a censura e ficou retido três anos até chegar aos cinemas, uma bobagem, pois trata o erotismo com ironia e beleza. Era um filme com quatro episódios, baseado nos contos publicados pela revista Status, uma das melhores publicações masculinas da época. Faço a protagonista de Arroz e Feijão, que abre o filme, dirigido pelo Roberto Santos. Minha personagem é uma moradora do paulistaníssimo bairro do Bexiga e tudo vai mal em sua vida: o casamento, a situação financeira. Ela acaba transando com o rapaz para quem fornece marmita, um tipo ingênuo que era interpretado por um palhaço de circo chamado David José. Roberto Santos fez uma homenagem ao neorealismo italiano e deu uma dimensão muito humana ao conto. Minha personagem tinha uma carga bem grande de sensualidade e gostei muito de vivê-la. E não era um papel para mim, pois o diretor queria a Irene Ravache. Roberto devia me achar tímida demais ou ele próprio se achava sem jeito para me dizer tira a roupa, faz isso, faz aquilo. Enfim, éramos dois tímidos. Como Irene não pôde fazer, ele me convidou. Relutei em aceitar a personagem que tinha cenas bem fortes e lhe disse que meu corpo estava feio. Você deve estar louca, porque teu corpo está ótimo, rebateu o diretor. Foi um prazer trabalhar com Roberto Santos, um diretor sério que inventava, improvisava. Assistindo ao filme hoje, acho que poderia ter ido mais longe também. Não é que ache minha interpretação ruim, pelo contrário, está bem legal, mas se tivesse aquele mais, eu quero mais que alguns diretores costumam pedir, acho que teria resultado ainda mais interessante. Contos Eróticos é um filme muito legal e tem o episódio antológico Vereda Tropical, onde Cláudio Cavalcanti vive um romance ardente e cheio de imaginação com uma melancia. Morro de rir toda vez que assisto e Cláudio está ótimo. Capítulo XX De Empregada a Patroa Saí da Tupi depois de Tchan, A Grande Sacada e resolvi aceitar o convite da Rede Globo, que já me chamara outras vezes. Acho que consegui fazer uma carreira a despeito de mim e devo ser muito boa, já que me encarei e ganhei. Lembro uma vez quando Ziembinski falou: Uma grande atriz referindo-se a mim, e eu olhei para trás para ver com quem ele estava falando. Ele queria me levar para a Globo para ser a filha do Odorico Paraguaçu em O Bem Amado, o papel que Sandra Bréa fez. Por não concordar com o salário, medo de trabalhar na Globo ou as duas coisas, sei lá, acabei não aceitando. Convidada para fazer uma peça com Fernanda Montenegro, estava tudo acertado e tinha uma reunião marcada com a imprensa. Tive um ataque de pânico. Me deitei no chão e não conseguia me mexer. Fiquei desesperada de vergonha, deitada no chão e sem conseguir nem me mexer. Nunca me expliquei com o elenco. Naquele tempo ninguém falava em síndrome de pânico e coisas assim passavam por chilique. O primeiro diagnóstico que recebi foi de agorafobia. Só depois que passei a me medicar é que comecei a perceber a diferença entre sofrer uma crise, estar com problemas que todo mundo tem, ficar chateada e ser atacada pelo pânico: você se perde no tempo e no espaço, fica uma criança perdida no mundo esperando que alguém te dê a mão. O final da minha primeira passagem pela Globo havia sido no ritmo de A Última Valsa e voltei quando o som das discotecas estava em todo lado para trabalhar em Sem Lenço, Sem Documento. Logo depois fui escalada para Dancin’Days,a novela das oito escrita por Gilberto Braga, que estreava no cobiçado horário. A personagem era a empregada Neide, meio deslocada da trama principal, que era o embate entre duas irmãs, Júlia Matos e Yolanda Pratini, que seriam interpretadas por Sônia Braga e Norma Bengell. Já havia criado Neide, sabia como ela iria falar, agir e até se vestir com calças jeans e uma camiseta com a cara do Clark Gable. Faltando duas semanas para a estréia, Norma se desentendeu com o diretor Daniel Filho e saiu da novela. Estavam procurando uma atriz, Daniel me olhou e disse: E aí, Joana, vamos fazer esse papel? Decidi encarar. De empregada virei patroa e foi aí que a loucura realmente começou. Tive que passar por uma metamorfose exterior e interior. A exterior foi trabalhosa, mas fácil. O cabelo preto e estragado de propósito que eu usava transformou-se em cobre e muito bemcuidado. Em vez das roupas de copeira, trajes e sapatos elegantes, pois Yolanda era a personagem que mais trocava de roupa na novela e tinha um acentuado lado perua. Gravei 16 capítulos numa semana, quase morri e felizmente contei com a cumplicidade de Daniel Filho, a quem conhecia desde os tempos do Teatro Santa Rosa. Compor toda a neurose da Yolanda foi complicado e Daniel teve papel de destaque nessa preparação. Com dificuldade para encontrar a personagem, resolvi recorrer às minhas angústias e usar a relação conturbada que tive com minha mãe. Daniel fez uma observação maravilhosa: Tudo bem, tá bom esse pedaço que você está fazendo a sua mãe, mas coloca aí que ela te amava muito. Depois que a personagem já estava pronta, ele deu outra dica preciosa: Agora faz como se você fosse Dercy Gonçalves. A partir daí botei tudo pra fora. Sônia Braga foi também um anjo. Tínhamos diálogos enormes das duas irmãs e quando eu bambeava, ela dava volta no texto para me dar a deixa e aí eu lembrava. Teve momentos em que estava falando com ela e não sabia mais em que país estava, nem o que eu estava gravando. Mas conseguimos botar a novela em dia. Doida, prepotente, antipática e ambiciosa, Yolanda tinha marido, mordomo e romance com o personagem do Reginaldo Farias, que eu adoro e com quem fiz depois outras novelas. Espécie de inauguradora de problemas psicológicos, quando fiz Dancin’Days ainda era vítima de fobia. Não ia para a TV sozinha e nem voltava sozinha. Meus colegas não sabiam disso, só Daniel e Sônia, que me trazia para casa na maior parte das vezes. Nas gravações, minha camareira Neuza me acompanhava o tempo todo e essa coisa durou a novela inteira ou até mais. Mas interpretar é algo que me deixa muito feliz e enquanto eu estava lá, gravando, a vida era deslumbrante. O final de Dancin’Days foi um arraso, com aquele texto fantástico de Gilberto Braga. A última cena a ser gravada foi a da briga entre Júlia e Yolanda, no interior do Copacabana Palace. Chorar ali era mole, pois todo mundo tinha amado aquela novela. Era muita despedida junto. Tinha a despedida minha e da Sônia Braga, tinha a despedida das irmãs, tinha o reencontro das irmãs, tinha o nosso encontro de pessoas reais que foi maravilhoso. Foi um festival de lágrimas. Aquela cena ficou uma coisa tão amada, que não tenho o menor critério, eu acho que está deslumbrante mesmo, melhor que tudo. É que foi bacana, um encontro deslumbrante com Sônia, com Daniel e comigo mesma. Foi bom demais. A virada Dancin’Days marca na minha vida o final dos anos 1970. Ensaiava publicar um livro há anos e logo após o fim da novela saiu À Hora do Café, livro de contos que teve alguma repercussão na época. Nele está O Adultério, que foi premiado no concurso de contos eróticos da revista Status. Anos depois, em 1987, O Adultério virou curta-metragem, dirigido por Ricardo Pinto e Silva, com Otávio Augusto, Suzana Faini e Laura Cardoso no elenco. Capítulo XXI Por Trás das Grades Produção conturbada e cheia de intervenções da censura, Os Gigantes, de Lauro César Muniz, estreou em 1979, quando começaram a soprar os ventos da abertura política. Interpretando Vânia, uma mulher cheia de contradições, esposa do Tarcísio Meira, completei 40 anos e entrei nos anos 1980. Nessa década, trabalhei em nove novelas e uma minissérie. Quer dizer, estive praticamente a década toda na televisão. Com Coração Alado entrei nas histórias de Janete Clair, autora inspirada e mestre em lidar com as emoções de seus personagens. Interpretava Vânia, casada com o personagem de Ney Latorraca, um canalha que acabava estuprando a cunhada (Vera Fischer), o que provocou muita polêmica. Logo após, retornei ao universo de Gilberto Braga em Brilhante, onde fazia uma psicóloga. Na TV as coisas são rápidas, e de psicóloga virei psicopata em Elas Por Elas, sobre a história de sete amigas que se reencontram, e depois fiz Eu Prometo. Tentativa de retomar o desativado horário das 10 da noite, essa foi a última novela de Janete Clair, que morreu durante a sua realização e Glória Perez escreveu os últimos capítulos. Lembro de quase nada, nem de minha personagem, e o que me marcou foi um acontecimento paralelo às gravações. A novela abordava os bastidores da política nacional e os problemas carcerários brasileiros. Participava de muitas cenas gravadas no Instituto Penal Vieira Ferreira, em Niterói. Numa das primeiras vezes em que lá estive, a equipe chegou antes, eu entrava só depois e fiquei no presídio, sentada, com medo de virar refém. Quem te deu licença para entrar aqui na nossa casa?, me disse um negro baixo, de cara enfezada, que apareceu de repente. Olha, se você está querendo me meter medo pode parar porque já estou com medo. Nem precisa fazer número nenhum porque já estou com medo. Eu sou uma atriz e você sabe que a Globo está gravando uma novela. Não vem que não tem. Ele tentou fazer um gênero enfezado, mas acabou morrendo de rir do meu medo confesso. A partir daí o papo foi ótimo. O sujeito me disse que se chamava Norberto, era poeta e que ele e o grupo haviam escrito uma peça de teatro, que tenho comigo até hoje. Logo ele chamou um companheiro de prisão, o Ganso, que nunca mais vi e que era uma pessoa adorável, esse Norberto sei que morreu. Ganso começou a tocar umas músicas e eu a cantar com ele. Com essa brincadeira, os presos foram se aproximando, os que tocavam trouxe ram seu instrumento, outros dançavam e aquilo foi virando um happening dentro do presídio. Dennis Carvalho dirigia a novela. No intervalo, a técnica gravou e soltou o som pelo alto-falante. Eles adoraram. E eu também. Resultado: o dire-tor me convidou em nome dos presos para ser madrinha do presídio. Voltei lá, almoçamos, conversamos e virei madrinha. Teve uma festa lá e fui com minha comadre e meu filho, que ainda era menino e saía correndo pela penitenciária. Fiquei preocupada e Ganso me acalmou: Joana, não tem problema. Aqui você e seu filho jamais vão sofrer coisa alguma. Não se preocupe e deixe o menino à vontade. Era uma festa e estavam os parentes e filhos dos presidiários, meu filho jogou futebol, se divertiu. Um dos presos havia sido policial, e eu tinha uma certa birra dele, justamente por esse fato. A mãe dele veio me dizer que rezava por mim e me agradecer por estar dando apoio. O ex-policial me apresentou aos filhos. Foi uma coisa emocionante. A festa continuou, eles representaram, teve sorteio de uma bola e seu filho é quem vai ganhar, me disse Ganso. E claro que Gabriel ganhou, ficou todo feliz de ter ido àquela festa e eu comecei a freqüentar o presídio. Conversava muito com os presos e isso é muito engraçado porque existem algumas regras. Pra começar, eles mentem e a primeira versão dos fatos é sempre mentira. Para se comunicar, você tem de estar muito na deles. Agora conta a verdade, pelo amor de Deus, falava depois que um deles me dizia uma história. E aí vinha: O problema era que eu queria ter um carro. O garotão tinha e eu não. Não achei isso justo e roubei o carro. Ficava lá de prosa e um dia não percebi que o tempo tinha corrido e de repente tocou a sirene de fechar o presídio. Aquele barulho da sirene e depois o ruído das portas de aço sendo fechadas foram as coisas mais impressionantes que já ouvi na minha vida. Gente, quero sair agora. Estou morrendo de medo. E eles: Que nada, passa a noite aqui com a gente. É divertido. Fiquei tão desesperada que fui correndo em direção àquela porta de aço imensa, o vigia abriu e, de tão nervosa que estava, bati com a cabeça no aço. Fui socorrida pelo Pelé – um negro alto, bacana, que agora cumpre sua pena em outro presídio – que me pegou no colo e com os guardas me levou até o carro. Com uma delicadeza e um carinho impressionantes, me dizia: Calma. Você está bem? Pode dirigir?. Foi uma experiência rara. Eu que havia ido gravar num presídio, morta de medo de virar refém, tornei-me o centro de um happening com todos os presos cantando e virei madrinha deles. Eles me chamavam de Joaninha e Ganso fez uma música pra mim, que se perdeu. Era uma canção deslumbrante, em que ele falava de minha força, de minha delicadeza. Quando fomos gravar no hospital do presídio, a barra pesou. Lá estavam os presos mais perigosos, alguns visivelmente psicopatas, como um gordo imenso, que nunca esqueci. Para completar, no dia em que a gente chegou para gravar pela primeira vez um cara tinha se suicidado. Ah, era um presídio calmo, apelidado de Sítio do Pica-Pau Amarelo e todos os presidiários queriam ir pra lá. Quando foi solto, Norberto ligou para mim, que estava com gripe e na cama. Ele foi até minha casa, me viu com aquela cara de doente e dis-se: Engraçado, como a gente idealiza os mitos. Vou fazer um suco de cenoura e laranja pra te levantar. O cara era um assassino e arrumou a minha casa, limpou tudo que estava desarrumado e disse que na próxima vez traria a mulher para ela me fazer uma comidinha gostosa. Uma dessas coisas que a gente não espera nunca viver na vida. Fui fiadora do Ganso e nunca tive reclamação nenhuma, tinha um outro que ligava para conversar comigo, depois soube que Norberto tinha morrido, que Pelé estava em outro presídio... Eu nem lembro direito do nome da novela, de que personagem eu fazia, só o fato de ter conhecido e convivido com os presidiários. Capítulo XXII Chama Que Não se Apaga Personagem de Gilberto Braga tem sempre nome e sobrenome assim em Corpo a Corpo fui Lúcia Gouveia. A maluca tinha horror de pobre, de negro, de gentinha, como ela dizia e se tornou uma das minhas personagens mais odiadas – e olha que não foram poucas as megeras que vivi. Para manter seu status de dondoca, ela não hesitava em aprontar pra cima da própria filha. Racista de carteirinha, tinha horror a negro. Teve gente que passou a me odiar. Houve até universitário me perguntando porque eu odiava pobre. Estava com Antonio Fagundes e ele mandou o cara perguntar ao Gilberto Braga. Depois fiquei pensando e não foi Gilberto quem escreveu. Eu é que acabei acrescentando o odeio pobre, odeio gentinha, odeio. Lúcia Gouveia tinha seu ponto fraco na paixão por um ex-presidiário, que Stênio Garcia interpretou tão bem. Foi minha primeira novela com ele e não o conhecia. Nunca tínhamos falado e começamos com uma cena de sexo, rolando no chão do apartamento, beijando furiosamente e tal, o que é muito inibidor. Como vai? Prazer, sou Joana e o diretor tudo bem, vamos fazer a cena. Você fica deitada aqui, ele vem por cima, vocês rolam, você rebenta a camisa dele. Stênio é uma delícia para contracenar, uma pessoa que dá tudo. Nessa novela fizemos uma cena muito engraçada. Era o fim de nossos personagens que morriam torrados em um incêndio. Fomos gravar na praia, com bombeiros e tudo para fazer o tal fogo artificial. Só que ventava muito e as chamas acabaram se alastrando rapidamente. O casaquinho branco que eu trazia na mão virou cinzas e eu tinha que ficar beijando-o no meio daquele fogaréu. Quem ficava virado pras chamas acabava chamuscado e quem estava do outro lado não. Então ficávamos puxando um ao outro, para salvar nossa própria pele. Era uma cena muito bonita, romântica, mas na verdade a gente não pôde aproveitar aquele fogaréu todo porque queimou muito rápido e tivemos que refazer com um foguinho em primeiro plano e só. Convidada para trabalhar em Cambalacho, fui até avisada por um diretor que não devia pegar aquele papel, que era muito pequeno. Mas eu queria tanto fazer uma novela do Sílvio de Abreu e achei que depois a personagem podia melhorar. O tal diretor tinha razão e meu papel era meio limitado mesmo, mas estava indo legal. Foi nessa época que Isabel Ribeiro, Dina Sfat e eu, amigas desde o Teatro de Arena, aparecemos com caroços no seio. No meu caso, o resultado do exame dizia que a probabilidade era câncer. Bastante assustada com aquele diagnóstico, me afastei da novela para me operar. Felizmente não era câncer. Era um tumor de cinco centímetros, aquelas coisas enormes, mas não era câncer. Sílvio me ligou e perguntou se eu queria voltar para a novela e eu, ainda abalada, disse que não. Estava preocupada porque os exames de Isabel e Dina tinham dado positivos. Foi dos momentos mais desoladores da minha vida. Ter trabalhado com Tarcísio Meira, de quem eu gosto muito, e Hugo Carvana são as lembranças que guardo de Roda de Fogo. Costumo chamar Carvana, que é meu amigo há muitos anos, de meu amante favorito, porque sempre fazíamos par romântico. Apesar de brigar muito com o texto da novela, Bambolê teve bons momentos. Era uma novela das sete, leve, divertida e minha personagem, outra megera, um pouco cômica também. Era a tia das mocinhas da novela e infernizava a vida do cunhado, o Cláudio Marzo. No final, a danada que se chamava Fausta, virava freira. Todo mundo dizia que eu estava ótima naquele papel, mas eu achava que podia fazer melhor e nadei um pouco contra a maré, o que é uma bobagem. Capítulo XXIII Fôlegos de Sonho Existem alguns trabalhos que costumam deixar sua marca e gerar outros frutos. Foi assim com Morte no Paraíso, caso especial da Globo baseado no livro de Alberto Dines sobre o escritor Stefan Zweig. Adaptado por Joaquim Assis e Doc Comparato, o programa foi premiadíssimo, inclusive no exterior. Rubens Corrêa fazia o atormentado escritor, eu a sua mulher e Renata Sorrah, a amante. Gravamos em Petrópolis, onde Zweig morou e onde se suicidou. Foi barra reviver esta cena. Rubens Corrêa era uma pessoa – não, não era uma pessoa, ele era uma viagem – riquíssima por dentro. Era um grandioso ser humano. Impossível tentar acompanhá-lo. O caminho dele era único. Rubens dizia que eu tinha quatro pessoas dentro de mim: Helga, uma enfermeira nazista insuportável; Joaninha, uma criança perdida numa noite escura; Esmeralda, a sensualíssima mulata de O Corcunda de Notre Dame; e a princesa Jeane La Foulle, que o guardava dentro de uma caixinha, que abria de vez em quando e o tirava para brincar. Atualmente acho que sou uma só. Decididos a trabalhar juntos, começamos a ensaiar Uma Vez Mais. Foi minha a idéia de montar esse texto que Woody Allen escreveu em cima de Algemas de Cristal, de Tennessee Williams. A princípio, Rubens seria apenas o diretor, mas depois acabou fazendo também o papel principal. Foi uma das poucas peças que estreei sem medo nenhum, pois estava tão à vontade na vida. Uma Vez Mais se passa no bairro nova-iorquino do Brooklyn, em 1945, onde minha personagem, a Enid, vive com o marido e os dois filhos. O que me fascinou na Enid é que ela é uma perdedora que não desiste. É desses personagens que lutam contra tudo, nada dá certo, mas de repente ela vislumbra alguma coisa com que possa se enganar, criar uma fantasia e continuar. E essa coisa do perdedor, da pessoa à margem, me fascina demais. Não é uma personagem típica do Woody Allen, embora sempre exista em seus filmes aquela mãe judia que aparece em segundo plano. O filme mais próximo talvez seja A Rosa Púrpura do Cairo, em que no final, depois de tudo ter dado errado, a protagonista vai viver em outro filme e embarca de novo. A semelhança que eu vejo é da Enid com aquela personagem, uma personagem bem tchekoviana, que vive de fôlegos de sonho. Na figura de um agente, Rubens era a presença do sonho na peça, e minha personagem se apaixonava por ele. Meu diretor Rubens ficava improvisando cenas para mim. Tínhamos uma ceninha juntos que era para durar cinco minutos e, às vezes, chegava a quinze, de tanto que ele improvisava e eu respondia. Amigos nossos iam todo dia para ver essa última cena, que era diferente a cada apresentação. Rubens e eu nos esbaldávamos de rir. Ele fazia de propósito, falava coisas para me desnortear. Foi um autêntico prazer jogar em cena com essa pessoa tão querida. A peça era muito bonita e quem assistiu gostou muito. Como diretor, Rubens Corrêa era sensacional e quando você via já estava fazendo. Não sei qual era o método dele. Mas não precisava de nada e quem trabalha de maneira semelhante é Domingos de Oliveira. Outro na mesma linha é Ivan Albuquerque, mas esse era irmão gêmeo espiritual de Rubens. Contracenei com o Ivan em Os Tigres, que era um espetáculo com três peças, que ele acabou dirigindo às escondidas, pois a coisa não ia bem. Ivan era uma pessoa rara e como diretor era chinês, daqueles que você não percebia e já estava fazendo. Era tão doce e calmo quanto Rubens. Calmos, muito quietos e de repente vinha uma risadinha, uma coisa sarcástica, profunda. Nos divertimos muito em cena, embora não fosse uma peça para se divertir, porque era meio um estupro, e ele amarrava minha personagem a uma cadeira. Rubens Corrêa me deu muita confiança, apostou muito em mim. Acho que nunca conversei tanto, andei tanto, troquei tantas idéias com alguém como aconteceu com ele. A gente era diferente, mas quando chegava lá no fundo, na alma, não era nadinha diferente. Tivemos uma relação profunda, bastante profunda. Capítulo XXIV Escondendo o Jogo, Boneca?! Devo ter sido uma das primeiras convidadas a posar nua e não aceitei de jeito nenhum. E também não quis saber de fazer parte das Certinhas do Lalau, objeto do desejo de toda jovem estrela no começo dos anos 60. Não tinha nada a ver comigo e nisso não tem relação nenhuma com ficar nua, se for exigência da personagem não tem o menor problema. Em 1988, quando fui convidada para fazer a minissérie O Pagador de Promessas com a Tizuka Yamasaki, estava em dúvida se aceitava porque ia aparecer de biquíni e meu filho disse: Mãe, você faz muito pouco desse seu corpinho. Resolvi deixar de bobagem e encarar o desafio de interpretar a prostituta Marli. E tinha mais um detalhe: o filme que Anselmo Duarte dirigiu com a história do Dias Gomes é uma das melhores coisas que o cinema nacional já fez. Foi a segunda prostituta Marli de minha carreira. A primeira, em 1979, em Até que a Morte nos Separe, episódio da série Plantão de Polícia, que meu amigo Hugo Carvana estrelava. A Marli do Pagador é uma das minhas atuações preferidas na TV. Gilberto Braga me mandou um telegrama dizendo que era a prostituta mais real que ele tinha visto nas telas. Trabalhava com Nélson Xavier, com quem tinha sido casada nos áureos tempos, e me encabulei assustadoramente. Era muito estranho porque tínhamos sido marido e mulher e eu estava muito inibida de fazer as cenas fortes com ele. Você está com medo de mim?, ele perguntou. Eu nem tentei negar: Para falar a verdade, tô. Não há como fingir. Eu tô sem graça. Mas no final nossas cenas ficaram bacanas e Nélson está ótimo como o cafetão da Marli. Minissérie é quase como filme ou teatro: como se sabe a história toda, é possível estudar a personagem sem a perspectiva de mudanças no meio do caminho. Para interpretar Marli, dei vazão à sensualidade, à pornografia que todo mundo tem dentro de si. Se eu fosse uma piranha, o que faria? E convivia com as prostitutas da vida real, pois elas faziam figuração e tive muita informação delas também – observava como andavam, como falavam, como escondiam a gilete na boca. Marli era uma piranha mesmo, daquelas bem baratas. Eu a fiz desaforada, como todas elas eram, mas muito submissa à paixão. E meio inesperada. Tem uma hora que o amante cospe na sua cara e, em vez de revidar, ela ri. A minissérie foi gravada em Salvador, com muitas cenas no Pelourinho que ainda não tinha sido restaurado e era uma pobreza sem fim. Na época, eu estava com o cabelo curtinho e cheguei no hotel com cara de intelectual. Um dia me vesti de prostituta, coloquei uma peruca enorme e fui assim para o restaurante onde a equipe comia. O segurança me olhou e disse: Escondendo o jogo, hein, boneca?! Aproveitei as gravações na Bahia e participei de um documentário sobre prostitutas. Quem dirigia era Eunice Guttman, com quem tinha feito o curta Tempo de Ensaio. Eu era a entrevistadora, ia conversar com a prostituta e, no final, a vestia e maquiava como senhora e me vestia de prostituta. Invertia os papéis. Lembro especialmente de uma delas que era a mais antiga da zona de lá, com 60 anos de meretrício. Era uma mulher bacana e se parecia com a Yolanda Costa e Silva. Eu dizia isso pra ela, que morria de rir. Infelizmente, o filme não saiu por problemas técnicos, o que foi uma pena. Capítulo XXV Apertem os Cintos Com um infantil, uma comédia erótica e um drama sobre uma tragédia nacional, minha participação no cinema nos anos 80 é diversificada e bem de acordo com o rumo das produções nacionais naqueles anos. O infantil O Cavalinho Azul veio no mesmo ano do erótico Espelho de Carne,e Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia, bem no fim da década. Espelho de Carne era para ser uma coisa e virou outra. O diretor Antônio Carlos Fontoura adaptou uma peça de Vicente Pereira que mostra em tom satírico as transformações de um casal que sai da zona norte e vai morar na Barra. Lá, ficam possuídos pelo desejo e enlouquecem em todos os sentidos. Um misterioso espelho comprado de uma velha prostituta era o veículo para essa loucura e diante dele os personagens liberavam geral. Mas essa ascensão social não fica clara em momento algum do filme, que foi arrasado pela crítica e tachado de pura sacanagem. Mas o crítico do respeitadíssimo Cahiers du Cinema escreveu que Hileana Menezes e eu éramos atrizes dignas de Bergman. Filmado ao mesmo tempo em que eu fazia a novela Eu Prometo, O Cavalinho Azul é adaptação para o cinema do famoso texto de Maria Clara Machado sobre um menino que cria uma viagem maravilhosa e um animal fantástico a partir de um pangaré velho, muita solidão e algumas coisas de geografia que ele aprendeu na escola. Nélson Dantas e eu fazíamos os pais do garoto, sob a direção de Eduardo Escorel, e tenho poucas lembranças desse filme. Fui fazer Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia a convite do diretor Roberto Pires e no elenco estava uma turma de amigos, como Nélson Xavier e Stepan Nercessian. Meu papel era o de uma mulher submissa casada com o personagem de Nélson e uma das primeiras a morrer nessa catástrofe que abalou o País. Filmamos em Goiânia, o cenário do acidente, uma tristeza só. Foi um dos filmes que mais me envolvi. O drama estúpido vivido por aquela gente humilde me pegou por completo e com um grupo fui a Brasília conversar com políticos para tentar uma solução para as vítimas do césio. Filmado com pouco dinheiro, Césio 137 mostra a ignorância incrível, a mentalidade brasileira. Fizemos um happening no dia que Fidel Castro se apresentava na Eco 92, no Rio. Conseguimos enviar as vítimas para Cuba. Houve gente que não queria que um rapaz louco fosse incluído entre as vítimas. Pode uma coisa dessas? Eu me envolvi demais nesse filme e preciso aprender a não me envolver... A última seqüência foi filmada num ônibus onde, com exceção de mim, todos os passageiros eram vítimas mutiladas pelo césio. Havia uns com feridas abertas pelo corpo, uns sem braço, um que estava quase morrendo. Um horror. Quando acabou a cena, eu me tranquei e chorei tanto, mas tanto. Só parei quando meu filho, que era adolescente, e tinha ido comigo para Goiânia, apareceu e me disse: Mãe, vai trabalhar. Toma um café, se acalma. Pra variar, eu estava no auge das minhas fobias, tinha verdadeiro pavor de avião e acabei me curando na viagem de volta. Vinha com Gabriel e no aeroporto estava apavorada de entrar no avião e todo mundo ria do meu medo. Já instalada na poltrona, em pleno ar e ainda morrendo de medo, o avião começou a balançar e as coisas voavam em cima da gente. Meu filho me olhou e disse: Mãe, sabe Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu? Pra quê? Desatei a rir, enquanto as coisas continuavam caindo e o pessoal, que antes ria de mim, começou a ficar apavorado e eu morrendo de rir deles. Quando chegamos ao Rio, chovia muito e pegamos um táxi. Ao entrar no túnel, o motorista disse: Olha, tô sem freios. É só no freio de mão. Eu não sei onde sofri mais e o cara não precisava contar aquilo. Ganhei o prêmio de melhor atriz no Festival de Natal pela atuação em Césio 137. Nos anos 1990, a produção do cinema nacional sofreu um baque e praticamente parou. Depois de uma participação afetiva em Vai Trabalhar Vagabundo 2, do meu amigo Hugo Carvana, fui convidada pelo José Joffily para trabalhar em Quem Matou Pixote?. Indignado com o fim do cinema imposto pelo Collor, Joffilly insistiu em continuar filmando e, depois de A Maldição do Sampaku, resolveu levar às telas a história do Pixote e o meu papel era Iracema, a mãe dele. Filmamos em locações alugadas num armazém do cais do porto. Era tudo muito sujo por lá, muito imundo e isso ajudou a dar um clima ao filme. A primeira vez que assisti, me odiei. Como o papel foi muito cortado na edição, achei tudo over demais. Eu tinha criado um caminho para chegar ao ápice da cena. E esse caminho não estava na edição final. Mais tarde, revendo o filme, mudei de idéia. O resultado é muito bom. Capítulo XXVI Uma Beata em Minha Vida Lá pelo final dos anos 1980, andava atrás de um papel diferente, uma personagem boa só para variar. Fui escalada para duas novelas ao mesmo tempo, Tieta e uma das seis, onde eu faria uma boazinha. Do Aguinaldo Silva, Tieta baseia-se no romance de Jorge Amado que eu não tinha lido. Armando Bógus, amigo queridíssimo, conhecia o livro e me disse pra não perder esse papel, pois Perpétua, a irmã invejosa e amarga da personagem título, era fantástica. Procurei a direção da emissora e me pus à disposição para o papel, caso contrário estava fora. Após tanta novela de salto alto, queria mesmo era fazer uma novela de chinelo. Foi assim que me deram Perpétua, a tribufu de Tieta, mas ninguém acreditava que eu podia fazer a personagem, que era uma mulher feia, troncuda e assim descrita pela divulgação da novela: Peito seco, sempre de luto, frustrada, falsa cristã, já que, como lhe diz o padre, não conhece o dom da caridade. Guta, que era minha amiga e chefe do departamento de elenco da Globo, me disse assim: Ah, Joana, você vai ficar feia. E ficar feia na televisão é um pesadelo que apavora as atrizes. Parti para a caracterização da personagem. O cabelo era uma peruca que fazia aquele coque atrás e a maquiagem, só uma base para disfarçar olheiras e imperfeições de pele, que era para ficar engraçada. A figurinista Marília Carneiro tinha feito vários vestidos pretos e eu sugeri que como ela só iria vestir preto poderia ter só uma roupa. E assim foi: uma roupa mais firme para estúdio e outra mais fresquinha para as externas, já que a novela foi gravada no verão. Toda de preto, com sapato, bolsa, bota e guarda-chuva, fui mostrar o resultado pra Guta que me disse você está linda. Pronto, tínhamos encontrado a feiúra que queríamos: uma feiúra bonita. Guta era uma mulher muito legal e acho que foi quem me deu mais conselhos que não ouvi. Era uma mãezona, às vezes sacaneava uma outra pessoa, porque protegia àqueles de quem gostava. Lembro dela até hoje, quando percebo alguma coisa de mim que ela alertou há mil anos, eu digo Ai, Guta, quanto tempo que eu perdi, meu bem. Mas a gente só ouve o que pode ouvir, é claro. Morava no Jardim Botânico, num prédio em frente à TV Globo, e a sala da Guta ficava embaixo. Um dia ela deu uma bronca no meu filho e eu quis matá-la, mas ela tinha razão, eu era uma mãe permissiva demais. Teve um dia que desci para a sala dela e junto com uns amigos ficamos horas falando do meu pai verdadeiro. Eu contando que tinha sonhado com Honório, como ele era, a tarde inteira. No final da tarde, Guta recebeu um telefonema, me chamou num canto e me disse: Joana, preciso te dizer uma coisa. Seu pai acabou de morrer. Depois de algumas megeras grã-finas, como as famosas Yolanda Pratini e Lúcia Gouveia, topei com Perpétua, mulher simples e com o mundo mítico do Nordeste dentro de si. Essa nordestina maluca foi tomando conta de mim e a cada dia inventava um trejeito novo para ela e improvisava pensando nas coisas que a rabugenta gostaria de fazer e dizer. Para mim, Perpétua era engraçada e meio louca, e resolvi fazê-la circense, o que provocou muita resistência. Tá muito ruim, várias pessoas vieram me falar. Recebia recados dos diretores para amenizar, que aquilo não ia sair bem. Eles achavam que a personagem tinha de ser mais fechada, para dentro e eu não conseguia vê-la daquela forma de jeito nenhum. Meu colega Bógus dava força e dizia tá bom, vai fundo e o pessoal da técnica também incentivava: Tá ótimo. Quando a técnica diz que está bom, acredite. Eu já tinha Perpétua na minha cabeça. Sempre que faço uma personagem, vejo a figura numa espécie de filminho. E quando vejo esse filminho, só tenho que me botar naquele personagem que está aparecendo ali. Eu já sabia como a Perpétua era. Quando entrou, ficou uma maravilha e as pessoas adoraram. Mas no princípio todo mundo era contra. Reinaldo Boury, que dirigia a novela, foi a única pessoa que veio me dizer: Joana, você tinha razão. Acho que Perpétua foi o trabalho que mais me deu prazer no sentido de que eu finalmente estava tentando uma interpretação circense, que eu queria fazer há muito tempo. Era o que o Paulo Gracindo fazia e eu queria chegar lá. Precisa ter um despojamento total para isso e fiquei felicíssima com o trabalho. Tive muito apoio do Armando Bógus e de toda equipe que era muito unida. Bógus era uma delícia, ele acompanhava a evolução da personagem e vibrava comigo. Teve uma cena que a gente gravou milhões de vezes. Ele me perguntando sobre a caixa preta onde eu guardava o sexo do meu marido e eu ia ficando rouca, cada vez mais rouca. No final da cena, Bógus tinha que olhar para mim e não conseguíamos gravar porque ele caía na gargalhada. Com Paulo Betti, a coisa ia por caminhos semelhantes. Ele falava sumpaulo, eu morria de rir e tínhamos que gravar e regravar. Além do coque estranho, Perpétua usava um sapato preto de padre, com uma meia preta até em cima, uma saia reta preta e uma espécie de casaquinho preto que fazia um tailleurzinho sem graça, com ombro pequeno. Até hoje me perguntam o que é que tinha dentro daquela caixa preta. Adoram quando eu digo que era o sexo do marido empalhado. Conheci várias Perpétuas. O maquiador Carlinhos Prieto, já falecido, foi quem me deu a primeira informação. Ele me contou que as Perpétuas do interior do Brasil eram durinhas, andavam depressa, sempre rápidas e enérgicas. Ganhei gravuras da Perpétua, que mandavam para mim. Um tempo depois, fui a Portugal e encontrei várias por lá, só que mais gordinhas e com mais bigode. Todas vinham falar comigo e eu brincava com elas: Quer dizer que depois que ficou viúva, nunca mais nada... E elas riam. Perpétua virou a alegria da garotada. Os garotos de rua chegavam para mim e diziam corre atrás da gente, corre. Eu levantava o guarda-chuva ou o que tivesse na mão, fazia aquela voz grossa e eles saíam correndo. Eles adoravam essa brincadeira. Capítulo XXVII Rainha da Cocada Preta O mundo certinho da Carmem Maura da novela Vamp veio como respiro ao universo de armações da Perpétua. De todas as novelas que fiz, essa foi a que mais atingiu as crianças. Minha personagem era casada com o capitão, o papel do Reginaldo Faria, e tinha filhos. As crianças vinham falar comigo, sabiam o nome de todos os personagens e diziam como é que vai o seu filho? e mencionavam o nome. E eu respondia sempre vai bem, obrigada. Esse assédio infantil durou bastante tempo. Vamp foi uma novela bacana e, apesar da multidão de vampiros à minha volta, me manteve algum tempo afastada das maldades. Não por muito tempo, pois outra figurinha carimbada me esperava na novela das oito. Era a Salustiana de Fera Ferida, também ultraextrovertida, ultra pra fora, mas dessa vez deixei o tom circense de lado, apesar de ter interpretado aquela maluca de um modo bem exacerbado. Quando comecei a gravar, pensava que Salustiana era um nome difícil de pegar. No dia seguinte à exibição do primeiro capítulo fui andar na praia e um cara gritou Salustiana. Aí eu pensei que difícil que nada, já pegou. Perpétua e Salustiana foram dois trabalhos ótimos que devo ao Aguinaldo Silva, pois os personagens eram incríveis. O texto do Aguinaldo é muito inteligente. Ele usa o realismo fantástico, mas sempre manda o seu recado político, numa crítica muito bem colocada. A prepotência da Salustiana era uma coisa absurda e ela se achava superior a tudo e a todos. Essa rainha da cocada preta só apareceu quando a novela já tinha uns dois meses no ar, mas antes disso infernizava os pesadelos do major interpretado pelo Lima Duarte, com quem tive o prazer de contracenar em cenas enormes. Lima tem um jeito interessante de trabalhar. Ele chega e começa a falar sobre a cena, falar sobre a cena e já está trabalhando, compondo aquilo na cabeça dele. Aí você chega e o teu personagem diz isso..., ele fala, e a gente vai entrando no clima da cena mesmo. Na hora de gravarmos, fazíamos de tudo. Muito criativo e seguro, Lima é uma pessoa que aceita qualquer improviso, eu também, então ficava aquele jogo delicioso. Salustiana e o major eram amantes alucinados e teve uma cena na prisão onde os dois se agarravam por entre as grades para transar e acidentalmente eu bati no olho do Lima. Quando nos reencontramos em Porto dos Milagres, perguntei se ele lembrava disso e ouvi: Claro que me lembro. Você machucou o meu olho, tive que operar. Tive um problema da córnea numa batida que você deu com o dedo. Assim que deixei de interpretar Salustiana, aceitei o convite de Miguel Falabella para voltar ao teatro em Meu Querido Mundo, ao lado de Otávio Augusto, que é um ator fantástico. É uma história bacana, escrita pelo Miguel e Maria Carmem Barbosa, sobre um casal que vai passar a noite de réveillon num prédio ainda não liberado, onde eles compraram um apartamento. Explode um botijão de gás, o marido morre e essa dona de casa frustrada se encontra com um vizinho que também estava por ali e eles passam o réveillon juntos. Nossa montagem teve problemas de cenário, que nunca dava certo. Era uma peça meio triste e meio romântica com final feliz, daquelas que as pessoas choravam e riam ao mesmo tempo e saíam do teatro contentes, cheias de esperança. Adoro a história e gostaria muito de levá-la para o cinema. Pode dar um filme maravilhoso se for feito sem glamour, como a montagem foi produzida na Argentina e o próprio Miguel diz que ficou muito mais legal. Estava no Rio Grande do Norte com Meu Querido Mundo, quando o telefone tocou. Era da Globo e como meu contrato com a emissora estava acabando, achei que ligavam para renovarmos. Do outro lado da linha, a voz de um rapaz que eu não sei quem era me disse assim: Olha, Joana, nós queríamos te dizer que a Globo não tem interesse em renovar seu contrato. Só consegui dizer um tá e fiquei sem destino. Meu trabalho estava tão ligado à Globo, e depois daqueles dois personagens tão bem-sucedidos, tudo que eu queria era dar continuidade, embarcar. Estava pronta para fazer umas coisas malucas, abrir o pano; e foi como se tivessem puxado o meu tapete, no auge do meu trabalho. Capítulo XXVIII Outras Teledramaturgias Em outubro de 1994 fui contratada para duas novelas no SBT, que tentava firmar sua dramaturgia, sob o comando de Nílton Travesso e vinha do sucesso Éramos Seis. Quinze anos depois, estava de volta aos mesmos estúdios onde gravei minha última novela da Tupi, agora fazendo uma participação especial em As Pupilas do Senhor Reitor, morando em apart-hotel e longe do meu endereço carioca, o que truncou minha vida. Trabalhava com Henrique Martins, que eu adoro, e com Del Rangel. Nílton Travesso me falou que eu aumentei o ibope em 7%, sei lá quanto, mas me achei a glória. O maravilhoso é que era um pessoal com que eu tinha trabalhado na Tupi e como eu estava muito magoada de não ter tido meu contrato renovado na Globo, dei de tudo de mim para fazer legal e ajudá-los, porque as condições de trabalho não eram muito bacanas, não tinha aquela estrutura global. Os primeiros tempos no SBT foram legais, mas depois ficou bem ruim. Logo em seguida a Pupilas, fiz Razão de Viver, uma novela bem tumultuada e que não era legal. Havia uma briga muito grande entre o que os diretores queriam, o que a autora queria e o que a gente queria. Eu dei força para a autora até quando pude. Essa novela não funcionou, o que foi uma pena, pois tinha Irene Ravache e um grupo legal. Fora da Globo era muito difícil fazer novelas, bem complicado e nem me refiro à qualidade. A deficiência em tecnologia prejudicava as outras emissoras. Foi mais ou menos o que aconteceu com Serras Azuis, novela de Ana Maria Moretzsohn que tentava reativar a teledramaturgia da Bandeirantes. O problema não foi a novela, foi sobretudo a parte técnica. Havia umas câmeras novas e faltavam técnicos para operálas. Essa falta de profissionais especializados em teleteatro nos fazia trabalhar muito e gravar muito pouco. O problema dessa novela foi a lentidão, a dificuldade para se gravar. Moça de fazenda, Semíramis, minha persona-gem, era outra maluca tresloucada e sombria. Meio viúva alegre, era uma caricatura completamente louca, e vivia uma paixão por um homem mais novo. Inventei algumas coisas para Semíramis, como uma liga vermelha que ela carregava na perna. E também dei um jeito de botar na novela a música Por Onde Anda Stephen Fry?, do Zeca Baleiro, que eu adoro. Em 2004, aquela sensação de fazer parte da retomada da produção de teledramaturgia voltou a ocorrer com a novela Metamorphoses, exibida pela Record. A proposta era boa demais: as câmeras eram fantásticas, a fotografia deslumbrante, fotógrafos, iluminadores, a direção da Tizuka Yamasaki, tudo era muito bom. Mas foi uma participação rápida de dois meses. Capítulo XXIX Marcas da Maldade Gosto de fazer vilã e vilã faz sucesso. Como não tenho dentro de mim a vileza de minhas persona-gens, aproveito-as para dar vazão a esse tipo de sentimento e com elas exercito a maldade. Vilãs são deliciosas, nunca são iguais e supostamente não têm muito sentimento, deletam qualquer coisa, inclusive culpa. Além de má, Perpétua era engraçada, assim como Salustiana. Não chegam a ser personagens totalmente más, são patéticas. Voltei à Globo depois de sete anos e deparei com outra personagem nada boazinha, a Olga de Esplendor. Ao contrário das demônias que me fizeram famosas, essa era chata e agressiva, sem um respiro cômico, mais ou menos na cartilha das personagens de Bette Davis, a malvada oficial de Hollywood. Professora de piano paralítica, ela infernizava a vida de todo mundo ao seu redor. Ficava na cadeira de rodas, de salto alto, arrumadíssima, impecável. Era a malvada. Não agüentei e botei um pouquinho de humor na personagem. Na contramão desse meu histórico de megeras veio a Rita de Porto dos Milagres. Ela era boa e foi um dos trabalhos mais difíceis de fazer, porque eu não queria que ela caísse na boazinha. Foi difícil interpretá-la e teve uma pressão muito grande, porque eu estava querendo ficar feia, desarrumada. Isso não era verdade. Tinha imaginado a personagem pobre, mas limpinha, arrumadinha, cabelo bem-feito. Mas um dos diretores – sempre que eu entrava em cena – me desmanchava. Não sei se ele não gostava de mim ou da personagem, vai ver que das duas. Acho que foi um dos papéis que fiz melhor e todos os amigos do teatro me ligavam para dar os parabéns. Adorei meu trabalho. Mas o grupo de espectadores que se reúne para falar da novela na Globo não gostou por causa do cabelo. Olha como Carlos Alberto tinha razão. Fiz uma participação especial nos últimos capítulos de O Clone e foi fantástico trabalhar naquela novela porque a Glória Perez é uma cabeça muito maluca. Ela escreve textos que a gente diz impossível de fazer sucesso. Seus temas são barriga de aluguel, garotos de programa e de repente o Brasil inteiro está acompanhando entusiasmado e dizendo: Olha o clone, olha o outro clone. Tudo fica tão real. E Glória escreve sozinha, uma mulher muito firme. Em Agora é Que são Elas entrei para substituir Neusa Borges, que sofreu um acidente e teve que sair da novela. Entrei da noite para o dia. Avisaram-me num dia e no outro já estava gravando. Acho que minha personagem não ficou bem definida, não que eu estivesse canastra, depois de mil anos de trabalho não dá para representar mal. Mas foi aquele negócio: eu queria mais. Matriarca completamente do bem, a Viridiana McGold de Bang Bang nada tem a ver com vilanias. Eu me apaixonei pela idéia da novela e pelos primeiros capítulos. Fiquei maluca com o texto de Mário Prata e caí na gargalhada já na primeira vez que li: engraçadíssimo, parecia sitcom e havia um frescor de novidade ali. De tão ousado e irreverente me fez até pensar em Beto Rockfeller, a novela de Bráulio Pedroso que marcou uma guinada no gênero. Era mais uma volta à Globo, num texto de Mário Prata e com direção do Ricardo Waddington. Achei que não tinha erro, mas, infelizmente, houve alguns inesperados. O pior deles foi o Mario ficar doente e abandonar a novela nos primeiros capítulos, o que brecou um pouco a ousadia da trama, ou seja, uma linguagem totalmente nova na TV. Ainda assim acho que era uma imagem totalmente nova na TV, que me agrada, mas perdemos a chance de fazer uma novela muito especial. Capítulo XXX Eu Quero Mais Minha única experiência na direção foi numa peça com atores amadores. Chamava-se On The Edge (Na Beira do Abismo). Eu mesma a escrevi e foi montada na escola de inglês de Fernando Berto, um amigo de 20 anos. Devo ser uma boa diretora, porque não tinha nem um profissional em cena e todos estavam bem. O que um bom diretor precisa ter? Léo Juzzi, com quem trabalhei no Santa Rosa, dizia que antes de tudo tem de ser um bom analista. Saber trabalhar com cada um. Atores são pessoas especiais porque vivem meio à flor da pele e no momento da criação ficam ainda mais especiais, porque estão em xeque. Quando um diretor diz para um ator você fez isso assim, o ator não ouve, ele explica, o ator sempre comenta: porque sabe o que foi? Naquela hora eu estava... Em transe, essa é verdade. Então tem que ter essa sabedoria, tratar cada um como cada um e ajudar na criação. Acho que o fundamental para um diretor é gostar de gente, entender gente, entender ator. Estou falando de diretor para ator. Claro que existem aqueles diretores normais, que o resultado fica lindo, mas o ator passou de longe lá. Eu particularmente gosto de trabalhar com diretores que conseguem tirar mais de mim. Na Tupi, trabalhei bastante com Geraldo Vietri, um ótimo diretor. Também era grosso e também briguei com ele, mas era um ótimo diretor, uma pessoa com talento incrível. Outro com quem fiz muita coisa foi Henrique Martins. Alguns diretores que não estão na crista da onda, como Henrique e Reinaldo Boury, são diretores fantásticos, belíssimos diretores. Dia desses alguém me dizia que estavam pensando em chamar o Boury para dirigir e eu fiquei exultante. Um diretor jovem me perguntou quando tinha trabalhado com ele, respondi que tinha sido em Tieta, e ele fez um muxoxo: Está fora de tempo. Eu respondi Ele envelheceu e eu também e continuamos ótimos. Quiçá melhores. Acho que algumas pessoas são encostadas por puro preconceito ou um comentário malfeito, uma frase mal-entendida... Uma lástima. Com Ricardo Waddington, com quem voltei a trabalhar em Bang Bang, fiz um Você Decide que foi um trabalho primoroso, um arraso. O método de trabalho do Ricardo é muito engraçado, porque ele é muito suave, pelo menos comigo foi. Ele dizia: Isso é pouco, eu quero mais. Ele vai te induzindo a fazer esse mais. Ele não diz: Quero que nessa hora você caia no chão e role. Essa opção é do ator. Ele faz você crescer. Trabalhei com Barbara Heliodora, uma das críticas mais temidas do País, em Língua Presa e Olho Vivo, que ela dirigiu. Ao contrário dessa coisa rígida, má, dura, que todo mundo conhece da Barbara, conheci o lado frágil, feminino e inseguro com o trabalho. O resultado da peça foi ótimo. Por Um Novo Incêndio Romântico foi uma peça diferente e muito linda, bem naquela linha dos trabalhos mais conhecidos de Felipe Hirsch, como A Vida é Cheia de Som e Fúria. Ele é um bom diretor, embora a gente não tenha se entendido mesmo, o que eu lamento. O espetáculo era muito bonito, muito mágico, daqueles que ou adoravam ou odiavam, com igual intensidade. Eu gostava muito. Eliane Giardini e eu éramos duas mulheres em viagem pela Índia e minha personagem viajava com as cinzas do filho para serem depositadas por lá. E Letícia Sabatela fazia o Deus Ganesh. Capítulo XXXI Duas Vezes Reencontro Depois de um tempo de recolhimento, vivo uma fase de reencontro total com o teatro. Isso começou no segundo semestre de 2004, quando fui convidada para trabalhar em As Pequenas Raposas e ganhou ainda mais força no ano seguinte com a montagem de Duas Vezes Pinter. Escrita por Lilian Hellman, As Pequenas Raposas é um grande texto, tradicional, porém grande. Berdie, a minha personagem, embora não seja a principal, é um papel maravilhoso. É uma pobre coitada destruída pelos três irmãos, as raposas a que se refere o título. Ao mesmo tempo em que estava louca para me mostrar, queria me esconder também. Dá pra entender? O sucesso da peça e meu sucesso pessoal foram além do que eu podia imaginar. Num dia em que muitos atores estavam na platéia, fui aplaudida de pé, com gritos, assovios e bravos pra valer. Nesse momento senti que tinha voltado ao teatro. Voltei para ficar. As Pequenas Raposas tem uma arquitetura teatral perfeita. É uma aula de teatrão. Um texto longo e trabalhoso, foi um trabalho muito difícil para Naum Alves de Souza, que dirigiu a montagem. Ele começou por registrar os momentos da peça como numa sinfonia e na leitura de mesa fomos encontrando a profundidade das personagens. Ednei Giovenazzi, que interpretava o meu marido, me ajudou muito nessa construção, me apoiou e me deu espaço. E contracenar com Sérgio Britto foi uma delícia: é incrível a generosidade que ele tem no palco com os parceiros. Era prazeroso o convívio nos camarins com um elenco quase perfeito. Como já tinha um encontro marcado com Harold Pinter, não pude continuar em As Pequenas Raposas. E esse novo espetáculo, Duas Vezes Pinter, trazia uma atração extra, isto é, era uma produção nossa, do grupo Teatro do Rio: Ítalo Rossi, Esther Jablonski e eu, amigos há bastante tempo. Sou da opinião que uma visão de equipe torna o espetáculo mais consistente. O envolvimento é maior sim, mas o trabalho fica mais fácil quando existe o fator confiança. Trabalhar com amigos é outra coisa até para discordar: fala-se o que se pensa, discute e depois faz as pazes. E tem ainda a possibilidade de completar por telefone o que não foi dito ao vivo. Como o título deixa claro, Duas Vezes Pinter é formado por duas peças do dramaturgo, Cinzas a Cinza e Uma Espécie de Alaska, ambas intelectualmente produzidas, mas muito emocionantes; Pinter mergulha fundo no interior dos persona-gens. Descobri essas peças faz uns sete anos, por acaso, quando folheava um livro sobre Pinter. Fiz a primeira leitura de Uma Espécie de Alaska com a Esther, ainda no original, e me apaixonei. Comprei os direitos, mas o projeto ficou engavetado por falta de patrocínio e finalmente estreou em 2005. Para completar o elenco, chamamos Marcelo Escorel e Guida Vianna. Em Uma Espécie de Alaska interpretei uma mulher que desperta de um estado de sonolência depois de quase três décadas e se vê diante do seu médico (Marcelo Escorel) e da irmã (Guida Vianna). De novo me enfiei no estudo de uma nova personagem, dessa vez mais profundo, mais difícil, mais arriscado. Só não fiquei insegura pela afinidade que o diretor Ítalo Rossi tem com Pinter (foi a quarta peça do dramaturgo que ele encenou). Meu amigo desde sempre, Ítalo teve uma concepção bem acordada do espetáculo. Admiro a profundidade do texto de Harold Pinter em contraponto à economia na linguagem – seus diálogos são curtos e cortantes. É preciso ser muito simples e se entregar totalmente para descobri-lo. Ao mesmo tempo em que ele é profundo, tem uma leveza, um deboche e um humor entrelinhas delicioso. Só não posso dizer que é um humor britânico porque Harold Pinter vem de Haroldo Pinto, uma ascendência portuguesa com certeza. Nosso Duas Vezes Pinter teve uma temporada ultralegal e mais uma vez a recepção da classe ao meu trabalho foi supimpa, como diria meu professor de geografia. Há um outro Harold Pinter que eu gostaria de pôr em cena com Ítalo e Esther. Aguardem. Desde a metade de 2006, convivo com outra personagem incrível, a inglesa Alice de Retirada de Moscou – A História de um Recomeço. Escrita por William Nicholson, a peça mostra a reconstrução da vida de três pessoas: Alice, o marido (Claudio Tovar) e o filho (Eriberto Leão). Inteligente e ao mesmo tempo louca e sofrida, ela é capaz de fazer cenas patéticas de quem perdeu o jogo. Na verdade, eu acho que a verdadeira vida começa depois que a gente desiste, é uma de suas falas. Minha personagem enfrenta o fim de um casamento de 33 anos. Estou naquele momento de ensaios adiantados, tudo caminha bem, o trabalho com os dois atores e a direção de Luiz Arthur Nunes, e continua batendo aquele tremor que antecede à estréia. Capítulo XXXII Debaixo do Casaco da Alice Sempre gostei muito de cinema. No começo dos anos 70 tive uma coluna diária de crítica no jornal Última Hora e não faz muito tempo participei do programa Comentário Geral, na TVE, com o Miguel Paiva. Era um programa temático com pessoas das mais variadas categorias falando sobre um determinado assunto. O meu enfoque era cinema, fiz alguns programas e gostei muito. Buscava sempre uma conotação com o Brasil, mesmo se estivesse falando do Homem Aranha, e ficava muito engraçado. Abaixo, o tal comentário sobre O Homem Aranha: O tema da semana – corpo. Fui atrás do corpo... no cinema. Mas que corpo? Não me bastava um corpo erótico, num contexto Marquês de Sade, ou um corpo morto escondido no armário, à la Hitchcok, e muito menos Arnold Schwarzenegger em qualquer contexto. Queria o sonho. Um corpo anormal no bom sentido. Um corpo imbatível. O corpo de Super-Herói. Pulei no colo da fantasia e fui assistir O Homem Aranha. E dei de cara com Peter Parker, rapazinho inteligente, mas tímido e sem graça, apaixonado por uma mocinha igualmente sem graça, num filme, aparentemente, também sem graça. Um homenzinho comum. Mas...Peter Parker vai a uma feira de ciência e é mordido por uma aranha desenvolvida geneticamente, uma aranha com o poder de 30 espécies das mais temíveis do reino animal. Peter, como bom candidato a cientista, não procura o hospital mais próximo. Vai pra casa, passa uma noite de cão, deixando a picada exercer poderes no seu corpinho. E aí entra a magia – acorda musculoso, capaz de subir paredes, com a mobilidade de acrobata de circo chinês e... uma gosma meio desagradável nas mãos. Mas ele descobre que essa gosma se elastifica, formando teias indestrutíveis. Atirando aquela gosminha nos topos dos edifícios, atravessa Nova York pelos ares, com a rapidez de um terrorista. Engano meu. Num mundo onde existe um Homem Aranha não há terrorismo, não há crime, nem catástrofe, porque lá estará ele para defender a Humanidade. E com um pouco de catequese de esquerda, provavelmente o Homem Aranha lutará também pelos pobres e oprimidos. Mas isso já é um sonho de Terceiro Mundo. Comecei a ir ao cinema muito cedo. Minha mãe me levava sempre e, às vezes, quando o filme era proibido para mim, entrava escondida embaixo do casaco dela. Não lembro qual o primeiro filme que assisti, mas foi debaixo do casaco da Alice que vi Os Cinco Dedos da Morte, com James Mason, ou alguma coisa parecida, e fiquei eletrizada de pavor. Lembro que fui à chegada de Howard Keel, astro do filme Barco das Ilusões, no Cine Metro, na Avenida Copacabana. Menininha, fiquei impressionada com aquele homem enorme, bonito, supernutrido. Tinha também o cinema Ritz, que freqüentávamos muito porque era o mais perto lá de casa. Fui uma adolescente que tinha algum dinheiro e um luxo extra, um projetor de cinema em casa. Alugava filmes na Maison de France e passava na tela sozinha para mim. Era uma maravilha, parava o filme, voltava, via fotogramas. E não tinha a menor idéia da importância daqueles nomes de diretores todos. Claro que eu pegava filmes no consulado da França, eram selecionados. Foi assim, bem íntimo e com filmes raríssimos, o meu primeiro contato com o cinema como arte. Lembro de um que mostrava o Inferno de Dante com as esculturas de Rodin. Esse filme existia basicamente por fotografia e iluminação e impressionou minha adolescência. Teve também um documentário sobre impressionismo em que a câmera entrava dentro do quadro. Era uma viagem. Comecei a assistir todos os grandes diretores. Foi uma espécie de autocurso de cinema esse meu período de formação ali pelos 13 anos com meu projetor. Anos mais tarde fiz um curso de fotografia, mas logo vi que não era a minha. O que um filme precisa ter para me pegar? Eis um mistério. Vejo muito filme na televisão e, às vezes, mudando de canal, uma imagem me faz parar e digo esse filme é bom. Fico naquele filme e aí vou descobrir que foi faladíssimo, ganhou prêmio. Acho que um filme bom se percebe na primeira imagem. No primeiro olhar você diz: É Bergman, Fellini, Kurosawa e tantos outros mestres. Adoro o diretor japonês Takeshi Kitano. Quando assisti Hannah Bi fiquei direto para a próxima sessão. Um tempo depois, zapeando na tevê, deparei com uma imagem e disse é daquele cara. Dito e feito. Foi assim que vi o segundo filme dele, quase sem saber. Outra paixão vem de Taiwan, é Tsai Ming-Liang, de O Rio e Vive L´Amour. Assisti a esse filme em São Paulo com uma amiga numa sessão onde estávamos nós e umas seis pessoas. Teve gente que se levantou indignada e eu ali, completamente entregue, apaixonada pelo filme. No final, minha amiga, que tinha odiado, me disse: Você é louca. Morremos de rir. E não falo só de cinematografias mais exóticas e nem excluo os americanos. Encontros e Desencontros, da Sofia Coppola, me pegou muito. Uma americana falar de angústia no Japão já é uma ousadia sem fim e ela põe um sentimento, transmite toda aquela angústia em imagens. Não descarto rir numa comédia. Temos aí Woody Allen, Mel Brooks e tínhamos Jacques Tati, Buster Keaton. Posso até ir ao cinema assistir a alguma comédia com Drew Barrymore e Adam Sandler, só porque adoro os dois e quero vê-los. Embriagados de Amor acabou comigo e a interpretação do Sandler era tão maravilhosa que me deu vontade de acompanhar a carreira dele. A surviver Drew Barrymore é um caso à parte. Ela é fantástica, engraçada, inteligente, brilhante e tem sua própria produtora aos vinte e poucos anos, depois de uma infância pra lá de conturbada. Sou apaixonada por atores e interpretações e vou muito ao cinema para ver interpretação. Quando criança, me apaixonei pelo Mário Lanza, paixão incrível, alucinada, de fã. Sabia tudo sobre ele. Era fã, acompanhava, sonhava com ele. Tiete mesmo. Depois dessa fase infantil já comecei a preferir interpretação e prestava atenção em alguns atores que nem eram tão conhecidos assim. Richard Basehart, por exemplo, era um cara que não tinha muito nome, mas eu adorava a sua forma de interpretar. Aí Fellini convidou-o para La Strada e eu adorei, alguém tinha visto que ele era maravilhoso e me achei uma descobridora de talentos. A lista dos meus preferidos de hoje em dia é imensa, mas as espanholas Carmem Maura e Victoria Abril têm lugar garantido e muito por terem filmado com Pedro Almodóvar, que é uma paixão. Das antigas hollywoodianas, fico com Bette Davis e Ingrid Bergman, que era uma atriz fantástica e, além do mais, linda. Ela e a filha Isabella são daquelas absurdas de lindas e os dois rostos são ternos, tão sensíveis. Gosto muito de Anthony Hopkins e o persigo quando ele não está over. Vanessa Redgrave é uma coisa. Ela é daquelas que eu babo quando entra em cena. É um deslumbramento. Capítulo XXXIII Vivendo e Aprendendo Comecei fazendo escola de teatro. Para mim, o teatro, cinema e TV chegaram praticamente juntos. Fui conhecendo as coisas aos poucos e gostei mais da câmera. Fiquei tanto tempo fazendo televisão e cinema que comecei a ficar com vergonha do palco, onde a exposição era maior. Acabei fazendo menos teatro e devo dizer que foi um vício o Arena. A minha experiência nesse grupo, eu falo e parece que foram mil anos, durou quase dois, mas foi um período grande em descobertas interiores. Vivi momentos inesquecíveis com aquela turma e essas coisas não se vive de graça. O teatro de Arena foi uma coisa bacana demais e sempre fiquei em busca de um grupo para trabalhar e, infelizmente, foi uma época em que se acabaram os grupos. Minha grande paixão sempre foi o trabalho de grupo e conseguimos isso agora com Duas Vezes Pinter. Só que a formação real de um grupo leva tempo. No caminho é que vamos encontrando o grupo. Eu era desajeitada na vida, perdi grandes oportunidades, fiz muita bobagem. Sempre do meu jeito, mas às vezes o meu jeito... Como diz o psicanalista, porque ele existe para aliviar as nossas culpas, fiz o que podia dentro da minha capacidade, não dava mais. Mas se a cabeça tivesse um pouco melhor eu teria feito mais. Sou movida à indignação. Sempre participei politicamente e me envolvi nas causas que acreditava. E às vezes me envolvia mais do que devia. Tenho uma imagem de intelectual que me persegue. Leio muito, mas estou longe de ser uma intelectual, até porque também não acho que esteja com essa bola toda. Procuro ser uma pessoa extremamente honesta e fiel a mim mesma. Por isso estou sempre pagando um preço muito alto. Nos últimos anos virei íntima do computador, que, para mim, serve para escrever, mandar e-mail, fazer desenhos e jogar. Escrever é algo que faço muito antes de pensar em representar. Escrevo sobretudo críticas políticas, do cotidiano, sentimentos que experimento. Escrevo para compreender a minha cabeça. Também escrevo poesias e só recentemente tive a coragem de lê-las em público pela primeira vez, num sarau na Casa de Cultura Laura Alvim. Adorei a reação das pessoas. Já desenhar é uma descoberta recente que eu devo ao computador. Comecei por acaso e descobri que adorava fazer isso. Tenho desenhos bem interessantes. A parte cassino do computador também me atrai e me distraio diante da tela tentando bater meus recordes na paciência spider. Já fui uma pessoa inquieta e só pausei mesmo depois de velhinha e com terapia , remédio e tudo. Depois que comecei a me medicar para não correr riscos, aconteceram coisas muito engraçadas. Certa vez fui visitar uma velha amiga, Lídia Libion, daquelas que me conhece muito bem, e cheguei lá cantando. Nunca te vi tão alegrinha assim, ela me disse. Dei uma risadinha e pensei: Eu nunca estive. Eu não falei, mas pensei. Faz muito tempo, li uma biografia do Tennessee Williams que terminava assim: Afinal de contas, altas posições na vida são ganhas pela bravura com que se sobrevive dignamente a experiências apavorantes. É isso aí. Cronologia Cinema 2005 • Quanto Vale ou é Por Quilo – Participação Direção: Sérgio Bianchi. Com Sílvio Guindane, Cláudia Mello, Herson Capri, Leona Cavalli, Caco Ciocler, Lázaro Ramos 2001 • Copacabana – Rita Direção: Carla Camurati. Com Marco Nanini, Walderez de Barros, Laura Cardoso, Ida Gomes, Tonico Pereira, Míriam Pires, Rogéria, Ilka Soares, Camila Amado, Luís de Lima, Renata Fronzi, Felipe Wagner, Louise Cardoso, Ana Beatriz Nogueira, Débora Olivieri 1996 • Quem Matou Pixote? – Iracema Direção: José Joffily. Com Cassiano Carneiro, Luciana Rigueira, Joana Fomm, Tuca Andrada, Roberto Bomtempo, Carol Machado, Maria Luísa Mendonça, Antônio Abujamra, Paulo Betti, Maria Lúcia Dahl, Antônio Petrin, Anselmo Vasconcelos 1991 • Vai Trabalhar Vagabundo 2 – A Volta Direção: Hugo Carvana. Com Hugo Carvana, Marcos Palmeira, Tonico Pereira, Marieta Severo, Otávio Augusto, Andréa Beltrão, Chico Buarque, Paulo Gorgulho, Wilson Grey, Tony Tornado, Nelson Xavier, Luis Salem, Lutero Luiz 1990 • Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia Direção: Roberto Pires. Com Nelson Xavier, Paulo Betti, Stepan Nercessian, Denise Milfont, Marcélia Cartaxo, Paulo Gorgulho, Thelma Reston 1987 • Tempo de Ensaio Média metragem de Eunice Guttman. Com Zaira Zambelli. Sinopse: Filmagem de uma peça teatral que fala do planejamento familiar sob o ponto de vista da mulher. 1987 • Adultério Curta baseado em conto de Joana Fomm. Direção: Ricardo Pinto e Silva. Com Flávia Gióia, Otávio Augusto, Suzana Faini, Laura Cardoso 1984 • Espelho de Carne Direção:AntônioCarlosFontoura.ComHileanaMenezes, Dennis Carvalho, Maria Zilda, Daniel Filho 1984 • O Cavalinho Azul Direção: Eduardo Escorel. Com Pedro de Brito, Ana Cecília, Nelson Dantas 1982 • Beijo na Boca Direção: Paulo Sérgio de Almeida. Com Cláudia Ohana, Mário Gomes, Mílton Morais, Dennis Carvalho, Stepan Nercessian, Perfeito Fortuna, Cissa Guimarães 1977 • Contos Eróticos Episódio Arroz e Feijão. Direção: Roberto Santos. Com David José • Marília e Marina Direção: Luiz Fernando Goulart. Com Denise Bandeira, Kátia D´Angelo, Fernanda Montenegro, Stepan Nercessian, Nelson Xavier, Marcelo Picchi, Fernando Torres, Nestor Montemar, Carlos Prieto 1976 • Um Brasileiro Chamado Rosaflor Direção: Geraldo Miranda. Com Stepan Nercessian, Carlos Kroeber, Otávio Augusto, Oswaldo Loureiro, Lucélia Santos, Emiliano Queiroz, Suzana Faini, Jofre Soares 1974 • Pensionato de Mulheres Baseado em conto de Joana Fomm. Direção: Clery Cunha. Com Magrit Siebert, Silvana Lopes, Liana Duval, Ruthinéia de Moraes, Liza Vieira, Helena Ramos 1972 • Os Desclassificados Direção: Clery Cunha. Com Hélio Souto, Roberto Bataglin, Jesse James Barbosa • Vozes do Medo Vários episódios e diretores. Com Selma Egrei, Rofran Fernandes, Josafá Alves Andrade, Cláudio Mamberti, Clarice Piovesan, Antonio Pitanga 1971 • As Noites de Iemanjá Direção: Maurice Capovilla. Com Áurea Campos, Francisco Curcio, Genésio de Carvalho, Guimarães do Berimbau, Paulo Gaeta, Roberto Maia, Marcelo Picchi, Newton Prado, Rosemary • Fora das Grades Direção: Astolfo Araújo. Com Luigi Picchi, Sérgio Hingst, Roberto Maia, Francisco Curcio, Liana Duval, Alfredo Palácios, Augusto Barone, Carlos Farah, Cavagnole Neto, Pedro Sepanenko 1970 • Elas – Joana Episódio O Artesanato de Ser Mulher. Roteiro: Mario Chamie e Joana Fomm. Direção: José Roberto Noronha. Com Maria Aparecida, José Luís Araújo, Otávio Augusto, Celso Bispo, Lenoir Bittencourt, Mário Chamie, Carlos Alberto Ferreira, Eloá Jacobina, Lilian Lemmertz, André Franco Montoro, Carmem Silva • O Palácio dos Anjos Direção: Walter Hugo Khouri. Com Geneviéve Grad, Rosana Ghessa, Adriana Prieto, Norma Bengell, Luc Merenda, Alberto Ruschel, John Herbert, Sérgio Hingst, Zózimo Bobul • As Gatinhas Direção: Astolfo Araújo. Com Sérgio Hingst, Adriana Prieto, Bárbara Fazio, Miguel di Prieto, Francisco Curcio, Maurício do Valle, Paulo Gaeta, Alfredo Palácios, Ewerton de Castro, Antônio Meliande, Rubens Ewald Filho 1969 • Macunaíma Direção e roteiro: Joaquim Pedro de Andrade, baseado em Mário de Andrade. Com Grande Otelo, Paulo José, Dina Sfat, Jardel Filho, Mílton Gonçalves • Gamal, O Delírio do Sexo – Luísa Direção e roteiro: João Batista de Andrade. Com Joana Fomm, Paulo César Pereio, Lorival Parizi, Fernando Peixoto, Samuca e Flávio Santiago • Em Cada Coração Um Punhal Episódio O Filho da Televisão. Direção e roteiro: João Batista de Andrade. Com John Herbert, Abrahão Farc, Garoto, Ana Maria Cerqueira Leite, João Batista de Andrade 1968 • A Vida Provisória – Lívia Direção: Maurício Gomes Leite. Com Paulo José, Dina Sfat, José Lewgoy, Mário Lago, Márcia Rodrigues, José Wilker, Hugo Carvana, Paulo César Pereio, Clementino Kelé • Bebel, Garota Propaganda Direção: Maurice Capovilla. Argumento: Ignácio de Loyola Brandão. Com Rossana Ghessa, Paulo José, Geraldo Del Rey, Maurício do Vale, John Herbert, Washington Fernandes, Fernando Peixoto, Norah Fontes, Apolo Silveira • A Noite do Meu Bem – Dolores Duran Direção e roteiro: Jece Valadão. Com Joana Fomm, Carlos Eduardo Dolabela, Raquel Martins, Regina Célia, Pietro Mario, Pedro Pimenta, Antônio Patino, Edu da Gaita • Edu, Coração de Ouro Direção: Domingos de Oliveira. Com Paulo José, Leila Diniz, Amilton Fernandes, Norma Bengell, Ziembinski, Carlos Alberto de Souza Barros, Ma ria Gladys, Yan Michalski, Luis B. Neto, Mauro Madrugada, Tânia Márcia • O Homem Nu Direção: Roberto Santos. Argumento: Fernando Sabino. Com Paulo José, Leila Diniz, Esmeralda Barros, Irma Alvarez, Ana Maria Nabuco, Ruth de Souza, Rafael de Carvalho, Walter Forster, Oswaldo Loureiro, Flávio Migliaccio, Mílton Gonçalves, Zózimo Bobul, Telma Reston, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Copinha, Iris Bruzzi, Jofre Soares, Vera Barreto Leite • Todas as Mulheres do Mundo Direção: Domingos de Oliveira. Com Leila Diniz, Paulo José, Ivan de Albuquerque, Flávio Migliaccio, Isabel Ribeiro, Fauzi Arap, Irma Alvarez, Vera Vianna, Márcia Rodrigues, Maria Gladys, Marieta Severo, Norma Marinho, Ana Cristina, Ana Rudge, Dorinha, Hildegarde, Ilona, Ionita, Leila Marinho 1967 • ABC do Amor Episódio O Pacto. Direção: Eduardo Coutinho. Assistência de direção: Joana Fomm. Com Reginaldo Faria, Vera Viana, Jofre Soares, Isabel Ribeiro, Mário Petraglia • Três Estórias de Amor Episódio A Construção. Direção: Alberto D’Aversa. Com Nelson Xavier, Ruthinéia de Moraes, José Luís Pinho, Ary Toledo 1966 • Crime de Amor Baseado em peça de Edgar da Rocha Miranda. Direção: Rex Endsleigh. Com Beyla Genauer, Carlos Alberto, Carmen Klaimberg, Renato Murce, Zeni Pereira, Maria Pompeu, Hugo Carvana, Elídio Nascimento, Rosângela Maldonado, Armando Nascimento, Mozart Cintra, Mílton Leal, Iolanda Born, Clementino Kelé 1964 • Um Morto ao Telefone – Lúcia Direção e roteiro: Watson Macedo. Com Eliana, Oswaldo Loureiro, Jurema Magalhães, Geraldo Miranda, Zeni Pereira, Fábio Sabag, Átila Iório 1962 • O Quinto Poder Direção: Carlos Pedregal e Alberto Pieralisi. Com Leônidas Bayer, Renato Coutinho, Adhemar Gonzaga, Oswaldo Loureiro, Jurema Magalhães, Roberto Maya, Alfredo Murphy, Nildo Parente, Dary Reis, Augusto César Vanucci, Sebastião Vasconcelos, Orlando Villar, Eva Wilma Televisão • Bang Bang – Míriam Viridiana McGold De Mário Prata. Com Bruno Garcia, Fernanda Lima, Alinne Moraes, Ney Latorraca, Marisa Orth, Tarcísio Meira, Mauro Mendonça, Giulia Gam, Carol Castro, Angelina Muniz, Guilherme Fontes, Thalma de Freitas. Globo 2004 • Methamorphoses – Participação De Charlote Karowski. Com Paulo Betti, Luciano Szafir, Vanessa Lóes, Luciene Adami, Lígia Cortez, Lúcia Alves, Nil Marcondes, Zezé Motta, Myrian Muniz, Gianfrancesco Guarnieri. Record 2003 • Kubanakan -Participação De Carlos Lombardi. Com Adriana Estevez, Marcos Pasquim, Vladimir Brichta, Humberto Martins, Betty Lago, Stênio Garcia, Danielle Winits. Globo 2002 • Agora é Que São Elas – Dinorá Autor: Ricardo Linhares. Com Miguel Falabella, Vera Fischer, Marisa Orth, Débora Falabella, Paulo Gorgulho, Preta Gil, Felipe Martins, Cássia Kiss, Karina Bacchi, Maurício Mattar, Maria Zilda, Yoná Magalhães, Paulo José, Otávio Augusto, Nuno Leal Maia, Paulo Vilhena. Globo • O Clone – Participação De Glória Perez. Com Murilo Benício, Giovana Antonelli, Juca de Oliveira, Stênio Garcia, Letícia Sabatella, Antônio Calloni, Vera Fischer, Nívea Maria, Cristiana Oliveira, Dalton Vigh, Cissa Guimarães, Daniela Escobar, Débora Falabella, Eliane Giardini, Juliana Paes, Marcelo Novaes, Neusa Borges, Os-mar Prado, Raul Gazolla, Reginaldo Faria, Roberto Bonfim, Solange Couto, Victor Fasano. Globo 2001 • Porto dos Milagres – Rita De Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares. Com Antônio Fagundes, Flávia Alessandra, Marcos Palmeira, Arlete Salles, Camila Pitanga, Bárbara Borges, Cláudia Alencar, Cláudio Corrêa e Castro, Cristiana Oliveira, Cássia Kiss, Eduardo Galvão, Zezé Polessa, Flávio Galvão, José de Abreu, Júlia Lemmertz, Vladimir Brichta, Kadu Moliterno, Leonardo Brício, Lima Duarte, Louise Cardoso, Luiza Tomé, Marcelo Serrado, Marcélia Cartaxo, Nathalia Timberg, Paloma Duarte, Roberto Bomtempo, Taís Araujo, Tonico Pereira, Zezé Motta. Globo 2000 •Esplendor – Olga Norman – Globo De Ana Maria Moretzsohn. Com Murilo Benício, Letícia Spiller, Caio Blat, Caco Ciocler, Taís Fersoza, Cássia Kiss, Cláudia Alencar, Floriano Peixoto, Gracindo Junior, Tônia Carrero, Zezé Motta. Globo 1998 • Serras Azuis – Semíramis. De Ana Maria Moretzsohn. Com Ana Lúcia Torre, Bete Coelho, Cássio Scapin, Cláudia Liz, Cláudia Mello, Cláudio Cury, Cláudio Mamberti, Denise Del Vecchio, Gianfrancesco Guarnieri, Edson Fieschi, Giuseppe Oristanio, Hélio Souto, Ítalo Rossi, João Signorelli, John Herbert, Marcos Caruso, Maria Fernanda Cândido, Mariana Lima, Paula Burlamaqui, Paulo Figueiredo, Sérgio Britto, Sônia Clara. Bandeirantes 1996 • Razão de Viver – Yara De Analy Alvares Pinto e Zeno Wilde. Com Irene Ravache, Adriana Esteves, Gianfrancesco Guarnieri, Fulvio Stefanini, Raul Gazolla, Marco Ricca, Petrônio Gontijo, Gabriel Braga Nunes, Cláudia Mello, Mayara Magri, Vera Zimmerman, Ana Paula Arósio, Bel Kutner. SBT 1995 • As Pupilas do Senhor Reitor – Carlota Do romance de Júlio Diniz, adaptação de Ismael Fernandes e Bosco Brasil. Com Juca de Oliveira, Débora Bloch, Lúciana Braga, Eduardo Moscovis, Tuca Andrada, Míriam Mehler, Ana Lúcia Torre, Cláudia Mello, Olayr Coan, Caio Blat, Lucinha Lins. SBT 1993 • Fera Ferida – Salustiana De Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares. Com Edson Celulari, Giulia Gam, José Wilker, Lima Duarte, Susana Vieira, Hugo Carvana, Cássia Kiss, Paulo Gorgulho, Cláudio Marzo, Deborah Evelyn, Arlete Salles, Anna Aguiar, Marcos Winter, Juca de Oliveira, Vera Holtz, Cláudia Ohana, Tonico Pereira, Otávio Augusto, Ewerton de Castro. Globo 1991 • Vamp – Carmem Maura De Antônio Calmon. Com Cláudia Ohana, Ney Latorraca, Reginaldo Faria, Otávio Augusto, Flávio Silvino, Nuno Leal Maia, Patrícia Travassos, Vera Zimmerman, Oswaldo Louzada, Guilherme Leme, Paulo José, Zezé Polessa, Vera Holtz, Cleyde Yáconis, Francisco Milani. Globo 1989 • Tieta – Perpétua De Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzohn e Ricardo Linhares, baseada no romance de Jorge Amado. Com Betty Faria, Cássio Gabus Mendes, Reginaldo Faria, José Mayer, Paulo Betti, Roberto Bonfim, Arlete Salles, Yoná Magalhães, Míriam Pires, Lídia Brondi, Tássia Camargo, Armando Bógus, Bete Mendes, Ary Fontoura, Cláudia Magno, Otávio Augusto. Globo 1988 • O Pagador de Promessas – Marli Minissérie de Dias Gomes. Com José Mayer, Denise Milfont, Walmor Chagas, Nélson Xavier, Carlos Eduardo Dolabella, Osmar Prado, Yara Cortez, Mário Lago, Guilherme Fontes, Ana Beatriz Nogueira, Diogo Vilela. Globo 1987 • Bambolê – Fausta De Daniel Más e Ana Maria Moretzsohn. Com Cláudio Marzo, Susana Vieira, Míriam Rios, Thaís de Campos, Carla Marins, Paulo Castelli, Maurício Mattar, Rubens de Falco, Sandra Bréa, Mila Moreira, Rodolfo Bottino, Guilherme Leme, Rina Nimitz, Henrique César, Jacira Sampaio, Armando Bógus, Norma Blum, Denise Fraga, Maria Lúcia Dahl. Globo 1986 • Roda de Fogo – Thelma Rezende De Lauro César Muniz. Com Tarcísio Meira, Bruna Lombardi, Cecil Thiré, Renata Sorrah, Eva Wilma, Felipe Camargo, Isabela Garcia, Osmar Prado, Hugo Carvana, Paulo José, Lúcia Veríssimo, Mayara Magri, Cláudia Magno, Cássio Gabus Mendes, Cláudio Curi, Sílvia Bandeira, Gilberto Martinho, Cláudia Alencar, Inês Galvão. Globo • Cambalacho – Joana De Sílvio de Abreu. Com Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri, Natália do Valle, Cláudio Marzo, Suzana Vieira, Rosamaria Murtinho, Débora Bloch, Edson Celulari, Regina Casé, Consuelo Leandro, Flávio Galvão, Emiliano Queiroz, Paulo César Grande, Maurício Mattar, Marcos Frota, Christine Nazareth, Oswaldo Loureiro, Louise Cardoso, Jacqueline Laurence, Luiz Fernando Guimarães. Globo 1984 • Corpo a Corpo – Lúcia Gouveia De Gilberto Braga. Colaboração de Leonor Bassères. Elenco: Débora Duarte, Antônio Fagundes, Glória Menezes, Hugo Carvana, Marcos Paulo, Flávio Galvão, Zezé Motta, Stênio Garcia, Lauro Corona, Malu Mader, Caíque Ferreira, Eloísa Mafalda, Ruth de Souza, Marcelo Picchi, Lilia Cabral, Luiza Thomé, Andréa Beltrão, Isabela Garcia, José de Abreu, João Paulo Adour, Selton Mello, Clementino Kelé. Globo 1983 • Eu Prometo – Helô De Janete Clair. Colaboração: Glória Perez. Com Francisco Cuoco, Renée de Vielmond, Dina Sfat, Walmor Chagas, Marcos Paulo, Ney Latorraca, Fúlvio Stefanini, Kadu Moliterno, Ewerton de Castro, Rosamaria Murtinho, Lúcia Alves, Rogério Fróes, Fernanda Torres, Julia Lemmertz, Malu Mader, Antônio Pedro, Maria Padilha, Nina de Pádua. Globo 1982 • Elas Por Elas – Natália De: Cassiano Gabus Mendes. Com Eva Wilma, Aracy Balabanian, Ester Góes, Maria Helena Dias, Sandra Bréa, Mila Moreira, Luiz Gustavo, Reginaldo Faria, Christiane Torloni, Lauro Corona, Marco Nanini, Cristina Pereira, Felipe Carone, Ana Ariel. Globo 1981 • Brilhante – Virgínia Sampaio De Gilberto Braga. Colaboração de Euclides Marinho e Leonor Bassères. Com Tarcísio Meira, Vera Fischer, José Wilker, Renata Sorrah, Dennis Carvalho, Fernanda Montenegro, Cláudio Marzo, Renée de Vielmond, Jardel Filho, Mário Lago, Eloísa Mafalda, Aracy Balabanian, Laura Cardoso, Maria Gladys, Renato Pedrosa, Fernanda Torres. Globo 1980 • Coração Alado – Melissa De Janete Clair. Com Tarcísio Meira, Débora Duarte, Vera Fischer, Walmor Chagas, Aracy Balabanian, Jardel Filho, Leonardo Villar, Nívea Maria, Eva Todor, Armando Bógus, Ney Latorraca, Carlos Augusto Strazzer, Carlos Vereza, Otávio Augusto, Tetê Medina, Diogo Vilella, Míriam Rios. Globo 1979 • Os Gigantes – Vânia De Lauro César Muniz. Com Dina Sfat, Tarcísio Meira, Francisco Cuoco, Suzana Vieira, Lídia Brondi, Vera Fischer, Lauro Corona, Míriam Pi-res, Mário Lago, Jonas Mello, Lúcia Alves, Castro Gonzaga, Fábio Mássimo, Atila Iório, Flora Geny, Cleyde Blota. Globo 1978 • Dancin’Days – Yolanda Pratini De Gilberto Braga. Com Sônia Braga, Antônio Fagundes, Reginaldo Faria, Glória Pires, Lauro Corona, Lídia Brondi, Mário Lago, Pepita Rodrigues, José Lewgoy, Cláudio Corrêa e Castro, Mílton Moraes, Yara Amaral, Lourdes Mayer, Eduardo Tornaghi, Ary Fontoura, Gracinda Freire, Mauro Mendonça, Beatriz Segall, Jacqueline Laurence, Neuza Borges, Renato Pedrosa. Globo. 1977 • Sem Lenço, Sem Documento – Hilda De Mário Prata. Com Bruna Lombardi, Ney Latorraca, Ana Maria Braga, Arlete Salles, Isabel Ribeiro, Ilva Niño, Ricardo Blat, Lutero Luiz, Kleber Macedo, Sebastião Vasconcelos, Tony Ferreira, Christiane Torloni, Jayme Barcellos, Marcelo Picchi, Ivan Setta, Jonas Bloch, Gracinda Freire, Dary Reis, Cidinha Milan. Globo 1976 • Tchan, A Grande Sacada De Marcos Rey. Com Raul Cortez, Nádia Lippi, Maria do Rocio, Silvia Massari, Lílian Lemmertz, Etty Fraser, Herson Capri, Yolanda Cardoso, Ruthinéia de Moraes, Antônio Petrin, Fausto Rocha, Annamaria Dias, Kito Junqueira, Elizabeth Gasper, Carlos Koppa, Plínio Marcos. Tupi • Papai Coração De José Castellar, baseada em original de Abel Santa Cruz. Com Paulo Goulart, Selma Egrei, Narjara Turetta, Nicete Bruno, Arlete Montenegro, Yolanda Cardoso, Serafim Gonzalez, Beth Goulart, Bárbara Bruno, Renato Consorte, Jonas Bloch, Elizabeth Hartmann, Glauce Graieb. Tupi. 1975 • A Viagem De Ivani Ribeiro. Com Eva Wilma, Tony Ramos, Altair Lima, Irene Ravache, Ewerton de Castro, Elaine Cristina, Carlos Alberto Riccelli, Rolando Boldrin, Francisco Di Franco, Carmem Silva, Ana Rosa, Serafim Gonzalez, Kadu Moliterno, Ricardo Blat, Haroldo Blotta, Suzy Camacho, Lúcia Lambertini, Teresa Sodré, Carminha Brandão, Yolanda Cardoso, Abrahão Farc, Adriano Reys, Márcia Maria. Tupi 1975 • Ovelha Negra De Walter Negrão e Chico de Assis. Com Cleyde Yáconis, Rolando Boldrin, Edney Giovenazzi, Wanda Stefânia, Kate Hansen, Geórgia Gomide, Laura Cardoso, Edgard Franco, Carlos Augusto Strazzer, Mário Benvenutti, Carminha Brandão, Lia de Aguiar, Sílvio Rocha, Adoniran Barbosa, Serafim Gonzalez, Francisco Di Franco, Ewerton de Castro, Ivan Mesquita. Tupi 1974 • Ídolo de Pano – Jeane De Teixeira Filho. Com Tony Ramos, Dennis Carvalho, Elaine Cristina, Laura Cardoso, Rildo Gonçalves, Carmem Silva, Adriano Reys, Ewerton de Castro, Denise Del Vecchio, Serafim Gonzalez, Lucy Meirelles, Sílvio Rocha, Suzana Gonçalves, Glauce Graieb, Yara Lins, Claudete Troiano. TV Tupi. 1973 • Vendaval – Catarina De Ody Fraga. Com Hélio Souto, Lílian Lemmertz, Jonas Mello, Lia de Aguiar, Rodolfo Mayer, Fernando Baleroni, Sebastião Campos, Wilma de Aguiar, Silvana Lopes. Tupi 1972 • Bel Amy De Ody Fraga. Com Adriano Reys, Márcia Maria, Rildo Gonçalves, Maysa, Fúlvio Stefanini, Antônio Fagundes, Elaine Cristina, Luiz Carlos de Moraes, Sílvio Francisco, Teresa Teller. Tupi 1971 • A Fábrica – Maria Cecília De Geraldo Vietri. Com Aracy Balabanian, Juca de Oliveira, Lima Duarte, Geórgia Gomide, Hélio Souto, Bibi Vogel, Elizabeth Hartmann, Dina Lisboa, Patrícia Mayo, Graça Mello, Elias Gleizer, Dirce Migliaccio, Lúcia Mello, Marcos Plonka, Xisto Guzzi, Guy Loup, Marisa Sanches, Carmem Marinho, Gilbert, Flamínio Fávero. Tupi 1970 • As Bruxas – Sofia De Ivani Ribeiro. Com Nathalia Timberg, Walmor Chagas, Carlos Zara, Odete Lara, Débora Duarte, Maria Della Costa, Walter Forster, Lélia Abramo, Ivan Mesquita, Lima Duarte, Cláudio Corrêa e Castro, Tony Ramos, Dennis Carvalho, Maria Isabel de Lizandra, Marilu Martinelli, Aracy Cardoso, Kate Hansen, Juan de Bourbon. Tupi 1969 • João Juca Jr. De Sylvan Paezzo.Com PlínioMarcos, Débora Duarte, Ziembinski, Perry Salles, Walderez de Barros, Marilu Martinelli, Ruy Resende, Yara Lins, Eleonor Bruno, Carmem Monegal, Tessy Callado. Tupi • Nenhum Homem é Deus De Sérgio Jockyman. Com Walmor Chagas, Lílian Lemmertz, Patrícia Mayo, Rildo Gonçalves, Elísio de Albuquerque, José Parisi, Léa Camargo, Maurício Nabuco. Tupi • A Última Valsa – A desconhecida De Glória Magadan. Com Cláudio Marzo, Theresa Amayo, Geraldo Del Rey, Glauce Rocha, Rubens de Falco, Paulo Padilha, Zilka Salaberry, Norma Blum, Ida Gomes, Edson Silva. Globo 1968 • A Gata de Vison De Glória Magadan. Com Yoná Magalhães, Tarcísio Meira, Geraldo Del Rey, Karin Rodrigues, Paulo Gracindo, Ida Gomes, Arlete Salles, Jayme Barcellos. Globo • Demian, O Justiceiro De Glória Magadan. Com Carlos Alberto, Yoná Magalhães, Mário Lago, Karin Rodrigues, Diana Morel, Emiliano Queiroz. Globo 1964 • O Desconhecido De Nélson Rodrigues. Com Vera Vianna, Jece Valadão, Nathalia Timberg, Carlos Alberto, Aldo de Maio, Isabel Teresa, Germano Filho, Mário Brasini, Érico de Freitas. TV Rio Teatro 2008 • Retirada de Moscou – A História de um Recomeço – Alice De William Nicholson. Direção: Luiz Arthur Nunes. Com Claudio Tovar e Eriberto Leão. Maison de France/RJ 2005 • Duas Vezes Pinter De Harold Pinter. Direção: Ítalo Rossi. Com Esther Jablonski, Marcelo Escorel, Guida Vianna. Sesc Copacabana/RJ 2004 • As Pequenas Raposas – Berdie De Lillian Hellman. Direção: Naum Alves de Souza. Com Beatriz Segall, Sérgio Britto, Ednei Giovenazzi, Rogério Fróes, Roberto Pirilo. CCBB/RJ 1999 • Por Um Novo Incêndio Romântico – Katharine Inspirado em A Perfect Ganesh, de Terence Mc-Nally. Direção, texto final: Felipe Hirsch. Com Eliane Giardini, Letícia Sabatella, Guilherme Weber, Erica Migon, Rosana Stavis. • Língua Presa e Olho Vivo De Peter Shaffer. Tradução e direção: Barbara Heliodora. Com Helio Ary. 1994 • Meu Querido Mundo De Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. Direção: Miguel Falabella. Com Otávio Augusto. 1988 • Uma Vez Mais – Enid De Woody Allen. Direção: Rubens Corrêa. Com Rubens Correia, Serafim Gonzalez, Felipe Martins, Marcelo Olinto 1971 • A Ratoeira De Agatha Christie. Direção: Egydio Eccio. Com Irene Ravache 1966 • O Senhor Puntila e seu Criado Matti – Lisu Jackara De Bertold Brecht. Tradução: Millôr Fernandes. Direção: Flávio Rangel. Com Ítalo Rossi, Jorge Chaia, Cecil Thiré, Jardel Filho, Ítala Nandi, Napoleão Moniz Freire, Isabel Ribeiro, Esther Mellinger, Thelma Reston, Ângelo Antônio, Paulo César Pereio, José Wilker, Liana Duval, Emmanuel Cavalcanti, Vera Gertel, Hélio Ary, Modesto de Souza, Rosita Tomás Lopes. • Carnaval para Principiantes De Domingos de Oliveira. Direção: Paulo José. Com Domingos de Oliveira, Elen de Lima, Mauro Duarte. 1964 • Os Tigres De Murray Schisgall, Samuel Beckett e Ionesco. Com Ivan de Albuquerque. Teatro Santa Rosa/RJ • O Filho do Cão – Aurélia De Gianfrancesco Guarnieri. Direção: Paulo José. Com Gianfrancesco Guarnieri, Ana Maria Cerqueira Leite, Juca de Oliveira, Antero de Oliveira, Isabel Ribeiro, Dina Sfat, Abrahão Farc, Paulo José, João José Pompeo, Rubens Campos. Teatro de Arena/SP 1963 • O Melhor Juiz, o Rei De Lope de Vega. Adaptação: Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri. Cenários e Figurinos: Flávio Império. Com Juca de Oliveira, Gianfrancesco Guarnieri, Dina Sfat, Isabel Ribeiro, João José Pompeu. Teatro de Arena/SP 1962 • Toda Donzela Tem Um Pai Que é Uma Fera – Daisy De Gláucio Gil. Direção: Léo Jusi. Com Gláucio Gil, Daniel Filho, Arthur Costa Filho, Renata Fronzi. Teatro Santa Rosa/RJ • O Auto da Compadecida – Nossa Senhora De Ariano Suassuna. Direção: Agildo Ribeiro. Com Agildo Ribeiro, Edson Silva, Maurício Loyola, Joel Vidal, Gláucio Gil, Artur Costa Filho, Nestor Montemar, Renata Fronzi, Sílvio Rocha, Antero de Oliveira, Marreli Vieira, Tônio Luna, Clementino Quelé. Teatro Santa Rosa/RJ • O Asilado – Marina Arruda De Guilherme Figueiredo. Direção: Léo Jusi. Com Maurício Loyola, Mílton Carneiro, Tônio Luna, Míriam Roth, Nestor Montemar, Elizabeth Gasper, Mário Brasini, Sílvio Rocha. Teatro Santa Rosa/RJ 1961 • Um Estranho Bate à Porta - Ruth De Mel Dinelli. Direção: Sérgio Cardoso. Com Sérgio Cardoso, Suzana Negri, Delorges Caminha, Victor Schnaider, José Valluzi, Pier Mário Teatro Dulcina/RJ 1958 • Paixão na Terra Direção: Heloísa Maranhão. Com Paulo Goulart, Nicette Bruno. Teatro Municipal/RJ Direção • On The Edge (Na Beira do Abismo). De Joana Fomm. Livro • À Hora do Café (1979). Livro de contos. Editora Cultura Índice Apresentação – José Serra 5 Coleção Aplauso – Hubert Alquéres 7 Introdução – Vilmar Ledesma 11 Momento de Decisão 17 Entradas e Bandeiras 21 A Greve de Romeu e Julieta 27 No Coração de Ipanema 33 Risos e Sensações do Arena 47 Dá-lhe, Sancho! 49 Garota de Copacabana 57 Mãe Nortista 65 Aquele Abraço 71 Na Companhia dos Amigos 77 Capa e Espada 83 Sexo Feroz na Floresta 85 Andanças e Encontros 91 Meus Tempos de Tupi 97 Parem as Máquinas 101 Dona de Sua Vida 109 Amor que Destrói 117 Cuca Legal 119 De Empregada a Patroa 127 Por Trás das Grades 133 Chama Que Não se Apaga 141 Fôlegos de Sonho 147 Escondendo o Jogo, Boneca?! 153 Apertem os Cintos 159 Uma Beata em Minha Vida 167 Rainha da Cocada Preta 173 Outras Teledramaturgias 179 Marcas da Maldade 183 Eu Quero Mais 191 Duas Vezes Reencontro 197 Debaixo do Casaco da Alice 201 Vivendo e Aprendendo 207 Cronologia 227 Crédito das Fotografias Bazilio Calazans / TV Globo 175 Cláudio de Albuquerque / Teatro Municipal Rio 25, 26 J. Ferreira da Silva / Ed. Abril 100 João Caldas 165, 237 Jorge Baumann / TV Globo 176 Manchete 158 Nelson Di Rago / TV Globo 140, 144 Nicolas – Rio 58 Olivery 56 Ozualdo Candeias 190, 258, Prensa – Rio 114 R. Macedo 29 Tuker 161, 163, TV Globo 126, 129, 132, 134, 136, 145, 154, 166, 169, 182, 184, 186, 187, 237 Última Hora 72 A presente obra conta com diversas fotos, grande parte de autoria identificada e, desta forma, devidamente creditada. Contudo, a despeito dos enormes esforços de pesquisa empreendidos, uma parte das fotografias ora disponibilizadas não é de autoria conhecida de seus organizadores, fazendo parte do acervo pessoal do biografado. Qualquer informação neste sentido será bem-vinda, por meio de contato com a editora desta obra (livros@imprensaoficial.com.br/ Grande São Paulo SAC 11 5013 5108 | 5109 / Demais localidades 0800 0123 401), para que a autoria das fotografias porventura identificadas seja devidamente creditada. Formato: 12 x 18 cm Tipologia: Frutiger Papel miolo: Offset LD 90 g/m2 Papel capa: Triplex 250 g/m2 Número de páginas: 276 Editoração, CTP, impressão e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Coleção Aplauso Série Cinema Brasil Alain Fresnot – Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias Roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger Anselmo Duarte – O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Ary Fernandes – Sua Fascinante História Antônio Leão da Silva Neto Batismo de Sangue Roteiro de Helvécio Ratton e Dani Patarra Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak – Fragmentos de uma vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra – Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person O Céu de Suely Roteiro de Mauricio Zacharias, Karim Aïnouz e Felipe Bragança Chega de Saudade Roteiro de Luiz Bolognesi Cidade dos Homens Roteiro de Paulo Morelli e Elena Soárez Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero Críticas de Edmar Pereira – Razão e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de Invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda Leão Críticas de Rubem Biáfora – A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista – Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Os 12 Trabalhos Roteiro de Claudio Yosida e Ricardo Elias Estômago Roteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade Fernando Meirelles – Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano Fim da Linha Roteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Storyboard de Fabio Moon e Gabriel Bá Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta Cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton – O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Carlos Burle – Drama na Chanchada Máximo Barro Liberdade de Imprensa – O Cinema de Intervenção Renata Fortes e João Batista de Andrade Luiz Carlos Lacerda – Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla – A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Não por Acaso Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Narradores de Javé Roteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu Onde Andará Dulce Veiga Roteiro de Guilherme de Almeida Prado Pedro Jorge de Castro – O Calor da Tela Rogério Menezes Quanto Vale ou É por Quilo Roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi Ricardo Pinto e Silva – Rir ou Chorar Rodrigo Capella Rodolfo Nanni – Um Realizador Persistente Neusa Barbosa O Signo da Cidade Roteiro de Bruna Lombardi Ugo Giorgetti – O Sonho Intacto Rosane Pavam Viva-Voz Roteiro de Márcio Alemão Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende Série Crônicas Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças Maria Lúcia Dahl Série Cinema Bastidores – Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Série Ciência & Tecnologia Cinema Digital – Um Novo Começo? Luiz Gonzaga Assis de Luca Série Dança Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo – Dança Universal Sérgio Rodrigo Reis Série Teatro Brasil Alcides Nogueira – Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta – Circo e Poesia Danielle Pimenta Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior João Bethencourt – O Locatário da Comédia Rodrigo Murat Leilah Assumpção – A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu – Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau – Artista Múltiplo Leila Corrêa Renata Palottini – Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso – Pólvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora – Os Cantos de Maldoror – De Profundis – A Herança do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor – A Terra Prometida Samir Yazbek Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda – Quatro Décadas em Cena Ariane Porto Série Perfil Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros Rogério Menezes Bete Mendes – O Cão e a Rosa Rogério Menezes Betty Faria – Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati – Luz Natural Carlos Alberto Mattos Cleyde Yaconis – Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso – Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Denise Del Vecchio – Memórias da Lua Tuna Dwek Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da Vida Maria Leticia Etty Fraser – Virada Pra Lua Vilmar Ledesma Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no Ar Sérgio Roveri Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do Cinema Maria Angela de Jesus Ilka Soares – A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache – Caçadora de Emoções Tania Carvalho Irene Stefania – Arte e Psicoterapia Germano Pereira John Herbert – Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa José Dumont – Do Cordel às Telas Klecius Henrique Leonardo Villar – Garra e Paixão Nydia Licia Lília Cabral – Descobrindo Lília Cabral Analu Ribeiro Marcos Caruso – Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral – A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado – A Estrela, o Mistério Luiz Carlos Lisboa Miriam Mehler – Sensibilidade e Paixão Vilmar Ledesma Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em Família Elaine Guerrini Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Paulo Betti – Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José – Memórias Substantivas Tania Carvalho Pedro Paulo Rangel – O Samba e o Fado Tania Carvalho Reginaldo Faria – O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi – Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Borghi – Borghi em Revista Élcio Nogueira Seixas Renato Consorte – Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin – Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho – Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza – Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst – Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti – O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silvio de Abreu – Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Sonia Maria Dorce – A Queridinha do meu Bairro Sonia Maria Dorce Armonia Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodrigueana? Maria Thereza Vargas Suely Franco – A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio Roveri Tony Ramos – No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Vera Holtz – O Gosto da Vera Analu Ribeiro Walderez de Barros – Voz e Silêncios Rogério Menezes Zezé Motta – Muito Prazer Rodrigo Murat Especial Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso Wagner de Assis Beatriz Segall – Além das Aparências Nilu Lebert Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Cinema da Boca – Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor – O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma – Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Ney Latorraca – Uma Celebração Tania Carvalho Raul Cortez – Sem Medo de se Expor Nydia Licia Rede Manchete – Aconteceu, Virou História Elmo Francfort Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte Nydia Licia TV Tupi – Uma Linda História de Amor Vida Alves Victor Berbara – O Homem das Mil Faces Tania Carvalho Coleção Aplauso Série Perfil Coordenador Geral Coordenador Operacional e Pesquisa Iconográfica Projeto Gráfico Editor Assistente Assistente Editoração Tratamento de Imagens Revisão Rubens Ewald Filho Marcelo Pestana Carlos Cirne Felipe Goulart Edson Silvério Lemos Aline Navarro dos Santos Selma Brisolla José Carlos da Silva Dante Pascoal Corradini © 2008 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Ledesma, Vilmar Joana Fomm : minha história é viver / Vilmar Ledesma – São Paulo : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008. 276p. : il. – (Coleção aplauso. Série perfil / coordenador geral Rubens Ewald Filho) ISBN 978-85-7060-638-9 1. Atores e atrizes cinematográficos – Brasil – Biografia 2. Atores e atrizes de teatro – Brasil – Biografia 3. Atores e atrizes de televisão – Brasil – Biografia I. Ewald Filho, Rubens. II.Título. III. Série. CDD 791.092 Índices para catálogo sistemático: 1. Atores brasileiros : Biografia 791.092 Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei nº 10.994, de 14/12/2004) Direitos reservados e protegidos pela lei 9610/98 Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Rua da Mooca, 1921 Mooca 03103-902 São Paulo SP www.imprensaoficial.com.br/livraria livros@imprensaoficial.com.br Grande São Paulo SAC 11 5013 5108 | 5109 Demais localidades 0800 0123 401 Coleção Aplauso | em todas as livrarias e no site www.imprensaoficial.com.br/livraria