TÔNIA CARRERO MOVIDA PELA PAIXÃO TÔNIA CARRERO MOVIDA PELA PAIXÃO IMPRENSA OFICIAL GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Governador José Serra Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Apresentação Segundo o catalão Gaudí,“Não se deve erguer monumentos aos artistas porque eles já o fizeram com suas obras”. De fato, muitos artistas são imortalizados e reverenciados diariamente por meio de suas obras eternas. Mas como reconhecer o trabalho de artistas geniais de outrora, que para exercer seu ofício muniram-se simplesmente de suas próprias emoções, de seu próprio corpo? Como manter vivo o nome daqueles que se dedicaram à mais volátil das artes, escrevendo, dirigindo e interpretando obras-primas, que têm a efêmera duração de um ato? Mesmo artistas da TV pós-videoteipe seguem esquecidos, quando os registros de seu trabalho ou se perderam ou são muitas vezes inacessíveis ao grande público. A Coleção Aplauso, de iniciativa da Imprensa Oficial, pretende resgatar um pouco da memória de figuras do Teatro, TV e Cinema que tiveram participação na história recente do País, tanto dentro quanto fora de cena. Ao contar suas histórias pessoais, esses artistas dão-nos a conhecer o meio em que vivia toda uma classe que representa a consciência crítica da sociedade. Suas histórias tratam do contexto social no qual estavam inseridos e seu inevitável reflexo na arte. Falam do seu engajamento político em épocas adversas à livre expressão e as conseqüências disso em suas próprias vidas e no destino da nação. Paralelamente, as histórias de seus familiares se entrelaçam, quase que invariavelmente, à saga dos milhares de imigrantes do começo do século passado no Brasil, vindos das mais variadas origens. Enfim, o mosaico formado pelos depoimentos compõe um quadro que reflete a identidade e a imagem nacional, bem como o processo político e cultural pelo qual passou o país nas últimas décadas. Ao perpetuar a voz daqueles que já foram a própria voz da sociedade, a Coleção Aplauso cumpre um dever de gratidão a esses grandes símbolos da cultura nacional. Publicar suas histórias e personagens, trazendo-os de volta à cena, também cumpre função social, pois garante a preservação de parte de uma memória artística genuinamente brasileira, e constitui mais que justa homenagem àqueles que merecem ser aplaudidos de pé. JOSé SErrA Governador do Estado de São Paulo O que lembro, tenho. Guimarães rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, visa resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cinema, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de maneira singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor. Um aspecto importante da Coleção é que os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo e biografado se colocaram em reflexões que se estenderam sobre a formação intelectual e ideológica do artista, contextualizada na história brasileira. São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas – analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos exploram o universo íntimo e psicológico do artista, revelando as circunstâncias que o conduziram à arte, como se abrigasse em si mesmo desde sempre, a complexidade dos personagens. São livros que, além de atrair o grande público, interessarão igualmente aos estudiosos das artes cênicas, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Foram abordadas a construção dos personagens, a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns deles. Também foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sortilégios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que neste universo transitam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. é esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de todo o Brasil. HUBErT AlqUérES Diretor-presidente Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Sumário Introdução Tânia Carvalho 19 Álbum de família 27 Nasce uma estrela 57 Adeusadopalco67Aestreladocinema181Amusadatelevisão209Meusamigossãoumbarato229 Nunca houve mulher como Tônia 245 Cronologia de uma carreira 262 Tônia Carrero Tania Carvalho Introdução Maria Antonietta Portocarrero nasceu em 23 de agosto de 1922, com cabelos castanhos, nariz chatinho, a boca pequenininha. Ainda na maternidade ganhou uma touquinha de filó bordada, uma camisola de opala cor-de-rosa, uma fronha de pongée. Sorriu pela primeira vez no dia 29 de setembro e falou a primeira palavra – mamãe – no dia 12 de fevereiro de 1923. Tudo isso está carinhosamente registrado no livro do Bebê, feito pela sua mãe, Zilda de Farias Portocarrero. Falta um dado, porém: o dia em que Mariinha, como era chamada por todos da família, descobriu que não ia ser igual às outras, e que estava fadada a ter bem mais do que uma vida reta e sem sobressaltos, que sua mãe idealizara para ela. Seu pai, Hermenegildo Portocarrero, chamado por todos de Barão, em função de um título dado a sua família algumas gerações anteriores, dizia a todos que havia pressentido que a única filha seria loura de olho azul, uma princesa. E realmente ela ficou absolutamente loura no primeiro ano de vida, lindos cachinhos que emolduravam o rosto perfeito desde a infância. Todos os dias, Barão dizia à pequena Mariinha: você é minha rainha, minha dona, só você manda na casa. Sua mãe, apesar da ternura com que fez o livro do Bebê, era severa. Criada pela avó, por ter perdido os pais muito cedo, Zilda sempre foi uma pessoa seca, sem carinho na voz – relembra Tônia. queria que a filha tivesse uma vida como a sua, se casasse, tivesse filhos e cuidasse do lar. Heraldo e Humberto, seus outros filhos, que seriam militares como o pai, deviam prestar atenção e zelar pela segurança e honra de Mariinha, a caçulinha da família. Crítica ao extremo, Zilda foi a primeira a observar: Não tira um retrato natural esta menina! Mariinha gostava de aparecer desde pequena, prenunciando a estrela que iria se tornar poucos anos depois. Embora soubesse que, para ser amada, precisava ser boazinha, viver dentro dos moldes deles, entrar na bitola, no jogo combinado, sabia também que algo a impelia para voos mais longínquos, mesmo que solitários. Com a mãe, Mariinha de fato nunca se reconciliou, digamos que relevou, perdoou, mas não esqueceu. Mariinha era além do seu tempo. Zilda, aquém. Minha mãe me fez sofrer muito, ela foi muito dura comigo. quando estava velha, eu ia visitá-la, levava umas flores e ela dizia: ‘você é tão gentil comigo’. E eu respondia: ‘eu sou sua filha’. Ela dizia que nunca havia tido uma filha, só filhos. Não me reconhecia, mas, na verdade, acho que ela jamais me conheceu. Do pai, guarda sempre uma doce recordação e admiração, quase uma paixão. Militar, engenheiro, diretor do Colégio Militar por muitos anos, Barão tinha um outro lado: amante do teatro, amigo de Procópio Ferreira, Walter Pinto, Jaime Costa, Carlos Machado, Oscarito, Dulcina e tantos outros, era sempre saudado ao ser visto na primeira fila das platéias cariocas. Um dia confidenciou à filha, a sua rainha: Se você quer saber, talvez o teatro fosse a minha inclinação. Já houve um na família, do lado da minha mãe. Ficou desmoralizado. largou a farda, família e foi trabalhar no Teatro república. Não conta para ninguém que te disse. Não é assunto pra se comentar. Depois, o teatro não serve de modo algum para moça de família. Seria um desgosto para a sua mãe. Esquece! E ela esqueceu por uns tempos. Estudou no Instituto de Educação e aos 14 anos começou a namorar firme com um jovem rebelde, filho de desquitados, civil. Um artista desesperado que num redemoinho envolveu-me, formou-reformou minha cabeça. Seu nome: Carlos Arthur Thiré, 19 anos. No primeiro dia em que foi na sua casa, Carlos levou um patinete de presente, tão menina que achava ser a namorada. Três anos depois se casaram. E, como Tônia frisa em seu livro de memórias O Monstro dos Olhos Azuis:...e não foram felizes para sempre. E complementa: Acho que casei, porque estava muito atraída por ele, e porque queria fugir da minha família. Já casada, em 1941, formou-se em Educação Física. Dois anos depois, nascia seu primeiro e único filho, Cecil Thiré. E que filho! Uma jóia rara. Uma pessoa admirável. Um artista de sensibilidade única. Ele está sempre ao meu lado me amparando, me amando, me protegendo e mandando em mim. Nossa, como ele manda em mim. E me deu uma família linda: quatro netos e cinco bisnetos. Um dia, Mariinha fez as malas, deixou Cecil com a Bá luiza – que havia sido também a sua babá – e com Zilda e foi com Carlos para Paris estudar teatro. E aí sua vida mudou. Virou realmente Tônia Carrero, após ter aulas com os maiores atores do mundo, dentre eles Jean-louis Barrault. O nome artístico nascera antes, desde sua pequena participação no primeiro filme, Querida Suzana. Mas depois da temporada em Paris, Tônia virou mais Tônia. Mulher de muita fibra, talento, beleza, que despertava paixões. O escritor rubem Braga, por exemplo, apaixonou-se perdidamente por Tônia nessa mesma temporada parisiense, quando seu casamento com Carlos já se deteriorava. Outra paixão, já no Brasil: Paulo Autran. quando o conheci, me apaixonei completamente. Cecil era bem pequenininho. Achava Paulo um talento para o teatro, mas inventei de fazer uma peça com ele só porque queria ficar perto dele. Paulo era advogado e não queria largar a profissão. Pediu um salário absurdo e deixei de receber só para ficar perto dele, não ganhei um tostão. Com o tempo, a paixão foi acabando, mas o carinho, o respeito, a cumplicidade no palco, a amizade permaneceram até o fim. Foi aí que Tônia decidiu tomar o lugar de Cacilda Becker. Onde? No coração, mente e vida de Adolfo Celi, italiano que veio para o Brasil em 1949 para ser o primeiro diretor artístico do TBC. Celi revolucionou o teatro brasileiro e a vida de Tônia. Em 1957, levada pela mão do Barão e sem a presença de Zilda, Tônia e Celi se casaram no Bispo de Maura, que na época oficializava uniões, que a lei e a Igreja Católica não permitiam. Foi uma paixão atroz, e como toda paixão acabou um dia. Até hoje Tônia sonha com Adolfo Celi, que morreu em 1986, talvez por ele ter sido o homem mais importante da minha vida, por ser homem de teatro. A minha admiração por Celi era e sempre será infinita. Seu terceiro marido foi o empresário César Thedim. Cecil desafiou Tônia: esse casamento não vai dar certo, você jamais vai ser aceita pelo meio dele. Tônia, que até hoje não pode ver um desafio que cai dentro, resolveu investir na relação com o homem rico, um típico playboy dos anos 50. Ele era muito divertido, maravilhoso, não como companheiro. Melhor dos amigos e pior dos maridos. Tônia confessa que nesse terceiro casamento ela buscava outra coisa: eu queria aprender a colocar uma mesa bem, usar o copo certo, não sabia nada e nem era indispensável saber, mas naquela época eu sentia que precisa viver isso. Virei uma dondoca durante o meu casamento com César. logo eu, que vinha de uma família classe média, filha de uma dona-de-casa e de um militar. E contrariando o Cecil fui muito bem aceita por todos do meio de César. Tônia usa até hoje o sobrenome Thedim, pois jamais se separou legalmente de César, que morreu em 2000. Entre amores e desamores, casamentos e separações – sempre casei com quem eu quis, mas nunca deu certo – , Tônia cumpriu o que escrevera em um questionário de suas amigas, quando ainda era criança, mais um livro em que sua história está registrada: Já foste beijada? Não. Amas alguém? Com paixão. E amando com paixão, ela segue a sua vida até hoje. Paixão pelo filho. Paixão pelos netos. Paixão pelos bisnetos. Paixão pelos amigos. Paixão pela arte. Paixão pela vida. Simplesmente paixão. Tudo na minha vida aconteceu em decorrência de paixões. Sempre quis viver longe da racionalidade. A paixão me empurrou, me fez fazer coisas e por isso não me arrependo de nada. Este livro foi feito também com paixão. Tônia foi incansável em remexer em seus arquivos, contar histórias, procurar material de texto, como o programa de sua peça Amigos para Sempre, no qual constam depoimentos diversos de muitos amigos ilustres: Carlos Drummond de Andrade, Aníbal Machado, Guilherme Figueiredo, Fernando de Barros, rubem Braga, entre tantos outros, que traçam um painel da linda mulher e atriz Tônia Carrero. Fez questão que eu lesse seu livro de memórias O Monstro de Olhos Azuis, do qual foram tirados também vários trechos de seus conflitos na infância. Todas as vezes que nos encontramos em sua casa no Jardim Botânico, onde viveu as últimas décadas e se preparava para mudar e começar uma vida nova no leblon, Tônia foi de uma gentileza enorme, mesmo quando já estava cansada de tanto puxar pela memória ou mesmo de remexer nas gavetas em busca das melhores fotos. Nesta tarefa, ela e eu contamos com a ajuda de uma pessoa fundamental em sua vida, o sobrinho e afilhado leonardo Thierry, também ator como ela, que foi incansável buscando sempre fotos ainda melhores, fazendo a cronologia de sua carreira, que está no final deste livro, sugerindo novas formas, acrescentando novas idéias, contando histórias. Com ela, leonardo certamente aprendeu a nunca querer pouco e buscar sempre a perfeição. E essa colaboração fundamental ele deu a este livro. Meus encontros com Tônia começaram em um dia chuvoso de fevereiro e terminaram em junho de 2008. Uma temporada inesquecível para mim, que tive o prazer de conviver com esse“monstro de olhos azuis”e admirar a sua força, inquietude e arrojo, que nem os anos conseguiram abater. De vez em quando ela reclamava da dificuldade de caminhar ou da memória que insistia em ratear. Mas são poucos segundos de queixumes. Em seguida ela remexia os cabelos anelados, dava um sorriso e seguia em frente – diva como sempre. Tônia é e, sem dúvida, sempre será uma mulher à frente do seu tempo. Para ela, a minha admiração e carinho. Tania Carvalho Álbumdefamília “Eratãolindaetodomundogabava–ComoZildaéchic.Tinha porelaimensorespeitonesseponto.Emmuitosoutrosera imposto. é mãe: obedece e cala. Neste, era verdadeiro.” (Tônia, em O Monstro de Olhos Azuis) A Bá luiza foi o anjo da guarda da pequena Mariinha, a companheira fiel da estrelaTônia. quando escreveu sua autobiografiaefezumacatarsedasuainfância,Tôniaescolheuumcodinome,luzia,comoseareverenciaraquela que esteve do seu lado a vida inteira e criou ainda seu único filho e seus netos. “Minhamãeconheceuluizanarua.Elaeraumamenina,tinhauns12anos,echoravadesesperadamenteporquetinha quebradoosovosdapatroa.quandochegaramnacasaemqueelatrabalhava,apatroadissequeelaeraumanegrinha quenãoserviaparanada.‘Podeficarcomela’.Setentaanoselaficouconosco.quandoelamorreu,foiveladaaqui emcasaeosmeninoschorarammuito.Eutambém.Aquelerosto,aquelacaronagrande,quantasvezesfoiesmiuçada, escrutinada.Apeleéescura,mulata-escura,nãopreta.Onarizlargo,largo,nasventasficavermelhoquandoelachora e esfrega o lencinho do vai-não-vai embora. A boca se dobra,se estica, os beiços generosos, bem canastrona. Pingam quando se zanga, escancara quando ri. é sem controle nenhum nessa boca que nem sabe que tem. Analfabeta, sabetudo. Adespesada casa, o rol de roupa,areceitado médico.-‘Cadê aquele papel do cartório/’ Ela sabe.-‘Cadê o boletim da escola’Ela encontra. O número do bonde. Do ônibus. O que a gente pensa. Ela entra na cabeça da gente. Tudo controla (só a boca não).” (em O Monstro de Olhos Azuis). “Souespiritualista.Masvoltoàprimeirainfânciaemebenzoantes desubiraopalco,façoonomedopaidesdepequena.Minhamãe me treinou assim. Mas de repente, lá pelos 13 anos, comecei a duvidar de tudo, dos padres, da Igreja Católica. A primeira comunhão,noentanto,foilinda.Eraquenemvestidodenoiva.” “Paris como é, papai? é mais bonito que aqui? E continua perguntando,mãodadacomopainaAvenidarioBranco. De vez em quando vão os dois sozinhos à cidade. é bom demais.” (em O Monstro de Olhos Azuis) “énormalista,massonhacomHollywood.ColecionaasfigurinhasdasbalasFrunanumálbum,comcuidado.quemsabe umdiaeutambémvouaparecernacoleçãodasbalasFruna.Comosefosseomaiorprêmio.Comoéquesebeija?Vocêbeijaele? Nabocacomonosfilmes?Comlínguacomo?Ah,nãosabiaquetinhalíngua...Meexplica.Fazparaeuvercomoé.Mebeija. Vamos nos esconder lá fora e matar aula. Eram quantas as meninas normalistas? Da mesma turma, saíam juntas, seencontravamemfestas.Eraumgrupo,umapanelinha.Seestimulavam–vocêestálinda.Estecabelo,vocêgosta?Adoro. Viutalfilme?Colosso.VouusaratrançadeMayerling.EuquerocachosdaGingerrogers.Não,euquerolisoscomoDorothy lamour.EstemodelonãoéparecidocomDeannaDurbin?PintaabocacomoBetteDavis...”(emOMonstrodeOlhosAzuis). “Ele adorava estes brinquedos. Era uma criança doce, meiga, afável.” “Ele era lindo... Morreu jovem, aos 45 anos.“ “Apartirdomomentoemquefiqueisozinha,em1978,foitãobom!Houvenamoros, masnadameinteressoumuito.Passeiparaumafasedecalma,debuscadaconscientização dosverdadeirosvalores.Muitosparceirosqueriamprovarqueerammelhoresdoqueeu. que bobagem! Tudo vaidade.” “Seeutinhasonhosdeserumaestrelainternacional,elesacabaramnodiaemque Cecilnasceu.Eumeamarreiaqui,porquenãosaberiaviverlongedele.Cecilfoi sempreomotivodaminhavida,aquelequeimpulsionoutodasasminhasdecisões. FoisempremuitoimportanteagradaremanterorespeitodoCecil.Eeleéumfilho que jamais deixou de corresponder a esse carinho. Um dia, no calor de uma separação, ele me disse:‘nós só contamos um com o outro’. é bom ouvir isso.” “Chuvinhacinza-chata,dessasquesujamamanhã,masaoabrirojornal vejosairdeleumsenhorraiodesol,que retificaapaisagem:Nasceuumamenina.AmeninaénetadeTôniaCarrero.Tôniacadavezmaislinda,maisartista, apontodeobrigaragenteanãoperdercapítulodenoveladetelevisão,eaconfessarquenãoperde.ETôniafeliz com o nascimento da neta. Gratasnotíciassãoestas,primeiroporquepossojáchamarTôniadecoleguinha(souumavôjámeiousado,masainda assimnãoabdicoacondição).Coleguinha,entretanto,épouco.MinhaaspiraçãoseriafazerdeTônianossoportaestandarteoficial,orgulhoesímbolodenovaespéciedeavós.Comosesabe,nossopatronotituladoeraVictorHugo, autor de l’Art d’ Être Grand-Père. Mas agora isso ficou desmoralizado, vovô Hugo não dá pé. Avó.Vovó.Vó.Apalavraficamaisverde,personificadaemTônia-DamadoMaxim,Tônia-Desdemona,Tônia-Cristina dePigmalião70,queencarnaonovoconceitodeabolório,egracilmentedesejaserchamadadeMariinha,assumindo acondiçãoedando-lheoutroluzimento.repito:estassãoasboasnotíciasqueojornalnosdá,equilibrandotudomais por aí e por além daí, que não sugere propriamente tempo de flor. Oi,luísa,engraçado:vocênasceufilhadeCecileNorma,porémnasceuprincipalmentenetadeTônia,sabeláoque éisso?Deveserbacanaeincômodo.Afamília,ajuizadamente,játomouprovidências:nãoquervocêconvertidaem ‘artigodeconsumo’.Sernetadetalavódeveconstituirparavocêumadoçurameioproibida,assimcomotomar sorvetenahoradaauladeEducaçãoMoraleCívicasemogovernosaber.Acheibomteremvedadooacessodoseu berçoafãs,corretores,fotógrafosetc.Vocêtemdireitoaserefazer,emanonimatofeliz,tudoaquiloqueumbebê não-responsável pelas besteiras deste direito está autorizado pela natureza a fazer e ser. Pois seja e faça. quantoàvovóMariinha,luisica,vocêtenhapaciência,masnós,osavósestabelecidosenemsemprecompreendidos, precisamosdelaparatestemunharnossafaseatual,integradanocontextodavidaemmovimento.Temosdemostrá-la como o esplendor de nossa grei, para o progresso da humanidade.” (Carlos Drummond de Andrade, texto publicado no programa de Amigos para Sempre) “Osmeusnetosnãosabemaimportânciaqueonascimentodelestevena minhavida.Durantemuitosanoseubusqueiajuventudeemefaziamuito malveraminhabelezasedesmanchando,sedesfazendoaosmeusolhos. Depoisquetivenetos,mudeicompletamenteaminhaformadeencarar avida,aceiteicommuitomaisnaturalidadeoinexorávelenvelhecimento, me aceitei muito mais. Devo isso a eles, que agora irão saber disso.” Comoela,amaaarteeéator.Foi sempreograndecompanheirodeandanças deTônia.Vãoaocinema,àsfestas,àspremièresouficamemcasasimplesmente vendo DVDs. “Todos os dias eu aprendo alguma coisa com ela.” Nasceumaestrela Antes de ser uma estrela, Tônia já era famosa. Sua beleza precedia tudo. Nas areias de Ipanema, onde foi morar assim que se casou com Carlos Thiré, ela era musa. Ela iluminava Ipanema, as salas, as praias, as ruas – escreveu Paulo Mendes Campos. Mas Tônia queria mais, muito mais. Não queria que fossem à toa os meses que havia deixado seu filho Cecil para estudar em Paris. Foi uma experiência extraordinária, mas jamais perdoei o Thiré por ter me convencido a viajar e largar meu filho por tantos meses – revela Tônia hoje, já madura. Mas na época a certeza que devia procurar o seu destino deve ter contado muito, além da pressão do marido. Desde adolescente ela se maquiava como as grandes estrelas do cinema. Voltava das matinês e passava dias imitando as atrizes e suas personagens. Foi Carole lombard, Ginger rogers, Bette Davis, Dorothy lamour, Deanna Durbin e até mesmo libertad lamarque. De fato queria ser mesmo Olivia de Havilland. Os livros eram a sua companhia, quando se refugiava no sótão: começou com M. Delly, para logo se aventurar por Zola, Eça de queiroz, Aldous Huxley, Freud e Jorge Amado. E o rádio, seu grande companheiro. Cresceu ouvindo Carmen Miranda, seu ídolo maior, Chico Alves, Orlando Silva, lamartine Babo, Carlos Galhardo. Sempre soube todas as músicas de cor. E até tentou ser cantora. quando estava na França resolveu procurar Villa-lobos, que tinha um programa de rádio, e arriscar. Cantou tão desafinadamente que o maestro quebrou a batuta e se retirou do estúdio revoltado. E Tônia ainda teve que ouvir o seguinte comentário: acho que o maestro não gostou do seu tanguinho. Ela garante: Dançar, representar, cantar, eu queria tudo, tudo me dava prazer enorme. Cantar, porém, era a minha provação. Estava escrito o seu destino: ela tinha que ser uma estrela, mesmo desafinada. Em 1947, fez a sua primeira aparição: uma pequena ponta no filme Querida Suzana e um jornal escreveu: Nasce uma Estrela. Dois anos depois, ela estreava no teatro em Um Deus Dormiu lá em Casa, ao lado de Paulo Autran, também em seu primeiro trabalho no palco. Os dois ganharam os prêmios de revelação do ano. No cinema, Tônia começava também carreira pródiga em Caminhos do Sul e Quando a Noite Acaba, que a levaram para a Vera Cruz, a Hollywood brasileira, onde protagonizou ao lado de Anselmo Duarte, o megasucesso Tico-Tico no Fubá. Não satisfeita de estar no cast da maior produtora de cinema, ela queria mais. E conseguiu: foi contratada pelo Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, a mais importante companhia teatral do País, onde reinava Cacilda Becker. No programa do TBC de 1954, Tônia já aparece como segundo nome da companhia. lá, foi dirigida por Adolfo Celi e Ziembinski: Uma Certa Cabana, Uma Mulher do Outro Mundo, de Noel Coward; Negócios de Estado, de louis Verneuil; Cândida, de Bernard Shaw; e Santa Marta Fabril S. A., de Abílio Pereira de Almeida. Não que tenha sido uma vida sem sobressaltos no TBC. Tônia estava apaixonada por Celi, desde que o conhecera no tempo das filmagens de Tico-Tico no Fubá; Celi estava decidido a ficar com sua nova paixão e abandonar a diva Cacilda. Um dia deu-se o embate entre as duas, no ensaio geral de Dama das Camélias (melhor cenário, convenhamos, impossível), como conta Tônia, em entrevista a Simon Khoury no livro Bastidores, Editora leviatã: Uma tarde, quando cheguei ao teatro, o pessoal estava afinando as luzes para o ensaio geral e, do meu lado, estava o Celi, que colocou o braço em meu ombro. Houve uma parada cardíaca geral. Era cada olhão assim, para cima de mim; fingi que não percebia nada. Houve um mal-estar geral e, de repente, Cacilda arranjou um pretexto qualquer e saiu de cena. quando voltou, o refletor saiu de cima dela e, aos poucos, foi me focalizando. Tudo ficou às escuras, menos eu. (...) Fiquei na minha. Eles queriam que eu me sentisse uma intrusa e fosse embora. Fiquei. Tive que enfrentar. Eu tinha tanto direito de estar ali sentada, como aquela senhora tinha de estar no palco. éramos atrizes. Há quem diga que Cacilda depois desceu do palco e cochichou algo terrível no ouvido de Tônia, que nega veementemente esta versão. Tudo começou e terminou no palco. Ela continua querendo mais. Já havia conquistado o lugar de Cacilda Becker na vida de Adolfo Celi. Era hora de liderar a sua própria companhia, ao lado do diretor e do seu parceiro mais constante no palco. Nasce a Companhia Tônia-Celi-Autran, a CTCA, que estréia em 1956 com Otelo, de William Shakespeare, em que Tônia faz uma elogiada Desdêmona. quando decidi fazer Otelo não faltou gente para dizer: que ridículo, a Tônia querer fazer Shakespeare! Mas isso, em vez de me desanimar, me deu forças para enfrentar um novo desafio na minha carreira. Sob a direção de Celi, atua, entre outras, em A Viúva Astuciosa, de Carlo Goldoni, Entre Quatro Paredes (Huis Clos), de Jean-Paul Sartre; Frankel, de Antônio Callado; Calúnia, de lillian Hellman; e Seis Personagens à Procura de um Autor. quando ouvi do Benedito Corsi e de Paulo Autran que eu estava melhor do que Cacilda Becker na montagem do TBC de Seis Personagens, senti que havia alcançado o que sonhara. Só eu sei o que isso significou para mim. Cacilda era o paradigma das atrizes brasileiras. Meu Deus, eu havia chegado lá. No cinema, na década de 50, depois de É Proibido Beijar, de Ugo lombardi, e Mãos Sangrentas, de Carlos Hugo Christensen, Tônia dá um tempo para se dedicar somente à sua companhia, voltando em 1960 em Esse Rio que eu Amo, de Carlos Hugo Christensen. A partir daí sua carreira em cinema não continua com a mesma freqüência de antes. De vez em quando pintava um filme. Havia filmes nacionais maravilhosos na década de 60, mas eu fiquei fora do movimento do Cinema Novo. E gostaria de ter participado. Para o Glauber rocha me ofereci de graça, mas ele não pôde me convidar. Faz mais dois filmes na década: Copacabana Palace, uma co-produção brasileira, italiana e francesa, dirigida por Steno, e Tempo de Violência, de Hugo Kusnet. O teatro, porém, continua firme em sua vida. Em 1962, a Companhia Tônia-Celi-Autran se dissolve. Foi fundamental ter vivido a experiência de aprendizado com Adolfo Celi. Ele foi o homem que reformou tudo o que se pensava sobre dramaturgia e representação. Aprendi muito com ele, a quem devo eterna gratidão. E saudade. A última peça da CTCA foi um grande sucesso: Tiro e Queda, de Marcel Achard. Segue com sua própria companhia em espetáculos como A Dama do Maxim’s, de Feydeau, e Os Corruptos, de lillian Hellman. A inquietude, porém, começa a dominar Tônia. Ela sabe que pode fazer diferente, se arriscar, dar uma guinada em sua carreira, deixar de lado de vez a imagem da bela, uma bênção e, de certa forma, uma maldição. quase 20 anos e muitos prêmios separam-na de sua estréia como Alcmena, a deusa. Mesmo assim, muitos insistem em vê-la como uma mulher bonita que, por isso mesmo, não pode ser tão boa atriz. A oportunidade de virar a mesa surge com Navalha na Carne, de Plínio Marcos, dirigida por Fauzi Arap, em que Tônia vive a decadente prostituta Neusa Suely. Fauzi Arap é uma pessoa fundamental na minha trajetória de atriz. Ele me deu tudo para que fizesse a personagem. Até mesmo as pausas. Fauzi me ensinou o valor das pausas. Pausas lindas ele me deu de presente. Eu me apaixonei perdidamente pelo Fauzi e acho que a minha carreira foi definitivamente marcada por essa paixão. Seu trabalho sempre foi criativo, redondo, generoso. A sua criação de Neusa Suely é saudada por todos. E anos depois os críticos ainda afirmam que é o maior trabalho de atriz na história do teatro brasileiro. Os prêmios só confirmam o seu trabalho, que recebe o Molière de melhor atriz, por unanimidade de votos. A estrela está definitivamente consagrada. Nunca pensei que Navalha na Carne seria um marco na minha carreira. Para dizer a verdade a gente nunca pensa antes sobre isso, constata depois. Minha carreira foi feita de estágios, que fui vencendo um a um e querendo mais. Nunca me acomodei quando alcançava uma etapa, pelo contrário, lutava – e ainda luto – bravamente para alcançar outra. Essa é a minha história. Em 1970, volta a ser dirigida por Fauzi, em companhia de Paulo Autran, em Macbeth, de William Shakespeare. Mais uma vez pude compartilhar das idéias mais loucas e maravilhosas do Fauzi. A lady Macbeth, dentro da sua proposta, queria subir na vida, aparecer como uma pessoa muito importante para o homem, e não era nada disso: no fundo era fraca, frágil, tanto que acaba muito mal. Em 1971, interpreta a Nora de Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen, sob a direção do seu filho Cecil Thiré. Ainda com ele, comemora seus 25 anos de teatro com o grande sucesso de Constantina, de Somerset Maugham. logo depois protagoniza Doce Pássaro da Juventude, de Tennessee Williams, com direção de Carlos Kroeber e Cecil Thiré. Dirigida por Antunes Filho, faz Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?, de Edward Albee. No fim da década de 70, retoma o contato com Adolfo Celi que faz a direção da comédia Teu Nome É Mulher, de Marcel Mithois. Na década seguinte, protagoniza, entre outras, A Volta por Cima, texto e direção de Domingos de Oliveira, com direção do autor; volta a contracenar com Paulo Autran, que também dirige a montagem de A Amante Inglesa, de Marguerite Duras. Eu tive duas tias e sempre me lembro delas, cada uma era de um jeito. Uma era muito engraçada, divertida; a outra sofisticada, tocava piano, era meio maníaca, tresloucada. quando eu fiz A Amante Inglesa fui totalmente tomada por essas tias. Sempre usei a minha memória para interpretar minhas personagens. Tônia não pára: interpreta, com êxito de bilheteria, o papel de Sarah Bernhardt, em A Divina Sarah, de John Murrell, com direção de João Bethencourt. O cinema continua aparecendo, porém, esparsamente em sua vida: Gordos e Magros, de Mario Carneiro; Sonhos de Menina Moça, de Teresa Trautman; A Bela Palomera, de ruy Guerra; Fogo e Paixão, de Marcio Kogan e Isay Weinfeld. Meu maior sonho era ser uma grande atriz de cinema. No Brasil não houve nem há essa possibilidade. Ser estrela é bem fácil, sair do Estácio é que é o x do problema, como canta o samba. No teatro é hora de mudar de novo. Tentar algo novo, inusitado. E Tônia consegue isso pelas mãos de Gerald Thomas e na companhia de Sérgio Brito em Quartett, de Heiner Muller. A partir daí, sua carreira nunca mais é a mesma. Como se estivesse começando mais uma vez, Tônia está decidida a ousar sempre. Diretores não têm pudor de me dirigir, não. Dizem que está tudo errado. Gerald Thomas, por exemplo, me deu uma visão completamente nova do teatro. Em 1989, sob a direção de Márcio Aurélio, comemora 40 anos de carreira encenando um solo: vivendo Zelda Fitzgerald em Esta Valsa é Minha, de William luce. No ano seguinte, reencontrando o eterno parceiro Paulo Autran e o coral Garganta Profunda, aventura-se em Mundo, Vasto Mundo, uma coletânea de textos de Carlos Drummond de Andrade. Esse foi o último trabalho que fiz junto com Paulo. Nós convivemos bem a vida inteira, mas estávamos brigando muito. Ele tinha uma opinião; eu tinha outra. Era uma briga constante de opinião. Era, de verdade, uma discussão, não uma briga. E da discussão nasce a luz. Mas nossos pontos de vista foram ficando tão diferentes que acabamos não trabalhando mais juntos. Acho que eu deixei de acatar todas as opiniões dele. Mas nossa amizade, carinho, admiração um pelo outro permaneceram intactas. Na década de 1990, atua novamente sob a direção do filho Cecil Thiré em Ela É Bárbara, de Barillet e Grédy. Em 1999, associa-se mais uma vez a um encenador mais jovem, Eduardo Wotzik, para realizar Um Equilíbrio Delicado, de Edward Albee. Em 2000, está ao lado de renato Borghi em O Jardim das Cerejeiras, de Anton Tchekhov, com direção de élcio Nogueira. Em 2007, Tônia é dirigida pelo neto Carlos Artur Thiré em peça traduzida pelo filho: Um Barco para o Sonho, de Alexei Arbuzov, ao lado de Mauro Mendonça. Foi um exercício me deixar ser dirigida por um neto. Em vez de querer saber mais do que ele, calei a boca, aceitei as novas idéias, deixei vir o que ele tinha para me dar. O ofício do ator é um exercício de humildade. é dizer aquilo que alguém escreveu, comandado por outra pessoa, o diretor. O que nos sobra é a interpretação, uma centelha que precisa ser mantida acesa, sempre viva. Uma mistura de técnica e inspiração. No cinema é aplaudida em 2008 por sua interpretação em Chega de Saudade, de laiz Bodanski. A eterna deusa de beleza não se importa em se entregar a um personagem frágil, debilitado pela idade, mas ainda com uma enorme vontade de viver e dançar. Chega de Saudade me deu um enorme prazer. Aceitei tudo o que a diretora propôs, até mesmo aquele sapatinho horrível que usava. Adoro fazer cinema. Há quem reclame que se espera muito no cinema. Para mim, quanto mais demora, melhor, para você perceber bem o lugar, encontrar a personagem. E a televisão? Também está presente na vida profissional de Tônia. Desde a sua criação, a televisão brasileira conta com a bela em diversos programas como o teleteatro da TV Tupi de São Paulo, que estréia com a peça Dream Girl, de Elmer rice. Na TV Tupi carioca faz Teatro de Comédia Piraquê, com Paulo Autran, rosamaria Murtinho e Graça Mello, que tem um enorme sucesso. Na mesma Tupi, dirigida por Adolfo Celi, faz inúmeros teleteatros: Luz de Gás, de Patrick Hamilton, Um Pedido de Casamento, de Tchekhov, entre tantos outros. De um programa, Tônia se lembra particularmente: A Voz Humana, de Jean Cocteau. A peça foi escolhida às pressas, após problemas de direitos autorais com a que havia sido anteriormente selecionada. Celi e Tônia passaram a noite fazendo a tradução. Não houve tempo para ensaio do monólogo – uma mulher ao telefone com seu amante – e na hora de ir ao ar, Celi encontrou a solução: instalou uma extensão do telefone de cena e através dele passava o texto e todas as instruções de direção. Coisas de um tempo da televisão ao vivo. Só um casal com a cumplicidade de diretor/ atriz conseguiria tal feito, uma ousadia. A Voz Humana é um dos trabalhos mais elogiados de Tônia na televisão. Na TV rio, Tônia participa também dos programas de variedades, Noite de Gala e O Mundo de Tônia, retornando à dramaturgia em Teu Nome é Mulher. Em 1966, na mesma TV rio, faz a sua primeira incursão em novelas em A Mulher que Amou Demais, uma adaptação de Ana Karenina, de Tolstoi, que saiu do ar em poucos meses. Fiquei anos esperando que me chamassem para fazer novelas, porque era uma boa atriz, sabia que conseguiria segurar qualquer papel. Em 1969, estréia na TV Excelsior em Sangue do Meu Sangue, ao lado de rosamaria Murtinho e Francisco Cuoco. Seu grande estouro acontece na TV Globo em Pigmalião 70, ao lado de Sérgio Cardoso. Alguns anos depois repete o sucesso absoluto como Stella Simpson, na novela de Gilberto Braga, Água Viva. Em 1989, já na TV Manchete, Tônia faz Kananga do Japão. Depois de alguns anos na Globo eu já estava cansada de me repetir, de fazer a mesma coisa e de me indispor com os diretores, porque sabia muito mais do que eles. Em determinado momento, vi que estava errando muito ao ficar na televisão, pois ela só servia para popularizar o meu nome. Hoje, gostaria muito de voltar a fazer televisão e ter a fama que tive quando estava nas novelas. Coisas que acontecem na vida, que é feita de ondas, e nem sempre a gente sabe o momento certo de mergulhar ou de nadar. Onde quer que Tônia tenha passado, ela, sem dúvida, marcou presença. Pelo talento, ousadia, inquietude e beleza. Divina Tônia. Duvidar de si é fundamental. Ainda não fiz o melhor. Vou fazer. é falso se sentar em cima dos louros. O que se conseguiu é história e as pessoas esquecem. Seria inoportuno e fora de moda dar conselhos a jovens atores. qualquer coisa que se tenha feito antes é melhor não repetir. Adeusadopalco “Para nós, seus amigos de mais longa data, é Mariinha. Mas o direito de chamá-la assim cabe a uns poucos privilegiados. A aluna Mariinha, Maria Antonietta Farias Portocarrero, da Escola Normal, aos 14 anos de idade, convocava para as calçadas da rua Mariz e Barros uma quantidade de meninos boquiabertos, do Colégio Militar e do Pedro II. Cabiam-lhe uns versos de tango: Ibas linda como um sol / Se paraban pa mirarte. Seu pai, meu instrutor e depois meu amigo, o Capitão Hermenegildo Portocarrero, era o primeiro a confessar, com verdade e sem modéstia: a filha era de fechar o comércio. Eu, mais hiperbólico, afirmava então que, depois de Júpiter e de Boticcelli, ninguém inventara formas mais puras do que o Capitão Hermenegildo Portocarrero. O ganhador desse prêmio foi meu amigo Carlos Thiré, filho do temível professor Cecil Thiré, cujos exercícios de Matemática eu atravessava a duras penas. quando escrevi Um Deus Dormiu Lá em Casa, que então se chamava Anfitrião, para me ombrear com Plauto, Molière e Giraudoux, Silveira Sampaio quis dirigi-la para reabrir o Teatro Copacabana, renascido de um incêndio. Silveira Sampaio, diga-se de passagem, foi o mais intuitivo e estupendo ator-autor-diretor do teatro brasileiro. Tomou meus originais e dias depois me perguntou: ‘Você acha que eu posso representar sua peça?’ Coqueteria que respondi com uma ‘gaffe’ galanteadora: ‘Você é capaz de tudo!’. O empresário era o cabeleireiro e maquilador Fernando de Barros; o diretor era Silveira Sampaio; o cenógrafo, Carlos Thiré; os atores Mariinha, Paulo Autran (jovem amador, do Teatro de Amadores de São Paulo), Armando Couto, ator e autor incipiente do teatro infantil, Vera Nunes, estrelinha de radioteatro. E uma voz, que gritava do fundo do teatro, no fim do espetáculo: ‘Então, Anfitrião, tu és mesmo...?’ A voz de Nelson Camargo. Os ensaios eram socorridos por sanduíches que minha mulher trazia de casa; a avaliação dos efeitos cômicos faziam-na amigos de boa risada, Carlos Perry, Aldary Toledo Hernani Vasconcelos. No dia 13 de dezembro de 1949 Um Deus Dormiu Lá em Casa foi à cena: treze dias depois, ganhava os prêmios da crítica: melhor autor, melhor diretor, melhor cenógrafo, revelações de atriz e de ator. Tônia Carrero tinha nascido. quando esse acontecimento completou 25 anos, o ministro Ney Braga inaugurou, no Teatro Copacabana, uma placa de bronze, didascália do nascimento de Tônia Carrero e Paulo Autran, por obra e graça do modesto autor, do grande diretor, do requintado cenógrafo, cujos nomes não estão lá. Não faz mal: quem fez Tônia Carrero, de certo modo, fui eu: tomei a estátua de Mariinha e, humilde e orgulhoso Michelangelo, bati-lhe na cabeça e disse-lhe: ‘Parla!’. Numa noite apoteótica, nos jardins de roberto Marinho, entre convidados de smoking e piscina iluminada, fomos consagrados. Todos, menos eu: tendo faltado a voz que gritaria ‘Sentinela de Tebas, alerta!’, fui eu mesmo gritá-la, trêmulo, de papel na mão e isqueiro aceso para iluminá-lo, atrás de um bambuzal; ficara combinado que, apagadas as luzes do jardim, logo que se reacendessem era o sinal do início do ato – e o sentinela botaria a boca no mundo; vieram as luzes, berrei, ninguém respondeu; berrei de novo e de novo, desesperado; surgiu Silveira Sampaio, para estrilar:‘Cale a boca! Estamos no intervalo, o pessoal está todo tomando uísque!’. Era o meu fracasso de ator mas ninguém percebera: a platéia masculina cercava Mariinha, digo, Tônia Carrero, isto é, Alcmena, todos concordando que Júpiter tinha razão. Mas era preciso uma segunda comédia, para prosseguir a temporada da companhia. Uma noite, num bar, contei a Carlos Thiré que gostaria de escrever uma versão marota de Don Juan, na qual o Burlador não passava de um tímido perseguido pelas mulheres. No dia seguinte, Thiré me apresentou o cenário. Passara a noite em claro, desenhando-o, recobrindo-o com recortes de feltro: era uma sala espanhola, com balcão ao fundo, panóplias nas paredes, cadeiras de alto espaldar, comecei a escrever a peça. Volta e meia tinha de telefonar a Thiré: ‘Por favor, abra uma porta à esquerda, que um personagem tem que sair por aí’; ou: ‘Baixa a mureta do balcão porque é por aí que Dona Ana vai subir’. Don Juan foi à cena uma só vez no rio, numa noite de beneficência. A companhia seguiu para São Paulo e só lá Tônia Carrero – Dona Ana – mostrou que tanto poderia seduzir Júpiter quanto domesticar Don Juan, Anos depois, em Paris, numa tarde de compras encerrada com um champagne no bar Maxim’s, Mariinha me perguntou: ‘Você acha que eu sou uma grande atriz?’. respondi:‘é. Mas nem era preciso’.” Guilherme Figueiredo, no programa de Amigos para Sempre “...PauloAutrannosdeuumguerreirogregoaquemnuncafaltaautenticidade,fazendo parcomTôniaCarrero,sempreprecisanosgestosenacolocaçãodavoz,deacordocom ascircunstânciaseasintençõesdotexto–oquedáaambosodireitodeseremconsiderados, sem competidores, como sendo as maiores revelações teatrais de 1949.” A. Acioly Netto, em 31 de dezembro de 1949 – O Cruzeiro “Tônia Carrero, talento magnífico, que representa uma revelação estarrecedora em nosso teatro. Dir-se-ia não uma estreante, mas uma atriz de longo tirocínio, que alia à belíssima figura um talento dos maiores. Tônia representa um prodígio.” Gustavo Dória, 19 de dezembro de 1949, em O Globo “Poucasmulheresterãomaisencantoepoucasatrizes,senso mais fino e delicado de comédia do que Tônia Carrero.” Décio de Almeida Prado – O Estado de S. Paulo “TôniaCarreroéafiguraidealdamulherde hoje,sabendo dizer, graciosa e picante, e, usando dos seus atributos de seduçãonãoporcálculo,porimpulsonatural.Econfundidas a mulher e a atriz, toda ela é um encanto integral.” Mário Nunes, Jornal do Comércio “Nãofoifácil,porquetodosachavamqueeusópodiafazer comediazinhas leves, mas nessa peça mostrei que tinha capacidade dramática.” Tônia em entrevista a Simon Khoury no livro Bastidores, Editora leviatã “EusemprequistrabalharcomoPauloporqueelesemprefoiomelhoratorquejávinaminha frente.Alémdisso,oPauloémuitogenerosocomquemeletrabalha.Eledánosolhostudo que você quer ouvir. Ele dá no tom de voz tudo o que você pode sonhar.” Tônia “ConsideramosoOteloqueaCompanhiaTônia-Celi-AutranvemestrearnoTeatroDulcina a maior realização a que até hoje assistimos no teatro nacional.” Henrique Oscar, Diário de Notícias “Sua Desdêmona não só convence como encanta, comove e, pelo seu frescor e doçura, marca um medido contraste com as figuras tão diversas como de Otelo e Iago.” Henrique Oscar, Diário de Notícias “Para A Viúva Astuciosa, a escolha de dois elementos: o improvisado e o caráter-personagem nos inspirou um estilo de representação duplo: mais evidentemente satírico no primeiro, mais psicológico e reflexivo (sem perder de vista a moldura da época) no segundo. (...) quisemos fazer um espetáculo satírico e moderno.” Adolfo Celi, no programa da peça “EmHuisClostiveopersonagemqueprimeiromedesafiou.Foiummomentoterrível.Tínhamos montadoaCompanhiaTônia-Celi-AutranefizemosOteloparaoPaulo,AViúvaAstuciosa,queera levinha,paramim.AífuifazerHuisClosdoSartrecomMargaridarey,queeraumagrandeatrizejá tinha10anosdeprofissão,PauloAutranqueestavacadavezmelhor.OCeliperguntou:‘porquevocê querfazerisso?’.EuhavialidoeadoradoaquelaEstellee,desculpem,masganheiprêmioporela. Isso me deu uma força, me impulsionou muito.” “Paulo foi um comediante extraordinário, como não vi mais acontecer.” A personagem dela era rejeitada por cinco homens em uma ilha, e para isso usou um nariz falso. A Tôniaestápensandoque podeficarhorrorosaemcenaeaspessoasvãogostar–profetizou o dramaturgo e humorista Silveira Sampaio. Ele estava certo, a peça saiu de cartaz rapidamente. “Nossacompanhia,aCTCA,estavanaufragando,eraumfracassoatrásdooutro. Estávamosengasgados,semdinheiro,eCalúnianostiroudofundodopoço.” Tônia em entrevista a Simon Khoury no livro Bastidores, Editora leviatã “Nãoexisterealidade,sóaparência,dizPirandello.Oindivíduoestá‘condenado’aoraciocínioeàrazão, quantomaisagudaeesclarecedora,confundeeprovocasofrimento.ApersonagemPirandelliana, debruçando-sesobreomundo,vêentresieacoletividadeabrir-seoabismodopróprioíntimoededuz que os outros homens também vivem isolados num caos permanente. Ohomemnãopodeconhecer-seasipróprio;mesmoconhecendo-se,essasuadescobertaémomentânea: amanhã será outro homem, aquele que seu instinto lhe ditar, com outros desejos e com outras características.Sendoassim,oshomensjulgam-seunsaosoutrossobreaparências,sobreinstantes fugazes,sobreilusõesderealidade,queseráoutraamanhãeoutraainda,talvez,depoisdeamanhã. Os homens estão sós, condenados à busca de si mesmos, porque dotados de raciocínio. Pirandello é anti-social porque suas criaturas nascem isoladas, cada uma com seu problema. Nessatremendaepessimísticaconcepçãodevidasurgeapenasumsoprodeesperançaeestaéarazão dos Seis Personagens À Procura de um Autor. Seohomeméefêmero,suasilusõesnãoosão.Elepodeambicionaraeternidadecomasuafantasia: umapersonagemsendoumacriaturaartísticaéumailusãoeternaeindestrutível.Elassechamam, Eletra,Agamenon,Hamlet,Donquixote,Figaro,Faust,Brand,oPai,aEnteada,etc.Elassãovivaspara sempre: - basta abrir as páginas do livro que as contém. Pirandellocomumailuminaçãocerebraldasmaislúcidasdaépocacontemporâneaconseguiufixarum conflitogenialesurpreendente:doouaosseusseispersonagens,imaginando-os,arazãodevida, negando-lhesaseguiraharmoniadeobrarealizada,ouseja,semcompletar-lhesasrespectivashistórias ecomumacrueldadediabólica,quisexpressarjustamenteosofrimentodeseispersonagensquesendo inacabadosbuscamumoutroautorquedesembaracedeumavezportodasoemaranhadodeseusdestinos. APersonagemdePirandello,porém,nãoésímbolo,nemumserfantástico:éohomemeterno,oobjeto artísticotransfigurado.Suador,suasolidão,suaofeganteprocuradepurezasãofixadasparasempre na expressão dramática da obra. OúnicoconsoloparaPirandelloéodepoderservirdeinstrumentodecriação:transmitirdesesperadamente seus caos para a posteridade. Suascriaturas,sempreconvulsas,seaplacamporummomento,quandomudas,ausentes,refletem oalém;quandoseusolhosvidradoscontemplamofuturo,comocertasesculturasprimitivasreproduzem enigmaticamente uma opinião do Infinito.” Adolfo Celi no programa da CompanhiaTônia-Celi-Autran, sobre Seis Personagens à Procura de um Autor “Buscaraemoção–sempretiveessedom.Nuncativeproblemadeencontraraemoção, porquevivimuitasemminhavida:commeuspais,nosmeuscasamentos,noconvívio comosamigos.Etudoissouseinopalco.Issoninguémensina,agentetemdentroounão. Nemsempreoatorbrilhasimplesmenteporquetransmiteemoção.Comigofoiassim. O Paulo, por exemplo, brincava, fingia à vontade e funcionava do mesmo jeito.” O que leva uma mulher ao palco? Está aí uma coisa em que o homem e a mulher são idênticos: a vocação. Qual a principal qualidade de uma atriz? Nascer com uma estrela na testa. Uma atriz pode ser burra? O que é, afinal de contas, uma atriz? A mulher que está eventualmente no palco, recitando um papel? Não. é a pessoa que coloca a sua inteligência a serviço de um autor. logo... E a beleza de uma atriz sempre ajuda, nunca atrapalha? A beleza ajuda sempre, em tudo. O papel que você encarna, também encarna em você fora do palco? No período dos ensaios, às vezes. Depois, não. Qual o papel que lhe deu maior prazer de representar? O atual Josefa, de Tiro e Queda, unanimemente considerada como a minha melhor criação. E qual deu mais trabalho? A Desdêmona, de Otelo. Você já interpretou algum personagem que não seja de sua simpatia ou, pelo menos, que não esteja na sua linha psicológica? Não e nem pretendo. Aliás, se o fizesse, não o faria. Você representa fora do palco? quando convém, como todo mundo. Você tem a permanente consciência de que é atriz? No palco, sim. Fora dele, quem me dera. Um ator é uma pessoa teatral? é uma pessoa – a primeira do singular – teatral. E os gestos teatrais, na vida real, lhe agradam? Os gestos teatrais não me agradam nem no teatro. Então qual o sucesso que lhe agrada mais: no palco ou fora dele? O sucesso é um só. Uma coisa decorre da outra. Por falar em sucesso, ele é essencial? é essencial para tudo na vida. A glória (ser reconhecida, autógrafos, etc.) conforta e enobrece? Ou aborrece o artista e rebaixa o verdadeiro talento? Conforta muito. Jamais rebaixa. Gente do teatro é gente normal, ou aquela desconfiança das boas famílias tem alguma razão de ser? Você acha essa pergunta educada? Você consegue gostar de uma pessoa que não gosta de teatro? Não. Principalmente quando a pessoa confessa. Enquanto você representa, sente e acompanha a reação do público? Completamente. louis Jouvet costumava dizer que o espetáculo acontece metade no palco e metade na plateia. E a tendência do público é para ser generoso? A relação ator-público é mediúnica e imprevisível. Às vezes basta um pé-frio na plateia para todos os demais espectadores se tornarem monstros. Qual o melhor público, o carioca ou o paulista? Não há diferença. Qual a pior situação: casa cheia, com um público hostil, ou casa vazia? Casa vazia. Mas um público hostil impõe ao artista tremendo sofrimento moral. O eventual fracasso de uma peça dói muito? Tanto quanto perder uma pessoa amiga. E a tendência da crítica é para ser enjoada, severa ou incompreensiva? Abstenho-me de fazer críticas à crítica. Os grã-finos são bons espectadores? Em grande número, são gelados. Você já experimentou representar para uma plateia popular? Que tal? Já representei até no meio da rua. é lindo e emocionante. Você não acha que, no Brasil, os chamados intelectuais têm pouco gosto pelo teatro? De jeito nenhum. O que você prefere: arte pela arte ou arte engajada? Todo bom teatro é válido. Claudel ou Brecht, Gheon ou Sartre, disseram bem suas ideias e fizeram bom teatro. Mas, quando o autor pretende transmitir unicamente ideias, nada sobra. No Brasil somos obrigados a um engajamento pelo menos de ordem econômica. é preciso, antes de tudo, fazer teatro para o grande público pagante. Ou, então, não fazê-lo como profissão. Você nunca pensou em escrever uma peça? Penso todos os dias. Fazer rir é melhor do que fazer chorar? O essencial é transmitir emoções. Sendo relativamente caro, o teatro é feito só para gente rica? Teatro, no Brasil, é feito para a classe média. Ou seja: para os burgueses. Por que, a seu ver, ainda são poucos os escritores brasileiros que se dedicam a escrever para o teatro? Porque escrever para o teatro é um dom diferente e divorciado do resto da literatura. Sem problemas financeiros o teatro seria melhor? Seria teatro, mesmo. Você tem a consciência de ter contribuído para melhorar o teatro no Brasil? Até hoje, não. O teatro é que me melhorou muito. Mas a tarefa de aprimorar a nossa arte cênica terá o meu empenho durante toda a vida. Falta espírito de equipe ao teatro brasileiro? Ou sentimento de classe? Falta força política à classe teatral. Temos espírito de equipe, e muito. Qual o maior inimigo da classe teatral? Chuva e crise política. Futebol, às vezes. Você acredita em escola dramática? A escola dramática é imprescindível para a formação de um verdadeiro ambiente teatral. Ou artista nasce? Nasce, também. Assim como nasce o médico e nem por isso sai operando antes de cursar uma escola. Um diretor pode inventar um ator? Só por uma peça. Depois o público descobre o truque. Um bom ator precisa conhecer, ler e ver os teatros grego, romano, elisabetano, clássico, expressionista, realista, etc.... ou o teatro está no sangue e o resto é bobagem? O teatro deve estar no sangue, e o resto na cabeça. Você gostaria de ser uma espectadora de Tônia Carrero? O videoteipe já matou essa curiosidade. Com quem você gostaria de contracenar? Com Marcello Mastroianni. Você vê teatro? Sempre que posso. Qual a maior alegria que o teatro lhe proporcionou? A primeira, quando fundamos a Companhia Tônia-Celi-Autran com grande amor, entusiasmo e obstinação. A mais recente, quando tudo era caos, dívidas e falta de fé, e contratando um novo diretor, o espanhol Cabo, obtive enorme sucesso com a minha Josefa. Paguei débitos que orçavam pela casa dos cinco milhões. Isso me trouxe indisfarçável orgulho e sentido de independência. O que é maturidade de um artista? é quando ele já não dá qualquer passo à frente. Você se considera, agora, artisticamente amadurecida? De forma alguma. Se você fosse proibida de fazer teatro, sua vida seria viável? Vazia, vaga e vagotônica. Você vive do teatro ou para o teatro? Vivo para o teatro e faço teatro para viver melhor. Otto lara resende, publicada no programa de Amigos para Sempre “Maurice Vaneau foi o diretor mais difícil com quem trabalhei. Na estreia de qualquerquartaFeira,eledissequequeriaterumapalavrinhacomoelencoantesde abriropano:Jardel Filho, Margarida rey, SergioViotti e eu. Ele disse uma palavra paracadaumderecomendaçãoeentusiasmo.Eu,donadacompanhia,esperando. Elevirouedisse:‘Vocêéaatrizmaischatacomquemjátrabalhei.Nãoqueronunca mais te ver’. Aquilo me derrubou, nunca mais consegui fazer a peça direito. Anos depois, na casa de Walmor, descendo no elevador, ele me disse: ‘Sabeporqueeutedisseaquilo?Porqueaminhamulhernãotesuportavaemepediu’.” Tônia no programa roda Viva local: rio de Janeiro, Brasil época: 1967, Presidente Costa e Silva Personagens: Ministro da Justiça Gama e Silva Atriz – Tônia Carrero Ministro – Está proibida a peça. Nossa Censura não pode liberar texto tão vil! Atriz- O teatro precisa justamente da liberdade de pensamento sem censura! Pela décima vez venho aqui para lhe assegurar que se trata de uma obra de arte, de denúncia de grave problema social e grande alcance político. Ministro – Por isso mesmo, não! Além do mais, não encontro nenhum valor neste texto. é imoral. Atriz – Senhor Ministro, não desistirei. Voltarei aqui quantas vezes for preciso. Ministro – Pois bem, minha senhora. Não fosse seu prestígio junto ao público eu não hesitaria, ouviu bem? Agora a responsabilidade será sua. quero ver o que acontece à sua carreira quando o‘seu público’ouvi-la pronunciando estas palavras de baixo calão. Uma prostituta! A Sra. vai se arrepender. Não diga que não avisei! Peça liberada. Consagração maior na carreira da atriz. Telegrama do ministro desmemoriado congratulando-a por ‘êxito em texto brasileiro tão profundo e real’. Não obstante Plínio Marcos e todos aqueles que lutavam pela liberdade continuaram com todas as suas obras proibidas até o final da ditadura militar, que no nosso país durou 20 penosos anos de obscurantismo e marasmo cultural. Parte do manuscrito de Tônia Carrero, contando a saga que foi liberar Navalha na Carne, em época de dura censura à arte “NavalhanaCarnepermanececomo umdosmaiores trabalhos deTônia em tantos anos de carreira. Pouco depois da estreia a sua criação da prostitutaNeusaSuelyfoiapontadapeloscríticos,consultadosempesquisa realizada por um jornal do rio, como o maior trabalho de atriz do teatro brasileiro até aquele momento. ParaTônia a realização desse trabalho teve a mesma significaçãodePega-FogoparaCacildaBecker,Eletrapara Glauce rocha ou lágrimas Amargas de Petra Von Kant para Fernanda Montenegro.Ouseja:foiumdaquelesmomentos(que,segundolaurence Olivier, acontecem duas ou no máximo três vezes na carreira de um intérprete)quando atrizepersonagemsefundemnumacomunhãotão profunda que as emoções vividas do palcochegam ao espectador com todaa dimensãodo serhumano, transformando-seemsensibilidadeparasempre.NavalhanaCarnefezde TôniaaquintaatrizareceberoPrêmioMolièredeTeatrocomoamelhoratriz do ano, e a primeira a ser premiada por unanimidade de votos.” leonardo Thierry, em pesquisa sobre a atriz “éumaânsiainteriorquetemqueencontrarum ecoemquemnosouve.Esseéoofíciodoator.” Constantinaestreouem1974eficoumaisdeumano em cartaz noTeatro Copacabana, no rio de Janeiro. Depois excursionou por várias cidades brasileiras. “TôniaCarrerofaz25anosdeteatro.Jubileudedomíniopúblico–todososqueseinteressam sabem. Para anos, de teatro, isso tem um significado grande, podem crer; é possível! Vinte e cinco anos – uma carreira. é possível! Nós,quesobreastábuasdopalcosuamosnossodia-a-dia,temosumarazãoamaisparacrere continuar,reforçoparanossavocação.Mastudoissoédeordemgeralequerocontarumparticular. Tônia,paramimmamãe,mamãechameisemmudançaoualternativanochamaratémuito poucotempoatrás.Mesmoquandonosdeparamospelaprimeiravezfrenteafrentenum tablado (Falando de rosas, 1969), ela era a mãe e eu o filho. Eu dizia mamãe no texto e no trato,nacenaeforadela.Doisanosmaistardefuidiretordestacolegaem CasadeBonecas. Aofalarcommeuelenco,entreosváriosatoresesbarravacomumafiguraqueeramamãe, masquenãoeramais.Em1971surgiunasminhasrelações(profissionais)umapessoaqueeu chamodeTônia(achoquefuioúltimonoBrasilachamá-laassim).Deláparacátrabalhamos muito:CasadeBonecasviajoupeloPaís,remontamosTiroequedanoCopacabana,fizemos sucessos,deupé,enturmamoseviramossócios.Edecamaradagemsofridapornósdoisnesses trabalhossurgiudemimpraelaumnomenome-apelido:Tunica.édessaquequerofalar. Comotrabalha!Nãotemmedodeerrar.Selançaainterpretarcomferramentadeprofissional edespojamentodeamadora.Estimula.éimprevisíveleinesperada,exclusividadedosbem dotadosoudosgrandesartíficesdanossaprofissão.Elasabe,nãosabe;quersaber,erratudo. Tumultua.Elaacertamais.Elaéfogo,umabatataquenteemnossasmãos.resultado:agora, nosensaiosdeConstantina,ganhoudemimnovoapelido,designificadomaispróximodoque elarealmenteénostrabalhosaquesededica.Comamaiorsem-cerimônia,estouchamando esta senhora de Tônica. Acho que ela realmente é uma. Viva ela.” Cecil Thiré, o diretor de Constantina “Somosmuitosalutarporumaprofissãomuitodifícil.” “ésempreindomaisfundoqueserenovaumpersonagem.” “SarahBernhardtinterpretouJoanad'Arcnoteatro,quandotinha60anos.Nacenadojulgamento, perguntam:‘'quantosanosvocêtem,minhajovem?’.Eelarespondeu:‘Dezesseisanos’.Elatinha tamanhaconvicção,verdadeeentregaaopersonagemqueaplateiainteiraaplaudiudepé. Ela podia interpretar uma garota, mesmo já sendo madura. Essa é a maravilha do teatro!” “TôniaCarreroocupaumaposiçãoàparteentreasatrizesdasuageração.Asuaestonteante belezaeasuainataauradeestrelacriaramemtornodela,pormuitotempo,aimagemdeuma atrizinegavelmentesedutora,masumtantopesoleveesuperficial,predestinadaabrilharem comédiasinconsequentes,masdificilmenteaptaaenfrentardesafiosmaiscomplexos.Elafoi afiandopacientementeoseuinstrumentalinterpretativo,revelandoprogressivamenteuma sensibilidade,umaintuiçãoeumagamaderecursosquelhepermitemabordarpapeisfrontalmente opostosàsuaimagempadronizada.Eamaturidadetrouxe-lheumaousadiaquetemampliado substancialmenteasuadimensãodeartista,semprejuízodasuapresençasempreelegante e sedutora, e dotada de um prodigioso dom de eterna jovialidade.” Yan Michalski, em Pequena Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo “Dezembrode1985.Off-Broadway.EntronumteatrochamadoTheaterfortheNewCity.Vejoapobreza doambiente.Elesnãoseincomodammuitocomaafluênciadopúblico;nãotêmaquelapremênciaque nóstemosquandofazemosteatro,queeutiveavidatoda,porquemesustenteiecrieimeufilhosozinha (daíqueoaprendizadodadisciplinadotrabalhonãoseperdenuncamais).Elesreduziramoteatropara 60cadeiraseeuvejoaqueleambientecheiodeposters,deconvitesparaconferências,fotografiasde antigosatoresquepassaramporali,vejoapresençadeJudithMalina,demuitasoutraspessoasconhecidas. Oambienteétodofervilhante,tãoforadoscânonesestabelecidospeloteatroprofissional(essescânones quedizem,porexemplo,quequantomaisanosseficaemcartazmelhor–quandonaverdadeacucado ator se cansa por ficar mais de quatro meses no mesmo lugar). Umambientedesordenado.SurgeDanielaThomas,aindaàquelaaltura,momentosantesdaestreia, todasujadetinta,comumpincelnamão.EsurgeGeraldThomas,umjasmim,vestidodepretocomo sempre,masumjasmim,comseuperfume.Elesurgeediz:‘Estamosnervosíssimos,sabe?éanossa estreia.Vocêsjásabemondevãosentar?Euestoutãonervoso...’Eleficaali,postoemsossego,esabe que aquelanoitevai condená-lo ouvai trazer-lhe prêmios(que agorasabemosafinal lhe trouxe). Cadamomentodesses,antesdaestreia,éaalegriaqueasmulheresconhecem–segundoHeinerMuller sónós,asmulheres–porqueécomoomistérioinfinitodeterumfilho,deamamentar,devercrescer. Essemistérioéquefazagrandediferençaeasuperioridadedasmulheresedosartistasdomundo. Sentadanumbanquinhoquemeobrigavaaficartodatorta,euassisti,talvez,aumadascoisasmaisricas emproduçãodecucaqueatéhojeeutenhatestemunhadoacontecer.Eagora,seismesesdepois,eisque eumesmaestouenvolvidanomesmotextodeHeinerMuller,comdireçãodomesmoGeraldThomas. Senãoéumaexperiênciainteiramenteinéditaparamim,éporquerecentementeeufizAAmanteInglesa, deMargueriteDuras,quefoitambémumaexperiênciamuitoenriquecedoradochamado‘deixarcairtodo o supérfluo’, e fazer existir apenas um diálogo, um texto. Agora,umacoisaalgoparecidaserepetecomotextodeHeinerMuller.Euficoemcimadeumtexto feitoumadoida.Sabeporquê?Porqueeutenhoqueentenderaintençãodoautor.quandoelaficaclara paramim,seiquevaificartambémparaopúblico,mesmoqueGeraldmemandefazerumacoisa completamentediferente.Porqueentãoeuvoumisturarumacoisacomoutra.Sãotrêscoisasquese misturam,ouquatro:oHeinerMuller,atraduçãodoMillôr,oqueeutereientendidodissoeaintenção dodiretor,doartistaquemeconduz.Euachoissomuitoenriquecedor.Jáomeucompanheiro,queeu muitoestimoeadmiro,SérgioBritto,achaenriquecedorparanósfazerumexercíciodequedanoabismo: tapaosolhoseseatira.Eessepulo,quesepodecompararaodopára-quedista,étudooqueassusta, masquepodenosconduzirparafrente.Talvezaminhasegundaexperiêncianessecamposejaassim. Masporenquantoeutenhoqueentender,paradepoismeatirar,sempensaremcomoseráopanorama final.Seeuachoqueopúblicoestárecebendoumpresentedebeleza,temmaisbelezaoqueeufaço. Essaconcepçãodeveserumacoisaretrógrada–afinal,eutenho36anosdeteatro.Umlaivodeteiade aranha,debarroquismonaminhaalma,hádeficar.Eutenhoumperfilbarrocoejásoubarrocapela idade.Vocêachaqueomeupensamentopodesercompletamentenaif,comoodaquelajovemfantástica chamada Bete Coelho, que eu vi fazendo Carmem com Filtro em São Paulo, que executa tudo à perfeição.GeraldThomasmandoufazeraquiloeaquilosefaz–eoquefazéassustadordebeleza.quem me dera ter essa simplicidade. Eu não consigo. O Sérgio é mais fresco do que eu, no bom sentido. quandocheganahoradotexto–eu,textoeespectador–euquerosercomoumrebatedor,saberem quesoleuvoumeampararparaqueaquilochegueamimeeuopasseparaafrente.émuitoinquietante, muito bom. éumabenção,umbálsamo.Eu,queacabodemenegaraparticipardeumempreendimentocomercial muitobom,bemescrito,vejoqueestoumelevandomuitoasérioequeissoéumacoisamuitoboaparamim. Nãoconseguificardeformada,atrofiadapela preocupaçãocomercialqueoacúmulodotempo dá até maisdoque oiníciode carreira.Eu estouseguindo,assim, uma diretrizoposta àdamaioria dos meus companheiros.” Tônia Carrero, no programa de quartett “...ParaTôniaCarreroestaéumanovaetapa,umnovoposicionamentoemsuacarreira.Apresentando aopúbliconãosósuamaisqueconhecidabeleza,mastambémumtrabalhosérioesóbrio.Tôniamostra um amadurecimento de atriz que prova que o risco dessa guinada radical foi bem calculado. quartettficabemlongedarotinadoteatrocarioca;massemdúvidaéumdosmaisbelosespetáculos.” Bárbara Heliodora “ÀmerapronúnciadonomeTôniaeujáestousorrindodeorelhaaorelha,cheiodecarinho,comoé difícil hoje em dia. quantas pessoas que você conhece que surtam o mesmo efeito? SempreacheiumapenaqueoclichêquedesabousobreaTônialogocedonavidadela–beleza,juventude, rejuvenescimento,etc.–nuncatenhasidodescrito,oubemdescrito,pornenhumamigoourepórter comotendoumepicentrotãodelineado,tãoóbvio:curiosidade.Podeseratépreocupanteconfessar isso, mas nem na minha faixa etária eu deparei com uma pessoa tão curiosa, canibalescamente curiosa, investigativa e inquieta. logonoiníciodosensaiosdequartetteurepareiqueaimagemàsvezesausteraqueaTôniaprojeta setransformanoolharúnicodecriançaquerendoentender,procurandodetodasasformasentendere absorver tudo. Todos os lugares, todas as pessoas, todas as relações. Essa absorção é intensa. NinguémsaidepertodapresençadeTôniaimpunemente.Edequantaspessoasnomundovocêpode dizerisso? JessyNorman?MariaCallas?quantas?quantaspessoasdetonamnasnossascabeçasa imagem de um mito no momento em que seus nomes são pronunciados?” Gerald Thomas, no programa de Amigos para Sempre “E daqui a pouco vamos completar 40 anos de palco! quarenta anos de paixão, de amizade fiel e dedicada, de companheirismo! lembro-medenossaestreia.13dedezembrode49.Tôniaqueriaquetudofosseomelhorpossível! Contratou omelhordiretor daépoca, omaismoderno,o mais ousado,omaisinteligente–Silveira Sampaio. Escolheu um texto do melhor autor brasileiro do momento – Guilherme Figueiredo. E começamos a trabalhar. Oensaionão era suficientepara ela. Contratou lidia Costellat, amelhor bailarinado rio, para nos aprimorarmosfisicamente.Etínhamosaulasde‘ginásticarítmica’todososdias.Eraaquehojechamam de ‘expressão corporal’. Foi ela quem me chamou a atenção para a educação da voz. Você tem que colocar a voz! Precisa estudar! Eeraumadedicaçãototal!Tônianãosecansava.Trabalhavasemparar.Elaacertouemtudo.logoapós a estréia vêm os prêmios – 5. 1 – Melhor peça do ano – Um Deus Dormiu lá em Casa, de G. Figueiredo. 2 – Melhor diretor do ano – Silveira Sampaio por Um Deus Dormiu lá em Casa. 3 – Melhor cenógrafo do ano – Carlos Thiré por Um Deus Dormiu lá em Casa. 4 – revelação de ator – Paulo Autran por Um Deus Dormiu lá em Casa. 5 – revelação de atriz – Tônia Carrero por Um Deus Dormiu lá em Casa. Era o seu instinto para o teatro falando mais alto que tudo. ETônia foi conquistando seu espaço. desenvolvendoseutalentoesplendorosoàcustadotrabalho,derespeitopelotrabalhodosoutros, de suor. Venceu brilhantemente o preconceito estúpido contra a ‘mulher bonita’. FoiumaDesdêmonaapaixonada,deinsuperáveldelicadezaemOtelo,foiumaladyMacbethdeforçae tragicidadeempolgante,foiumaprostitutadecadenteemNavalhanaCarne,dePlínioMarcos.Comfinura erequintedominaacomédiadeboulevard.FezvanguardacomGeraldThomasemquartett–quelhevaleu mais um prêmio Molière, há dois anos. Uma atriz completa. Uma grande atriz. Tônia Carrero. Minha amiga de toda a vida.” Paulo Autran, no programa de Esta Valsa é Minha “Háummomentonavida,curtotalvez,emqueamaturidadeinstaladaealucidezintactanos fazemrefletircomclarezasobreaimportânciadaamizadeemnossaexistência.Amizadeé amor.Emaisimportantedoqueamor,quandoacalentadapelavidaafora.Aminhafelicidade emfalar,pelaprimeiravezpublicamentesobremeurelacionamentopessoalcomestagente maravilhosa é imensa.” Tônia no programa de Amigos para Sempre “Esteprojetoéimportantenãoapenasportrazeraospalcoscariocasessafiguraemblemática do teatro brasileiro interpretando algumas das mais belas páginas de nossos autores. Seueixoéaevocaçãodeumatrajetóriaaolongodosmomentosmuitofecundosdavidacarioca. EmsuasreminiscênciasTôniareviveostemposdeintensoconvívioentremuitosdosmaiores eintelectualmentemaisprivilegiadosartistasquenossopaísproduziu.Poracasoseusgrandes amigos.Equeeramtambémsereshumanosmaravilhososquecultivavamaternuraeadelicadeza desentimentos.Naquelaépocadeumriomaistranquilo,dedicaram-sedecorpoealmaao convívioafetuoso,àamizadeprofunda.Encontrando-secomumafrequênciaquenãosevêmais nosrelacionamentosdehoje,podemosimaginarariquezadesuainteração.Tôniaéumrepositório, umarquivovivodelembrançasdessetempo.Eagoraeladesejareparti-lascomopúblicocarioca. Oespetáculoafirma-seassimcomoumtestemunhoemocionadodeumpassadomágico.Daísua importânciacomoeventoculturaltocandodepertooriodeJaneiro.Oscariocasdehoje, conhecendoosdeontem,visualizandoavida,apaisagemdeoutrora,comodescendentes,produtos dissotudo,estarãoaomesmotempoconhecendomaisprofundamenteasipróprioseàsuacidade.” luiz Arthur Nunes, no programa de Amigos para Sempre “Tinhaunsseteanos,dançavacomoumaborboletinhaepediàminhamãeparaestudarballet. Deus me livre! – ela disse – Se eu descuido, essa menina acaba no palco. Assim, minha mãe, D. Zilda, me revelava a vida, como se fora uma vidente, e prevendo não sóo meu futuro,mas o de toda umafamíliapós-Tônia, dedicadaeapaixonada pelo teatro. UmEquilíbrioDelicadodormianoinconscientedasminhaspredileções,quandodoisamigos maravilhososvierammesugerirumprojetoparaoBancodoBrasil.Vibrei,eganhamosassim odireitoderealizarumantigosonhoacalentado.Nesteanode1999,farei,emdezembro, 50anosdecarreirateatral.Paratãolongoamor,tãocurtavida!–dizopoetaeocopioagora. Agora?AgoravouserAgnesdeEdwardAlbee.lávoueu.Euaprocuronodia-a-diadosensaios, parairvendo,descobrindoseuscontornos,jánãomaisforademim,masnomeucoração,agora. AmoAgneseaapresentoavocês,comsuaobstinaçãoem‘equilibrarafamília’,símbolode umaeducaçãoquepoucoapoucosedesfaz,seesfacelaevirapó.DescrenteetristeAgnes! Vaitentando,comcoragemsobre-humana,serarepresentantedeumaraça–decadenteou cheiaderazão?Odilemaéassimapresentadoavocês.‘Aqui,nesseespetáculo,vocêdecide.’ Você e sua consciência. Vejo-me diante do público, ao lado de pessoas: Walmor,luísdelima,Camilla,ClariceeIttala,ospares,oscúmplicesnestahistória,cadaum maiscompetentequeooutro.Aoladodeumdiretorjovem,quepelaprimeiravezdirigeuma peçarealista,comalgunsatorescujatrajetóriaprofissionalémaislongadoquesuaprópriavida. Umjovemobstinado,comouvidoincomumparatons,inflexõeseritmo,comoéWotzik,aolado deumaequipetécnica,desdeCarla,Fernanda,Paulinha,Beleoutras–sempremulheres! Como se cerca bem deste time feminino! – e se faz querer e respeitar. Estamos aí. E, como sempre digo, fazemos teatro para sermos compreendidos e amados. que o público nos ame como amamos Edward Albee.” Tônia Carrero no programa de Um Equilíbrio Delicado “Cada etapa da vida é marcada poruma idadeque varia de pessoa para pessoa. A infânciapode se prolongar, a meia-idade pode vir mais cedo, etc. Oquemaismeadmiraaoobservarminhamãeaolongodaminhavida(jánãotãocurta;60,anoquevem), éoímpetojovial,avigorosaalegriacomqueaviatravessarasetapasquetestemunhei,testemunho e espero estar aí para testemunhar. Osegredodajuventudetãolongevademinhamãedeveestarligadoaoentusiasmoquetemparase lançaracadanovoprojeto.Alegre,generosa,semnenhumtipodetemordiantedavida,assimavi passardejovemquaseingênuaentrandonamaturidadelentaegradualmenteemantendo-seneste processodeamadurecimentoenquantoosaniversáriosteimamemdizeraelaqueesmoreça,abrande o ânimo, diminua seu fogo, acomode-se e se recolha mediante o avanço da idade. qual o quê!!! Vou montar A Visita da Velha Senhora! Não acho boa idéia, mãe. Uma produção grande demais. Tanto melhor! é complicada demais. Olha, vou traduzir rapidamente para você avaliar melhor, em português, o tamanho da loucura. (passagem de tempo) Adorei! A peça é linda! A tradução está boa. Estou no maior entusiasmo! resta a mim e a todos nós (exceto aos colegas que estão em cena) sentarmo-nos na plateia, iluminarmosnossosolhoscomafascinantepresençadelaemcenaeaplaudirmosfreneticamente. Bravo!!! Bravo!!!” Cecil Thiré, no programa de A Visita da Velha Senhora “Vocês podem lá saber o que é uma amizade de tantos anos? FalaremTôniaéfalarembeleza,oumelhor,emesplendor,emtalento,emdedicação,emdisciplina, em inteligência e charme. Mas a qualidade mais rara que ela possui, numa dose difícil de encontrar num ser humano, é a Generosidade. Assim,comGmaiúsculo.Generosaemsuaformadeencararavida,aspessoas,emsuacapacidade de perdoar, de julgar sempre bem as outras, em tudo. Em1960Tônianãoquis fazer AVisita daVelhaSenhora.Celie euinsistimos, inutilmente.Ainda não estou preparada para esse papel! Era o que ela nos respondia, sabiamente. Agora chegou a grande ocasião: Uma grande peça, uma grande atriz! Bravos Tônia! Eu te amo.” Paulo Autran no programa de A Visita da Velha Senhora “Convidada,aos40anos,parainterpretarAVisitadaVelhaSenhora,TôniaCarrerorecusou.Nãopela vaidadedeevitaroenvelhecimentodapersonagem,maspelalucidezdesesentiraindadespreparada paraenfrentá-la.Issoporqueaatriznãocairianaarmadilhadepensarqueabelezaeraopassaporte para triunfar em qualquer aventura. Tônia,aliás,sempredescartouasarmadilhas.Asinvejosasnãoadmitemquesepossater,simultaneamente, beleza e talento, o que seria uma injustiça da natureza. Nela, o talento tirou partido da beleza, ou, se quiser, a beleza se aproveitou com inteligência e talento. Daíapermanenteharmoniadaconstruçãodesuacarreira.Aquelesqueaviram,em1949,naestreia deUmDeusDormiuláemCasa,deGuilhermeFigueiredo,sabiamestardiantedeumaestrelaque despontava, e, mais que estrela, de uma autêntica atriz. que só fez amadurecer, ao longo de cindo décadas. Orepertóriomodernoeoclássiconãotiveramparaelanenhumsegredo.Tôniaexercitou-seemvários gêneros.Ambiciosanocultivodetodasaspossibilidades,lutoucomdeterminaçãocontraaestúpida Censura, para liberar NavalhanaCarne, de Plínio Marcos, e, vitoriosa, obteve na peça um de seus maiores triunfos. Em magnífica entrevista concedida a Simon Khoury, no livro Bastidores I (rio de Janeiro, leviatã Publicaçõesltda.,1994),Tônia declarou:‘Oquenostornaatrizesémaisoumenos amesmamola. Primeiro, a vontade de seexpressar;segundo, a necessidadede servir à humanidade; e terceiro, emaisimportante,osairdesi’.Outraconfissãoaomesmoautor:‘Sehojesouumaatrizmaduraeposso interpretarosgrandessofrimentosshakespearianoseoniilismodeumBeckett,éporquesóagoratenho vivência’.Emconclusão:‘Eusóvouterexistido,sóvouterpassadopelavidasemserembrancasnuvens, porque fiz teatro com convicção, verdade e paixão’. Nãosurpreende,depoisdetãoricatrajetória,queTôniaCarreroviva,finalmente,aprotagonistade AVisitadaVelhaSenhora,agrandepeçadeDurrenmatt,umadasobras-primasdoteatromoderno. Sómecabeaugurarqueesseencontrocoroeafecundajornadadaatrizesetorneummarcodonossopalco.” Sábato Magaldi no programa de A Visita da Velha Senhora Senhoras e senhores, muito boa-noite!! Sejam bem-vindos à Tônia Carrero! quer dizer, desculpem, desculpem. Não é ‘bem-vindos à Tônia Carrero’, é ‘bem-vindos ao Tônia Carrero’. Pois é, Tônia Carrero é o nome do teatro onde vocês estão sentados. Mas é também o nome de uma pessoa, uma atriz, maravilhosa: Tônia Carrero. que, aliás, está aqui entre nós. Ela está bem aqui. Aliás, o teatro também está aqui. Pois é, eu sei, parece meio confuso, mas eu vou explicar: é que o teatro também se chama Tônia Carrero. Exatamente como esta elegante senhora, de carne e osso aqui sentada,... nessa poltrona de pano, espuma e madeira, desse teatro, também chamado Tônia Carrero. De onde os senhores poderiam concluir que ela está sentada no seu próprio colo, mas não. Tônia Carrero é o nome dessa pessoa, dessa dama. E é também o nome do teatro, deste teatro. Bom, agora os senhores devem estar concluindo: deve ser uma coincidência, coincidência...” O teatro se chama Tônia Carrero, aquela senhora também se chama Tônia Carrero, é uma coincidência, óbvio, eles são xarás. Pois é, mas no caso do Teatro Tônia Carrero e dessa senhora que aqui está, isso não é uma coincidência. é de fato um acontecimento. E justamente para explicar esse acontecimento, essa coincidência que não é uma coincidência, é que estou aqui hoje. A Ecila Mutzenbercher me convidou e entendi tudo o que ela queria: Você quer que eu dê a receita: como se transformar em teatro. Aí ela abriu um sorriso desse tamanho e respondeu: Exatamente, eu sabia que você era a pessoa certa! Ah, tem uma coisa. Esta receita é exclusiva para mulheres. Existem outras, é claro – Fernanda, Marília – mas esta que os senhores vão ouvir agora é perfeitamente comprovada e infalível também. E olha, quem quiser tentar virar teatro, não precisa ficar acanhado, pode pegar o seu bloquinho de anotações, sua agenda, livrinho de receita, e tomar nota à vontade. Bom, mas de antemão eu já vou avisando, não é fácil virar teatro. leva bastante tempo. Praticamente uma vida inteira. Mas vale a pena. Vocês vão me desculpar mas eu vou ter que ler. Vai que eu esqueço de alguma coisa, uma de vocês tenta seguir a receita, e se transforma, sei lá, num auditoriozinho de interior ou num cabaré, já pensou? Nada contra o cabaré, mas vai que é uma senhora vegetariana e não come carne? O cabaré não vai ter nenhuma utilidade... Bem, vamos, enfim, à receita.... Para um dia virar teatro você tem que, antes de mais nada, nascer a única filha mulher, de uma família de militares: seu pai tem que ser militar, seus irmãos, todo mundo da família, menos você! Pelo contrário, você tem que ficar ali, quietinha, sem quase abrir a boca, e quando fizer 17 anos, virar uma mulher deslumbrantemente linda, e pimba, contra tudo e contra todos, casar com um artista e sair de casa deixando todo mundo de boca aberta. levando com você, dali, só o apelido, que vai te acompanhar a vida inteira em família: “Mariinha”. Com esse seu primeiro marido você tem que ter o seu único filho (fique tranquila, ele vai te dar um monte de netos e bisnetos), e colocar nele o estranho nome de “Cecil”. Enquanto se forma em Educação Física. Você tem que ir devagarzinho se interessando por artes, poesia, balé, enquanto vai fazendo amizades com outros artistas, poetas, escritores,... até que alguém te dê uma chance, e arranje para você uma ponta em um filme. Finalmente, depois desta brilhante e calada estreia no cinema, você tem que viajar, fazer um curso de teatro em Paris, descobrir sua vocação de atriz, e voltar correndo para o seu país. Mas atenção, calma, não tem que querer fazer chanchada, e nem Atlântida, se quiser virar um bom teatro, tem que querer fazer coisas boas, e em boas companhias somente. Até que alguém finalmente aposte em você e te coloque para fazer um filme ao lado de Maria Della Costa: Caminhos do Sul, que aliás tem que ser filmado lá no Sul. Na volta para ao rio de Janeiro, você ainda tem que fazer mais um filme antes de... Ah, agora sim atenção, essa é uma das partes mais importantes da receita. Pois é a sua estreia no teatro. A estreia no teatro tem que ser na peça: Um Deus Dormiu Lá em Casa, ao lado de um outro ator também estreante. Mas tem que estrear já arrebentando a boca do balão, papando tudo quanto é prêmio: melhor atriz, melhor ator, melhor direção, cenário. Então você tem que pegar este ator e tem que virar ele bem assim, virar, virar, até dar o ponto, e ele virar um companheiro e amigo para toda a sua vida. que, inclusive, no futuro também irá gerar uma receita masculina para virar teatro. Ah, e se o nome desse ingrediente for Paulo Autran ajuda muito a fazer crescer a massa. Até que você vai ter que entrar para a Vera Cruz e finalmente fazer vários filmes. E fica atenta, porque é na Vera Cruz que você tem que conhecer o seu segundo marido. Um italiano que vai te dirigir num filme, e vai ficar que nem um louco insistindo tanto para botar o Tico-Tico no seu Fubá, que isso vai acabar dando nome ao filme. Mas se segura, quando você achar que a vida está ganha a Vera Cruz vai falir. E você vai ter que ir parar no TBC – Teatro Brasileiro de Comédia. lá você tem que participar de montagens inesquecíveis como: Uma certa Cabana, Uma Mulher de Outro Mundo, Negócios de Estado, Cândida, Santa Marta Fabril. Aí pronto, com essa experiência acumulada, você vai ter que dar mais um passo importante: com Paulo Autran e seu novo marido Celi (está contando, né, é o numero 2, o italiano), você tem que fundar uma companhia de TEATrO que tem que entrar para a história do País. Companhia Tônia-Celi-Autran. E montar grandes textos, grandes comédias, grandes sucessos. E continuar ganhando muitos prêmios. A esta altura, se você quiser virar um bom teatro, já tem que ser considerada uma grande estrela nacional. De estontear poetas e presidentes, todo mundo tem que ficar louco com você. Está pensando que é moleza? Tem que participar de movimento políticorevolucionário no país, encarando mesmo a linha de frente em passeatas, mas sem perder o foco na sua profissão. – Sua companhia de teatro tem que durar uns 7 anos, e depois acabar!! Briga com o marido e desfaz a companhia! Pronto, muda! Atriz que é atriz mesmo, de entrar pra a história, é assim, quando tudo estiver muito tranquilo, você tem que entrar de sola. Ah, aproveita pra namorar um pouco agora que daqui a pouco você já vai casar de novo. Mas por enquanto, fica solteira, só ciscando, e fazendo teatro, ciscando e fazendo teatro, ciscando e fazendo teatro. – Outra etapa muito importante da receita é quando, apesar de sua beleza exuberante, para alcançar o ponto alto de sua carreira, você vai ter que se desfigurar, numa miserável prostituta, numa peça de um autor maldito, dirigida por um diretor maluco, respectivamente, Plínio Marcos e Fauzi Arap. O primeiro inclusive já virou teatro, lá em São Paulo. Essa peça tem que ser um sucesso, arrebatador, o que tem que te levar a querer ser dirigida por Fauzi Arap de novo em Macbeth, de Shakespeare, que tem que ser um tremendo fracasso! Atenção, por favor, não desprezem os fracassos numa boa receita teatral. Eles ajudam a dar mais consistência à massa, não desprezem. – E olha, tem que entrar para a televisão também. Tem que fazer excelentes novelas como: Sangue do meu Sangue, Pigmalião 70, e muitas outras, um monte. Vai fazendo. – Ah! A esta altura você já tem que ter seus netos todos, viu? qUATrO. Eu não disse que seriam muitos? E continuar trabalhando na receita. Inclusive trabalhar com o seu filho, como diretor em diversos espetáculos: Casa de Bonecas; Constantina; Ela é Bárbara. E seguir em frente, trabalhando com diretores de vanguarda também. Ah sim eu ia me esquecendo, nesta altura Você já vai ter que ter dois bisnetos, dados pela sua única neta. Eles vão inaugurar a quarta geração da família. que vai tudo seguindo você, que nem uns patinhos seguindo a mamãe ganso. Só um neto que vai começar a se meter com música, mas vamos ver. O resto lá, sem a menor originalidade, tudo fazendo teatro. Depois disso você tem que continuar trabalhando duro, sem descanso, sempre, com os mais diferentes nomes do teatro brasileiro: Silveira Sampaio, Ziembinski, Flávio rangel, Antunes Filho, Domingos de Oliveira, João Bittencourt e muuuitos outros, é impossível citar todos: Márcio Aurélio, Eduardo Wotzik, élcio Nogueira, Gerald Thomas. Bom, e é claro, sob a batuta de luiz Artur Nunes, você tem que fazer seu espetáculo solo, de bolso. Toda grande atriz tem um, para apresentar onde for, nas épocas de vacas magras. E é isso gente, ta chegando ao fim a receita. Eu devo ter pulado alguma coisa aqui, porque a essa altura você já vai ter que ter casado e divorciado do seu terceiro marido há muito tempo. Aliás, eles já vão estar todos juntos lá em cima de mãos dadas assistindo à inauguração do teatro com o seu nome. Ah, E olha, acima de tudo, para essa receita dar certo, eu não poderia deixar de mencionar esse ingrediente, você tem que ser uma pessoa FElIZ. Muito FElIZ. Você tem mesmo que nascer com vocação para ser feliz. O que, aliás, tem que ser uma frase sua. Ah! E bem no finalzinho, bem perto da hora de tirar o seu teatrinho do forno, depois de já ter realizado tanta proeza, você ainda tem que ganhar, de um neto seu com uma atriz com quem você já tenha trabalhado há muitos anos, dois bisnetos de uma vez só, gêmeos! Dois homenzinhos. Gozado, essa parte da receita deve levar um pouco de cebola, porque sempre me faz chorar, só pode ser... E por fim, 80 e tantos anos depois de ter começado isso tudo, no dia da inauguração do teatro, Você tem que ter na plateia vários representantes dessa família que você criou. Não só a de sangue, mas essa grande família do teatro que você vai ter ajudado tanto a construir. Todos ligados, por um laço invisível e fortíssimo! (Texto escrito e apresentado por Carlos Artur Thiré, neto de Tônia, na inauguração da Sala Tônia Carrero, em janeiro de 2007, no rio de Janeiro. Carlos Artur Thiré conta que Tônia relutou muito em dar as informações, pois tinha medo de que o texto ficasse chato, didático, mas adorou quando viu o resultado. Segundo ele, este episódio contou de uma maneira definitiva para ela me convidar, apenas alguns meses depois, para dirigi-la na montagem de Um Barco para o Sonho.) Aestreladocinema receboumtelefonemaquefoiderepentecomoumapedranumlago–issoparausarumafraseamena esuavetantasvezesrepetida!EscreverumartigosobreTôniaCarrero.ParaescreversobreTôniaCarrero, éevidentequeeutenhoquevoltaraopassado,àquelestemposemquetudocomeçou,emqueos personagens,agorajámeioenvolvidospelalenda,aindaeramdecarneeosso,esonhavam,sonhavam talvezcomaquiloqueestáacontecendoagora.Ora,passadonãoédascoisasqueocupammaiorespaço nos meus pensamentos. Ora,TôniaCarreroachoquehojeemdiatodomundoconhece,principalmentedepoisqueatelevisão a faz penetrar por todas as frestas da vida nacional. Creio que todos admiram a sua graça, o seu charme, quando ela sai gulosa de beleza por todos os vídeosdoPaís,fazendosonharassenhorasquejápassaramdos40paraquemelaservedemodelo numademonstraçãoquenemtudootempodestrói,edeixandocomimensainvejaasmoçasdemenos de20,paraquemelaéumacertezadequeotempoàsvezestambémconstrói,etrazalgumasvirtudes que a mocidade só por si não apresenta. Eeu tinha queencontrar meupersonagem,eutinhaquevê-lo–seráqueaspessoassabemoqueé passado, quando se vive muito? Foi necessário vasculhar muitas gavetas, deslizar por muitas fotografiasamareladas,pormuitoentulhodevida,paratornaraencontraranossaamiga,talcomo a queria encontrar. láestava,nãoerabonita,masmeuDeus,comoirradiavavida,ecomoerabela,noscabelos,nosolhos. Comoeraradiante,contundente,agressivaeaomesmotemponecessária.Seduziporimporasuavontade. Comoserãooscometas?Voucomoumcometacomumrastrodeluzprópria,láestavaMariinha–Maria Antonietta Farias Portocarrero. E de repente lembrei-me de tudo. AntesquerofalardoriodeJaneirodaquelestempos!Geralmentetemossempreatendênciaemdizer –aquilosiméqueeramtempos.Masorionaquelestemposerarealmentemaravilhoso.Ninguémassaltava ninguém.Podia-setomarbanhodemarnoretirodosBandeirantesdemadrugadaeatéfazeramorque ninguémincomodava,ficarconversandonasesquinasanoiteinteira,esobretudosepodiasonhar. Eu sonhava em fazer filmes, em revelar manequins – coisa que ninguém sabia bem o que era –, em fotografar as capas da revista O Cruzeiro. E todos sonhavam. OJorgeAmadoquejátinhaescritocombastantesucessotinha-meabrigadonoseuapartamentona UrcabememfrentedoCassino,eláviviatambémoCarlosScliarquepintavaemtodaaparte,atéem experiênciasaquáticasnochuveiro.OsmóveisdasalaoJorgetinhatrazidodoMéxicoeeramduros comoodiabo,masláseencarapitavamoSantarosaquedesenhavacenários,oéricoVeríssimoquando vinhaaorio,oSamuelWainer,eolhaquantagentequesonhava,quenestaspáginasnãocaberiamtodos. FoiaíqueorubemBragamefaloudaMariinha.Nessaépocaeujátinha(achoquejátinha)casado comaMariaDellaCosta,quemehavidosidoapresentadapeloJustinoMartins,noSul.Agorapretendia fazer um filme tirado de um romance de Ivan Pedro Martins, chamado Caminhos do Sul. Eraumprojetomeiolouco,esópossívelporcausadosonhocoletivoemquetodosestávamosenvolvidos. Na história,eramduasirmãs,umaa Maria Della Costa,efoi aíque orubemme falou de uma moça, que ele achava muito bonita, e que gostaria de trabalhar no cinema. Oriodaquelaépocaeraumrioagitado,envolvente,emqueumgrandegrupodepersonagensque adivinhavamqueiriamtergrandeimportâncianofuturodavidabrasileiraiampoucoapoucoseaglutinando, dando forma aos seus sonhos solitários e começando a escalada. OCinema,ojornalismo,oteatro,ballet,atépoesiainteressava,tudoeramcaminhosadescobrirea percorrer.Apinturatambém.lembro-mequePancettiviviaemNiteróinoaltodeummorrinho,umacasinha. FuilácomJorgeAmadoalgumasvezes,ePancettidandoseusquadros,pediaéquelhedeixassem oscaixilhos.EumesmocomoumMecenas,numatodeamor,depois,deidoisPancettisquehojegostaria de ter em mãos. E assim surgiu também a Mariinha, nos sonhos deste candidato a diretor de cinema. Não me lembro se ela era o personagem que eu tinha em mente. Mas se não era passou a ser, e lá fomosnósparaoSul,umaaventuraqueparaaépocanãoeraumaaventura,masumatemeridade. FicamoshospedadosnaFazendaBeleza,quepertenciaaBatistaluzardo;nemseicomoéqueoCaudilho, quenessaépocaeraembaixadoremBuenosAires,entrounahistória,masmelembroqueafazenda, queerabemnomeiodocampo,láparaosladosdeUruguaiana,nafronteiradoBrasilcomaArgentina eoUruguai,foidurantemaisdedoismesesocenáriodofilme.Mariinhajátinhaantesaparecidonum filmedos Irmãos ramos (confesso quenuncao vi),masaescolhada minha futuraatriztinhasido positivamente de orelhada. Nada de testes. Afinal estávamos todos no mesmo barco, e a minha experiênciaeratersidoassistentededireçãoemalgunsfilmesemPortugal,FrançaeaquinoBrasil, e agora pretender voar mais alto. éumapena que osnegativos, positivosetudodeCaminhosdoSulsetenhamperdido nopó e no desmazelodostempos,masaívaiumafotoemquevocêvêanossaMariinhanascendoTôniaCarrero. Vejacomoelaeralinda,eraassimmesmo,maselétrica,voluntariosa,sabendousartodaamalíciado seu charme (linda a palavra na época) para conseguir o que pretendia. Foidepois,quandovoltamosparaorioecomeçamosadublarCaminhosdoSulemumestúdioque nosobrigavaapassartodososdiaspelocaisdoporto,quenasceuaidéiadefilmar quando a Noite Acaba, que depois os exibidores idiotamente batizaram de Perdida pela Paixão. Aí você já nota a TôniaCarrerosesobrepondoaMariinha,creioatéquenessaépocaelanãoexistiamais.Olhandopara as fotos tenho acertezaqueopersonagemTôniaCarrerotinhacompletamentesesobrepostoaquemlhetinhadado vida.VeiooTeatro– Um Deus Dormiu lá em Casa,Amanhã se não Chover,Don Juan,novamente ocinema,Tico-Tico no Fubá, Appassionata e depois longinquamente Copacabana Palace. Mas a Tônia Carrero que tinha nascido Mariinha aí está. E agora com a eletrônica, o mito ganha seu pedestal.Paramimtenhoacertezaqueiriasertudoassim,desdeaprimeiravezquenosencontramos, e nada me faz surpreender. Fernando de Barros no programa de Amigos para Sempre Tico-Tico no Fubá foi o grande sucesso da produtoraVera Cruz. lançado em 1952, o filme reproduz,deformaromanceada,avidadocompositorZequinhadeAbreu,autordamúsicaque dátítuloaofilme.AsfilmagensduraramumanointeiroeacidadedeSantaritadoPassaquatro, ondenasceuZequinha,foiinteiramentereconstituídaemestúdio.Celifoiindicadoamelhor diretornoFestivaldeCannesde1952.TôniafezomaiorsucessonaCroisetteerecebeuuma cartaconvidando-aaserumaestreladocinemaitaliano.“Celiseajoelhouepediuqueeunão aceitasse.ElemedissequeseeufosseparaaItália,jamaisvoltariaemepediu:‘vamosvoltar para o Brasil e fazer teatro juntos’. Eu atendi ao seu pedido e jamais me arrependi.” Amusadatelevisão “Muitotelãolevantou-senospalcosdoBrasildesdeaquelavezemqueviTôniaem UmDeus DormiuláemCasa,deGuilhermeFigueiredo.EmsuaentrevistamarcantenoCanallivre,da redeBandeirantesdeTelevisão,aatrizconfessouostropeçosqueteveemcolocaravoz.Apeça deGuilhermedatade49.Trintaanos,benditoCristo!Eotempoescorre-lhesobreapelecomo chuvaemcapadeoleado.ArepresentaçãodeIbsen,Albee,demonstraaduplagarradeTônia: perseverançanabeleza,comodesafioaumpaísqueconsidera‘umlixo’todamulherdemaisde quarenta.MasaTVjáéumaoutrahistória;sólheofereciampersonagenslinearessobreosquais resvalavaqualqueresforçomaiordecriatividade.Edepois,obrancoepretodeentãonãofazia justiçaaoquenelaétãoexpressivo:ocolorido.Depele,decabelos,deolhos.Atéquechegou StellaSimpsondeÁguaViva.Opovãonãoselastimanemderramalágrimascomosmalesdos ricos.E Stella era milionária, mas a fortuna não a diminui emocionalmente.Stella parece ter fincadoraízesfundasnaatriz.Emumademinhascrônicasressalteicertoolharantológico,muito compassivo,muitomendigo,muitopuroquelheapanhara.Eindagava:foraumacasualidade?Um encontrofelizdacâmera,ouforatrabalhado?Tôniameencontranumareuniãoemediz,quase chorando:’Helena,sóvocênotou!Nãofoicasual,não!Aqueleolharfoitrabalhadíssimo’.Enfim,a artistatornou-se,depoisdeStella,emumaespéciedebandeirafeminista:paraamulher,abeleza não tem finitude quando é, a um tempo, continente e conteúdo. Falei!” Helena Silveira, publicado no programa de Amigos para Sempre “Antes que eu começasse este capítulo sobre Água Viva, todo ele dedicado a Stella Simpson (TôniaCarrero),eisqueStellaSimpsonpronuncioumeunomenovídeoerequisitouparaseuusouma velhaevidênciapormimrepostaemcirculação.Assim:Asolidãoéomaispreciosodosbens.quemnão entende isso, não entende nada. StellaSimpsoneraparaserumagrã-finaoca.Acaboupatética.Tônialhedeu,aessefrívolofantasma colorido,algumasriquezasedilaceramentospessoaisatéaquiciosamenteguardados.Nummomento de solidão doentia, prestes a tentar o suicídio, Stella Simpson evocou os seus mortos queridos: Onde está letícia? Onde está luis Carlos? Onde está renault? Os amigos de Tônia sabiam: eram os mortos dela, não os de Stella. Naquele instante, ficou claro que o texto do noveleiro não é essencial. reconheço que há altos momentosdedramaturgiaemÁguaViva,longoseadmiráveismonólogosescritosporGilbertoBraga. Mas,seanovelafosseapenasassuasperipécias,ficandomonólogosediálogossomenteindicados (cabendoaosatoresdesenvolvê-losemmeioimproviso),aindaassimoespetáculosairiainteressante. Porqueoespetáculo(óbvio!)éaudiovisual,lidandocomartistasprofissionaisqueinterpretampessoas fictícias, e o nível de profissionalismo edetalento desse elenco é, para dizer o mínimo, excelente. Cadaintérpretevaifundodentrodesimesmo,arrancandodesiasverdadesemocionaisqueserão transferidasaopersonagem.Nesteponto,ninguémpodenegar:opadrãodequalidadeglobaléde altíssima qualidade. Bem,estouperdido.FalemosdeMariaAntoniettaFariasPortocarrero.Essamulherconseguiuoimpossível nopaísdasmissesedosmachões:serlevadaasério,comomulherecomoatriz,muitoemborasuabeleza física fosse mais do que suficiente para lhe dar poder e glória. Beladedoer,tendosidoaos30anosamulhermaisbonitadoplaneta,conseguiuserplenamentemãe, esposa e operária. Não é à toa que a efígiedasnossas moedas écópia deTônia Carrero (reparem!): aquelacabeçaclássica,aquelenarizlongoebastanteafiladosãoelementosvisuaisquevalorizam qualquermoeda,sendoaquelacabeça,semdúvida,arazãodeaindaacreditarmosnodinheirobrasileiro... OlhandooperfildeTônianumamoedade10cruzeiros(valorCr$1),pensamos:Atépareceumdólardeprata. Atépareceummarcoalemão.AtéparecequeDelfimNettoentendedeeconomiaefinanças.quemvê cara,vêcoroa.Tôniaéaindamaisperfeitaqueaefígiedessedinheiro.é,atualmente,arainhadascoroas, amulherqueaos50anosalcançouumnovoesplendor.Nenhummilionárioacomprou.Casou-secom um artista, e depois com outro; criou seu filho com desvelos tais que ele acabou meio edipiano; masTônia(etanós!)foiresolverissonapsicanálisee,senãoestouenganado,CecilThiré,ofilho,também. Nuncafoimiss,nuncafoidesvairadamentedondoca,nuncaentrounoCopacabanaPalacecommucamas e malas, mas sempre pela porta certa: a dos bastidores, e sempre com uma finalidade correta: adetrabalhararduamentenopalco,noiteapósnoite,nosmaisdiversosteatros,interpretandogrã-finas etambémcortesãseprostitutas.éprimeira-damadoteatrobrasileiro,juntocomFernandaMontenegro, BibiFerreiraepoucasoutrasdeusasdaribalta.Tudoissosemprecisar:comocorpoquetem,comos olhosquetem,comocharmequetem,comaauraprimaverilquenãoaabandona,asociedadebrasileira teriaperfeitamentedispensadoTôniadeterumaalma.Maselatemalma,garraecoragem.Elapegaum simulacrodeexistência,essamarionetedegrã-finalha–StellaSimpson–elheimpõeumaalmadecente, umcaráterfortenocoraçãodafrivolidade.EisoqueTôniadeuaStellaqueGilbertonãopretendia: aconsciênciadesermortal.SóessasvinhetasdeStellaSimpson,peloaspectodocumental(confessional)de queserevestiram,bastamparafazerdeÁguaVivaumacontecimentorelevantenopequenomundodoshow. José Carlos de Oliveira, publicado no programa de Amigos para Sempre “Averdadeirainterpretaçãovemsemprededentro.Seotrabalhonãotransparecerdedentro parafora,é melhornão fazer nada. Sóseguirasmarcas e dizerotexto. quandoo trabalho vemdedentro,issotranspareceetodomundovêqueéverdadeiro.Masnadapodeserpiordo queumatorseesfalfandoparatentarconstruirdoladodeforaaaparênciadeumtrabalhovindo de dentro. Todo mundo vê que é falso.” Meusamigossãoumbarato! Tônia é mulher de muitos amigos. E sempre foi assim. Sempre gostei de estar cercada por pessoas melhores do que eu. quando se casou com Carlos Thiré, Tônia foi morar na Vieira Souto, a avenida da praia de Ipanema, e passou a freqüentar as domingueiras na casa do escritor Aníbal Machado e se tornou amiga da intelectualidade que lá se reunia: Vinicius de Moraes, Orígenes lessa, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos, entre tantos de uma lista infindável. rubem Braga tem lugar especial nessa lista, depois de amante apaixonado transformou-se em amigo eterno. Paulo Autran, que Tônia conheceu em sua estreia no teatro, também esteve nessa lista: a paixão virou uma amizade para toda a vida. A partida dos dois fez Tônia sofrer bastante. Sente falta de José lewgoy, assim como de muitos outros queridos amigos. Eu conservo todos os amigos dentro de mim. Mas ela continua interessada em ter gente interessante por perto. Todos os sábados tem um encontro marcado com Millôr Fernandes, Chico e Eliana Caruso, entre tantos outros, em um sofisticado restaurante especializado em frutos do mar em Ipanema. São tardes de muita conversa regadas, de vez em quando, a poire, a aguardente de pêra. Acho que não exerço mais o fascínio que exercia nos tempos do Aníbal, mas continuo achando muito bom estar com pessoas inteligentes, brilhantes à minha volta. Isso me faz uma pessoa melhor, sempre. Segundo Paulo Autran, em uma entrevista ao programa roda Viva, da TV Cultura, em 1990, Tônia faz um personagem frívolo, de aparência leviana, para uso externo, mas é uma pessoa de um rigor absoluto. Tônia prontamente complementou, como casal afinado que sempre formaram. Eu falo uma bobagem e faz tanto sucesso que é melhor falar bobagem. Eu me defendo muito atrás das banalidades e superficialidades engraçadas que sou capaz de falar. Sei que me julgam frívola, mas a culpa reverte. Alguma coisa sai de mim e volta para me julgar. Eu tenho uma certa capacidade de ser superficial, leviana, engraçada, mas ai de quem passa a vida somente observando isso. Tem o outro lado de seriedade, de responsabilidade, de gostar dos outros intensamente. E meus amigos conhecem isso. E é com todos esses amigos que Tônia reparte estas páginas que se seguem. “Paulo foi meu melhor companheiro de cena e na vida.Tivemos uma amizadequeficouparasempre.Antesdemorrereledisse:‘umbeijopara Mariinha’.Nuncavoumeesquecerdisso.Ecadavezquemelembro,tenho vontade de chorar.” “Veja você! Me escreva Mais! Saudade rubem” (escrito por rubem Braga para Tônia) E quando nós saímos era a lua, Era o vento caído e o amor sereno Azul e cinza-azul anoitecendo A tarde ruiva das amendoeiras. E respiramos, livres das ardências Do sol, que nos levara à sombra cauta Tangidos pelo canto das cigarras Dentro e fora de nós exasperadas. Andamos em silêncio pela praia. Nos corpos leves e lavados ia O sentimento do prazer cumprido. Se mágoa me ficou na despedida Não fez mal que ficasse, nem doesse Era bem doce, perto das antigas. “Um amigo me perguntou se eu ia apresentar Tônia Carrero ao público. Engraçadinho. Colaboreinolivroparaajudá-la,dentrodemeuofício;eaminhaautoridadeéadeumamigodemais de30anos.Depertooudelonge,nuncadeixeideacompanharcomatençãoecarinhosuavidadeartista e de mulher, através de não sei quantas peças, filmes, novelas e, precisamente, três casamentos. ConheciTôniaquandoelaeraMariinha,mulherdeCarlosThiré,desenhistadetalento,homemde publicidade, de cinema e televisão. Foi numa festa na casa de Carlos leão (Caloca) em Niterói, no Morro do Cavalão, que Vinicius cantou em uma balada: ’A tarde morre bem tarde / No morro doCavalão...’OcasalThiré morava na praia de Ipanema num pequenoapartamentodebruçadosobreomar.Issofoiporvoltade1946;daíparaafrenteTônianão parou mais de aparecer em cinema, teatro, televisão, que mais posso dizer dela? que era e é uma pessoa maravilhosa. Uma vitalidade louca, um coração muito bom, uma grande amiga. Fala-semuitonosegredodamocidadedeTônia.Prestematenção:essanaturezagenerosa,ocarinho queespalhaportodosqueacercam,atéaomaishumilde,éumagrandepartedoseusegredo.Serbom fazbemàalma,eàface,enadaenvelhecemaisqueoestigmadamesquinhariagravadonacara;nada embeleza tanto quanto a doçura interior. Tônia é toda bela.” rubem Braga no programa de Amigos para Sempre Amigas desde a faculdade de Educação Física, Yara compartilhou com Tônia princípios de alimentação natural e foi sua preparadora corporal.Tônia foi uma pioneira nos cuidados com o corpo. “Umadaspessoasquemaismeacompanharamavidainteira,comoamigoecomo grandecompositor,éDorivalCaymmi.Oh,mulatofaceiro!Sevocêsoubessecomo rebolavam aqueles olhos em sintonia com seu corpo dengoso e o violão... “ Tônia em entrevista a Simon Khoury no livro Bastidores, Editora leviatã “AntônioCarlosJobimeraumgalãdeslumbrante.Elesepareciaumpouco comoatorfrancêsGerardPhillipe.EuflertavadelongecomoTom,masele nuncamedeuamenorbola.Pelomenoscomohomememulher.(...)Depois conheciTereza,suaprimeiramulhereminhapaixãoarrefeceuporcompleto.” Tônia em entrevista a Simon Khoury no livro Bastidores, Editora leviatã lançamento de Affonso romano de Sant'Anna por Tônia Carrero - Coleção "Poesia Falada". NuncahouveumamulhercomoTônia Falar sobre a beleza de Tônia provoca um amontoado de clichês: chover no molhado, o mais óbvio deles. Olhos azuis indescritíveis, maçãs do rosto protuberantes, um nariz aquilino, cabelos anelados louros, que provocam inveja em todas as mulheres – tudo é bonito no rosto de feições definidas e fortes de Tônia. Uma loura que jamais foi uma lourinha – sem sal e sem graça. Muito pelo contrário, foi sempre ardida como pimenta – e olha lá outro clichê. Além de tudo isso, egressa da escola de educação física, Tônia sempre se preocupou com o corpo – adepta fervorosa da ginástica e das dietas foi evangelista do fitness desde os anos 50, em um tempo em que a palavra e o conceito eram totalmente desconhecidos. E levou isso para o teatro também, evidentemente. Muita gente achava ridículo a tal de expressão corporal. Para mim era uma demonstração de que eu sabia fazer teatro de todas as maneiras. Digamos que Tônia foi aeróbica muito antes da moda; vitaminada e poderosa com músculos levemente definidos, quando as mulheres ainda tinham o corpo em formato de violão. Ou seja, até nisso ela esteve além do seu tempo. O slogan do filme que consagrou rita Hayworth, Gilda, se aplica perfeitamente a ela: Nunca houve uma mulher no Brasil como Tônia. E se alguém ainda duvida, basta olhar as fotos e os depoimentos deste capítulo. – Não acho que a beleza tenha me atrapalhado. Ao contrário, ela me deu até certo poder. é claro que precisei aprender a lidar com isso. Em determinado momento da minha vida, a beleza me fez ser ‘caçoável’. As pessoas caçoavam de mim, porque imaginavam que eu, sendo tão bela, não podia ser inteligente. Havia uma discrepância entre o que eu parecia ser e o que realmente era. Era como se as pessoas pensassem: ‘ela não pode ter tudo’. Mas vencidas as primeiras inseguranças de menina, eu consegui me impor, ser ouvida e ser considerada além da beleza. E, é claro, admirada por todas as minhas qualidades, inclusive a beleza. “quando Mariinha irrompia na sala, na rua, na praia, ninguém podia olhar para o outro lado, comoacontecenapenumbraquandoseligaatelevisão.Eradeumabelezaformal,inconsútil,sem pespontos.Eera,simultaneamente,emtodososseusgestoseinstantes,umagraça.Umagraçanascente, apulardosolhos,arecortar-senosorriso,umagraçamuitojuvenilequaseumpouquinhoestouvada. Edaí,naduplicidadedoencantodeMariinha,andavaumacontradição,poisasmulheresesculturaissão semprehieráticas,enossaestátuadeIpanemaeradescontraída,eufórica,esportiva.Ela,porexcesso de espontaneidade, acabava de criar um estilo novo no comportamento das moças lindas. DepoisagarotadeIpanemafoichamadaparatrabalharnocinemaenoteatro.Nãopoderiadarcerto. Comoéqueumacriaturatãobonitaetãonatural,tãovivaetãoelamesma,poderiaencontrardentro desiosartifíciosdarepresentação?Tôniaresolveumaisessaincongruência,tornando-semagníficaatriz. Nãofoiumarevelação,nãofoiummilagre.Foiumtrabalho,foiumacriação.Cominteligênciaesensibilidade, a Mariinha da praia se fez a Tônia Carrero no palco. Não temos muitos outros exemplos de tanto empenhoartísticocomoodestasenhoraindelevelmentebela.quantoaoserhumano...Serápreciso acrescentar alguma coisa?” Paulo Mendes Campos no programa de Amigos para Sempre “quantoscoraçõesosolhosespantosamente azuis de Tônia Carrero fuzilaram ou feriram mortalmente? Meu primeiro conceito sobre beleza nasceu, aconteceu, no Arpoador. Tônia era a Mariinha – diminutivo de Maria. Desenvolta, jogava frescobol e nos mares outrora azuis do Arpoador – conta a lenda – Tônia fixou para sempre a cor dos seus olhos e fez com eles um pacto de morte com a juventude. Juro que eu era muito menino. Assustado, apenas a espreitava de longe, conduzida pelo fortíssimo Carlos Thiré (figura igualmente maravilhosa). Uma paixão confessada – hoje excelentes amigos – é a de rubem Braga.Tônia Carrero mereceu loas e laudas desse homem competentíssimo.ViniciusdeMoraesdeixaria de disputar tão importante campeonato? Tônia,praianafundamental,obrigouopoeta e arriscar um calção de banho. Mariinha(ficamelhorassim)chegavaeacendiaoArpoador,aindaquecobertodenuvens.Cortenotempo. ParaotempodeCesarThedim.AchamadafaseCaboFrio.AbelezadeTônia,expostaaosol,eraamesma. AplásticaemTôniaserianãoumaintervençãocirúrgicaparadescontarpromissóriasqueotempocobra. EuousariadizerqueaplásticaemMariinhafuncionacomoumaespéciedemaquilagem.Creiam,Tônia Carrerocontinuaumamoçoila.Olharinquisidor,gestoslépidos,umafrescurajuvenil.Nãoaviafazia algunsmeses.Estivemosfrenteafrente,cinco/dezminutos,naportadaGlobo.Nãomerecordosabero queconversamos.Euestavaparalisadodiantedeumapessoaquevenceuotempo.quandofizesse comentário.Tônia,desafiadoramente,levantouosgrandesóculosescurosequemestavalá,íntegro, perfeito,total?Seusdoisolhos,muitoazuis.Oazuldesempre.Artisticamente,noaugedasuaglória. Diversificando, aceitando o desafio de novelas várias, teatros e até participações em musicais (casodeAplauso),umprogramaqueeladividealiderançaentretantagentejovemebonita!lávaiaTônia, napontadospés.UmadasmaiorespiadasdeMiéletemaTôniacomopersonagem.Todossabem, elaémãedeCecilThiré,precocementecalvo’.Miélecontinua:‘quandotrabalhávamosjuntos,noprograma Planeta dos Homens, eu me lembro que aconteceria uma reunião em minha casa. Coisa festiva. ConvideialgunscolegasdoprogramaeCecilestavaentreeles’.Escutaaqui,meuchapa,vocêestá convidado para um jantar regado a whisky (eu acho que seria em torno de Anita) – disse Miéle. Cecilconcordou,imediatamente.Miéle,porém,fezumaadvertência.‘Masnãoesqueçadelevarsuamãe’. Naturalmentequemesmoeliminadaacargadehumor,muitodeverdadeiraéessafrase.Nãoexiste papo melhor, gente tão carinhosa, tão atualizada (e lindíssima) quanto a Tônia Carrero. A Mariinha com quem aprendi a conhecer a beleza. Mesmo a distância...” ronaldo Bôscoli, publicado no programa de Amigos para Sempre Ma beauté – Minha beleza (Assim Jean louis Barrault, seu mestre em Paris, chamava Tônia Carrero) Tu est la Belle mais tu n’est pas la Bête! - Você é bela, mas não é estúpida. (GerardPhilipe,fazendoumtrocadilhocomotítulodofilmelaBelleetlaBête–ABelaeaFera) “TodomundosabenoriodeJaneiroquerubemBragaeraapaixonadoporTônia Carrero.Foramnamorados,depoisficaramsomentebonsamigos,atéodiafinal deBraga.UmanoitenoDegrau,bardoleblon,rubemeTônia,jánacondiçãode apenasamigos,participavamdegrandemesaboêmia.Ele,casmurro,comosempre; ela,desinibidíssimaeencantadora,afiguramaisfalantedogrupo,emcontraste comoseuamigo.Aliestavaele,muitoquieto,aoladodePauloMendesCampos. Acompanhava, em silêncio, a tagarelice da estrela. Em dado momento, numa rara pausa de Tônia, o Braga disse ao Paulinho: ’Ela fala pelos cotovelos!’ E, logo acrescentou, fascinado: ‘Mas que cotovelos!..’.” Aluísio Falcão, Crônicas da Vida Boêmia, Ateliê Editorial, 1998 “quandonoslembramosdealguémquesetornoufamosopelovalorautênticooupelosequívocos dapublicidade,-vêm-noslogoàmemóriacertosepisódiossignificativosdesuavida,sobretudo aquelesqueprenunciamum‘destino’.Háoitoanos,aofimdeumalmoço,emParis(estava presenteoator-diretorrogerBlin),adonadobistrô–umamulhergorda,deolharcontemplativo earcansado–dirigira-seaMariinha:‘Minhafilha,Deusaconservesempreassim...vocêtemtudo a seu favor na vida’. Eraumalmoçodemuitorisoecanto,emqueanossapatríciaforaocentroeafiguraprincipal. De outras mesas vinham pedir que ela bisasse alguma canção do nosso folclore. Paraosseustriunfosnateladecinemae,depois,nopalco,ograndesegredodeTôniaCarrero foicontinuarMariinha.Seusegredoesuaforça.Mudoudenome,sem,porém,prescindirdo quelheépeculiar,aquiloquenosmeiosfamiliaresosseusamigoseadmiradoresmaisapreciavam nela:asimplicidadeeagraçanatural,asensibilidadeeodomdesimpatiahumana,qualidades quenasmulheresbonitastêmopoderdetornar-lhesabelezamenosesmagadoraemaiscativante. Pois o que subsiste de Mariinha em Tônia Carrero garantiu a esta os irrecusáveis dons de intérpreteteatral.Umaconsciênciaartísticasuperior,maisquemodéstianatural,fê-lacolocarem planomenosimportanteoquedeimediatoseimpõeaogostodasplateias:abelezafísicadaatriz. Tôniaabriumãododireitoquelhecabiadeservaidosa.Massoubevalorizaroqueanatureza lhedera:davoz,dosolhos,dogestoedasatitudescorporaisconseguiuformaruminstrumento maleável,deraroesensívelpoderexpressivocomolinguagemteatral.Játemvividonacenaos papéismaisopostosedifíceis,semumafalhasequer,semperdadevigor,semquebraderitmo. SeusdesempenhosnaVeraCruzenoTBCelevaram-naàmaisaltacategoriaartística.éhojeuma das atrizes favoritas do público brasileiro.” Aníbal Machado, no programa de Amigos para Sempre “AníbalMachadomechamavadelinda,deslumbrante,mastambémmedeuumconselhopara sempre–jamaispassardacontaembeber.Porqueperderiaminhabeleza.Devoconfessarque muitas vezes passei, mas jamais esqueci o conselho dele.” Sexy! (adjetivo que Paulo Francis usava em quase todas as suas críticas sobre Tônia) “Tônia Carrero é a maior estrela do Brasil e estrela não tem idade.” Gláuber rocha “E,maisdoquenenhumaoutra,elaéamulherquesevestebem,temaclasseeelegânciaqueafaz, emcada vez quedeixa o rio de Janeiro e se dispõe a percorrer as capitais brasileiras, encontrarem todas as cidades que chega um verdadeiro festival de festas e recepções a sua espera.” Aramis Millarch, em O Estado do Paraná, 1978 “Tôniaé,aindahoje,amaisbelamulherqueconhecinavida.TivessenascidonaFrançaeseriaorosto daMarianne,símbolodarepúblicafrancesa;tivessefeitocarreiraemHollywoodeGretaGarboteriasido apenasmaisuma.MasTôniaoptoupelapátriaamadaaindaquetantasvezesmalagradecidaepreferiu ficarnorio,tornou seumagrandeatriz,contrariandoasprevisõesdeumdeseusprofessoresfranceses que teria dito:‘Você vai ser uma ótima senhora da sociedade, mas não tem nada a ver com teatro’.” Deolinda Vilhena, jornalista, produtora cultural, amiga de Tônia com quem trabalhou muitas vezes “Não sei quantos anos tem aTônia, mas outro dia ela entrou no Hipoppotamus e fechou. Não teve gatinha que lhe fizesse concorrência.” Danuza leão, em 1980, quando Tônia assumiu ter 58 anos “Eu mesma já lidei mal com o poder, porque beleza é poder, sexualidade é poder. Já senti esse poder bemfirmenasminhasmãosemedeimalcomele.Useiessepodercontramim.Podiaterorientadominha vida mais seriamente se tivesse tirado a venda desse pequeno poder.” “A mulher vive o seu apogeu dos 45 aos 65 anos de idade. Depois é preciso se reinventar a cada dia.” “Minhamaiorvaidadeémetornarcadavezmaisumserhumanomelhorecapazdeolharparaosoutros e não apenas para o próprio umbigo.” “Nãodisfarçomaisnada.Nãoqueroquemeachemlindaoubrilhante.Hojeestouacimadobemedomal.” CrONOlOGIADEUMACArrEIrA TEATrO UM DEUS DOrMIU lÁ EM CASA, de Guilherme Figueiredo. Direção de Silveira Sampaio. Cenários e figurinos de Carlos Thiré. Estréia em 13/12/1949 no Teatro Copacabana, rio de Janeiro. Com Tônia Carrero, como Alcmena, Paulo Autran, Vera Nunes e Armando Couto. AMANHã SE NãO CHOVEr, de Henrique Pongetti. Direção de Ziembinski. Apresentado no Teatro Copacabana em 1950. Com Tônia, como Francesca, Paulo Autran, Vera Nunes, Armando Couto e Paulo Geraldo. HElENA FECHOU A POrTA, de Accioly Netto. Direção de Ziembinski. Cenários e desenho das fardas de Carlos Thiré. Apresentado no Teatro Copacabana em 1950. Com Tônia, como Helena, Paulo Autran, Vera Nunes, Armando Couto, ludy Veloso e Paulo Monte. DON JUAN, comédia de Gui1herme Figueiredo. Direção de Armando Couto. Cenários e figurinos de Carlos Thiré. Apresentado no Teatro Cultura Artística, São Paulo, em 1950, juntamente com as três comédias anteriores. Com Tônia, como Dona Ana, Paulo Autran, Vera Nunes, Geraldo Miranda Jordão e Armando Couto. IMPrOVISO, coletânea de textos de Olavo Bilac, Manuel Bandeira, ruy Affonso, Jacques Prévert, Anacreonte, Carlos Drummond de Andrade, Arthur Azevedo, Haeckel Tavares, Paulo Vanzolini, Arnold Martier, Adolfo Celi e ruggero Jacobbi, Paulo Autran, Sérgio Cardoso, renato Consorte, Castro Alves e luiz Peixoto. Espetáculo idealizado por Nicette Bruno. Apresentado no Teatro Íntimo Nicette Bruno, São Paulo, em 7 e 11/11/1953. Com Tônia, Paulo Autran, Sérgio Cardoso e outros. reapresentado em junho de l954 com outro espetáculo do mesmo gênero do qual participavam também Cacilda Becker, Madalena Nicol e Jardel Filho. UMA CErTA CABANA, de André roussin. Direção de Adolfo Celi. Apresentado no Teatro Brasileiro de Comédia, São Paulo, a partir de 30/12/1953. Com Tônia, como Suzana, Paulo Autran e Maurício Barroso. UMA MUlHEr DO OUTrO MUNDO, de Noel Coward, com direção de Adolfo Celi. Apresentado no Teatro Brasileiro de Comédia, São Paulo, a partir de 21/05/1954. Com Tônia, como Elvira, Paulo Autran, Célia Biar e outros. NEGóCIOS DE ESTADO, de louis Verneuil. Direção de Ziembinski. Apresentado no Teatro Brasileiro de Comédia, São Paulo, a partir de 1/09/1954. Com Tônia, como Irene, Jardel Filho, Ziembinski, Margarida rey e outros. CâNDIDA, de Bernard Shaw. Direção de Ziembinski. Apresentado no Teatro Brasileiro de Comédia, São Paulo, a partir de 3/11/1954. Com Tônia, como Cândida, Jardel Filho, Ziembinski e outros. O PrOFUNDO MAr AZUl, de Terence rattigan, com direção de Adolfo Celi. Estreou no Teatro Ginástico, rio, em 1955. Tônia, como Hester, Paulo Autran, Maurício Barroso, Eugênio Kusnet, Benedito Corsi e outros. SANTA MArTA FABrIl, de Abílio Pereira de Almeida. Direção de Adolfo Celi. Apresentado no TBC de São Paulo e no rio de Janeiro em 1955. Com Tônia, Paulo Autran, Margarida rey, Célia Biar, Eugenio Kusnet, Odette lara e outros. Este espetáculo marcou a saída de Tônia do TBC. OTElO, de Shakespeare, em tradução de Onestaldo de Pennafort. Direção de Adolfo Celi. Apresentado no Teatro Dulcina, rio de Janeiro, a partir de 6/03/1956. Com Tônia, como Desdêmona, Paulo Autran, Margarida rey, Felipe Wagner e outros. Otelo inaugurou as atividades da Cia. Tônia-Celi-Autran, fundada em dezembro de 1955 e dissolvida em 1962. A VIúVA ASTUCIOSA, de Carlo Goldoni. Direção de Adolfo Celi. Apresentado no rio de Janeiro em 1956. Com Tônia, como rosaura, Paulo Autran, Claudio Correa e Castro, Margarida rey e outros. ENTrE qUATrO PArEDES, de Jean-Paul Sartre. Direção de Adolfo Celi. Apresentado no rio de Janeiro em 1956. Com Tônia, como Estelle, Paulo Autran e Margarida rey. UM DEUS DOrMIU lÁ EM CASA (nova montagem). Comédia de Guilherme Figueiredo. Direção de Adolfo Celi. Com Tônia, Paulo Autran, Aury Cahet e Benedito Corsi. Apresentado em 1956. ESSES MArIDOS, de Georges Axelrod. Direção de Adolfo Celi. Apresentado em Belo Horizonte e transferido para o rio de Janeiro em 1957. Com Tônia, como A Garota, Paulo Autran, Margarida rey e outros. NEGóCIOS DE ESTADO (nova montagem), de louis Verneuil, com direção de Adolfo Celi. Apresentado em excursão e no rio de Janeiro em 1957. Com Tônia, Paulo Autran e outros. O rAPTO DAS CEBOlINHAS, de Maria Clara Machado. Direção de Claudio Corrêa e Castro. Apresentado em excursão em 1957. Com Tônia, como Florípedes, Antonio Ganzarolli e outros. FrANKEl, de Antonio Callado. Direção de Adolfo Celi. Cenários de Glauco rodrigues. Apresentado em Porto Alegre e transferido para o rio de Janeiro em 1957. Com Tônia, como Estella, Paulo Autran, Cláudio Corrêa e Castro, Oswaldo loureiro e outros. NATAl NA PrAçA, de Henri Gheon. Direção de Benedito Corsi. Cenários e Figurinos de Ded Bourbonnais. Apresentado no Teatro Ginástico e nas escadas do Teatro Municipal, rio de Janeiro, em 1957. Com Tônia, como Mercedes/Nossa Senhora, Paulo Autran e outros. CAlúNIA, de lillian Hellman. Direção de Adolfo Celi. Apresentado no rio de Janeiro em 1958. Com Tônia, como Karin, Margarida rey, Sebastião Vasconcellos (em papel inicialmente interpretado por Paulo Autran), Helena Xavier e outros. OlHO MECâNICO, de A.C. Carvalho, com direção de Benedito Corsi. Apresentado no rio de Janeiro em 1958. Com Alan lima, Aury Cahet e outros. Tônia aparecia em participação especial como uma florista. SEIS PErSONAGENS À PrOCUrA DE UM AUTOr, de luigi Pirandello. Direção de Adolfo Celi. Apresentado no rio de Janeiro em 1959. Com Tônia, como A Enteada, Paulo Autran, Margarida rey e grande elenco. A TOrrE DE MArFIM, de Cléber ribeiro Fernandes, e direção de Adolfo Celi. Apresentado no rio de Janeiro em 1959. Com Tônia, como ângela, Oswaldo loureiro, Paulo Autran e outros. DOIS NA GANGOrrA, de William Gibson, e direção de Adolfo Celi. Apresentado no Teatro Mesbla, rio de Janeiro, a partir de 13/11/1960. Com Tônia, como Gittel Mosca e Paulo Autran. lISBElA E O PrISIONEIrO, de Osman lins, com direção de Adolfo Celi. Apresentado no Teatro Mesbla, rio de Janeiro, a partir de 13/04/1961. Com Tônia, como lisbela, Paulo Autran e grande elenco. CASTElO NA SUéCIA, de Françoise Sagan. Direção de Adolfo Celi. Apresentado no Teatro Mesbla, rio de Janeiro, a partir de 7/12/1961. Com Tônia, como Eleonora, Paulo Autran, Adolfo Celi, Margarida rey e outros. TIrO E qUEDA, comédia de Marcel Achard. Direção de Antonio de Cabo. Apresentado no Teatro Ginástico, rio de Janeiro, a partir de 29/06/1962. Com Tônia, como Josefa, Paulo Autran, Ivan Candido e outros. Tiro e queda foi a produção final da Cia. Tônia-Celi-Autran, já sem a participação de Adolfo Celi. qUAlqUEr qUArTA-FEIrA, de Muriel resnik. Direção de Maurice Vaneau. Apresentado no Teatro Copacabana, rio de Janeiro, em 1964. Com Tônia, como Ellen, Jardel Filho, Sergio Viotti e Margarida rey. A DAMA DO MAXIM’S, de Georges Feydeau. Direção e cenários de Gianni ratto. Apresentado no Teatro Maison de France, rio de Janeiro, em 1965. Com Tônia, como Nini Bombom, Paulo Autran, Sebastião Vasconcellos, Berta loran e outros. OS COrrUPTOS, de lillian Hellman. Direção de João Augusto. Apresentado no Teatro Guaíra, Curitiba, e transferido para o Teatro Maison de France, rio de Janeiro, em 1967. Com Tônia, como regina, raul Cortez, Paulo Gracindo, Célia Biar, Djenane Machado e outros. NAVAlHA NA CArNE, de Plínio Marcos, e direção de Fauzi Arap. Apresentado no Teatro Maison de France e no Teatro Gláucio Gil, rio de Janeiro, de setembro de 1967 a fevereiro de 1968. Com Tônia, como Neusa Suely, Nelson Xavier e Emiliano queiroz. FAlANDO DE rOSAS, de Frank D. Gilroy. Direção de Fauzi Arap. Apresentado no Teatro Bela Vista, São Paulo, e transferido para o Teatro Copacabana, rio de Janeiro, em 1969. Com Tônia, como Nellie, Jardel Filho e Cecil Thiré. MACBETH, de Shakespeare, com direção de Fauzi Arap. Apresentado no Teatro Maison de France, rio de Janeiro, e em São Paulo em 1970. Com Tônia, como lady Macbeth, Paulo Autran e grande elenco. Em São Paulo, Tônia foi substituída na segunda semana por Madalena Nicol. CASA DE BONECAS, de Henrik Ibsen, com direção de Cecil Thiré e cenário de Napoleão Moniz Freire. Apresentado no Teatro Gláucio Gil, rio de Janeiro, de 6/10/1971 a 30/01/1972. Com Tônia, como Nora, rubens de Falco (substituído em São Paulo por luís de lima), rosita Tomás lopes, Napoleão Moniz Freire (substituído por Cecil Thiré e Fernando Torres) e outros. Em 1973 foi apresentada em São Paulo no Teatro Anchieta. TIrO E qUEDA (nova montagem), comédia de Marcel Achard e direção de Cecil Thiré. Apresentado no Teatro Copacabana, rio de Janeiro, de 6/08/1974 a 10/11/1974. Com Tônia, como Josefa, Carlos Eduardo Dolabella, Cecil Thiré, rogério Fróes, Suzana Vieira e outros. CONSTANTINA, de W. Somerset Maugham, tradução e direção de Cecil Thiré. Cenário de Arlindo rodrigues. Figurinos de Guilherme Guimarães. Estréia no Teatro Copacabana, rio de Janeiro, em 3/12/1974, permanecendo mais de um ano em cartaz e apresentando-se posteriormente, em 1977, em São Paulo e em diversas capitais brasileiras. Com Tônia, como Constantina, rogério Fróes, Suzana Vieira, roberto Maya, rosita Tomás lopes e outros. O elenco para a temporada em São Paulo, 1977, no Teatro Brigadeiro, incluiu, entre outros, Paulo Goulart e Karin rodrigues. DOCE PÁSSArO DA JUVENTUDE, de Tennessee Williams, e direção de Carlos Kroeber e Cecil Thiré. Apresentado no Teatro Adolpho Bloch, rio de Janeiro, em 1976. Com Tônia, como Alexandra Del lago, Carlos Kroeber, Nuno leal Maia, leina Krespi e grande elenco. qUEM TEM MEDO DE VIrGINIA WOOlF, de Eduardo Albee, direção de Antunes Filho. Apresentado no Teatro Anchieta, São Paulo, em 1978. Com Tônia, como Martha, raul Cortez, roberto lopes. TEU NOME é MUlHEr, comédia de Marcel Mithois, tradução de Cecil Thiré e direção de Adolfo Celi. Apresentado no Teatro Maison de France, rio de Janeiro, em 1979, permanecendo mais de um ano em cartaz. Com Tônia, como Cherie Benricach, Célia Biar, Maria Zilda, Marcos Wainberg, Helio Ary e grande elenco. A VOlTA POr CIMA, comédia de Domingos de Oliveira e lenita Plonczinska. Direção de Domingos de Oliveira. Apresentado no Teatro Maison de France, rio de Janeiro, em 1981, permanecendo mais de um ano em cartaz. Com Tônia, como Dulce, Caíque Ferreira, Thelma reston, Sebastião Vasconcellos, Maria Zilda e outros. A AMANTE INGlESA, de Marguerite Duras. Apresentado no Teatro Maison de France, rio de Janeiro, 1983. Com Tônia, como A Acusada, Paulo Autran e Jacqueline laurence (substituída por Karin rodrigues). A DIVINA SArAH, de John Murrell. Tradução e direção de João Bethencourt. Cenário e figurinos de Naum Alves de Souza. Apresentado no Teatro Maison de France, rio de Janeiro, em 1984; no Teatro renaissance, São Paulo, em 1985; e em excursão por inúmeras cidades do Brasil. Com Tônia, como Sarah Bernhardt, e Cecil Thiré. qUArTETT, de Heiner Muller, direção de Gerald Thomas, com Tônia, como a Marquesa de Merteuil, e Sérgio Brito. Estreou em 1986 na Casa de Cultura laura Alvim, no rio de Janeiro. ESSA VAlSA é MINHA, de William luce, direção do Márcio Aurélio e Tônia, como Zelda Fitzgerald. Estreou no Teatro Cultura Artística – Sala 2, São Paulo, em 1989. No rio de Janeiro, a temporada foi no Teatro Glória. MUNDO, VASTO MUNDO, coletânea de textos de Carlos Drummond de Andrade, com Tônia, Paulo Autran e o coral Garganta Profunda. Estréia no Centro Cultural Banco do Brasil, rio de Janeiro, em 1990. AS ATrIZES, texto de Juca de Oliveira, direção de Bibi Ferreira. Elenco original: Tônia, como Marilda, Mauro Mendonça, lucélia Santos, Márcia Cabrita e Osmar Prado. Estreou no Teatro Villa lobos, em 1991. ElA é BÁrBArA, de Barillet e Gredy, direção de Cecil Thiré com Tônia, em papel duplo como as gêmeas Bárbara e Mildred, e ainda luiz Carlos de Moraes, luiz Parreiras, luiz Guilherme, luiz Thomas, Ileana Kwazinski, Bárbara Thiré, Otávio Mendes. Estreou no Centro Cultural Vergueiro, Teatro Jardel Filho, São Paulo, em 1993. AMIGOS PArA SEMPrE, monólogo com roteiro de Tônia Carrero e luiz Arthur Nunes, também diretor. Estreou em 1996 na Casa de Cultura laura Alvim, no rio de Janeiro, e fez temporada em São Paulo e em inúmeras cidades brasileiras. UM EqUIlÍBrIO DElICADO, de Edward Albee, com direção de Eduardo Wotzik. Com Tônia Carrero, como Agnes, e ainda no elenco Walmor Chagas, luiz de lima, Camila Amado, Ítala Nandi, Clarice Niskier. Estreou no Centro Cultural Banco do Brasil, em 1999. O JArDIM DAS CErEJEIrAS, de Anton Tchekhov, com direção de élcio Nogueira. Tônia Carrero, como liubov, e renato Borghi, Dirce Migliaccio, Beth Goulart, Abraão Farc, Iara Jamra, Ana Kutner, Milhem Cortaz, roberto Alvim, Caio César, Nilton Bicudo e roger Avanzi. Estreou no Sesc Vila Mariana, São Paulo, em 2000. A temporada carioca foi no Teatro Nélson rodrigues. A VISITA DA VElHA SENHOrA, de Friedrich Dürrenmatt, com direção de Moacyr Góes. Tônia, como Clara Zachanassian, e Carlos Alberto (substituído em São Paulo por Edney Giovenazzi), Cláudio Corrêa e Castro, Ivan Cândido, Fábio Sabag, Nélson Dantas, Ivone Hoffman, leonardo Thierry, Paulo Vespúcio e leon Góes, entre outros. Estreou em 2002 no Teatro Nélson rodrigues, rio de Janeiro. Em 2003 fez temporada em São Paulo no Teatro Sérgio Cardoso. CHEGA DE HISTórIA, texto e direção de Fauzi Arap, com Tônia, como Dona Filó, e Nilton Bicudo. Estreou em 2005 em São Paulo, no Espaço Promon, fazendo temporada em 2006 no rio de Janeiro na Casa de Cultura laura Alvim. UM BArCO PArA O SONHO, de Alexei Arbuzov, com direção de Carlos Artur Thiré, com Tônia, como lídia Volinina, e Mauro Mendonça. Estreou em junho de 2007 no Teatro Maison de France. CINEMA 1947 – qUErIDA SUZANA, de Alberto Pieralisi, como uma das colegiais; 1949 – CAMINHOS DO SUl, de Fernando de Barros, como Helena; 1949 – qUANDO A NOITE ACABA (Perdida pela Paixão), de Fernando de Barros, como Margarida; 1952 – TICO-TICO NO FUBÁ, de Adolfo Celi, como Branca; 1952 – APASSIONATA, de Fernando de Barros, como Sílvia Nogalis; 1953 – é PrOIBIDO BEIJAr, de Ugo lombardi, como June, lançado em 1954; 1954 – MãOS SANGrENTAS, de Carlos Hugo Christensen, como Sangerin, lançado em 1955; 1960 – AlIÀS GArDElITO (produção argentina), de lautaro Murúa, como A Esposa, lançado na Argentina em 1961 e inédito no Brasil; 1961 – CArNIVAl OF CrIME/SóCIO DE AlCOVA (co-produção EUA/Brasil/Argentina), de George M. Cahan, como Marina, lançado em 1962; 1961 – ESSE rIO qUE EU AMO, de Carlos Hugo Christensen, como Genoveva, lançado em 1962; 1962 – COPACABANA PAlACE (produção franco-italiana), de Steno, como A Esposa do ladrão de Jóias; 1969 – TEMPO DE VIOlÊNCIA, de Hugo Kusnet, como Marta; 1976 – GOrDOS E MAGrOS, de Mário Carneiro, como Mãe do Gordo, lançado em 1977; 1987 – FOGO E PAIXãO, de Marcio Kogan e Isay Weinfeld, como A Mendiga, lançado em 1988; 1987 – A BElA PAlOMErA (co-produção Brasil/Espanha), de ruy Guerra, como mãe de Orestes (Ney latorraca), lançado em 1988; 1987 – SONHOS DE MENINA MOçA, de Tereza Trautman, como Yolanda, lançado em 1988; 1988 – O GATO DE BOTAS EXTrATErrESTrE, de Wilson rodrigues, como A Avó, lançado em 1990; 2004 – VINÍCIUS, de Miguel Faria Jr., em que Tônia dá o seu depoimento sobre o poeta Vinícius de Moraes, lançado em 2005; 2006 – CHEGA DE SAUDADE, de laíz Bodanzky, como Alice, lançado em 2008. TElEVISãO Nos primórdios da televisão Tônia participou de diversos programas na TV Tupi, em São Paulo, TV Tupi, no rio de Janeiro, e TV rio. NOVElAS 1966 – A MUlHEr qUE AMOU DEMAIS, TV rio, baseado em Ana Karenina, de Tolstoi, no papel-título; 1969 – SANGUE DO MEU SANGUE, TV Excelsior, de Vicente Sesso, direção de Sérgio Brito, como Pola renon; 1970 – PIGMAlIãO 70, TV Globo, de Vicente Sesso, direção de régis Cardoso, como Cristina; 1970 – A PróXIMA ATrAçãO, TV Globo, novela de Vicente Sesso, direção de régis Cardoso, como Glória; 1971 – O CAFONA, TV Globo, de Bráulio Pedroso, direção de Daniel Filho e Walter Campos, como Beatriz; 1972 – O PrIMEIrO AMOr, TV Globo, de Wálter Negrão, direção de régis Cardoso, como Maria do Carmo ; 1972 – UMA rOSA COM AMOr, TV Globo, de Vicente Sesso, direção de Wáter Campos, como roberta; 1980 – ÁGUA VIVA, TV Globo, de Gilberto Braga com a colaboração de Manoel Carlos, direção de roberto Talma e Paulo Ubiratan, como Stella; 1981 – O AMOr é NOSSO!, TV Globo, de roberto Freire e Wilson Aguiar Filho, escrita por roberto Freire, Wilson Aguiar Filho e Wálter Negrão, direção de Gonzaga Blota, Mário Márcio Bandarra e Jorge Fernando, como Gilda; 1983 – lOUCO AMOr, TV Globo, de Gilberto Braga, com a colaboração de leonor Bassères, direção de Wolf Maya, José Wilker, Fred Confalonieri e Ary Coslov, como Muriel; 1987 – SASSArICANDO, TV Globo, de Silvio de Abreu, direção de Cecil Thiré, lucas Bueno e Miguel Falabella, como rebeca; 1989 – KANANGA DE JAPãO, TV Manchete, de Wilson Aguiar Filho, colaboração de leila Miccolis, direção de Tizuka Yamasaki, Carlos Magalhães, Marcos Schechtmann e Wilson Solon, como letícia Vianna; 1995 – SANGUE DO MEU SANGUE, SBT, novela de Vicente Sesso, rita Buzzar e Paulo Figueiredo, direção de Henrique Martins e Antonino Seabra, direção geral de Del rangel e Nilton Travesso, como Cecile renon, tia de Pola renon, interpretada por Bia Seidl; 2000 – ESPlENDOr, TV Globo, de Ana Maria Moretzsohn, direção de luciano Sabino e Ary Coslov, direção geral de Maurício Farias, como Mimi Melodie; 2004 – SENHOrA DO DESTINO, TV Globo, de Aguinaldo Silva, direção de luciano Sabino, Marco rodrigo, Cláudio Boeckel e Ary Coslov, direção geral de Wolf Maya, como Madame Berthe. OUTrOS PrOGrAMAS NA TV GlOBO 1971 – MEUS FIlHOS, Caso Especial; 1973 – PrAIAS DESErTAS, Caso Especial; 1973 – NINGUéM POr PErTO, Caso Especial; 1976 – O SIlÊNCIO é DE OUrO, Caso Especial; 1979 – VESTIDO DE NOIVA, Aplauso; 1998 – GArOTO DE PrOGrAMA, Você Decide; 2000 – MAMãEZINHA qUErIDA, Você Decide; 2004 – UM Só COrAçãO, minissérie; 2005 – ENTrE A CrUZ E A EMPADA, Sob Nova Direção. Crédito Das Fotografias Paulo Muniz 30 Ivone Perez 38 Carlos 48, 49, 50, 51, 52,53, 54, 55, 56, 57, 58, 97, 98, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108 Vidarty 60, 61 Adolfo Celi 64, 65, 88 Badaró Braga 67, 68, 69, 71, 72, 73 Lilian Davidson 81 Cordeiro Valentim 90 Richard Sasso 110, 111, 112 Rodrigo Octavio 114 M Siqueira 109 Marisa Álvarez Lima 131, 132, 133 Thereza Pinheiro 125, 126, 127 Silas Vilarini 130, 131, 132 Milton Guran 133 Guga Melgar 140, 141 Paula Morelembaum 144 Sílvio Pozatto 148, 149, 150, 151 André Wanderley 156, 157, 158, 159, 160, 161 Pedro Lima 170, 171, 172, 173, 174 Taki 183 Agência Nacional 183 Lauro S Lima 195 Americo 196 Damásio 197 Tv Globo/cedoc 201, 202, 205, 207, 210 Manchete 209 Mathias Rezende 211 Belin 215 Luiz Silva 217 Cristina Granato 219 Antonio Reinaldo 221 Marcelo Faustini Vera Donato 224, 225 A presente obra conta com diversas fotos, grande parte de autoria identificada e, desta forma, devidamentecreditada.Contudo,a despeitodosenormesesforçosdepesquisaempreendidos, umapartedasfotografiasoradisponibilizadasnãoédeautoriaconhecidadeseusorganizadores, fazendopartedoacervopessoaldobiografado.qualquerinformaçãonestesentidoserábem-vinda, pormeiodecontatocomaeditoradestaobra(livros@imprensaoficial.com.br/GrandeSãoPaulo SAC 11 5013 5108 | 5109 / Demais localidades 0800 0123 401), para que a autoria das fotografias porventura identificadas seja devidamente creditada. Coleção Aplauso Alain Fresnot – Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot Agostinho Martins Pereira – Um Idealista Máximo Barro O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger Anselmo Duarte – O Homem da Palma de Ouro luiz Carlos Merten Antonio Carlos da Fontoura – Espelho da Alma rodrigo Murat Ary Fernandes – Sua Fascinante História Antônio leão da Silva Neto O Bandido da Luz Vermelha roteiro de rogério Sganzerla Batismo de Sangue roteiro de Dani Patarra e Helvécio ratton Bens Confiscados roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos reichenbach Braz Chediak – Fragmentos de uma vida Sérgio rodrigo reis Cabra-Cega roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra – Um Homem Raro luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de Viver Marcelo lyra A Cartomante roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves roteiro de Jean-Claude Bernardet e luis Sérgio Person O Céu de Suely roteiro de Karim Aïnouz, Felipe Bragança e Maurício Zacharias Chega de Saudade roteiro de luiz Bolognesi Cidade dos Homens roteiro de Elena Soárez Como Fazer um Filme de Amor roteiro escrito e comentado por luiz Moura e José roberto Torero Críticas de Edmar Pereira – Razão e Sensibilidade Org. luiz Carlos Merten Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda leão Críticas de Ruben Biáfora – A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem roteiro de Cláudio Yosida e Direção de ricardo Elias Desmundo roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista – Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos roteiro de Carlos reichenbach A Dona da História roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Os 12 Trabalhos roteiro de Cláudio Yosida e ricardo Elias Estômago roteiro de lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade Fernando Meirelles – Biografia Prematura Maria do rosário Caetano Fim da Linha roteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Storyboards de Fábio Moon e Gabriel Bá Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil luiz Zanin Oricchio Geraldo Moraes – O Cineasta do Interior Klecius Henrique Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta Cinéfilo luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton – O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito Ivan Cardoso – O Mestre do Terrir remier João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do rosário Caetano Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Antonio Garcia – Em Busca da Alma Feminina Marcel Nadale José Carlos Burle – Drama na Chanchada Máximo Barro Liberdade de Imprensa – O Cinema de Intervenção renata Fortes e João Batista de Andrade Luiz Carlos Lacerda – Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla – A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Mauro Alice – Um Operário do Filme Sheila Schvarzman Miguel Borges – Um Lobisomem Sai da Sombra Antônio leão da Silva Neto Não por Acaso roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Narradores de Javé roteiro de Eliane Caffé e luís Alberto de Abreu Onde Andará Dulce Veiga roteiro de Guilherme de Almeida Prado Orlando Senna – O Homem da Montanha Hermes leal Pedro Jorge de Castro – O Calor da Tela rogério Menezes Quanto Vale ou É por Quilo roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi Ricardo Pinto e Silva – Rir ou Chorar rodrigo Capella Rodolfo Nanni – Um Realizador Persistente Neusa Barbosa O Signo da Cidade roteiro de Bruna lombardi Ugo Giorgetti – O Sonho Intacto rosane Pavam Vladimir Carvalho – Pedras na Lua e Pelejas no Planalto Carlos Alberto Mattos Viva-Voz roteiro de Márcio Alemão Zuzu Angel roteiro de Marcos Bernstein e Sergio rezende Bastidores – Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Cinema Digital – Um Novo Começo? luiz Gonzaga Assis de luca Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças Maria lúcia Dahl Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo – Dança Universal Sérgio rodrigo reis Alcides Nogueira – Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta – Circo e Poesia Danielle Pimenta Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior João Bethencourt – O Locatário da Comédia rodrigo Murat Leilah Assumpção – A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu – Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau – Artista Múltiplo leila Corrêa Renata Palottini – Cumprimenta e Pede Passagem rita ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBC Nydia licia O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso – Pólvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora – Os Cantos de Maldoror – De Profundis – A Herança do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor – A Terra Prometida Samir Yazbek Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda – Quatro Décadas em Cena Ariane Porto Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Arllete Montenegro – Fé, Amor e Emoção Alfredo Sternheim Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros rogério Menezes Bete Mendes – O Cão e a Rosa rogério Menezes Betty Faria – Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati – Luz Natural Carlos Alberto Mattos Celso Nunes – Sem Amarras Eliana rocha Cleyde Yaconis – Dama Discreta Vilmar ledesma David Cardoso – Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Denise Del Vecchio – Memórias da Lua Tuna Dwek Elisabeth Hartmann – A Sarah dos Pampas reinaldo Braga Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da Vida Maria leticia Etty Fraser – Virada Pra Lua Vilmar ledesma Ewerton de Castro – Minha Vida na Arte: Memória e Poética reni Cardoso Geórgia Gomide – Uma Atriz Brasileira Eliana Pace Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no Ar Sérgio roveri Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do Cinema Maria Angela de Jesus Ilka Soares – A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache – Caçadora de Emoções Tania Carvalho Irene Stefania – Arte e Psicoterapia Germano Pereira Isabel Ribeiro – Iluminada luis Sergio lima e Silva Joana Fomm – Momento de Decisão Vilmar ledesma John Herbert – Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa Jonas Bloch – O Ofício de uma Paixão Nilu lebert José Dumont – Do Cordel às Telas Klecius Henrique Leonardo Villar – Garra e Paixão Nydia licia Lília Cabral – Descobrindo Lília Cabral Analu ribeiro Lolita Rodrigues – De Carne e Osso Eliana Castro Louise Cardoso – A Mulher do Barbosa Vilmar ledesma Marcos Caruso – Um Obstinado Eliana rocha Maria Adelaide Amaral – A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado – A Estrela, O Mistério luiz Carlos lisboa Mauro Mendonça – Em Busca da Perfeição renato Sérgio Miriam Mehler – Sensibilidade e Paixão Vilmar ledesma Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em Família Elaine Guerrini Nívea Maria – Uma Atriz Real Mauro Alencar e Eliana Pace Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das Outras Sara lopes Paulo Betti – Na Carreira de um Sonhador Teté ribeiro Paulo José – Memórias Substantivas Tania Carvalho Pedro Paulo Rangel – O Samba e o Fado Tania Carvalho Regina Braga – Talento é um Aprendizado Marta Góes Reginaldo Faria – O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi – Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Borghi – Borghi em Revista élcio Nogueira Seixas Renato Consorte – Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin – Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho – Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro Nydia licia Ruth de Souza – Estrela Negra Maria ângela de Jesus Sérgio Hingst – Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti – O Cavalheiro das Artes Nilu lebert Silvio de Abreu – Um Homem de Sorte Vilmar ledesma Sônia Guedes – Chá das Cinco Adélia Nicolete Sonia Maria Dorce – A Queridinha do meu Bairro Sonia Maria Dorce Armonia Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodrigueana? Maria Thereza Vargas Suely Franco – A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio roveri Tony Ramos – No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Vera Holtz – O Gosto da Vera Analu ribeiro Vera Nunes – Raro Talento Eliana Pace Walderez de Barros – Voz e Silêncios rogério Menezes Zezé Motta – Muito Prazer rodrigo Murat Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso Wagner de Assis Beatriz Segall – Além das Aparências Nilu lebert Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Cinema da Boca – Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor – O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma – Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Ney Latorraca – Uma Celebração Tania Carvalho Raul Cortez – Sem Medo de se Expor Nydia licia Rede Manchete – Aconteceu, Virou História Elmo Francfort Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte Nydia licia TV Tupi – Uma Linda História de Amor Vida Alves Victor Berbara – O Homem das Mil Faces Tania Carvalho Walmor Chagas – Ensaio Aberto para Um Homem Indignado Djalma limongi Batista Coleção Aplauso Série Especial Coordenador Geral Coordenador Operacional e Pesquisa Iconográfica Projeto Gráfico Editoração Editor Assistente Assistência a Editoração Tratamento de Imagens Rubens Ewald Filho Marcelo Pestana e Carlos Cirne Via Impressa Design Gráfico AndréBurnier Clayton Policarpo Denis Zucherato Emerson Brito WilliamF. Santos Felipe Goulart Edson Lemos Anderson Lima Ailton Giopatto Carlos Leandro A. Branco José Carlos da Silva Leonídio Gomes Tiago Cheregatti ©by Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Carvalho, Tania TôniaCarrero:movidapelapaixão/TaniaCarvalho –SãoPaulo: ImprensaOficialdoEstadodeSãoPaulo,2009. 276p.: il. – (Coleção aplauso. Série especial/Coordenador geral Rubens Ewald Filho). ISBN 978-85-7060-688-4 1. Atores e atrizes de teatro – Brasil 2. Atores e atrizes cinematográficos – Brasil 3. Atores e atrizes de televisão – Brasil 4. Carrero, Tônia, 1922 I. Ewald Filho, Rubens II. Titulo. III. Série. CDD 791.092 Índice para catálogo sistemático: 1. Atores brasileiros: Biografiae Obra 791.092 Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei no 10.994, de 14/12/2004) Direitos reservados e protegidos pela lei no 9.610/98 Impresso no Brasil/2009 Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Rua da Mooca, 1.921 Mooca 03103-902 São Paulo SP www.imprensaoficial.com.br livros@imprensaoficial.com.br SAC Grande São Paulo 11 5013 5108/5109 Demais localidades 0800 0123 401