Eva Todor O Teatro da Minha Vida Eva Todor O Teatro da Minha Vida Maria Angela de Jesus IMPRENSA OFICIAL SÃO PAULO, 2007 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO TRABALHANDO POR VOCÊ GOVERNADOR JOSÉ SERRA IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO Diretor-presidente Hubert Alquéres Diretor Vice-presidente Paulo Moreira Leite Diretor Industrial Teiji Tomioka Diretor Financeiro Clodoaldo Pelissioni Diretora de Gestão Corporativa Lucia Maria Dal Medico Chefe de Gabinete Vera Lúcia Wey Coleção Aplauso Série Especial   Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Coordenador Operacional e Pesquisa Iconográfica Marcelo Pestana Projeto Gráfico e Editoração Carlos Cirne Assistente Operacional Felipe Goulart Tratamento de Imagens José Carlos da Silva Revisão Heleusa Angélica Teixeira Apresentação “O que lembro, tenho.” Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, tem como atributo principal reabilitar e resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas do cinema, do teatro e da televisão. Essa importante historiografia cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de maneira singular. O coordenador de nossa coleção, o crítico Rubens Ewald Filho, selecionou, criteriosamente, um conjunto de jornalistas especializados para realizar esse trabalho de aproximação junto a nossos biografados. Em entrevistas e encontros sucessivos foi-se estreitando o contato com todos. Preciosos arquivos de documentos e imagens foram abertos e, na maioria dos casos, deu-se a conhecer o universo que compõe seus cotidianos. A decisão em trazer o relato de cada um para a primeira pessoa permitiu manter o aspecto de tradição oral dos fatos, fazendo com que a memória e toda a sua conotação idiossincrásica aflorasse de maneira coloquial, como se o biografado estivesse falando diretamente ao leitor. Gostaria de ressaltar, no entanto, um fator importante na Coleção, pois os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao leitor facetas que caracterizam também o artista e seu ofício. Tantas vezes o biógrafo e o biografado foram tomados desse envolvimento, cúmplices dessa simbiose, que essas condições dotaram os livros de novos instrumentos. Assim, ambos se colocaram em sendas onde a reflexão se estendeu sobre a formação intelectual e ideológica do artista e, supostamente, continuada naquilo que caracterizava o meio, o ambiente e a história brasileira naquele contexto e momento. Muitos discutiram o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida. Deixaram transparecer a firmeza do pensamento crítico, denunciaram preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando o nosso país, mostraram o que representou a formação de cada biografado e sua atuação em ofícios de linguagens diferenciadas como o teatro, o cinema e a televisão – e o que cada um desses veículos lhes exigiu ou lhes deu. Foram analisadas as distintas linguagens desses ofícios. Cada obra extrapola, portanto, os simples relatos biográficos, explorando o universo íntimo e psicológico do artista, revelando sua autodeterminação e quase nunca a casualidade em ter se tornado artista, seus princípios, a formação de sua personalidade, a persona e a complexidade de seus personagens. São livros que irão atrair o grande público, mas que – certamente – interessarão igualmente aos nossos estudantes, pois na Coleção Aplauso foi discutido o intrincado processo de criação que envolve as linguagens do teatro e do cinema. Foram desenvolvidos temas como a construção dos personagens interpretados, bem como a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns dos personagens vividos pelos biografados. Foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferenciação fundamental desses dois veículos e a expressão de suas linguagens. A amplitude desses recursos de recuperação da memória por meio dos títulos da Coleção Aplauso, aliada à possibilidade de discussão de instrumentos profissionais, fez com que a Imprensa Oficial passasse a distribuir em todas as bibliotecas importantes do país, bem como em bibliotecas especializadas, esses livros, de gratificante aceitação. Gostaria de ressaltar seu adequado projeto gráfico, em formato de bolso, documentado com iconografia farta e registro cronológico completo para cada biografado, em cada setor de sua atuação. A Coleção Aplauso, que tende a ultrapassar os cem títulos, se afirma progressivamente, e espera contemplar o público de língua portuguesa com o espectro mais completo possível dos artistas, atores e diretores, que escreveram a rica e diversificada história do cinema, do teatro e da televisão em nosso país, mesmo sujeitos a percalços de naturezas várias, mas com seus protagonistas sempre reagindo com criatividade, mesmo nos anos mais obscuros pelos quais passamos. Além dos perfis biográficos, que são a marca da Coleção Aplauso, ela inclui ainda outras séries: Projetos Especiais, com formatos e características distintos, em que já foram publicadas excepcionais pesquisas iconográficas, que se originaram de teses universitárias ou de arquivos documentais preexistentes que sugeriram sua edição em outro formato. Temos a série constituída de roteiros cinematográficos, denominada Cinema Brasil, que publicou o roteiro histórico de O Caçador de Diamantes, de Vittorio Capellaro, de 1933, considerado o primeiro roteiro completo escrito no Brasil com a intenção de ser efetivamente filmado. Paralelamente, roteiros mais recentes, como o clássico O Caso dos Irmãos Naves, de Luis Sérgio Person, Dois Córregos, de Carlos Reichenbach, Narradores de Javé, de Eliane Caffé, e Como Fazer um Filme de Amor, de José Roberto Torero, que deverão se tornar bibliografia básica obrigatória para as escolas de cinema, ao mesmo tempo em que documentam essa importante produção da cinematografia nacional. Gostaria de destacar a obra Gloria in Excelsior, da série TV Brasil, sobre a ascensão, o apogeu e a queda da TV Excelsior, que inovou os procedimentos e formas de se fazer televisão no Brasil. Muitos leitores se surpreenderão ao descobrirem que vários diretores, autores e atores, que na década de 70 promoveram o crescimento da TV Globo, foram forjados nos estúdios da TV Excelsior, que sucumbiu juntamente com o Grupo Simonsen, perseguido pelo regime militar. Se algum fator de sucesso da Coleção Aplauso merece ser mais destacado do que outros, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. De nossa parte coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica, contar com a boa vontade, o entusiasmo e a generosidade de nossos artistas, diretores e roteiristas. Depois, apenas, com igual entusiasmo, colocar à disposição todas essas informações, atraentes e acessíveis, em um projeto bem cuidado. Também a nós sensibilizaram as questões sobre nossa cultura que a Coleção Aplauso suscita e apresenta – os sortilégios que envolvem palco, cena, coxias, set de filmagens, cenários, câmeras – e, com referência a esses seres especiais que ali transitam e se transmutam, é deles que todo esse material de vida e reflexão poderá ser extraído e disseminado como interesse que magnetizará o leitor. A Imprensa Oficial se sente orgulhosa de ter criado a Coleção Aplauso, pois tem consciência de que nossa história cultural não pode ser negligenciada, e é a partir dela que se forja e se constrói a identidade brasileira. Hubert Alquéres Diretor-presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Dedico O Teatro de Minha Vida a todos aqueles que apreciaram meu trabalho, ao longo dos meus 70 anos de carreira. Foram quatro gerações, às quais procurei oferecer o melhor da minha arte. Eva Todor Para Rosangela e Natália, por todo apoio e carinho. Maria Angela de Jesus Agradecimentos Em especial a Marcelo Del Cima, dono de um grande acervo de artes cênicas, pela digitalização e tratamento de fotos contidas neste livro, pela incansável ajuda na seleção das imagens e pela foto de capa. A Ângela de Castro Reis, pelas informações fornecidas a partir de sua tese A Tradição Viva em Cena: Eva Todor na Companhia Eva e Seus Artistas, desenvolvida dentro do Programa de Pós-Graduação em Teatro do Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e premiada na Bahia, Portugal e Rio Grande do Sul. E à Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, que foi a única a me procurar para realizar essa publicação. Mesmo sendo eu uma atriz essencialmente carioca, a Imprensa Oficial de São Paulo me fez essa deferência, com a qual me sinto muito honrada e gratificada. Vaidosamente me confirma aquilo que sempre me foi dito: que sou muito querida em São Paulo. Eva Todor Introdução Fódor, em húngaro, quer dizer babado. Seria perfeito se Eva Fódor não tivesse trocado a Hungria pelo Brasil e aqui construído uma brilhante carreira artística. Mudou de Fódor para Todor, por razões óbvias, mas sempre foi do babado: arrasou na revista musical, levou o público à loucura nas comédias e emocionou nos dramas. Nasceu para os palcos e nele permaneceu por 60 anos, encenando cerca de 200 peças. Eva, naturalmente cômica, sabe fazer rir como ninguém. Criou um estilo: o gênero Eva, que durante décadas lotou os teatros onde se apresentava e se tornou sinônimo de bom humor. Com sua faceirice nata, conheceu o sucesso ainda muito jovem. Com apenas 16 anos era primeira-atriz da companhia de Luiz Iglézias – com quem viria a se casar. Depois, teve sua própria companhia, Eva e seus Artistas, realizando espetáculos no Brasil, em Portugal e na África. Pode-se dizer que a vida quase sempre lhe foi gentil. Obstáculos, ela encontrou poucos. Além disso, sempre soube tirar proveito das dificuldades para se firmar como uma grande atriz. Por toda minha vida, fui muito bem cuidada, muito mimada, pela família, pelos colegas de trabalho, pelos diretores. Trabalhei com os mais diversos diretores. Na comédia, tenho uma fileira deles para enumerar, na revista tenho mais alguns, enfim foram pessoas maravilhosas com quem trabalhei. E sempre fui tratada como uma boneca, confessa. Bonita, talentosa e naturalmente engraçada, Eva relembra sua inusitada estréia nos palcos. Ainda vivia na Hungria e tinha apenas 4 anos quando fez sua primeira apresentação de balé. Era para ter sido uma apresentação infantil como outra qualquer, mas ela acabou chamando a atenção por um fato curioso. Foi flagrada fazendo um inocente e incontrolável xixi no palco. O público caiu na gargalhada. Sem saber, naquele momento, Eva estreava na comédia. Quatro anos depois desse pequeno incidente, Eva Todor veio para o Brasil com os pais. Aqui teve a oportunidade de construir uma invejável carreira. Já fez o público rir e chorar, mas o humor é, sem dúvida, sua marca registrada. Tanto que migrou com facilidade do teatro para a TV, somando 25 novelas em seu currículo, desde que estreou nos anos 70. Quem não se lembra da Kiki Blanche de Locomotivas, da Santinha Rivoredo, de Sétimo Sentido, ou da Morgana de Top Model? Numa mistura perfeita de humor e drama, Eva conquistou público e crítica. Seu jeito faceiro, seu sorriso encantador e seu eterno ar de menina encontraram na TV um lugar perfeito para brilhar. Fez poucos filmes ao longo de sua carreira, mas garantiu um dos momentos mais antológicos da história do cinema: a cena em que faz um impagável espelho com Oscarito, em Os Dois Ladrões, dirigido por Carlos Manga, em 1960. Eva pode dar a impressão de ter sido sempre avoada, ligeira, mas na verdade tem um enorme conhecimento das artes cênicas. Fala com facilidade e exatidão sobre marcação de cena. Tínhamos a planta baixa e uma maquete de toda a movimentação cênica no palco. Pelas maquetes, o diretor fazia a movimentação dos atores. Comprova com exemplos simples a importância do ritmo e da impostação de voz. Para isso, repete a mesma frase diversas vezes e em cada uma delas coloca a força, o peso, numa palavra diferente, mostrando assim que uma entonação errada pode acabar com uma fala. Ritmo não é velocidade, é o saber dizer, ressalta. Mesmo com todo o reconhecimento que recebeu ao longo da carreira, Eva se mantém modesta. Comenta com discrição o êxito obtido e chega a ficar tímida quando falamos de seu talento e carisma natural, que fez dela a menina prodígio dos palcos brasileiros! Sempre foi e continua sendo uma grande diva do teatro. Na verdade, ela parece ter nascido diva. É quase impossível não se render aos seus encantos. Em poucos minutos de bate-papo, já nos sentimos parte de seu séqüito, algo que ela consegue com naturalidade. Não é preciso muito para nos ter nas mãos. Um olhar divertido, uma resposta engraçada e o humor afinadíssimo garantem o espetáculo, nos palcos e na vida real. Eva não tem papas na língua e faz piada de si mesma sem perder a elegância. Na primeira vez que telefonei a ela, para marcarmos as entrevistas que resultariam nesta biografia, Eva me perguntou: Minha filha, você está me ouvindo? Respondo: Sim, perfeitamente! Ao que ela rebate: Pois eu não estou ouvindo nada. Estou surda feito uma porta! A partir daí estava estabelecida uma deliciosa parceria. Não era preciso reservas! O melhor era aproveitar todo aquele bom humor para embarcar numa viagem aos tempos dourados da vida teatral. Começamos com seus primeiros anos na Hungria, dos quais Eva tem adoráveis lembranças. Falamos da chegada ao Brasil, das dificuldades com a língua portuguesa e do apoio incondicional dos pais. Revisitamos a carreira construída nos palcos, o casamento com seus dois e únicos amores (o primeiro marido, Luiz Iglézias, e o segundo, Paulo Nolding) e encerramos com o cinema e a televisão. Aos 87 anos, ela mantém a vitalidade e a graça de uma menina. Brinca com tudo e com todos. A risada fácil e gostosa, o jeito meigo de tratar as pessoas e sua espontaneidade natural fazem de Eva Todor uma criatura encantadora. Por vários dias, Eva me recebeu em seu apartamento no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro - o mesmo em que viveu com Luiz Iglézias e depois com Paulo Nolding. Ambos falecidos. Os dois fizeram a safadeza de morrer e me deixar sozinha, desabafa. Foi ali, na tranqüilidade de sua casa, que pude ver Eva se emocionar ao reler uma carta que Paulo lhe escreveu um dia antes de falecer. Uma carta que ela jamais havia relido e que nos cedeu para esta publicação. Sempre muito ligada aos pais, Eva os manteve em sua casa, mesmo quando esteve casada, e cuidou deles até o fim - o pai faleceu em 1966 e a mãe, em 1967. Tudo o que temos nesta vida é a família e meus pais sempre foram tudo para mim. Mora desde os anos 40 nesse mesmo apartamento, onde conserva as relíquias de uma carreira iluminada. Os móveis são todos clássicos, finos, muito bem distribuídos pelo amplo e arejado apartamento. Os prêmios, incluindo o Molière que ganhou em 1969, por Olho na Amélia, ficam expostos numa grande e robusta estante na sala de estar. No escritório, ela mantém centenas de fotos e recortes de jornal. Tenho horror de mexer com tudo isso, com todas essas fotos. É tanta gente morta, sussurra emocionada. As porcelanas trazidas de suas viagens enfeitam as paredes e lotam as estantes. Os inúmeros casacos de pele são guardados num grande baú de cânfora (um tipo de madeira perfumada), que comprou em Macao. Ao mostrar os casacos, Eva se põe docemente melancólica. Passa os dedos pelas peles macias e inacreditavelmente bem conservadas. O olhar se perde no tempo. Fala quase que para si mesma: Eu usava esses casacos nas muitas recepções a que íamos. Eu tinha de estar sempre elegante. O público, de certa forma, exigia isso. Tudo isso faz parte de uma época que não existe mais. Uma época de glamour, grandes festas, teatros lotados de segunda a segunda e de estrelas como Eva Todor - nossa última dama faceira, como escreveu o jornalista Artur da Távola: Soem as trombetas, ali vai a última mulher faceira. Abram alas para a faceirice passar! A faceirice abriu alas, mas foi o talento que garantiu a ela inesquecíveis momentos nos palcos, onde teve a chance de interpretar quase todos os grandes autores nacionais e internacionais: de Luiz Iglézias a Somerset Maughan, de Joracy Camargo a Bernard Shaw, de João Bethencourt a Neil Simon. A atriz, que foi dona da mais bem-sucedida companhia teatral do País – Eva e Seus Artistas – é, sem sombra de dúvida, um marco na história do teatro brasileiro. Maria Angela de Jesus Capítulo I A Pequena Eva Nasci em Budapeste, na Hungria, em 9 de novembro de 1919, filha única de Alexandre Fódor e Gisela Rathstein Fódor. Acho que nasci artista. Aos 4 anos, fui matriculada na Ópera Real da Hungria, para aprender balé. Eu dançava muito bem e fiz alguns bailados, por isso, quando nos mudamos para o Brasil, cheguei com um repertório de dança, apesar de minha pouca idade. Vim para cá com apenas 8 anos. Meu pai era comerciante de tecidos e minha mãe era designer de roupas. Ela desenhava e costurava. Meu pai montou uma loja linda para ela, perto de onde morávamos, numa região muito bonita de Budapeste. Era um salão lindo, todo em estilo colonial, na cor creme. Infelizmente, a casa foi desapropriada, para dar lugar a um grande edifício. Meu pai recorreu, mas perdeu em terceira instância. Ele ficou desgostoso e disse para minha mãe que queria se mudar para a América do Norte. Mas ela disse que só sairia de lá se fosse para vir para o Brasil. E ele, como todo homem deu a última palavra: Concordo. Enfim, nós viemos para o Brasil porque mamãe bateu pé que queria o Brasil. Ela tinha a mãe e os irmãos vivendo aqui. E assim viemos. Lembro-me dos meus tios nos esperando no cais do porto, na cidade de Santos. Essa é a primeira imagem que tenho do Brasil. Primeiro, nos instalamos em São Paulo, onde fiz sozinha, aos 9 anos de idade, um recital de balé, no Teatro Municipal. Esse recital está registrado e, com certeza, está no arquivo do teatro como a menina prodígio de 9 anos. O palco para mim era um caminho natural a ser seguido. E desde cedo eu demonstrava certa tendência para a comédia. Acho que sempre tive uma veia de humor, de saber fazer rir. Não tinha jeito, mesmo em situações supostamente sérias, eu aprontava alguma, muitas vezes até sem querer. Como foi o caso de minha primeira aparição nos palcos. Fiquei sem dizer isso a ninguém, mas acho que agora vale a pena contar. Isso foi lá em Budapeste. Eu tinha uns 4 anos e estava fantasiada de fada, toda bonitinha, de sapatilha de ponta, para uma apresentação de balé. Havia um telão na minha frente, que iria subir quando chegasse a minha vez. Como eu era muito pequena e estava demorando muito para eu entrar, sussurrei para minha mãe, lá na coxia: Quero fazer xixi! E ela: Não pode, agora não pode. Demorou mais um pouco. Disse novamente: Mamãe, eu quero fazer xixi! E ela: Não pode sair agora. Mas eu preciso! E ela, danada da vida, disse: Então faz aí mesmo! Nessa hora, eu não pensei duas vezes. Saltei do trono, tirei a calcinha e fiz. O problema é que o palco era em declive, como todo palco, e então o xixi começou a escorrer. Eu fui ver para onde o xixi estava indo e nisso sobe o telão. E eu estava lá, ainda endireitando a calcinha. Foi um riso geral, mas todo mundo bateu palmas. Eu me endireitei e comecei a dançar. Um sucesso. Essa é a primeira lembrança que tenho do palco. Foi minha estréia no teatro! O curioso é que eu achava tudo muito natural. Não estranhava nada. Lembro-me de outro espetáculo, na Academia de Música da Hungria, em que arrebentou a fita da minha sapatilha. Não tive dúvidas: tirei a sapatilha e continuei a dançar. Foi uma ovação, por eu não ter parado e simplesmente ter dançado sem as sapatilhas. Desde então, até deixar o balé, aos 18 anos, nunca mais amarrei as sapatilhas. Eu era a única, mesmo mais tarde, quando nos mudamos para o Rio de Janeiro, e fui estudar balé com a professora russa Maria Oleneva, que era uma das mais importantes da época, eu não usava a tal da fita. Para completar, nesse mesmo espetáculo, que era num Domingo de Páscoa, vi minha avó na platéia com um enorme ovo de chocolate. Ao acabar de dançar fui para a boca de palco e fiz sinal com as mãos pedindo para ela me dar o ovo. O público não resistiu e me aplaudiu de novo. Sempre tive essa naturalidade no palco. Não sei explicar, mas tem aí duas coisas: primeiro, acho que é de raça mesmo. O povo húngaro, na maioria das vezes, é engraçado, cômico, e tem um senso de humor incrível. Isso é nato, é da raça. Segundo, porque quase todos os húngaros acham que é muito importante para a criança ter uma educação artística qualquer, seja no balé, na música, no teatro, enfim, na arte de se expressar. Assim, quando as crianças são matriculadas na Ópera Real da Hungria, acabam sendo encaminhadas para aquilo em que têm mais vocação. No meu caso, me designaram para o balé, e a partir de então começou minha vida artística. Meu pai achava muito bom e pagava para eu estudar. Não era de graça. Meu pai só falava para eu não cantar! Ele dizia: Minha filha, isso só mais tarde. Mas mesmo depois, quando eu já estava na revista, na comédia musicada, ele dizia: Faça tudo o que você quiser, represente, dance, mas pelo amor de Deus, não cante! Eu até que tinha boa voz, era afinada, mas ele achava que era esganiçada. Como ele dizia, eu nunca estudei canto, então porque é que havia de cantar? Era tudo muito natural para mim. Eu me sentia bem no palco. Eu era brincalhona e sempre engraçada nas minhas danças e representações. Só chorei uma vez, num desses espetáculos de escola de dança, em que os alunos fazem apresentações. Isso foi na Hungria e eu era pequenininha, tinha dois números para fazer: um de bailarina e outro de Jackie Coogan, um ator infantil que fazia aquele tipo mal-vestido, de boné e cigarro na boca, que ficou famoso pelo filme O Garoto, de Charlie Chaplin. Meu primeiro número seria de Jackie Coogan. E aí eu estava lá, caracterizada de menino pobre, esperando minha vez. Ao meu lado estavam outras crianças, todas vestidas de fada, bailarina, princesa, rainha. Olhei aquilo e comecei a chorar, abri o berreiro, pois não queria entrar de Jackie Coogan por nada neste mundo. E disse: Não vou entrar! Então o diretor alterou o roteiro, colocando-me primeiro de bailarina e depois de Jackie Coogan. Daí em diante, aprendi a reivindicar. Nem lembro direito desses fatos, mas minha mãe sempre me contava tudo com detalhes. Aliás, meus pais sempre me apoiaram muito e adoravam me ver no palco. Mas nenhum deles era artista, como disse, meu pai era comerciante de tecidos e minha mãe desenhava os modelos de roupa e costurava. Quando chegamos ao Rio de Janeiro, eles abriram um salão de roupas, Casa de Modelos Únicos, que foi a primeira do gênero em Copacabana. Essa foi a vida deles, mas sempre tiveram esse fascínio pelo teatro, pela dança, pela música. Inclusive, minha mãe sempre me vestiu em todas as peças. O único artista da família, tanto da parte de minha mãe como de meu pai, era um tio meu, que se tornou grande escritor com muitas peças de sucesso na Broadway, Ladislau Fódor. Ele era conhecidíssimo na Hungria e na Áustria, onde teve vários de seus textos encenados. Escrevia para cinema e teatro, tornando-se um autor consagrado na América do Norte, onde escreveu peças e roteiros de filmes, como Seis Destinos e Tampico. Aliás, naquela época, muitos artistas saíram da Hungria, por causa do início do nazismo. E foram para a Espanha, Estados Unidos ou para o Brasil. Muitos deles eram artistas consagrados. Aqui no Brasil, muitos faziam espetáculos no Clube Húngaro, em São Paulo. Vi muitas peças em húngaro, pois minha família freqüentava o clube. Inclusive, todo mês recebíamos uma revista, Vida de Teatro, que era bem grossa, com artigos sobre a vida artística da Hungria. Dentro da revista vinha sempre um livreto com uma peça completa – algumas de autoria do meu tio –, e eu não deixava de ler nenhuma delas. Até hoje falo, leio e escrevo fluentemente húngaro. Assim, lia todas essas peças e depois via a montagem no Clube Húngaro. Isso me deu uma grande noção da arte de representar e fez crescer em mim a vontade férrea de não sair do teatro. Nunca! O teatro para mim era algo que traduzia com perfeição a vida real. Havia também o teatro amador da colônia húngara, que montava espetáculos muito bonitos e bons. Fiz algumas peças nesse teatro e me tornei a coqueluche da colônia húngara, assumindo todos os papéis infantis. Em alguns espetáculos, eu só entrava no final para fazer um número de dança, mas em outros tomava parte do elenco. Fiz, por exemplo, o filho de Ana Karenina. E essas experiências, essa vivência, me ajudaram a entender, desde muito cedo, o que era a arte de representar, como se dirigia teatro, como se fazia teatro, como se falava no teatro. Só que eu sabia tudo isso em húngaro, não em português. Capítulo II Faceirice Nata Eva Todor possui lugar próprio em nossa cena pelo estilo absolutamente genuíno e sua forma de representar, que mantém características do teatro de comédia leve de costumes... O clima cênico e humano de Eva é, de tal maneira, próprio e peculiar, que ela se situa numa faixa acima do bem e do mal. Não cabe em escolas de representação, estilos, técnicas (embora possua técnica e talento). Eva compõe-se com uma impostação própria que a faz única. Em cena, recupera algo em desuso e tão lindo: a faceirice. Eva Todor é faceira. Artur da Távola – O Globo – 28/8/1986 Além das peças no Clube Húngaro, eu também fazia apresentações de balé. Assim, em 1932, fui contratada por Francisco Serrador, dono do circuito de cinemas Serrador, para fazer alguns números de dança ao vivo, nos cinemas, ao término das sessões. Tudo endossado por meu pai. Mal sabíamos que alguns anos depois eu teria muitos contratos assinados com Serrador, trabalhando com ele por mais de 22 anos, à frente do Teatro Serrador, quando já nem precisávamos de contrato. Bastava a palavra dele e tudo se resolvia. Diversas vezes o teatro foi solicitado por outras companhias e ele jamais cedeu. Sempre fez questão de deixar claro que só cederia se eu desistisse. Mas, enfim, nosso primeiro contrato foi por ocasião dessas apresentações no circuito de cinema. Eu era muito graciosa, brincalhona, nas danças e representações. Obtive êxito com esses números, que tiveram lugar em São Paulo e Porto Alegre.  Logo em seguida, nos mudamos para o Rio de Janeiro, onde meu pai me matriculou no Theatro Municipal, justamente para ter aulas com Maria Oleneva. Fiquei por lá algum tempo, mas ali encontrei companheiras e amigos. Fiz camaradagem com Bibi Ferreira, Madeleine Rosay e Itália de Azevedo. Até que um dia Oduvaldo Viana, que havia ouvido falar da menina húngara, ainda amadora, mas que já fazia diversas apresentações no Clube Húngaro (onde se apresentaram importantes artistas húngaros, de passagem pelo Brasil), me chamou para fazer um teste. Ele estava preparando a montagem da peça A Canção da Felicidade, com Dulcina de Morais, e precisava de uma menina que tivesse alguma prática de teatro. Fui fazer o teste e infelizmente não fui aprovada, por um motivo muito simples: a língua. Eu estava com uns 12 anos, mas ainda não falava bem o português, porque aconteceu o seguinte: quando cheguei ao Brasil, fui matriculada numa escola alemã, em São Paulo. Isso fez uma tremenda confusão na minha cabeça, porque ninguém na escola alemã falava húngaro e eu não falava uma palavra de alemão. São duas línguas que não têm nada a ver uma com a outra. Muito menos com o português. Eram três idiomas completamente diferentes na minha cabeça, sendo que de duas delas eu não falava nada! Era muita confusão. Eu não tinha ninguém com quem conversar. A não ser duas meninas húngaras. Uma delas, inclusive, até hoje é minha amiga, e a outra era a filha do cônsul húngaro em São Paulo. Quando fui reprovada no teste da Companhia da Dulcina, chorei muito, disse que não ia mais tentar, mas sobrevivi! Voltei ao Municipal e lá Mário Nunes, crítico de teatro do Jornal do Brasil, me disse: Não chora não, porque tenho uma oportunidade melhor para você. Você dança muito bem. Só precisa fazer alguns papéis para treinar a língua e tudo vai correr bem. E ele então me levou para o Teatro Recreio. Foi assim que estreei, em 1934, com apenas 13 anos, na revista carnavalesca, Há uma Forte Corrente, fazendo a Folia – aliás, custei a entender o que era folia, pois ninguém conseguia me explicar! Esse espetáculo não era propriamente revista, não tinha nu nem nada, era uma burleta, ou seja, uma revista com enredo. Foi então que tive a certeza absoluta de que não seria somente uma bailarina. E disse para mim mesma: De um jeito ou de outro, serei atriz. Esse trabalho no Teatro Recreio teve grande importância na minha vida. Foi lá que conheci um diretor que quis me tirar o papel porque eu falava mal o português. Eu empombei e disse: Não senhor! Eu já sei o que é a arte de representar. O senhor não é diretor? Pois então que me dirija e me ensine o português. Eu tinha 14 anos, mas sabia muito bem o que queria! Sempre fui assim, muito firme na minha vontade de seguir a carreira artística. E deu certo. Ele me ensaiou para a peça Há uma Forte Corrente, que foi um grande sucesso! Seu nome: Luiz Iglézias, que viria a ser meu primeiro marido. Por essa bronca que dei nele é que ele se apaixonou. Ele cada vez mais apaixonado por mim e eu cada vez mais apaixonada pelo teatro. Capítulo III Iglézias: Uma Parceria na Vida e nos Palcos Quando Eva Todor e Luiz Iglézias uniram seus destinos, ele como que nasceu de novo, para o teatro e para a vida. Ao lado de Eva, seu entusiasmo pelo teatro atingiu o ponto culminante e sua vontade de viver, para ela e para o teatro, encontrara novamente o calor da família, no carinho, no desvelo e na abnegação de sua primeira atriz e seu último amor. Joracy Camargo – 1964 Com Luiz Iglézias vivi um casamento de 28 anos, que só acabou quando ele faleceu, em 1963. Logo que nos conhecemos, houve certa resistência de minha parte, mas acabei cedendo e me apaixonando por ele. Casei-me com apenas 14 anos e grande contrariedade da parte de meu pai. O fato é que quando Iglézias se encantou por mim – e àquela altura eu já estava deslumbrada pelo teatro – me senti lisonjeada, pois havia todo um encanto pela figura do diretor, pela autoridade. E desde o início ele demonstrou grande dedicação a mim, chegando até mesmo a compor uma marcha de carnaval para mim, intitulada Eva Querida, de 1935, com música de Benedito Lacerda, que era assim: Eva querida, Quero ser o teu Adão. Dar-te hei o meu amor, A minha vida Em troca do teu coração! Hei de conquistar o teu amor Se Deus quiser, Custe o que custar, Haja o que houver... Serei capaz de qualquer prejuízo Mas te darei um paraíso! Eva, Eva, Eva, Eva querida (bis) Iglézias sempre se preocupou com a minha carreira. Tanto que contratou professores particulares para me ensinar tudo: português, história, conhecimentos gerais. Menos aritmética, pois ele dizia que eu não precisava me preocupar em fazer contas. Claro que meu pai não concordava com nosso namoro, pois Iglézias era quase 20 anos mais velho do que eu e, para piorar, era desquitado. E meu pai, quando soube do namoro, ficou furioso. Mas eu disse a ele: Você não se importou que eu me tornasse artista e sempre quis que eu seguisse essa carreira. Nunca me perguntou nada, mas sempre estivemos de acordo, e agora não quer me deixar casar?. No final tudo deu certo. Iglézias estava mesmo decidido a se casar comigo, mas isso não era possível por ele ser desquitado. Mas ele não desistiu e chegou a dizer que podíamos nos casar no Uruguai, por procuração, qualquer coisa, desde que tivéssemos uma situação regular, correta. Naquela época muita gente casava no Uruguai. Era comum. A persistência dele foi tamanha que meu pai acabou deixando que nos casássemos, pois sabia que não ia adiantar proibir. Casamos por procuração. Chamamos um tabelião lá em casa. Em 22 de setembro de 1935 firmou-se um contrato de casamento e em seguida embarquei em lua-de-mel – que na verdade era uma excursão com a companhia, para levar espetáculos por todo o Nordeste. Fizemos a turnê e a lua-de-mel ao mesmo tempo. Iglézias sempre me tratou com todo o respeito e carinho deste mundo, antes e depois de nos casarmos. Lembro-me que quando chegamos à Bahia recebemos uma notificação dizendo que menor de idade não podia fazer teatro. Como eu era menor, nós tínhamos que ir à delegacia e assinar um livro, como se fosse um registro, para obter a liberação do espetáculo. Nesse livro, eu teria de assinar numa página que dizia: Atrizes e Meretrizes. Iglézias se enfureceu e não permitiu que eu assinasse aquilo. Ele parou toda a companhia, organizou manifestações com estudantes na cidade e, por fim, conseguimos o alvará para estrearmos, mas eu não assinei aquele livro. Capítulo IV Formação Eva Todor veio do teatro ligeiro por possuir reais qualidades para a comédia. A sua figura irradia simpatia... A sua interpretação é segura e convence, porque a artista, como peixe n´água, dominando a cena e conquistando o público, impõe sua personalidade. Não se parece nem imita qualquer outra artista. Isto é seu mérito primeiro. Jornal O Século – Lisboa - 3/4/1948 Devo muito do meu aprendizado ao Iglézias. Com ele aprendi muita coisa e tive chance de estudar muito. Ele nunca se descuidou disso e sempre me apoiou. Inclusive, algumas pessoas que não gostavam dele o acusavam de não contratar diretores para a nossa companhia. Não é verdade. Sempre tivemos – e dos bons! Tivemos diretoras como Ester Leão e Lucila Simões, ambas de Portugal, que eram muito talentosas, e o professor Eduardo Vieira, português também, radicado no Brasil. Ele era o maior, o melhor diretor da língua portuguesa e um profissional muito significativo para o nosso teatro. Ele foi contratado em caráter permanente e teve uma importância fundamental na minha formação. Foi ele que me ensinou a representar e me mostrou o valor das vírgulas e outras coisas que numa escola de teatro talvez eu não tivesse aprendido. Aprendi na prática, durante 14 anos. Ele me ensinou a arte de dizer. Hoje em dia muitos artistas falam que representam, mas que não conhecem a arte de dizer. Nada! Fazem drama gritando, falando alto. Com o professor Vieira, descobri e entendi a arte de valorizar uma determinada palavra numa frase. Por isso ele tem grande valor para mim. Foi meu professor, contratado no Teatro Serrador, e me ensinou dicção. Não se pode esquecer que, na comédia, uma frase ou uma palavra colocada errada desmonta o humor. Acaba com a graça. É, por isso, que sempre digo que a comédia é muito mais difícil do que o drama. No drama, você pega a pessoa pela emoção e vai levando. Além disso, qualquer um pode ser dramático. Comediante não. É diferente. Ou se tem graça ou não se tem. Não há meio-termo. Hoje tenho noção disso, mas na época não tinha. E não posso agora me enfeitar com penas de pavão, dizendo: Eu sabia... Não precisei aprender nada. Meu processo de trabalho e minha forma de atuação eram inatos. Eu usava a intuição, mas também estudei muito. Sempre me perguntavam: Como é que você faz os papéis, o que é que você faz? Não sei. A única coisa que costumo fazer é me perguntar: O que eu faria na vida real, para ser natural? Faria isso assim ou assado? Existem três aspectos básicos que sempre analiso num papel: o porquê, para quê e para quem. O resto não tem mistério. Posso dizer que tive um pouco mais de dificuldade no drama, porque não é a minha área. É por isso que sempre digo que o artista não tem obrigação de fazer tudo. Cada um de nós tem um gênero, não só nos palcos, nas telas, mas na própria vida. Já imaginou o grande, trágico, Ermete Zacconi fazendo comédia? Não, então porque razão nós temos de fazer comédia, drama e por aí afora? Mas hoje em dia já não se faz mais o teatro puro de comédia. Os autores confundem comédia com besteirol ou chanchada – que nunca foi a minha praia. Assim como confundem comediante com cômico. O que não é a mesma coisa. As pessoas têm mania de achar que comédia é fácil ou que é somente um gênero. Na verdade, é considerada por muitos como um gênero menor. A tal ponto que não tínhamos nem apoio nem subvenção, nada. Nunca recebi nenhum auxílio, mas também nunca precisei recorrer a isso, graças a Deus. Capítulo V  O Estilo Eva Atriz ou ator que cria e faz sucesso com um gênero de representar demonstra, antes de tudo, personalidade dominante face ao público... A nossa Eva Todor também criou seu gênero, o gênero Eva, a personagem alegre, brincalhona, biruta, capaz de resolver os mais intrincados crimes e passar pelo mais novelesco caso de amor, sorrindo e fazendo o público sorrir. Ney Machado – O Dia – 29/11/1964 Nos anos 40, depois de cinco anos fazendo teatro de revista, veio minha grande transformação. Iglézias, muito esperto e preocupado com minha carreira, achou que não era legal que continuássemos na revista, pois estava começando a surgir o nu artístico, que foram incorporados aos espetáculos. E aí ele percebeu que era hora de mudar. Ele dizia para o pessoal da companhia: Eva tem jeito e talento para a comédia! Claro que todo mundo achava que ele estava louco, afinal, queria lançar uma menina na comédia e isso parecia uma loucura. Ainda mais uma menina que não tinha experiência nenhuma nem conhecia direito a língua portuguesa. Ele queria sair do teatro de revista e tinha certeza de que eu me daria muito na comédia. Tanto que, em março de 1940, ao voltarmos da turnê pelo Nordeste, fundamos a companhia Eva e seus Artistas e estreamos a comédia Feia, de Paulo Magalhães, sob a direção de Esther Leão. Foi a partir de então que pude desenvolver um estilo pessoal de comédia, o que acabou se tornando uma marca na minha carreira, na minha vida. Nascia assim o estilo Eva, que era um estilo de humor, um jeito muito próprio de fazer rir. É importante dizer que o gênero Eva era comédia, não era besteirol. Eu fazia comédia fina, com textos muito bem elaborados. E tinha a minha graça pessoal, além da graça do texto e das situações. Era um gênero fino e familiar, de menina-moça. Sempre tive uma queda para o humor. O povo morria de rir com as bobagens que eu dizia em cena e com o meu humor físico também. Eu atravessava o palco, de mais de sete metros, feito uma borboleta. Num dos espetáculos, tinha de andar em cima dos móveis, pulava, fazia e acontecia. Como eu tinha sido bailarina, era fácil para mim, pois tinha muita agilidade no palco. O Iglézias criava ou adaptava personagens especialmente para a minha idade. Com isso, acabava fazendo sempre as jovenzinhas ingênuas. Fui muito sobrecarregada e, de certa forma, estandartizada. Com isso, fiquei muito tempo representando meninas de 17, 18, 20 anos, porque era o meu forte. E o público adorava. Muita gente chegava à bilheteria do teatro e perguntava: É peça gênero Eva? Se a moça da bilheteria respondia: Não, nem tanto, eles diziam: Então, não quero. Assim, insistia-se muito nessas peças. Isso estandardizou um pouco a minha vida, que ficou resumida, vamos dizer, a um só gênero. Não deu uma amplitude ou espaço a outros gêneros. A não ser uma ou outra vez, quando eu fazia uma peça para mostrar que também podia interpretar outros estilos. Mas o fato é que o gênero Eva sempre fez muito sucesso. Era comercial e familiar. Mesmo mais tarde, quando todo o mundo começou a fazer teatro de opinião, teatro de agressão, teatro político, nós continuamos com as peças leves, de humor. E o nosso teatro era sucesso absoluto, enquanto os outros precisavam de subvenções. A companhia Eva e seus Artistas existiu até o final do anos 60. Durante os quase 30 anos de sua existência, sempre representando comédias de costume, nós pudemos contar com atores maravilhosos, como André Villon, Jardel Jércolis, Elza Gomes, Henriette Morineau, Afonso Stuart, Judite Vargas, Armando Rosas, Armando Braga, Samaritana Santos e muitos outros. Aliás, naquela época, poucos artistas de teatro não foram contratados meus. Alguns deles hoje são famosos na televisão, mas começaram na minha companhia, como Daniel Filho, Herval Rossano, Jorge Dória e Marieta Severo. No início de Eva e seus Artistas, fazíamos espetáculos no Teatro Rival, de Hélio Vivaldi Leite Ribeiro, e muitas vezes tínhamos de esperar que uma companhia importante, como a de Alda Garrido, Dulcina de Morais ou do Jayme Costa, saísse de cartaz para que pudéssemos entrar. Era difícil de trabalhar, não havia teatro para todo mundo. Foi então que nos ofereceram o Teatro Serrador, o mais alinhado do Rio de Janeiro, além do teatro do Copacabana Palace, que tinha pegado fogo e não se podia contar com ele. Até então a gente tinha de esperar que alguém desistisse para poder entrar. Assim, quando recebemos a proposta de ficar permanentemente no Serrador, fomos ao Rival, falar com Vivaldi Leite Ribeiro, para explicar que iríamos ficar fixos no Serrador. Fizemos isso por pura consideração, pois achamos importante conversar com ele antes de tomar qualquer decisão. Havíamos feito temporadas brilhantes lá, com Feia, Levadinha da Breca, Casei-me com um Anjo, Colégio Interno (escrito pelo meu tio, Ladislau Fódor) e uma porção de outras peças. Lembro-me que Vivaldi Leite Ribeiro disse: Olha, minha filha, eu gostaria muito que vocês ficassem no Rival, mas tenho que admitir que o Serrador é muito mais teatro. Principalmente para você. Fomos para o Serrador, onde ficamos por 23 anos consecutivos. Foram tantos anos de espetáculos no Serrador que as pessoas já diziam: o teatro da Eva. Quando Francisco Serrador faleceu, tentamos comprá-lo, mas o negócio não foi adiante. Recebemos até o apoio do presidente Castelo Branco que, ao saber do caso, ligou para minha casa. Meu pai atendeu o telefone e desligou, pois pensava que era trote. Ele nos ofereceu um financiamento para comprar o teatro, mas aí já não valia a pena. Isso é algo que me dói muito. Existem tantos teatros com nomes de atrizes e eu não tenho nenhum. Durante as mais de duas décadas que ficamos no Serrador, tínhamos espetáculos de segunda a segunda. De janeiro a janeiro. A vida teatral era muito intensa, com muitas peças sendo montadas. Quando estreei, lembro-me que era um mês para cada peça. Era tudo muito rápido. E isso exigia uma rígida marcação de cena, seguindo o modelo italiano ou português. Era a única maneira de estruturar cenicamente uma peça num prazo tão curto. Trabalhávamos com uma sólida planta baixa de todo o espetáculo, para facilitar o processo de remontagem. Sempre acompanhei tudo isso muito de perto e aprendi muito sobre marcação de cena. Depois é que isso foi mudando. Iglézias era, então, o poderoso chefão do teatro brasileiro. Ele escolhia as peças para mim, especialmente entre textos húngaros e americanos. Eu lia, ajudava a traduzir e ele adaptava, pois as peças tinham 17, 18, 20 personagens. Ele reduzia para o tamanho da nossa companhia, que eram dez, 11 pessoas. E funcionava muito bem, porque ele reduzia os personagens, mas não cortava, pois era um adaptador sensacional. O que ele fazia era fundir os personagens, adaptando os textos para a minha idade. Daí o meu grande sucesso. Pesava uma grande responsabilidade sobre mim. Eu só trabalhava, mas era muito feliz, muito mimada. Aliás, pelos dois maridos que tive. Primeiro o Iglézias e depois o Paulo Nolding. Embora hoje eu saiba que Iglézias era muito assediado e tinha suas escorregadelas, na época eu não sabia. Eu estava totalmente entregue ao teatro, trabalhando intensamente. Inclusive, muitos anos depois, quando comecei a fazer televisão – já tenho 27 anos na Rede Globo – eu ficava sufocada com tanto trabalho. Fazia teatro, televisão, não parava nunca. Mais tarde é que tomei a decisão de fazer uma coisa apenas e acabei optando pela televisão, que para mim é muito mais fácil. Mas confesso que hoje em dia não tenho mais vontade de fazer teatro, onde eu teria de fazer tudo: escolher as peças, cuidar da organização e administração das coisas. O que sei fazer é do palco para dentro. Do palco para fora, nada. Capítulo VI Portugal se Rende ao Gênero Eva Eva Todor encantou logo no cais, ao chegar. Depois, no palco do Teatro Avenida, seduziu completamente, arrancando entusiásticos e sinceros aplausos do exigente público lisboeta. Manuel Moutinho – Diário da Manhã – Lisboa, 4/4/1948 A estréia de Eva e seus Artistas, pode afirmar-se sem favor, constitui um triunfo para o teatro brasileiro, para Eva Todor e para Luiz Iglézias... E Eva Todor é, sem dúvida, um desses temperamentos privilegiados de artista que exerce junto de uma platéia o papel de um reagente poderoso, irresistível. Norberto Lopes – Diário de Lisboa – 3/4/1948 É um gosto vê-la atuar com tanta alegria, espontaneidade e intenção. Os olhos, as mãos, as pernas, os braços representam também com ela. E, curioso, estando sempre em movimento, agitada, Eva nunca é exuberante demais. Diário de Notícias – Lisboa – 15/5/1948 Tenho orgulho de dizer que foi com a comédia de gênero Eva que cruzamos o Atlântico e conquistamos Portugal. Minha companhia, Eva e Seus Artistas, foi três vezes fazer temporada na Europa, levando 27 peças, com cenários, figurinos, tudo por nossa conta. Éramos um grupo de 40 pessoas, entre atores e técnicos. Cada ator fazia apenas um papel por espetáculo. Nunca usávamos o mesmo ator para dois ou três papéis, como é comum quando as companhias viajam. Levávamos tudo daqui, de navio, e montávamos os espetáculos completos. Viajávamos com todo o elenco, diretores, contra-regras, secretários e por aí afora. Aliás, levávamos um grupo de atores talentosos, de primeira linha, com André Villon, Elza Gomes, Afonso Stuart, Samaritana Santos, Íris del Mar, Alberto Perez, Armando Rosas, Armando Braga, Póla Leski, Pepa Ruiz, Armando Ferreira e Artur Costa Filho – que não eram apenas artistas contratados, eram nossa família. Viajávamos de navio, de primeira classe, com todo o conforto possível. A idéia de ir para Portugal foi coisa do Iglézias. Não recebemos um convite, nós é que pedimos para ir. Assim, fomos três vezes à Europa, por conta própria, e permanecemos por lá nessas condições. E ainda por cima pagávamos 50% ao empresário de lá e ficávamos com os outros 50%. Mesmo assim sobrevivemos e ganhamos muito dinheiro. Claro que era um negócio arriscado, pois além de dividir os ganhos com o empresário de lá, ainda tínhamos de assumir toda a despesa com passagem, transporte, estadia e ainda pagá-lo. Apesar de tudo isso, deu certo. Às quintas-feiras, sábados e domingos, fazíamos três sessões corridas por dia: das 4 às 6 horas da tarde, das 8 às 10 horas da noite e das 10 à meia-noite. Às segundas, terças, quartas e sextas-feiras, fazíamos duas sessões. Hoje em dia isso não existe mais. Sem dizer que os portugueses não gostavam de peças curtas! Tínhamos de montar espetáculos longos, grandiosos, completos. Nunca recorremos a incentivos do governo. A única vez em que recebi uma ajuda pequena do governo foi com a peça Chiquinha Gonzaga, que tinha muitas roupas de época, com 32 figuras em cena. Na ocasião, recebemos o apoio do então ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho, que fez questão de nos ajudar por se tratar de uma personagem histórica. Por isso, faço questão de lembrar que Eva e seus Artistas foi a primeira companhia de comédia a atravessar o Atlântico e se apresentar em Portugal. Fizemos nossa primeira temporada em 1948, com apresentações sempre lotadas, durante nove meses. O sucesso foi tão retumbante que voltamos em 1950 e em 1960, para uma temporada de 11 meses e outra de dois anos e meio. Era uma maravilha. Sempre recebemos boas críticas e o carinho do público. Era uma loucura. Por exemplo, quando eu ia atravessar a Avenida da Liberdade, que é a principal e mais movimentada de Lisboa, o guarda parava o trânsito para mim: Parem para a menina Eva passar, dizia ele. E eu nunca conseguia comprar nada, pois ninguém aceitava meu dinheiro! Se eu gostasse de algo, eles me davam de presente. É como digo, português fino é fidalgo. Foram momentos maravilhosos no Teatro Avenida, de Lisboa, e em outras províncias de Portugal, na região do Porto. Tudo isso com a companhia por minha própria conta. Logo depois da terceira temporada em Portugal, fomos para a África, em 1962, onde excursionamos por oito meses. Nessa altura, entrou um sócio, um empresário português na companhia, que a transformou numa companhia de gênero musicado. A comédia ficava por minha conta, mas o resto era um gênero de revista, que eles adoravam lá fora. Essa foi a única vez que fiz revista, depois de ter saído do gênero já nos primeiros anos de carreira. Claro que ao retornar ao Brasil fomos de novo para a comédia. Conheci grande parte da África. Foram 25 cidades da costa oriental e 25 da costa ocidental. Trabalhamos muito. Passamos pela Rodésia, Zimbábue, Angola, Moçambique e África do Sul. Foram muitos lugares e uma ótima experiência. Infelizmente, logo depois que voltamos de viagem, Iglézias veio a falecer de edema pulmonar, em 1963. Não posso deixar de dizer que Iglézias deu todo o alicerce para minha carreira – que não foi conquistada à custa de mídia, mas sim pela qualidade do meu trabalho, pelas peças que fiz e pela minha atuação. Tenho plena consciência de que no decorrer dos anos Iglézias acabou se anulando para se dedicar a mim. Chegou até a esquecer que era um grande autor, pois só trabalhava para mim. Por isso tudo, devo metade do meu sucesso – ou mais – a Luiz Iglézias. Capítulo VII O Casamento com Paulo Nolding Depois da morte do Iglézias, fiquei sozinha com meus pais. Foi tudo muito de repente. Um susto danado. Na época, nem pensava em me casar de novo, mas eu tinha apenas 42 anos. Até que Paulo Nolding, que já era um grande amigo, me convenceu do contrário. Ainda bem, pois com ele vivi 25 anos de felicidade imensa. Paulo era engenheiro químico e tinha uma fábrica, a Metalúrgica Nolding, uma empresa familiar, que ele administrava com os irmãos. Na verdade, ele era presidente da empresa, mas depois desistiu de tudo. No fundo, o sonho do Paulo era ser ator. Tanto que entrou para a nossa companhia para substituir um ator. Ele era um rapaz educadíssimo, de uma família finíssima, que até hoje é como se fosse minha. Entrei para essa família maravilhosa, de 14 irmãos, que me acolheu com muito carinho. Ele tinha uma porção de tios e sobrinhos, bem diferente da minha família, que sempre foi pequena. Eu sou filha única! Guardo recordações maravilhosas de todos eles, aos quais quero muito bem. Eles foram uma dádiva de Deus para mim. Mas, enfim, quando Paulo entrou para nossa companhia tornou-se logo um grande amigo. Como ele ainda tinha a fábrica, trabalhava conosco esporadicamente. Assim, quando fomos para a Europa, deixamos aqui algumas coisas pendentes, inclusive financeiras, e ele tomou conta de tudo. E ainda fazia companhia a meus pais, que já estavam velhos, e ia jogar cartas regularmente com eles, durante os dois anos e meio em que estivemos fora. E Iglézias sempre dizia: Esse sim, é vinho de uma boa safra. Naturalmente quando Iglézias veio a falecer, Paulo me ajudou muito, administrando uma porção de coisas minhas. Eu estava muito abalada e não queria mais fazer teatro. Era muita coisa para cuidar, mas aí Paulo me disse: Pode deixar que eu te ajudo. Segui em frente e reestrei no Teatro Serrador, com A Moral do Adultério, peça inacabada de Iglézias, da qual ele havia escrito apenas um ato. A segunda parte foi escrita por Mário Brasini, um excelente autor e acima de tudo um grande amigo. Aliás, ao Mário devo o fato de ter aceitado o pedido de casamento de meu segundo marido e o convite para ser funcionária da Rede Globo. Nessa época, me entreguei completamente ao trabalho. E Paulo sempre por perto, me apoiando. O espetáculo ficou belíssimo e foi um grande sucesso. Logo depois fiz outra peça, As Viúvas do Machado, baseada em Machado de Assis. Paulo já havia, então, se tornado mais do que um amigo: era meu empresário. Ele ficava comigo, pra lá e pra cá todo dia, tínhamos um entendimento muito grande. E ele já tinha dito, para muita gente, que estava apaixonado por mim. Todo mundo sabia, menos eu. Era paixão mesmo. Até que um dia ele me disse: Olha, Evinha, eu não posso ficar vindo à sua casa todo dia, porque é até feio para você. Como eu já estava viúva há seis meses, ele achava que não ficava bem sua presença constante no meu dia-a-dia. Respondi: Está bem, então não vem mais. Mas quando ele foi embora, eu o chamei imediatamente e disse: Não posso viver sem você. Aceitei seu pedido de casamento, que foi realizado dois anos e meio depois. A mãe dele, coitadinha, sempre me pedia: Pelo amor de Deus, casa com ele, não o faça sofrer. Paulo era muito ligado à família e muito correto. Era solteiro, totalmente desimpedido, e podíamos nos casar quando bem quiséssemos. Mas eu não queria me casar. Até que meu pai me chamou e me fez um sermão: O que você está pensando? Você encontra um rapaz, um homem da sua idade, solteiro, desimpedido, que não precisa de você para nada e você está aí fazendo doce. Você está pensando que é Cleópatra. É viúva, bonita, importante, popular, claro que vai encontrar muita gente disposta a ter uma situação com você, mas vai ser apenas uma situação. Poucos homens da sua idade vão querer casar, porque já estão casados. O momento de construir uma nova família é agora. Você encontra um rapaz que não precisa de você e mesmo assim quer casar com você, mas você não quer! Que história é essa? Eu ainda não estava apaixonada pelo Paulo. Via nele um grande amigo, mas depois de casada, devo admitir, ele foi a criatura que mais adorei neste mundo. Ele foi incrivelmente bom, paciente, inteligente, perspicaz, companheiro, amante, tudo o que você possa imaginar. Sem desmerecer meu primeiro marido – que fez de tudo pela minha carreira e se não fosse ele eu não teria sido o que fui – Paulo foi melhor como companheiro, como a pessoa que organizou minha vida e me deu um lastro. Um lastro que Iglézias não havia deixado, pois era mais perdulário, mais boêmio, e sempre me dizia: Posso não deixar nada para você, porque bens materiais não significam nada, mas de uma coisa você pode ter certeza, plantei o seu nome muito bem plantado. Sua carreira está encaminhada. Você tem uma carreira e um nome plantado. Uma carreira que não é feita por marketing, nem por jornais, mas porque você é conhecida no Brasil inteiro e na Europa, aquém e além-mar. Posso não te deixar nada, mas o teu nome eu deixo feito. Assim era Iglézias. E Paulo, por intuição, continuou a obra de Iglezias. Foram meus dois casamentos. Um de 28 anos e outro de 25. Só tive essas duas criaturas na vida: Iglézias e Paulo. Só que os dois fizeram a safadeza de morrer e me deixar sozinha. Nos dois anos e meio que namorei Paulo, era só namoro mesmo. Pode acreditar! Eu não fiz a experiência que uma das irmãs dele me aconselhou a fazer. Ela me disse bem assim: Se você não gosta dele, se não quer casar, faça uma experiência, uma situação. Mas não fiz isso e argumentei: Não vou fazer isso, porque conheço a família de vocês, que é muito séria, tradicional. E Paulo é um homem absolutamente íntegro e honesto. Vou casar com ele direitinho. Dar tempo ao tempo e me casar. Em 1965, nos casamos na igreja Nossa Senhora do Brasil, na Urca. Foi uma cerimônia lindíssima. Tive até que me batizar para poder casar na igreja católica, pois não era batizada. E Elza Gomes foi minha madrinha. Meu pai dizia que eu era vira-lata, porque só me batizei para casar na igreja! Mas mesmo com Iglézias, com quem não tive uma cerimônia tradicional, fomos receber a bênção na igreja católica. E vou dizer uma coisa: no dia do meu casamento com Paulo, eu estava tão nervosa que telefonei para o meu médico, desesperada. Estou cheia de dor, eu disse. E ele respondeu: Você está em pânico, sua boba! Depois que nos casamos, Paulo abandonou de vez tanto a metalúrgica quanto a idéia de se tornar ator. Não ia dar certo ser ator estando casado comigo. Eu não queria fazer concorrência a ele. Claro que queria que ele fosse uma pessoa importante e fizesse carreira no mundo artístico, que era o que gostava, mas como ator haveria sempre uma competição entre nós. Além disso, ele era maravilhoso como empresário. Tanto que realizou grandes produções. Foi ele que produziu as peças De Olho na Amélia, com 27 pessoas envolvidas, Em Família, de 20 pessoas, Rendez-Vous, na Maison de France, e Chiquinha Gonzaga, que era uma produção grande, com mais de 30 pessoas e um figurino de cem roupas de época. Eu o fiz empresário e ele correspondeu, pois tinha uma vocação enorme para administração! Tinha que ter. Era engenheiro químico, uma pessoa instruída, falava diversas línguas, entendia de teatro, enfim, era muito talentoso. Como ator, fez alguns trabalhos e chegou a substituir Nelson Rodrigues, que era autor e ator da peça Perdoa-me por Me Traíres, na montagem de 1957. Paulo, que falava francês muito bem, se apaixonou pelo teatro ao trabalhar com Louis Jouvet, que se apresentou no Rio de Janeiro, no Theatro Municipal, nos anos 40. Enfim, ele até tinha vocação para ser artista, mas eu não o queria como artista. Capítulo VIII Do Humor ao Drama É um prazer, depois de vários anos, deparar de novo com o estilo de Eva Todor, uma das damas do teatro brasileiro. Ela perdeu a audácia da colegial sapeca, típica de seus primeiros namoros com a platéia. Uma inflexão e uma prosódia especiais, dando-lhe ar brejeiro, de comunicabilidade simpática. A essas características, verdadeira marca pessoal, Eva acrescentou maturidade, no domínio dos recursos cênicos, e um toque de fantasia que retira a comédia do plano terrestre, para sugerir nela um mergulho mais profundo. Sábato Magaldi – Jornal da Tarde – 4/7/1981  Quando digo que Eva Todor traça novas diretrizes a seu teatro, não pretendo afirmar qualquer ato de rejeição ao teatro com que, por muitos anos, conquistou sua posição das mais queridas do público brasileiro. Um teatro que com inesquecível simpatia e graça – e bastante talento – interpretou na primeira fase de sua carreira. E não fácil de interpretar, é preciso que se diga. Só os que estão por fora, em teatro, pensam que esse tipo de criação – o leve, o cotidiano, o natural – é fácil. É um teatro de treinamento, que equipa o intérprete e dá-lhe segurança para o teatro maior. Maria Jacintha – 1968 Depois de muito tempo interpretando mocinhas, percebi que era hora de buscar papéis mais maduros. Era difícil arranjar peças naquela época, porque as primeiras-atrizes do mundo inteiro eram mais velhas do que eu. Por exemplo, quando fiz Cândida, eu tinha 26 anos e a personagem tinha 36 anos, era uma mulher casada e mais madura. A mesma coisa com A Carta¸ de W. Somerset Maugham, que fiz no ano seguinte, em 1947, com 27 anos. Esse papel foi feito pela Bette Davis, que já era uma atriz mais madura, de seus 40 anos. Esses foram meus primeiros papéis de mulheres mais velhas. Mesmo assim não deixei as mocinhas totalmente de lado. A grande virada veio a partir de 1965, quando me casei com Paulo. Foi ele que me aconselhou a abandonar de vez os papéis de jovenzinha: Já está na hora de parar de fazer as mocinhas. Lembro-me que ele falou bem assim: É melhor o público pensar que você está muito jovem para um papel do que pensar que você está muito velha. Foi então que percebi que era o momento de fazer as damas-galãs, como foi o caso da peça De Olho na Amélia, de Feydeau, pela qual ganhei o prêmio Molière de melhor atriz, em 1969. Graças ao Paulo, assumi a minha velhice muito antes de ela chegar. Como digo sempre: houve uma época em que eu fazia as mocinhas. Depois, fazia as mulheres mais velhas e hoje faço mulheres mais jovens do que eu. Apesar dessa mudança, o gênero Eva sobreviveu, pois sobreviveria a qualquer idade. Mesmo hoje em dia, quando faço novelas, utilizo elementos que nasceram dali. Foi o caso da novela O Cravo e a Rosa, onde explorei muito o meu próprio estilo, ou seja, o gênero Eva permanece até hoje. A idade avança, mas o gênero fica. Claro que na televisão sempre é mais complicado, pois os textos são mais sérios. Tem algumas coisas engraçadas, mas não tudo. Depois que parei de fazer as mocinhas, passei a interpretar as quarentonas, as cinqüentonas, as velhas amalucadas. Já não era mais a menina de 18 anos, avoada, inconseqüente, mas o gênero se manteve. Em 1966, quando fiz Senhora da Boca do Lixo, de Jorge Andrade, com direção da Dulcina de Morais, pude mostrar que era capaz de fazer outras coisas, de viver outros papéis. Lembro-me que quando apareci em cena, de peruca branca, como uma senhora idosa, recebi uma salva de palmas. A personagem tinha 70 e tantos anos, mas eu tinha 47 anos. E fazia aquela senhora, grã-fina, de família quatrocentona de São Paulo, que ia parar numa delegacia da boca do lixo por estar metida com contrabando. Apesar do humor, a peça tinha um lado dramático. Então, a Dulcina dizia: Eu desasnei essa menina. Desasnou, de asno, compreende? E foi um grande sucesso, embora ninguém acreditasse que fosse dar certo. Aliás, trabalhar com a Dulcina foi uma maravilha. Uma experiência enriquecedora. Lembro-me que encontrei a Cacilda Becker, em Belo Horizonte, alguns dias antes da estréia, e ela me disse: Você vai fazer Senhora da Boca do Lixo? Respondi: Sim, vou fazer. E ela: Você não pode, não tem idade para isso. Ela também não tinha. Éramos quase da mesma idade. Na verdade, acho que ela estava com intenção de fazer a peça. Então, me disse: Se você fizer esse papel, nunca mais vai poder interpretar as jovens. Mas isso não aconteceu. Continuei fazendo mulheres jovens e ainda abri espaço para papéis mais maduros. Muitos anos depois, em 1970, voltei a fazer uma idosa, na peça Em Família, de Oduvaldo Vianna Filho, com direção de Sérgio Brito. Nesse espetáculo, que ficou um ano em cartaz, eu fazia uma avó, bem velhinha, cujos filhos e netos decidem mandá-la para um asilo, pois nenhum deles queria ficar com ela. O público se emocionava tanto que algumas pessoas gritavam da platéia: Eu fico com a senhora! Era emocionante. Depois, em 1976, fiz outra peça, no teatro Maison de France, chamada Rendez-Vous, em que interpretava uma senhora americana. Eu usava uma dentadura horrorosa e uma peruca branca para me caracterizar como uma idosa. No meio do espetáculo, eu dava aquele salto de circo, e dizia: Ah, minha perouca, eu perdi a minha perouca. E dava um salto mortal! Nessa peça, eu fazia oito papéis. E as personagens tinham idades diferentes! Eu fazia de tudo, dava cambalhota, ia pra lá e pra cá. Um tremendo trabalho. Capítulo IX 70 Anos nos Palcos Em cena, nenhum outro estilo é capaz de ser tão demonstrativo de liberdade que o de Eva Todor. Ela vem de uma escola em que o livre convívio com a platéia é regra primordial. Sua técnica cênica é a da naturalidade. Seu processo interpretativo é o do instinto, que se contenta quando ela se percebe à vontade. Seu critério sempre foi o da gratificação constante de seu público... E tem, com relação à platéia, a mesma força que caracteriza as mães mais desveladas: dar para receber mais; receber para continuar dando. Paulo Afonso Grisolli, diretor teatral – 1969 Fiz centenas de espetáculos ao longo de minha carreira. Até perdi a conta. Comecei com 14 anos e trabalhei a vida toda. Só parei depois de quase 70 anos nos palcos. Foi uma vida toda dedicada ao teatro. Durante toda minha carreira sempre fiz um espetáculo atrás do outro. Fiquei 23 anos no Teatro Serrador em caráter permanente. De janeiro a janeiro. Eu não viajava mais, só montava peças no Serrador. Fiz poucos espetáculos fora do Rio. Nem mesmo em São Paulo consegui levar muitos espetáculos, apesar de saber que não se podia desprezar a cidade, por ser uma metrópole com uma vida cultural intensa. Mas infelizmente não dava para sair do Serrador. Tenho até um pouco de frustração por causa disso. De qualquer forma, nunca deixei o público paulistano de lado. Durante vários anos fiz questão de levar espetáculos para lá, sempre no Teatro Santana, que ficava na Rua 24 de Maio, perto do bar Jequitibá. Assim aconteceu também em Belo Horizonte, que foi a primeira capital, depois de São Paulo, na qual fiz sucesso em turnê. A peça Colégio Interno, do meu tio Ladislau Fódor, foi uma verdadeira consagração. Durante vários anos só dava tempo de ir a Belo Horizonte, depois da temporada do Serrador. Qualquer peça que eu anunciasse, tendo feito sucesso no Rio, imediatamente era requisitada pelo público e pela imprensa, que me pedia que eu repetisse também Colégio Interno. E foi assim durante dez anos. Nos anos 40 e 50, eu reservava sempre o mês de dezembro para levar espetáculos à cidade de São Paulo. Nas minhas temporadas no Teatro Santana, o conde Álvares Penteado, que era proprietário do teatro, assistia sempre às minhas peças na sua frisa. Ele era um homem gentilíssimo. Curiosamente na minissérie sobre a família Penteado, Um Só Coração, exibida na Rede Globo, a autora Maria Adelaide Amaral não faz menção ao Teatro Santana. O que foi uma falha imperdoável, pois o teatro era maravilhoso. Tenho ótimas lembranças de São Paulo e somente uma desagradável: eu estava no palco, encenando Iaiá Boneca, e no segundo ato quebrei o pé, ao me levantar de mau jeito. Tive que ir para o hospital e fiquei por vários dias sem poder trabalhar. Mas, enfim, sempre fui muito bem recebida pelos paulistanos. Em 1989, quando levei do Rio para São Paulo a peça Como se Tornar uma Supermãe em Dez Lições, foi um retumbante sucesso. Eu fazia uma mãe judia, uma personagem maravilhosa. Estava num momento muito difícil, pois a peça estreou 20 e poucos dias depois da morte do Paulo. Eu nem sabia que ia estrear. De certa forma, Wolf Maia, que era o diretor, aliás, um grande diretor, me tapeou. Em nossa primeira apresentação, ele me disse: Fica tranqüila, Eva, é só um ensaio geral, com alguns convidados. Mas na verdade era a estréia. Eu estava muito mal mesmo, não tinha condições físicas para fazer a peça. Mesmo assim continuei e ficamos em cartaz por 2 anos e 8 meses. Com a morte do Paulo, acabei por não fazer mais teatro. Era muita mão-de-obra, muita coisa para cuidar. Paulo cuidava de tudo para mim. Naquele momento, decidi que não iria mais fazer teatro, apenas televisão. Mas o teatro sempre foi e continuará sendo minha vida! No teatro pude encenar grandes autores nacionais e estrangeiros, vivendo personagens maravilhosas. Uma peça que me traz boas recordações é Lily, Lily, que levei ao Teatro Copacabana, no final de 1988. Ficamos um ano em cartaz! Aliás, poucas peças minhas fizeram menos de um ano. Lily, Lily tinha um texto ótimo, embora dificílimo, que João Bethencourt dirigiu genialmente. Eu fazia dois papéis. Eram duas irmãs, gêmeas, uma provinciana, toda mocoronga, e a outra, uma vedete, absolutamente doidona, que bebia, tomava drogas. Eu mudava de roupa 25 vezes – sendo que a troca mais longa eu fiz em apenas 25 segundos. Eu saia de cena como a mocoronga e voltava imediatamente como a vedete. Tudo muito rápido! O público fazia: Ohhhh. Absolutamente inacreditável. Até na hora dos agradecimentos mantive as duas personagens. Eu agradecia como vedete, saía de um lado, fechava-se a cortina e, quando abria de novo, eu já estava do outro lado, como a provinciana. Era sensacional. Um excelente trabalho de João Bethencourt, que além de grande escritor de comédias, era um excelente diretor e um amigo muito querido – que infelizmente perdemos recentemente, no final de 2006. Com ele fiz também O Doente Imaginário, de Molière, que ele dirigiu maravilhosamente bem, no Theatro Municipal do Rio, em 1978. Eu interpretava a Toninha (Toinette, no original francês), que é a personagem permanente mais famosa de Molière. E João criou uma cena arbitrária nesse espetáculo, me fazendo dançar na passarela com o primeiro-bailarino do Municipal, Emílio Martins. Era um grande prazer trabalhar com João Bethencourt. Fizemos outro espetáculo juntos: O Dia em que Raptaram o Papa, uma peça divina que montamos em 1972! É sobre uma família judia, e o marido está revoltado com o mundo e decide raptar o papa. A coisa toda vira um escândalo e ele finalmente pede o resgate: Só entrego o papa se o mundo inteiro prometer que haverá paz por um dia. Um dia sem um tiro, sem uma agressão, sem um assassinato, sem um assalto no mundo. Era só isso o que ele queria. A peça era uma delícia, uma ótima comédia. E eu fazia a mulher do seqüestrador, uma judia muito divertida. Um trabalho que teve grande importância na minha carreira foi Lili do 47, de Joracy Camargo. Ganhei um prêmio especial pelo papel de uma jovem que se torna prostituta: a Medalha de Ouro da Associação de Críticos Teatrais, em 1949. Foi um grande sucesso! Lembro-me com carinho de Lotária, do Luiz Iglézias, que tinha uma conotação política. Era em cima do marechal Lott e fez muito sucesso também. Isso em 1956. Nesse mesmo ano fiz outra peça com conotação política: Timbira, também do Iglézias, com direção de Jardel Filho. Eu fazia uma índia, com o corpo todo maquiado para ficar morena e uma peruca preta, enorme. Eu descia de um coqueiro de sete metros de altura. O público adorou! Era eu, Ilka Soares e Beatriz Veiga. As peças do Iglézias funcionavam muito bem. Tanto os textos originais, de autoria dele, como os que ele adaptava. Era uma maravilha, com diálogos preciosos. Aliás, a primeira comédia que Iglézias ousou fazer para mim foi Chuvas de Verão, de 1941. Como eu tinha sotaque, todo o mundo dizia: Iglézias é louco, tirar a menina do gênero musicado para colocá-la na comédia. Ela mal fala português! Pois ele fez e foi um sucesso. Foram tantos espetáculos ao longo de minha carreira! Tantas personagens! De Bernard Shaw fiz Cândida, em 1946, que foi a primeira peça a ficar seis meses em cena no Brasil. Bernard Shaw nos enviou uma carta, por intermédio de Paschoal Carlos Magno, dizendo que pela primeira vez sua peça fazia sucesso no teatro. Talvez pelo fato de Iglézias ter alterado o final dos três atos, que se encerrava sempre com os dizeres: E assim o poeta foi embora, levando consigo um segredo. Iglézias preferiu fazer um final menos rebuscado. Claro que muitas pessoas o acusaram de ter mudado a peça, ao que ele respondeu: É tudo uma questão de dinheiro. Por meio do próprio Carlos Magno, Iglézias pagou a Bernard Shaw o correspondente a dez contos de réis para mudar os finais. Cândida foi a primeira peça da qual se fez um levantamento de arrecadação de bilheteria – encomendado por Almeida Braga, presidente do Banco da Guanabara, junto a Carlos Lacerda. Resultado: constatou-se que aquela era a peça que ficou mais tempo em cartaz e também a que deu mais dinheiro naquele ano de 1946. E ganhamos a Medalha de Ouro de Arrecadação de Direito Autoral. De Bernard Shaw encenei ainda A Milionária, em 1953, que era muito moderna. No espetáculo, eu dava golpes de jiu-jítsu no Fernando Torres. Eram golpes sensacionais! Tivemos até aulas com o lutador Hélio Grace. Em 1955, fiz Sabrina, no Serrador. Ao mesmo tempo, estava anunciado para estrear no Cine Metro o filme homônimo com Audrey Hepburn. A repercussão e o sucesso da nossa Sabrina foram tamanhos que a estréia do filme foi adiada, para esperar que nossa peça saísse de cartaz. O elenco incluía Manoel Pêra, Jorge Dória, Elza Gomes, Afonso Stuart, André Villon, Jardel Filho e Leda Valli. Um elenco milionário, sem falar da presença de Henriette Morineau – minha contratada por dois anos –, que dirigiu e atuou nessa peça. Rainha do Ferro-Velho, do original Born Yesterday, de Garson Kanin, foi igualmente um retumbante sucesso e também anunciado paralelamente ao filme, o que não nos prejudicou em absolutamente nada. O mesmo aconteceu com Anastácia, que estreou na mesma época que o filme homônimo, estrelado por Ingrid Bergman, em 1956. Além de Anastácia, anos depois, em 1977, fiz outro espetáculo notável com Morineau, novamente contratada: Quarta-feira sem Falta, lá em Casa, de Mario Brasini, com direção de Gracindo Jr. Ficamos dois anos em cartaz no Rio de Janeiro e, em seguida, saímos em excursão pelo Brasil todo, só não fizemos São Paulo. Eu guardei a peça por muitos anos, pensando em encená-la outra vez, mas não tive oportunidade. Em 2006, acabei cedendo a peça para Nicette Bruno e Beatriz Segall, que fizeram uma nova montagem. Cedi porque já não tencionava fazê-la novamente. Muitas companhias haviam me pedido os direitos, mas durante dez anos neguei, por gostar muito do texto. Outra peça maravilhosa e que considero um dos meus melhores trabalhos: Os Efeitos dos Raios Gama nas Margaridas do Campo, de 1973, com direção de Bárbara Heliodora. É uma peça séria, formidável. Sérgio Brito começou a dirigi-la, mas abandonou o trabalho. Bárbara assumiu a direção magistralmente, além de fazer a tradução e adaptação do original de Paul Zindell. Gostei muito de trabalhar com ela e ganhei o prêmio Ibeu de melhor atriz. Paulo Nolding também foi premiado, na categoria de melhor montagem. Graças à percepção aguda de Bárbara, a peça foi um grande sucesso. Ela é uma ótima diretora e uma profissional que realmente entende de teatro! Não sei por que não dirige mais. No final das contas, o fato de Bárbara ter assumido a direção acabou sendo muito positivo. Com certeza Sérgio Brito teria dado outro tom ao texto. Acho que ele não percebeu que se tratava de uma comédia de humor negro, com momentos de graça. Humor negro sim, mas humor. Se tivéssemos feito uma montagem absolutamente dramática, como ele queria, teríamos enterrado o espetáculo. Enfim, fiz quase 200 peças nestes meus 70 anos de carreira. Não dá para falar de todas, senão seriam necessários uns dois ou três livros! Capítulo X Cinema O teatro sempre foi o foco da minha carreira. Por isso, tive pouca oportunidade de fazer cinema, mas confesso que gostaria de ter feito mais. Fiz um filme em Portugal, chamado Pão, Amor e... Totobola – lançado em 1964 com grande sucesso de público. Não tive chance de vê-lo, porque voltei para o Brasil logo após o término das filmagens. Quando fizeram o lançamento em Portugal, fiquei impossibilitada de ir porque Iglézias havia falecido havia pouquíssimo tempo. Mas recebi um telegrama dizendo que o filme tinha feito uma boa carreira nos cinemas. Era uma produção portuguesa e eu era a única brasileira no elenco. Já Os Dois Ladrões, que fiz nos anos 60 e com o qual ganhei vários prêmios, é um filme muito comentado, principalmente por causa da cena com Oscarito, em que fazemos espelho um do outro. Era uma seqüência divertida: eu me olhava no espelho, mas na verdade não era um espelho, era o Oscarito vestido igualzinho a mim. Então, eu dizia: Nossa, como estou feia. E cada movimento que eu fazia, ele repetia, como se fosse mesmo minha imagem no espelho. A direção era do Carlos Manga, que conduziu todo o filme com muito talento. Eu interpretava uma milionária, madame Gaby, e Oscarito, um golpista, que agia na alta sociedade, a serviço de um ladrão sofisticado – vivido por Cyll Farney. Os Dois Ladrões foi lançado em 22 cinemas simultaneamente. Um sucesso absoluto. Oscarito era um colega maravilhoso, uma pessoa muito boa. Eu já havia trabalhado com ele na revista e o conhecia há alguns anos, tanto ele como a esposa, Margot Louro. Eram pessoas muito corretas. E ele – não se pode deixar de dizer – era um ator genial! Recentemente o diretor Mauro Lima me chamou para trabalhar no filme Meu Nome não é Johnny, com Selton Mello. Foi um trabalho muito bom, com uma equipe jovem e talentosa. Gostei de fazer a vovó traficante, mesmo sendo um papel pequeno, pois são os trechos mais engraçados do filme. Faço uma senhora educada, simpática, de classe média, que vende drogas. Capítulo XI O Humor de Eva Chega à TV Um barato ver Eva e seu adorável estilo teatral na TV! Ela tem algo de cinema mudo em suas expressões faciais, o que é ótimo de ver e fruir. Consegue tal empatia com o público e comove (porque se comove) tão facilmente que é uma espécie de usinazinha de emoções suaves e afetivas. Arthur da Távola – O Globo – 17/9/1977 Comecei a trabalhar na televisão em 1957, quando ainda estava casada com Iglézias, que criou para mim o seriado As Aventuras de Eva. Era um seriado cômico, que ficou no ar de 1957 a 1960, tendo sido o primeiro do gênero na TV Tupi. O programa era semanal e foi anterior ao Alô, Doçura, com Eva Wilma. Era engraçado e muito bem escrito pelo Iglézias, com um ótimo elenco, incluindo Daniel Filho, que estava estreando na TV. A situação, a trama toda, era em cima da minha personagem, uma secretária pobre, bem simples, em busca de emprego. O problema é que ela andava com um cachorro que não largava de jeito nenhum. Claro que ninguém queria uma secretária com um cachorro. E, para piorar, ela era toda atrapalhada, trocava nomes, mudava tudo. O patrão se chamava Marin Brando Ferrão e ela só se referia a ele como Marimbondo Ferrão. Quem fazia o patrão, maravilhosamente bem, era Manoel Pêra, que fez parte da minha companhia e com quem encenei a peça Rainha do Ferro-Velho, em 1954, pela qual ele injustamente não ganhou o prêmio de melhor ator daquele ano. As Aventuras de Eva tinha uma mistura de humor e drama que funcionava muito bem. Por exemplo, ao fazer a entrevista para o emprego, ela conta que precisa muito trabalhar, pois a mãe é pobre e depende dela. O patrão, então, diz: Está bem, está contratada! E ela: O emprego é meu? Meu e do Sebastião?, que é o tal do cachorro. Ele, já furioso, responde: É, com Sebastião e tudo. E ela telefona para casa: Mamãe, peguei o emprego. Graças a Deus, hoje, depois de muitos dias, vamos poder jantar. Enfim, era comédia, mas tinha um filãozinho de drama. Eram esquetes, pequenos atos de humor, muito bem escritos. Foram três anos no ar. Depois parei porque tinha o teatro, que me tomava muito tempo. Naquela época, teatro era de segunda a segunda! Nunca fiz peça de sexta-feira a domingo, como nos dias de hoje. Era a semana inteira! Era uma loucura, não dava tempo de fazer nada. Era muito sacrificante. Só voltei a fazer TV em 1970, dez anos depois de As Aventuras de Eva. Mas fui fazer novela e não humor. Foi a última novela da Glória Magadan na TV Tupi, E Nós, Aonde Vamos? – que foi um desastre! Um rolo danado: os artistas brigaram e abandonaram o trabalho. Até o diretor brigou e foi embora! Todo mundo saiu. Fiquei sozinha e, para terminar a novela, foi preciso improvisar: eu estava seqüestrada num navio e ficava conversando pela escotilha, sozinha, porque não tinha com quem contracenar. Uma insanidade. Quando a novela acabou, Glória foi embora do Brasil! Em 1977, fui convidada pela Rede Globo para fazer Locomotivas, que marcou minha estréia nas novelas da Globo. Era uma ótima novela, no horário das 7 horas da noite, escrita por Cassiano Gabus Mendes e dirigida pelo Régis Cardoso – aliás, um grande diretor! Eu tinha um belíssimo papel e participava de um elenco maravilhoso: Lucélia Santos, Aracy Balabanian e Walmor Chagas, entre outros. Eu fazia Kiki Blanche, uma ex-vedete, dona de um salão de beleza, mãe de Aracy e de Lucélia, que era uma das cinco filhas adotivas. A trama toda girava em torno desse núcleo familiar – ou seja, já comecei fazendo papel de mãe. Foi um tremendo sucesso. Tínhamos picos de audiência e a novela virou uma febre entre os jovens. Na época surgiram inúmeros salões de beleza com o nome Kiki Blanche. E aconteceu um fato curioso: certo dia, uma jovem, vinda da Bahia, apareceu na Rede Globo. Ficou horas e horas sem poder entrar na emissora, até que conseguiu falar comigo e me pediu, pelo amor de Deus, para ser adotada por mim. Foi uma luta para embarcá-la de volta à Bahia! Ao final de Locomotivas, fiquei definitivamente na Rede Globo, onde tive – e ainda tenho – a oportunidade de viver personagens muito admiradas pelo público. Mas nunca fiz as jovens, só as mulheres maduras, algumas até mais velhas do que eu, pois sempre procurei seguir o conselho que meu marido Paulo me deu: era preferível que o público pensasse que eu estava muito jovem para um determinado papel do que pensar que eu estava muito velha. Acho que essa é a razão do sucesso que tenho, dessa continuidade e da possibilidade de me manter trabalhando até hoje, com uma carreira ininterrupta pontilhada exclusivamente de êxitos. E o mais importante foi que pude colocar meu humor em personagens que marcaram minha trajetória na TV, como a própria Kiki Blanche, de Locomotivas, Santinha Rivoredo, de Sétimo Sentido (1982), Morgana Kundera, de Top Model (1989), e Josefa Lacerda de Moura, de O Cravo e a Rosa (2000), que foi uma delícia de fazer, entre muitas outras. Só tenho a agradecer! Aliás, vivenciei uma passagem muito bonita na Rede Globo. No início, eu não era contratada permanente, tinha contratos por obra e fazia uma novela sim, uma não. Mas em 1989, quando Paulo faleceu, eu estava fazendo no teatro a comédia Como se Tornar uma Supermãe em Dez Lições, dirigida por Wolf Maia – grande diretor de televisão, que no teatro é grande, é inventivo. Enfim, eu fiquei muito abalada com a morte do Paulo e dei uma entrevista, onde disse que já não tinha mais ninguém. A alta direção da emissora, ao ler a entrevista, me chamou imediatamente e me pediu que eu nunca mais dissesse que estava sozinha: Sua família agora é a Globo. E assim tem sido. Logo depois, fui escalada para fazer a novela Top Model, o que me ajudou muito a superar a morte do Paulo. Ganhei um contrato permanente e passei a ser funcionária da emissora. Pouco tempo atrás, um dos diretores da emissora, Érico Magalhães, me chamou e disse: Dona Eva, a senhora pode se aposentar. Eu pulei e disse: Mas eu não quero. E ele explicou: Está bem, mas vou deixar sua papelada pronta e se a senhora quiser ser aposentada da Rede Globo vai continuar ganhando e fazendo novelas da mesma maneira. Graças a Deus aceitei essa aposentadoria, que é um privilégio, pois são poucas as empresas que oferecem isso. Sinto-me amparada, tranqüila e em conforto. Claro que muito do que tenho ganhei no teatro. E hoje dá para viver com tranqüilidade, sem preocupações.  Levo uma vida pacata, com alguns amigos e os poucos parentes que ainda tenho. Em 2006, festejei meu aniversário de 87 anos com um grande almoço, para mais de 80 pessoas. Foi uma festa muito bonita. Gosto de receber os amigos para comemorar. Mas hoje em dia saio muito pouco, então, quando posso convido as pessoas para virem à minha casa. Devo dizer que estou profundamente preguiçosa e comodista. E não faço nada mais nesse mundo que possa me incomodar. As minhas amigas perguntam: O quê? Você não está saindo? Tem tanta coisa pra fazer, tem estréia disso, daquilo. E eu pergunto: É alguma coisa que interessa? Se não é, simplesmente não vou. Não vou mesmo, ainda mais de noite. Tenho um pouco de medo, apesar de ter carro e chofer à minha disposição, saio pouco. Por comodidade mesmo. Capítulo XII A Arte de Improvisar Eva faz comédia com o talento e a humildade que só os grandes possuem. Não perde nenhuma das oportunidades que o texto lhe oferece. Mas, se é para ser só escada, dá todas as deixas para seus companheiros de cena brilharem. Artur Xexéo – Jornal do Brasil – 9/6/1999 Sempre tive muita liberdade no palco e aprendi a conduzir o público, dominando a técnica da interpretação. Isso me permitia inventar. Eu improvisava, sim, mas não loucamente. Criava um caco, uma fala ou outra, mas sem exageros. Tem atores que perdem a medida nessa hora e criam um verdadeiro romance. Posso dizer que sempre tive o dom de improvisar, até na televisão. Existem diretores que dizem: Não se pode improvisar, mas a Eva pode, ela é hors-concours. Na novela América, que fiz em 2005, a minha sorte foi essa. O papel era muito simpático, mas com um texto muito difícil. Era muito bem escrito, mas cheio de filosofia, com conselhos para todo mundo. E minha personagem era profundamente simpática e bondosa. Ela não criticava, só procurava se colocar. É isso que faço, principalmente na televisão. E o papel resultou muito bem. Gosto desse desafio e adoro fazer novelas, por mais difícil que seja. Digo sempre que sou uma atriz intuitiva, principalmente na televisão. Tem muita gente que diz a meu respeito: Ela improvisa. Entra em cena e parece que está em casa. Acho que isso acontece porque o texto não me perturba. Sigo o texto à risca, com alguns pequenos acréscimos. No caso da televisão isso é ainda mais presente, pois tem o imediatismo. O ator recebe um capítulo e tem de preparar para o dia seguinte. Não é uma coisa que se elabora, faz laboratório, elucubrações, isso e aquilo. Não dá tempo. Então, quando tenho de estudar uma cena, a primeira coisa que penso é: O que é que você faria na vida real? Dentro dessa situação, procuro interpretar da forma mais leve possível. Afinal, eu não estou fazendo Antígona! Estou ali para representar uma coisa ligeira. Saber improvisar é uma arte. O artista não pode prejudicar o colega na hora do improviso. Tem gente que pára de fazer a peça, cria o seu próprio monólogo e o parceiro fica lá, sem saber o que fazer em cena. Não se pode fazer isso. É contra a ética! Sempre tive muita ética no teatro e na televisão também. Não vou para cima de ninguém e respeito o espaço do colega. Trabalhei com muitos veteranos e sempre houve muito profissionalismo entre nós. Nunca perdi a noção da ética. Sempre fui muito amada pela família e pelos colegas de trabalho – podia até não ser, mas eu achava que era. Trabalhei com os mais diversos diretores. Na comédia, tenho uma fileira deles para enumerar, na revista tenho mais alguns, enfim foram pessoas maravilhosas com quem sempre trabalhei. Sempre fui tratada como eu queria e isso me fazia muito feliz. Tive um diretor, que foi também um professor para mim, Eduardo Vieira, fixo da companhia, trabalhava comigo no camarim e me preparava para os ensaios. Ele me ensinou tudo, principalmente impostação de voz e ritmo, coisa que em escolas de teatro eu não teria aprendido. São técnicas que utilizo até hoje. Em América, por exemplo, eu procurava diminuir um pouco o ritmo, porque os outros empregavam ritmo demais. Em geral, confundem ritmo com velocidade. Ritmo é um sincopado. São as pausas que damos às falas. São coisas pensadas, que o ator tem de preparar e trabalhar de acordo com o personagem. Aliás, sempre diziam que eu era a atriz com mais ritmo do teatro nacional! Nestes 70 anos de carreira, aprendi a ter domínio de palco. Eu conduzia o público para onde eu queria. Por exemplo, havia momentos em que a platéia estava rindo desbragadamente, mas aí a peça tinha um pedacinho que era sério. O que eu fazia? Baixava um pouco a voz, mudava o ritmo e a platéia parava de rir imediatamente, como quem diz: Agora é sério. Depois voltava pro humor e todo mundo se acabava de rir. Tinha muito domínio sobre o público, que ria até o momento que eu queria. E era sempre recebida com muito carinho. Eu sentia isso e tinha a impressão de que as pessoas ficavam com vontade de subir ao palco e me estender as mãos. Uma coisa inédita, muito grande, tanto aqui como fora. Em Lisboa foi uma loucura, de tanta gente e tanto bem-querer. Recebi inúmeras homenagens nas temporadas ao longo de minha carreira. Todas as minhas peças lotavam. E quando um espetáculo começava a enfraquecer, Iglézias mais que depressa já botava outra. Não deixava a peteca cair, nunca! Para mim, o grande sucesso era normal, pois só fiz sucessos. Não tive desastres. Tudo isso era resultado de muito trabalho. Sempre trabalhei muito. Minha vida era só trabalho. No primeiro ano em que saí da revista tivemos que lutar um pouco, as coisas eram difíceis. Fizemos três, quatro peças no Teatro Rival e saímos para excursionar, porque o teatro foi ocupado por outra companhia e fomos obrigados a sair em turnê pelo Norte e Nordeste. A companhia ainda não levava meu nome. Quando voltamos da turnê, conseguimos contrato com o Teatro Serrador, mas já como Eva e seus Artistas. A companhia se firmou. Eu me firmei, pelas mãos do Iglézias. Fui eleita rainha do baile das atrizes, que não era apenas um baile, era uma votação da Academia Brasileira de Imprensa (ABI). Fui rainha duas vezes: aos 15 e aos 17 anos. Apesar disso, sempre fui muito correta com as pessoas que trabalhavam comigo. Nunca impedi ninguém de trabalhar, embora tenha gente que faça isso. Sempre digo uma coisa: Você cospe para cima e cai na sua cara. Apreendi isso com Iglézias, que me dizia: Toma cuidado, nós estamos fazendo sucesso, está tudo bem, mas de repente a coisa vira. Ele sempre me aconselhava: Nunca diga, vou largar o teatro. Só se o público te deixar. Isso nunca aconteceu, mas naquele tempo não havia televisão, era tudo na raça. Minha carreira sempre foi um sucesso, sem interrupção. Comprovado! Por isso, acho estranho quando alguma publicação omite meu nome ao falar da história do nosso teatro, dada à continuidade da minha carreira. Afinal, meu nome sempre esteve presente entre as grandes estrelas do teatro brasileiro. Capítulo XIII Mar Calmo Saí da Hungria ainda pequena e só voltei lá a passeio com meu segundo marido, Paulo. O Brasil é meu país. Sou brasileira! Fui naturalizada nos anos 40. Antes disso, minha documentação era de estrangeira. Até que um dia o presidente Getúlio Vargas, que sempre nos prestigiava, foi ver uma peça no Theatro Municipal, no Rio de Janeiro. Depois do espetáculo, ele me chamou ao camarote dele: Você quer ser naturalizada? Respondi: Claro, presidente. E ele: Peça ao seu marido para levar sua documentação ao meu gabinete que vamos resolver isso. E assim foi. Getúlio gostava muito dos textos de Iglezias. Nos espetáculos de revistas políticas, quando havia problemas com a censura, Iglézias procurava o próprio Getúlio, que dava uma olhada no texto, dobrava o cantinho da página de rosto e escrevia: Represente-se. E assinava. Nossa companhia de comédia era uma das mais importantes do País, pela sua estabilidade. Juscelino Kubitschek era outro presidente que nos prestigiava constantemente, sem falar de Castelo Branco, Dutra – com a primeira-dama, dona Santinha – e Costa e Silva. O carinho que sempre recebi do público brasileiro me fez fincar raízes aqui. Certa vez, houve uma oportunidade de trabalhar na Hungria com O Dia em que Raptaram o Papa, mas não deu certo, pois eu já estava comprometida com a peça Lily, Lily no teatro do Copacabana Palace. Enfim, minha família saiu da Hungria e veio para o Brasil, onde tivemos a chance de construir uma vida maravilhosa. Nunca nos arrependemos disso. Em 1930, Paulo Magalhães – que mais tarde viria a se tornar nosso amigo e cuja peça, A Feia, marcou minha estréia na comédia – estava apresentando a final do concurso Miss Brasil, no cinema Paratodos, na cidade de São Paulo. Recém-chegada e sem falar pipocas de português, fui convidada para tomar parte do balé de abertura da festa. Eu já era famosa em São Paulo, por causa das minhas apresentações de dança no circuito de cinemas Serrador e também pelo espetáculo que fiz no Municipal. Assim, fui chamada para dançar nessa festa das misses. Na hora de me apresentar ao público, Paulo Magalhães disse: Agora, a menina-prodígio, precoce, Eva... Eva... Todor. Minha mãe, da coxia, protestou: Não, é Fódor. E ele insistiu: Eva Todor. E ela corrigiu novamente: É Eva Fódor. E ele, na maior aflição, ficou sem saber o que fazer. E manteve o Todor. No final das contas, acabei assumindo, por motivos de força maior, o Todor. Não é Tudor, como algumas pessoas dizem. É Todor! Mesmo tendo conhecido o sucesso muito nova, sempre mantive minha integridade. Tive dois casamentos maravilhosos. Em nenhum deles tive filhos. Não aconteceu. Nunca me fez falta, devo confessar. Agora talvez fizesse diferença, se fosse um filho bom, mas nem sempre os filhos são bons. De qualquer forma, seria uma companhia agora que estou mais velha, mas nem sempre os jovens querem saber de velhos. Tenho um sobrinho querido que mora em São Paulo e vários outros que moram nos Estados Unidos. Isso tudo me faz pensar numa fala da minha personagem miss Jane, da novela América, de Glória Perez, que escreve divinamente bem: A vida não é um rascunho, não há chance de passar a limpo. Nós não temos a chance de passar a limpo, o que está feito, está feito. A minha vida, tenho certeza, é limpa. Sempre digo que talvez a minha vida não seja tão interessante justamente por isso. É limpa, bonita, amena. É um mar calmo. Carta de Paulo Nolding Escrita um dia antes de sua morte, em 1989. Evinha, meu anjo e grande amor de minha vida, Estamos passando por momentos trágicos, que espero em Deus venceremos. Como sempre analisei tudo com você, pretendo fazer o mesmo agora, para que você possa ter tranqüilidade caso seja chegada minha hora. Deus tem sido muito bom para nós, dando-me até a chance de conversar com você. Nada de desespero. Não blasfeme. Aceite tudo como sendo a vontade de Deus. Quero que você tenha a certeza de que fui e sou o homem mais feliz do mundo. Tenho a mulher mais perfeita e carinhosa que alguém pode ter. Você é de uma retidão de caráter insuperável. Eu, tão medíocre, não merecia tanto! Querida, tenha a certeza de que desde que a conheci você ocupou todos os meus momentos, todos os meus pensamentos e que nada mais amei a não ser você. Por isso, não estou tão revoltado. Quantas pessoas na humanidade tiveram tanto quanto eu tive? Claro que se puder, quero mais. Mas, se for chegada minha hora, agradeço a você e a Deus de me terem dado tanto. Você tem uma vida de glórias e deve continuar brilhando até o fim. Isso fará com que tudo seja mais fácil para você. Não se entregue, mostre aos outros que você tem estrutura para vencer qualquer batalha. Não deixe que ninguém interfira em sua vida. O que construímos juntos deverá bastar por enquanto, mas o trabalho ajudará você a sobrepor-se a tudo. Confio em você e sei que venceremos mais esta batalha. Repito: fui e sou o homem mais feliz do mundo. Ter tido você foi a maior dádiva que Deus podia me dar. Como acreditamos num depois, saiba que estarei esperando por você o tempo que for necessário, assim como esperei aqui e que tanto valeu. Não tome as minhas palavras como morbidez. Com sou expansivo e nunca soube dizer de viva voz do meu imenso amor, procuro fazê-lo escrevendo, para dizer-lhe da minha eterna gratidão. Um beijo com todo meu grande amor, Seu Lindinho. Homenagem de Bibi Ferreira aos 50 Anos de Carreira de Eva Todor Publicada no programa da peça Como Se Tornar uma Supermãe em Dez Lições Maio de 1991 Querida Eva, Por várias vezes fiquei – sem você saber – zangada por sua causa. Nós que fazíamos, geralmente, as ingênuas cômicas, tínhamos o mesmo repertório. Veja só as peças que eu quis fazer, mas que você foi quem representou: Rainha do Ferro-Velho, de Garson Kanin, Cândida, de Bernard Shaw, Helena, de Machado de Assis, e muito mais. Fora as de autoria de seu primeiro marido, o grande produtor e autor Luiz Iglézias, pessoa das mais talentosas daquela época, seu tão amado companheiro. Quer mais? Você foi para Portugal, onde fez um sucesso estrondoso! Segui suas águas, levando um repertório leve e me dei mal – eles me queriam nos dramas. Mais outra: O Teatro Serrador estava sempre na minha mira, mas teu marido arrendava-o, fechando contratos na minha frente e lá estava você, sem saber o que estava acontecendo comigo, sendo a total responsável por momentos de aflição da minha vida. Ambas vivendo os anos dourados. Cheguei ao cúmulo de ficar contente no dia em que você quebrou o pé. E eu disse: Agora posso ter meu teatro. Pois sim! Você, sempre corajosa, continuou de pé quebrado, fazendo um teatro esplêndido, representando, quando não havia dia de descanso: duas sessões por noite e três sessões nas quintas, sábados, domingos e feriados – num pé só! Mas, um dia, fiquei triste, não com você, mas com o destino, que por motivo de viagem não me deixou dirigi-la com madame Morineau na peça do Mário Brasini. Você estreou a peça com grande sucesso, lançou muitos autores nacionais e teve dois grandes amigos, que acompanharam a sua vida, rodeando-a da paz necessária ao seu grande esforço no trabalho. Seu segundo marido, o Paulo Nolding, foi outra pessoa maravilhosa no caminho da pequena Eva, que um dia chegou da Hungria. Repare quanto amor você provoca e, por isso, vive rodeada dele. Que carreira linda Eva! Quantos sucessos e quantos amigos! Nunca ouvi dizer algo que tivesse saído de seus lábios de forma desairosa, de quem teria acabado de sair da sala ou do ensaio. Você continuou avançando com o seu talento, tornando o seu público cada vez maior e rodeada – como era chamada a sua companhia de teatro Eva e seus Artistas. E que artistas: Elza Gomes, André Villon, Jorge Dória, Afonso Stuart e tantos mais. Comédia é para comediantes e a prova está aí no sucesso constante, fazendo rir e pensar pelo Brasil inteiro, ano após ano, sem subsídio, sem patrocínio, sem subvenções – o que quiserem chamar – pois o teatro só precisava de palco, comediantes e boa peça. O sucesso ficava por conta da resposta do público. Você e seus colegas daquela época dividiam um teatro profissional, onde a base não era a ajuda, o auxílio que leva ao comodismo, mas a concorrência, a competição que você dividia com meu pai Procópio, Dulcina de Morais, Jaime Costa, Palmerim, Cazarré, Aimée, Alda Garrido, Renato Viana, Rodolfo Mayer, Paulo Gracindo, Delorges Caminha, Henriette Morineau, Maria Sampaio, Sandro e Maria Della Costa, TBC, Tonia-Celi-Autran, Os Comediantes e, ainda por cima, o grande teatro de revista da Praça Tiradentes. Agora você completa seus 50 anos de palco pelas mãos da nova geração – Wolf Maya – com todos os seus colegas da televisão, onde você continua o teu sucesso, que também amam você. Sim, a gente te ama Eva. Saudades! Saudades sempre! Que Deus continue a te acompanhar, iluminando a gloriosa trajetória dessa verdadeira mulher de teatro. Receba o abraço e a maior admiração de sua colega e amiga, desde o dia em que dançamos juntas no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e tínhamos apenas 11 anos. Mais uma vez, Saudades! Sua sempre Bibi Ferreira Obra Completa Em 2007, ano de lançamento desta biografia, Eva Todor completa 73 anos de carreira. A atriz, que estreou nos palcos ainda menina, tem uma extensa trajetória artística em peças, novelas, minisséries e especiais de televisão, além da atuação em alguns filmes. Teatro 1989 • Como se Tornar uma Supermãe em Dez Lições de Paulo Fucs 1988 • Lily, Lily de J.P. Grédy e Pierre Barrilet 1981 • Essa Gente Incrível de Neil Simon 1978 • O Doente Imaginário de Molière 1977 • Quarta-Feira sem Falta, lá em Casa, de Mário Brasini 1976 • O Rendez-Vous de Robert Thomas 1974 • Chiquinha Gonzaga de Elza Pinho Osborne e Carlos Paiva 1973 • Os Efeitos dos Raios Gama nas Margaridas do Campo de Paul Zindel 1972 • O Dia em que Raptaram o Papa de João Bethencourt 1970 • Em Família de Oduvaldo Vianna Filho 1969 • Olho na Amélia de Georges Feydeau 1968 • A Celestina 1967 • Padre à Italiana 1966 • Senhora da Boca do Lixo de Jorge Andrade 1965 • As Viúvas do Machado de Machado de Assis 1964 • Moral do Adultério de Luiz Iglézias 1960 • Quem Conhece as Mulheres? de Halasz Imre (tradução de Luiz Iglézias) • Amor em Hi-Fi de Barrilet e Gredy (tradução de Mário Silva e Renato Alvim) 1959 • Play-boy de Luiz Iglézias 1958 • Timbira de Luiz Iglézias • En Garde de Lili Hatvany (tradução de Luiz Iglézias) 1957 • Valsa de Aniversário 1956/1957 • Lotária de Luiz Iglézias 1956 • Vê se me Esqueces... de Raoul de Prazy (tradução de Mário da Silva e Renato Alvim) • Anastácia de Marcelle Maurette (tradução de Guilherme Figueiredo e Mário da Silva) 1955 • Um Casal de Morte de Rossin (tradução de Raimundo Magalhães Pinto) • Sabrina de Samuel Taylor (tradução de Al Neto) • Fronteira de Menotti del Picchia 1954/1957 • História Proibida de George Manour e Armand Verhille, extraído de um conto de Decameron, de Bocacio (tradução de Miroel Silveira) 1954 • A Rainha do Ferro-Velho de Garson Kanin (tradução de Raimundo Magalhães Júnior) 1953 • Viver é Fácil, de Lazos Zilahy (adaptação de Luiz Iglézias e Formaneck) • Larga Meu Homem de José Wanderley e Mário Lago • A Milionária de Bernard Shaw (tradução de Raimundo Magalhães Júnior) 1952 • O Freguês da Madrugada de Ladislau Todor (tradução de Luiz Iglézias) • Chiquinha Fubá de Tonado (adaptação de Luiz Iglézias e Wanderley) • A Mancha de Pedro Bloch • A Amiga da Onça de Bekeffi e A. Stella (tradução e adaptação de Luiz Iglézias e Formaneck) 1951 • Iaiá Boneca de Ernani Fornari • Bagaço de Joracy Camargo 1950 • Maria João de Paulo Magalhães • História de uma Casa de Calvo Sotelo (tradução de Brício de Abreu) • Ai, Tereza de Bekeffi (adaptação de Luiz Iglézias) • A Felicidade Vem Depois de Dario Nicodemi (adaptação de Luiz Iglézias e Carlos Lage) 1949 • Tu És Meu de Bockay (adaptação de Luiz Iglézias e Irmãos Galhardo) • Os Gregos Eram Assim de Luiz Iglézias • Não Brinques com o Amor • Lili do 47 de Joracy Camargo • Helena de Machado de Assis (adaptação de Gustavo Dória) • Apartamento Sem Luvas de Joseph A. Fields e Jerome Chorodov, baseado no livro de Ruth McKenney (tradução de Raimundo Magalhães Jr.) 1947 • Se Eu Quisesse de Paul Geraldy e Sptzer (tradução de Celso Kelly) • Mocinha de Joracy Camargo • A Carta de Somerset Maughan (tradução de Brício de Abreu) 1946/1949 • Cândida de Bernard Shaw (tradução de Menotti del Picchia) 1946 • Uma Mulher Livre de Dennys Amiel (tradução de Brício de Abreu) • O Pecado de Madalena de Ernesto Andai (tradução de Luis Iglézias) • Cláudia de Rose Franken 1945/1948 • Joaninha Buscapé de Luiz Iglézias 1945 • Maria Vai com as Outras de Rui Costa • Estão Contando as Cigarras de Viriato Correia • Bonita Demais de Joracy Camargo • Babalu de Luiz Iglézias 1944/1948 • À Sombra dos Laranjais de Viriato Correia 1944 • Querida Maluca de Aladar (adaptação de Eurico Silva) • O Príncipe Encantado de Ary Pavão • O Bico da Cegonha de L. Johnson (adaptação de Luiz Iglézias e Formaneck) • Nós, as Mulheres de Joracy Camargo • Cavalinho de Pau de Ladislau Todor (adaptação de Barrabás) 1943/1948 • Maria Fumaça de Ladislau Fekete 1943 • O Mundo é uma Bola de Birabeau (tradução de Isa Silveira Leal) • Julho 10 de Maria Castelo Branco e Maria Albuquerque • Copacabana de Mário Domingues e Mario Magalhães • A Pupila dos Meus Olhos de Joracy Camargo • A Mulher que Eu Sonhei de Erico Cramer • A Costela de Adão de Barry Conners (adaptação de Luiz Iglézias) 1942/1947 • Bicho do Mato de Luiz Iglézias 1942 • O Nazismo sem Máscara de Lourival Coutinho • Escândalo! de Janos Vaszary (tradução de Luiz Iglézias) • Crescei e Multiplicai-vos de Alcides Maciel e Sí lvio Fontoura 1941/1942/1945 • Colégio Interno de Ladislau Todor (tradução de Luiz Iglézias) 1941/1942 • Chuvas de Verão de Luiz Iglézias 1941 • Sol de Primavera de Luiz Iglézias • Casei-me com um Anjo de Janos Vaszary (tradução de Barrabás) • Carneiro de Batalhão de Viriato Correia • A Revoltosa de Paulo Magalhães • A Mais Bela Mulher de França de Verneuil e Berr (tradução de Luiz Peixoto e Batista Júnior 1940 • Querida de Paulo Magalhães • Leviana de César Ladeira • Levadinha da Breca de Abadie Faria Rosa • Eu, Tu, Ele • Aonde vais, coração? de Waldemar de Oliveira • Feia de Paulo Magalhães • O Troféu de Armando Gonzaga 1939 • Entra na Faixa de Freire Júnior e Luiz Iglezias • Camisa Amarela de Eva Todor • Yes, Nós Temos Banana de Alberto Ribeiro e Braguinha 1938 • Boneca de Pixe de Freire Júnior e Luiz Iglézias 1937 • Mamãe Eu Quero de Freire Júnior e Luiz Iglezias • Rumo ao Catete de Freire Júnior e Luiz Iglézias 1936 • Co-co-ro-có de Freire Júnior e Luiz Iglezias • Paz e Amor de Freire Júnior e Luiz Iglezias • É Batata! de Freire Júnior e Luiz Iglezias 1935 • Foi Ela... de Freire Júnior e Luiz Iglezias • Cidade Maravilhosa de César Ladeira • Da Favela ao Catete de Freire Júnior e Joubert de Carvalho • Do Norte ao Sul de Freire Júnior e Luiz Iglezias 1934 • Foi seu Cabral de Freire Júnior • Flores à Cunha de Álvaro Pinto e Mário Lago • Quanto Vale uma Mulher de Luiz Iglézias • Há uma Forte Corrente de Freire Júnior e Luiz Iglézias Companhia Eva e seus Artistas em Portugal Temporada de 1948 • Maria Fumaça • Costela de Adão • À Sombra dos Laranjais • A Pupila dos Meus olhos • Babalu • Bicho do Mato • O Bico da Cegonha • Cláudia • Colégio Interno • Ai, Tereza • Iaiá Boneca • Os Gregos Eram Assim... • Maria João • O Pecado de Madalena • Helena • A Carta Temporada de 1950/1951 • Ai, Tereza • Iaiá Boneca • Os Gregos Eram Assim • Maria João • Maria Fumaça • O Pecado de Madalena • Helena • A Carta • A Costela de Adão • Joaninha Buscapé Nessa temporada, a Companhia Eva e seus Artistas se apresentou ainda no Teatro Sá Bandeira, no Porto. Em abril de 1951, a companhia esteve nas cidades de Évora, Coimbra, Braga e novamente Porto. Temporada de 1960/1961 • Gosto que Me Enrosco (revista) • Garotas do Rebolado (revista) Em 1961, a companhia excursionou também pela África. Temporada de 1962 • Sol e Dó (revista) • Um Menino Bem • Antónia Teatros em que Eva Todor se Apresentou • Teatro Santa Isabel - Recife/PE • Teatro Castro Alves - Salvador/BA • Teatro da Paz - Belém/PR • Teatro Arthur Azevedo - São Luiz/MA • Teatro Amazonas - Manaus/AM • Teatro Municipal do Rio de Janeiro • Teatro Copacabana Palace - Rio de Janeiro/ RJ • Teatro Maison de France - Rio de Janeiro/ RJ • Teatro Municipal de Niterói - Niterói/RJ • Teatro José de Alencar - Fortaleza/CE • Teatro São Pedro - Porto Alegre/RS • Teatro Guaíra - Curitiba/PA • Teatro Municipal de São Paulo • Teatro Santana - São Paulo/SP Além de outros teatros, nas cidades de Brasília, Santos, Cuiabá, Pelotas, Campos, Petrópolis, Goiânia e Campo Grande. Cinema 2006 • Meu Nome não é Johnny, de Mauro Lima 2003 • Xuxa Abracadabra de Moacyr Góes 2002 • Achados e Perdidos de Eduardo Albergaria 1964 • Pão, Amor e... Totobola de Henrique Campos 1960 • Os Dois Ladrões de Carlos Manga Televisão 2007 • Amazônia: De Galvez a Chico Mendes (Branquinha) 2005 • América (miss Jane) 2004 • A Diarista: episódio Parece Mas não É • Sob Nova Direção: episódio O Casamento do Meu Melhor Inimigo 2001 • Brava Gente: episódio Os Mistérios do Sexo 2000 • O Cravo e a Rosa (Josefa Lacerda de Moura) 1999 • Suave Veneno (Maria do Carmo) 1998 • Hilda Furacão (Loló Ventura) • Você Decide: episódio Desencontro 1997 • Você Decide: episódio Preconceito 1996 • Você Decide: episódio A Pequena Herdeira • Anjo de Mim (Cotinha) • Quem É Você? (Augusta) 1995 • Malhação (Isaura) • Você Decide: episódio Agora ou Nunca • Você Decide: episódio A Dama de Ferro 1994 • Incidente em Antares (Venusta) 1993 • Olho no Olho (Veridiana) 1992 • De Corpo e Alma (Carolina ‘Calu’ Pastore) 1989 • Top Model (Morgana) 1987 • O Outro (Liúba) 1984 • Partido Alto (Cecília) 1983 • Sabor de Mel 1982 • Sétimo Sentido (Santinha Rivoredo) 1980 • Coração Alado (Hortência Alencar) 1979 • Memórias de Amor (Agripina) 1978 • Te Contei? (Lola) 1977 • Locomotivas (Kiki Blanche) 1975 • A Gata Comeu 1970 • E Nós aonde Vamos? 1961 • As Aventuras de Eva Índice Apresentação - Hubert Alquéres 5 Introdução - Maria Angela de Jesus 11 Capítulo I A Pequena Eva 15 Capítulo II Faceirice Nata 27 Capítulo III Iglézias: Uma Parceria na Vida e nos Palcos 31 Capítulo IV Formação 37 Capítulo V O Estilo Eva 47 Capítulo VI Portugal se Rende ao Gênero Eva 55 Capítulo VII O Casamento com Paulo Nolding 59 Capítulo VIII Do Humor ao Drama 67 Capítulo IX 70 Anos nos Palcos 81 Capítulo X Cinema 107 Capítulo XI O Humor de Eva Chega à TV 113 Capítulo XII A Arte de Improvisar 123 Capítulo XIII Mar Calmo 127 Carta de Paulo Nolding 129 Homenagem de Bibi Ferreira aos 50 Anos de Carreira de Eva Todor 131 Obra Completa Teatro 135 Companhia Eva e seus Artistas em Portugal 171 Teatros em que Eva Todor se Apresentou 172 Cinema 172 Televisão 173 Créditos das fotografias Ávila 149, 181 Harcourt 134, 182 José - Rio 30, 44, 46, 47 M. Fonseca 28 Onofre - Rio 144 Rafael 25 Renato 73, 160 Rónai - Budapest 21 R. Sasso 99, 100, 101 Vieira - Rio 68, 69, 70, 71 Demais fotografias pertencem ao acervo pessoal de Eva Todor Coleção Aplauso Série Cinema Brasil Alain Fresnot – Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot Anselmo Duarte – O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Ary Fernandes – Sua Fascinante História Antônio Leão da Silva Neto Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak – Fragmentos de uma Vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra – Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero Críticas de Edmar Pereira – Razão e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda Leão Críticas de Ruben Biáfora – A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista – Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Fernando Meirelles – Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta Cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton – O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Carlos Burle – Drama na Chanchada Máximo Barro Luiz Carlos Lacerda – Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla – A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Narradores de Javé Roteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu Pedro Jorge de Castro – O Calor da Tela Rogério Menezes Ricardo Pinto e Silva – Rir ou Chorar Rodrigo Capella Rodolfo Nanni – Um Realizador Persistente Neusa Barbosa Ugo Giorgetti – O Sonho Intacto Rosane Pavam Viva-Voz Roteiro de Márcio Alemão Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende Série Crônicas Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças Maria Lúcia Dahl Série Cinema Bastidores – Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Série Ciência & Tecnologia Cinema Digital – Um Novo Começo? Luiz Gonzaga Assis de Luca Série Teatro Brasil Alcides Nogueira – Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta – Circo e Poesia Danielle Pimenta Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior João Bethencourt – O Locatário da Comédia Rodrigo Murat Leilah Assumpção – A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu – Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau – Artista Múltiplo Leila Corrêa Renata Palottini – Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso – Pólvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora – Os Cantos de Maldoror – De Profundis – A Herança do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor – A Terra Prometida Samir Yazbek Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda – Quatro Décadas em Cena Ariane Porto Série Perfil Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros Rogério Menezes Bete Mendes – O Cão e a Rosa Rogério Menezes Betty Faria – Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati – Luz Natural Carlos Alberto Mattos Cleyde Yaconis – Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso – Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da Vida Maria Leticia Etty Fraser – Virada Pra Lua Vilmar Ledesma Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no Ar Sérgio Roveri Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do Cinema Maria Angela de Jesus Ilka Soares – A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache – Caçadora de Emoções Tania Carvalho Irene Stefania – Arte e Psicoterapia Germano Pereira John Herbert – Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa José Dumont – Do Cordel às Telas Klecius Henrique Leonardo Villar – Garra e Paixão Nydia Licia Lília Cabral – Descobrindo Lília Cabral Analu Ribeiro Marcos Caruso – Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral – A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado – A Estrela, O Mistério Luiz Carlos Lisboa Miriam Mehler – Sensibilidade e Paixão Vilmar Ledesma Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em Família Elaine Guerrini Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Paulo Betti – Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José – Memórias Substantivas Tania Carvalho Pedro Paulo Rangel – O Samba e o Fado Tania Carvalho Reginaldo Faria – O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi – Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Consorte – Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin – Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho – Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza – Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst – Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti – O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silvio de Abreu – Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodrigueana? Maria Thereza Vargas Suely Franco – A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio Roveri Tony Ramos – No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Vera Holtz – O Gosto da Vera Analu Ribeiro Walderez de Barros – Voz e Silêncios Rogério Menezes Zezé Motta – Muito Prazer Rodrigo Murat Especial Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso Wagner de Assis Beatriz Segall – Além das Aparências Nilu Lebert Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Cinema da Boca – Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Wilma – Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Ney Latorraca – Uma Celebração Tania Carvalho Raul Cortez – Sem Medo de se Expor Nydia Licia Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte Nydia Licia Formato: 23 x 31 cm Tipologia: Frutiger Papel miolo: Offset LD 90g/m2 Número de páginas: 200 Tiragem: 1500 Editoração, CTP, impressão e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo IMPRENSA OFICIAL, 2007 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Jesus, Maria Angela de Eva Todor : o teatro da minha vida / Maria Angela de Jesus. – São Paulo : Imprensa Oficial do Estado, 2007. 200p. : il. – (Coleção aplauso. Série especial / coordenador geral Rubens Ewald Filho) ISBN 978-85-7060-548-1 1. Atores e atrizes de teatro - Biografia 2. Atores e atrizes de televisão - Biografia 3. Todor, Eva I. Ewald Filho, Rubens. II. Título. III. Série. 07-9741 CDD-791.092 Índices para catálogo sistemático: 1. Atores brasileiros : Biografia : Representações públicas : Artes 791.092 Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei no 10.994, de 14/12/2004) Direitos reservados e protegidos pela lei 9610/98 Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Rua da Mooca, 1921 Mooca 03103-902 São Paulo SP www.imprensaoficial.com.br/lojavirtual livros@imprensaoficial.com.br Grande São Paulo SAC 11 5013 5108 | 5109 Demais localidades 0800 0123 401 Coleção Aplauso | em todas as livrarias e no site www.imprensaoficial.com.br/loja virtual ctp, impressão e acabamento IMPRENSA OFICIAL Rua da Mooca, 1921 São Paulo SP Fones: 6099-9800 – 0800 123401 www.imprensaoficial.com.br