Carlos Zara Paixão em quatro atos Tania Carvalho Imprensa Oficial São Paulo, 2006 Governador Cláudio Lembo Secretário Chefe da Casa Civil Rubens Lara Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Diretor Vice-presidente Luiz Carlos Frigerio Diretor Industrial Teiji Tomioka Diretora Financeira e Administrativa Nodette Mameri Peano Chefe de Gabinete Emerson Bento Pereira Coleção Aplauso Perfil Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Coordenador Operacional e Pesquisa Iconográfica Marcelo Pestana Projeto Gráfico Carlos Cirne Assistência Operacional Andressa Veronesi Editoração Aline Navarro Tratamento de Imagens José Carlos da Silva Revisor Heleusa Angelica Teixeira Apresentação “O que lembro, tenho.” Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, tem como atributo principal reabilitar e resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas do cinema, do teatro e da televisão. Essa importante historiografia cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de maneira singular. O coordenador de nossa coleção, o crítico Rubens Ewald Filho, selecionou, criteriosamente, um conjunto de jornalistas especializados para realizar esse trabalho de aproximação junto a nossos biografados. Em entrevistas e encontros sucessivos foi-se estreitando o contato com todos. Preciosos arquivos de documentos e imagens foram abertos e, na maioria dos casos, deu-se a conhecer o universo que compõe seus cotidianos. A decisão em trazer o relato de cada um para a primeira pessoa permitiu manter o aspecto de tradição oral dos fatos, fazendo com que a memória e toda a sua conotação idiossincrásica aflorasse de maneira coloquial, como se o biografado estivesse falando diretamente ao leitor. Gostaria de ressaltar, no entanto, um fator importante na Coleção, pois os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao leitor facetas que caracterizam também o artista e seu ofício. Tantas vezes o biógrafo e o biografado foram tomados desse envolvimento, cúmplices dessa simbiose, que essas condições dotaram os livros de novos instrumentos. Assim, ambos se colocaram em sendas onde a reflexão se estendeu sobre a formação intelectual e ideológica do artista e, supostamente, continuada naquilo que caracterizava o meio, o ambiente e a história brasileira naquele contexto e momento. Muitos discutiram o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida. Deixaram transparecer a firmeza do pensamento crítico, denunciaram preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando o nosso país, mostraram o que representou a formação de cada biografado e sua atuação em ofícios de linguagens diferenciadas como o teatro, o cinema e a televisão – e o que cada um desses veículos lhes exigiu ou lhes deu. Foram analisadas as distintas lingua-gens desses ofícios. Cada obra extrapola, portanto, os simples relatos biográficos, explorando o universo íntimo e psicológico do artista, revelando sua autodeterminação e quase nunca a casualidade em ter se tornado artista, seus princípios, a formação de sua personalidade, a persona e a complexidade de seus personagens. São livros que irão atrair o grande público, mas que – certamente – interessarão igualmente aos nossos estudantes, pois na Coleção Aplauso foi discutido o intrincado processo de criação que envolve as linguagens do teatro e do cinema. Foram desenvolvidos temas como a construção dos personagens interpretados, bem como a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns dos personagens vividos pelos biografados. Foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferenciação fundamental desses dois veículos e a expressão de suas linguagens. A amplitude desses recursos de recuperação da memória por meio dos títulos da Coleção Aplauso, aliada à possibilidade de discussão de instrumentos profissionais, fez com que a Imprensa Oficial passasse a distribuir em todas as bibliotecas importantes do país, bem como em bibliotecas especializadas, esses livros, de gratificante aceitação. Gostaria de ressaltar seu adequado projeto gráfico, em formato de bolso, documentado com iconografia farta e registro cronológico completo para cada biografado, em cada setor de sua atuação. A Coleção Aplauso, que tende a ultrapassar os cem títulos, se afirma progressivamente, e espera contemplar o público de língua portuguesa com o espectro mais completo possível dos artistas, atores e diretores, que escreveram a rica e diversificada história do cinema, do teatro e da televisão em nosso país, mesmo sujeitos a percalços de naturezas várias, mas com seus protagonistas sempre reagindo com criatividade, mesmo nos anos mais obscuros pelos quais passamos. Além dos perfis biográficos, que são a marca da Coleção Aplauso, ela inclui ainda outras séries: Projetos Especiais, com formatos e características distintos, em que já foram publicadas excepcionais pesquisas iconográficas, que se originaram de teses universitárias ou de arquivos documentais pré-existentes que sugeriram sua edição em outro formato. Temos a série constituída de roteiros cinematográficos, denominada Cinema Brasil, que publicou o roteiro histórico de O Caçador de Diamantes, de Vittorio Capellaro, de 1933, considerado o primeiro roteiro completo escrito no Brasil com a intenção de ser efetivamente filmado. Paralelamente, roteiros mais recentes, como o clássico O caso dos irmãos Naves, de Luis Sérgio Person, Dois Córregos, de Carlos Reichenbach, Narradores de Javé, de Eliane Caffé, e Como Fazer um Filme de Amor, de José Roberto Torero, que deverão se tornar bibliografia básica obrigatória para as escolas de cinema, ao mesmo tempo em que documentam essa importante produção da cinematografia nacional. Gostaria de destacar a obra Gloria in Excelsior, da série TV Brasil, sobre a ascensão, o apogeu e a queda da TV Excelsior, que inovou os procedimentos e formas de se fazer televisão no Brasil. Muitos leitores se surpreenderão ao descobrirem que vários diretores, autores e atores, que na década de 70 promoveram o crescimento da TV Globo, foram forjados nos estúdios da TV Excelsior, que sucumbiu juntamente com o Grupo Simonsen, perseguido pelo regime militar. Se algum fator de sucesso da Coleção Aplauso merece ser mais destacado do que outros, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. De nossa parte coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica, contar com a boa vontade, o entusiasmo e a generosidade de nossos artistas, diretores e roteiristas. Depois, apenas, com igual entusiasmo, colocar à disposição todas essas informações, atraentes e acessíveis, em um projeto bem cuidado. Também a nós sensibilizaram as questões sobre nossa cultura que a Coleção Aplauso suscita e apresenta – os sortilégios que envolvem palco, cena, coxias, set de filmagens, cenários, câmeras – e, com referência a esses seres especiais que ali transitam e se transmutam, é deles que todo esse material de vida e reflexão poderá ser extraído e disseminado como interesse que magnetizará o leitor. A Imprensa Oficial se sente orgulhosa de ter criado a Coleção Aplauso, pois tem consciência de que nossa história cultural não pode ser negligenciada, e é a partir dela que se forja e se constrói a identidade brasileira. Hubert Alquéres Diretor-presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Este livro é dedicado a todos que contribuíram para traçar um perfil apaixonado de Carlos Zara. Parentes que deram depoimentos emocionados; jornalistas que um dia o entrevistaram; críticos que falaram de seu trabalho; amigos que remexeram suas memórias para contar histórias bem-humoradas. E também ao produtor André Mello, que tão profissional e pacientemente pesquisou e digitalizou o acervo. E, em especial, a Vivinha, a companheira de sua vida, que esteve presente em todos os momentos, de corpo, alma, lágrimas e risos na feitura desta biografia. Tania Carvalho Uma sentida introdução Não sei muito bem como conheci Carlos Zara. Pode ter sido nos corredores da TV Globo, onde ambos trabalhamos por muitos anos. Pode ter sido por intermédio da Eva Wilma, a Vivinha, com quem fiz uma longa entrevista quando ela chegou na Globo e houve uma empatia imediata. Seja em que data for, nosso relacionamento se intensificou no final da década de 80 nos almoços de sábado na casa da Guta, diretora de elenco, inesquecível amiga de todos que batiam ponto nos estúdios na Rua Von Martius, onde eram gravadas as novelas. Zara, que fazia o tipo durão, falava grosso, fingia cara de poucos amigos era, na verdade, um doce de pessoa, amoroso, preocupado com os outros, generoso, carinhoso e dotado de um senso de humor delicioso. Entre nós estabeleceu-se uma brincadeira, acompanhada pelas gargalhadas da Vivinha. Ele dizia ser meu namorado, de quem ela teria um ciúme horrível. Quando batia na porta da casa deles – às vezes o almoço de fim de semana era lá – e o Zara abria, fingia fechar a porta rapidamente e sussurrava: “Hoje não, ELA está em casa.” E todos ríamos muito. Era a sua forma de dizer que gostava muito de mim, do que muito me orgulho. Um dia, em um desses deliciosos almoços, Zara me fez uma proposta profissional. Estava cansado de responder às mesmas perguntas cada vez que um jornalista ia entrevistá-lo. Não suportava mais contar as mesmas histórias, especialmente porque não era de muitas palavras para falar de si mesmo. “Por que você não faz uma entrevista comigo, fala dos trabalhos dos quais participei, e quando alguém chegar perto de mim eu entrego e não preciso responder mais nada.” Proposta aceita, nos encontramos algumas vezes na varanda de seu apartamento no Leblon. Remexemos em alguns recortes, que aclararam a memória, conversamos muito para fazer o que intitulamos Carlos Zara – uma tentativa de currículo, que conta a trajetória do ator, diretor, sindicalista até 1989. Quando, em um encontro emocionado com Vivinha, o primeiro depois da morte de Zara, surgiu a idéia de fazer este livro para a Coleção Aplauso, a primeira coisa de que me lembrei foi desse antigo texto, feito em outros tempos, quando os computadores não eram a ferramenta de trabalho de jornalistas e por isso mesmo eu não tinha mais o registro. Mas, surpresa, Vivinha havia guardado uma das cópias. É com este texto que gostaria de começar o livro. Claro que depois de 1989 ele fez outros trabalhos, registrados no currículo completo no final desta edição. Mas acho importante o pedacinho de Zara, contido em suas concisas declarações, que complementam as informações. Observações agudas, engraçadas e, às vezes, malhumoradas. Afinal, ele não podia sair do tipo que havia criado para si mesmo, talvez para conter a quantidade de emoções que fervilhavam dentro dele. Queria muito que ele estivesse ainda aqui para que conversássemos muito mais. Esse vácuo foi preenchido por antigas reportagens, discursos, críticas, textos de amigos e um depoimento comovente de Eva Wilma, que fazem este livro. Gostaria muito, também, de que ele tivesse tido tempo de remontar Quando o coração floresce, o que prometia fazer ao lado de Vivinha quando estivessem bem velhinhos. A namorada, com certeza, estaria na platéia. Saudades! Carlos Zara – uma tentativa de currículo É impossível contar a vida do cidadão Antônio Carlos Zarattini, paulista de Campinas, nascido no dia 14 de fevereiro de 1930, sem falar de teatro, televisão, da arte de representar e do exercício de dirigir. Afinal, das décadas vividas, a maior parte delas foi passada nos estúdios de televisão e nos palcos teatrais, de onde saiu para o reconhecimento do público como Carlos Zara. Os cursos primário, ginasial e colegial – atuais 1o e 2o grau – foram feitos em Campinas. Em 1948, ainda Zarattini, fez vestibular na Escola Politécnica de São Paulo, para o curso de engenharia. Reprovado por meio ponto em química, insistiu no ano seguinte, sendo aprovado em 23o lugar. “As provas não eram do tipo loteria esportiva, eram provas de verdade, para valer.” Zara formou-se em 1956 e exerceu a profissão por oito anos. O teatro surgiu em sua vida, ainda no tempo da faculdade, quando se ligou ao grupo de teatro amador do engenheiro Evaristo Ribeiro, em 1951. A peça Fora da barra, de Sutton Vane, foi sua estréia, nesse mesmo ano. Em seguida, ligou-se ao grupo amador da Escola Politécnica. “Era amador mesmo. Fazíamos tudo: roupas, cenários, armávamos a luz, enfim, tudo. A direção do GTP era de outro engenheiro, o Coelho Neto. Com esse grupo, participou, entre outras, da montagem de O doente imaginário, de Molière, fazendo o galã. Aliás, um péssimo personagem, como todos os galãs de Molière, que não fazem absolutamente nada, péssimo.” Mas seu destino nos palcos estava selado desde Fora da barra, montagem com o primeiro grupo amador. Um dia, Sérgio Cardoso, na época o grande astro do teatro brasileiro, foi assistir ao espetáculo e se entusiasmou com o talento de Carlos Zara. Indicou-o para Dulcina e Odilon, que se preparavam para montar O imperador galante, de Raimundo Magalhães Jr. Zara participou de uma leitura e foi contratado para o elenco, ao lado de Vera Nunes, Armando Couto, Suzana Negri, Carmen Silva, Luiz Tito e, evidentemente, Odilon e Dulcina, também diretora do espetáculo. O imperador galante estreou em 12 de março de 1954, no Teatro Santana, em São Paulo, e marcou o início da carreira profissional de Carlos Zara. Após uma recaída amadora, quando participou de uma temporada no Recife, Teatro Santa Isabel, com a peça A grande estiagem, de Isaac Gondim, dirigida por Evaristo Ribeiro, Zara enveredou realmente pelo caminho da profissionalização, após receber um convite de Sérgio Cardoso para fazer parte da sua trupe na Companhia Nydia Licia-Sérgio Cardoso. Nesse momento ele conseguiu uma estranha conciliação entre o teatro e a engenharia. Sérgio Cardoso adquirira um antigo cinema, o Cine Espéria, que desejava reformar para transformar num teatro. Carlos Zara, no 4o ano de engenharia, participou desse projeto ao lado dos engenheiros Otto Meinberg e Ricardo Capote Valente, tornando-se assim um dos responsáveis pelo surgimento do Teatro Bela Vista, um dos melhores de São Paulo na época. Durante a reforma, no entanto, o ator continuava. Com Sérgio Cardoso fez Lampião, de Rachel de Queiroz, no Teatro Leopoldo Fróes, São Paulo. Na estréia, no dia 4 de outubro de 1954, estavam no palco Araçari de Oliveira, Leonardo Villar, Edson Silva, Rubens de Falco, Jorge Chaia e Renato Bruno, além de Sérgio Cardoso. Zara fazia o Corisco, conhecido como o Diabo Louro. Em 1956, o Teatro Bela Vista foi inaugurado com Hamlet, o clássico de Shakespeare, dirigido por Sérgio Cardoso, tendo Carlos Zara como o Rei Cláudio. A partir desse trabalho, ele assinou contrato com a Companhia Nydia Licia-Sérgio Cardoso, onde fez dezenas de peças: A raposa e as uvas, de Guilherme Figueiredo, Quando as paredes falam, de Ferenc Molnar, Casamento suspeitoso, de Ariano Suassuna, Chá e simpatia, de Roberto Anderson, O comício, de Abílio Pereira de Almeida, Henrique IV, de Pirandello, entre tantas outras. Foram anos de trabalho intenso e muita gratificação. “Era uma companhia maravilhosa, com diretores como Bibi Ferreira, Flamínio Bolini, Ruggero Jacobbi, Ziembinski e o próprio Sérgio. Além disso, havia uma professora de voz, Alice Pincherle, um diretor musical, Enrico Simonetti, enfim, tudo o que uma companhia de teatro tinha que ter.” Zara era diretor técnico da companhia, responsável pela montagem dos cenários, som, luz, enfim, de todos os detalhes. “Eu me desentendi com o Sérgio às vésperas da estréia da peça Quando as paredes falam e fui embora.” Ele deixou a Companhia Nydia Licia-Sérgio Cardoso de forma tempestuosa. Em sua carteira de trabalho até hoje consta como funcionário, já que não existe a data de demissão devidamente registrada, fato que se repetiu em outros empregos. “Eu era muito intempestivo, quando dizia vou embora, ia mesmo, e não voltava nem para buscar o último salário.” E muito menos para dar baixa da carteira. Com a pulga atrás da orelha, de Georges Feydeau, em 1963, ao lado de Maria Della Costa, com direção de Gianni Ratto, foi seu próximo trabalho. A partir desse momento aconteceu um hiato na carreira teatral de Carlos Zara, que foi cooptado integralmente pela televisão, estabelecendo com o novo veículo, que ganhava personalidade, uma relação muito intensa, como ator e diretor em diversos trabalhos. Voltou ao palco em 1978 na peça O assalto, de José Vicente, ao lado de Edney Giovenazzi, com direção de Antunes Filho. Mas a verdadeira retomada aos palcos só aconteceu em 1982, junto com Eva Wilma em Desencontros clandestinos, de Neil Simon, com direção de Gianni Ratto, que fez temporada no Teatro Hebraica, no Auditório Augusta (ambos em São Paulo) e em mais 49 cidades do Brasil, ficando em cartaz até meados de 1984. No final desse mesmo ano, a dupla já voltava aos palcos em Quando o coração floresce, com direção de Paulo Autran, que fez carreira como a anterior, excursionando por todo o Brasil e com temporadas de sucesso no Rio de Janeiro, no Teatro Copacabana, e em São Paulo, no Teatro Cultura Artística. “A peça de Aleksei Arbuzov é uma comédia romântica muito bonita, que eu e Eva pretendemos remontar um dia, quando estivermos bem velhinhos.” Em junho de 1988, Carlos Zara estreou O preço, de Arthur Miller, com direção de Bibi Ferreira, que cumpriu carreira no Teatro Copacabana ao lado de Rogério Fróes, Beatriz Lyra e Paulo Gracindo. Em março de 1989, O preço começou temporada em São Paulo – tendo no elenco Eva Wilma como Esther Franz – no Teatro Maria Della Costa. A televisão foi também muito importante na vida profissional de Carlos Zara. Em 1956, ele já estava na TV Tupi, no Grande Teatro Três Leões (nome do patrocinador), que depois passou a se chamar Grande Teatro Tupi. Por um sistema curioso e original, as grandes companhias de teatro da época – de Maria Della Costa, de Procópio Ferreira e Sérgio Cardoso, entre outras – ficavam responsáveis, a cada mês, pela produção de quatro espetáculos diferentes apresentados em quatro segundas-feiras consecutivas, na TV Tupi. Zara não se recorda qual foi o primeiro do qual participou, mas em seu arquivo guarda um recorte de jornal do dia 9 de abril de 1956, um anúncio fala de Cartas de amor com Nydia Licia e Carlos Zara, às 21h45. Na equipe, nomes como Antunes Filho (diretor), Walter Hugo Khoury (adaptador). Além desse, cerca de 12 espetáculos foram montados com a Companhia Nydia Licia-Sérgio Cardoso, todos com a participação de Carlos Zara no elenco. Em 1957, ele foi contratado pela TV Record para fazer Papai, mamãe e eu, uma comédia romântica semanal, ao lado de Araçari de Oliveira e da menina Lourdinha Félix. “Era um programa na linha do Alô doçura, que a Eva fez com John Herbert, ou do Tarcísio e Glória, anos mais tarde na Globo. O programa foi apresentado durante um ano e meio, com direção de Nilton Travesso, e muito sucesso. Saiu do ar, porque um dos filhos do dono da TV Record não gostava. Não resisto a fazer essa fofoca.” Com o término do seriado, Carlos Zara incorporou-se a outro projeto, o das telenovelas, que na época eram exibidas três vezes por semana. Com direção de Nilton Travesso, fez o que considera seu principal trabalho no gênero, na TV Record, Folhas ao vento, de Ciro Bassini. Ainda na mesma emissora, que investia em grandes musicais, Carlos Zara fez apresentação de diversos shows de artistas internacionais, no Teatro Record, grandes acontecimentos da década de 60: Sammy Davis Junior, Billy Eckstine e Ray Charles, em 1963, entre outros. “Era engraçado, porque eles davam um destaque muito grande ao apresentador dos artistas. Era uma coisa importantíssima...” Foi na Record, também, que Carlos Zara começou a dirigir. Quando foi criado o concorrente do Grande Teatro Tupi, levando uma peça a cada segunda-feira, Zara deu seus primeiros passos atrás das câmeras, sem, no entanto, abandonar seu lado de ator. Durante três anos foram montadas dezenas de peças, das quais destaca: Chapéu cheio de chuva, Assim é como lhe parece, O pagador de promessas, O idiota e muitas outras. Seu último trabalho na TV Record, inacabado, foi Anjo de pedra, de Tennesse Williams, pivô da sua saída da emissora, de onde também não deu baixa na carteira. Para ele, Anjo de pedra, com Arlete Montenegro no elenco, foi seu melhor trabalho da fase, arrojado, moderno, sem cenários, só com elementos. As gravações eram realizadas aos domingos, de nove da noite às cinco da manhã, mas não foi possível concluir Anjo de pedra, por causa de uma crise de rim do diretor de imagens, Randal Juliano. Quando Zara chegou na segunda de manhã para gravar as duas cenas finais, foi informado de que tudo havia sido cancelado. “O diretor da emissora alegou que havia lido nos jornais que nós estávamos reivindicando aumento de salário. Como ele não ia atender, e eu era diretor do sindicato, estava encerrado o Grande Teatro. Fui embora e nunca mais voltei.” A saída de Carlos Zara da TV Record coincidiu com um grande movimento de contratação realizado pela TV Excelsior. “Eu também estou no 9”, dizia a campanha publicitária, que mostrava Chico Anysio, Jô Soares, Bibi Ferreira, Tarcísio Meira, Glória Menezes, Lolita Rodrigues, Luis Vieira, entre outros. Em um mês, a emissora que era último lugar em audiência passou a liderança no Ibope. Em 1963, Carlos Zara estreou sua primeira novela na TV Excelsior Aqueles que dizem amar-se. A partir daí, a série é grande: Corações em conflito (1963), Folhas ao vento (1964), Onde nasce a ilusão (1965), Vidas cruzadas (1965), Em busca da felicidade (1965), As minas de prata (1966), O tempo e o vento (1967), Legião dos esquecidos (1968), A muralha (1968), O direito dos filhos (1968), Os diabólicos (1968) e Dez vidas (1969). “Dez vidas, de Ivani Ribeiro, e O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, em adaptação de Teixeira Filho, onde fazia o Capitão Rodrigo, são talvez os melhores trabalhos que fiz na minha vida.” Além de trabalhar como ator, Zara passou a dirigir também na Excelsior, ao lado de Walter Avancini e Dionísio Azevedo, dentro do sistema de novelas diárias implantado por Edson Leite e Alberto Saad, diretores da emissora. A Excelsior construiu, em Vila Guilherme, cinco estúdios fantásticos, enormes, que permitiam que todos os cenários ficassem montados, e a partir daí ampliou os horários de novelas, colocando uma às seis e meia, uma às sete e outra às oito. “Foi uma época maravilhosa.” Alçado ao cargo de diretor do departamento de novelas, participou de uma outra mudança significativa. Depois de muitos anos de novelas mexicanas e argentinas, a Excelsior começou a contratar autores brasileiros. A primeira delas, Ivani Ribeiro. “A mudança qualitativa aconteceu de imediato com a contratação, também, de Teixeira Filho e Walter George Durst. Não tenho dúvida que a modificação de toda a estrutura das novelas aconteceu na Excelsior.” Zara saiu da TV Excelsior em 1970, um pouco antes do fechamento da emissora. Depois de seis meses sem receber salário na Excelsior, ele procurou Cassiano Gabus Mendes, então diretor da TV Tupi, pedindo emprego. “Não tenho nada para você fazer agora” – foi a primeira resposta de Cassiano. Depois, o dire-tor pediu que Ivani Ribeiro escrevesse um pequeno papel em As bruxas para Zara, que fez assim, em 1970, sua estréia na emissora. No mesmo ano ele dirigiu e atuou em Meu pé de laranja-lima. Além de atuar e dirigir, em 1973, em Mulheres de areia, ele assumiu a direção do departamento de novelas da Tupi. Na lista de seus trabalhos estão: A barba azul (1974), Um dia o amor (1975), O julgamento (1976), entre outras. Saiu da Tupi antes de acabar. “Dessa vez saí direitinho, dei baixa no meu contrato de trabalho e coisa e tal.” Pai herói, em 1979, marcou a estréia de Carlos Zara na Rede Globo. Convidado pela autora Janete Clair, fez o papel do vilão da estória, César Reis. Contratado por obra certa, assim que a novela acabou, retornou à Tupi, a chamado de Walter Avancini, onde se entregou a um projeto de autoria de Teixeira Filho, Maria Nazareth, uma história que falava do cangaço e da Coluna Prestes. O fim da Tupi enterrou o projeto. Chamado por Herval Rossano, Zara voltou à Globo, fez muitos trabalhos: as novelas Marina (1980), Baila comigo (1981), Elas por elas (1982), Guerra dos sexos (1983), Champagne (1983), O direito de amar (1987), Sassaricando (1987) e Vida nova (1988). Como diretor, na Rede Globo, enumera episódios de Obrigado doutor, O cartão cinza e O bode,e Domingo em família em Quarta Nobre . “Esta era uma peça do Vianinha que ficou linda com o Jofre Soares e a Eloísa Mafalda.” Carlos Zara fez pouco cinema e, dentre eles, ressalta Pra frente Brasil, de Roberto Farias. “Prêmios? Não tenho nenhum” – afirma, mas é desmentido por sua mulher e companheira de muitos trabalhos, Eva Wilma: “Você tem um Governador do Estado e muitos troféus.” “Melhor dizer que não tenho nenhum” – garante Zara. Um lado muito importante da carreira de Zara foi o de presidente do Sindicato dos Radialistas, em São Paulo, nos anos 65, 66, 67 e 68. “Uma época braba.” Na ocasião, a categoria alcançou algumas vitórias, como a fixação de um piso salarial e a retirada estratégica de Peyton Place – que iria estrear na Record e seria a primeira novela enlatada –, após uma ameaça pacífica de greve dos radialistas. “Naquela época a gente fazia um movimento sindical mais consciente, havia mais união e menos passionalismo. As decisões não eram tomadas com a emoção.” Enfim, essa é uma tentativa de currículo de Carlos Zara. Ele tem certeza de que muitas coisas foram esquecidas, pois a memória – todos sabem – é traiçoeira. Mas após relembrar fatos, remexer arquivos, consultar programas antigos de teatro, encontrar velhos anúncios de jornais, constatar que sua carreira deu grandes viradas de sete em sete anos, fica a certeza de ter trilhado o caminho certo, desde o momento em que pisou pela primeira vez num palco. A família original, paixão solidária Meu mano Carlos Zara, que nasceu Antônio Carlos Zarattini, para toda a família virou o Nico, certamente por causa do Antônio. Eu era o único que o chamava de Mano. No grupo escolar onde estudávamos, o Francisco Glicério, ele era o melhor aluno. E também o melhor no futebol. Ia assistir às peladas só para torcer por ele. Engraçado, ele jogava tanto no gol como na posição de centroavante, na defesa e no ataque. Aprendi logo a admirá-lo e queria fazer as coisas tão bem quanto ele. Já era meu ídolo. Lembro-me de como ele tocava piano. E eu, D. Annita e Seo Ricardo, nossos pais, ficávamos orgulhosos quando o Mano se apresentava nas audições públicas promovidas pela sua professora no Teatro Municipal de Campinas. Foram momentos inesquecíveis em que a auto-estima da família chegava a mil pela excelente performance do Mano. Era a herança artística do nosso pai, pioneiro do cinema nacional e galã nos filmes mudos do chamado Ciclo de Campinas, em 1924. Estudamos no Culto à Ciência por volta de 1950, tido e havido como um dos melhores colégios do País. Aí também o Mano se destacou como um dos melhores alunos e colecionou muitas medalhas no vôlei e no basquete. No ano do IV Centenário, a família toda se mudou para a capital. O Mano já tinha ingressado na Poli e foi lá no grupo teatral da escola que começou sua carreira. Recordo bem, do salto que deu do teatro amador para o profissional. Em pouco tempo já estava atuando no Grande Teatro da TV Tupi e logo compartilhava os palcos com “monstros do teatro”, como Sérgio Cardoso. Daí para as novelas foi um pulo. Tentei, mesmo contra a sua vontade, responder às centenas de cartas das fãs. Eram muitas, milhares, não consegui. Para mim o Mano foi o maior galã da nossa TV. Resolvi seguir outras artes. E elas me levaram a diversas prisões, torturas e até ao banimento do País. Não seria necessário falar aqui da solidariedade que o Mano teve nos momentos mais difíceis, cuidando com tanto amor da nossa família. Foi nessa época que ele conheceu o maior amor da sua vida, a Eva. A democracia brasileira deve muito não só a eles dois, mas também a toda uma legião de artistas do teatro, televisão, cinema e rádio, que deram força total à luta pela anistia e pelo fim da ditadura. Nos fins de semana, estavam eles visitando presos políticos em todo o País. “Puxavam cadeia” com a gente. Isso também jamais esquecerei. Ricardo Zarattini Deputado federal, irmão de Zara Lição de Amor Nasci no dia 3 de setembro de 1972. Contaram-me que ele estava nervoso, andando para lá e para cá na sala de espera da Pro Matre, em São Paulo. Nesse período, já distante 33 anos, um pai normalmente não acompanhava dentro da sala de parto o nascimento de seu filho. Tenho de confessar que essa coisa me preocupa um pouco, porque acho que quando for a minha vez de ser pai, vou estar mais nervoso do que ele estava naquele dia. Não sei se vou conseguir permanecer sereno e tranqüilo em um momento dessa importância, transmitir um pouco de paz e confiança pra minha esposa Priscilla, e não dar um “trabalho extra” pros médicos... Talvez seja melhor mesmo eu ficar na sala de espera. Assim como fez o meu pai naquele dia. Ele fumava bastante, e com certeza acabou com um maço inteiro naqueles minutos intermináveis. Ele tinha 42 anos. Ele morreu com 72, no dia 11 de dezembro de 2002, vítima de câncer. Nesse dia estava eu, na sala de espera do Hospital Sírio Libanês, andando para lá e para cá, tentando achar o rumo da minha vida. Não estava exatamente nervoso, me sentia, na realidade, menos angustiado do que nos dias precedentes. Estava cansado. Destruído por ter visto como a pessoa que para mim era tão forte havia sofrido tanto e, ao mesmo tempo, enfrentado com tanta coragem e dignidade os seus últimos dias. Estava um pouco aliviado por saber que o sofrimento dele havia terminado. Eu convivi com ele exatos 30 anos, três meses e oito dias, excluindo-se os nove meses em que eu estava dentro da barriga da minha mãe. Nos quase quatro anos desde a sua morte, sinto o seu sangue nas minhas veias, o seu amor nos meus sentimentos e as suas palavras no meu pensamento. O tempo todo. Não há nada a ver com espiritismo, cartas psicografadas e mensagens do além. São somente as memórias da minha convivência com uma pessoa muito especial e o Amor que eu conheci por intermédio dele. Conheci uma grande parte do mundo através das suas palavras e dos seus gestos. As coisas básicas da vida – e que para mim se tornaram óbvias só porque era ele que me ensinava – como respeito, responsabilidade, coragem, iniciativa, disciplina. Ele era um cara muito pragmático, e me dizia sempre que “não adianta somente ter talento” para uma determinada coisa. “A gente só chega aonde quer com muito trabalho, muito suor e muita disciplina.” Desde os meus 15 anos eu estudava música, tocava com os amigos e me divertia muito. Obviamente lá pelos 18 anos eu só pensava em me transformar em um músico de sucesso, e a única coisa que queria fazer da vida era isso. Ele nunca foi contra essa minha escolha, mas sempre me dizia que “enquanto a tua música não te der dinheiro, você tem que encontrar outro trabalho que te sustente!” Muitas vezes a gente brigava, coisa normal entre pais e filhos adolescentes, e ele era sempre muito firme nas suas idéias e opiniões. Acho que não é o caso de contar tudo o que aconteceu na minha vida nos últimos 12 anos... Mas posso afirmar, com todas as letras e sem nenhuma ressalva, que ele tinha toda a razão. Sim, claro que esse tipo de conselho de pai é importantíssimo. Mas há outra coisa, outra palavra, que o meu pai me repetia constantemente, e que é ainda mais importante do que os seus conselhos. Amor. Ele usava essa palavra sempre, quando estávamos sozinhos, e ele me explicava como funciona o mundo. Felizmente eu acreditei nele, e se hoje eu penso no mundo como sendo um lugar onde podemos vivenciar a experiência do Amor, devo isso a ele. Claro que, nesse assunto, seria extremamente injusto não dizer que a minha mãe, Amália, também foi, e continua sendo, fundamental. Ela, com a sua doçura e com a sua personalidade imensamente carinhosa, foi a pessoa que me fez entender o sentido do Amor incondicional. Mas o meu pai FALAVA de Amor, me explicava como o Amor se relaciona com o respeito, com a amizade, com a natureza, e até mesmo com o que significava Deus para ele. Ele foi uma pessoa pública, um artista de grande sucesso e que tanta gente admirava e admira até hoje. Mas para mim o seu maior legado não é esse, conhecido por todos. Eu tive a felicidade de conhecer um lado dele que, tenho certeza, ninguém mais conhece. Para mim o seu maior sucesso foi como meu amigo e meu pai. Carlos Eduardo D’Angelo Zarattini Filho único de Carlos Zara Meu tiozão, meu tio Nico Assim o chamava na adolescência, tiozão. Quando pequenininha, durante a infância, simplesmente tio Nico. Foi aquele que alimentou meus sonhos de menina durante os difíceis tempos da ditadura. Tinha apenas 7 anos e não sabia o paradeiro de meu pai. Foram dias tristes e frios, também muito escuros. Mas sempre presente, tio Nico sabia ser pai. Esperava por ele todas as noites. Ele vinha ver a gente (eu, meu irmão e minha mãe) e também meu avô Ricardo e minha avó Annita. Chegava por volta das 9 horas e ficava até umas 10, após um dia inteiro de gravações na TV Tupi. Era eu que preparava seu uísque, bastante gelo, num copo alto que sempre ficava no mesmo lugar da cristaleira. As conversas regadas a dúvidas e notícias nem sempre tão boas ocupavam a quase totalidade da visita. A maior parte do tempo tinha um semblante muito sério, uma cara brava, sua marca registrada. Mas sempre sobrava um tempinho para eu contar sobre a escola, os amiguinhos, as brincadeiras e, no final, aquela deliciosa gargalhada e aquele abraço tão especial, tão forte, que tanto precisava. Ele me ensinou muitas coisas, valores como honestidade e sinceridade. Tio Nico nunca foi político, sempre falou o que achava diante de qualquer pessoa, não fazia média com ninguém, não escondia suas opiniões, mesmo que essas não fossem lhe trazer benefícios. Por isso, quem gostava dele, gostava de verdade. E eu adorava seu jeito direto e sincero de ser. Assim o amava. Domingo era dia de festa, tio Nico sempre abriu as portas de sua casa para muitos amigos e parentes. Isso também aprendi com ele. Ele gostava de reunir todos nesses almoços, verdadeiros banquetes da dona Olívia, sua cozinheira, uma senhora negra, baixinha, de uns 70 anos, que fazia as delícias que ele queria. Isso tudo ao som de Toquinho e Vinícius. Quando as gravações das novelas terminavam, memoráveis feijoadas da dona Olívia eram degustadas por um batalhão, me lembro bem, como no final da novela Meu pé de laranja-lima. Fui crescendo, e ele sempre ao nosso lado, viajando para o Chile, Argentina, à procura do papai. O exemplo que dele tive de amor a um irmão me engrandeceu como pessoa. Admirava sua incondicionalidade. Não havia carreira, fama ou novela que o afastasse da gente. Aos 15 anos, saí com o pessoal do colégio para uma passeata, era 1978. Claro, fui presa junto com mais cem estudantes. Passamos a noite no Deops, somente para um susto, devidas fichas e “pianinhos”. No dia seguinte, quem estava lá, com minha mãe, atordoada, para me buscar? Tiozão. Sempre, o tiozão. Continuei crescendo, e ele sempre presente. Meu pai anistiado, volta para a militância no Brasil. E tiozão, sempre dando apoio, arrastando Vivinha e outros artistas para uma causa que talvez nem fosse dele. Mas ele abraçava a causa, e como! Continuei crescendo, encontrei Zito no meu caminho, me apaixonei e com ele tive nossas filhas Luna e Isabella. Fico feliz, muito feliz mesmo, que os três puderam conhecer meu tio Nico e conviver um pouco com ele. No final de sua vida, ele continuou o mesmo. Mesmo acometido por um câncer, teve a dignidade de poucos e continuou falando e agindo como achava que era o certo. Mesmo sabendo o quanto o cigarro e a bebida o prejudicavam, não hesitava em aproveitar nossas visitas. Alegando boa companhia, contava muitas histórias da época de galã para o Zito e fumava e bebia a mais, burlando o controle da Vivinha. Dizia que iria morrer de qualquer jeito e, portanto, fazia como queria. Esse era o tiozão. Eu quis retribuir o amor incondicional que tanto me ensinou. Insistia em acompanhá-lo nas sessões de quimioterapia, como havia feito com meu pai, mas ele nunca aceitou. Quis enfrentar sozinho a doença, não permitindo que ninguém o acompanhasse. Tão forte e tão íntegro, mas tão doce como quando me dizia não. Assim era o tiozão. Mônica Zara Sobrinha de Carlos Zara Entre o futebol e a televisão Domingo era dia de festa. Sim, porque além de não ter aula eu ia bater uma bola com meu tio no fundo do quintal e, depois do almoço, ia ao Morumbi assistir a um jogo da cabine de TV, se possível do Santos. Apesar do esforço meu e do meu tio não me tornei um goleiro nem sequer razoável. E depois que assisti ao tricampeonato do Santos no final da década de 60 deixei um pouco de lado o futebol e passei a me interessar por outras coisas. Mas nunca me esqueci daqueles momentos em que me diverti muito com um tio que soube substituir meu pai – naqueles tempos da ditadura, preso ou exilado. Aprendi muito com ele. Assisti inúmeras gravações de novelas e programas de TV, desde aquelas gincanas da TV Excelsior, na Rua Nestor Pestana, as gravações nos estúdios da Vila Guilherme, os últimos anos da TV Tupi, levadas à falência por todo tipo de falcatruas. Fiquei interessado em trabalhar na TV. Ele não teve dúvida, me conseguiu um bico no tráfego. Era uma salinha onde se controlava as antigas fitas de videoteipe – enormes naquela época. Eu carregava fitas pra lá e pra cá durante todo o dia. Segundo meu tio, eu tinha de começar por ali. Depois seria promovido para caboman, aquele sujeito que carregava os enormes cabos das câmeras de TV, que hoje já não existem. Depois poderia ser promovido para cameraman e daí para frente, quem sabe, novas funções. Não tinha moleza! Naquela época, meu tio estava menos ator e mais diretor de novelas. Foi até diretor artístico da Tupi. Eu achava o máximo e tinha muita vontade de trabalhar em algo assim. Mas, não acreditei que aquela carreira, do jeito que ele me propôs, pudesse dar certo. Não sei se ele ficou decepcionado comigo ou se era isso mesmo que ele queria, acabei indo estudar economia e entrei de cabeça na política. Daí por diante, não pude mais vê-lo todos os domingos. Como era natural, a vida mudou muito seus caminhos, mas sempre que o via era um debate. Ele tinha uma capacidade enorme de discordar e de provocar a discussão, e que discussão... Tinha que discordar de tudo. Até de coisas que afirmava antes, simplesmente para testar os argumentos. No fim, depois de muita briga, esquecia tudo. Virava de novo um cara carinhoso como quando íamos juntos para o estádio ver o jogo do nosso Santos. Carlos Alberto Zarattini Sobrinho de Zara A Politécnica, paixão matemática Eu ea Poli A Poli representa a metade ou mais da metade da minha vida. Tudo começou em Campinas, onde nasci. Lá fiz meus primeiros estudos: o grupo escolar, o ginásio e o colégio no Culto à Ciência. Foram anos de alegria e de esperança. Meu pai, pedreiro, depois de muita luta, desenvolveu com meu tio uma atividade artesanal, uma pequena indústria, criada por meu avô. Meu avô era o Carlos. Meu pai o Ricardo. Meu tio o João. Uma fábrica pequena onde se faziam quadros negros para escolas, pias, ladrilhos, adornos, sempre usando como matéria-prima o cimento, a areia, a cal e a água. Foi lá que tive meu primeiro contato com a engenharia. Aprendendo a fazer ladrilho hidráulico. A fábrica continua lá, igualzinha à sua fundação. Meus primos cuidam dela como se fosse ume relíquia. Uma dádiva. Pois bem. Meu pai queria porque queria que eu fosse engenheiro. Acho até que foi porque ele não teve chance de ser engenheiro. Isso acontece muito. Os pais transferirem para os filhos o que não conseguiram ou não puderam ser. Vai daí! Vamos à engenharia! Preparação, vestibular, exames... Um sufoco. Um sonho! E o sonho se tornou realidade. Cursar a Poli. Cursar a Poli. Conhecer e freqüentar aquele templo lá da Avenida Tiradentes. Ter, ao lado uma igreja, um quartel e um convento. Chegar de ônibus e encontrar os colegas no pátio a conversar, e discutir, e se entender. Entrar na sala de aula com a maior seriedade (das 8 da manhã às 6 do tarde), respeitando nossos mestres como, por exemplo, o professor Camargo, Garcez, Ulhoa Cintra, Telêmaco, e vai por aí. E como era bom participar das atividades do grêmio: esporte integrado, reivindicações, greves (e quantas!). Só que nas greves a gente ia para a escola discutir a greve. Amei a Poli. Amei aquele templo E as atividades culturais? Sempre do meio-dia às duas (depois de comermos no bandejão), nos reuníamos numa sala de aula para cantar, dizer poesias, tocar violão ou simplesmente conversar. Era muito bom. Bonito. No templo era assim. Será que hoje continua assim? Será que nossos politécnicos continuam cantando, dizendo poesias, tocando violão, conversando? Espero que sim. Mas, vamos ao desencaminhamento... Engenheiro/ator. Papai (é bom chamar o pai de papai), responsável direto por eu ser engenheiro, deslizou numa coisa: ele foi pioneiro do Ciclo de Cinema em Campinas. Uma vez por mês, me levava para assistir aos espetáculos teatrais: música, ópera, opereta, dança, teatro, concertos, enfim, tudo que fosse atividade artística. Só que meu jovem velho pai, que lutou para ter um filho engenheiro, jamais imaginou que na Poli surgiria o GTP (Grupo Teatral Politécnico), dirigido pelo também engenheiro Coelho Neto. E também jamais imaginou que seu filho, por intermédio do GTP e do GTA (Grupo de Teatro Amador) dirigido por outro engenheiro, Evaristo Ribeiro, pudesse apaixonar-se pelo teatro. Aconteceu... Fiquei apaixonado duplamente: pela engenharia e pelo teatro. Depois de receber meu diploma, trabalhar oito anos como engenheiro de obras dividindo meu tempo com o teatro, tive que decidir: engenheiro ou ator? Foi difícil. Eu amava os dois trabalhos. Tive que decidir. Resolvi ser ator. Só que o engenheiro tem ajudado muito o ator, o produtor de teatro e o diretor de televisão. Como? Na síntese. No que se pode fazer objetivamente e de maneira mais concreta. Carlos Zara, em depoimento na Poli Ainda a Poli Com muita alegria fui contemporâneo do Paulo (Maluf) e do Covas na Poli. Sou amigo dos dois. Até ganhei do Paulo a eleição para representante de turma no 1o ano. Claro que depois ele deu a volta. E até joguei futebol com o Zuza (eu era péssimo, ele era ótimo). Agora, posso dizer que são água e vinho. Quem é água e quem é vinho, eu não sei. Só que, na minha opinião, não podem sobreviver politicamente sob o mesmo teto. Carlos Zara, em entrevista ao jornal da Politécnica, na seção Poli-Pong Zara e o humor Todo sábado, na Casa do Politécnico, na Rua Afonso Pena, aconteciam bailes muito famosos na época – A Chacrinha da Poli, o mais badalado entre os universitários. Como o espaço não era muito grande, estava sempre superlotado. Era famosa a brincadeira que as meninas freqüentadoras pertenciam a uma associação ASE – Agarre Seu Engenheiro. Lá eram tocados todos os sucessos do momento e os bailes varavam a madrugada. Por volta de 1960, em plena madrugada, após o término dos bailes, Carlos Zara, recém-formado, inventou de dar aulas de teatro. Depois da festa nos reuníamos no bar do primeiro andar da Casa do Politécnico em um clima bem descontraído, pois o Zara era um cara de muito senso de humor. Fauzi Arap e Clóvis Bueno, que depois se destacaram no cenário teatral brasileiro, eram alguns dos freqüentadores do cursinho da madrugada. Foi Zara, também, que organizou e dirigiu o 1o Show de Humor da Poli, que fez um grande sucesso no teatro da Faculdade de Medicina da USP, na Rua Dr. Arnaldo. Eu e meu irmão gêmeo Jack, que também era da Poli, participamos deste espetáculo. Pois é, quem diria, o Zara dirigindo um show de humor! Mas, como já disse, ele tinha um excelente senso de humor e quem conviveu com ele sempre soube disso. Hoje sigo fazendo o que aprendi nas madrugadas depois do baile e participo de um grupo – Os raposas e a uva – realizando shows beneficentes de humor por todo o Brasil. Rubens Bisker Colega da Poli Epitáfio No último dia 11 de dezembro, perdemos o responsável pela nossa existência. Um politécnico que no início da década de 1950 ajudou a fundar o Grupo de Teatro da Poli. Perdemos nosso primeiro diretor, um exemplo de que nem só de Cálculos Diferenciais e de Resistência dos Materiais vive um engenheiro. Antônio Carlos Zarattini, ou Carlos Zara, era para o GTP mais do que uma lembrança. Podia ser considerado um exemplo, e como tal, um pai. Um exemplo de que a Arte e a Engenharia não são imiscíveis. Pelo contrário, são inseparáveis. Ele foi um exemplo de que nunca devemos abdicar de nossos sonhos. Nunca devemos abandonar nossos planos. Podemos nos desviar temporariamente do caminho que julgamos ideal, mas sempre tendo em mente qual o caminho de volta para o destino que escolhemos para nós. As físicas que Manoel Bandeira não aprendeu, os cálculos que não estudou, não foram suficientes para sufocar em Carlos Zara o desejo de fazer a arte por meio do teatro e não da engenharia, nem para desviá-lo irreversivelmente do caminho que ele havia traçado para si. Em sua longa jornada pelos palcos e pela vida, provou que não há equação que torne um homem puramente técnico se seu espírito for forte o suficiente para resistir e buscar a felicidade no que realmente o satisfaz. Em respeito ao nosso pioneiro, nós, do Grupo de Teatro da Poli, citamos nosso mais recente trabalho nos palcos e dizemos: “Assim, esfacela-se um nobre coração. Boa noite, doce Príncipe. Que os anjos o acompanhem com seus cânticos em sua jornada ao descanso eterno.” E nada mais nos resta a dizer, senão: “O resto é silêncio.” Vitor Belíssimo Falleiros, Roberto Leminki, Eduardo Franco de Monlevade, Ricardo Creston Fernandes, Luciana Paula Reggiani (Grupo de Teatro da Poli) Os politécnicos Fui a São Paulo, a convite do Grêmio dos Politécnicos, bater um papo com os rapazes em sua faculdade. Recusei-me a fazer uma palestra, pois sou homem de língua emperrada; mas os motivos para a minha ida, como me foram apresentados pelos futuros engenheiros paulistas, pareceram-me bastante válidos, além de modestos. Têm eles que a carreira escolhida oferece o perigo de canalizar o pensamento para problemas puramente tecnológicos, em prejuízo de uma humanização mais vasta, tal como a que pode ser adquirida em contato com o homem em geral e as artes em particular. Há muito não me sentava diante de tantos moços, com um microfone na mão, para lhes responder sobre o que desse e viesse. “Quem sou eu” – perguntei-me, não sem uma certa amargura – “quem sou eu, que não sei sequer consertar uma tomada elétrica, para arrogar-me o direito de vir responder às perguntas destes jovens que amanhã estarão construindo obras concretas e positivas para auxiliar o desenvolvimento deste louco país?” Mas eles, aparentemente pensavam o contrário, pois puseram-se a bombardear-me de perguntas que, falar verdade, não dependiam em nada de cálculos, senão de experiência, bom senso e um grão de poesia. Providenciaram mesmo uma bonita cantorazinha de nome Mariana, que estreava na boate Cave (de onde partiram para a fama Almir Ribeiro e Morgana) para cantar coisas minhas e de Antônio Carlos Jobim: o que era feito depois de eu responder se acreditava ou não em Deus, como explicava a existência de mulheres feias e o que pensava de João Gilberto. A homenagem foi simpática, mas no meio daquilo tudo comecei a ser tomado por uma sensação estranha. Aqueles rapazes todos que estavam ali, cada um com a sua personalidade própria – João gostando de romance Lolita, Pedro detestando; Luís preferindo mulatas, Carlos, louras; Francisco acreditando em Karl Max, Júlio em Jânio Quadros; Kimura preferindo filme de mocinho, Giovanni gostando mais de cinema francês – já não os tinha visto eu em outras circunstâncias, em outros tempos? Aquele painel de rostos desabrochando para a vida, aqueles olhos sequiosos ao mesmo tempo de amor e de conhecimento, não eram eles o primeiro plano de uma imagem que se ia perder no vórtice de uma perspectiva interminável, como num jogo de espelhos? Atrás de cada uma daquelas faces não havia o fotograma menor de outra face, como ela ávida de saber o porquê das coisas, e atrás de outra, e mais outra, e outra ainda? Vi-os, de repente, todos fardados me olhando, atentos às instruções de guerra que eu lhes dava em voz monótona: “Os três grupos decolarão em intervalos de cinco minutos, e deixarão cair sua carga de bombas nos objetivos A, B e C, tal como se vê no mapa. É favor acertarem os relógios...” Mariana cantava, um pouco tímida diante de tantos rapazes, a minha Serenata do adeus: “Ai, vontade de ficar, mas tendo de ir embora...” Qual daqueles moços seria um dia ministro? Qual seria assassino? Quem, dentre eles, trairia primeiro o anjo de sua própria mocidade? Qual viraria grã-fino? Qual ficaria louco? Tive vontade de gritar-lhes: “Não acreditem em mim! Eu também não sei nada! Só sei que diante de mim existe aberta uma grande porta escura, e além dela é o infinito – um infinito que não acaba nunca! Só sei que a vida é muito curta demais para viver e muito longa demais para morrer!” Mas ao olhar mais uma vez seus rostos pensativos diante da canção que lhes falava das dores de amar, meu coração subitamente se acendeu numa grande chama de amor por eles, como se fossem todos filhos meus. E eu me armei de todas as armas da minha esperança no destino do homem para defender minha progênie, e bebi do copo que eles haviam oferecido, e porque estávamos todos um pouco emocionados, rimos juntos quando a canção terminou. E eu fiquei certo de que nenhum deles seria nunca um louco, um traidor ou um assassino porque eu os amava tanto, e o meu amor haveria de protegê-los contra os males de viver. Vinicius de Moraes crônica Os politécnicos, publicada em Para viver um grande amor, livro de cabeceira de Zara A arte, paixão sem limites Zara e o teatro O Sérgio Cardoso foi o meu grande mestre. É evidente que eu tinha acompanhado antes todo o trabalho daqueles grandes diretores europeus que vieram para o Brasil, que foram para o Teatro Brasileiro de Comédia, o Ziembinski, Celi, Ruggero Jaccobi. Eu comecei semi profissionalmente no Teatro Santana e depois fui trabalhar com o Sérgio Cardoso, e trabalhei com ele sete anos. Ele era uma pessoa incrível, fantástica com uma vontade, uma garra de ter uma casa de espetáculo. Eu me lembro do Sérgio com uma pastinha debaixo do braço vendendo à indústria e ao comércio ações da empresa Bela Vista para conseguir dinheiro e poder construir o teatro. Uma coisa muito bonita que a gente não faz mais. Hoje recorremos aos órgãos do governo para arranjar verba pra montar uma peça, e o Sérgio ia com uma pastinha dele com as ações da empresa Bela Vista enquanto eu estava lá trabalhando e construindo o teatro que nós estreamos em São Paulo. Foi maravilhoso o dia em que abriu o pano daquele espetáculo, fiquei muito orgulhoso, muito envaidecido. Depois fiquei muito triste, porque anos depois o governo de São Paulo resolveu derrubar o Teatro Bela Vista que era excelente, sem dúvida um dos melhores de São Paulo, talvez o melhor. Derrubou o Bela Vista pra construir o Teatro Sérgio Cardoso. Eu fiquei muito triste quando derrubaram o nosso teatro, o teatro que nós fizemos. Mas esse crime não foi só cometido em relação ao Teatro Bela Vista. Em um curto espaço de tempo, mais ou menos 15 anos, derrubaram teatros como o Colombo, o Santa Helena, o Santana, o São Paulo, o Bela Vista e mais um que agora me esqueço. Isso é básico, fundamental. Quando os meus companheiros de classe, da categoria, dizem: “precisamos conseguir verba do governo pra montar peça e tudo mais”, eu digo que nós precisamos pedir para o governo construir casas de espetáculo antes de mais nada. Senão não temos onde representar. A Fernanda Montenegro disse uma frase magistral para mim outro dia, quando conversávamos sobre teatro e cultura: “Zara, não se preocupe com isso, meu filho, nós não existimos.” Atualmente a minha prioridade com relação ao Ministério da Cultura é que eles saibam que a gente existe. Sabia que tem gente que trabalha em teatro, em circo, em dança, em música? Trecho de entrevista para o programa Mudando de Conversa na Rádio e TV Educativa do Rio de Janeiro Lembranças Aquele distante ano de 1956 foi tão cheio de acontecimentos, de trabalhos e de lutas e, no entanto, quando um jornalista anos mais tarde me perguntou do que eu me lembrava mais daquela época, respondi: “Do frio!” Foi um inverno gelado, num teatro recém-construído, cujas paredes pareciam chorar, tamanha umidade exalava do cimento que não conseguia secar. Um vento encanado se infiltrava nos amplos decotes das roupas de época que usávamos em Hamlet, fazendo-nos entrar em cena tremendo, os dentes chocalhando. Só esquecíamos do frio quando acontecia algo inesperado que sacudisse o ambiente, bastante soturno, da tragédia. Uma noite, durante o enterro de Ofélia, no 3o ato, o cortejo real vinha entrando em cena, subindo uma rampa – o rei e a rainha à frente – quando, como num golpe de mágica, o rei desapareceu. O ator, Carlos Zara, teve uma tontura e perdeu o equilíbrio. O peso do manto de veludo, todo bordado, puxou-o para baixo e ele despencou do praticável, caindo atrás do cenário, onde ficou desmaiado. Nós atores olhamos uns para os outros sem saber o que fazer, e com uma vontade louca de rir, mas como o público não percebera nada, continuamos a subir a rampa até chegar na frente do placo, onde Sérgio (Cardoso) e Zéluiz Pinho – que fazia o papel de coveiro – olharam para nós sem entender o que havia acontecido com o rei. Eu tentei salvar a situação dizendo as falas dele; Rita Cléos disse as minhas... Enfim, uma bruta confusão. E a platéia, firme! Nydia Licia em seu livro Ninguém se livra dos seus fantasmas Zara e a televisão A TV Excelsior foi o meu grande xodó, também por causa da engenharia. Porque quem projetou os estúdios da TV Excelsior fui eu também. A TV Excelsior produziu grandes novelas. Primeiro implantou as novelas diárias, que eram novelas com textos importados, textos mexicanos e argentinos. Dramalhões terríveis. Mas depois começou a se voltar para os autores brasileiros, contratou pessoas que trabalhavam em rádio e passou a usá-las para escrever pra televisão. E fez grandes textos, como A muralha, por exemplo, da Raquel de Queirós, que era uma maravilha; O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, que era muito bem escrito pelo Teixeira Filho; Dez vidas, a história de Tiradentes – por sinal eu fiz o Tiradentes –, que foi escrita pela Ivani Ribeiro. Enfim, a TV Excelsior criou a dramaturgia de televisão brasileira. Trecho de entrevista para o programa Mudando de Conversa na Rádio e TV Educativa do Rio de Janeiro Seria um Deus? Conheci o Zara em 1967, entre obas e olás, pelos corredores da extinta TV Excelsior em São Paulo, onde gravávamos novelas diferentes. Um homem muito bonito e para alegria da minha mãe se parecia com meu pai, também Carlos. Num final de tarde, esperando o ônibus para voltar para casa, lá estava eu, abatida pelo término de um namoro. Triste, perfeitamente adaptada à paisagem cinza da cidade, quando um carro pára do outro lado da rua. Era o Zara. Ou seria um Deus grego? Ele me ofereceu carona. Estávamos em Guarulhos, mais ou menos 25 quilômetros até o centro, distância suficiente para que eu chorasse, fizesse confidências. Eu me sentia segura, Zeus estava ao volante. Ele foi acolhedor e me ouviu com muita paciência. Ficamos amigos para sempre. Guardo boas lembranças, Vivinha, Zara, meu marido e eu em momentos especiais, aniversários, casamentos, reuniões em casas de amigos, estréias. Nossas brincadeiras, nossas conversas sobre filhos, netos e os valiosos conselhos do Zara produtor. Ele me chamava de Pintadinha, por causa de minhas sardas. E é assim que gosto de lembrar dele. Sorrindo, parecido com meu pai e me chamando carinhosamente de Pintadinha. Irene Ravache atriz Zara, meu amigo Assim que acabei de participar da novela de Jorge de Andrade, Ossos do barão, na TV Globo, decidi telefonar para ao Departamento de Dramaturgia da TV Tupi, cujo diretor era Carlos Zara, e oferecer meus préstimos. Ele, sem perguntar absolutamente nada, aceitou de pronto o meu oferecimento. Estranhei a sua discrição, tão rara em nosso meio. Essa primeira impressão foi o toque inicial da nossa relação profissional e pessoal. Ele jamais me perguntou por que havia saído da Globo, nem naquele momento, nem quando nos tornamos amigos. Zara era uma pessoa especial e percebi isso logo! Nossa amizade nasceu, tenho certeza, da seriedade, consideração e respeito com que encarávamos o trabalho. E sem regalias! Minha admiração só aumentou quanto mais trabalhávamos juntos. Na novela Barba azul, ele se dividia entre a direção e ser o galã e conseguia conciliar os dois trabalhos com brilhantismo e dedicação. Era um galã como devia ser e um diretor que jamais perdia o sentido da obra. Nas três novelas seguintes, em que trabalhamos juntos – Ovelha negra, Xeque-mate e Salário mínimo –, Zara era somente o diretor. E posso dizer sem medo que nunca vi no meio televisivo um profissional com tamanha liderança, eficiência, sensibilidade, solidariedade e paixão. E sempre discreto, avesso a cumprimentos, humilde até. Zara foi responsável pela manutenção no ar da Rede Tupi por muitos anos. Enfrentava problemas político-econômicos da emissora pertencente a um semnúmero de condôminos que, com raras exceções, estava mais preocupado com os lucros e não levava em conta a importância de uma Rede de TV tanto na Cultura, Educação como na Política de um país. Zara sabia disso e não se poupava para realizar um bom trabalho, honesto, sincero, artístico... Meu Deus, que líder! Em teatro fizemos juntos a peça O assalto, em 1978, e nossa amizade só aumentou. Depois do fechamento da Tupi, Zara foi para a Globo, em 1979, quando pôde mostrar o ator que era: talentoso, rigoroso, sem mais reivindicações... Mais uma vez, humilde. E sobrou uma pergunta que jamais fiz a ele: por que sua experiência como diretor, como líder, não foi mais bem aproveitada ainda na Globo? Que desperdício! Nunca vi, porém, nem uma ponta de insatisfação. Que dignidade, que grandeza, que – outra vez – humildade! Tenho pena de nunca ter dito tudo que pensava sobre ele... mas acho que ele não se permitiria ouvir. Quero crer, porém, que ele sentia. Quando penso nele, vejo-o sorrindo complacentemente... MEU AMIGO! Edney Giovenazzi Ator, amigo e padrinho do casamento de Zara e Vivinha Um líder O Zara tinha a capacidade de emocionar, envolver e liderar. Algumas vezes conversei com a Vivinha sobre minha admiração, meu carinho e gratidão pelo Zara. Eu o conheci como diretor de dramaturgia (acho que era esse o cargo) na TV Tupi. Era a primeira vez que fazia TV e tinha o preconceito comum daqueles anos. Mas meu filho acabara de nascer e eu precisava de um salário. Logo depois da primeira novela, tive a oportunidade de contracenar com ele em Um dia, o amor. Foi ele quem me ofereceu o primeiro contrato na TV. E foi ele que me ensinou a gostar de fazer televisão. Quebrou meus preconceitos. Tenho dele uma lembrança particularmente especial. Uma tarde eu estava gravando uma externa, não lembro qual era a novela. Estava no elenco Dona Lélia Abramo, maravilhosa! De repente, chega num carro preto, com motorista, o Carlos Zara... Diretor de teledramaturgia!!! Ele desce do carro e chama a mim e a Lélia. “Credo, o que será que eu fiz?” Então ele nos conta que o jornalista Vladimir Herzog havia sido assassinado na prisão e que o velório estava acontecendo no Hospital Albert Einstein. Ele gostaria que eu e a Lélia fôssemos representando o elenco da TV Tupi. Colocou um carro à nossa disposição e tirou dinheiro do bolso para que comprássemos uma coroa de flores. As gravações foram suspensas. Até hoje quase não acredito que, naquela altura da situação política do País, o diretor de teledramaturgia teve um gesto tão solidário e corajoso. Foi ele também que num carnaval me incluiu no elenco que viajaria para Recife. Foram também ele e Vivinha. E lá, além do baile de carnaval, fomos visitar as prisioneiras políticas na Ilha de Itamaracá! Esse era o diretor que via muito além da tela. Tenho saudades daquela voz grave e severa, tão carregada de carinho e atenção com o próximo. Um homem íntegro, que amava seu trabalho e respeitava seus colegas e seu público. Que mais se pode querer? Ah! Tinha a Vivinha por companheira!!! Denise Del Vecchio atriz Um lúdico engenheiro Das coisas mais belas em matéria de admiração e amizade que tive em minha vida, foi a conduta profissional e humana de Carlos Zara. Conviver com ele numa Televisão Tupi foram momentos de saúde espiritual e momentos de uma concreta forma de se entrar no mar da objetividade como diretor, com a sabedoria de superar toda a loucura que existe nessa caixa de outras coisas que chamamos de TV. Fomos amigos, os dois funcionando e sabendo do mundo absurdo e até inverossímil que a necessidade de se colocar diariamente na tela ficção e mais ficção para se compreender a realidade – ficávamos abandonados descobrindo o que era essa máquina infinita para o mundo moderno nos deixar na condição de adultos e viver o humor trágico que me deixava um homem-espanto, enquanto Zara continuava a dirigir de maneira imutável as situações dramáticas, mas sempre exatas para o funcionamento complexo de uma televisão engatinhando em nosso país. Quantas vezes, diante de minhas insistências de levarmos Dostoievski para as novelas (que ele acabou aceitando e fracassamos), me dizia – “Saia um pouco daqui, vá ver seus filmes” (eu adorava os filmes classe B japoneses, na Liberdade). Acompanhei todo o seu trabalho teatral na Companhia Nydia Licia-Sérgio Cardoso, sempre levando adiante as idéias direcionais que apareciam e muitas vezes liderando a classe teatral quando era necessário. A forma como defendeu seu irmão Ricardo Zarattini (hoje deputado federal), preso e torturado pela soi-disant revolução, foi a forma humana das mais generosas, querendo mostrar aos coronéis da época que deveriam verificar melhor a anarquia da época e que todos nos sentíamos responsáveis para a mudança da situação brasileira. Tinha erros, claro, mas sua busca para erradicá-los era bonita e quando, finalmente, encontrou o verdadeiro amor de sua vida na sempre moderna e eterna atriz brasileira, Eva Wilma, a maçã vermelha que era seu coração tentou se fixar numa transcendência de imortalidade que só o amor, essa loucura, pode tentar. Lutou até a morte contra a morte. Perdeu. Mas ganhou a necessidade de todos os artistas sempre o reverenciarem como um dos mais lúdicos engenheiros da engrenagem da vida. Antonio Abujamra Diretor e ator Zara e o Cinema Quando li o roteiro de Pra frente Brasil, aquilo bateu em mim como quem leva uma paulada na cabeça, porque a história do filme se desenvolve na época da Copa do Mundo de 70. Isso me trouxe a imagem real do que passei durante esse período. Ou seja, a um dos jogos da seleção brasileira, na fase eliminatória, assisti de uma sala de repouso de funcionários da polícia de São Paulo, que também assistiam à partida. Assisti com eles sabendo que meu irmão estava preso no mesmo prédio há vários dias e eu procurando saber o que estaria acontecendo com ele. Só que aí eu era o cara que procurava o meu irmão e no filme sou o torturador. Mas, de qualquer maneira, o comportamento me é absolutamente familiar e, por isso mesmo, quando li o roteiro senti o impacto. Outra coisa que me impressionou é que essa história também era de dois irmãos. Procurei fazer o Dr. Barreto da maneira mais simples possível, inclusive, em momento algum usei cacoetes de policiais. Ele é um profissional da tortura. Acho que isso deu uma dimensão muito grande ao personagem. No momento em que fui executar a tortura, de mentirinha, não me senti muito bem. Vieram todas as recordações, mil imagens verdadeiras. De qualquer for ma, procurei deixar claro que ambos, o torturador e o torturado, se cansam e se desgastam muito. E, para fechar o que o personagem propõe, tentei mostrar a frieza do comportamento, o prazer naquilo que está fazendo. Evidente que esse cara que a gente pretendeu colocar no filme não é um torturador comum, mas um sujeito de alto nível e que a gente conhece muito pouco. Eu devo ter cruzado no máximo com dois deles. São tipos que vão a um restaurante fino, sabem qual o prato que devem pedir, qual o melhor vinho português, italiano ou chileno. Sabem se comportar muito bem e devem freqüentar altas rodas da sociedade. Mas, quando chegam na sala de tortura, torna-se um ponto de honra fazer que o torturado fale. Acho da maior importância que se fale e se comente esses fatos que aconteceram em 69, 74, 75. Muita gente acha que é revanchismo, mas para mim não. Pessoas como o Dr. Barreto continuam por aí e realmente não foram questionadas em momento algum. entrevista à jornalista Regina Rito para a revista Contigo, na época do lançamento de Pra frente Brasil Domingo em família Trinta e três anos depois de ir ao ar pela primeira vez, a televisão brasileira apresentou na noite de quarta-feira a sua obra-prima, Domingo em família,o teleteatro da TV Globo. Valeu a longa espera, valeu por tudo de bom e ruim que a televisão produziu estes anos todos. A última Quarta Nobre foi de lavar a alma. crítica publicada na Folha de S. Paulo, em 24 de junho de 1983, sobre a Quarta Nobre, de Oduvaldo Vianna Filho, adaptada por Euclydes Marinho e dirigida por Carlos Zara O múltiplo Zara Zara, o amigo, o companheiro de luta, o líder, o ator, o diretor, o produtor, o administrador, não sei de quem falar. Só sei que quando penso no amigo, todos os outros estão com ele. E o que mais me impressiona é que Zara, com tantas atribuições, tantos talentos, jamais deixou de ser o mesmo. À minha memória vêm tantas histórias, que talvez seja melhor sintetizar com apenas algumas, em várias épocas de nossa amizade, compartilhada com Vivinha, a maravilhosa Eva Wilma, múltipla como Zara. Tentando obedecer à cronologia, a primeira história é do final de 1970, quando Eva Wilma, eu e um elenco adorável fazíamos, sob a direção de Carlos Zara, a novela Meu pé de laranja-lima, de José Mauro de Vasconcelos. Gravávamos na saudosa TV Tupi, no Sumaré, em São Paulo, e o estúdio, com os panelões de luz e sem ar condicionado, ficava muito quente, coisa de quase 40 graus de calor, e nós reclamávamos, e nada podia ser feito, ou a emissora não tomava providências. Um dia, Vivinha, secundada por mim e alguns gatos pingados, se dirige ao Zara dizendo que iríamos fazer um movimento de greve, se não se resolvesse o problema do ar refrigerado, e que de imediato iríamos à direção geral da emissora comunicar o fato. Zara, aparentemente irritado, diz: “Vão, eu espero sentado.” E fomos até o elevador do prédio contíguo, onde subimos para o andar da diretoria. Qual não foi a nossa surpresa quando pára o elevador, e quem já nos espera, tendo subido pelas escadas, com seu fôlego de gato? Carlos Zara. Nossa alegria foi imensa, é verdade que nem assim conseguimos a instalação de ar-condicionado, mas conseguimos uns ventiladores e que as portas do estúdio ficassem abertas, para aliviar um pouco o calor. O mais importante de tudo é que nos sentimos prosas porque nosso diretor estava conosco. Dando um salto de aproximadamente dez anos, já estamos no Rio de Janeiro, Zara, Vivinha e eu, contratados pela TV Globo, em uma noite muito especial, em que só nós três estávamos jantando (aliás, foram muitas as noites, dias, tardes especiais, quando eu tinha a alegria de estar com eles, em companhia de amigos comuns, familiares, ou só nós três, como nesta noite). Nesse jantar, Zara abriu seu coração e me contou um fato, ocorrido na época da gravação de Meu pé de laranja-lima, que marcou a minha recontratação pela TV Tupi, depois de eu ter sido presa como subversiva e estar respondendo a inquérito policial-militar. Justamente nesse momento fui chamada por ele pra interpretar a personagem Godóia na novela. Pois bem, o que Zara me contou é que não apenas a direção da emissora não queria me admitir novamente, como o Estado-Maior das Forças Armadas, por intermédio do Serviço Nacional de Inteligência, o SNI, determinou que eu não poderia aparecer na telinha, por ser elemento perigoso. Tal argumento foi derrubado por Zara, que colocou a direção da emissora em cheque, quando não abriu mão de meu trabalho, fincando pé e me salvando do blefe armado pelo dito SNI. Este companheiro não só me deu essa defesa inabalável, permitindo que eu voltasse à vida artística, como só me contou tantos anos depois... A terceira é mais sobre o espírito crítico e bem-humorado do diretor-administrador-produtor. Adorava comparar a televisão brasileira ao INSS e afirmava, com muita propriedade, que para uma produção de um programa eram necessárias cinco pessoas, mas sempre havia quatro vezes mais, pelo menos. E se você passasse um dia de gravação observando, eram aquelas cinco que faziam tudo, só não sendo mais competentes porque tinham que se desvencilhar das outras que só sabiam dar opiniões confusas. E nessas historinhas guardo a saudade de todos esses Zaras, que tive o privilégio de conhecer. Bete Mendes Atriz Zara e Eva, paixão eterna O eterno parceiro Conheci Carlos Zara quando ainda éramos solteiros e contracenamos num teleteatro ao vivo na Rede Tupi de Televisão em São Paulo em 1954. Era uma peça de Bernard Shaw e se chamava originalmente O homem e as armas. Eu iniciara minha carreira de atriz há apenas um ano e me lembro de ter tremido na base ao contracenar com um ator tão seguro e tão charmoso. Jamais poderia imaginar que quase 20 anos depois nossos caminhos se cruzariam novamente. Mais precisamente em 1971. Antes disso, porém, me lembro apenas dele discursando num palanque em frente à TV Excelsior que agonizava. Ele defendia com veemência não só os direitos dos trabalhadores daquela empresa, como principalmente a importância daquela rede para o mercado de trabalho. Ideais que vinham ao encontro dos meus. Contracenamos novamente em 1971 na novela Meu pé de laranja-lima, da qual ele era também o diretor. José Mauro Vasconcelos escrevera o livro, adaptado para a novela pela genial Ivani Ribeiro. Na época daquelas gravações meu lado feminista aflorava e às vezes eu chegava a rebelar-me contra aquele diretor um tanto machista e esbanjando eficiência e autoridade. Eu gravava a novela durante o dia e à noite participava de um espetáculo teatral de sucesso ao lado de dois grandes atores. Um deles, acometido de cansaço e alguns probleminhas de saúde, foi substituído pelo excelente Gianfrancesco Guarnieri, meu parceiro também na novela. No dia de sua estréia, recebemos uma visita surpresa nos camarins, antes do espetáculo. Nada menos que nosso diretor-ator, Carlos Zara! Aquela súbita aparição desencadeou uma relação paradoxal e conflituosa entre a atriz feminista e auto-suficiente e o diretor autoritário. Conseguimos manter, porém, nos trabalhos seguintes um relacionamento distante e meramente profissional. Após uma longa turnê teatral e mais um ano distanciados, em meados de 1973, de repente, o grande susto! O reencontro e desta vez, olho no olho, coração batendo forte e as afinidades entre nós aparecendo com clareza. A grande crise instaurada! Aproveitei o final daquele trabalho, um estrondoso sucesso, para me retrair e me afastar. Tentei com todas as forças evitar a convivência. E consegui, por um bom período, durante o qual me conscientizei de que independentemente de qualquer afetividade entre nós, meu primeiro casamento tinha chegado ao fim. Uma vez descasada me entreguei então, inteiramente ao trabalho teatral. O grande e definitivo encontro entre nós dois foi desencadeado por bravatas e atos de heroísmo dele, como aparecer de repente, de surpresa, ao meu encontro no outro extremo do País, onde estava em turnê. Ambos descasados, iniciamos uma fase romântica que chamávamos de namorantes, até decidirmos enfrentar a vida a dois. Em 19 de maio de 1980 mudamos para o nosso lar. Foram 22 anos juntos. Fomos felizes. Muito felizes. Conseguimo-nos empenhar na integração familiar um exercício difícil e às vezes bastante complicado, mas que se transformou numa vitória do nosso amor. Enfrentamos várias batalhas juntos, choramos juntos, rimos juntos, nos divertimos muito. Apesar de ele gostar de bancar o homem bravo e mal-humorado, meu marido era brincalhão e tinha um humor muito especial. Alguns exemplos disso: ele gostava de se referir ao meu perfeccionismo, à minha mania de sempre fazer a avaliação do nosso trabalho, dizendo que quando eu não fazia isso depois do espetáculo, ele não conseguia dormir direito à noite, aguardando receoso o que eu diria no café da manhã. E ríamos! Uma ocasião, quando nos dirigíamos a uma grande recepção depois de uma entrega de prêmios, ao passarmos pelos seguranças, um deles, barrou-o, perguntando: “O senhor quem é?” Ele respondeu sem titubear: “Eu sou o carregador de troféus dela”, agarrado ao enorme prêmio que eu acabara de receber. E nos divertíamos mais e mais... Contracenamos algumas vezes mais na televisão, mas nossa parceria no trabalho foi intensa mesmo em cinco espetáculos teatrais. A respeito de cada um deles eu poderia escrever um livro. Mas muito mais intensa foi, nossa parceria na vida real. Dedicando-nos às nossas famílias, meus dois filhos e um dele, aos nossos amigos, aos nossos ideais. Acho divertido lembrar que no texto daquela peça que eu interpretava em 1971, minha personagem dizia uma frase que nunca esque ci. Era uma comédia americana moderna, baseada em um triângulo amoroso. Uma mulher e dois homens. A mulher (eu) muito metida a racionalizar tudo, zombava das declarações dos dois parceiros dizendo: “O amor?... O amor meu caro, não passa de uma constante evolução, baseada em atração física, carreiras complementares e meras similaridades sociais.” É irônico... mas as meras similaridades sociais contam muito. Contam sim. Sei bem o quanto nossos ideais socializantes e democráticos, nossa cidadania, nos uniram. Abraçamos juntos a causa da anistia e a defesa do mercado de trabalho. Sempre admirei demais nele seu dom de liderança, sua tenacidade, sua força. Meu marido deixou-me um tesouro como herança, mais de cem cartas e bilhetes amorosos, estimulantes, adoráveis. E tenho o maior orgulho das declarações dele nessas cartas, sobre a admiração que ele tinha não só pelos meus dons de mulher (mulherfêmea, mulher-mãe, mulher-companheira), mas também pelo meu lado operária, como ele gostava de frisar, minha capacidade de trabalho. Em contrapartida, escrevi muito para ele também. Em uma das cartas acho que resumo essa minha admiração que sempre senti por ele. Estávamos estreando uma peça teatral e ele havia se aborrecido um pouco com o diretor que, ao invés de estimulá-lo quase o desencorajara. Escrevi assim: Amorzão! Aí vai, por escrito, uma declaração de amor e outra de confiança. Da grande confiança que tenho em você, da enorme admiração que tenho por você. Como pessoa, como artista, como ator e como diretor também. Como ser humano, como pai, como chefe de família. Vai firme! Confie em você. Em nós. Disse e repito: nunca tive em cena como atriz, uma parceria com tanta sensibilidade quanto a sua. Uma parceria que me “passasse a bola” tão “de bandeja” quanto você faz. Juro! Vamos juntos! Cada vez melhor. Tua mulher. Tua admiradora. Tua. E mais uma vez uma personagem me ajuda a terminar o que gostaria de dizer. Vários fragmentos de textos ficam em minha memória para sempre. Um deles, ainda recente, é o de uma personagem que interpretei no último filme do qual acabo de participar. E poderia ter sido escrito por mim. E por isso o repito com emoção. “Quando você morreu... Eu morri também. Mas aí... Tem a nossa família, o nos-so trabalho, os nossos amigos, os nossos ideais... E a gente continua! Por amor. Até o fim.” Tua Mulher, Tua Eva Maio de 2006 Pequeno frasco Num dado momento de sua carreira, Carlos Zara sentiu que o pequeno frasco de apenas um mero personagem era limitador de seu incrível dinamismo criador. Era preciso o salto maior, talvez como o de Lúcifer. E Zara abriu as suas asas para a direção, para a chefia, para a liderança, para um abraço mais amplo. E como o gênio da lâmpada, Zara volta agora a se abrigar no pequeno frasco de um personagem. Talvez para se redescobrir na origem. Talvez por saber que nos pequenos frascos se encontram os grandes. João José Pompeu, no programa de Desencontros clandestinos Um depoimento Quando o coração floresce é muito simples. É uma peça romântica, é um hino ao amor, como definiu muito propriamente a nossa querida Bibi Ferreira. É uma peça que fala de amor, que fala de poesia, que fala de romance, que dá um otimismo de vida. Que procura levar as pessoas a acreditar que a vida vale a pena ser vivida. Desde que você tenha muito prazer e muito amor. E para se ter amor na vida é preciso que você ame as pessoas em primeiro lugar e isso foi o nosso querido Jesus Cristo que disse, não é? Que a gente precisa amar muito as pessoas. E a peça faz exatamente isso, ela mostra que amando pode se viver muito bem. É uma peça russa, autor soviético contemporâneo, que não buscou outra coisa senão dar essa lição de vida, sempre mostrando que é possível se viver muito bem, desde que você se ame. Não existem grandes mistérios dentro da peça, simples aparentemente, mas com uma profundidade muito grande de vida, de lição de vida. Acho que em toda a minha carreira Quando o coração floresce foi uma das peças que tive mais satisfação de ensaiar e representar. Pouquíssimas vezes em minha carreira eu tive uma alegria tão grande de representar um personagem como o Rodion e tanto prazer quando entro no palco. Principalmente por contracenar com a Eva que é uma atriz que dá a você todo apoio, todo o suporte, para você poder fazer um bom trabalho. E que dá tudo isso não só dentro do teatro na hora do espetáculo, mas também fora do espetáculo. Quando o espetáculo termina, ou antes de ele começar, ela sempre dá uma pinceladinha em coisas dizendo: “olha, eu acho ali hoje não estava legal”, “que tal se fizesse assim?” Enfim, ela tem uma capacidade de revitalizar o espetáculo a cada dia, e isso me agrada muito. Trecho de entrevista para o programa Mudando de Conversa, na Rádio e TV Educativa do Rio de Janeiro Love letter Foi um prazer enorme trabalhar com você, Zara. Não só você me surpreendeu como ator – aquela virada da sua personagem do primeiro para o segundo ato de Love letters, às vistas do público, era fantástica – como também pelo homem de teatro completo que eu desconhecia. Durante a excursão do espetáculo, você soube cuidar da luz, do som, enfim, de tudo para que o espetáculo sempre resultasse, fielmente, como eu o havia concebido. E como você ainda era casado com esta deusa que todos nós conhecemos e amamos – Eva Wilma – posso dizer que foi uma experiência muito feliz. Até porque, desde então, vocês passaram a me honrar com a sua amizade. E o que o teatro une, nada mais separa. Nem mesmo a morte. Um beijo, Zara querido, você deixou muitas saudades. (“Esta é uma love letter para o Zara. A carta que eu queria ter enviado a ele em vida e não tive oportunidade.”) Flávio Marinho dramaturgo e diretor que trabalhou com Zara e Eva Wilma na peça Love letters – Cartas de amor Viagem insólita Zara foi um parceiro de toda a minha vida. Conheci Eva Wilma exatamente quando o Brasil inteiro a idolatrava pelos personagens de Ruth e Raquel em Mulheres de areia. Trouxe a estrela para uma apresentação em Ipatinga e depois de muitas outras vindas a amizade foi só aumentando. Foi por intermédio da Vivinha que conheci o Carlos Zara, o Zarão. Quantas vezes ficamos na varanda de seu apartamento no Leblon falando sobre trabalho e política! E como o Zara ria quando a Vivinha insistia que eu fosse fazer uma caminhada na praia com ela e eu preferia mesmo era jogar conversa fora com ele. Um dia me pediram para levar um artista à cidade de Aymorés, em uma festa onde estaria Tancredo Neves, que era candidato ao governo de Minas. Chegar em Aymorés não era simples: pela estrada ou por trem. Para helicóptero não havia verba. Quem toparia esta parada? Pensei no Zara, mas preparei uma história linda: a viagem de trem seria uma beleza, haveria cabines privativas com ar condicionado, restaurante e tudo o mais. Vivinha adorou a idéia de fazer a viagem junto com o Zara. No dia que fui comprar as passagens e diante do preço tão insignificante resolvi comprar umas 20 e convidar uns violeiros para animar a viagem. No dia da nossa partida, bem cedinho, Vivinha estava linda, de saia plissada e blazer bege. Zara ria antecipando o que viria pela frente, em especial o quanto a roupa dela mudaria de cor com a poeira de minério de ferro. O trajeto que eles pensavam ser de três horas, na verdade demoraria oito. Os violeiros cantaram muito, um jovem que adorava fazer discursos fez mais de cinco, um vendedor de pão com salame, ao ver a dupla de atores no último vagão, saiu aos gritos anunciando que Eva Wilma e Carlos Zara estavam no trem e a confusão se instalou. O conjunto de linho de Vivinha foi ficando cada vez mais amarronzado. Em momento algum, porém, ouvi uma bronca, e os dois continuaram animadíssimos a viagem inteira. Foi uma festa quando o trem parou. Mais de 3 mil pessoas aguardavam Zara e Vivinha, primeiros atores a pisarem naquela cidade. Eva chegou cantando Caminhando, de Geraldo Vandré, acompanhada pelos violeiros. Zara ria o tempo todo. Assim como ele riu muitas vezes em diversas entrevistas, quando contava esta viagem. Sinal de que gostou. Aliás, jamais me cobrou o ar refrigerado, as cabines individuais e o restaurante prometidos por mim. E tenho certeza de que deu adeusinho deste mundão sabendo muito bem que os violeiros tinham sido contratados por mim. Te amo, Zara! Martha Azevedo promotora de eventos Saudosa Maloca (de Adoniran Barbosa) Se o sinhô não tá lembrado Dá licença de contá Que aqui onde agora está Este ardifício arto Era uma casa véia Um palacete assobradado Foi aqui, seu moço, que eu, Mato Grosso e o Joça Construímo nossa maloca Mas, um dia, nóis nem pode se alembrá Veio os home co as ferramenta O dono mandô derrubá Peguemo todas nossas coisa E fumo pro meio da rua Apreciá a demolição Que tristeza que nóis sentia Cada taubua que caía Doía no coração Mato Grosso quis gritá Mas em cima eu falei Os home tá coa razão Nóis arranja outro lugá Só se conformemo Quando o Joca falou “Deus dá o frio conforme o cobertô” E hoje nóis pega as paia Na grama do jardim E pra isquece nóis cantemo assim Saudosa maloca, maloca querida Dim dim donde nóis passemo dias feliz de nossas vida Saudosa maloca, maloca querida Dim dim donde nóis passemo dias feliz de nossas vida (música predileta de Carlos Zara, cantada por Eva nas últimas horas de sua vida) Cronologia Televisão TV Tupi 1956 Participou do Grande Teatro Tupi, atuou em cerca de 12 teleteatros montados com o elenco da Cia. Nydia Licia-Sérgio Cardoso TV Record 1957 Implantou e dirigiu o Departamento de Teledramaturgia • Papai, mamãe e eu – Seriado Direção: Nilton Travesso 1960 • Folhas ao vento, novela de Ciro Bassini Apresentada duas vezes por semana TV Excelsior 1963 • Aqueles que dizem amar-se, novela de Dulce Santucci Direção: Tito Di Miglio • Corações em conflito, novela de Ivani Ribeiro Direção: Tito di Miglio 1964 • Folhas ao vento – novela de Ciro Bassini Apresentada anteriormente na TV Record 1965 • Onde nasce a ilusão, novela de Ivani Ribeiro Direção: Hélio Tozzi • Vidas cruzadas, novela de Ivani Ribeiro Direção: Walter Avancini • Em busca da felicidade, novela de Talma de Oliveira, do original de Leandro Blanco – Direção: Waldemar de Moraes • As minas de prata, novela de Ivani Ribeiro Adaptação do romance de José de Alencar Direção: Walter Avancini 1967 • O tempo e o vento, novela de Teixeira Filho Adaptação da obra de Érico Veríssimo Direção: Dionísio de Azevedo • O grande segredo, novela de Marcos Rey Direção: Walter Avancini e Carlos Zara 1968 • O direito dos filhos, novela de Teixeira Filho Direção: Henrique Martins • Legião dos esquecidos, novela de Raimundo Lopes Direção: Waldemar de Moraes e Reynaldo Boury • Os diabólicos, novela de Teixeira Filho Direção: Henrique Martins • A muralha, novela de Ivani Ribeiro Do romance de Dinah Silveira de Queiroz Direção: Sergio Britto e Gonzaga Blota 1969 • Dez vidas, novela de Ivani Ribeiro Direção: Gonzaga Blota e Reynaldo Boury • Os estranhos, novela de Ivani Ribeiro Direção: Gonzaga Blota e Gianfrancesco Guarnieri TV Tupi 1970 • As bruxas, novela de Ivani Ribeiro Direção: Walter Avancini • Meu pé de laranja-lima, novela de Ivani Ribeiro Direção: Carlos Zara (ator e diretor) Primeira novela a gravar externas semanais 1971 • Nossa filha Gabriela, novela de Ivani Ribeiro Direção: Carlos Zara 1972 Assume a direção do Departamento de Teledramaturgia • Na idade do lobo, novela de Sérgio Jockyman Direção: Walter Avancini e Carlos Zara • Camomila bem-me-quer, novela de Ivani Ribeiro Direção: Carlos Zara e Edson Braga 1973 • Mulheres de areia, novela de Ivani Ribeiro Direção: Edson Braga – Supervisão: Carlos Zara 1974 • Os inocentes, novela de Ivani Ribeiro Direção: Edson Braga e Carlos Zara • A barba azul, novela de Ivani Ribeiro Direção: Henrique Martins e Antônio de Moura Mattos – Supervisão: Carlos Zara 1975 • Ídolo de pano, novela de Teixeira Filho Direção: Henrique Martins – Supervisão: Carlos Zara • Um dia, o amor, novela de Teixeira Filho Direção: David Grimberg – Supervisão: Carlos Zara • A viagem, novela de Ivani Ribeiro Direção: Edson Braga – Supervisão: Carlos Zara 1976 • O julgamento, novela de Carlos Queiróz Telles e Renata Pallottini Direção: Edson Braga e Álvaro Fugulin • Dois mil anos de teatro – Especial Produtor: Carlos Zara 1978 • Maria Nazaré, novela de Ivani Ribeiro Direção e Produção: Carlos Zara Novela inacabada, não foi ao ar TV Globo 1979 • Pai herói, novela de Janete Clair Direção: Gonzaga Blota, Roberto Talma e Roberto Vignati 1980 • Marina, novela de Wilson Aguiar Filho Direção: Herval Rossano 1981 • Baila comigo, novela de Manoel Carlos Direção: Paulo Ubiratan e Roberto Talma 1982 • Elas por elas, novela de Cassiano Gabus Mendes Direção: Paulo Ubiratan e Wolf Maya 1983 • Guerra dos sexos, novela de Silvio de Abreu Direção: Guel Arraes e Jorge Fernando 1984 • Champagne, novela de Cassiano Gabus Mendes Direção: Fred Confalonieri e Wolf Maya 1987 • O direito de amar, novela de Walter Negrão Direção: Jayme Monjardim e José Carlos Pieri • Sassaricando, novela de Silvio de Abreu Direção: Cecil Thiré, Lucas Bueno e Miguel Falabella 1988 • Vida nova, novela de Benedito Ruy Barbosa Direção: Luiz Fernando Carvalho e Reynaldo Boury 1990 • Gente fina, novela de Luis Carlos Fusco Direção: Gonzaga Blota e Herval Rossano • Lua cheia de amor, novela de Ana Maria Moretszsohn Direção: Flávio Colatrello e Roberto Talma 1992 • Anos rebeldes, minissérie de Gilberto Braga Direção: Dennis Carvalho 1993 • Mulheres de areia, novela de Ivani Ribeiro Direção: Carlos Magalhães e Wolf Maya 1994 • Pátria minha, novela de Gilberto Braga e Leonor Bassères Direção: Alexandre Avancini e Ary Coslov 1995 • Cara e coroa, novela de Antonio Calmon Direção: Maurício Farias e Wolf Maya 1997 • Por amor, novela de Manoel Carlos Direção: Roberto Naar, Alexandre Avancini, Edson Spinello e Ary Coslov Especiais 1993 • A Madona de cedro, minissérie de Walter Negrão, Charles Peixoto e Nelson Nadotti Direção: Tizuka Yamasaki e Denise Saraceni • Mulher, seriado de José Bonifácio Sobrinho e Daniel Filho Direção: José Alvarenga Jr. Direção • Em família – Especial de Oduvaldo Viana Filho, com adaptação de Euclydes Marinho, Quarta Nobre exibida em 1983 • Episódios da série Obrigado, doutor Teatro 1951 / 1954 Participou da formação do GPT (Grupo de Teatro Politécnico) e se integrou ao GTA (Grupo de Teatro Amador), grupos dirigidos, respectivamente pelos engenheiros Coelho Netto e Evaristo Ribeiro, a quem deve o nome artístico, Carlos Zara. Neste período este nas seguintes montagens: • Fora da barra, de Sudon Vane • O doente imaginário, de Molière • A grande estiagem, de Isaac Gondim Teatro profissional 1954 • O imperador galante, de Raimundo Magalhães Jr. Direção: Odilon e Dulcina – Teatro Santana/SP • A filha de Yório, de Gabriele D’Annunzio Direção: Ruggero Jacobbi – Teatro Cultura Artística/SP • Lampião, de Rachel de Queiroz Direção: Sérgio Cardoso – Teatro Leopoldo Fróes/SP • Sinhá Moça chorou, de Ernani Fornari Direção: Sérgio Cardoso – Teatro Leopoldo Fróes/SP 1956 • Hamlet, de Shakespeare Direção: Sérgio Cardoso – Inauguração do Teatro Bela Vista/SP • Quando as paredes falam, de Ferenc Molnar Direção: Ruggero Jacobbi Companhia Nydia Licia–Sérgio Cardoso – Teatro Bela Vista/SP • A raposa e as uvas, de Guilherme Figueiredo Direção: Bibi Ferreira – Companhia Nydia Licia–Sérgio Cardoso – Teatro Bela Vista/SP 1957 • O comício, de Abílio Pereira de Almeida Direção: Sérgio Cardoso – Companhia Nydia Licia–Sérgio Cardoso – Teatro Bela Vista/SP • • Chá e simpatia, de Robert Anderson Direção: Sérgio Cardoso – Companhia Nydia Licia–Sérgio Cardoso – Teatro Bela Vista/SP • • Henrique IV, de Pirandello Direção: Ruggero Jacobi – Companhia Nydia Licia–Sérgio Cardoso – Teatro Bela Vista/SP • A dama do Maxim’s, de Georges Feydeau Direção: Gianni Ratto – Teatro Maria Della Costa/SP 1958 • Casamento suspeitoso, de Ariano Suassuna Direção: Hermilo Borba Filho – Companhia Nydia Licia–Sérgio Cardoso – Teatro Bela Vista/SP • Uma cama para três, de Claude Magnier Direção: Sérgio Cardoso – Companhia Nydia Licia–Sérgio Cardoso – Teatro Bela Vista/SP 1959 • Oração para uma negra, de William Faulkner Direção: Nydia Licia e Wanda Kosmo – Companhia Nydia Licia–Sérgio Cardoso – Teatro Bela Vista/SP 1962 • O casamento bossa nova, de Mayra Cunha Direção: Mayra Cunha 1963 • Com a pulga atrás da orelha, de Georges Feydeau Direção: Gianni Ratto – Teatro Maria Della Costa/SP 1978 • O assalto, de José Vicente Direção: Antunes Filho – Estreou em São Paulo e fez turnê nacional 1982 • Desencontros clandestinos, de Neil Simon Direção: Gianni Ratto – Teatro Hebraica e Auditório Augusta/SP – turnê por 49 cidades • Uma cama para três, de Claude Magnier Direção: José Renato 1984 • Quando o coração floresce, de Aleksei Arbuzov Direção: Paulo Autran – Estreou em Brasília, no Auditório do Memorial JK – Teatro Copacabana/RJ – Teatro Cultura Artística/SP – turnê nacional 1986 • Um dia muito especial, de Ettore Scola Direção: José Possi Neto – Temporada no Rio de Janeiro e turnê nacional 1989 • O preço, de Arthur Miller Direção: Bibi Ferreira – Teatro Copacabana/RJ – Teatro Maria Della Costa/SP – turnê nacional 1991 • Cartas de amor (Love letters), de A.R Gurney Produção e Direção: Flávio Marinho – Teatro dos Quatro/RJ – turnê nacional Cinema 1956 • Quem matou Anabela Direção: D. A. Hamza 1957 • O pão que o diabo amassou Direção: Maria Basaglia 1959 • Crepúsculo de ódio Direção: Carlos Coimbra 1982 • Pra frente Brasil Direção: Roberto Farias 1993 • Lamarca Direção: Sérgio Rezende Índice Apresentação -Hubert Alquéres 5 Carlos Zara – uma tentativa de currículo 13 A família original, paixão solidária 30 Lição de Amor 33 Meu tiozão, meu tio Nico 37 Entre o futebol e a televisão 39 A Politécnica, paixão matemática 43 Zara e o humor 47 Epitáfio 48 Os politécnicos 51 A arte, paixão sem limites 53 Zara e Eva, paixão eterna 106 Cronologia 133 Créditos das fotografias: João Caldas 107, 117 ,118, 119 Aldir Silva 113, 114 Cinira Arruda 110, 111 Gaston Gugliemi 115, 116 Novelas e especiais da Rede Globo: Cedoc/Rede Globo Demais fotos: acervo Eva Wilma Coleção Aplauso Série Cinema Brasil Anselmo Duarte - O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Carlos Reichenbach e Daniel Chaia Braz Chediak - Fragmentos de uma vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de DiMoretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Vittorio Capellaro comentado por Maximo Barro Carlos Coimbra - Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach - O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra Casa de Meninas Inácio Araújo Cinema Digital Luiz Gonzaga Assis de Luca Como Fazer um Filme de Amor José Roberto Torero Críticas Edmar Pereira - Razão e sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas Jairo Ferreira - Críticas de invenção: os anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas L. G. Miranda Leão Org. Aurora Miranda Leão De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Djalma Limongi Batista - Livre Pensador Marcel Nadale Dois Córregos Carlos Reichenbach Fernando Meirelles - Biografia prematura Maria do Rosario Caetano Fome de Bola - Cinema e futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Guilherme de Almeida Prado - Um cineasta cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton - O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça Jeferson De - Dogma feijoada - o cinema negro brasileiro Jeferson De João Batista de Andrade - Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jorge Bodanzky - O homem com a câmera Carlos Alberto Mattos Narradores de Javé Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu O Caso dos Irmãos Naves Luis Sérgio Person e Jean-Claude Bernardet O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade por Ariane Abdallah e Newton Cannito Pedro Jorge de Castro - O calor da tela Rogério Menezes Rodolfo Nanni -Um Realizador Persistente Neusa Barbosa Viva-Voz -roteiro Márcio Alemão Ugo Giorgetti - O Sonho Intacto Rosane Pavam Zuzu Angel - roteiro Sergio Rezende e Marcos Bernstein Série Cinema Bastidores -Um outro lado do cinema Elaine Guerini Série Teatro Brasil Antenor Pimenta e o Circo Teatro Danielle Pimenta Trilogia Alcides Nogueira - ÓperaJoyce Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso - Pólvora e Poesia Alcides Nogueira Samir Yazbek - O teatro de Samir Yazbek Samir Yazbek Críticas Maria Lucia Candeias - Duas tábuas e uma paixão Org. José Simoes de Almeida Júnior Críticas Clóvis Garcia - A crítica como oficio Org. Carmelinda Guimarães Teatro de Revista em São Paulo Neyde Veneziano Série Perfil Alcides Nogueira - Alma de Cetim Tuna Dwek Aracy Balabanian - Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Bete Mendes - O Cão e a Rosa Rogério Menezes Cleyde Yaconis - Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso - Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Etty Fraser - Virada Pra Lua Vilmar Ledesma Gianfrancesco Guarnieri - Um Grito Solto no Ar Sérgio Roveri Ilka Soares - A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache - Caçadora de Emoções Tania Carvalho John Herbert - Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa José Dumont - Do Cordel às Telas Klecius Henrique Luís Alberto de Abreu - Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maria Adelaide Amaral - A emoção libertária Tuna Dwek Miriam Mehler - Sensibilidade e paixão Vilmar Ledesma Nicette Bruno e Paulo Goulart - Tudo Em Família Elaine Guerrini Niza de Castro Tank - Niza Apesar das Outras Sara Lopes Paulo Betti - Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José - Memórias Substantivas Tania Carvalho Reginaldo Faria - O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi - Chorar de Rir Wagner de Assis Renata Palottini - Cumprimenta e pede passagem Rita Ribeiro Guimarães Renato Consorte - Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin - Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho - Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco - Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza - Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst - Um Ator de Cinema Maximo Barro Sérgio Viotti - O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Sonia Oiticica - Uma Atriz Rodrigueana? Maria Thereza Vargas Suely Franco - A alegria de representar Alfredo Sternheim Walderez de Barros - Voz e Silêncios Rogério Menezes Leonardo Villar - Garra e paixão Nydia Licia Carla Camurati - Luz Natural Carlos Alberto Mattos Zezé Motta - Muito prazer Rodrigo Murat Tony Ramos - No tempo da delicadeza Tania Carvalho Pedro Paulo Rangel - O samba e o fado Tania Carvalho Vera Holtz - O gosto da Vera Analu Ribeiro Série Crônicas Autobiográficas Maria Lucia Dahl - O quebra-cabeça Especial Cinema da Boca Alfredo Sternheim Dina Sfat - Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Maria Della Costa - Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Ney Latorraca - Uma Celebração Tania Carvalho Sérgio Cardoso - Imagens de Sua Arte Nydia Licia Gloria in Excelsior - Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Formato: 23 x 31 cm Tipologia: Frutiger Papel miolo: Offset LD 90g/m2 Papel capa: Triplex 250 g/m2 Número de páginas: 248 Tiragem: 1.500 Editoração, CTP, impressão e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Carvalho, Tania. Carlos Zara : paixão em quatro atos / por Tânia Carvalho. – São Paulo : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006. 160p. : il. – (Coleção aplauso. Série perfil/ coordenador geral Rubens Ewald Filho). ISBN 85-7060-233-2 (Obra completa) (Imprensa Oficial) ISBN 85-7060-523-4 (Imprensa Oficial) 1. Atores e atrizes de teatro – Biografia 2. Atores e atrizes de televisão -Biografia 3. Zara, Carlos I.Ewald Filho, Rubens. II.Título. III. Série. CDD 791.092 Índices para catálogo sistemático: 1. Atores brasileiros : Biografia: Representações públicas : Artes 791.092 Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei nº 1.825, de 20/12/1907). Direitos reservados e protegidos pela lei 9610/98 Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Rua da Mooca, 1921 Mooca 03103-902 São Paulo SP T 00 55 11 6099 9800 F 00 55 11 6099 9674 www.imprensaoficial.com.br/lojavirtual livros@imprensaoficial.com.br Grande São Paulo SAC 11 6099 9725 Demais localidades 0800 0123 401 Coleção Aplauso | em todas as livrarias e no site www.imprensaoficial.com.br/lojavirtual