Mazzaropi Uma Antologia de Risos Mazzaropi Uma Antologia de Risos Roteiro Iconográfico por Paulo Duarte IMPRENSA OFICIAL São Paulo, 2009 GOVERNO DE SÃO PAULO Governador José Serra Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Apresentação Segundo o catalão Gaudí, Não se deve erguer monumentos aos artistas porque eles já o fizeram com suas obras. De fato, muitos artistas são imortalizados e reverenciados diariamente por meio de suas obras eternas. Mas como reconhecer o trabalho de artistas geniais de outrora, que para exercer seu ofício muniram-se simplesmente de suas próprias emoções, de seu próprio corpo? Como manter vivo o nome daqueles que se dedicaram à mais volátil das artes, escrevendo, dirigindo e interpretando obras-primas, que têm a efêmera duração de um ato? Mesmo artistas da TV pós-videoteipe seguem esquecidos, quando os registros de seu trabalho ou se perderam ou são muitas vezes inacessíveis ao grande público. A Coleção Aplauso, de iniciativa da Imprensa Oficial, pretende resgatar um pouco da memória de figuras do Teatro, TV e Cinema que tiveram participação na história recente do País, tanto dentro quanto fora de cena. Ao contar suas histórias pessoais, esses artistas dão-nos a conhecer o meio em que vivia toda uma classe que representa a consciência crítica da sociedade. Suas histórias tratam do contexto social no qual estavam inseridos e seu inevitável reflexo na arte. Falam do seu engajamento político em épocas adversas à livre expressão e as consequências disso em suas próprias vidas e no destino da nação. Paralelamente, as histórias de seus familiares se entrelaçam, quase que invariavelmente, à saga dos milhares de imigrantes do começo do século passado no Brasil, vindos das mais variadas origens. Enfim, o mosaico formado pelos depoimentos compõe um quadro que reflete a identidade e a imagem nacional, bem como o processo político e cultural pelo qual passou o país nas últimas décadas. Ao perpetuar a voz daqueles que já foram a própria voz da sociedade, a Coleção Aplauso cumpre um dever de gratidão a esses grandes símbolos da cultura nacional. Publicar suas histórias e personagens, trazendo-os de volta à cena, também cumpre função social, pois garante a preservação de parte de uma memória artística genuinamente brasileira, e constitui mais que justa homenagem àqueles que merecem ser aplaudidos de pé. José Serra Governador do Estado de São Paulo Coleção Aplauso O que lembro, tenho. Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, visa resgatar a memória da cultura nacional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cinema, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituída de maneira singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados. Arquivos de documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetória. A decisão sobre o depoimento de cada um na primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor. Um aspecto importante da Coleção é que os resultados obtidos ultrapassam simples registros biográficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo e biografado se colocaram em reflexões que se estenderam sobre a formação intelectual e ideológica do artista, contextualizada na história brasileira. São inúmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso país. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro quanto no cinema e na televisão, adquirindo, linguagens diferenciadas – analisando-as com suas particularidades. Muitos títulos exploram o universo íntimo e psicológico do artista, revelando as circunstâncias que o conduziram à arte, como se abrigasse em si mesmo desde sempre, a complexidade dos personagens. São livros que, além de atrair o grande público, interessarão igualmente aos estudiosos das artes cênicas, pois na Coleção Aplauso foi discutido o processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Foram abordadas a construção dos personagens, a análise, a história, a importância e a atualidade de alguns deles. Também foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a expressão de suas linguagens. Se algum fator específico conduziu ao sucesso da Coleção Aplauso – e merece ser destacado –, é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficácia a pesquisa documental e iconográfica e contar com a disposição e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sortilégios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que neste universo transitam, transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de todo o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Mazzaropi, a Cara do Brasil Não houve, e temo que nunca haverá, outro Mazzaropi. Claro que surgiram imitadores, mas nenhum deles tinha o talento, a simpatia, para sequer chegar perto. Mazzaropi foi um fenômeno único na História de nosso cinema, um ídolo de enorme popularidade que, mesmo no auge da televisão, continuava a fazer exclusivamente cinema. Apesar de ironicamente ter começado na TV. E seus fãs nunca desertaram ou o esqueceram. Até hoje. Ao editarmos este livro, nos unimos ao autor Paulo Duarte para fazer uma homenagem há muito merecida. Em todos os sentidos. O autor é um apaixonado pelo trabalho de Mazzaropi e o cinema que ele fez. E escreveu e descreveu sua obra com a mesma paixão que realizou um extraordinário trabalho de pesquisa (o mesmo que havia feito quando conseguiu editar em DVD quase toda a obra de Mazzaropi pela distribuidora Cinemagia). Foi lendo o livro que sentimos por trás do riso do palhaço a presença de uma tragédia muito brasileira. Enquanto vivo, e mesmo morto, Mazzaropi foi desprezado pela crítica e pela imprensa em geral (em parte porque vivia isolado em seus domínios no Vale do Paraíba, saindo apenas para o lançamento de seu filme anual). E, por vezes, ficou amargurado, ressentido, o que transparece nas entrevistas e, de certa forma, nos filmes. Essa falta de reconhecimento não é assim tão fora do comum, já que praticamente todos os países tiveram seus comediantes regionais e foram rejeitados justamente por serem populares. Cantinflas no México, Fernandel, Bourvil e depois Louis de Funés, na França, Totó na Itália. Alguns tiveram que fazer papéis dramáticos ou esperar até o fim da vida para serem reconhecidos. Outros nem isso. Talvez Mazzaropi tenha morrido cedo demais. Mas será que o Brasil de hoje ainda teria espaço para ele? A julgar pelo sucesso recente de 2 Filhos de Francisco, para todos os efeitos um filme caipira, é muito possível que sim. O Brasil continua a ser um grande interior, e a simplicidade, a engenhosidade do que é ser brasileiro e com muito orgulho, matuto, nunca foi mais bem caracterizada por ele e seus Jeca Tatu e Pedro Malasarte, que numa revisão são muito menos caricaturais do que poderiam parecer. O problema é que o estilo de humor de Mazzaropi parece ter desaparecido com ele, até porque não deixou sucessores. O que eu chamei de tragédia brasileira foi o fato de ele ter criado um estúdio inteiro, um parque cinematográfico, que acabou se perdendo. Nunca produziu um filme alheio, nunca trocou de gênero, nunca quis mudar. Ou ousar. Ao contrário, desde que passou a ter controle de seus filmes, podia transferir a locação (Argentina, Portugal), podia acrescentar cores, mas continuava com o mesmo estilo de representação de circo-teatro, a mesma câmera distante em planos gerais, a falta de cuidados em figurinos e cenografia. Deixe-me abrir um parênteses pessoal. Desde criança assisti a todos os filmes de Mazzaropi. E foi dele a primeira vez a que assisti a uma filmagem, acidentalmente em minha terra Santos, quando ele foi até a Ponta da Praia rodar uma sequência de navio entrando na barra para Zé do Periquito. Mais tarde, por coincidência, o encontrei, quando estava no cais do porto com meu pai visitando um navio e Mazzaropi apareceu também por ali, sempre muito discreto, gentil, educado. Estranhamente quando me tornei crítico nunca mais o encontrei ou o vi. Tive, porém, a oportunidade de trabalhar com Geny Prado, que muita gente considerava ou pensava que era sua mulher na vida pessoal, além da tela. Foi quando Silvio de Abreu e eu escrevemos, em 1977, a versão de Éramos Seis para a TV Tupi e, como fãs, bolamos um personagem especialmente para ela. A tia do interior, prática, direta, forte, divertida, a tia Candoca (que não existia no livro original). E que ela fez magnificamente. Por vezes, a gente ficava lhe perguntando mais sobre Mazzaropi, como era, como trabalhava. Geny, sempre adorável, também era discreta (houve um momento em que os dois brigaram), nunca nos revelou muita coisa. É que, como fã, eu também não podia esquecer o lado crítico. Evitava escrever sobre os filmes dele, a que ia assistir religiosamente, sempre que possível no Art Palácio, porque ficava chocado com tanto talento desperdiçado, em filmes de menor qualidade e que iam se repetindo, se perdendo em sua parte técnica (parecia que, quanto mais crescia o estúdio, pior ficava o resultado). Claro que Mazzaropi, o ator, o cantor, escapava ileso. Mesmo doente, nunca perdeu sua graça, sua verve, sua capacidade de criticar os poderosos e defender as causas certas (criticando os poderosos, o preconceito racial, e nos primeiros filmes até realizando sátira política). A tragédia de Mazzaropi, como muitos no Brasil e até mesmo lá fora (vem à mente o caso de Elvis Presley, que nunca ousou mudar ou fazer filmes diferentes), foi acreditar em seus detratores e não ter preservado sua herança artística, hoje ameaçada (falta de bons negativos, material disperso depois de um processo de herança, que mais parece assunto de chanchada ou mesmo de um filme dele). Felizmente o Brasil teve grandes comediantes e humoristas. Assim de passagem, podemos lembrar de alguns geniais como Grande Otelo e Oscarito, Jô Soares, Chico Anysio. Outros menosprezados na época, Ankito, Zé Trindade e mesmo hoje em dia (como é o caso de Renato Aragão, que prosseguiu com uma linha circense semelhante à de Mazzaropi). E muitos outros notáveis, que o cinema só aproveitou ocasionalmente (Agildo Ribeiro, Ronald Golias, Vagareza, Walter D’Ávila). Mas nenhum deles foi uma entidade tão cinematográfica quanto Mazzaropi. Nem representa, como ele, a cara de um certo Brasil, que não quer e não pode morrer. Este livro pretende ser apenas o começo de uma tentativa apaixonada e até parcial de se relembrar sua carreira, sua obra. É livro de fã. Do jeito que eu gosto e admiro. Rubens Ewald Filho Nasci em uma casa pobre. Dormíamos eu, minha vó, minha mãe, meu tio e a caçulinha, amontoados em uma única cama, cobertos pelo calor de sonoros sorrisos. Minha Vó me ensinou a ler livros e almas, de meu tio: a escrita, a poesia e o primeiro instrumento. Minha Mãe me bateu para que eu entrasse no cinema pela primeira vez, depois tomei gosto e volta e meia apanhava porque não queria mais sair de lá. E mesmo que pudesse nos faltar qualquer coisa, naquele tempo nunca nos faltou: A-M-O-R. A casa sempre cheia de sons, de aromas, de imagens de filmes, de discos e livros. Eu sou feito dessas coisas, feito destas pessoas: Etelvina, Maria, Florizio e Rita... Tudo o que sou devo a vocês. (que é pra nunca esquecer do lugar de onde eu vim.) E nem a força do tempo sobre a vida ou sobre a morte irá conseguir extinguir da memória a lembrança eterna e o fogo intenso daqueles dias felizes. Agradeço, ainda, à Aline pelo privilégio que me deu de poder dividir a caminhada ao seu lado. (Dime si tú quisieras andar conmigo!) Finalmente, dedico este livro à memória de meu querido padrinho Wanderlei José Hespanhol, uma pessoa que sabia sorrir e fazer sorrir como poucas que já conheci nesta vida e em outras. A vocês minha gratidão e meu mais puro A-M-O-R! Luz. Paulo “Wences” Duarte inverno de 2004- outono de 2009 Mazza e a Ma$$a Um Caipira no Divã Na vida e na arte, tudo o que nos eleva é sagrado. Nós, brasileiros, vivemos em um país múltiplo, trópico rico e agigantado por sua própria natureza social, geográfica e cultural. Feito por pessoas simples, sofridas, surgidas de uma mistura de raças, cores, crenças... Moldado no sacrifício diário de gente humilde, que mesmo diante das maiores adversidades não nega, às tristezas, um sorriso... E segue em frente mantendo a dignidade e buscando um amanhã melhor, com a fé inabalável de que ele virá e, enquanto espera, luta. Só quer ser feliz. Mesmo que o momento de felicidade dure só um pouquinho. Dure o tempo de uma piada, de uma canção, o tempo de um filme. O que dizer então de um artista que conseguiu, com sua simplicidade genial, fazer as tristezas parecerem pequenas, esquecidas no escuro de uma sala de cinema, e que nos devolveu a alegria por meio de enormes e incontroláveis gargalhadas, daquelas das boas mesmo? Um artista que para além de suas limitações, para o bem e para o mal (e ao seu modo), fez da luz na tela prateada um espelho de sua época, mostrando, sem medo e sem vergonha, a alma do cidadão brasileiro em suas mais diversas facetas: o pobre trabalhador, o desempregado honesto, o torcedor fanático, o cangaceiro atrapalhado, o puritano atropelado pelo trem da juventude, o pai de família que envergonha o filho doutor pelo jeito simples, o pai de criação que não se importa com o fato de seu filho ser de outra cor, o herói por acaso, o protetor das crianças órfãs, o alvo de todas as chacotas, aquele que fica sem a mocinha no final, aquele que os espertos vão querer enganar e mesmo assim... Aquele que se dá bem, mesmo quando se dá mal. Um artista tido como semianalfabeto que foi dos primeiros a falar na tela sobre a reforma agrária, o machismo, o divórcio (quando isso era novidade), falou da liberação sexual, dos abusos do poder em vários níveis, do preconceito aos negros e às minorias, da revolta contra os vícios ancestrais da política e dos políticos, ridicularizados em seus filmes. Apesar disso tudo, já disseram que Mazzaropi é um artista simplório e simplista, se você já viu um de seus filmes, já viu todos, mas, o que pode parecer um insulto, se fez verdade endossada pelo próprio Mazzaropi. O que lhe importava em seu cinema era o jeito de mostrar como o homem comum podia sair das situações mais complicadas, brincar com o poder e, ainda, fazer rir. Se levarmos em consideração as multidões que compareciam religiosamente aos seus lançamentos, vale a máxima popular Em time que está ganhando não se mexe, mas há muito para entender em como este mais do mesmo pôde continuar ganhando por três décadas consecutivas. Acima de tantos tipos que criou para si, há aquele que é como um emblema, um ícone que o imortalizou: o ingênuo e doce caipira, porém, a seu jeito, esperto e justo: o Jeca! Não importava o que ele fizesse, ou deixasse de fazer. Não havia como evitar o riso. E o riso só aumentava com seu jeito de andar, de falar, de desafiar o poder de uma forma inventiva, matreira, astuta. Talvez por ter interpretado este povo de uma forma tão despojada é que ele tenha sido tão mal-entendido e tão pouco reconhecido pelos críticos de plantão e pela alta classe dominante, que sempre cobraram de Mazzaropi relevância, discurso, engajamento e o culparam por realizar uma obra escapista, de fuga da realidade. Ora, senhores, o que e qual é a essência do cinema, se não esta? Nos deslocar da realidade para lugares nunca antes navegados, lugares melhores, mais justos, lugares que não existem!?! Cinema é válvula de escape. Ritual individual, primitivo, ilusório e cujas obras são feitas para pensar ou (sim, senhor!) evitar pensar em qualquer coisa. Resta a escolha entre as diferenças de necessidades. A massa quer o quê? Como ele mesmo falava dos detratores, cada um deveria contribuir de sua maneira e fazer a sua parte pelo País: Eu não me meto em política... Eles que têm que resolver... Pra isso deputado ganha, senador ganha e presidente ganha... Educar o povo é problema do Ministério da Educação... Eu tenho é que fazer rir. No entanto, esperar que coubesse a um comediante a educação do povo enquanto aos governantes couberam as trapalhadas, é no mínimo uma inversão de papéis infeliz e um sintoma de que a chamada intelligentzia não era assim tão inteligente o quanto se podia supor. Ao mesmo tempo não deixa de ser uma contradição da elite cobrar de Mazzaropi uma mensagem complexa, cheia de símbolos e signos que ele não dominava na teoria, mas os transmitia com perfeição, na prática. Eu não sei o que eles querem realmente, ou talvez eu saiba, mas não posso contentar a crítica e o povo. Porque a crítica pensa de um jeito e o povo pensa de outro. Quem rotula Mazzaropi de piegas, não entende que é exatamente na origem e tradição das primeiras companhias teatrais ítalo-brasileiras que se encontram todos os elementos dessa dita pieguice. Um filme de Mazzaropi não é mais piegas que qualquer capítulo de qualquer novela da TV, outro fenômeno tradicional de massa de nosso povo. Para surpresa daqueles que o acusavam de alienado, nos anos 60, por exemplo, assistiu a todos os espetáculos do famoso Teatro de Arena na fase mais política e criativa do grupo e chegou a pedir roteiros para Gianfrancesco Guarnieri. Teve, ainda, a coragem de vir a público com uma declaração bombástica sobre a anistia política, um assunto delicado e dolorido naqueles anos sombrios de ditadura: Por mim soltava todo mundo. O sujeito tem uma razão para praticar alguma coisa... Pra mim vou lá na penitenciária e solto todo mundo. Abro a porta e solto todos. É o meu temperamento. Eu não mato nem galinha. Deus me deu uma profissão muito boa que é fazer rir. E finaliza sem meio-termo: Eu quero o país assim, sem o sujeito temer sair de casa e não voltar. Ele era o povo na tela. E o povo na vida real o compreendia, se reconhecia nele e correspondia à altura. Sua arma: a simplicidade; Seu discurso: o riso. Passaram políticas e políticos, modas e moedas, passaram intelectuais, “cri-críticos” e críticas. Mazzaropi ficou! Este caso de amor entre o artista e o seu público renderia ao todo trinta e dois filmes e nenhum fracasso. Vinte e quatro destes filmes foram produzidos pelo próprio Mazzaropi. Nenhum deles com público abaixo da casa dos 2 ou 3 milhões de pagantes, isto em uma época em que o Brasil tinha uma população muito menor, os meios de comunicação e difusão não eram tão desenvolvidos, não existia a internet, e a TV ainda era um luxo de poucos. Como bem definiu o crítico Paulo Emílio Salles Gomes, convertido em fã tardio do caipira: O melhor de seus filmes é simplesmente ele próprio. Uma combinação explosiva e feliz de um rosto engraçado, um corpo com trejeitos bem característicos, dono de um timing perfeito, dominava como poucos o tempo certo da piada, uma voz única, com um timbre inconfundível que ora transmitia uma emoção brejeira ao cantar seus números populares, romântico-sertanejos e em outros momentos podia ir da ingenuidade à malícia em questão de segundos. Tudo de uma maneira que só ele era capaz. Mazzaropi foi uma marca registrada, um estilo que pertenceu ao próprio Amácio Mazzaropi e embora tenha tido centenas de imitadores anônimos, não encontrou seguidores ou mesmo outro artista-solo em seu segmento que se iguale a ele. Se ontem representou um sucesso fenomenal, hoje, historicamente, Mazzaropi passa a ser um exemplo feliz (e infelizmente isolado) de uma indústria do cinema nacional viável, como pode provar a longevidade de sua obra em novas mídias e a lembrança de seu nome na boca das pessoas nas ruas, mais uma vez contrariando aqueles que enxergam o Brasil como o país de um povo sem memória. As reprises dos filmes de Mazzaropi no cinema, na TV, em vídeo, DVD, etc., e o ótimo retorno de público que seus filmes continuaram tendo ao longo dos anos e mesmo após décadas de sua morte são a prova. O que entendo por cultura popular? As raízes do povo brasileiro. Assim, negar o caipira brasileiro é negar a própria raiz. Acho que cultura é justamente não esquecer o passado, não esquecer nossas tradições... O meu público está comigo há mais de quarenta anos e não me larga. Quer dizer que ele me entende. Agora, se para alguns lhes parece caro o estudo da obra, estudar o alcance desta obra, isto sim, é fundamental para entender o porquê de Mazzaropi estar enraizado em nossa cultura, é por aí que seu resgate faz-se necessário. Seu exemplo está vivo, para que possa ser refletido, entendido e praticado pelos realizadores e produtores culturais de hoje em dia, ansiosos pelo sucesso e reconhecimento junto às massas. A lição que ele nos deixa é maior, mas pode se resumir em uma frase: Não se subestima o gosto do povão. Para matar a saudade daqueles que tiveram o privilégio de conhecer seus filmes em outras épocas e também para tornar acessíveis para as novas e futuras gerações e conservar a memória da vida e obra deste artista é que me sinto honrado em poder contribuir com este livro da Coleção Aplauso. É um dever cívico fundamental mantermos viva a memória daqueles que criaram os caminhos artísticos que nos trouxeram até aqui. Preservar a arte e a memória é a arma que temos para honrar o presente da vida. E como a própria arte: Lutar sobre o tempo E contra a morte. Salve (salvem!) o cinema popular brasileiro! Paulo Duarte Tudo o que eu faço é em função do cinema brasileiro! Amácio Mazzaropi Que Fim Levou o Império de Mazzaropi? Eu não criei nenhum império de cinema. Apenas criei condições para poder trabalhar sem depender de ninguém. Quando eu morrer, isso tudo vai ficar para o cinema nacional. Essa é uma das histórias que mais provocam a curiosidade dos que visitam os antigos estúdios da PAM Filmes, em Taubaté (SP), onde hoje existem o museu e o hotel que levam o seu nome. Mazzaropi sabia que tinha construído um império e que o soberano era ele, só ele. Não deixou sucessores. De origem modesta e hábitos simples, o que ganhava investia em sua arte. O respeitável conjunto de bens que acumulou tinha uma ligação direta com o fazer cinema: as melhores câmeras de filmar, modernos equipamentos de áudio e iluminação, um dos maiores estúdios de cinema da época, com toda a estrutura para hospedar atores, diretores e equipe completa de produção; oficinas e marcenaria para construir cenários. Tudo isso, depois de sua morte, virou um punhado de coisas desconexas, insuficientes para se fazer cinema. Mazzaropi morreu em 1981, aos 69 anos, e deixou importantes referências para pensarmos sobre hábitos, cultura e cinema como arte, indústria e desenvolvimento. Começou aos 14 anos mambembando pelos circos. Ganhou fama no teatro, depois no rádio, inaugurou a TV brasileira e, quando estreou no cinema, já era bastante conhecido e beirava os quarenta anos. Em 29 anos de carreira no cinema, fez 32 filmes (mais de um filme por ano!), sendo 24 por sua produtora, a PAM Filmes – Produções Amácio Mazzaropi. Foi um dos poucos a criar uma indústria cinematográfica totalmente independente, sem nenhum recurso público, financiamento, subsídio, empréstimo ou investidores. O dinheiro para começar a fazer seus filmes veio das economias de anos de trabalho como ator e empresário de si mesmo. Depois do sucesso do primeiro filme pela PAM Filmes, a estratégia era simples (só aparentemente): com a renda de um filme, fazia outro novo. Todo mundo inteligente já falou do caipira; eu filmei o caipira. Mas, se balançarmos o bolso, o dinheiro tá no meu. O sucesso era questão de vida ou morte. Então, em primeiro lugar, o filme: o assunto, o jeito de contar a história, técnicos de primeira e, obviamente, a presença do ator Mazzaropi com sua experiência em capturar plateias de todas as idades. Fazia filmes para levar a família ao cinema, fato raro no cinema nacional e fator multiplicador no resultado da bilheteria. Era essa a base da receita para o sucesso. Em segundo lugar, vinham as ações de divulgação e distribuição. Do lançamento badalado em São Paulo até o filme ser exibido pelos quatro cantos do País, era tudo controlado pela PAM Filmes visando assegurar que a parte rentável do sucesso chegasse de fato às suas mãos. Lançava um filme por ano, sempre em datas festivas. Quando não era 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, era 7 de setembro. Habituou o público a esperar pelo próximo filme e conseguia manter a expectativa por longo tempo, o suficiente para se espalhar no boca a boca, maneira boa de se divulgar, eficiente e barata, possível naquela época em que os filmes tinham vida mais longa do que hoje. Vinte cópias do filme, em um ano, cobriam quase todos os cinemas do País. As filas dobrando as esquinas viravam o acontecimento social da cidade e marca registrada do artista. Cada filme atingia dois, três, seis mi- lhões de espectadores. Belos números por cópia. Como também cuidava da distribuição, Mazzaropi contava com a figura do fiscal. Eram os fiscais que levavam as latas dos filmes às salas de cinema e tinham a árdua incumbência de controlar a bilheteria. Colados à roleta, marcavam cada entrada em seus contadores manuais. O dono do cinema suportava a presença do fiscal porque, afinal, era filme do Mazzaropi! E isso era sinônimo de casa cheia e festa. Mazzaropi sabia capturar a plateia e, por tabela, o dono do cinema. Para Carlos Góes, em seu Dicionário de Raízes e Cognatos: o radical cap significa palma da mão, raiz hebraica que do grego para o latim derivou capio, capere – agarrar, empalmar; derivando-se ainda em captar, captivo, captura. Nessa captura, ele oferecia ao espectador, em troca, a possibilidade de se identificar com o personagem-título Mazzaropi e viver variadas experiências: da catarse, daquilo que temos de mais remoto e profundo dentro de nós. Era impressionante a capacidade que tinha de entreter o público e entendê-lo. Seus filmes tratam, quase sempre, de uma luta do dominado contra o dominador. E, diferentemente do que acontecia em boa parte do cinema da época, o cinema de Mazzaropi, embora político, não se engajava no tipo de luta política de uma certa parcela da elite intelectual. Mazzaropi também acumulava duas qualidades que, juntas, geralmente não são bem vistas: era artista e empreendedor. Uma velha ideia preconceituosa inculcou que arte, cultura e dinheiro não se misturam. Mazzaropi, ao fazer um cinema independente e, ainda mais, bem-sucedido, não era simpático a uma parcela da classe dominante. Cineastas com acesso aos subsídios para seus filmes não tinham muito que se preocupar com renda de bilheteria. Acostumados a fazer cinema olhando de cima, da cobertura, acabaram misturando duas ideias em prejuízo da segunda: filme e cinema. Precisamos das duas coisas. O Brasil fez e faz bons filmes, mas, para alegria das empresas internacionais de cinema e entretenimento, ainda apanha ao fazer cinema. Do império de Mazzaropi, que uma vez ao ano contra-atacava o império do cinema estrangeiro, ficaram, depois de sua morte, os equipamentos que, lei- loados, ainda hoje estão em uso. O estúdio ficou abandonado até que um velho conhecido resolveu comprá-lo dos herdeiros. Além de criar o museu em sua homenagem, recuperou o uso do espaço como hotel, como pretendia o artista. Mas desse império nasce também a possibilidade de se pensar sobre o presente e o futuro, sobre o que um dia já deu certo. Cláudio Marques Instituto Mazzaropi – Taubaté Conte minha verdadeira história, a história de um cara que sempre acreditou no cinema nacional e que, mais cedo do que todos pensam, pôde construir a indústria do cinema no Brasil. A história de um ator bom ou mau que sempre manteve cheios os cinemas. Que nunca dependeu do INC – Instituto Nacional do Cinema – para fazer um filme. Que nunca recebeu uma crítica construtiva da crítica cinematográfica especializada – crítica que se diz intelectual. Crítica que aplaude um cinema cheio de símbolos, enrolado, complicado, pretensioso, mas sem público. A história de um cara que pensa em fazer cinema apenas para divertir o público, por acreditar que cinema é diversão, e seus filmes nunca pretenderam mais do que isso. Enfim, a história de um cara que nunca deixou a peteca cair. Amácio Mazzaropi Trecho de entrevista a Armando Salem, revista Veja, 28 de janeiro de 1970 A História Era uma vez... um circo. Nem pobre, nem rico... apenas, um circo de passagem por uma cidade do interior do Brasil, no fim dos anos 70... Lá fora, a multidão inquieta. Gente comum, gente do povo. A roupa melhorzinha, o prefume barato, as garotas de saia rodada de rendinha. O cheiro de pipoca, o gosto do algodão-doce e um beijo com sabor de maçã do amor. Um velho bêbado gritando coisas sem nexo, rapazes soltando palavrões bobos e rindo da molecagem. Mas quem toma xingo mesmo é o prefeito e a primeira-dama, sentados lá na frente a acenar para os eleitores. Em um canto, jovens senhoras prestando atenção em qualquer movimento, crianças correndo. Negros, brancos, japoneses, portugueses, italianos, maridos, mulheres, amantes... Até o vigário veio ver. Gente de toda cor, raça, credo ensaiando um sorriso, mesmo que contido. Uma ansiedade no ar, uma euforia, dessas que a gente não explica direito, mas que só aumenta com a espera. Dentro de um camarim improvisado, ele aguarda o momento de entrar no palco. Embora centenas de pessoas queiram lhe falar, tocar, pedir autógrafos, ele precisa de um momento sozinho e sua vontade é respeitada. Como em um ritual repetido há anos, é essencial esse momento de concentração, de isolamento. Naquele dia, ele estava especialmente introspectivo, quieto. Era como se guardasse toda a energia possível para o momento de entrar no picadeiro. Alguns minutos depois, vai para atrás das cortinas. A luz do circo se apaga, a multidão grita e urra. Então, uma voz ao microfone anuncia: Senhoras e Senhores! Respeitável Público... com vocês... o Rei do Riso, do Cinema, do Rádio, da TV e do Circo... Mazzaropi!!! As luzes se acendem e ele entra quieto, dirigindo-se para o centro do picadeiro. Por alguns instantes, a multidão é cúmplice em seu silêncio. Ele para, olha fixamente para um ponto ao longe, distante. Não move um músculo – nem um riso, nenhum sinal, nenhuma palavra. Fica lá, parado. Alguns instantes e a cumplicidade é quebrada por um riso aqui, outro ali. De repente, a turba sonora se multiplica em ondas de risos, centenas de gargalhadas formando um som contagiante, único, a própria alegria materializada em forma de gente. Aquele som simboliza a reação humana mais gratificante: a felicidade. Um som familiar há tanto tempo, uma reação que ele despertava sem precisar de esforço algum, justificável por sua simples presença, como se fosse um instrumento a serviço da alegria. Um dom incontestável ser capaz de provocar esta emoção e, ao mesmo tempo, um privilégio que poucos artistas conseguem alcançar: ser aceito sem restrições naquele momento de amor entre público e ídolo! Como quem confessa pra si mesmo, tão longe quanto podia lembrar, o que ele sempre quis foi provocar este som e estar no ponto mais privilegiado para ver e ouvir esta reação. Um lugar sagrado para todo artista: de frente para o seu público cuja fidelidade jamais foi posta em dúvida. Seu público. Que nunca o abandonou. E foi de frente para o público que, naquela noite, aquelas risadas se misturaram a outras e outras e outras, de há muito tempo. Em sua cabeça, era como se naquele instante ele pudesse parar o tempo e passear com seu jeito matreiro por seu próprio presente, passado e futuro. E não é que o tempo parou realmente para que ele lembrasse de sua história? É esta história, eternizada em um universo de alegria, que vai ser contada agora. Por isso, sorria sem vergonha alguma, pois o sorriso é o seu bilhete para embarcar nesta viagem! Meu público é o Brasil. (Mazzaropi) Mazza e a Ma$$a Um Caipira no Divã Na vida e na arte, tudo o que nos eleva é sagrado. Nós, brasileiros, vivemos em um país múltiplo, trópico rico e agigantado por sua própria natureza social, geográfica e cultural. Feito por pessoas simples, sofridas, surgidas de uma mistura de raças, cores, crenças... Moldado no sacrifício diário de gente humilde, que mesmo diante das maiores adversidades não nega, às tristezas, um sorriso... E segue em frente mantendo a dignidade e buscando um amanhã melhor, com a fé inabalável de que ele virá e, enquanto espera, luta. Só quer ser feliz. Mesmo que o momento de felicidade dure só um pouquinho. Dure o tempo de uma piada, de uma canção, o tempo de um filme. O que dizer então de um artista que conseguiu, com sua simplicidade genial, fazer as tristezas parecerem pequenas, esquecidas no escuro de uma sala de cinema, e que nos devolveu a alegria por meio de enormes e incontroláveis gargalhadas, daquelas das boas mesmo? Um artista que para além de suas limitações, para o bem e para o mal (e ao seu modo), fez da luz na tela prateada um espelho de sua época, mostrando, sem medo e sem vergonha, a alma do cidadão brasileiro em suas mais diversas facetas: o pobre trabalhador, o desempregado honesto, o torcedor fanático, o cangaceiro atrapalhado, o puritano atropelado pelo trem da juventude, o pai de família que envergonha o filho doutor pelo jeito simples, o pai de criação que não se importa com o fato de seu filho ser de outra cor, o herói por acaso, o protetor das crianças órfãs, o alvo de todas as chacotas, aquele que fica sem a mocinha no final, aquele que os espertos vão querer enganar e mesmo assim... Aquele que se dá bem, mesmo quando se dá mal. Um artista tido como semianalfabeto que foi dos primeiros a falar na tela sobre a reforma agrária, o machismo, o divórcio (quando isso era novidade), falou da liberação sexual, dos abusos do poder em vários níveis, do preconceito aos negros e às minorias, da revolta contra os vícios ancestrais da política e dos políticos, ridicularizados em seus filmes. Apesar disso tudo, já disseram que Mazzaropi é um artista simplório e simplista, se você já viu um de seus filmes, já viu todos, mas, o que pode parecer um insulto, se fez verdade endossada pelo próprio Mazzaropi. O que lhe importava em seu cinema era o jeito de mostrar como o homem comum podia sair das situações mais complicadas, brincar com o poder e, ainda, fazer rir. Se levarmos em consideração as multidões que compareciam religiosamente aos seus lançamentos, vale a máxima popular Em time que está ganhando não se mexe, mas há muito para entender em como este mais do mesmo pôde continuar ganhando por três décadas consecutivas. Acima de tantos tipos que criou para si, há aquele que é como um emblema, um ícone que o imortalizou: o ingênuo e doce caipira, porém, a seu jeito, esperto e justo: o Jeca! Não importava o que ele fizesse, ou deixasse de fazer. Não havia como evitar o riso. E o riso só aumentava com seu jeito de andar, de falar, de desafiar o poder de uma forma inventiva, matreira, astuta. Talvez por ter interpretado este povo de uma forma tão despojada é que ele tenha sido tão mal-entendido e tão pouco reconhecido pelos críticos de plantão e pela alta classe dominante, que sempre cobraram de Mazzaropi relevância, discurso, engajamento e o culparam por realizar uma obra escapista, de fuga da realidade. Ora, senhores, o que e qual é a essência do cinema, se não esta? Nos deslocar da realidade para lugares nunca antes navegados, lugares melhores, mais justos, lugares que não existem!?! Cinema é válvula de escape. Ritual individual, primitivo, ilusório e cujas obras são feitas para pensar ou (sim, senhor!) evitar pensar em qualquer coisa. Resta a escolha entre as diferenças de necessidades. A massa quer o quê? Como ele mesmo falava dos detratores, cada um deveria contribuir de sua maneira e fazer a sua parte pelo País: Eu não me meto em política... Eles que têm que resolver... Pra isso deputado ganha, senador ganha e presidente ganha... Educar o povo é problema do Ministério da Educação... Eu tenho é que fazer rir. No entanto, esperar que coubesse a um comediante a educação do povo enquanto aos governantes couberam as trapalhadas, é no mínimo uma inversão de papéis infeliz e um sintoma de que a chamada intelligentzia não era assim tão inteligente o quanto se podia supor. Ao mesmo tempo não deixa de ser uma contradição da elite cobrar de Mazzaropi uma mensagem complexa, cheia de símbolos e signos que ele não dominava na teoria, mas os transmitia com perfeição, na prática. Eu não sei o que eles querem realmente, ou talvez eu saiba, mas não posso contentar a crítica e o povo. Porque a crítica pensa de um jeito e o povo pensa de outro. Quem rotula Mazzaropi de piegas, não entende que é exatamente na origem e tradição das primeiras companhias teatrais ítalo-brasileiras que se encontram todos os elementos dessa dita pieguice. Um filme de Mazzaropi não é mais piegas que qualquer capítulo de qualquer novela da TV, outro fenômeno tradicional de massa de nosso povo. Para surpresa daqueles que o acusavam de alienado, nos anos 60, por exemplo, assistiu a todos os espetáculos do famoso Teatro de Arena na fase mais política e criativa do grupo e chegou a pedir roteiros para Gianfrancesco Guarnieri. Teve, ainda, a coragem de vir a público com uma declaração bombástica sobre a anistia política, um assunto delicado e dolorido naqueles anos sombrios de ditadura: Por mim soltava todo mundo. O sujeito tem uma razão para praticar alguma coisa... Pra mim vou lá na penitenciária e solto todo mundo. Abro a porta e solto todos. É o meu temperamento. Eu não mato nem galinha. Deus me deu uma profissão muito boa que é fazer rir. E finaliza sem meio-termo: Eu quero o país assim, sem o sujeito temer sair de casa e não voltar. Ele era o povo na tela. E o povo na vida real o compreendia, se reconhecia nele e correspondia à altura. Sua arma: a simplicidade; Seu discurso: o riso. Passaram políticas e políticos, modas e moedas, passaram intelectuais, “cri-críticos” e críticas. Mazzaropi ficou! Este caso de amor entre o artista e o seu público renderia ao todo trinta e dois filmes e nenhum fracasso. Vinte e quatro destes filmes foram produzidos pelo próprio Mazzaropi. Nenhum deles com público abaixo da casa dos 2 ou 3 milhões de pagantes, isto em uma época em que o Brasil tinha uma população muito menor, os meios de comunicação e difusão não eram tão desenvolvidos, não existia a internet, e a TV ainda era um luxo de poucos. Como bem definiu o crítico Paulo Emílio Salles Gomes, convertido em fã tardio do caipira: O melhor de seus filmes é simplesmente ele próprio. Uma combinação explosiva e feliz de um rosto engraçado, um corpo com trejeitos bem característicos, dono de um timing perfeito, dominava como poucos o tempo certo da piada, uma voz única, com um timbre inconfundível que ora transmitia uma emoção brejeira ao cantar seus números populares, romântico-sertanejos e em outros momentos podia ir da ingenuidade à malícia em questão de segundos. Tudo de uma maneira que só ele era capaz. Mazzaropi foi uma marca registrada, um estilo que pertenceu ao próprio Amácio Mazzaropi e embora tenha tido centenas de imitadores anônimos, não encontrou seguidores ou mesmo outro artista-solo em seu segmento que se iguale a ele. Se ontem representou um sucesso fenomenal, hoje, historicamente, Mazzaropi passa a ser um exemplo feliz (e infelizmente isolado) de uma indústria do cinema nacional viável, como pode provar a longevidade de sua obra em novas mídias e a lembrança de seu nome na boca das pessoas nas ruas, mais uma vez contrariando aqueles que enxergam o Brasil como o país de um povo sem memória. As reprises dos filmes de Mazzaropi no cinema, na TV, em vídeo, DVD, etc., e o ótimo retorno de público que seus filmes continuaram tendo ao longo dos anos e mesmo após décadas de sua morte são a prova. O que entendo por cultura popular? As raízes do povo brasileiro. Assim, negar o caipira brasileiro é negar a própria raiz. Acho que cultura é justamente não esquecer o passado, não esquecer nossas tradições... O meu público está comigo há mais de quarenta anos e não me larga. Quer dizer que ele me entende. Agora, se para alguns lhes parece caro o estudo da obra, estudar o alcance desta obra, isto sim, é fundamental para entender o porquê de Mazzaropi estar enraizado em nossa cultura, é por aí que seu resgate faz-se necessário. Seu exemplo está vivo, para que possa ser refletido, entendido e praticado pelos realizadores e produtores culturais de hoje em dia, ansiosos pelo sucesso e reconhecimento junto às massas. A lição que ele nos deixa é maior, mas pode se resumir em uma frase: Não se subestima o gosto do povão. Para matar a saudade daqueles que tiveram o privilégio de conhecer seus filmes em outras épocas e também para tornar acessíveis para as novas e futuras gerações e conservar a memória da vida e obra deste artista é que me sinto honrado em poder contribuir com este livro da Coleção Aplauso. É um dever cívico fundamental mantermos viva a memória daqueles que criaram os caminhos artísticos que nos trouxeram até aqui. Preservar a arte e a memória é a arma que temos para honrar o presente da vida. E como a própria arte: Lutar sobre o tempo E contra a morte. Salve (salvem!) o cinema popular brasileiro! Paulo Duarte As Raízes Amazzio Mazzaropi era casado com Ana Mazzaropi, os dois imigrantes italianos, naturais de Nápoles. Chegaram ao Brasil em 1900, ao lado dos filhos Bernardo e Domingos, como tantos outros imigrantes vindos de várias partes do mundo no fim do século 19 e início do século 20, carregando em suas malas sonhos de progresso, trabalho e a busca por uma vida próspera e feliz na nova terra. Passaram por São Paulo trabalhando na agricultura em Dourado, mas acabaram seguindo para o Paraná, onde se estabeleceram como comerciantes em Curitiba – a loja da família ficava na Rua Quinze de Novembro. Um pouco antes, por volta de 1890, com os mesmos desejos e sonhos por uma vida mais digna, haviam chegado ao Brasil os portugueses, naturais de Ponta do Sol, João José Ferreira e Maria Pitta Ferreira. Pais de uma grande família, como era comum à época em uma região rural, onde os pais necessitam dos filhos para ajudar na lida, a prole era formada por Clara, que nasceu dois anos após desembarcarem no Brasil, a 12 de agosto de 1892, Cecília, Maria das Dores, Lúcia, Francisco Lucas, João Francisco e José Benedito. Os Ferreira foram morar no bairro do Guedes, na cidade de Tremembé, muito próxima de Taubaté, em São Paulo. A exemplo do fluxo intenso de imigração para o Brasil, havia naquele período, dentro do País, o início do deslocamento progressivo das áreas rurais para os centros urbanos. Clara faria esse caminho e seguiria para São Paulo para trabalhar como doméstica. Lá, conheceria o jovem Bernardo Mazzaropi, filho de Amazzio e Ana, que já trabalhava como chofer de praça (não à toa, título do primeiro filme que o filho Amácio viria a produzir por conta própria, anos mais tarde). Bernardo era um rapaz elegante, apaixonado pelos prazeres da vida paulista e que também trabalhava como ambulante, fazendo viagens pelo interior do Estado para vender tecidos de casimira, entre outras mercadorias, a exemplo dos pais em Curitiba. O charme de Bernardo foi irresistível para a jovem Clara, cuja personalidade, embora forte e determinada, era mais contida. O romance com a garota mudaria significativamente o comportamento, muitas vezes inconsequente, do rapaz. Os jovens se uniram. Dessa união nasceria, dia 9 de abril de 1912, em uma humilde casa localizada na Rua Victorino Carmilo, 5, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, seu primeiro e único filho, batizado na igreja do bairro com o nome aportuguesado do avô: Amácio Mazzaropi. Desde criança eu já tinha mania de ser artista. Em 1914, a família Mazzaropi, pressionada por grandes dificuldades financeiras, mudaria de São Paulo para Taubaté, indo viver em uma casa simples localizada na Rua Américo. Para garantir a sobrevivência da mulher e do filho, Bernardo conseguiu trabalho como operário na Indústria de Tecido CTI – Companhia Taubaté Industrial, uma das grandes responsáveis pela geração de empregos na região. Dona Clara, por um bom tempo, dedicou-se exclusivamente ao lar e ao filho, mas logo passou a preparar pães para vender na porta da fábrica. Bernardo era boêmio, gastava mais do que ganhava e, não raro, se endividava para pôr em prática planos mirabolantes que lhe dessem dinheiro fácil. Como esses planos nunca davam certo, a salvação vinha da mulher que tinha sempre os pés no chão. Dona Clara iria trabalhar na mesma fábrica que o marido em 1916 e a infância do pequeno Amácio se dividiria entre Taubaté, Tremembé, São Paulo e uma ou outra viagem à casa dos avós paternos em Curitiba. Mazzaropi era o típico filho único, uma criança mimada pelos avós e pais, principalmente pela mãe, cuja presença e influência seriam fundamentais em toda a sua vida. Não chegou a ser uma criança irritante, embora fosse genioso e, com o passar do tempo, genial. Esse carinho da família talvez explique sua necessidade de estar, o tempo todo, no centro das atenções. Em 1918, para poder se dedicar ainda mais ao trabalho, Dona Clara decidiu deixar o filho, então com seis anos, sob a guarda dos avós em Tremembé. O pequeno Amácio guardaria dessa época lembranças preciosas, principalmente do contato direto com o avô português, João José Ferreira. O avô caboclão, de calça no tornozelo e botas à mostra, seria, provavelmente, a primeira figura caipira com quem Mazzaropi estabeleceria uma real proximidade, funcionando como sua verdadeira fonte de inspiração. João José Ferreira era um tocador de viola dos bons, dançarino de cana-verde e figura conhecida na região por animar as festas na roça. Logo, começou a carregar Amácio e seu primo, Vitório Lazzarini, o outro neto, para onde quer que fosse. Por volta de 1918, por conta das festividades de inauguração da Estação da Central do Brasil em Tremembé, o avô se apresenta para o público presente com modas de viola e um repertório de causos que prendem a atenção de todos, principalmente do pequeno neto Amácio, completamente extasiado com a reação da plateia. A experiência de ver alguém tão próximo em um palco, cantando, tocando, prendendo a atenção do público, faria com que os olhos da criança brilhassem pela primeira vez em sua vida, fundando as bases para suas futuras aspirações. No ano seguinte, Bernardo e Clara resolveram tentar a sorte mais uma vez em São Paulo, onde encontraram moradia no Largo São José do Belém, no bairro do Belenzinho. Amácio começou a estudar, então, no Grupo Escolar São José do Belém e, embora bom aluno, o garotinho franzino era considerado pelos professores um tanto preguiçoso, tanto que se destacaria mais nas atividades voltadas às artes – poesia, literatura e, como não podia deixar de ser, às peças de teatro improvisadas na escola. Amácio Mazzaropi já apresentava, desde cedo, uma vontade natural de aparecer, de chamar a atenção. Suas brincadeiras favoritas já exibiam sinais das escolhas futuras: fazia teatrinhos ou cirquinhos improvisados com os lençóis de Dona Clara, ou cantava nas ruas quando ajudava a mãe a vender os pães. Ao associar a venda de pães a um showzinho, o artista mirim já começava a aliar o tino comercial às manifestações artísticas. Apesar de o trabalho ser uma constante na rotina da família Mazzaropi, seus pais queriam um futuro promissor para o filho em alguma profissão de prestígio e nunca pouparam esforços para mantê-lo na escola. A verdade, no entanto, é que a dita preguiça pelos estudos constituía um reflexo de outras vontades que viriam a aflorar cada vez mais rápido. Em muito pouco tempo, o rapaz demonstraria que suas aptidões não cumpririam à risca o desejo dos pais quanto a seguir uma carreira comum. Mas, nem por isto, o destino lhe reservaria uma trajetória menos brilhante, mas de início tortuosa. Fruto de centenas de horas e mais horas dedicadas à leitura obsessiva de textos como o livro Lira Teatral, o caipira aparece na vida de Amácio Mazzaropi mais uma vez por meio de uma apresentação na escola (o Ginásio Washington Luís) do monólogo Chico. Mazzaropi é ovacionado pelos colegas e professores e seu entusiasmo aumenta mais ainda. Foi da mãe, afinal, que herdou – e apurou – a força empreendedora, sua maior característica empresarial. Em 1922, com a morte do avô, os Mazzaropi retornaram para Taubaté e para o trabalho na CTI e em um boteco montado na frente da casa da Rua América. O garoto começa a frequentar os circos que passam pela cidade e, como não esconde sua vontade de se tornar ator circense, os pais, contrários à ideia, o mandam para a casa do tio Domingos Mazzaropi, em Curitiba, onde Amácio começa a trabalhar como caixeiro na loja da família na rua XV de Novembro. Desde criança eu já tinha mania de ser artista. Queria andar no arame, fazer tudo que via no circo. Em Curitiba, eu já media casimira fazendo pose! Vendi, imaginando uma câmara na frente! Tinha isso no sangue... Com o Pé no Mundo De volta a São Paulo, os pais incentivam o filho a trocar a ideia de ser ator por alguma outra profissão até mesmo ligada às artes, mas que supostamente apresentasse menos risco para um garoto que, até então, nunca havia saído de sua proteção. Bernardo e Clara diziam: Quem faz teatro morre de fome em cima do palco. É nesse momento que a pintura surge na vida de Amácio e ele aproveita a chance dedicando-se aos pincéis com garra – chegou a pintar vários quadros de paisagens clássicas, fato que lembraria anos depois. Sou um conservador, prefiro a pintura clássica. Principalmente, os quadros que têm paisagens, talvez por me fazerem lembrar o campo, o contato com a natureza. O que os pais do garoto não imaginavam, no entanto, é que, exatamente por conta das aulas de pintura, Amácio acabasse tendo contato com os circos do Largo Santa Cruz, onde passava a maior parte de seu tempo. Aos poucos, trocaria as telas clássicas pelos cenários dos circos e teatros. Amácio Mazzaropi havia mesmo nascido para ser artista, não havia mais dúvidas, e aquela ideia fixa ia se enraizando, tomando forças para se concretizar. Foi assim que, em 1926, o garoto, já então com 14 anos, viria a conhecer um personagem que lhe forneceria o passaporte para a vida artística e o mundo adulto. Ferrys era um famoso faquir que se apresentava no Circo La Paz e que, entre uma conversa e outra, convidou-o para ser seu assistente. Amácio, por ser menor, não poderia seguir com o circo. Então, um documento falso logo foi providenciado pelo faquir e, de um dia para o outro, o garoto passou a ostentar oficialmente 19 anos e, assim, pôs o pé na estrada, contrariando pai e mãe. Amácio se desdobrava no circo alternando suas atividades no picadeiro com tudo o que pudesse fazer: pintava cenários, ajudava na administração, aprendia truques. Enfim, fazia daquele lugar a sua verdadeira escola. Ali, não havia preguiça, mas sim, vontade de aprender tudo o que estivesse ao seu alcance. O salário que recebia não era proporcional ao número de atividades que lhe cabiam, mas tudo começou a mudar quando Dona Rosa, a dona do circo, permitiu ao garoto que, além da assistência ao faquir, entrasse no picadeiro entre uma apresentação e outra do artista, para contar piadas de duplo sentido, cantar modinhas, fazer imitações e começar um diálogo com o público que moldaria sua performance e, com o passar dos anos, lapidaria sua arte. Nascia naquele picadeiro, oficialmente, um novo artista que, com o tempo, atingiria tal estágio de sinergia com o público nunca visto em outros comediantes. Com 19 anos garantidos em documentos falsos, eu contava as anedotas e mostrava a espada do faquir para o público ver que ela cortava mesmo. E com o faquir deitando na espada, comendo copos, fomos viajando, seguindo o caminho da Central do Brasil. No circo, o rapazinho teria um segundo lar e uma segunda mãe, Dona Rosa, um anjo protetor que quase se transformaria em sogra: era mãe de Cotinha, sua namoradinha, um amor leve, passageiro e insuficiente para que ele conseguisse suportar a distância do lar e os maus-tratos naturais da vida mambembe. Estávamos então por volta de 1929 e, sem dinheiro, Mazza retorna para Taubaté e tenta se recompor tornando-se tecelão na CTI, com um ordenado de 4.720 réis por dia. Era um peixe-fora-d’água na fábrica, pois continuava sonhando com o palco. Talvez para não tirar o foco sobre sua carreira como artista, décadas mais tarde Mazzaropi renegaria essa passagem de sua vida, embora documentos encontrados recentemente provem seu registro de admissão como funcionário. Não é verdade que eu trabalhei numa fábrica daqui. Isso é coisa do povo. Eu nunca entrei nessa fábrica. Começa a década de 30 e, com a inquietude dos novos tempos, o jovem Mazza- ropi passa a vagar pela vida noturna da cidade de Taubaté, à margem da boêmia – em suas próprias palavras – mais como um observador. Com uma percepção extremamente aguçada, passava horas a fio olhando as pessoas na rua de sua cidade, como em um laboratório ao ar livre. Observava seus gestos, seu jeito de falar, de andar, de sorrir, absorvendo tudo à sua volta. Suas andanças tinham como cenário a Praça Central, o Bar do Alemão, o Café Ideal, o Bar Vitória, as saídas da igreja, as festinhas nas chácaras da cidade e o baile caipira do Clube Recreativo. Nesses primeiros anos da nova década, era um assíduo frequentador do Theatro Polytheama onde assistiu a apresentações que passou a guardar na memória: A Farsa de Gargalhadas, que marcaria a despedida de Piolim e Tom Bill, Ensaio e Comédia e Tristezas da Aristocracia. Ia aos circos também: o dos Irmãos Queirolo, o Circo de Berlim, o da família Seyssel. Nessas ocasiões, enchia-se de coragem e chegava-se em cada um dos atores, atrizes, diretores e técnicos dos espetáculos de passagem por Taubaté. Foi nesse período que começou a realizar algumas apresentações, interpretando um personagem caipiresco, um protótipo ainda tosco, necessitando de lapidação, do que os jornais locais definiam como “cômico caipira”. Um exemplo dessa época é o registro de uma apresentação de um espetáculo de variedades no Convento de Santa Marta, em julho de 1931, e seu trabalho como ator e diretor no salão paroquial do Externato Sagrado Coração de Maria, do Convento de Santa Clara, em Taubaté. Humor em Tempos de Guerra Após o golpe de 1930, Getúlio Vargas sobe ao poder e nomeia um interventor em São Paulo. Os paulistas, desgostosos e inconformados com a afronta, conclamam a convocação imediata da Constituinte. Vargas volta atrás, nomeia um novo interventor, desta vez, o paulista Pedro de Toledo, mas, em 1932, estoura a Revolução Constitucionalista em São Paulo. Taubaté teve um papel privilegiado nesse contexto, pois, ao invés de servir como palco sangrento da guerra, foi o palco literal onde os soldados constitucionalistas encontravam alegria em meio à luta. O chamado Bando Precatório. Escolhida para sede de entretenimento das tropas seria instalado ali o Theatro do Soldado com espetáculos os mais variados – desde sessões de cinema mudo a números musicais e literários. Como não poderia deixar de ser, toda a efervescência cultural que invadiu as terras de Taubaté naqueles dias representou uma resposta a tudo o que Mazza sonhava. E Cornélio Pires, que também se apresentou frente às tropas, foi, indiscutivelmente, um inspirador tanto para o artista quanto para o empresário Mazzaropi, uma vez que atuou com uma verve empreendedora e surpreendentemente visionária em várias frentes mercadológicas de sua época. Escritor, folclorista, jornalista, poeta e cantador, Cornélio Pires é considerado o maior pesquisador e o mais importante “ativista” do mundo caipira, no início do século 20. Conhecido pelo carinhoso título de “o bandeirante da música caipira”, desde 1914 organizava espetáculos pelo Interior de São Paulo – as Conferências Cornélio Pires – com o objetivo de divulgar a arte caipira e apresentar artistas sertanejos ao grande público. Usava, em suas apresentações, um chapeuzinho de palha, camisa xadrez, calça curta, sapatão e os dentes pintados com lápis crayon para que o povo o imaginasse sem os dentes da boca. Em 1929, gravaria, por conta própria, um disco com músicas e anedotas caipiras, com uma tiragem em torno dos 30 mil discos, números extremamente altos mesmo para artistas famosos. A Série Caipira Cornélio Pires vendeu, em apenas 20 dias, cinco mil discos e a iniciativa, pioneira, estimulou a divulgação desse tipo de música nos teatros ambulantes. Cornélio Pires foi o primeiro a dirigir e produzir filmes documentais de pesquisa caipira como Brasil Pitoresco, de 1923, e Vamos Passear, de 1934, focalizando cenas do folclore paulista e que é considerado o primeiro filme sonoro feito de maneira independente no Brasil. Em 1946, criou o Teatro Ambulante Cornélio Pires, uma trupe composta de dois carros, um com biblioteca e outro com discoteca, que percorria o interior paulista para apresentar-se em praças públicas. Antes de morrer, em 1958, Cornélio Pires viu o caminho que havia aberto transformar a música sertaneja em um fenômeno de aceitação popular. Teve ainda o prazer de assistir a um recital de música caipira no Teatro Municipal de São Paulo, templo e solo sagrado da música clássica. Com a chegada, na cidade, em outubro de 1932, da Trupe Carrara, Mazzaropi se ofereceu como voluntário na divulgação das apresentações, procurando uma chance de mostrar seu talento. Dedicou-se tanto à função que o velho Luiz Carrara, proprietário da trupe, resolveu dar ao jovem Amácio a tão sonhada chance. Sua estreia aconteceu na comédia de Baptista Machado, A Herança do Padre João, no papel de Eugênio Carvalho, apresentada no Cine Theatro Polytheama. Trabalhou também com a trupe na peça Capital. Mazzaropi tinha plena consciência de que aquela era a chance que tanto havia esperado e, portanto, não teve dificuldade alguma de se fazer notar no palco, chamando a atenção do público e da crítica. Desponta em Taubaté um talento genuinamente cômico – diriam dele. A Trupe Arruda Mazzaropi é mais antigo que o palhaço-caipira Veneno, que ainda percorre o interior na companhia de Dalila, a última vedete do mambembe. Ele é sociologicamente anterior ao Genésio Arruda dos anos 30 e mesmo ao Nhô Anastácio de 1908. Paulo Emílio Salles Gomes Paralelamente ao processo de imigração, acentuado principalmente pela Primeira Guerra Mundial, muitos artistas estrangeiros que chegaram ao Brasil criariam estilos dramatúrgicos voltados para as colônias – um dos mais marcantes foi o que se estabeleceu como a tradição ítalo-brasileira (Giovanne Italia). Faziam contraponto com a comédia de costumes brasileira, cujo apelo junto ao público atingiu seu ápice em São Paulo por meio de artistas como Genésio Arruda e seu irmão Sebastião Arruda. Por volta de 1900, contabilizava-se uma média de 70 grupos de teatro amador atuando em bairros paulistanos – Brás, Barra Funda, Bixiga, Mooca, Cambuci, Bom Retiro, Água Branca, Luz e Campos Elíseos, entre outros. Não raro, esses grupos disputavam espaço com companhias estrangeiras que também se apresentavam no Brasil atuando em seu idioma. Do cerne literário abordado por Valdomiro Silveira e Amadeu Amaral em São Paulo, e Afonso Arinos em Minas, a figura do caboclo passaria ao teatro nas criações de Arlindo Leal, Brício Filho, Joaquim Morse, João Pinho, Cesário Mota, José Piza (parceiro de Artur Azevedo em Capital Federal), Belmiro Braga e muitos outros, mantendo a princípio suas características humanistas, de simplicidade e amor à natureza, mas já esboçando traços cômicos em alguns momentos. O tom caricatural seria acrescido por contribuição de Cornélio Pires, o que significaria para alguns um certo esvaziamento do realismo do homem do campo em opção ao grotesco, mas foi a representação clara da contemporaneidade que afligia o crescimento das grandes cidades. Finda a Revolução de 1932, Mazzaropi passou a carregar a experiência da Trupe Carrara e um desejo renovado de seguir adiante com a carreira recém-iniciada. Nesse período, conferia o trabalho de outras tantas trupes que passaram pela cidade e ficou definitivamente marcado com a performance da Trupe Arruda dos irmãos Genésio e Sebastião Arruda, pioneiros também da música sertaneja – apresentaram-se em diversos programas de rádio entre 1920 e 1930. Genésio Arruda e seu irmão, Sebastião Arruda, estavam no auge e eu procurei fazer o mesmo, principalmente imitando o Sebastião, que me parecia mais pacato. Para falar a verdade, comecei de brincadeira. Gostaram, bateram palmas. Gostei, fui continuando. É isso a minha profissão: sou caipira. No começo, procurei copiar a naturalidade do Sebastião, depois fui para o interior criar meu próprio tipo: caboclão bastante natural (na roupa, no andar, na fala). Um simples caboclo entre os milhões que vivem no interior brasileiro. Saí pro interior um pouco Sebastião, voltei Mazzaropi. Não mudei o nome (embora tivessem cansado de me aconselhar a mudá-lo) por acreditar não haver mal nenhum naquilo que eu ia fazer. Os amigos diziam que Mazzaropi não era nome de caipira, que era nome de italiano, mas eu respondia para eles que se não era, iria virar. Que eu não tinha vergonha do que ia fazer e, por isso, ia fazer com meu nome. E o público gostou do meu nome, gostou do que eu fiz. Embora dissesse que entre Genésio e Sebastião preferia o segundo por ser mais leve, mais manso e matreiro, de um maneirismo natural e menos caricatural em sua personificação do caipira, Mazzaropi sempre teve noção muito clara do trabalho de Genésio Arruda e nunca negou o fascínio que lhe despertara e sua influência. Anos depois, numa analogia abrasileirada de Chaplin e Buster Keaton em Luzes da Ribalta, Mazzaropi convidou Genésio para participar de três de seus filmes: As Aventuras de Pedro Malasartes, Zé do Periquito e Tristeza do Jeca. O tributo estava prestado. A Companhia Arruda instalou-se de início no Teatro São Pedro, depois no Teatro Colombo e suas atividades se estenderam, ininterruptamente, de 3 de agosto de 1917 a 4 de março de 1919. Foram montadas, entre outras peças, São Paulo Futuro e Uma Festa na Freguesia do Ó, de Danton Vampré, Ribeirão Preto por Dentro, de Amilcar Siqueira, e Manduca Cerimônias, de José Piza. Em muitas dessas apresentações, Sebastião Arruda e Vicente Felício, outro ator da trupe, faziam os tipos antagônicos do ítalo-brasileiro (o carcamano) e do caipira, acentuando o tom caricatural desses tipos. Esse modelo foi adotado em seguida por Genésio Arruda e Nino Nello. Ao juntar sua origem italiana à vivência interiorana, Mazzaropi acumularia em sua persona as duas vertentes tradicionais antagônicas e teria o privilégio de trabalhar tanto com o caipira Genésio Arruda (da fase “da Bandinha” e do “gênero livre” do Teatro Santa Helena) como com o carcamano Nino Nello na comédia Filho de Sapateiro, Sapateiro Deve Ser, de João Pereira de Almeida. Foram os Arruda, sem dúvida, os precursores de Mazzaropi na criação do homem caipira. A afirmação soa ainda mais exata se lembrarmos que Genésio Arruda, a exemplo de Mazzaropi, também havia começado sua carreira no circo, na Companhia Mario Freire em 1923, fundando no ano seguinte, com Tom Bill, a Companhia Disparates Cômicos. Genésio Arruda entraria definitivamente para a história ao participar do primeiro filme sonoro brasileiro Acabaram-se os Otários, comédia musical dirigida por Luís (Lulu) de Barros. Genésio interpretava um caipira humilde e subestimado, personagem que aumentou a projeção de seu nome junto ao público. Seu antagonista no filme, não por acaso, era um colono italiano interpretado pelo parceiro Tom Bill. Pode-se registrar que o filme já trazia, em sua síntese, uma visão maniqueísta e estereotipada das duas tradições já citadas, a do carcamano e a do caipira. Numa semelhança histórica que seria observada entre o trabalho de Genésio e o que viria a ser desenvolvido por Mazzaropi, o filme, a despeito de toda a sua importância como o primeiro filme falado, cantado e com som em sincronia do Brasil, foi recebido com pedradas e ridicularizado pela crítica da época, que o considerou “uma pachouchada ridícula”. No entanto, o público fez dele um dos maiores sucessos de bilheteria que o País conheceu nos primeiros anos de nosso cinema – foi visto por mais de 35 mil espectadores em sua primeira semana de exibição, em 1929. Nas décadas de 20, 30 e 40, Genésio Arruda foi o legítimo representante da reação nacional-regionalista contra as manifestações estrangeiras. Com sua companhia, onde trabalhava como produtor, diretor, autor e ator, realizou várias turnês pelo Estado, interpretando seus tipos cômicos interioranos, os caipiras exagerados em sua brejeirice, beirando ou extrapolando o caricatural, e cujo sucesso fenomenal de público já indicava um caminho de glória popular que seria seguido e ampliado por Mazzaropi. Durante um período de vinte anos, compreen- dido entre 1935 e 1955, Nino Nello centralizou as atividades de seu teatro popular em São Paulo, onde manteve quatro pavilhões em funcionamento. Circulava pelos bairros com um repertório ítalo-paulista, com ênfase para a comédia. Tempos depois de trabalhar com Nino Nello, Mazzaropi entraria no mundo do cinema justamente pelas mãos do irmão de João Pereira de Almeida, o autor de Filho de Sapateiro, o talentoso Abílio Pereira de Almeida. Em todos esses fatores, podemos encontrar subsídios para entender melhor o alcance do trabalho de Mazzaropi junto às massas. Ele mesmo explicaria o porquê de ter insistido tanto em usar seu próprio nome italiano em um personagem caipira. Mais do que um sucesso, o nome Mazzaropi representaria uma marca eternamente associada à figura do homem do campo. ... Os críticos diziam: ‘Onde se viu um caipira com nome italiano? Isso não vai pegar nunca. Ele precisa mudar de nome, arrumar um apelido, Nhô Sebastião, Nhô Belarmino, mas não Mazzaropi’. E eu insistia com Mazzaropi. Naquele tempo, era jovem, cheio de brio – e eu interpretava o caso diferente. Por que eu vou mudar de nome? Não vou roubar, não vou ser assassino, não tenho, portanto, necessidade de esconder meu nome, vou ser palhaço mesmo, vou fazer o caipira. E com o meu nome. Olga Crutt ou Olga Mazzaropi? Assistindo a uma apresentação da Trupe Arruda, Mazzaropi presenciaria, em uma noite mágica e inesquecível, Cornélio Pires e Sebastião Arruda dividindo o mesmo palco. Os dois já haviam se apresentado juntos no final da década de 20 e início da década de 30, na Turma de Cornélio Pires, quando das primeiras gravações de Modas de Viola e Causos, interpretadas por Tibúrcio e sua Turma Caipira. Antes, em 1918, Sebastião Arruda havia participado do filme Curandeiro, com roteiro adaptado de um conto de Cornélo Pires. Tamanha afinidade havia gerado entre eles uma química extraordinária, quase que sobrenatural, como registraram muitos daqueles que tiveram o privilégio de testemunhar as apresentações, Mazzaropi, entre eles: Fiquei completamente fascinado, encantado, deslumbrado por aquilo tudo!. Aquela noite representara para Mazza quase que uma experiência religiosa, artisticamente elevada. Ele já não tinha dúvidas de que aquela era a vida que queria para si. Em 18 de março de 1934, Mazzaropi estrearia no cine Tremembé com a Trupe Olga Crutt. Uma dama do teatro mambembe enigmática, jovem, misteriosa, talentosa e experiente, Olga Crutt se afeiçoou de tal forma a Mazzaropi que, em algumas semanas, incentivava o rapaz a assumir a direção e administração de sua trupe. Não seria complicado convencer Dona Clara a acompanhar o filho nessa nova empreitada, se este fosse o preço a pagar para ficar ao seu lado. Com o pai, no entanto, a história era diferente. Seu Bernardo ainda era dono de um botequim e não pretendia largar seu ponto para sair sem rumo ao lado da família. Quando viu que não teria forças ou argumentos para impedir os dois de seguirem em frente, não teve alternativa a não ser vender o bar e pegar a estrada com a mulher e o filho. Nos anos de 1935 e 1936 a família Mazzaropi segue seu destino. Os pais viram atores e auxiliares na administração da trupe formada ainda pelo carismático ator Argeu Ferrari. Olga Crutt passa a adotar o nome artístico de Olga Mazzaropi e surge então a Trupe Mazzaropi que excursiona pelos Cine-Theatros mais concorridos de várias cidades dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, tais como: Cine-Theatro Polytheama, Cine Recreio, Theatro Central, Cine-Theatro Para Todos, Circo-Theatro Rosária, Theatro Zenith e Cine-Theatro Tremembé, entre outros. ... Nossa trupe tinha shows de variedades com declamações, cantos sertanejos e anedotas, numa espécie de revistinha bem simples. Era uma verdadeira loucura na época. Vivíamos como ciganos, levando cenários e todos os equipamentos junto. Naquele tempo, várias companhias viajavam dessa forma, sempre se apresentando nos cinemas... As trupes eram pequenas companhias ambulantes de teatro que se locomoviam pelo Estado graças, principalmente, à rede ferroviária. Na época, o trem era o meio mais fácil para o transporte de toda a estrutura necessária à apresentação desses grupos. As atrações eram exibidas costumeiramente em teatros ou salas de cinema após as apresentações dos filmes, no palco à frente das telas. Com a chegada do Cinemascope e o aumento do tamanho das telas e da duração dos filmes, que até então eram mais curtos, ficou maior também a dificuldade de estruturar o espaço físico para as apresentações, uma vez que já não era mais possível a remoção automática das telas. As companhias, então, deixaram de ser contratadas e esse tipo de teatro popular entrou em processo de franca decadência. Mais uma vez, os artistas mambembes necessitavam reavaliar seus métodos para sobreviver às mudanças trazidas pelos novos tempos. E Olga Crutt ou Olga Mazzaropi? Qual o seu fim? Poucos sabem a resposta. O fato é que Olga sai da história de Mazzaropi da mesma maneira fugaz e misteriosa com que havia entrado. Alguns dizem que se Mazzaropi, alguma vez na vida, amou uma mulher de verdade, seu nome foi Olga Crutt. Talvez, ela o tenha amado mais do que ele que, obstinado por sua carreira, acabou optando pela arte em vez do amor... A época das trupes foi, por si só, uma época romântica, em que as pessoas se atiravam aos sonhos com extremo idealismo pagando às vezes um preço muito caro para vivê-los. Diante desse cenário, o fato de Olga, uma mulher bem mais velha, ter se sentido atraída por um jovem cujo talento transbordava de urgência e paixão pela arte, não é difícil de se entender. Assumir o nome de Mazzaropi e excursionar ao lado dos pais dele corroboram a ideia de que, mesmo por um curto espaço de tempo, Olga foi parte da família. Quanto tudo isto é verdade, é um segredo que Mazzaropi carregou consigo trancado a sete chaves. Antes e depois da fama, Mazzaropi sempre foi uma pessoa extremamente reservada em relação às suas escolhas pessoais e à sua vida íntima. No entanto, os indícios levam a crer que ele jamais teria apagado Olga de sua lembrança a ponto de ter carregado consigo uma foto dela até o último dia de sua vida. Os Pavilhões Em busca de sobrevivência, as trupes passaram a procurar novos lugares, novas formas de manter sua arte acessível ao público. É então que Sara Bernardes, proprietária de uma renomada trupe, adota um método original: ergue por conta seu próprio teatro-móvel, com estruturas de madeira e cobertura de zinco, mantendo todas as características internas principais de um teatro – paredes de tábuas corridas, bancos e cadeiras de madeira. O modelo seria conhecido como Pavilhão (vulgo Circo Quadrado) e a este esforço generalizado da classe artística menos favorecida para manter viva a chama do teatro popular deu-se o nome de Theatro de Emergência. Uma ideia funcional que viria a ampliar os limites de atuação da Trupe Mazzaropi sempre dependente de lugares, cada vez mais escassos, para suas apresentações. Fizemos igual a Sara Bernardes. Na cidade de Jundiaí, construí meu primeiro pavilhão: A Trupe Companhia Amácio Mazzaropi, ou, simplesmente, Pavilhão Mazzaropi. A estreia do Pavilhão em Jundiaí seria marcada por uma tempestade que quase acaba com o ideal dos Mazzaropi, que levaram três dias inteiros reconstruindo as estruturas destruídas, até conseguirem estrear novamente. O esforço seria recompensado com o calor do público que lhes dá ânimo para continuar a lida. A companhia de Mazzaropi inicia, então, suas viagens pelo interior do Estado, passando por cidades como Americana, Mogi das Cruzes, Jacareí, Caçapava, São José dos Campos e inclusive Taubaté, sempre com apresentações concorridas e casa cheia seguindo à risca o lema da época: Apresentávamos peças de teatro em quatro ou cinco atos e depois eu fazia o caipira. Quando a gente chegava na cidade, o povo fazia festa e o prefeito jamais criava alguma dificuldade como acontece hoje com os cirquinhos que levam diversão de cidade em cidade. O teatro era facilmente desmontável. Ficávamos uma média de oito dias em cada lugar e seguíamos em diante. E eta! povinho que gostava de teatro e anedotas. Nosso pavilhão tinha 20 atores e o melhor deles era mamãe. E o povo ria e chorava como acontece até hoje. Ainda assim, o Pavilhão Mazzaropi enfrentaria grandes dificuldades financeiras para se manter. Sobre os ombros de Mazzaropi pesava a responsabilidade de ter que se dividir nas funções de empresário, produtor, diretor, galã e autor de pe- ças. Havia dúvidas, inclusive, de por quanto tempo mais conseguiria sustentar a companhia, que chegou a ter 60 funcionários. Em 1941, porém, um golpe triste do destino acabou sendo considerado, ironicamente, como um golpe de sorte. A avó materna de Mazza, Maria Pitta Ferreira, ao falecer, deixou para o neto quatro terrenos que, quando vendidos, proporcionaram uma renda prontamente aplicada nos melhoramentos da estrutura do Pavilhão. A tão sonhada cobertura com folhas de zinco foi realizada e Mazzaropi pôde cumprir a exigência da Prefeitura de São Paulo para que fosse permitida a estreia de sua temporada no Alto da Lapa. As críticas sobre suas performances no palco nessa fase lhe são extremamente elogiosas e constituem fator decisivo para incentivá-lo a seguir adiante. Entre as mais contundentes, a matéria O Que Vai Pelo Teatro, do respeitado crítico Francisco de Sá, publicada no jornal O Dia de São Paulo, em 1943, dizia: Para este moço vencer, precisa apenas de duas coisas: mudar de nome, que é anti-teatral, e arranjar um guia, um ensaiador. De seu repertório no período do pavilhão, destacam-se as peças: Os Transviados, Deus e a Natureza, As Aventuras de um Rapaz Feio, Deus lhe Pague e O Burro (e Anastácio), de Joracy Camargo; Era uma vez um Vagabundo, de José Wanderley; O Coração não Envelhece, de Paulo de Magalhães; Divino Perfume, de Paulo Vianna; A Volta da Felicidade, A Cruz do Juramento, Coitado do Xavier, O Último Guilherme. Essas e outras inúmeras peças formariam a base não só de seu aprimoramento como ator, mas como fonte inesgotável de consulta para os temas e tramas que viria a desenvolver em seus filmes. Isso ficou mais marcante após a abertura da PAM Filmes, que lhe deu autonomia sobre o próprio destino de seus projetos. Durante as primeiras fases de sua carreira, Mazzaropi conheceu privações para manter seu sonho vivo. É provável, no entanto, que nenhum outro ano em sua trajetória tenha lhe trazido tanta dificuldade e tristeza quanto 1944. Instalado em Pindamonhagaba, o Pavilhão, a exemplo das trupes de1932, servia de base para recreação dos soldados da FEB – Força Expedicionária Brasileira, cujo QG se instalara na cidade. Embora fossem muitas as apresentações, maiores eram os gastos para custear o tratamento de Bernardo Mazzaropi, gravemente enfermo. Tudo o que Mazzaropi ganhava era revertido para os cuidados com a saúde do pai. É nessa ocasião que surge uma oportunidade no teatro no Rio de Janeiro. O Teatro O teatro aconteceu na vida artística de Mazzaropi não só como uma consequência natural do seu trabalho no circo e nos pavilhões, mas por causa das circunstâncias de determinados momentos. Por esta razão é que seus primeiros contatos com o teatro foram marcados por alguns desacertos e contratempos que, a princípio, não previam muitas chances de sucesso. Já no início dos anos 40, Mazzaropi teve uma experiência pouco gratificante ao ser contratado por Miguel Gioso para se apresentar no Teatro Santana em São Paulo. Conhecido por contratar companhias estrangeiras, Miguel pensou em adaptar Mazzaropi à realidade glamurosa de sua casa, como diria o próprio artista: Coisa muito fina, camarotes aveludados, a plateia exibia jóias, as madames de frescura, o chofer descendo para abrir a porta do carro delas. O fato é que uma das companhias estrangeiras havia terminado suas apresentações antes do tempo e Miguel Gioso fez questão que a orquestra cumprisse o contrato como combinado, acompanhando todos os artistas da casa, inclusive Mazzaropi. O resultado não poderia ter sido pior. A tal temporada luxuosa não vingaria e Mazza voltaria à sua realidade, com o mérito de manter sua integridade artística intacta. É claro que não deu certo! O meu povo estava acostumado a me ver bem simples, acompanhado por uma banda de tambor, banjos e outros instrumentos populares e não aquela luxúria toda. Após desativar o Pavilhão, Mazzaropi passaria meses perambulando sem emprego fixo até receber um convite do empresário Walter Pinto para se apresentar no prestigioso Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, substituindo o comediante mais famoso do Brasil na época, Oscarito (então partner de Beatriz Costa), que não pretendia renovar seu contrato com a casa. É de 1944 matéria intitulada Notável Cômico Brasileiro, em que, a propósito de sua ida para os palcos do Rio de Janeiro, o ator é coberto de elogios e descrito como digno de um futuro brilhante, o que fica claro no trecho a seguir: As peças de Joracy Camargo, cheias de ironia profunda com que esse escritor forma o ambiente do seu teatro, ou os trabalhos de Paulo de Magalhães, criados com verve e uma alta dose de humor, são levadas ao palco pelo elenco que tem em Mazzaropi a figura principal, com felicidade absoluta. Não será para estranhar que, em futuro não longínquo, atraído pela exigência da plateia das capitais, Mazzaropi surja em plano não inferior ao em que se colocam hoje os melhores artistas do nosso teatro. Isso será devido à naturalidade da representação e aos recursos pessoais que dão segurança ao seu trabalho. Em São Paulo, as plateias aplaudiram o mérito do magnífico artista, demonstrando que viram nele o sinal preciso de talento de ator. Há ainda outra face que caracteriza o êxito da empolgante carreira de Mazzaropi: a expressão fidelíssima quando interpreta o tipo caipira. Sua atitude é pessoal e inconfundível mostrando na face, na tortuosidade do corpo ou na posição acomodatícia que toma achegando-se à mesa, à parede ou a uma árvore, os modos reais do roceiro de Minas ou do caipira de São Paulo. Coçando o corpo, sungando a calça, macaio sobre a orelha, cabelo crescido e não aparado, Mazzaropi é um bom fotógrafo do costume e da vida cabocla deste Brasil central. Aí está uma personalidade que fará sucesso no Rio. Um bom teatro e um melhor diretor lançarão ao público carioca, a figura simpática de um artista cujo talento pessoal lhe dará relevo e o fará vitorioso no palco do teatro brasileiro. Para Mazzaropi, a sorte grande parecia lhe estar batendo à porta, mas, outra vez, a realidade se mostraria bem diferente. No Rio de Janeiro, ele faz todo o trabalho de divulgação de seu suposto show: dá entrevistas, tira fotos, cartazes são impressos. Há uma empolgação muito grande e tanto a imprensa do Rio de Janeiro quanto a imprensa paulista incentivam a promissora carreira do artista em terras cariocas. No dia da estreia, no entanto, seu show é cancelado. Oscarito voltara atrás nas negociações e havia se entendido com a empresa. Esse episódio, somado à doen- ça do pai e à falta de perspectiva de trabalho em São Paulo – não existiam mais condições de manter o Pavilhão em funcionamento –, fez com que Mazzaropi se sentisse esnobado, humilhado e magoado pela experiência malfadada. Foi então que se viu obrigado a dispensar seus funcionários e a desmontar as estruturas do Pavilhão que ficaram guardadas no pátio da Estação Ferroviária de Pindamonhangaba. O final de 1944 seria marcado por fatos importantíssimos. Em 29 de setembro, o consagrado ator Nino Nello chegava com sua companhia para se apresentar em Taubaté, ao mesmo tempo que Mazzaropi se apresentava no Basquete Clube Sociedade Esportiva Recreativa na cidade vizinha, Pindamonhangaba. É quando Nino Nello, impressionado com o talento daquele jovem cômico, estende o convite para que Mazzaropi integre sua companhia que havia sido convidada para inaugurar o Theatro Oberdan, em São Paulo. Mazzaropi havia sido contratado para o que se intitulava Ato Variado, uma mistura de estilos que envolvia poesia, histórias, humor e música. Então, o artista participava dos dramalhões, contava piadas, cantava, mostrando segurança para fazer qualquer papel, inclusive o de galã. Fotos do início da carreira mostram o quanto Mazzaropi sempre foi vaidoso e preocupado com sua própria imagem. Sua versatilidade era tamanha que o mesmo Mazzaropi galã, que aparecia no início das peças, em papéis sérios, retornava ao palco vestido de caipira para fazer o povo sorrir e sair satisfeito do teatro. Eu cantava cançonetas napolitanas e não podia usar o microfone, pois quem usasse o microfone era vaiado, tinha que ser na raça. Nada de auxílio da Light, isso de eletricidade. A estreia se daria em 12 de novembro de 1944, mas o destino, mais uma vez, lhe pregava uma peça: alguns minutos antes de entrar no palco para apresentar seu ato, Mazza recebe a notícia de que seu pai havia falecido quatro dias antes, aos 56 anos de idade. Ele teria pouquíssimo tempo para absorver o impacto da notícia. Alguns minutos depois, estava no palco exercendo seu ofício como em um tributo à memória do pai. Enquanto as pessoas riam, Mazzaropi chorava por dentro, um teste de fogo para qualquer artista, uma prova de maturidade. Sua performance, no entanto, é retribuída pelo enorme sucesso de público e crítica da peça. No início de 1945, Mazzaropi voltaria para Pindamonhangaba com uma ideia fixa na cabeça: reativar o Pavilhão e levá-lo para São Paulo. Retoma suas apre- sentações na cidade, faz um empréstimo de oito mil cruzeiros, salda suas dívidas e consegue realizar o sonho. Quem lhe concede o empréstimo é um amigo de Pindamonhangaba, o engenheiro Demétrio Stambulus (também conhecido como “Dimitrius Stombolo”), homem extremamente sério e de semblante carrancudo a quem Mazzaropi fora desafiado, em público, a arrancar-lhe uma risada. Aposta ganha pelo caipira, uma vez realizado o feito, que parecia impossível, dado o lendário mal-humor do homem, nasce ali uma verdadeira amizade entre os dois. De volta à cidade grande, Mazza instala seu pavilhão no bairro de Santana e faz uma temporada muito bem recebida pelo público. Passa a morar no bairro do Tucuruvi – é por esse motivo que viria a receber o apelido carinhoso de Bernard Shaw do Tucuruvi – e, em seguida, assina contrato com o Teatro Colombo, onde a Companhia de Nino Nello permaneceria por mais de um ano com as peças Filho de Sapateiro, Sapateiro Deve Ser, Pepino, o Verdureiro e Por que Choras Palhaço? A tradição do teatro popular, a técnica do fazer rir e chorar, estava mais que lapidada no artista, mas, ainda assim, ele ficava surpreso com a reação da platéia. Uma vez, eu estava com a veia! A cena era triste. Aí, eu chorei, chorei tanto que todo mundo riu! Foi um negócio: o povo ria e eu chorava. Eram experiências ricas que lhe dariam suporte para voos mais altos e que não tardariam. O Humor no Rádio Em 1922, durante a Exposição do Centenário da Independência, muito pouca gente havia se interessado pelas demonstrações de radiotelefonia apresentadas no evento pelas empresas americanas Westinghouse, na Estação do Corcovado, e Western Electric, na Estação da Praia Vermelha. Segundo Roquette-Pinto, o maior empreendedor da área de comunicação em sua época, essa falta de interesse se devia, em grande parte, à má performance dos alto-falantes instalados nas torres do Serviço de Meteorologia (Pavilhão dos Estados) reproduzindo músicas e discursos. Era uma curiosidade, sem maiores consequências! No entanto, em 20 de abril de 1923, o mesmo Edgar Roquette-Pinto fundava, em associação com Henrique Moritze, a primeira estação radiodifusora do Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Era a largada para uma revolução que mudaria de maneira irre- versível a forma de comunicação e criaria um novo hábito, uma nova maneira de receber as informações e entender a própria época. Nesse processo de aproximação do rádio com o público, o humor, desde o início, assumiria papel fundamental e de destaque na consolidação de uma identidade brasileira de radiodramaturgia. O rádio havia iniciado suas primeiras experiências dramatúrgicas usando como laboratório algumas cortinas cômicas, os chamados sketches ou esquetes, de curta duração e alto teor humorístico, em que o artista, dentro do estúdio de uma emissora, se desdobrava para fazer várias vozes e sugerir diferentes situações. Tratava-se de uma herança do teatro de variedades, cujo formato foi apropriado pelo rádio de tal forma que se estabeleceria como um padrão adotado até hoje. O primeiro programa exclusivamente humorístico do rádio data de 1931: o italiano Dino Cortopazzi com o personagem “português” Zé Fidélis. Mas havia também Manezinho e Quintanilha, Renato Murse com Piadas do Manduca, o programa PRK–30 de Lauro Borges e Cássio Barbosa e Balança mas não Cai, escrito por Max Nunes e Haroldo Barbosa. Dois grandes nomes do rádio brasileiro se destacariam nesse período graças às habilidades humorísticas: no Rio de Janeiro, Silvino Neto, também conhecido como Pimpinela e, em São Paulo, Nhô Totico. Nhô Totico Vital Fernandes da Silva, o Nhô Totico, como ficou eternizado na história das comunicações no Brasil, também era conhecido como “O Homem das Mil Vozes”, tamanha sua habilidade para fazer imitações e criar personagens – chegava a fazer dez vozes de personagens diferentes ao mesmo tempo. Nhô Totico, em mais de 50 anos de carreira, assombrou ouvintes com sua capacidade de improviso, pois fazia o roteiro de seus programas na hora em que eles estavam sendo levados ao ar. Conduzia por horas a fio, completamente sozinho, vários programas de rádio como o que apresentava por volta de 1933: DKI, a Voz do Juqueri. A DKI era uma emissora clandestina e o sucesso do programa foi tão grande que, no ano seguinte, ela se transformaria na Rádio Cultura de São Paulo. Outros caipiras usariam o humor no rádio para se expressar. Foi o caso da dupla Alvarenga e Ranchinho, que usava de um humor ferino em suas letras e não poupava ninguém em suas críticas bem-humoradas. Esses pioneiros, cujas imitações, piadas e causos faziam referência a personagens e situações do universo caipira, ajudariam a pavimentar o caminho que Mazzaropi viria a seguir no rádio. Um Jeca nas Ondas do Rádio Mazzaropi chegou ao rádio de brincadeira, levado por alguns amigos para fazer um teste com Demerval Costa Lima, diretor da Rádio Tupi de São Paulo. Diante do microfone, ele fez o que sabia de melhor: contou causos e piadas apimentadas e irresistíveis, tirou um sarro de políticos e artistas famosos da época e acabou fechando, de imediato, um contrato de três meses (700 cruzeiros por mês) para fazer um programa ao vivo nas noites de domingo, com produção de Cassiano Gabus Mendes. O programa revelou-se um sucesso imediato, gerando mais de 2,5 mil cartas por semana. Era março de 1946 e nascia ali o programa Rancho Alegre, um laboratório em que Mazza desenvolveria ainda mais seu repertório de piadas e canções (um “jeca-acústico” de voz e sanfona) e moldaria um público fiel que o acompanharia mais tarde na televisão e no cinema. É dessa época a lembrança do dia em que Chico Alves, o “Rei da Voz”, invadiu o estúdio da rádio pedindo para ser apresentado ao caipira engraçadíssimo que quase o fizera bater o carro que dirigia, por rir tanto. ... Eu ficava conversando com os caipiras da cidade, com a grande população paulista. Engraçadíssimo. São Paulo inteiro ouvia, orelha grudada no rádio. Em 1947, a popularidade de Mazzaropi era tão grande que ele acabou virando tema de um concurso promovido pela rádio. Cupons publicados em jornais deveriam ser preenchidos com a resposta à seguinte pergunta: Qual o verdadeiro nome de Mazzaropi?. O resultado do concurso foi anunciado em uma festa no cine São Francisco, que culminou com uma apresentação do artista. Graças a essa popularidade, conquistada com garra e determinação, Mazzaropi passou a ser chamado para todos os tipos de eventos, onde quer que se realizassem: boates, teatros, circos. Ao mesmo tempo, era requisitado para levar seu programa aos auditórios de várias rádios filiadas às Emissoras Associadas. Ao lado de Hebe Camargo, dividiria as atenções na Brigada da Alegria, uma carava- na de artistas e cantores de rádio, criada pelas Associadas para se apresentar em vários pontos do País. Como a maioria dos artistas do rádio, Mazzaropi também possuía um bordão que o caracterizava na época e que era muito usado pelas pessoas na rua como uma gíria corrente: Xi, arranhei! Era como finalizava suas piadas, em um tom de quem havia aprontado uma molecagem. No fim de 1947, ele ainda assinaria contrato com a Companhia Dercy Gonçalves para atuar ao lado da famosa atriz no espetáculo Sabe lá o que é Isso? de Jorge Murad, Paulo Orlando e Humberto Cunha, no Cine Theatro Odeon. Alcançava, naquele momento, o prestígio que sempre almejara no teatro e na rádio – apresentava-se na Tupi do Rio de Janeiro e na Baré de Manaus. Mazzaropi permaneceu na Rádio Tupi por sete inesquecíveis anos. Esperava, no entanto, o reconhecimento do Rio de Janeiro, que viria em grande estilo em uma noite histórica e antológica no auditório da Rádio Nacional. Na inauguração dos 50 mil quilowates da Tupi, eu tinha projeção limitada, havia o primeiro time do rádio e não sei se eu era o décimo ou se estava fora do time. Convidado, fui novamente para o Rio de Janeiro como um cachorro que sacode o rabo para todo mundo. Ninguém me dava bola, fui ignorado no aeroporto. Aquilo me abalou bastante, fiquei chateado e me abalou o fígado. Cheguei no hotel nervoso, porque tinha um baita compromisso, afinal, era uma apresentação de gala. Não sei como, no palco, eu lembrei de todas as piadas decoradas, aquelas histórias que fazem o público rir nem que não queira. Daí tinha um cara na primeira fila que levantava os pés até lá em cima e batia no assoalho dando gargalhadas. Para mim foi felicidade, porque eu estava na pior. Em 25 minutos terminei o show e sai rápido do palco. O teatro veio abaixo. Comecei a tirar a roupa no camarim e ouvia o grito do pessoal pedindo para eu voltar. Aí um cara veio e pediu: ‘Não faça isso. Não seja antiprofissional’. Então descobri que não era mais eu que abanava o rabo; eram os outros que abanavam o rabo para mim. Este foi um dos momentos em que Mazzaropi teve um dos vários insights sobre a sua importância como artista popular. Começou então a estudar de que forma poderia aproveitar esse sucesso para conquistar sua autonomia empresarial. Data dessa época o início da fama de pão-duro por causa dos sacrifícios que fazia para economizar seu dinheiro. Andava a pé para não gastar o dinheiro da condução e vendia o almoço para comprar a janta. Barganhava por qualquer coisa que se visse obrigado a comprar. Só quem já passou necessidade é que sabe o devido valor do dinheiro que se ganha. Ainda no camarim, naquela noite mágica do Rio de Janeiro, Mazzaropi recebeu um telefonema da Rádio Nacional, templo dos maiores astros e estrelas do rádio brasileiro. Estavam lhe oferecendo um contrato. Dali para a frente, Mazzaropi conheceria definitivamente o doce sabor do sucesso. O Jeca na TV Graças ao seu enorme sucesso no rádio, onde despontava como o maior nome do humor paulista, Mazzaropi foi chamado de O Caipira Filósofo, O Monstro do Humorismo Brasileiro e Diplomata do Humor. Sua popularidade cresceu tanto que logo ele seria sondado para se apresentar na televisão, onde seria chamado de O Primeiro Cômico da Televisão Brasileira ou O Patrono dos Humoristas na TV. Seu nome ficaria marcado na história da televisão brasileira ao participar da inauguração, em 18 de setembro de 1950, da PRF-3 – TV Tupi – Difusora. Naquela data, atendendo a convite pessoal de Assis Chateaubriand, Mazzaropi, recém-chegado de Manaus, colocou–se nos bastidores junto a outros colegas artistas que fariam o show inaugural. O humor, uma das armas de maior apelo ao público desde os programas de rádio, teria sua representação garantida na telinha por meio dele. Quando chegou seu grande momento, Mazzaropi, sentado em um banquinho, trajado como um típico caipira em dia de festa, uma casa de caboclo ao fundo, faria seu show-solo com uma performance antológica que, segundo registros da época, levaria à catarse o público telespectador. Piadas picantes para a época, mas inocentes se comparadas aos dias atuais, eram disparadas com um sorriso matreiro. Ao fim da apresentação, Mazzaropi deixaria o palco para entrar para a história, oficialmente, como O Primeiro Cômico da TV Brasileira. Que se registre: a primeira piada foi dele... A primeira risada, por causa dele. Na mesma noite se apresentaria, em um quadro humorístico, Geny Prado, que viria a trabalhar com Mazzaropi também na versão televisiva do programa Rancho Alegre. Com a atriz, Mazzaropi constituiria um dos mais longos e prósperos casamentos artísticos que se tem notícia. Para Mazzaropi, mais do que um veículo para sua arte, a imagem do caipira que era levada às multidões através da televisão moldaria definitivamente sua figura pública, fixando-a no imaginário popular. Ele transportava para a TV seu público de rádio que o acompanhava no programa Rancho Alegre e, de início, se apresentava sozinho. Com a direção de Cassiano Gabus Mendes e a presença de sua grande companheira Geny Prado, o programa viria a dominar todas as atenções das quartas-feiras, às 21 horas, durante os quatro anos em que foi ao ar. Além de Geny Prado, Mazzaropi encontraria no excepcional humorista João Restiffe a figura perfeita para ser seu “escada” dentro do programa. Juntos, desenvolveriam os principais esquetes e roteiros do Rancho Alegre cuja pauta era sempre guiada pelo mais puro improviso e cuja estrutura se dividia sempre em duas ou três anedotas e um número musical. Este era o ponto alto do programa, pois, como viria a confidenciar aos amigos mais próximos, o que sempre quis mesmo era ser cantor. Tanto na TV quanto mais tarde, no cinema, Mazzaropi criaria várias oportunidades de demonstrar seus dotes como um crooner meio desengonçado, cantando e encantando. Se levarmos em conta que na época não existia videoteipe e os programas eram sempre exibidos ao vivo, é maior ainda a dimensão da responsabilidade e importância do trabalho e do risco que era levar ao ar Rancho Alegre. Enquanto durou, foi o programa de humor mais popular da televisão brasileira, o de maior audiência e o primeiro programa do Brasil a ser oficialmente patrocinado por uma empresa, a Philco do Brasil. Aproximadamente 200 programas foram exibidos em quase quatro anos de existência, um número extraordinário mesmo para os dias atuais em que a velocidade dos meios de comunicação é insana, brutal. Em 20 de janeiro de 1951, Mazzaropi seria presença de destaque na inauguração da TV Tupi do Rio de Janeiro, durante festa de gala no Pão de Açúcar, onde a torre de transmissão estava instalada, com apresentação do primeiro locutor da Tupi do Rio de Janeiro, Luis Jatobá, e a presença ilustre do então presidente da República, General Eurico Gaspar Dutra. Mazza ganharia um quadro de humor também na TV Rio, que ia ao ar nas noites de quinta-feira, dividindo então suas atividades entre a Rádio e TV Tupi de São Paulo e a Rádio e TV Tupi do Rio de Janeiro, além de fazer seus shows em teatros. O encanto com a televisão seria de pouca duração para Mazzaropi. Ao amigo Restiffe, ele confidenciaria que a televisão desgastava a imagem do ator cômico. Para ser honesto, a TV é um órgão especialista em desgastar a gente... A cara fica soldada no vídeo, é um bombardeio, não há quem resista. Na época dizia-se que Mazzaropi passou a recusar propostas para fazer publicidade e apresentar-se em programas de televisão por considerar que mesmo as altas quantias oferecidas não eram suficientes para recompor os gastos que teria com sua imagem. Além do que, a televisão, por sua característica de constante repetição, não representaria uma evolução em sua carreira. Mazzaropi temia que a superexposição semanal desgastasse sua imagem e provocasse o declínio de sua carreira a médio prazo, um pensamento extremamente maduro para um artista que a vida inteira havia almejado o sucesso e que temia que a TV, além de um meio, fosse um fim, literalmente. O que Mazza queria mesmo era encontrar um meio que fosse só seu, onde pudesse criar um universo particular e preservar o frescor de sua arte com maior autonomia de criação e produção, o que aconteceria mais tarde com o cinema. Só que foi justamente a televisão que proporcionou ao artista um convite para fazer cinema na Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Alguns anos depois, Mazzaropi declararia: Já tenho muito trabalho com a PAM Filmes. Faço um filme por ano – mas ele dá um trabalho! Cinco meses de preparação de roteiro, cenários, etc. Dois meses para filmar. O resto é problema de distribuição. Não dá para fazer mais nada. E não estou mais na idade de ter patrão. Tenho meu negócio, trabalho a hora que quero. Não dou satisfação a ninguém. Na TV eu iria ter patrão. Mesmo assim, Mazzaropi abriria espaço em sua agenda para participar do programa Bossa Nove na inauguração da TV Excelsior em São Paulo, a 9 de julho de 1960 e do programa da amiga Bibi Ferreira Brasil 62, uma de suas últimas atuações profissionais na TV. A última participação efetiva, e que viria a ser também sua última aparição pública, se daria em 1980, no programa de televisão comandado, na TV Bandeirantes, pela amiga de tantos anos, Hebe Camargo. Tudo que consegue se comunicar com o público me fascina. Gosto do Sílvio Santos e da Hebe, principalmente. Eles vieram do nada como eu. Ganham dinheiro para divertir o público, e divertem. Não adianta nada a crítica chamar a Hebe de burra. Ela nunca disse para ninguém que era professora. Não adianta dizer que ela só fala bobagens – o público gosta do que ela fala. E quem manda é o público. Cinema Mazzaropi e o Cinema: um Caso de Humor à Primeira Vista! (... e de Amor pra Vida Toda) A Vera Cruz foi minha escola... Para o bem e para o mal! Mazzaropi começa os anos 50 migrando da TV para o cinema. E sua relação com o cinema é uma história de amor em que, no final, a química e a mágica se fazem entre artista e público para que este amor se complete em luz e sombra, em som e silêncio estampados na tela. Desde o início do século 20, a essência estereotipada do paulistano teve sua representação em dois graus distintos, mas muito próximos. Um na figura do bandeirante. O outro, calcada no trabalho. A primeira representação sustenta a imagem épica e grandiosa de suas origens desbravadoras; a segunda remete, automaticamente, ao ritmo louco e urgente de uma cidade que não pode parar e que carrega o Brasil nas costas graças à sua importância econômica. Do sertanejo, interiorano, e do homem da cidade e sua origem europeia é formada a alma paulista. É neste contexto histórico, pontuado por necessidades de afirmação da elite paulistana, que se acentua o avanço de indústria, tecnologia e comércio. Uma representação legítima desses tempos na área da cultura está na criação, em 1949, da Companhia Cinematográfica Vera Cruz por Franco Zampari, cujo amor à arte já o havia levado a fundar o TBC - Teatro Brasileiro de Comédia, tido como a maior revolução do teatro brasileiro no século 20. A Vera Cruz foi uma tentativa de se criar no Brasil uma indústria do cinema nos moldes do que de mais moderno havia no mundo cinematográfico internacional, seguindo padrões de qualidade de som e imagem inéditos no País e buscando por símbolos que imprimissem a esta produção uma identidade brasileira. Tratava-se de concretizar um sonho nascido no berço da elite burguesa paulistana e fortemente carregado de sotaque europeu, tanto que equipamentos e técnicos vieram do Exterior. À parte toda e qualquer crítica que possa ter sofrido, foi o empreendimento responsável por criar no Brasil uma geração inteira de profissionais de cinema que deixaram, ao longo das décadas seguintes, seu talento registrado em vários segmentos do ofício cinematográfico. A Vera Cruz comprava o passe de atores e atrizes a peso de ouro e os lançava para o estrelato. Foi o caso de Tônia Carrero, Marisa Prado, Eliane Lage, Anselmo Duarte, Renato Consorte, Alberto Ruschel, Paulo Autran e do próprio Mazzaropi. E cada um dos artistas que viveram os anos dourados dos estúdios de São Bernardo do Campo tem pelo menos uma história para contar, tendo como cenário um lendário reduto frequentado pelo meio cinematográfico e artístico da época, chamado Nick Bar. Com Mazzaropi não seria diferente. Certa vez, no Nick Bar, Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne, enquanto tomavam um drinque, conversavam sobre quem poderia protagonizar uma comédia sobre um ítalo-brasileiro e sua odisséia para levar sua mudança de São Paulo para Santos em um caminhãozinho Ford 29. A produção deveria ter um apelo popular, contar com um orçamento mais baixo do que a Vera Cruz estava empregando em seus filmes e funcionar como um teste frente às produções da Atlântida que contavam com Oscarito, Grande Otelo e Ankito. Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne se perguntavam quem, em São Paulo, poderia assumir o papel principal desta produção quando surge Mazzaropi na tela da televisão do Nick Bar. Sempre achei que cinema era coisa para gente bonita. E eu nunca me achei um galã para pensar em mostrar minha cara na telona! Há dúvidas sobre quem, de fato, pode ser considerado o verdadeiro descobridor de Mazzaropi para o cinema. Alguns citam Abílio Pereira de Almeida, peça fundamental na Vera Cruz, por ter sido seu primeiro diretor. É bem provável, no entanto, que o mérito da descoberta fique com um outro diretor, Agostinho Martins Pereira, que já conhecia Mazzaropi da televisão e do rádio e viu no artista enorme potencial para mostrar sua verve cômica no cinema. Foi ele quem indicou o ator para o filme Sai da Frente, mais especificamente para o responsável pela escolha do elenco, Pio Piccinini. O fato é que se Mazza chegou à Vera Cruz pelas mãos de Abílio Pereira de Almeida ou Agostinho Martins Pereira, o que importa é que o teste que ele realizou fez os técnicos e todos os presentes rolarem de rir. Tamanha foi sua versatilidade que não houve dúvidas. Era seu o papel e, aos 40 anos, Mazzaropi iniciava, oficialmente, sua carreira no cinema. Alguns dias depois, quando os representantes da Vera Cruz foram à casa de Mazzaropi, na Rua Paes de Araujo, 168, no Itaim, para negociar seu contrato, surpreenderam-se ao encontrar um homem culto e bem vestido em vez do caipira que supostamente haviam imaginado. Mazzaropi pediu uma quantia muito maior do que a que estavam lhe oferecendo e fechou a questão com o seguinte comentário: Se meu filme der prejuízo, eu pago do meu bolso cada centavo! Pode colocar no contrato! Mazzaropi começou no cinema com o pé direito, tendo o privilégio de ser um dos contratados da Vera Cruz e desfrutando de toda a estrutura que esta colocava à sua disposição. Ele mesmo lembraria que a Vera Cruz foi sua escola de cinema, o lugar em que teve contato com os melhores profissionais da área e com o moderno e apurado processo de produção dos filmes. Ao absorver as lições positivas que havia aprendido na Vera Cruz e observar também as falhas nas relações de produção e distribuição, teria uma base para desenvolver sua própria carreira como produtor tempos depois. Sai da Frente, seu primeiro filme, estreou em junho de 1952 e, três meses depois, Mazzaropi era registrado como funcionário da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, recebendo o salário privilegiado de 25 mil cruzeiros por mês e mais 60 mil cruzeiros de gratificação anual. Para se ter uma ideia desses valores, representavam o mesmo salário pago ao galã Anselmo Duarte para que ele trocasse a Atlântida no Rio pela Vera Cruz em São Paulo. Sai da Frente contou com um intenso trabalho de divulgação de seu nome e de sua primeira produção. Pela Vera Cruz, Mazzaropi faria mais três filmes: Nadando em Dinheiro, Candinho e O Gato de Madame, este último lançado pela Brasil Filmes, empresa que prosseguiria durante um tempo como uma extensão da Vera Cruz depois que esta entrou em colapso por consecutivos problemas financeiros e administrativos apesar do prestígio e da proposta artística. O sucesso de público de seus primeiros filmes, portanto, ainda possibilitou a Mazzaropi receber rendimentos por seu trabalho mesmo após o fechamento da Vera Cruz. Do ponto de vista técnico, os filmes feitos no estúdio são imbatíveis dentro de sua extensa filmografia. Mazzaropi viria a trabalhar como artista contratado para outras empresas como a Fama Filmes. Também faria três filmes em sua fase carioca, sob o comando do produtor paulista Oswaldo Massaíni pela Cinedistri. Ele explicaria seu sucesso ao fato de ter levado para prestigiar seus filmes todo o seu público do rádio e da TV. Não deixava de ser irônico que a Vera Cruz tenha tido como um de seus maiores sucessos justamente o comediante popular que em muito pouco representava as ideias requintadas da elite do estúdio. Mazzaropi gostava de lembrar de uma passagem dessa época, quando uma comissão de investidores americanos veio visitar a Vera Cruz em busca de parceria em produções brasileiras e foi apresentada apenas aos diretores e às produções mais sofisticadas da casa. Quando, em certo momento, se interessaram por conhecer a figura daquele caipira, logo foram persuadidos a mudar de assunto. Um dos diretores do estúdio chegou a dizer ao representante do grupo: Vocês estão brincando? Os empresários, no entanto, entre todos os projetos apresentados, acabaram optando por bancar justamente o filme do caipira, Candinho. Mazzaropi diria: Aí caiu a cara dele! E será que não cairia também a cara dessa gente que continua negando Mazzaropi...? Nos anos 90, Júlio Bressane, um dos mais importantes cineastas e pensadores da estética audiovisual brasileira teceria brilhante analogia entre a ânsia pela modernidade do brasileiro e a realidade popular representada por Mazzaropi: Mazzaropi é um símbolo às vezes bastante irônico da nossa cultura. Essa cultura que vem caminhando para o Primeiro Mundo, que come todo esse aparato necessário para se integrar na nova ordem... E o País só vai conseguir isso se devorar o Mazzaropi, aceitar o Jeca... O Brasil tem o Mazzaropi dentro dele, não adianta querer maquiar. Quando a Vera Cruz terminou, Mazzaropi seguiu em frente e ao observar as extensas filas que se formavam para ver seu trabalho e as cifras que seu nome arrastava para as portas dos cinemas, resolveu, em um lance arriscado, ser seu próprio patrão. Vendeu tudo o que tinha e ao criar sua própria companhia, a PAM Filmes – Produções Amácio Mazzaropi, começou a montar um império cinematográfico brasileiro que se consolidaria na década seguinte. Sai da Frente (1952) Para reforçar sua imagem como artista popular e capitalizar o assédio das fãs, alguns ensaios fotográficos foram realizados na época para promover Mazzaropi, focalizando o ator rodeado por lindas mulheres, o que não deixava de ser irônico e engraçado dada a inclinação do ator à solteirice convicta. Em março de 1952, os jornais noticiavam o término das filmagens, a estreia do filme e também a de Abílio Pereira na direção, gerando grande expectativa no resultado. O filme foi realizado com orçamento menor do que o de costume nos filmes da Vera Cruz e rodado em um curto espaço de tempo, mas com a qualidade técnica que sempre caracterizou a empresa. A própria Vera Cruz lançou o filme com o slogan “Uma nova força cômica se levanta!”, na tentativa de capitalizar o sucesso do artista em outras mídias, sendo bem-sucedida nesse projeto. O primeiro filme de Mazzaropi foi um sucesso de público e a crítica, que já conhecia o artista do rádio e da TV, dizia que ele havia transposto a barreira deste novo meio com êxito, mantendo intacto seu talento natural para a comédia. A crítica o reconhecia como uma promessa, chegando a escrever que ele carregara o filme inteiro nas costas graças à sua extraordinária verve cômica. Ao diretor Abílio Pereira de Almeida, no entanto, não foram reservados os melhores comentários. Diziam que ele havia falhado na abordagem superficial dos personagens e na trama do filme. Com o distanciamento que o tempo permite, hoje, o filme é visto como um clássico da Vera Cruz e a primeira verdadeira comédia do cinema paulista. Abílio Pereira de Almeida tem o mérito de ter sido o principal responsável pela inserção e tradução de Mazzaropi no meio cinematográfico, criando um personagem mais voltado ao enredo da história do que claramente focado no ator. Abílio não escolheu o caminho mais fácil, que seria trabalhar o tipo caipira consagrado pelo artista, mas foi buscar nas origens italianas o personagem, um motorista de caminhão, Isidoro Colepícula, que no volante de seu Fordinho caindo aos pedaços, de nome Anastácio O Maior do Mundo, tem que fazer um carreto de São Paulo para Santos. No caminho, apronta todas as peripécias possíveis acompanhado por seu inseparável mascote, o cão Coroné. O filme se inicia com uma vista do centro de São Paulo e vai para a periferia. É lá que vive Isidoro que, já na primeira cena, ao ser acordado pelo som estridente do despertador, prende a plateia desde o primeiro gesto e ganha sua simpatia – na periferia estava a maior parte de seus admiradores. A casa de Isidoro é humilde, ele mora com a esposa, Maria, e a filhinha que se encontra doente. Procura ajuda em um médico e político, amigo dos pobres, mas do Dr. Crisóstomo só recebe promessas. Sua missão é transportar a mudança da nervosa Dona Gata, esposa do sr. Eufrásio. A disposição das tralhas em seu caminhão, desafiando as leis da gravidade, representa só o começo das confusões: Isidoro perde momentaneamente o veículo enquanto vai ao banheiro, vai parar na delegacia, provoca congestionamentos, se mete em uma briga de bar, atrapalha um casamento e acaba dando carona para a noiva fugitiva em sua descida insana pela Serra do Mar rumo a Santos. Em sonho, imagina-se como Sansão e dança com Dalila, uma artista do circo, uma cena antológica. No caminho de volta para a cidade, em um momento de metalinguagem que gera a cumplicidade da plateia, Isidoro escuta o rádio anunciar o cômico Mazzaropi. Mazzaropi alcança sua consagração popular e, como parte da fama, sua trajetória de vida e arte é contada em uma série de capítulos do jornal A Hora. Aproveitando seu sucesso, as Emissoras Associadas lançam o artista na novela sertaneja do radialista Teixeira Filho: O Meu Mundo é Aquele Rancho. Nadando em Dinheiro (1952) Graças ao sucesso de seu primeiro filme, a Vera Cruz começa a produzir a segunda fita de Mazzaropi a toque de caixa. Poucas pessoas se dão conta logo de início, mas, na verdade, Nadando em Dinheiro é uma espécie de continuação de Sai da Frente, com o mesmo personagem e quase o mesmo núcleo de atores e equipe. Uma batida de carro na frente do Estádio do Pacaembu, em São Paulo, é um sinal do destino para que Isidoro Colepícola acompanhe o ocupante do outro carro, um advogado, até a residência de seu cliente, um homem muito rico, à beira da morte. Isidoro é muito bem tratado pela criadagem da casa e, quando percebe uma marca de nascimento nas costas do velhinho, percebe que ele era seu avô. Quando o homem morre, Isidoro herda uma imensa fortuna e sua vida muda toda. Ele agora é um homem cheio de compromissos, sua mulher vira uma dondoca, seu cachorro Coroné ganha uma casa e seu caminhão recebe a assistência de uma equipe de mecânicos. Uma das cenas clássicas do filme é o banho de dinheiro a que o título faz alusão. Isidoro literalmente nada em uma piscina cheia de cédulas – elas foram produzidas uma a uma pela equipe da Vera Cruz. Entediado com a vida de rico, Isidoro vai parar em um boteco, na companhia de amigos humildes e, por causa de algumas fotos comprometedoras, sua esposa o abandona. No final da história, vê-se que a situação toda era um sonho e, aliviado por ser quem é e estar onde está, Isidoro volta à segurança de sua vidinha feliz de pobre. O final do filme, uma verdadeira ode aos valores mais simples da vida, despertou a ira da crítica que acusava mais uma vez o diretor Abílio Pereira de Almeida de optar pelo conformismo do personagem. O crítico Noé Gertel, no entanto, elogiava o trabalho do ator: Mazza, uma ou outra vez, dá mostra de seu inegável talento humorístico... No mais, foi mal dirigido. Quando fizemos Sai da Frente, o Abílio me deixou à vontade. Depois, e Deus que o perdoe, começou a exigir que eu o imitasse. Ele fazia a cena e mandava eu repetir. Mas, acho que até nesse particular fui bom ator, porque a sogra dele viu a fita e comentou: ‘Mazzaropi, vi a fita, mas não gostei. Vejo o Abílio na tela, não você’. Bem, se não consegui agradar ao público, consegui agradar ao diretor... A palavra dinheiro ficaria eternamente associada ao artista e motivaria um certo rancor e ressentimento por parte de Mazzaropi com alguns parentes e amigos que acreditava interessados em sua fortuna. A imprensa, por sua vez, concentrava seus comentários nas cifras de seus filmes. ... Acho que dinheiro não traz felicidade na vida. Tá certo que ajuda, mas, em compensação, quem tem, além de viver intranquilo, passa a ter desconfiança em vários setores da vida. Quem tem dinheiro sempre duvida de quem se aproxima – não sabe se é um amigo ou se vem dar uma bicada. A reação do público, por sua vez, de início morna, permitiria a Mazzaropi trabalhar com mais profundidade em um novo e futuro personagem, o caipira Candinho. Candinho (1953) Em 1953, a Vera Cruz já começava a enfrentar problemas financeiros, mas Mazza- ropi, por sua popularidade, lá permanecia como um dos poucos contratados. E embora a companhia atrasasse o processo de montagem do filme por conta do orçamento cada vez mais apertado, ele finalmente estrearia, em 1954, o filme Candinho. A sessão de gala foi realizada à meia-noite, comemorando a hora zero do IV Centenário de São Paulo, com a presença de autoridades e dos astros do filme no cine Art Palácio. Pela primeira vez, e de maneira extremamente feliz, Mazzaropi encarnava na tela o personagem que iria imortalizá-lo: o caipira Candinho. O filme era anunciado como “uma obra profundamente nacional e humana, onde se procurou carinhosamente retratar o folclore, a música, a dança e a tradição da nossa gente.” Candinho é uma adaptação livre, uma versão abrasileirada do clássico de Voltaire, Candide, um hino ao otimismo do humilde e do inocente perante as dificuldades e ao deslumbre da cidade grande. A história se inicia em 1926, quando Candinho, recém-nascido, é encontrado abandonado à beira de um rio pela empregada de uma fazenda e adotado pela família dos donos: Dona Manuela, o Coronel Quinzinho, sua irmã Eponina e Dona Antonieta. Três anos depois, Dona Antonieta dá à luz um casal de gêmeos e Candinho perde as regalias da casa e as atenções da família. Vinte anos depois, o encontramos morando em um casebre de pau-a-pique e vivendo como um dos empregados da fazenda. Ao se enamorar de Filoca, sua irmã de criação, Candinho vê-se obrigado a abandonar a fazenda e, no caminho para a cidade grande em busca da mãe, se mete em confusões e vai parar na delegacia. Em São Paulo, ele acaba conhecendo Pirulito e os dois se envolvem em mais confusões ao procurarem o que comer e um lugar para ficar. Numa igreja, os parceiros pedem uma graça a Santo Antonio (diga-se de passagem, um dos santos de devoção de Mazzaropi na vida real) e é quando encontram, esmolando, o professor Pancrácio, feito por Adoniran Barbosa em um papel de apoio excepcional. Pancrácio é um falso mendigo que ajuda Candinho a encontrar Filoca, que também havia fugido de casa e se encontra na cidade, trabalhando como prostituta. Ao lado de Pirulito e Pancrácio, Candinho vai em busca de um tesouro que, quando encontrado, revela ser Candinho o herdeiro das terras do Coronel Quinzinho. O filme termina com a cerimônia de casamento de Candinho e Filoca ao som da canção O Que o Ouro não Arruma. Após a estreia do filme, Luís Sérgio Person, que se tornaria cineasta, escreveu no jornal O Dia: ... O caipira confirma seus dotes de interpretação naturalíssima, dando-nos por seu exclusivo mérito, umas boas risadas. Desejamos que para seus filmes vindouros, Mazzaropi arranje um padrinho melhor. Seu Abílio precisa ‘sair da frente’, porque a Vera Cruz não está ‘nadando em dinheiro’, não. Este seria o último filme de Mazzaropi oficialmente realizado pela Vera Cruz. Ele então se voltaria para a carreira no rádio, anunciando sua transferência das Emissoras Associadas para a Rádio Nacional de São Paulo. Seu novo programa seria transmitido aos sábados,às 21h30, entre 1953 e 1955, com Mazzaropi realizando visitas aos clubes da cidade para contar piadas, cantar e fazer imitações. A Carrocinha (1955) O prefeito da pequena cidade de Sapiranga, Juca Miranda, enciumado com a excessiva atenção de sua mulher para com sua cadelinha de estimação, tem a ideia de instituir um serviço de carrocinha na cidade, designando o pacato Jacinto para a função. Jacinto sai pela cidade recolhendo os animais, mas, como se afeiçoa aos cachorros, é pressionado pelo prefeito para que trabalhe com mais rigor, fato que provoca a ira da população. Uma de suas missões é até mesmo capturar a cadelinha da esposa do prefeito. Quando Jacinto devolve o bichinho para a primeira-dama, a carrocinha acaba perdendo sua função inicial e vira carreto para transporte de móveis, porcos e outras bugigangas. Depois de muita confusão, Jacinto declara seu amor a uma jovem chamada Linda e resolve casar com ela. Para fazer frente às despesas do casamento, tem que voltar não só a laçar cachorros, mas exterminá-los, revoltando os moradores que destroem sua carrocinha. Depois de muitas reviravoltas, acontece o casamento. Mazzaropi apresentaria um comportamento inquieto no set de filmagens, a ponto de improvisar muitas falas. Fazia de tudo para chamar a atenção para seu personagem, não deixando dúvidas de que era ele o astro principal do filme. Embora respeitasse seus companheiros de elenco, como Adoniran Barbosa, não perdia uma oportunidade sequer de roubar a cena. O produtor do filme era um uruguaio, Jaime Prades, que ao voltar para a Espanha viria a produzir o clássico El Cid, com Charlton Heston. O Gato de Madame (1956) Rodado e lançado em 1956, O Gato de Madame foi produzido pela Brasil Filmes, uma extensão da Vera Cruz que então já havia paralisado suas atividades como produtora. O filme marca, também, a estreia da diva Odete Lara nas telas. O miado de um gato substitui o rugido do leão da Metro nos créditos iniciais do filme. É a dica do que virá a seguir, uma paródia aos filmes policiais americanos com um sabor tipicamente brasileiro. Após os letreiros, encontramos o engraxate Arlindo, cuja esposa não cansa de reclamar de sua criancice e da falta generalizada de dinheiro para sustentar a casa. Arlindo sai para entregar a roupa lavada na casa de uma madame em um bairro sofisticado e, no caminho, acaba encontrando um gato. O que ele não sabe é que, como há uma recompensa da dona do gato fujão para quem devolver o animal, dois bandidos o perseguem. Arlindo acaba sendo sequestrado pelos bandidos e, no esconderijo, é aceito como novo membro da quadrilha. Ao fugir dos bandidos, Arlindo vai parar no Museu do Ipiranga e adormece na cama de Dom Pedro II, onde sonha que está dançando com a Marquesa de Santos. Há sequências sensacionais no filme, como aquelas em que Arlindo imita gangsters do cinema americano ou finge ser um enviado do além. No final, já com o gato de estimação de volta, a dona homenageia o heroísmo de Arlindo, mas o rapaz se envolve em novas confusões e desta vez acaba sendo preso. O final é feliz, no entanto. Cinedistri Meio Século de Amor pelo Cinema Durante a Segunda Guerra, acompanhando o desenvolvimento vertiginoso do País e o aumento desenfreado da população nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, desenvolvia-se uma produção cultural voltada para atender a esse mercado urbano que despontava. Impulsionada pela supremacia do rádio, a indústria fonográfica, ao final da guerra, explodiu e na esteira desse sucesso o cinema floresceu. Longas filas identificavam as fachadas dos cinemas que exibiam comédias musicais, mais conhecidas como chanchadas, e que tinham como atrações os cantores famosos. Nos cinemas, o povo podia não só ouvir, mas conhecer seus ídolos. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro acabava funcionando como a maior divulgadora desses filmes produzidos pela Atlântida e Cinédia e que eram geralmente lançados às vésperas do Carnaval. Era uma época em que as próprias empresas produtoras cuidavam da distribuição de seus filmes. A Cinédia, em São Paulo, dedicava-se exclusivamente à distribuição de filmes brasileiros – O Ébrio, de Gilda de Abreu, Obrigado Doutor, de Moacyr Fenelon, e Romance Proibido, de Adhemar Gonzaga. Quem gerenciava a empresa era Oswaldo Massaini, um apaixonado pelo cinema brasileiro. Quando o diretor da Cinédia, o pioneiro Adhemar Gonzaga, resolveu encerrar as atividades de distribuição, Massaini acabou criando sua própria distribuidora, a Cinedistri. E ao optar por espetáculos de mais fácil assimiliação pelo grande público, em parceria com os irmãos Eudes e Eurídes Ramos da Cinelândia Filmes do Rio de Janeiro, contratou Mazzaropi para três produções: Fuzileiro do Amor, O Noivo da Girafa e Chico Fumaça. Seu salário seria de 600 contos por quatro filmes. Esta fase de Mazzaropi ficaria caracterizada por uma desvinculação da figura do caipira paulista e por uma aproximação com a tradição cinematográfica tipicamente carioca, com ecos de chanchada. Após esta trilogia, Mazza, seguro da sua importância, já não conseguiu mais se submeter ao comando de outros na frente ou atrás das câmeras. Um quarto filme, estabelecido em contrato, jamais foi feito porque Mazzaropi, atento ao enorme retorno que seus filmes proporcionavam, decidiu apostar todas as suas fichas em produções independentes. Como bem lembra o crítico Inácio Araújo, em matéria da Folha de S.Paulo, de 9 de fevereiro de 1992: “Ver um de seus filmes era uma experiência diferente da que ofereciam os filmes normais. Quando Mazza saía de cena, os espectadores coçavam as costas, conversavam, comiam pipoca. Quando voltava, de imediato estouravam as gargalhadas. Ele não havia feito nada. Havia andado com seu jeito característico, balançado o corpo à sua maneira. Era o que bastava. É conhecida a história do assistente barbudo que, certa vez, propôs ao diretor do filme que estavam fazendo realizar um plano que lhe parecia ‘artístico’. Mazzaropi ouviu a conversa e disse ao diretor: Tira o barbudinho daqui que o barbudinho está louco. Mazza falava cheio de convicção: Vai gastar filme com close da minha mão? Ninguém quer ver a minha mão, querem ver o Jeca por inteiro. A grande virada da Cinedistri se daria, ainda no início dos anos 60, com a estreia de Anselmo Duarte na direção do filme Absolutamente Certo. A segunda experiência do ator em direção, ainda pelas mãos de Oswaldo Massaini, marcaria a história do cinema nacional para sempre: O Pagador de Promessas. Se há algo de curioso em relação ao filme, é que Massaini insistiu durante muito tempo para que Anselmo Duarte contratasse Mazzaropi para o papel de Zé do Burro. Mazza, no entanto, agradeceu o convite, contudo, foi o primeiro a descartar essa possibilidade por querer se dedicar exclusivamente às suas produções. Acreditava, também, que o filme de Anselmo Duarte deveria ter uma abordagem mais séria, em descompasso com a comicidade que iria imprimir ao filme, descaracterizando a obra. Trata-se de mais um exemplo do discernimento artístico e comercial de Mazzaropi. Oswaldo Massaíni, por sua vez, foi ainda responsável pelos sucessos de Dercy Gonçalves no cinema e pelos principais filmes do chamado Ciclo do Cangaço dirigido pelo saudoso Carlos Coimbra. Com um currículo de mais de 90 filmes, escreveu seu nome na história do cinema nacional como um dos maiores produtores brasileiros de todos os tempos. Fuzileiro do Amor (1956) Mazzaropi interpretava José Ambrósio, um modesto sapateiro que entra para o Corpo de Fuzileiros Navais só para agradar ao pai da namorada, um sargentão reformado. Os problemas começam com seu instrutor e aumentam quando surge em cena o sargento Ambrósio José, o irmão gêmeo e literalmente diferente de José Ambrósio. O filme marca a estreia no cinema do ator Daniel Filho e o duplo papel é uma mostra efetiva da versatilidade de Mazzaropi como ator. O Noivo da Girafa (1957) Aparício Boa Morte trabalha no Jardim Zoológico e é incansavelmente azucrinado por seu chefe e por dois colegas de trabalho, que jogam todo o trabalho pesado em cima dele. Ninguém parece entender seu modo simples de ver a vida. Mas o que Aparício guarda mesmo é um amor secreto por Clara. Quando surge a informação de que Aparício seria portador de uma doença mortal, todos os seus desafetos passam a tratá-lo com carinho e até Clara se aproxima do rapaz, aceitando seu pedido de casamento. O filme termina com Aparício recebendo a notícia de uma herança que o transforma em milionário. O recurso do sonho é usado mais uma vez em um filme de Mazzaropi, quando ele imagina ser um pistoleiro do Velho Oeste, que rapta Clara. Chico Fumaça (1958) Chico é um caipira que adora trens e sonha em ser maquinista. Deve a Deus e ao mundo, mas sempre paga suas dívidas com a vaca de estimação e o leite que tira dela. Sempre dá um jeito de pegar a vaca de volta. Certo dia, observando o trem, como costumava fazer, viu um defeito na ferrovia e ao avisar o dono da companhia do problema, que poderia ocasionar uma tragédia, é considerado um herói pelas autoridades. Graças a esse ato de generosidade, Chico vai buscar no Rio de Janeiro um prêmio em dinheiro e começa a tomar contato com um mundo novo feito de luxo, tecnologia e boemia. Um grupo resolve roubá-lo, mas Chico desmascara os bandidos e volta à sua cidade novamente como herói. Um detalhe curioso sobre esta produção é que a história, tal qual é mostrada na tela, havia de fato acontecido, excluindo as partes cômicas, com um tal de Lázaro Adorno. O governo que havia prometido pagar os estudos de seus filhos nada fez. A estrada de ferro lhe prometera passagens vitalícias e não cumpriu o trato e, no fim das contas, a única coisa de concreto recebida era uma medalha da Ordem Nacional do Mérito. Diante do sucesso do filme, Lázaro se sentiu ridicularizado e pediu indenização aos produtores do filme e ao ator, por danos morais. Os réus foram absolvidos e o caso virou mais uma das histórias do Mazza. Mazzaropi em Quadrinhos Um fato saborosamente curioso e conhecido de muito pouca gente é que Mazza foi até tema para histórias em quadrinhos sobre as aventuras do Jeca. Tratava-se de trabalho realizado pelas mãos de artistas renomados e a publicação era distribuída por uma das maiores editoras de quadrinhos dos anos 50 e 60, a paulista Editora La Selva, que ficaria conhecida por seus gibis de terror. Circulavam com seu selo nada menos que 28 títulos, com tiragem total próxima de dois milhões de exemplares por mês. Entre suas mais bem sucedidas séries estavam as das duplas de palhaços de circo e da TV Fuzarca e Torresmo, Arrelia e Pimentinha e Fred e Carequinha e dos comediantes de cinema Oscarito e Grande Otelo. Por duas vezes, Mazzaropi foi tema de histórias em quadrinhos. A primeira, de 1957 a 1958, quando circulou a primeira série das famosas revistinhas em formato americano (a metade de um tablóide). O primeiro número, que trazia as historinhas Mazzaropi vai à cidade e Caipira Atômico foi publicado em julho de 1957 inaugurando assim os causos apelidados na ocasião de “caipiradas em quadrinhos”, e nos treze meses seguintes foram lançadas catorze edições de 32 páginas cada, todas elas com as capas desenhadas com o traço inconfundível e genial do renomado artista Jayme Cortez responsável pela criação de alguns dos melhores cartazes do cinema brasileiro, alguns deles para o próprio Mazzaropi. A segunda série de revistas em quadrinhos do Mazzaropi foi lançada em dezembro de 1965 e durou até agosto de 1967, com vinte edições, sendo que catorze podem ser consideradas apenas relançamentos que não obedeciam à ordem original de numeração. As seis edições diferenciadas tiveram capas criadas pelo artista Izomar Guilherme. Os roteiristas das duas séries foram, além de Izomar Guilherme, Alberto Maduar (o mesmo que daria nomes em português a boa parte dos personagens Disney no Brasil), Flávio de Souza e Cláudio de Souza. As histórias foram desenhadas por Queiroz, Messias, Sergio M. Lima, Luiz Webster, Aylton Thomaz, Angelo Nunes e Izomar. Inusitadamente, em maio de 1967, foi lançada uma única vez, uma edição extra em forma de coletânea e com capa exclusiva sob o título Mazzaropi e Abbott e Costello. Todas estas publicações divulgadas à época como A mais querida revista cômica do Brasil representam um item raríssimo e muito disputado entre os colecionadores e aficionados por quadrinhos nacionais. O que me levou a fazer cinema? Foi a necessidade. Ganhava uma nota tremenda no tempo da Vera Cruz, mas ela acabou fechando as portas. Aí fui para o Rio, mas o dinheiro não dava. A fita ficava pronta e eu sem dinheiro. Então resolvi fazer uma fita, né? A reação do público foi ótima, espetacular. Neste dia fiquei sabendo quanto valia Mazzaropi em termos de cruzeiros. Até o lançamento do filme eu não sabia... Mazzaropi, em entrevista ao jornal Agora S. José dos Campos, em 27/02/71 PAM Filmes Em 1958, a Cinedistri havia produzido seu 8º filme, Chico Fumaça, e seu sucesso levou Mazzaropi a comentar com a mãe que todos os produtores de seus filmes haviam ganhado muito dinheiro com seu nome, muito mais do que ele havia imaginado ser possível no início de sua carreira no cinema. Queria dar um passo rumo à autonomia de produção. Dona Clara, como já havia feito em várias ocasiões ao longo da carreira do filho, se dispõe mais uma vez a arriscar o que havia construído e o encoraja a fazer seu primeiro filme autoproduzido. Mazzaropi, então, se desfaz de todos os bens que havia acumulado – dois carros Chevrolet americanos, terrenos e todas as suas economias; muda o filho de criação, Péricles Moreira, de um colégio particular para um colégio estadual e resolve alugar os estúdios da Companhia Cinematográfica Vera Cruz e seus equipamentos para rodar seu primeiro filme, Chofer de Praça. No final das gravações, viu-se obrigado a fazer uma temporada de shows por várias cidades do interior para terminar a produção, pois todo o seu dinheiro havia acabado. Decidi eu mesmo fazer a direção de minhas fitas porque os diretores queriam transformar o meu personagem num caipira sueco, sofisticado, diferente na linguagem, nas roupas e no comportamento do brasileiro. Foi o momento decisivo de Mazzaropi, então com 46 anos de idade, investir em um sonho, o cinema. Nessa ocasião, chegou a ser entrevistado com a família para a Revista do Rádio para falar dos rumos que sua vida profissional havia tomado e das possibilidades incertas que o futuro lhe apresentava. O artista, que era muito reservado com relação à sua vida pessoal, registrava nessa matéria, excepcionalmente, alguns momentos de sua intimidade, posando ao lado da mãe e dos dois filhos adotivos. Péricles Moreira, um deles, era filho de uma de suas empregadas e havia sido adotado desde o nascimento. Em determinado momento da entrevista Mazzaropi falava com seriedade da situação em que se encontrava: Fundei a companhia produtora que tem o meu nome. Terminei agora meu primeiro filme, Chofer de Praça, uma comédia sofisticada. Gastei o dinheiro que tinha e o que não tinha! Qualquer fracasso financeiro redundará na completa ruína. Além de produzir, a PAM Filmes – Produções Amácio Mazzaropi – passava a cuidar também do lançamento e distribuição de seus filmes por todo o Brasil. Foi montada uma equipe de fiscais de porta de cinema, formada por pessoas de confiança, muitas vezes aposentadas e extremamente idôneas, cujo trabalho era registrar o tráfego da bilheteria e o resultado dos filmes para evitar que seu investimento fosse comprometido por algum exibidor mal-intencionado. Mais uma atitude que demonstrava, na prática, o extremo talento de Mazzaropi para os negócios. A PAM Filmes seria oficialmente instituída como empresa no dia 17 de julho de 1962, com um capital social inicial de cinco milhões de cruzeiros, sendo seu sócio-majoritário, presidente e fundador Amácio Mazzaropi, detentor de 3000 ações, seguido por sua mãe, Clara Mazzaropi, com 1500 ações, e os acionistas com 100 ações cada: o filho, Péricles Moreira, e os amigos de confiança: Argeu Ferrari, Pedro Francelino de Souza, Gentil Rodrigues Pereira e Manoel Rodrigues Pereira. A empresa estava habilitada em seu contrato social à importação, exportação, distribuição, produção e exibição de filmes cinematográficos, podendo efetuar todas as operações comerciais, industriais e financeiras úteis à sua atividade. Mazzaropi se cercava, desde o início, de todas as possibilidades de atuação de seu mercado e colocaria cada uma delas em prática adquirindo controle total sob seus filmes. De ponta a ponta. Eu descobri que não se faz cinema sem dominar produção, distribuição e exibição. Por isso sou dono de tudo. A empresa ficaria aberta durante toda a vida de Mazzaropi, até seu último filme, cuidando exclusivamente de suas produções, embora ele tenha pensado, em meados da década de 70, que poderia vir a usar sua estrutura para a produção de filmes de terceiros. No entanto, todos os projetos que lhe apresentaram não pareciam oferecer possibilidade de retorno à altura dos investimentos necessários. O filme Chofer de Praça representava uma homenagem de Mazza à profissão de seu saudoso pai, Bernardo, e foi um sucesso. O dinheiro ganho com a produção seria investido na próxima e assim consecutivamente, num processo que autenticaria a declaração de Mazza: Tudo o que eu ganho, invisto no cinema nacional. De fato, em um curto espaço de tempo, graças às extraordinárias rendas de bilheteria, Mazzaropi faria da PAM Filmes a mais rentável produtora de cinema do País, expandindo seus escritórios e aumentando o número de funcionários em todo o País. A matriz da distribuidora ficava em São Paulo, a filial no Rio de Janeiro e havia sedes próprias em Belo Horizonte, Curitiba, Recife e Porto Alegre. Em São Paulo trabalhavam 80 pessoas. O artista e o empresário, enfim, se uniam e Mazzaropi conquistava sua independência. Ninguém segurava mais o Jeca. Estou inclusive adiantado em relação ao governo brasileiro, que pretende fazer um estúdio entre São Paulo e Rio. Eu consigo esquecer o Mazzaropi empresário para ser o Mazzaropi artista. Aliás, eu gosto mais do artista que do empre- sário. Fui empresário por força das circunstâncias. Mas não adianta ser bom artista, se não sabe vender o produto. Ninguém vai dizer que você vale dez se puder lhe dar dois. Você é que tem de se valorizar. Então, é preciso ser bom comerciante para ser bom artista, para ter sucesso. Chofer de Praça (1958) Com um pé na tradição teatral das peças filodramáticas e ítalo-brasileiras, não se pode afirmar que esta mistura de comédia com dramalhão – “rir e fazer chorar” – tenha sido diretamente baseada na peça do repertório antigo de Mazzaropi Filho de Sapateiro, Sapateiro Deve Ser, embora guarde similaridades com esta. A historiadora Olga Rodrigues Nunes de Souza acredita que o filme tenha sido inspirado diretamente na peça argentina Ilusiones de la Vieja y del Viejo, traduzida no Brasil para Pelo Pouco que se Vive, por Alfredo Viviane. O fato é que Mazzaropi procurava inspiração para seus filmes nos calhamaços de peças teatrais que guardava em seu escritório e sobre os quais se debruçava, por incontáveis horas. Certo é que em sua primeira produção, no momento em que arriscava tudo, usaria todas as armas que pudesse para alcançar o êxito de que tanto necessitava. Sua experiência com o teatro era uma destas armas e se lhe serviu de inspiração ou não o fato é que Chofer de Praça foi uma escolha extremamente feliz em sua composição e representou, indubitavelmente, um início com o pé direito. Maior ainda foi seu êxito se levarmos em consideração que, em 1958, a produção de filmes nacionais sofria mais uma de suas incontáveis crises, sendo que apenas dois outros filmes paulistas haviam sido lançados: Fronteiras do Inferno, de Walter Hugo Khouri, uma coprodução americana, e Macumba na Alta, coprodução majoritariamente italiana. Somente o filme de Mazzaropi foi realizado com capital nacional. Em agosto desse mesmo ano Mamor Miyao, crítico do jornal Notícias de Hoje, apontava um futuro negro para a produção paulista com problemática similar ao que se vê nos dias de hoje, ou seja: o excesso de produção do ano anterior e o acúmulo e esgotamento de recursos pelos investimentos através da Lei Municipal de Incentivo ao cinema e os financiamentos através do Banco do Estado; os fracassos de bilheteria de filmes que não corresponderam ao gosto popular; o aumento no preço dos ingressos tornando o público mais seletivo; distribuidores engavetando filmes na espera de um momento melhor; a baixa qualidade das produções nacionais e a superioridade de oferta de produções do Exterior. Mazzaropi, no entanto, alheio às crises do setor, começava neste contexto sua escalada rumo ao ponto mais alto do cinema nacional. Chofer de Praça narra a luta de Zacarias, um sujeito ranzinza, mas de bom coração, casado com Augusta e cujo filho está completando os estudos de Medicina. É pensando em ajudá-lo que os pais decidem arrumar emprego na cidade grande e para lá se mudam. Caria, ou Zacarias, consegue serviço como chofer de praça de um carro caindo aos pedaços e só atrai confusão com os fregueses que arruma. O filho Raul se faz passar por rico e afasta os pais de seus planos. Na cena em que sai do banheiro só de toalha, ensaiando passos para o baile de formatura do filho, Zacarias ensaia uma cumplicidade cada vez maior com o público que sabe que ele não foi convidado para a festa. Pela graça de seus movimentos, Mazzaropi consegue extrair ali um momento extremamente tocante, belo e cheio de poesia. Trata-se de uma das cenas mais singelas não só de sua obra, mas que merece constar de qualquer antologia do cinema nacional. Jeca Tatu (1959) O ano de 1959 foi significativo na vida de Mazzaropi, pois entraram em cartaz dois filmes seus: Chico Fumaça e Chofer de Praça. Ao mesmo tempo, recebe e aceita o convite de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni (em início de carreira, ainda na TV Excelsior de São Paulo), para protagonizar um programa de variedades (no ar de 1959 a 1962) com espaço aberto para o uso pleno de seus múltiplos talentos. Nele, Mazza era cantor, ator, comediante e até entrevistador. Ainda em 1959, Mazza filmaria um clássico: Jeca Tatu. No início, diziam que eu fazia um caipira estilizado. Não é estilizado, não. Eles que não têm conhecimento da realidade brasileira. Leem livros de Monteiro Lobato e de outros escritores, mas interpretam da maneira deles... Como não convivem com o caipira, com o pessoal da roça, acham que não é daquele jeito. Acham que caipira tem que ser como o da festa de São João, em baile de Santo Antônio. Isto sim que é estilização. Apesar de apresentar seu personagem como uma sincera homenagem ao saudoso Monteiro Lobato, Mazza sempre procurou deixar claro que seus Jecas eram diferentes. O conto do escritor, Jeca Tatuzinho, havia sido plenamente difundido por meio do Almanaque do Biotônico Fontoura e representou um dos maiores fenômenos de penetração pública de sua época. A revistinha era distribuída gratuitamente nas farmácias e outros estabelecimentos de todo o País e sua tiragem bateu todos os recordes de qualquer publicação impressa daquele período – alguns registros informam que o almanaque chegou a 80 milhões de exemplares distribuídos. Monteiro Lobato apresentava o Jeca como uma figura subdesenvolvida, doente, apática, que recobrava o vigor e a saúde após o uso do Biotônico Fontoura. O escritor usara seu personagem Jeca em um conto chamado Urupês (de livro homônimo) e no texto “Velha Praga” publicado no jornal O Estado de S.Paulo em 1914 e recebera críticas que o acusavam de preconceituoso. O Jeca de Mazzaropi era a representação do homem do campo em confronto com a cidade grande e a evolução. Também guardava as características de seus antecessores, como a preguiça e a ingenuidade, embora tendesse a ser mais esperto e matreiro. Demorou para que tomasse a forma final e acabada que eternizou o Jeca no cinema como o conhecemos, pois numa época era desdentado e nem sempre teve o famoso bigodinho “pó-de-café”. O Jeca de Mazzaropi gerava uma identificação imediata com as pessoas que vinham do campo ou do Nordeste para trabalhar na cidade e viam naquela figura o conservadorismo e o atraso de que fugiam. Ao mesmo tempo, fazia com que essas pessoas se sentissem mais modernas do que o personagem. Foi desse contexto que Paulo Emílio Salles Gomes concluiu: O Jeca atinge fundo o arcaico da sociedade brasileira e de cada um de nós. Com o filme, Mazzaropi reivindica o título de Jeca para si, pela primeira vez. Daí em diante, seria quase que impossível falar no nome do Jeca sem associá-lo ao do artista. Não há como negar a importância da dimensão que ele alcançou com esta associação. O conceito estava selado e Mazzaropi inserido para sempre na galeria dos mitos populares de nossa história. Eu convivi muito com o povo. Sou um caipira. E São Paulo é uma cidade de caipiras. Tem dois tipos: o estilo Jeca Tatu e o homem que fala como todo o paulista, que tem aos montões por aí. Tem gente que vai na França e depois passa a vida inteira falando na torre, ‘na torre do enfia’, eles dizem. Esse cara também é um caipira, um caipira do dinheiro. Tem outro caipira. O homem do interior que vai ver o prédio do Banco do Estado e fica dizendo: ‘Ai, meu Deus do céu, essa geringonça vai desabar na minha cabeça’. É o caipirão. Tem também outra faixa de caipira, que é a faixa dos metidos, dos sofisticados, dos metidos a bom, daqueles que querem impor o que pensam. Para esses eu digo que o gênero humano é todo igual, que não adianta querer imposições e que eu estou cansado de ver muito advogado esnobe andando com o Tio Patinhas no bolso e depois querendo meter bronca. O filme Jeca Tatu começa com um típico confronto entre dois opostos. Ao lado da fazenda do italiano Giovanni, vive o preguiçoso Jeca Tatu, o tempo todo esculachado pela esposa que não suporta sua calma e lentidão diante de tudo. Sua filha, Marina, uma bela moça, sente-se ameaçada pelo capataz da fazenda vizinha, o Vaca-Brava. Qualquer coisa é motivo para briga entre os dois, Jeca e Giovanni, o ingênuo versus o progressista. Marina está enamorada por Marcos, filho de Giovanni, e nenhum dos pais aprova o namoro dos filhos. Giovanni, enraivecido, incendeia a casa do Jeca e este parte com a família em uma sequência cheia de poesia e das mais antológicas dentro de sua obra. Mazzaropi canta a música Fogo no Rancho. Na cidade grande, Jeca se assusta com os novos costumes, Marina e Marcos se reencontram e Giovanni e Jeca, finalmente, fazem as pazes. Em outra bela sequência, até os bichos do Jeca estão vestidos com roupinhas. Mazzaropi termina o filme cantando e seu visual de Jeca evoluído e chique, segundo ele, remetia ao caipira de Sebastião Arruda. Eu não nego que foi copiado de Sebastião Arruda, que atuava no teatro de elite, não era teatrinho, não, era teatro de elite. Nas grandes companhias existiam os atores que imitavam alemão, italiano, e o Sebastião Arruda imitava o caipira. Ele era um ator perfeito. Imitava o caboclo com muita naturalidade, pois tem gente que quando imita o caboclo exagera... Arruda não fazia o caboclo de pés no chão e doente, como na historinha do Biotônico Fontoura. Ele fazia o caboclo de roupa nova, de brim, bonitão, diferente do Jeca... o Jeca sarou e mudou de vida. O Jeca e os Anos 60 Os anos 60 marcam uma revolução nos valores e costumes da sociedade. É a época da liberação sexual, do biquíni, da minissaia, dos Beatles, da Bossa Nova, da Jovem Guarda, do Tropicalismo, do homem na lua, dos golpes políticos, dos conflitos estudantis, das guerras e do sonho e luta por um mundo melhor, representados pelos ideais de paz e amor. Em meio a tanta efervescência e idealismo, novos ventos também sopravam para o cinema nacional: é a época da revolução estética pregada pelo Cinema Novo de Glauber Rocha e companhia, do cinema marginal e surreal de Rogério Sganzerla, Ozualdo Candeias e Mojica. Enquanto O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, conquista a única Palma de Ouro do cinema brasileiro, Mazzaropi estabeleceria sua soberania nas bilheterias de cinema de todo o País, do começo ao fim da década. Do autoinvestimento nos primeiros filmes à consolidação de seu nome como marca, grife, como uma força de autêntica representação popular, Mazzaropi chega aos anos 60 insistindo no filão do caipira com As Aventuras de Pedro Malasartes e com o primeiro filme colorido de sua carreira, Tristeza do Jeca, um belo exemplo de como usava seus ganhos em equipamento, profissionais e estrutura para poder oferecer o melhor produto possível para seu público. Casinha Pequenina é considerado até pela crítica carrancuda como o melhor de sua produção, seja por sua realização bem cuidada (reconstituição de época, cenários e figurinos), pelos recursos humanos e técnicos envolvidos na produção, como pelo excelente elenco que contava com Tarcísio Meira e Luís Gustavo, em início de carreira. No decorrer da década, ele passaria a lançar mão de um recurso temático que seria muito comum em sua obra cinematográfica, o uso de assuntos de alto teor de interesse junto às massas. É o caso do fanatismo das torcidas de futebol em O Corintiano, do rock e dos costumes dos jovens em O Puritano da Rua Augusta. As paródias aos filmes de western aparecem em Uma Pistola para Djeca, a versão jeca do famoso personagem Django, e em O Lamparina, uma versão mazzaropiana do clássico O Cangaceiro de Lima Barreto. Mazzaropi chegaria ao fim dos anos 60 como um fenômeno de massas, com seus filmes no topo das bilheterias nacionais e lutando em pé de igualdade com as produções estrangeiras que tinham que esperar pelo Jeca para encontrar lugar nas salas de exibição. Em Taubaté, ele consegue montar uma estrutura invejável para o funcionamento da PAM Filmes, criando um núcleo de produção em uma fazenda adquirida para ali montar seus estúdios e alojamentos com direito a refeitório, galpão de equipamentos de última geração e que também funcionava como hotel (e local para a produção de leite) entre uma produção e outra. Na outra ponta, para garantir a distribuição de seus filmes, Mazzaropi tinha, além de seus fiscais de porta de cinema, vários escritórios espalhados nas principais capitais do País e sua sede no Largo do Paissandu, 132, em São Paulo, muito próximo do Cine Art Palácio, sua base de lançamento para o grande circuito e palco de antológicas e concorridas noites de estreia recheadas de glamour, com tapete vermelho, limousine, flashes de dezenas de fotógrafos, multidões, empurra-empurra, tráfego interrompido, carnaval improvisado e muito mais. As Aventuras de Pedro Malasartes (1960) Em 1960, após a estreia de Jeca Tatu, Mazzaropi inicia as filmagens de As Aventuras de Pedro Malasartes, seu 11o filme, e sua estreia como diretor. A partir deste momento-chave, ele passa a produzir ininterruptamente, amarrando um filme ao outro, obstinado a conquistar o mais rápido possível o seu ideal de indústria audiovisual e inicia, na sequência, em 1961, o longa Zé do Periquito. É nessa época que reivindica para si o título de O Rei do Cinema Nacional e os consecutivos recordes de bilheteria só levam a acreditar que não havia concorrente que pudesse ameaçar seu trono. Em As Aventuras de Pedro Malasartes, Mazzaropi lança mão, novamente, do recurso de utilizar um personagem da cultura popular para buscar uma imediata identificação com o público, neste caso, o conhecido personagem de inúmeras histórias contadas por repentistas, livros de bolso e literatura de cordel. Tudo começa quando, ao chegar em sua casa na fazenda, Pedro recebe a notícia de que seu pai havia falecido. Enganado pelos próprios irmãos que tomam posse de todo o gado, do dinheiro e da fazenda, nada lhe resta a não ser abandonar a terra em que morava levando apenas um ganso, um tacho velho e poucas roupas. Pelo caminho, encontra um grupo de crianças abandonadas que se afeiçoam a ele e das quais ele passa a cuidar. Atrapalhado e mesmo tendo um grande coração, Pedro começa a aplicar pequenos golpes naqueles que encontra para poder cuidar das crianças e primeiro vende seu tacho e depois o ganso dizendo que é mágico. A lista de pessoas enganadas aumenta e ele se vê envolvido em uma série de confusões até que têm que se separar. Esse é o mote para algumas das cenas mais dramáticas do filme, de alto teor chapliniano. Após Pedro assumir sua culpa e justificar seus atos, tudo é explicado e ele consegue encontrar um destino melhor para as crianças sem se distanciar delas. Zé do Periquito (1960) Genó é jardineiro de um colégio e se encanta por uma das alunas, Carmem, filha de um bem-sucedido empresário, que passa por dificuldades financeiras. Para poder conquistar a moça, Genó deixa o emprego de jardineiro e vai para outra cidade onde trabalha com seu realejo em busca de dinheiro. O realejo fica famoso e, em pouco tempo, Genó consegue uma pequena fortuna. Compra um carro e volta para sua cidade com a intenção de casar com Carmem, que é o que acontece. No entanto, os desprazeres que o dinheiro lhe traz são tantos que ele deixa sua fortuna para uma instituição de caridade e volta a ser jardineiro do colégio. O homem Mazzaropi é um empresário que pensa na sua empresa, a PAM Filmes. Pensa na evolução do cinema brasileiro em termos comerciais. Ao passo que o Mazzaropi ator pensa naquilo que o povo quer ver, que gosta. Então, é preciso ser bom comerciante para ser bom artista, para ter sucesso. Mazzaropi, em entrevista ao Folhetim, Folha de S. Paulo, 02/07/78. A Fazenda Santa O ano de 1961 é de investimento para Mazzaropi. Ele adquire os 184 alqueires da Fazenda Santa, em Taubaté, e inicia a construção de seu primeiro estúdio onde antes funcionavam os celeiros. Aproveita de tudo, do local para a filmagem e acomodações para elenco e equipe técnica, até o leite que as vacas produzem e ele fornece para a empresa Leite Paulista. Conduz seu estúdio com mãos tão firmes que ganha a fama de “mão-de-vaca” e “linha dura”. Na verdade, Mazza era extremamente rígido como patrão e não permitia nem mesmo que os rapazes de sua equipe ser envolvessem com as moças que trabalhavam em suas produções, fossem elas atrizes ou empregadas, exercendo funções mais simples. Para evitar problemas, separava os alojamentos por sexo – homens de um lado, mulheres de outro – criando assim o que foi carinhosamente apelidado de Solar ou Casa das Virgens. Ele mesmo vigiava a casa para evitar as tentativas sorrateiras de visitas noturnas por parte dos garotos. Eram situações tão cômicas que poderiam muito bem figurar entre as cenas mais engraçadas de seus filmes. Se alguém tentava lhe passar a perna, o que era impossível, ele soltava a língua como uma metralhadora e chegava a ser até mal-educado tamanha a sua sinceridade. Gostava de dizer, a respeito daqueles que queriam lhe tirar vantagem: Quando alguém abre a porteira do estúdio, lá de cima eu vejo quem entrou. Se é problema de dinheiro, eu reconheço só pelo jeito de andar do camarada. Eu respiro fundo e jogo toda a minha conversa em cima dele. Nunca perdi uma. E eu sei que ganhei, porque todo mundo que entra, sai do estúdio andando de um jeito diferente do que entrou. Tudo era uma questão de administração. Aos gerentes de banco, Mazzaropi costumava dizer que sua palavra era a garantia de que eles precisavam e seu único avalista era Deus. Quanto aos atores, embora fosse considerado bom pagador, negociava muito bem os cachês. Tinha por prática fazer, no máximo, três takes de uma cena para garantir que não seria necessário gravá-la de novo. Um detalhe importante: num caderninho, ele calculava quantas vezes os atores repetiriam suas cenas para saber o quanto cada um deles representava em metros de filme perdidos. Dependendo do gasto, Mazzaropi teria mais um argumento para negociar cachês e até optar pela não contratação deste ou daquele ator ou atriz em uma futura produção. Mazzaropi teria sido o único artista do mundo, em sua época, a ter assegurada em contrato a exibição de mais de um filme em um mesmo circuito exibidor. Filme pronto, não faltava onde passar. De caipira não tinha nada e se em algum momento se sentia julgado, explicava: ... Às vezes eu entro num negócio, o sujeito olha pra mim... Eu percebo o desprezo, mas ele não sabe que já li todos os pensamentos dele. É natural, no entanto, que ele mesmo tenha ajudado a alimentar a lenda a respeito de sua figura folclórica. Contam que certa vez, para agradar a um repórter em visita aos estúdios, ele mandou complementar o arroz e a carne moída que seriam servidos com um ovo frito por pessoa. Sem cerimônia, e com o próprio garfo, diante da apatia gastronômica do repórter, que nem gostava de ovo mole, apertou o ovo no prato e falou ao jornalista: Espaiando o ovo rende mais... E você não pede outro! Brincadeiras à parte, Mazzaropi exercia pleno controle sobre sua estrutura, não permitindo gastos desnecessários, mas, ao mesmo tempo, provendo seus atores e técnicos com condições que, até então, não estavam disponíveis para nenhum outro artista brasileiro. A PAM seria conhecida como a “Hollywood Caipira” e concretizaria seu sonho: a criação da indústria brasileira de cinema. Tristeza do Jeca (1961) Na Fazenda Santa, Mazzaropi realiza parcialmente seu mais ambicioso projeto até então: Tristeza do Jeca, sua primeira produção gravada em Eastmancolor, cuja revelação e a trucagem foram feitas na Cidade do México com o equipamento mais avançado disponível. O filme imediatamente se transforma na menina dos olhos do artista que vê pela primeira vez, em outubro de 1961, um filme seu exibido no prestigioso Festival de Cinema Brasileiro da TV Excelsior. Tristeza do Jeca é um sucesso enorme de público e antes até do lançamento já tinha recuperado uma parte de seu investimento. É que Mazzaropi, pessoalmente, tinha negociado com os distribuidores um porcentual maior, alegando que, como o filme era colorido, era maior a garantia de retorno junto aos exibidores. O filme toca no assunto de disputas políticas realizadas em uma cidade do interior, embora Mazza nunca tenha demonstrado, em seus trabalhos, simpatia pela figura demagógica dos políticos. Na vida real, também não queria muita conversa com eles. Em uma das poucas vezes em que pôs a mão no bolso não visando a retorno algum, foi para doar asfalto para a cidade de Taubaté. No dia da inauguração, um político da capital subiu ao palanque para fazer a entrega da obra para a população. Com muita raiva, Mazzaropi interrompeu o discurso do político, desmascarando-o em praça pública. Anos depois, tiraria proveito de uma situação parecida, em visita do presidente da República, Ernesto Geisel, à cidade de Taubaté. Mazzaropi subiu ao palanque para cumprimentá-lo, mas aproveitou a ocasião para reclamar publicamente da falta de asfalto na estrada de seu estúdio. No dia seguinte, as obras começaram. O Jeca do filme é um líder entre os colonos da fazenda onde mora que passa a ser assediado, em plena época de eleição, pelos coronéis Felinto, dono das terras em que vive, e Policarpo, que carrega a bandeira de defensor dos direitos do homem do campo. Jeca, matreiro como poucos, opta pelo lado que lhe convém, embora os políticos peçam seu apoio publicamente. A cena de um dos comícios é realizada com um jogo de palavras e duplo sentido cheio de inteligência. As eleições ocorrem num clima de suborno e Jeca acaba encontrando em Policarpo seu benfeitor. Após o lançamento do filme, Mazzaropi sofre um golpe e o caso é amplamente divulgado pela mídia como “A Dança dos Milhões”. Mazzaropi foi acusado de uso indevido da canção Tristeza do Jeca, por parte de um dos herdeiros do compositor da música, o maestro Angelino de Oliveira. Mazzaropi quis entrar em acordo com o herdeiro, mas desistiu diante da quantia exigida, em torno de um milhão de cruzeiros. Um de seus advogados, Ítalo Fittipaldi, se manifestou desta forma na ocasião: Produtores fracassados do cinema nacional, que vivem à custa do Banco do Estado, estão se aproveitando da celeuma levantada pelo acusação de usurpação de direitos autorais para mover guerra contra Mazzaropi. Ninguém desconhece que meu constituinte é campeão de bilheteria. Assim, esses despeitados aproveitam-se da oportunidade para tentar prejudicá-lo. O que ficou comprovado foi que o maestro Angelino havia vendido seus direitos autorais em 1923, e esses direitos foram sendo transferidos sucessivamente até os detentores na ocasião em que Mazza utilizou a canção. Em sua defesa, Mazza apresentou recibo da entidade responsável pela arrecadação de direitos autorais, sendo absolvido da ação cível a que foi submetido. O Vendedor de Linguiça (1961-1962) Gustavo é um vendedor de linguiça meio grosseiro, casado com Ernesta e com dois filhos, Flora e Dudu. O filho trabalha com o pai e Flora é empregada doméstica num bairro de classe média de São Paulo. Pai e o filho saem pela cidade para vender linguiça a metro e, um dia, após uma discussão com um freguês, Gustavo e o filho descuidam-se do veículo e metros de linguiça são arrastados pelas ruas por um cachorro. Impossibilitado de vender as linguiças, Gustavo vai à procura do dono do cachorro e todos acabam na delegacia. Flora, por sua vez, conhece um rapaz muito rico e, apaixonada por ele, mente que é rica. As confusões envolvendo os dois filhos de Gustavo, que não querem a mesma vida do pai, continuam durante todo o filme e sempre acabam na delegacia. O filme figurou em 2º lugar em uma lista de 18 títulos de filmes com as maiores rendas de bilheteria no ano de 1962 e marcou a estreia da parceria de Mazzaropi com Glauco Mirko Laurelli, diretor de dublagem dos estúdios da Gravasom. Laurelli havia partido para a Itália para um curso intensivo de dramatização cinematográfica e, voltando ao Brasil, dedicou-se às produções de Mazzaropi. Duque, um Ator bom pra Cachorro Assim como Lassie e Rin-Tin-Tin, o cinema brasileiro também fez questão de deixar uma marca registrada do ranking dos cachorros que marcaram época em uma série de filmes e que se tornaram verdadeiros astros do cinema. Duque foi o astro brasileiro que brilhou e fez sucesso nas décadas de 50 e 60. Nascido do Rio Grande do Sul, o pastor alemão foi treinado inicialmente para uma profissão difícil: puxar e guardar cargas. O anonimato não durou muito e, em 1950, durante as filmagens de cenas externas na Região Sul para a Vera Cruz, o cão foi descoberto pela equipe da produção do filme Terra é Sempre Terra, que se encantou com as habilidades do cachorro. Duque estreou em grande estilo, no filme Ângela, uma produção de 1951 da Vera Cruz. Trabalhou ainda em Uma Pulga na Balança e Ravina. Com Mazzaropi, formaria uma bela dupla em 1952, na produção de Sai da Frente. Lenda ou não, os rumores na época apontavam para o fato de que o cachorro artista ganhava bem mais do que muito ator de verdade, e era tratado como celebridade por toda a produção e por um fã-clube que aumentava a cada dia. O cão deu seu nome a uma escola pura cães, fundada em São Bernardo pela própria Vera Cruz e seu inseparável treinador, Jordano Martinelli. O lendário mascote da companhia conquistou em sua carreira vários prêmios em concursos para cães amestrados, além da admiração do público no Brasil e no exterior. Era considerado o melhor e mais inteligente cachorro da América Latina. No cinema, dividiu as atenções com Mazzaropi em vários filmes: O Vendedor de Linguiça, A Carrocinha, Candinho e Nadando em Dinheiro. Duque morreu aos 18 anos, em 1965, e seu descendente mais popular dentre os que trabalharam na TV foi o cachorro Lobo, grande sucesso na pioneira série O Vigilante Rodoviário. Casinha Pequenina (1962) Foi durante a produção de Casinha Pequenina, em 1962, que Mazzaropi comemorou seus 50 anos de idade e foi convidado a participar do programa Brasil 62, de Bibi Ferreira, na TV Excelsior em São Paulo. Nesse mesmo ano, seu filme Tristeza do Jeca seria reconhecido com o prêmio Cidade de São Paulo para melhor ator coadjuvante para Genésio Arruda e melhor música para o maestro Hector Lagna Fietta. O prêmio de Genésio Arruda seria motivo de orgulho para Mazza não só por causa da influência deste ator em sua formação, mas pelo fato deste receber um prêmio por um filme seu. No final do mesmo ano, Mazzaropi acrescenta à estrutura que estava montando em seu estúdio recém-inaugurado a metade dos equipamentos da Vera Cruz, arrematados em leilão e, em 1963, lança Casinha Pequenina, filme colorido cuja montagem e trucagem foram realizadas fora do Brasil, desta vez em Buenos Aires. O filme foi bem recebido pelo público e crítica e considerado um épico pelo esmero de sua ambientação e reconstituição de época. Visto como a obra-prima da filmografia de Mazzaropi, marca a estreia dos futuros astros Tarcísio Meira e Luís Gustavo no cinema. A história se passa no século 19, onde Chico, colono de bom coração, casado, dois filhos, procura proteger os escravos maltratados pelo feitor Pulso de Ferro. O dono da propriedade mantém escondida da mulher e dos filhos uma antiga vida de falcatruas, inclusive um assassinato, e por causa desse crime é chantageado. O filho mais velho do coronel, Osório, e a mãe, Josefina, defendem um tratamento mais humano para os escravos, desafiando a crueldade do pai. Quando o coronel convida Chico para morar na fazenda e ocupar o lugar do feitor, este acredita nas boas intenções do patrão, porém continua defendendo os escravos. E ainda interfere em um casamento combinado, desmascarando os farsantes. Chico é incriminado por um assassino e vai preso e, quando é enfim libertado, acontece a Abolição da Escravatura. O Lamparina (1963) Entre a realização de Casinha Pequenina e O Lamparina, Mazzaropi compra equipamentos no exterior e é o pioneiro no Brasil no uso de tecnologia de som direto nas filmagens. O Lamparina é o primeiro filme a ser produzido inteiramente na Fazenda Santa e é levemente baseado nos causos populares sobre Lampeão e Maria Bonita. Realizada com equipamentos da então extinta Vera Cruz, reduzida a locatária de maquinário e espaço de seus estúdios para produções de terceiros e comerciais, a comédia, apresentada como um furacão de graça e humor, foi assistida por 250 mil pessoas só na primeira semana. Meu Japão Brasileiro (1964) Em uma comunidade nipo-brasileira, o pequeno agricultor Fofuca enfrenta a desmedida exploração comercial de seu Leão, intermediário das transações agrícolas. Dona Magnólia, a esposa de Fofuca, cuida de uma pensão. Fofuca tenta organizar os imigrantes para a criação de uma cooperativa que é inaugurada sob os olhares atentos e traiçoeiros dos capangas de Leão que decidem sequestrar Magnólia. Fofuca consegue resgatar a esposa, é expulso de suas terras e acaba sendo acolhido pela comunidade nipônica. Depois de muita confusão, os capangas são capturados pela população e Fofuca acaba ficando com o antigo posto de Leão, voltando a paz a reinar na cidade. O Puritano da Rua Augusta (1965) O filme começou a ser produzido automaticamente em 1965, logo depois de Meu Japão Brasileiro, e nesse mesmo ano Mazzaropi é convidado pela TV Record, Canal 7, para o programa Sábado com Você, apresentado por Sônia Ribeiro, ao lado de Agnaldo Rayol e Roberto Carlos e outros artistas famosos – Zeloni, Joel de Almeida e Gregório Barrios. Mazza, que em sua casa costumava ouvir rock, Beethoven e, com o passar do tempo, Chico Buarque e Elis Regina, sempre esteve sintonizado com o gosto do público. No entanto, em plenos anos 60, quando surgem os movimentos que apontavam para mudanças de comportamento na música e no jeito jovem, realiza um filme que mostra exatamente um tipo meio antiquado, em choque com esse momento de mudança nos costumes. No filme, ele é Pundoroso, um industrial que quer divulgar sua nova religião, pautada pelos firmes valores morais e o conservadorismo dos bons costumes e, por causa dessas ideias, se torna aliado da Liga Religiosa dos Ciprianistas. Pundoroso enfrenta os filhos, “jovens transviados”, sua segunda mulher e a sogra, e chega ao ponto de expulsar de sua casa os amigos de seus filhos por estarem dançando o twist. Quando o industrial tem que se submeter a repouso absoluto por causa de um problema de saúde, muda da água para o vinho e adota costumes mais modernos que o levam ao hospício. No final, mostra que é possível aceitar os novos tempos. O filme mostra várias tomadas de São Paulo que se tornaram registro histórico importantíssimo para se saber como era a cidade naquela época: o centro, o Viaduto do Chá, a Av. São João, a Av. Nove de Julho e a famosa Rua Augusta, reduto de agitação intensa na época. O Corintiano (1966) Ao mesmo tempo que produz o filme, Mazzaropi é homenageado no 3º Festival do Cinema Brasileiro de Teresópolis e recebe o Troféu da Simpatia Popular no Programa Sílvio Santos. O Corintiano estreia em 1967 com um tema extremamente popular, a paixão pelo futebol, dando continuidade ao sucesso fenomenal de Mazzaropi junto ao povão – ele era corintiano. A festa de estreia no Cine Art Palácio é abrilhantada pela presença da torcida organizada e da bateria da Gaviões da Fiel, que transformaram a entrada do cinema na Av. São João em um carnaval antecipado. Na tela, Mazza confronta as duas maiores torcidas de São Paulo – Corinthians e Palmeiras –, mas nessa homenagem ao futebol não esquece o querido Esporte Clube Taubaté. Nos créditos iniciais do filme, dá uma mensagem para acalmar os ânimos das outras torcidas: Esclarecimento ao público: Este filme é uma homenagem a todos os clubes de futebol do Brasil e seus torcedores. Não há, nem houve, intenção de exaltar ou desmerecer um ou outro, e sim dar ao grande público que prestigia o esporte, momentos de diversão e entretenimento. O que se segue é a história de seu Manuel, barbeiro de profissão e fanático torcedor do Corinthians, que ganha um burro preto-e-branco em uma rifa. Os vizinhos italianados se divertem com a situação e quando o burro é alvo da maldade dos adversários, Manuel leva o animal para viver, literalmente, dentro de casa. Na sequência que mostra a final de campeonato entre Palmeiras e Corinthians, Mazzaropi captura todos os sentimentos do povo fanático pelo futebol: o suspense e a tensão diante das jogadas, o alívio, as comemorações, os xingamentos, as pequenas intrigas, o desespero e, enfim, a frustração com a vitória do Palmeiras. No filme, há a participação de Elisa, a lendária chefe da torcida uniformizada do Corinthians que, numa impagável cena, propõe a Manuel trocar sua esposa por ela. O Jeca e a Freira (1967) Enquanto produz O Jeca e a Freira, seu 20º filme, Mazzaropi recebe o troféu Campeão de Bilheteria do 4º Festival de Cinema de Teresópolis. Um outro prêmio, simbólico e de enorme valor para Mazzaropi, viria em 17 de janeiro de 1968: um bilhete de Austragésilo de Athayde, presidente da Academia Brasileira de Letras, que ele manda emoldurar acima de sua lareira para que todas as visitas pudessem ver, e que diz: … Mazzaropi alcançou, no cinema, o mais alto nível de sua arte. É hoje, sem nenhum favor, um artista de categoria mundial. O filme se passa em uma fazenda do interior do Brasil, por volta do século 19 e, nesta produção, Mazza é Sigismundo, um caipira que trabalha para o severo fazendeiro Pedro. A filha de Sigismundo foi mandada pelo patrão para estudar em um colégio interno e está de volta à fazenda. Ao descobrir que o fazendeiro pretende seduzir sua filha, o caipira se une à freira Isabel, que acompanha a garota, que está louca para arrumar um namorado e casar. No Paraíso das Solteironas (1968) Mazzaropi é Joaquim Cabra, apelidado de ‘JK’, um matuto que briga com o chefe que quer vender Espinafra, a vaca que o caipira criou com tanto carinho. Preocupado com o destino do animal, JK decide ir embora para a cidade levando o animal e lá conhece uma gentil senhora que, por coincidência, tem o mesmo nome da vaca. O que ele não sabe é que a cidade é um reduto de senhoras solteironas que pretendem seduzi-lo. O caipira se hospeda com a vaca na principal pensão local e, antes que sua família chegue do interior, é acusado de tentar envenenar uma de suas pretendentes. A condição para ser libertado é conceder a mão de sua filha Tereza para o delegado e como a jovem é apaixonada por um cigano, forma-se uma grande luta entre os homens da delegacia e o bando dos ciganos. Em uma das sequências do filme, Mazzaropi interpreta a canção Minha Vaquinha. O filme rendeu, de sua estreia em janeiro de 1969 até fevereiro de 1970, a estupenda marca de 2 bilhões e 650 milhões de cruzeiros. Os anúncios do filme nos jornais imprimiam, já na segunda semana de exibição, em letras garrafais: O rei supera, mais uma vez, seus próprios recordes! O circuito que exibia sua fita era formado por cinemas que até hoje fazem parte das lembranças da geração dos anos 60, que sequer imaginava o conceito dos cinemas de shoppings, os multiplex, que surgiriam décadas depois. Além do Cine Art Palácio, o caipira monopolizava as atenções nos cines Rio Branco, Festival, Riviera, Esmeralda, Astral, Itapura, Nacional, Vila Rica, Paulista, Universo, Piratininga, Ouro Verde, Júpiter, Anchieta, Maracanã, Estrela, Nevada, Sol, Gardel Palace, Clímax, Itamaraty, Candelária e Vitória. Uma Pistola para Djeca (1969) O filme era uma paródia aos westerns italianos, os chamados westerns-spaghetti, caracterizados por personagens de nomes sugestivos como Django, de onde surgiu o trocadilho para o abrasileirado Djeca. Os figurinos do velho oeste e a direção de arte tipicamente mazzaropiana eram repletos de cores vibrantes e o enredo era simples e recheado com o que o povo gosta mais: romance, drama, comédia e brigas, muitas brigas onde entravam padres, mulheres, peões (os cowboys brasileiros) e quem mais aparecesse. Mazza não tinha o mínimo pudor de fazer modificações de última hora nos roteiros dos filmes, pois sempre convencia a todos com sua palavra final – ele entendia o que o público queria e sabia que seria entendido. Se às vezes pecava em algum detalhe de continuidade, saía com frases como: Se eles (os críticos) estão dizendo que os copos estão errados, fora de época, então deixa esses copos mesmo, porque é disso que o povo vai gostar. Gumercindo era um homem pobre e honesto que trabalhava em uma fazenda. Sua filha, a bela Eulália, tinha sido seduzida por Luiz, filho do fazendeiro Coronel Arnaldo, e, nove anos depois, a criança, batizada com o nome de Paulinho, é alvo de chacotas dos coleguinhas por não ter pai. Gumercindo pressiona o patrão para que exija o casamento de Luiz com Eulália, mas o fazendeiro, um homem frio e sem escrúpulos, expulsa Gumercindo de suas terras, reunindo seus homens para amedrontá-lo. Este, então, une-se a fazendeiros vizinhos para o ajuste de contas. Eulália é acusada de alvejar Luiz , é levada ao tribunal e salva na última hora pelo verdadeiro autor do atentado, que confessa o crime. O filme foi um dos maiores sucessos de bilheteria de Mazzaropi e alcançou, em apenas três meses, a marca de 1 bilhão e 600 milhões de cruzeiros. Mazzaropi receberia prêmio em dinheiro correspondente a 5% da renda do filme, oferecido pelo Instituto Nacional de Cinema (INC). Dos Embalos do Jeca nos Anos 70 ao Último Filme Uma coisa ninguém pode negar – o meu trabalho existe no cinema nacional. Se os anos 60 serviram para que Mazzaropi criasse condições para produzir seus próprios filmes e se estabelecer como o maior e mais lucrativo produtor de cinema brasileiro, os anos 70 coroaram a trajetória do artista com êxito de público muito maior que na década anterior. Este foi o período em que ele atraiu o maior número de pessoas para ver seus filmes, quebrando seus próprios recordes, o que lhe garantiu continuar por toda a década reinando como soberano nos cinemas, brigando de igual para igual com as grandes produções estrangeiras. Diante da enorme exposição de sua imagem, é nesse período que o artista Mazzaropi também expõe, como nunca havia feito antes, sua alma e seus pensamentos diante da crítica cuja rejeição e oposição ao seu trabalho alcançam o auge nesse período. Nas entrevistas e depoimentos que concedeu, vamos encontrar um artista maduro e um homem de negócios com uma aguda e realista visão de mercado, consciente de sua opção por agradar ao público e não à crítica. Mostrava-se também consciente do preço que pagava por ter alcançado suas vitórias à sua custa, e ainda fazer sucesso em um país cuja mentalidade intelectual primava por endeusar o que é de fora, ou o que é supostamente maldito, alternativo, injustiçado, ou que descaradamente assume o reconhecimento tardio de seus talentos mortos. São dessa época suas mais contundentes declarações quanto ao sistema de produção e distribuição de fitas nacionais e uma crescente afronta ao sistema de produção do cinemão americano. Em entrevistas, ele se opunha à infiltração, no mercado brasileiro, de produções enlatadas. São dessa época produções como Jeca Contra o Capeta, em uma alusão explicíta e tosca ao filme O Exorcista. Ele também acena para diálogos com outros países de língua latina como Portugal, no filme Portugal Minha Saudade, e Argentina, em Um Caipira em Bariloche, todos recordes absolutos de bilheteria cujos números cresciam em progressão geométrica. Entre 1970 e 1975, Amácio Mazzaropi controla cerca de 20% da arrecadação dos filmes nacionais. Nada roubou de Mazzaropi sua supremacia. Nem o aumento significativo dos aparelhos de televisão e sua penetração irreversível nas classes mais baixas, que geraram fenômenos de popularidade como o quarteto Os Trapalhões que, de certa forma, representava uma concorrência aos filmes do caipira por utilizar recursos cômicos e cênicos simples e popularescos e mirar o mesmo público. Nem o aumento das produções de fitas nacionais que graças a ações governamentais mal-estruturadas, visando à reserva de mercado, acabaria por gerar um volume enorme de filmes comprometidos, na maioria das vezes, pelo baixo nível de orçamento, temática e qualidade. As chamadas pornochanchadas, em seu primeiro momento, atraíram muitas pessoas para os cinemas. Mas, em um segundo momento, este cinema popular adulto encontraria seu declínio no final da década de 70 e se transmutaria para que surgisse, no início dos anos 80, o cinema pornô, reino dos filmes explícitos e representação definitiva da decadência do sistema de exibição que entraria em colapso ao transformar as salas tradicionais de cinema em bordéis de striptease barato, templos de igrejas evangélicas ou grandes espaços vazios destinados a estacionamentos. De certa maneira, a morte de Mazzaropi, ao encerrar sua trajetória no primeiro ano da década de oitenta, representa também, de forma emblemática, o fim de um período para o cinema nacional. Esses caminhos culminariam com a extinção da Embrafilme, no início dos anos 90, e o quase fim do cinema brasileiro. O Palácio do Rei Caipira Eu já consegui colocar 13 mil pessoas, num dia, nas várias sessões do Art Palácio, em São Paulo. Com isso, ando de cabeça erguida. A estreia de um filme de Mazzaropi era mais que uma estreia, era um evento. E a festa, quase sempre, tinha local e data certa: Cine Art Palácio, mês de janeiro. Não era feito anúncio, nem promoção alguma. O público, simplesmente, já sabia desde sempre que todo ano, naquela época, haveria a estreia do Mazza e comparecia religiosamente e em peso ao evento. A PAM vai promover uma festa. Mazzaropi vai estar lá em pessoa, assim como todo o elenco. Também haverá uma escola de samba. E, para evitar confusões, a empresa já cuidou de pedir um policiamento especial ao DSV. Folha de S. Paulo, 31 de maio de 1977 Eram tempos em que as salas de cinema ostentavam luxo e bom-gosto nos detalhes que remetiam à época de ouro da sétima arte. Herança de tempos em que os cinemas eram realmente templos, não os templos evangélicos, nos quais se converteram no início dos anos 90, ou os amplos estacionamentos, metáfora do vazio que tomou conta de nossa produção na história recente. Eram, sim, lugares sagrados onde mesmo as pessoas mais humildes se sentiam cheias de dignidade ao comprar seu ingresso e entrar em uma sessão para assistir a suas fitas favoritas. Ninguém, em sua época, entendeu melhor esta noção de diversão e dignidade necessária ao povo, à família brasileira, do que Amácio Mazzaropi. As sessões no Art Palácio, Lgo. do Paissandu, interrompiam o trânsito da Av. São João e as pessoas disputavam a tapas, literalmente, a oportunidade de ver Mazzaropi e seu elenco. Milhares de pessoas, guardas de trânsito, policiais, cavalaria, carros de emissoras de TV, jornalistas da imprensa falada, radiofônica, televisiva e seus fotográfos pipocando flashes enquanto os holofotes buscavam os astros e seu astro maior. Tinha até banda de música tocando marchinhas, ao mesmo tempo que uma bateria de escola de samba (o artista foi tema de samba-enredo em São Paulo – Mazzaropi, Sua Arte, Sua Glória) misturava seu ritmo forte ao som das vozes de fãs afoitas. Tamanho empurra-empurra assustava o artista, que chegava à porta do cinema em um indefectível Galaxy preto fazendo as vezes de limusine, acompanhado por quatro guarda-costas e da mãe, sua eterna musa e admiradora, vestida de gala e com porte de rainha. A multidão me assusta. Sei que eles só querem me pegar, me abraçar, mas sempre pode acontecer alguma coisa e eu acabar me machucando. Oswaldo Mendes escreveria no jornal Última Hora, em junho de 1981: De fato, havia um toque mais caipira, mais tupiniquim que ‘roliudiano’ nas estreias de Mazzaropi no Cine Art Palácio. A periferia inteira vinha para o Largo do Paissandu. Os que não entravam, ficavam na porta esperando a chegada de Mazzaropi. Depois, antes do filme ser exibido, ele subia ao pequeno palco do Art Palácio, apresentava o elenco e técnicos que trabalharam no filme e dava um pequeno show, contando velhas piadas, cantando velhas canções. Dentro do cinema, as pessoas se acotovelavam para ver tudo de perto. Havia gente com cadeira cativa, que todo ano estava lá, fizesse chuva ou tempo bom. O próprio Mazzaropi gostava de lembrar de um espectador que se sentava sempre na mesma fileira, no mesmo lugar. Quando ele subia ao palco, o homem gritava: Oi Mazza, estou aqui, hein! Ele sabia que aquele era um dos momentos em que estava mais próximo do que nunca de seu povo e subia ao palco para dançar, cantar velhas canções, contar piadas – daquelas apimentadas de duplo sentido, que gente fresca torce o nariz e acha de mau gosto, mas o povão adora. Fazia também seus números de circo que remontavam aos repertórios dos idos tempos do teatro, do rádio e, sim, dos pavilhões. Era pura emoção. Os olhos das pessoas se fixavam naquela figura e o silêncio reverencial, de quase devoção nos momentos de maior atenção, se alternava com o estrondo das gargalhadas incontidas. Esse mesmo comportamento ocorria quando começava a projeção e mesmo após o filme. As pessoas saíam da sala em estado de graça, carregando um bem-estar e alto astral claramente expressos em um sorriso fixo no rosto e em comentários sobre a performance do ator. A festa do Mazza era assunto pro resto do mês, do ano. Para a equipe da PAM Filmes, a festa era o indício da carreira que o filme seguiria – pela primeira sessão, já dava para sentir. Para Mazzaropi, era um laboratório para que ele soubesse o que mais agradava o público e o que, com certeza, mudaria ou melhoraria na próxima produção. Ele mesmo tinha o hábito de entrar na sala de cinema um pouco depois que a sessão já havia começado para ouvir bem de perto a reação do público, seus comentários, sua respiração. Sempre na semana do dia 25 de janeiro, a cidade de São Paulo comemorava seu aniversário e o lançamento de um novo filme do Mazzaropi. Virou uma tradição no calendário cultural da cidade. Só houve falhas em 1968,1970 e a partir de 1975, quando, por doença ou problemas de produção, não estreou filme de Mazzaropi em São Paulo no mês de janeiro. Como bem lembrou o crítico Celso Arnaldo Araújo, nestas ocasiões, a cidade “limitou-se” a “somente” celebrar seu aniversário. Betão Ronca Ferro (1970) Mesmo após seu sucesso, e até o fim de sua vida, Mazzaropi fazia apresentações e chegou a salvar muitos circos da falência – às vezes, nem cobrava pelo show. Fazia isso por reverência a tudo o que o circo significava e tinha lhe dado como artista e ser humano. Identificava-se com o artista mambembe, lembrando suas origens. E não escondia de ninguém que, se um dia o cinema acabasse, voltaria tranquilamente a ser um artista de circo. Eu entrava no picadeiro como quem entrava para a vida. Era ali que eu tinha que me fazer. Não à toa, muitas de suas produções abrigavam, em seu elenco, artistas oriundos do circo, que tinham em seus filmes uma forma de sobrevivência. Foi o caso de Pirulito, do Circo-Teatro Guaraciaba, e Xuxu (lrajá Viana), do antigo Circo Universo e do Circo-Teatro Bandeirantes. A missão de salvar os circos foi uma das que Mazza carregou até os últimos dias de sua vida. Isso aconteceu com o Circo Pirulito. Já lutando contra a doença que o dominava, Mazza fazia seu número e nos intervalos recebia doses de morfina para que pudesse suportar as dores intensas de que era vítima. O picadeiro era um lugar sagrado para Mazzaropi e ele faria questão de pagar seu tributo até o último fio de suas forças. O público do circo também o amava. Um bom exemplo dessa relação de respeito mútuo pode ser registrado em uma ocasião em que, durante uma apresentação, a luz do circo se apagou. A plateia, em vez de aprontar a maior baderna, permaneceu em silêncio, permitindo respeitosamente a Mazzaropi que pudesse finalizar a função sob a tímida luz de lampiões. O circo... Ali não tem meio-termo – Ou a gente é bom... Ou cai no ridículo. Sua esperteza lhe permitia sugerir certas jogadas estratégicas como, por exemplo, fazer os circos mais pobres colocarem sua lona ao lado da igreja. Não que fosse mais uma de suas superstições. É que como certos circos, de tão pobres, não tinham arquibancadas, terminada a missa, os bancos da igreja eram emprestados ao circo. É claro que Mazzaropi prometia ao vigário um dinheirinho para ajudar a igreja, e estava tudo certo. Quando lhe perguntavam dos negócios, se gabava: Melhor não podia estar. Arrumei um sócio dos bão! Deus!. Outra jogada de marketing eficientíssima estava em colocar um moleque gritando na rua: Hoje tem Mazzaropi!. O boca a boca era instantâneo e chegada a hora do espetáculo, fosse a apresentação de algum show ou até mesmo as sessões de seus filmes em cinemas de cidadezinhas do interior, difícil era encontrar lugar pra todo mundo. Até pancadaria havia por causa da multidão, como lembra o professor e pioneiro do cinema Máximo Barro no documentário Mazzaropi, o Cineasta das Plateias: Certa vez, o gerente de um cinema quis interromper a entrada do pessoal pois não cabia mais ninguém, e machão como era, colocou o pé na catraca da bilheteria e disse que por ali só passavam se fosse por cima dele. Resultado: quebraram-lhe a perna e entraram. Betão Ronca Ferro não deixa de ser uma espécie de obra autobiográfica de Mazzaropi, embora o título tenha sido inspirado no fenomenal sucesso da novela Beto Rockfeller, um marco na história da TV brasileira, responsável pela atualização e modernização da linguagem deste formato. Neste drama, Mazzaropi é Betão, um matuto que trabalhou a vida inteira em um circo pequeno, vendendo amendoim. Ele é feliz com sua mulher e sua linda filha Cláudia, uma doce jovem que, apesar da vida circense, foi muito bem-educada e sabe até tocar piano! Sua vida começa a mudar quando um jovem rico quer casar-se com a garota. O casamento realmente acontece e, na festa, o pai do noivo oferece um empréstimo a Betão, para que ele compre seu próprio circo. O casamento de Cláudia, depois de um certo tempo, se desfaz e a jovem volta para o circo. Mazzaropi ganharia do Instituto Nacional de Cinema (INC), mais uma vez, o prêmio de maior bilheteria do semestre. O Grande Xerife (1971) No ano de 1971, Mazza lança Betão Ronca Ferro, produz O Grande Xerife para a safra de 1972 e, quase ao mesmo tempo, inicia a produção de Um Caipira em Bariloche. No filme, um bang-bang valeparaibano, Mazzaropi é Inácio Pororoca, chefe do correio, viúvo e pai de Mariazinha, uma caipirinha meiga. Como morador mais antigo da cidade e trabalhando com a correspondência, acaba sabendo da vida de todos, inclusive das autoridades. Certo dia, chega para apavorar a cidade, bem aos moldes dos westerns ítalo-americanos, o bandidão João Bigode, disfarçado de padre, que mata o xerife e, de brincadeira, nomeia o carteiro Inácio para a função. A brincadeira acaba sendo levada a sério pelos moradores da cidade e o prefeito acaba por empossar Inácio oficialmente como o novo xerife de Vila do Céu. O novo xerife chega a ser expulso da cidadezinha, mas volta para alegria e sossego dos cidadãos. Em 18 de outubro de 1972, encontra-se no Palácio da Alvorada, em Brasília, com o então presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, e o ministro da Educação, Jarbas Passarinho, para reivindicar às autoridades um maior apoio ao cinema brasileiro e a redução de tributos e taxas sobre a importação de equipamentos, o que, segundo ele, possibilitaria o crescimento do cinema nacional enquanto indústria. Um Caipira em Bariloche (1972) Todo caipira sorri pra dentro. Eu sorrio mais pra dentro ainda. Até eu conseguir o que eu quero. Depois que eu consigo, aí eu caio na gargalhada! E como é gostoso ver a cara de bobo do adversário! Uma das maiores bilheterias de Mazzaropi nos anos 70, o filme é o primeiro rodado fora do País, fato que gerava estranheza e curiosidade. Polidoro é um fazendeiro ingênuo e dono de muitas terras que acaba caindo em uma tramoia de seu genro, José Luís, e do amigo dele, o vigarista Agenor. Os dois querem as terras de Polidoro e, para desmascará-los, a mulher e a filha do fazendeiro vão a um baile vestidas de prostitutas, gerando uma grande confusão. Trata-se de uma das sequências mais engraçadas do filme, uma comédia de erros, em que Polidoro acaba se travestindo com um vestido de bailarina vermelho. Polidoro vai parar em Bariloche e faz outras tantas confusões na neve. Retorna para o Brasil para desmascarar o genro e seus cúmplices, e a fazenda volta para as mãos de seus verdadeiros donos. É nessa época que Paulo Emílio Salles Gomes faz sua análise sobre o Jeca, em ensaio que seria, dali para a frente, fonte de referência para qualquer um que se dispusesse a estudar seriamente a obra de Mazzaropi. Com seu texto, Paulo Emílio lança luz sobre a importância do trabalho de Mazza dentro do cinema brasileiro e o incorpora definitivamente ao universo da cultura popular brasileira. Foi o primeiro passo no sentido de admitir que, além das bilheterias gigantescas, havia um valor não explorado e de enorme contribuição do Jeca à nossa filmografia e na formação do olhar do grande público. O ensaio não reduziu inicialmente as críticas a que Mazzaropi era alvo, mas, de certa forma, gerou um incômodo entre os críticos que pela primeira vez tiveram que admitir que ele poderia ser o centro de uma pesquisa séria, profunda, coisa que ninguém havia feito até então. Nesse sentido, talvez a maior contribuição de Paulo Emílio Salles Gomes foi a de fazer o caminho inverso ao do Mazza e traduzir em símbolos, significância e na linguagem intelectualizada, tudo o que o Jeca representava para o povo em sua simplicidade e dita redundância. Relançado em dezembro de 1986 Um Caipira em Bariloche faz a impressionante marca de 10 mil pessoas no primeiro fim de semana de exibição em um único cinema, o Cine Paissandu, desbancando o então “fenômeno do momento”, o filme Stallone-Cobra de Sylvester Stallone. Portugal... Minha Saudade (1973) Saudade a gente tem mesmo, mas não exatamente daquele Brasil (antigo). A gente tem saudade é do próprio Mazzaropi, dos trejeitos que inventou para arrancar gargalhadas do povo. Benedito Ruy Barbosa – escritor e autor de novelas Benedito Ruy Barbosa, certa vez, nos anos 70, criou uma história especialmente para Mazzaropi. Jeca e o Sultão falaria sobre um sheik que resolve encontrar petróleo na fazenda do caipira e invade sua propriedade com camelos e odaliscas. Mazzaropi não aceitou o roteiro, dizendo que o povão não entenderia a sofisticação daquela proposta: Por que diachos um sheik ia sair da Arábia para se meter na vidinha do Jeca? Em 1973, Mazza, feliz pela experiência de trabalhar no Exterior, resolve rodar outra produção com tomadas no Brasil e fora dele. Desta vez, a fita é Portugal... Minha Saudade realizada no Brasil e em Portugal e lançada em 1974. O povo quer ir no cinema para rir e chorar. Para ele tanto faz o drama ou a comédia. Fiz o filme, Portugal... Minha Saudade; era um drama desgraçado e foi a maior renda do ano em 74. O filme começa no ano de 1925, quando duas crianças são separadas e uma delas é trazida ao Brasil. Os créditos iniciais mostram imagens do oceano que separa as duas pátrias e constituem uma sincera homenagem de Mazzaropi às suas raízes portuguesas. Mazza interpreta Sabino, o português de nascimento, agora crescido, radicado no Brasil desde criança, e cujo irmão gêmeo ainda mora em Lisboa. O irmão o convida a conhecer sua terra natal, sem saber que Sabino é um homem muito pobre, que vive com a mulher de favor, na bonita casa de um filho doutor, vendendo frutas em um carrinho nas ruas de São Paulo ao lado de seu macaco de estimação. Sabino discute frequentemente com a esposa de seu filho e a sogra do rapaz, que criticam sua simplicidade, e a situação fica tão insuportável que Sabino e a esposa, sem ter para onde ir, se internam voluntariamente em um asilo. Agostinho vem ao Brasil, leva Sabino de volta a Lisboa para um belo passeio e, quando a saudade aperta, Sabino volta ao Brasil e faz as pazes com a família do filho. O filme, um dramalhão deslavado, nas próprias palavras de Mazzaropi, traz uma de suas melhores interpretações. O ator mostra versatilidade no papel dos irmãos gêmeos e sua atuação contida, bem acima da média, se afasta um pouco do papel do Jeca. Esse trabalho é realçado pelo excelente elenco de apoio e pela sóbria, competentíssima direção de fotografia do filme que imprime um visual, datado para os dias de hoje, mas que permanece como um feliz trunfo ao desempenho dramatúrgico do filme. O Jeca Macumbeiro (1974) Em 1974, Mazzaropi ganha mais uma vez o prêmio de campeão de bilheteria e é capa da revista da Embrafilme, enquanto a produção do filme O Jeca Macumbeiro prossegue a todo vapor. Por falar em macumbinha, Mazza era supersticioso, tanto que inventava suas próprias superstições. Era tão múltiplo em seu sincretismo religioso quanto seu público e acreditava nas lendas populares, nas superstições, nas histórias fantásticas do folclore de Taubaté e do planalto paulista: a maldição do bode-preto, a porca dos sete leitõezinhos, a mula-de-padre, a moça que virou coruja e tantas outras. Aliás, uma de suas superstições era dar três pancadinhas na madeira antes de iniciar uma filmagem – dizem que Molière tinha a mesma mania. Também era devoto dos santos católicos, embora fosse difícil ir à missa – se as pessoas o vissem dentro da igreja, era aquele rebuliço. Na sede dos estúdios da PAM, havia uma enorme imagem de São Pedro. Era embaixo dela que colocava o roteiro do filme que estava fazendo no momento. Ao santo, encomendava suas promessas e pedia para que vigiasse seus credores e cuidasse da bilheteria. Eu sempre penso nos santos como pessoas próximas. Deus é muito santo para a gente pedir. Com os santos, a gente pode falar mais de igual para igual! Em O Jeca Macumbeiro, Mazzaropi é Pirola, um caboclo paupérrimo que vive em um casebre na fazenda de seu patrão, o Coronel Januário, pois sua linda filha, Filomena, é casada com Mário, filho do coronel. Um dia, Pirola recebe de Nhonhô, um velhinho amigo, a notícia de que será seu herdeiro e, quando aceita um saco cheio de dinheiro, resolve deixá-lo sob a guarda do patrão. Para apropriar-se do dinheiro de Pirola, o Coronel Januário se passa por um pai-de-santo pra lá de fajuto. Quando Pirola percebe que o dinheiro só lhe trouxe problemas, resolve doar para o povo que comemora a bondade e o desprendimento do caipira. Há diferença muito grande entre inteligência e preparo. O sujeito pode ser preparado, mas pode também não ser inteligente. E tá cheio de burro diplomado por aí. E tem caipira, sem diploma, muito inteligente, dizendo a verdade. Ele está falando certo, só que fala de outra maneira. Nosso Disney Caboclo O ano de 1975 marca o passo definitivo para a concretização da indústria do cinema nacional, segundo os sonhos de Mazzaropi. Ele dá início à construção de seu novo estúdio localizado no Bairro dos Remédios, em Taubaté, em uma área que engloba quase 200 mil m2, com 20 apartamentos luxuosos, restaurantes, estúdio de mil m2, piscina, lago e alojamentos, para sua equipe técnica e o elenco de seus filmes. O Hotel dos Viajantes, hoje Museu do Homem Caipira, ainda teria espaço para a técnica, oficina de cenários, carpintaria e outras instalações. O novo local seria batizado como Hotel Studio PAM Filmes e depois PAM Filmes Park Hotel. Tenho câmeras de filmar, holofotes, lâmpadas, cavalos, cenários, agências em São Paulo, Rio, Norte do País, e uma fazenda de 184 alqueires no Vale do Paraíba – Taubaté – que serve perfeitamente de estúdio para os filmes que rodo. Como vê, tudo que ganho é aplicado na Pam-Filmes, no cinema brasileiro. E depois vêm esses críticos de cinema metidos a intelectuais dizendo: ‘O Mazzaropi tá cheio de dinheiro. Ele tá podre de rico. Não sabe onde pôr o dinheiro’. Não são capazes de entender que eu faço cinema como indústria. E o cinema é uma indústria como qualquer outra. Eu faço o cinema-indústria e vou fazer a indústria brasileira de cinema. Acredito e não estou longe dela. Não uma indústria exportadora. Não sou visionário. Uma indústria que seja capaz de suprir o mercado interno de filmes é o suficiente. Não podemos pensar em conquistar o mercado externo – nós não temos nem lâmpadas aqui. Tudo que temos vem de lá. Mas, se nós pudermos ter uma indústria produzindo fitas nacionais, se nossas salas ficassem ocupadas por fitas nacionais, quanto dinheiro nós estaríamos evitando de mandar para fora! Para se ter uma ideia da qualidade dos equipamentos e da estrutura montada por Mazzaropi, ela continua em uso até os dias atuais, e em nada se tornaram obsoletas. Jeca Contra o Capeta (1975-1976) ... Eu mesmo não esperava tanto sucesso com o Jeca Contra o Capeta. Então, eu fiz... Achando que nunca mais atingiria rendas tão altas como as outras. Mas tive outra agradável surpresa: um milhão de pessoas já viram a fita que está na quinta semana do circuito Serrador em São Paulo. É uma barbaridade. Mazzaropi O filme diverte todo tempo. A curiosa mistura: a fala naturalista do Jeca enxertada no mundo da fábula, alimentando esse híbrido de western e velho melodrama com um acento tão brasileiro, imprime ternura à nossa alegria. E o mundo da fábula, da brincadeira e do descompromisso, ao retirar em sua matéria de uma visão tradicionalista e rançosa, ao esvaziarem a tradição para engordarem a fábula, dão ganho de causa ao divertimento. Zulmira R. Tavares, Jornal Movimento, 5 de abril de 1976 Poluído é um jeca atrapalhado que, na juventude, ficou dividido entre dois amores: sua atual esposa e Dionízia, uma jovem que se casou com um homem rico e foi embora da cidade, e hoje, viúva, é uma grande fazendeira. O enredo envolve brigas e chantagens, porque Dionízia quer que Poluído se divorcie imediatamente de sua esposa para ficar com ela. Na verdade, a mulher é a encarnação do Capeta. Uma das sequências parodiava o grande sucesso da temporada, o filme O Exorcista: em certa cena, Polidoro dizia: Tá me lembrando um filme que assisti outro dia, O Eletricista. Para delírio da platéia, nesta brincadeira, até um Cristo meio hippie desce na terra para conversar com o caipira sobre as maldades do mundo. Os efeitos especiais do tal capeta eram, na verdade, obra de dois cachorros que viviam embaixo de sua cama. Mazza diria, justificando a brincadeira: A cama do filme deles não roda por cima? Então, a minha roda por baixo! Já se disse que Mazzaropi, a exemplo de outros atores que ficaram associados a uma imagem criada, acabou por tornar-se, com seu Jeca, um clichê do cinema brasileiro. Foi assim com Jece Valadão quando assumia o papel do cafajeste, com David Cardoso como machão – o ator, aliás, começou sua carreira como assistente do Mazzaropi –, e também com José Mojica Marins, o “Zé do Caixão”. No caso deste último, há uma história curiosa que cerca a produção do filme Jeca Contra o Capeta: Mazzaropi chegou a cogitar a participação do ator e seu personagem neste filme, num encontro antológico dos dois únicos ícones do folclore popular vindos do cinema. Mojica e Mazzaropi, no entanto, chegaram à conclusão que era melhor cada um continuar com seus próprios fimes, pois isoladamente já faziam muito sucesso. A parceria seria desnecessária sob o ponto de vista comercial. Jecão... Um Fofoqueiro no Céu (1977) Enfim, numa época em que se proibe O Último Tango e Z ou Estado de Sítio, e se permite a veículação pela TV de um repelente anúncio recomendando a cada cidadão que leve vantagem em tudo, Mazzaropi está apenas cumprindo seu papel. E muito bem, aliás. Edmar Pereira – O Estado de S. Paulo Ao realizar Jecão... Um Fofoqueiro no Céu, Mazzaropi utilizou toda a estrutura que dispunha para produção. Aos 17 de fevereiro desse ano, encontra-se rapidamente com o então presidente da República, Ernesto Geisel, por ocasião de sua visita a Taubaté. Os dois falam de cinema e Mazzaropi aproveita a ocasião, embora rápida, para expor suas ideias sobre a indústria que havia montado. Em junho, realiza o lançamento do filme, quebrando definitivamente a tradição dos lançamentos em janeiro. Jecão... Um Fofoqueiro no Céu é uma espécie de continuação do filme O Jeca Macumbeiro em que o personagem Jecão Espinheiro vê-se envolvido com problemas relacionados à sua sorte com dinheiro. Ele e o filho Martinho ganham na Loteria Espiritiva e vão para São Paulo para receber seu prêmio. Quando voltam para a cidadezinha onde moram, são recebidos pela população com fanfarra, faixa de boas-vindas e muita festa, mas também por olhos cobiçosos. Jecão morre e graças às suas boas ações, vai parar no céu, um achado cenográfico bem ao estilo popular do caipira que, por sua simplicidade, remete aos antigos espetáculos teatrais do qual fez parte em outras épocas. Há no filme sequências impagáveis das sessões espíritas. Em uma delas, ele volta à Terra para realizar seu próprio enterro, provocando confusão, medo e correria em praça pública. Para desespero dos santos, toda vez que volta ao céu, Jecão promove bailinhos para animar os anjos e é punido pelo pecado da indisciplina. Diante das estripulias de Jecão no céu, realiza-se uma reunião de cúpula entre os santos para decidir sua sorte. Como ele não pode ficar mais lá, nem ser mandado para o inferno, o conselho decide-se pela única saída: a reencarnação. Anos depois, em 1997, os funcionários do Hotel Fazenda Mazzaropi, ao realizar uma obra de rotina em um encanamento, encontraram enterrados a mais de um metro abaixo da terra, 30 rolos de filmes de 35mm e fitas de áudio deste e de outros filmes. De uma superstição que beirava a excentricidade, ele escondia os filmes para que ninguém visse antes da estreia no cinema e inutilizava as “sobras” de takes errados para que ninguém fizesse “mau uso” deles. Até hoje, é curioso andar pelas instalações do Hotel Fazenda Mazzaropi, além da paisagem bucólica e agradabilíssima, uma sensação especial paira no ar, pois fica a impressão que a qualquer momento, onde menos se espera, pode-se encontrar uma surpresa sorrateiramente escondida pelo Jeca há anos. Jeca e seu Filho Preto (1977-1978) Está aí o cinema de Mazzaropi atraindo multidões, as multidões que se identificam com os problemas colocados na tela: o trabalhador oprimido, as relações marido-mulher, pais e filhos, religião, etc. Jeca e seu Filho Preto, seu último lançamento, aborda o problema do racismo e o alia às diferenças sociais e culturais; mas esvazia a questão quando o racismo vira consanguinidade a impedir um casório. Mazzaropi fica assim: joga questões, tempera com humor, e o público ri até das impossibilidades de resolver qualquer coisa. Mas, verdade seja dita, é o dele o cinema mais popular feito por aqui. Há muitas outras maneiras de abor- dar o cinema de Mazzaropi, mas desde já fica essa afirmação: o cinema de Mazza é um cinema poIítico atuante. Jean-Claude Bernardet, em Nem Pornô, nem Policial: Mazzaropi (Última Hora, 22/23 de julho de 1978) Os que se preocupam 365 dias por ano, em horário integral, com a colonização cultural, deveriam ver Jeca e seu Filho Preto, misturando-se com o povão, em vez de ficar teorizando em gabinetes ou nos saraus da alta burguesia. Ely Azeredo, em Jeca, o Descolonizador (Jornal do Brasil – Caderno B, 3 de agosto de 1978) Com Jeca e seu Filho Preto, Mazzaropi completa a marca dos 30 filmes. Este, lançado em abril de 1978, divide, como há anos não acontecia, a opinião da crítica, que não sabia se ficava ao seu lado, pela coragem em expor o tema do racis- mo ao seu grande público, ou se continuava a esbravejar sobre as limitações técnicas de suas produções. O fato é que o público compareceu em peso às salas de cinema e o filme foi mais um sucesso retumbante, alçando o ator negro Everaldo Bispo de Souza à categoria de celebridade instantânea pelo papel de filho preto do Jeca. Eu sempre gostei de preto. O caipira preto, que mora no fundo do mato, é o mais honesto que tem. Com o Filho Preto eu queria falar algo mais sério. Queria mostrar honestamente que existe preconceito do brasileiro em relação ao negro... Com isso quero mostrar que o brasileiro aceita o casamento do preto, desde que seja com a filha do outro. Em 7 de setembro do mesmo ano, Mazzaropi é recebido, em Taubaté, por mais um presidente da República, desta vez o General João Baptista Figueiredo, que fez questão de que o caipira subisse ao palanque para dar-lhe um abraço e permanecesse ao seu lado, enquanto o público o saudava com calorosas salvas de palmas. Segundo o próprio Mazza, até o Figueiredo chorou quando me abraçou! Cheiroso e Cheirosa formam um casal em crise que tem uma filha, Laura, que foi criada em companhia dos filhos de seu empregado Zé (Mazzaropi). Este, por outro lado, também vive uma confusão com sua mulher, por desconfiar da legitimidade de seu filho Antenor, que nasceu negro. As histórias de Cheiroso e Zé se cruzam quando é descoberto o romance entre Antenor e Laura. O namoro entre o rapaz negro e pobre não é aceito pelo pai da garota rica e branca. Os jovens até conseguem chegar ao altar, mas, durante a cerimônia, Cheiroso aparece e mata um de seus compadres, Pacheco, que acaba encarnando no Zé. No final, Antenor descobre que seu verdadeiro pai é Cheiroso e Zé fica aliviado por ver que o menino não era um fruto de traição. A Banda das Velhas Virgens (1978-1979) Chanchada: do esp. lat. chanchada, “porcaria” s.f. Bras. Tea. Cin. Tel. 1. peça ou filme sem valor, em que predominam os recursos cediços, as graças vulgares ou a pornografia. 2. qualquer espetáculo de pouco ou nenhum valor. Dicionário Aurélio Em um momento em que as discussões sobre produção nacional giravam em torno do gênero das pornochanchadas ou do falso pornô, como eram chamadas, Mazzaropi lança um filme, típico de sua filmografia, com o sugestivo nome de A Banda das Velhas Virgens. A ironia na proposital brincadeira de Mazza seria comprovada no fato de que as tais velhas virgens do título só apareciam no início e no final do filme e não tinham quase nada a ver com o enredo, que nada tinha de mulher pelada. O que o público queria mesmo era ver Mazzaropi no papel de Gostoso – outra alusão às fitas de sacanagem – que é o regente de uma banda, orgulho da Igreja local e composta apenas por senhoras virgens. Gostoso também trabalha com Gerôncio, um fazendeiro ganancioso, que monopoliza todas as atividades comerciais da cidade. Raul, o filho de Gerôncio, se encanta por Dorinha, filha de Gostoso, e a outra filha do fazendeiro namora Nestor, o outro filho do caipira, que vive em uma cadeira de rodas. É claro que as diferenças sociais (e físicas) entre os casais não são aceitas pelo fazendeiro e Gostoso resolve ir para a cidade com sua família, para viver em um lixão. Sua vida muda quando sua esposa encontra no meio do lixo um saco com joias valiosas, fruto de um assalto. Gostoso vai preso com outros catadores de lixo, suspeitos de serem os responsáveis pelo assalto e, quando o roubo é desvendado, ainda recebe de recompensa um sítio, como agradecimento pela honestidade de devolver as joias furtadas, e a cirurgia que fará com que seu filho volte a andar. O Último Filme O Jeca e a Égua Milagrosa (1979-1980) Sempre me preocupei com o caboclo, o caipira, que foi mudando seu temperamento na medida que a sociedade entrava na onda do desenvolvimento. Antigamente eu contava uma história ingênua e todos gostavam. Eu dizia que queria casar com uma namorada, mas o pai dela não deixava. Depois eu falava que ia dar um tiro no meu ouvido e (depois) outro no dela, para nós dois juntinhos nos unirmos no céu e era o maior sucesso. Hoje o povo dá gaitada disto, acha ridículo. Eles estão com a TV em casa e não querem mais saber de riscar o dedão no chão como faziam antes. Em 1979, já debilitado pela doença, Mazzaropi lança o filme A Banda das Velhas Virgens e encontra forças para filmar O Jeca e a Égua Milagrosa, seu 32º e último filme. Um enorme sucesso de público, campeão de bilheteria que chegaria até mesmo a superar a renda de outro fenômeno nacional naquele momento, o filme Pixote, de Hector Babenco. O filme conta a história de Raimundo, um caipira que vive atormentado pelo espírito de sua mulher falecida, que o importuna nas horas mais impróprias. Ele vive em uma cidade dominada por dois líderes religiosos, espíritas, que também são rivais nas futuras eleições para prefeito da cidade. Além disso, a cidade é devota de uma égua dita sagrada, mas que na verdade não passa de mais uma armação de um dos coronéis da região. Raimundo cuida da égua com carinho, mas quando espalham que sua relação com o animal não é das mais saudáveis, o pobre caipira vê-se obrigado a casar com a égua. E como se já não bastassem todas as confusões de Raimundo, um amigo moribundo pede a ele que fique com sua mulher após sua morte. Em 1980, depois de lançar o filme, Mazzaropi se prepara para aquela que seria sua 33º produção, sob o título provisório de Maria Tomba Homem (também noticiado como Maria Tromba Homem). Um saloon foi construído em seus estúdios como cenário para o filme, mas, infelizmente, as filmagens nem seriam iniciadas. O roteiro do filme tornou-se uma lenda no imaginário mazzaropiano uma vez que alguns dos colaboradores do ator atestam de forma veemente que ele tenha existido enquanto outros afirmam o contrário. O fato é que, curiosamente, até os dias atuais, nenhuma cópia deste suposto roteiro foi encontrado e ele acabou por se tornar objeto de desejo por parte de alguns empresários e colecionadores que chegaram a oferecer até recompensas em dinheiro para aquele que encontrasse o roteiro do filme que Mazzaropi nunca chegou a realizar. ...filmes? Perdoai-lhes, Deus, eles não sabem o que fazem. Perto de Xuxa Requebra, o último e o pior filme de Mazza, O Jeca e a Égua Milagrosa, tem o nível de Cidadão Kane! Celso Arnaldo Araújo Revista SET – junho de 2001 O Dia em que o Caipira Fez Chorar! Pois é, falam mal de mim. Só quero ver quando eu morrer. Daí, vão fazer festivais com os meus filmes, e tem gente que é capaz até de falar que eu fui um gênio. Quer saber? Deixa pra lá... Quando eu morrer, isso já não terá nenhuma importância... Certa vez, quando perguntado sobre seus planos para o futuro, Mazzaropi sem titubear respondeu: Planos para o futuro? Continuar fazendo filmes até morrer – é a única coisa que sei fazer na vida. Quero morrer vendo uma porção de gente rindo em volta de mim. Pode-se dizer que conseguiu realizar seu desejo, pois, até o último minuto, viveu o seu cinema. Os amigos mais próximos são prova de que Mazzaropi lutou até o final para conseguir voltar ao set e realizar mais uma obra, o projeto Maria Tomba Homem. Foram 26 dias de agonia, internado em um quarto do Hospital Albert Einstein em São Paulo, lutando contra um câncer na medula (mieloma múltiplo) que o corroía há alguns anos. Às 8h do sábado, em 13 de junho de 1981, aos 69 anos de idade, Amácio Mazzaropi deixava a vida, para entrar definitivamente para a galeria de mitos de nossa cultura popular. Embora a doença tivesse sido oficialmente diagnosticada somente em 1979, dois anos antes de sua morte, desde 1976 Mazzaropi sentia dores que indicavam que alguma coisa em sua saúde não andava bem. Questionado sobre a origem de suas dores, dizia que eram problemas de coluna, sequelas de um acidente automobilístico no qual havia se envolvido em 1959. E pedia à imprensa para que não divulgassem boatos infundados. Durante todo este tempo, Mazzaropi filmou, fez apresentações em circos e até participou de um programa de TV de sua amiga Hebe Camargo. Queria estar em atividade, queria estar perto do seu público. Já muito doente, nos intervalos dos medicamentos, quando tinha seus momentos de lucidez, não tinha outro assunto: queria que lhe preparassem tudo para a próxima produção. Suas poucas palavras eram sempre relacionadas à sua obsessiva relação de amor com o cinema. Seu corpo foi velado no próprio Hospital Albert Einstein, com a presença de muitos de seus amigos: Hebe Camargo, Geny Prado, David Cardoso, entre outros. Foi sepultado no Cemitério Municipal de Pindamonhangaba, no mesmo túmulo do pai. Debaixo de uma leve neblina que cobria uma parte da estrada, desde as sete da manhã, do domingo, 14 de junho, alguns carros já se posicionavam no trevo de Pinda para aguardar o cortejo vindo de São Paulo. Mais de cinco mil pessoas seguiram até o cemitério, onde houve tumulto, empurra-empurra e confusão. Entre os amigos, Elizabeth Hartman, Nena Viana, Dona Alice Marcondes Miranda, uma filha de escravos que foi sua pajem desde os dez anos de idade e o grande Augusto César Ribeiro que fez um discurso comovendo todos os presentes. Num misto de choro, lembranças dos risos, piadas e causos, o público bateu palmas e entoou com emoção a emblemática canção “Tristeza do Jeca”. Ao lado da sepultura, na confusão, poucas pessoas puderam notar a presença de Candinho, do Jeca Tatu, de Pedro Malasartes, de Zé do Periquito, do Chico Fumaça, do Colepícula, todos os personagens aos quais Mazzaropi havia emprestado seu corpo, sua voz, e sua vida. D. Clara Ferreira Mazzaropi jamais seria avisada da morte do filho por causa de seu delicado estado de saúde: acreditava que o filho estivesse em viagem de negócios. Ela viria a falecer em 12 de março de 1983, com 91 anos. Tarcísio Meira lembrava o ator como alguém “corretíssimo no trabalho e que respeitava os colegas”, Jô Soares diria “Eu acho que era um ator maravilhoso...sempre tive as melhores referências como pessoa, e como ator cômico era maravilhoso e único no seu gênero.”. Geny Prado lembrava dos tempos felizes ao lado do amigo e resumia o sentimento compartilhado pelos colegas de trabalho: “Convivi com ele durante todo este tempo. Éramos como uma família, devo minha carreira a ele. Nos seus filmes, gostava de improvisar, porque ele era engraçado mesmo na espontaneidade, um artista nato.” Com um toque de amarga ironia, bem em meio às comemorações das tradicionais festas juninas em todo o País, a morte de Mazzaropi deixava o Brasil mais triste. E o cinema nacional enterrava com ele uma parte fundamental de sua história. Chumbo Trocado Durante toda a sua carreira, Mazzaropi foi alvo de críticas, na maioria das vezes devastadoras. No entanto, nenhuma delas teve força para conseguir atingir seu alvo, que permaneceu intacto pelas três décadas em que produziu. A seguir, um apanhado de opiniões de diversos críticos, em diferentes períodos, seguidas do direito de réplica do Jeca. E, finalmente, os números das bilheterias que mostram, nas palavras do próprio Mazzaropi, a voz do grande juiz: o respeitável público. Fogo no Jeca: Os Ataques Também Mazzaropi é um tipo cômico que poderia ser melhor aproveitado, como Jacques Tati, já que ele próprio é agora seu próprio produtor, mas aí é que se nota a diferença entre os dois: Mazzaropi não compreendeu que sua supervalorização só poderia ser prejudicial a ele próprio. O filme é Mazzaropi do princípio ao fim. Pedro Lima, Diário da Noite, 19/6/59 O Jeca de Mazzaropi não faz diferença desses Jecas estilizados, em verdade um símbolo não funcional, a representar o caipira paulista, sem realismo nem expressão. B. J. Duarte, Folha de S. Paulo, 29/10/61 ... Mazzaropi, o Anti-Humberto Mauro, está de volta. G & R Santos Pereira, O Globo, 15/3/62 ... Trata-se de uma opereta cinematográfica de gabarito inferior, mais aparentada com o baixo comércio teatral do que com o verdadeiro cinema. Armindo Blanco, Última Hora, 10/5/62 O público do Art Palácio se diverte com a fita de uma maneira bastante melancólica, rindo sem razão e completamente sem saber o porquê. Talvez para não ir para casa com a sensação de ter desperdiçado totalmente o dinheirinho que deixou na bilheteria. Caio Scheiby, Folha de S. Paulo, 7/2/64 ... Da ideia de cinema aqui se assimilou apenas o que uma visão primitiva pode revelar: trata-se de um espetáculo registrado numa câmera de filmar e projetado numa sala escura. Em nenhum instante se deve procurar alguma informação, no jeito de compor a imagem ou de fazer a montagem. O filme é apenas o veículo onde se encontra impressa, sem muito cuidado, uma encenação semiamadorística apoiada em palavras. José Carlos Avellar, Jornal do Brasil, 20/1/73 Pratica, a exemplo do Jeca Tatu lobatiano, uma teimosia quase filosófica. Entra Cinema Novo, chega e passa a euforia do underground, malha-se a chanchada e desenterra-se a dita, cai o Poder Civil, nasce e amadurece a Revolução, e Mazzaropi não toma conhecimento. (…) O público a que Mazzaropi se dirige cauciona a sua imutabilidade. Ely Azeredo, Jornal do Brasil, 11/4/75 ... Todas as tentativas de imitar as películas impressas (impossível chamá-las de filmes) do Sr. Mazzaropi fracassaram. Lógico: não existe um universo cinematográfico, ficcional, social mazzaropiano. Impossível imitar o vácuo. O que é uma fita do Jeca? Ely Azeredo, Jornal do Brasil, 6/5/76 (O cinema de Mazzaropi) serve, por um lado, para acumular capital, e de outro, para concretizar o projeto do verde-amarelismo – botar o povão pra ‘produzir‘ sem discutir. Renato Silveira, Arte em Revista nº 3, 1980 Bitolado, fora de época, ausente de tudo que se passa ao seu redor, a Mazzaropi interessa apenas explorar e fomentar o gosto equívoco. Inácio de Loyola Brandão, 1965 O Jeca Contra a Crítica: A Defesa O crítico é uma pessoa. E no Brasil há 120 milhões de pessoas. O que é que eles querem? Que eu perca dinheiro? Só é bom quem fracassa? Se eles querem que eu faça um filme que ninguém assista, isso não farei nunca. Não vou trair esse público, só para que a critica fale bem de mim. Eles querem que eu mude. Mas mudar pra quê? Eu sei do que o público gosta e não vou ficar inventando. Esse pessoal só quer saber se eu estou rico, se ganho muito dinheiro com cinema. Ninguém pergunta nada sobre o meu trabalho. Daí eles vêm me entrevistar só para escrever o que lhes interessa. Estão sempre achando um jeito para meter o pau em mim. O Grande Otelo põe cartola, é chanchada. Fica pelado, é Cinema Novo!” A respeito desta afirmação, o próprio Grande Otelo viria em defesa de Mazzaropi dizendo: “Mazzaropi é um dos grandes gênios do cinema nacional. Enquanto o País estiver como está, os filmes do Jeca irão atrair público, porque retratam um Brasil puro, sério e honesto, de que todos temos saudade. Minha responsabilidade é com esse público, essa gente simples que só vai ao cinema uma vez por ano, quando eu lanço os meus filmes. Procuro dar a eles o melhor. Por isso, tenho muito cuidado na produção. Eu podia gastar muito menos, que esse público iria me ver do mesmo jeito, mas eu prefiro que eles vejam uma coisa bem-feita. Distração em forma de otimismo. Eu represento os personagens da vida real. Não importa se um motorista de praça, um torcedor de futebol ou um padre. É tudo gente que vive o dia-a-dia ao lado da minha plateia. Eu documento muito mais a realidade do que construo. Quando eu falo tanto na parte comercial, não quer dizer que é só com isso que eu me preocupo. Se um crítico viesse a mim fazer uma crítica construtiva, mostrar uma forma melhor de eu ajudar o público – eu aceitaria e o receberia de braços abertos. Mas em momento nenhum aceitaria que ele tentasse mudar minha forma de fazer fitas. Elas continuariam as mesmas, pois é assim que o público gosta e é assim que eu ganho dinheiro para amanhã ou depois aplicar mais na indústria brasileira do cinema. E se os críticos se preocupassem menos com o que eu ganho e mais com as salas vazias do Cinema Novo, entenderiam que cinema sem dinheiro não adianta. Que não adianta a gente começar pondo o carro adiante dos bois. Ninguém pode obrigar alguém a ouvir Beethoven, se ele gosta de Tonico e Tinoco. Não adianta pagar caro um fino bailarino estrangeiro, bem maricas no palco, que o povo larga pedrada em cima dele. Se nossas salas ficassem ocupadas por fitas nacionais, quanto dinheiro nós estaríamos evitando de mandar para fora! Analisem bem o Tubarão, os americanos fazem e levam o dinheiro daqui. Me dá uma vontade de dar um soco nos beiços daquele bonecão quando ele aparece com aqueles dentão na tela. Por que nós não fizemos para o dinheiro ficar aqui mesmo? ... Se estiver fazendo filme de baixa qualidade, ainda estou dando lucro para o País, pois estou tirando, de qualquer forma, semanas do cinema estrangeiro. Estou dando serviço aos técnicos, estou mantendo o povo no cinema. Eu mantenho o povo no cinema, não deixo cadeira vazia... Cinema tenho ido muito pouco. Afinal, as grandes vedetes do cinema agora são: tubarão, fogo, macaco. Não tem mais ator, acabaram com as grandes interpretações. Abelhas são atores, desastre de avião é estrela. Em matéria de música temos também uma desgraça. Tem cantor que está cantando aí que, se cantasse há 30 anos, matavam ele se abrisse a boca. ... Pra ser político fracassado, prefiro ser um bom palhaço. (sobre usar sua popularidade no mundo da política) O Cinema Brasileiro ainda não atingiu uma situação industrial. Nós estamos é num amadorismo bem-sucedido. Se eu parar de fazer cinema vou afugentar um monte de investidores (para o próprio cinema nacional). Porque muitos vão pensar: – Se para o Mazzaropi, que tem a casa cheia, cinema não dá lucro, de que adianta investir? Faço cinema leve, sempre com censura livre, com o objetivo único de divertir. Não pretendo fazer arte ou aquilo que os outros chamam de arte. Comédia, sempre comédia, pois é o que o público exige. Um Aliado de Peso Professor e historiador do cinema brasileiro, Paulo Emílio Salles Gomes, após assistir a uma sessão do filme Um Caipira em Bariloche, admitiu que foi um dos detratores de Mazzaropi no começo de sua carreira, e reconhecia não haver dado a devida atenção à filmografia do caipira (... Segui mal a sua carreira e nunca o encontrei pessoalmente... Me disseram que ele tem horror pelos intelectuais, o que, de certa maneira, eu sou), expondo o seu desejo de um dia conhecê-lo (Fico encabulado de procurá-lo, mas acho que um dia irei bater na sua porteira, nos arredores de Taubaté), o que nunca chegaria a acontecer, pois Paulo Emílio viria a falecer, vitimado por um enfarte, em setembro de 1977. A fim de parecer mais moderno do que Mazzaropi, direi que o seu universo é o da redundância. Como só manipula o arquiconhecido, estaria caminhando para a estagnação indiferenciada da entropia. Acontece que isso não acontece. Mazzaropi é estimulante precisamente quando repete e se repete incansavelmente e sem nos cansar. Sabemos que o lugar-comum é sempre verdadeiro e um filósofo francês já explicou que o único problema é aprofundá-lo. Mazzaropi não aprofunda propriamente nada, mas os lugares-comuns se acumulam tanto que o terreno acaba cedendo e, como as minas descobertas ao acaso de desbarrancamentos, de repente desponta dessas fitas incríveis uma inesperada poesia. Isso em geral sucede quando ele não está fazendo nada de especial, apenas olhando, andando ou pondo fumo no pito. O que os críticos não cansavam de acusar como uma repetição de clichês desgastados, Paulo Emílio consegue enxergar de outra forma: O melhor de seus filmes é simplesmente ele próprio. Completando: O segredo de sua permanência é exatamente a antiguidade, ele atinge o fundo arcaico da sociedade brasileira em cada um de nós. ...Nos tempos e terras de Vera Cruz, a crítica favorável foi tradicionalmente fatídica e Mazzaropi teve a sorte de não ter sido elogiado. Paulo Emílio Salles Gomes Os Números não Mentem Jamais Mazzaropi tinha a visão de que, se lançasse um só filme por ano, faria com que o público se habituasse a esperar pelo próximo. Garantiria, desta forma, todas as atenções para si e para seu lançamento quando esta hora chegasse, capitalizando todos os seus esforços para trabalhar o filme. O sucesso de um filme possibilitaria a continuidade da produção, sem necessidade de usar dinheiro do próprio bolso. Era como ele mesmo dizia para os distribuidores: Quer comprar o novo? Vai ter que levar o velho! Essa estratégia possibilitava, pela primeira vez em nossa história, a adoção bem-sucedida de um modelo de produção cinematográfica autossustentável. O que ele chamava de a minha indústria do cinema brasileiro. Com jogadas dignas de um mestre de marketing, Mazzaropi vendia seu peixe e produzia para o seu público. Este público, por sua vez, não o abandonou nunca. É na ponta do lápis, através dos números oficiais, ou seja, aqueles registrados pelos orgãos de competência na época (leia-se Embrafilme), e sob o olho atento de seus próprios fiscais de porta de cinema, que este fato fica mais claro. O número de pessoas por cópia que ele gerou foi e continua sendo de um volume maior do que qualquer outro artista na história do cinema nacional. Além dos números oficiais, é extremamente difícil calcular montantes reais de rendimento de seus filmes, na medida em que ele conseguia atingir os recantos mais distantes do País, cidades que nem estavam no mapa, fora do alcance da distribuição e controle numérico dos circuitos exibidores. Era o caso, por exemplo, de fazendas cujos proprietários dispunham de projetores de 16 mm e até de 35 mm, clubes, quermesses, etc. Em estudo sobre as maiores bilheterias do cinema brasileiro publicado pela Revista de Cinema de abril de 2002, Maria do Rosário Caetano comenta sobre o fenômeno Mazzaropi: Os filmes de Amácio Mazzaropi causavam alvoroço até mesmo em Coromandel, pequeno município do interior de Minas. Lá, no Cine União (de quase mil lugares, somando a sala principal e o “poleiro”), a programação mudava de dois em dois (ou três em três) dias. Mas, para os filmes de Mazzaropi, o prazo tinha que ser maior. Aos domingos, parentes vinham da roça para ver o Jeca e a Pelanca (apelido carinhoso que o públicou adotou para o personagem de Geny Prado), amarravam o cavalo em um tronco, assistiam ao filme e regressavam. E isto se dava com gente alfabetizada e analfabeta. Filme de Mazzaropi não exigia leitura de legenda. Os números que temos disponíveis hoje cobrem toda a produção de Mazzaropi nos anos 70. Sabe-se que, apesar do sucesso estrondoso nas bilheterias nesse período, suas produções nos anos 50 e 60 atraíram um número extremamente grande de pessoas para as salas de cinema e foram a base para o sucesso contínuo nos anos 70. No entanto, não existem números disponíveis que cubram esses dois períodos, apenas alusões à enorme quantidade de público, às vezes por entrevistas dadas pelo próprio Mazzaropi, sempre levando em consideração os números de estreia e o período de trabalho dos filmes, que tinham uma vida útil extremamente grande. Se hoje os filmes costumam ficar por algumas semanas em exibição, naquela época, os filmes de Mazzaropi levavam um ano ou mais em cartaz, desde sua estreia até sua passagem por outras capitais e cidades do interior. Não raro, várias cidades exibiam mais de um filme de Mazzaropi ao mesmo tempo, ou seja, aquele que havia estreado há pouco e o outro do ano anterior. Se, em algum momento, Mazzaropi teve suas rendas superadas e sua superioridade nas bilheterias posta à prova, essas ocasiões foram representadas por casos isolados, fossem por conta de serem a representação cinematográfica dos costumes da época em que estavam inseridos, como na trilogia de filmes dirigidos por Roberto Farias com o Rei da Jovem Guarda, Roberto Carlos – sendo Roberto Carlos em Ritmo de Aventura seu maior êxito. Um jornalista diria, com humor, que o que Mazza ganhou em um ano com um filme, Roberto Carlos precisou ficar correndo a 300 km por hora durante três anos para ganhar. Outros filmes que tentavam dividir com o caipira as atenções do público eram aqueles de temática rural e que por isso se aproximavam das produções mazzaropianas, como as fitas baseadas em canções sertanejas: A Estrada da Vida, de Nelson Pereira dos Santos, com a dupla Milionário e José Rico, ou outros sucessos na mesma linha como Mágoa de Boiadeiro e O Menino da Porteira, com o cantor Sérgio Reis. Ou, ainda, em casos mais regionais como com os filmes do ator e can- tor Teixeirinha, um fenômeno no sul do País. Mas dos maiores fenômenos, o maior e imbatível ainda é Dona Flor e seus Dois Maridos, de Bruno Barreto, que fez 12 milhões de espectadores e é o único filme brasileiro a tirar Mazzaropi do topo da lista dos filmes brasileiros mais vistos em todos os tempos. Em recente pesquisa publicada na Revista do Cinema, dos 50 filmes mais vistos em nosso país em todos os tempos, Mazzaropi ocupa o 2º e o 3º lugares, tendo seus outros filmes em várias colocações ao longo da lista. Levando-se em conta que os dados coletados nas décadas de 50 e 60 são imprecisos porque, até então, só costumava ser registrada a renda do filme e não o número de ingressos, como vem sendo feito regularmente desde 1975, a possibilidade de que um número maior de filmes de Mazzaropi ocupasse as primeiras posições é tida como certa. Na mesma lista, em inúmeras posições, outro fenômeno popular, e que de certa forma representou uma continuidade do filão aberto por Mazzaropi como uma atualização da comédia popular apoiada pela exposição incessante na televisão, Os Trapalhões foram os artistas que mais chegaram perto do público como Mazzaropi o fez. O grupo representava, em sua formação, os vários tipos da sociedade pobre brasileira – um nordestino, um careca afetado, um negro sambista afeito ao mé (a bebida) e aquele que era o tipo normal, um pouco mais inteligente que os outros, mas sempre às voltas com os mesmos dilemas – Didi, Zacarias, Mussum e Dedé – os adoráveis Trapalhões conquistaram o público brasileiro com suas peripécias e ocuparam, nos anos 80, o vazio que Mazzaropi deixaria com sua morte. Mazzaropi foi o único a fazer frente aos filmes estrangeiros de maior sucesso nos anos 70 obtendo, por exemplo, com os filmes Jeca Macumbeiro e Portugal... Minha Saudade, rendas superiores aos filmes-catástrofes, a tendência do período que teve como seus maiores representantes os filmes Terremoto e Aeroporto, ambos na casa do um milhão e oitocentos mil espectadores ou, ainda, o hit O Exorcista e o sucesso de Bruce Lee, Operação Dragão, ambos na faixa do um milhão e meio de espectadores. Ainda conseguiu bater em seis vezes a arrecadação do filme Amarcord, de Federico Fellini, de quem era fã confesso. Mesmo em comparação com os maiores sucessos populares da chamada retomada do cinema nacional dos anos 90 em diante, como os filmes eventos Cidade de Deus de Fernando Meirelles, Carandiru de Hector Babenco e Tropa de Elite de José Padilha, que acabaram por formar uma revolucionária trilogia de temática violenta ou os de público especificamente popular como Xuxa e os Duendes, Mazzaropi mantém sua vantagem, pois, além do fato de não dispor de todo o suporte de divulgação e distribuição destes, vale lembrar que o Jeca era exibido em um circuito muito menor de cinemas. Se os filmes de potencial comercial, hoje em dia, início do século 21, estreiam no Brasil com uma média de 250 a 300 salas, às vezes mais, Mazzaropi estreava em 23, 29 salas em seu circuito inicial e fazia o mesmo número de espectadores que estes. Com muito menos estrutura, a própria PAM, sua produtora, contava em seu escritório de São Paulo com uma equipe enxuta, formada, além dele, por um gerente, coordenador de produção, Gentil Rodrigues, um contador e um faturista. Mazzaropi era, conforme a tradução corrente dos chamados blockbusters americanos, um verdadeiro e tipicamente brasileiro arrasa quarteirão. Não tinha disponível a tecnologia que temos hoje para divulgar e distribuir seus filmes e se tivesse, com certeza não seria um purista e a usaria da melhor forma possível. Mas, naquela época, sua publicidade era feita na raça, no boca-a-boca e, após tantos anos, seus números continuam soberanos nas estatísticas. Exemplificando: o filme Cidade de Deus teve nos cinemas 3.316.559 espectadores; O Auto da Compadecida, uma comédia popular produzida pela Globo Filmes, obteve 2.157.166; já Xuxa e os Duendes fez 2.657.091, seguindo a média das produções anteriores da apresentadora, como Xuxa Popstar, com 2.394.326, e Xuxa Abracadabra, com 2.210.535 pagantes. Guardadas as particularidades de cada época, em contrapartida, os números apresentados por Mazzaropi nos anos 70 atestam sua superioridade. De 1970 a 1979, teve um público de 25 milhões de espectadores. Somente de 1970 a 1975, seus filmes representaram 23% de arrecadação de todo o cinema nacional. Segundo dados de sua própria produtora, suas produções não custavam mais do que um milhão e meio de cruzeiros e conseguiam arrecadar, na média, dez vezes mais do que haviam custado: • Betão Ronca Ferro 2.562.937 espectadores (1970) • O Grande Xerife 2.692.862 espectadores (1972) • Um Caipira em Bariloche 2.720.006 espectadores (1973) • Portugal... Minha Saudade 2.324.160 espectadores (1973) • O Jeca Macumbeiro 3.360.279 espectadores (1974) • Jeca Contra o Capeta 3.415.037 espectadores (1975) • Jecão... Um Fofoqueiro no Céu 3.296.384 espectadores (1977) • Jeca e seu Filho Preto 2.860.317 espectadores (1978) • A Banda das Velhas Virgens 2.337.368 espectadores (1979) As únicas exceções são feitas aos fenômenos de bilheteria 2 Filhos de Francisco - A História de Zezé Di Camargo e Luciano, de Breno Silveira, cuja bilheteria, em 2005, atingiu o patamar de 5.319.677 pagantes e a série “Se Eu Fosse Você” de Daniel Filho, cuja segunda parte, em 2009, superou em velocidade vertiginosa o êxito de sua primeira parte, deixando em segundo lugar o filme de Silveira na lista dos filmes mais vistos da chamada retomada do cinema nacional acumulando em março de 2009, quando ainda estava em cartaz em 287 salas, o total de 5.324.387 pagantes. O lado triste é a constatação de tratar-se de êxitos isolados em um mercado que pena para estabelecer uma indústria e conquistar um público que no melhor resultado obtido em 2004 não representou mais de 21% do total do mercado e, desde então, não ultrapassa a média de 14% anuais. Por outro lado, não é de se estranhar que encontremos os dois elementos principais dos filmes de Mazzaropi (a comédia e o drama popular) justamente nas maiores bilheterias do cinema brasileiro nos 25 anos recentes; de um lado, uma comédia de inversão de papéis, onde o marido assume o corpo da mulher e a mulher o do marido, de outro, um drama popular sobre um pai matuto e sua saga para transformar seus dois filhos em uma das duplas sertanejas de maior sucesso do País. Eis aí, ecos do cinema caipira-regional-sertanejo-popular cuja base foi fundada pela obra de Mazzaropi. Esses ecos podem também ser sentidos de maneira mais explícita, em produções recentes como na re-filmagem de 2009 de Menino da Porteira de Jeremias Moreira, com o cantor Daniel desempenhando o papel que pertenceu originalmente a Sergio Reis, e mais especialmente em Tapete Vermelho, de Luiz Alberto Pereira, uma declarada homenagem aos filmes de Mazzaropi na figura do caipira Quinzinho, interpretado, segundo alguns jornalistas, de forma “quase mediúnica” dada a maneira com a qual o brilhante ator Matheus Nachtergaele incorpora os trejeitos e sotaques de Mazzaropi a seu personagem. O filme conta a fábula de Quinzinho que promete a Neco, seu filho de 10 anos, levá-lo à cidade grande para assistir a um filme do Jeca. Acompanhados pela esposa de Quinzinho, Zulmira (em uma interpretação impecável da atriz Gorete Milagres, emulando Geny Prado como a “escada” do caipira) e pelo burro da família Policarpo (outra homenagem subliminar) a família viaja por várias cidades à procura de um cinema que exiba um filme do Mazza. Além de um tributo, o filme faz uma revisão da figura do caipira em tempos modernos e uma bela reflexão sobre os valores de nossa cultura popular. Geny Prado – A Mulher do Caipira Genny Almeida Prado nasceu em 1919 e começou sua carreira em 1943, como radioatriz, na Rádio Cruzeiro do Sul, lançada por Luís Quirino. Transferiu-se depois para a Rádio São Paulo e para a Rádio Tupi, onde conheceu Mazzaropi, que a convidou para participar do programa Rancho Alegre e a levou para a televisão em 1951. Era o início de um dos maiores casamentos artísticos que nossas telinhas e telonas já presenciaram, e de uma amizade sincera que iria durar para toda a vida. Os dois eram sinônimo de sucesso e Geny foi, na tela, a esposa que Mazzaropi nunca teve na vida real. A imagem dos dois juntos em cena ficou imortalizada, virou um ícone em nossa filmografia. Eram flagrantes de uma química perfeita. Na TV Tupi fez os teleteatros – Os Anjos Não Têm Cor (1953), Miguel Strogof (1955), O Palhaço (1956), Os Três Mosqueteiros e O Pequeno Mundo de Doutor Camilo (1957), TV Teatro (1958), Urgente (Um Namorado Para Sheila), Fim de Semana no Campo e Adeus, Mr. Chips (1959) e TV de Comédia (1953/59), TV de Vanguarda (1953/1959); E ainda realizou inúmeras novelas nas tevês Excelsior, Tupi, Record/TVRio, Bandeirantes e SBT, entre elas: O Morro dos Ventos Uivantes (1967), Sangue do Meu Sangue (1969), Mais Forte Que o Ódio (1970), Acorrentados (1969), Meu Pé de Laranja Lima (1970), Um Dia, o Amor (1975), Papai Coração (1976), Éramos Seis (1977, versão de Silvio de Abreu e Rubens Ewald FIlho), O Direito de Nascer (1978), O Todo-Poderoso (1979), Ninho da Serpente (1982) e Jerônimo (1984). Geny Prado estreou no cinema pelas mãos de Mazzaropi em 1958, no filme Chofer de Praça, o primeiro produzido pelo amigo, na sua recém-criada companhia, a PAM Filmes. A partir daí, passaria a fazer o papel que ficaria marcado para sempre na memória afetiva do povo brasileiro: a esposa do Jeca, carinhosamente apelidada pelo público de Pelanca. Destacam-se entre seus trabalhos mais elogiados no cinema, além de Jeca Tatu e Betão Ronca Ferro, com Mazzaropi, o filme A Marvada Carne, de André Klotzel, 1985, onde mais uma vez revisitaria o tipo característico do universo caipira, desta vez ao lado de Fernanda Torres em uma declarada homenagem aos filmes do Mazzaropi. Foi seu último grande trabalho nas telas. Afastada da vida artística após a morte de Mazzaropi, vem a falecer em 17 de abril de 1998, em São Paulo, aos 79 anos de idade. A Turma do Mazza Mazzaropi não tinha o costume de recrutar nomes famosos para o elenco de seus filmes. Não que não quisesse, simplesmente não precisava. Seu nome na fachada do cinema era o necessário para garantir o retorno de público. Como bem definiu um de seus atores: Éramos todos coadjuvantes dele! Mesmo assim, encontramos nos créditos de muitos de seus filmes, desde o início de sua carreira, atores consagrados por público e crítica do porte de Eugênio Kusnet – que introduziu no Brasil o famoso método de interpretação e construção de personagem Stanislavsky – Ruth de Souza, Adoniran Barbosa – outro ícone da cultura popular paulista – Odete Lara, Jofre Soares, Maurício do Valle e curiosamente até o atual campeão de bilheteria do cinema nacional, o mestre Daniel Filho (em Fuzileiro do Amor). No entanto, sua opção por dar oportunidade a jovens talentos em início de carreira acabou fazendo dele o padrinho cinematográfico de promessas que se confirmariam como futuros astros da TV, como foi o caso de Tarcísio Meira e Luís Gustavo. Muitos outros nomes fizeram parte do talentoso casting do caipira, entre os quais podemos destacar David Cardoso, Roberto Duval, Selma Egrei, Denise Del Vecchio, Paulo Castelli, Carmen Monegal, Roberto Pirillo, Marly Marley, Francisco Di Franco, Zilda Cardoso, Elizabeth Hartman e Ewerton de Castro. Havia lugar também para amigos mais próximos, cuja carreira no mundo das artes recebeu um empurrãozinho do Jeca, embora tenha se limitado aos seus filmes. Foi o caso do impagável caipira Augusto César Ribeiro, o Chico-Frô (ou Chico-Flô), e do jovem André Luiz de Toledo, ou de revelações como o ator negro Everaldo Bispo de Souza. Finalmente, ocupa lugar especial nesta galeria um nome que figura em quase todos os filmes da fase PAM, o grande companheiro Carlos Garcia que, além de atuar, se dividia em várias funções técnicas atrás das câmeras nas produções das fitas de Mazzaropi. Personagens constantes na parte técnica de suas produções, deve-se fazer jus ao trabalho do montador Mauro Alice, o favorito de Mazzaropi a quem ele também outorgava a tarefa da criação de seus traillers e a quem endereçava bilhetinhos orientando em que ponto o filme deveria ser cortado para que o público entendesse as piadas. E ainda ao brilhante diretor de fotografia Rudolf Icsey, colaborador em várias fitas do Mazza e respeitado no meio. Foi responsável, entre outros trabalhos, pela sublime iluminação do filme Noite Vazia, de Walter Hugo Khouri. Um grande amigo e profissional foi Virgílio Roveda, operador de câmera em mais de uma dezena de filmes do Mazza e que teve como colegas de técnica uma lista vasta que inclui nomes como o técnico de som Jair Duarte, o assistente Nicanor e a inesquecível Nena Viana, atriz a quem Mazzaropi “elegeu” como maquiadora favorita para que pudesse ficar mais próxima dele e de sua mãe D.Clara por quem Nena tinha grande afeição. Outro grande companheiro artístico de Mazzaropi e que não pode ser esquecido é o do cineasta Pio Zamuner, responsável pela direção dos seus dez últimos filmes, diga-se de passagem, sua fase mais autobiográfica, e braço direito do artista ao longo da década de 70, safra de seus maiores êxitos de bilheteria. Zamuner imprimiu sua marca e talento a serviço do Jeca, com a mesma importância que Abílio Pereira de Almeida teve nos anos 50, e Glauco Mirko Laurelli e Milton Amaral representaram nos anos 60. A Música nos Filmes do Jeca Uma Constelação de Astros e Estrelas da Música Popular A música sempre teve papel fundamental na vida e na carreira de Mazzaropi; portanto, não poderia deixar de ter destaque todo especial em seus filmes. Desde seu deslumbre de infância com a habilidade do avô com a viola, até o contato com vários artistas consagrados já na época do rádio, música para ele era uma paixão tão grande quanto o cinema, daí sua vontade de aliar uma coisa à outra. Não à toa, era o momento em que, com seu excelente registro de voz, colocava o tipo caipira meio de lado e cantava pra valer em seus filmes, sempre com um prazer enorme, interpretando composições dos mais variados tipos. Sempre que podia, Mazzaropi não perdia a oportunidade de cantar para seu público, fosse no rádio, no circo ou até mesmo nas festas de família com os amigos. Como diria aos amigos mais próximos, se pudesse teria sido crooner, cantor mesmo. Quando estava em São Paulo, Mazzaropi assistia a quase todos os espetáculos teatrais e musicais em cartaz na cidade, alguns deles várias vezes. Elis Regina, que ele considerava a maior cantora do Brasil, tinha sempre Mazzaropi na sua plateia – Falso Brilhante ele assistiu, no mínimo, três vezes. Mas não era de marcar presença em camarins. Chegava ao teatro, comprava seu ingresso, assistia ao espetáculo e ia embora como uma pessoa qualquer. Alguns amigos mais próximos e técnicos que trabalhavam com ele lembram de reuniões em sua casa, quando Mazza tocava clarinete com desenvoltura. Tinha vários cadernos de estudo e seu repertório era constituído por músicas clássicas, especialmente Bach, herança do gosto paterno pelas óperas e clássicos. Quando perguntado por que não divulgava muito este seu lado músico, Mazza costumava responder que não tinha a ver com sua imagem pública, era algo pessoal: Imaginem como seria o Jeca tocando música clássica!?! Anotações em diversas fitas de áudio pertencentes ao acervo do Estúdio PAM mostram que Mazzaropi também se aventurava pelo piano, violão e outros instrumentos; levava as canções dos filmes para sua casa e ensaiava por horas a fio antes de aprovar sua própria performance. Tanto critério também se estendia à trilha sonora instrumental dos filmes, composta por maestros como os excepcionais Gabriel Migliori e Radamés Gnatalli, no início de carreira, e pelo maestro Hector Lagna Fietta, seu mais constante colaborador, cujas composições se tornaram marcas registradas dos filmes. Lagna Fietta e o compositor Elpídio dos Santos foram os grandes responsáveis pela parte musical dos filmes, mas, desde o início, como era de costume nas produções populares, havia os números musicais – quando o filme dava um tempinho na história para que os espectadores pudessem se deleitar com as aparições de seus cantores e cantoras preferidos. O correto e justo é afirmar que este formato, em vez de uma fórmula, era sim uma tradição nos filmes do Mazza. Desfilaram em seus filmes diversos astros e estrelas como: Ângela Maria, Cauby Peixoto, Zezé Gonzaga, Agnaldo Rayol, Lana Bittencourt, Tony e Cely Campello, George Freedman, Hebe Camargo, Mario Zan, Pery Ribeiro, Elza Soares e Paulo Sérgio. Elpídio dos Santos Sons e Sonhos na Trilha do Caipira Elpídio dos Santos descobriu muito cedo o gosto pela música. Seu pai, Benedito Alves, foi maestro da Banda Santa Cecília, em São Luiz do Paraitinga, cidade onde Elpídio nasceu a 14 de janeiro de 1909. E foi nesta cidade que Elpídio passou boa parte de sua juventude, se virando como dava em ofícios tais como apontador de jogo do bicho, funcionário de cartório e, um pouco mais tarde, funcionário do antigo Banco Vale do Paraíba. O jovem descobriria, porém, que a música seria seu destino certo entre tantos outros ofícios possíveis. Tinha uma certa intimidade com todos os instrumentos musicais de corda e sopro, porém, o violão era o instrumento com o qual mais se identificava. Por sua simpatia, humildade e originalidade de suas composições, Elpídio conquistou o carinho de seus conterrâneos e suas músicas eram executadas pelo coro da Igreja da Matriz, por bandas, escolas e teatros. Foi também em São Luiz de Piratininga que Elpídio conheceu Mazzaropi, um simples ator circense a quem se afeiçoou logo de início, cultivando uma amizade que os acompanharia até a morte. Quando Mazzaropi começou a produzir suas obras, foi Elpídio quem convidou para cuidar da trilha sonora. Elpídio então foi transferido pelo banco, agora conhecido como Banco Novo Mundo, para São Paulo, levando a esposa, Cinira Pereira dos Santos. Mesmo sendo fiel funcionário do banco, Elpídio jamais deixou de lado suas composições e aulas de violão – em São Paulo, continuou tendo aulas na Escola Paulista de Canto Orfeônico. Suas músicas foram admiradas e gravadas por diversos nomes que marcaram sua época: Cascatinha e Inhana, Titulares do Ritmo, Elza Laranjeira, Irmãs Galvão, Dircinha Costa, Tonico e Tinoco, Nono e Nana, Duo Brasil Moreno, entre outros. Ainda hoje, nomes como Fafá de Belém, Almir Sater, Sérgio Reis, Pena Branca e Xavantinho, reconhecem a obra deste grande compositor, falecido em 1970 deixando registradas mais de mil obras. O Legado do Artista Aí é que eles se enganam. Na situação que estou hoje, poderia muito bem estar viajando, pegar uma primeira classe de navio, ficar indo e voltando da Europa, gozando minha vida. Não precisaria ficar aguentando tanto desaforo como eu aturo... porque o dinheiro que tenho dá pra viver tranquilamente até eu morrer e ainda sobra muito para ajudar a vida de muita gente. Tudo o que eu tenho devo ao meu público. Quando eu morrer, tudo isto vai ficar para o cinema nacional. Depois de um ano de seu falecimento, Mazzaropi voltaria a ser notícia, não por conta de algum filme inédito ou pela reestreia de algum dos seus sucessos, mas porque o império que havia construído simplesmente começou a ruir pela ausência de seu mentor e diante da falta de talento administrativo daqueles a quem seu espólio foi herdado. Em junho de 1981, poucos dias após a morte de Mazzaropi, sua prima-irmã, Nair Lapastina questiona o testamento e em resposta recebe a negativa de seu herdeiro Péricles Moreira, filho de uma empregada de Mazzaropi e adotado “não oficialmente” desde bebê pelo artista. Não caberia parte alguma da herança à Nair. Naquele momento, D. Clara com sérios problemas de saúde (arterioesclerose avançada) tinha toda sua parte administrada por Péricles que se tornava desta forma o herdeiro majoritário da milionária herança. Em busca de esclarecimentos D.Nair encontra o advogado Dr. Walfrido Jorge Warde que chega à conclusão que ela realmente não tinha direitos sobre a herança por pertencer à linhagem paterna, no entanto os parentes da mãe de Mazzaropi, D.Clara, poderiam pleitear a parte que lhes cabia. Eram 15 pessoas, todas pobres. Nesta ocasião, Péricles sentindo-se ameaçado procurou “Os 15”, como ficaram conhecidos, e lhes apresentou o advogado da PAM Filmes, Dr. Wilton Maurélio por quem foram aconselhados a aguardarem um desfecho em silêncio a fim de evitar escândalos de proporções comprometedoras à imagem do artista. Depois de meses de impasse e nenhuma solução efetiva e favorável por parte de Péricles, o grupo dos 15 volta a procurar o Dr. Walfrido que os aconselha a eleger um curador e entra com uma ação para reverter a situação. Nascia ali o que à época ficou amplamente conhecido e divulgado na mídia como “O Caso Mazzaropi”. Em setembro de 1982, Péricles Moreira foi destituído dos poderes de inventariante pela 10ª Vara de Família e Sucessões, pois o curador representante de D. Clara, José Benedito Ferreira Filho, em seguida à abertura do cofre de Mazzaropi e à descoberta de que não havia nele e em nenhum outro lugar da casa, os bens declarados anteriormente por seu dono (um solitário avaliado em um milhão e meio de cruzeiros, uma corrente com um SOL à guisa de medalhão, um relógio Universal e uma pulseira, todos em ouro maciço, um anel de brilhante, 60 mil dólares e 70 milhões de cruzeiros em espécie, seis soles de ouro mexicanos, cada um com 35,6 gramas e mais uma pequena fortuna em marcos alemães e francos suíços), pediu seu afastamento da posição de inventariante alegando que Péricles nunca fora adotado legalmente e que perante a lei, não poderia ser um herdeiro natural e, ainda, que o rapaz já havia sido internado mais de uma vez por problemas com álcool e, portanto, era questionável sua condição para administrar a herança de D.Clara. Da mesma forma, foram questionados: uma procuração assinada por Mazzaropi no dia 19 de maio de 1981, dando plenos poderes para Carlos Garcia na administração de seus bens e um novo testamento, assinado na cama do Hospital Albert Einstein, no quarto 1129, às 22horas do dia 22 de maio de 1981, apenas três dias depois e feito sem explicações em substituição a um testamento anterior recente e assinado quando Mazzaropi estava são e gozava de bom estado de saúde. Neste novo documento, o artista deixava 50% de suas duas empresas – a empresa individual Amácio Mazzaropi e a Pam Filmes Hotel – para sua mãe, além de imóvel no bairro do Itaim. A três instituições de caridade ele deixaria um milhão de cruzeiros para cada uma. A outra metade de sua herança a qual ainda incluía seus filmes e uma fortuna à época avaliada em milhões de cruzeiros, seria dividida em diferentes quantias que iriam para várias pessoas. Segundo o Processo 1594/81, Mazzaropi deixara 10% do total da metade de sua herança a ser dividido entre Gentil Rodrigues Ferreira, Hélia Parras de Mauro e Pedro Francelino de Souza, todos eles funcionários de suas empresas, mas 90% seria dividido entre 45% para Carlos Garcia e 45% para Péricles Moreira, que chegara neste momento a possuir 70% do espólio de Mazzaropi, somada a parte de D.Clara. As dúvidas levantadas? Muitas! Quando Mazzaropi ditou esta nova versão de seu testamento, na noite de 22 de maio, não estava presente no quarto nenhum médico, nem sequer uma enfermeira. Seu médico particular por mais de vinte anos, Dr. Castor Jordão Cobra havia sido afastado do tratamento e André Luiz de Toledo, demitido por terceiros. André, jovem com pinta de galã, dono de uma lanchonete em Taubaté foi descoberto por Mazzaropi em uma visita aos estúdios da PAM. De motorista particular ele foi promovido em menos de um ano a secretário, homem de confiança e gerente administrador dos bens do ator, função realizada com extrema competência e a confiança do patrão, para ciúme de Péricles e Carlos Garcia que em anos de convivência não haviam conquistado o mesmo nível de responsabilidade que este. André cuidava da saúde física e financeira de Mazzaropi. Em 1976, quando começou a administrar a PAM Filmes, esta possuía 5 milhões de cruzeiros aplicados em títulos, letras de câmbio, CDBs e open market. Em 1981, quando demitido e veio a prestar contas de tudo o que administrara à contadora da empresa, D. Hélia Parras de Mauro, a PAM tinha, aplicados, 70 milhões e a vencer, pelos menos 120 milhões de cruzeiros. Mazzaropi mesmo doente examinava recibos e comprovantes, queria saber de tudo. Após 1976, só com shows Mazzaropi ganhava 1 milhão de cruzeiros por mês e seus filmes lhe rendiam nos primeiros meses uma média de 20 a 30 milhões de cruzeiros. Tudo passava pela mão de André que ainda cuidava de Mazzaropi em seus momentos de maior fragilidade na saúde e lhe ministrava os remédios rigorosamente nos horários. Depois de tanta dedicação, no novo testamento André nem sequer era citado e a ele não coube nenhuma parte da herança do artista. Curiosamente Mazzaropi não havia assinado o testamento e, embora fosse destro, deixara no livro do cartório apenas a marca de seu polegar esquerdo. Por fim, os documentos do escritório da PAM desapareceram em um incêndio “misterioso” que encobriu para sempre a possibilidade de avaliar precisamente sua fortuna que seria extinta com uma rapidez inversamente proporcional ao tempo que Mazza levou para erguer seu império. Em agosto de 1984, todo o acervo de seus estúdios era leiloado no Teatro Zácaro, em São Paulo, visando a aumentar o capital de seus, agora, “muitos herdeiros”, que queriam dinheiro em espécie e não tinham interesse algum em utilizar a estrutura de seus vários imóveis, veículos, linhas telefônicas, equipamentos cinematográficos e, acima de tudo, o acervo de seus 24 filmes. Tratava-se, na verdade, de um esforço conjunto para valorizar a herança, pois, sendo vários herdeiros, se cada um deles ficasse com sua parte, não conseguiriam o valor que poderiam obter leiloando tudo de uma única vez. A arrecadação mínima esperada era de quatro bilhões de cruzeiros. E ainda haveria um segundo leilão no qual entrariam joias, móveis e peças artísticas que Mazzaropi havia colecionado durante sua vida inteira. Carlos Garcia, em determinado momento diria: Com esse leilão, a memória do Mazza vai para o espaço! O famoso leilão aconteceu em 30 de agosto de 1984, sob o comando de Mario Nardy. A herança foi dividida em cinquenta lotes que ficaram à disposição de cem participantes. Um micro-ônibus adaptado para trailer (com fogão, banheiro, sofás e camas em seu interior) e um Ford Landau 80 foram as estrelas da noite. Para quem supunha que os seus filmes seriam os itens mais cobiçados, a decepção. O leilão do lote nem mesmo chegou a ser aberto por falta de quem se interessasse em comprá-lo, dado o valor alto e a preferência pelos bens materiais. Em carta aberta dirigida ao Jornal da Tarde em 4 de setembro do mesmo ano, Antonio Leão da Silva Neto, hoje renomado historiador do cinema nacional, pedia desculpas a Mazzaropi: Sr. Mazzaropi, O que vemos hoje, e de mãos atadas, são seus herdeiros brigando por dinheiro, esse maldito dinheiro que faz nossas cabeças em detrimento sempre das causas mais justas e até de vidas inocentes. Estou vendo todo o seu patrimônio ser queimado, dissipado, pois naturalmente tudo isso estará perdido nas mãos de algumas dezenas de privilegiados. Um patrimônio desses teria de ser mantido, cuidado, conservado peça por peça, pois significa no mínimo um capítulo importante de nossa história cultural e artística. O brasileiro já tem memória curta, imagine então como será lembrado Mazzaropi daqui a alguns anos: um aventureiro? Um caipira bem-sucedido? Um homem que se aproveitou de uma situação para comercializá-la? Não sei... Vemos entre centenas de cópias e mais cópias em 16mm e 35 mm a base, o documento de todo um árduo trabalho de anos e anos, simplesmente expostas em cima de um balcão à disposição de quem der mais. Estou chocado! Fica aqui meu apelo aos privilegiados de bom senso: por favor, saibam como preservar esses documentos e não deixem que pessoas inescrupulosas se apoderem deles. Vamos, pelo menos, deixar algo para nossos filhos, para que no futuro eles possam ter conhecimento de uma obra que tentou mostrar o lado bom e sincero da vida. Mazzaropi, onde quer que esteja, aceite minhas desculpas por todos os homens responsáveis por isso. Eles não sabem o que fazem! ... e o tempo haverá de ratificar isso. Dos personagens desta história, Péricles Moreira pegou sua parte e desapareceu. Alguns dizem que foi para os Estados Unidos e nos anos 90 foi dado como morto. Carlos Garcia gastou sua parte em menos de quatro anos, patrocinando um time de futebol e outros investimentos de risco, inclusive na área cinematográfica. Faleceu em 2008, reverenciando a memória do amigo Mazzaropi, porém pobre, esquecido e assistido pelos poucos amigos mais próximos. A Memória Preservada No mesmo ano de sua morte, a Cinemateca Brasileira foi a primeira a lhe prestar homenagem exibindo seus filmes. Um ano depois, seria a vez do famoso Cine Art Palácio homenagear seu artista mais querido com a exibição do filme Tristeza do Jeca, desta vez sem banda, sem correria e sem o protagonista. Em meados da década de oitenta, alguns de seus filmes seriam lançados em homevídeo pelas empresas Globo Video e BDF (Brasil Distribuidora de Filmes) que venderiam seus direitos à Argovideo, o que possibilitaria uma reavaliação de seu trabalho. Em um mercado recém-criado nos anos 80, e que vivia o boom dos videocassetes, os filmes de Mazzaropi seriam um sucesso de vendas em VHS e não ficariam tomando poeira nas prateleiras, ao contrário de muitas fitas nacionais que eram compradas somente por obrigações de reserva de mercado. Todo mundo queria levar Mazzaropi para casa. O mesmo fenômeno voltaria a se confirmar com o lançamento da parte de seus filmes que permanecia inédita, completando o acervo em vídeo, através da empresa Reserva Especial, por volta de 1995. Ainda em 1988, Mazzaropi teria seus filmes exibidos pela TV Cultura com enorme sucesso, o que voltaria a acontecer em 1992, sempre com audiência acima da média. Em 1993, seria a vez da TV Manchete lançar, em junho, uma programação voltada aos filmes do Jeca que resultou em recorde na audiência da emissora. O mesmo êxito se repetiria em suas exibições na TV Bandeirantes e na CNT/Gazeta. Desde meados dos anos 90 até os dias atuais, sua obra tem sobrevivido graças aos esforços de preservação e à dedicação de instituições como a UNITAU – Universidade de Taubaté, pelo seu Centro de Documentação e Pesquisa Histórica (CDPH) que iniciou trabalho de recuperação da história de Mazzaropi coordenado pelos professores: Olga Rodrigues Nunes de Souza e Carlos R. Rodrigues (à época responsável também pelo Museu do Homem Caipira), tendo também a supervisão do professor Mauro Castilho. Um capítulo muito importante na questão da preservação de sua obra deve-se ao trabalho inestimável do Instituto Mazzaropi, entidade ligada ao Hotel Fazenda Mazzaropi, hoje nas mãos da família de um de seus maiores amigos, João Roman Júnior. O Instituto mantém viva a memória do artista em cada canto do Hotel Fazenda que leva seu nome e conserva além da Casa do Jeca, o Museu Mazzaropi e por meio dele cataloga seu acervo fotográfico e histórico. A Fazenda Santa, restaurada pelo Instituto em parceria com a Votorantin, em 2000, está aberta à visitação, e as pessoas podem ter acesso aos antigos estúdios, ao refeitório, à casa onde o ator se hospedava e até aos viveiros onde ficava seu casal de macacos. Ainda em Taubaté, desde 1993, a Câmara Municipal por iniciativa do vereador Roberto Peixoto, instituiu o Dia Mazzaropi, preservando a memória do artista para as futuras gerações da cidade que Mazza adotou e desde 1996, o Museu Mazzaropi promove, sempre em abril, a Semana Mazzaropi. Em agosto de 2000, o Canal Brasil realizou uma pesquisa que elegeu Mazzaropi o melhor comediante brasileiro de todos os tempos à frente de Oscarito, Zé Trindade e Dercy Gonçalves. Durante a década de 2000, a Amazonas Filmes, por meio do selo Cinemagia, e sem apoio de leis governamentais, contando apenas com a parceria do Instituto Mazzaropi, realizou sob a direção e produção executiva de Paulo Duarte e Marcello Hespanhol, intenso trabalho de pesquisa para localizar e recuperar as matrizes dos filmes, trailers e fotos de Mazzaropi, bem como o mapeamento de todos os seus detentores atuais, para um importante projeto de resgate do material em formato digital. Com o lançamento da Coleção Mazzaropi composta por 9 boxes com os filmes do artista em DVD, foi possível, o acesso à obra por toda uma nova geração de espectadores que jamais tiveram a oportunidade de vê-lo nos cinemas. Por ocasião do Primeiro Prêmio DVD Brasil, em 2003, voltado aos melhores lançamentos do mercado, a primeira caixa com os filmes do Mazzaropi foi premiada com a láurea de Melhor Lançamento de Filme Brasileiro do Ano, dado pelo voto popular. Cito, mais uma vez, a carta do jovem idealista Antonio Leão da Silva quando se perguntava: Como será lembrado Mazzaropi daqui há alguns anos? – e fecho um ciclo da história do bom e velho Mazza com minha própria resposta ao amigo: Respaldada pela simples existência deste livro e das várias ações dos amigos citados, posso dizer com certeza que graças à força de sua obra e nome, Mazzaropi jamais será esquecido! Filmografia – Fichas técnicas 1952 Sai da Frente Comédia; ficção; 80 min; livre Ano de Produção: 1952 Lançamento: 25/06/1952 no Cine Marabá e circuito de 12 salas em SP Elenco Amácio Mazzaropi (Isidoro Colepícula) • Ludy Veloso (Maria) • A. C. Carvalho (Eufrásio) • Nieta Junqueira (Dona Gata) • O lendário cão Duque (Coronel) Elenco de Apoio Leila Parisi • Solange Rivera • Luiz Calderaro • Vicente Leporace • Luiz Linhares • Francisco Arisa • Xandó Batista • Bruno Barabani • Danilo de Oliveira • Renato Consorte • Príncipes da Melodia • Chico Sá • José Renato • Liana Duval • Joe Kantor • Milton Ribeiro • Jordano Martinelli • Izabel Santos • Maria Augusta Costa Leite • Carlo Guglielmi • Labiby Madi • Jaime Pernambuco • Galileu Garcia • José Renato Pécora • Toni Rabatoni • Ayres Campos • Dalmo de Melo Bordezan • José Scatena • Vittorio Gobbis • Carmen Muller • Rosa Parisi • Annie Berrier • Irmãos Melo (Ovídio e Martins – acrobatas) Cia. Produtora: Cia. Cinematográfica Vera Cruz, com o financiamento do Banco do Estado de São Paulo S.A. Distribuição: Columbia Pictures Direção: Abílio Pereira de Almeida Diretor Adjunto: Tom Payne Assistentes de Direção: Carlos Thiré, Toni Rabatoni, Galileu Garcia Argumento: Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne Roteiro: Abílio Pereira de Almeida Baseado em ideia de Tom Payne Diretor de Fotografia: Nigel C. (Bob) Huke Operador de Câmera: Jack Mills Assistente de Foco: Carlo Guglielmi Diretor de Produção: Pio Piccinini Assistente de Produção: Geraldo Faria Rodrigues Engenheiro de Som: Erik Rasmussen, Ernest Hack Assistente de Som: Boris Silitschanu, João Ruch, Waldir Simões Editor: Oswald Hafenrichter Montagem: Álvaro Novaes, Mauro Alice, Germano Arlindo Cenografia: Pierino Massenzi Assistente de Cenografia: Luiz Sacilotto, Noboru Honda Figurinos: Bassano Vaccarini Maquiagem: Valerie Fletcher Música: Radamés Gnatalli Canção: A Tromba do Elefante, de Anísio Olivero, canta Mazzaropi Continuidade: Bernardeth Ruch Estúdio de Filmagem: Estúdios da Vera Cruz (São Bernardo do Campo) Locações: Cidade de São Paulo Local de Produção: São Paulo e Santos, SP Laboratório de Imagem: Rex Filmes Sistema de Cor: Preto-e-Branco Sistema de Som: RCA Metragem: 2.188 m, filmado em 35 mm, em 24 q Apresentação: Universal Filmes Prêmio: Saci 1952: melhor atriz secundária – Ludy Veloso 1952 Nadando em Dinheiro Comédia; ficção; 90 min; livre Ano de Produção: 1952 Lançamento: 27/10/1952 em circuito de 38 cinemas em São Paulo e arredores Elenco Amácio Mazzaropi (Isidoro Colepícula) • Ludy Veloso (Maria) • A. C. Carvalho (Eufrásio) • Nieta Junqueira (Xantipa) • O lendário cão Duque (Coronel) Elenco de Apoio Liana Duval • Carmen Muller • Simone de Moura • Vicente Leporace • Xandó Batista • Francisco Arisa • Jaime Pernambuco • Elísio de Albuquerque • Ayres Campos • Napoleão Sucupira • Domingos Pinho • Nélson Camargo • Bruno Barabani • Jordano Martinelli • Wanda Hamel • Joaquim Mosca • Albino Cordeiro • Labiby Madi • Maria Augusta Costa Leite • Pia Gavassi • Izabel Santos • Carlos Thiré • Annie Berrier • Oscar Rodrigues de Campos • Edson Borges • Vera Sampaio • Luciano Centofant • Maury F. Viveiros • Antônio Augusto Costa Leite • Francisco Tamura Cia. Produtora: Companhia Cinematográfica Vera Cruz, com a cooperação financeira do Banco do Estado de São Paulo S.A. Distribuição: Columbia Pictures Direção: Abílio Pereira de Almeida Diretor Adjunto: Carlos Thiré Assistente: Toni Rabatoni e Sérgio Hingst Argumento: Abílio Pereira de Almeida Diretor de Fotografia: Nigel C. (Bob) Huke Operador de Câmera: Jack Mills Assistente de Câmera: Carlo Guglielmi Diretor de Produção: Pio Piccinini Assistente de Produção: Geraldo Faria Rodrigues Engenheiros de Som: Erick Rasmussen e Ernest Hack Assistentes: Giovanni Zalunardo e Raul Nanni Montagem Editor: Oswald Haffenrichter Montagem: Álvaro Novais e Germano Arlindo Assistente de Montagem: Walter Vitalino Chefe Eletricista: Sérgio Warnowsky Contrarregra: Manoel Monteiro Cenografia: Pierino Massenzi Decorações: João Maria dos Santos Construções: José Dreos Móveis e Antiguidades: Florestano Guarda-roupa feminino: Simona de Moura Maquiagem: Valerie Fletcher Música: Radamés Gnatalli Continuidade: Maria Aparecida de Lima Estúdio de Filmagem: Cia. Cinematográfica Vera Cruz (S. Bernardo do Campo) Locações: Mansão na av. Paulista Local de Produção: São Paulo, SP Laboratório de Imagem: Rex Filmes Sistema de Cor: Preto-e-Branco Sistema de Som: RCA Metragem: 2.400 m, filmado em 35 mm, em 24 q 1954 Candinho Comédia; ficção; 95 min; livre Ano de Produção: 1953 Lançamento: 25/1/1954 no Cine Art Palácio, Cine Ipiranga e 25 salas em SP Elenco Amácio Mazzaropi (Candinho) • Marisa Prado (Filoca) • Ruth de Souza (D. Manuela) • Adoniran Barbosa (Professor Pancrácio) • Benedito Corsi (Pirulito) • Xandó Batista (Vicente) • Domingos Terras (Coronel Quinzinho) • Nieta Junqueira (D. Eponina) • Labiby Madi (D. Hermione) • Ayres Campos (Delegado) • Sydnea Rossi (D. Antonieta) • John Herbert (Quincas) • Salvador Daki (Lalau) • o cão Duque Elenco de Apoio Manoel Pinto • Abílio Pereira de Almeida • Pedro Petersen • Luiz Calderaro • Nélson Camargo • Antônio Fragoso • Tito Lívio Baccarin • Maria Luiza Splendore • Eugênio Montesano • Lourenço Ferreira • Jordano Martinelli • Artur Herculano • Figurinha (monociclo e malabares) • Antônio Miro • Cavagnole Neto • Izabel Santos • China • Maria Olenewa Ballet Cia. Produtora: Cia. Cinematográfica Vera Cruz Distribuição: Columbia Pictures Direção: Abílio Pereira de Almeida Assistente de Direção: Cesar Mêmolo Jr. e Léo Godoy Argumento: Abílio Pereira de Almeida Roteiro: Abílio Pereira de Almeida Diretor de Fotografia: Edgar Brazil Operador de Câmera: Jack Mills Assistente de Câmera: Jaime Pacini Supervisor de Produção: Vittorio Cusane Diretor de Produção: Cid Leite da Silva Assistente de Produção: Rigoberto Plothow Engenheiro de Som: Erik Rasmussen Assistente: João Ruch Filho Técnico de Gravação: Ernest Hack Montagem Editor: Mauro Alice Assistente de Montagem: Katsuichi Inaoka Chefe Eletricista: Hector Femenia Santa Maria Contrarregra: Fernão J. Lomea Cenografia: Antônio Gomide Assistente de Cenografia: Abigail Costa Belloni Construções: José Dreos Maquiagem: Jerry Fletcher Músicas e Arranjos: Gabriel Migliori Canções: O Galo Garnisé, de A. Almeida e L. Gonzaga; Não me Diga Adeus, de F. da Silva Correa e Luiz da Silva; Ave Maria do Morro, de Herivelto Martins; Vida Nova, de Borba S. Rubens; É bom Parar, de Rubens Soares; O Orvalho vem Caindo, de Noel Rosa & Kid Pepe; Mamãe eu Quero, de Vicente Paiva e Jararaca; A Saudade Mata a Gente, de Antônio de Almeida e João de Barros; IV Centenário, de Mário Zan e J. M. Alves; O que Ouro não Arruma, de Mário Vieira; Meu Policarpo, de Mara Lux e Reinaldo Santos Continuidade: Yolanda Menezes Estúdio de Filmagem: Cia. Cinematográfica Vera Cruz (S. Bernardo do Campo) Local de Produção: São Paulo, SP Laboratório de Imagem: Rex Filmes Sistema de Cor: Preto-e-Branco Sistema de Som: RCA Metragem: 2.261 m, filmado em 35 mm, em 24 q 1955 A Carrocinha Comédia; ficção; 90 min; livre Ano de Produção: 1955 Lançamento: setembro 1955 Elenco Amácio Mazzaropi (Jacinto) • Doris Monteiro (Ermelinda) • Modesto de Souza • Juca Miranda • Adoniran Barbosa • Salvador Gilberto • Chagas Alinor • João Silva Lisboa • Aida Mar (Clotilde) • Paulo Saffioti (Teotônio) • Kleber Macedo (Adalgiza) • Nicolau Sala (padre Simão) • Salles de Alencar • Abel Fragoso • José Nuzzo (Tatu) • Luiza de Oliveira (D. Hortênsia) • Reinaldo Martini Paulo • Diná Machado (tia Josefa) • José Gomes (tio José) • Nieta Junqueira • Galileu Garcia • Jordano Martinelli • Bento Souza • Luiz Francunha • o cão Duque Cia. Produtora: P. J. P. Distribuição: Fama Filmes Ltda.; Luso Filmes Direção: Agostinho Martins Pereira Assistente de Direção: Galileu Garcia Argumento: Walter George Durst Baseado na história Quase a Guerra de Tróia Roteiro: Adaptação – Walter George Durst, Agostinho Martins Pereira, Galileu Garcia e Jacques Deheinzelin (prêmio no concurso de roteiros do IV Centenário de São Paulo) Diretor de Fotografia: Jacques Deheinzelin Assistente de Câmera: Honório Marin Controle de Foco: Valentim Cruz Produção: Jaime Prades Gerente de Produção: René Zmekhol Som: Giovanni Zalunardo Montagem: Lúcio Braun Cenografia: Franco Ceni Maquiagem: Maury Viveiros Apresentação Letreiros: Oscar Adestrador de Cães: Jordano Martinelli Música: Enrico Simonetti Canções: Céu sem Luar, de Enrico Simonetti e Randal Juliano; Cai Sereno, de Elpídio dos Santos e Conde Continuidade: Zélia Ianello Estúdio de Filmagem: Multifilmes S.A. Sistema de Cor: Preto-e-Branco Metragem: 2.531 m, filmado em 35 mm, em 24 q Local de Produção: São Paulo, SP 1956 O Gato de Madame Comédia; ficção; 90 min; livre Ano de Produção: 1956 Lançamento: 1956 Elenco Amácio Mazzaropi • Odete Lara • Carlos Cotrim • Lima Netto Elenco de Apoio Gilberto Chagas • Roberto Duval • Leo de Avelar • Henricão • Osmano Cardoso • José Nuzzo • Inaija Vianna • Jorge Petrov • José Mercaldi • Tito L. Baccarini • Aída Mar • Cavagnole Neto • Raquel Forner • Claudionor Lima • Aristides Manzani • Reinaldo Martini • Ayres Campos • Beyla Genauer e o gato Joãozinho Cia. Produtora: Cinematográfica Brasil Filmes Ltda. Distribuição: Columbia Pictures Direção: Agostinho Martins Pereira Assistente de Direção: Lucio Braun Argumento: Abílio Pereira de Almeida Roteiro: Agostinho Martins Pereira e Abílio Pereira de Almeida Diretor de Fotografia: Chick Fowle (Henry F. Foule) Operador de Câmera: Jack Lowin Assistentes de Foco: Geraldo Gabriel e Marcelo Primavera Diretor de Produção: Galileu Garcia Assistente de Produção: Raimundo Ribeiro e José Luiz Engenheiro de Som: Ernest Hack Técnico de Som: Boris Silitschanu Assistente de Som: Constantino Warnowsky, Raul Nanni Montagem: Mauro Alice Assistente de Montagem: Lyda Sobolewska Cenografia: Pierino Massenzi Figurinos Históricos: Silvio Ramirez Maquiagem: Jerry Fletcher Música: Enrico Simonetti Canção: Na Piscina de Madame, de Conde e Elpídio dos Santos Continuidade: Vilma R. Pereira Estúdio de Filmagem: Estúdios da Vera Cruz Local de Produção: São Paulo, SP Laboratório de Imagem: Rex Filmes, Líder Cinematográfica – RJ Sistema de Cor: Preto-e-Branco Sistema de Som: RCA Metragem: 2.356 m, filmado em 35 mm, em 24 q 1956 Fuzileiro do Amor Comédia musical; ficção; 100 min; livre Ano de produção: 1956 Lançamento: São Paulo em 20/4/1956 e no Cinema Plaza do Rio de Janeiro em 20/8/1956 Elenco Mazzaropi (José Ambrósio, sapateiro / Sargento Ambrósio José, irmão gêmeo) • Luiz de Barros (Almirante) Elenco de Apoio Terezinha Amayo • Roberto Duval • Pedro Dias • Gilberto Martinho • Wilson Grey • Ângela Maria • Margot Morel • Daniel Filho • Maria Belmar • Francisco Dantes • Nazareth Mendes • Ingrid Frichtner • Agildo Ribeiro • Alberto Peres • Francisco Colonese • Hélio Ansaldo • Mário Campioli • Moacir Deriquén • Nick Nicola • Pato Preto • Ricardo Luna • Banda dos Fuzileiros Navais • “Os Cangaceiros” • Domingos Terras Apresentação: Unida Filmes Cia. Produtora: Cinelândia Filmes (RJ) Distribuição: Cinedistri (SP) Direção: Eurides Ramos Assistente de Direção: Hélio Costa Argumento: Victor Lima e Eurides Ramos Roteiro: Victor Lima Diretor de Fotografia: Edgar Eichhorn Produtor: Osvaldo Massaini Produtores Associados: Eurides Ramos e Alípio Ramos Gerente: J. B. Tanko Assistente: João Macedo Sonografia: Tommy Olenewa Montagem: Hélio Barroso Neto Eletricista: Rubens Bandeira Cenografia: Guilherme Teixeira Maquiagem: Paulo N. Mesquita Música: Radamés Gnatalli Canções: Adeus Querido, de Eduardo Patané e Floriano Faissal, canta Ângela Maria; Mambo Havaiano, de Generoso, canta Margot Morel; Isto é Casamento, de Zé do Rancho, canta Mazzaropi; Dona do Salão, de Conde e Elpídio dos Santos, canta Mazzaropi; Trabalha Mané, de José Luiz e João da Silva, cantam Os Cangaceiros Filmado na Companhia Escola do Corpo de Fuzileiros Navais na Ilha do Governador- Rio de Janeiro Metragem: 2.826 m 1957 O Noivo da Girafa Comédia; ficção; 92 min; livre Ano de Produção: 1957 Lançamento: 8 de abril de 1957 Elenco Amácio Mazzaropi (Aparício) • Glauce Rocha (Inesita) • Roberto Duval (Poeta) • Nieta Junqueira (Xantipa) Elenco de Apoio Manoel Vieira • Celeneh Costa • Francisco Dantas • Palmerim Silva • Arnaldo Montel • Benito Rodrigues • Joyce de Oliveira • Pachequinho • Armando Nascimento • Yára (sic) • Carlos Duval • Walter Moreno • Ferreira Leite • Waldir Maia • a menina Véra (sic) Lucia (Aninha) Cia. Produtora: Cinedistri, Cinelândia Filmes Direção: Victor Lima Assistente de Direção: Oscar Nelson Argumento e Roteiro: Victor Lima Baseado em história de Araldo Morgantini Diretor de Fotografia: Helio Barrozo Netto Assistente de Câmera: Helio Costa Produção: Oswaldo Massaini Produtores Adjuntos: Alípio Ramos e Eurides Ramos Diretor de Produção: Alípio Ramos Assistente de Produção: João Macedo Engenheiro de Som: Marcelo Barbosa Assistente de Som: Paulo Roberto Montagem e Corte: Helio Barrozo Netto Eletricista: Oswaldo Alves Maquiagem: Eric Rzepecki Música: Radamés Gnatalli Cenários: Victor Lima Canções: Cabra Chico, de José Luiz, Vivaldo Medeiros e Juca; A Saudade Ficou, versos de Alípio Ramos e música de N.N.; Chuva Bendita, de Elpídio dos Santos e Conde Filmado em: Estúdio Cinematográfico da TV-Rio, Estúdio da Cinelândia Filmes, Jardim Zoológico da Quinta da Boa Vista Local de Produção: São Paulo, SP Regravação/Mixagem: Estúdio da Vera Cruz, São Bernardo do Campo, SP Laboratório de Imagem: Rex Filmes S.A. – São Paulo Sistema de Cor: Preto-e-Branco Metragem: 2.449,4 m, filmado em 35 mm, em 24 q 1959 Chico Fumaça Comédia; ficção; 96 min; livre (versão do dvd: 88 minutos) Ano de Produção: 1958 Lançamento: 1959 Reprisado no Art Palácio em 22/7/1963, ficando sete dias em exibição Elenco Amácio Mazzaropi (Chico Fumaça) • Nancy Montez (Verinha Vogue) • Carlos Tovar (Dr. Japércio Limoeiro) • Wilson Grey (Didu, assessor de Limoeiro) • Celeneh Costa (Inocência) • Roberto Duval (Prefeito) • Grace Moema (Dona Marcelina – Diretora da Escola) • Joyce Oliveira (esposa de Limoeiro) • Arnaldo Montel (Dr. Raposo) • Suzi Kirby (turista americana) • Grijó Sobrinho (maestro da banda) • Domingos Terras (Seu Elias) • Cazarré Filho (cabo eleitoral) • Carlos Costa (Honório Honorato) • Amadeo Celestino (Subprefeito) • Participação: Moacir Deriquén • Altair Vilar (Capanga do Dr. Raposo) • Ferreira Leite (maquinista) • José Silva (baiano) • Carlos Henrique (locutor de rádio) • Chiquinho (garçom) Cia. Produtora: Cinelândia Filmes (RJ) e Cinedistri (SP) Direção: Victor Lima Assistente de Direção: Oscar Nelson Roteiro: Victor Lima Diretor de Produção e Argumento: Alípio Ramos Diretor de Fotografia: Hélio Barrozo Netto Assistente de Câmera: Hélio Costa Produção: Oswaldo Massaini Produtor Associado: Alípio Ramos Assistente de Produção: João Macedo Direção de Som: Hélio Barrozo Netto e Alberto Vianna Montagem: Hélio Barrozo Netto Eletricista: Oswaldo Alves Maquiagem: Eric Rzpecki Contra-regra: Alencastre Desenho de Produção: Irineu Fernandes Coreografia: Tito Willians Quadros de: Edgar Walter, Ismailovich, Ivan Serpa e Maria Margarido Soutello Música: Radamés Gnatalli Canções: Onde ela mora, de Getúlio Macedo de Lourival Faissal, canta Cauby Peixoto; Saudade da Bahia, de Dorival Caymmi, canta Trio Nagô; Nova Ilusão, de Lana Bittencourt e José Menezes, canta Neusa Maria; Agora é cinza, de idê e Marçal, canta Mara Abrantes; Linda Flor, de H. Vogeler, Luiz Peixoto e Marques; Porto, canta – Zezé Gonzaga; Toca Sanfoneiro, de Anísio Oliveira, canta Mazzaropi Local de Produção: São Paulo, SP Locação da Ferrovia: Estrada de Ferro Leopoldina Regravação/Mixagem: Cia. Vera Cruz – São Paulo Laboratório de Imagem: Rex Filmes – São Paulo Sistema de Cor: Preto-e-Branco Metragem: 2.229,6 m, filmado em 35 mm; em 24 q 1959 Chofer de Praça Comédia; ficção; 96 min; livre Ano de Produção: 1958 Lançamento: 20 de abril de 1959 Elenco Amácio Mazzaropi (Zacarias, vulgo Caría) • Geny Prado (Augusta) • Ana Maria Nabuco (Iolanda) • Carmem Morales (Rita) • Maria Helena Dias (Noiva Rica) • Roberto Duval (pai da noiva rica) Elenco de Apoio Celso Faria • Marlene Rocha • Nina Marques • Nena Viana • Benedito Lacerda • Jota Neto • Biguá • José Soares • Luiz Orioni • Reinaldo Martini • Cavagnole Neto • Vic Marino • Robertinha • Bolinha • José Miranda • Joel Cardoso • Hamilton Saraiva • Elpídio dos Santos • Sebastião Barbosa • Joel Mellin • Genésio César • Rubens Assis • Clenira Michel • Nadir Leite • Cidoca • Dhalia Marcondez • Julieta Faya • Olinda Fernandez • Lola Garcia • Francis Ramos Cia. Produtora: Produções Amácio Mazzaropi – PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção: Milton Amaral Argumento: Amácio Mazzaropi Roteiro Técnico: Carlos Alberto S. Barros Diálogos: Amácio Mazzaropi e José Soares Diretor de Fotografia: Rodolfo Icsey 1º Assistente Câmera: Marcial Alfonso Fraga Foco: Eduardo Tanon Diretor de Produção: Felix Aidar Engenheiro de Som: Ernest Hack, Constantino Warnowsky, Boris Silitschanu Montagem: Lucio Braun e Gilberto Costa Cenografia: Geraldo Ambrosio Continuidade: J. Carlos Ferrarezi Maquiagem: Maury Viveiros Música: Hector Lagna Fietta Canções: Se Alguém Telefonar, de Alcir Pires Vermelho e Jair Amorim, canta Lana Bittencourt; Onde Estará meu Amor, de Rina Posce, canta Agnaldo Rayol; Izabel não Chores, de Bolinha, canta Mazzaropi Estúdio de Filmagem: Estúdios da Vera Cruz Local de Produção: São Paulo, SP Laboratório de Imagem: Rex Filmes Metragem: 2.635,6 m, filmado em 35 mm, em 24 q 1960 Jeca Tatu Comédia musical; 95 min; livre Ano de Produção: 1959 Estréia: 25 de janeiro de 1960 Elenco Mazzaropi • Geny Prado • Roberto Duval • Nicolau Guzzardi (Totó) • Nena Viana • Marlene França • Francisco de Souza • Miriam Rony • Marlene Rocha • Pirulito • Marthus Mathias • Hamilton Saraiva • José Soares • Hernani Almeida • Homero Souza Campos • Eliana Wardi • Marilú • Galampito • Augusto Cezar Ribeiro • Argeu Ferrari • e os meninos Claudio Barbosa • Humberto Barbosa • Newton Jaime S. Amadei Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção: Milton Amaral Argumento: Amácio Mazzaropi Roteiro: Milton Amaral Baseado no conto Jeca Tatuzinho, cujos direitos autorais foram cedidos graciosamente pelo Instituto Medicamenta (sic) Fontoura S/A Diretor de Fotografia: Rodolfo Icsey Câmera: George Pfister Foco: Marcial Alfonso Assistente de Fotografia: Hector Femenia Fotógrafo de Cena (still): José Amaral Diretor de Produção: Felix Aidar Engenheiro de Som: Ernest Hack e Constantino Warnowsky Montagem: Mauro Alice Continuísta: José Soares Maquiagem: Maury Viveiros Música: Hector Lagna Fietta Canções: Ave Maria, de Vicente Paiva e J. Redondo, canta Lana Bittencourt; Tempo para Amar, de Fred Jorge e Mário Genari Filho, cantam Tony e Cely Campello; Estrada do Sol, de Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, canta Agnaldo Rayol; Fogo no Rancho, de Elpídio dos Santos e Anacleto Rosa, canta Mazzaropi; Pra mim o Azar é Festa, de João Izidoro Pereira e Ado Benatti, canta Mazzaropi Local de Produção: São Paulo, SP (Pindamonhangaba – nas fazendas Sapucaia e Coruputuba, gentilmente cedidas pelo Dr. Cicero da Silva Prado) Equipamento/Mixagem: Cia Cinematográfica Vera Cruz (S. Bernardo do Campo) Laboratório de Imagem: Rex Filmes Metragem: 2.462,3 metros, filmado em 35 mm; em 24 q 1960 As Aventuras de Pedro Malasartes Comédia; ficção; 95 min; livre Ano de Produção: 1960 Lançamento: 5 de outubro de 1960 Elenco Mazzaropi • Geny Prado • Genésio Arruda • Dorinha Duval Elenco de Apoio Benedito Liendo • Nena Viana • Alvim Fernandes • Kleber Afonso • Nicolau Guzzardi • Noemia Marcondes • Augusto Machado de Campos • Oswaldo de Barros • Lourdes Lambert • Ernani de Almeida • Hermes Câmara • Wilson Rodrigues • Araken de Oliveira • Maury Viveiros • Maria de Lourdes • Marthus Mathias • Bonfiglio Campagnoli • Irene Kranis • Cecília Arantes Freitas • Marry Carlos • Francisco Souza • Hamilton Saraiva • José Soares • Penacho • Ventura Ferreira • Lana Bittencourt • Conjunto Farroupilha • Claudio de Barros Participação especial dos meninos: João Batista de Souza • Péricles de Almeida • Walter Fernandes • Paulo Roberto Felice • José Antonio Pinto Arantes • Durval Cézar Sampaio Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção: Amácio Mazzaropi Assistente de Direção: Agostinho Martins Pereira Argumento: Galileu Garcia Roteiro: Osmar Porto e Marcos Cézar Diretor de Fotografia: Rodolfo Icsey Operador de Câmera: George Pfister Produção: Amácio Mazzaropi Sonografia: Marcelo Primavera Montagem: Máximo Barro Cenografia: Franco Ceni Continuidade: José Soares Construções: José Dreos Música: Hector Lagna Fietta Canções: Além, de Sidney Morais e Edson Borges, canta Lana Bittencourt; Meu Cabelo e Maçanico, de Paixão Cortes e Barbosa Lessa, canta Conjunto Farroupilha; Sem Destino, de Claudio de Barros e Jucata, canta Claudio de Barros; Coração Amigo e Meu Defeito, de Elpídio dos Santos e Zé do Rancho, canta Mazzaropi Estúdios de Filmagem: Cia. CInematográfica Vera Cruz – (São Bernardo do Campo) Locações: Cidade de Itu, interior de SP Laboratório de Imagem: Rex Filmes Sistema de Cor: Preto-e-Branco 1961 Zé do Periquito Comédia; ficção; 100 min; livre Ano de produção: 1960 Lançamento: 1o de maio de 1961 Elenco Mazzaropi • Geny Prado • Roberto Duval • Nena Viana • Carlos Garcia • Amélia Bittencourt • Augusto César Ribeiro • Maria Helena Dias • Eugênio Kusnet • Ida Barros • Genésio Arruda • Marlene Rocha • Amilton Saraiva • Anita Sorrento • Argeu Ferrari • Ely Nida • Carlão • Irma Rodrigues • Faria Magalhães • Maria Luiza • Hermes Câmara • Jacira Sampaio • José Soares • Monica Waleska • Kleber Afonso • Noemia Marcondes • Marcelo Bitencourt • Olinda Fernandes • Natal Sauba • Sonia Fernandes • Orlando Juliane • Reinaldo Restivo • Agnaldo Rayol • Cely Campello • George Freedman • Hebe Camargo • Paulo Molin • Tony Campello Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção e Argumento: Amácio Mazzaropi Co-Diretor: Ismar Porto Roteiro: Ismar Porto Diretor de Fotografia: Rodolfo Icsey Câmera: Geraldo Gabriel Foco: Marcelo Primavera Fotografia de Cena: José Amaral Gerente: Antonio B. Tomé Assistente: Benedito Marins Sonografia: Constantino Warnowsky Gravação: Ernest Hack Montagem: Máximo Barro Eletricista: Girolano Bruno Maquinista: Martino Martini Cenografia: Pierino Masenzi Assistente: Silvio Dreos Construção: José Dreos Maquiagem: Maury Viveiros Música: Hector Lagna Fietta Canções: Passe a Viver, letra e música de Heitor Carillo, cantam Hebe Camargo e Agnaldo Rayol; Gostoso Mesmo é Namorar, letra e música de Heitor Carillo, cantam Cely Campello, George Freedman, Paulo Molin, Tony Campello e Carlão; Saudade me Deixa, letra e música de Bolinha, canta Mazzaropi; Jóia do Sertão, letra e música de Elpídio dos Santos, canta Mazzaropi Estúdio de Filmagem: Vera Cruz (S. Bernardo do Campo) 1961 Tristeza do Jeca Comédia; ficção; 95 min; livre Ano de Produção: 1961 Lançamento: Art Palácio (SP) e circuito em 30 de outubro de 1961 Elenco Mazzaropi • Geny Prado • Roberto Duval • Maracy Melo • Nicolau Guzzardi • Anita Sorrento • Eugenio Kusnet • Gilda Monte Alto • Augusto Cesar Vanucci • Eucaris Moraes • Genésio Arruda • Irma Rodrigues • Carlos Garcia • Francisco de Souza • Mario Benvenutti • Edgar Franco • João Batista de Souza • Viana Junior • Durvalino Souza • João Mansur • Augusto César Ribeiro • Selmo Ferreira Diniz • Nilson Sbruzzi • Antonio Tomé • Agnaldo Rayol • Mário Zan • domador: Antônio F. Valêncio • Toureiros: Guiomar Brandão • Tico-Tico • Carrapicho • Gaúcho • Perereca Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Distribuição: PAM Filmes (SP) Direção: Amácio Mazzaropi Argumento: Amácio Mazzaropi Roteiro: Milton Amaral Diretor de Fotografia: Rodolfo Icsey Eastmancolor por Osvaldo C. Kenemy Câmera: Marcelo Primavera Produção: Amácio Mazzaropi Gerente: Antonio B. Tomé Sonografia: Erico Rasmusen Assistente: Constantino Warnowski Microfonista: Miguel Segatto Montagem: Mauro Alice Cenografia: Silvio Dreos Assistente: Franco Ceni Maquiagem: Maury Viveiros Música: Hector Lagna Fietta Canções: Tristeza do Jeca, de Angelino de Oliveira, canta Mazzaropi; A Vida vae Melhorá, de Heitor Carillo, canta Mazzaropi; Sopro do Vento, de Elpídio dos Santos, canta Mazzaropi; Ave Maria do Sertão, de Pedro Muniz e Conde, canta Agnaldo Rayol; Anchieta, (dobrado) com Mário Zan; Gostozo (maxixe), com Messias Garcia Filmado em locações na Fazenda Santa em Taubaté, interior de São Paulo Com equipamentos alugados da Companhia Vera Cruz Laboratório de Imagem: Rex Filmes, São Paulo Sistema de Cor: Eastmancolor Metragem: 2.650 m, filmado em 35mm, 24 q 1962 O Vendedor de Linguiça Comédia; ficção; 95 minlivre Ano de Produção: 1961-1962 Lançamento: 30/4/1962 nos cinemas Art Palácio e Bandeirantes, em SP Elenco Mazzaropi • Geny Prado • Roberto Duval • Ilena de Castro • Carlos Garcia • Maximira Figueiredo • David Neto • Maria Helena Rossignolli • Hamilton Fernandes • Anita Sorrento • Augusto Machado de Campos • Olinda Fernandes • Reinaldo Martini • Nena Viana • Francisco Souza • José Soares • Edgar Franco • Antonio Tomé • Pery Ribeiro • Elza Soares • Miltinho Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção: Glauco Mirko Laurelli Argumento: Amácio Mazzaropi Roteiro: Milton Amaral Diretor de Fotografia: Rodolfo Icsey Produtor: Amácio Mazzaropi Gerente: Antonio B. Tomé Sonografia: Alexandre Warnowsky Montagem: Mauro Alice Cenografia: Silvio Dreos Música: Hector Lagna Fietta Canções: O Linguiceiro e Mocinho Lindo, de Elpídio dos Santos, canta Mazzaropi; Olhar de Saudade, de Pery Ribeiro, Geraldo Cunha e Laerte Vieira, canta Pery Ribeiro; Não Ponha a Mão, de Mult, Arnô Canegel e Bucy Moreira, canta Elza Soares; Poema do Adeus, de Luiz Antonio, canta Miltinho Sistema de Cor: Preto-e-Branco 1963 Casinha Pequenina Comédia; ficção; 95 min; livre Ano de Produção: 1962 Lançamento: 21 de janeiro de 1963 Elenco Amácio Mazzaropi (Chico) • Geny Prado (Fifica) • Roberto Duval (Coronel Pedro) • Tarcísio Meira (Nestor) • Edgard Franco (Capataz e capanga Pulso de Ferro) • Guy Loup (Esther) • Luis Gustavo (Bento) • Marly Marley (Carlota) • Marina Freire (Josefina) Elenco de Apoio Astrogildo Filho • Ingrid Tomas • Abilio Marques • João Batista de Souza • Edgard de Lima • Alcides Oliveira • Durvalino de Souza • Daniel Paulo Nasser • Edson Lopes • Machadinho • Victor Gonçalves e suas Mulatas Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção: Glauco Mirko Laurelli Argumento: Péricles Moreira e Amácio Mazzaropi Adaptação: Mara Lux Roteiro: Milton Amaral Diretor de Fotografia: Rodolfo Icsey Fotógrafo de Cena: Valentim Cruz Câmera: Geraldo Gabriel Produção: Amácio Mazzaropi e Edson Lopes Engenheiro de som: Ernest Hack e Constantino Warnowsky Montagem: Mauro Alice Letreiros (animação geométrica): autoria presumida de Roberto Miller Chefe Eletricista: Vitalino Muratori Maquinista: Martino Martini Cenografia: Pierino Massenzi Chefe de Costura: Leonor de Almeida Continuísta: John Doo Maquilagem: Maury Viveiros Música: Hector Lagna Fietta Canções: A Dor da Saudade, de Elpídio dos Santos, canta Mazzaropi; Último lamento, de Elpídio dos Santos, canta Edson Lopes; Casinha Pequenina, de Elpídio dos Santos, arranjo da letra de José Isaú Pedro, canta Mazzaropi Filmado nos Estúdios da Fazenda Santa, em Taubaté, SP Locações na cidade de Itu, interior de SP Equipamento alugado na Cia. Cinematográfica Vera Cruz Local de Produção: São Paulo, SP Sistema de Cor: Colorido, Eastmancolor Metragem: 2.565,7 m, filmado em 35 mm; em 24 q. 1964 O Lamparina Comédia; ficção; 104 min; livre Ano de Produção: 1963 Lançamento: 20/1/1964, em 23 cinemas da capital Elenco Mazzaropi • Geny Prado • Manoel Vieira • Zilda Cardoso • Astrogildo Filho • Emiliano Queiroz Elenco de Apoio Anamaria Guimarães • Francisco Souza • Rosemary Wong • Carla Diniz • Agostinho Toledo • Ademir Rocha • Carlos Garcia •João Batista de Souza • David Cardoso • Rafael Tena • Kleber Afonso • Miguel Segatio Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Produtor: Amácio Mazzaropi Direção: Glauco Mirko Laurelli Assistente de Direção: Martino Martini Argumento: Carlos Garcia Diretor de Fotografia: Rodolfo Icsey Câmera: Marcelo Primavera Assistente: Rosalvo Caçador Foco: Osvaldo Oliveira Fotógrafo Cena (still): José Amaral Gerente de Produção: Francisco de Souza Assistente de Produção: José Galan Sonografia: Constantino Warnowsky Microfonista: Alexandre Warnowsky Assistente: Miguel Segatio Montagem: José R. Milani Assistente: Alvim Barbosa Cenografia: Pierino Masenzi Maquiagem: Maury Viveiros Música: Hector Lagna Fietta Canções: Alma Solitária e O Lamparina do Nordeste, de Elpídio dos Santos, canta Mazzaropi Estúdio de Filmagem e Locações: Fazenda Santa (Taubaté, SP) Equipamento alugado da Companhia Cinematográfica Vera Cruz Laboratório de Imagem: Rex Filmes Sistema de Cor: Preto-e-Branco 1965 Meu Japão Brasileiro Comédia; ficção; 102 min; livre Ano de Produção: 1964 Lançamento: 25 de janeiro de 1965 Elenco Mazzaropi (Fofuca) • Geny Prado (Magnólia) • Célia Watanabe (Nissei) • Zilda Cardoso (professora) Elenco de Apoio Carlos Garcia • Reynaldo Martini • Adriano Stuart • Elk Alves • Francisco Gomes • Judith Barbosa • Bob Junior • Ivone Hirata • Luiz Tokio • Luzia Yoshigumi • o menino João Batista de Souza • Maria Helena A. Corrêa • Agostinho Ribeiro • Luiz Carlos Antunes • Francisco Bayo • Denise Duval • Armando Raquino • Cley Militello • Durvalino S. de Souza • Cleide Binoto • Rosalvo Caçador • Luiz Rossini • Nelson Pio • Waldemar Salgado • Araif David • Massaqui Watanabe • Antonio Kazuo • Aristide Marques • Cleusa Maria • Humberto Militello • Akira Matsuyama e o grupo de bailados Keito Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção: Glauco Mirko Laurelli Argumento: Gentil Rodrigues Roteiro: Amácio Mazzaropi Diretor de Fotografia: Rodolfo Icsey Câmera: Geraldo Gabriel Foco: Rosalvo Caçador, Marcelo Primavera e Oswaldo de Oliveira Assistentes: Carlos Garcia e Cláudio Maria Produção: Amácio Mazzaropi Engenheiro de Som: Ernest Hack Técnico de Som: Juarez Dagoberto Costa Montagem: Glauco Mirko Laurelli Titulagem: Roberto Miller e Regis Chieregatti Eletricista: Waldomiro Reis Maquiagem: Maury Viveiros Continuísta: José Cardoso Música: Hector Lagna Fietta Canções: Assim é a Quadrilha, de Mário Zan e Messias Garcia, canta Mazzaropi; Ingratidão, de Elpídio dos Santos, canta Mazzaropi; Canção das Flores, de Heitor Carillo, canta Rosa Pardini Local de Produção: São Paulo, SP Estúdio de Filmagem: Cia Cinematográfica Vera Cruz (S. Bernardo do Campo, SP) Locações: Fazenda Santa (Taubaté, SP) Laboratório de Imagem: Rex Filmes Sistema de Cor: Eastmancolor Técnico: Oswaldo Cruz Kemeny Metragem: 2.714,6 m, filmado em 35 mm; em 24 q 1966 O Puritano da Rua Augusta Comédia; ficção; 102 min; livre Ano de Produção: 1965 Lançamento: 24 de janeiro de 1966 Elenco Amácio Mazzaropi (Pundoroso) • Marly Marley (Carmem) • Marina Freire (Raimunda) • Elizabeth Hartman (Filomena) • Edgard Franco (filho de Pundoroso) • Henricão (empregado da casa) Elenco de Apoio Gladys • Julia Kovacs • Darla • Marlene Rocha • Carlos Garcia • Zéluiz Batista Pinho • Claudio Maria • Augusto César Ribeiro • Aristides M. Ferreira • Cleusa Maria • Etelvina dos Santos • Humberto Militello • Durvalino Simões • Sonia Maria dos Santos • João Batista de Souza • Celso F. Guizard Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção: Amácio Mazzaropi Assistente de Direção: John Doo Argumento e Roteiro: Amácio Mazzaropi, com colaboração de Alvim Barbosa Diretor de Fotografia: Giorgio Attili Câmera: Geraldo Gabriel Assistente de Câmera: Rosalvo Caçador Foco: Maciel Afonso Fraga Engenheiro de Som: Constantino Warnowsky Assistente de Som: Alexandre Warnowsky Montagem: Mauro Alice Maquilagem: Maury Viveiros Continuidade: Adalberto Pena Música: Hector Lagna Fietta Canções: Sou mais Eu, Let Kiss (sic), de Nazareno de Brito, canta Mazzaropi; O Neguinho e a Senhorinha, de Noel Rosa e Abelardo da Silva, canta Elza Soares; Você Fugiu da Escola, de Dora Lopes e Gilberto Lima, canta Claudio Guimarães; Hino dos Ciprianistas, de Elpídio dos Santos Conjuntos: The Jordans, Lancaster, Waldyr Mussi e seu conjunto Local de Produção: São Paulo, SP Estúdio de Filmagem: Cia Cinematográfica Vera Cruz (S. Bernardo do Campo) Estúdio de Filmagem (Interiores): Fazenda Santa (Taubaté, SP) Laboratório Imagem: Rex Filmes S.A. Sistema de Cor: Preto-e-Branco Metragem: 2.598,8 m, filmado em 35 mm; em 24 q 1967 O Corintiano Comédia; ficção; 98 min; livre Ano de Produção: 1966 Lançamento: 23 de janeiro de 1967 Elenco Mazzaropi • Elizabeth Marinho • Lucia Lambertini • Nicolau Guzzardi (Totó) • Carlos Garcia • Roberto Pirillo • Leonor Pacheco • Roberto Orosco • Augusto Machado de Campos • Xandó Batista • Francisco Gomes • Olten Ayres de Abreu • Gláucia Maria • Herta Hille • Ziara Freire • João Batista de Souza • Humberto Militello • Rogério Câmara • Augusto César Ribeiro • Kapé • Claudio Maria • e a participação especialíssima da lendária chefe da torcida corintiana Dona Eliza Cia. Produtora: PAM Filmes S.A (Taubaté, SP) Direção: Milton Amaral Assistente de Direção: Livio Norbert Spiegler e Pena Filho Argumento: Mazzaropi Roteiro: Milton Amaral Diretor de Fotografia: Rodolfo Icsey Câmera: Geraldo Gabriel Assistentes de Câmera: Rosalvo Caçador e Gyula Holozvary (sic) Gerente de Produção: Carlos Garcia Assistente de Produção: Argeu Ferrari e Claudio Maria Montagem: Máximo Barro Assistente de Montagem: Henrique Magalhães Desenhos Animação: Marcelo G. Tassara e J. G. Carvalho Engenheiro de Som: Constantino Warnowsky Microfonista: Agostinho Souza Recordista (sic): Flavio B. Corrêa Chefe Eletricista: Girolamo Brino Maquinista: Pedro C. Toloni Maquiagem: Gilberto Marques Narração Esportiva: Pedro Luiz Comentários Esportivos: Geraldo Bretas Coreografia: Maria Helena Mazzeti Música: Hector Lagna Fietta Canção: Canção do Burrinho, de Elpídio dos Santos, canta Mazzaropi Local de Produção: São Paulo, SP Laboratório de Imagem e Som: Rex Filmes Estúdio de Filmagem (Interiores): Fazenda Santa (Taubaté, SP) Sistema de Cor: Preto-e-Branco Metragem: 2.727,2 m, filmado em 35 mm; em 24 q 1968 O Jeca e a Freira Comédia; ficção; 102 min; livre Ano de Produção: 1967 Lançamento: junho de 1968 Elenco Mazzaropi • Geny Prado • Maurício do Valle • Elizabeth Hartman Elenco de Apoio Nello Pinheiro • Paulette Bonelli • Carlos Garcia • Izaura Bruno • Claudio R. Mechi • Denise Barreto • Ewerton de Castro • Elizabeth Marinho • Henricão • Mafalda Moura • João Batista de Souza • Maritza Luizi • Roberto Pirillo • Telcy Perez • Tony Cardi • Wilson Luisi • Sheila Greto Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção: Amácio Mazzaropi Assistente de Direção: Abílio Marques Filho Argumento e Roteiro: Amácio Mazzaropi Diretor de Fotografia: Rudolf Icsey Sonografia: Juarez D. Costa Montagem: Máximo Barro Cenografia: Pierino Massenzi Música: Hector Lagna Fietta Canções: Delírio Negro, de Elpídio dos Santos, canta Marita Luisi; Jeca Magoado, de Elpídio dos Santos, canta Mazzaropi Estúdio de Filmagem e Locações: Fazenda Santa (Taubaté, SP) Laboratório de Imagem: Rex Filmes S.A. Sistema de Cor: Colorido, Eastmancolor 1969 No Paraíso das Solteironas Comédia; ficção; 95 min; livre Ano de Produção: 1968 Lançamento: 24 de janeiro de 1969 Elenco Mazzaropi • Geny Prado • Átila Iório • Iracema Beloube • Carlos Garcia • Wanda Marchetti • Renato Máster • Elizabeth Hartman • Claudio Roberto Mechi Elenco de Apoio Adélia Iório • Domingos Terras • Elizabeth Barbosa • Yves Hublet • Gina Rinaldi • Tony Cardi • Judith Barbosa • Zequinha • Nena Viana • Quinzinho • Yaratan Lauletta • Pascoal Guida • Ademir Monezzi • Nilo Márcio • Cícero Liendo • Linda Fernandes • Elza Cleonice Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Distribuição: PAM Filmes, SP Diretor: Amácio Mazzaropi Argumento: Orlando Padovan Roteiro: Amácio Mazzaropi Diretor de Fotografia: Pio Zamuner Produtor: Amácio Mazzaropi Sonografia: Flávio B. Correa Montagem: Glauco Mirko Laurelli Cenografia: José A. Vieira Música: Hector Lagna Fietta Solos de Violino: Elias Slon Canção: Minha Vaquinha, de Elpídio dos Santos, canta Mazzaropi Laboratório de Imagem: Rex Filmes S.A. Sistema de Cor: Eastmancolor Técnico: Osvaldo C. Kenemy Estúdio de Filmagem e Locações: Fazenda Santa (Taubaté, SP), Convento Santa Clara (Taubaté, SP) 1969 Uma Pistola para Djeca Comédia; ficção; 90 min; livre Ano de Produção: 1969 Lançamento: 1969 Elenco Amácio Mazzaropi • Patrícia Mayo • Rogério Câmara • Wanda Marchetti • Paulo Bonelli • Yaratan Lauletta • Nello Pinheiro • Elizabeth Hartman Elenco de Apoio Rildo Gonçalves • Zaíra Cavalcanti • Carlos Garcia • Linda Fernandes • Antenor Pimenta • Nena Fernandes • Araken Saldanha • Claudio Roberto Mecchi • Domingos Terras • Durvalino Souza • Iragildo Mariano • Francisco Gomes • Luiz Homero • Milton A. Pereira • Tony Cardi • Tony Vieira Cia. Produtora: PAM Filmes Distribuição: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção: Ary Fernandes Assistente de Direção: Adalberto Pena Argumento: Amácio Mazzaropi Roteiro: Amácio Mazzaropi e Ary Fernandes Roteirista não creditado: Paulo Pereira Diretor de Fotografia: Pio Zamuner Produtores: Amácio Mazzaropi e Carlos Garcia Gerente: Salvador Amaral Sonografia: Flávio B. Correa Montagem: Glauco Mirko Laurelli Cenografia: José A. Vieira Música: Hector Lagna Fietta Canções: Canção do Vento, de Paulo Kiko, canta Silvana; Confins do meu Sertão, de Ademir Monezzi e Carlos Paschoalin, canta Mazzaropi; Catira, de Elpídio dos Santos, cantam Os Caçulas e Afonso Barbosa Estúdio de Filmagem e Locações: Fazenda Santa (Taubaté, SP) Laboratório de Imagem: Rex Filmes Sistema de Cor: Eastmancolor 1971 Betão Ronca Ferro Comédia; ficção; 100 min; livre Ano de Produção: 1970 Lançamento: 23 de janeiro de 1971 Elenco Mazzaropi • Geny Prado • Roberto Pirilo • Dina Lisboa • Araken Saldanha • Dilma Lóes • Cláudio R. Mecchi • Yaratan Lauleta • Tony Vieira • Gilmara Sanches • Henricão • Ester Fonseca • Milton Pereira • Judith Barbosa • Reginaldo Peres • Kleber Afonso • Roberto Câmara • Linda Fernandes • Rogério Câmara • Carlos Garcia Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção: Geraldo Afonso Miranda Argumento: Mazzaropi Roteiro: Kleber Afonso e Tito de Miglio Diretor de Fotografia: Pio Zamuner Produtor: Amácio Mazzaropi Gerente: Salvador Amaral Sonografia: Juarez D. Costa Montagem: Glauco Mirko Laurelli Cenografia: José A. Vieira Música: Hector Lagna Fietta Canções: Tardes em Lindóia, de Zequinha de Abreu e Pinto Martins; Em Busca da Paz, de Paulo Kiko e Elpídio dos Santos; Sanfona da Véia, de Brinquinho Brioso e Raul Torres, canta Mazzaropi Sistema de Cor: Colorido – Eastmancolor 1972 O Grande Xerife Comédia; ficção; 95 min; livre Ano de Produção: 1971 Lançamento: 22 de janeiro de 1972 Elenco Amácio Mazzaropi • Patricia Mayo • Paulo Bonelli • Tony Cardi • Paulette Bonelli • Araken Saldanha • Augusto César Ribeiro • Cláudio Roberto Mecchi • Jandira Câmara • Gentil Rodrigues • Ester de Oliveira • Carlos Garcia • João Batista de Souza • Cavagnole Neto • Judith Barbosa • Rogerio Camara • Nena Viana • José Velloni • Linda Fernandes • Wanda Marchetti • José Matheus • Argeu Ferrari • Grupo Folclórico Esticadinhos de Cantanhede Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Distribuição: PAM Filmes Direção: Pio Zamuner Argumento: Marcos Rey e Amácio Mazzaropi Roteiro: Rajá de Aragão e Pio Zamuner Diretor de Fotografia: Pio Zamuner Produção: Amácio Mazzaropi Montagem: Roberto Leme Supervisor de Montagem: Glauco Mirko Laurelli Música: Hector Lagna Fietta Canções: O Grande Xerife, de Paulo Kiko, canta Mazzaropi; Perguntei para a Saudade, de Henricão, canta Mazzaropi Participação especial do Grupo Folclórico Esticadinhos de Cantanhede Estúdio de Filmagem e Locações: Fazenda Santa (Taubaté, SP) Laboratório de Imagem: Rex Filmes S.A. Sistema de Cor: Colorido 1973 Um Caipira em Bariloche Comédia; ficção; 100 min; livre Ano de Produção: 1972 Lançamento: 22 de janeiro de 1973 Elenco Mazzaropi • Beatriz Bonnet • Ivan Mesquita • Carlos Valone • Edgar Franco • Geny Prado • Maria Luiza Robledo • Analu Gracie • Fausto Rocha Jr • Judith Barbosa • Claudio Roberto Mecchi • Maria Quitéria • Carlos Garcia • Edgar Araújo • Elizabeth Barbosa • Nhô Tide • Suzy Dalle • Paulo Villa • Cavagnole Neto • Antônio Fernandes • Argeu Pereira • Iragildo Mariano • Victor Gonçalves e suas mulatas • Cláudia Serine • Alda Faria • Maria José • Paulo Sérgio • Elza Soares Cia. Produtora: PAM Filmes, Taubaté, SP Distribuição: PAM Filmes Direção: Pio Zamuner e Amácio Mazzaropi Argumento: Amácio Mazzaropi Roteiro: Pio Zamuner Diretor de Fotografia: Pio Zamuner Produtor: Amácio Mazzaropi Sonografia: Flávio B. Correa Montagem: Mauro Alice Cenografia: José A. Vieira Música: Hector Lagna Fietta Canções: Todo Mundo Cantando, de Tony Danilo, canta Paulo Sérgio; Rio, Carnaval dos Carnavais, de Padeirinho, Nilton Russo e Moacir, canta Elza Soares; Guacira, de Hecket Tavares e Joracy Camargo, canta Mazzaropi; Mi Buenos Aires Querida, de Carlos Gardel e Alfredo La Paia Estúdio de Filmagem e Locações: Fazenda Santa (Taubaté, SP) Locações na Neve: Bariloche, Argentina Laboratório de Imagem: Rex Filmes S.A. Sistema de Cor: Colorido – Eastmancolor 1974 Portugal... Minha Saudade Comédia; ficção; 100 min; livre Ano de Produção: 1973 Lançamento: 21 de janeiro de 1974 Elenco Mazzaropi • Gilda Valença • David Neto • Pepita Rodrigues • Fausto Rocha Jr. • Elizabeth Hartman • Dina Lisboa • Ana Luiza Lancaster • Adelaide João • Júlio Cesar • Marília Gama • Ângela Maria Distribuição: PAM Filmes, São Paulo Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção, Argumento e Roteiro: Amácio Mazzaropi Diretor de Fotografia: Pio Zamuner Sonografia: Flávio B. Correa Montagem: Roberto Leme Edição: Ademir Francisco Cenografia: José A. Vieira Música: Hector Lagna Fietta Colaboração: Manoel Marques Canções: Fim de Ano, canta Angela Maria; Eu Sou Assim, canta Mazzaropi; Portugal... Minha Saudade, Reginaldo Pessoa; Mangueira Minha Madrinha, conjunto Estúdio de Filmagem e Locações: Fazenda Santa (Taubaté, SP) Locações Internacionais: Pátio da Breganha, Largo do Mercado, Coimbra, Fátima e Lisboa Sistema de Cor: Colorido – Eastmancolor 1975 O Jeca Macumbeiro Comédia; ficção; 87 min; livre Ano de Produção: 1974 Lançamento: 1975 Elenco Amácio Mazzaropi (Pirola) • Gilda Valença (D. Ingrácia) • Jofre Soares (Cel. Januário) • Selma Egrei (Filomena) • Ivan Lima (Mário) • José Mauro Ferreira (Zé) • Maria do Rocio (Ester) Elenco de Apoio Aparecida de Castro • Felipe Levy • Broto Cubano • Araken Saldanha • Jair Talarico • Pirulito • José Velloni • Miltinho • Messias - Netinho Cia Distribuidora: PAM Filmes, São Paulo Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção: Pio Zamuner e Amácio Mazzaropi Argumento e Roteiro: Amácio Mazzaropi Diretor de Fotografia: Pio Zamuner Produção: Amácio Mazzaropi Sonografia: Flávio B. Correa Montagem: Inácio Araújo Cenografia: José A. Vieira Música: Hector Lagna Fietta Canções: Luar do Sertão, de Catulo da Paixão Cearense, canta Mazzaropi; Tocando a Boiada, de Mazzaropi, cantam Miltinho e Messias; Lavadeiras do Amor, de Hector Lagna Fietta e Carlos Cesar Estúdio de Filmagem e Locações: Fazenda Santa (Taubaté, SP) Sistema de Cor: Colorido – Eastmancolor 1976 Jeca Contra o Capeta Comédia; ficção; 97 min; livre Ano de Produção: 1975-1976 Lançamento: 8/3/1976 em circuito de 13 cinemas na capital de São Paulo Elenco Mazzaropi • Geny Prado • Roberto Pirilo • Néa Simões • Fausto Rocha Jr • Rose Garcia • Jair Talarico • Leonor Navarro • Jorge Pires • Aparecida de Castro • José Mauro Ferreira • José Velloni • Carlos Garcia • Cavagnole Neto • Macedo Netto • Rui Elias • Luiz Carlos de Oliveira • Almerinda dos Santos • Peter Pan • Élcio Rosa • Agner • Wander Distribuição: PAM Filmes, São Paulo Cia. Produção: PAM Filmes (Taubaté, SP) Direção: Pio Zamuner e Amácio Mazzaropi Argumento: Amácio Mazzaropi Roteiro: Pio Zamuner e Gentil Rodrigues Diretor de Fotografia: Pio Zamuner Produtor: Amácio Mazzaropi Sonografia: Júlio P. Cabalar Montagem: Walter Wanni Cenografia: José A. Vieira Música: Hector Lagna Fietta Canções: Inspiração do Jeca, de Mazzaropi, Antonio dos Santos e Hector Lagna Fietta, canta Mazzaropi; Balada para um Morto, de Hector Lagna Fietta Estúdios de Filmagem: PAM Filmes (Taubaté,SP) Laboratório de Imagem: Rex Filmes S.A. Sistema de Cor: Colorido - Eastmancolor 1977 Jecão... Um Fofoqueiro no Céu Comédia; ficção; 105 min; livre Ano de Produção: 1977 Lançamento: 6/6/1977 em grande circuito – São Paulo Elenco Mazzaropi • Armando Paschoalim • Augusto César Ribeiro • André Luiz Toledo • José Velloni • Pirulito • Aron Jafte • Oswaldo Carmo • Jesuíno G. Santos • Sérgio Luiz Carvalho • Aparecido Ferrari • Dante Luiz • Paulo Castellari • Paulo Celso Toledo • Luiz Alberto Barros • Benedito Martins • Laudelino Teixeira • Genésio Carvalho • Argeu Ferrari • Ahio de Oliveira • Benice Dias Beline • Benedito Francisco Soares • Carlos Garcia Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Distribuição: PAM Filmes Direção: Pio Zamuner e Amácio Mazzaropi Argumento: Amácio Mazzaropi Roteiro: Pio Zamuner e Amácio Mazzaropi Diretor de Fotografia: Pio Zamuner Gerente de Produção: Carlos Garcia Produção: Amácio Mazzaropi Som: Ubirajara de Carvalho e Castro Montagem: Mauro Alice Cenografia: Mazzaropi Música: Hector Lagna Fietta Canções: Carimbó no Céu, de Jerusalém, canta Mazzaropi; Bailado do Inferno, de Hector Lagna Fietta, canta Mazzaropi Estúdios de Filmagem: PAM Filmes (Taubaté, SP) Laboratório de Imagem: Revela S.A. 1978 Jeca e seu Filho Preto Comédia; ficção; 104 min; livre Ano de Produção: 1977-1978 Lançamento: 17 de abril de 1978 Elenco Amácio Mazzaropi • Geny Prado • Yara Lins • Carmen Monegal • David Neto • Elizabeth Hartman • Joanes Dandaró • Leonor Navarro • Denise Assunção • Henricão • Everaldo Bispo de Souza (Lobão) • James Lins • Rose Garcia • Jair Talarico • José Velloni • Gilda Valença • Valter Mendonça Cris • Augusto César Ribeiro • João Paulo • José Luiz de Lima • André Luiz Toledo Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Distribuição: PAM Filmes Direção: Pio Zamuner e Berilo Faccio Argumento: Amácio Mazzaropi Roteiro: Rajá de Aragão Diretor de Fotografia: Pio Zamuner Produção: Amácio Mazzaropi Montagem: Walter Wanni Música: Hector Lagna Fietta Canções: Despertar do Sertão, de Elpídio dos Santos e Pádua Muniz, canta Mazzaropi; Maria do Mar, de Gilda Valença e Fernando Sanxo, canta Gilda Valença Estúdios de Filmagem: PAM Filmes (Taubaté, SP) Locações Externas: São Luiz do Paraitinga, SP Laboratório de Imagem: Revela S.A. Sistema de Cor: Colorido – Eastmancolor 1979 A Banda das Velhas Virgens Comédia; ficção; 100 min; livre Ano de Produção: 1978-1979 Lançamento: 3 de setembro de 1979 Elenco Amácio Mazzaropi • Geny Prado • Renato Restier • André Luiz Toledo • Cristina Neves • Marcos Weinberg • Heloísa Raso • Gilda Valença • Denise Assunção • Aparecida Baxter • Paulo Pinheiro • Will Damas • Felipe Levy • José Velloni • Guiomar Pimenta • Carlos Garcia • Leonardo Camilo • Antonio Rod • Augusto César Gevara • Douglas Tadeu Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Distribuição: PAM Filmes Direção: Pio Zamuner e Amácio Mazzaropi Argumento: Amácio Mazzaropi Roteiro: Rajá de Aragão e Amácio Mazzaropi Diretor de Fotografia: Pio Zamuner Produção: Amácio Mazzaropi Música: Hector Lagna Fietta Canção: Alegria de Viver (toada), de Hector Lagna Fietta e Juvenal Fernandes, canta Mazzaropi Estúdios de Filmagem: PAM Filmes (Taubaté, SP) Locações Externas: Ubatuba, SP Laboratório de Imagem: Revela S.A. Sistema de Cor: Colorido – Eastmancolor 1980 O Jeca e a Égua Milagrosa Comédia; ficção; 102 min; livre Ano de Produção: 1979-1980 Lançamento: 29 de setembro de 1980 Elenco Amácio Mazzaropi • Geny Prado • Turíbio Ruiz • Gilda Valença • Marcia Deffonso • Augusto César Ribeiro • Roberval de Paula • Paulo Pinheiro • Francisco Tadeu Alves • André Luiz de Toledo • Wilson Damas • José Velloni • Guiomar Pimenta • José Minelli Filho • Júlio Cesar Cia. Produtora: PAM Filmes (Taubaté, SP) Distribuição: PAM Filmes Direção: Pio Zamuner e Mazzaropi Argumento: Amácio Mazzaropi Roteiro: Kleber Afonso e Amácio Mazzaropi Diretor de Fotografia: Pio Zamuner Câmera: Virgílio Roveda Assistente de Câmera: Antonio Francisco Rovagnoli Foco: Virgílio Roveda Produção: Amácio Mazzaropi Diretor de Produção: Carlos Garcia Técnico de Som: Norival Gonçalves de Moura Montagem: Walter Wanni Cenografia: Amácio Mazzaropi Maquiagem: Nena Viana Continuidade: Marta Salomão Jardini Música: Hector Lagna Fietta Canções: Minha Toada, de Dolores Duran e Edson França, canta Mazzaropi; Sertão em Flor, de Crisósthomo Faria, cantam Danilo e Daniel Estúdios de Filmagem: PAM Filmes (Taubaté, SP) Laboratório de Imagem: Revela S.A. Sistema de Cor: Colorido Agradecimentos do Autor Pelo livro e pela jornada insana na qual se lançaram para que as obras fundamentais desta coleção histórica possam vir (ver) à luz desses novos tempos e adiante, minha gratidão – a Rubens Ewald Filho, Marcelo Pestana e Carlos Cirne Pela visão abençoada e o incentivo – à diretoria da Amazonas Filmes. Wanderlei, Ana Tobal, Francisco, Terezinha Tobal, Mariquinha Tobal, Alê Monteiro, Belmiro, Beta e Cristian, Dalton Gonçales, Dra. Suzy Castro; Leandro Moran, Márcio Rede, Marcelo Fernandes, Tânia, Mário, Rosinha e a toda a família Amazonas/Aspen Pelo incentivo, pela sabedoria e pela constante força – ao amigo Wilfred Khouri e família Pela causa – agradeço aquele sem o qual, este livro jamais existiria – o amigo Claudio Marques Aos amigos dos assuntos “mazzaropianos” – Arthur Ribeiro, Neto e familia Roman e a todo o staff do Instituto Mazzaropi e do Hotel Fazenda Mazzaropi, à Profa. Olga Rodrigues Nunes de Souza, ao André Luiz Toledo, ao CDPH – Unitau e seu coordenador Prof. Mauro Castilho, Dr. Sylvio Zaffarani (in memoriam), Sandro, dona Elza e família Zaffarani, Dr.Walfrido Jorge Warde, Arnaldo Zonari, Sr. João Restiffe, Família Geny Prado, Renato Consorte (in memoriam), ao professor Galileu Garcia, aos amigos da Cinemateca Brasileira – SP, ao amigo Antonio Leão da Silva Neto, Aleide Alves, Família Onofre da Silva, Família Martini Viana (Marcos Martini, Reinaldo Martini, Nena Viana), Pio Zamuner, Virgílio Roveda, José Mojica Marins, Tom Zé, Neir Ilélis, Adenildo de Lima, ao grande Zaé Júnior (ensaio Mazza para HQ), ao querido Alfredo Sternheim, mestre Mauro Alice, Luiz Rangel, Edinho Pasquale, Caetano Abruzzini, Ana Maria Mariana Vieira, Anibal Massaini, Edu Felistoque, Nereu Cerdeira , José Luiz Zagatti, Padre Reinaldo Braga, Glauko Mirko Laurelli, Jane Ribeiro, Lana Braga, Lana Bittencourt, professor Máximo Barro e à querida e sempre atenciosa Zenaide Alves (Cinedistri) e à toda equipe da Coleção Aplauso – Imprensa Oficial Pelo suporte – ao meu staff – Rita Lima, Paulinho Domingues e Tatiane Lúcia Martins e à minha turma da arte “The Sales Brothers” Amailto e Adriano, e ainda, Alexandre Bittencourt e Ricardo Canhoto Pela inteligência a serviço da arte – ao Carlos Primati, Gonçalo Junior, Wagner Augusto, Hermes Leal, Eduardo Beu e Fred Botelho (2001 Video) Pela contribuição indispensável que deram quando cruzamos os mesmos caminhos – a Marcello Hespanhol, Rita Lapa, João Cotrim, Ricardo Rigotti, Paulo Gustavo, Denise Ozello, Monica Zafitta, Zico Santana, minha professora de História D. Maria Helena Berardi, a amiga de muitos risos Stella Natale E finalmente – a meu pai Paulo Duarte Jr. – por me ensinar o certo, pelas linhas tortas, por me dar a vida e por me dar seu nome Bibliografia ARAÚJO, Celso Arnaldo. Um Jeca Caiu do Céu. Revista SET. 06.2001. ARAÚJO, Inácio. Vingança do caipira Mazzaropi contra cidade volta na TV Cultura. Ilustrada - Folha de S. Paulo. 09.02.1992. ARAÚJO, Inácio. Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe Jeca. Folha de S. Paulo. 29.08.1984 ARAÚJO, Washington Luiz. Síndrome do Caipira Está de Volta. Diário do Grande ABC. 12.10.1986 AVELLAR, José Carlos. O Milagre.Caderno B - Jornal do Brasil.03.08.1979. AZEREDO, Ely. Jeca, o Descolonizador. Jornal do Brasil. 03.08.1978. BARCELOS, Caco. O Jeca contra o tubarão. Jornal Movimento. 05.04.1976. BARSALINI, Glauco. Mazzaropi, O Jeca do Brasil. Editora Átomo, 2002 BERNARDET, Jean-Claude. Nem pornô, nem policial: Mazzaropi. Última Hora. 23.07.1978. CAETANO, Maria do Rosário. Revista de Cinema. Ano II, n.24. abril 2002 CAETANO, Maria do Rosário. Revista de Cinema. Ano IV, n.45. junho/julho2004 CAETANO, Maria do Rosário. Chanchada Levada a Sério. Caderno Cultura. O Estado de S. Paulo. 18.04.2004. CANÇADO, Patricia. Vestígios de Mazzaropi. Revista Submarino. 08.2000. CATÃO, Christian. O Artista Popular. Caderno 2. Diário da Tarde. 13.10.2004. CESAR ABREU, Nuno Cesar. Anotações sobre Mazzaropi: o Jeca que não era Tatu. Revista Filme Cultura. Embrafilme e Ministério da Educação e Cultura.1981. Cofre de Mazzaropi Vazio Leva Curador a Pedir que Inventariante se Afaste. JB. 06.09.1982. DELLA PASCHOA JÚNIOR, Pedro. Filmes sertanejos, música sertaneja, drama no circo e teatro popular. Revista Filme Cultura, Embrafilme e Ministério da Educação e Cultura.1981. DUARTE, B.J.. Dia Cheio. Folha de S. Paulo.27.01.1965. E Ninguém Arrematou a Obra de Mazzaropi. Jornal da Tarde. 31.08.1984. Estúdio de Mazzaropi: Futuro Incerto. O Estado de S. Paulo. 02.12.1981. EWALD FILHO, Rubens. 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Índice Apresentação – José Serra 5 Coleção Aplauso – Hubert Alquéres 7 Mazzaropi, a Cara do Brasil 9 Mazza e a Ma$$a – Um Caipira no Divã 13 Que Fim Levou o Império de Mazzaropi? 19 A História 25 As Raízes 27 Com o Pé no Mundo 31 Olga Crutt ou Olga Mazzaropi? 41 Os Pavilhões 45 O Teatro 47 O Humor no Rádio 52 O Jeca na TV 59 Cinema – Mazzaropi e o Cinema: um Caso de Humor à Primeira Vista! (... e de Amor pra Vida Toda) 65 Sai da Frente (1952) 73 Nadando em Dinheiro (1952) 79 Candinho (1953) 83 A Carrocinha (1955) 87 O Gato de Madame (1956) 91 Cinedistri – Meio Século de Amor pelo Cinema 95 Fuzileiro do Amor (1956) 97 O Noivo da Girafa (1957) 101 Chico Fumaça (1958) 105 Mazzaropi em Quadrinhos 109 PAM Filmes 113 Chofer de Praça (1958) 117 Jeca Tatu (1959) 121 O Jeca e os Anos 60 126 As Aventuras de Pedro Malasartes (1960) 129 Zé do Periquito (1960) 133 A Fazenda Santa 137 Tristeza do Jeca (1961) 141 O Vendedor de Linguiça (1962) 145 Duque, um Ator bom pra Cachorro 149 Casinha Pequenina (1963) 151 O Lamparina (1964) 155 Meu Japão Brasileiro (1964) 159 O Puritano da Rua Augusta (1965) 163 O Corintiano (1966) 167 O Jeca e a Freira (1967) 171 No Paraíso das Solteironas (1968) 175 Uma Pistola para Djeca (1969) 179 Dos Embalos do Jeca nos Anos 70 ao Último Filme 183 O Palácio do Rei Caipira 185 Betão Ronca Ferro (1970) 189 O Grande Xerife (1972) 193 Um Caipira em Bariloche (1973) 197 Portugal... Minha Saudade (1973) 201 O Jeca Macumbeiro (1974) 205 Nosso Disney Caboclo 209 Jeca Contra o Capeta (1975) 211 Jecão... Um Fofoqueiro no Céu (1977) 215 Jeca e seu Filho Preto (1978) 219 A Banda das Velhas Virgens (1979) 223 O Último Filme – O Jeca e a Égua Milagrosa (1979) 227 O Dia em que o Caipira Fez Chorar! 231 Chumbo Trocado 233 Um Aliado de Peso – Paulo Emílio Salles Gomes 238 Os Números não Mentem Jamais 239 Geny Prado – A Mulher do Caipira 243 A Turma do Mazza 245 A Música nos Filmes do Jeca – Uma Constelação de Astros e Estrelas da Música Popular 246 A Memória Preservada 251 Filmografia – Fichas técnicas 257 Bibliografia 323 Crédito das fotografias CDPH-Unitau (Centro de Documentação e Pesquisa Histórica da Universidade de Taubaté) sob a coordenação do Prof. Mauro Castilho Acervo Cinemateca Brasileira Acervo Particular Paulo Duarte Acervo Cinemagia e Amazonas Filmes Acervo Cia Cinematográfica Vera Cruz Acervo Fama Filmes Acervo Família Onofre da Silva (por intermédio do Instituto Mazzaropi) Acervo Cinedistri (em especial agradecimento) Acervo Particular Profa. Olga Rodrigues Nunes de Souza Acervo Instituto Mazzaropi Acervo Particular Sr. Zaé Júnior (por intermédio do Instituto Mazzaropi) Acervo Sr. João Restiffe (por intermédio do Instituto Mazzaropi) Acervo Aleide Alves Jornal O Estado de S.Paulo / Agência Estado Acervo Família Zaffarani (por intermédio da Amazonas Filmes) Acervo Família Martini Viana (por intermédio do Instituto Mazzaropi) Acervo Sr. Antonio José da Silva (Tom Zé) Todas as imagens que compõe esta obra foram cedidas pelos detentores legais dos respectivos acervos acima citados. A despeito dos esforços de pesquisa empreendidos pela Editora para identificar a autoria das fotos expostas nesta obra, parte delas não é de autoria conhecida de seus organizadores. Agradecemos o envio ou comunicação de toda informação relativa à autoria e/ou a outros dados que porventura estejam incompletos, para que sejam devidamente creditados. Coleção Aplauso Série Cinema Brasil Alain Fresnot – Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot Agostinho Martins Pereira – Um Idealista Máximo Barro O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias Roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger Anselmo Duarte – O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Antonio Carlos da Fontoura – Espelho da Alma Rodrigo Murat Ary Fernandes – Sua Fascinante História Antônio Leão da Silva Neto O Bandido da Luz Vermelha Roteiro de Rogério Sganzerla Batismo de Sangue Roteiro de Dani Patarra e Helvécio Ratton Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak – Fragmentos de uma vida Sérgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caçador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro Carlos Coimbra – Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Inácio Araújo O Caso dos Irmãos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person O Céu de Suely Roteiro de Karim Aïnouz, Felipe Bragança e Maurício Zacharias Chega de Saudade Roteiro de Luiz Bolognesi Cidade dos Homens Roteiro de Elena Soárez Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero Críticas de B.J. Duarte – Paixão, Polêmica e Generosidade Org. Luiz Antônio Souza Lima de Macedo Críticas de Edmar Pereira – Razão e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de invenção: Os Anos do São Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando Cinema: Críticas de LG Org. Aurora Miranda Leão Críticas de Ruben Biáfora – A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista – Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Córregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da História Roteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho Os 12 Trabalhos Roteiro de Cláudio Yosida e Ricardo Elias Estômago Roteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cláudia da Natividade Fernando Meirelles – Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano Fim da Linha Roteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Storyboards de Fábio Moon e Gabriel Bá Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Geraldo Moraes – O Cineasta do Interior Klecius Henrique Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta Cinéfilo Luiz Zanin Oricchio Helvécio Ratton – O Cinema Além das Montanhas Pablo Villaça O Homem que Virou Suco Roteiro de João Batista de Andrade, organização de Ariane Abdallah e Newton Cannito Ivan Cardoso – O Mestre do Terrir Remier João Batista de Andrade – Alguma Solidão e Muitas Histórias Maria do Rosário Caetano Jorge Bodanzky – O Homem com a Câmera Carlos Alberto Mattos José Antonio Garcia – Em Busca da Alma Feminina Marcel Nadale José Carlos Burle – Drama na Chanchada Máximo Barro Liberdade de Imprensa – O Cinema de Intervenção Renata Fortes e João Batista de Andrade Luiz Carlos Lacerda – Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla – A Imagem Crítica Carlos Alberto Mattos Mauro Alice – Um Operário do Filme Sheila Schvarzman Miguel Borges – Um Lobisomem Sai da Sombra Antônio Leão da Silva Neto Não por Acaso Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugênio Puppo Narradores de Javé Roteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu Onde Andará Dulce Veiga Roteiro de Guilherme de Almeida Prado Orlando Senna – O Homem da Montanha Hermes Leal Pedro Jorge de Castro – O Calor da Tela Rogério Menezes Quanto Vale ou É por Quilo Roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi Ricardo Pinto e Silva – Rir ou Chorar Rodrigo Capella Rodolfo Nanni – Um Realizador Persistente Neusa Barbosa O Signo da Cidade Roteiro de Bruna Lombardi Ugo Giorgetti – O Sonho Intacto Rosane Pavam Vladimir Carvalho – Pedras na Lua e Pelejas no Planalto Carlos Alberto Mattos Viva-Voz Roteiro de Márcio Alemão Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende Série Cinema Bastidores – Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini Série Ciência & Tecnologia Cinema Digital – Um Novo Começo? Luiz Gonzaga Assis de Luca A Hora do Cinema Digital – Democratização e Globalização do Audiovisual Luiz Gonzaga Assis de Luca Série Crônicas Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeças Maria Lúcia Dahl Série Dança Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo – Dança Universal Sérgio Rodrigo Reis Série Teatro Brasil Alcides Nogueira – Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta – Circo e Poesia Danielle Pimenta Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco Visceral Alberto Guzik Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como Oficio Org. Carmelinda Guimarães Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuas e Uma Paixão Org. José Simões de Almeida Júnior João Bethencourt – O Locatário da Comédia Rodrigo Murat Leilah Assumpção – A Consciência da Mulher Eliana Pace Luís Alberto de Abreu – Até a Última Sílaba Adélia Nicolete Maurice Vaneau – Artista Múltiplo Leila Corrêa Renata Palottini – Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimarães Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: Ópera Joyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso – Pólvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para um teatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora – Os Cantos de Maldoror – De Profundis – A Herança do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista – O Fingidor – A Terra Prometida Samir Yazbek Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda – Quatro Décadas em Cena Ariane Porto Série Perfil Aracy Balabanian – Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Arllete Montenegro – Fé, Amor e Emoção Alfredo Sternheim Ary Fontoura – Entre Rios e Janeiros Rogério Menezes Bete Mendes – O Cão e a Rosa Rogério Menezes Betty Faria – Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati – Luz Natural Carlos Alberto Mattos Cecil Thiré – Mestre do seu Ofício Tania Carvalho Celso Nunes – Sem Amarras Eliana Rocha Cleyde Yaconis – Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso – Persistência e Paixão Alfredo Sternheim Denise Del Vecchio – Memórias da Lua Tuna Dwek Elisabeth Hartmann – A Sarah dos Pampas Reinaldo Braga Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da Vida Maria Leticia Etty Fraser – Virada Pra Lua Vilmar Ledesma Ewerton de Castro – Minha Vida na Arte: Memória e Poética Reni Cardoso Geórgia Gomide – Uma Atriz Brasileira Eliana Pace Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no Ar Sérgio Roveri Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do Cinema Maria Angela de Jesus Ilka Soares – A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache – Caçadora de Emoções Tania Carvalho Irene Stefania – Arte e Psicoterapia Germano Pereira Isabel Ribeiro – Iluminada Luis Sergio Lima e Silva Joana Fomm – Momento de Decisão Vilmar Ledesma John Herbert – Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa Jonas Bloch – O Ofício de uma Paixão Nilu Lebert José Dumont – Do Cordel às Telas Klecius Henrique Leonardo Villar – Garra e Paixão Nydia Licia Lília Cabral – Descobrindo Lília Cabral Analu Ribeiro Lolita Rodrigues – De Carne e Osso Eliana Castro Louise Cardoso – A Mulher do Barbosa Vilmar Ledesma Marcos Caruso – Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral – A Emoção Libertária Tuna Dwek Marisa Prado – A Estrela, O Mistério Luiz Carlos Lisboa Mauro Mendonça – Em Busca da Perfeição Renato Sérgio Miriam Mehler – Sensibilidade e Paixão Vilmar Ledesma Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em Família Elaine Guerrini Nívea Maria – Uma Atriz Real Mauro Alencar e Eliana Pace Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Paulo Betti – Na Carreira de um Sonhador Teté Ribeiro Paulo José – Memórias Substantivas Tania Carvalho Pedro Paulo Rangel – O Samba e o Fado Tania Carvalho Regina Braga – Talento é um Aprendizado Marta Góes Reginaldo Faria – O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis Renata Fronzi – Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Borghi – Borghi em Revista Élcio Nogueira Seixas Renato Consorte – Contestador por Índole Eliana Pace Rolando Boldrin – Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho – Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco – Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza – Estrela Negra Maria Ângela de Jesus Sérgio Hingst – Um Ator de Cinema Máximo Barro Sérgio Viotti – O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silvio de Abreu – Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Sônia Guedes – Chá das Cinco Adélia Nicolete Sonia Maria Dorce – A Queridinha do meu Bairro Sonia Maria Dorce Armonia Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodrigueana? Maria Thereza Vargas Suely Franco – A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que Conte Outra Sérgio Roveri Tony Ramos – No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Vera Holtz – O Gosto da Vera Analu Ribeiro Vera Nunes – Raro Talento Eliana Pace Walderez de Barros – Voz e Silêncios Rogério Menezes Zezé Motta – Muito Prazer Rodrigo Murat Especial Agildo Ribeiro – O Capitão do Riso Wagner de Assis Beatriz Segall – Além das Aparências Nilu Lebert Carlos Zara – Paixão em Quatro Atos Tania Carvalho Cinema da Boca – Dicionário de Diretores Alfredo Sternheim Dina Sfat – Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor – O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma – Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televisão Brasileira Álvaro Moya Lembranças de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Ney Latorraca – Uma Celebração Tania Carvalho Raul Cortez – Sem Medo de se Expor Nydia Licia Rede Manchete – Aconteceu, Virou História Elmo Francfort Sérgio Cardoso – Imagens de Sua Arte Nydia Licia Tônia Carrero – Movida pela Paixão Tania Carvalho TV Tupi – Uma Linda História de Amor Vida Alves Victor Berbara – O Homem das Mil Faces Tania Carvalho Walmor Chagas – Ensaio Aberto para Um Homem Indignado Djalma Limongi Batista Formato: 23 x 31 cm Tipologia: Frutiger Papel miolo: Offset LD 90g/m2 Papel capa: Triplex 250g/m2 Número de páginas: 340 Editoração, CTP, impressão e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Coleção Aplauso Série Especial Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Coordenador Operacional e Pesquisa Iconográfica Marcelo Pestana Projeto Gráfico Carlos Cirne Editor Assistente Felipe Goulart Editoração Selma Brisolla Tratamento de Imagens José Carlos da Silva Revisão Wilson Ryoji Imoto IMPRENSA OFICIAL 2009 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Mazzaropi : uma antologia de risos / roteiro iconográfico por Paulo Duarte. – São Paulo : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009. 340p.: il. – (Coleção aplauso. Série especial / coordenador geral Rubens Ewald Filho). ISBN 978-85-7060-728-7 1. Atores Cinematográficos – Brasi – Crítica e interpretação 2. Cineastas – Brasil 3. Cinema – Brasil – História 4. Cinema – Produtores e diretores – Brasil 5. Mazzaropi, Amácio, 1912-1981 I. Duarte, Paulo. II. Ewald Filho, Rubens. III. Série CDD 791.437 098 1 Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Atores cinematográficos : Biografia e obra 791.437 098 1 Proibida reprodução total ou parcial sem autorização prévia do autor ou dos editores Lei nº 9.610 de 19/02/1998 Foi feito o depósito legal Lei nº 10.994, de 14/12/2004 Impresso no Brasil / 2009 Todos os direitos reservados. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Rua da Mooca, 1921 Mooca 03103-902 São Paulo SP www.imprensaoficial.com.br/livraria livros@imprensaoficial.com.br SAC 0800 01234 01 sac@imprensaoficial.com.br Coleção Aplauso | em todas as livrarias e no site www.imprensaoficial.com.br/livraria IMPRENSA OFICIAL